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O MÉTODO DE CAbOT

E 05

AB5CE5505 FR105

(ALGUMAS OBSERVAÇÕES)

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Antonio de Sousa Campos

0JÉT0D0JEJAL0T E OS

ABSÇESSOSJRIOS (A lgumas_Observações)

DISSERTAÇÃO INAUGURAL

Apresentada à

FACULDADE DE MEDICINA DO PORTO

IiWPRENSA NACIONAL de Jaime Vasconcelos 4, R. da Picaria, 35-Por to / f £ \\f f tf f>

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FACULDADE DE MEDICINA DO PORTO DIRECTOR

AUGUSTO HENRIQUE DE ALMEIDA BRANDÃO

LENTE SECRETARIO

Á l v a r o T e i x e i r a Bas tos

CORPO DOCENTE

Professores Ordinários e Extraordinários (Luiz de Freitas Viegas

1," classe -Anatomia . . . X, . .,. , „. . . . (Joaquim Alberto Pires de Lima

2." classe —Fisiologia e Histo-ÍAntonio Plácido da Costa logla |josé de Oliveira Lima

3.a classe —Farmacologia. . . João Monteiro de Meira

4.a classe —Medicina legal ef Augusto Henrique de Almeida Brandão Anato:nia Patológica . .^Vaga

5.a classe—Higiene e Bacte-floão Lopes da Silva Martins Junior reología J Alberto Pereira Pinto de Aguiar

6." classe —Obstetrícia e Gine-f Cândido Augusto Corrêa de Pinho cología 1 Álvaro Teixeira Bastos

íRoberto Belarmino do Rosário Frias 7.a classe — Cirurgia . . . .'. Carlos Alberto de Lima

lAntonio Joaquim de Souza Junior

«-José Dias de Almeida Junior 8.a classe - Medicina . . . .|josé Alfredo Mendes de Magalhães

(.Tiago Augusto de Almeida Psiquiatria Antonio de Sousa Magalhães e Lemos.

Professores jubilados

José de Andrade Gramaxo Pedro Augusto Dias Antonio Joaquim de Morais Caldas.

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A Faculdade não responde pelas doutrinas expendidas na disser­tação e enunciadas nas proposições.

(Regulamento da Faculdade de 23 de abril de 1840, art. 155.°)

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A mens Pais

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n rnmnn MULHER

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A MEUS SOâROS

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A MEUS CUNHADOS

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fio meu presidente de tese

O III.™ e Cx.™ 5nr.

Dr. José d'Oliveira Lima

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Obriga-me a lei a apresentar um trabalho escrito e portanto tenho que escrever, embora veja deante de mim mil e uma dificuldades, pois muitos são os embaraços para quem es­creve pela primeira vez um livro.

Não concordo com tal lei, protesto mesmo contra ela, mas como, se quiser possuir o di­ploma de médico, tenho que defender tese, vou deitar mão á obra.

Escolhi para tema deste meu trabalho o Método de Calot e os abscessos frios.

E, pois, um assunto importante o que vou versar.

Desejava bem desenvolvê-los, como porém qualidades várias me faltam, limitar-me-hei a

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descrever o método e a apresentar umas obser­vações, abrindo assim caminho para que al­guém, com maior competência que eu, o faça.

É deficiente o trabalho; portanto a bene­volência do Ex.mo Júri que tiver de julgar-me eu peço e espero.

Aos Ex.mos Snrs. Drs. Tito e Adriano Fontes por me terem deixado ensaiar este tra­tamento na enfermaria n.° 10 do Hospital de Santo Antonio e pelos conselhos e ensinamen­tos me'dicos que sempre me deram, o meu pro­fundo agradecimento.

Ao condiscípulo amigo Couto Nobre, pelos valiosos serviços que me prestou, lembrando-me o assunto deste meu sucinto trabalho e

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ajudando-me tanto quanto estava ao seu al­cance, um grande abraço de sincera gratidão.

Ao bom condiscípulo Faria e Vasconcelos pela observação que me cedeu, um — muito obrigado.

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Agentes modificadores

Entre os vários tratamentos locais que co­nhecemos dos abscessos frios um há que pelos bons resultados que a experiência nos tem de­monstrado deve indubitavelmente ser o segui­do, recorrendo-se contudo a outros quando disso haja absoluta e reconhecida necessidade.

Quero referir-me ao método conservador das injecções intersticiais.

Praticado pela primeira vez por Luton e depois por Dumesnil que injectou em 1867 percloreto de ferro este método tem hoje os seus partidários conquanto difiram os agentes modificadores a empregar.

Estes podem reduzir-se a duas grandes ca­tegorias, segundo tem por fim facilitar a evo-

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lução normal da neoplasia tuberculosa para a esclerose ou para o amolecimento.

Numerosos agentes medicamentosos teem sucedido ao percloreto de ferro e assim temos visto empregar cloreto de zinco a 10 %, que é uma substancia exclusivamente esclerogénica, o acido fénico a 8 %, a tintura de iodo — 5 e 10 gotas de quatro em quatro dias, o licor de Fowler em dores progressivamente crescentes - 8 , 10 ou 12 gotas— o nitrato de prata, o iodofórmio em solução no éter ou em emulsão na glicerina, a vaselina ou azeite, o gomenol canforado, o naftol canforado, etc.

Todas estas substancias, embora muito di­ferentes aparentemente, a sua acção é quási sempre a mesma, pois teem em vista provocar ao nivel da produção tuberculosa um verda­deiro abscesso quente aséptico; portanto surge a dificuldade na escolha do agente modificador a empregar.

É isto que vamos fazer, passando em se­guida a expor o método que seguimos nos exemplares que nos foi possível arranjar.

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Formulas modificadoras de Calot

Actuando da mesma maneira os vários agentes modificadores procurámos escolher aqueles que nos pareceram oferecer mais van­tagens, tornando o seu emprego mais cómo­do, menos doloroso e menos perigoso.

Seguimos, pois, o método de Calot. Duas são as fórmulas de que êle se serve

para tratar qualquer abscesso frio e daqui uma das vantagens do método, pois apenas com dois líquidos podemos prestar relevantes ser­viços á humanidade. Estes são o azeite creo-sotado iodoformado e o naftol canforado gli-cerinado, que se formulam da seguinte ma­neira :

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Azeite lavado pelo alcool e este­rilizado pelo calor . . . . 70 gr.

Éter s u l f ú r i c o . . . . . . 30 » Creosotal 5 » Gaiacol 1 » Iodofórmio . . . . . . . 10 »

2.a

Naftol canforado Glicerina .

2 gr. 12 »

Tem cada uma as suas indicações. Assim empregaremos a segunda sempre

que seja preciso liquefazer as fungosidades do abscesso, pois desde que haja grande quanti­dade de grumos, estas arrolham a agulha e impossibilitam a saida do pus.

A primeira está indicada em todos os outros casos.

Tem o uso do naftol canforado os seus inconvenientes, mas como o seu emprego é muito restrito não devemos recear as suas con­sequências desde que sigamos as regras se­guintes aconselhadas por Henry Loze:

1.° Empregar uma mistura fresca.

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2.° Conservar a mistura ao abrigo do ar e da luz.

3.° Não a empregar senão misturada a uma substancia inerte '.

4° Não injectar no começo grande dose, mas sim começar por um grama.

5.° Injectar muito lentamente e sob uma fraca pressão.

6.° Não injectar em um abscesso que san­gre e assegurar-se que se não está em tecido são.

Calot aconselha verificar, antes de injectar, se o liquido é miscivel com a agua e em caso contrario aumentar-lhe a proporção de glice­rina.

Para isto deita-se uma gota de naftol can­forado em uma certa quantidade de agua, agi-ta-se e a gota deve desaparecer.

1 A fórmula usada por H. Loze é:

Naftol canforado 1 gr, Eraulsina 1 • » Glicerina pura e neutra . . . 3 »

Misturar no momento de se servir.

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Igualmente devido á sua instabilidade deve agitar-se durante minuto e meio e injectar ime­diatamente.

Empregado o naftol canforado nestas con­dições julgamos não dar acidentes graves, como certos autores nos dizem, e nos casos que tra­támos apenas a observação IV nos contou sen­tir no dia da injecção, seis horas depois, umas ligeiras dores de cabeça.

Apesar de todas as precauções a que me refiro, pode acontecer que a absorção imediata duma certa quantidade de naftol provoque al­gumas perturbações e por isso vamos citá-las para que rapidamente se conheçam os efeitos.

Assim o doente pode apresentar-nos irri­tação faríngea determinando um espasmo fa­ríngeo que se traduz por uma série de peque­nos acessos de tosse seca, gosto a cânfora, sa­livação mais ou menos abundante, cianose da face, turgescência das jugulares, dor na região precordial, crises epileptiformes, irregularida­des de movimentos respiratórios e finalmente fenómenos de colapso.

Estes acidentes, segundo uns, aparecem al­gumas horas depois da injecção e segundo ou-

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tros durante a injecção; neste caso fácil se torna evitar, direi melhor, diminuir as perturbações, substituindo a seringa pelo aspirador de Calot.

Colocado uma vez este podemos, se os acidentes tomam proporções assustadoras, re­tirar todo ou parte do liquido injectado.

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Aspirador de Calot

Para tratamento dos abscessos frios pelo método de Calot, servimo-nos do aspirador do mesmo nome ou do de Potain.

Fizemos uso dos dois, dependendo o em­prego deste ou daquele do volume do abscesso.

Isto para comodidade do médico e sossego do doente, pois tratando-se de adenites cervi­cais onde a colecção purulenta é relativamente pequena, o aspirador de Calot é o indicado.

Os aparelhos precisos para o tratamento encontram-se reunidos por Colin em uma pe­quena caixa metálica, conhecida por aspirador de Calot, constando dum aspirador, seringa, 4 agulhas e um mandrim.

O aspirador de pequena capacidade, 20cc,

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tem em uma extremidade uma torneira que fa­cilita fazer o vácuo de maneira que, depois de introduzida a agulha no abscesso, basta abri-la para que o pus seja imediatamente absorvido.

Se a colecção purulenta é superior á capa­cidade do aspirador, enche-se este tantas quan­tas vezes necessário fôr, havendo o cuidado prévio de deixar introduzida a agulha; no en­tanto, se calcularmos em algumas centenas a quantidade de pus a extrair, há vantagens em fazer uso do de Potain.

Pode aproveitar-se a seringa para o esva­ziamento do abscesso, mas tem os inconvenien­tes de traumatizar a parede do abscesso fazen­do por vezes sangrar, o que nos poderá levar a um erro, pensando que já não ha pus, e ser demorado.

A seringa nada nos apresenta digno de menção e as agulhas estão numeradas de 1 a 4, dependendo o seu emprego dos líquidos a injectar e da qualidade do pus a puncionar.

Assim, tratando-se de tuberculoses secas, estão indicadas as agulhas n.os 1 e 2, segundo se quer injectar o azeite creosotado iodofor-mado, ou o naftol canforado glicerinado, que

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é um pouco viscoso, ao passo que em face duma tuberculose supurada, onde se tenha de fazer uma punção, devemos deitar mão da n.° 3, salvo se o pus é tam espesso que arrolhe a agulha; neste caso servimo-nos da n.° 4, tendo sempre em vista o perigo que há em se formar uma fístula.

3

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Esterilização

Para o bom êxito do tratamento é indis­pensável esterilizar os líquidos a injectar e os aparelhos a empregar; portanto não me pare­ce descabido, e pelo contrario, necessário até indicar o caminho a seguir.

O azeite creosotado iodoformado prepara-se da seguinte maneira:

Escolhido azeite puro, lava-se pelo alcool e esteriliza-se pelo calor. Depois, em uma cu-veta flamejada, junta-se nas proporções indica­das acima, creosota, gaiacol e iodofórmio qui­micamente puros. Convenientemente mistura­das e trituradas estas três substancias vai-se deitando devagar o azeite e agitando com uma vareta de vidro.

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O azeite deve estar a uma temperatura in­ferior a 60° e se enegrecer pela ebulição não é puro. Finalmente junta-se o éter e temos assim preparado o primeiro liquido de Calot.

O naftol canforado glicerinado é já anti-séptico, de maneira que o cuidado a tomar é somente ferver a glicerina durante vinte minu­tos, deixar arrefecer e juntar-lhe o naftol.

É preciso colocá-lo ao abrigo do ar e da luz, assim como o primeiro, para evitar a de­composição, que se reconhece pela passagem de límpido a negro.

Para esterilizar os aparelhos basta encher de agua fria a caixa metálica onde vem o aspi­rador, juntar borato de soda a 1 °/0, desmontar a seringa e o aspirador e deixar a agua chegar á ebulição.

As agulhas, assim como o mandrim, são colocados na caixa e a ebulição deve ser pro­longada durante uns trinta a quarenta minutos.

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Acção das injecções de Calot

Vimos mais acima que a acção das diferen­tes substancias modificadoras era quási sempre a mesma, pois que todas tinham por fim pro­vocar ao nivel da produção tuberculosa um verdadeiro abscesso quente aséptico.

Assim actuam as injecções de Calot. Todo o abscesso frio deve a sua tórpida

evolução á ausência de uma irritação microbiana intensa provocando uma dilatação e uma con­gestão dos vasos circunvizinhos e que o abs­cesso tuberculoso não contém senão mono-nucleares.

Demonstraram Coyon, Fiessinger e Lau­rence que no interior dos glóbulos brancos po-linucleares que caracterizam o abscesso quente

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há um fermento, a protease, fermento que não se encontra nos glóbulos mononucleares e é devido principalmente a este fermento que as injecções modificadoras de Calot curam.

Segundo os mesmos autores, elas actuam, não como antisépticos, por causa da situação profunda dos bacilos, da espessura das pare­des e da anfractuosidade da cavidade, mas sim provocando um abundante afluxo de glóbulos brancos polinucleares, para em seguida os des­truir e pôr em liberdade dois fermentos: um lipásico tendo a propriedade de atacar o envo-lucro gorduroso do bacilo, e um proteolitico, a protease, de digerir os albuminóides, des­truindo assim a própria substancia do bacilo de Koch.

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Técnica operatória

fl punção

Feito o diagnóstico seguro dum abscesso frio impõe-se o tratamento, que é o que aca­bamos de indicar, faltando apresentar a técnica operatória.

Depois de convenientemente desinfectadas as mãos do operador, faz-se a asepsia da pele do doente, para o que basta pincelar com tin­tura de iodo fresca.

Esterilizados e colocados os instrumentos e líquidos necessários a empregar ao lado do doente, aonde com facilidade o médico os possa utilizar, escolhe-se o lugar onde a agulha tem de ser enterrada.

Este deve ficar distante uns 4cm dos limites do abscesso e portanto em pele sã.

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Indispensável se torna seguir rigorosa­mente estas indicações, pois se a punção for feita em pele já comprometida, corre-se o risco de se formar um caminho fistuloso, o que de­vemos evitar a todo o transe.

É insignificante a dor que o doente sente ao introduzir-se a agulha; no entanto sempre empregamos a anestesia local com cloreto de etilo conhecendo-se que a anestesia é completa quando a pele toma a cor branca. É a pele nesta ocasião muito dura e por isso torna-se ne­cessário por vezes empregar bastante força, mas uma vez atravessada nenhuma resistência há e por consequência deve-se diminuir a força e caminhar docemente até encontrar uma nova resistência, ainda que ligeira.

Estamos então junto da parede do abscesso, que a agulha atravessa, entrando-se assim na colecção purulenta. A sensação que se tem é nítida, mas difícil de descrever; porém feita uma punção jamais se esquece a sensação que se obtém em todos os casos, dependendo so­mente da quantidade de pus existente no abs­cesso.

Como tírar o pus?

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Faz-se o vácuo no aspirador, adapta-se á agulha, abre-se a torneira e o pus é imedia­tamente absorvido.

Se a quantidade de pus é superior á capa­cidade do aspirador, deixa-se a agulha in loco, arrolha-se com algodão esterilizado para evitar que saiam algumas gotas de pus, esvazia-se o aspirador, faz-se de novo o vácuo, adapta-se como da primeira vez á agulha e assim suces­sivamente até que o abscesso fique vazio, o que se reconhece pela saída de sangue, acha­tamento da parede do abscesso e ausência de flutuação.

É este o processo seguido geralmente; há, porém, quem procure esvaziar o abscesso por expressão, mas é pratica digna de toda a cen­sura, pois que o esvaziamento não é completo, é fácil fistular-se o caminho por onde sae o pus e as malaxações podem fazer sangrar, o que se deve evitar principalmente no principio.

É pela mesma razão que não se deve as­pirar todo o pus durante as primeiras punções e terminar a aspiração apenas o pus venha com sangue.

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Injecção

Terminada a punção substitue-se o aspira­dor pela seringa e introduz-se a quantidade de liquido que se desejar, não esquecendo que não deve ser superior a 12cm para os grandes abscessos e de um terço do pus extraído para os pequenos.

Retira-se finalmente a agulha, dá-se uma pequena maçagem na região que ela atraves­sou, põe-se um penso antiséptico ligeiramente compressivo e assim fica até segundo trata­mento.

Quando deve ser feita a 2.a punção ? . Não se pode precisar, pois que tudo de­

pende da reacção experimentada pelo doente, pelo aumento ou diminuição do volume do abscesso, pela côr que a pele nos apresentar, etc., etc.

Nos casos ordinários pode haver um in­tervalo de 12 dias ou mesmo mais, mas casos há em que é necessário vigiar com cuidado e puncionar até algumas vezes sem se fazer se­guir de injecção. Se a pele, por exemplo, está

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comprometida, ameaçando romper-se, deve o médico intervir, quanto antes, para evitar que se forme uma fístula.

É indispensável ver diariamente, em certas ocasiões, o doente, pois o contrario poderá acarretar alguns desgostos, como nos aconte­ceu já em um caso. Apresentarei esta observa­ção fazendo umas considerações que julgo conveniente apontar, pois são por vezes coisas que nos parecem pequenas aquelas contra as quais devemos estar prevenidos.

Fazem-se 7 punções e igual número de injecções, verificando-se no fim da sétima que não é mais pus que sae mas uma serosidade.

Pratíca-se então a 8.a punção, não seguida de injecção.

Compre-se fortemente a região onde estava o abscesso e mantem-se esta compressão du­rante uns quinze ou vinte dias.

É conveniente aumentar a compressão de três em três em dias.

A pele deve ser sempre picada em lugar são e em sitios diferentes, distanciados uns dos outros aproximadamente um centímetro.

Seguido o tratamento como fica indicado,

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o abscesso cura-se sem incidentes, mas pregun-ta-se : todo o abscesso frio deve ser puncio-nado?

Calot diz-nos que sim, excepto aqueles que forem muito profundos ou estejam juntos a órgãos importantes. Neste caso espera-se que eles se tornem mais superficiais para se inter­vir, não esperando nunca que a pele esteja com­prometida, o que se reconhece pela côr verme­lha que ela toma.

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Incidentes e complicações

Tratado o abscesso frio pelo processo aci-m aindicado, tudo corre bem; no entanto inci­dentes podem aparecer durante o tratamento, que convém conhecer para de pronto serem remediados.

Escolhido o lugar da punção e enterrada a agulha, faz-se a aspiração, mas pode não vir pus.

Verificado então o funcionamento do as­pirador e feita uma nova palpação cuidadosa para nos certificarmos de que a agulha está dentro do abscesso, temos que suspeitar de que ela está arrolhada por grumos.

Para os tirar substituímos o aspirador pela seringa e damos uma injecção de agua es-

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terilizada ou de azeite creosotado iodofor-mado.

Adaptamos novamente o aspirador e já o pus deve sair.

Além deste processo há o uso do mandrim mas nos casos que tratámos nenhum resultado tirámos, pois que os grumos ao tirar-se o man­drim estava tão agarrado que arrolhava nova­mente a agulha.

Sae pus, mas suponhamos que em pequena quantidade e que se obtêm por várias vezes a agulha. Não damos neste dia injecção de azeite creosotado iodoformado, mas sim de naftol canforado glicerinado, porque este tem a pro-propriedade de liquefazer os grumos existentes no abscesso e por consequência facilitar a saída do pus. Esta injecção demora uns três ou qua­tro dias continuando-se depois com o azeite creosotado iodoformado.

Se uma só injecção não der o resultado de­sejado repete-se, certo de que ao fim da se­gunda ou terceira se esvaziará o abscesso.

Em vez de pus pode vir sangue, ou as duas coisas, e portanto como continuar?

Se o sangue vem desde logo, pode ser a

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a perfuração dum vaso; neste caso retiramos a agulha e fazemos a compressão deixando para o dia seguinte a punção ou fazendo-a nesse mesmo dia em outro lngar, se a quantidade de sangue tiver sido pequena.

Se porém fôr no fim da punção é indício de que se deve terminar a aspiração para dar em seguida a injecção. A pele pode estar muito comprometida quando o doente nos vem con­sultar, e para bem do mesmo, (pois regra geral cura-se) não devemos abrir imediatamente o abscesso a bisturi, mas seguir o tratamento das punções e injecções.

Antes de mais nada convém puncionar todos os dias ou de dois em dois dias, afim de diminuir a tensão, pois sendo a pele muito fina e muito pouco resistente rompe-se com facilidade.

Em segundo lugar temos de a tratar e me­lhor processo é seguir o método das injecções, pois que assim vai opor-se uma barreira á marcha da tuberculose.

Para isso damos umas injecções muito pe­quenas, não ultrapassando quatro centímetros cúbicos para os grandes abscessos e um para

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os pequenos, até se curar a pele, seguindo-se depois o tratamento tal qual o indicámos.

Se a pele se torna vermelha depois de al­gumas punções e injecções, suprimimos estas fazendo ameudadas vezes aquelas até que a pele retome o seu estado primitivo.

Suponhamos agora que depois do trata­mento completo — 7 punções com as respecti­vas injecções e uma 8.a punção não seguida de injecção e bem assim á compressão de­morada e aumentada durante vinte dias — o abscesso continua volumoso não apresentan­do modificações sensíveis.

Dá-se uma nova série de punções e in­jecções e tudo nos leva a crer que seremos então felizes, pois, segundo rezam as estatísti­cas, só 10 o/° precisam de segunda série e 2 °/o de terceira.

Condições há que podem impedir a cura do abscesso, por exemplo, tratando-se dum doente fisiologicamente miserável, portador de vários focos tuberculosos, em casos de adeni­tes cervicais, se não há um cuidado rigoroso com a boca, dentes, etc.

Temos, portanto, antes de toda a inter-

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1!)

venção, de tratar da doença causal que entre­teve a supuração e melhorar o estado geral do doente.

Em todos os casos que tratámos, demos tó­nicos gerais e pela observação I se verá o quan­to deu bom resultado começar-se por este tra­tamento. Os tónicos consistiram principalmen­te em injecções de cacodilato de soda em pe­quena dose — cinco centigramas — e óleo de fígado de bacalhau.

Finalmente, pode haver uma infecção do abscesso ou rotura do mesmo.

No primeiro caso, desde que apareçam os primeiros sintomas de infecção, como sejam anorexia, insónia, emagrecimento rápido, apa­rição duma febre vespéral com forte remissão matinal, tratemos por meio de punções não seguidas de injecções, mas se ao fim de quin­ze ou vinte dias os sintomas de infecção con­tinuam, fazemos a abertura do abscesso dre-nando-o.

No segundo caso é difícil e demorada a cura, pois um abscesso aberto, não só está su­jeito a infecção exterior, como o líquido inje­ctado não se conservando algum tempo dentro

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do abscesso não pode modificar as suas pa­

redes. O tratamento consiste em fazer lavagens

com azeite creosotado iodoformado, procurar conservar durante algum tempo o líquido den­

tro do abscesso, tapando o orifício com algo­

dão esterilizado por exemplo, e tocar com tó­

picos variados os lábios da fístula. Se apesar disto o líquido não se conserva,

empregaremos os mesmos medicamentos sob a forma pastosa, cujas fórmulas são :

PASTA N.° 1

Fenol canforado } Naftol canforado / Gaiacol 15 » Iodofórmio 20 » Lanolina ou espermacete 100 »

PASTA N.° 2

Fenol canforado I „ . , „ . . ■ , ( aa o gramas Naftol canforado J Gaiacol 8 » Iodofórmio 10 » Lanolina ou espermacete 100 »

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O emprego da pasta n.° 1 ou da n.° 2 de­pende somente da capacidade da cavidade ou trajecto fistuloso, usando a primeira quando fôr 20cc, no adulto, e 10cc, na criança, e a se­gunda nos outros casos.

>

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Adenites cervicais

Ocupamo-nos, ainda que mui rapidamente, do tratamento local das tuberculoses supura-das; vamos agora fazer umas ligeiras referen­cias ás adenites cervicais apresentando também um caso, que demonstra bem as vantagens do método de Calot.

É indubitavelmente a melhor observação, embora para isso concorresse o tratamento ge­ral a que a doente esteve submetida, visto não haver desde logo necessidade de intervir local­mente.

Tem o tratamento das adenites cervicais uma grande importância, porque todos os dias ao médico se deparam casos desta natureza.

Nestas tuberculoses há a atender o estado

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em que o gânglio se nos apresenta, pois pode estar já amolecido, duro, esclerosado sem apa­rência de modificações ameaçando fistular-se ou já fistulado !

Acerca destes quatro casos diferentes, di­remos o bastante para que fique bem gravado no nosso espirito o caminho a seguir.

Fazemos uso das mesmas injecções de Calot, mas como difere um pouco a técnica, vamos passar a expô-la.

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Gâi?£>ïi© supurado

O gânglio está amolecido em toda a sua extensão e pela palpação percebe-se nitida­mente a flutuação.

Intervimos imediatamente seguindo as re­gras acima expostas, quando tratamos da té­cnica operatória.

Depois de desinfectado o campo operatório e anestesiado com cloreto de etilo, procede-se á punção com o aspirador de Calot.

Servimo-nos da agulha n.° 4, pois, regra ge­ral, o pus não sae facilmente pelas de nume­ração inferior.

De ordinário nesta primeira punção o pus é branco amarelado, bastante espesso, encer­rando numerosos grumos, vestígios de fungo-sidades que por vezes vêem obturar a agulha.

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Para a desarrolhar dá-se com alguma pressão uma injecção de agua esterilizada.

Começando o pus a sair, deixamos que êle se escoe até que apareça sangue, indicio para terminar com a aspiração.

Retiramos o aspirador substituindo-o pela seringa e damos uma injecção de azeite creoso-tado iodoformado.

No dia seguinte ou dois dias depois repe­timos a punção seguida de injecção.

Procederemos da mesma maneira todas as vezes que haja necessidade até que o pus que era branco amarelado, espesso e arrastando grumos se torne um liquido fluido e dasapa-reçam por completo esses grumos.

Nesta ocasião deixaremos de infectar fa­zendo tam somente a punção seguida de com­pressão.

Passados quatro ou cinco dias, punciona-mos novamente e, regra geral, todo o abscesso tem desaparecido.

A cura é completa e o doente fica sem ci­catrizes, pois a marca deixada pela passagem da agulha torna-se ao fim de algum tempo im­perceptível.

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A pele pode estar já um pouco modificada na sua colocação ou na sua resistência quando o doente se nos apresenta e portanto temos que tomar as precauções já indicadas, que são principalmente vigiar com cuidado o abscesso e puncioná-lo uma ou duas vezes por dia, consoante o seu estado, sem injectar o liquido modificador.

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Gaelic duro

Eis-nos em frente duma adenite de tipo seca; trata-se de gânglios isolados ou reuni­dos, globulosos ou ovóides, indolores, duros e rolando sob os dedos.

Três caminhos temos a seguir esperar a resolução, o amolecimento espontâneo ou pro­vocá-lo.

Seguiremos o primeiro, pois muitas vezes dá-se espontaneamente a cura.

Assim procuraremos tonificar, o melhor possível, o doente, favorecendo o tratamento local, que consistirá somente na desinfecção cuidadosa do território tributário do gânglio ou gânglios doentes, por um tratamento geral reconstituinte, não esquecendo nunca o reco-

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mendar-se fazer uma estação marítima demo­rada.

O amolecimento espontâneo vae-se dando. Aconselharemos, fazendo ver ao doente a

vantagem do tratamento das punções e injec­ções, a esperar que o amolecimento seja com­pleto para intervir, lembrando sempre que apenas a pele comece a ressentir-se, deve apa­recer para começar desde logo a tratar-se.

Finalmente continua duro o gânglio. Sa­bemos já que é relativamente fácil curar um abscesso frio; portanto neste caso transforma­remos essa massa dura, cuja reabsorção não se fará senão muito lentamente, em um absces­so de conteúdo fluido.

Chegaremos a este resultado provocando artificialmente o amolecimento, isto é, injectan­do naftol canforado ('),

Como fazer esta injecção? Parece estar provado que injecções de naf­

tol canforado feitas sob pressão são perigo-

1 A injecção de naftol canforado deverá ser muito pequena — um a dois centímetros cúbicos.

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C>1

sas, de maneira que depois de nos certificarmos que a agulha penetrou bem no gânglio, é pre­ciso injectar muito lentamente interrompendo a injecção e aspirando mesmo, se o doente começa a acusar qualquer perturbação.

Em virtude desta injecção nota-se local­mente, algumas horas depois, a pele tornar-se vermelha, tensa, aumento de volume do gân­glio e o doente queixa-se duma dor surda, dor que desaparece ao fim de um dia.

Diariamente, ou de dois em dois dias, re­petimos a injecção e ao fim da terceira ou quarta descobrimos flutuação.

Recaímos, pois, no primeiro caso, que tra­taremos como já foi indicado.

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Gânjiio esclerosade sert} modifica­ções aparentes

Verificamos a existência dum tumor duro, resistente, quasi esclerosado e dum volume por vezes considerável.

Seguimos a técnica que acabamos de des­crever, mas ao fim da terceira ou quarta injec­ção, puncionamos novamente, crentes de que vamos retirar pus, porém a punção é branca.

Não ha sinais de pus. Que fazer? Esperar um pouco, recomeçar

com as injecções não introduzindo uma pe­quena quantidade de naftol canforado gliceri-nado, mas fazer uma injecção maciça de três centímetros cúbicos. Esta injecção será difícil de fazer por causa da resistência considerável do tecido ganglionar que se opõe á penetração

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do líquido, mas, desde que se injecte muito lentamente e duma maneira contínua, obtem-se o resultado desejado.

São agora mais acentuadas as reacções lo­cais que no caso anterior, podendo o doente apresentar também elevação de temperatura, anorexia, abatimento geral, etc.

Fica o operado em repouso não fazendo intervenção alguma sobre o gânglio mas vi-giando-o; ao fim de quatro ou cinco dias deve sentir-se já a flutuação, mas feita a punção no-ta-se a presença de grumos que desaparecerão com uma nova injecção de um centímetro cú­bico do naftol canforado glicerinado.

Estamos justamente no primeiro caso que já sabemos como tratar.

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O éànélio ameaça fistular-sc ou já está fistulado

A supuração é muito abundante e o absces­so ameaça abrir-se; portanto é preciso come-çar-se desde logo o tratamento para evitar a fistula.

Não empregar neste caso anestesia local, pois o cloreto de etilo tem uma acção mais ou menos necrozante sobre os tecidos.

O ponto para a punção deve ser escolhido em pele sã, como sempre, fora do abscesso, e fazer seguir a primeira punção duma lavagem da cavidade.

Deixar durante dois minutos o naftol can­forado glicerinado e esvaziar o abscesso nova­mente por meio do aspirador.

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Comprimir em seguida fortemente durante quinze minutos.

Acontece que devido á lavagem com o na-ftol, o pus se reforma sendo necessário fazer uma punção evacuadora.

Vigiar o abscesso com todo o cuidado e puncionar apenas haja necessidade, que chega a ser de poucas horas.

Geralmente bastam duas punções por dia para que a pele retome a sua côr anterior e possa ser tratado como já exporemos.

Se, porém, já ha fístula, temos de ver se há infecção ou não.

No primeiro caso abstemo-nos de intervir por meio de punções para recorrermos a di­versas operações cirúrgicas, como ablação, cu-retagem, drenagem, pensos antisépticos e sobre­tudo a tónicos.

Se não ha infecção secundaria o nosso pri­meiro cuidado será procurar evitá-la e tratar a fistula por meio de injecções de naftol can­forado glicerinado obturando todos os orifí­cios fistulosos para que o liquido se con­serve.

Fazemos cauterizações com nitrato de prata

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o mais profundamente possível colocando so­bre a ferida pensos, secos e asépticos.

Se for possivel fazer o tratamento á beira-mar e tonificando-se, há probabilidades de cura.

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OBSERVAÇÕES

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OBSERVAÇÃO I

H. C. M., 17 anos, solteira, criada, natu­ral de Esposende, entrou para o hospital de Santo António a 25 de junho de 1912.

A doente apresentava uma tumefacção de cada lado do pescoço.

A' direita está situada por dentro do mús­culo esterno -cleido-mastoideu sendo o seu bordo anterior ultrapassado.

A' esquerda está por detrás do ângulo do maxilar inferior.

Os antecedentes hereditários nada nos di­zem de interesse e os pessoais são pouco com­pletos, pois apenas nos informa a doente que por vezes se sentia fraca e não era regular­mente menstruada.

Não se lembra quando lhe apareceram aqueles inchaços, como ela lhes chamava. Nun­ca teve dores. Aumentavam-lhe muito lenta-

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mente e receando que fosse muito perigoso resolveu ir ao hospital, onde foi internada.

Começou o seu tratamento por pomadas resolutivas, mas sem resultado. Ao mesmo tem­po foi fazendo uso de tónicos, como licor de Fowler, injecções de cacodilato de soda, etc.

A 29 de julho foi-lhe receitado um gar­garejo de hidro-infuso de malvas e papoilas com acido bórico.

A 7 de agosto é menstruada durando-lhe a menstruação cinco dias.

Passado este período recomeçam os tó­nicos sendo-lhe permitido passear pela cerca do hospital. Assim esteve sendo medicada só com reconstituintes, não cedendo os ade­nites.

Resolve então o meu condiscípulo Couto Nobre, a quem devo estes apontamentos, tra­tá-la pelo método de Calot e assim faz-lhe a primeira punção a

9 - 9 - 1 9 1 2

Primeira punção do gânglio direito com extracção de 25 centímetros cúbicos de pus e injecção de 15 centímetros cúbicos de azeite creosotado iodoformado.

O pus é espesso, amarelo-escuro, sae com relativa facilidade pela agulha n.° 3 de Calot.

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7:í

A punção foi feita com o aspirador do mesmo nome.

13 - 9 - 1912

Primeira punção do gânglio esquerdo e in­jecção de 2CC do líquido de Calot. O pus não é tão espesso como do lado direito.

15-9-1912

Segunda punção do gânglio direito. A aspiração permite tirar 10cc de pus, injectando--se em seguida 8CC do líquido de Calot. O pus tem mais ou menos o mesmo aspecto.

18 —9-1912

Segunda punção do gânglio esquerdo de õcc de pus e injecção de 2CC do líquido de Calot.

20 — 9-1912

Terceira punção do gânglio direito de 10cc de pus e injecção de 2CC do líquido de Calot.

23 — 9 —1912

Terceira punção do gânglio esquerdo de

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Ti

4CC de pus e injecção de 2CC do líquido de Calot.

25 - 9 —1912

Quarta punção do gânglio direito. Extra-ção de 8CC de pus e injecção de 3CC do líquido de Calot.

O pus é já modificado na côr e menos espesso.

2 9 - 9 - 1 9 1 2

Quarta punção do gânglio esquerdo de 3,5CC de pus e injecção de 2CC do líquido de Calot.

2 10 —1912

Quinta punção do gânglio direito de 5CC

de pus e injecção de 2CC de líquido de Calot.

6 -10 —1912

Quinta punção do gânglio esquerdo de 4CC de pus e injecção de 2CC do líquido de Calot.

9 10 —1912

Sexta punção do gânglio direito de 3CC de pus, seguida de injecção de lcc do líquido de Calot.

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13 - 10 - 1912

Sexta punção do gânglio esquerdo com extracção de 2CC de pus e injecção de lcc do líquido de Calot.

A 14 de outubro saiu, a seu pedido, do hospital, quasi boa, mas com a obrigação de voltar para se terminar com o tratamento.

Na verdade voltou, e fizeram-se mais duas punções seguindo-se a injecção do líquido de Calot, só a primeira. Depois da ultima punção foi-lhe feita a compressão e quinze dias mais tarde aparece a doente completamente curada.

A doente tinha uma adenite axilar do lado direito, dura, a que se não fez tratamento por a doente não querer.

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OBSERVAÇÃO II

O. S., 28 anos, casado, natural de Gondo­mar, entrou para o hospital de Santo António a 16 de dezembro de 1912, queixando-se de um tumor nas costas.

Inspeccionando vi que na região lombar esquerda, junto á coluna vertebral, havia uma saliência do volume dum punho.

Pela palpação notava-se flutuação, flutua­ção esta que se sentia na parede anterior do abdómen, um pouco acima da arcada crural.

A temperatura local era a mesma que em qualquer outra região e o doente sentia dores á pressão na lâmina vertebral esquerda da ter­ceira vértebra lombar, estendendo-se aquela sa­liência da primeira á quarta vertebra.

Acerca da historia da doença nada nos diz o doente de elucidativo, pois só notou aumen­to de volume naquela região dias antes de en­trar para o hospital.

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Investigando os antecedentes pessoais sou­bemos que tinha de vez em quando ceíalalgias e dores reumáticas no joelho direito.

O pai morreu-lhe há nove anos tubercu­loso no hospital, e a mãe é escrofulosa, an­dando em tratamento há bastante tempo, tra-tamente este que consistiu, infelizmente, na abertura de dois gânglios situados respectiva­mente nas regiões anterior e lateral do pescoço.

Tem oito irmãos vivos e saudáveis, mas morreu-lhe há três anos um, tuberculoso.

Tendo sido feito o diagnóstico dum absces­so frio, impunha-se o tratamento pelo método de Calot.

Começamos desde logo com o método das punções e injecções e assim fazíamos a primeira punção quatro dias depois da sua entrada no hospital.

20 - 12 - 1912

Primeira punção de 900cc de pus e injec­ção de 12cc do líquido modificador de Calot '.

O pus era muito espesso e côr de café com leite. Empregámos a agulha ri.0 3 e o as­pirador de Potain.

1 Este líquido modificador ora o azeite creoso-tado iodoformado.

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7!)

29 - 12 - 1912

Segunda punção de 500cc de pus e injec­ção de 8CC do líquido de Calot.

O pus apresentava o mesmo aspecto.

5 — i - 1913

Terceira punção de 250cc de pus. Não de­mos injecção porque o aspirador, funcionando mal, não nos permitiu tirar todo o pus.

Este tinha a mesma côr, mas mais espesso, e por isso fizemos uso da agulha n.° 4 na no­va punção.

9 — 1 — 1913

Quarta punção de 350cc de pus e injecção de 8CC do líquido de Calot.

Saiu já mais pus, mas não conseguimos ainda esvaziar o abscesso, porque nesta pun­ção era ainda mais espesso apresentando gru­mos que constantemente arrolhavam a agulha. Por este motivo, na punção seguinte, empre­gámos um trocarte dum calibre um pouco maior que a agulha n.° 4.

21 — I —1913

Quinta punção de 520cc de pus e injecção de 10cc do líquido de Calot.

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O pus.muito modificado, sendo menos es­pesso e um pouco esverdeado.

2 - 2 - 1 9 1 3

Sexta punção de 275cc de pus e injecção de 10cc do líquido de Calot.

Depois outra punção seguida de injecção saiu o doente do hospital a seu pedido.

Aconselhamos a que continuasse na enfer­maria, porque ali iria fazendo uso de tónicos e estaria em repouso, o que não poderia fazer em casa. Insistiu, porém, em sair, mas foi-lhe per­mitido vir ao hospital nos dias em que fosse indicado o tratamento e assim fazia-se a

15 —2-1913

Segunda punção de 350cc de pus e injecção de 10cc do líquido.

28 2 -1913

Oitava punção de 350cc de pus e injecção de 10cc do líquido.

O pus era cor de tijolo avermelhado.

6 3 —1913

Nona punção de 20CF de pus sem injecção,

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porque a pele estava ligeiramente comprome­tida.

Mandamos então vir o doente no dia 8 para continuarmos com as punções sem injecções, mas só nos apareceu no dia 9 apresentando já a pele um pequeno orifício por onde saía o pus.

Começamos a tratar com cauterizações com nitrato de prata, tintura de iodo, lavagens com o azeite creosotado iodoformado, pensos este­rilizados, mas sem resultado, pois não só o doente nos não aparecia nos dias marcados, como não primava pela limpeza, quando o penso saía do seu logar.

Aconselhamos nesta ocasião a que se inter­nasse novamente, mas não quis, porque assim podia continuar a trabalhar e nada o incomo­dava o abscesso aberto.

Os curativos eram feitos em dias alterna­dos, porque o doente morava longe e algumas vezes passavam três e quatro dias por causa da chuva que o não deixava sair de casa.

j Assim foi fazendo tratamento até junho, mês em que abandonamos o doente; nunca mais o tornámos a ver, mas consta-nos que as melhoras são poucas.

Durante a sua estada no hospital fez uso do óleo de fígado de bacalhau e de injecções de cacodilato de soda sentindo-se em fins de ja­neiro de 1913 já mais forte.

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No hospital estava bem, porque nada lhe faltaria desde o tratamento local ao geral e es­tamos certos de que, se êle não tem saído, ti­raria bom resultado, pois, se excepcionalmente não se curasse com a primeira série, faria a se­gunda com o que ficaria bom.

Para se ajuizar dos graves riscos que corria o doente em não se internar no hospital será bastante dizer que em sua casa era obrigado a levantar-se cedo e todos os dias, porque sendo lampianista tinha a seu cargo a limpeza dos candieiros da área que lhe havia sido destinada e bem assim acendê-los à noite, para de madru­gada os apagar.

Fizernos-lhe ver todos estes inconvenientes prometendo-nos não trabalhar em quanto não estivesse curado visto a companhia permitir-lhe arranjar um substituto.

Infelizmente não cumpriu, como viemos a saber e portanto o pouco resultado que o lí­quido modificador de Calot deu, neste caso deve-se ao doente e não ao método das pun­ções e injecções.

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OBSERVAÇÃO III

A. S., natural e residente no Porto, solteira, 17 anos, entrou para o hospital de Santo Antó­nio, por se sentir muito fraca a 22 de setem-brede 1912.

Examinando a doente, notamos na parede anterior do tórax, junto à articulação esterno-clavicular uma saliência do tamanho duma noz sentindo a doente dores à pressão. Não pude­mos precisar bem onde eram as dores, porque a doente sendo uma internada do Asilo das Ra­parigas Abandonadas, não estando, portanto, acostumada a falar, limitava as suas respostas a monossílabos e apenas chegávamos junto à sua cama começava a chorar ou pelo menos queixava-se muito, impossibilitando-nos assim de fazermos um exame mais cuidadoso.

Fui encontrar um outro abscesso indo da õ.a vertebra cervical k l.a dorsal estendendo-se

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em largura duma a outra omoplata. Nesta não havia dores, como com custo pude verificar. O abaulamento era relativamente pequeno.

Havia flutuação, quer em um quer no outro e as temperaturas locais eram as mesmas que em qualquer outra região.

Procurando investigar a história da doença, soubemos que foi em outubro de 1912 que notou o inchaço da nuca, mas ainda pequeno, ao passo que o do peito foi só nas vésperas de entrar para este hospital.

Não foi porém isto que motivou a sua en­trada, mas sim um estado de fraqueza bastante adeantado. Na verdade fizemos-lhe a ausculta­ção e se é certo que não havia ralas, o murmú­rio contudo estava muito diminuído.

Os antecedentes pessoais são resumidos mas suficientes para se avaliar a pobreza orgâ­nica.

Conta a doente que aos quatro anos se constipou, esteve meses de cama, e desde então nunca mais a deixou uma tosse seca, sentin-do-se sempre muito fraca.

Foi assistida pela primeira vez aos 14 anos sendo sempre irregular nos mênstruos e desde outubro que não lhe apareceu mais.

A mãe morreu aos 28 anos dum parto, mas foi sempre fraca e o pai ainda é vivo, mas sofre do peito, diz a doente.

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Morreram-Ihe dois irmãos ainda peque­nos e tem um vivo, mas igualmente débil.

Indubitavelmente aquelas saliências a que acima me refiro eram abscessos frios e por consequência fiz a aplicação do método de Calot com a devida autorização do médico director da enfermaria.

Em fins de janeiro apareceram-lhe mais dois abscessos sendo um na região anterior do antebraço esquerdo e outro junto à arti­culação do primeiro metacarpiano.

Em fevereiro apareceu um outro por detrás do ângulo do maxilar inferior do lado esquerdo e bem assim um outro no terço inferior da região anterior do antebraço esquerdo, pois o que acima me refiro era no terço médio.

Esta doente esteve sempre a fazer uso de tónicos variados, mas apesar disso não pôde resistir e a 2 de maio faleceu. Vitimou-a um fortissimo ataque de meningite.

E possível que, se vivesse à beira-mar com um bom regime alimentar, usando reconsti­tuintes e tratando-se localmente pelo método de Calot obtivesse algum resultado.

Os tratamentos foram feitos assim :

19 - I — 1913

Punção de 70cc de pus e injecção de 5CC

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de azeite creosotado iodoformado. O pus era espesso e côr de café com leite mas escuro; agitando-se movia-se em massa. Abscesso da nuca.

31 —I —1913

Punção de 75cc de pus e injecção de 5CC

do líquido de Calot. O pus modificou-se bas­tante, pois não só se fluidificou a ponto de sair facilmente pela agulha n.° 3, quando na primeira punção empregamos a n.° 4 e foi com custo que êle saiu, como se tornou mais claro. Abscesso da nuca.

I - 2 - 1913

Punção de 10cc de pus e injecção de 2CC

do líquido de Calot. Pus muito espesso sendo preciso a agulha

n.° 4 para com dificuldade ainda a tirar. Côr amarelo acastanhado. Abscesso do peito.

1 - 2 - 1 9 1 3

Punção de 12cc de pus e injecção de 2CC do líquido.

Aconteceu-nos o mesmo que no do peito pelo que respeita ao pus. Abscesso da mão.

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II —2-1913

Punção de 70cc de pus e injecção de 6CC do * líquido de Calot.

O pus modificou-se um pouco passando a esverdeado. Abscesso da nuca.

Il —2-1913

Punção de 4CC de pus e injecção de lcc de • do líquido de Calot.

O pus mais fluido ficou um pouco mais escuro. Abscesso do peito.

11-2-1913

Punção de 6CC de pus e injecção de lcc do líquido de Calot.

O pus é muito espesso e com grumos. Abscesso do terço médio do antebraço esquerdo.

Era dia de puncionar também o da mão, mas este tinha desaparecido. Estava curado.

2 2 - 2 — 1913

Punção de 15cc de pus e injecção de 3CC do líquido.

O pus era já menos espesso. Abscesso do terço médio do antebraço esquerdo.

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22 — 2 -1913

Punção de 25cc de pus e injecção de 5CC do líquido de Calot.

Pus escuro e espesso. Abscesso do pescoço.

2 2 - 2 — 1913

Punção de 30cc de pus e injecção de 5CC do líquido de Calot.

O pus era cremoso. Abscesso do terço in­ferior do antebraço esquerdo.

O abscesso do peito desapareceu e no abs­cesso da nuca rompeu-se a pele e fez-se uma fístula. Foi tratada com pensos estirilizados e lavagens com azeite creosotado iodofòrmado. Dias antes de morrer a fístula estava com me­lhor aspecto, mas não chegou a fechar.

9 - 3 — 1913

Punção de 5CC de pus. Lavagem com o lí­quido modificador e compressão. Abscesso do terço médio do antebraço esquerdo.

9 — 3 — 1913

Punção de 45cc de pus e injecção de 5CC do líquido de Calot.

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O pus estava completamente modificado, pois o líquido que saiu era uma serosidade, a não ser no fim da aspiração que apareceu pus um pouco grosso. Abscesso do pescoço.

9—3 — 1913

Punção de 27cc de pus e injecção de 5CC do líquido.

Pus amarelo-claro e menos espesso. Abs­cesso do terço inferior do antebraço esquerdo.

24 — 3 — 1913

Punção de 75cc de pus. Não fizemos injecção e somente compres­

são. Abscesso do pescoço.

7 - 4 — 1913

Punção de 15cc de pus e injecção de 4CC

do líquido. Pus do mesmo aspecto. Abscesso do terço

inferior do antebraço esquerdo.

7-4—1913

Punção de 45cc de pus e lavagem com azeite creosotado iodoformado.

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Não fizemos compressão para verificarmos se havia renovação de serosidade, o que acon­teceu. Abscesso do pescoço.

A flutuação do abscesso do terço médio do antebraço esquerdo desapareceu e o abs­cesso estava curado.

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OBSERVAÇÃO IV

R. C. T., 50 anos, natural e residente no Porto, entrou para o hospital de Santo Antó­nio a 30 de Janeiro de 1913.

Apresentava junto da coluna vertebral e pela altura da 6.a costela esquerda uma tume-fação regulando o seu volume pelo de uma grande laranja.

Havia flutuação, mas pouco nítida, e por isso fizemos uma punção exploradora para nos certificarmos no diagnóstico.

Sentia ligeiras dores à pressão na costela. A doente conta-nos a sua doença da seguinte maneira:

Em abril começou a sentir dores espontâ­neas aumentadas com a pressão naquela região dizendo ela ser na costela.

Em maio notou que começava a inchar lenta e regularmente, servindo-se até desta ex-

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pressão para melhor se explicar — parecia o peito de uma mulher — e assim foi andando até novembro.

Desde este mês não reconheceu aumento nem diminuição de volume.

A doente era fraca e queixava-se de reuma­tismo, cefalalgias, constipação e anorexia.

Era sifilitica. Teve nove filhos existindo só uma filha, também fraca. Seis morreram-lhe quando crianças e depois de sifilitica morre­ram-lhe os outros dois com poucos meses.

Começou desde a sua entrada com injec­ções de cacodilato de soda dando duas series, ou sejam vinte injecções.

Diagnosticámos um abscesso frio e por­tanto empregamos o método de Calot.

Fizemos a primeira punção a:

7 - 2 - 1 9 1 3

Punção de 310cc de pus e injecção de 10cc

de azeite creosotado iodoformado.

19 - 2-1913

Punção de 90cc de pus e injecção de 5CC. do líquido modificador.

Pus muito grosso e cor de café com leite.

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3 - 3 — 1913

Punção de 20cc de pus e 3CC de naftol can­forado glicerinado.

Mudamos de líquido modificado, porque era preciso.

8 — 3-1913

Punção branca e injecção de 5CC de naftol canforado glicerinado.

Havia pus, mas não passava pela agulha n.° 4, pelo que tivemos de empregar um tro-carte.

13 — 3 1913

Aconteceu-nos o mesmo quanto á punção e portanto repetimos a injecção de naftol.

20-3 -1913

Punção de 30cc de pus e injecção de 6CC

de azeite creosotado iodoformado.

1 — 4—1913

Punção de 50cc de pus e injecção de 7CC

do líquido modificado de Calot (azeite).

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i)-l

12 ~ 4- — 1913

Punção de 80cc e injecção de 5CC de naf-tol. Pus muito grosso custando a atravessar o trocarte.

24 — 4 — 1913

Punção 100cc de pus e injecção de 8CC do líquido.

Pus mais claro e fluido.

3 - 5 1913

Punção branca e injecção de naftol Havia pus.

7 — 5 — 1913

Punção de 80cc de pus e injecção de 7CC de azeite creosotado iodoformado.

20 —5 -!9!3

Punção branca e injecção de naftol. Mandamos aparecer a doente dia 25, mas

faltou. Procuramos saber onde morava e fomos

falar com ela. Convencemo-la de que devia voltar ao tratamento e assim fizemos-lhe a:

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'.).-)

2 8 - 5 - 1 9 1 3

Punção de 50cc de pus e injecção de 8" de azeite.

Não voltou a aparecer. Fomos novamente procurá-la, mas não a conseguimos encontrar por isso nada mais podemos acrescentar a esta observação pelo que respeita ao seu estado actual.

Esta doente saiu do hospital nos primeiros dias de março, a seu pedido, vindo depois a tratamento.

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OBSERVAÇÃO V 1

D. A. R. A. L., viúva, de 65 anos de idade, diabética, com descarga de açúcar de uma completa irregularidade, mesmo em uso de dieta, conservando vestígios de antiga papeira, apresentou no começo do mês de fevereiro de 1913 fortes dores no ombro esquerdo, que se estendiam para a espádua do mesmo lado, isto acompanhado de tumefação da região es-capular esquerda, tendo sido diagnosticado pelo clínico assistente um ataque de reumatis­mo. Concomitantemente, na região lateral es­querda do pescoço desenhava-se nova tume­fação com rubor da pele e dores espontâneas, que se agravavam á pressão.

1 Esta observação foi-mo cedida pelo meu con­discípulo Earia e Vasconcelos.

7

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Em poucos dias reconhecia-se que se tra­tava de dois abscessos em que a fluctuação dava a conhecer uma grande acumulação de pus. Toda a evolução destas duas colecções tinha sido acompanhada de elevação de tem­peratura que atingiu 38°, calafrios, mal-es-tar, etc.

Reconhecida a causa destas perturbações gerais, impunha-se a abertura dos dois absces­sos, o que foi feito pelo ilustre clínico Dr. Go­mes de Araújo, com o meu auxílio, no dia 18 de fevereiro.

Praticaram-se nos dois abscessos peque­nas aberturas, a bisturi, por onde se escoou enorme quantidade de pus bastante espesso e de côr amarelo-esverdeada. Colocaram-se dre­nos de gase depois de abundante lavagem com água iodada. Encarregado pelo assistente de fazer os subsequentes curativos, continuei usando de água iodada para fazer as lavagens, difíceis e demoradas, não só pelas pequenas dimensões das aberturas, mas pela extensão dos descolamentos. O abscesso da espádua tinha no seu maior diâmetro, o vertical, uma extensão de 18 centímetros, e o do pescoço, cuja abertura rasava o bordo anterior do ester-no-cleido-mastoideu, atingia quasi a altura das vértebras cervicais.

Como a supuração continuasse abundante

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e fétida, comecei a empregar a água oxigenada a 10 v., do Instituto Pasteur de Lisboa, diluída em água fervida, tendo conseguido apenas com isso uma pequena diminuição no mau cheiro, mas sem haver redução da quantidade de pus nem tendência á cicatrização.

Nesta altura assisti no hospital a um cura­tivo, feito pelo então meu condiscípulo Anto­nio de Sousa Campos Junior, em um abscesso frio do lado esquerdo do tórax de uma doen­te, curativo feito com a mistura de Calot que era injectada para dentro da cavidade do abscesso, depois de lhe ser extraído o pus que continha por meio de um aspirador.

Ocorreu-me então a ideia de aplicar a mesma fórmula de Calot na mfrfha doente, posto que este medicamento tivesse a sua indicação ape­nas nos abscessos frios.

Colhendo do meu condiscípulo Sousa Cam­pos as informações precisas, comecei a usar a fórmula de Calot na minha doente no dia 26 de fevereiro. Em poucos dias o aspecto e a quan­tidade de pus dos dois abscessos sofreram vi­sível mudança, pois que passou a ser um pus amarelo-claro, grosso, sem grumos e em quan­tidade muito menor.

O cheiro fétido modificou-se também gran­demente, acabando por desaparecer. Evidente­mente a cura ia-se operando, mas com um va-

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gar verdadeiramente desesperador. A capaci­dade dos abscessos ia-se reduzindo,.-© que eu ia verificando por sondagens cuidadosas.

Estas sondagens que a princípio eram indo­lores, foram, pouco a pouco, despertando a sen­sibilidade nas paredes da cavidade e algumas vezes produzindo pequeninas hemorragias, o que me fazia supor que a cura avançava.

Neste entretanto as repetidas análises da urina da doente, ora davam açúcar, ora não, sem que para tal houvesse motivo pois que ela se conservara sempre num regime alimentar próprio de diabéticos.

Em meados de junho, o abscesso do pes­coço, que se tinha ido reduzindo pouco a pouco, após duas injecções de tintura de iodo pura, fechou em boas condições deixando uma pe­quena cicatriz no lugar da abertura e tendo ha­vido uma perfeita aderência das paredes desco­ladas.

. Em princípios de julho comecei a espaçar os curativos que até aí eram feitos diariamente, pois que a aderência das paredes ia-se fazendo reduzindo-se assim não só a cavidade princi­pal, mas também outros que se tinham formado e que gradualmente, foram desaparecendo. E assim, com intervalos cada vez maiores, até 4 e 5 dias, a cavidade foi fechando até que, em 16 de agosto a cicatrização era perfeita, não res-

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tando à doente outro vestígio do seu abscesso, nem qualquer dificuldade de movimentos.

Eis rapidamente esboçado um caso que me parece interessante, pois prova a eficácia do tra­tamento pelo método de Calot nos abscessos quentes, quando até agora a sua exclusiva apli­cação era aos abscessos de origem tuberculosa.

E' provável que a cura se tivesse efectuado mais rapidamente se os curativos tivessem sido feitos com intervalos maiores, mas obstava a espaçá-los a quantidade de pus que conspur­cava o penso, por mais cuidado que houvesse na sua feitura. Além disso, como a doente an­dava a pé e a abertura do abscesso escapular era na parte inferior, todo o líquido medicamen­toso e o pus, tendiam a sair o que me obrigava à renovação do medicamento e do penso dia­riamente.

Todavia o resultado obtido com este trata-mente foi bom.

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CONCLUSÕES

Em presença duma tuberculose supurada há três tratamentos possíveis a seguir: opera­ção, abstenção e o das punções com as injec­ções.

Qual é o melhor? Indubitavelmente o ul­timo pelas razões que exporemos.

A operação não pode ser feita em toda a parte e demanda certa perícia. Por mais com­pleta que seja pode dar logar a fístulas.

Uma vez a fístula formada é fácil a entrada de gérmenes sépticos que irão causar infecções secundarias; portanto nunca operar, nem mes­mo tratando-se de adenites cervicais, pois, se estas curam, deixam cicatrizes que jamais des­aparecerão.

O segundo, isto é, esperar pela reabsorção poderá ser ensaiado olhando-se para o estado geral do doente e tonificando-o. Dá alguns re-

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sultados, é certo, mas a percentagem é pequena e a cura muito demorada.

Finalmente as punções e as injecções são o que deve ser seguido por todos, pois é sim­ples e fácil a sua técnica.

Pode ser feita em qualquer lugar que o médico se encontre, porque é pequeno o ma­terial preciso, pois em caso de necessidade uma seringa e uma agulha bastarão para pe­quenos abscessos.

A percentagem de cura é de 99 °/o e o tratamento pode levar três ou quatro meses se tudo correr bem.

A cura será tanto mais rápida e mais efi­caz quanto mais atendermos ao seu estado ge­ral, de maneira que não havendo necessidade de'intervir apenas o doente se nos apresente, é nossa obrigação desde logo prescrever-lhe um tratamento médico reconstituinte.

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PROPOSIÇÕES

Anatomia — Para aplicação do método de Calot, a anatomia descritiva sem a topográfica de nada serve.

Histologia — A existência da mielina caracteriza a substância branca.

Patologia geral — O terreno é tam importante como o agente infeccioso.

Patologia interna — O tratamento hidro-sulfuroso deve acompanhar o tratamento específico da sífilis.

Patologia externa — A punção exploradora esta­belece o diagnóstico diferencial entre abscesso frio e hérnia.

Partos — O processo de Fochier na duração da prenhez não dá resultado.

Medicina legal — O médico é o juiz. Higiene — O sifilítico tratado pode e deve ca-

sar-se.

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Matéria médica — O azeite creosotado iodofor-mado não modifica só abscessos frios.

Anatomia patológica — Indispensável a todo o médico.

Operações — O saber não basta para operar.

Visto. Pode imprimlr-se.

Oívveita £ima- C*. dtacido oa Qola Presidente. Director interino.

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E R R A T A S

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9 12 17 8

11 47 19-20 56 16 57 2 59 6 66 11 71 5 72 15-lí 73 4-5 80 6 » 15 82 21 83 4 84 1 86 17 87 7-8 93 4 » 20 95 5

Onde se lê desenvolvê-los, 5 e 10 dores a vaselina Compre-se estava tão agarra­

do que arrolhava

obtêm e melhor infectar colocação a seguir exporemos apresentava os adenites esquerdo e injec­

ção outra punção Segunda punção deu, neste caso fraca a 22 Nesta não ainda a tirar. de do líquido modificado, modificado encontrar

Deve ler-se desenvolvê-lo, 5 a 10 doses vaselina Comprime-se estavam tão agarra­

dos que arrolha­vam

obtura e o melhor injectar coloração a segujr : exposemos apresenta as adenites esquerdo de 5CC de

pus e injecção de esta punção Sétima punção deu neste caso, fraca, a 22 Neste não ainda o tirar. do líquido modificador, modificador encontrar;