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O pequeno livro Bowen

O pequeno livro Bowen · O pequeno livro Bowen para uma grande terapia manual Louise Tremblay traduzido do francês por Isabel Batista

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O pequeno livro Bowen

Para Pierre Saine, o meu primeiro leitor e precioso colaborador, a todos os meus estudantes graças aos quais todos os dias eu aprendo e a Gaston Germain, que semeou a ideia deste livro no meu espírito.

O pequeno livro Bowenpara uma grande terapia manual

Louise Tremblay

traduzido do francês por Isabel Batista

É altamente recomendável consultar sempre um médico antes de praticar as técnicas ou de seguir os conselhos descritos neste livro, principalmente se tiver problemas de saúde ou se sofrer de algumas afeções. O autor não aceita qualquer respon-sabilidade no caso de lesões ou outros problemas que podem resultar da prática dos métodos terapeúticos mencionados neste llivro.

Louise Tremblay, 2011. Todos os direitos reservados.

Não é permitida a reprodução deste livro, no todo ou em parte, sob qualquer

forma ou por qualquer meio eletrónico, mecânico, fotocopiado ou gravado sem

prévia autorização escrita do autor.

Conceção gráfica : Bárbara Claus

Tradução: Isabel Batista

ISBN 978-2-9810114-0-4

Dépôt légal æ Bibliothèque et Archives nationales du Québec, 2007

Dépôt légal æ Bibliothèque et Archives Canada, 2007

Catalogação antes da publicação da Biblioteca e arquivos nacionais do Quebec e Biblioteca e arquivos do Canada

Tremblay, Louise, 29 de abril de1960

El manual Bowen : para una gran terapia manualIncluye ref. bibliogr.ISBN 978-2-9810114-0-41. Manipulación (Terapéutica). 2. Mesoterapia. 3. Dolor – Medicinas alternativas. I. Título

RM724.T73 2007 615.8’2 C2007-941704-3

Índice Introdução 6

Como utilizar este livro 8

Capítulo 1 Origem e filosofía 10

• Resenha histórica 12. O ambiente de trabalho ideal 14

• Uma sessão Bowen 18. Os benefícios da técnica Bowen 22

• As contra-indicações 26

Capítulo 2 Duas teorias para compreender 28

• O movimento Bowen 30 A teoria energética 32

• A teoria neuromuscular 38 • A pausa 44

• Reações possíveiss 48 • Após o tratamento 49

Capítulo 3 Os movimentos de base 50

• A abordagem do terapeuta 52 • Relaxamento da parte inferior das costas

54 • Relaxamento das costas superior 56 • Relaxamento do pescoço 58

Capítulo 4 As várias técnicas diferentes 60

• Técnicas usuais 62 • Técnicas específicas 68

• Os exercícios 72

Conclusão 76

6

In t ro d u ç ã o

No nosso mundo extremamente agitado de hoje, ra-

ros são os momentos de verdadeira descontração.

Recebemos a toda a hora milhões de informações

sensoriais. Várias formas de agressões exteriores

como o ruído, os espaços restritos, a multidão, a po-

luição e a omnipresença dos meios eletrónicos assim

como todos os tipos de stress que vivemos na nossa

vida pessoal e profissional mantendo o nosso sistema

nervoso simpático em atividade quase constante : não

conseguimos descontrair

Com a técnica Bowen, aproximamo-nos muito per-

to da limguagem do corpo. Este método permite ao

organismo tomar consciência do seu estado de stress

e inverter o processo estimulando a atividade para-

simpática. O organismo pode então gradualmente

reconhecer e restaurar as suas funções de «autoregu-

7

introducción

lação», que em consequência irão regular o seu meta-

bolismo e as suas funções neuromusculares.

A técnica Bowen é um método manual holístico que

propõe pôr em tensão muito suavemente os músculos

e os tecidos moles; dá resultados surpeendentes em

relação à intensidade do trabalho efetuado pelo

profissional. O seu slogan «Less is more*» define-a

na perfeição.

Apresentaremos a origem da técnica bowen e tenta-

remos explicar o seu funcionamento.Também iremos

descrever ao leitor os procedimentos de base afim de

se familiarizar com o trabalho do terapeuta Bowen.

Espero que este livro sensibilize o maior número pos-

sível de pessoas relativamente a esta técnica maravil-

hosa e que dê uma melhor compreensão aos profissio-

nais de todos os países.

*. «Less is more» : significa que quanto menos se faz, maior é a sua eficácia.

8

Co m o u t I l I z a r e s t e l I v ro

A técnica Bowen é um método terapéutico manual

proposto aos terapeutas de diferentes disciplinas :

kinesioterapeutas, osteopatas, fisioterapeutas e quirio-

práticos, mas também massoterapeutas, enfermeiros,

psicólogos, homeopatas e naturopatas, enfim, a todos

os terapeutas de saúde com abordagem tradicional ou

alternativa.

O organismo acreditado (ver formação) exige a todos

os seus profissionais uma formação de base em ana-

tomia e fisiologia. Embora este livro não tenha sido

concebido como material de «auto-aprendisagem»,

mas antes como um complemento num curso de

formação, ele será uma ajuda preciosa para se fami-

liarizar com esta arte do bem estar e compreender o

desenvolvimento Bowen com o seu profissional.

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como utilizar este libro

Ao longo deste livro, nas minhas explicações relati-

vas às fáscias e ao sistema nervoso, uso termos que

podem parecer repulsivos quando não se está dentro

desta terminologia. Se é o seu caso, dedique ainda

assim, algum tempo a ler essas passagens lentamente

e assim aprenderá mais do que aquilo que está a es-

pera. O conhecimento é acessível a todos, basta parar

um pouco e deixar-se envolver pelo sentido. Não se

preocupe, fique aberto e explore, não existe nenhum

exame no fim do livro!

Aos terapeutas manuais, praticando ou não Bowen,

eu proponho algumas pistas de reflexão. As teorias

enunciadas ainda são teorias e não pretendo ter en-

contrado todas as explicações. No entanto devemos

tentar compreender, procurar, colocar hipóteses e tes-

tar. Eu proponho o meu ponto de vista atual, estou

ansiosa para saber o seu.

10

Origem e filosofia

Ca p í t u lo 1

Tom Bowen inspirou-se no princípio de que o corpo

tem de conseguir «autoregular-se». Para ele, a técnica

terapeutica de eleição será aquela que estimularia o

organismo a resolver ele mesmo as disfunções resul-

tantes de pertubações ao nível do tecido.O princípio

subjacente quer que a estrutura governe a função.

Assim sendo uma pertubação da estrutura de qual-

quer tecido pertubaria o funcionamento desta e por

isso o funcionamento do organismo inteiro.

11

O Sr. Bowen propôs como objetivo restaurar a inte-

gridade estrutural do corpo de maneira a permitir um

funcionamento otimal do organismo.

Também acreditava na energia vital (Chi). Segundo a

medicina tradicional chinesa, esta energia deve circu-

lar livremente em todo o corpo afim de proporcionar

uma boa saúde. A genialidade de Tom Bowen foi a de

descobrir um sistema de mobilizações («moves») que

reaviva o percurso natural desta energia.

12

origem e filosofia

re s e n h a h I s t ó r I C a

Thomas Ambrose Bowen nasceu na Austrália em

1916 e casou com Jessie McLean em 1941. No início

dos anos 50, ele deu-se conta que as crises de asma de

que sofria a sua esposa, a qual necessitava de vários

internamentos hospitalares, variavam consideral-

velmente consoante a sua alimentação. Após alguns

anos com um bom regime alimentar e com as mani-

pulações dos tecidos moles, que ele tinha desenvolvido

para a aliviar, Jessie nunca mais sentiu necessidade de

medicamentos nem de hospitalização. Nessa altura, o

seu encontro com Ernie Sauders, reputado terapeuta

manual, marcou um ponto desicivo na sua vida. Foi

no seguimento de vários tratamentos com este homem

que ele começou pôr à prova a técnica que iria ter o

seu nome. Autodidata, Tom Bowen estudou anatomia

e pouco a pouco, experimentando continuamente, ele

13

r e s e n h a h I s t ó r I C a

desenvolveu um método único que lhe permitiu tratar

eficazmente as dores de costas dos seus colegas de tra-

balho. Por volta do fim dos anos cinquenta, perante

um aumento da procura aos seus tratamentos, Tom

Bowen decidiu abrir uma clínica e também trabalhar

à noite. Deixou de seguida o seu trabalho habitual

para se dedicar a tempo inteiro à sua prática.

Para começar usou o título de osteopata, visto que, na

sua opinião, era o que ele fazia; mais tarde, quando o

nome de osteopata se tornou reservado, ele nomeou-

se simplesmente de «terapeuta manual». À medida

que a sua reputação foi crescendo, vários profissionais

de saúde mostraram interesse por este novo método.

Do número destes observadores, Tom Bowen distin-

guiu apenas seis de entre deles, pelas suas competên-

cias ao praticá-la. Entre estes profissionais encontra-

va-se um massoterapeuta (Oswald Rentsch), quatro

quiropráticos (Keith Davis, Nigel Love, Kevin Neave

and Romnery Smeeton) e um osteopata (Kevin Ryan).

14

o a m b I e n t e d e t r a ba l h o I d e a l

origem e filosofia

Para otimizar os efeitos do tratamento Bowen, é es-

sencial respeitar algumas regras de trabalho. Iremos

descrever aqui o meio ideal de trabalho que encon-

trará nos profissionais deste método.

As influências exteriores

Em primeiro lugar, um ambiente tranquilo é o ele-

mento chave a considerar. As influências exteriores

como o ruído, a música (mesmo suave), sons am-

bientes, aromas de incensos ou de óleos essenciais,

são todos elementos que reduzem os efeitos do tra-

tamento. O sistema nervoso do cliente não deve ter

que gerir estes estímulos parasitas. Durante o trata-

mento Bowen, o terapeuta fala o menos possível ao

seu cliente. Todavia este último é convidado a expri-

mir o que ele vai ressentindo durante a sessão, visto

15

o ambiente de trabalho ideal

as suas reações poderem ter uma influência determi-

nante para mais tarde. Recomendamos ao terapeuta

que saia da sala entre cada sequência de movimentos,

afim de deixar a pessoa ressentir tranquilamente os

efeitos profundos do tratamento durante as pausas.

Isto nem sempre é possível e se o terapeuta permane-

cer na sala, deve afastar-se da marquesa.

O ambiente de trabalho

O ambiente da sala de trabalho deve ser agradável e

caloroso, deve convidar ao relaxamento.

A noção de calor é muito importante. É preferível

cobrir a pessoa que recebe o tratamento, mesmo que

esta esteja vestida.

16

origem e filosofia

A marquesa

A maior parte dos terapeutas preferem trabalhar com

uma marquesa sobre a qual eles usam um lençol lim-

po para cada cliente. A marquesa deve ser confortável

e larga o suficiente para poder colocar os braços ao

longo do corpo. Uma marquesa elétrica com altura

regulável pode ser útil para profissionais que recebem

várias pessoas ao dia.

O apoia cabeça nem sempre é aconselhável, a me-

nos que a posição deitado de bruços com a cabeça

virada seja demasiado desconfortável para que a pes-

soa consiga relaxar. Sugerimos aos terapeutas que

utilizem tantas almofadas e travesseiros quantos os

necessários para dar o máximo de conforto possível

ao cliente durante a sessão. Se for impossível para o

cliente deitar-se, também é eficaz praticar este méto-

do sentado ou até mesmo em pé.

17

o ambiente de trabalho ideal

Roupa apropriada

A técnica Bowen pratica-se melhor diretamente na

pele, mas um terapeuta experiente pode facilmente

trabalhar sobre roupa fina e larga. Se a pessoa fi-

car vestida é claramente preferível o uso de roupas

confortáveis às calças de ganga ou «leggings».

Otimizar resultados

Não podemos esquecer que queremos incitar o orga-

nismo a passar dum modo simpatico (estado de stress)

ao modo parasimpatico (estado de relaxamento pro-

fundo), e isto só é possível se a pessoa estiver envolvida

de calma, calor, conforto e de serenidade. Se estiver

confiante ela poderá relaxar e o terreno estará fa-

vorável para que os procedimentos do Bowen tenham

máxima eficácia. Pertence assim ao terapeuta criar

este clima calmante.

18

origem e filosofia

um a s e s s ã o bow e n

A técnica Bowen estimula o organismo e permite-lhe

normalizar-se por ele próprio.

Anamenese

Mesmo que o praticante do Bowen não esteja em al-

gum caso autorizado a obter um diagnóstico, desde a

sua primeira visita ele deve informar-se do seu estado

de saúde em geral e ter o cuidado de anotar o historial

clínico bem como, como a razão da sua consulta. Em

caso de dúvida, os clientes são convidados a consultar

o seu médico para uma avaliação do seu estado de

saúde.

A sessão propriamente dita

Uma sessão Bowen consiste numa série de movi-

mentos precisos (Os «moves» Bowen*) sobre zonas

específicas do corpo.

*. «Moves» : termo inglês utilizado, na generalidade e que descreve melhor o «movimento» que o terapeuta exerce na pele.

19

uma sessão Bowen

As pausas adotadas entre cada série de mobilizações

são frequentes e importantes, proporcionando assim

ao corpo o tempo de responder na totalidade aos mo-

vimentos. Utilizadas isoladamente, as mobilizações

podem levar a um efeito positivo, mas uma série com-

plementar de mobilizações maximiza normalmente

os resultados.

O terapeuta começa o seu trabalho na região lombar

do cliente (que está em decúbito ventral) e vai logo

de seguida trabalhar a parte posterior das pernas.

Continuará efetuando «moves» na região dorsal, a

seguir na região das omoplatas. O cliente pode em

seguida voltar-se para que o terapeuta efetue «moves»

sobre os músculos do pescoço*. Mediante o motivo

da consulta, este último poderá em seguida traba-

lhar numa zona mais específica do corpo respeitando

sempre esta alternância de «moves» e de «pausas».

*. Os profissionais Bowen nunca fazem manipulações vertebrais do tipo quiroprático, os músculos do pescoço são apenas suavemente solicitados.

20

origem e filosofia

Cada sessão dura em média entre 45 a 50 minutos e

só necessita de um número limitado de procedimen-

tos; até porque a técnica, sendo simples, é bem tole-

rada pelo paciente.

Após a sessão

Por motivos que mais tarde iremos explicar no livro,

na sequência duma sessão Bowen o cliente é convi-

dado a descansar, a caminhar, a beber mais água, a

evitar aplicações de gelo ou de calor, evitar os exercí-

cios intensos, os banhos quentes ou spas e adiar por

uma semana outra forma de terapia corporal. Alguns

exercícios de alongamentos podem ser sugeridos.

Se o cliente respeitar este protocolo, o estado de re-

laxamento profundo, induzido pelos «moves» Bowen,

pode ser sentido durante os quatro a cinco dias se-

guintes.

21

22

origem e filosofia

os b e n e f í C I o s da t é C n I C a bow e n

A técnica Bowen beneficia a todos. Contribue para a

manutenção da saúde e é preventiva. Parece permitir

ao sistema nervoso central de «detetar» assim que ele

está no estado parasimpático (em oposição do estado

de stress), os deséquilíbrios frequentemente ainda as-

simtomáticos e de normalizar as suas funções antes

que uma doença se instale.

As funções mais frequentementes melhoradas são a

respiração, a digestão, o sono, a circulação sanguínea

assim como a tensão arterial e o pulso, a circulação

linfática, o sistema endócrino e o sistema imunitário.

Portanto, não precisa de estar doente para receber

tratamentos Bowen.

23

os benefícios da técnica Bowen

Nalgumas condições, a técnica Bowen revela-se uma

arma eficaz. Não procura tratar condições específi-

cas, mas pelo contrário estimular o organismo a repor

no seu lugar os seus próprios mecanismo de cura.

Como já foi referido, os terapeutas Bowen nunca são

autorizados a fazer qualquer tipo de diagnóstico e o

cliente deve consultar o seu médico para avaliar o seu

estado de saúde. O terapeuta Bowen não deve intervir

nos tratamentos prescritos pelo médico.

Esta lista aqui apresentada foi constituida com base

em testemunhos de clientes nos quais a técnica Bowen

teve um efeito de alívio nos vários problemas diagno-

ticados pelo seu médico.

24

origem e filosofia

• recuperação mais rápida de doenças, cirurgias

ou lesões (quer tenham ocorrido recentemente ou

há mais tempo);

• dores osteomusculares sob forma aguda ou cró-

nica, post-traumática, post-cirúrgica ou de origem

artrítica, com perda de mobilidade ou espasmos

musculares;

• lesões desportivas : tornozelos, joelhos, entorses,

tensões musculares, «tenis elbow»;

• problemas da cintura pélvica : dores na anca,

diferença de comprimento das pernas, tensão em

certos músculos da região pélvica;

• problemas nos ombros : dores dos ombros e dos

membros superiores, inchaço dos braços, das mãos,

restrições da mobilidade dos membros superiores,

lesão proveniente de movimentos repetitivos;

• problemas de pescoço : torcicolo, no seguimento

de um acidente ou de uma má postura, restrições

da mobilidade do pescoço;

25

os benefícios da técnica Bowen

• dores no cóccix : no seguimento de uma queda

ou de um parto;

• dores de cabeça, enxaqueca : consequência de

stress e de tensões, ou de origem postural ou diges-

tiva;

• maxilares : dores, tensões nos maxilares;

• problemas de ciática : recente ou antiga;

• demonstra ser eficaz na recuperação do sín-

drome da fadiga crónica e da fibromialgia;

• dores menstruais : ciclos irregulares, síndrome

pre-menstrual, menopausa e golpes de calor;

• síndrome do túnel cárpico;

• problemas digestivos : obstipação, diarreia, fla-

tulência;

• sintomas pseudo-asmáticos, febre dos fenos,

constipações e gripe, congestões da sinusite;

• retenção dos líquidos, cálculos renais.

26

origem e filosofia

as C o n t r a- I n d I C a ç õ e s

Com a experiência acumulada de alguns milhares de

terapeutas, sem contar com Tom Bowen, que recebia

anualmente na sua clínica uma quantidade impres-

sionante de clientes, pode concluir-se que esta técnica

é muito segura, tanto nos mais jovens como nos mais

idosos ou inválidos e claro, nos atletas.

Esta terapia não tem contra-indicações, salvo casos

graves que não estão dentro do nosso âmbito de

actuação e que enviaremos para o médico, como as

infeções, febres fortes, fraturas e lesões, hemorragias,

problemas cutâneos graves, doenças contagiosas, pro-

blemas respiratórios graves, dores torácicas, cervicais

e abdominais não diagnosticadas, assim como outras

situações urgentes.

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28

Ca p I t u lo 2

Duas teorias para com-preender

Várias hipóteses tentam explicar os efeitos sur-

preendentes destes «moves» : poderíamos compará-

los a ação de um músico que quando belisca a corda

da guitarra na posição e com a força apropriada,

produz uma vibração que amplifica e se propaga por

todo o instrumento. Assim, o feixe de ondas produ-

zido pela ação do terapeuta atingirá todas as partes

do corpo, pelos meridianos segundo alguns, pelas fas-

cias segundo outros. O terapeuta pára durante alguns

minutos, para dar tempo a esta vibração de ir dimi-

nuindo por si própria.

29

Uma outra interpretação põe em causa o estímulo

de certos propriocetores como o tempo neuromuscu-

lar, orgãos tendinosos de Golgi e os recetores cines-

tésicos das articulações. O estímulo destes elementos

neurológicos, através da fibra muscular ou tendinosa,

seria o ponto de partida duma informação sensitiva

visando a reapropriação do esquema corporal pelo

sistema nervoso central. Esta teoria não está provada

cientificamente mas parece estar conforme a ação

exercida pelo terapeuta Bowen.

30

duas teorias para compreender

o m ov I m e n to bow e n

O movimento Bowen é em si próprio cheio de subti-

leza. Identificamos com o polegar ou com os dedos a

estrutura a tratar (por exemplo uma manga muscular,

tendinosa ou nervosa). A pele que a cobre é posta em

tensão com uma tração suave na direção oposta a da

mobilização solicitada. Em seguida, o músculo é soli-

citado aplicando-lhe uma pressão transversal suave

na direção do movimento projetado. O movimento

termina mobilizando a pele por cima da estrutura a

tratar.

Diferentes tipos de movimentos Bowen

Certos movimentos Bowen terão um efeito semelhante

à corda esticada de uma guitarra, que assim que se

liberta, produz esta sensação de vibração. Outros mo-

vimentos serão mais suaves, apenas percetíveis, prin-

31

o movimento Bowen

cipalmente aqueles efetuados nos locais onde a pele

é mais fina e delicada. Manteremos o tensionamento

mais tempo nos sítios dos tendões sólidos e volumosos.

Por vezes simples toques de pressão serão suficiente

para obter o resultado procurado. A técnica Bowen

que parece simples à primeira vista requer muita des-

treza e precisão por parte do terapeuta.

O que o cliente sente

É frequente os clientes falarem da sensação de calor

e de formigueiro. Praticamente todos descrevem um

efeito de profundo relaxamento à medida que a sessão

vai progredindo. Alguns chegam mesmo a adormecer,

o que cria alguma vantagem para deixar o campo

aberto ao sistema nervoso neurovegetativo. Quando

o profissional trabalha segundo as regras d’arte, raras

são as pessoas que não sentem nenhum efeito durante

a sessão Bowen ou nas horas que se seguem.

32

duas teorias para compreender

a t e o r I a e n e rg é t I C a

Aqui vamo-nos debruçar sobre dois aspectos da teoria

energética : primeiro o « CHI », em seguida a fáscia.

O CHI

Tom Bowen acreditava na energia universal chamada

de Chi. Esta energia circula à superfície e no interior

do corpo, ao longo duma série de canais identifica-

dos há vários séculos na medicina tradicional chinesa.

Estes catorze canais, os meridianos, são compostos

por pontos, pontos de acupuntura, cuja estimulação

influencia os orgãos do corpo e suas funções.

A maior parte dos movimentos da técnica Bowen

encontram-se sobre um meridiano e certos movimen-

tos sobre um ponto de acupuntura preciso. Fazendo

um « move » Bowen, o terapeuta estimula de facto o

33

a teoria energética

CHI contido nesse meridiano. Segundo a medicina

tradicional chinesa, a livre circulação do CHI dentro

do corpo humano é essencial para manter uma boa

saúde. A história não nos diz se Tom Bowen tinha

conhecimentos suficientes da medicina chinesa para

basear o seu conceito de procedimentos sobre esta.

Apesar disso, os acupuntores que exercem o método

Bowen estão de acordo em afirmar que o CHI se mo-

difica durante e após o tratamento.

A fascia

Anatomicamente, a palavra « fáscia » representa uma

membrana de tecido conjuntivo. Preferimos refe-

rir à fáscia tal como é descrita pelos osteopatas : um

conjunto membranoso muito extensivo no qual tudo

está ligado, tudo está em continuidade. Esta noção

tem como consequência principal que a mínima ten-

são ativa ou passiva se repercute sobre o conjunto da

34

duas teorias para compreender

estrutura. Todas as peças anatómicas podem assim

serem consideradas solidárias.

A fáscia é um tecido conjuntivo em que ele próprio

tem a mesma constituição de base que qualquer outro

tecido conjuntivo :

• células que transformam duas proteinas de

constituição : as fibras de colagénio e de elastina;

• A matriz celular : o espaço livre entre as células

chamado de « substância fundamental ».

Composta por líquido incompleto, proteinas (os pro-

teiglicanos) e de grandes moléculas (as glicosamino-

glicanos) que têm por função, entre outras, atrair e

reter água. Ela ocupa o espaço entre as células e fixa

as fibras.

As mudanças de viscosidade da substância fundamen-

tal permite uma fixação de água no espaço tissulares,

previne a disseminação das infeções e influencia a ati-

vidade metabólica da célula.

35

a teoria energética

O líquido joga um papel vital. É o lugar de uma

imensa atividade metabólica contém um grande nú-

mero de células nutritivas e ainda um maior número

de células macrófagas, o que lhe confere um lugar pri-

mordial na função de nutrição celular e na função de

eliminação dos resíduos metabólicas.

O líquido intersticial espalha-se nos tecidos e caminha

entre os espaços intersticiais por « derramamento ».

Não se fala mais de circulação canalizada : o líquido

propaga-se como uma mancha de óleo graças ao des-

lizamento dos tecidos uns sobre outros.

Poderia dizer-se que todos os tecidos conjuntivos são

fáscia mais ou menos denso.No conjuntivo frouxo, as

fibras têm espaço e há bastante líquido intersticial.

É um tecido « laboratório » visto conter bastante célu-

las nutritivas e macrófagas. Dentro do tecido fibroso

firme, tem muito menos : é um simples tecido mecâ-

nico.

36

duas teorias para compreender

Assim as aponevroses, tendões, lâminas fibrosas, cáp-

sulas e ligamentos fazem parte de um sistema mecâ-

nico chamado de FÁSCIA.

Todo este tecido conjuntivo, ou fáscia, deve estar bem

hidratado para assegurar as suas funções principais

• de circulação dos líquidos

• de proteção e amortecimento

• de sustentação e de suporte (a fáscia engloba e

compartimenta cada orgão)

• de troca bioquímica, e

• de defesa imunitária (primeira linha de defesa

imunitária do organismo).

É fundamental, para o bom funcionamento do

organismo, que o gel coloídal do qual é formada a

substância fundamental não esteja demasiada vis-

cosa ou « espessa ». A tixotropia é uma caracterís-

tica da subs tância fundamental. Quer isto dizer que

no seguimento de uma transferência de energia este

37

a teoria energética

gel coloídal transforma-se em líquido coloídal para

facilitar as trocas metabólicas e a condução elétrica.

Todos os tipos de energia têm a capacidade de levar à

liquidificação do gel coloídal, como energia calorífica,

química, elétrica e eletromagnética. Mas parece que

a energia mecânica tem esta propriedade num grau

cinco vezes superior ao dos outros tipos de energia*.

O terapeuta Bowen, graças às pressões exercidas

transversalmente sobre as bolsas fasciais dos múscu-

los e sobre os ligamentos e tendões, influencia a hi-

dratação da fáscia num determinado ponto. Visto a

fáscia estar por todo o lado continuamente, poderá

presumir-se que esta energia mecânica, que fluidifica

a substância fundamental, altamente condutora, po-

derá transferir-se para a globalidade de fascia.

*. As fáscias - Papel dos tecidos na mecânica humana, Serge Paoletti, edições Sully.

38

duas teorias para compreender

a t e o r I a n e u ro m u s C u l a r

As sensações propriocetivas são consequência do grau

de contração dos músculos, da tensão dos tendões, da

posição das articulações e da orientação da cabeça

em relação ao solo. Os recetores da propriocepção

são chamados propriocetores. Encontramo-los nos

músculos esqueléticos, nos tendões, articulações, liga-

mentos e tecido conjuntivo que cobre os ossos e os

músculos. O cérebro recebe sem parar infuxos nervo-

sos relativos à posição das diferentes partes do corpo e

efetua os ajustes necessários à coordenação.

Vamos apresentar três tipos de propriocetores :

• Os feixes neuromusculares situados nos múscu-

los esqueléticos;

• Os orgãos tendinosos de Golgi situados nos ten-

dões;

• Os recetores cinestétsicos das articulações situa-

39

a teoria neuromuscular

dos nas cápsulas articulares das articulações sinu-

viais.

Não havendo ainda provas científicas sobre esta ques-

tão é razoável acreditar que os movimentos Bowen

têm uma ação direta sobre o sistema nervoso através

dos propriocetores, especialmente através de certos

meconorecetores.

Feixes neuromusculares

Os feixes neuromusculares detetam as variações do

comprimento dos músculos esqueléticos. A infor-

mação que eles emitem surge do cerebelo, onde ela

promove a coordenação das contrações musculares,

e no cortex cerebral, onde ela permite a perceção da

posição dos membros.

No movimento Bowen, o tensionamento perpendicu-

lar sobre o corpo do músculo, com lentidão e suavi-

dade, permite aos feixes neuromusculares ativarem-se

40

duas teorias para compreender

o suficiente para encaminhar impulsos nervosos ao

cerebelo e ao cortex cerebral, mas não o suficiente

para contrair o músculo. Quando um músculo é esti-

mulado com força, uma oposição reflexo a este alon-

gamento ocorre e provoca a contração do musculo

estimulado e o relaxamento dos músculos antagóni-

cos. No entanto, é possível que um tensionamento

perpendicular do músculo suficientemente firme

sem ser forte relaxe os músculos antagónicos sem os

contrair. Isto poderia explicar o efeito de relaxamento

do movimento Bowen assim que é efetuado sobre o

corpo do músculo.

Os orgãos tendinosos der Golgi

Um orgão tendinoso de Golgi é um propriocetor

integrado, perto do ponto de interceção do músculo

esquelético. Assim que o tendão sofre uma tensão,

os orgãos tendinosos de Golgi produzem impulsos

41

a teoria neuromuscular

nervosos que se propaguem até ao sistema nervoso

central para o informar sobre as variações da tensão

muscular. Desencadeando os reflexos tendinosos, os

orgãos tendinosos de Golgi protegem os tendões e os

músculos contra uma tensão excessiva podendo cau-

sar lesões. Os reflexos tendinosos provocam um re-

laxamento dos músculos e uma diminuição da tensão

muscular.

Certos movimentos Bowen são efetuado sobre o pró-

prio tendão. Estes movimentos tem a particularidade

de se manterem vários segundos pelo terapeuta. Com

efeito, a adaptação dos orgãos tendinosos de Golgi

faz-se lentamente e para se chegar a ativar estas célu-

las, o terapeuta deve manter o tensionamento do ten-

dão vários segundos.

42

duas teorias para compreender

Os recetores cinestésicos das articulações

Existem vários tipos de recetores cinestésicos das arti-

culações no interior e à volta das cápsulas articulares

das articulações sinoviais.

Os corpúsculos de Rufini estão situados na derme e

dentro das articulações, ancorados nos ligamentos.

Estes recetores são recetores profundos sensíveis à

pressão e ao estiramento da pele.

Os corpúsculos de Pacini estão situados no tecido

conjuntivo adjacente às cápsulas articulares assim

como na derme e o tecido sub-cutâneo. Estes rece-

tores profundos são particularmente sensíveis às

vibrações. Eles reagem igualmente a uma pressão

intensa e somente à primeira aplicação desta pressão

assim como a aceleração e desaceleração dos movi-

mentos articulares.

43

a teoria neuromuscular

Os ligamentos articulares contém recetores que regu-

lam a inibição reflexa dos músculos adjacentes assim

que a articulação sofre uma contração excessiva.

Muitos movimentos Bowen efetuam-se perto das arti-

culações. Os recetores cinestésicos das articulações

serão solicitados principalmente logo que os movi-

mentos sejam aplicados sobre pequenas articulações,

como o punho ou o tornozelo. A técnica Bowen não

faz nenhuma manipulação forçada, mas fazemos por

vezes mover um membro, um pé, um braço ou uma

mão, com o objetivo de ativar estes recetores cinesté-

sicos.

44

duas teorias para compreender

a pau s a

Tal como o tensionamento do músculo, a sua duração

e sua intensidade, mostra-se primordial para obter re-

sultados, tal como é essencial a pausa entre as séries

de movimentos. É esse o segredo, a chave da técnica

Bowen. Nenhuma outra terapia manual integra tais

momentos de silêncio, os quais permitem ao organis-

mo de reagir aos nossos estímulos por um processo de

feed-back. Este processo não deve ser interrompido

por outros estímulos. Queremos apenas que o impul-

so dado seja percebido pelo sistema nervoso central e

que ele reaja apenas a este impulso, durante um certo

lapso de tempo.

No cérebro, é pelo sistema ativador reticular as-

cendente que passa uma corrente continua de fluxo

nervoso em direção ao cortex cerebral afim de o man-

ter no estado de vigilância.

45

a pausa

Os fluxos provenientes dos grandes vasos sensitivos

ascendentes chegam aos neuronios desse sistema,

guardando-os em atividade e aumentando os seus

efeitos excitores sobre o cortex cerebral. Diminuindo

as estimulações do ambiente exterior (como o ruído,

as falas, a luz, os cheiros, as sensações tácteis, a mú-

sica), diminuimos este efeito excitante.

O sistema ativador reticular ascendente parece ser-

vir de filtro a este afluxo de informações sensoriais.

Ele diminui os sinais repetitivos, familiares ou fracos

e deixa chegar até à consciencia os sinais inusitados,

importantes ou intensos. O SRAA e o cortex cerebral

negligenciam sem dúvida 99% dos estimulos senso-

riais gravadas pelos nossos recetores.

Por exemplo, se caminhar na rua, é muito provável

que o seu cérebro percepcione prioritáriamente o

barulho dos carros vindos atras de si e não a cor da

camisola da pessoa que está no outro passeio. Este fil-

46

duas teorias para compreender

tro serve para dar prioridade às informações.

Os movimentos Bowen são na maior parte muito

suaves. Perder-se-iam provavelmente num ema-

ramhado de informações se não se tiver o cuidado

de os isolar. Assim, se houver apenas os movimentos

Bowen a percepcionar, eles podem passar o filtro do

SRAA e ser registados pelo cortex cerebral.

A pausa tem uma duração de pelo menos dois minu-

tos e por vezes, é ao cabo de 30 a 60 segundos que

o cliente começa a sentir calor ou os formigueiros

frequentemente descritos. Esta pausa prolongar-se-

á tanto quanto o necessário para que a pessoa sinta

alguma coisa, sinal que o sistema nervoso é ativado.

47

48

duas teorias para compreender

re a ç õ e s p o s s í v e I s

É frequente haver reações de desentoxicação no se-

guimento de uma primeira sessão Bowen. Estes sinto-

mas vão desde de uma ligeira dor de cabeça a fadiga

súbita. Podem-se observar estas reações após uma

massagem ou tratamentos de osteopatia. O corpo

descarrega as suas toxinas e os efeitos podem fazer

sentir-se durante 24 a 48 horas. Nesse momento re-

comenda-se beber mais água e caminhar para aju-

dar à eliminação dos resíduos metabólicos. É muito

raro esta reação produzir-se ainda após uma segunda

sessão ou nas sessões subsequentes.

Os efeitos positivos do tratamento Bowen podem-se

manifestar logo após a primeira sessão, ou demorar

quatro a cinco dias a surgir. Por vezes, é ao cabo de

duas a três semanas que a pessoa sente uma mudança.

49

após o tratamento

ap ó s o t r ata m e n to

• Não ficar sentado (em casa, no trabalho ou no

carro) mais de meia hora de uma só vez, caminhe

um pouco e volta sentar-se. O movimento contri-

bui para a autoregulação do corpo. Isto é parti-

cularmente importante para pacientes que sofram

de dores lombares.

• Caminhar ajuda também à estimulação da cir-

culação sanguínea e linfática.

• Beber mais água durante os dias que se seguem.

• Esperar pelo menos cinco dias antes de receber

uma outra forma de terapia manual. O tratamen-

to Bowen pode chegar aos dez dias para completar

a sua ação.

• Evitar aplicação de gelo ou de calor nos dias que

se seguem ao tratamento.

50

Ca p í t u lo 3

Os movimentos de base

Antes de descrever os movimentos de base da técnica

Bowen, é importante rever os benefícios deste méto-

do. Para além de um relaxamento excecional, aqueles

que recebem este tratamento sentem efeitos profun-

dos e benéfícos que se manifestam tanto na qualidade

do sono como na regularização dos sistemas osteo-

musculares, digestivos, respiratório e hormonal.

Uma só sessão pode trazer um bem estar geral, mas

geralmente é necessária uma série de sessões para

obter resultados completos e duradouros.

51

As afeções crónicas instaladas de longa data serão

melhoradas por sessões regulares e escalonadas por

um periodo mais longo. A cada sessão ou quase, o

terapeuta recairá sobre o que é essencial para estimu-

lar o sistema nervoso parasimpático e assim permitir

ao organismo de se relaxar completamente.

Os outros procedimentos terão como alvo uma zona

em particular. As qualidades aptidões do terapeuta

são determinantes para para o sucesso do tratamento.

52

os movimentos de base

a a b o r dag e m d o t e r a p e u ta

À conta da singularidade do método Bowen, para

além das qualidades de empatia e de « motivação »

necessárias a todos os terapeutas, aquele que prati-

ca a técnica Bowen deve possuir aquelas qualidades

específicas que fazem dele um bom profissional do

método Bowen.

• A precisão: Cada movimento Bowen precisa de

um grau de precisão tal que o resultado depende mui-

tas vezes desta. Durante os estágios, a atenção do pro-

fessor é fulcral no aspeto da prática. Cada «move» é

localizado segundo pontos de referência anatomicas

precisas.

• Uma sensibilidade tatil acentuada: Esta ad-

quire-se com o tempo. É importante para os tera-

peutas, conseguirem sentir a tensão dos músculos e

das fáscias. Podem assim ajustar o tensionamento do

53

a abordagem do terapeuta

músculo segundo o grau de tensão sentido ao nível

dos tecidos moles.

• A paciência: Os terapeutas que aprendem este

método devem imperiosamente respeitar à risca as

pausas indicadas. No início, esta técnica pode pare-

cer surpreendente, ou até mesmo bizarra, tanto para

quem a pratica como para aquele que a recebe. O

paciente passará a ser um grande aliado do terapeuta

Bowen, visto que sem as pausas, não obteremos os

resultados pretendidos.

• A humildade: O terapeuta Bowen deve ter em

atenção que o seu trabalho só consiste em estimular

certas zonas do corpo. O verdadeiro trabalho é feito

por aquele que recebe o tratamento. Os resultados

não pertencem ao terapeuta, mas sim à aplicação da

técnica e da reação do organismo a estes estimulos.

54

os movimentos de base

re l a x a m e n to da pa rt e I n f e r I o r da s C o s ta s

Utiliza-se este procedimento como preparação para

todos os outros procedimentos que serão realizados

na parte inferior do corpo, como o procedimento da

bacia (pélvico), do joelho ou dos tornozelos. Contribui

para a auto regularização geral do organismo e será

útil para todas as afeções lombares.

A pessoa que recebe o tratamento está deitado de bar-

riga para baixo. O terapeuta começa por colocar os

dedos sobre os músculos paravertebrais, ao nível da

lombar, e efetua um «move» de cada lado da coluna

vertebral. Prossegue com um «move» sobre os mús-

culos dos glúteos médios de cada lado, habitualmente

uma zona de tensão importante. Ele liga com uma

pausa de pelo menos dois minutos.

55

relaxamento da parte inferior das costas

Os seus dedos apoiam-se sobre o tendão comum dos

isquiotibiais, O terapeuta faz em seguida um «move»

rápido sobre o cabeça longa do bíceps femoral, se-

guido de um «move» sobre a faixa iliotibial. Após

uma pausa de dois minutos, termina o procedimento

repetindo o «move» sobre o glúteo médio. Este pro-

cedimento aparentemente simples é essencial para o

relaxamento de todo o organismo.

56

os movimentos de base

re l a x a m e n to da s C o s ta s s u p e r I o r e s

Além de contribuir a auto-regularização geral de todo

o organismo, o procedimento do relaxamento das

costas superiores é essencial para problemas osteo-

musculares da região cervical à região lombar e para

problemas de ombros. Será utilizado como prepara-

ção para outros procedimentos das costas superiores.

O terapeuta coloca os dedos sobre os erectores da es-

pinha ao nível da ponta da omoplata. Ele efetua qua-

tro «moves» que estimula sobre estes músculos antes

de fazer uma pausa de dois minutos.

A seguir, perto de cada omoplata, ele faz um « move »

que estimula os trapézios médios, os romboídes e os

músculos angulares da omoplata, seguido de uma

pausa de dois minutos.

57

relaxamento das costas superiores

Enfim após um « move » sobre os grandes dorsais,

executará uma séries de «moves» sobre os músculos

paraespinhais, partindo da região lombar até à região

torácica. Com isto completa o procedimento das cos-

tas superiores.

58

os movimentos de base

re l a x a m e n to d o p e s C o ç o

Tal como os dois procedimento anteriores, o procedi-

mento do pescoço contribui à auto-regularização do

organismo. E mais, ele é particularmente indicado

para os problemas osteomuscular da região cervical

e da cintura escapular. É também uma preparação

para o procedimento utilizado para a cabeça e articu-

lação temporo-mandibular.

A pessoa que recebe o tratamento está deitada de cos-

tas. Delicadamente, o terapeuta aplica um «move»

sobre os escalenos posteriores e médios seguidos, sem

pausa, de um «move» sobre o semispinalis da cabeça,

ao nível occipital. Após dois minutos de pausa, o pro-

cedimento do pescoço termina com um «move» de

cada lado sobre os trapézios superiores.

59

60

Ca p í t u lo 4

As diferentes técnicas

A técnica Bowen conta com uns quarenta procedi-

mentos atuais diferentes, cada um destinado a uma

articulação ou zona particular. Contamos também

com mais de quarenta procedimentos especializados.

Na sua primeira sessão com um cliente, o profissional

irá frequentemente, executar a sequência dos três pro-

cedimentos de relaxamento de base. Segundo a sen-

sibilidade de cada um, poderá, nas sessões seguintes,

acrescentar um ou outro procedimento.

Contudo, é fundamental não esquecer que quanto

61

menos intervimos, mais somos eficazes. Com efeito,

se o cérebro recebe menos comandos, aplicar-se-à

melhor na tarefa.

É muito importante, tanto para quem recebe como

para o terapeuta de compreender esta noção e de não

sobrecarregar o organismo de estimulações que pode-

rão por em causa a informação essencial.

Exercícios que podem ser recomendados pelo tera-

peuta.

62

as diferentes técnicas

té C n I C a s at ua I s

Tom Bowen desenvolveu um procedimento para cada

articulação. Assim, depois de efetuar os procedientos

de base, o terapeuta pode escolher acrescentar um

procedimento como a da região pélvica. Este é parti-

cularmente eficaz para dores lombares e para melho-

rar a circulação dos membros inferiores. Por exemplo,

tornar mais flexível o ligamento inguinal e a fáscia

ilíaca, pelo último movimento deste procedimento,

melhorar a circulação venosa e arterial assim como

a condução nervosa sobre as fibras que inervam os

membros inferiores.

O procedimento da sacro ilíaca tem por objetivo,

entre outros, relaxar a tensão excessiva do ligamento

sacro-tuberosa e os ligamentos ílio-sacral posteriores

permitindo assim ao sacro de se repor no lugar e de

«flutuar» entre as asas ilíacas.

63

64

as diferentes técnicas

O procedimento da articulação temporo-mandibu-

lar tem repercussões em todo o organismo, a partir

dos movimentos que o terapeuta aplica sobre o nervo

facial, o nervo vago e os nódulos linfáticos cervicais. É

um procedimento linfático poderoso que se utiliza em

caso de constipações, sinusite, alergia e também en-

xaqueca e vertigem. Será obviamente útil para tudo

o que toca ao maxilar e problemas de maloclusão

dentária.

O procedimento do ombro é conhecido para des-

vincular os ombros bloqueados em poucas sessões.

O tensionamento dos músculos deltoídes posteriores

e tricep longo e o relaxamento destes têm um efeito

direto sobre o nervo e a artéria circundante que ca-

minha de trás para a frente sob o deltoíde. O relaxa-

mento do tricep longo tem por efeito libertar o nervo

radial onde a compressão pode causar parastesias.

65

66

as diferentes técnicas

Cada procedimento pode comportar de 2 a 15 movi-

mentos, muitas vezes intercalados de pausas. O tra-

balho pode-se efetuar sobre os dedos dos pés, os tor-

nozelos, os joelhos, a bacia, os isquio-tibiais, o sacro,

a parede antero-lateral do abdómen, os ombros, os

cotovelos e os punhos, a coluna vertebral por inteira,

articulação temporo-mandibular e a cabeça. Com

efeito, os procedimentos tocam todos os membros, o

tronco e a cabeça.

Outra ação direta sobre a zona em questão, os movi-

mentos Bowen terão um efeito global sobre o orga-

nismo colocando em movimento o sistema nervoso

parasimpático que permite ao organismo de se rege-

nerar. Certos procedimentos têm também um efeito

drenante importante.

Nenhum procedimente se faz pela via interna. Todos

são efetuados sobre a pele, através de roupa fina.

67

68

as diferentes técnicas

as t é C n I C a s e s p e C í f I C a s

Estes procedimentos serão utilizados para sintomas

inusitados, persistentes ou que não responderam aos

procedimentos correntes. As combinações de procedi-

mentos correntes devem ser exploradas antes de uti-

lizar as técnicas especializadas. Os profissionais que

aprenderam as técnicas especializadas são aqueles

que adquiriram uma certa experiência variando de

vários meses a alguns anos de prática quotidiana e

que compreendem perfeitamente os benefícios das

técnicas correntes.

Estes procedimentos são muito fortes e provocam

uma resposta de todo o corpo. A reação e a ressonân-

cia destes movimentos requerem longas pausas de in-

tegração, pelo menos 20 minutos, e frequentemente o

cliente terá necessidade de ficar mais tempo deitado.

69

as técnicas específicas

Uma vez estas técnicas aplicadas, é recomendado de

não fazer outros movimentos durante a sessão. Alguns

destes procedimentos devem ser efetuados, isolados,

sem nenhum outro « move ».

Estes movimentos diferem ligeiramente dos movi-

mentos correntes na sua execução. Alguns necessitam

de um tensionamento mais firme e mais longo e não

de uma passagem transversal sobre o músculo. É o

caso do procedimento do psoas por exemplo.

Para ajudar ao restabelecimento das dores lombares,

o profissional pode executar o procedimento do psoas,

músculo frequentemente responsável pela lombalgia.

Este procedimento poderá ser útil também nos pro-

blemas respiratórios, tendo em conta a ligação fascial

entre o ilio-psoas e o diafragma aproximadamente ao

nível da segunda vértebra lombar.

70

as diferentes técnicas

Uma outra técnica especializada consiste em esti-

mular, simultâneamente, a extremidade proximal e

distal dum segmento de membro afim de provocar o

reencontro das duas ondas de choque no meio desse

segmento. É o caso, entre outros, o do procedimento

do grácil.

O procedimento dos romboídes será utilizado assim

que haja desconforto ou dor na elevação e na adução

da omoplata assim como para aliviar os pontos dolo-

rosos na região sub-escapular.

O procedimento do músculo solear será útil nos pro-

blemas crónicos dos tornozelos (por exemplo; edema

próximo do maléolo interno com dificuldade de flec-

tir o tornozelo), de dores com sensação de calor in-

tenso no calcanhar ou de dores no tendão de Aquiles.

71

72

as diferentes técnicas

os e x e rC í C I o s

Tom Bowen tinha por hábito de sugerir exercícios

aos seus pacientes e insistia para que eles os fizessem.

De facto, recusava continuar a tratar alguém que não

seguisse os seus conselhos.

Estes exercícios são simples alongamentos, feitos uma

a duas vezes por dia, sem forçar, respeitando o limite

de conforto de cada um. Um exercício que provoca

dor pode significar que os nocicetores (os recetores

neurológicos da dor) foram excitados e que o orga-

nismo já não esteja em modo parasimpático; os pro-

cessos de autoregulação não podem funcionar assim

que o corpo entra em defesa, em modo simpático

73

os exercícios

Trata-se então de fazer os exercícios o melhor que se

pode, tentando ir sempre um pouco mais longe assim

que seja possível e de parar logo que se ressinta um

mal estar. Pode-se repetir estes movimentos mais que

um vez ao dia; quanto mais se mobilizar uma articu-

lação, de maneira aceitável e agradável para o corpo,

mais serão as hipóteses de recuperação.

Os membros são feitos para mexer e os músculos

para deslizarem uns sobre outros, para «massajar» os

orgãos internos, para estimular a circulação da linfa

de maneira a eliminar eficazmente os resíduos orgâni-

cos acumulados nos tecidos e para bombear o sangue

venoso das extremidades em direção ao coração,

entre outras funções. Tem de se mobilizar as articula-

ções para fazer circular o líquido sinovial lubrificante

e para que o líquido se renove.

74

as diferentes técnicas

Desaconselha-se o excercício prolongado na sequên-

cia de sessões Bowen, visto comprometer os efeitos.

Da mesma forma os banhos quentes, massagens, tra-

tamentos Spa, tratamento de acupuntura ou outros

tratamentos corporais e outras formas de estimulação

exteriores intensas, mesmo de ordem emotiva, consti-

tuem um risco de fazer cessar a ação subtil procurada

pelos movimentos Bowen. É importante ficar calmo e

relaxado nos dias seguintes.

Os exercícios propostos solicitam os ombros, os is-

qui-tibiais, os joelhos e a bacia. Não hesite em pedir

aconselhamento ao terapeuta.

75

76

Co n C lu s ã o

Ainda muita coisa não foi dita sobre este método

pouco comum. Ainda muita coisa não foi descoberta.

Ainda estamos a dar os primeiros passos que nos le-

varão a uma nova forma de compreender e de agir

no organismo. Estão a ser feitas pesquisas para tentar

compreender melhor as reações fisiológicas induzidas

pelos movimentos Bowen. Milhares de terapeutas em

todo o mundo estão a investir na descoberta das apli-

cações deste método. E a lista das aplicações vai-se

estendendo.

Após ter praticado durante vários anos a técnica

Bowen, ainda me surpreende os resultados obtidos a

na sequência de alguns « moves ».

77

conclusão

É uma técnica muito gratificante para um terapeuta

manual, ela ultrapassa a nossa compreensão e força a

nossa admiração.

Os últimos anos de Tom Bowen foram difíceis. Ele

perdeu as pernas com poucos anos de diferença, na

sequência da diabetes o qual nunca se recompôs.

Apesar de tudo, ele deixou-nos um testemunho ex-

traordinário e propós-nos uma maneira de a aplicar

dentro da sua frase preferida* :

« Só vou passar por esta vida uma vez,

Se eu posso amar e ajudar os meus irmãos,

É agora

Sem nenhum atraso ou esquecimento;

Porque não passarei mais por aqui »

*. Etienne de Grellet du Mabillier, 1773-1855

79

bI b l I o g r a f I a

• Barral J. P., Croibier A.. Manipulación de los nervios periféricos, Paris: Elsevier; 2004• Bear M. F., Connors BW, Paradiso MA. Neurociencias. Hacia el descubrimiento del cerebro. Traducción Nieoullon A. Rueil-Malmaison: Groupe Liaison S.A.; 2002• Bienfait M. Fascias y bombeos. Paris: Spek; 1995• Bouchet A., Cuilleret J. Anatomía topográfica descriptiva y funcio-nal, 3a el miembro superior. Paris:Simep/Masson 1995• Bowtech. (1) Manual de aprendizaje de la técnica Bowen. Traducción Tremblay L. Montréal: Louise Tremblay; 2005 (2) Site Internet: www.bowtech.com; La historia de Tom Bowen • Crane B., La reflexoterapia Köln: Tashen; 2005• Edmonds H., Trigg P. the Tom Bowen Story. 2004• Guyton A. C., Neurociencia : neuroanatomía y neurofisiología. Padoue, Italie: Piccin; 1996• Jarmey C. El Shiatsu. Köln: Tashen; 2006• Marieb E.N., Anatomía y fisiología humana Saint Laurent: Éditions du renouveau pédagogique; 1993• Paoletti S., Las fascias, role de los tejidos en la mecánica humana. Vannes, France: Editions Sully ; 2005• Quevauvilliers J., Diccionario médico 4e édition. Paris: Masson ; 2004• Tortora Grabowski Principios de anatomía y de fisiología Saint Laurent, Canada: Éditions du renouveau pédagogique; 2001• Tremblay L., Site Web: www.techniquebowen.com

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Agradecimientos de la autora

Empecé a escribir este libro en Paris; continúe a Ouistreham en

Normandía, a Grimsby en Níagara, a Anse-Pleureuse en Gaspésia

y lo terminé en Montreal – todos lugares mágicos y de inspiración.

Aunque éste proyecto pudo realmente acabarse gracias a la gran

ayuda de algunas personas. Gracias a Isabel, Bárbara, Hélène,

Pierre, Joël y André, Jordan, Marie, Théo y Luis, Julien y Odile.

Gracias por el apoyo, consejos y presencia de todos. Poco importa

donde estemos, son las personas que nos rodean que hacen la

diferencia. Juntos, hemos conseguido hacer un maravilloso libro

lleno de inspiración del que podemos sentirnos orgullosos.

Louise Tremblayinstructora senior Bowen Therapyinstructora Internacional do método Niromatheestudiô seis años en osteopatía en la Academia Sutherland de Osteopatía de Quebecwww.techniquebowen.comwww.louisetremblay.comwww.aimtc.cawww.ibowen.calouise.tremblay@techniquebowen.com