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O perfil do aluno do primeiro ano do curso de Letras da PUC-SP frente à modalidade semipresencial Adolfo Tanzi Neto Angelita Quevedo Introdução Desde o advento da internet tem se discutido o impacto da tecnologia em nosso trabalho, educação, cultura, identidade, relações pessoais e até mesmo lazer. Nos tempos modernos em que vivemos, é inegável a velocidade com que novas tecnologias de informação e de comunicação (TIC) invadem o mercado e estão disponíveis para todos. Como educadores devemos pensar na formação do cidadão para uma sociedade mais tecnológica e digitalizada e, mais especificamente entramos em um outro campo do saber, que tem se desenvolvido desde a década de 70, chamado de Educação para as Mídias. A Educação para as Mídias tem como objetivo formar cidadãos-usuários ativos, críticos e criativos de todas as tecnologias de informação e comunicação (Belloni, 2009). Para a UNESCO, a educação para as mídias é condição sine qua non da educação para a cidadania, pois a educação para as mídias abrange todas as maneiras de estudar, de aprender e de ensinar em todos os níveis [...] e em todas as circunstâncias, a história, a criação, a utilização e a avaliação das mídias enquanto artes plásticas e técnicas, bem como o lugar que elas ocupam na sociedade, seu impacto social, as implicações de comunicação mediatizada, a participação e a modificação do modo de percepção que elas engendram o papel do trabalho criador e o acesso às mídias. (UNESCO, 1984 apud Belloni, 2009: 12). Consequentemente, devemos pensar na integração das novas tecnologias na educação, em primeiro lugar, de modo criativo e critico para desenvolver autonomia e reflexão nos usuários de modo que não sejam apenas receptores de informações. Em segundo lugar, para desenvolver habilidades e competências necessárias para que esse aluno-usuário possa aprender significativamente em um ambiente digital. Queiroz (2005: 02) pondera: A utilização de tecnologia na educação amplia as possibilidades de desenvolvimento de trabalhos pedagógicos mais significativos para o aluno. No

O perfil do aluno do primeiro ano do curso de Letras da ... · beneficiam do potencial da educação a distância para o seu desenvolvimento pessoal e profissional. ... Sobre a análise

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O perfil do aluno do primeiro ano do curso de Letras da PUC-SP frente à

modalidade semipresencial

Adolfo Tanzi Neto

Angelita Quevedo

Introdução

Desde o advento da internet tem se discutido o impacto da tecnologia em

nosso trabalho, educação, cultura, identidade, relações pessoais e até mesmo lazer.

Nos tempos modernos em que vivemos, é inegável a velocidade com que novas

tecnologias de informação e de comunicação (TIC) invadem o mercado e estão

disponíveis para todos. Como educadores devemos pensar na formação do cidadão

para uma sociedade mais tecnológica e digitalizada e, mais especificamente entramos

em um outro campo do saber, que tem se desenvolvido desde a década de 70,

chamado de Educação para as Mídias.

A Educação para as Mídias tem como objetivo formar cidadãos-usuários

ativos, críticos e criativos de todas as tecnologias de informação e comunicação

(Belloni, 2009). Para a UNESCO, a educação para as mídias é condição sine qua non

da educação para a cidadania, pois a

educação para as mídias abrange todas as maneiras de estudar, de aprender e de

ensinar em todos os níveis [...] e em todas as circunstâncias, a história, a criação, a

utilização e a avaliação das mídias enquanto artes plásticas e técnicas, bem como

o lugar que elas ocupam na sociedade, seu impacto social, as implicações de

comunicação mediatizada, a participação e a modificação do modo de percepção

que elas engendram o papel do trabalho criador e o acesso às mídias. (UNESCO,

1984 apud Belloni, 2009: 12).

Consequentemente, devemos pensar na integração das novas tecnologias na

educação, em primeiro lugar, de modo criativo e critico para desenvolver autonomia e

reflexão nos usuários de modo que não sejam apenas receptores de informações. Em

segundo lugar, para desenvolver habilidades e competências necessárias para que esse

aluno-usuário possa aprender significativamente em um ambiente digital. Queiroz

(2005: 02) pondera:

A utilização de tecnologia na educação amplia as possibilidades de

desenvolvimento de trabalhos pedagógicos mais significativos para o aluno. No

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entanto, não dispensa a realização de planejamento de situações educacionais,

principalmente aquelas que buscam levar o aluno a: “aprender a aprender”,

“aprender a fazer”, “aprender a ser” e “aprender a conviver”, pilares da proposta

de Delors (1998) para educação no século XXI. (Queiroz, 2005: 02).

Por um lado, a aprendizagem em um ambiente digital pode se realizar por

meio dos mais variados tipos de atividades de aprendizagem: discussões em fóruns,

sessões pré-agendadas de chat, leituras de texto, discussões sobre vídeos assistidos,

trabalhos individuais ou em grupos, tarefas colaborativas; no entanto, o ambiente

virtual de aprendizagem (AVA) exige que o professor esteja preparado e disposto a

criar e inovar, valorizando a tecnologia como um canal de comunicação e

aprendizagem e não como um fim. Por outro lado, devemos também considerar quão

apto está o aluno-usuário para uma nova forma de aprender, um aprender por meio do

uso de ferramentas tecnológicas. Para Valente (1999: 08) em um AVA

O aluno deixa de ser passivo, de ser o receptáculo das informações, para ser ativo

aprendiz, construtor do seu conhecimento. Portanto, a ênfase na educação deixa

de ser a memorização da informação transmitida pelo professor e passa a ser

construção do conhecimento realizada pelo aluno de maneira significativa, sendo

o professor, o facilitador desse processo de construção. (Valente, 1999: 08).

Para tanto, consideramos que as práticas pedagógicas em um AVA devam ser

inovadoras, flexíveis, dinâmicas, articuladas, devam também permitir reflexões e

transformações nas experiências de aprendizagem dos alunos. Entretanto, no Brasil,

os fatores que propiciam uma aprendizagem mediada por ambientes digitais, a

didática apropriada ao aprender online, a formatação de cursos mediados por AVA e

outras questões são temas que merecem ser pesquisados.

Nossa pesquisa busca compreender o perfil do aluno de um curso de

graduação que cursa uma disciplina na modalidade semipresencial, ou seja, uma

modalidade de educação que reúne práticas da educação presencial com práticas de

educação a distância. Ao escolher esse tema, esperamos contribuir para a ampliação

de conhecimento teórico sobre o processo de aprendizagem online.

1. Sobre a fundamentação teórica

Nessa pesquisa, utilizamos o aporte da teoria da atividade porque entendemos

que aprender por meio de ambientes virtuais de aprendizagem é uma atividade

humana e consequentemente possui um sistema próprio, com ferramentas, regras,

divisão de trabalho e estrutura própria.

Escolhemos a Teoria da Atividade porque acreditamos que quando lidamos

com aprendizagem mediada pela tecnologia, nos parece fundamental termos um

embasamento teórico que integre tanto a aprendizagem como a mediação. A nosso

ver, os princípios da teoria da atividade tratam da combinação da aprendizagem e da

mediação como componentes inseparáveis de qualquer atividade humana.

Além disso, de acordo com a teoria da atividade, o indivíduo se constrói em

função do objeto de sua atividade e dos artefatos que a medeiam. Dessa forma, é

possível detectarmos o perfil do aluno conforme as relações que são estabelecidas no

sistema de atividade estudos. Essas relações são responsáveis pelo contexto e pelo

significado das ações individuais (Engeström, 1987). Essas relações foram percebidas

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com base nas manifestações escritas dos alunos. Por meio da manifestação escrita

(intenção consciente), o aluno interagiu com o ambiente segundo determinados

objetivos (conscientes ou não) para realizar certas metas. A seguir apresentamos o

contexto em que a pesquisa foi desenvolvida.

2. Sobre o contexto de pesquisa

A modalidade de educação semipresencial foi introduzida no atual currículo de

Letras da PUC-SP. O curso de Licenciatura em Língua Portuguesa possui 6

disciplinas oferecidas ao longo de 3 anos e, os cursos de Licenciatura em Língua

Portuguesa e Língua estrangeira (Espanhol, Francês ou Inglês) possuem 8 disciplinas

oferecidas ao longo dos 4 anos de curso. Dessa forma, acreditamos que os alunos se

beneficiam do potencial da educação a distância para o seu desenvolvimento pessoal e

profissional.

A implementação da educação semipresencial é acompanhada por uma

pesquisa longitudinal cujo aporte metodológico é de estudo de caso porque baseia-se

em um contexto específico de pesquisa, faz uma análise contextual detalhada das

informações sobre um evento em particular e por meio dele examina-se todas as

variáveis e suas interrelações para uma completa compreensão do caso em questão.

Utilizamos tanto o paradigma qualitativo quanto o quantitativo.

Nessa pesquisa, trabalhamos com os dados da disciplina Tecnologias Digitais

– primeira disciplina na modalidade semipresencial, oferecida no primeiro período do

curso para os alunos ingressantes em 2009. Nossos objetivos foram a) analisar o perfil

do aluno na disciplina no que se refere às competências e habilidades necessárias para

uma aprendizagem no ambiente digital, e b) observar o desempenho de cada perfil ao

longo da disciplina. Um total de 96 alunos, distribuídos em 5 salas de aula abertas no

ambiente virtual de aprendizagem Moodle, dos turnos matutino (41) e noturno (55),

participaram da pesquisa.

1.1. Sobre a disciplina Tecnologias Digitais

Tecnologias Digitais é uma disciplina cuja carga horária de 40h é distribuída

em 20 semanas. Em seu plano de ensino, encontramos os seguintes objetivos:

Oferecer: a) arcabouço teórico e prático para que o aluno desenvolva uma postura

crítica frente à informação encontrada na Internet, tendo em vista o processo contínuo

de construção, organização e produção de conhecimento; b) respaldo teórico/ prático

para que o aluno desenvolva habilidades para pesquisar, analisar, avaliar e articular

informações obtidas na WWW; c) a oportunidade para o aluno experienciar algumas

formas de interação mediadas pelo computador; e d) condições para o aluno vivenciar

experiências educacionais em contextos digitais e para refletir criticamente sobre seu

potencial mediador de aprendizagem.

Essa disciplina está na sua quarta edição e procura oferecer aos alunos a

oportunidade de aprender como a) fazer pesquisas mais eficientes na Internet, usando

estratégias de busca; b) analisar a informação encontrada na rede; e c) como aprender

em um ambiente virtual de aprendizagem.

A equipe de professores responsáveis pela disciplina, procurou desenvolver

noções sobre a) educação a distância, b) informação e pesquisa na internet e c) análise

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e avaliação da informação encontrada na internet. Dentre as práticas utilizadas nessa

disciplina, a equipe fez uso de fóruns de discussão. Ao todo, foram usados três tipos

de fóruns: a) fóruns para dúvidas, b) fórum para jogar conversa fora e c) fóruns

educacionais. Os fóruns educacionais são fóruns ligados tematicamente às unidades

tratadas na disciplina.

Além dos fóruns, as seguintes ferramentas do ambiente Moodle foram usadas:

(i) tarefa – para exercícios individuais, entregues conforme prazos estipulados pelo

professor; (ii) webquest – para exercícios em pares e em grupos; (iii) pesquisa de

opinião; (iv) glossário e (v) base de dados.

1.2. Sobre os procedimentos de coleta de dados

Nosso estudo utiliza dados coletados com base em registros de mensagens

postadas a) no fórum de Dúvidas [FD] e no fórum Jogando Conversa Fora [FJCF]; no

primeiro fórum educacional denominado “Expectativas”. Esse fórum continha as

seguintes perguntas:

1) Vocês já fizeram um curso à distância antes? Ou já estudaram com o apoio da

Internet? Como foi a experiência?

2) Quais são suas expectativas com relação ao nosso curso? Apreensões?

Perguntas?

Além dos fóruns, coletamos também os dados avaliativos elaborados pelos

professores das respectivas salas virtuais. Mediante uma metodologia de análise

quantitativa e qualitativa, as respostas dos alunos foram analisadas. Realizamos uma

análise estatística e interpretativista dos dados que apresentamos a seguir.

2. Sobre a análise e discussão dos dados

Para chegarmos ao perfil do aluno, analisamos o conteúdo de suas

manifestações escritas observando palavras ou expressões que denotassem atitudes

relacionadas à modalidade de educação a distância. Agrupamos os alunos cujo teor

de mensagens fizessem uso de palavras ou expressões semelhantes e identificamos

três grupos de atitudes:

Atitude Aberta: alunos cujos relatos contém palavras ou expressões que

denotam uma atitude positiva ao ensino a distância, como mostram os

exemplos abaixo:

“...a EAD de certa forma aproxima mais os alunos, envolvendo-os em um

ambiente no qual é possível a discussão, interação e debate de certos

temas entre estudantes e professores.” (Aluno 1)

“....sinal de que o EAD é a ferramenta do momento e que o sucesso dele

nos trará novas surpresas em termos de ensino.” (Aluno 2)

“...eu achei isso muito interessante pra mim, já que eu por ter vergonha

de falar em público não consigo expor minhas opiniões em sala de aula.”

(Aluno 3)

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Atitude Semi-aberta: alunos cujos relatos contém palavras ou expressões que

denotam alguma restrição ao ensino a distância, mas que contém expressões

que denotam abertura para uma nova experiência, como mostram alguns

depoimentos abaixo:

“... dentro do contexto de EAD, fiquei fascinada e curiosa, deixei vir a

expectativa de conhecer outro universo...” (Aluno 11)

“EAD pode ser um possível "empurrar com a barriga..." (Aluno 12)

“...uma certa rejeição para esse tipo de disciplina.” (Aluno 14)

“...ainda me questiono como será o processo de interação pessoal

durante o curso.” (Aluno 15)

Atitude Fechada: alunos cujos relatos contém palavras ou expressões que

denotam total restrição ao ensino a distância.

“...não acredito que possam substituir o ''face to face.'' (Aluno 20)

“...fiquemos presos a esse contato “frio...” (Aluno 24)

“...a EAD não ajuda em nada na relação professor aluno, ou

melhor, torna esta relação totalmente mecânica e distante. Não

adianta dizer que o professor se comunica mais com os alunos, um

contato através de uma máquina não é um contato propriamente

dito ou verdadeiro.” (Aluno 26)

“Deveríamos ter uma matéria que nos introduzisse ao mundo

tecnológico, pois ele é essencial a todos principalmente a nós,

contudo o ensinar a distância já é uma tecnologia que não nos

acrescenta nada no universo educacional.” (Aluno 27)

Dos 96 alunos, temos uma realidade um pouco diferente se considerarmos o

turno em que o aluno estuda. O gráfico 1 nos mostra o perfil dos alunos no turno

matutino.

Gráfico 1: Perfil dos alunos do turno matutino

Vemos que uma pequena parcela (5%) apresenta-se determinantemente contra

a modalidade a distância. Dentre os motivos mencionados temos o argumento de que

a distância impede o processo de aprendizagem. É necessária que haja um contato

face-a-face para que a aprendizagem se realize, além disso há menção de que não

confiam na qualidade dos cursos a distância.

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O perfil semi-aberto corresponde a 49% dos alunos e o perfil aberto foi

encontrado em 46% dos alunos. Esses índices talvez tenham ocorrido pelo fato da

grande maioria dos alunos pertencerem a uma população que tem mais acesso ao

computador e à Internet. Essa população em sua maioria já vem de escolas onde as

TIC são de certa forma usadas, não como disciplinas formais, mas como atividades

complementares com fins educacionais. Além disso, na sua maioria, os alunos do

matutino são mais novos e ainda não estão trabalhando em seu primeiro período de

curso.

O gráfico 2 nos mostra a realidade encontrada nas turmas do noturno.

Gráfico 2: Perfil dos alunos do turno noturno

Os alunos do noturno mostram uma realidade um pouco diferente. Há um

aumento do perfil fechado (14%) se comparado com o matutino (5%). Os alunos do

noturno são mais velhos e a maioria divide-se entre empregos de tempo integral e a

universidade. Há também uma diferença sócio-econômica, os alunos do matutino

vem, em grande parte, de escolas particulares ao passo que a maioria dos alunos do

noturno vem de escolas públicas onde o uso das TIC ainda não foi implantado. Muitos

alunos não possuíam computador e acesso à Internet, tendo que usar os laboratórios

da universidade ou lan-houses.

O gráfico nos mostra que temos 43% dos alunos com o perfil aberto e o mesmo

índice para o perfil semi-aberto.

Depois de identificados os perfis, acompanhamos o desempenho de alguns

alunos1, conforme perfil apresentado inicialmente, durante a disciplina. O

desempenho do aluno na disciplina foi observado com base nas tarefas propostas e

posteriormente avaliadas pelo professor, na prova e na participação nos fóruns de

discussões.

Por lidarmos com docentes diferentes, temos pequenas variações no tocante às

avaliações usadas. Dependendo do docente, os alunos foram avaliados em 4 ou em 5

momentos. As atividades pedagógicas que foram avaliadas são listadas a seguir:

1) unidade 1: duas atividades de fórum (Internet: o que será amanhã e crimes

cibernéticos);

2) webquest: “Pesquisando na net” (trabalho em pares sobre o uso das

distintas ferramentas de pesquisa de informação que existem na

rede);

3) prova presencial sobre os tópicos discutidos durante o curso;

4) unidade 3: fórum “Qual a estratégia de pesquisa”;

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5) trabalho final: trabalho em grupo de 4 pessoas sobre como distinguir “boa”

informação de “má” informação na net;

6) participação do aluno em fóruns de discussão e tarefas entregues durante

todo o curso.

De qualquer maneira, é importante lembrar que nos guiaremos pelos perfis

encontrados. Os gráficos 3 e 4 mostram o desenvolvimento de alunos de turmas

diferentes mas oriundos do mesmo docente. O gráfico 3 mostra o desempenho de um

aluno de perfil fechado e o gráfico 4, de um perfil semi-aberto.

!

Gráfico 3: Perfil fechado – consequente desistência da disciplina

O aluno I registrou em seu primeiro depoimento: “Nunca fiz nenhum curso a

distância e pra falar a verdade não acredito que possam substituir o ''face to face''.

Parece ficar claro sua atitude negativa em relação ao ensino a distância. Seu

depoimento gerou várias reações no fórum da turma e isso o levou a ter de participar

mais para defender sua opinião quanto ao uso das tecnologias educacionais. No início

da disciplina, o aluno participou dos fóruns para socializar e não com fins

educacionais. Ao longo do semestre, o aluno desistiu.

!

Gráfico 4: Perfil semi-aberto – insegurança e medo

O aluno L inicialmente registrou o depoimento abaixo.

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“Devo ser sincero e dizer que no início, quando descobri que teríamos

aula virtual, fiquei bastante assustado; afinal nunca havia participado de

uma aula online, menos ainda, imaginaria que na faculdade teria uma

disciplina pela internet. Fiquei bastante surpreso. Mas agora posso dizer

que já estou me acostumando com a idéia. Até passei a preferir, pois não

gosto muito de falar durante as aulas, e por isso deixo minha participação

"a desejar", e esse meio será uma forma mais fácil de expressar minhas

opiniões e interagir com todos. Acredito que se houvessem dúvidas elas

cessaram com o vídeo, pois este é muito expositivo e nos demonstra

claramente os objetivos desse método de "trabalho”.”

O depoimento de L revela uma atitude semi-aberta com dúvidas e medo a

respeito do funcionamento da disciplina. A menção do vídeo inicial parece tê-lo

ajudado a superar parte dos obstáculos em relação à EAD. Ao longo do semestre, o

aluno fez uso constante do fórum de dúvidas pedindo aos colegas de classe para

ajudá-lo em muitas situações. Tal procedimento parece indicar que o aluno conseguiu

superar o medo e a insegurança iniciais devido à interação social que estabeleceu nos

fórum de dúvidas.

O gráfico 5 nos mostra um perfil fechado que, ao longo da disciplina, gerou

um comportamento diferenciado do gráfico 3.

!

Gráfico 5: Perfil fechado – superação das barreiras pelo social

O aluno A registrou em seu depoimento:

“A Educação a Distância é ótima se você visar o individual, o particular.

Em um mundo que necessita cada vez mais de interação e união, batemos

de frente com uma quase que total falta de contato humano. Tendo em

vista que estamos em um curso de formação de educadores, a EAD não

ajuda em nada na relação professor aluno, ou melhor, torna esta relação

totalmente mecânica e distante. Não adianta dizer que o professor se

comunica mais com os alunos, um contato através de uma máquina não é

um contato propriamente dito ou verdadeiro. (...) Assim como o cinema

nunca substituirá o teatro e os e-books, os livros em papel, a EAD nunca

substituirá a sala de aula e muito menos o educador. Não posso chamar

isto de Educação, mas quem sabe Ensino à Distância. (...) o professor a

distância não tem contato suficiente para trabalhar com a realidade de

cada um; (...) A idéia de “relacionar-se com uma máquina” é tão vazia

que não tem objetivo maior para mim. Deveríamos ter uma matéria que

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nos introduzisse ao mundo tecnológico, pois ele é essencial a todos

principalmente a nós, contudo o ensinar a distância já é uma tecnologia

que não nos acrescenta nada no universo educacional, a não ser o

conhecimento tecnológico por si só.”

Apesar de mostrar um perfil fechado, seu comportamento ao longo da

disciplina surpreendeu. O aluno contribuiu constantemente no fórum “Jogando

Conversa Fora” convidando os amigos de classe para o cinema, mostra de filmes e

também registrando endereços de sites de filmes que ele assistiu. Tal comportamento

parece indicar uma busca de socialização – o bate-papo entre amigos, talvez como

meio para superar os obstáculos mencionados em seu depoimento. É interessante

observar também que nos momentos de avaliação individual (unidade 2, prova e

unidade 4), o aluno apresenta queda em seu rendimento. O gráfico 6 nos mostra o

desempenho do aluno H.

!

Gráfico 6: Perfil aberto – dificuldade com o ambiente

A aluna H registrou em seu depoimento inicial

“Eu também nunca havia participado de um EAD anteriormente. No

começo não entendia muito bem o que era esse moodle, e qual a intenção

dele. Mas com o passar da primeira atividade eu fui entendendo melhor

as expectativas do programa e acho que só tem a acrescentar no nosso

aprendizado.” Após ver o vídeo vi quantas vantagens há nesse ensino,

como proporcionar para alunos um horário de aprendizado mais aberto,

e também os tímidos podem se sentir avontade de fazer perguntas sem ter

muita exposição. Como a Carla, estou ansiosa para ver o resultado desse

novo método de ensino.”

Seu depoimento aponta para o perfil aberto no entanto, ao longo da disciplina,

a aluna teve problemas com o ambiente e com algumas ferramentas. Para superar as

dificuldades fez uso constante do fórum de Dúvidas.

O gráfico 7 nos mostra um perfil aberto com desempenho excelente

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Gráfico 7: Perfil aberto – desempenho excelente

A aluna T registrou em seu depoimento

“Eu nunca fiz um curso a distância antes, e pra ser sincera, eu nunca

havia colocado muita fé nessa história de "curso pela internet" e nunca

tinha parado para pensar nos diversos benefícios que pode trazer, como a

questão do tempo, lugar, acesso a hora que lhe for melhor. Fiquei

surpresa com a informação do vídeo em que certos cursos semi-

presenciais de graduação tem o mesmo valor que o diploma. Adorei saber

disso e ter refletido sobre, não só as questões em relação a conteúdo e

comodidade, mas também as questões sociais, essa idéia de participar, de

todos poderem dar sua opinião (e isso é ótimo para os tímidos hehehe).

Apesar da minha idéia arcaica em relação ao aprendizado pela internet,

quando você não tem tempo ou condições para ficar se deslocando,

pagando curso aqui e ali, a internet é um ótimo recurso. Eu posso dizer

que estudei, e muito, pela internet e sem dúvida alguma, existem sites de

excelente qualidade, sobre diversos assuntos, que podem lhe ajudar.

Utilizei tanto para pesquisas do colégio quanto para estudos sobre música,

mitologia e outros assuntos. A experiência foi boa! Ótima!”

Além do perfil aberto, a aluna participou ativamente nos fóruns propostos durante o

período e teve um excelente rendimento nas outras atividades avaliadas pelo professor.

A importância de tomarmos consciência da existência dos diferentes perfis

será apreciada a seguir.

3. Considerações Finais

Os dados apresentados nesse artigo exemplificam tipos de perfis que parecem

influir no processo de aprendizagem do aluno. O perfil fechado apresentou duas

tendências de desenvolvimento: a) desistência (Aluno I) e b) superação (Aluno A). O

perfil semi-aberto originou-se, na maioria das vezes, da insegurança e do medo tanto

do ambiente como da proposta educacional em si. Ao longo da disciplina, os alunos

de perfil semi-aberto conseguiram um bom desempenho com base no apoio dos

colegas e do professor. Os alunos de perfil fechado que conseguiram um bom

desempenho no final da disciplina foram alunos participativos nos fóruns previstos.

A aprendizagem é uma atividade coletiva e, portanto, seu aspecto social parece

ser um instrumento transformador do indivíduo e, ao mesmo tempo, facilitador do

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processo de aprendizagem em ambientes digitais por promover a aprendizagem por

meio da interação entre seus participantes. Todos os alunos dessa pesquisa foram

unânimes em apontar a importância da interação entre os participantes da sala virtual

em seus depoimentos. Alguns, apontaram também que a forma como a disciplina foi

projetada, as instruções e os recursos usados também atuaram como elementos

facilitadores da aprendizagem. Sobre esse aspecto, Moran (s/d) pondera:

A maior parte dos cursos presenciais e on-line continua focada no conteúdo,

focada na informação, no professor, no aluno individualmente e na interação com

o professor/tutor. Convém que os cursos hoje – principalmente os de formação –

sejam focados na construção do conhecimento e na interação; no equilíbrio entre o

individual e o grupal, entre conteúdo e interação (aprendizagem cooperativa), um

conteúdo em parte preparado e em parte construído ao longo do curso.

Os dados parecem indicar a primazia da interação como elemento principal

para o bom desempenho. Nesse sentido, duas concepções passam a ser importantes: a

linguagem como instrumento de mediação, por meio do qual o indivíduo interage e se

desenvolve dentro do contexto sócio-histórico em que está inserido e a aprendizagem

humana vista como experiência social em que a interação se dá pela linguagem

(QUEVEDO & CRESCITELLI, 2005). É por intermédio da linguagem que o homem

faz conexões ou cria significados, e ao mesmo tempo, ao realizar essas conexões,

aprende, apreende e constrói o conhecimento.

Adolfo Tanzi Neto PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

Angelita Quevedo PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

Nota

1 Para preservar a identidade dos alunos os identificamos aqui com letras que assim seguem: aluno I, L,

A, H e T, e para os nomes dos colegas de classe usados em seus depoimentos foram usados nomes

fictícios com o mesmo objetivo.

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Referências

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Twenty-First Century. 1998. Disponível em:<http://www.unesco.org/delors/>. Acesso em 20

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ennsino de língua materna e estrangeira (a distância ou semipresencial) In Linha D’Agua, no

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VALENTE, J Armando. Análise do diferentes tipos de software na educação. In J. A Valente

(org.) O computador na sociedade do conhecimento. Campinas: UNICAMP/NIED, 1999.

Resumo

Esse artigo pretende relatar os resultados iniciais de um estudo de caso que se insere na

interface das seguintes áreas: educação a distância (EAD) e formação de professores para

contextos digitais. Nesse estudo, analisamos o perfil do aluno ingressante no curso de Letras

da PUC-SP no que diz respeito às competências e habilidades necessárias para uma

aprendizagem no ambiente digital e observamos o desempenho de cada perfil ao longo da

disciplina. Um total de 96 alunos teve seus perfis analisados com base em seu engajamento na

primeira disciplina oferecida na modalidade semipresencial do curso. A participação nos

fóruns de discussão, a realização das tarefas e as avaliações obtidas foram aspectos

considerados para o engajamento dos alunos. Os dados coletados basearam-se nas expressões

escritas registradas nos fóruns da disciplina. Mediante uma metodologia de análise

quantitativa e qualitativa, as expressões escritas dos alunos foram analisadas e interpretadas.

Os resultados apontam para três tipos de perfil: aberto, semi-aberto e fechado e, a observação

do desempenho de cada um traz contribuições significativas sobre aspectos de desenho de

curso e da importância da interação entre seus pares.

Palavras-chave: educação a distância, formação de professores, perfil de aluno.

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Cadernos de Letras (UFRJ) n.28 – jul. 2011

http://www.letras.ufrj.br/anglo_germanicas/cadernos/numeros/072011/textos/cl31072011neto.pdf

Abstract

This article presents initial results of a study case that is inserted in the following interfaces:

distance learning and development of Language Teachers for digital educational contexts.

This study analyzed the profile of first-year-college students of the Language Teaching

Courses at PUC-SP in relation to core competences and abilities that are necessary in digital

learning environment. A total of 96 students had their profiles analyzed according to their

engagement in the first blended learning discipline offered in their course. Students’

engagement was considered as to their participation in the discussion forums, accomplishment

of the tasks and their evaluation results. This study uses data collected from the students’

posts in the discussion forums of the discipline and the teachers’ evaluation. An interpretative

and statistical data analysis was done and the results demonstrated three types of profiles:

open, semi-open and closed. The analysis of the way each type of profile engaged to the

course may bring significant contributions as to course design and interaction importance

among peers.

Key words: distance learning, teachers’ development, student profile.