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UNISALESIANO Centro Universitário Católico Salesiano Auxílium Curso de Psicologia Aline Lúcia da Silva e Silva Nathalia Cristina Peres de Lima O PERFIL DO INGRESSANDO DO CURSO DE PSICOLOGIA: O reflexo da mudança do sistema pedagógico do ensino médio para o ensino superior LINS SP 2016

O PERFIL DO INGRESSANDO DO CURSO DE PSICOLOGIA: O … · O segundo capitulo refere-se à Psicologia no Brasil, faz uma conceituação do termo e sua historicidade, contextualiza o

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UNISALESIANO Centro Universitário Católico Salesiano Auxílium

Curso de Psicologia

Aline Lúcia da Silva e Silva Nathalia Cristina Peres de Lima

O PERFIL DO INGRESSANDO DO CURSO DE PSICOLOGIA: O reflexo da mudança do sistema

pedagógico do ensino médio para o ensino superior

LINS – SP

2016

ALINE LÚCIA DA SILVA E SILVA

NATHALIA CRISTINA PERES DE LIMA

O PERFIL DO INGRESSANDO DO CURSO DE PSICOLOGIA: O REFLEXO

DA MUDANÇA DO SISTEMA PEDAGÓGICO DO ENSINO MÉDIO PARA O

ENSINO SUPERIOR.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à banca Examinadora do Centro Universitário Católico Salesiano Auxílium, curso de Psicologia, sob a orientação da Prof ª Ma. Gislaine Lima da Silva e orientação técnica da Prof ª Ma. Jovira Maria Sarraceni

LINS – SP

2016

Lima, Nathalia Cristina Peres de; Silva, Aline Lucia da Silva e

L699p O perfil do ingressando do curso de psicologia: o reflexo da mudança do sistema pedagógico do ensino médio para o ensino superior / Aline Lucia da Silva e Silva; Nathalia Cristina Peres de Lima. - - Lins, 2016. 68p. il. 31cm.

Monografia apresentada ao Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium – UNISALESIANO, Lins – SP, para graduação em Psicologia, 2016.

Orientadora: Jovira Maria Sarraceni e Gislaine Lima da Silva

1. Psicologia. 2. Ensino Superior. 3. Pesquisa Sócio-histórica. I Título.

CDU 159.9

ALINE LÚCIA DA SILVA E SILVA

NATHALIA CRISTINA PERES DE LIMA

O PERFIL DO INGRESSANDO DO CURSO DE PSICOLOGIA: O REFLEXO

DA MUDANÇA DO SISTEMA PEDAGÓGICO DO ENSINO MÉDIO PARA

ENSINO SUPERIOR.

Monografia apresentada ao Centro Universitário Católico Salesiano Auxílium,

para obtenção do título de Bacharel em Psicologia.

Aprovado em: ___/___/____

Banca Examinadora:

Professora. Orientadora: Gislaine Lima da Silva

Mestra em Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem - UNESP “Júlio de

Mesquita Filho”

Assinatura___________________________

1º Prof(a):_______________________________________________________

Titulação:_______________________________________________________

_______________________________________________________________

Assinatura:__________________________

2º Prof(a):_______________________________________________________

Titulação:_______________________________________________________

_______________________________________________________________

Assinatura:__________________________

Dedico aos meus pais, Antônio Aparecido e Vera Lucia, que tanto amo,

respeito e admiro, e que não mediram esforços para que eu chegasse até essa

etapa de minha vida. Por acreditar e me incentivar, me apoiando nos

momentos mais difíceis e festejando nos momentos de alegria de minha

graduação. Aos meus irmãos, Albert e Alexsandra, e ao cunhado Benedito,

que sempre tinham uma palavra de carinho. Aos meus amigos, Nathália,

Anderson e Suellen, que fizeram deste caminho, mais irreverente e animado.

E ao meu príncipe encantado, Antônio Marcos, que me segurou na mão

quando eu não me sentia capaz e me fez acreditar que tudo é possível.

Aline Lúcia da Silva e Silva

Dedico aos meus queridos pais , Marcos e Márcia, por ter me orientado

durante o caminho percorrido, acreditando e incentivando-me nas

dificuldades, e por todos os esforços que realizaram nesta trajetória. Ao meu

irmão, Marcos Vinicius, por ser amigo e carinhoso. E ao meu amor, Rafael

Muller, por estar comigo todo momento.

Nathalia Cristina Peres de Lima

AGRADECIMENTOS

A Deus, por permitir que tudo acontecesse e por ter nos dado saúde e

força para superar as dificuldades encontradas no caminho da graduação.

A universidade UniSALESIANO, que nos acolheu e nos propiciou

conhecimento teórico e prático.

Ao corpo docente e funcionários, pela atenção dispensada durante

toda a viagem que se finaliza com a chegada à estação.

A todos que direta e indiretamente, nos oportunizaram vislumbrar

um horizonte de nome “ensino superior”.

E as orientadoras, Prof(a) Ma. Gislaine Lima da Silva e Prof(a) Ma.

Jovira Maria Sarraceni, pelo suporte concedido, que possibilitou a

elaboração, desenvolvimento e conclusão deste referido trabalho.

Aline Lúcia da Silva e Silva e Nathalia Cristina Peres de Lima

RESUMO

O presente trabalho teve por objetivo expor os resultados obtidos com a

pesquisa de campo de base sócio-histórica, elaborada e aplicada em meio ao contexto acadêmico com a finalidade de compreender o perfil dos estudantes ingressantes no Curso de Psicologia, as suas motivações para a escolha do curso e as expectativas acerca da escolha, dentro desses e analisar o impacto com a mudança pedagógica do ensino médio para o universitário. A metodologia utilizada consiste na pesquisa descritiva e explanatória de abordagem sócio-histórica, com análise quantitativa e qualitativa da aplicação de questionário estruturado sobre uma amostra composta por 20 alunos do primeiro termo do curso de Psicologia. A análise foi realizada partir das respostas oriundas de cada questão, de forma estatística contendo dados pessoais e demográficos; ligadas às motivações, expectativas, para com o curso; e as dificuldades em nível social, pedagógica e institucional. E discutidas a luz de diversos autores embasados nos contextos pedagógicos e psicológicos, possibilitando uma reflexão mais atual do perfil do ingressante do curso de Psicologia. Os resultados obtidos expuseram o perfil do aluno dentro do curso como sendo, em sua maioria, de jovens, solteiros, do sexo feminino, de até 20 anos de idade e com dedicação exclusiva aos estudos; e os motivos, expectativas e dificuldades, trouxeram a reflexão de que ao passo em que os jovens são solicitados a se posicionar frente à sociedade, profissionalmente; buscam pela graduação motivados pela necessidade de responder a esta, e criam expectativas vagas, baseadas em representações sociais, ignorando o fator de pesquisa sobre a área escolhida no ensino superior; e se frustram com a discrepância pedagógica entre os dois níveis de ensino (médio e superior) tornando-se árdua a adaptação e até passível de desistência por parte dos mesmos.

Palavras-chave: Psicologia. Ensino Superior. Pesquisa Sócio-histórica.

ABSTRACT

The present study had the objective of exposing the results obtained with

the field-based socio-historical research, designed and implemented amid the academic context in order to understand the profile of the freshmen in Psychology Course, its reasons for choosing the course and expectations about the choice, within these, analyze the impact with the pedagogical change from high school to university. The methodology used consists of the descriptive and explanatory research of socio-historical approach, with quantitative and qualitative analysis of the applying a structured questionnaire on a sample of 20 students of the first term of the course of Psychology. The analysis was based on the responses coming from each issue, statistical form containing personal and demographic data; linked to the motivations, expectations towards the course; and difficulties in social, educational and institutional level. And discussed the light of several authors grounded in pedagogical and psychological contexts, allowing a more current reflection entrant profile of the course of Psychology. The results exposed the profile of the student within the course as being mostly young, single, female, up to 20 years old and exclusively students; and the reasons, expectations and difficulties, brought the reflection that while in which young people are asked to position themselves before society, professionally; They seek the graduation motivated by the need to respond to this and create jobs expectations, based on social representations, ignoring the research factor on the area chosen in higher education; and are frustrated by the pedagogical discrepancy between the two levels of education (middle and higher), making it difficult to adapt and even withdraw from them. Keywords: Psychology. Higher education. Socio-historical research.

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Identificação do participante da pesquisa..........................................47

Tabela 2: O que motivou a sua busca e escolha pelo curso de Psicologia?....48

Tabela 3: Quais eram as suas expectativas antes de entra no curso de

Psicologia?........................................................................................49

Tabela 4: Enfrentou alguma dificuldade de adaptação, na mudança do

Ensino Médio para o Ensino Superior, social, pedagógica ou

institucional?......................................................................................49

LISTA DE SIGLAS

ABEP: Associação Brasileira de Ensino em Psicologia

aC: antes de Cristo

CFE: Conselho Federal de Educação

CFP: Conselho Federal de Psicologia

CRP: Conselho Regional de Psicologia

dC: depois de Cristo

DUDH: Declaração Universal dos Direitos Humanos

EJA: Educação de Jovens e Adultos

Enem: Exame Nacional do Ensino Médio

FACAC: Faculdade de Ciências Administrativa e Contábeis

FEFIL: Faculdade de Educação Física de Lins

IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

INEP: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira

MEC: Ministério da Educação e Cultura

PNAD: Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio

ProUni: Programa Universidade para Todos

OMS: Organização Mundial de Saúde

TCLE: Termo de Consentimento Livre Esclarecido

USP: Universidade de São Paulo

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ..................................................................................................11

CAPÍTULO I: CONTEXTUALIZAÇÃO DO ENSINO MÉDIO E SUPERIOR NO

BRASIL..............................................................................................................13

1 O ENSINO MÉDIO..................................................................................13

1.1 Aspectos incapacitantes do ensino médio..............................................14

1.2 Visões plurais da pedagogia atreladas ao ensino médio........................16

1.3 Índice de inserção no nível superior na atualidade.................................20

CAPÍTULO II: A PSICOLOGIA NO BRASIL....................................................22

1 CONCEITUANDO PSICOLOGIA...........................................................22

1.1 O ensino de Psicologia no Brasil............................................................24

1.2 Panorama da graduação em psicologia.................................................27

CAPITULO III: PSICOLOGIA SOCIAL E A PESQUISA EM ABORDAGEM

SÓCIO-HISTÓRICA COM BASE NA TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES

SOCIAIS............................................................................................................31

1 A PSICOLOGIA SOCIAL.......................................................................31

1.1 Contextualizando a representação social...............................................33

1.1.1 Conceito de representações sociais.......................................................34

1.2 A pesquisa em abordagem sócio histórica.............................................36

1.3 O conceito de orientação profissional e sua função primordial para o

jovem em busca do ensino superior.......................................................38

CAPÍTULO IV: PESQUISA...............................................................................43

1 INTRODUÇÃO........................................................................................43

1.1 Método....................................................................................................43

1.1.1 Critérios de inclusão e exclusão.............................................................43

1.2 Histórico da instituição............................................................................44

1.3 Caracterização da amostra.....................................................................44

1.3.1 Instrumento e procedimento...................................................................45

2 APRESENTAÇÃO DOS DADOS DA PESQUISA.................................46

2.1 Análise dos resultados..............................................................................46

2.2 Discussão..................................................................................................49

3 PARECER FINAL.....................................................................................52

3.1 Considerações finais.................................................................................52

PROPOSTA DE INTERVEÇÃO........................................................................54

CONCLUSÃO...................................................................................................55

REFERÊNCIAS.................................................................................................57

APÊNDICES......................................................................................................61

ANEXOS............................................................................................................65

11

INTRODUÇÃO

O tema abordado expõe o contexto em que os alunos, oriundos do

ensino médio e ingressante no ensino superior, experienciam o delinear

motivacional da escolha profissional, esta é cercada de diversos fatores, entre

eles o estresse imposto pela sociedade, família e somada ao modelo

pedagógico escolar que se sobrepõe ao jovem durante o processo de escolha

de uma profissão, e pela busca pessoal pela satisfação de cursar uma

graduação de interesse, ou a busca pela satisfação econômica e social.

Tal situação poderia estar presente e atuando no graduando, enquanto

ingressante no curso superior e de forma, às vezes, imperceptível, colaborando

para a desmotivação, e até mesmo, para a desistência do curso. Curso este

que se apresenta idealizado, sentido, procurado pelo aluno, mesmo que só no

plano das representações sociais e isso pode frustrar o mesmo quando ocorrer

o choque entre seu contexto vivido, seu plano imaginativo e a realidade que se

apresenta neste novo mundo chamado Universidade.

A mudança de sistema pedagógico do ensino médio para o ensino

superior interfere na motivação e expectativa do aluno ingressante no curso de

Psicologia?

Com base na pergunta acima, levantou-se a hipótese de que os

ingressantes no curso de graduação em Psicologia, em sua maioria,

apresentam um interesse pelo curso próximo da conclusão do ensino médio,

devido a toda pressão inferida pela sociedade na busca de satisfação a nível

econômico e social, e outra parte, a minoria, são os que apresentam interesse

pelo curso de Psicologia por inclinações pré-existentes, muitas vezes

construídas no período juvenil e embasadas por uma busca teórico-prática do

curso profissional.

O resultado que se é esperado é que os alunos que não apresentam

inclinação prévia enfrentem dificuldades na compreensão do novo sistema

pedagógico, social e institucional, existente no curso superior.

O primeiro capitulo apresenta a contextualização do ensino médio e

superior no Brasil, assim como aspectos incapacitantes e visões plurais da

pedagogia atreladas ao ensino médio e o índice de inserção dos egressos do

ensino médio no nível superior, na atualidade.

12

O segundo capitulo refere-se à Psicologia no Brasil, faz uma

conceituação do termo e sua historicidade, contextualiza o ensino de psicologia

no Brasil e trás um panorama da mesma.

O terceiro capitulo aborda a Psicologia Social e a pesquisa em

abordagem Sócio-histórica faz uma explanação pela representação social e

pelo conceito de Orientação Profissional atrelado ao jovem em busca do ensino

superior.

O último capitulo expõe a pesquisa de campo, através da aplicação de

um questionário. Neste consta o histórico da instituição, o método com os

critérios de inclusão e exclusão, a caracterização da amostra, instrumento e

procedimento que fizeram parte da análise dos resultados e serviram de base

para as posteriores discussões e considerações finais.

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CAPÍTULO I

CONTEXTUALIZAÇÃO DO ENSINO MÉDIO E SUPERIOR NO BRASIL

1 O ENSINO MÉDIO

A educação básica é composta por três etapas, sendo: a Educação

Infantil, o Ensino Fundamental e o Ensino Médio. A última etapa, que foi

instituída pelos jesuítas, ainda, no período colonial, é a que finaliza o processo

educacional básico de oito ou nove anos de duração. O papel da educação

básica é de garantir a todo brasileiro a formação indispensável para o exercício

da cidadania e oportunizar meios para a progressão do trabalho e dos estudos

posteriores (QUEIROZ et al., 2010).

Segundo Santos (2010), se olhar para a educação formal em nosso

país, no período colonial, notar-se-á que era quase inexistente, pois inúmeros

locais de ensino secundários haviam sido encerrados durante a deportação dos

jesuítas. Este fato alcançou as camadas mais altas da sociedade, e a mudança

deste cenário, só foi possível com a vinda da família real portuguesa ao Brasil,

e a pressão da elite devido à necessidade da formação educacional.

De acordo com Costa, Guimarães e Rocha (2015), tal formação da elite

brasileira, durante o período colonial e imperial, tinha por objetivo a preparação

para as atividades político-burocráticas, assim como as profissões liberais. Sua

base de ensino era, predominantemente, humanístico e elitista.

Para Santos (2010), o ano de 1834, teve como marco a criação do Ato

Adicional, este por sua vez, possibilitou às províncias que estas regularizassem

suas instituições e estabelecimentos voltados a educação, o que viabilizou a

criação dos Liceus e Ateneu, assim como o surgimento do Colégio D. Pedro II.

Neste período, a entrada no nível superior encontrava-se atrelada à

comprovação de idade mínima e à aprovação por exame.

O sistema educacional veio se modificando com o passar do tempo, a

maior delas ocorreu com Getúlio Vargas na Revolução de 1930 que possibilitou

à criação do Ministério da Educação e Cultura (MEC) através do decreto n.º

14

19.402 com o nome de Ministério dos Negócios da Educação e Saúde Pública.

Esta instituição trouxe varias estruturações, tais como: divisões de períodos de

ensino entre ginásio e colegial, atualmente, ensino infantil, fundamental e

Médio; e a necessidade de conclusão da etapa anterior para admissão no

próximo nível. Estas modificações possibilitaram ao ensino médio, a

consolidação de se posicionar como uma etapa fundamental para o ingresso,

tanto no mercado de trabalho quanto no ensino superior (QUEIROZ et al.,

2010).

De acordo com o exposto acima, a educação básica vem sendo

solicitada desde o período colonial e se estruturando durante o imperial. Teve

um salto significativo na revolução de 1930 com a criação do Ministério da

Educação que possibilitou maior visibilidade as etapas fundamental, médio e

superior.

1.1 Aspectos incapacitantes do ensino médio

Mesmo com o crescimento do número de matriculas no ensino médio

nos últimos anos, ainda pode ser observada uma significativa proporção de

evasões que ocorre com certa constância. Isso indicaria, não apenas uma crise

econômica ou mesmo uma queda na utilização social dos diplomas, mas a

ausência de outras motivações que incentivariam os alunos a prosseguirem

com os estudos. Nota-se na adolescência um período onde ocorre o

afastamento da infância e o inicio gradativo da vida adulta, com isto, os jovens

passam a serem pressionados em decorrência de uma postura frente à

sociedade, vista no optar por uma carreira profissional (KRAWCZYK, 2009).

Segundo Krawczyk (2009), o adolescente, inicialmente é acometido pelo

descompromisso com um possível projeto para sua vida, expondo, por varias

vezes, as ilusões, fantasias e sonhos; isso passa a se modificar conforme vai

ocorrendo o desenvolvimento de sua própria identidade passa a sentir a

necessidade de uma definição, do descobrir e de optar por uma profissão que

tenha a realidade pessoal e sociocultural, como base.

Ainda segundo Krawczyk (2009), passar pelo ensino médio é algo

tradicional no olhar de alguns seguimentos sociais. A motivação vista, nesta

fase, apresenta-se atrelada a possíveis recompensas, sejam elas, através dos

15

pais ou pelo cursar de uma universidade. Mas, quando apontamos para os

grupos sociais, cujo qual o ensino médio não tem muita relevância, isso trás

preocupação, pois os jovens que pertencem a estes grupos, podem não

receber estímulos para que permaneçam estudando.

De acordo com Gomes (2010), apesar de, neste momento, os jovens

apresentarem estar com uma escolaridade melhor do que a geração passada.

Não podemos negar o fato de que não há empregos em suficiência, disponível

para todos os egressos da educação básica. Boa parcela destes encontra-se

submetidos ao trabalho doméstico, informal, e às atividades de serviços gerais.

Nota-se que concorrem a vagas com outros que abandonaram o ensino médio

devido ao processo excludente da repetência e aqueles que retornaram ao

projeto de Educação de Jovens e Adultos (EJA), com o objetivo de concluir o

estudo básico.

A revolução tecnológica trás consigo uma infinidade de novos meios de

informação e conhecimento, tais modelos inovadores disputam com modelo

cultural das instituições educacionais. Estes meios inovadores propiciam

linguagens, conhecimentos, estilos de vida, de valores, entre outros aspectos

sociais que confrontam a instituição escolar, tanto no transmitir conhecimento,

como em seu trabalho socializador (KRAWCZYK, 2009).

Segundo Gomes (2010), já ocorre há algum tempo, a tentativa de

diálogo entre os sujeitos que coexistem dentro das instituições de ensino

médio, com adequações de práticas, disciplinas e áreas de atuação. Esta

busca vem de encontro a um romper com a rígida estrutura organizacional da

escola, que vem inviabilizando as novas práticas pedagógicas. Estas, por sua

vez, estão atreladas a um conhecimento mais amplo de um sujeito cientifico no

cerne da educação.

Ainda segundo Gomes (2010), a rotina existente entre docentes e

estudantes, aborda questões voltadas à igualdade, equidade e justiça social.

Atualmente, temos varias políticas públicas e práticas sociais em andamento,

umas mais efetivas que outras, que buscam associar tais dimensões. Não é

difícil encontrar estudantes e famílias que estão inseridas nas políticas que

incluem e distribuem rendas, assim como o amparo aos vulneráveis sociais

(crianças e adolescentes).

16

Outro fator que predomina na atualidade juvenil é a ausência de

mobilidade social. Nota-se que os filhos dos ricos estão menos ricos, assim

como os pobres estão ficando mais pobres que seus pais. Isso não se deve ao

aumento do pessimismo ou a falta de esperança para com o futuro que atinge

de forma particular os jovens, mas a queda das possibilidades de mobilidade

social que afeta intensamente e de maneira geral, e em especial, a classe mais

pobre (GOMES, 2010).

O ambiente escolar apresenta-se rico em inter-relações, sejam elas

juvenis, entre educadores, destes para com os alunos, dos coordenadores e

das famílias, entre outros; de acordo com Gomes (2010), apesar de muitos

educadores como professores, pedagogos, e os gestores, possibilitarem a

construção de um olhar pedagógico da disparidade na educação básica. Ainda

faz-se necessária uma organização em termos de tempo, espaço, trato

igualitário, alteração do ordenamento curricular assim como o trabalho do

docente, isso possibilitaria uma melhora nas condições necessárias para que

os profissionais possam trabalhar melhor a diversidade. Uma melhor

convivência dos profissionais e locais em condições apropriadas para o bom

desempenho escolar é o que se pretende atingir.

Segundo as referências acima, temos evidenciado um aumento nas

evasões escolares que estariam atreladas a ausência de incentivos aos alunos.

Estes, que por sua vez, estariam passando pela fase das ideologias e do

desenvolvimento da personalidade, assim como as possíveis recompensas que

são idealizadas. Isto se confronta com a realidade profissional, escassez de

vagas e excesso de candidatos, os atrativos tecnológicos em conflito com o

meio educacional e a relação professor – aluno. Estes aspectos incapacitantes

estariam em queda caso ocorressem à inter-relação com o “todo escolar”, do

aluno aos órgãos público, com vistas para questões ambientais, culturais e de

socialização.

1.2 Visões plurais da pedagogia atreladas ao ensino médio

O existir, enquanto sujeito, se faz em meio a uma grande quantidade de

fatores que podem nos confundir frente a uma escolha, sendo estes,

pertencentes a um todo social, ao qual pode ser destacada a etnia, o gênero, a

17

orientação sexual, entre outros. Estes, por sua vez, se relacionam através da

arte, da política, das ações coletivas que compõe os movimentos sociais. Neste

panorama, com a diversidade cada dia mais presente no ambiente escolar,

ocorre o questionamento, se a postura, não deveria ser a indagação por parte

dos docentes, sobre os materiais didáticos, a área de atuação e os projetos

que se permitem reconhecer este contexto (GOMES, 2010).

De acordo com Gomes (2010), a diversidade só é possível com as

práticas e políticas democráticas, que dentro do espaço escolar, em especial, a

escola pública, podem se universalizar e provocar o rompimento com a

coerência da repetência e da exclusão. Isto apontaria para um avanço

democrático de um ambiente escolar assegurado, o discurso passaria a ser

sobre o estudante real, afastando-se do escolar universal e genérico.

Ainda segundo Gomes (2010), na concepção da inserção do respeito,

do compromisso com a democracia vinculada à diversidade, enaltece o

reconhecimento pela igualdade social, e possibilitando a discussão sobre a

desigualdade que foi, historicamente, estabelecida nas relações de poder

desde os primórdios da colonização, e se moldando com o passar dos séculos.

O pensar em políticas educacionais, currículos e práticas pedagógicas voltadas

para o ensino médio, assim como os sujeitos que ali se apresentam, com suas

características comuns, dilemas e conflitos, interesses, sua forma de se

correlacionar com a escola, tende a modificar positivamente este ambiente.

De acordo com Silva, Santana e Santana (2014), é de responsabilidade

dos educadores, promoverem o desenvolvimento relativo à consciência e o agir

dos estudantes, como uma forma de proteção contra os pressupostos

epistemológicos e ideológicos. Desta forma os capacitaria para as mudanças

sociais, com instrumentos políticos e conceituais, salientando assim a

finalidade do Ensino Médio que viria para preparar os jovens para vida,

possibilitar a construção do conhecimento e a existência em sociedade, inter-

relacionando e integrando saberes.

À Lei 9.394/96, traz a consolidação e o aprofundamento dos

conhecimentos adquiridos no ensino fundamental, possibilitando o

prosseguimento de estudos; e a preparação básica para o trabalho e a

cidadania do educando, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de

se adaptar com flexibilidade a novas condições de ocupação ou

18

aperfeiçoamentos posteriores. É com base nela que estão as propostas de

reforma circular para o ensino médio (SILVA; SANTANA; SANTANA, 2014).

Segundo Silva, Santana e Santana (2014), um modelo a ser aplicado

pedagogicamente pelos docentes, deve conter uma dialética dinâmica e

consciente, pautada na atualidade, equilibrando o desejo com aquilo que se

objetiva transmitir didaticamente e o estimule a prosseguir com a educação e

na busca pela inserção no mercado de trabalho. Percebe-se que as estruturas

do Ensino Médio na atualidade têm por base os fatores políticos, econômicos,

e sociais objetivando um ensino de qualidade, mas para que isso seja possível,

o olhar deve-se fazer direcionado, as camadas populares com interesse de

promover a formação do cidadão, possibilitando a inserção de habilidades e

competências na vida do aluno e tornando-o um cidadão crítico e atuante

dentro da sociedade.

Ressalta-se a apropriação do conhecimento como possibilidade de ingresso do aluno no mundo do trabalho, quer após a conclusão do nível superior quer após um curso técnico. Tendo em vista que a aprendizagem, de fato, adquirida pelos alunos pressupõe apropriação de conhecimentos, desenvolvimento de hábitos intelectuais, prática laboral e habilidade em articular conhecimentos e atitudes. Atitudes essas, que possibilitem também modificar essa sociedade (SILVA; SANTANA; SANTANA, 2014, p. 9).

Olhando para esta conjuntura, Silva, Santana e Santana (2014), aborda

a importância do papel da escola, com a pedagogia dos docentes voltadas para

esta inter-relação que se faz entre os sujeitos envoltos pela educação e as

bases sociais, políticas e econômicas. Desta forma, traz visibilidade a formação

acadêmica e as expectativas de trabalhos que serão parte integrante da

proposta trazida pelo Ensino Médio.

O MEC com o intuito de melhorar o ensino médio, e se apoiando nas

Secretarias de Educação dos Estados e do Distrito Federal, trouxe um novo

sistema de avaliação [o novo Enem (Exame Nacional do Ensino Médio)], e a

elevação do período do jovem na escola. A educação cientifica e humanística

foram potencializados, assim como a estimulação da leitura e a relação teoria e

prática; também foram inseridas novas tecnologias e métodos inovadores. Tal

impacto teórico e prático em nosso país pôde ser notado na elaboração da Lei

19

de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB – Lei nº 9.394) de 1996,

com a progressiva extensão da obrigatoriedade da escola básica até o nível

médio (NEUBAUER et al., 2011).

Segundo Andrade (2012), o Enem foi criado em 1998 e tinha por

objetivo, a avaliação do desempenho do aluno concluinte do ensino básico,

com o intuito de aferir o desenvolvimento de competências de base ao pleno

exercício da cidadania. Passou por adequações e se tornou, atualmente, em

um instrumento de seleção por parte das instituições de nível superior no

Brasil. Serve como base para o Programa Universidade para Todos (ProUni),

que concede bolsas de estudo ao ensino em universidades particulares. Por

ser um grande potencializador ao ensino superior, o Enem pode ser apontado

como responsável por grande parte da demanda que compõe o ensino

superior.

Segundo Neubauer et al. (2011), as escolas passaram a se preocupar

em deixar o aluno em condições de terem um bom resultado no Enem, e

consequentemente, alcançar o acesso ao nível superior. Esta nova realidade,

trás a necessidade de investimento nos professores para que estes possam se

envolver em aprimoramentos contínuos que lhe proporcionaram uma melhor

orientação da prática pedagógica com os escolares e sob a observação e

análise de uma equipe gestora da própria instituição educadora.

De acordo com Krawczyk (2009), o contexto escolar com suas vivências

e os resultados obtidos, poderia explicar a atração ou rejeição por uma

disciplina, e até seu interesse intelectual. A forma de ensinar, a paciência na

relação com o aluno, a estimulação e o diálogo oriundos do docente, são

fatores que norteiam o vínculo do estudante para com a disciplina. Um fator

apontado como uma dificuldade encontrada pelas instituições de ensino é o de

manter a transmissão cultural, isso decorre devido à falta de ferramentas que

possibilitem aos jovens saírem do lugar de espectadores passivos e capacitá-

los para uma interação mais crítica com os novos códigos culturais oriundos

dos meios audiovisuais e eletrônicos.

Ainda de acordo com Krawczyk (2009), o fato de percebermos o vínculo

das novas gerações com as experiências midiáticas, e da necessidade de

capacitá-los criticamente no nível escolar, não inviabiliza o uso do recurso

literário, em papel ou digitalizado, que possibilitem a ampliação do universo do

20

conhecimento, assim como a apreensão cultural que os conduzirá a liberdade

de ação.

O questionamento pedagógico apóia-se em aspectos como a

diversidade no interior das instituições educacionais. Aponta para políticas

democráticas que traga o “estudante real” como foco dos debates, uma busca

pela igualdade social e colocando os educadores como responsáveis pela

inserção dos fatores sociais, políticos e culturais; na formação dos jovens, e

que se fundamentem na atualidade com vistas à criação de um cidadão crítico

e atuante. Isso, sem eximir a responsabilidade dos órgãos públicos norteados

pelo MEC e seus dispositivos como o Enem e o ProUni, segundo as citações

acima.

1.3 Índice de inserção no nível superior na atualidade

Ao pensar no acesso de jovens brasileiros ao nível superior, alguns

questionamentos se fazem presentes, um deles é o motivo que restringe tal

desejo. Temos o atraso escolar como um ponto importante, onde 21% dos

jovens entre 18 e 24 anos apresentam ensino fundamental incompleto e 27%

dos concluintes não ingressaram no ensino médio, ou ingressaram, mas não

concluíram. Desta forma, nota-se quase que a metade dos jovens (48%), ou

melhor, mais de 10 milhões de jovens, não possuem os requisitos educacionais

formais necessários ao ingresso no ensino superior, e segundo dados da

Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) de 2009, que é realizada

pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apenas 4,4 milhões

de jovens, tiveram acesso ao ensino superior (ANDRADE, 2012).

Segundo Andrade (2012), o atraso e a evasão escolar que vem se

fazendo de forma acumulativa nas camadas mais pobres, tem seu inicio no

ensino fundamental e reduz consideravelmente o acesso aos níveis mais altos

de ensino. Isso aponta para a renda como um fator expressivo de influência na

manutenção e conclusão destes jovens com relação ao ensino, no entanto, o

fator “cor” (branca e não-branca) influencia, mas é menor do que a variável

“renda familiar”. Este apontamento trás a importância da formulação de

programas e políticas que visem ampliar tais taxas de inclusão e conclusão dos

níveis de escolaridade.

21

Ainda segundo Andrade (2012), é superior a 80% o números de jovens

entre 18 e 24 anos de idade, que ainda não possui acesso ao ensino superior.

Destes, 48% não detêm os requisitos necessários para concorrer à vaga,

sendo que 21% não concluíram o ensino fundamental e 27% não concluíram o

ensino médio. Restando cerca de 33% de egressos do ensino médio, ou

melhor, aptos ao acesso ao ensino superior.

Faz-se notar que haviam 2.144.419 de jovens qualificados para a

inserção no ensino superior no ano de 2010, enquanto as instituições de nível

superior totalizam um total de 2.182.227 de vagas neste mesmo ano. Este

contexto expõe o gargalo entre os níveis médio e superior, e a necessidade de

estratégias pedagógicas que possibilitem a equiparação destes dados. A

reflexão sobre os entraves, que impedem o bom funcionamento do sistema

educacional, pode oferecer um auxílio às políticas públicas que, por sua vez,

refletem em melhorias no acesso e na qualidade de ensino, possibilitando a

transposição das restrições decorrentes das clivagens sociais que surgem no

centro de todo o sistema educacional, seja este no ensino fundamental, médio

e superior (ANDRADE, 2012).

Com base nas referências a cima, pode-se dizer que um percentil

significativo de jovens entre 18 e 24 anos, não adentraram ao ensino superior

devido à falta de requisitos educacionais formais. Este fato se associa a

crescente evasão e atraso na relação do jovem com a escola, e se mostra

como uma resposta à questão da renda família insuficiente. Evidencia-se a

necessidade de programas e políticas de inclusão aos níveis de escolaridade,

assim como na qualidade deste ensino, pois o panorama de vagas no ensino

superior, na atualidade, mostra-se positivo, mas com sujeitos inaptos a ocupá-

los, o que aponta para a fragilidade do sistema educacional em nosso país.

22

CAPÍTULO II

A PSICOLOGIA NO BRASIL

1 CONCEITUANDO PSICOLOGIA

O termo psicologia é proveniente do grego antigo, uma junção de

psyche, que se refere a “alma” ou “mente”, e de logia, que seria o “estudo” ou

“relato”; atualmente a palavra refere-se, de uma forma mais precisa, à “ciência

da mente e do comportamento”. Tem no símbolo “ψ” como representante que

em grego significa psi (HERMETO; MARTINS, 2012).

Também pode se compreender a psicologia, segundo Hermeto e Martins

(2012), como um elo entre a filosofia e fisiologia. A fisiologia expõe e desvenda

a estrutura física do cérebro e de seu sistema nervoso; já a filosofia se debruça

sobre o raciocínio e as idéias; enquanto a psicologia analisa os processos

mentais e sua forma de manifestação, tanto em nível de pensamento, quanto

de discurso e comportamento, busca pelo saber de o porquê de sua ocorrência

e o que podem nos fornecer sobre a funcionabilidade da mente.

Se olharmos para as primeiras explicações a respeito do ser humano,

segundo Braghirolli et al. (1990), encontrar-se-á um vínculo com a natureza

sobrenatural, posteriormente teremos o filósofo Tales de Mileto (século VI aC),

na primazia das explicações dos eventos naturais em função de outros eventos

naturais; seguido dos filósofos gregos Sócrates (470 – 395 aC) e Platão (427-

347 aC) que através de seus ensinamentos, trouxeram o olhar para a natureza

do homem; já Aristóteles (384-322 aC) teria sido o filósofo que primeiro

valorizou a observação como forma de se chegar a explicar os eventos

naturais.

Ainda segundo Braghirolli et al. (1990), Tomás de Aquino (1224-1275

dC) apontado como santo da igreja medieval teria realizado a união quase que

total da psicologia aristotélica com as doutrinas da igreja; o filósofo francês

René Descartes (1596-1650 dC) com sua teoria do “dualismo psicofísico”

retomou a pesquisa sobre o ser humano; já o inglês John Locke (1632-1704

dC) detém o titulo de fundador do “Empirismo”; assim como Gustav Theodor

23

Fechner (1801-1887 dC) que é tido como o fundador da “Psicofísica” ou o “pai

da Psicologia Experimental”.

É apontado como marco do nascimento da Psicologia o ano de 1879,

isto porque nesta data o alemão Wilhelm Wundt (1832-1920 dC) inaugurou o

primeiro laboratório de Psicologia na Universidade de Leipzing, na Alemanha.

Wundt possibilitou a criação de uma escola psicológica ao qual deu o nome de

Estruturalismo. Posteriormente vieram outras escolas psicológicas como o

Funcionalismo, o Associacionismo, a Psicanálise, a Gestaltismo, o

Behaviorismo e o Humanismo (BRAGHIROLLI et al. 1990).

De acordo com Hermeto e Martins (2012), desde o início, a psicologia foi

vista de forma diferente por pessoas diferentes. Nos Estados Unidos, suas

raízes estavam na filosofia, isso possibilitou o desenvolvimento de uma

abordagem especulativa e teórica, abarcava conceitos como “consciência” e o

“eu”. Já na Europa, teve seu vínculo central no sustentáculo cientifico, sendo

assim, seu destaque esteve na observação de processos mentais, como a

percepção sensorial e a memória, mas amparado pelas condições laboratoriais

controladas.

Segundo Bock, Furtado e Teixeira (2008) a fonte de estudo é o ser

humano, com seus comportamentos e sentimentos; as expressões singulares

advindas do ambiente, mas que nos difere; a genética que acaba por nos unir

em determinadas características. O ser humano é a matéria-prima que trás

corpo, pensamento, afeto e ação; tudo sintetizado no termo subjetividade. Este

termo tão importante para a psicologia, que faz referência ao ser individual,

singular e passível de desenvolvimento em meio às vivências sociais e

culturais, as ideologias, as significações e emoções que vão se edificando no

interior do sujeito e são expressas em suas relações sociais, manifestações

afetivas e comportamentais.

As numerosas linhas da psicologia em vigor abarcam todo o espectro da vida mental e do comportamento humano e animal. O alcance da psicologia expandiu-se e sobrepôs-se a muitas outras disciplinas, entre elas a medicina, a fisiologia, a neurociência, a ciência da computação, a educação, a sociologia, a antropologia e até mesmo a política, a economia e o direito. Talvez se tenha tornado a mais abrangente das ciências (HERMETO; MARTINS, 2012, p. 13).

24

Ainda segundo Hermeto e Martins (2012), esta abrangência interessa a

todos devido às descobertas que se fazem através dela. Independentemente

da área ao qual se procure observar dentro da psicologia, notar-se-á sua

relevância para setores como governamentais, empresariais, indústrias,

publicitário e as mídias de massa. A psicologia nos afeta como grupo e como

indivíduo, e colabora em equivalência nos debate público voltados para as

atividades e as possibilidades de organização das sociedades, assim como no

diagnóstico e tratamento de distúrbios mentais que estão presentes em nosso

meio.

De acordo com os autores citados anteriormente, podemos observar que

o processo de surgimento e desenvolvimento da psicologia, trás na sua

essência o estudo da mente e dos comportamentos, em uma ligação intima

com a filosofia e a fisiologia. Pontua sua primazia no esclarecimento de

eventos sobrenaturais, no tocante ao olhar para o homem e aos eventos

naturas através dos filósofos no período aC. O encontro com a religião, o

dualismo psicofísico “mente-corpo” e os meios empíricos, que culminaram com

seu nascimento no ano de 1879, com o primeiro laboratório de Psicologia por

Wundt (1832-1920 dC). Isto possibilitou o surgimento das várias escolas

psicológicas e o estudo das mais variadas formas de se entender o ser humano

em sua complexidade no nível biopsicossocial, assim como suas influências

para com o meio ao qual se relaciona.

1.1 O ensino de Psicologia no Brasil

Na segunda metade do século XIX, iniciou-se o ensino de Psicologia no

Brasil. Esta, por sua vez, estava inserida no curso de Direito da Faculdade de

São Paulo, mas, como parte abrangente da ciência do homem no qual o

fundamento estava na fisiologia ou física da natureza humana (LISBOA;

BARBOSA, 2009).

Segundo Massimi (1990), a psicologia como objeto de estudo e de

ensino, viria abranger diversas áreas teóricas, tais como o Direito, a Filosofia, a

Medicina, a Pedagogia e a Teologia moral. Nas escolas de formação religiosa

ela estaria ligada ao que conhecemos como uma disciplina especulativa ou

25

metafísica, que está vinculado ao conhecimento prático do comportamento

humano no âmbito da teologia moral.

De acordo com Soares (2010) um grande avanço para o ensino da

Psicologia no Brasil ocorreu em 1890, com a Reforma Benjamim Constant,

quando noções de Psicologia foram introduzidas na disciplina de Pedagogia no

currículo das Escolas Normais, e até 1910 a Psicologia foi ensinada como

Lógica nos colégios e nos cursos “anexos” das Faculdades de Direito e, mais

tarde, o mesmo aconteceria com as Faculdades de Medicina.

No século XX, várias correntes da psicologia foram introduzidas no país

e, destas, a que mais se destacou foi a psicometria. Isto ocorreu devido ao

entendimento dos médicos de que, para conhecer melhor o indivíduo e saber

suas habilidades cognitivas, seriam necessárias as avaliações psicológicas. A

psicologia como ciência tem um século e meio, e foram os médicos que a

popularizaram no Brasil (DUTRA; TEIXEIRA, 2013).

Segundo Soares (2010), em suas pesquisas, diversos projetos de lei

contribuíram para a concretização do ensino de Psicologia no Brasil a partir do

século XX, como à regulamentação dos estabelecimentos de Ensino Superior

sobre o Decreto nº 421, de 11 de maio de 1938, e um projeto de grande

proporção que surgiu em 1954, apresentado pelo Senador Marcondes Filho, o

projeto de lei tinha como tema central o ensino obrigatório de Psicologia nos

cursos de Medicina.

Em 1958, teve inicio no Brasil, o primeiro curso de Psicologia, pela

Universidade de São Paulo, seguida pela regulamentação da profissão por

meio da Lei nº. 4119 de 1962 (DUTRA e TEIXEIRA, 2013).

De acordo com Boarini (2007), ainda no ano de 1962, o Conselho

Federal de Educação (CFE) emitiu o parecer nº 403/62, onde estabelecia o

currículo mínimo e a duração do curso de Psicologia. O autor do parecer

afirmava que, os futuros formandos em psicologia da época, tinham uma

missão relevante diante da sociedade e das marcas deixadas por duas grandes

guerras mundiais.

Com a regularização, ocorreu à abertura de diversos cursos de

Psicologia, o que, na década de 1970, assinalou um grande crescimento do

número de profissionais formados. Este fato expôs o aumento de cursos

26

particulares e a crescente demanda em busca de serviços psicológicos

(LISBOA; BARBOSA, 2009).

Segundo Lisboa e Barbosa (2009), o período de 1960 a 1979, teve como

referência a privatização do ensino através da Reforma Universitária (Lei nº

5.540/68). Ainda, nesta mesma década, foram criados os Conselhos de

Psicologia a nível Federal e Regional (CRP e CFP), assim como o primeiro

Código de Ética Profissional e o primeiro curso de doutorado em psicologia

pela Universidade de São Paulo (USP).

No inicio da década de 1980, foi um período difícil para o ensino de

Psicologia devido ao regime político ditatorial da época, segundo Couto (2012),

o cenário só se modificou no final desta mesma década com o enfraquecimento

do regime militar e a ascensão do regime democrático. As manifestações

populares ganham força em busca de direitos sociais, civis e de cidadania, que

se encontravam suprimidas.

Outros momentos importantes foram: a grande mobilização de entidades

profissionais no intuito de discutir possíveis mudanças na formação dos

Psicólogos ocorrendo na década de 1990; o 1º Encontro de Coordenadores de

Curso de Formação de Psicólogos, em 1992; a elaboração da Carta de Serra

Negra, que foi um importante documento sobre a formação do profissional de

Psicologia Brasileira; e, no ano de 1994, a publicação de importantes livros

como “o Psicólogo brasileiro: Construção de Novos Espaços” - CFP (2005) e

“Psicólogo Brasileiro: Práticas Emergentes e Desafios para a Formação”

(Achcar, 1994) (LISBOA; BARBOSA, 2009).

Desta forma, nota-se que o ensino da psicologia no Brasil teve inicio na

segunda metade do século XIX, abrangendo diversas áreas teóricas e ligada

as disciplina especulativa ou metafísica no âmbito da teologia moral. Passou

por vários momentos importantes como em 1890, com a Reforma Benjamim

Constant; já no século XX, várias correntes da psicologia se apresentaram,

mas destacou-se a psicometria e teve como o seu grande incentivador, a

medicina; em 1954, o ensino de Psicologia passou a ser obrigatório nos cursos

de Medicina; em 1958, o inicio do primeiro curso de Psicologia, pela USP; já na

década de 1970, foram criados o CFP e os CRP(s), assim como o primeiro

Código de Ética Profissional; e na década de 90, uma grande mobilização para

mudanças na formação dos Psicólogos, assim como a publicação de

27

importantes livros com foco na formação e difusão da categoria na sociedade,

segundo os autores citados a cima.

1.2 Panorama da graduação em psicologia

Apesar de seus conceitos e sua referência, estejam difundidos na cultura

cotidiana, segundo Hermeto e Martins (2012), pouco se sabe sobre ao que se

refere e o que fazem os psicólogos, quando se questiona a sociedade. Para

alguns, ao mencionar o termo psicólogo, apontam para indivíduos de jalecos

brancos, que se colocam a realizar atividades em instituições e clínicas de

doentes, ou até mesmo, em experimentos laboratoriais com roedores; e outros

idealizam a figura de um psicanalista frente ao paciente sobre um divã, ou

ainda, baseando-se na cinematurgia, elaborando formas de controle mental.

Segundo o Conselho Federal de Psicologia (2008), o profissional de

psicologia esta apto a trabalhar tanto individualmente, quanto em equipes

multiprofissionais. Sua categoria comporta áreas como a da saúde, a da

educação, a comunitária, a da justiça, a de pesquisa, a de psicodiagnósticos,

na promoção da saúde mental e em tratamento de distúrbios psíquicos, na

seleção de pessoas, dentre outros; e fazendo uso da Declaração Universal dos

Direitos Humanos (DUDH) como base na sua relação com o outro. O psicólogo

apresenta-se difundido nas posições de: clínico, do trabalho, do trânsito,

educacional, jurídico, do esporte, social e professor de psicologia (podendo

lecionar no 2º grau ou ensino superior).

Há uma variada gama de orientações teórico-metodológicas dentro da

psicologia, cada qual com sua visão de homem, sociedade e ciência. Dentre

estas, pode-se apontar a Psicanálise, a Comportamental, a Gestalt; o

Psicodrama, o Humanismo, a Fenomenologia Existencial, a Sócio-histórica e a

Analítica; todas com o olhar para o ser humano, sendo a psicanálise, a

abordagem mais utilizada pelos psicólogos brasileiros, tendo em seguida às

abordagens humanistas, comportamental, sócio-histórica e cognitivista

(BASTOS; GONDIM; RODRIGUES e cols, 2010).

De acordo com Hermeto e Martins (2012), todo este percurso feito pela

psicologia, lhe rendeu notoriedade crescente dentro dos cursos universitários,

isso aponta para sua relevância social no mundo moderno. Trás também o

28

prazer que se pode obter no contato com a adversidade que sua área de

atuação promove e o olhar para os mistérios oriundos da mente humana.

Segundo Lisboa e Barbosa (2009), no período de 1958 (inicio do curso)

a 2000, ocorreram à criação de 188 cursos; já entre 2001 e 2007, foram 203.

Isso aponta para um crescimento acelerado em um curto espaço de tempo,

indicando uma elevada concentração na rede privada, cursos relativamente

baratos, ocorrendo nas cidades e Regiões onde já há maior oferta de vagas, e

pode estar favorecendo a queda da qualidade do ensino superior.

Ainda segundo Lisboa e Barbosa (2009), este primeiro surto pode estar

ligado à Reforma Universitária de 1968, que acabou por aprovar uma enorme

quantidade de cursos, em especial, na área de ciências humanas e Letras. Tais

cursos poderiam ter sua funcionabilidade mais flexível, e no caso de um curso

de Psicologia, em comparação com outros, é viável economicamente para

estruturação e com retorno financeiro em um breve período.

[...] O Fórum Nacional de Formação (Promoção do CFP e Associações Cientificas) havia elaborado 10 diretrizes curriculares. Dos documentos recebidos 87% concordaram com elas, merecendo destaque a formação generalista (97%), pluralista, cientifica, crítico-reflexiva, atendendo as demandas sociais e à ética. A estruturação curricular que emergiu das 37 propostas privilegia a formação terminal como psicólogo generalista, polivalente, com carga entre 4.000 e 5.000 horas, com atividades complementares de pesquisa e de extensão... (WITTER; FERREIRA, 2005, p. 18-19).

O MEC apresentou uma resolução de n.2 em 18/06/2007,

regulamentando a carga horária mínima para o curso de Psicologia para 4.000

horas, em sua planilha de cursos superiores, sendo assim, o período

predominante para formação passou a ser de 10 semestres (5 anos), mas

também apontaram para cerca de 82 cursos com período inferior como em

Minas Gerais de 4 semestres (2 anos) para licenciatura, e cerca de 18 cursos

com período superior, sendo que o maior apresentou-se possuindo 14

semestres (7 anos), localizados entre Sul e Sudeste (LISBOA; BARBOSA,

2009).

Segundo essa mesma Resolução, todos os estágios e as atividades

complementares não devem passar de 20% da carga horária total do curso,

29

cerca de 800 horas. Também trás a obrigatoriedade de no mínimo 5 anos para

formação, se este estiver incluído no Grupo de Carga Horária Mínima entre

3600 e 4000 horas, isso coloca um ponto de unificação para que todos os

cursos de Psicologia se ajustem (LISBOA; BARBOSA, 2009).

No ano de 1998, foi criada a Associação Brasileira de Ensino em

Psicologia (ABEP) que atua em âmbito nacional e esta direcionada a busca da

reflexão, aprimoramento e desenvolvimento da graduação em Psicologia no

nosso país, um encontro com a realidade social, à ética e o exercício da

cidadania. Esta organização busca pela implementação de um espaço de ativa

participação de todos que fazem parte da formação do Psicólogo. Dois anos

após a criação da ABEP, os cursos de graduação em Psicologia passaram a

fazer parte do sistema de avaliação do Governo Federal pelo MEC através do

Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP)

(WITTER; FERREIRA, 2005).

Outro ponto importante, segundo Lisboa e Barbosa (2009), é que todos

os cursos programados para iniciarem em 2008, devem ser conferidos como

diplomados em bacharel, fazendo com que a formação em licenciatura siga

outras diretrizes. O regime letivo tem sua maior adesão ao sistema semestral,

em vez do regime anual. Já os turnos possuem sua supremacia no período

noturno e matutino.

Ainda segundo Lisboa e Barbosa (2009), de acordo com o INEP, em

relação às vagas autorizadas por turno, totaliza-se cerca de 55.445 vagas para

os cursos de Psicologia no País, com cerca de 22.862 só para o Estado de São

Paulo. Já na categoria administrativa, a maioria absoluta dos cursos se localiza

em instituições privadas, sendo apenas 15,66% do total nas instituições

públicas. Com base em estudos (Achcar, 1994; Conselho Federal de Psicologia

[CFP], 1988; Organização Mundial de Saúde/Conselho Federal de Psicologia

[OMS/CFP], 2001), é possível evidenciar um perfil do psicólogo brasileiro,

sendo este do sexo feminino, jovem, de predominância na área clínica e com

baixa remuneração.

Neste contexto, segundo Witter e Ferreira (2005), em vista das

constantes mudanças que ocorrem na sociedade e no mercado de trabalho,

faz-se necessário o aprimoramento constante na formação do psicólogo.

Ressalta que vários autores apóiam a prática de ensino e a produção do

30

conhecimento científico em psicologia como uma forma de desenvolvê-la, e

salientando que, tal caminho, esta atrelada a melhoria da formação.

Observa-se que, segundo os parágrafos anteriores, a psicologia emana,

ainda, de forma confusa na concepção social, mas bem definida pelo olhar de

seu Conselho e difundida nas mais importantes áreas cientificas em atividade.

Concentra sua ciência na relação com a mente humana através das mais

variadas abordagens apresentadas no decorrer da graduação, tal curso teve

inicio em 1958 e se fez presente, tanto em instituições públicas, quanto em

particulares, devido a sua viabilidade econômica para estruturação e retorno

financeiro em curto prazo. Isso trouxe preocupação à categoria, no que se

refere à formação, possibilitando a criação de órgãos como a ABEP e normas

para implantação através do MEC, assim como avaliações pelo INEP. Também

nota-se uma supremacia das instituições privadas sobre os cursos de

psicologia e uma grande concentração na região sudeste. O perfil do psicólogo

brasileiro apresenta-se como sendo do sexo feminino, jovem, em sua maioria

na área clínica e com baixa remuneração. Finalizam com a busca pelo seu

desenvolvimento, e reforçam a importância da melhoria na formação

profissional.

31

CAPÍTULO III

PSICOLOGIA SOCIAL E A PESQUISA EM ABORDAGEM SÓCIO-

HISTÓRICA COM BASE NA TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS

1 A PSICOLOGIA SOCIAL

Assim como a psicologia, a psicologia social é uma ciência nova que,

segundo Hermeto e Martins (2012), surgiu em meados de 1930, devido à

busca de psicólogos da época em entender as interações de indivíduos dentro

de grupos e da sociedade como um todo. Também observaram os efeitos das

organizações sociais no individuo, assim como a psicologia dos indivíduos

estariam por influenciar as estruturas sociais.

Os psicólogos sociais, como eram chamados, estudaram também as relações entre indivíduos dentro de um mesmo grupo e de grupos diferentes. Surgiram desses estudos novos temas de interesse para a psicologia, tais como: dinâmica, atitudes e preconceitos de grupo, conflito, conformidade, obediência e transformação social (HERMETO; MARTINS, 2012, p. 216).

Ainda segundo Hermeto e Martins (2012), foi o germano-americano Kurt

Lewin (1890-1947), que com seu empenho em conduzir, de forma sistemática,

seus estudos sobre a psicologia de grupos sociais, acabou por ser reconhecido

como o “pai da psicologia social”. Este amparou-se em uma nova perspectiva

sobre a abordagem behaviorista predominante e passou a investigar a relação

individuo - ambiente e o comportamento resultante desta. Pôs-se a estudar os

pequenos grupos, o que possibilitou analises sobre as dinâmicas de grupos e

como as mudanças são efetuadas na relação entre os grupos e seus membros.

De acordo com Maisonneuve (1988), é natural do homem ser,

necessariamente, sociável e socializado; com isso, compreende-se que ele é,

ao mesmo tempo, um ser que busca interagir com os seus semelhantes,

colocando-o como membro de uma sociedade, que em contra partida exerce

controle sobre este e o forma, com ou sem seu consentimento. E é próprio da

32

psicologia social entendê-lo, esta se apresenta não como uma ciência

independente, por certo, mas uma forma de estudo especial que não se

confunde nem com a psicologia clássica nem com a sociologia.

A psicologia social apresenta-se, segundo Cabral e Nick (2006), como

uma das diversas áreas da psicologia e esta voltada aos estudos dos

fenômenos psicológicos oriundos dos grupos e as relações que ocorrem a nível

comportamental, tanto dentro, como entre estes. Na comparação entre

psicólogos sociais e sociólogos, nota-se que o primeiro apresenta conceitos

que provem de estudos do comportamento individual; já segundo tende a

ressaltar conceitos emanados do estudo de instituições e grupos. As

importantes personalidades dentro da psicologia social são: Kurt Lewin,

Rorthlisberger, Lippitt, Cartwright, Sears e outros, que apresentaram notáveis

trabalhos de dinâmicas de grupo; e Allport, Newcomb, Hofstater, McClelland,

Riesman e Duverger, com os estudos voltados aos comportamentos

psicossociais.

Percebe-se, durante a trajetória da psicologia social, a compreensão de

três fenômenos em ordem geral, sendo: o primeiro, ligado ao estudo das bases

psicológicas do comportamento social que estaria próxima à psicologia do

indivíduo; já o segundo, traria as inter-relações psicológicas dos indivíduos na

vida social, e que apontaria para uma interpsicologia; e o terceiro, consideraria

uma influência geral dos grupos sobre a personalidade, isso indicaria uma

sociologia psicológica e uma psicologia cultural (RAMOS, 2003).

De acordo com Maisonneuve (1988), perceber como cada individuo se

vincula às normas coletivas e como se adapta a este meio, e desempenha sua

função, o que este constrói a nível de representação e como estas o

influenciam, é do interesse do Psicólogo Social. No entanto, a psicologia social

não se submeterá à psicologia intermental, nem mesmo a um mero anexo da

sociologia de base marxista ou durkhemiano, trará como priori a interação das

influências sociais e das personalidades singulares e as relações dos

indivíduos entre eles e dos grupos entre si.

Atualmente, os modelos inovadores e as teorias dos profissionais em

psicologia social, segundo Hermeto e Martins (2012), estão empregados em

áreas como a da indústria, gestão de negócios e em várias organizações

sociais. Também foram inseridas como fator importante na busca de reformas

33

sociais e políticas em contextos sociais que se apresentam dominadas pela

opressão.

Contextualizando os expostos a cima, vê-se a psicologia social como

tendo seu início na década de 1930, através do empenho dos psicólogos da

época, estes tinham como interesse as dinâmicas, atitudes e preconceitos de

grupo, os conflitos, as conformidades, a obediência e a transformação social. O

pesquisador Kurt Lewin, foi reconhecido como o “pai da psicologia social”

devido aos seus estudos sobre a psicologia de grupos sociais, e com o

desenvolvimento da área, fez com que esta se apresentasse não como uma

ciência independente, mas uma forma de estudo especial que não se confunde

nem com a psicologia clássica nem com a sociologia. Isso possibilitou a

comparação entre psicólogos sociais e sociólogos, onde o primeiro passaria a

promover os estudos do comportamento individual; e o segundo a ressaltar

conceitos retirados do estudo de instituições e grupos. Passou a ser papel da

psicologia social, perceber como cada individuo se vincula às normas coletivas

e como se adapta a este meio, e desempenha sua função, o que se constrói a

nível de representação e como estas o influenciam. Sendo visível na

atualidade, seu emprego em áreas como a da indústria, gestão de negócios e

em várias organizações sociais.

1.1 Contextualizando a representação social

O conceito de Representação Social serviu de inspiração para vários

pesquisadores do século XX, devido a sua presença nos mais variados

contextos sociais, seja cultural, político ou religioso. De acordo com Oliveira &

Werba (1998), tal conceito originou-se tanto na Sociologia através de

Durkheim, quanto na Antropologia com Levi-Bruhl; foi conhecido primeiramente

como “Representação Coletiva”, e serviu como base para a elaboração de

teorias em campos como o da religião, da magia e do pensamento mítico. Num

segundo momento, contribuiu na criação da “Teoria das Representações

Sociais” de Moscovici, na “Teoria da Linguagem” de Saussure, na “Teoria das

Representações Infantis” de Piaget e na “Teoria do Desenvolvimento Cultural”

de Vigotsky.

34

Segundo Farr (2003), até chegar ao conceito de representações sociais,

puderam ser distinguidos dois níveis de fenômenos, sendo um o “nível do

indivíduo” e o outro o “nível do coletivo” que estaria ligado à cultura ou

sociedade. O pesquisador Wundt separou a psicologia fisiológica da

“Volkersychologie” que equivalia à cultura; já Durkheim trouxe o estudo das

representações individuais (área da psicológica) e das representações

coletivas (área sociológica); Le Bon trabalhou com o indivíduo e as massas ou

multidão; e Freud apresentou o tratamento clínico do indivíduo e a crítica

psicanalítica voltada para a cultura e a sociedade.

O exposto à cima, trás a referência dos autores com relação ao

desenvolvimento histórico do conceito de representação social, que passou por

vários pesquisadores de renome do século passado, e serviu de base para

diversas teorias que buscavam entender os fenômenos “individuo” e “coletivo”,

tanto no olhar psicológico, quanto no sociológico. Possibilitando, assim, uma

compreensão mais apurada que será apresentada no próximo subtítulo.

1.1.1 Conceito de representações sociais

As Representações Sociais podem ser compreendidas, segundo Oliveira

e Werba (1998), como “teorias” relacionadas aos saberes popular e sobre o

senso comum, construídas e compartilhadas no coletivo, tendo por finalidade a

construção e interpretação do real. Devido a sua prática constante, conduz os

indivíduos a produzirem comportamentos e interagirem com os contextos e

situações ao qual se relacionam. Ações estas que possibilitaram modificações

em ambos.

De acordo com Minayo (2003), o pensador Max Weber, quando

relacionado o campo das representações sociais, apresenta termos como

“idéias”, “espírito”, “concepções”, “mentalidade”, por vezes como sinônimos,

mas trabalhando em um formato particular a consciência de “visão de mundo”.

A vivência diária dos indivíduos esta saturada de significados culturais. Tais

significados têm sua base material nas idéias, dentro de uma relação

adequada, e que nesta relação possa ocorre o envolvimento mútuo. Com isto,

Weber apresenta os termos, base material e eficácia das idéias em relação de

35

afinidade eletiva, na análise da história do avanço do capitalista no mundo

ocidental.

Ainda de acordo com Minayo (2003) outro pensador, o socialista Karl

Marx, quando fala da idéia e da base material, apresenta os expostos de

filósofos da sua época que consideravam “as quimeras, as idéias, os dogmas,

as ilusões” como produzidos e reproduzidos pela própria cabeça, isto é, pela

consciência; para Marx, a manifestação da consciência se faz através da

linguagem. Já o sociólogo Alfred Schutz, utiliza-se do termo “senso comum”

como forma de se referir as representações sociais do cotidiano, pois a

existência cotidiana é repleta de significados e de grande relevância para os

grupos sociais que vivem, pensam e agem em determinado contexto social.

Tais significados, no plano de estudo dos cientistas sociais, são listados em

construções mentais, de “representações” do “senso comum”; para Schultz, a

própria ciência é uma representação da realidade, ao qual chamou de

“constructo” de segunda ordem.

As representações sociais seriam um termo filosófico para expor uma

representação de uma percepção que se encontrava retida na lembrança ou do

conteúdo do pensamento. Já nas Ciências Sociais é definida como categorias

de pensamentos que exprimem a realidade, explicando-a, justificando-a ou

questionando-a (MINAYO, 2003).

A representação social é aceita como um processo social que entende a

comunicação e o discurso que, segundo Wagner (2003), significados e objetos

sociais são construídos. Mas, por outro lado, no contato com o conteúdo de

pesquisas auxiliadas de forma empírica, as representações sociais passam a

serem conduzidas como atributos individuais de conhecimento, símbolos e

afetos passam a serem difundidos entre pessoas nos grupos ou sociedades.

Por isto, ela possui um conceito multifacetado, o que a faz ser versátil e

permite, através de estudos, entender o papel da contradição na formulação

das representações.

De acordo com Bock (2008), a forma de conhecimento relativa ao senso

comum utiliza-se da apropriação, num modelo particular, das informações a

nível de conhecimento que emana de outros setores da produção do saber

humano. Ocorre, então, a reciclagem e mistura destes saberes científicos, ao

ponto em que são condensados de forma simples, produzindo assim uma

36

visão-de-mundo, o senso comum. Desta forma, o senso comum concentra,

com certa fragilidade, o conhecimento humano, absorve vagarosamente os

conteúdos mais “sofisticados e especializados”, mas não de forma completa.

Quando se pensa em produção das representações sociais, segundo

Guareschi e Jovchelovich (2003), deparamo-nos com uma inesgotável série de

locais sociais, tais como as instituições, as ruas, os meios de comunicação de

massa, os movimentos sociais, os atos de resistência, entre outros. Faz-se nos

encontros entre pessoas durante a fala, argumentações, discutições sobre o

cotidiano, carregados de conteúdos das mídias, os mitos e à herança histórico-

cultural de suas sociedades.

De acordo com os autores citados a cima, nota-se que as

Representações Sociais podem ser compreendidas, como “teorias”

relacionadas aos saberes popular e sobre o senso comum, construídas e

compartilhadas no coletivo, tendo por finalidade a construção e interpretação

do real. Desta forma, ela seria um termo filosófico para expor uma

representação de uma percepção que se encontrava retida na lembrança ou do

conteúdo do pensamento. É detentora de um conceito multifacetado, e traz no

senso comum, a frágil concentração dos conteúdos mais “sofisticados e

especializados”, mas não de forma completa. Podendo vir dos mais variados

locais onde possam ocorrer os encontros entre pessoas e que exista a fala,

argumentos e discutições sobre o cotidiano, carregados pelas informações das

mídias, dos mitos e à herança histórico-cultural de suas sociedades.

1.2 A pesquisa em abordagem sócio-histórica

O delinear motivacional da escolha profissional é cercada de diversos

fatores, entre eles o estresse imposto pela sociedade e a família ao jovem para

a escolha de uma profissão, a busca pessoal pela satisfação de cursar uma

graduação de interesse, ou a busca pela satisfação econômica e social. De

acordo com Almeida (2012), ao ingressar na Universidade o aluno se depara

com um ambiente novo e de mudança, sendo provável que desconheça grande

parte das questões históricas e técnicas relacionadas à identidade da

instituição; dificultando a compreensão, a adaptação e o envolvimento do

37

ingressando no novo sistema pedagógico da instituição de ensino superior e na

absorção do conhecimento teórico.

Durante o início do curso superior podem ocorrer decepções quanto à

expectativa criada, as relações universitárias, a estrutura da universidade e a

metodologia de trabalho acadêmico; nesse possível contexto, as motivações

iniciais e as expectativas a cerca da escolha profissional são prejudicadas,

levantando diversos fatores a serem discutidos, pesquisados e analisados

(MOREIRA, 1997).

Procurando obter dados para compreensão do que se encontra exposto

neste trabalho, optou-se pela pesquisa utilizando a abordagem sócio-histórica

que, segundo Freitas (2002), faz-se necessária devido à preocupação em

compreender os eventos investigados, discriminando-os e observando as suas

possíveis relações; possibilitando a incorporação do individual com o social. Tal

observação deve objetivar a compreensão de como uma coisa ou

acontecimento se relacionam com outras coisas e acontecimentos. Seria a

busca pelos acontecimentos nas suas mais essenciais e prováveis relações.

Ainda segundo Freitas (2002) quanto maior for à relação na coleta de

uma descrição, mais possível será a aproximação da essência do objeto a ser

pesquisado, isso corre devido à compreensão das suas qualidades e das

regras que governam tal objeto. A preservação das qualidades do objeto dentro

da análise faz com que ocorra a aproximação das leis internas que determinam

sua existência. Desta forma, somente com a coleta de traços mais importantes

e, posteriormente, os mais secundários, é que se iniciara a emersão mais clara

das relações que ocorrem entre si. Assim, o objetivo da observação se

fortalece em meio a uma rede de relações significativas.

Também ocorre a dimensão do social que marca a entrevista na

pesquisa de cunho sócio-histórico, ocorre à exposição dos sentidos que

emanam durante esta, dependem do vivido e da experiência, assim como do

momento envolvendo pesquisador e entrevistado. Os enunciados que ocorrem

dependem da situação concreta em que se é realizada, da relação que se

estabelece entre os interlocutores e depende de com quem se fala. Durante a

entrevista o sujeito se expressa e traz consigo, as vozes de outros que ecoa a

realidade de seu grupo, gênero, etnia, classe, momento histórico e social

(FREITAS, 2002).

38

Desta forma, segundo os autores citados a cima, na utilização da pesquisa com

base na abordagem sócio-histórica, é importante a compreensão dos eventos

investigados, suas possíveis relações, e a incorporação do individual com o

social. Uma relação de qualidade na coleta possibilitara o contato com a

essência do objeto a ser pesquisado, assim, o objetivo da observação se

fortalece em meio a uma rede de relações significativas. Os enunciados que

ocorrem dependem da situação concreta em que se é realizada, da relação

que se estabelece entre os interlocutores e de com quem se fala. Durante a

entrevista o sujeito se expressa e traz consigo, as vozes de outros que ecoa a

realidade de seu grupo, gênero, etnia, classe, momento histórico e social.

1.3 O conceito de orientação profissional e sua função primordial para o

jovem em busca do ensino superior

Historicamente, segundo Almeida Filho (1993), a orientação profissional

teve seu inicio no Brasil, por meio dos “serviços de orientação”, tais como os

centros de pesquisa, de desenvolvimento de técnicas e instrumentos, que

possibilitavam a divulgação e distribuição do material utilizado na avaliação

psicológica do orientando. Passa, então, a se difundir entre as escolas públicas

e privadas de nível médio, nas universidades, nos consultórios e clínicas.

[...] existe muita tensão, ansiedade e insegurança neste momento de vida. Há muita pressão por definição, da parte da família, dos amigos, há, sobretudo, muita expectativa social e da própria pessoa sobre si mesma. (ALMEIDA FILHO, 1993, p. 111).

Desta forma, segundo Lucchiari (1993), o papel da orientação

profissional é simplificar o momento em que o jovem deve promover uma

escolha, isso implica em auxiliá-lo na compreensão de seu atual estágio da

vida. Neste momento tão significativo onde estão presentes os aspectos

pessoais, familiares e sociais. É partindo deste princípio, que a orientação

profissional tende a possibilitar maiores condições para que este jovem possa

promover uma escolha mais condizente com seu projeto de vida.

As motivações que ocorrem no processo de escolha profissional estão,

geralmente, ligadas às experiências e vivências que o sujeito experiência

39

dentro do próprio processo de desenvolvimento. Através desta ótica do

desenvolvimento é que ocorre a compreensão de que a pessoa vai elaborando

uma definição de ser e do que fazer durante a vida em termos profissionais

(OLIVEIRA; SILVA; SILVA NETO, 2009).

Em busca de uma melhor compreensão, segundo Müller (1988), a

orientação vocacional pode ser vista como uma tarefa clínica, que tem por

objetivo acompanhar a um ou mais sujeitos durante a elaboração de suas

reflexões, conflitos e antecipações sobre seu futuro. Seu olhar volta-se a

elaboração de um projeto pessoal que possa incluir uma maior consciência de

si mesmos e da realidade socioeconômica, cultural e ocupacional que

possibilite aos sujeitos, sob orientação, desenvolver a capacidade de escolha

em prol de um estudo ou ocupação e que possa preparar-se para

desempenhá-la.

De acordo com Bock, Furtado e Teixeira (2002), no que tange à escolha

profissional, em especial, a de um curso superior, percebe-se que na atual

conjuntura social, ela é vista como uma imposição da idade e do

desenvolvimento humano; oscila entre as classes sociais com vistas para a

atividade profissional que, potencialmente, será assumida. Desta forma, é uma

escolha de peso para o adolescente / jovem que terá sobre ele o olhar de uma

sociedade capitalista que o responsabilizará pelo sucesso ou não de suas

escolhas.

Também a de se considerar que, segundo Oliveira, Silva e Silva Neto

(2009), a escolha profissional é proveniente de um processo que envolve o

contexto social, econômico e cultural, assim como não deve ser deixado de

lado à importância que espaços como a família e a escola exercem neste

processo. As ações e interações que possam vir a ocorrer no ambiente escolar

e que visem o estabelecimento de diálogo, debate e escuta; que podem

favorecer a escolha e possibilitar ao adolescente, condições para pensar a

própria história, a história de sua família e assim realizar a chamada “escolha

madura”.

De acordo com Oliveira, Silva e Silva Neto (2009), todas as tentativas

que possibilitem a instrução e orientação dos adolescentes, e que respeitem

suas características pessoais, seus desejos e tendências, sejam na escola ou

na comunidade, é bem vinda. Por isso, é de vital importância o envolvimento de

40

profissionais de diversas áreas, que sejam capazes de promoverem ações e

projetos que auxiliem na elaboração e consolidação de programas que venham

de encontro à orientação profissional.

Uma forma de difusão destas ações seria através de áreas como a

psicopedagogia e a psicologia, que em meio à escola ou a comunidade,

tentariam transformar o contexto em que são desenvolvidas e ressignificar

projetos de vida e processos, em sua maioria, de exclusão e vulnerabilidade

(OLIVEIRA; SILVA; SILVA NETO, 2009).

Na busca de um auxílio com qualidade, de acordo com Bohoslavsky

(2007), o psicólogo deve promover reflexões, estimulando o jovem a pensar.

Intuir que o mesmo deve caminhar para plena consciência de que a reflexão

permite a aprendizagem e o reconhecimento sobre o compromisso pessoal que

há em toda situação vital, assim como o conflito resultante desta e a

necessidade de preocupar-se. Isto será preponderante para que o jovem possa

ocupar-se da solução autônoma e responsável que ocorrera na trajetória em

busca do futuro que almeja.

Segundo Bastos (2010), na atualidade, em vista da gama de cursos

disponíveis, e a grande variedade de especializações surgindo, assim como

profissões em constante modificação, sem falar no mercado de trabalho que a

cada dia se torna mais exigente e diversificado; a Orientação Vocacional /

Profissional se apresenta como uma alternativa viável no auxílio ao processo

de escolha profissional. Para que isso ocorra, de forma satisfatória, faz-se

necessária a colaboração de professores e coordenadores pedagógicos que,

aptos, possam inseri-las no contexto escolar em vias de auxílio e orientação a

questões que se relacionam a esta difícil fase da escolha profissional.

De acordo com Bastos (2010), a abordagem sócio-histórica da

orientação vocacional/profissional vem como uma possibilidade de trabalho em

alternativa a atual linha de testes ultrapassados na área vocacional, busca

trazer de forma fácil, o entendimento deste processo, assim como a formulação

dos conflitos que possibilitaram o surgimento de dúvidas e ansiedades,

pertinentes ao período da escolha pelo jovem, trazendo fatores importantes de

conhecimento como os cursos, as profissões e o mercado de trabalho.

A abordagem sócio-histórica não faz uso de testes e sim, de um

processo de reflexão grupal com base em dinâmicas de grupo, troca de

41

experiências, pesquisas e visitas às Instituições de Ensino Superior; tem seu

olhar para a elaboração do jovem frente aos conflitos que este passará na

busca pela profissão, e possibilitando que estas sejam trabalhadas. Procura

trabalhar os aspectos internos e externos que envolvem a escolha,

considerando a sociedade mutante e as novas especializações que se seguem

em decorrência desta (BASTOS, 2010).

De acordo com Bock (2006), é primordial o avanço rumo ao

entendimento na concepção indivíduo-sociedade, trazendo a compreensão

para o indivíduo de seu papel como ator e ao mesmo tempo autor de sua

individualidade, mas na contramão do pensamento que gera o individualismo.

A abordagem sócio-histórica valida o olhar crítico para com a orientação

profissional, e indaga o modelo de aproximação dos indivíduos com as

ocupações profissionais por meio de perfis, pois também nega a concepção

liberal de indivíduo.

O que se propõe como desafio atual da orientação profissional é a

constituição em uma abordagem que possibilite o entendimento do indivíduo

em sua íntima relação com a sociedade, para que, desta forma, possam ser

ultrapassadas as visões que, até então, vem colocando o individuo como mero

reflexo da sociedade ou desvinculado em relação a ela, o que reforça o objetivo

central de entendimento da dinâmica relação indivíduo-sociedade (BOCK,

2006).

Segundo os autores citados a cima, a orientação profissional no Brasil,

se difundiu, inicialmente, por meio dos “serviços de orientação”, seguindo rumo

às escolas públicas e privadas de nível médio, nas universidades, nos

consultórios e clínicas. Seu papel passa a ser um simplificador do difícil

momento entre o jovem e sua escolha, que, geralmente, estão ligadas às

experiências e vivências que este experiência dentro do próprio processo de

desenvolvimento. Volta-se, então, o foco para o ambiente escolar, e o

estabelecimento de diálogo, debate e escuta; que podem ser favorecidos com

a difusão através de áreas como a psicopedagogia e a psicologia. A

abordagem sócio-histórica da orientação vocacional/profissional vem como

uma possibilidade de trabalho com vistas à formulação dos conflitos que

possibilitaram o surgimento de dúvidas e ansiedades, pertinentes ao período

da escolha pelo jovem, trazendo fatores importantes de conhecimento como os

42

cursos, as profissões e o mercado de trabalho; busca pela constituição em uma

abordagem que possibilite o entendimento do indivíduo em sua íntima relação

com a sociedade.

43

CAPÍTULO IV

PESQUISA

1 INTRODUÇÃO

Para conhecer o perfil do ingressando em psicologia, após a aprovação

do Comitê de Ética em Pesquisa de protocolo nº 1.626.057 em 6 de julho de

2016 (ANEXO A), realizou-se uma pesquisa de campo no Centro Universitário

Católico Salesiano Auxilium de Lins, localizada à Rua Dom Bosco, 265 na

cidade de Lins – SP. Com início e término em Agosto/2016.

Ocorreu à elaboração de um questionário contendo quatro questões

sobre o referido tema, seguido da aplicação do mesmo que contou com 03

vias, sendo: a Carta de Informação ao Estudante Sobre a Pesquisa

(APÊNDICE A); o Termo de Consentimento Livre Esclarecido - T.C.L.E.

(APÊNDICE B); e o Questionário (APÊNDICE C). A composição da amostra,

após passar pelos critérios de inclusão e exclusão, contou com um efetivo de

20 alunos procedentes do curso de Psicologia, que foram selecionados

posteriormente, a um encontro em sala de aula e convite dos mesmos.

1.1 Método

Ocorreu com a aplicação do questionário e, a seguir, a realização de

análise quantitativa e qualitativa (expressa em tabelas) oriunda da pesquisa do

primeiro termo de graduação do curso de Psicologia. Utilizaram-se os capítulos

I, II e III, como referencial teórico para as análises de conteúdo.

1.1.1 Critérios de inclusão e exclusão

Para ser incluindo na amostra, foi indispensável que o aluno estivesse

cursando o primeiro ano do curso de Psicologia e cursando uma graduação

pela primeira vez; já os critérios de exclusão foram aplicados aos alunos que se

44

recusaram a participar da pesquisa, alunos de outros termos e alunos que não

estavam presentes no momento de seleção e aplicação da pesquisa.

1.2 Histórico da instituição

A pesquisa ocorreu na instituição UniSALESIANO – Centro Universitário

Católico Salesiano Auxilum, tal instituição teve como período simbólico a data

de 18 de janeiro de 1942, quando sua mantenedora passou a ser a Missão

Salesiana de Mato Grosso, com sede em Campo Grande – MT. Já em 1950, o

Colégio Diocesano de Lins passou a denominar-se Colégio Salesiano Dom

Henrique, neste período, funcionaram os cursos de Primário, Ginasial, Colegial

Cientifico e técnico em Contabilidade, mas foi no ano de 1969 que ocorreu o

processo para a instalação de cursos de nível superior, sendo que, somente,

no ano de 1972, é que foi possível a aprovação da faculdade de Ciências

Administrativa, e Contábeis (FACAC). Também ocorreu em 1970, a elaboração

do projeto para a criação da faculdade de Educação Física de Lins (FEFIL), e

atingindo seu objetivo no ano de 1972. Atualmente está localizada à Rua Dom

Bosco, 265 – Vila Alta - na cidade de Lins/SP, e conta 30 cursos, de nível

superior entre os pólos de Lins e Araçatuba, o curso de Psicologia tem duração

de 5 anos (10 semestres) e conta com 50 vagas funcionando, atualmente, no

período noturno (teve seu inicio em período integral), sua carga horária é de

4800 horas. O curso de psicologia desta instituição trás como objetivos:

oferecer fundamentação teórico-metodológica em psicologia; promover o

desenvolvimento de habilidades de planejamento, intervenção e avaliação com

vistas ao conhecimento científico e tecnológico; atuar na prevenção e solução

de problemas psicológicos a nível individual e social; gerenciar condições e

recursos que potencializem a Psicologia; favorecer a ética profissional

embasado na DUDH (UNISALESIANO, 2016).

1.3 Caracterização da amostra

O trabalho em questão refere-se à pesquisa realizada no mês de agosto

de 2016, com alunos do primeiro termo do curso de graduação em Psicologia

do Centro Universitário Católico Auxílium UniSalesiano de Lins. Inicialmente, o

45

número de alunos matriculados no primeiro termo do curso de Psicologia, de

acordo com a lista de chamada obtida através da secretaria da instituição, era

de 43. Após análise destes, com referência ao item “critérios de inclusão e

exclusão”, obteve-se um total de 20 alunos, de ambos os sexos, em condições

de fazerem parte da amostra a ser pesquisada.

1.3.1 Instrumento e procedimento

Ocorreu a elaboração de um questionário com base na abordagem

sócio-histórica, contendo quatro questões e sendo aplicado como pesquisa aos

alunos pertencentes ao primeiro termo do curso de Psicologia, questionário

este exposto no APÊNDICE C. O mesmo não sofreu alteração, ficando assim

descrito: a primeira questão vem com o objetivo de identificar o participante da

pesquisa (idade, sexo, estado civil e situação profissional); a segunda tem

como fundamento, extrair o que motivou o aluno na escolha pelo curso de

Psicologia; a terceira procurou questionar as expectativas que existiam antes

do ingresso do jovem no referido curso; e a quarta questão buscou possibilitar

a identificação das dificuldades encontradas pelos alunos na adaptação ao

Ensino Superior a nível Social, Pedagógico e Institucional.

A partir da análise das respostas de cada questão, ocorreu à criação de

categorias para comportar as similaridades oriundas das inúmeras respostas

obtidas, utilizou-se uma dentre estas para a representação das demais, sendo:

a) Compreender a psique e o comportamento humano (aprender e

desenvolver o conhecimento sobre o curso, entender melhor o outro, entender

o homem – ser humano, conhecer a mente humana, esperava ser interessante

pelo objeto de estudo ser o homem, algo novo com expectativas no que ia

aprender).

b) Fazer o que gosta (que fosse algo que eu realmente queira na vida).

c) Ganhar dinheiro (ter um bom rendimento).

d) Melhorar a vida das pessoas (ajudar ao próximo, promover a saúde das

pessoas, cooperar com a sociedade).

46

Na questão de número 2, o itens 8 (outros / o que?) obteve-se três

respostas que destoaram dos itens anteriores, sendo: já cursei outra área e me

identifiquei melhor neste curso; minha primeira opção não formou turma; e

identificação com o curso. Já na questão de número 4, os itens denominados

“em branco” fazem referência à ausência de dificuldade de adaptação.

Foram analisadas as frequências das respostas por item e,

posteriormente, calculadas as porcentagens de suas incidências sobre o total

da amostra. Realizou-se, também, uma análise comparativa entre as respostas

e abstenções (em branco) dos alunos.

Teve como base, para a discussão dos dados obtidos com a análise das

tabelas, os referencias expostos nos capítulos anteriores através dos diversos

autores citados que objetivaram o conhecimento, a explanação e as

possibilidades de melhora na correlação jovem oriundo do ensino médio e

ingressante no ensino superior, envolvendo olhares pedagógicos e

psicológicos, e possibilitando uma reflexão mais atual do perfil destes.

2 APRESENTAÇÃO DOS DADOS DA PESQUISA

2.1 Análise dos resultados

Tabela 1: Identificação do participante da pesquisa Idade Quantidade de participantes Percentual (20) (%) 15 a 20 16 80% 21 a 25 2 10% 26 a 30 1 5% 30 < 1 5% Sexo Quantidade de participantes Percentual (20) (%) Feminino 18 90% Masculino 2 10% Estado civil Quantidade de participantes Percentual (20) (%) Casado(a) 2 10% Divorciado(a) 0 0% Solteiro(a) 18 90% Viúvo(a) 0 0%

47

(continuação da tabela 1) Condição profissional Quantidade de participantes Percentual (20) (%) Apenas estudando 14 70% Exercendo uma profissão enquanto estuda 6 30% Fonte: Os autores, 2016

De acordo com a pesquisa realizada no primeiro termo do curso de

graduação em Psicologia, a tabela 1, expôs dados para a “identificação do

participante da pesquisa” como idade, sexo, estado civil e situação profissional.

Desta forma evidenciou que 80% dos participantes estão entre a faixa etária de

15 a 20 anos, 90% são do sexo feminino e solteiros, e 70% estão com

dedicação exclusiva para os estudo.

Desta forma, os dados obtidos apresentam os participantes da amostra,

em sua maioria, como sendo jovens solteiros do sexo feminino desenvolvendo

a atividade de discente e de forma exclusiva.

Tabela 2: O que motivou a sua busca e escolha pelo curso de Psicologia?

Motivos Quantidade de respostas obtidas Percentual (20) (%) Curiosidade 3 15% Escolha aleatória 0 0% Precedentes familiares 0 0% Remuneração 0 0% Sempre gostou 13 65% Status social 1 5% Teste vocacional 0 0% Outros motivos 3 15% Fonte: Os autores, 2016

A tabela 2, “O que motivou a sua busca e escolha pelo curso de

Psicologia?”, apresenta as respostas “sempre gostou” com 65%, “curiosidade”

com 15% e “outros motivos” com 15%. Nota-se uma discrepância de 50% entre

o primeiro e os outros dois itens citados anteriormente.

48

Tabela 3: Quais eram as suas expectativas antes da entrada no curso de Psicologia?

Expectativas Quantidade de respostas obtidas Percentual (22) (%) Boa formação profissional para trabalhar com pessoas 1 4,54% Compreender a psique e o comportamento humano 7 31,81% Conseguir uma bolsa de estudos ou desconto 1 4,54% Fazer o que gosto 2 9,09% Ganhar dinheiro 1 4,54% Melhorar a vida das pessoas 5 22,72% Não tinha expectativa 4 18,18% Poderia ser um curso frustrante 1 4,54% Fonte: Os autores, 2016.

Segundo a tabela 3 “Quais eram as suas expectativas antes de entra no

curso de Psicologia?”, as categorias “compreender a psique e o

comportamento humano” e “melhorar a vida das pessoas”, juntas, totalizam

54,53%. A soma das demais categorias totalizam 45,43%, mas faz-se notar o

percentual de 18,18% da categoria “não tinha expectativa” que foi superior a

outras 5 categorias em percentual.

Tabela 4: Enfrentou alguma dificuldade de adaptação, na mudança do Ensino Médio para o Ensino Superior, social, pedagógica ou institucional?

Social Quantidade de respostas obtidas Percentual (22) (%) Distância da faculdade 4 18,18% Financeira 13 59,09% Em branco 5 22,72% Pedagógica Quantidade de respostas obtidas Percentual (20) (%) Conteúdo das matérias 1 5% Trabalhos / Seminários 12 60% Em branco 7 35% Institucional Quantidade de respostas obtidas Percentual (20) (%) Horários da faculdade 4 20% Professores / Funcionários 0 0% Em branco 16 80% Outros Quantidade de respostas obtidas Percentual (20) (%) Dificuldade de socializar 1 5% Em branco 19 95% Fonte: Os autores, 2016.

49

Na tabela 4, que trouxe o questionamento “Enfrentou alguma dificuldade

de adaptação, na mudança do Ensino Médio para o Ensino Superior, social,

pedagógica ou institucional?”, obteve-se no indicador “social” como ponto de

dificuldade o item “financeiro” com 59,09%; já o indicador “pedagógico”, com

60%, apresentou-se o item “trabalhos / seminários”; e, no indicador

“institucional”, a maioria dos pesquisados (80%) não apontaram dificuldade.

Nota-se um campo opcional denominado “outros” que teve uma abstenção de

95%, este item serviu para acrescentar algo a qualquer um dos indicadores

anteriores. Ressalto que as abstenções foram interpretadas como ausência de

dificuldade e anotadas quando nenhum dos itens, que compunham cada um

dos indicadores, era assinalado.

2.2 Discussão

Para trabalhar com pesquisa utilizando a abordagem sócio-histórica,

segundo Freitas (2002), faz-se necessária à preocupação em compreender os

eventos investigados, discriminando-os e observando as suas possíveis

relações, possibilitando a incorporação do individual com o social. Ainda

segundo Freitas (2002), durante a entrevista o sujeito se expressa e traz

consigo, as vozes de outros que ecoa a realidade de seu grupo, gênero, etnia,

classe, momento histórico e social.

Em busca desta realidade, apurou-se que dentro do curso de Psicologia,

a maioria dos alunos são jovens, solteiros, do sexo feminino, e de até 20 anos

de idade; o que, em pesquisas realizadas, segundo Lisboa e Barbosa (2009), é

possível evidenciar um perfil do psicólogo brasileiro, sendo este jovem e, em

sua maioria, do sexo feminino.

Nota-se, a supremacia do item “apenas estudando”, que pode estar

ligado ao elevado número de programas de incentivo ao estudante

universitário, tanto de instituições privadas quanto públicas, dentre eles,

segundo Andrade (2012), o Enem, que se tornou um instrumento de seleção

por parte das instituições de nível superior no Brasil; ele esta ligado ao

programa ProUni que concede bolsas de estudo ao ensino em universidades

particulares. Este fato apontou para o Enem como responsável por grande

parte da demanda que compõe o ensino superior.

50

A pesquisa trás como fator motivador, na escolha pelo curso, o item

“sempre gostou” com um expressivo percentual, superando, e muito, itens

como “curiosidade”, “status social” e “outros motivos”. Segundo Oliveira, Silva e

Silva Neto (2009), a de se considerar que a escolha profissional é proveniente

de um processo que envolve o contexto social, econômico e cultural, assim

como não deve ser deixado de lado à importância que espaços como o da

família e da escola exercem neste processo. As ações e interações que

possam vir a ocorrer no ambiente escolar, e que visem o estabelecimento de

diálogo, debate e escuta, podem favorecer a escolha e possibilitar ao

adolescente, condições para pensar a própria história, a história de sua família

e assim realizar a chamada “escolha madura”.

Quando a pesquisa apresenta o fator questionador “expectativas” para

com a graduação escolhida, segundo Wagner (2003), este apontaria para as

representações sociais que são aceitas como um processo social que entende

a comunicação e o discurso onde significados e objetos sociais são

construídos. Dentro desta, as categorias “compreender a psique e o

comportamento humano” e “melhorar a vida das pessoas”, surgiram de forma

marcante, mas, também, fez-se notar a categoria “não tinha expectativa” se

sobrepondo a outras como “fazer o que gosta” ou até mesmo “ganhar dinheiro”.

De acordo com Hermeto e Martins (2012), a psicologia obteve

notoriedade crescente dentro dos cursos universitários, ressaltando a sua

relevância social no mundo moderno, e o prazer que se pode obter no contato

com a adversidade que sua área de atuação promove; assim como o olhar

para os mistérios oriundos da mente humana. Apesar de seus conceitos e sua

referência, estejam difundidos na cultura cotidiana, ainda de acordo com

Hermeto e Martins (2012), pouco se sabe sobre ao que se refere e o que fazem

os psicólogos, quando se questiona a sociedade.

Segundo Bock, Furtado e Teixeira (2002), no que tange à escolha

profissional, em especial, a de um curso superior, percebe-se que na atual

conjuntura social, ela é vista como uma imposição da idade e do

desenvolvimento humano; oscila entre as classes sociais com vistas para a

atividade profissional que, potencialmente, será assumida. Desta forma, é uma

escolha de peso para o adolescente/jovem que terá sobre ele o olhar de uma

51

sociedade capitalista que o responsabilizará pelo sucesso ou não de suas

escolhas, isso pode resvalar nas expectativas para com o curso pretendido.

Com base na análise do último questionamento, que apresentou as

dificuldades de adaptação do aluno em seus indicadores Sociais, Pedagógicos

e Institucionais, para os entrantes no nível superior do curso de Psicologia,

constatou-se que:

A questão “financeira” apresentou-se como algo marcante dentro do

indicador “social”, onde, de acordo com Andrade (2012), os contextos de

vulnerabilidade social, indicariam a renda como um fator expressivo de

influência na manutenção e conclusão destes jovens com relação ao ensino

devido à variável renda familiar.

O indicador “pedagógico” expôs, de forma expressiva, o item “trabalhos /

seminários”, que, segundo Bastos, Gondim, Rodrigues e cols (2010), esta

dificuldade pode estar ligada a variada gama de orientações teórico-

metodológicas dentro da psicologia, cada qual com sua visão de homem,

sociedade e ciência; e de acordo com UniSalesiano (2016), tal índice pode

estar atrelado ao atual modelo de gestão do processo de graduação que

passou de integral para noturno, e os “objetivos do curso” que prioriza pela

qualidade de ensino.

Já o indicador “institucional”, apresentou que a maioria dos pesquisados

não apontaram dificuldade na relação com horários, e relacionamento com

professores e funcionários. Segundo Krawczyk (2009), a forma de ensinar, a

paciência na relação com o aluno, a estimulação e o diálogo oriundos do

docente, são fatores que norteiam o vínculo do estudante para com a

disciplina. De acordo com Maisonneuve (1988), é natural do homem ser

necessariamente sociável e socializado; com isso, compreende-se que ele é,

ao mesmo tempo, um ser que busca interagir com os seus semelhantes

colocando-o como membro de uma sociedade, que em contra partida exerce

controle sobre este e o forma, com ou sem seu consentimento.

52

3 PARECER FINAL

3.1 Considerações finais

Após coleta, análise dos dados obtidos e a discussão destes com os

expostos nos capítulos anteriores, puderam ser notadas uma relativa

equiparação com os dados de pesquisas pós-formação no que se diz respeito

ao perfil do graduando em psicologia, pois mesmo com as ocorrências

múltiplas que conduzem o jovem a não conclusão da graduação, o perfil

permanece sendo de superioridade feminina, jovem e solteira. Também

apresentou a ausência de atividade trabalhista extra discência, o que poderia

se ligar a uma gama de fatores, até mesmo de mercado, mas que tem um

ponto preponderante nos programas de incentivo ao estudante.

Na perspectiva histórica dos dados antes e após a escolha da referida

graduação, a amostra se posicionou, de forma expressiva, como sendo

portadora do desejo para a área da Psicologia, mas não apontando motivos

significativos para tal escolha; e quando questionados sobre as expectativas

quanto ao curso escolhido, estes responderam, quase que de forma igualitária,

argumentos como, “compreensão e cuidado do ser humano”, assim como,

também, a “ausência de expectativas” para com este, o que pode denotar uma

falta de apoio nas esferas família-sociedade, e uma sobrecarga social para

com os rumos destes jovens que se apresentam deficitários de uma “escolha

madura”.

Quanto ao olhar destes graduandos no curso de Psicologia, com vistas

para a sua adaptação social, pedagógica e institucional; pode-se dizer que

suas queixas se voltaram para questões financeiras e a pressão metodológica,

que se traduzem, mas não somente, pelo contexto extrínseco ao curso ligado

as oscilações de rendas familiares, e a redução do período integral de estudo

para o noturno, potencializando o estrangulamento de conteúdos atrelados a

necessidade institucional de manter um padrão de qualidade igualitário ao

conceito anteriormente alcançado. Mas, a amostra se posicionou de forma

positiva para os horários do curso e a relação para com docentes e

funcionários da instituição, o que enaltece a adaptação de forma sociável e a

53

busca para se integrar ao meio que responde de forma recíproca enquanto se

mantém o interesse de ambos.

54

PROPOSTA DE INTERVENÇÃO

Apesar de a pesquisa referir-se a um curso em especial e não abranger

outras instituições, a referida pesquisa aponta para dados importantes que

podem e fazem parte de estatísticas, cada vez mais comuns, relativas à

transição do ensino médio para o superior; e porque não, na relação de entrada

e saída destes, da graduação.

O resultado obtido através do questionário sobre o perfil do ingressante

no curso de psicologia e o reflexo da mudança do sistema pedagógico do

ensino médio para o superior, possibilitou a exposição dos pensamentos de

busca por uma graduação, as expectativas quando o curso já fazia parte do

imaginário, as dificuldades encontradas na mudança de realidade de nível e o

perfil destes ingressantes.

A intervenção se deu com a identificação do curso a ser pesquisado, em

seguida, um questionário foi elaborado, posto sob avaliação do comitê e, após

autorização, aplicado no referido curso, seguindo os procedimentos de

inclusão, exclusão e seleção aleatória simples. Após a aplicação da pesquisa,

ocorreu a tabulação e a análise quantitativa e qualitativa do conteúdo exposto

pela amostra e a conclusão com vistas para a confirmação ou não da

problemática que motivou a pesquisa.

O resultado obtido com a pesquisa confirmou a hipótese levantada frente

à pergunta (A mudança de sistema pedagógico do ensino médio para o ensino

superior interfere na motivação e expectativa do aluno ingressante no curso de

Psicologia?). Sendo assim, dentro do sistema pedagógico do ensino médio

poderia ocorrer à inserção de um acompanhamento a nível de orientação

profissional/vocacional, com vistas à descoberta e o amadurecimento da

escolha dos possíveis graduandos; já a dificuldade encontrada no processo de

adaptação ao ensino superior sugere a disponibilização de mini cursos de

aprimoramento/reciclagem aos alunos que se dispuserem a melhorar sua

correlação ensino médio-superior, de forma paralela a graduação, concedida

pela instituição e ministrada por docentes ou alunos dos últimos termos que

visualizem uma carreira acadêmica ou para complemento da carga horária de

atividades complementares.

55

CONCLUSÃO

O objetivo do referido trabalho veio de encontro ao entendimento sobre

as dificuldades que vários estudantes vêm apresentando no decorre de sua

busca profissional. A contextualização do ensino médio que envolve o “todo

escolar”, a realidade socioeconômica das famílias e o desejo, muitas vezes,

subjugados dos jovens; que se fragmenta em vias de uma graduação por

diversos motivos que concentram a acessibilidade social e pessoal, e se fazem

evidentes quando estes logram a vaga almejada e são colocados aprova na

relação com a escolha de seu curso.

O presente trabalho expôs que ao passo em que os jovens são

solicitados a se posicionar frente à sociedade, profissionalmente; buscam pela

graduação motivados pela necessidade de responder a esta e criam

expectativas vagas, baseadas em representações sociais, ignorando o fator da

pesquisa e sobre o algo objetivado. E se frustram com a discrepância

pedagógica entre os dois níveis tornando-se árdua a adaptação e até passível

de desistência por parte dos mesmos. Isso possibilitaria uma posterior

pesquisa e análise a fim de conhecer o processo de evolução dos graduandos

e quantificar os desistentes durante o processo de graduação assim como seus

respectivos motivos.

Os norteadores para discussão dos conteúdos oriundos da pesquisa

foram os autores: Andrade (2012); Bastos, Gondim, Rodrigues e cols (2010);

Bock, Furtado, Teixeira (2008); Freitas (2002); Hermeto, Martins (2012);

Krawczyk (2011); Lisboa, Barbosa (2009); Maisonneuve (1988); Oliveira, Silva,

Silva Neto (2009); UniSalesiano (2016) e Wagner (2003), que possibilitaram a

abordagem dos resultados e análise destes em uma correlação teórico-prática.

O presente trabalho responde a pergunta formulada indicando que a

mudança de sistema pedagógico, do ensino médio para o ensino superior,

interfere na motivação e expectativa do aluno ingressante no curso de

Psicologia, havendo assim a necessidade de formas mais efetivas no auxílio ao

aluno durante o ensino médio e na adaptação enquanto ingressante no curso

de graduação na atualidade. Este fato aponta para a positividade do trabalho

em ter seus objetivos atingidos.

56

A presente pesquisa proporcionou reflexão, aprofundamento, correlação

de dados, análise de perfil, elucidação de deficiências, representações

subjetivas em um coletivo e a promoção de formas de intervenção.

O assunto é inquietante e atual, passível de explanação e

aprofundamento, tais como: a pesquisa e análise a fim de conhecer o processo

de evolução dos graduandos e a quantificação dos desistentes durante a

graduação, assim como seus respectivos motivos.

57

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APÊNDICES

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APÊNDICE A – Carta de informação ao participante da pesquisa

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APÊNDICE B - Termo de Consentimento Livre Esclarecido

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APÊNDICE C – Questionário sobre o perfil do ingressante do curso de Psicologia

4)

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ANEXOS

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ANEXO A – Termo de aprovação para a realização da pesquisa

67

68