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7/23/2019 O poema satrico TC0018-1
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XII Congresso Internacional da ABRALIC
Centro, Centros tica, Esttica18 a 22 de julho de 2011UFPR Curitia! Brasil
" #oe$a sat%rico& tra'o de uni(o entre as tr)s culturas*
Prof. Dr. Saul Kirschbaum, Unicamp
Resumo:
Muito se tem pesquisado sobre os sete sculos em que muulmanos, cristos e
judeus habitaram a pennsula ibrica. Muito se tem escrito sobre a convivncia, sobre a
Idade de Ouro do judasmo ibrico, sobre as trocas culturais e influ!ncias recprocas
entre as tr!s etnias.
Meu objeti"o aqui focali#ar o apreo pelo $!nero da poesia satrica. %ntre osjudeus, a s&tira foi praticada desde tempos bblicos. %ntre os &rabes, o $!nero da maqama
permitiu o sur$imento de poetas do n"el de al'+ariri, %ntre os cristos, uma das
principais correntes da poesia $ale$o'portu$uesa foi representada pelas canti$as de
esc&rnio e maldi#er.
(a apresentao, tentarei le"antar hip)teses sobre a ocorr!ncia de e"entuais
influ!ncias, principalmente de e sobre judeus. Para isso, me deterei em dois poetas judeus
que se notabili#aram por suas composi*es satricas, +ehuda al'ari#i e -odros bulafia.
Palavras-chave: poesia hebraica medie"al, poesia satrica/ +ehuda al'ari#i, -odros
bulafia, con"i"encia
Muito se tem pesquisado sobre os quase oito sculos em que muulmanos e
judeus habitaram a Pennsula 0brica juntamente com cristos, desde a conquista
empreendida pelas tropas &rabes em 122 at a concluso daReconquista e o decreto de
e3pulso dos judeus em 2456. Muito se tem escrito sobre a convivncia, sobre aIdade deOuro do judasmo ibrico, sobre as trocas culturais e influ!ncias recprocas entre as tr!s
etnias.
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Meu objeti"o aqui particulari#ar o foco e estudar o apreo dos judeus pela
s&tira2, "erificando como foi praticada na poesia hebraica, e tentando le"antar hip)teses
sobre a ocorr!ncia de e"entuais influ!ncias. Para isso, me deterei em dois poetas que se
notabili#aram por suas composi*es neste $!nero, 0ehuda lhari#i 7-oledo8, 229: ;
lepo, 266:< e -odros bulafia 7-oledo, 2641 ' -oledo, 2=>>8, os partid&rios de Dunash ben Eabrat troca"am farpas com os de Menahem ben
Saruq, por meio de poemas, sobre a propriedade de ser adotada a mtrica &rabe. -ambm
os e3poentes daIdade de Ouro, braham ibn %#ra, Mosh ibn %#ra, 0ehud& ale"i e
Shlomo ibn Fabirol, recorreram G s&tira em al$umas de suas obras.
H $rande poeta, fil)sofo e mstico Shlomo ibn Fabirol, ao ser forado a sair de
Sara$oa, por "olta do ano 2>4:, dei3ou de lado o tom ele"ado de suas refle3*es
metafsicas para compor uma lon$a qasida, um poema de burla morda# "isando a um
$rande ajuste de contas com os cidados daquela cidade, mantendo, no entanto, a alta
qualidade potica e a abundIncia e preciso das cita*es bblicas. (este poema, ibn
Fabirol se quei3a de @ter de "i"er entre $ente incapa# de distin$uir a mo direita da
2H professor Massaud Moiss e3plica que @Jmodalidade liter&ria ou tom narrati"o, a s&tira consiste nacrtica das institui*es ou pessoas, na censura dos males da sociedade ou dos indi"duos. Li#inha dacomdia, do humor, do burlesco e co$natos, pressup*e uma atitude ofensi"a, ainda quando dissimulada oataque a sua marca indel"el, a insatisfao perante o estabelecido, a sua mola b&sica. De onde osubstrato morali#ante da s&tira, inclusi"e nos casos em que a in"ecti"a parece $ratuita ou fruto dodespeito.A 7MH0SNS, 25O6495'1>
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esquerdaA e se "! como @"i"endo entre a"estru#es, loucos con"encidos de que seus
cora*es se tornaram s&biosA. -ranscre"o al$uns poucos "ersos, em traduo li"re da
"erso em in$l!s de Peter ?ole 7?HE%, 6>>1 1O'O2
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coment&rio sobre a Mishn, de MaimQnides, e as maqamatdo poeta &rabe al'+ariri! que
"i"eu entre 2>:4 e 2266.
p)s tradu#ir para o hebraico a coleo de :> maqamat de al'+ariri, nosso poeta
decidiu promo"er o hebraico, desafiando a con"ico estabelecida de que o idioma &rabe
seria Bnico em sua bele#a de e3presso e santidade. Para tanto, buscou criar uma obra
ori$inal, e compQs sua pr)pria coleo de :> epis)dios, ou port*es ; o !er "ah#emoni
emulando de perto a forma, o estilo e a estrutura das cole*es de al' +ariri e de al'
amadhani, outro poeta &rabe, que "i"eu entre 595 e 2>>O. s mahbarot do "ah#emoni
$iram em torno dos encontros entre um narrador, eman o %#rata, e um prota$onista"elhaco, +e"er o Kenita/ em al$uns epis)dios, o @pr)prio autorA comparece como
persona$em, compondo uma trama comple3a com os outros dois, %m cada epis)dio, as
persona$ens se encontram em al$uma cidade, t!m al$um tipo de interao, e se separam,
apenas para se encontrarem no"amente no epis)dio se$uinte. tra"s de seus mBltiplos
discursos, l'+ari#i criou um te3to jo"ial, tra"esso, rico em jo$os ret)ricos e alus*es
interte3tuais, abarcando uma cornuc)pia de temas que "o desde de"oo, ascetismo e
teolo$ia at fraude, embria$ue# e homosse3ualidade.
+e"er, o prota$onista, uma espcie de anti'her)i, um mestre de eloqu!ncia cujo
despre#o pelas con"en*es sociais fa# dele um persona$em di"ertido mas nada e3emplar.
Perito em disfarces e trambiques, "i"e de pequenos $olpes, ludibriando cidados
in$!nuos com um discurso eloquente, ao mesmo tempo em que escarnece de seus h&bitos
sociais. 0sto abre espao para epis)dios francamente satricos, contra altos funcion&rios,
lderes reli$iosos, poetas canhestros, impostores, patronos/ como o porto nBmero 9, @
bodaA, em que +e"er con"encido a casar com uma mulher apresentada como jo"em,
bonita e rica, mas que, na noite de nBpcias, se re"ela "elha, feia e pobre 7este epis)dio ; ofraudador Gs "e#es fraudado ' foi tradu#ido para o portu$u!s por Moacir mIncio, que e3p*e a charlatanice dos mdicos, e muitos outros.
-ranscre"o, para dar uma p&lida ideia da $rande#a da obra, trecho do porto 9
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$u disse c comi%o& esta noite rejuvenescerei com a !or'a de %uia da juventude(
) alcan'arei a maior altitude( ) esta uma noite sem sono( somente atitude* ) +che%uei,
me a ela s-!re%o ) e puxei de cima dela o sobretudo( ) quase sem !-le%o( mudo( ) e o vu
que a cobria retirei ) e sem dis!arce eu a deixei* ) .evei a vela ao seu rosto ) o doce vinho
que eu comprara era a/edo mosto ) ela tinha cara de raiva e vo/ de trov0o( ) o corpo
dela era i%ual ao do be/erro de 1erobo0o( ) e sua boca i%ual 2 boca da mula de 3ala0o( )
o nari/ tresandava !eito o 40o( ) a cara( era um car0o de 4am( ) como se a tivesse
decorado o pr5prio at0 ) usando piche na obra v0( ) eu at a con!undi com uma das
!ilhas de 4am* ) Mas se a cara era encarvoada( ) a cabeleira andava toda esbranqui'ada) e ela( uma velha encarquilhada( ) os seus bei'os( desbei'ados( ) os dentes( dentes de
lobo ou urso es!aimado ) e olhos( olhos de escorpi0o encurralado*
(o porto =4, obra'prima do"ah#emoni, o autor lana um ataque corrosi"o contra
o deslumbramento dos nouveaux,riches em ostentao indiscriminada, o anfitrio
@"omitaA tudo o que e tem, de sua &r"ore $eneal)$ica Gs habilidades domsticas e
se3uais de sua esposa, sua piscina e os ser"ios 7muitoR< pessoais de seu camareiro. %ste
epis)dio ilustra, G perfeio, uma estrat$ia narrati"a utili#ada com frequ!ncia, no s) por
l'+ari#i! mas na prosa rimada hebraica em $eral, a citao das escrituras fora de
conte3to o hospedeiro utili#a erroneamente, ou simplesmente no entende, suas pr)prias
fontes, pondo a descoberto sua i$norIncia. %sta tcnica muitas "e#es empre$ada em
conjunto com o uso de rimas, para maior !nfase, como no caso de um $rupo rmico
7especialmente um que feche uma unidade ou sub'unidade da narrati"a
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admirador de 0ehud& ale"i ', l'+ari#ij& foi aclamado como @herdeiro de Mosh ibn
%#ra e do autor de.amenta'6esA. H !er "ah#emoni! se$undo Peter ?ole, foi escrito no
Hriente, entre 262O e 266>, para onde o poeta se mudou em 262:/ mas ele no dei3ou de
ser um escritor andalu#/ em sua obra, o ethos cl&ssico da ndalu#ia parece se refletir em
um espelho torto. seriedade, profundidade, inoc!ncia lrica da poesia cl&ssica
desaparecem, substitudas por elementos de humor, narrati"a picaresca, e, Gs "e#es, um
re$istro, tom, escolha de tema, mais popular.
(o deslocamento para o Hriente, sua primeira parada foi em le3andria/ depois,
tomou a rota terrestre "ia Custat para erusalm. De l&, prosse$uiu para as comunidadesjudaicas na Palestina, Sria e 0raque, tendo falecido em lepo, em de#embro de 266:.
parentemente, o !er "ah#emoni o re$istro de suas impress*es a respeito das
comunidades que encontrou, e que no foram poupadas por sua ln$ua afiada. Para
Cleischer, a obra pode tambm refletir uma crise nos crculos judaicos do norte da
%spanha, cada "e# mais dominados por uma classe emer$ente de nouveaux riches, que
tinha pouca cone3o com a cultura hebraica e com o judasmo como uma f "ital.
potica de lhari#i compartilha com a de seus antecessores bblicos e andalu#es
uma caracterstica de m&3ima importIncia sua s&tira impessoal, no "isa "timas
concretas, mas sim $rupos sociais, coleti"os. (o perodo bblico, o a"arento, o hip)crita,
o libertino, o esnobe, o pre$ador maante ,Mesmo no poema de 0bn Fabirol ; quando ele
certamente tinha em mente pessoas concretas, a crtica @a elesA, os i$norantes que no
distin$uem a mo direita da esquerda, a"estru#es. %sta situao se modifica radicalmente,
cerca de meio sculo mais tarde, com o sur$imento em -oledo, capital do reino de
?astela, sede da corte de fonso , o @rei s&bioA, de -odros ben 0ehud& bulafia.
(o reinado de fonso , com o apoio e a participao ati"a do pr)prio soberano,atin$iu seu apo$eu a lrica $ale$o'portu$uesa, com uma potica brilhante que se
manifestou em tr!s $!neros principais as 4anti%as de +mor, as 4anti%as de +mi%oe as
4anti%as de $scrnio e Maldi/er. H que concerne a essa apresentao este Bltimo
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$rupo. utor anQnimo da poca 7+rte de "rovar do 4ancioneiro da 3iblioteca 7acional
de .isboa< tenta separar as 4anti%as de $scarneo e Maldi/er em dois $!neros distintos
@?anti$as dTescarneo som aquelas que os trobadores fa#en querendo di#er
mal dTal$uen en elas, e di#en'lho per pala"ras cubertas que hajan dous
entendimentos, pera lhe'lo non entenderen ... li$eiramente e estas pala"ras
chamam os cleri$os hequi"ocatioT.A6e @?anti$as de maldi#er son aquelaVsW que
fa#em os trobadores Vcontra al$uemW descubertamente eVmW elas entrar&m
pala"ras eVmW que queren di#er mal e nom a"erV&mW outro entendimento se nomaquel que queren di#er chamVenteW.A=
Hu seja, a ?anti$a de %sc&rnio se baseia no equ"oco, no duplo sentido. De"emos,
nelas, procurar uma se$unda leitura, um te3to fantasma. H efeito cQmico obtido
justamente porque o sentido oculto no percebido imediatamente. primeira leitura
sempre satrica, crtica, a "tima descrita como i$norante, mentiroso, mesquinho. H
duplo sentido normalmente malicioso, de nature#a se3ual, e a se percebe que a "tima
est& sendo denunciada como homosse3ual, ou marido trado, ou, se for mulher, como
@soldadeiraA, prostituta. ?laro que a crtica uma con"eno de $!nero, nin$um
pensaria que o ami$o do rei realmente co"arde, ou que a dama frequentadora da corte
uma prostituta, ou que o cQne$o depra"ado. dmite'se, em $eral, que o objeti"o da
s&tira puramente lBdico4, in"ertendo o comportamento real do acusado. quele que
chamado de homosse3ual reconhecidamente heterosse3ual, a senhora chamada de
@soldadeiraA na "erdade um modelo de "irtude, o padre, lon$e de ser depra"ado, se
submete a todas as re$ras de castidade. Lejamos a$ora um poema de -odros bulafia.
-e conheci generoso
6+pud -a"ani, 255546.=+pud -a"ani, 255:46'=.4(o obstante, al$uns crticos so de opinio que muitas "e#es a ?%M tem inteno poltica.
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+ ben hoshan( depois que lhe pedi que me enviasse !i%os&
7traduo minha do hebraico com au3lio de (ancX Yo#enchan