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O que é o Evangelho.pdf

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  • Greg Gilbert um dos homens mais talentosos e mais fiis chamados a servir igreja hoje. Neste livro, ele nos ofere-ce um entendimento penetrante, fiel e totalmente bblico do evangelho de Jesus Cristo. No h necessidade maior do que a de conhecer o verdadeiro evangelho, reconhecer suas falsi-ficaes e desencadear uma gerao de cristos centrados no evangelho. Este livro importante chega no momento certo.

    R. Albert Mohler Jr., presidente,The Southern Baptist Theological Seminary

    Duas realidades tornam este livro muito importante: a centralidade do evangelho em todas as geraes e a confuso a respeito do evangelho em nossa prpria gerao. Este livro nos oferece uma explicao fiel do evangelho e nos capacita a discernir os desvios dessa mensagem gloriosa. Como desejo que este livro seja colocado nas mos de cada pastor e cada membro de igreja!

    C. J. Mahaney, Sovereign Grace Ministries

  • Greg Gilbert argumenta que o entendimento contempo-rneo do evangelho est perdido em um nevoeiro de confuso. Ele dissipa o nevoeiro por lanar nova luz sobre um assunto antigo. Gilbert escreve em um estilo claro, conciso e fcil que apelar, em especial, aos jovens adultos. O que o Evangelho? aguar o pensamento do leitor a respeito do evangelho, gra-vando-o mais profundamente em seu corao, para que possa compartilhar com ousadia as boas-novas de Jesus Cristo. Este livro levar o leitor a meditar na extenso em que o evangelho tem impactado sua prpria vida e o estimular a louvar a Deus com gratido pelo que Cristo fez.

    James MacDonald, pastor,Harvest Bible Chapel, Chicago

    Uma maravilhosa narrao da velha histria em pala-vras novas com advertncias corretas contra as apresenta-es sutis e errneas do evangelho. Como afirma uma antiga cano evanglica e como verdade a respeito deste excelente livro de Greg Gilbert, aqueles que conhecem bem a velha his-tria sentiro fome e sede de ouvi-la.

    Bryan Chapell, presidente,Covenant Theological Seminary

  • Greg Gilbert algum que tive a honra e o privilgio de ensinar e que agora est me ensinando. Este pequeno livro um dos mais claros e mais importantes que li em anos recentes.

    Mark Dever, pastor,Capitol Hill Baptist Church, Washing DC

    Por boas razes, os cristos amam a palavra evangelho. Infelizmente, multides de cristos no compreendem o que o evangelho. De modo doutrinariamente correto e simples, meu amigo Greg Gilbert nos mostra quo importante enten-der tanto a natureza teolgica como a necessidade funcional do evangelho. Desejamos e esperamos que este seja o primeiro de muitos livros escritos por Greg Gilbert.

    Tullian Tchividjian, pastor,Coral Ridge Presbyterian Church,

    Fort Lauderdale, Florida

  • O que o evangelho? Este livro pequeno, mas pode-roso, responde a essa pergunta, em uma apresentao clara e concisa. uma abordagem esplndida das boas-novas. Leia-o e passe-o adiante.

    Daniel L. Akin, presidente,Southeastern Baptist Theological Seminary

    Greg Gilbert, com uma mente perspicaz e um corao de pastor, escreveu um livro que ser proveitoso para os in-teressados no evangelho, para os novos crentes e para qual-quer pessoa que queira entender o evangelho com maior clareza. Tenho esperado por livros como este! Sendo um excelente guia para um assunto de controvrsias, este livro esclarece os mal-entendidos sobre o evangelho, o reino e o significado da cruz.

    Kevin deYoung, pastor,University Reformed Church, East Lansing, Michigan

  • O que o Evangelho? demonstra, de maneira sensvel e impressionante, que o evangelho indescritivelmente pro-fundo, bem como eminentemente descritvel to claro que qualquer pessoa pode compreend-lo.

    Paige Patterson, presidente,Southwestern Baptist Theological Seminary

    Greg Gilbert chama a igreja de volta fonte de sua reve-lao. De maneira simples e franca, ele esclarece o que a Bblia ensina sobre o significado do evangelho.

    Arcebispo Peter J. Akinola,Primaz da Igreja da Nigria, Comunho Anglicana

  • Em uma Era de dvida e pragmatismo, no existe desa-fio maior do que o de tornar claro o glorioso evangelho. Essa a grande necessidade do cristo maduro, bem como do in-crdulo. Neste livro sbio e acessvel, Greg Gilbert responde claramente pergunta mais importante j feita.

    Darrin Patrick, vice-presidente,The Acts 29 Church Planting Network

    Greg Gilbert desfaz a confuso por examinar as Escri-turas para responder pergunta mais importante que algum pode fazer. Embora voc pense que j conhea as boas-novas do que Deus fez em Cristo, Greg Gilbert aprimorar seu foco neste glorioso evangelho.

    Collin Hansen, Christianity Today, editor

    Este livro ajudar o leitor a entender melhor o evange-lho de Jesus Cristo, a valoriz-lo e a compartilh-lo. Se voc acha que j sabe muito sobre o evangelho, talvez precise saber mais do que imagina saber.

    Joshua Harris, pastor,Covenant Life Church, Gaithersburg, Mariland

  • Em meio a uma cultura crist contempornea caracte-rizada por confuso no que diz respeito s doutrinas centrais de nossa f, Greg Gilbert nos oferece uma apresentao do evangelho que clara para aqueles que j creram e convin-cente para aqueles que ainda tm de crer. Saturado da Palavra, centrado na cruz e exaltando a Deus, O que o Evangelho? cativar a ateno de nossa mente e inflamar as afeies do corao para com o Deus que salva por sua graa, mediante o seu evangelho, para sua glria.

    David Platt, pastor,The Church at Brook Hill, Birmingham, Alabama

    Clareza quanto ao evangelho produz confiana no evangelho e convico concernente s suas verdades centrais. Este livro excelente muitssimo claro e biblicamente fiel, e recompensar a leitura com um novo foco no evangelho.

    William Taylor, proco,St. Helens Bishopsgate, Londres

  • Quando penso no aspecto mais importante de minha Bblia, meu corao considera imediatamente o evangelho. Conheo muitas pessoas que amam o evangelho, mas estou sempre disposto a am-lo mais e a entend-lo melhor. Greg Gilbert escreveu este livro para ajudar-nos a conhecer e amar mais o evangelho.

    Johnny Hunt, presidente,Southern Baptist Convention,

    Pastor, First Baptist Church, Woodstock, Georgia

    O que torna este livro profundo a sua simplicidade. Talvez o maior perigo no cristianismo esteja em se fazer con-jecturas a respeito do que o evangelho sem ouvir a voz clara e inequvoca da Bblia. No exageramos em dizer que este pode ser o livro mais importante que voc ler sobre a f crist.

    Rick Holland, pastor,Grace Community Church, Sun Valley, California

  • O Que o Evangelho? Traduzido do original em inglsWhat is the Gospel? Por Greg GilbertCopyright 2010 por Gregory D. Gilbert

    Publicado por Crossway BooksUm ministrio de publicaes de Good News Publishers1300 Crescent StreetWheaton, Illinois, 60187, USA

    Esta edio foi publicado atravs de um acordo comGood News Publishers

    Copyright 2010 Editora FielPrimeira Edio em Portugus: 2011

    Todos os direitos em lngua portuguesa reservados por Editora Fiel da Misso Evanglica LiterriaProibida a reProduo deste livro Por quaisquer meios, sem a Permisso escrita dos editores, salvo em breves citaes, com indicao da fonte.

    Presidente: James Richard Denham IIIPresidente Emrito: James Richard Denham Jr.Editor: Tiago J. Santos FilhoTraduo: Franciso Wellington FerreiraReviso: Tiago J. Santos Filho e Paulo Cesar Valle Diagramao: Layout Produo GrficaCapa: Edvnio SilvaISBN: 978-85-99145-89-0

    Caixa Postal 1601CEP: 12230-971

    So Jos dos Campos, SPPABX: (12) 3919-9999

    www.editorafiel.com.br

  • Para MoriahEu te amo,

    Muito, muito.

  • Sumrio

    Apresentao da Srie ......................................................... 15

    Prefcio por D. A. Carson .................................................... 19

    Introduo ............................................................................ 21

    1 Achando o Evangelho na Bblia ................................ 33

    2 Deus, o Criador Justo ................................................. 53

    3 Homem, o Pecador..................................................... 65

    4 Jesus Cristo, o Salvador ............................................. 81

    5 Resposta F e Arrependimento .............................. 97

    6 O Reino ................................................................... 115

    7 Mantendo a Cruz no Centro ................................... 137

    8 O Poder do Evangelho ............................................. 151

    Agradecimentos ................................................................ 163

  • A srie de livros Nove Marcas fundamentada em duas idias bsicas. Primeira, a igreja local muito mais impor-tante vida crist do que muitos cristos imaginam hoje. No ministrio Nove Marcas, cremos que um cristo saudvel um membro de igreja saudvel.

    Segunda, igrejas locais crescem em vida e vitalidade quando organizam sua vida ao redor da Palavra de Deus. Deus Fala. As igrejas devem ouvir e seguir. bem simples. Quando uma igreja ouve e segue, ela comea a parecer com aquele que ela segue, re-fletindo seu amor e sua santidade. Ela demonstra a glria de Deus. Essa igreja parecer com ele medida que o ouve.

    Com base nessas idias, o leitor pode observar que to-dos os livros da srie Nove Marcas, resultantes do livro

    Apresentaoda Srie

  • Nove Marcas de Uma Igreja Saudvel (Editora Fiel), escrito por Mark Dever, comeam com a Bblia:

    Pregao Expositiva ; Teologia Bblica; O evangelho; Um Entendimento Bblico da Converso; Um Entendimento Bblico da Evangelizao; Um Entendimento Bblico de Membresia na Igreja; Disciplina Bblica na Igreja; Interesse pelo Discipulado e Crescimento; Liderana Bblica na Igreja.

    Poderamos falar mais sobre o que as igrejas deveriam fazer para serem saudveis, tal como orar. Mas essas nove pr-ticas, conforme pensamos, so frequentemente as mais ignora-das em nossos dias (o que no acontece com a orao). Por-tanto, nossa mensagem bsica s igrejas esta: no atentem s prticas que produzem mais resultados, nem aos estilos mais recentes. Olhem para Deus. Comecem por ouvir a Palavra de Deus novamente.

    Um fruto desse projeto abrangente a srie de livros Nove Marcas. Esses livros tm a inteno de examinar as nove marcas mais detalhadamente, por ngulos diferentes. Alguns

  • dos livros tm como alvo os pastores. O alvo de outros so os membros de igreja. Esperamos que todos os livros da s-rie combinem anlise bblica cuidadosa, reflexo teolgica, considerao cultural, aplicao corporativa e um pouco de exortao individual. Os melhores livros cristos so sempre teolgicos e prticos.

    Nossa orao que Deus use este livro e os outros da srie para ajudar-nos a preparar a noiva, a igreja, com beleza e esplendor para o dia da vinda de Cristo.

  • Mais de trinta anos de ensino a estudantes de teologia tm me mostrado que a pergunta mais controversa que eles fazem varia a cada gerao e isso tambm verdade com referncia ao pbli-co cristo mais amplo. Em um momento, voc pode ter um debate acirrado por lanar a pergunta: o que voc pensa do movimento carismtico? Ou: vale a pena defender a inerrncia bblica? Ou: o que voc acha das igrejas de ministrios que se acomodam aos desejos dos interessados no evangelho? Hoje muito fcil achar pessoas desejosas de discutir esses assuntos, mas os benefcios e os discernimentos resultantes so poucos. Hoje a pergunta que pro-vavelmente acender um estopim como o autor deste livro ressalta o que o evangelho? E poderamos, com proveito, acres-centar esta pergunta correspondente: o que o evangelicalismo?

    Prefcio porD. A. Carson

  • O fato de que essas perguntas produzem respostas mutua-mente exclusivas, defendidas com dogmatismo e um mnimo de reflexo na Bblia, , francamente, alarmante, porque esses assun-tos so fundamentais. Quando os evanglicos mantm opini-es muito discrepantes sobre o que o evangelho (ou seja, as boas-novas, pois isso o que significa o vocbulo evangelho), algum h de concluir que o evangelicalismo como movimento um fenmeno diversificado que no tem um evangelho aceito por todos nem um senso de responsabilidade de batalhar pela f que o Senhor entregou uma vez por todas a ns, seu povo (Jd 3); ou h de concluir que muitas pessoas se chamam evanglicas mas no tm qualquer direito de fazer isso, porque deixaram para trs o evangelho, as boas-novas.

    Leia Greg Gilbert. Este livro no reivindica apresentar um novo fundamento, e sim examinar um velho fundamento que ja-mais deveria ter sido ser ignorado e, muito menos, abandonado. A clareza de pensamento e de redao de Greg totalmente ad-mirvel. Este livro aprimorar o pensamento de muitos cristos maduros. E, de modo ainda mais relevante, este um livro que deve ser distribudo amplamente aos lderes de igreja, aos jovens cristos e at para alguns que ainda no creram em Cristo e dese-jam uma explicao clara do que o evangelho. Leia-o e, depois, compre diversos dele para distribuio generosa.

    D. A. Carson

  • O que o evangelho de Jesus Cristo?Talvez voc pense que essa uma pergunta fcil de res-

    ponder, especialmente para os cristos. De fato, talvez voc pense que escrever um livro como este que pede aos cristos que pensem cuidadosamente na pergunta O que o evange-lho de Jesus? totalmente desnecessrio. como pedir a carpinteiros que se assentem e considerem a pergunta O que um martelo?

    Afinal de contas, o evangelho de Jesus Cristo est no prprio mago do cristianismo. E ns, cristos, afirmamos se-guir o evangelho acima de tudo. O evangelho aquilo sobre o que tencionamos alicerar nossa vida e edificar nossas igrejas.

    Introduo

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    O que o Evangelho?

    o assunto do qual falamos com os outros e desejamos que eles o ouam e creiam nele.

    Por tudo isso, voc acha realmente que a maioria dos cristos possui um entendimento bastante firme do contedo do evangelho? Como voc responderia se algum lhe pergun-tasse: O que so estas novas que vocs, cristos, divulgam em todos os lugares? E o que to bom nessas novas?

    Meu sentimento o de que muitos cristos responderiam com algo aqum do que a Bblia mantm como o evangelho de Jesus Cristo. Talvez eles responderiam: O evangelho a mensagem de que Deus perdoar os seus pecados, se voc crer nele. Ou diriam algo assim: A boa notcia que Deus ama voc e tem um plano maravilhoso para a sua vida. Ou: O evangelho diz que voc um filho de Deus, e Deus quer que seus filhos vivam de maneira abundantemente bem-sucedida. Alguns sabem que importante dizer algo sobre a morte de Jesus na cruz e sobre a sua ressurreio. Mas, como tudo isso se harmoniza?

    O fato que obter concordncia dos cristos quanto a uma resposta pergunta O que o evangelho? no to simples como deveria ser. Trabalho em um ministrio chamado Nove Marcas, uma organizao filiada Capitol Hill Baptist Church, em Washington DC. Em sua maioria, aqueles que leem o nosso material e o comentam so de

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    Introduo

    segmentos restritos do cristianismo evanglico. Creem que a Bblia verdadeira e inerrante; creem que Jesus morreu na cruz e ressuscitou fisicamente dos mortos; creem que os seres humanos so pecadores e necessitam de salvao, e tencionam ser pessoas centradas no evangelho e saturadas do evangelho.

    No entanto, que tema abordado de modo singular voc acha que produz os mais enrgicos comentrios e reaes den-tre as coisas que escrevemos? Sim, o evangelho. Podemos es-crever e falar, durante vrios meses, sobre pregao, discipula-do, governo eclesistico e, at, msica na igreja, e a reao de nossos ouvintes interessante, mas no surpreendente. Mas, se publicamos um artigo no qual tentamos ser claros a respeito do que a Bblia ensina sobre as boas-novas do cristianismo, a reao deles admirvel.

    Algum tempo atrs, um de meus amigos publicou, em nosso website, um pequeno artigo sobre um famoso artista cris-to a quem, numa entrevista, pediram que definisse as boas--novas do cristianismo. Eis o que ele respondeu:

    Que pergunta importante! Acho que provavelmen-te... meu instinto dizer que o evangelho significa a vinda, a morte e a ressurreio de Jesus, e a sua inau-gurao da imediata mas ainda futura restaurao de

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    O que o Evangelho?

    todas as coisas a ele mesmo... e isso operado por ele mesmo... significa a reparao de todas as coisas... esse processo tanto comea como est se tornando realidade na vida e no corao dos crentes; e, num dia futuro, o processo se realizar mais plenamente. Mas as boas-novas, o evangelho, a comunicao das boas-novas, eu diria, as novas do reino vindouro de Cristo, a inaugurao do seu reino vindouro... isso o meu instinto.

    Vrios de nossa equipe responderam fazendo pergun-tas como: Se estivssemos definindo o evangelho cristo, no deveramos incluir uma explicao sobre a morte e a res-surreio de Jesus? Ou: No deveramos dizer algo sobre o pecado e a necessidade de salvao da ira de Deus contra o pecado?

    As respostas a essa srie de artigos foram incrveis. Du-rante, literalmente, vrios meses, recebemos centenas de mensagens sobre o assunto. Algumas pessoas nos escreveram apreciando as perguntas que fizemos; outros indagaram o que havia de errado em afirmar o evangelho dessa maneira, visto que Jesus pregara sobre a chegada do reino. Outros foram revi-gorados em ouvir os cristos pensando com seriedade a respei-to de como devemos afirmar o evangelho.

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    Introduo

    De alguma maneira, sinto-me feliz em ver os cristos ficando acalorados quando iniciamos uma discusso sobre o evangelho. Isso significa que os cristos esto levando a srio o evangelho e tm pensamentos profundos sobre o que o evan-gelho. No h nada saudvel em cristos que no se importam com a maneira como definimos e entendemos o evangelho. Por outro lado, penso que o calor gerado pelas discusses so-bre o evangelho revela uma confuso geral que permeia nossos dias. Quando voc considera o mago do assunto, percebe que os cristos no concordam sobre o que o evangelho at cristos que se chamam evanglicos.

    Pergunte a uma centena de professos cristos evangli-cos o que so as boas-novas de Jesus. Talvez voc ter muitas respostas diferentes. Oua a pregao evanglica, leia livros evanglicos, acesse sites evanglicos, e voc achar uma des-crio aps outra do evangelho, muitas das quais se excluem mutuamente. Eis algumas que achei:

    As boas-novas so: Deus quer mostrar-lhe seu incr-vel favor. Ele quer encher sua vida com vinho novo; mas, voc est disposto a livrar-se do seu odre velho? Voc comear a pensar grande? Voc ampliar a sua viso e se livrar da velha mentalidade negativa que o retm?

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    O que o Evangelho?

    Eis o evangelho em uma frase. Cristo morreu por ns, e aqueles que confiam nele podem saber que sua cul-pa foi perdoada uma vez por todas. O que teremos a dizer perante o tribunal de juzo de Deus? Somen-te uma coisa: Cristo morreu em meu lugar. Isso o evangelho.

    A mensagem de Jesus pode ser identificada como a mais revolucionria de todos os tempos: O imprio revolucionrio e radical de Deus est aqui, avanan-do por meio de reconciliao e paz, expandindo pela f, pela esperana e pelo amor comeando com os mais pobres, os mais humildes, os mais fracos e os mais insignificantes. tempo de mudar sua maneira de pensar. Tudo vai mudar. tempo de uma nova ma-neira de viver. Creia em mim. Siga-me. Creia nestas boas-novas para que voc aprenda a viver por elas e seja parte da revoluo.

    As boas-novas so que a face de Deus estar sempre voltada para voc, apesar do que voc faz, de onde quer que esteja e de quanto erros j cometeu. Deus o ama e est voltado em sua direo, olhando para voc.

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    Introduo

    Em si mesmo, o evangelho refere-se proclamao de que Jesus, o Messias crucificado e ressuscitado, o nico e verdadeiro Senhor do mundo.

    Boas notcias! Deus se tornando Rei e fazendo-o por meio de Jesus! Portanto, a justia de Deus, a paz de Deus, o mundo de Deus sero renovados. E, em meio a isso, h boas notcias para voc e para mim. Mas isso se deriva ou resulta das boas-novas que so uma mensagem sobre Jesus e tem um efeito de segunda ordem em mim, em voc e em ns. Mas o evangelho no especificamente sobre que tipo de pessoa voc e que tal coisa pode lhe acontecer. Isso o resultado do evangelho e no o evangelho em si mesmo... A salvao o resultado do evangelho e no o centro do prprio evangelho.

    O evangelho a proclamao de Jesus, em [dois] sentidos. proclamao anunciada por Jesus a che-gada da esfera de possibilidade de Deus (seu reino) em meio a estruturas de possibilidades humanas. Mas tambm a proclamao sobre Jesus as boas-novas de que, por morrer e ressuscitar, Jesus nos tornou dis-ponvel o reino que ele proclamava.

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    O que o Evangelho?

    Visto que sou um cristo, tento apenas orientar-me para viver de uma maneira especfica, a maneira que Jesus ensinou ser possvel. E acho que a maneira de Jesus a melhor maneira de viver possvel... Com o passar do tempo, medida que voc procura viver resolutamente maneira de Jesus, voc comea a perceber que algo mais profundo est acontecendo. Comea a entender que esta a melhor maneira de viver porque ela est arraigada em verdades profun-das a respeito de como o mundo. Voc se v vi-vendo cada vez mais em harmonia com a realidade ltima. Est cada vez mais em sintonia com a manei-ra de ser do universo em seus nveis profundos... Os primeiros cristos anunciaram essa maneira de viver de Jesus como as boas-novas.

    Meu entendimento da mensagem de Jesus que ele nos ensina a viver na realidade de Deus agora aqui, hoje. quase como se Jesus continuasse a dizer: Mude sua vida. Viva desta maneira.

    Voc compreende o que estou dizendo quando afirmo que o evangelho est cercado de confuso! Se voc nunca ti-vesse ouvido falar do cristianismo, o que poderia pensar depois

  • 29

    Introduo

    de ler essas poucas citaes? Obviamente, voc saberia que os cristos tencionam comunicar alguma mensagem que boa. Contudo, essa mensagem apenas uma miscelnea. As boas--novas so apenas que Deus me ama e que preciso comear a pensar mais positivamente? Ou que Jesus um bom exemplo e pode ensinar-me a viver de maneira amvel e compassiva? Elas podem ter alguma relao com o pecado e o perdo. Alguns cristos parecem imaginar que essas boas-novas tm alguma li-gao com a morte de Jesus. Outros parecem no pensar assim.

    Meu alvo no determinar, nesta altura, quais dessas ci-taes so melhores ou piores do que as demais (embora eu espere que, depois da leitura deste livro, voc mesmo ser ca-paz de determinar isso). Meu objetivo apenas ressaltar como muitas coisas diferentes vm mente das pessoas quando lhes perguntamos: o que o evangelho?

    Neste livro, tentarei oferecer uma resposta clara para essa pergunta, uma resposta que se baseia no que a Bblia en-sina sobre o evangelho. No processo, espero e oro por vrias coisas.

    Primeira, se voc um verdadeiro cristo, espero que este pequeno livro e o que mais importante as verdades gloriosas que ele procura afirmar faam seu corao dilatar--se em alegria e louvor para com Jesus Cristo, pelo que ele fez por voc. Um evangelho debilitado leva a uma adorao

  • 30

    O que o Evangelho?

    debilitada. Esse tipo de evangelho afasta nossos olhos de Deus e fixa-os no ego, barateando o que Deus realizou por ns em Cristo. Por contraste, o evangelho bblico como combustvel na fornalha da adorao. Quanto mais voc o entende, quanto mais crer nele e descansa nele, tanto mais voc adora a Deus pelo que ele e pelo que fez por ns em Cristo. Paulo clamou: profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do co-nhecimento de Deus! Quo insondveis so os seus juzos, e quo inescrutveis, os seus caminhos! (Rm 11.33). E fez isso porque seu corao estava cheio do evangelho.

    Segunda, espero que a leitura deste livro lhe d profunda confiana enquanto fala aos outros sobre as boas-novas de Je-sus. Tenho encontrado cristos que hesitam em compartilhar o evangelho como os amigos, familiares e conhecidos porque te-mem no ter as respostas certas para todas as perguntas deles. Bem, no importando quem voc seja, pode ser verdade que nunca ser capaz de responder todas as perguntas! Mas talvez possa responder algumas delas. E espero que este livro o ajude a responder mais dessas perguntas.

    Terceira, espero que voc veja a importncia deste evan-gelho para a vida da igreja e que, como resultado, trabalhe para garantir que este evangelho seja pregado, cantado, ora-do, ensinado, proclamado e ouvido em cada aspecto da vida de sua prpria igreja. por meio da igreja, disse Paulo, que a

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    Introduo

    multiforme sabedoria de Deus se torna conhecida para o uni-verso. E como isso acontece? Por meio da pregao do evange-lho, que manifesta a todos o eterno plano de Deus para salvar o mundo (Ef 3.7-12).

    Quarta, espero que este livro ajude-o a fortalecer as ares-tas do evangelho em sua mente e seu corao. O evangelho uma mensagem absoluta, que se intromete no pensamento e nas prioridades do mundo com verdades pungentes e esti-mulantes. Infelizmente, sempre tem existido entre os cristos at entre os evanglicos uma tendncia de abrandar as arestas do evangelho, para que ele se torne mais aceitvel ao mundo. Uma de minhas oraes que este livro sirva para preservar essas arestas e impedir a eroso das verdades que, embora difceis de serem aceitas pelo mundo, so indispens-veis s boas-novas de Jesus. Por desejarmos ser testemunhas agradveis, todos ns somos tentados a apresentar o evangelho de modo to atraente quanto possvel. Isso bom em alguns aspectos afinal de contas, o evangelho boas-novas mas temos de ser igualmente cuidadosos para no polirmos as as-perezas do evangelho. Temos de preservar as arestas; e espero que este livro nos ajude a fazer isso.

    Por fim, se voc no um cristo verdadeiro, oro para que, pela leitura deste livro, voc seja provocado a pen-sar seriamente sobre as boas-novas de Jesus Cristo. Essa a

  • 32

    O que o Evangelho?

    mensagem sobre a qual ns, cristos, temos firmado toda a nossa vida. a mensagem que cremos exige uma resposta de voc. Se h algo no mundo que voc no pode se dar ao luxo de ignorar, isso a voz de Deus, que diz: Boas notcias! Esta a maneira como voc pode ser salvo de meu julgamento!. Esse o tipo de declarao que exige ateno.

  • Voc sabia que o sistema de navegao GPS est causando destruio em cidades nos Estados Unidos? Isso acontece es-pecialmente em cidades pequenas. Para as pessoas que moram em cidades grandes, os pequenos aparelhos so salva-vidas. Ligue o GPS, digite o endereo e, assim, voc estar pronto para seguir em frente. Nenhuma entrada errada, nenhuma curva errada apenas voc, seu carro, seu GPS e: Voc chegou ao seu destino!

    Adquiri recentemente meu primeiro aparelho GPS, o que foi um ato de desafio a quem quer que seja responsvel pelo quase impossvel sistema de ruas em Washington DC. No entanto, minha primeira experincia com o GPS no foi em Washington. Foi em Linden (no Texas), minha bem pequena, bem rural e bem remota cidade natal.

    Captulo 1

    Achando o Evangelhona Bblia

  • 34

    O que o Evangelho?

    Acontece que meu GPS no tem qualquer problema em navegar pelas ruas de mo dupla e repletas de cruzamentos de Washington. Estranhamente, ele teve problema de navegao em Linden. Ruas que o GPS estava certo de que existiam no existiam. Curvas que ele teimava serem possveis no eram. Endereos que o GPS acreditava com firmeza ser em determi-nado lugar estavam vrias centenas de metros rua abaixo ou nem existiam.

    Aparentemente, a ignorncia do sistema GPS em relao s cidades pequenas um problema crescente. O noticirio da rede ABC de televiso veiculou uma histria sobre ruas de certo bairro que se tornaram, literalmente, avenidas comer-ciais, pois o sistema GPS estava direcionando o trfego para l, em vez de gui-lo para as amplas estradas. H tambm outros problemas. Um homem da Califrnia insistiu que estava ape-nas seguindo as instrues do GPS quando fez uma curva direita em uma estrada rural e se viu preso numa linha de trem, olhando extasiado o sinal de alerta de uma locomotiva que se aproximava! Ele sobreviveu. Mas o carro alugado e presumi-velmente o GPS ofensor no se saram to bem.

    Um representante da American Automobile Association foi um tanto simptico. claro que o GPS falhou em rela-o ao motorista no sentido de que no lhe devia ter dito que fizesse uma curva direita em uma linha de trem, ele disse.

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    Achando o Evangelho na Bblia

    Mas s porque um aparelho lhe diz que deve fazer algo poten-cialmente perigoso, isso no implica que voc deve faz-lo. Certamente!

    Ento, o que est acontecendo? Os fabricantes de GPS dizem que o problema no est nos prprios aparelhos. Eles fa-zem exatamente o que deveriam fazer. Em vez disso, o proble-ma est nos mapas que os aparelhos esto carregando. Aconte-ce que, especialmente no caso de cidades pequenas, os mapas disponveis para o sistema GPS foram, com frequncia, ela-borados h dez anos ou mais e esto desatualizados. s vezes, esses mapas so nada mais do que mapas de planejamento o que os planejadores da cidade tencionavam se a cidade cresces-se. Qual o resultado? Algumas vezes, os endereos mostrados em um lugar nos mapas de planejamento terminam sendo em outro lugar, quando a cidade realmente cresceu. s vezes, as ruas que os planejadores idealizaram nunca foram feitas e, s vezes, foram feitas no como ruas, e sim como vias frreas!

    No mundo do GPS, como na vida, importante obter-mos a informao de uma fonte confivel!

    Qual a Nossa Autoridade?

    Esse princpio tambm verdadeiro quando lidamos com a pergunta O que o evangelho?. Bem no comeo, temos de

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    O que o Evangelho?

    fazer algum tipo de deciso sobre que fonte de informao usa-remos para obter a resposta para essa pergunta. Para os evan-glicos, a resposta , costumeiramente, muito fcil: achamos a resposta na Bblia.

    Isso verdade. Entretanto, til sabermos de ante-mo que nem todos concordam totalmente com essa res-posta. Tradies crists diferentes tm oferecido inmeras respostas para essa questo de autoridade. Por exemplo, alguns tm argumentado que devemos fundamentar nosso entendimento do evangelho no nica e primariamente nas palavras da Bblia, mas tambm na tradio crist. Se a igre-ja tem crido em algo por muito tempo, argumentam eles, devemos entender isso como sendo verdadeiro. Outros tm dito que conhecemos a verdade pelo uso da razo. Edificar nosso conhecimento da base para cima A leva a B, que leva a C, que leva a D nos trar um verdadeiro entendi-mento de ns mesmos, do mundo e de Deus. Outros dizem que devemos procurar a verdade do evangelho em nossa prpria experincia. Aquilo que ressoa mais em nosso pr-prio corao o que, por fim, entendemos ser verdadeiro a respeito de ns mesmos e de Deus.

    Se voc gastar muito tempo pensando sobre isso, com-preender que, em ltima anlise, cada uma dessas trs po-tenciais fontes de autoridade falha em realizar o que promete.

  • 37

    Achando o Evangelho na Bblia

    A tradio nos leva a depender de nada mais do que opinies de homens. A razo, como qualquer filsofo iniciante lhe dir, nos deixa a debater-nos na incerteza (Por exemplo, tente pro-var que voc no apenas uma inveno da imaginao de algum ou que seus cinco sensos so realmente confiveis). E a experincia nos leva a depender de nosso corao instvel para decidir o que verdadeiro essa uma perspectiva muito honesta que as pessoas acham, no melhor, desconcertante.

    Ento, o que devemos fazer? A que fonte devemos ir para saber o que verdadeiro e, portanto, o que realmente o evangelho de Jesus Cristo? Como cristos, cremos que Deus nos tem falado em sua Palavra, a Bblia. Alm disso, cremos que o que Deus falou na Bblia inerrante e infalivelmente verdadeiro e, portanto, no nos leva incredulidade, ao de-sespero e incerteza, e sim confiana. Toda a Escritura inspirada por Deus, disse Paulo, e til para o ensino (2 Tm 3.16). O rei Davi escreveu:

    O caminho de Deus perfeito;a palavra do senhor provada (Sl. 18.30).

    Portanto, a Palavra de Deus que buscamos a fim de saber o que ele nos disse sobre seu Filho, Jesus, e sobre as boas notcias do evangelho.

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    O que o Evangelho?

    O que Devemos Examinar na Bblia?

    No entanto, o que devemos examinar na Bblia para sa-bermos isso? Suponho que h diferentes abordagens que po-demos seguir. Uma delas considerar todas as passagens em que a palavra evangelho ocorre no Novo Testamento e tentar chegar a algum tipo de concluso sobre o que os escritores queriam dizer quando usaram a palavra. Com certeza, h pou-cas passagens em que os escritores so cuidadosos em defini-la.

    H coisas importantes a aprendermos dessa abordagem, mas h tambm desvantagens. Uma delas que muitas ve-zes, no Novo Testamento, um escritor tencionava apresentar um resumo das boas-novas do Cristianismo, embora no te-nha usado, de modo algum, a palavra evangelho. Por exemplo, considere o sermo de Pedro, no dia de Pentecostes, relatado em Atos 2. Se j houve uma proclamao das boas-novas do Cristianismo, esse sermo foi, com certeza, tal proclamao. Todavia, Pedro no mencionou a palavra evangelho. Outro exemplo, o apstolo Joo, que usou a palavra somente uma vez em todos os seus escritos no Novo Testamento (Ap. 14.6).

    Permita-me sugerir, por enquanto, que cumprimos a tare-fa de definir os principais contornos do evangelho cristo, no por fazermos um estudo de palavras, e sim por examinarmos o que os primeiros cristos disseram sobre Jesus e a importncia

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    Achando o Evangelho na Bblia

    de sua vida, morte e ressurreio. Se considerarmos os sermes e os escritos dos apstolos na Bblia, veremos que eles nos ex-plicam, s vezes de modo bastante breve ou s vezes com maior extenso, o que aprenderam do prprio Jesus sobre as boas--novas. Talvez, seremos tambm capazes de discernir algum conjunto comum de assuntos, alguma estrutura compartilha-da de verdades em torno das quais os apstolos e os primeiros cristos formularam sua apresentao das boas-novas de Jesus.

    O Evangelho em Romanos 1 a 4

    Uma das melhores passagens em que podemos come-ar a procurar uma explicao bsica do evangelho a carta de Paulo igreja em Roma. Talvez com maior clareza do que achamos em qualquer outro livro da Bblia, a Epstola aos Ro-manos contm uma expresso deliberada e detalhada do que Paulo entendia ser as boas-novas.

    De fato, Romanos no tanto um livro, pelo menos de acordo com o que normalmente pensamos ser um livro. uma carta, uma maneira de Paulo apresentar a si mesmo e a sua mensagem a um grupo de cristos que ele no conhecia. Essa a razo por que a epstola tem um pensamento sistemtico, apresentado passo a passo. Paulo queria que esses cristos sou-bessem a respeito dele, de seu ministrio e, em especial, de sua

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    O que o Evangelho?

    mensagem. Desejava que eles soubessem que as boas-novas que ele pregava eram as mesmas em que haviam crido.

    Paulo comeou dizendo: No me envergonho do evan-gelho, porque o poder de Deus para a salvao de todo aquele que cr (Rm 1.16). A partir disso, especialmente nos primeiros quatro captulos, Paulo explica as boas-novas sobre Jesus em detalhes maravilhosos. medida que examinamos esses captulos, vemos que Paulo estruturou sua apresentao do evangelho ao redor de poucas verdades essenciais, verdades que se mostram repetidas vezes na pregao do evangelho feita pelo apstolo. Consideremos o progresso do pensamento de Paulo em Romanos 1 a 4.

    Primeiramente, Paulo diz aos seus leitores que eles so res-ponsveis para com Deus. Depois de suas observaes introdu-trias em Romanos 1.1-7, Paulo comea sua apresentao do evangelho por declarar que a ira de Deus se revela do cu (v. 18). Com essas suas primeiras palavras, Paulo insiste em que a humanidade no autnoma. No criamos a ns mesmos e no somos autodependentes e responsveis por ns mesmos. No. Foi Deus quem criou o mundo e tudo que nele existe, inclusive ns . Visto que ele nos criou, Deus tem o direito de exigir que o adoremos. Veja o que Paulo disse no versculo 21: Porquanto, tendo conhecimento de Deus, no o glorificaram como Deus, nem lhe deram graas; antes, se tornaram nulos

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    Achando o Evangelho na Bblia

    em seus prprios raciocnios, obscurecendo-se-lhes o corao insensato.

    Assim, Paulo acusa a raa humana: eles pecaram por no honrar e no dar graas a Deus. Como pessoas criadas que pertencem a Deus, temos a obrigao de dar-lhe a honra e a glria que lhe so devidas, de viver, falar, agir e pensar de um modo que admite e reconhece a autoridade de Deus sobre ns. Somos feitos por ele, pertencemos a ele, dependemos dele e, por isso, somos responsveis para com ele. Esse o primeiro ponto que Paulo se esfora para estabelecer, enquanto explica as boas-novas do Cristianismo.

    Em segundo, Paulo diz aos seus leitores que o problema deles que se rebelaram contra Deus. Eles juntamente com todos os demais no honraram a Deus e no lhe deram graas como deveriam. O seu corao insensato entenebreceu-se, e eles mudaram a glria do Deus incorruptvel em semelhana da imagem de homem corruptvel, bem como de aves, quadr-pedes e rpteis (Rm 1.23). Isso um quadro revoltante, no ? Os seres humanos considerarem o seu Criador e, depois, resolverem que uma imagem de metal ou de madeira de um sapo, ou de um pssaro, ou at deles mesmos mais gloriosa, mais satisfatria e mais valiosa. Isso o cmulo do insulto e da rebeldia contra Deus. a raiz e a essncia do pecado, e seus resultados so terrveis.

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    O que o Evangelho?

    Na maior parte dos trs captulos seguintes, Paulo en-fatiza esse ponto, acusando a humanidade de serem pecado-res contra Deus. No captulo 1, o foco de Paulo os gentios; no captulo 2, Paulo volve o foco vigorosamente para os judeus. como se Paulo soubesse que a maioria dos judeus cheios de justia prpria aplaudiriam as suas chicotadas nos gentios. Por isso, em Romanos 2.1, ele muda a direo e aponta sua acusao para aqueles que aplaudiram: Portan-to, s indesculpvel, homem. Assim como os gentios, ele diz, os judeus transgrediram a lei de Deus e esto sob seu julgamento.

    Em Romanos 3, Paulo acusou de rebelio contra Deus cada indivduo que h no mundo. J temos demonstrado que todos, tanto judeus como gregos, esto debaixo do pecado (v. 9). E sua concluso solene esta: quando estivermos diante de Deus, o Juiz, toda boca se calar. Ningum formular uma defesa. Nenhuma desculpa ser apresentada. Todo o mundo judeus e gentios, cada um de ns ser considerado plena-mente responsvel diante de Deus (v. 19).

    Falando sinceramente, esses dois primeiros pontos no so realmente boas notcias. De fato, so ms notcias. O fato de que me tenho rebelado contra o Deus santo, que julga, no um pensamento feliz. Contudo, um pensamento impor-tante, porque prepara o caminho para as boas notcias. S faz

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    Achando o Evangelho na Bblia

    sentido se voc o considera. Se algum nos diz: Venho salvar voc!, isso no boa notcia se voc no cr realmente que precisa ser salvo.

    Em terceiro, Paulo diz que a soluo de Deus para o peca-do da humanidade a morte sacrificial e a ressurreio de Jesus Cristo. Tendo apresentado as ms notcias da triste condi-o que enfrentamos como pecadores diante de nosso Deus justo, Paulo se volta s boas notcias, o evangelho de Jesus Cristo.

    Mas agora, diz Paulo, apesar de nosso pecado, sem lei, se manifestou a justia de Deus testemunhada pela lei e pelos profetas (v. 21). Em outras palavras, h um meio de os seres humanos serem considerados justos diante de Deus, ao invs de injustos; de serem declarados inocentes, ao invs de culpa-dos; de serem justificados, ao invs de condenados. E esse meio no agir de modo correto ou viver uma vida mais justa. Ele se manifesta sem lei.

    Como isso acontece? Paulo responde com clareza em Ro-manos 3.24. Apesar de nossa rebelio contra Deus e em face de nossa situao desesperadora, podemos ser justificados gratuitamente, por sua graa, mediante a redeno que h em Cristo Jesus. Por meio da morte sacrificial e da ressurreio de Cristo por causa de seu sangue e sua vida pecadores podem ser salvos da condenao que nossos pecados merecem.

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    O que o Evangelho?

    No entanto, h mais uma pergunta que Paulo respon-de. Como, exatamente, essas boas notcias servem para mim? Como eu sou includo nessa promessa de salvao?

    Por ltimo, Paulo diz aos seus leitores como eles mesmos po-dem ser includos nessa salvao. sobre isso que ele escreve no final de Romanos 3, prosseguindo at ao captulo 4.

    A salvao que Deus proveu nos alcana mediante a f em Jesus Cristo, para todos os que crem (3.22). Ento, como essa salvao se torna boas-novas para mim e no so-mente para outra pessoa? Como chego a ser includo na salva-o? Por meio do crer em Jesus Cristo. , por confiar nele, e em ningum mais, para salvar-me. Ao que no trabalha, porm cr naquele que justifica o mpio, Paulo explica, a sua f lhe atribuda como justia (4.5).

    Quatro Perguntas Cruciais

    Agora, tendo examinado o argumento de Paulo em Roma-nos 1 a 4, podemos reconhecer que no mago de sua proclamao do evangelho esto as respostas de quatro perguntas cruciais:

    1. Quem nos fez e diante de quem somos responsveis?2. Qual o nosso problema? Em outras palavras, es-

    tamos em dificuldades e por qu?

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    Achando o Evangelho na Bblia

    3. Qual a soluo de Deus para esse problema? O que ele fez para nos salvar de tal situao?

    4. Como eu eu mesmo, aqui e agora posso ser includo nessa salvao? O que essas boas-novas fazem para mim e no somente para outra pessoa?

    Podemos resumir assim esses quatro pontos principais: Deus, o homem, Cristo e a resposta.

    claro que Paulo continua e revela muitas outras pro-messas que Deus fez para aqueles que so salvos em Cristo. E a maioria dessas promessas pode ser identificada, apropriada-mente, como parte das boas-novas do Cristianismo, o evange-lho de Jesus Cristo. Contudo, crucial que entendamos, desde o incio, que todas essas grandes promessas dependem e fluem disto: o mago e a fonte das boas-novas crists. Essas promes-sas aplicam-se somente queles que so perdoados de seu pe-cado por meio da f no Cristo crucificado e ressuscitado. Essa a razo por que Paulo, ao apresentar o mago do evangelho, comea neste ponto: estas verdades cruciais.

    O Evangelho no Novo Testamento

    No apenas Paulo que faz isso. Quando leio os escri-tos dos apstolos no Novo Testamento, eu os vejo, repetidas

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    O que o Evangelho?

    vezes, respondendo a essas quatro perguntas. O que eles di-zem so assuntos que parecem constituir o mago de sua apresentao do evangelho. Os contextos mudam, os ngulos mudam, as palavras mudam e as abordagens mudam, mas os primeiros cristos sempre tratavam, de algum modo ou em algu-ma medida, desses quatro assuntos: somos responsveis diante de Deus, que nos criou; temos pecado contra Deus e seremos julgados; mas Deus agiu por meio de Cristo para salvar-nos; e apropriamo-nos dessa salvao por meio do arrependimento do pecado e pela f em Jesus.

    Deus. O homem. Cristo. A resposta.Examinemos algumas outras passagens do Novo Testa-

    mento, nas quais o evangelho de Jesus apresentado em resumo. Por exemplo, considere as palavras de Paulo em 1 Corntios 15:

    Irmos, venho lembrar-vos o evangelho que vos anun-ciei, o qual recebestes e no qual ainda perseverais; por ele tambm sois salvos, se retiverdes a palavra tal como vo-la preguei, a menos que tenhais crido em vo.Antes de tudo, vos entreguei o que tambm recebi: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, e que foi sepultado e ressuscitou ao tercei-ro dia, segundo as Escrituras. E apareceu a Cefas e, depois, aos doze (vv. 1-5).

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    Achando o Evangelho na Bblia

    Voc v a estrutura central nessa passagem? Paulo no to abrangente aqui como o foi em Romanos 1 a 4, mas os principais contornos esto claros. Ns, seres humanos, estamos com problemas, mergulhados em nossos pecados e em neces-sidade de sermos salvos (como bvio, embora implcito, do julgamento do Deus). Mas a salvao vem por meio disto: Cristo morreu pelos nossos pecados... foi sepultado e ressus-citou. E podemos apropriar-nos de tudo isso por retermos a palavra tal como vo-la preguei, por crermos verdadeiramente, e no crermos em vo. Vemos, ento, nessa passagem, as ver-dades cruciais: Deus, o homem, Cristo, a resposta.

    At nos sermes registrados no livro de Atos dos Apsto-los, essa estrutura central do evangelho clara. Quando Pedro falou s pessoas no dia de Pentecostes o que deviam fazer em resposta sua proclamao da morte e da ressurreio de Je-sus, ele disse: Arrependei-vos, e cada um de vs seja batizado em nome de Jesus Cristo para remisso dos vossos pecados (At 2.38). Outra vez, o apelo de Pedro no foi abrangente, o juzo de Deus estava implcito e as verdades cruciais estavam presentes no apelo. O problema: vocs precisam de que Deus perdoe seus pecados e no os julgue por causa deles. A solu-o: a morte e a ressurreio de Jesus Cristo, sobre as quais Pedro falara amplamente no sermo. A resposta necessria: o arrependimento e a f, evidenciados pelo ato de batismo.

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    O que o Evangelho?

    Em outro sermo de Pedro, essas quatro verdades cru-ciais esto evidentes outra vez:

    Mas Deus, assim, cumpriu o que dantes anunciara por boca de todos os profetas: que o seu Cristo ha-via de padecer. Arrependei-vos, pois, e convertei-vos para serem cancelados os vossos pecados.

    At 3.18-19

    O problema: vocs precisam de que seus pecados se-jam cancelados, e no julgados por Deus. A soluo: Cris-to padeceu. A resposta: arrependam-se e convertam-se a Deus, em f.

    Ou considere a pregao do evangelho que Pedro fez para Cornlio e sua famlia:

    E ns somos testemunhas de tudo o que ele fez na terra dos judeus e em Jerusalm; ao qual tambm tiraram a vida, pendurando-o no madeiro. A este ressuscitou Deus no terceiro dia... Dele todos os profetas do testemunho de que, por meio de seu nome, todo aquele que nele cr recebe remisso de pecados.

    At 10.39-43

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    Achando o Evangelho na Bblia

    Perdo dos pecados. Por meio do nome do Crucificado e Ressuscitado. Para todos os que creem .

    Paulo tambm pregou esse mesmo evangelho na ocasio descrita em Atos 13:

    Tomai, pois, irmos, conhecimento de que se vos anuncia remisso de pecados por intermdio deste; e, por meio dele, todo o que cr justificado de todas as coisas das quais vs no pudestes ser justificados pela lei de Moiss (vv. 38-39).

    Novamente, a estrutura clara que podemos reconhecer Deus, o homem, Cristo, a resposta. Vocs precisam de que Deus lhes d remisso de pecados. Isso acontece por meio de Jesus e acontece para todo o que cr.

    Explicando as Verdades Essenciais de Maneiras Diferentes

    bvio que esta estrutura Deus-homem-Cristo-resposta no uma frmula servil. Quando proclamavam o evangelho, os apstolos no ficavam checando os pontos do sermo como uma lista de itens a apresentar. Dependendo do contexto, do tempo de pregao e de quem estava includo na audincia,

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    O que o Evangelho?

    eles explicavam esses quatro pontos em vrias amplitudes. s vezes, um ou mais desses pontos eram deixados implcitos e no apresentados explicitamente em especial o fato de que Deus aquele a quem temos de prestar contas e de quem ne-cessitamos o dom do perdo. Mas esse um fato que podia j estar gravado na mente dos judeus para os quais os apstolos pregavam frequentemente.

    Por outro lado, quando Paulo falou a um grupo de filso-fos pagos no Arepago, comeou no primeiro assunto, o prprio Deus. O sermo de Paulo, registrado em Atos 17, geralmente citado como um modelo de pregao do evangelho a uma cultura pag. Mas h algo interessante e incomum nesse sermo. Exami-ne-o com cuidado e voc perceber que Paulo no pregou real-mente as boas-novas de Cristo. Ele pregou apenas as ms novas!

    Na realidade, ele comeou dizendo: Deixem-me falar--lhes sobre este Deus desconhecido para o qual vocs tm um altar. Em seguida, ele lhes explicou, conforme os versculos 24 a 28, que h um Deus, que esse Deus fez o mundo e chama os homens a ador-lo. Depois de estabelecer isso, Paulo pas-sou, conforme o versculo 29, a explicar o conceito de pecado e suas razes na adorao de coisas criadas, em lugar de Deus, e declarou que Deus julgar seus ouvintes por meio do varo que destinou e acreditou diante de todos, ressuscitando-o den-tre os mortos (v. 31).

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    Achando o Evangelho na Bblia

    Depois, Paulo parou a pregao! Examine-a com aten-o. No h nenhuma meno de perdo, nenhuma meno da cruz, nenhuma promessa de salvao apenas a declarao das exigncias de Deus e uma proclamao da ressurreio como prova do seu julgamento vindouro! Paulo nem mencio-nou o nome de Jesus!

    O que aconteceu nessa ocasio? Paulo no pregou o evangelho? Bem, no exatamente. No h evangelho, no h boas-novas em seu sermo pblico. As novas que Paulo procla-mou so todas ms. Mas veja os versculos 32 a 34, nos quais a Bblia diz que os homens quiseram ouvir Paulo em outra oca-sio e alguns deles creram. Aparentemente, Paulo pregou as boas-novas os pecadores podem ser salvos desse julgamento vindouro em algum momento posterior, talvez em pblico, talvez em particular.

    Como os outros apstolos, Paulo era perfeitamente capaz de apresentar de maneiras diferentes as verdades essenciais do evan-gelho. Mas a coisa importante que devemos entender que havia, de fato, algumas verdades essenciais do evangelho; e dos sermes e das epstolas preservados para ns temos uma idia muito boa sobre quais eram essas verdades e quais so. Em Romanos, 1 Corntios, nos sermes de Atos dos Apstolos e em todo o Novo Testamento, os primeiros cristos estruturaram sua declarao das boas-novas ao redor de algumas verdades cruciais.

  • 52

    O que o Evangelho?

    Primeiramente, as ms notcias: Deus nosso juiz, e temos pecado contra ele. Depois, o evangelho: Jesus morreu para que pecadores sejam perdoados de seus pecados, se eles se arrependerem e crerem nele.

  • Captulo 2

    Deus, o Criador Justo

    Permita-me apresent-lo a deus. (Observe o d minsculo.)Talvez voc queira abaixar a sua voz antes de entrarmos. Ele pode estar dormindo neste momento. Ele velho, voc sabe, e no entende muito ou no gosta muito deste mundo moderno e extico. Seus dias ureos sobre os quais ele fala quando voc consegue realmente motiv-lo foram h muito tempo, antes da existncia da maioria de ns. Eram os dias em que as pessoas se importavam com o que ele pensava sobre as coisas e o consideravam muito importante para suas vidas.

    claro que tudo isso mudou agora, e deus coitadinho nunca se ajustou muito bem. A vida avanou e o deixou para trs. Agora, ele gasta a maior parte de seu tempo pairan-do l atrs, no quintal. Eu vou l, algumas vezes, para v-lo.

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    O que o Evangelho?

    L nos demoramos, caminhando e conversando branda e ama-velmente entre as rosas...

    De algum modo, as pessoas ainda gostam dele, parece ou, pelo menos, ele consegue manter bem elevados seus n-meros de pesquisa de opinio. E voc ficaria surpreso em saber quantas pessoas ainda aparecem de vez em quando para visit--lo e pedir-lhe coisas. Mas, claro, isso no o entristece. Ele existe para ajudar.

    Ainda bem que todas as esquisitices sobre as quais voc leu, s vezes, nos antigos livros dele voc sabe o que estou di-zendo: a terra engolindo pessoas, chuva de fogo sobre cidades e coisas semelhantes tudo isso parece que desapareceu em sua idade. Agora, ele apenas um amigo legal, de pouca intimida-de, com o qual fcil algum conversar em especial, porque ele quase no fala de volta e, quando o faz, geralmente para dizer-me, por meio de algum sinal estranho, que aquilo que desejo fazer est certo para ele. Esse realmente o melhor tipo de amigo, no ?

    E voc sabe qual melhor coisa sobre ele? Ele no me julga. Nunca, por nada. Sim, eu sei que, no seu ntimo, ele quer que eu seja melhor mais amvel, menos egosta e coisas assim mas ele realista. Sabe que sou humano e que ningum perfeito. E tenho a plena certeza de que ele se contenta com isso. Perdoar as pessoas o seu trabalho.

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    Deus, o Criador Justo

    o que ele faz. Afinal de contas, ele amor, certo? E eu gosto de pensar no amor como nunca julgar e somente per-doar. Esse o deus que eu conheo. No desejo t-lo de qualquer outra maneira.

    Bem, espere um momento... agora, podemos entrar. E no se preocupe, no temos de demorar muito. Realmente. Ele se sente grato por qualquer tempo que possa obter de ns.

    Suposies sobre Deus

    Ora, essa breve divagao um tanto ridcula. Contu-do, pergunto-me se ela no expressa o que muitas pessoas, at aquelas que se chamam crists, pensam sobre Deus. Para a maioria, Deus um velhinho bastante amoroso, cordial, af-vel, levemente entorpecido e necessrio, que deseja, mas no faz exigncias, e pode ser ignorado sem consequncias , se voc no tem tempo para ele; muito, muito, muito compreensivo do fato de que os seres humanos cometem erros muito mais compreensvel do que ns o somos.

    No passado, era costume que at as pessoas no-crists possussem um entendimento bsico do ensino bblico sobre Deus e seu carter. Isso fazia parte do ambiente em que as pes-soas viviam; e muito semelhantemente ao que os apstolos faziam em relao aos seus compatriotas judeus voc poderia

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    O que o Evangelho?

    fazer algumas suposies sobre o que as pessoas sabiam quando lhes apresentava o evangelho.

    Isso no mais verdade, pelo menos na maior parte do mundo. Cresci numa pequena cidade no Leste do Texas. E, na maioria dos casos, anunciar o evangelho significava repetir uma mensagem que as pessoas j tinham ouvido milhares de vezes. Quando, porm, comecei a estudar na faculdade, em New Haven (Connecticut), aquele mundo era totalmente di-ferente. De repente, eu me via cercado por pessoas que no haviam sido criadas ouvindo a respeito de Deus e que, de fato, me desafiariam quanto ao assunto. Lembro-me da primeira vez em que encontrei algum que aceitou a minha meno de Deus e disse: Voc deve estar brincando comigo. Voc cr nisso? E, depois, sorriu.

    Isso se repetiu dezenas de vezes nos poucos anos seguin-tes, e, por fim, aprendi a dizer: sim, eu creio. Mas tambm aprendi, rapidamente, que eu no poderia fazer suposies a respeito do que as pessoas sabiam sobre Deus. Se eu quisesse proclamar o evangelho de Jesus Cristo, teria de comear bem no incio falando sobre o prprio Deus.

    claro que voc no pode (e no deve!) gastar toda a sua vida estudando o que Deus nos revelou a respeito de si mes-mo, assim como no precisa dizer tudo que sabe sobre Deus para que apresente com fidelidade o evangelho. H, porm,

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    Deus, o Criador Justo

    algumas verdades bsicas que uma pessoa tem de compreen-der para que assimile o que so as boas-novas do Cristianismo. Pense nelas como as boas notcias que esto por trs das ms notcias que esto por trs das Boas-Novas!

    H duas verdades principais que temos de deixar claras bem no incio: Deus Criador; Deus santo e justo.

    Deus, o Criador

    O comeo da mensagem crist na realidade, o comeo da Bblia crist : Criou Deus os cus e a terra. Tudo come-a a partir desse ponto. E, como uma flecha atirada de um arco mal direcionado, se voc no entender bem esse ponto, tudo que vier depois ser errado.

    O livro de Gnesis inicia com a histria de Deus crian-do o mundo: suas montanhas e vales, animais selvticos e peixes, pssaros e rpteis, tudo. Deus criou tambm o resto do universo: estrelas e luz, planetas e galxias. Tudo veio a existir por meio de sua palavra falada, e tudo veio exis-tncia a partir do nada. Deus no tomou algum material preexistente e o moldou, como argila, em todos os tipos di-ferentes de coisas que vemos no mundo. No! Gnesis nos diz que ele falou e as coisas passaram a existir. Haja luz!, ele disse, e houve luz.

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    O que o Evangelho?

    Muitas passagens bblicas nos dizem como a criao d testemunho da glria e do poder de Deus. Salmos 19.1 diz: Os cus proclamam a glria de Deus, e o firmamento anuncia as obras das suas mos. Em Romanos 1.20, Paulo diz que os atri-butos invisveis de Deus, assim o seu eterno poder, como tam-bm a sua prpria divindade, claramente se reconhecem, desde o princpio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas. Se voc j ficou beira de um cnion e viu os pssaros mergulhando abaixo de voc e as nuvens se estenden-do acima de sua cabea, ou se j esteve em um campo e sentiu medo ao ouvir um trovo rolando no horizonte, voc sabe o que isso significa. H algo na grandeza da criao que fala ao corao humano dizendo: Voc no tudo que existe!

    A histria da criao, narrada em Gnesis, se expande em escopo e importncia a cada novo dia. Primeiro, h a cria-o da luz; depois, do mar, da terra, da lua e do sol, dos pssa-ros, dos peixes, dos animais e, por ltimo, no pinculo da obra criadora de Deus, do homem e da mulher.

    Tambm disse Deus: Faamos o homem nossa ima-gem, conforme a nossa semelhana; tenha ele dom-nio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos cus, so-bre os animais domsticos, sobre toda a terra e sobre todos os rpteis que rastejam pela terra.

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    Deus, o Criador Justo

    Criou Deus, pois, o homem sua imagem, imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.

    Gn 1.26-27

    No importando o que voc pensa sobre a histria da criao, as implicaes desta afirmao Deus criou o mundo e, em especial, Deus criou voc so enormes. O fato de que o mundo no final, e sim de que teve sua ori-gem na mente, palavra e mos de Outro Algum uma idia revolucionria, especialmente em nossos dias. Ao contrrio do niilismo que domina maior parte do pensamento huma-no, isso significa que tudo no universo tem um propsito incluindo os seres humanos. No somos o resultado de mudana aleatria e mutaes genticas, de recombinao de genes e acidentes cromossmicos. Somos criados! Cada um de ns o resultado de uma idia, um plano, uma ao do prprio Deus. Isso traz significado e responsabilidade vida humana (Gn 1.26-28).

    Nenhum de ns autnomo. Entender isso a chave para compreendermos o evangelho. Apesar de nosso discurso constante sobre direitos e liberdade, no somos realmente to livres como gostamos de pensar. Somos criados. Somos feitos. Portanto, no somos de ns mesmos.

    Porque Deus nos criou, ele tem o direito de nos dizer

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    O que o Evangelho?

    como devemos viver. Por isso, no jardim do den, ele disse a Ado e a Eva de que rvores eles podiam comer e de que rvore no podiam comer (Gn 2.16-17). Isso no significa que Deus age como uma criana que tem mania de autoridade e manda seu irmo menor para l e para c, dando ordens ar-bitrrias apenas para ver o que acontece. No! A Bblia nos mostra que Deus bom. Ele sabia o que era melhor para seu povo e lhes deu leis que preservariam e aumentariam a sua felicidade e o seu bem-estar.

    O reconhecimento disso absolutamente necessrio para que uma pessoa entenda as boas-novas do Cristianismo. O evangelho a resposta de Deus s ms notcias do pecado. E o pecado a rejeio da pessoa para com os direitos que Deus, como Criador, tem sobre ela. Assim, a verdade fundamental da existncia humana, a fonte da qual flui tudo mais, que Deus nos criou e, portanto, tem direito sobre ns.

    Deus, Justo e Santo

    Se voc tivesse de descrever o carter de Deus em poucas palavras, o que diria? Que ele amoroso e bom? Que ele compassivo e perdoador? Tudo isso verdade. Quando Moiss pediu a Deus que lhe mostrasse sua glria e lhe proclamasse seu nome, esta foi a resposta de Deus:

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    Deus, o Criador Justo

    senhor, senhor Deus compassivo, clemente e lon-gnimo e grande em misericrdia e fidelidade; que guarda a misericrdia em mil geraes, que perdoa a iniquidade , a transgresso e o pecado.

    (x 34.6-7).

    Como isso admirvel! Quando Deus quer nos falar so-bre seu nome e revelar-nos sua glria o que, na realidade, sig-nifica mostrar-nos seu prprio corao o que ele diz? Que amoroso e compassivo, tardio em irar-se e abundante em amor.

    Entretanto, h algo mais nessa passagem que frequente-mente ignoramos, algo que no muito agradvel. Voc sabe o que Deus falou a Moiss logo depois de dizer-lhe que com-passivo e amoroso?

    Ainda que no inocenta o culpado (v. 7).

    Considere novamente essa afirmao, porque ela destri 90% do que as pessoas contemporneas pensam que sabem a respeito de Deus. O Deus compassivo e amoroso no deixa im-pune o culpado.

    Uma opinio comum sobre Deus que ele semelhan-te a um zelador inescrupuloso. Em vez de limpar a sujeira do mundo seu pecado, mal e impiedade ele apenas varre a

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    O que o Evangelho?

    sujeira para debaixo do tapete, ignora-a e espera que ningum veja. De fato, muitas pessoas no podem imaginar um Deus que faria alguma outra coisa. Deus julga o pecado?, elas per-guntam. Ele me puniria por causa de minha impiedade? Ele no o faria. Isso no seria amvel.

    Veremos depois como a contradio aparentemente in-solvel que lemos em xodo 34.6-7 um Deus que perdoa a iniquidade, a transgresso e o pecado e, apesar disso, no inocenta o culpado resolvida pela morte de Jesus na cruz. Mas, antes de chegarmos l, precisamos entender que, a des-peito dos protestos em contrrio, o amor de Deus no anula a sua justia e santidade.

    A Escritura proclama repetidas vezes que nosso Deus um Deus de justia perfeita e santidade absoluta. Salmos 11.7 diz:

    Porque o senhor justo,ele ama a justia.

    O Salmo 33.5 declara: Ele ama a justia e o direito. E dois salmos vo mais alm e proclamam: Justia e direito so o fundamento do teu trono (Sl 89.14; 97.2). Voc percebe o que esses versculos esto dizendo? Deus governa o universo, seu senhorio soberano sobre a criao fundamenta-se em que ele , para sempre, perfeitamente justo e reto.

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    Deus, o Criador Justo

    Essa a razo por que a idia de Deus como um zelador inescrupuloso , em ltima anlise, insatisfatria. Ele torna Deus injusto e corrupto. Torna-o um Deus que esconde o pe-cado ou que se esconde do pecado em vez de confront-lo e destru-lo. Torna-o um covarde moral.

    Quem deseja um Deus assim? Sempre interessante ob-servar o que acontece quando um mal inegvel sobrevm a pessoas que insistem em afirmar que Deus nunca deveria jul-g-las. Quando confrontadas com algum mal verdadeiramente horrvel, ento elas querem um Deus de justia e o querem naquele momento. Querem que Deus ignore o pecado delas, mas no o pecado do terrorista. Perdoe-me, elas dizem, mas no o perdoe! Voc percebe? As pessoas querem um Deus que ignore o mal delas.

    No entanto, a Escritura nos diz que, por ser perfeitamen-te justo e reto, Deus punir decisivamente todo mal. Habacu-que 1.13 diz:

    Tu s to puro de olhos, que no podes ver o male a opresso no podes contemplar.

    Se Deus no punisse o mal, estaria negando o prprio fundamento de seu trono. Alm disso, estaria renunciando o seu prprio Ser, e isso Deus no pode fazer.

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    O que o Evangelho?

    Muitas pessoas no acham nenhuma dificuldade para pensar em Deus como amoroso e compassivo. Os cristos tm feito um trabalho excelente de convencer o mundo de que Deus os ama. Mas, se temos de entender quo glorioso e doa-dor de vida o evangelho de Jesus Cristo, devemos entender que este Deus amoroso e compassivo , tambm, santo e justo e est determinado a nunca esquecer, ignorar e tolerar o peca-do. Incluindo o nosso prprio pecado. E isso, claro, nos traz ms notcias.

  • Outro dia, paguei uma multa de estacionamento. Foi fcil. Li a acusao contra mim, virei a notificao e marquei o quadro que dizia sou culpado desta transgresso, preen-chi o cheque de trinta e cinco dlares para o Departamento Metropolitano de Trnsito, selei o envelope e o mandei pelos correios.

    Sou um criminoso culpado.Por alguma razo, embora tenha marcado o quadro cul-

    pado, no me sinto terrivelmente culpado. No perderei o sono por ter andado no lado oposto lei. No sinto necessida-de de pedir a perdo a algum e agora, quando penso na multa, fico um pouco triste pelo fato de que a multa foi dez dlares a mais do que a anterior.

    Captulo 3

    Homem, o Pecador

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    O que o Evangelho?

    Por que no me senti mal por transgredir a lei? Suponho que foi porque, considerando a realidade da questo, transgre-dir uma lei de estacionamento no me abala como algo mui-to importante ou abominvel. Sim, na prxima vez eu me certificarei de colocar mais uma moeda no paqumetro, mas a minha conscincia no torturada por isso.

    Uma coisa que tenho observado atravs dos anos que a maioria das pessoas tende a pensar no pecado, especialmente o seu prprio pecado, como no mais do que uma infrao de estacionamento. claro, ns pensamos, o pecado uma violao da lei estabelecida por Deus, mas, com certeza, te-mos de saber que h criminosos piores do que eu. Alm disso, ningum foi prejudicado, e estou disposto a pagar a multa. E, admitamos, no h necessidade de todo um profundo exame da alma a respeito de algo assim, h?

    Bem, acho que no, se voc pensa no pecado de ma-neira fria. Mas, de acordo com a Bblia, o pecado muito mais do que uma simples violao de uma lei de trfego, impessoal, arbitrria, celestial. a quebra de um relacio-namento e, ainda mais, a rejeio do prprio Deus um repdio do governo de Deus, do cuidado de Deus, da au-toridade de Deus e do seu direito de dar ordens queles a quem ele deu vida. Em resumo, a rebelio da criatura contra o Criador.

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    Homem, o Pecador

    O que Deu Errado

    Quando Deus criou os seres humanos, sua inteno era que eles vivessem sob seu governo perfeito e justo, em ale-gria perfeita, adorando-o, obedecendo-lhe e, por meio disso, vivendo em comunho permanente com ele. Como vimos no captulo anterior, ele criou o homem e a mulher sua prpria imagem; e isso significa que eles deveriam ser como ele, estar em relacionamento com ele e declarar a sua glria ao mundo. Alm disso, Deus tinha uma obra para os seres humanos faze-rem. Eles deveriam ser vice-regentes de Deus, governando seu mundo sob a autoridade dele. Deus lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos cus e sobre todo animal que rasteja pela terra (Gn 1.28).

    O governo do homem e da mulher sobre a criao no era final. A autoridade no era deles mesmos; ela lhes fora dada por Deus. Enquanto exercessem domnio sobre o mundo, deveriam lembrar que eram sujeitos a Deus e estavam sob seu governo. Ele os criara e, portanto, tinha o direito de lhes dar ordens.

    A rvore do conhecimento do bem e do mal, que Deus havia plantado no centro do jardim, era uma lembrana evidente desse fato (Gn 3.17). Quando Ado e Eva olhas-

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    O que o Evangelho?

    sem para aquela rvore e vissem aquele fruto, lembrariam que sua autoridade era limitada, que eram criaturas e de-pendiam de Deus quanto a suas vidas. Eram apenas mordo-mos. Ele era o rei.

    Quando Ado e Eva comeram aquele fruto, no esta-vam apenas violando alguma ordem arbitrria: No comam o fruto. Estavam fazendo algo mais triste e mais srio. Esta-vam rejeitando a autoridade de Deus sobre eles e declarando sua independncia de Deus. Ado e Eva queriam ser, como a serpente lhes prometeu, como Deus, por isso ambos aprovei-taram o que pensaram ser uma oportunidade de deixar a vice--regncia e tomar posse da coroa. Em todo o universo, havia somente uma coisa que Deus no colocara sob os ps de Ado Deus mesmo. Contudo, Ado decidiu que essa situao no era boa para ele e, por isso, se rebelou.

    O pior de tudo que, por desobedecer ordem de Deus, Ado e Eva fizeram uma deciso consciente de rejeit-lo como seu Rei. Eles sabiam quais seriam as consequncias se lhe de-sobedecessem.

    Deus lhes dissera em termos inequvocos que, se comes-sem do fruto, certamente morreriam. Isso significa, antes de tudo, que eles seriam expulsos da presena de Deus e se tor-nariam inimigos dele, em vez de amigos e sditos felizes (Gn 2.17). Mas eles no se importaram. Ado e Eva trocaram seu

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    Homem, o Pecador

    favor com Deus pela busca de seu prprio prazer e de sua pr-pria glria.

    A Bblia chama de pecado essa desobedincia aos mandamentos de Deus ou em palavra, ou em pensamento, ou em atos. Literalmente, a palavra significa errar o alvo, mas o significado bblico de pecado muito mais profundo. O que aconteceu no foi que Ado e Eva tentaram ardua-mente guardar o mandamento de Deus e apenas erraram o alvo por alguns graus. No, o fato que eles atiraram na direo oposta! Eles tinham alvos e desejos que eram categoricamente opostos ao que Deus desejava para eles e, por isso, pecaram. Violaram deliberadamente a ordem de Deus, romperam seu relacionamento com ele e rejeitaram--no como seu legtimo Senhor.

    As consequncias do pecado de Ado e Eva foram desas-trosas para eles, para seus descendentes e para o resto da cria-o. Eles mesmos foram expulsos do jardim do den. A terra no mais lhes daria espontnea e alegremente os seus frutos e tesouros. Teriam de trabalhar com fadiga e sofrimento para obt-los. E, o que pior, Deus executou a sentena de morte sobre eles. claro que eles no sofreram de imediato a morte fsica. Seus corpos continuaram a viver, seus pulmes, a respi-rar, seus coraes, a bater, os seus membros, a se movimentar. Mas sua vida espiritual, a que mais importante, terminou

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    O que o Evangelho?

    imediatamente. Sua comunho com Deus foi interrompida e, assim, seu corao corrompeu-se, sua mente se encheu de pensamentos egostas, seus olhos se escureceram para a beleza de Deus, e sua alma se tornou rida e estril, totalmente desti-tuda daquela vida espiritual que Deus lhes dera no princpio, quando tudo era bom.

    No Somente Eles, Mas Tambm Ns

    A Bblia nos diz que no somente Ado e Eva so cul-pados de pecado. Todos ns somos. Em Romanos 3.23, Pau-lo diz: Todos pecaram e carecem da glria de Deus. E um poucos antes ele diz: No h justo, nem um sequer (3.10). O evangelho de Jesus Cristo cheio de pedras de trope-o, e essa uma das maiores. Para coraes humanos que pensam obstinadamente de si mesmos como bons e auto--suficientes, essa idia de que os homens so fundamental-mente pecaminosos e rebeldes no apenas escandalosa. tambm revoltante.

    Essa a razo por que to absolutamente crucial que entendamos tanto a natureza como a profundeza de nosso pecado. Se nos aproximamos do evangelho pensando que o pecado algo mais ou algo menos do que o que ele realmente , entenderemos muito mal as boas novas a respeito de Jesus

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    Homem, o Pecador

    Cristo. Permita-me oferecer-lhe alguns poucos exemplos de como os cristos entendem mal o pecado.

    Confundir o pecado com os efeitos do pecado

    Est ficando comum apresentar o evangelho por dizer que Jesus salva a humanidade de um senso inato de cul-pa, ou de falta de significado, ou de falta de propsito, ou de falta de sentido. claro que essas coisas so realmente problemas, e muitas pessoas as sentem profundamente. Mas a Bblia ensina que o problema fundamental da humanida-de aquilo do que precisamos ser salvos no falta de significado, a desintegrao de nossa vida ou mesmo um debilitante senso de culpa.

    Essas coisas so apenas sintomas de um problema mui-to mais profundo: o nosso pecado. O que temos de enten-der que a triste situao em que estamos algo que ns mesmos produzimos. Ns temos desobedecido Palavra de Deus. Ns temos ignorado os mandamentos de Deus. Ns temos pecado contra ele.

    Falar sobre ser salvos da falta de significado ou da fal-ta de propsito sem reconhecer que essas coisas tm sua origem no pecado pode tornar o remdio mais fcil de ser tomado, mas o remdio errado. Isso permite que o ouvinte

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    O que o Evangelho?

    continue pensando em si mesmo como uma vtima e nunca encare o fato de que um criminoso, injusto e merecedor de condenao.

    Reduzir o Pecado a Relacionamento quebrado

    Relacionamento algo importante na Bblia. Os seres humanos foram criados para viver em comunho com Deus. Contudo, temos de lembrar que essa comunho implicava que eles deviam viver num tipo especfico de relacionamento no era um relacionamento entre seres iguais, no qual a lei, o julga-mento e a punio estavam ausentes; era um relacionamento entre um Rei e seus sditos.

    Muitos cristos falam sobre o pecado como se este fos-se apenas uma contenda relacional entre Deus e o homem, e o que ns precisamos apenas pedir e aceitar o perdo de Deus. Essa idia de pecado como uma contenda entre amantes distorce o relacionamento que temos com Deus. Ela nos diz que no h quebra da lei, violao da justia, ira justa, julgamento santo e, portanto, em ltima anlise, no h tambm qualquer necessidade de um substituto para receber nosso julgamento.

    O ensino da Bblia que o pecado realmente uma que-bra do relacionamento com Deus, mas essa quebra consiste

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    Homem, o Pecador

    numa rejeio da majestade real de Deus. no somente adul-trio (embora seja isso), mas tambm rebelio. no somente infidelidade, mas tambm traio. Se reduzirmos o pecado mera quebra de relacionamento de um sdito amado contra seu Rei justo e bondoso, nunca entenderemos por que a morte do Filho foi exigida para resolver o problema.

    Confundir o pecado com pensamento negativo

    Outro entendimento errneo quanto ao pecado, eviden-cia-se ao dizer que o pecado apenas uma questo de pensa-mento negativo. Vimos isso em algumas das citaes apresen-tadas na introduo deste livro. Livre-se de seus odres velhos! Pense grande! Deus quer mostrar-lhe seu incrvel favor, se voc se livrar de todas aquelas mentalidades negativas que o retm.

    Ora, essa uma mensagem estimulante para pessoas au-toconfiantes que desejam crer que podem cuidar de seu peca-do por si mesmas. Essa , provavelmente, a razo por que os homens que proclamam esse tipo de mensagem tm consegui-do constituir as maiores igrejas do mundo. A frmula bem fcil, realmente. Apenas diga s pessoas que o pecado delas no passa de pensamento negativo, e que isso as impede de ter sade, riqueza e felicidade. Depois, diga-lhes que, se pensarem mais positivamente a respeito de si mesmas (com a ajuda de

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    O que o Evangelho?

    Deus, claro), elas se livraro de seu pecado e ficaro ricas. Pronto! Logo teremos uma megaigreja!

    s vezes, o alvo prometido dinheiro; s vezes, sade; s vezes, algo totalmente diferente. Mas, no importando como voc mude o alvo, dizer que Jesus Cristo morreu para salvar--nos de pensamentos negativos a respeito de ns mesmos severamente antibblico. De fato, a Bblia ensina que grande parte de nosso problema que pensamos de maneira muito elevada sobre ns mesmos, e no de maneira muito humilde. Pare e pense sobre isso por um momento. Como a serpente tentou Ado e Eva? A serpente lhes disse que estavam pen-sando muito negativamente a respeito de si mesmos. Ela lhes disse que precisavam pensar mais positivamente, ampliar sua compreenso, chegar ao seu pleno potencial, ser como Deus! Em resumo, a serpente lhes disse que deveriam pensar grande.

    Ora, qual foi o resultado para eles?

    Confundir o pecado com pecados

    Existe uma grande diferena entre entender a si mesmo como culpado de pecados e reconhecer a si mesmo como cul-pado do pecado. A maioria das pessoas no tm dificuldade para admitir que tm cometido pecados (plural), pelo menos enquanto podem achar que esses pecados so pequenos erros

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    Homem, o Pecador

    isolados em uma vida relativamente boa uma multa de esta-cionamento aqui e ali em uma ficha limpa.

    Os pecados no nos chocam muito. Sabemos que eles acontecem, ns os vemos em ns mesmos e nos outros todos os dias, e ficamos bem acostumados com eles. O que chocante para ns, Deus mostrar-nos o pecado que permeia at as pro-fundezas de nosso corao, os recessos profundos de impureza e corrupo que no sabamos existir em ns e que ns mesmos jamais poderamos limpar. assim que a Bblia fala sobre a pro-fundeza e as trevas de nosso pecado ele est em ns, nosso, e no apenas est sobre ns.

    No segundo andar do Museu Nacional de Histria Natural em Washington, h o que se diz ser a maior esfera perfeita de quartzo existente no mundo. A esfera um pou-co maior do que uma bola de basquete; e no h nenhum arranho visvel, nenhuma salincia, nenhuma rachadura em toda a esfera. perfeita. As pessoas pensam frequente-mente que a natureza humana como essa esfera de quart-zo. Sim, de vez em quando, podemos manch-la com sujeira e lama, mas por baixo ela se mantm to brilhante como sempre foi; e tudo que precisamos realmente fazer limp--la para restaurar seu brilho.

    O quadro bblico da natureza humana no to belo as-sim. De acordo com a Escritura, a esfera da natureza humana

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    O que o Evangelho?

    no brilhante de modo algum. E a lama no est apenas co-brindo o lado de fora. Pelo contrrio, estamos completamente atingidos pelo pecado. As fendas, a lama, a imundcie, a cor-rupo atingem at o mago. Como Paulo disse, somos, por natureza, filhos da ira, como tambm os demais (Ef 2.3). Es-tamos todos includos na culpa e corrupo de Ado (Rm 5). Jesus ensinou isto: Porque do corao procedem maus desg-nios, homicdios, adultrios, prostituio, furtos, falsos teste-munhos, blasfmias (Mt 15.19). As palavras pecaminosas que voc fala e os atos pecaminosos que pratica no so incidentes isolados. Procedem do mal que est em seu prprio corao.

    Toda parte de nossa existncia humana est corrompida pelo pecado e sob o seu poder. Nosso entendimento, nossa per-sonalidade, nossos sentimentos e emoes, bem como a nossa vontade, esto todos escravizados ao pecado. Por isso, Paulo diz em Romanos 8.7: O pendor da carne inimizade contra Deus, pois no est sujeito lei de Deus, nem mesmo pode estar. Que declarao chocante e apavorante! O domnio do pecado em ns to completo nossa mente, entendimento e vontade que vemos a glria e a bondade de Deus e, por desgosto, as rejeitamos inevitavelmente.

    No basta dizer que Jesus veio para salvar-nos de pecados, se o que queremos dizer com isso que ele veio para salvar-nos de nossos erros isolados. Somente quando compreendemos

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    Homem, o Pecador

    que nossa prpria natureza pecaminosa que somos, de fato, mortos em nossos delitos e pecados (Ef 2.1, 5), vemos quo boas so as novas de que h um meio de sermos salvos.

    O Julgamento Ativo de Deus Contra o Pecado

    Uma das afirmaes mais amedrontadoras em toda a B-blia Romanos 3.19. Ela ocorre no final da acusao de Pau-lo de que toda humanidade primeiro, os gentios; depois, os judeus est debaixo do pecado e completamente injusta diante de Deus. Eis o que Paulo disse como a grande concluso do assunto: Para que se cale toda boca, e todo o mundo seja culpvel perante Deus.

    Voc pode imaginar o que isso significar? Comparecer diante de Deus e no ter explicaes, apelos, desculpas, justifi-cativas. A Bblia muito clara, como vimos no captulo ante-rior, a respeito da verdade de que Deus justo e santo e, por-tanto, no aceitar desculpas pelo pecado. Mas, o que significa para Deus lidar com o pecado, julg-lo e puni-lo?

    Romanos 6.23 diz: O salrio do pecado a morte. Em outras palavras, o pagamento que merecemos por nosso pecado morrer. Isso no apenas a morte fsica. a morte espiritual, uma separao inevitvel entre o nosso ser pecaminoso e mpio e a pre-sena do Deus justo e santo. O profeta Isaas descreveu-a assim:

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    O que o Evangelho?

    As vossas iniqidades fazem separaoentre vs e o vosso Deus;e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vs,para que vos no oua.

    Is 59.2

    Algumas vezes, pessoas falam sobre isso como se fosse a au-sncia passiva e quieta de Deus. Todavia, muito mais do que isso. o julgamento ativo de Deus contra o pecado, e a Bblia diz que ser terrvel. Observe como o livro de Apocalipse descreve o que acontecer no fim, no dia do justo e bom juzo de Deus. Os sete anjos derramaro pela terra as sete taas da clera de Deus e todas as tribos da terra se lamentaro sobre ele (Ap 16.1; 1.7). Eles gritaro s montanhas e s rochas: Ca sobre ns e escondei-nos da face daquele que se assenta no trono e da ira do Cordeiro, porque chegou o grande Dia da ira deles; e quem que pode suster-se? (Ap 6.16-17). Eles vero a Jesus, o Rei dos reis e Senhor dos senhores, e temero porque ele pisar o lagar do vinho do furor da ira do Deus Todo-Poderoso (Ap 19.15).

    A Bblia ensina que o destino final para pecadores im-penitentes e incrdulos um lugar de tormento consciente e eterno chamado inferno. Apocalipse descreve-o como um lago de fogo e enxofre, e Jesus disse que um lugar de fogo inextinguvel (Ap 20.10; Mc 9.43).

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    Homem, o Pecador

    Em vista da maneira como a Bblia fala sobre o inferno e nos adverte quanto a ele, no entendo o impulso de alguns cristos que parecem desejar explic-lo de um modo que o faz parecer mais tolervel. Visto que o livro de Apocalipse fala de Jesus pisando o lagar do furor da ira do Deus Todo-Poderoso e o prprio Jesus adverte sobre o fogo inextinguvel... onde no lhes morre o verme, nem o fogo se apaga (Mc 9.43, 48), minha pergunta incrdula esta: por que um cristo tem o in-teresse de fazer que isso parea menos horrvel? Por que, neste mundo, desejamos confortar os pecadores com o pensamento de que o inferno talvez no seja mesmo to ruim?

    No Inventamos Isso

    As figuras que a Bblia usa para falar-nos sobre o julga-mento de Deus contra o pecado so realmente apavorantes. No surpreendente que o mundo leia as descries bblicas a respeito do inferno e chame os cristos de loucos por acre-ditarem nelas.

    Mas isso no correto. No inventamos, ns mesmos, essas idias. Ns, cristos, no lemos, cremos e falamos sobre o inferno porque, em alguma medida, gostamos do pensamento sobre o inferno. De modo nenhum. Falamos sobre o inferno porque cremos na Bblia. Cremos nela quando nos diz que o

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    O que o Evangelho?

    inferno real; e cremos com lgrimas quando ela nos diz que pessoas que amamos esto em perigo de passar a eternidade no inferno.

    Esse o veredito solene da Bblia a nosso respeito. No h nenhum justo, nem um sequer. E, por causa disso, um dia toda boca se fechar, toda lngua se calar, e todo o mundo ser considerado responsvel diante de Deus.

    Mas...

  • Mas. Penso que essa a palavra mais poderosa que um ser humano pode falar. Ela pequena, mas tem o poder de abolir tudo que foi dito antes dela. Vindo logo depois de ms notcias como as que acabamos de ler, essa palavra tem o poder de erguer os olhos e restaurar a es-perana. Mais do que qualquer outra palavra que possa ser falada pela lngua humana, ela tem a capacidade de mudar tudo.

    O avio caiu, mas ningum ficou ferido. Voc tem cncer, mas facilmente tratvel. Seu filho se envolveu num acidente de carro, mas

    ele est bem.

    Captulo 4

    Jesus Cristo, o Salvador

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    O que o Evangelho?

    Infelizmente, algumas vezes o mas no aparece. A frase acaba, e tudo que recebemos so as ms notcias. No entanto, esses momentos somente magnificam para ns as ocasies em que o mas aparece. E so gloriosas.

    Agradea a Deus pelo fato de que as ms notcias do pe-cado humano e do julgamento de Deus no so o fim da his-tria. Se a Bblia terminasse com a declarao paulina de que todo o mundo ficar em silncio diante do trono de julgamen-to de Deus, no haveria nenhuma esperana para ns. Haveria somente desespero. Mas (aqui est ela novamente!) agradea a Deus por que h algo mais.

    Voc um pecador destinado condenao. Mas Deus agiu para salvar pecadores como voc!

    Uma Mensagem de Esperana

    Marcos comeou seu relato da vida de Jesus com estas palavras: Princpio do evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus. Desde o comeo, Marcos e os outros cristos primitivos sabiam que a vinda de Jesus Cristo era boas notcias de Deus para um mundo destrudo e morto aos ps do pecado. Por con-sequncia da horrorosa devastao do pecado, a vinda de Jesus foi o poderoso e estridente anncio de Marcos no sentido de que tudo havia mudado.

  • 83

    Jesus Cristo, o Salvador

    Mesmo no jardim do den, Deus havia dado a Ado e Eva uma mensagem de esperana algumas boas notcias em meio ao desespero deles. No foi muito. Foi apenas uma dica, uma frase includa no meio da sentena de Deus contra a serpente:

    Este te ferir a cabea,e tu lhe ferirs o calcanhar.

    Gn 3.15

    Mas era alguma coisa. Deus queria que Ado e Eva sou-bessem, embora fossem rebeldes, que a histria no tinha aca-bado. Ali houve um evangelho, algumas boas-novas em meio catstrofe.

    O resto da Bblia nos conta a histria de como essa peque-na semente de boas-novas germinou, brotou e cresceu. Durante milhares de anos, Deus preparou o mundo por meio da lei e da profecia para o seu surpreendente clice de graa contra a serpente, na vida, morte e ressurreio de Jesus Cristo. Quando tudo estivesse terminado, a culpa que Ado infligira a toda a sua raa seria derrotada, a morte que Deus pronunciara sobre a cria-o morreria, e o inferno seria vencido. A Bblia conta a histria da ofensiva de Deus contra o pecado. Ela a grande narrativa de como Deus resolveu a situao, como ele a est resolvendo e como um dia ele a resolver definitivamente, para sempre.

  • 84

    O que o Evangelho?

    Totalmente Deus, Totalmente Homem

    Todos os escritores dos evangelhos comeam seu relato da vida de Jesus mostrando que ele no era um homem co-mum. Mateus e Lucas contam a histria de um anjo que veio e falou com uma jovem virgem, chamada Maria, dizendo-lhe que ela teria um filho. Incrdula para com essa notcia, Ma-ria perguntou: Como ser isto, pois no tenho relao com homem algum? O anjo explicou: Descer sobre ti o Esprito Santo, e o poder do Altssimo te envolver com a sua sombra; por isso, tambm o ente santo que h de nascer ser chamado Filho de Deus (Lc 1.34-35). Joo comeou sua narrativa com uma afirmao ainda mais impressionante: No princpio [pa-lavras que indicam fortemente Gnesis 1.1] era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus... E o Verbo se fez carne e habitou entre ns (Jo 1.1, 14).

    Tudo isso o nascimento de Jesus de uma virgem, o t-tulo Filho de Deus, a afirmao de Joo de que o Verbo era Deus, juntamente com seu anncio de que o Verbo se fez carne tem o propsito de nos ensinar quem Jesus.

    Em palavras simples, a Bblia nos ensina que Jesus total-mente homem e totalmente Deus. Esse um ensino crucial que devemos entender a respeito dele, pois somente o Filho de Deus totalmente humano e totalmente divino que pode salvar-nos.

  • 85

    Jesus Cristo, o Salvador

    Se Jesus fosse apenas outro homem como ns em todos os as-pectos, incluindo nosso pecado e nosso estado cado ele seria incapaz de salvar-nos, como qualquer outro homem. Contudo, visto que Jesus o Filho de Deus, sem pecado e igual a Deus, o Pai, em todas as perfeies divinas, ele pode vencer a morte e nos salvar de nosso pecado. De modo semelhante, tambm crucial que Jesus seja verdadeiramente um de ns ou seja, totalmente humano para que possa representar-nos apropriadamente dian-te de seu Pai. Como explica Hebreus 4.15, Jesus capaz de com-padecer-se das nossas fraquezas, porque foi tentado em todas as coisas, nossa semelhana, mas sem pecado.

    O Messias-Rei. Aqui!

    Quando Jesus comeou seu ministrio, ele proclamava uma mensagem fantstica: O reino de Deus est prximo; arrependei-vos e crede no evangelho.

    A notcia sobre este homem pregando que o reino de Deus chegara se espalhou rapidamente por todo o pas, e mul-tides entusiasmadas logo cercaram a Jesus para ouvir as boas notcias (o evangelho) que ele proclamava. O que era to entusiasmante nessas notcias?

    Durante sculos, por meio de sua lei e de seus profetas, Deus havia predito um tempo em que ele acabaria, de uma

  • 86

    O que o Evangelho?

    vez por todas, com o mal do mundo e resgataria seu povo dos pecados deles. Deus baniria toda resistncia e estabe-leceria seu governo, seu reino sobre toda a terra. Alm disso, Deus prometera que estabeleceria seu reino na pessoa de um Rei messinico, da linhagem do grande rei Davi. Em 2 Samuel 7.11, Deus prometeu a Davi que um de seus filhos reinaria em seu trono para sempre. E o profeta Isaas disse sobre esse filho real:

    O seu nome ser: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Prncipe da Paz; para que se aumente o seu governo, e venha paz sem fim sobre o trono de Davi e sobre o seu reino, para o estabelecer e o firmar mediante o juzo e a justia, desde agora e para sempre.

    Is 9.6-7

    Ento, voc pode imaginar o entusiasmo com que Jesus foi recebid