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Copyright © 2012 - Paloma Hoffemann Todos os direitos Reservados All Rights Reserved INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE CURSO DE FARMÁCIA O USO DA CARBAMAZEPINA E DA OXCARBAZEPINA NO TRATAMENTO DA AGRESSIVIDADE IMPULSIVA ASSOCIADA AO TRANSTORNO DE PERSONALIDADE BORDERLINE. PALOMA FIRMINO HOFFEMANN SÃO PAULO 2012

O uso da carbamazepina e oxcarbazepina no tratamento do Transtorno de Personalidade Borderline

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Artigo Científico sobre o possível emprego da carbamazepina e oxcarbazepina no tratamento da agressividade impulsiva associada ao transtorno de personalidade Borderline.

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    INSTITUTO DE CINCIAS DA SADE CURSO DE FARMCIA

    O USO DA CARBAMAZEPINA E DA OXCARBAZEPINA NO TRATAMENTO DA

    AGRESSIVIDADE IMPULSIVA ASSOCIADA AO TRANSTORNO DE PERSONALIDADE

    BORDERLINE.

    PALOMA FIRMINO HOFFEMANN

    SO PAULO 2012

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    INSTITUTO DE CINCIAS DA SADE CURSO DE FARMCIA

    O USO DA CARBAMAZEPINA E DA OXCARBAZEPINA NO TRATAMENTO DA

    AGRESSIVIDADE IMPULSIVA ASSOCIADA AO TRANSTORNO DE PERSONALIDADE

    BORDERLINE.

    PALOMA FIRMINO HOFFEMANN

    Trabalho de Concluso de Curso apresentado Universidade Paulista - UNIP, como requisito para obteno do ttulo de bacharel em Farmcia.

    Orientador: Ms. ALPIO CARMO

    SO PAULO 2012

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    AGRADECIMENTOS

    Agradeo a toda a minha famlia que sempre acreditou em mim, mesmo diante das

    inmeras adversidades ocorridas no decorrer do curso de graduao e mesmo antes

    do incio do curso de Farmcia e Bioqumica.

    Um especial agradecimento ao meu companheiro Diego, pois se no fosse por ele,

    nem teria iniciado o curso e chegado at aqui. E tambm minha filha Jlia, que foi

    muito compreensiva diante da ausncia que o curso e o presente artigo cientfico me

    obrigaram.

    No menos importante, minha me Terezinha e minha av Edwirges que cuidaram

    de mim todos esses anos e me incentivaram sempre a nunca desistir dos meus

    sonhos, por mais difceis que sejam de ser alcanados.

    E minha eterna gratido ao meu irmo Marcus que me ajudou a fazer a traduo do

    Abstract, agregando qualidade ao meu artigo cientfico.

    Agradeo aos meus professores que sempre tiveram muita pacincia comigo e me

    ensinaram tanto, contribuindo para meu desenvolvimento acadmico e profissional.

    E um especial agradecimento ao meu orientador, Alpio, pela pacincia na minha

    impontualidade com os prazos de entrega. Muito obrigada!

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    RESUMO

    O Transtorno de Personalidade Borderline caracterizado pela instabilidade emocional e intensa agressividade impulsiva; o indivduo pode apresentar raiva inadequada, com descontrole agressivo autodirigido ou direcionado ao meio ambiente e a outras pessoas. Estudos demonstram que a agressividade impulsiva pode estar relacionada com alteraes no crtex pr-frontal e giro do cngulo anterior, com diminuio da massa cinzenta. Essas regies cerebrais esto envolvidas nos processos do controle afetivo e da agressividade. Tambm podem ocorrer descargas eltricas de baixa intensidade (efeito kindling) em regies do sistema lmbico, principalmente na amgdala, o que pode explicar o aumento na agressividade impulsiva. Alm disso, alguns estudos sugerem alteraes nos sistemas noradrenrgico, dopaminrgico e gabaminrgico, que podem implicar no aumento da agressividade impulsiva. O uso de estabilizadores de humor (ltio e anticonvulsivantes) mostrou-se efetivo para o controle da agressividade e instabilidade emocional. Anticonvulsivantes como a carbamazepina, e atualmente a oxcarbazepina, so utilizados no controle da agressividade impulsiva devido ao fato de bloquearem os canais de sdio, que esto envolvidos no incio do potencial de ao, que propaga as descargas do efeito kindling, e na liberao dos neurotransmissores envolvidos nesse processo, na fenda sinptica. A carbamazepina um forte indutor enzimtico, interferindo no metabolismo endgeno e de outros frmacos utilizados concomitantemente, alm de causar diversas reaes adversas. A oxcarbazepina um ceto derivado da carbamazepina, porm com menos efeitos adversos, o que melhora a adeso do paciente ao tratamento. Estudos de duplo-cego controlados por placebo demonstraram a eficcia da carbamazepina e da oxcarbazepina no controle da agressividade quando comparadas com o placebo. Outro estudo demonstra a superioridade da carbamazepina com relao ao divalproato de sdio (anticonvulsivante usado como estabilizador de humor) no tratamento da impulsividade e da agressividade. Apesar disso, so necessrios mais estudos controlados comprovando a eficcia da carbamazepina e da oxcarbazepina no controle da agressividade impulsiva, para que haja a alterao na indicao oficial desses dois frmacos.

    Palavras-chave: Transtorno de Personalidade Borderline, agressividade impulsiva, carbamazepina, oxcarbazepina.

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    ABSTRACT

    The Borderline Personality Disorder is characterized by intense emotional instability and impulsive aggression; the person may have inappropriate anger with uncontrolled aggressive self-directed or directed to the environment and other people. Studies show that impulsive aggression may be related to changes in the prefrontal cortex and anterior cingulate gyrus, with decreased gray matter. These brain regions are involved in the processes of control and affective aggression. There may also be electric discharges of low intensity (kindling effect) in regions of the limbic system, primarily in the amygdala, which can explain the increase in impulsive aggression. Additionally, some studies suggest changes in noradrenergic, dopaminergic and GABAminergic, which may involve increasing the impulsive aggression. The use of mood stabilizers (lithium and anticonvulsants) was effective for the control of aggression and emotional instability. Anticonvulsants such as carbamazepine, oxcarbazepine and currently are used in controlling impulsive aggression due to the fact blocking the sodium channels, which are involved in the initiation of the action potential, which propagates the kindling effect of the discharges, and the release of neurotransmitters involved in this process, in the synaptic cleft. Carbamazepine is a strong enzyme inducer, and interfering with the endogenous metabolism of other drugs used concomitantly, also causing several adverse reactions. Oxcarbazepine is a keto derivative of carbamazepine, but with fewer adverse effects, which improves patient adherence to treatment. Studies double-blind placebo controlled trials have demonstrated the efficacy of carbamazepine and oxcarbazepine in controlling the aggressiveness as compared to placebo. Another study demonstrates the superiority of carbamazepine relative to divalproex sodium (anticonvulsant used as a mood stabilizer) in the treatment of impulsivity and aggressiveness. Nevertheless, additional controlled studies demonstrating the efficacy of carbamazepine and oxcarbazepine in the control of impulsive aggression, so there is a change in official indication of these two drugs.

    Keywords: Borderline Personality Disorder, impulsive aggression, carbamazepine, oxcarbazepine.

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    INTRODUO

    Personalidade refere-se aos aspectos de um indivduo que so percebidos

    pelas outras pessoas. uma organizao dinmica e que no nem

    exclusivamente fsica, nem exclusivamente mental, envolvendo caractersticas

    moldadas de acordo com a exposio do indivduo a fatores biolgicos, psicolgicos

    e sociais (1).

    composta pelo carter, que engloba aspectos cognitivos do indivduo e pelo

    temperamento, reunio dos aspectos afetivo-conativos (2).

    Os traos de personalidade so padres persistentes no modo de perceber,

    relacionar-se e pensar sobre os ambientes e sobre si mesmo, inseridos num

    contexto pessoal e social. Transtorno de personalidade quando esses traos so

    inflexveis e inadequados, causando prejuzo funcional e/ou sofrimento subjetivo

    significativo (3).

    O Transtorno de Personalidade Borderline (TPB), tem como caractersticas:

    comportamentos autodestrutivos, intensidade e instabilidade nos relacionamentos

    interpessoais, distores cognitivas, dificuldade em adaptao ao meio social, medo

    crnico de abandono e impulsividade. Indivduos com esse transtorno possuem

    alteraes afetivas intensas, como tenso, raiva inadequada, mgoa, vergonha e

    sentimentos crnicos de vazio. Apresentam tambm sintomas psicticos transitrios

    e impulsividade, que pode os levar a comportamentos suicidas e autoagressivos,

    assim como abuso de substncias, gastos descontrolados e direo perigosa (4).

    De acordo com o Manual Diagnstico e Estatstico de Transtornos Mentais

    (DSM-IV-TR) (3), os indivduos com esse transtorno fazem esforos frenticos para

    evitar um abandono real ou imaginrio. Caso sintam que sero rejeitados ou que

    haver uma separao, ou mesmo a perda de sua estrutura externa, podem sofrer

    profundas alteraes cognitivas, afetivas, comportamentais ou na autoimagem

    (quadro 1).

    H baixa tolerncia a frustraes, raiva inadequada, alm de um intenso

    temor ao abandono, mesmo quando a separao for por tempo limitado ou

    inevitvel. O medo de abandono est relacionado a uma intolerncia solido.

    Tendem a recorrer a comportamentos suicidas e automutilao para evitar o

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    abandono (3).

    Quadro 1 - Critrios diagnsticos do DSM-IV-TR para o Transtorno da Personalidade Borderline

    Um padro global de instabilidade dos relacionamentos interpessoais, de autoimagem, dos afetos e acentuada impulsividade, que se manifesta no incio da idade adulta e est presente em uma variedade de contextos, indicado por, no mnimo, cinco dos seguintes critrios:

    1) Esforos frenticos no sentido de evitar um abandono real ou imaginrio. Nota: no incluir comportamento suicida ou automutilante, coberto no critrio 5;

    2) Um padro de relacionamentos interpessoais instveis e intensos, caracterizado pela alternncia entre extremos de idealizao e desvalorizao;

    3) Perturbao da identidade: instabilidade acentuada e resistente da autoimagem ou do sentimento do self;

    4) Impulsividade em pelo menos duas reas potencialmente prejudiciais prpria pessoa (por ex., gastos financeiros, sexo, abuso de substncias, direo imprudente, comer compulsivo). Nota: No incluir comportamento suicida ou automutilante, coberto no Critrio 5;

    5) Recorrncia de comportamento, gestos ou ameaas suicidas ou de comportamento automutilante;

    6) Instabilidade afetiva devido a uma acentuada reatividade do humor (por ex., episdios de intensa disforia, irritabilidade ou ansiedade, geralmente durando algumas horas e apenas raramente mais de alguns dias);

    7) Sentimentos crnicos de vazio;

    8) Raiva inadequada e intensa ou dificuldade em controlar a raiva (por ex., demonstraes frequentes de irritao, raiva constante, lutas corporais recorrentes);

    9) Ideao paranide transitria e relacionada ao estresse ou a graves sintomas dissociativos.

    Fonte: Adaptado do Manual Diagnstico e Estatstico de Transtornos Mentais (DSM-IV-TR) (3)

    .

    Pessoas com TPB so muito instveis e intensas em seus relacionamentos

    interpessoais. Costumam idealizar as pessoas j no primeiro ou segundo encontro,

    exigindo que passem muito tempo juntos ou expondo detalhes ntimos de sua vida

    pessoal a desconhecidos. Porm pode haver uma rpida passagem da idealizao

    para a depreciao, caso julguem que a pessoa no est se doando o suficiente (3).

    Essas caractersticas e a evoluo do quadro clnico torna o TPB similar aos

    transtornos de humor, o que levaram alguns pesquisadores a sugerirem que o TPB

    pode ser um subtipo dos transtornos de humor. Entretanto, o grupo que desenvolveu

    a DSM-IV, enfatiza que no caso do TPB, a labilidade emocional decorrente da

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    prpria impulsividade presente nos portadores desse transtorno. No caso dos

    transtornos de humor, essa labilidade emocional autnoma. Porm pacientes com

    depresso maior e que apresentam tambm o quadro de TPB possuem maiores

    chances de terem uma recada do quadro depressivo (3).

    O tratamento envolve duas abordagens: A psicoterapia e a farmacoterapia. O

    tratamento de escolha dos pacientes com TPB tem sido a psicoterapia, porm ela

    muito difcil, tanto para o paciente como para o terapeuta. Resultados melhores so

    obtidos quando a psicoterapia associada farmacoterapia (5).

    A farmacoterapia muito til para melhorar pontos especficos da

    personalidade do paciente. So utilizados antipsicticos, para controle da raiva,

    hostilidade e episdios psicticos. Em alguns indivduos os inibidores da MAO tm

    sido usados para o controle da impulsividade. Benzodiazepnicos auxiliam na

    ansiedade e depresso. Estabilizadores de humor (ltio e anticonvulsivantes) so

    utilizados para melhora da instabilidade afetiva e controle da agressividade.

    Inibidores seletivos da recaptao da serotonina podem ser teis tambm (5).

    A agressividade impulsiva uma das caractersticas mais marcantes do TPB,

    por esse motivo, uma das opes utilizadas para atenuar esse sintoma o uso de

    anticonvulsivantes, como a carbamazepina e a oxcarbazepina, em funo do seu

    potencial sobre as alteraes de humor. Mesmo no possuindo um foco

    farmacodinmico especfico, a segurana do uso desses medicamentos possibilita

    sua experimentao nesses casos (4).

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    OBJETIVO

    O presente artigo tem como objetivo relacionar, atravs de reviso

    bibliogrfica, os sistemas envolvidos no desenvolvimento da agressividade

    impulsiva; descrever a estrutura qumica, mecanismos de ao, farmacocintica e

    farmacodinmica da carbamazepina e da oxcarbazepina; alm de analisar a

    viabilidade do uso desses dois frmacos no tratamento de apoio da agressividade

    impulsiva em indivduos com Transtorno de Personalidade Borderline.

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    DESENVOLVIMENTO

    1 Tipos de Agressividade

    Existem dois tipos de agressividade: a premeditada e a impulsiva.

    Agressividade premeditada representa um comportamento planejado, que no

    tipicamente associado com a frustrao ou resposta ameaa imediata. Tambm

    conhecida como ameaa pr-ativa (6; 7; 8).

    A agressividade impulsiva associada a emoes negativas, como raiva ou

    medo. Ela normalmente representa a agresso reativa, afetiva, hostil. Torna-se

    patolgica quando as respostas agressivas so exageradas em relao

    provocao emocional que ocorre. Pode ser concebida como um baixo limiar a

    estmulos externos agressivos, sem que haja reflexo adequada ou julgamento das

    consequncias do comportamento agressivo (7; 9).

    2 Neurobiologia da agresso

    Em alguns indivduos, atos repetitivos de agresso so baseados em uma

    suscetibilidade neurobiolgica que est comeando a ser elucidada. O fracasso do

    sistema de controle top-down (modulao ou supresso do comportamento

    agressivo, desencadeado pela raiva, por exemplo) no crtex pr-frontal, com

    consequncias negativas, parece desempenhar um papel importante. Uma

    desarmonia entre as influncias reguladoras do crtex pr-frontal e a

    hiperresponsividade da amgdala e de outras regies lmbicas implicadas na

    avaliao afetiva podem estar envolvidas (6).

    Ocorre um desequilbrio entre o top-down no crtex rbito-frontal e o giro do

    cngulo anterior, regies que esto envolvidas na calibrao do comportamento a

    estmulos sociais e s expectativas de recompensa e castigo (7); e o excessivo

    buttom-up (aumento da atividade), desencadeado ou sinalizado por regies

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    lmbicas, como a amgdala. Esse desequilbrio entre as unidades lmbicas e o

    mecanismo de controle do crtex pr-frontal podem ser importantes para uma srie

    de patologias psiquitricas, dentre elas, o TPB (6).

    O processamento dos estmulos em relao ao condicionamento emocional

    codificado na amgdala e em outras regies lmbicas, proporcionando uma ao

    agressiva, enquanto o crtex rbito-frontal e o giro do cngulo anterior proporcionam

    o top-down, modulando essas respostas emocionais e comportamentais,

    reprimindo o comportamento negativo (6).

    Um estudo feito com vinte e quatro pacientes com transtorno explosivo

    intermitente (IED, na sigla em ingls) e vinte e trs indivduos controle, em que foram

    aplicados trs testes sensveis para leses do crtex pr-frontal, sugere que a

    agressividade pode estar relacionada com leses corticais pr-frontais (10). Em outro

    estudo, pacientes com IED foram expostos a fotografias com diferentes tipos de

    expresses faciais, e analisaram-se as imagens funcionais de ressonncia

    magntica (fMRI, na sigla em ingls) das regies cerebrais ativadas (11).

    Ambos os estudos sugerem uma hiperexcitabilidade da amgdala e reduo

    da atividade do crtex pr-frontal, com diminuio da massa cinzenta, nos indivduos

    mais sensveis aos rostos com expresses irritadas (10; 11).

    Nveis insuficientes de serotonina (5-HT), excesso de estimulao das

    catecolaminas e desequilbrios subcorticais do cido Gama-aminobutrico (GABA) e

    do glutamato, alm de patologias em sistemas de neuropeptdeos envolvidos na

    regulao do comportamento, podem contribuir para o aumento da agressividade (6).

    As intervenes farmacolgicas, como estabilizadores de humor, que

    amortecem a irritabilidade lmbica, ou inibidores seletivos da recaptao da

    serotonina (ISRS), que aumentam o controle do top-down, mostraram-se muito

    teis nesses casos (6).

    2.1 Crtex pr-frontal

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    O controle do top-down pelo crtex pr-frontal tem um papel fundamental no

    comportamento agressivo. Leses corticais pr-frontais resultam em um

    comportamento agressivo desinibido (6).

    Em 2005, foi realizado um estudo com cinquenta pacientes com TPB e

    cinquenta indivduos controle. Foram examinadas a regio cingulada anterior e a

    posterior, a amgdala e o hipocampo atravs da fMRI e da tomografia por emisso

    de psitrons (PET), e verificou-se que h uma reduo do tamanho da massa

    cinzenta nos pacientes com TPB, levando a uma diminuio da atividade e da

    resposta farmacolgica. (12)

    2.2 Sistema Lmbico

    Outra anormalidade crtica implicada na agresso impulsiva a hiperatividade

    do sistema lmbico, em resposta a estmulos negativos ou provocativos,

    principalmente a raiva (6).

    Estudos utilizando de fMRI mostram que h uma hiper-reatividade do sistema

    lmbico, em indivduos com TPB, quando expostos a fotografias de pessoas com

    expresses negativas, em comparao com o grupo controle (13; 14; 15).

    A hiperatividade do sistema lmbico pode estar relacionada ao efeito kindling,

    ou seja, quando o crtex lmbico, em especial, a amgdala, submetido

    estimulao eltrica de baixa intensidade, repetidas vezes, at que ocorra uma

    sensibilizao a futuros estmulos. Esse fenmeno pode estar relacionado

    agressividade impulsiva (6; 16; 17).

    3 Neuroqumica da agresso

    3.1 Catecolaminas

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    A dopamina e a norepinefrina podem aumentar a probabilidade de

    heteroagresso. Pacientes com transtornos de personalidade, em que h agresso

    externa dirigida, apresentam embotamento da atividade serotoninrgica,

    acompanhado de aumento da atividade noradrenrgica (6).

    A norepinefrina modula a excitao normal e o comportamento com o meio

    ambiente (6). Estmulos podem aumentar a atividade no lcus ceruleus, aumentando

    a liberao da norepinefrina, o que est associado agresso irritvel em modelos

    primatas (18).

    No sistema nervoso central (SNC), os neurnios que sintetizam a

    norepinefrina, esto localizados principalmente na regio do lcus ceruleus (19; 20)

    . O

    lcus ceruleus inerva regies como o hipocampo, amgdala e o neocrtex temporal,

    que so neuroestruturas ligadas ao processo associativo. Em situaes de estresse,

    h um aumento importante dos nveis de norepinefrina na fenda sinptica (21).

    A clonidina (agonista -2 adrenrgico) tem sido relacionada com a diminuio

    da irritabilidade, o que sugere que a sensibilidade aumentada de receptores

    noradrenrgicos pode estar relacionada com a hiper-reatividade para o meio

    ambiente, o que indiretamente pode aumentar a probabilidade de agresso (22).

    A sensibilidade do sistema da norepinefrina pode ser avaliada in vivo, pela

    medio da resposta do hormnio de crescimento (GH) clonidina. A clonidina

    estimula a liberao do GH pelo eixo hipotalmico-pituitria. Atravs da medio do

    pico dos nveis de GH aps o uso da clonidina, pode-se verificar a capacidade de

    resposta ps-sinptica atividade -2. Um aumento da resposta do GH clonidina

    foi verificado em indivduos que so altamente reativos ao seu ambiente, um recurso

    que pode contribuir para a agressividade e instabilidade afetiva, estando

    correlacionada diretamente com a irritabilidade em pacientes com TPB. Assim, a

    reatividade elevada para o ambiente, e a irritabilidade, so relacionadas com a

    desregulao noradrenrgica (18).

    A dopamina envolvida no incio e na execuo de comportamentos

    agressivos. Verificou-se que h uma diminuio de receptores D1 em pacientes

    deprimidos com ataques de raiva, o que sugere que a dopamina tambm tenha um

    papel importante na agressividade (6).

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    3.2 GABA

    O GABA um neurotransmissor amplamente envolvido com as atividades

    inibitrias. Serve como um freio, amortecendo variaes rpidas de emoes. A

    diminuio da atividade do sistema gabaminrgico pode resultar em instabilidade

    afetiva. A amgdala, que ativada durante a induo de fortes emoes, tem altos

    nveis de receptores GABAA. O sistema gabaminrgico tambm interage como o

    sistema noradrenrgico, sugerindo que um desequilbrio na razo entre a atividade

    noradrenrgica e a atividade gabaminrgica pode contribuir para a instabilidade

    afetiva (18).

    Desequilbrios nas atividades do sistema gabaminrgico podem contribuir

    para a hiperatividade de regies lmbicas. Moduladores dos receptores de GABAA

    podem aumentar a agressividade. Assim, as atividades reduzidas nos receptores de

    GABA podem contribuir para a agresso (23).

    4 Farmacoterapia do comportamento agressivo e impulsivo

    Como o comportamento agressivo associado a diversos transtornos, mas

    apresentam os mesmos aspectos neurobiolgicos e neuroqumicos, a abordagem

    farmacolgica utilizada age nos alvos-chaves, tais como os neurotransmissores,

    crtex pr-frontal e sistema lmbico (24).

    Os frmacos que comprovaram eficcia no controle do comportamento

    agressivo impulsivo so os estabilizadores de humor (ltio, carbamazepina,

    oxcarbazepina, topiramato e valproato), os antipsicticos (clozapina, olanzapina,

    quetiapina, entre outros); os bloqueadores -adrenrgicos, a buspirona (agonista

    parcial do receptor 5-HT1A), mega-3 e os antiandrgenos (24).

    Neste artigo sero abordados os estabilizadores de humor, mais

    especificamente, a carbamazepina e a oxcarbazepina.

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    4.1 O uso de anticonvulsivantes como estabilizadores de humor

    O uso de anticonvulsivantes clssicos na psiquiatria ganhou uma especial

    ateno nas ltimas dcadas, graas observao de sintomas psiquitricos em

    pacientes com epilepsia temporal. A partir da dcada de 1960, o uso da

    carbamazepina se difundiu nos hospitais psiquitricos no Japo, produzindo os

    primeiros relatos sobre sua eficcia no tratamento do transtorno bipolar, e teorias

    para explicar a eficcia de anticonvulsivantes, como o modelo de kindling (25; 26).

    O fenmeno kindling e as evidncias de benefcios psicotrpicos da

    carbamazepina em pacientes com epilepsia motivou a pesquisa de outros

    anticonvulsivantes, mas somente alguns mostraram eficcia em bipolares, como a

    carbamazepina (25; 26), e, futuramente seu ceto-anlogo, a oxcarbazepina (26).

    4.2 Carbamazepina

    4.2.1 Estrutura qumica

    A carbamazepina um derivado tricclico do iminostibeno (27), classificado

    como derivado dibenzazepnico (figura 1), pertencente s classes teraputicas dos

    antiepilpticos, neurotrpicos e agentes psicotrpicos (28).

    A frmula qumica da carbamazepina C15H12N2O. denominada, segundo a

    IUPAC, 5H-Dibenz[b,f]azepina-5-carboxamida (29). Possui grande semelhana

    estrutural com os frmacos psicoativos: imipramina, clorpromazina e maprotilina (27).

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    Figura 1 Frmula estrutural da carbamazepina.

    Fonte: Farmacopia Brasileira, 5 ed. (29).

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    4.2.2 Farmacodinmica

    O mecanismo de ao da carbamazepina foi elucidado apenas parcialmente.

    A carbamazepina um bloqueador dos canais de sdio regulados por voltagem. Age

    estabilizando a membrana do nervo hiperexcitado e inibe descargas neuronais

    repetitivas (27; 28), como as descargas de baixa intensidade presentes no efeito

    kindling (17). O principal mecanismo de ao a preveno de estmulos repetitivos

    dos potenciais de ao sdio-dependentes na despolarizao dos neurnios atravs

    do bloqueio do canal de sdio voltagem-dependente (28), porm, em um estudo,

    verificou-se que carbamazepina pouco eficaz na preveno do efeito kindling, mas

    apresenta grande eficcia no controle destes episdios (17).

    A carbamazepina pode potencializar a ao gabaminrgica, por meio da

    inibio da gerao dos potenciais de ao. O GABA inibe diversos sistemas de

    neurotransmisso, causando depresso do SNC. A reduo da liberao do

    glutamato e a estabilizao das membranas neuronais contribuem para os efeitos

    antiepilpticos. A literatura sugere que a carbamazepina atua tambm em nvel pr-

    sinptico, reduzindo a neurotransmisso sinptica. Por outro lado, o efeito

    depressivo no turnover da dopamina e da norepinefrina poderia ser responsvel

    pelas propriedades antimanacas (27; 28).

    4.2.3 Farmacocintica

    4.2.3.1 Absoro

    Aps a ingesto oral, a carbamazepina quase completamente absorvida,

    porm de modo lento e errtico. O pico plasmtico mdio da substncia inalterada

    ocorre em at 12 horas, aps a ingesto de uma dose nica de um comprimido, e

    em at 2 horas, para a suspenso oral. No h diferenas clinicamente relevantes,

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    entre as formas farmacuticas, com relao quantidade de substncia ativa

    absorvida. Aps uma dose nica de um comprimido de carbamazepina de 400 mg

    por via oral, o pico mdio da concentrao do frmaco inalterado de

    aproximadamente 4,5 mcg/mL (27; 28).

    As concentraes plasmticas de steady-state (estado de equilbrio) da

    carbamazepina dependem da autoinduo individual e da heteroinduo por outros

    frmacos que indutores enzimticos, podendo ser atingidas em cerca de uma ou

    duas semanas. Tambm interferem no steady-state, condies pr-tratamento,

    posologia e durao do tratamento (28).

    As concentraes do metablito farmacologicamente ativo (carbamazepina-

    10,11-epxido) foram cerca de 30% de carbamazepina. A ingesto de alimentos no

    influencia significativamente a taxa e na extenso da absoro (28).

    4.2.3.2 Distribuio

    A droga distribui-se rapidamente pelos tecidos (30) aps ser completamente

    absorvida. O volume aparente de distribuio varia entre 0,8 e 1,9 L/kg. A

    carbamazepina atravessa a barreira placentria. Est ligada s protenas sricas em

    70% a 80%. A concentrao de substncia inalterada no lquido cerebroespinhal e

    na saliva reflete a parte da ligao no-protica no plasma (20-30%). As

    concentraes da carbamazepina encontradas no leite materno foram equivalentes

    a 25-60% dos nveis plasmticos correspondentes (28). A carbamazepina-10,11-

    epxido est 50% ligada s protenas plasmticas, e pode estar sujeita circulao

    portal (27).

    4.2.3.3 Biotransformao

    A carbamazepina metabolizada no fgado pelo citocromo P450, onde a

    biotransformao via epxido a mais importante, formando a carbamazepina-

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    10,11-epxido, que farmacologicamente to ativa quanto carbamazepina. Sua

    meia-vida de 18 a 55 horas. Seus principais metablitos so o glicuronido e o

    derivado 10,11-trans-diol (27; 28; 30). A carbamazepina auto-indutora enzimtica, ou

    seja, capaz de induzir seu prprio metabolismo, e assim, sua meia vida pode cair

    de 5 a 26 horas (30).

    A principal isoforma responsvel pela metabolizao da carbamazepina em

    10,11-epxido o CYP 3A4 (figura 2). O epxido hidroxilase microssomal humano

    foi identificado como a enzima responsvel pela formao do derivado 10,11-trans-

    diol, a partir da 10,11-epxido (figura 3) (27; 28). Aps uma nica dose oral de

    carbamazepina, cerca de 30% da substncia aparece na urina como produto final da

    via do epxido. Existem outras vias de biotransformao importantes para a

    carbamazepina, como por exemplo, N-glicuronido da carbamazepina, que

    produzido pelo UGT2B7 (28).

    Figura 2: Reao de biotransformao pela via de epoxidao da carbamazepina (CBZ).

    Fonte: Arajo, DS, Silva, HRR, Freitas, RM (27)

    .

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    Figura 3: Principais vias metablicas de biotransformao da carbamazepina (CBZ). Fonte: Arajo, DS, Silva, HRR, Freitas, RM

    (27).

    4.2.3.4 Eliminao

    A meia-vida mdia de eliminao da carbamazepina na forma inalterada de

    aproximadamente 36 horas aps uma nica dose oral, sendo que aps a

    administrao oral repetidas vezes, a mdia de 16 a 24 horas, devido ao sistema

    de autoinduo da monoxigenase heptica, e dependente da durao do

    tratamento. Em pacientes com o uso concomitante de outros frmacos indutores

    hepticos, pode-se encontrar uma meia vida de 9 a 10 horas (28)

    .

    A meia-vida de eliminao do 10,11-epxido no plasma cerca de 6 horas.

    Aps a administrao nica de uma dose de 400 mg de carbamazepina, 28% so

    excretadas nas fezes e 72% na urina. Na urina, 2% da dose recuperada inalterada

    e cerca de 1% como 10,11-epxido (28).

    4.2.4 Indicaes

    Oficialmente, a carbamazepina considerada um agente antiepilptico,

    antimanaco, com aes psicotrpicas e um neurotrpico (Quadro 2) (28). Porm,

    foram realizados diversos estudos, para comprovar a eficcia da carbamazepina no

    controle da agressividade impulsiva, presente principalmente em pacientes com

    TPB. Foi feito um levantamento de estudos da aplicao de diversos frmacos no

    controle da agressividade no adulto (31).

    Utilizaram-se como critrio, estudos controlados, exceto situaes de

    emergncia, de preferncia os duplo-cegos controlados por placebo. Procurou-se

    evitar estudos cruzados. No compilado de estudos, alguns deles mostravam a

    superioridade da carbamazepina quando comparada com o placebo ou outros

    agentes (31).

    Baseados nos estudos de eficcia da carbamazepina no controle da

    agressividade impulsiva aumentam cada vez mais a prescries dessa droga para

    indivduos com transtorno de personalidade borderline (31).

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    Quadro 2 Indicaes oficiais e off-label (no oficiais) da carbamazepina

    INDICAES OFICIAIS

    Epilepsia Crises parciais complexas ou simples (com ou sem perda da conscincia), com ou sem generalizao secundria.

    Crises tnico-clnicas generalizadas. Formas mistas dessas crises.

    No eficaz em crises de ausncia e em crises mioclnicas.

    Pode ser usado como monoterapia ou em terapia combinada.

    Tratamento da Mania Aguda e manuteno do Transtorno Bipolar

    Sndrome da abstinncia alcolica

    Neuralgia idioptica do trigmeo e neuralgia trigeminal em decorrncia de esclerose mltipla.

    Neuralgia glossofarngea idioptica.

    Neuropatia diabtica dolorosa

    Diabetes inspida central. Poliria e polidipsia de origem neuro-hormonal.

    INDICAO OFF-LABEL

    Controle da agressividade impulsiva

    Exploses de raiva.

    Fonte: Adaptado da Bula do TEGRETOL (carbamazepina) (28) e de estudos de eficcia da

    carbamazepina usada no controle da agressividade (31).

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    4.3 Oxcarbazepina

    4.3.1 Estrutura qumica

    A oxcarbazepina um anlogo cetnico da carbamazepina. Tem um ncleo

    dibenzapina, porm estruturalmente diferente da carbamazepina nas posies 10

    e 11, conforme figura 3 (37).

    Figura 3 Frmula estrutural da oxcarbazepina. Fonte: Monografia do Oleptal (37).

    4.3.2 Farmacodinmica

    A oxcarbazepina um pr-frmaco. A atividade farmacolgica exercida pelo

    seu metablito ativo, o 10-monohidroxi derivado (MHD). O mecanismo de ao no

    foi totalmente elucidado, porm estudos sugerem que a oxcarbazepina causa um

    bloqueio dos canais de sdio regulados por voltagem, resultando na estabilizao

    das membranas neurais hiperexcitadas, inibindo as descargas neuronais repetitivas

    e diminuindo a propagao dos impulsos sinpticos (37).

    Adicionalmente, ocorre o aumento na condutncia do potssio e modulao

    de canais de clcio voltagem-dependente, contribuindo para o efeito

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    anticonvulsivante (37). No foram encontradas interaes significantes com

    neurotransmissores ou stios receptores moduladores (38).

    A oxcarbazepina to eficaz quanto carbamazepina, porm com um melhor

    perfil de tolerabilidade, porque, diferentemente da carbamazepina, no

    metabolizado para um derivado epxido, responsvel por algumas das reaes

    adversas da carbamazepina (37).

    4.3.3 Farmacocintica

    Aps a administrao oral, a oxcarbazepina completamente absorvida e

    extensivamente metabolizada em MHD. A alimentao no tem nenhum efeito na

    taxa e extenso da absoro. 40% de MHD se ligam a protenas sricas. A

    oxcarbazepina rapidamente biotransformada por enzimas citosslicas hepticas

    em MHD, o qual responsvel pelo efeito farmacolgico da oxcarbazepina.

    Apresenta induo enzimtica dos CYP3A4 e CYP3A5. eliminada do organismo

    principalmente sob a forma de metablitos, que so principalmente excretados pelos

    rins (38).

    4.3.4 Indicaes

    Oficialmente a oxcarbazepina um antiepilptico (38). Porm, cada vez mais

    vem sendo prescrita no controle da agressividade impulsiva, devido sua

    propriedade de inibio das descargas eltricas repetidas no sistema lmbico. Em

    um estudo duplo-cego controlado por placebo, verificou-se a superioridade da

    oxcarbazepina no tratamento da agressividade impulsiva, quando comparada ao

    placebo (39). Em outro estudo, a oxcarbazepina mostrou-se eficaz no controle da

    agressividade, porm houve hiponatremia em alguns pacientes (40).

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    CONCLUSO

    O Transtorno de Personalidade Borderline considerado uma desordem na

    formao da personalidade da pessoa, que implica em um grande sofrimento para a

    mesma, principalmente por o indivduo no ter adquirido plena capacidade de

    absorver frustraes e lidar com episdios que desencadeiem o sofrimento

    emocional.

    Em muitos desses indivduos, a agressividade impulsiva se faz presente e um

    dos grandes desafios da farmacoterapia proporcionar a essas pessoas um alvio

    nos sintomas, principalmente em se tratando da agressividade impulsiva.

    No h disponvel um frmaco indicado exclusivamente para o Transtorno de

    Personalidade Borderline, o que existe so medicamentos que causam uma

    diminuio dos sintomas apresentados por esses indivduos.

    importante que haja uma sincronizao da farmacoterapia com a

    psicoterapia nesses casos, pois os medicamentos no so capazes de retirar 100%

    dos sintomas, sendo a psicoterapia extremamente necessria para o

    desenvolvimento de aes que visem em longo prazo, amenizar o sofrimento dos

    portadores do transtorno de personalidade borderline.

    O uso de anticonvulsivantes agindo como estabilizador de humor ou no

    tratamento da agressividade impulsiva largamente aplicado, porm ainda no h

    estudos suficientes sobre a real eficcia desses.

    Os estudos realizados recentemente comeam a identificar o foco da

    agressividade impulsiva (sistema lmbico e crtex pr-frontal) e o mecanismo do

    processo agressivo. Atravs desses estudos possvel utilizar os frmacos

    disponveis de uma forma mais racional e menos emprica.

    A eficcia da carbamazepina e da oxcarbazepina foi evidenciada em diversos

    estudos, mas de forma no to bem controlada. So necessrios mais estudos

    duplo-cegos controlados por placebo, para poder afirmar que esses dois frmacos

    so de fato eficazes, apresentando uma segurana em suas aplicaes.

    Mas a ao na inibio do kindling e controle dos nveis de catecolaminas

    presentes na carbamazepina e da oxcarbazepina, e a relativa segurana e eficcia

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    apresentadas nos estudos realizados, possibilitam o emprego dessas duas drogas

    como apoio no tratamento da agressividade impulsiva presente no transtorno de

    personalidade borderline.

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