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Universidade Federal de Pernambuco NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação
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O USO DO LIVRO DIDÁTICO DIGITAL EM FRANCÊS
NA UFPE
Joice Armani Gallii (UFPE) Simone Pires Barbosa Aubinii (UFPE)
Resumo: A partir da concepção preconizada pela abordagem contextualizada ou sociodidática sugerida pelo Guide pour la recherche en didactique des langues et des cultures (2011), de Philippe Blanchet e Patrick Chardenet, iniciou-se o uso do manual didático digital Latitudes/Didier. O presente artigo pressupõe que o emprego das TICE não seja tão somente a substituição de materiais outrora analógicos em sua mera transferência para o universo virtual. Dessa forma, abordaremos como o livro digital Latitudes 1 pode ser utilizado para a formação de futuros professores de
FLE tanto nas aulas de Língua Francesa quanto nas aulas de Metodologia de Ensino de Francês. Palavras-chave: FLE, TICE, metodologia. Résumé: À partir de l’approche contextualisée ou sociodidactique présente dans l’ouvrage Guide pour la recherche en didactique des langues et des cultures (2011), de Philippe Blanchet et Patrick Chardenet nous avons exploré les potentialités du manuel numérique Latitudes/Didier. Le présent article présuppose que son emploi ne se résume pas à un simple transfert d´un support matériel à un support virtuel. A partir de là nous verrons comment le livre numérique Latitudes 1 peut être utilisé dans la formation des futurs professeurs de FLE tant dans les cours de Langue Française que de ceux de Didactique de l´Enseignement de Français. Palavras-chave: FLE, TICE, méthodologie.
Introdução
Discorrer sobre o ensino de línguas estrangeiras (LE) significa pensar a
respeito de concepções de mundo culturais, antropológicas, étnicas e filosóficas.
Tais concepções trazem à tona representações estabelecidas a cerca do que
entendemos ser o processo de ensino-aprendizagem de uma LE. Conceitualmente, o
ensino de Francês Língua Estrangeira (FLE) no contexto nacional apresenta um
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quadro de inúmeras representações sobre as quais seria impossível desenvolver em
um único artigo. Assim, a presente reflexão vai ao encontro de pensar o FLE sob a
complementaridade do uso das novas tecnologias para o ensino de LE no Brasil. Se
conceitualmente há uma série de representações, estruturalmente pode parecer
remota a ideia de ensinar esta ou qualquer outra LE com recursos contemporâneos
das TICE (Tecnologias de Informação, Comunicação e Ensino) – tais como as
plataformas, por exemplo, Moodle, o TBI (Tableau Blanc Interactif = Quadro
Digital), o TNI (Tableau Numérique Interactif = Quadro Digital Interativo), os
tablets e o objeto do presente artigo, o livro digital em FLE.
Dessa forma, apresentaremos inicialmente algumas representações de
professores e alunos sobre o emprego do livro digital, também conhecido como
manual ou mais ordinariamente método. Em uma etapa posterior, pensamos ser
adequado proceder à apresentação do livro em questão: Latitudes, da Editora
Didier. Tal recurso não prescinde do conhecimento na versão impressa, porém,
pensamos ser importante conhecer o essencial do projeto pedagógico da coleção
através do formato papel para, somente então, adentrarmos no livro em formato
digital. Finalizaremos com uma análise deste material voltado para a formação de
professores tanto nas aulas de língua quanto nas de metodologia, configurando as
considerações finais do presente artigo.
Representações das TICE na formação docente em FLE
Ainda que as tecnologias estejam sempre presentes no ensino das LE (rádio,
DVD, laboratório de língua, data show, etc.), hoje elas são bem mais complexas e
oferecem um leque de novas possibilidades antes inexistentes. No entanto, sem a
mediação pedagógica dos professores, as TICE apresentam pouco interesse para um
estudante de LE. Dessa forma, sua integração nas práticas pedagógicas está
relacionada à formação dos futuros professores de língua, visto que são eles que
determinarão quais os dispositivos a serem utilizados e de que maneira.
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Assim, nas disciplinas de Metodologia de Ensino (como as de Francês V) e nas
Práticas de Ensino I e II, na UFPE, abordam-se as novas tecnologias no ensino de LE
e as construções de cenários pedagógicos a partir desse material. Elas se baseiam
no objetivo fundamental das pesquisas em didática de línguas que é o de
compreender os desafios do ensino/aprendizagem de uma LE no que tange ao
emprego das TICE em sala de aula, ou seja, como ocorrem seus processos, suas
condições de utilização e suas representações. Gostaríamos agora de discorrer
sobre as representações das TICE relacionadas aos professores e alunos, ponto
nuclear para um emprego eficaz do livro digital, que será abordado
posteriormente.
Nessas disciplinas, acreditamos ser fundamental, para que o emprego das
TICE seja eficiente, que se examinem alguns aspectos sobre a atitude do professor
em relação a sua profissão: Como ele vê a integração das TICE na aprendizagem de
uma LE? Ela “faz sentido”? Qual seria o papel do docente no seio da instituição
onde trabalha? Como esta incentiva e investe nas tecnologias para o ensino de LE?
Elas “fazem tudo” e o professor apenas aperta o botão?
De fato, os professores devem enfrentar, hoje em dia, uma pressão social e
institucional que vê a tecnologia como sendo uma prioridade, uma técnica
indispensável, para o ensino de LE. Sentem-se no dever, então, de integrar essas
técnicas em suas práticas pedagógicas. Todavia, a realidade de muitas instituições
de ensino fundamental, médio e até superior, vai às vezes de encontro ao que é
ensinado em uma formação de professores. Todos sabemos como é difícil, algumas
vezes impossível, encontrar salas equipadas adequadamente para a utilização de
um TBI, de um TNI, ou de um livro digital. “Experimentar” as tecnologias ainda é
algo limitado, razão pela qual sempre aconselhamos nossos alunos a terem um
“plano B” quando desejam elaborar uma aula utilizando algum recurso tecnológico.
Acreditamos que os professores, no fundo, não sejam conservadores, mas
antes desejosos de renovar suas práticas. No entanto, o impacto das TICE é visto
como intimidante e pode provocar resistências. Uma delas, além da falta de
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estrutra das salas de aula, seria a preocupação, a ansiedade, justamente em
relação ao bom funcionamento do material e a falta de suporte técnico quando
surge algum problema.
As dificuldades fazem com que os recursos tecnológicos passem a ser vistos
como um “corpo estrangeiro” que suscitaria um certo número de medos antes de
entrar nos hábitos pedagógicos: o medo de perder a credibilidade, de ter sua
competêcia julgada pelos alunos caso o material não funcione. Essas são algumas
razões que freiam o entusiasmo dos professores no recurso às novas tecnologias
para a aprendizagem, que são, muitas vezes, percebidas como um elemento
“estrangeiro”.
Segundo Guichon (2012), “o elemento estrangeiro, com o tempo, poderá se
agregar harmoniosamente ao sistema humano que o acolheu aumentando assim a
qualidade inicial do mesmo” (p.15). Se esses medos puderem ser ultrapassados com
êxito, as TICE se tornariam uma ferramenta importante para o ensino de uma LE.
Porém, para isso, elas precisariam fazer sentido.
Com efeito, alguns professores dizem “se minha prática é eficiente sem as
TICE, por que complicar a vida? Por que utilizar um TBI ou um livro digital se uma
solução mais simples está disponível”? Esses questionamentos revelam o quanto a
integração das TICE está relacionada à questão do sentido. O professor deve estar
convencido de que as tecnologias trazem um acréscimo fundamental a sua prática
de ensino em relação ao que ele propunha anteriormente, que ela representa um
ganho como, por exemplo, um trabalho mais aprofundado de apropriação da
língua.
Para Thierry Karsenti (2008), esse ganho está relacionado à importância das
TICE para o futuro dos alunos, visto que estão onipresentes no mundo do trabalho e
nas formações de um modo geral. Além disso, ele reafirma o impacto sobre a
motivação discente. Com efeito, acostumados a um mundo aonde a informação
chega cada vez mais rapidamente, os alunos podem acessar, por exemplo,
corretores de ortografia, definições e traduções de maneira veloz e eficaz. Para
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Karsenti, esse feedback rápido das tecnologias pode ter um grande efeito na
aprendizagem das LE melhorando a implicação, a concentração dos alunos e a
dinâmica das aulas. Isso é possível, segundo Guichon, pois as tecnologias
incentivam o espírito de descoberta através do acesso a documentos autênticos e
variados que facilitam as interações entre pares, o trabalho de grupo. Podemos,
então, afirmar que são esperadas pelos alunos. Eles apreciam o contato com a
imagem e com o movimento oferecidos pelo universo digital que quebra a
monotonia de certas atividades propostas em sala.
Assim, esses pesquisadores são unânimes quanto ao fato de que o tempo de
investimento de um professor para se apropriar de uma nova tecnologia
represente, à longo prazo, um ganho em eficiência pessoal e pedagógica.
Resumindo, para que a integração das TICE seja plenamente aceita, deve-se
encorajar os futuros professores de FLE a repensarem suas práticas pedagógicas
diminuindo a lacuna entre um discurso sobre a prática e a prática efetiva. Por essa
razão propõe-se, durante as formações de professores em FLE, aulas baseadas, por
exemplo, no livro digital, o que abordaremos a seguir.
Abordagem Sociodidática e Manual Digital: du tableau à la tablette
O trocadilho possibilitado em língua francesa perde sua sonoridade quando
traduzido para o português, mas guarda seu sentido, já que du tableau à la
tablette significa dizer do quadro ao tablet, situação prevista para os próximos
anos pelo governo brasileiro, conforme o I SIMPÓSIO SOBRE O ENSINO NA ÁREA DE
LINGUAGENS, evento promovido pelo INEP, em Brasília, no mês de novembro de
2011 e no qual a UFPE colaborou.
Apesar de considerarmos o recurso tecnológico uma ferramenta ainda muito
distante da grande maioria dos estudantes, trata-se de uma nova perspectiva para
toda comunidade escolar deparar-se com este novo conceito de ensino. Ainda que
as LE sejam precursoras no uso de tecnologias, e daí serem nomeadas hoje
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nouvelles technologies, diferentemente do mero uso, demandam atualmente o
emprego de uma forma diferente de ensinar. Assim, é preciso compreender o
funcionamento de um livro digital, muito antes de saber somente manuseá-lo.
Segundo a obra Guide por la recherche en didactique des langues et des
cultures (2011), organizada por Philippe Blanchet e Patrick Chardenet, toda e
qualquer intervenção didático-pedagógica demanda não somente a apreensão do
seu contexto de atuação, bem como a efetiva compreensão do horizonte de
expectativa criado pelo público em termos de aprendizagem.
Para o trabalho de FLE nos grupos de língua do curso de Letras Habilitação
Francês, partimos de um pressuposto comum às comunidades plurilíngues - o ensino
e aprendizagem das LE é direito e dever de todo cidadão:
O viés plurilinguista deste trabalho busca, assim, a não fragmentação do saber pela hegemonia de uma ou outra língua. Na esfera pública, ensinar línguas não deve ser um exercício elitista do conhecimento, mas a possibilidade de viver dignamente como sujeitos de um mundo globalizado, através da educação pela linguagem. (GALLI, 2011. p. 20)
Dessa forma, o manuseio do manual Latitudes 1 é concebido por meio de uma
cultura de letramento digital em FLE, contextualizada na abordagem sociodidática
preconizada pelo Guide (2011). Pertinente comentar que a nomenclatura atual
para classificar um manual didático faz referência aos níveis estabelecidos pelo
Cadre Commun Européen de Référence pour les Langues - CCERL (2005). O
presente trabalho de análise diz respeito aos níveis A1 e A2 deste parâmetro
internacional para o ensino de LE.
Não sendo nosso objetivo aqui fazer a publicidade da obra, mas abordá-la
como fonte de análise das disciplinas relativas à aquisição da língua e à formação
dos professores, consideramos adequado apresentar o manual de francês Latitudes
1 (A1/A2). Este material é parte de um conjunto maior, trata-se da coleção,
Latitudes 1, 2 e 3 cuja proposta pedagógica sustenta-se na organização dos
conteúdos que visam a um processo de aquisição progressivo e estruturado,
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fornecendo aos estudantes meios linguageiros, passíveis de realização de tarefas.
Ressaltamos que o caráter de autonomia gerado pelo método possibilita a tomada
de consciência do estudante enquanto ator socialmente engajado no processo de
aquisição, corroborando o que foi afirmado por Karsenti (2008) no tocante à
implicação, concentração e dinâmica dos alunos nas aulas de LE.
A atitude fundamentada na observação, na reflexão, na sistematização,
seguida da produção objetiva implicar o aluno de forma consciente e responsável.
Além disso, parece-nos pertinente observar que o caráter intercultural é basilar
para o entendimento geral da aquisição de uma LE. Assim, a escolha dos temas e
dos documentos empregados pelo manual em questão oferece a descoberta de
realidades socioculturais francesas e francófonas, indo ao encontro da premissa da
diversidade inclusiva do letramento digital em LE1.
Centrando nossa discussão no livro Latitudes 1 (A1/A2) sua apresentação é
composta por quatro módulos, subdividido em 12 unidades. Cada módulo
corresponde a um tema geral, a exemplo do Module 1 – Parler de soi – (cerca de 30
horas), cuja apresentação realiza-se por meio de três unidades que giram em torno
da mesma temática: Unité 1: Salut! Unité 2: Enchantez! e Unité 3: J’adore!,
conforme o percurso pedagógico a seguir:
1 Para mais esclarecimentos sobre o uso do termo ‘letramento digital em FLE’ sugerimos a leitura do artigo Letramento digital no ensino à distância de língua francesa na UFPE: Identidades (in)visíveis, de Joice Armani Galli, no e-book do NEPLEV/SEPLEV 2012 (no prelo).
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Quadro 1: Parcours d’Apprentissage
Fonte: Latitudes 1 - www.didierfle.com
Objetivando discorrer sobre a expressão do sentimento, optamos por
desenvolver aqui o trabalho com a terceira unidade, a fim de exprimir os gostos.
Assim, o quadro a seguir parece-nos bastante ilustrativo do contrato de
aprendizagem a ser acolhido no ensino do FLE, seja a partir de um manual
tradicional, seja em sua versão digital.
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Quadro 2: Contrat d’Apprentissage
Fonte: Latitudes 1 - www.didierfle.com
A aquisição conjunta do saber e do “saber-fazer” parte dos quatro grandes
momentos já comentados (observação, reflexão, sistematização e, por fim,
produção), considerando-se o intercultural a quinta e não menos importante
competência do CCERL. Dessa forma, os objetivos de comunicação previstos são
atingidos à medida que os conteúdos linguísticos são adquiridos. Uma vez imbuído
deste “saber”, o estudante dispõe dos meios para realizar não meros exercícios,
mas tarefas linguístico-comunicativas.
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Quadro 3: Pédagogie de la découverte
Fonte: Latitudes 1 - www.didierfle.com
Da mesma forma, cabe registrar os elementos presentes nesta página do
manual. Além das quatro habilidades disponíveis nesta micro amostra do livro2: CO
no exercício Comment on dit? Seguido de sua possível EO, a ser orientada pelo
professor. A mesma sequência pode ser alcançada também na CE e EE, como
produções interculturais dos estudantes. O manual dispõe igualmente de tabelas
2 Empregaremos aqui a nomenclatura utilizada pelo CECRL que se vale das abreviaturas para sinalizar a competência objetivada, assim, CO – Compreensão Oral; EE – para Expressão/Produção Oral; CE - Compreensão Escrita e EE – Expressão/Produção Escrita.
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auxiliares, em ambas as apresentações do livro, nas quais as atividades de
descoberta e seu reemprego são seguidos de um quadro recapitulativo de cores. O
que temos aí é verde, pois remete para o uso da gramática e das conjugações; o
rosa é para a comunicação, aqui o exemplo poderia ser a solicitação para que fosse
feita a atribuição de gostos de uma pessoa. A cor amarela indica vocabulário e a
azul, fonética.
Após esta entrada pela obra, a realização de um dos exercícios torna-se mais
significativa para a aquisição e produção dos alunos.
Uma aula no livro digital
Considerando que o exercício de ensino do FLE com o livro digital deva
beneficiar-se de sua devida exploração, é possível reconhecer que um passeio
sobre seu site permite a complementaridade na realização de exercícios
autocorretivos: http://www.editionsdidier.com/article/latitudes-1-cd-rom-de-
ressources-numeriques/
Quando é abordado o conhecimento de uma nova ferramenta, não se trata tão
somente de um novo livro, mas trata-se de uma nova “usagem” se podemos pegar
de empréstimo do francês “l’usage” dos recursos. Assim, explorar o site a seguir
significa fazer com que os alunos se apropriem deste conhecimento:
http://www.editionsdidier.com/article/latitudes-niveau-1-pack-numerique-5-
licences-cd-rom-dvd/
Em seguida, propomos a efetivação do trabalho a fim de realizar amostragem
do desenvolvimento deste conteúdo, cujo público é “débutant” ou “faux
débutant”, conforme é possível visualizar na imagem a seguir:
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http://editionsdidier.com/TBI/Latitudes1/L1_TBI_U3.swf
O link sugere a realização de um exercício que tem por ponto de partida a
presente configuração gráfica. Fundamento no arcabouço teórico apresentado, a
efetivação da tarefa, prevista para uma aula de Língua Francesa I, pressupõe
primeiramente a análise da imagem, conforme sugerido na citação a seguir3:
Autrement dit, dans un monde bouleversé par l’innovation numérique, le visuel est au coeur, soit par les images, soit par les vidéos. Evidemment les images peuvent être des forts appels, qui séduisent les lecteurs, et puis
attirent l’attention des étudiants. La thèse qu’on soutient dans ce texte ce n’est pas l’évidence du rôle des images dans un monde globalisé. Il faut défendre le rôle pédagogique joué par les images. Plus qu’un support, une figure à illustrer, les images doivent aujourd’hui être
3 Dito de outra forma, em um mundo transformado pela inovação digital, o visual está no centro,
seja por imagens, seja por vídeos. Certamente as imagens podem representar um forte apelo, que seduz os leitores, chamando a atenção dos estudantes. A tese sustentada aqui não diz respeito à
obviedade do papel das imagens em um mundo globalizado. Mais que um suporte, uma figura para ilustrar, as imagens devem ser atualmente exploradas com parte constituinte do texto e não mais como um simples acessório. (GALLI, 2012. p. 261, grifo nosso). Annales du XVIII Congrès Brésilien des Professeurs de Français (2012).
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exploitées comme faisant partie du texte et pas comme un simple accessoire. (GALLI, 2012. P. 261)
Dessa forma, o TNI que difere do TBI não demanda a aquisição de uma
aparelhagem específica, mas é parte do Pack Numérique – Pacote Digital do livro
em questão. O material convida-nos a analisar todos os elementos antes de
proceder à aquisição, retomando mais uma vez as etapas de observação, reflexão,
sistematização para chegarmos interativamente à produção.
Inserido no contexto do Módulo 1 – Parler de soi – os alunos aprendem nesta
unidade – J’adore – a compreender a expressão dos gostos de uma terceira pessoa,
bem como seus próprios pontos de vista. O emprego dos verbos regulares do
primeiro grupo, como, détester, adorer, aimer e suas gradações estão presentes
desde a observação do exercício em questão.
Temos então três casais e dez ícones que correspondem a atividades relativas
ao lazer, tais como esportes e cultura, a exemplo dos símbolos da bicicleta e do
cinema. Seis personagens, seis textos (acessíveis ao clicar sobre o ícone T), cada
qual expressando seus gostos para a realização da Atividade1 (não comentaremos
aqui a Atividade 2). O princípio deste exercício remete para as premissas da
Abordagem Comunicativa, dos anos 70, portanto, o grau de inovação não reside
nessa abordagem, mas no que afirmamos anteriormente: o uso que se faz deste
conceito no livro digital. Procedemos agora efetivamente à aula no livro digital
através do endereço já anunciado anteriormente.
Após a devida apreensão da leitura macro desta imagem-texto realizada
através dos ícones relativos aos gostos: la natation, le vélo, la musique, la cuisine
(française), la télé (télévision), le cinéma, le ski, le judo, les voyages et le tennis
é possível lançar um coup d’oeil sobre os personagens, a fim de caracterizá-los
fisicamente. O símbolo dos corações um positivo e o outro negativo correspondem
aos gostos de cada um dos seis personagens.
Ainda na leitura desta atividade, cujo título é Rencontres, é importante
reconhecer cada uma das oito entradas disponíveis na linha horizontal do quadro,
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acima dos casais: Consigne, Objetifs, Scores, Chronomètre, Rejouer, Corrige,
Ressources et Réinitialiser que significam respectivamente ordem do exercício, ou
seja, enunciado, objetivos, escore, cronômetro, jogar novamente, gabarito,
recursos e reiniciar. Igualmente importante é que se entenda a presença do ícone
Boîte à Outil na linha vertical do quadro. Nesta, como o nome sugere, temos uma
caixa de ferramentas, disponibilizando-se de sete ícones dentre eles um quadro
para produção de pequenos textos, a opção de escolha da cor do texto (cinco cores
estão disponíveis), lápis ou caneta (determinados pela espessura do traço),
borracha, além da grafia de acentos e peculiaridades da língua francesa como o
som oe da palavra coeur, por exemplo, e o apóstrofe, caso se queira adaptar a
tarefa para o objetivo relativo à EE. A sétima ferramenta é um cursor que dá
movimento aos personagens e/ou aos ícones também conhecidos como “pictos”, já
que vem de pictórico.
Para efetivação da interatividade, o aluno dispõe de cinco orientações no
enunciado. Cada personagem dispõe do ícone play ou démarrer (ambos iniciar)
para proceder à escuta do texto individual. O recurso ao áudio pela quantidade de
vezes necessárias é ratificado pelo texto escrito em sua íntegra, marcado pelo ‘T’
maiúsculo, caso haja ensejo para leitura da transcrição, abordando-se assim a CE.
O objetivo maior é o de apresentar os gostos de alguém, contemplando aí as
competências de CO e EO. O exercício apresenta também escore e cronômetro
para realização de competições, sejam individuais, em duplas ou em grupos. O
recurso de “jogar novamente” ou de reiniciar são igualmente facilitadores para a
bem sucedida efetivação da tarefa. O material dispõe de gabarito e de ficha
pedagógica para o professor.
Todos estes recursos contribuem para o sucesso na realização da tarefa que,
em poucas palavras, pretende juntar os textos dos personagens cujas
características dos gostos sejam afins. Por fim, o que define tal exercício do
manual digital como positivo para as aulas de FLE reside na eficácia do seu
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manuseio, nenhuma análise ou explicação serão melhores que a experimentação do
mesmo, tanto nas aulas de língua quanto nas de didática.
O Livro Digital em uma Aula de Didática de Línguas
Todos os manuais, independente da forma na qual se apresentam, impresso
ou digital, têm um objetivo “formador” não apenas em relação aos estudantes,
mas também formam o corpo docente. Por essa razão, eles fazem parte dos
estudos didáticos.
No âmbito da UFPE, o “livro impresso” é estudado na disciplina Metodologia
do ensino de Francês II e na Prática II. O “livro digital” é abordado na Metodologia
V e igualmente nas Práticas I e II. Gostaríamos de apresentar agora como essa
ferramenta é trabalhada em uma formação de professores de FLE.
Utilizamos questionamentos inspirados do artigo Les manuels et supports
pédagogiques: catégorisations, de Michèle Verdelhan-Bourgade et Nathalie Auger
presente no Guide pour la recherche en didactique des langues et des cultures
(2011). Esse documento teórico é abordado tanto no estudo do livro impresso
quanto do livro digital. Ele propõe uma reflexão que vai da macroestrutura do
manual (sua organização geral) até sua microestrutura (organização de cada
unidade, de cada página).
Porém, antes de começar as análises macro e micro, Verdelhan-Bourgade e
Auger sugerem que seja feita uma sensibilização do material escolhido. Logo,
pede-se ao futuro professor de FLE para observar algumas questões editoriais em
relação ao livro Latitudes 1 digital, que foi escolhido para exemplificar a temática.
Trata-se aqui de verificar se a edição é particular ou pública, se ela é distribuída
gratuitamente ou vendida, se seu acesso à Internet é livre ou pago.
No caso do Pack Numérique Latitudes, a edição é particular e sua obtenção
é feita através de venda, possuindo apenas alguns exercícios gratuitos na Internet
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para apresentação e divulgação do método. Esse estudo inicial propõe, então, a
observação atenta do site Internet e como sua versão digital é abordada.
A fim de que o futuro docente em FLE aprenda pouco a pouco a analisar um
manual digital, pede-se ainda que ele pesquise sobre a editora, os autores, a data
e o número de edições. Com efeito, trata-se de observar se o livro foi realizado em
um país francófono ou não e se a obra é recente ou não. Através do número de
edições, pode-se saber se o livro foi bem aceito, se teve êxito junto ao público
alvo.
Conclui-se que Latitudes 1 digital foi realizado por uma editora francesa de
renome (Didier) e que foi pensado por didáticos franceses igualmente
reconhecidos, autores de outros manuais de FLE: Yves Loiseau (professor e
pesquisador em didática de línguas na Université Catholique de l’Ouest, em Angers)
e Régine Mérieux (especialista em FLE e professora no centro CAVILAM, em Vichy, e
no Instituto de Estudos Franceses, em Tours. Quanto ao número de edições, o livro
digital é recente, datando de 2011.
Após essa análise introdutória, o futuro docente deve observar a macro
estrutura do livro digital: a capa, a divisão geral em unidades e capítulos, o
sumário e as temáticas abordadas. Não pretendemos explanar aqui todos estes
pontos, tampouco a totalidade micro-estrutural da obra. No entanto, gostaríamos
de aprofundar agora um aspecto da abordagem micro-estrutural: o estudo didático
de uma página do Pack Numérique, já apresentada anteriormente.
As discussões precedentes permitem ao aluno de didática abordar com mais
acuidade e precisão três etapas do estudo micro-estrutural4. A primeira consiste no
conhecimento geral da página através do preenchimento do seguinte quadro:
Critérios para análise Possíveis respostas
Título da atividade proposta Encontros
Apresentação geral da página: imagem, cor, tipografia, relação texto e imagem, etc.
Página de agradável leitura por sua cor e o tipo de letra escolhido. A relação entre texto e imagem é coerente.
4 Todas essas etapas são realizadas em língua francesa.
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Coerência e clareza dos enunciados O que é esperado do aluno é apresentado de forma clara e objetiva.
Progressão: linear ou em espiral, a dinâmica geral da atividade.
A progressão é aberta, podendo ser realizada de maneira linear ou não. A página é dinâmica, permitindo diversos tipos de movimentos da direita para a esquerda ou de cima para baixo. Existe ainda um lápis para se fazer conexões e uma borracha para as correções.
Faixa etária do público alvo Adolescentes e adultos
Nível lingüístico A1, segundo o CCERL
Como são trabalhadas as 4 competências e a coerência entre elas.
Esse exercício apresenta coerência entre a CO e CE (atividade 1) assim como a EO (atividade 2). Ele não propõe desenvolver a EE.
Após esse primeiro contato com o material a ser analisado, os alunos de
didática passam a uma segunda etapa que corresponde ao preenchimento de uma
ficha pedagógica. Eles devem completar as informações dessa ficha segundo o que
foi observado anteriormente.
Título Encontros
Objetivo Compreender os gostos de alguém
Etapas da aula Pedir a um aluno para ir ao computador:
o aluno escolhe um personagem e clica no áudio que apresentará seus gostos;
ele escuta a descrição dos gostos do personagem e preenche o quadro
abaixo com os ícones que estão à direita. Escolher um outro aluno para escutar os gostos de mais um personagem e assim por diante. Quando o quadro estiver pronto, os alunos fazem novos grupos de personagens baseados em gostos semelhantes.
Correção Correção do quadro com os ícones representativos dos gostos dos personagens.
Transcrição Transcrição da CO referente a cada personagem.
Uma vez a ficha pedagógica devidamente preenchida, propõe-se a terceira
etapa do estudo que abrange a análise do manual, segundo quatro “pontos de
vista”:
1. Sociológico: quais estilos de língua ou variedades linguísticas estão presentes?
O estilo de língua é o chamado “standard”, frequentemente utilizado nos níveis A1 do CECRL, visto que os estudantes iniciantes ainda não percebem as grandes variedades linguísticas de meio social ou regionais.
2. Antropológico e cultural: qual a presença da diversidade cultural ou intercultural?
Este exercício apresenta personagens de origem francesa (Alix, Rémi, Célia, Pascale) e estrangeira (Moussa e Dounia). Esses nomes revelam o que significa a França atual: um país de diversidade cultural. Temos ainda o francês tradicional, representado por
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Rémi, sua boina e sua gravata borboleta; a francesa clássica, através da Alix e de seu tailleur; e os franceses modernos/cools, com Pascale Moussa et Dounia. São considerados então diversos estilos representativos do povo francês.
3. Metodológico: qual abordagem é utilizada?
A abordagem empregada é a chamada “comunicativa” que vigora desde a década de 70 no ensino das LE, cuja característica central reside no equilíbrio entre a oralidade e a escrita. Nesse exercício, isso é perceptível através da CO, de sua transcrição escrita e da EO (como proposta possível).
4. Pedagógico: como fazer uma aula ou série de aulas? Qual progressão?
Os alunos devem elaborar uma aula a partir dessa página.
Essas três etapas facilitam aos professores de FLE seu acesso ao material a
ser utilizado. Elas correspondem a uma maneira, entre tantas outras, para se
compreender o funcionamento de um livro didático, tanto impresso quanto digital.
Pela Internet, pode-se encontrar outras propostas de estudo (grilles d’analyse) de
manuais de LE. Cada professor/estudante pode também construir a sua. O que nos
parece importante, é que elas possam favorecer uma melhor compreensão da obra
e, logo, uma utilização mais eficiente da mesma em sala de aula.
Considerações Finais
Podemos, então, afirmar que o professor possui um papel decisivo na
integração dos recursos tecnológicos em sala de aula. As TICE permitem ao
docente, a longo prazo, renovar positivamente sua prática, despertando tanto sua
curiosidade quanto a do corpo discente. Para tal, ele deve aceitar um certo grau
de incerteza relacionado aos meios tecnológicos em geral. Porém, a ansiedade que
ele possa vir a sentir é compensada, justamente, com o êxito pedagógico das
ferramentas digitais e a motivação que elas suscitam, quando seus objetivos são
atingidos.
Assim, o digital mudou as práticas pedagógicas, mas não alterou a
fundamental mediação do professor na escolha dos dispositivos a serem utilizados
em sala de aula. Escolha essa que está diretamente relacionada à questão do
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sentido, do acréscimo que esses recursos proporcionam para a dinâmica do ensino
de LE.
Porém, para que tal dinâmica seja atingida, o que transparece das reflexões
aqui propostas, é que é imprescindível compreender o funcionamento de um livro
digital muito antes de saber somente manuseá-lo. Dessa forma, tanto em aulas de
LE como nas de Didática de Línguas, o aluno, professor ou futuro professor, precisa
explorar todas as possibilidades do livro digital para atingir sua máxima eficácia.
Referências Bibliográficas BLANCHET, Philippe ;CHARDENET, Patrick (org) Guide pour la recherche en didactiques de langues et de cultures: approches contextualisées. Editions des Archives contemporaines, Université de Rennes et Agence Universitaire de la Francophonie (AUF), 2011. CONSEIL DE L’EUROPE. Un cadre européen commun de référence pour les langues : apprendre, enseigner, évaluer. Division des politiques linguistiques, Strasbourg, 2005. KARSENTI, Thierry, « Intégration pédagogique des TIC: quelles sont les stratégies les plus efficaces ? ». 2008. Disponível em http://tecfa.unige.ch/pratic/ressources/conferences.php Acesso em 14 de novembro 2012.
GALLI, Joice Armani. Línguas que botam a boca no mundo: reflexões sobre teorias e práticas de línguas. Recife: EDUFPE, 2011. 208 p. GALLI, Joice Armani. Le Rôle des Images dans le Cours de Français Instrumental à Distance à l’UFPE. In : XVIII Congrès Brésilien des Professeurs de Français – (IN) Former pour Transformer – le français pour tous : défis politiques et didactiques, 2011,Curitiba.Anais http://www.fbpf.org.br/18cbpf/anais_congresso_curitiba/index.html. P.247-265. LOISEAU, Yves, MERIEUX, Régine.Latitudes 1. Paris: Didier, 2011. GUICHON, Nicolas. Vers l’intégration des TIC dans l’enseignement des langues. Paris : Didier, 2012.
Universidade Federal de Pernambuco NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação
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i Joice ARMANI GALLI ( Doutora em Linguística Aplicada)
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Departamento de Letras, Leitorado de Francês [email protected] iiSimone PIRES BARBOSA AUBIN (Doutora em Literatura Comparada) Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Departamento de Letras, Leitorado de Francês [email protected]