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observador.pt | 1,15€ | UA 2014/15 | Mestrado em Design | Semiologia Tipográfica | Docente: Álvaro Sousa | Design editorial: Marlyn Sousa n.º75836 Ciganos do Alentejo numa exposição em Nova Iorque A retórica do crescimento p.15 ‘Plano Juncker’ – 315 mil milhões em 3 anos p.16 Imagens raras de Marilyn Monroe vão a leilão p.25 Risotto de bacalhau p.26

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Trabalho desenvolvido por Marlyn Sousa no âmbito da disciplina de Semiologia Tipográfica do mestrado em design da Universidade de Aveiro –2014/15, de redesenho para suporte papel do jornal Observador.

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Ciganos do Alentejo numa exposição em Nova Iorque

A retórica do crescimento p.15

‘Plano Juncker’– 315 mil milhõesem 3 anos p.16

Imagens raras de Marilyn Monroe vão a leilão p.25

Risotto de bacalhaup.26

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Diretor-geral da Autoridade Tributária e Aduaneira demite-se

Brigas Afonso apresentou demissão, na sequência da controvérsia com a ‘Lista VIP’de contribuintes. O pedido foi aceite pela ministra das Finanças. Paulo Núncio ad-mite ir ao Parlamento dar explicações.

António Brigas Afonso, diretor-geral da Autoridade Tributária e Aduaneira (AT), apresentou a demissão esta quarta-feira, na sequência da controvérsia com a “Lista VIP” de contribuintes, confirmou o Obser-vador. O pedido foi aceite pelo Ministério das Finanças, confirma o Ministério em comunicado, sem adiantar para já qual-quer informação adicional. Nada indica que o lugar de Paulo Núncio esteja em risco, apesar da auditoria que foi determi-nada já ter indícios que a polémica lista, sempre categoricamente desmentida pelo Governo, poder existir.

No cargo há nove meses, António Brigas Afonso, substituiu em julho o antigo chefe do fisco, José Azevedo Pereira. Antes disso, Brigas Afonso era subdiretor-geral da AT na área dos impostos sobre o consumo.

Em declarações aos jornalistas esta quarta-feira, transmitidas pela SIC Notícias, Paulo Núncio diz que ‘esta não é o momento para clarificar’ a situação. O secretário de Estado dos Assuntos Fiscais garante estar “totalmente disponível” para ir ao Parlamento, “porque entendo que o Par-lamento é o local certo para que sejam prestados mais esclarecimentos sobre esta matéria”. Paulo Núncio acrescentou que “o governo recebeu da AT a confirmação de que não existia essa lista mas, por outro lado, existem rumores e notícias em sen-tido contrário”.

Ouvido pela TSF, Paulo Ralha, que é o presidente do Sindicato dos Trabalhadores dos Impostos, diz que recebeu a notícia “com um misto de surpresa e de fatalidade”. “O Dr. Brigas Afonso não pode ser responsa-bilizado pelo que se passou com a Lista VIP, mas é responsável máximo da casa”, acrescen-tou Paulo Ralha, elogiando a “franqueza” do agora ex-diretor-geral da AT. Paulo Ralha diz que António Brigas Afonso terá sido “apa-nhado desprevenido” pela existência desta lista quando assumiu o cargo.

A existência de uma lista de contribuintes VIP, personalidades mediáticas de várias áreas, terá sido divulgada numa forma-ção para inspetores tributários estagiários realizada a 20 de janeiro. A notícia, avan-çada pela revista Visão, tem por base o testemunho de participantes na sessão que decorreu na Torre do Tombo, que contra-riam a versão oficial do governo segundo a qual a tal lista não existe. Também o presi-dente do Sindicato dos Trabalhadores dos Impostos (STI), Paulo Ralha, veio a afirmar que existe uma bolsa de contribuintes VIP no Fisco.

Depois de ter repetido que “nunca foram dadas instruções à Autoridade Tributária para elaborar qualquer tipo de listas de contribuintes”, o secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, Paulo Núncio, garantiu que a sua resposta não implica que esteja afastada a realização de uma auditoria ao caso da lista VIP de contribuintes, que foi sugerida por um vice-presidente do PSD e defendida pelo PCP e Bloco de Esquerda. Paulo Núncio insistiu nunca ter “elabo-rado ou entregado” qualquer lista de con-tribuintes à Autoridade Tributária (AT), assim como nunca ter dado “instruções” para a AT o fazer.

Na segunda-feira, inspetores da Autori-dade Tributária denunciaram um “clima de medo, insegurança e intranquilidade” na sequência do aviso de que haveria uma lista VIP de contribuintes, que ao ser consultada faria disparar um alarme informático.

POLÍTICA

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Nesse mesmo dia, o Ministério das Finan-ças mandou abrir uma auditoria à alegada lista VIP de contribuintes da Autoridade Tributária. “Tendo em conta notícias vin-das recentemente a público, o Ministé-rio das Finanças comunica que solicitou hoje à Inspeção-Geral de Finanças (IGF) a abertura de um inquérito sobre a alegada existência de uma lista de contribuintes na Autoridade Tributária e Aduaneira (AT), cujo acesso seria alegadamente res-trito. Este inquérito, a realizar pela IGF, enquanto entidade externa da AT, destina-se a realizar o apuramento de todos os factos relativos a este assunto”, informou o gabinete de Maria Luís Albuquerque no dia 16.

AutoresEdgar Caetano e David Dinis

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Eles estão na faculdade. E podem ser expulsos a qualquer momento.A guerra está nos tribunais

Entraram na universidade e estão a tirar cursos superiores. Mas o Ministério entende que devem voltar a fazer exames e quer mandá-los embora. A guerra (e o percurso deles) está na mão dos tribunais.

Pedro tem 23 anos e está no terceiro ano de medicina, na Universidade de Lisboa. Em 2012, foi um dos 183 alunos prove-nientes do ensino recorrente que acedeu ao ensino superior sem fazer exames nacionais, poucos meses depois de o ministro Nuno Crato ter mudado as regras de acesso e ter imposto a realização de exames. O Ministério recorreu da deci-são dos tribunais e, no ano passado, Pedro recebeu um cartão vermelho, que é como quem diz uma carta da Direção-Geral do Ensino Superior (DGES) com ordem de expulsão da universidade. Não obedeceu.

“Lembro-me de ter visto no Facebook, no início do ano passado, que o Ministério da Educação estava a notificar os alunos que tinham vindo do ensino recorrente, mas como eu não tinha recebido carta nenhuma fiquei descansado. Até que em abril lá chegou a carta da DGES a dizer que a minha média tinha sido recalculada com base nas notas do ensino regular e como eu não tinha posto mais nenhuma opção de ingresso depois da Universidade de Lisboa, perdia a colocação”, recorda Pedro, que pre-fere manter o anonimato, por saber que “o recorrente é muito mal visto”.

Pedro não abandonou a universidade por-que o seu advogado voltou a recorrer para os tribunais, mas está longe de estar tran-quilo. “Não sei o que é que hei de esperar do amanhã. Estou a estudar hoje e não sei se amanhã me podem mandar embora, nem posso fazer projetos. Os meus colegas vão todos de Erasmus no próximo ano e eu nem posso sequer pensar em concorrer”, lamenta, com o olhar caído sobre as mãos.

“Não sei o que é que hei de esperar do amanhã. Estou a estudar hoje e não sei se amanhã me podem mandar embora, nem posso fazer projetos. Os meus colegas vão todos de Erasmus no próximo ano e eu nem posso sequer pensar em concorrer”.

Pedro (nome fictício)

Recuemos um pouco no tempo. Estamos em 2010 e Pedro termina o ensino secun-dário regular com uma média interna de 18,6 valores. Uma média elevada, mas não suficientemente alta para conseguir entrar num curso de medicina. Decide ficar mais um ano a fazer melhoria de notas. Matricula-se no ensino recorrente – uma vertente de educação para adultos que permite fazer o ensino secundário num só ano e até sem assistir a aulas – e prepara-se para os exames de ingresso ao curso de medicina (biologia, matemática e física e química).

Em 2011 Pedro termina o recorrente com uma média interna de 19,5 valores e consegue melhores notas nos exames das cadeiras específicas. Feitas as contas: 18,1 valores. Uma média que lhe valeu o ingresso nesse ano em medicina, embora na última opção. A adaptação não correu da forma desejada e o estudante meteu imediatamente na cabeça que no ano seguinte iria pedir transferência para outra universidade, com os exames, ainda váli-dos, que tinha feito em 2011 e aproveitando a nota interna do recorrente.

Acontece que em 2012, já na primavera, Pedro apercebeu-se que o ministro Nuno Crato tinha alterado as regras de acesso ao ensino superior para os alunos do ensino recorrente e, a conselho de um amigo do pai, procurou a ajuda do advogado Jorge Braga, que já estava a defender um grupo de alunos nesta mesma causa.

“Só sei contar que ganhámos em tribunal, que entrei na Universidade de Lisboa e não mais pensei no assunto, até a carta da DGES ter aparecido, no ano passado. Dizia que a minha matrícula seria anulada pois a minha média, recalculada, baixava e eu não tinha colocado mais nenhuma hipótese, naquele ano, a seguir a Lisboa. O meu pai está mais por dentro destas questões jurídicas do que eu. Na verdade não percebo muito bem a terminologia que o Dr. Jorge usa.

A mudança das regras de acesso ao ensino superior para os alunos vindos do recor-rente ocorreu a meio do ano letivo. Em fevereiro de 2012 foi publicado o diploma que aproxima as condições de candidatura ao ensino superior por parte dos alunos dos cursos científico-humanísticos do ensino recorrente, daquelas a que estão sujeitos os alunos do ensino regular.

Na prática, os alunos do recorrente que se querem candidatar ao ensino superior passaram a ter de fazer os exames finais nacionais, sem prejuízo de ser suficiente a avaliação interna para os alunos que apenas queiram obter a certificação da conclusão desses cursos.

“O propósito [das alterações às regras de acesso] foi pois o de pôr termo à prática, que se veio a revelar abundante, de utilizar o ensino recorrente como via rápida e aces-sível para o ingresso no ensino superior, frustrando as expectativas de todos os que seguiram o percurso normal”.

Fonte oficial do Ministério da Educação e Ciência

As alterações introduzidas vieram, subli-nha o Ministério da Educação ao Obser-vador, “restaurar a matriz do ensino recorrente”. “O seu propósito foi pois o de pôr termo à prática, que se veio a revelar abundante, de utilizar o ensino recorrente como via rápida e acessível para o ingresso no ensino superior, frustrando as expecta-tivas de todos os que seguiram o percurso normal”. Os casos mais flagrantes e polémi-cos prendiam-se com alunos que tiravam notas baixas no regular e iam subir notas para o recorrente para conseguir entrar em cursos de médias elevadas, como medicina.

Mas este diploma acabou por ser objeto de litígio. Isto porque o ministro Nuno Crato entendia que as novas regras se deveriam aplicar a todos os alunos vindos do recor-rente que acedessem ao ensino superior naquele mesmo ano e os alunos enten-deram que não.

O advogado Jorge Braga tem sido um dos rostos desta luta que opõe os alunos do recorrente ao Ministério da Educação. Em 2012 apresentou dois processos no Tribunal Administrativo do Circulo de Lisboa, representando um total de 285 alunos, e venceu os dois. O advogado considerava que o diploma de fevereiro de 2012 devia conter uma regra de transição para estes alunos “que não tinham sido formatados para fazer exames naquele ano”, explicou ao Observador.

Os alunos acabaram por poder candi-datar-se e 183 conseguiram colocação. Um dos processos acabou por subir para o Tribunal Central Administrativo Sul e como este tribunal decidiu que “a própria norma era inconstitucional porque violava o princípio da confiança jurídica, o MP teve obrigatoriamente que recorrer para o Tribunal Constitucional”, conta Jorge Braga, lembrando que o recurso do MP dava razão aos alunos.

Segundo o advogado, o Constitucional decidiu que a norma não era inconsti-tucional para “todos os alunos matricu-lados no ensino secundário recorrente” e o STA seguiu a mesma linha. Jorge Braga recorreu do acórdão do TC para o Ple-nário e do STA para o Constitucional. A resposta do Constitucional foi idêntica à primeira. A partir desse momento, Jorge Braga percebeu que só teria como salva-guardar os direitos dos alunos que tinham estado matriculados no recorrente antes de 2011/2012. Restavam-lhe 11 dos 183 que tinham entrado no ensino superior. E é por esses que se tem batido.

“O TC claramente excluiu da decisão os alunos que já haviam terminado o ensino recorrente, portanto esses alunos que eram detentores de um certificado de habilita-ções académicas podiam, deviam e teriam sempre que se candidatar”.

Jorge Braga, advogado

OPINIÃOOPINIÃO

“O TC claramente excluiu da decisão os alunos que já haviam terminado o ensino recorrente naquele ano, portanto esses alunos que eram detentores de um certi-ficado de habilitações académicas podiam, deviam e teriam sempre que se candidatar”, argumenta o advogado.

Acontece que perante a decisão do Cons-titucional e do STA, a Direção-Geral do Ensino Superior (DGES) não perdeu tempo e começou a notificar os alunos, numa carta em que decidia o seu futuro. Foi o pretexto para Jorge Braga contra-ata-car: “eles aplicaram um ato administrativo antes do tempo, antes do trânsito em jul-gado das decisões, portanto violaram uma decisão judicial. Eu recorri e suspendi a decisão dos tribunais”, relatou.

Alunos venceram em tribunal. Ministério não baixou armas e a ‘guerra’ continua

O que mudou com Nuno Crato?

De 18,6 para 19,5 valores e entrada direta para medicina

AutorMarlene Carriço

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O advogado apresentou providências cau-telares individuais, uma por cada um dos 11 alunos, às quais ficou acoplada uma ação principal. Só a providência de Pedro não foi ganha. O Ministério voltou a recorrer e Jorge recorreu da decisão da providência do Pedro para o Supremo Tribunal Admi-nistrativo que, por sua vez, se recusou a revisitar o processo, obrigando o advogado a recorrer para o Pleno da Secção.

Em resposta ao Observador, o Ministério esclareceu que “está obrigado a executar todas as sentenças judiciais proferidas no âmbito de processos em que é parte, independentemente de o conteúdo da sentença (acórdão) lhe ser favorável”.

Assim, “foram retificadas as classificações de ensino secundário dos autores das ações que foram candidatos ao concurso nacio-nal de acesso e ingresso no ensino superior público para matrícula e inscrição no ano letivo 2012-2013.

E daí resultaram diferentes resoluções: aqueles que perderam a certificação de conclusão do secundário (por não terem feito exames nacionais) foram “excluídos”; os que, após retificação das notas (tendo em conta as do ensino regular que tinham frequentado anteriormente), não conse-guiram média para entrar em nenhuma das hipóteses apresentadas em 2012/13 per-deram colocação; outros foram notificados para mudar de instituição de ensino.

Sem adiantar números, o Ministério da Educação revela que “muitos dos alunos que moveram as mencionadas ações não chegaram a candidatar-se ao concurso nacional de acesso de 2012 e “dos que concorreram, uma parte significativa ou manteve a colocação ou foi colocada nou-tro par instituição/curso”. “Houve também alunos não colocados, nomeadamente por terem limitado as opções de candidatura, e só os alunos que não reuniam as condi-ções de acesso ao ensino superior, por não terem realizado os exames finais nacio-nais, é que ficaram na situação de excluído, sendo este número residual”, concluiu.Desde que recebeu a carta da DGES que Pedro e a sua família têm vivido num “sobressalto”. E Pedro não é caso único. Há mais estudantes a viver idêntico dilema. Só Jorge Braga representa 11. E nem todos estão em medicina.

Pedro, com boa média e apenas uma cadeira em atraso do primeiro ano, que vai fazer agora no segundo semestre, já só pede tempo para “acabar este ano letivo”. Concluindo o terceiro ano obtém o grau de licenciado o que lhe “daria oportuni-dade de concorrer a outras faculdades de medicina como licenciado”, explica.

OPINIÃO

Se a decisão judicial chegar antes do final do ano letivo e tiver de sair da universi-dade, “apenas me garantem as cadeiras que fiz” e “terei de repetir exames de ingresso para voltar a aceder ao ensino superior”. “Fico com a nota interna do regular (186 valores) e teria de ficar um ano em casa para me preparar para os exames”, detalha.

Mas o advogado Jorge Braga lembra que mesmo que Pedro tente concorrer a outra faculdade de medicina como licenciado, “vai sempre estar dependente do número de vagas para transferências, que costuma ser inferior a 10% do total das vagas da instituição”.

Neste momento, Jorge Braga só quer que as providências sejam todas decretadas. Quanto à ação principal? “Acho que temos uma boa probabilidade de ganhar a ação porque o ato do Ministério, de expulsar os alunos, é nula”.

Pedro já só pede para concluir este ano letivo

“Acho que temos uma boa probabilidade de ganhar a ação principal porque o ato do Ministério, de expulsar os alunos, é nula. Se assim for e se os alunos já tiverem abandonado os estudos, poderão vir a pedir uma indemnização ao Estado”.

Jorge Braga, advogado

E se os alunos entretanto já tiverem sido expulsos e vier a ser-lhes dada razão mais à frente, na ação principal? “Os alunos podem exigir uma indemniza-ção ao Estado, correspondente ao valor do salário que iriam auferir até ao fim da sua vida profissional”, exemplificou. “Se eles perderem a ação principal perdem uma habilitação literária pois terão de fazer os exames nacionais pelo recorrente ou então terão de aceitar ficar com a média mais baixa que já tinham obtido no regular”.

“Tento não pensar muito no assunto”, afirma Pedro, que, apesar de tudo, não deixa de reconhecer que o ensino recor-rente, como estava montado, era “injusto”. E embora a situação em que se encontra atualmente não seja a ideal, Pedro espera que se prolongue. “Pelo menos devia demorar até setembro ou até às eleições para ver se nos deixam terminar o curso”, remata, com um sorriso nervoso.

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OPINIÃO OPINIÃO

Grécia, Alemanha e as reparações. Uma guerra complicada

A luta da Grécia pelas reparações de guerra vai muito além do atual Governo, mas a jurisprudência não parece estar do seu lado. Vai Atenas abrir uma nova frente de batalha com a Alemanha?

‘A nossa obrigação histórica é reclamar o empréstimo forçado e as reparações’. As palavras de Alexis Tsipras, primeiro-ministro grego, na segunda-feira, são apenas mais um episódio daquela que ameaça ser uma longa saga em torno do tema das reparações de guerra. Esta quarta-feira, o ministro da Justiça, Nikos Paraskevopoulos, disse no Parlamento grego que estava pronto a assinar a lei a exigir reparações de guerra à Alemanha e a mandar apreender ativos alemães na Grécia.

Do lado da Alemanha, um rotundo “não”. O Governo alemão acredita que a questão das reparações ficou resolvida nas conver-sações entre as potências mundiais que levaram à reunião da Alemanha em 1990. “Acreditamos firmemente que a ques-tão das reparações foi resolvida política e legalmente”, respondeu o porta-voz da chanceler alemã, Angela Merkel, na quar-ta-feira, em resposta ao ministro grego.

Apesar de ter ganhado uma nova vida desde a eleição do Syriza para o Governo grego a 25 de janeiro, a questão das repara-ções alegadamente devidas pela Alemanha por danos causados pelos nazis durante a Segunda Guerra Mundial à Grécia (e não só) é um imbróglio de longa data e que ainda há pouco mais de dois anos estava em discussão no Tribunal de Justiça Inter-nacional. Mas vamos por partes.

Os casos em causaA 10 de junho de 1944, o corpo paramili-tar do partido nazi conhecido como SS (Schutzstaffel) matou 218 mulheres, crian-ças e idosos na vila de Distomo, perto da cidade de Delfos. O caso foi levado aos tribunais alemães pelos gregos até ter sido rejeitado pelo Tribunal Europeu dos Direi-tos do Homem, que considerou que os países estão “imunes” a processos movidos por “cidadãos”.

Sem sucesso na Alemanha, os queixosos levaram a questão para a justiça grega que condenou a Alemanha a pagar 28 milhões de euros em reparações de guerra, que os alemães se recusaram a pagar. A justiça grega decidiu, então, tentar confiscar e vender propriedades do Governo alemão na Grécia, algo que foi bloqueado pelo Governo grego que não queria entrar em guerra aberta com Berlim.

Eis que, em 2008, uma decisão da justiça italiana deu novo alento aos queixosos. O caso em mãos: a 29 de junho de 1944, as tropas alemãs mataram 250 civis na cidade de Civitella, na Toscânia. Mais de 40 anos após o massacre, os familiares das vítimas processaram a Alemanha na jus-tiça italiana, exigindo reparações. Um dos queixosos, um cidadão italiano chamado Luigi Ferrini, viu o Supremo Tribunal de Justiça de Itália dar-lhe razão. O Supremo considerou que os que viram os seus direi-tos humanos violados podiam, de facto,

processar um país e exigir reparações de guerra. Ferrini foi preso pelos soldados alemães e enviado para um campo de con-centração, onde foi obrigado a trabalhos forçados na produção de armamento para o Exército alemão.

Mas os tribunais italianos foram ainda mais longe e decidiram que as decisões dos tribunais gregos podiam ser apli-cadas em solo italiano. Ou seja, os gre-gos que viram a Alemanha condenada a pagar-lhes reparações de guerra, podiam exigir a apreensão e venda de ativos ale-mães em Itália para fazer este pagamento. Para isso, foi ordenada a apreensão e venda de uma propriedade alemã perto do lago Como, que servia de centro cultural italo-germânico.

Os gregos exigem, ainda, a devolução de um empréstimo que os nazis obrigaram o Banco Central da Grécia a dar à Alemanha, de 476 milhões de marcos. Sem contar com juros, este valor podia ultrapassar os 13 mil milhões de euros atualmente.

A justiça italiana abriu a porta a pedidos de indemnização de toda a Europa e a Alemanha decidiu rapidamente colocar a Itália em Tribunal. A Alemanha entrou com um pedido no Tribunal Interna-cional de Justiça, em Haia, alegando que, ao permitir que civis exigissem reparações num processo cível contra um país, a Itá-lia violou as suas obrigações perante a lei internacional.

Alemanha ganha em TribunalNo centro da disputa, e que acabou por ser fulcral na decisão, está o Tratado de Paz entre a Itália e os aliados – no qual a Alemanha nem sequer foi uma parte –, no qual a Itália aceita uma cláusula que abdica de pedir reparações de guerra. A Alemanha argumentou, por sua vez, que não se tratavam de novas exigências, mas de exigências antigas.

Finalmente, em 2012, os governantes alemães (e não só) respiravam de alívio. Depois de quatro anos de intensa disputa, o Tribunal Internacional de Justiça decidiu a favor da Alemanha. Segundo Haia, o caso italiano violava a imunidade da Ale-manha de ser processada por tribunais nacionais, um princípio reconhecido pela lei internacional.

Representantes da Grécia, constitui o assistente no processo movido pela Alemanha no Tribunal Internacional de Justiça contra a Itália

AutorNuno André Martins

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OPINIÃO

Grécia não desisteNa quarta-feira, o Parlamento grego apro-vou a criação de uma comissão especial formada para todos os partidos para calcu-lar o valor que a Alemanha alegadamente deve à Grécia em reparações e em relação ao empréstimo forçado.

Em 2013, o Ministério das Finanças da Gré-cia terá pedido um relatório a um grupo de especialistas para avaliar quanto seria o valor em causa. “Quanto nos deve a Ale-manha” será o título do relatório secreto, de acordo com a revista alemã Der Spiegel.

Depois de meses de trabalho, o relatório de 80 páginas terá chegado à conclusão que a Grécia “nunca recebeu qualquer com-pensação, seja pelos empréstimos que foi forçada a dar à Alemanha ou pelos danos sofridos durante a guerra”.

O valor calculado pelos peritos não foi conhecido, tal como o relatório que não foi tornado público, mas o jornal grego To Vima, que diz ter tido acesso ao relatório, afirma que este valor atinge os 162 mil milhões de euros, a soma exigida, agora, por Alexis Tsipras, que corresponde a cerca de metade da dívida púbica grega.

Segundo a revista alemã Der Spiegel, este relatório foi entregue pelo Ministério das Finanças ao então ministro dos Negócios Estrangeiros grego, Dimitris Avramapou-los, e ao primeiro-ministro, Antonis Sama-ras. A decisão teria de ser tomada ao mais alto nível, mas o relatório ficou na gaveta numa altura muito sensível do resgate.

A Grécia tinha acabado a segunda fase da sua reestruturação de dívida e tinha a promessa, feita em novembro de 2012, do Eurogrupo de que iria discutir a susten-tabilidade da sua dívida assim que con-seguisse um saldo primário nas finanças públicas.

Agora, o ministro da Justiça, Nikos Paraskelopoulos, ameaça fazer cumprir exatamente a decisão de 2000 da justiça grega, relativa ao massacre de Distomo, e de apreender ativos alemães. Só o Governo pode tomar essa decisão, algo que o Execu-tivo grego em 2000 não quis fazer.

A Alemanha deve reparações?Esta questão, a avançar o processo pela Grécia contra a Alemanha, terá muitas nuances com base nas interpretações diferentes de alguns tratados. Mas não só.A Alemanha pagou, em 1960, cerca de 115 milhões de marcos alemães de compen-sação às vítimas gregas dos crimes nazis.

As vítimas dos campos de trabalhos força-dos receberam compensações individuais. Alexis Tsipras alega que estas reparações não cobrem a destruição causada durante a ocupação nazi da Grécia, entre 1941 e 1944.

Os empréstimos entram noutro pântano legal. Se for considerado uma espécie de dano de guerra, poderia ser objeto de reparação. Se for considerado apenas um empréstimo sem juros, o valor será muito reduzido. Sem juros, o empréstimo vale-ria cerca de 14 mil milhões de dólares a preços atuais. Com juros de 3% durante 66 anos, o valor em dívida subiria para 95 mil milhões de dólares.

Mas mesmo o valor total é discutível. Segundo Albrecht Ritschl, em vez de mais de 160 mil milhões de euros, o valor das reparações não ultrapassaria os 13 mil milhões de euros.

Uma questão políticaNo final do dia, mesmo que o valor seja reduzido, a Alemanha garante que pagou o que tinha a pagar e que não vai ceder nesta questão. Legalmente, um pagamento à Grécia podia criar o precedente legal necessário para que outros países, alguns de maior dimensão (como a França), exi-jam reparações à Alemanha.

Outras questões apontadas pela Grécia é o incumprimento da Alemanha de parte das dívidas da primeira guerra. Em 1953, no âmbito dos acordos de Londres, a Alemanha beneficiou de uma reestrutu-ração de grande dimensão, com um per-dão parcial e uma boa parte dos prazos de pagamento da dívida pública alemã a serem também estendidos para prazos mais longos o muito longo prazo.

Com esse acordo, a Alemanha acabou por demorar 92 anos a pagar por completo essa dívida, desde o final da primeira guerra, até ao pagamento da última tran-che em 2010.

A Grécia pode seguir nos próximos meses para os tribunais internacionais, mas as decisões mais recentes não inspiram grande confiança para os lados das pre-tensões gregas.

Portugal teria défice excessivo a partir de 2016 sem renovação de medidas temporárias

Ausência de renovação ou substituição das medidas em vigor, como o corte dos salários e da sobretaxa, fariam a economia crescer mais mas o défice seria superior a 3% a partir de 2016.

Portugal até conseguiria reduzir o défice orçamental para menos de 3% do PIB este ano, mas, caso não sejam tomadas medidas para manter alguns dos cortes ou compen-sá-los, o défice voltará a superar os 3% em 2016 e nos anos seguintes até 2019, estima o Conselho das Finanças Públicas.

Num relatório publicado sobre a situa-ção e as condicionantes orçamentais no período 2015 a 2019, o Conselho das Finan-ças Públicas alerta para um crescimento do valor do défice nos anos posteriores a 2015.

“Embora pareça viável a obtenção em 2015 de um défice inferior a 3% do PIB, permitindo encerrar o Procedimento por Défices Excessivos, na ausência de políticas adicionais e não obstante a convergência da economia para o seu crescimento potencial, o défice voltará a superar essa marca a partir de 2016”, diz a instituição liderada pela ex-administradora do Banco de Portugal Teodora Cardoso.

Este cenário, no entanto, é explicado pela forma como o CFP faz as suas estimativas, que é através da utilização de um cenário de políticas invariantes, ou seja, o CFP não conta com as medidas que ainda não estão aprovadas e com aquelas medidas que exi-gem legislação anual para serem repostas.Entre estas medidas, e com grande impacto tanto no défice como na previsão de cresci-mento da economia, estão, por exemplo, os cortes salariais na Função Pública que devem desaparecer no próximo ano se não

forem aprovados novos cortes (no segui-mento de uma decisão do Tribunal Cons-titucional) e da sobretaxa de 3,5% em sede de IRS, que também precisa de renovação anual no Orçamento do Estado.

Neste sentido, o CFP calcula que o défice este ano seria reduzido para 2,8%, mas este cresceria novamente para 3,3% em 2016 e 3,2% do PIB nos anos seguintes até 2019.

ECONOMIA

AutorNuno André Martins

Isto aconteceria, caso não avancem mais medidas, o PIB até cresceria mais que o previsto, superior a 2% de 2016 até 2019 (chegando mesmo aos 2,4% em 2017), mas mesmo com esse nível de crescimento, o problema das finanças públicas não seria resolvido e o défice mantinha-se nos valo-res referidos acima de 3%.

“O simples facto de a ausência de medidas em 2016 levar a um crescimento maior da economia não resolve o problema do orçamento”, afirmou esta quarta-feira Teodora Cardoso, durante a apresentação deste relatório na sede do CFP, em Lisboa.

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Negociações técnicas com a Grécia “não estão a correr bem”

Responsáveis da Grécia e da zona euro estão a atirar as culpas uns para os outros. Alexis Tsipras diz no parlamento que a quinta avaliação foi cancelada e que não será ‘intimidado por ameaças’.

As negociações técnicas entre a Grécia e os representantes das instituições credo-ras “não estão a correr bem”, disseram ao The Wall Street Journal fontes próximas do processo. No Parlamento de Atenas, o primeiro-ministro Alexis Tsipras defendeu esta quarta-feira que a quinta avaliação do segundo resgate foi “cancelada” e que o que vale é o acordo obtido a 20 de fevereiro, um acordo que estendeu por quatro meses o acordo com a Grécia mas que fez depender a entrega de mais fundos do sucesso das negociações técnicas com Atenas. Tsipras garante que não se deixará “intimidar por ameaças”.

“Responsáveis eleitos vão negociar com responsáveis eleitos e os tecnocratas lida-rão com tecnocratas”, afirmou esta quar-ta-feira Alexis Tsipras no Parlamento, consubstanciando a notícia desta manhã do The Wall Street Journal que citava fon-tes próximas da negociação técnica que diziam que “os gregos não estão a coo-perar” e que os técnicos do BCE, FMI e Comissão Europeia não estão a conseguir ter acesso a dados importantes sobre as finanças do país.

No Parlamento, Tsipras garante está “aberto ao diálogo e a sugestões”, mas assegura que “não irá deitar burocratas ditarem medidas”. O primeiro-ministro grego pediu uma reunião com Angela Merkel, François Hollande, Jean-Claude Juncker e Mario Draghi para, à margem do Conselho Europeu de amanhã e sexta-feira, negociar com estes responsáveis uma solução para o impasse que subsiste.

A falta de progressos nestas negociações está a gerar grandes dúvidas sobre a forma como a Grécia irá conseguir superar a crise de financiamento que enfrenta, algo que Tsipras chama uma “pressão ao nível da liquidez”. O primeiro-ministro diz que não quer tratamento “especial”, apenas “tratamento igual” quando pede que o BCE aumente os limites ao financiamento da banca grega e aos montantes de dívida de curto prazo que aceita como garantia.

PGR recolhe informação sobre lista de contribuintes VIPA Procuradoria-Geral da República quer analisar a necessidade de iniciar procedimentos que se mostrem pertinentes para enfrentar a questão da existência de uma lista VIP de contribuintes.

A PGR está a recolher informação sobre a existência da lista de contribuintes VIP na Autoridade Tributária e Aduaneira, com o objetivo de avaliar se vai dar início a algum procedimento, informou fonte da PGR.“A PGR encontra-se a coligir informação sobre essa matéria, com vista a avaliar da necessidade de iniciar procedimentos que mostrem pertinentes, no âmbito das atri-buições do Ministério Público”, refere a PGR numa resposta à Lusa.

Na segunda-feira, o Ministério das Finan-ças anunciou ter solicitado à Inspeção-Geral de Finanças (IGF) a abertura de um inquérito sobre a existência desta lista na Autoridade Tributária e Aduaneira (AT), explicando que este inquérito surgiu “tendo em conta notícias vindas recente-mente a público”.

O presidente do Sindicato dos Trabalhado-res dos Impostos (STI), Paulo Ralha, afirma que existe a referida lista de contribuintes VIP e que foi o chefe de divisão dos servi-ços de auditoria da Autoridade Tributária e Aduaneira, que informou os trabalhadores da sua existência numa ação de formação para 300 inspetores tributários.

O sindicalista relaciona esta lista de con-tribuintes com os 140 processos disciplina-res que foram abertos a trabalhadores que acederam a informação de contribuintes dessa lista VIP.

O STI acrescenta que os processos disci-plinares aos trabalhadores dos impostos começaram a ser aplicados desde dezem-bro, depois de ter sido noticiado que os funcionários da AT estavam a ser investiga-dos por alegadamente terem consultado os dados fiscais do primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho.

Mas o diretor-geral da AT, António Brigas Afonso, “desmente que tenha recebido qualquer tipo de lista da parte do secretá-rio de Estado dos Assuntos Fiscais”, Paulo Núncio, tal como noticiou a revista Visão.

Num debate no parlamento, também o primeiro-ministro negou que exista na Autoridade Tributária uma qualquer ‘bolsa VIP’ destinada a contribuintes considerados especiais.

ECONOMIA PAÍS

AutorEdgar Caetano

AutorAgência Lusa

O Estado grego conseguiu esta quarta-feira obter 1.300 mil-hões de euros num leilão de dívida a três meses, com uma taxa a rondar os 2,7%, o que ilustra as dificuldades de tesou-raria de um país que já está a recorrer aos fundos de pensões públicos para financiar o Estado.

Contrariando o que disse Yanis Varoufakis, ministro das Finanças, na sexta-feira, Ale-xis Tsipras garante que o seu governo está “determinado a cumprir os compromissos assumidos durante a campanha”. O Minis-tro das Finanças da Grécia disse em Itália que, a bem da “construção da confiança com os parceiros europeus”, o governo poderia adiar promessas eleitorais.

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A retórica do crescimento

O crescimento na União Europeia é um objectivo ultrapassado pela realidade, contraditório com outros importantes desideratos colectivos e contrariado por características sociais determinantes.

Com efeito, as sociedades maduras são demasiado complexas para obedecer automaticamente ao estímulo econó-mico decretado pelo Estado, daí que o recente «quantitative easing» do BCE esteja condenado a esgotar os seus efei-tos rapidamente.

Em sociedades como as integradas na UE, em particular no euro-grupo, há sempre forças a operar em simultâneo a favor e contra o crescimento económico, sendo o resultado final tudo menos automático.

Vejamos. Numa recente lista do FMI – uma instituição especializada em ofe-recer receitas milagrosas para o cresci-mento económico -, eram apontados os

países com menor crescimento desde 1999 até ao esperado em 2019. Ora, oito dos nove países mais relevantes dessa lista pertencem à UE (sete dos quais ao euro) e o outro é o Japão. Todos estes países, onde a Itália, o Japão e Portugal são os três com menor crescimento ao longo daquelas duas décadas (menos de 1% ao ano e os outros cinco países entre 1% e 1,5%), todos eles se caracterizam – uns mais, outros menos – por possuí-rem rendimentos per capita acima e, na maioria dos casos, muito acima da média mundial.

Não se trata, portanto, de pobreza; com-parativamente, são países ricos ou, pelo menos, remediados como Portugal. Em suma, estamos a falar de sociedades que,

tendo atingido um determinado pata-mar de prosperidade superior a 20.000 dólares por habitante, encontram difi-culdades estruturais para crescer eco-nomicamente (na China são $7.000 e na Índia $1.500).

As razões variam e certos países, como Portugal e a Grécia tipicamente, come-çaram a deixar de crescer mais cedo do que outros, como (por ordem da lista em questão) a Dinamarca, a Alemanha, a França, a Bélgica, a Holanda e até a Croácia (que ainda não entrou para o euro), todos abaixo de 1,5%.Independentemente das diferenças de riqueza e de cultura, há contudo seme-lhanças decisivas entre os países de mais lento crescimento, incluindo o Japão.

São três os traços comuns mais impor-tantes: a demografia (elevada longe-vidade e baixa fecundidade); o conse-quente peso das reformas e das despesas de saúde, seja qual for o sistema de segurança social; e a melhor protec-ção ambiental do mundo (Portugal é, segundo o Eurostat, o 6º país da UE com maior peso das energias renováveis).

É isto que se pretende trocar pelo cresci-mento do antigo «terceiro mundo»? Ou é por isto que a Europa tem os custos acrescidos e as dificuldades de cresci-mento que conhecemos?Para além desses três factores maciços, que não há partido político algum que os mude significativamente, em espe-cial o demográfico, há ainda o factor do mercado de trabalho.

As comparações são mais complicadas mas é evidente que os mercados de tra-balho europeus se ressentem, do ponto de vista do crescimento, dos corporati-vismos sindicais que os USA e o Reino Unido já desmantelaram em parte, enquanto o «terceiro mundo» nunca os chegou a ter.

Além desses corporativismos, de que as empresas estatais de transportes como a TAP são o exemplo mais flagrante, os mercados de trabalho são condiciona-dos, uma vez mais, pela demografia e pelo conflito entre as velhas e as novas gerações, que afectam a composição da população activa e daí as crescentes migrações internacionais.Se e quando a Europa minimizasse os efeitos destes 3 + 1 problemas estruturais – demografia, «estado social» e ambien-talismo, mais o mercado do trabalho – poder-se-ia falar sem demagogia de crescimento e da criação de emprego.

Mas nessa altura restaria o último fac-tor anti-desenvolvimentista, a saber, a adesão subjectiva de grande parte da população europeia à austeridade, não no sentido meramente fiscal mas sim cultural do termo, e é isto que ainda não foi entendido pelos economistas da era keynesiana…

Há pois fortes indícios de que não é a falta de crescimento que condiciona os valores sociais e políticos. São, sim, a demografia, a defesa do «estado social» e do ambiente, assim como o fosso inter-geracional, que condicionam as opções economicistas ultrapassadas dos partidos que apenas sabem angariar votos prometendo mais gastos e empregos públicos.

Prometer o crescimento é uma frase feita mas, além de falsa, já não corres-ponde àquilo que ambiciona porven-tura a maioria dos europeus, para quem não seriam necessários mais do que 2% de crescimento anual para 2% de infla-ção, segundo a fórmula mágica alemã.

Em todo o caso, na minha opinião, o problema da sociedade portuguesa é muito menos uma questão de cresci-mento do que uma profunda questão de desigualdade interna; não é tanto um problema de competição externa como de redistribuição interna. Era disto que devíamos estar a falar para as próximas eleições.

OPINIÃO

Há pois fortes indícios de que não é a falta de crescimento que condiciona os valores sociais e políticos.

Há qualquer coisa de obsessivo na ideia de crescimento económico em Portu-gal como no resto do mundo. Lê-se e ouve-se por todo o lado, sobretudo no terreno dos «slogans» políticos para uso imediato. A verdade é que se trata de um objectivo ultrapassado pela realidade, contraditório com outros importantes desideratos colectivos e contrariado por características sociais tão determinantes como o envelhecimento populacional.

AutorManuel Villaverde Cabral

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Um Plano de Investimento para a UE.Porquê?

Desde que a crise económica e financeira atingiu a Europa que os níveis de investi-mento caíram, e em alguns Estados-mem-bros desceram mesmo de forma drástica.Assim, no segundo semestre do ano

‘Plano Juncker’– 315 mil milhões em 3 anos.Para quê?

passado o investimento na UE foi 15% inferior ao de 2007, antes do início da crise. Ou seja, comparativamente ao pico registado naquele ano, os investimentos diminuíram 430 mil milhões de euros, segundo a Comissão Europeia (CE) e o Banco Europeu de Investimento (BEI). Portugal (-36%) está no grupo de países onde a queda de investimento foi mais acentuada nos últimos anos juntamente com Itália (-25%), Espanha (38%), Irlanda (-39%), Grécia (-64%).

A crise produziu uma queda de inves-timento que, consequentemente, está a atrasar a recuperação económica na União Europeia, retoma essa que é ainda mais débil na zona euro. Por exemplo, para acompanhar o ritmo de investi-mento nos Estados Unidos, a UE deveria ter investido mais 540 mil milhões de euros, de acordo com as estimativas do executivo comunitário e do BEI.A principal razão avançada para explicar a debilidade persistente dos níveis de

Quais os objetivos?

O Plano de Investimento assenta em três eixos: mobilizar financiamento, melhorar o ambiente para o investimento e fazer com que esse dinheiro chegue à economia real com o objetivo principal de estimular o crescimento económico e a criação de emprego na UE.

Trata-se de mobilizar energias, inverter a queda de investimento, corresponder às necessidades da economia europeia, de promover a competitividade em setores estratégicos da UE, de reforçar o capital humano, a capacidade produ-tiva, as infraestruturas e as intercone-xões (energéticas) vitais para o mercado único comunitário.

Segundo as previsões do executivo comu-nitário, o Plano de Investimento tem potencial para acrescentar entre 330 mil milhões a 410 mil milhões de euros ao PIB da União Europeia, e criar de 1 a 1,3 milhões de novos postos de trabalho até 2017.

investimento está no baixo nível de con-fiança dos investidores que, fatalmente, resulta na incapacidade de assunção de riscos. Trata-se portanto de quebrar o ciclo vicioso de falta de confiança e subinvestimento.

Para voltar a colocar a UE na senda do crescimento e da criação de emprego, o atual executivo comunitário propôs no início do mandato, em novembro, um Plano de Investimento de 315 mil milhões de euros, também conhecido por “Plano Juncker”. “A minha primeira prioridade como presidente da Comissão será reforçar a competitividade da Europa e estimular o investimento para a criação de emprego”, afirmou o presidente Jean-Claude Juncker ao apresentar as suas orientações políticas no Parlamento Europeu, em julho do ano passado.

EXPLICADOR De onde vem o dinheiro?

O Fundo Europeu de Investimentos Estratégicos (FEIE) deverá ter gestão e sede no Banco Europeu de Investimento. É cofinanciado pelo BEI (5 mil milhões de euros) e pelo orçamento da UE (16 mil milhões).

O FEIE é um amortecedor de riscos, como uma garantia, serve de proteção parcial contra riscos, de proteção contra riscos iniciais. O objetivo é conseguir atrair pro-jetos de risco mais elevado mas de alto valor estratégico para a União Europeia, e que de outra forma não encontrariam financiamento. Com esta assunção de riscos em relação a projetos decisivos e complexos, a UE vai mais longe do que os atuais programas comunitários e do BEI.

Esta “rede” contra riscos permitirá ao BEI oferecer produtos que cobrem mais riscos do que os seus produtos habituais. Assim, deverá ser possível investir em projetos de elevado valor acrescentado mas que por comportarem mais riscos não conseguem financiamento.

O executivo comunitário estima que o Fundo (21 mil milhões) terá um efeito multiplicador até 15 vezes (daí o valor de 315 mil milhões). O efeito multiplicador é o quociente entre o volume financeiro total dos projetos gerados em resultado da intervenção do Fundo e o capital público

O “Plano Juncker” pretende mobilizar pelo menos 315 mil milhões de euros durante os próximos 3 anos. Uma mobili-zação de fontes de financiamento público e privado, em que cada euro será utilizado para gerar investimento privado suple-mentar e sem aumentar a dívida.

O objetivo é colocar a circular o dinheiro que está parado nas contas bancárias das empresas e cidadãos e canalizá-lo para investimentos produtivos. A base de todo o Plano é o novo Fundo Europeu para Investimentos Estratégicos (FEIE), criado em conjunto com o Banco Europeu de Investimento, com o objetivo de facilitar o acesso das PME e empresas de média capitalização ao financiamento de risco.

O FEIE funcionará como uma garantia que tem por base 16 mil milhões de euros do orçamento da UE, aos quais se juntam 5 mil milhões de euros do BEI. No total, 21 mil milhões de garantia que absorverá o risco mais elevado em investimentos estratégicos.

A Comissão e o BEI acreditam que o Fundo terá um efeito multiplicador até 15 vezes (daí o total de 315 mil milhões). Ou seja, cada euro mobilizado através do Fundo vai trazer 15 euros de investi-mento total. As duas instituições conside-ram que este investimento também será potenciado pelo efeito de alavanca dos fundos estruturais. Os vinte e oito Estados-membros foram convidados a contribuir

para o Fundo, diretamente ou através dos bancos de fomentos nacionais, bem como os investidores privados. O FEIE deverá ser aprovado pelo Conselho e pelo Par-lamento Europeu para estar operacional em junho.

Como funciona?

inicial mobilizado para lançar o Fundo. A lógica subjacente ao efeito multiplicador do FEIE é que uma pequena proporção de capital público utilizada como capacidade de assunção de riscos permitirá atingir uma quota muito maior de capital pri-vado para investir nos projetos.

O FEIE vai financiar projetos estratégicos e de longo prazo em toda a UE e uma parte servirá para apoiar investimentos das PME e das empresas de média capi-talização.

Que projetos serão escolhidos?

‘Estes investimentos suplementares devem centrar-se nas infraestruturas, nomeadamente nas redes de banda larga e redes de energia, bem como nas infraestruturas de transporte em cen-tros industriais; na educação, investiga-ção e inovação; nas energias renováveis e na eficiência energética. É conveniente afetar recursos significativos a projetos suscetíveis de ajudar os jovens a volta-rem a encontrar empregos’, anunciou Jean-Claude Juncker no Parlamento Euro-peu, em julho.

Assim, a Comissão Europeia propôs que o novo Fundo apoie os investimentos nas infraestruturas estratégicas (investimentos no digital e em energia, em consonância com as políticas da União), nas infraes-truturas de transportes em centros indus-triais, educação, investigação e inovação, os investimentos criadores de emprego,

designadamente através do financiamento de PME e de medidas a favor do emprego dos jovens e nos projetos sustentáveis e

“amigos” do ambiente.

Para ser selecionado cada projeto deve obedecer a vários critérios: ter valor acrescentado europeu (e apoiar os obje-tivos da UE), ser viável e representar valor económico, e ter início, o mais tardar, nos próximos três anos, ou seja, que represente uma expectativa razoável de investimento no período de 2015-17.

Vai ser constituída uma reserva de projetos europeia. Esta lista dinâmica e atualizada facultará informações aos investidores sobre os projetos disponíveis existentes e os futuros. Os investidores podem assim tomar decisões com base em informação fiável e transparente.

Uma task force conjunta entre a Comissão e os BEI já identificou cerca de 2000 proje-tos potenciais apresentados pelos Estados-membros, num montante de 1,3 biliões de euros. Em Portugal, por exemplo, o aumento das interconexões elétricas com Espanha (e França) é um dos projetos que encaixa nos critérios de seleção.

O facto de um projeto ser inscrito na reserva não significa necessariamente que vai ser financiado pelo Fundo.

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EXPLICADOR

AutorVasco Gandra

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É também garantida uma monitorização profissional do risco e a possibilidade de reajustar as orientações relativas aos riscos na eventualidade de uma evolução adversa no início da carteira.

Quem selecciona os projetos?O FEIE será “governado” por dois órgãos. O Conselho de Direção (CD) determina a orientação geral e em matéria de inves-timento, o perfil de risco, as políticas estratégicas e a repartição dos ativos do Fundo, em conformidade com as orien-tações políticas da CE.

O Comité de Investimento é responsá-vel perante o CD, examinará os projetos específicos e selecionará aqueles que vão beneficiar de apoio (não haverá quotas

geográficas ou setoriais). Este órgão é composto por um grupo de peritos independentes e um diretor executivo que assumirá a gestão corrente do Fundo.

Por outro lado, será aberto uma espécie de balcão único à escala da UE, uma pla-taforma europeia de aconselhamento ao investimento para assessorar, identificar e elaborar projetos, e facultar assistência técnica para os tornar mais atrativos para os investidores.

Segundo a Comissão e o BEI, a garantia do orçamento da UE permite ao BEI ofe-recer produtos com maior valor acrescen-tado, mas também intrinsecamente com maior risco. Mas os riscos deverão ser atenuados por uma gestão que beneficia da experiência e das competências do BEI.

Por outro lado, o comité de investi-mento que junta peritos independentes vai supervisionar as atividades do FEIE. Haverá uma remuneração adequada do risco, que será mantida no Fundo para compensar perdas e é criada um Fundo de Garantia da UE que assegurará uma reserva de liquidez para o orçamento da União em relação a eventuais perdas incorridas pelo FEIE no quadro do apoio prestado aos projetos.

Há o risco de os contribuintes europeus perderem dinheiro?

Quais os países que já contribuíram?

Os vinte e oito Estados-membros da EU foram convidados a contribuir para o Fundo, diretamente ou através dos bancos de fomento nacionais ou de organismos públicos que sejam proprie-dade dos Estados-membros ou por eles controlados.

Até agora só a Alemanha (8 mil milhões de euros), Espanha (1,5 mil milhões), França (8 mil milhões) e Itália (8 mil milhões) anunciaram contribuições para o Fundo.Estas contribuições nacionais não são tidas em conta para o cálculo do défice.

Numa comunicação relativa ao recurso à flexibilidade prevista pelas regras atuais do Pacto de Estabilidade e de Cresci-mento, o executivo comunitário traçou em Janeiro as suas orientações sobre esta matéria. Por forma a estimular os Estados-membros a abrirem os cordões à bolsa, as contribuições nacionais para o FEIE não são tidas em consideração no quadro da avaliação do ajustamento orçamental.

Portugal vai beneficiar do Plano de Investimento da UE?Os vinte e oito Estados-membros da UE apresentaram cerca de 2000 potenciais projetos, num total de 1,3 biliões de euros. Destes, mais de 500 mil milhões de euros em projetos que podem ser realizados nos próximos 3 anos, segundo dados da Comissão e o BEI.

Mas o facto de os projetos se encontra-rem nesta lista preliminar não significa que vão ser financiados pelo “Plano Jun-cker“. Apenas uma parte será escolhida. A constituição daquela lista é um primeiro passo. O objetivo é criar uma reserva de projetos transparente e viável que res-tabeleça a confiança dos investidores e permita desbloquear o financiamento do setor privado.

Portugal apresentou até agora 113 proje-tos que atingem um valor global de 31,8 mil milhões de euros, dos quais 16,1 mil

milhões euros no período 2015-2017. As áreas dos transportes e da energia são as que mais projetos incluem. De acordo com fontes do executivo português, a atual distribuição dos projetos nacionais candidatos ao Plano de Investimento é a seguinte: transportes 31%, energia 30%, infraestrutura social 24%, recursos e ambiente 9%, e conhecimento, inovação e economia digital 6%.

Alguns dos projetos mais emblemáticos na área dos transportes e da energia apostam no reforço das ligações entre Portugal e Espanha. Assim, por exemplo, a construção de uma ligação ferroviária para transporte de mercadorias entre os portos de Lisboa e Sines e Madrid, o reforço da linha ferroviária entre Portu-gal e Vigo, ou novas ligações rodoviárias entre os dois países. Na área da energia, vários projetos inserem-se no espírito da

futura União Energética que pretende atingir 10% nas interconexões entre os Estados-membros. Estas interligações deverão permitir a Portugal e Espanha exportar energia elétrica para o resto do espaço comunitário.

A escolha dos projetos enviados pelos Estados-membros não obedece a quotas geográficas nem setoriais. Certo é que nem todos os projetos que Portugal e restantes países apresentaram serão esco-lhidos. As propostas nacionais devem pas-sar pelo crivo de um comité de peritos independentes e obedecer a uma série de critérios.

EXPLICADOR Mónaco, de Leonardo Jardim, apura-se para os quartos de final da Liga dos CampeõesO Mónaco, qualificou-se na terça-feira para os quartos de final da Liga dos Cam-peões de futebol, apesar de ter perdido em casa com o Arsenal, por 2-0.

Na segunda mão dos oitavos de final, o francês Olivier Giroud (36 minutos) e o galês Aaron Ramsey (79) deram o triunfo ao Arsenal, insuficiente contudo para o conjunto inglês dar a volta ao 3-1 na pri-meira mão, permitindo aos monegascos, que tiveram João Moutinho e Bernardo Silva em campo, chegar pela primeira vez aos ‘quartos’ desde 2003/04.

No outro encontro da noite, o Atlético de Madrid, finalista em 2013/14, e o Bayer Leverkusen vão disputar o pro-longamento, depois de Mario Suarez ter empatado a eliminatória, com um golo aos 27 minutos.

Mónaco, treinado pelo português Leonardo Jardim, qualificou-se para os quartos de final da Liga dos Campeões de futebol, apesar de ter perdido em casa com o Arsenal, por 2-0.

AutorAgência Lusa

DESPORTO

19QUI 16 ABR 2015 | |

Luís Figo insiste num novo sistema de distribuição das receitas da FIFAO português Luís Figo, candidato às próximas eleições da FIFA, quer remodelar o sistema de distribuição das receitas da FIFA de forma a beneficiar as federações mais necessitadas.

O português Luís Figo, candidato às pró-ximas eleições da FIFA, irá apresentar no congresso da CONCACAF um novo sistema de distribuição das receitas dos Campeonatos do Mundo de futebol, de forma a beneficiar as federações mais necessitadas.

O antigo internacional português terá a ocasião de apresentar o seu programa de candidatura no próximo dia 16 de abril, no congresso da Confederação de Futebol da América do Norte, Central e Caraíbas (CONCACAF), que se realiza em Nas-sau, e no qual contará com o apoio do presidente da Federação Portuguesa de Futebol, Fernando Gomes.

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Ciganos do Alentejo numa exposição em Nova Iorque

O artista francês Pierre Gonord fotografou os últimos ciganos nómadas do Alentejo e os respetivos animais ao estilo de retratos pictóricos do barroco. A exposição está agora em Nova Iorque.

CULTURACULTURA

Já não é a primeira vez que Pierre Gon-nord, fotógrafo francês com residência em Madrid, se dedica a fotografar comu-nidades marginalizadas de forma quase pictórica, a fazer lembrar retratos em tela do século XVII ou XVIII. Fê-lo em vilas isoladas de França e Espanha, na Amé-rica do Sul, com membros da yakuza, no Japão, com jovens sem-abrigo, cegos, agricultores ou mineiros um pouco por toda a Europa.

Para este trabalho, contudo, Gonnard veio até território nacional. Inserido numa residência no âmbito da Trienal no Alentejo, com quem colabora em vários projetos, o artista explorou a fronteira raiana junto a Portalegre e encontrou nos ciganos nómadas do Alentejo as per-sonagens perfeitas para The Dream Goes Over Time (originalmente intitulado Au-Delà du Tage).

Mais uma vez, e à imagem do seu trabalho anterior, Gonnard assina uma coleção de retratos íntimos com um estilo pictórico muito acentuado, não só dos membros da comunidade da região mas também dos respetivos animais. O fotógrafo depa-rou-se com a família, pela primeira vez, quando estes se deslocavam a bordo de uma carroça a caminho do seu acampa-mento.

Viajou e conviveu com eles durante sema-nas até ganhar confiança e afeto suficien-tes para os poder fotografar, sendo que muitos deles nunca sequer tinham visto uma câmara até aí.

Depois de já ter sido mostrado em 2013, em Évora, no âmbito da Trienal e em 2014 no Centro Andaluz de Fotografia, o tra-balho atravessa o Atlântico e chega agora a Nova Iorque: está patente na galeria Hasted Kraeutler até 25 de abril.

AutorTiago Pais

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‘Leviatã’: a longa tragédia da sociedade russa

Os media, com a televisão à cabeça, têm o mau hábito de reduzir uma obra de arte a um estereótipo, simplificando-a numa frase ou numa etiqueta para con-sumo colectivo e retirando-lhe assim a riqueza, os significados e a complexidade. A mais recente vítima desta tendência é “Leviatã”, a quarta longa-metragem do cineasta russo Andrei Zyvagintsev, que chega hoje a Portugal rotulado como “o filme anti-Putin”.

Nada mais confrangedor e reducionista do que limitar a um libelo contra o actual ocupante do Kremlin o que é na realidade um filme sobre os trágicos atavismos cul-turais, políticos e sociais da Rússia – a corrupção de alto a baixo e do centro às periferias, a tirania tentacular do Estado, a promiscuidade da Igreja Ortodoxa com o poder, os vasos comunicantes deste com o mundo do crime, o peso da burocracia e a força dos tiranetes locais, a impotência do cidadão comum perante a arbitrariedade pública, o embrutecimento da sociedade pela bebida, o fatalismo da sociedade civil –, que Zyvagintsev ilustra através de his-tória sobre a eterna impotência do cida-dão russo perante a arbitrariedade estatal, perante o peso e a força de um monstro.

Um leviatã que já se chamou czarismo e depois comunismo, e que se mantém com as roupagens de um novo regime, com novas caras e a mesma velha indiferença e prepotência para com as pessoas comuns.

Mais do que um mero libelo “anti-Putin”, o filme “Leviatã”, de Andrei Zyvagintsev, é uma história bruta sobre os atavismos políticos, culturais e sociais da Rússia, da corrupção ao fatalismo,

CULTURA

AutorEurico de Barros

CULTURA

Putin é apenas mais um, aquele que controla o monstro nesta altura, como o realizador mostra na sequência em que o protagonista e a sua família e amigos vão fazer um piquenique de aniversário na natureza, que consiste essencialmente em beber vodka e fazer tiro ao alvo. Primeiro, a garrafas da bebida nacional, depois às fotografias dos homens que lideraram o país quando ainda se chamava União Soviética, e a seguir no pós-comunismo.

O leviatã do sistema sobrevive aos seus líderes, e resta aos governados disparar contra os seus retratos, para cevar toda a raiva, revolta e impotência que os amar-fanha por dentro

Este filme de Andrei Zyvagintsev é mais explicitamente “contra” o regime do que a sua obra de estreia, o magnífico e enig-maticamente alegórico “O Regresso”, que revelou o cineasta ao mundo vencendo o Festival de Veneza em 2003.

Bem como a sua realização anterior, “Elena” (2011), que, pela subtileza na des-crição das desigualdades e injustiças da actual sociedade russa, alguns poderão com toda a legitimidade preferir a este mais óbvio e demonstrativo “Leviatã” (são claros os paralelos feitos por Zyvagintsev com a narrativa bíblica de Job, só que no final do filme, o seu herói, Kolia, em vez de ser recompensado pelo sofrimento que lhe foi infligido, é ainda mais implacavel-mente martirizado).

Ironicamente, o realizador foi inspirar-se num facto real ocorrido em 2004 nos EUA (revoltado contra a Câmara Muni-cipal da cidade onde vivia na sequência de um contencioso sobre terrenos, um homem meteu-se num tanque, destruiu vários edifícios públicos e depois suici-dou-se) para escrever, com Oleg Negin, “Leviatã”, que ganhou o Prémio de Melhor Argumento no Festival de Can-nes, o Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro e esteve candidato ao Óscar na mesma categoria

Kolia, um mecânico, vive e trabalha numa casa com vista para o Mar de Barents, que pertence à sua família há várias gerações. O mafioso presidente da câmara local cobiça o terreno e procura expropriar Kolia e a família manipulando a polícia e os tribunais e obrigando-o a aceitar uma indemnização, para construir uma mansão luxuosa para si ou especular no mercado imobiliário com os seus capan-gas do meio da construção civil.

Kolia recorre a um velho amigo e cama-rada da tropa, Dimitri, advogado em Mos-covo. Este recorre aos seus conhecimentos na capital, compila um dossier com todos os podres do autarca, e confronta-o com ele. Só que nem este se deixa intimidar, como também Dimitri se envolve de forma imprudente com a mulher de Kolia. E tudo o que pode acontecer de mau, acontece.

A Rússia que Andrei Zyvagintsev aqui filma é uma terra de homens e mulheres corruptos, desesperados, comprados ou resignados, onde a revolta é um gesto inútil que a máquina da burocracia, o peso do dinheiro ou a violência dos poderosos se encarregam de neutralizar, e onde toda a gente bebe vodka até ao entorpecimento.

Mais do que um filme pessimista, “Leviatã” é um filme fatalista. E é um fatalismo pesado, ancestral, enraizado, profundamente russo, sem solução nem redenção, muito embora o realizador tenha dito que ‘Leviatã’ fosse também entendido como ‘uma parábola univer-sal’ sobre a batalha do indivíduo contra a omnipotência do Estado.

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Imagens raras de Marilyn Monroe vão a leilão

Bert Stern, que faleceu em 2013, não foi o primeiro homem a fotografar Marilyn Monroe, mas foi um dos últimos. Foi em junho de 1962 que o fotógrafo e a atriz norte-americanos se encontraram e se fecharam num quarto de hotel, em Los Angeles, durante três dias. O objetivo? Registar aquelas que seriam as últimas fotografias profissionais da estrela que nasceu Norma Jeane Baker — as imagens ficaram conhecidas, muito a propósito, como “A Última Sessão”. Pouco tempo depois, Marilyn aparecia morta.

Recordada a lição de história/cultura, a notícia: um conjunto de impressões, incluindo das referidas fotografias, vai ser leiloado no próximo dia 10 de março no Estado norte-americano do Texas, na Heritage Auctions Texas. Espera-se anga-riar, no total, cerca de 70 mil euros.

Cópias de fotografias de “A Última Sessão” e de outras tiradas por um amigo da atriz vão ser leiloadas no próximo dia 10 de março. Uma oportunidade para quem é fã da loira mais famosa de Hollywood.

AutorAna Cristina Marques

LIFESTYLE

Nas imagens de “A Última Sessão” – que fizeram uma pequena excursão a Portugal em 2011, numa exposição temporária a ocupar a Fundação D. Luís I, em Cas-cais — é possível encontrar uma Marilyn sedutora, à semelhança do que sempre foi, mas também real. Rugas de expressão que a idade fez por vincar, poros da pele em evidência e até a cicatriz de uma opera-ção à vesícula fazem parte de um registo artístico invulgar permitido pela estrela de Hollywood. Há fotografias marcadas a caneta vermelha, marcas dos negativos que a própria atriz rejeitou com um xis, na altura.

Mas há também cópias de fotografias raras tiradas um mês depois de Stern, escreve o jornal britânico Telegraph. O fotografo de serviço foi, desta vez, o amigo próximo da atriz, George Barris, homem que Marilyn conheceu quando estava a trabalhar no filme de 1955, O Pecado Mora ao Lado.

Neste caso, a loira posa sobre a areia de uma praia californiana e mostra um lado mais brincalhão — entre outras fotogra-fias a preto e branco registadas no interior de uma casa. As fotos de Barris destina-vam-se a um livro sobre a estrela de 36 anos que ficou em suspenso depois da sua trágica morte.

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Risotto de bacalhau

Quando tinha aí uns três ou quatro anos, o meu filho mais velho chamava arroz maroto ao arroz malandro. Sempre que penso em risotto, lembro-me desta asso-ciação patusca, não só pela rima mas também porque o risotto pode revelar-se bem maroto na hora de o cozinhar. Não é à toa que no Masterchef Austrália o risotto é considerado o “prato da morte”: fazer e apresentar um risotto irreprovável, cremoso, nem demasiado ensopado nem demasiado seco ou cozinhado, é um dos desafios que faz tremer os concorrentes.

No Masterchef Austrália chamam ao risotto ‘o prato da morte’, mas Teresa Rebelo, do blogue Lume Brando, ajuda-o a sair vivo do desafio.

Galp: Petrobras sairá do escândalo ‘mais forte, competitiva e capacitada’A Petrobras vai sair do escândalo de corrupção em que está envolvida “mais forte, mais competitiva e mais capacitada”, afirmou Manuel Ferreira de Oliveira, pre-sidente da Galp Energia, à margem de uma intervenção em Lisboa.

Considerando que o problema que se vive na petrolífera estatal brasileira “foi ali implantado” e “quanto mais depressa se resolver melhor”, Ferreira de Oliveira afirmou que a empresa “vai sair deste processo mais forte, mais competitiva e mais capacitada”.

O presidente da Galp Energia falou à agência Lusa antes do início da palestra ‘Oportunidades de negócios decor-rentes das descobertas de O&G [sigla inglesa para petróleo e gás] na CPLP’, que foi organizada no auditório da Auditório da SRS Advogados, devida-mente, pelo Fórum de Administradores de Empresas no âmbito da iniciativa ‘Encontros de Gestores’.

Manuel Ferreira de Oliveira, presidente da Galp Energia, declarou que a Petrobras será “mais forte, competitiva e capacitada” após o escândalo.

AutorAgência Lusa

MUNDO

Petrolífera brasileira tem estado envolvida em escândalos de corrupção e branqueamento de capitais.

LIFESTYLE

AutorTeresa Rebelo

Felizmente, a nossa cozinha não é o estúdio do Masterchef. Nela podemos cozinhar sem cronómetro. Podemos ter amigos ao pé e um copo de vinho na mão.

O risotto é o prato ideal para conviver enquanto se cozinha: os braços vão-se revezando e temos a certeza de que esta-mos todos quando ficar no ponto. E se por algum motivo não sair perfeito, não há críticas do Matt Preston, nem desafio de eliminação. Há é uma nova desculpa para nos juntarmos outra vez.

Para quatro pessoas

2 lombos de bacalhau8 fatias de bacon320 g de arroz para risotto1 cenoura2 cebolas5 dentes de alho1 folha de louro1 talo de alho francês1 ramo de salsa1 copo de vinho branco120 g de queijo da Ilha raladoAzeite qbSal qbPimenta preta qb

Num grelhador ou frigideira anti-ade-rente, cozinhe 4 fatias de bacon até esta-rem bem tostadas e crocantes. Retire-as e reserve-as sobre papel de cozinha.

Leve ao lume uma panela com água onde colocou os lombos de bacalhau, a cenoura descascada e partida às rodelas, o alho francês lavado e partido em peda-ços, dois dentes de alho esmagados, uma cebola descascada partida ao meio, a folha de louro, metade do ramo de salsa e um fio de azeite extra virgem.

Deixe ferver e cozinhar até o bacalhau começar a lascar, o que deve ser muito rápido, uns 5 minutos desde que começa a ferver. Retire o bacalhau para um prato e deixe arrefecer até conseguir lascá-lo. Reserve num local seco.

Coe a água onde cozeu o bacalhau, que deve perfazer cerca de 1,3 litros. Prove este caldo, retifique de sal se for necessário e mantenha-o quente. Entretanto leve a refogar num fundo de azeite a outra cebola e três dentes de alho, tudo picado, e ainda as restantes fatias de bacon parti-das em pequenos pedaços.

Deixe alourar e junte o arroz para risotto. Adicione o vinho branco e mexa até evaporar. A partir daqui vá juntando aos poucos o caldo onde cozeu o bacalhau, mexendo sempre e juntando mais caldo sempre que já tiver evaporado.

Deve demorar cerca de 25 minutos, em lume médio, até o grão do arroz ficar cozinhado al dente e pode ser que não precise de usar todo o caldo.Quase no final da cozedura, junte as las-cas de bacalhau, a restante salsa picada e metade do queijo ralado.

Retifique o sal se necessário, e tempere com pimenta preta acabada de moer. Envolva bem e retire do lume. Sirva com mais queijo da Ilha ralado e o bacon tos-tado partido em pedacinhos.Teresa Rebelo é a autora do blogue online Lume Brando..

Defendendo a citação que a Petrobras ‘é, indiscutivelmente, a empresa petro-lífera do mundo com mais saber e mais experiência na exploração e produção de petróleo e gás no ‘ultra deep offshore’ [exploração em águas muito profundas] o responsável da Galp sublinhou que ‘o conhecimento está lá, os profissionais estão lá, e, com certeza, são do melhor que há no mundo”.

Apesar de considerar que o escândalo de corrupção em torno da Petrobras é “um processo difícil para todos os que estão a vivê-lo no dia-a-dia” e perante o qual a empresa brasileira “tem pela frente um trabalho gigantesco”, Ferreira de Oliveira disse acreditar que “o resultado vai ser positivo”.

“Esta situação entristece-nos a todos, entristece e muito a esmagadora maioria dos colaboradores da Petrobras, porque, às vezes, ao falar dos problemas que estão hoje nas páginas dos jornais, esquecemos que 99,99% dos trabalhadores da empresa são pessoas tão dignas, competentes e pro-fissionais como todos nós”, sublinhou à Lusa, desejando que, “passada esta onda de preocupação, se regresse à normali-dade necessária para a Petrobras poder cumprir o seu dever”.

No início de fevereiro, o presidente da Galp Energia havia declarado não estar a sentir “implicações materiais” nos projetos em que estava envolvido com a Petrobras”.

A situação na petrolífera brasileira levou a presidente brasileira, Dilma Rousseff, a anunciar um conjunto de medidas, que submeterá ao Congresso, para reforçar o combate à corrupção.

Entre as medidas propostas consta uma que regulamenta uma lei contra a corrup-ção já aprovada sobre as práticas ilícitas no setor privado, endurecendo as penas para os empregadores que se envolvam em crimes contra o erário público.

Essa medida pode afetar diretamente 18 empresas privadas contra as quais a pro-curadoria-geral instaurou dois processos administrativos por alegado envolvi-mento na rede de corrupção na Petrobras.

No âmbito deste escândalo, estão também sob investigação 50 políticos, na sua maio-ria da base de apoio a Dilma Rousseff, e entre os quais o tesoureiro do Partido dos Trabalhadores (PT), João Vaccari, por supostas manobras para conseguir dinheiro da Petrobras para as campanhas do partido no poder.

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MUNDO

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Torre Eiffel foi engolida pela poluição atmosféricaA capital pariense está debaixo de uma nuvem de poluição que obrigou as autoridades a diminuir os limites de velocidade em 20 quilómetros.

Paris perdeu a Torre Eiffel entre as par-tículas da poluição, que formaram uma nuvem baça sobre a capital francesa durante esta quarta-feira.

A notícia é publicada pelo ABC.A Airparif, a companhia responsável por controlar a qualidade do ar parisiense, afirmou que os níveis de contaminação são consistentes e que “se não tivermos ultrapassado os níveis máximos, não esta-remos muito longe”.

A poluição que está a sufocar Paris é criada pelos gases libertados pelos auto-móveis e pelas indústrias, que têm lan-çado para o ar as partículas mais nocivas para a saúde humana. Chamam-se PM10 e são capazes de penetrar nos pulmões e no sistema circulatório.

A fraca visibilidade criada pelo smog que se abateu na cidade europeia obrigou as autoridades a diminuir os limites de velocidade nas estradas. A polícia pode ainda proibir a entrada de carros na capi-tal, obrigando a população a viajar em transportes públicos.Foi uma medida adotada o ano passado, depois de uma crise ambiental de grandes dimensões.