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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA - UEFS DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO DEDU PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO - PPGE MESTRADO ACADÊMICO MURILO OLIVEIRA ALMEIDA OLHARES DE DOCENTES DE MESTRADOS DA UEFS SOBRE A INFLUÊNCIA DA PESQUISA EM SUAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS Feira de Santana 2014

olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA - UEFS DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDU

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO - PPGE MESTRADO ACADÊMICO

MURILO OLIVEIRA ALMEIDA

OLHARES DE DOCENTES DE MESTRADOS DA UEFS SOBRE A INFLUÊNCIA DA PESQUISA EM SUAS PRÁTICAS

PEDAGÓGICAS

Feira de Santana

2014

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MURILO OLIVEIRA ALMEIDA

OLHARES DE DOCENTES DE MESTRADOS DA UEFS

SOBRE A INFLUÊNCIA DA PESQUISA EM SUAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE), Mestrado Acadêmico, da Universidade do Estadual de Feira de Santana (UEFS), no âmbito da Linha de Pesquisa II: Educação, Sociedade e Culturas - como requisito final para obtenção do grau de Mestre em Educação. Orientador: Prof. Dr. Antonio Roberto Seixas da Cruz.

Feira de Santana – BA 2014

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DISSERTAÇÃO

MURILO OLIVEIRA ALMEIDA

OLHARES DE DOCENTES DE MESTRADOS DA UEFS SOBRE A INFLUÊNCIA DA PESQUISA EM SUAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE), Mestrado Acadêmico, da Universidade do Estadual de Feira de Santana (UEFS), no âmbito da Linha de Pesquisa II: Educação, Sociedade e Culturas - como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Educação, pela seguinte banca examinadora:

Prof. Antonio Roberto Seixas da Cruz – Orientador Doutor em Educação, Universidade Federal da Bahia - UFBA

Profª. Nanci Helena Rebouças Franco Doutora em Educação, Universidade Federal da Bahia - UFBA

Profª. Marinalva Lopes Ribeiro, PhD.

Doutora em Educação, Université de Sherbrooke - Canadá

Feira de Santana, 05 de maio de 2014

Resultado:____________________________

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AGRADECIMENTOS

À minha linda filha Sophia Borges que, mesmo sem ter noção, inspira-me e dá

fôlego cada vez que sorri para mim nos momentos difíceis desta caminhada rumo ao

título de Mestre em Educação.

À minha esposa e companheira Lu que me ajuda muito e contribui para a minha vida

com seu carinho, AMOR e atenção.

Ao meu Querido Amigo e Orientador Prof. Dr. Antonio Roberto Seixas da Cruz,

“Amigo Roberto”, a incrível pessoa a qual me ensinou os caminhos da pesquisa

científica e me deu conselhos memoráveis que serviram e vão servir com toda a

certeza para minha vida pessoal e trajetória acadêmica.

À Coordenadora do NEPPU, Profª. Drª. Marinalva Lopes Ribeiro, que amorosamente

me recebeu e acolheu me ajudando nas horas difíceis do desenvolvimento da

pesquisa e da minha vida pessoal também.

Aos demais professores e companheiros do NEPPU, pela paciência e

disponibilidade em contribuir para o meu crescimento como ser humano e pelos

ricos momentos de aprendizado pessoal, profissional e acadêmico na realização da

pesquisa.

À Profª. Drª. Nanci Helena, pelas ricas ponderações e sugestões para melhoria

desta Dissertação.

Aos docentes entrevistados, sujeitos de nossa pesquisa, que concederam ricas falas

e contribuíram sobremaneira para o desenrolar desta Dissertação, ajudando a

construir um arcabouço teórico-prático, dando vida aos aspectos humanos que,

muitas vezes, se colocam como frios em algumas abordagens investigativas no

campo da Pesquisa em Educação.

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À FAPESB, pela concessão da Bolsa Mestrado Cotas e do Auxílio Dissertação, sem

os quais este trabalho não poderia ser realizado.

Ao Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE), Mestrado Acadêmico da

UEFS pela acolhida e apoio para a realização desta pesquisa de Dissertação.

Aos professores do Mestrado em Educação da UEFS pelas ricas contribuições e

debates com o intuito de contribuir para a escrita deste trabalho com qualidade

científica.

Aos colegas estudantes do Mestrado em Educação da UEFS, turma II, 2012, pelas

contribuições e compreensão nos momentos de escrita deste trabalho.

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Quando entrar setembro e a boa nova

andar nos campos

Quero ver brotar o perdão onde a gente

plantou juntos outra vez

Já sonhamos juntos semeando as

canções no vento

Quero ver crescer nossa voz no que falta

sonhar

Já choramos muito, muitos se perderam

no caminho

Mesmo assim não custa inventar uma

nova canção que venha nos trazer

Sol de primavera abre as janelas do meu

peito, a lição sabemos de cor

só nos resta aprender...

(Composição: Beto Guedes/Ronaldo

Bastos).

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RESUMO

A presente Dissertação é resultante da pesquisa que teve como objetivo geral compreender as representações de docentes de mestrados da UEFS sobre a influência da pesquisa em suas práticas pedagógicas. O quadro teórico do estudo amparou-se em princípios da Teoria das Representações Sociais – TRS (MOSCOVICI, 1987 e JODELET, 2001) e nos conceitos a seguir: pesquisa (DEMO, 1997 e 1998; PIMENTA, 2005); professor pesquisador (VENTORIM, 2005; GERALDI, 1998; CARR e KEMIS, 1988; SCHÖN, 1983; STENHOUSE, 1998; ELLIOTT, 1990; ZEICHNER, 1998), dentre outros. Para alcançar o objetivo proposto, optamos por uma pesquisa descritiva de abordagem qualitativa. Foram sujeitos da investigação três docentes de cada um dos seguintes Programas de Pós-Graduação da UEFS, todos da grande área das Ciências Humanas: 1) História, Cultura e Poder; 2) Desenho, Cultura e Interatividade; 3) Ensino, Filosofia e História das Ciências que, voluntariamente, aceitaram participar da investigação, totalizando um número de nove professores. Os dados foram coletados e produzidos a partir de entrevistas semi-estruturadas (SZIMANSKY, 2004), e tratados com base na técnica da análise de conteúdo de tipo temática, conforme Bardin (1977). Os resultados do estudo apontam para o entendimento de que a relação da investigação científica, realizada por pesquisadores pertencentes a cursos de pós-graduação da UEFS, com a prática docente, ainda encontra-se por se fazer na dinâmica educativa dos entrevistados, posto que, apesar destes relatarem sobre a existência de uma articulação da pesquisa com o ensino, eles mesmos em suas falas, na maioria das vezes, deixaram transparecer a dissociação, em suas práticas docentes, entre as funções da universidade: o ensino, a pesquisa e a extensão. Certamente uma das explicações encontra-se no fato de que existe uma ênfase dada à dimensão da pesquisa, enquanto a docência sofre um desprestígio juntamente com os saberes necessários ao desenvolvimento do trabalho docente na pós-graduação, a exemplo dos conhecimentos pedagógicos, da metodologia do ensino e da Didática. Palavras-chave: Docência Universitária. Docente Pesquisador. Pesquisa. Prática Pedagógica.

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ABSTRACT The present dissertation is the result of research that had as main objective understood the representations of the masters’ course teachers from UEFS about the influence of research in their pedagogical practices. The theoretical framework of the study was sustained in principles of the Theory of Social Representations - TRS (MOSCOVICI, 1987 e JODELET, 2001) and on the following concepts: research (DEMO, 1997 and 1998; PIMENTA, 2005); research teacher (VENTORIM, 2005; GERALDI, 1998; CARR and KEMIS, 1988; SCHÖN, 1983; STENHOUSE, 1998; ELLIOTT, 1990; ZEICHNER, 1998), among others. To achieve the proposed objective, we have opted for a descriptive research of qualitative approach. Were subjects of the investigation three teachers from each one of the following Post Graduation Program at UEFS, all of them of the big area of Human Sciences: 1) History, Culture and Power; 2) Drawing, Culture and Interactivity; 3) Teaching, Philosophy and History of , that, voluntarily, agreed to participate in the research. The data were collected and produced through semi-structured interview (SZIMANSKY, 2004) and treated based on the technique of content analysis of the thematic type, as Bardin (1977). The study results point to the understanding that the relationship of scientific research, performed by researchers belonging to the post-graduate courses of UEFS, with the teaching practice, still not happening in the educational dynamics of the intervieweds, given that, although these have reported about the existence of a joint between research and teaching, they themselves in their speech, most often, let the dissociation show, in their teaching practices, among the university's functions : teaching, research and extension. Certainly one of the explanations is in the fact that there is an emphasis on the dimension of research, while the teaching suffers a discredit along with the skills needed for the development of the teaching work in post-graduation, the example of pedagogical knowledge, methodology of teaching and didactics. Keywords: University teaching. Teacher Researcher. Research. Pedagogical Practice.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO........................................................................................................10

2 O PAPEL DA PESQUISA NA FORMAÇÃO E NA PRÁTICA DE DOCENTES DE

ENSINO SUPERIOR..................................................................................................18

2.1 MODELOS DE DOCENTE DE ENSINO SUPERIOR E A PRÁTICA EDUCATIVA

NA UNIVERSIDADE...................................................................................................18

2.2 MARCOS MUNDIAIS DO MOVIMENTO DO PROFESSOR PESQUISADOR

(1940–1990) E A PESQUISA CIENTÍFICA................................................................23

2.3 O DOCENTE PESQUISADOR E SUA PRÁTICA EDUCATIVA...........................34

3 CAMINHO INVESTIGATIVO DA PESQUISA.........................................................47

3.1 TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS (TRS)..........................................53

3.2 LÓCUS DA PESQUISA........................................................................................58

3.3 SUJEITOS DA INVESTIGAÇÃO..........................................................................59

3.4 PROCEDIMENTOS DE COLETA E PRODUÇÃO DOS DADOS.........................61

3.5 INSTRUMENTO DE COLETA E PRODUÇÃO DE DADOS: ENTREVISTA SEMI-

ESTRUTURADA.........................................................................................................63

3.6 TÉCNICA DE ANÁLISE DOS DADOS: ANÁLISE DE CONTEÚDO....................65

4 OLHARES DE DOCENTES DE MESTRADOS DA UEFS SOBRE A INFLUÊNCIA

DA PESQUISA EM SUAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS..........................................70

4.1 CONCEPÇÕES DE DOCENTES DE MESTRADOS DA UEFS SOBRE A

PESQUISA, O ENSINO E A EXTENSÃO..................................................................71

4.2 RELAÇÃO ENSINO E PESQUISA NOS CONTEXTOS DE SALA DE AULA......88

4.2.1 Teoria do conhecimento que orienta o trabalho pedagógico.....................97

4.2.2 Influência da pesquisa na docência de mestrados da UEFS....................105

4.2.3 Relação ser pesquisador acadêmico e docência universitária................120

4.2.4 Funções da pesquisa para prática de mestrado........................................136

4.3 PROFESSOR PESQUISADOR: IDENTIDADE, PAPEL E COMPETÊNCIA.....145

4.3.1 Influência do mestrado para construção de identidade de docentes

universitários..........................................................................................................145

4.3.2 Papel de pesquisador acadêmico versus perfil de professor

pesquisador............................................................................................................153

4.3.3 Competências/habilidades do docente de ensino superior......................161

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................168

REFERÊNCIAS........................................................................................................174

APÊNDICE A...........................................................................................................182

APÊNDICE B...........................................................................................................184

APÊNDICE C...........................................................................................................187

APÊNDICE D...........................................................................................................188

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1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho faz parte da pesquisa desenvolvida no Programa de Pós-

Graduação em Educação (PPGE), Mestrado Acadêmico, da Universidade Estadual

de Feira de Santana (UEFS), na Área de Concentração “Educação, Sociedade e

Culturas”, Linha de Pesquisa II “Culturas, Formação e Práticas Pedagógicas”, cujo

título é Olhares de docentes de mestrados da UEFS sobre a influência da

pesquisa em suas práticas pedagógicas.

O interesse pela investigação se deu a partir do meu vínculo de dois anos

como bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica

(PROBIC/UEFS), quando participei de duas pesquisas sobre a formação de

professores para atuação na docência universitária no Núcleo de Estudos e

Pesquisa sobre Pedagogia Universitária (NEPPU). Neste Núcleo, desenvolvemos

uma pesquisa, através de dois Planos de Trabalho: o primeiro intitulado “As

Representações Sociais dos estudantes sobre a construção da identidade do

professor no processo de formação”, ligado ao projeto de pesquisa “Análise das

representações de estudantes e professores dos cursos de licenciatura de duas

universidades públicas da Bahia sobre a prática educativa no processo de

profissionalização”; e o segundo com o título “Ser professor na atualidade:

representações de estudantes sobre a influência da pesquisa nas práticas

pedagógicas dos docentes no contexto da sala de aula”, articulado ao projeto maior

“Qualidade do ensino: representações de estudantes sobre a relação entre ensino,

pesquisa e desenvolvimento profissional docente”, ambos vinculados ao

Departamento de Educação (DEDU), da UEFS, desenvolvido pelo grupo de

docentes pesquisadores e discentes de cursos de graduação e de pós-graduação,

ligados ao referido Núcleo.

Ressalta-se que o tema de pesquisa nasceu de reflexões realizadas a partir

do estudo de Monografia de Graduação em Licenciatura em Pedagogia da UEFS, no

entanto, buscamos aprofundá-lo, dando-lhe um novo enfoque, no presente trabalho,

seja no processo metodológico, a exemplo da ampliação dos sujeitos da pesquisa,

seja no aprofundamento do quadro teórico e, também, dos resultados da

investigação.

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O estudo visa contribuir com reflexões sobre o processo de construção da

identidade dos docentes do ensino superior, considerando a relação do ensino com

a pesquisa em suas práticas pedagógicas, ressaltando as diferenças quanto à

natureza da docência e da pesquisa, sem deixar de destacar a complementaridade

de tais atividades acadêmicas.

Nesse sentido, o interesse consistiu em compreender a problemática da

formação do professor universitário em nível de mestrado, buscando analisar se

existe relação entre o ensino e a pesquisa na prática pedagógica dos docentes

pertencentes a cursos de mestrado da UEFS, a partir de dois pressupostos: 1) Uma

visão que considera que a docência nesse nível tem exigido desses professores

uma formação científica, na busca do preparo para o ser pesquisador de forma

articulada com a formação para o ser professor; 2) A ideia de que a capacidade

investigativa em articulação com os saberes da docência é uma das exigências para

a atuação desse profissional que atua no ensino superior, especificamente em

cursos de mestrado.

No bojo dessas reflexões, consideramos no presente trabalho que a

constituição de um objeto de pesquisa tem a ver com a identidade do professor e

pode ser demarcada nas escolhas formativas realizadas ao longo de sua trajetória

de vida. Assim, é preciso ressaltar a necessidade de travar uma discussão sobre

algumas das minhas experiências sócio-profissionais, com vistas a clarificar o

debate sobre a gênese do desejo em discutir a respeito da influência da pesquisa na

prática de professores de mestrados da UEFS, através de suas representações.

Nessa perspectiva, começarei a exposição dos motivos que levaram à busca

do entendimento de como tem se dado a prática de professores de Mestrados da

UEFS, especificamente sobre a influência da pesquisa como atividade obrigatória

para o trabalho pedagógico nesse nível de ensino, através da exposição dos motivos

e ações feitas desde a entrada no curso graduação em Licenciatura em Pedagogia

da UEFS, até às reflexões sobre os desdobramentos do curso de Mestrado em

Educação, que está sendo realizado também na UEFS.

No terceiro semestre, em conversas com colegas bolsistas e docentes

pesquisadores com os quais tive contato na Graduação, foi que nasceu o interesse

pela atividade da pesquisa e daí procuramos dar conta da inscrição para concorrer à

bolsa de Iniciação Científica (PROBIC/UEFS). Participei como candidato à bolsa e

fui aprovado, passando a fazer parte do NEPPU, vinculado ao DEDU/UEFS.

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Após algum tempo de estudos nesse Núcleo, comecei a aprofundar o contato

com a pesquisa, quando realizei diversas atividades formativas de comunicação

interna nas reuniões de estudo do grupo, apresentações de trabalho, participações

em eventos científicos e publicações de artigos em eventos, sobre a temática da

pesquisa intitulada: As representações de estudantes e professores dos cursos de

licenciatura de duas universidades públicas da Bahia sobre a prática educativa no

processo de profissionalização docente, desenvolvida pelo NEPPU quando entrei no

ano de 2008.

Dentre esses eventos científicos, destaco a experiência vivenciada no XV

Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino (ENDIPE), realizado no período

de 20 a 23 de abril de 2010, na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), no

qual pude aprofundar a reflexão sobre a questão dos elementos necessários a

atuação do professor no ensino superior, desde os conteúdos a serem ensinados

até os aspectos do relacionamento entre docente e estudante, a questão da

afetividade, do planejamento de ensino, da avaliação, entre outros elementos

necessários à docência universitária.

Outro evento que destaco foi o IV Seminário Vozes da Educação: formação

de professores/as – narrativas, políticas e memórias, 2010, que aconteceu na

Universidade estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e que possibilitou o contato com

temas relacionados à pesquisa na docência universitária.

É possível descrever, também, algumas das produções de artigos mais

relevantes nessa trajetória intelectual, publicados em anais de eventos nacionais e

internacionais na área de educação, a exemplo de um artigo intitulado “Qualidade do

ensino superior: representações sociais de estudantes da UEFS”, e outro com o

seguinte título “Ser professor na atualidade: representações de estudantes sobre a

influência da pesquisa nas práticas pedagógicas dos docentes no contexto da sala

de aula universitária”. Ressalta-se que esses eventos contribuíram para a reflexão

cada vez mais ampliada sobre a docência universitária e sobre a prática no ensino

superior, temas que são objetos de reflexões das pesquisas que o NEPPU vem

desenvolvendo desde sua fundação.

Destaco, ainda, a participação no Estágio Docência, no componente curricular

Orientação Monográfica, do curso de Licenciatura em Pedagogia, da UEFS, como

requisito do curso de Mestrado em Educação que contribuiu para a discussão cada

vez mais ampliada da docência no ensino superior.

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Ao realizarmos um levantamento no Banco de Teses da Coordenação de

Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) com base na expressão

“relação ensino-pesquisa na universidade”, obtivemos um total de duzentos e

sessenta e oito dissertações/teses que refletem aproximações sobre o tema que

estamos estudando em diversas universidades do País.

Com efeito, percebemos que esse número revela a pertinência de

investigação sobre os processos de ensinar e pesquisar na universidade em cursos

de graduação, o que revela que a relação entre as práticas pedagógicas e a

investigação tem sido tema recorrente quando se refere a estudo dos elementos que

constituem uma universidade, especificamente os programas de pós-graduação no

Brasil, em diversas perspectivas de abordagem e em várias áreas de conhecimento,

tais como a História, a Geografia, a Medicina, a Enfermagem e a Educação.

Na pesquisa inicial que realizamos com a consulta da expressão mencionada

percebemos que vários são os trabalhos que tratam dos termos ensino-pesquisa em

seus títulos, palavras-chave e resumos, os quais se constituem de 29 textos.

No entanto, sobre a questão da relação entre ensino-pesquisa no campo da

educação, especificamente em cursos de pós-graduação na universidade, notamos

que ainda eram incipientes os estudos que discutem a prática de professores de

mestrado. Por isso, selecionamos alguns trabalhos que tratam desse tema, tendo

como enfoque aspectos da docência e de questões ligadas às funções da

universidade, notadamente o tripé ensino-pesquisa-extensão e a relação

indissociável entre o ensino e a pesquisa.

Do universo de vinte e nove dissertações/teses mapeadas, recortamos

dezoito trabalhos que serviram como norte para pensar como tem ocorrido a relação

ensino-pesquisa em contextos universitários. Contudo, elegemos seis trabalhos que

se aproximam mais do tema da relação ensino e pesquisa na prática de docentes de

mestrados e iramos tratar de cada um deles em separado. Assim, os textos se

encaixam na perspectiva que abordam a relação ensino e pesquisa no âmbito da

prática pedagógica de docentes universitários, seja na graduação, seja na pós-

graduação.

No que se refere ao referido enfoque, podemos destacar e comentar os

seguintes estudos (HOEPERS, 2003; NOVA, 2010; MACHADO, 2010; MARTINS,

1989; PEREIRA, 2007). Estes enfocam a relação ensino-pesquisa na prática dos

professores universitários, abordando a questão da identidade do professor

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pesquisador e suas representações sobre a relação entre ensino-pesquisa, da

docência na pós-graduação, das competências do professor para realizar essas

funções e a ressignificação do processo educativo na universidade, a partir da

integração ensino-pesquisa, temas que são tratados tendo como base a formação

inicial de professores.

O trabalho de Hoepers (2003) buscou tratar do perfil do professor

pesquisador, líder de grupo de pesquisa, no âmbito de uma universidade, no

relacionamento entre a área da educação e da comunicação científica. O autor

concluiu que está nascendo um novo padrão de autoria nas ciências humanas,

ainda predominantemente nacional, ao contrário da maneira individual de escrever

trabalhos científicos. O perfil do professor pesquisador da universidade ficou então

delineado pela frequência com que ele apresenta seus trabalhos à comunidade

científica, pelos canais de divulgação de que se utiliza e pela forma de colaboração

que oferece e da qual se serve, para produzir conhecimentos e iniciar estudantes na

pesquisa.

O estudo de Nova (2010) teve como objetivo conhecer as representações

sociais de docentes de uma universidade pública sobre a relação entre ensino e

pesquisa na formação inicial de professores. Como resultados, o autor percebemu

que os elementos das representações dos participantes sobre a relação entre ensino

e pesquisa possuem vínculo com a concepção de aprendizagem, compreensão de

como a pesquisa se relaciona com o ensino, como ocorre a relação entre teoria e

prática, o papel do professor e o modelo de formação, ou seja, que tipo de

profissional os docentes universitários buscam formar.

Machado (2010) tratou de uma análise das repercussões na formação de

pesquisadores do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE), da

Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), quando seus docentes asseguram

em suas práticas a tríade ensino-pesquisa-extensão, mediada pelas propriedades da

prática docente participativa. Ao final desse estudo, evidenciou-se que para os

sujeitos da pesquisa a prática docente participativa sensibiliza, motiva e estimula o

espírito de buscas criativas de investigação e de descoberta, ao despertar

curiosidade conjunta com sentido e significado para a sociedade. Isto significa

reconhecer que as produções científicas não encerram-se em momentos singulares

do curso, mas em movimentos cíclicos e na vontade político-formativa de aprender

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com o outro, a partir de uma relação acadêmica motivadora de relações de

confiança, compromisso com a formação e da maneira de pensar com rigor.

O trabalho de Pereira (2007) teve como objetivo a análise de competências

que podem contribuir para uma melhor compreensão do trabalho de docentes

universitários no que se refere ao ensino e a pesquisa. Concluiu-se, portanto, que as

competências domínio da área de conhecimento, criatividade, planejamento, ética e

proatividade possuem relevância similar para ambos os processos. Por outro lado,

as competências relacionamento interpessoal, liderança e empatia são mais

relevantes para o ensino do que para a pesquisa. E, finalmente, as competências

trabalho em equipe e flexibilidade são mais importantes para a pesquisa do que para

o ensino. Percebeu-se, ainda, que o aprimoramento e a avaliação das atividades de

ensino e de pesquisa são fatores que afetam a percepção dos docentes em relação

à questão das competências e, por fim, os resultados obtidos sugerem que o

desempenho superior de algumas universidades em relação a outras pode estar

relacionado à presença de quatro competências: domínio da área de conhecimento,

criatividade, trabalho em equipe e planejamento.

Não obstante os trabalhos listados, ressaltamos que os estudos apresentam

enfoques que se aproximam do tema que estamos desenvolvendo, o que aponta

para uma lacuna no que se refere às reflexões sobre a questão da relação ensino e

pesquisa no âmbito da prática de docentes de cursos de pós-graduação,

notadamente de mestrados.

Diante dessa situação problemática apresentada sobre a formação de

professores para atuação na docência universitária, com ênfase na relação ensino-

pesquisa, o presente trabalho tem como questão norteadora: que representações

são construídas por docentes de mestrados da UEFS sobre a influência da

pesquisa em suas práticas pedagógicas?

A partir da questão norteadora, elaboramos o seguinte objetivo geral:

compreender as representações de docentes de mestrados da UEFS sobre a

influência da pesquisa em suas práticas pedagógicas. Como desdobramentos

desse objetivo geral, construímos os seguintes objetivos específicos: levantar os

conceitos de pesquisa, professor pesquisador e prática educativa discutidos na

literatura; verificar se existem estratégias utilizadas pelos docentes pesquisadores

que articulem a pesquisa com suas práticas pedagógicas; analisar a influência da

pesquisa na docência dos cursos de mestrado investigados; construir indicativos

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para a qualidade da pedagogia universitária na pós-graduação stricto sensu da

UEFS, no que se refere à formação dos professores com base na articulação do

ensino com a pesquisa.

Foram questões secundárias desta investigação, elaboradas como

desdobramentos da questão norteadora, as seguintes: O que é ser docente

universitário na UEFS, na atualidade? Como se constitui a identidade do docente

universitário nos cursos de mestrados investigados? Como tem ocorrido a relação

ensino e pesquisa no contexto de mestrados da UEFS, na atualidade? De que

maneira a prática da pesquisa científica tem contribuído para a melhoria da docência

do ensino superior em cursos de mestrado na UEFS? Como mestrados da UEFS

têm contribuído para a constituição da identidade do docente do ensino superior?

Como os docentes de mestrados da UEFS representam a influência da pesquisa em

suas práticas pedagógicas? Que estratégias são utilizadas pelos docentes dos

Mestrados da UEFS para articular suas pesquisas com as práticas realizadas nos

contextos de sala de aula?

Esta Dissertação está dividida da seguinte maneira: no primeiro capítulo, que

corresponde à Introdução do trabalho, realizamos uma problematização inicial sobre

o tema da formação de professores para atuação na docência universitária, com

ênfase na relação ensino-pesquisa, bem como apresentamos e justificamos a

questão norteadora e o objetivo geral da pesquisa.

No segundo capítulo, “O papel da pesquisa na formação e na prática de

docentes de ensino superior”, buscamos discutir sobre o papel da pesquisa no

processo de formação e na prática de docentes de ensino superior. Isto porque

acreditamos que essa função articulada à dinâmica do ensino pode contribuir para a

melhoria da ação educativa desses docentes e, também, colaborar para qualificar a

aprendizagem dos estudantes em processo de formação pós-graduada. Sendo

assim, procuramos realizar, também, uma reflexão sobre os modelos de professores

em exercício, ao passo que tratamos dos quatro principais marcos do movimento do

professor pesquisador.

No terceiro capítulo, abordamos o “Caminho da pesquisa”, apresentando o

marco teórico-metodológico, o lócus da investigação, os procedimentos de coleta e

produção dos dados, os sujeitos da investigação, o instrumento de coleta e

produção dos dados: entrevista semi-estruturada, a técnica de análise dos dados:

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análise de conteúdo, bem como o quadro teórico-metodológico, os quais ajudaram

no tratamento dos dados coletados e produzidos na presente Dissertação.

No quarto capítulo, “Olhares de docentes sobre a influência da pesquisa em

suas práticas pedagógicas”, tratamos da discussão dos dados coletados e

produzidos, a partir das entrevistas realizadas com os docentes que pertencem aos

mestrados escolhidos para investigação.

Nas “Considerações Finais”, buscamos realizar uma síntese dos resultados

obtidos na análise dos dados da Dissertação, apontando as lacunas do campo de

conhecimento, os limites da discussão e os desdobramentos do estudo para outros

trabalhos e para publicações posteriores.

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2 PAPEL DA PESQUISA NA FORMAÇÃO E NA PRÁTICA DE DOCENTES DE

ENSINO SUPERIOR

O presente capítulo tem o objetivo de discutir sobre o papel da pesquisa no

processo de formação e na prática de docentes de ensino superior. Isto porque

acreditamos que a investigação articulada à dinâmica do ensino poderá contribuir

para a melhoria das práticas pedagógicas desses profissionais e, também, poderá

colaborar para qualificar a aprendizagem dos estudantes em processo de formação

na pós-graduação.

Sendo assim, na elaboração desta seção, procuramos tratar de forma

sintética da identidade profissional do docente de ensino superior, articulada à

dimensão da prática educativa, realizar uma reflexão sobre os principais marcos do

movimento que defende ser o professor também pesquisador, ao passo que

refletimos sobre os modelos de professores em exercício, na universidade,

chamando atenção para a ênfase depositada na pesquisa e, consequentemente, no

docente pesquisador.

2.1 MODELOS DE DOCENTE DE ENSINO SUPERIOR E A PRÁTICA EDUCATIVA

NA UNIVERSIDADE

Destacam-se na literatura educacional três modelos de docente de ensino

superior, que apresentam características e modos de ação diferenciados e que

trabalham com base em diferentes perspectivas de atuação. Nesse sentido, nesta

parte deste capítulo trataremos de tais modelos e suas relações com duas

perspectivas de prática educativa, atualmente divulgadas em pesquisas na área da

educação e, sobretudo, no meio acadêmico (PIMENTA, 2005; DEMO, 1998;

VENTORIM, 2005).

Ressaltamos que tais construções relacionadas à profissão do docente,

enraizadas no imaginário da sociedade, a exemplo do papel do professor como

reprodutor de informações e do estudante como mero receptáculo, dentre outras

noções, contribuem para perpetuar a visão dos professores como sujeitos

representados com base em um perfil de desqualificação pelo seu trabalho,

caracterizada como profissão de menor importância social.

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19

Ademais, é preciso levar em consideração os diferentes discursos que fazem

referência ao papel do docente na política de representação dos gestores do Estado

no espaço acadêmico, as políticas que divulgam as informações da sociedade na

mídia impressa, televisiva e cinematográfica, que, divulgam uma certa apologia à

carreira docente, todavia, o que não há, de fato, é a equivalência desse discurso

com a realidade vivida pelos professores em seus contextos de trabalho e na

sociedade como um todo. Esta mentalidade, também, corrobora a configuração do

papel do docente, no geral, como de menor importância, o que pode vir a produzir

um modo de ser e estar na profissão, em uma perspectiva de desqualificação

(GARCIA, 2005).

Cabe destacar que a natureza do trabalho docente, tem sido determinada,

também, por modelos ideológicos de conhecimento científico que apontam

insuficiências para a atividade dos professores na sociedade contemporânea, a

exemplo do enfoque tradicional e do técnico, no que se refere aos modelos de

formação de professores, que continuam a permear as práticas pedagógicas dos

docentes universitários, os quais trataremos a seguir.

Segundo Pimenta (2005), dentre esses modelos de docentes, destacam-se os

seguintes: 1) O tradicional/prático-artesanal; 2) O técnico/academicista; 3) O

hermenêutico/reflexivo.

No enfoque tradicional ou prático-artesanal, a finalidade do ensino consiste

em transmitir informações diretamente vinculadas às habilidades para o “saber

fazer”, aos modos de uso, costumes, crenças e hábitos. Ensinar, nessa perspectiva,

identifica-se com transmitir valores, modos de pensar, costumes e práticas aos

sujeitos. A formação do professor se dá na prática, na qual esses profissionais

aprendem a fazer fazendo, cuja docência é considerada como um “dom inato”, não

sendo necessário investir na ampliação da formação pedagógica, pois, admite-se

que ela ocorre essencialmente na experiência prática. O modelo de professor é o

“artesão ou tradicional” e seus valores são a tradição, a conservação, a inércia e a

permanência do habitus1 (PIMENTA, 2005).

1 Segundo Bourdieu (1983b, p. 65), o habitus se refere a “[...] um sistema de disposições duráveis e

transponíveis que, integrando todas as experiências passadas, funciona a cada momento como uma matriz de percepções, de apreciações e de ações – e torna possível a realização de tarefas infinitamente diferenciadas, graças às transferências analógicas de esquemas [...]”.

Page 20: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

20

No enfoque técnico ou academicista, a finalidade do ensino constitui-se em

transmitir os conhecimentos produzidos através das pesquisas científicas aos

estudantes. Ensinar é traduzir esse saber em um fazer técnico que os discentes

apreenderão ao passo que internalizarem as “verdades científicas”, com base na

subordinação do conhecimento prático ao teórico. O professor deve ser formado

para adquirir competências comportamentais com o objetivo de executar o ensino

desses conhecimentos, desenvolvendo apenas habilidades técnicas para o trabalho.

O investimento na sua formação, pois, dá-se pela técnica e instrumentalização, com

base no desenvolvimento do saber didático-pedagógico, no domínio das técnicas de

ensino, recursos metodológicos e estratégias para operacionalizar as situações de

sala de aula. O que acontece é a busca de métodos, pouco preocupados com a

aprendizagem, voltados apenas para os resultados, sendo os valores pregados o

avanço científico, tecnológico e a positividade das técnicas de ensino que são

originárias das “verdades científicas” (PIMENTA, 2005).

No enfoque hermenêutico ou reflexivo, ensinar consiste em permitir ao

docente perceber os nexos com o campo de conhecimento e o contexto de sua

produção na história e na sociedade. O ensino refere-se a uma atividade complexa

que ocorre em cenários singulares, determinados pelo contexto e com resultados

imprevisíveis, carregado de conflitos de valor, o que requer do docente opções

éticas e políticas no desenvolvimento de sua prática educativa.

A formação do professor, nesse modelo, perpassa por investimentos em sua

profissão e no campo da educação, ou seja, um processo de qualificação contínuo,

articulado ao desenvolvimento profissional. Admite-se que o modelo de docente é o

de professor criativo, pesquisador, intelectual, crítico, reflexivo e autônomo, sendo

este considerado agente interpretativo de propostas, ideias, tradutor de conteúdos e

ator de projetos curriculares flexíveis. O que fundamenta sua prática docente é o

saber fazer dialógico e compartilhado com a experiência profissional. Seus valores

constituem-se no conhecimento que emerge da prática reflexiva, que se legitima em

projetos de experimentação, com base na reflexão e em uma relação democrática

que se dá a partir da reconstrução das práticas institucionais e dos docentes

(PIMENTA, 2005).

Page 21: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

21

O professor no modelo hermenêutico/reflexivo necessita pesquisar a própria

prática e buscar a exploração dos saberes de sua experiência profissional, que se

revelam na tendência de pesquisar o ensinar, enfoque que está articulado ao

movimento de formação do professor pesquisador.

Uma questão que deve ser ressaltada é que a profissão de professor consiste

em uma prática educativa que busca a intervenção na realidade, mediante um

processo educativo e formativo. Essa prática é institucionalizada e refere-se às

formas de educar que ocorrem em diferentes contextos, configurando a cultura e a

tradição das instituições educativas, sejam as escolas, sejam as instituições de

ensino superior e as universidades.

Nesse contexto, historicamente, a função docente desenvolveu-se de forma

prática e esteve atrelada a um poder externo à categoria. Todavia, atualmente, a

prática educativa desse profissional é considerada um fazer ordenado voltado para

um ato educativo, que introduz um método na ação humana, quer dizer, é uma ação

que exige um momento de planejamento, um momento de interação, um momento

de avaliação e, finalmente, a reflexão crítica e o (re)planejamento dessas ações

(ZABALA, 1998).

Em meio à realidade em que se dá o fazer do docente, existem dois tipos de

práticas pedagógicas, de acordo com Behrens (2003): uma pautada no modelo

conservador e outra numa concepção emergente. O modelo conservador do ensino

enfatiza o método indutivo, baseado em aulas expositivas, demonstrações e

sistematização da matéria de forma sequencial, desvinculada das outras disciplinas

do corpo do curso e da realidade, sendo o docente o centro do processo de ensino e

um modelo a ser seguido pelos estudantes. Assim, o docente mostra-se autoritário,

severo e guarda uma significativa distância em relação aos seus alunos, impondo a

disciplina e uma atitude passiva e obediente por parte deles, mediante um sistema

rígido de controle, de premiações e de punições, impedindo a comunicação entre os

discentes nas aulas.

Sobre esse modelo, no dizer de Cunha (2007, p. 21):

A representação comum inclui a aula como a ocupação de um espaço delimitado, num tempo predefinido, em que o docente expõe a matéria de ensino e os alunos, atentos e silenciosos, tomam nota em seus cadernos. A condição da ocupação do tempo é a evidência da responsabilidade do docente; contam pouco o sentido desse tempo e o significado, para os alunos, da experiência com o conhecimento. A perspectiva disciplinar é rigorosamente preservada

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e a dimensão cognitiva é valorizada com exclusividade. Mesmo que sejam anunciados outros valores, a avaliação objetiva quantifica os produtos, sem muita preocupação com os processos. Melhor aluno é o que com mais fidedignidade reproduz as afirmativas do docente ou a informação do livro ou da apostila.

Segundo o excerto, a aula universitária, em algumas instituições de ensino

superior, é marcada por aspectos meramente objetivos, seja no momento do ensino,

seja na avaliação, na relação professor-estudante, dentre outros elementos

constituintes da docência universitária. Desta maneira, a ênfase centra-se no

produto final em detrimento do processo, sendo o docente o único responsável pelo

bom andamento do trabalho educativo.

Em contrapartida a essa concepção tradicional de prática educativa, existe,

também, o modelo baseado na concepção emergente, que parte do pressuposto

que o indivíduo, sujeito ativo, participa da construção do conhecimento, sendo o

papel do docente garantir o processo de aprender, provocar desequilíbrios, no

sentido piagetiano (apud RAMOZZI-CHIAROTTINO, 1988), desencadear reflexões,

através de situações problemas e desafios a serem superados pelos estudantes.

Nesse tipo de prática, o docente desenvolve sua autoridade mediante a interação, o

respeito e o estabelecimento de uma relação horizontal com os estudantes

(BEHRENS, 2003; CUNHA 2005; LIBÂNEO, 1985; MIZUKAMI, 1986; RAMOZZI-

CHIAROTTINO, 1988).

No modelo de prática educativa emergente a aula na universidade constitui-se

um espaço propício para o aprender e para a construção de conhecimentos, sendo

que docente e estudantes interagem na construção dessa relação, que visa gerar

aprendizagens em ambos os sujeitos. Assim, segundo Zabala (1998, p. 16),

A estrutura da prática obedece a múltiplos determinantes, tem sua justificação em parâmetros institucionais, organizativos, tradições metodológicas, possibilidades reais dos docentes, dos meios e condições físicas existentes, etc. Mas a prática é algo fluído, fugidio, difícil de limitar com coordenadas simples e, além do mais, complexa, já que nela se expressam múltiplos fatores, ideias, valores, hábitos pedagógicos, etc.

Assim, a prática docente no modelo de ensino emergente é complexa, pois,

envolve muitos fatores, desde aqueles ligados às questões conceituais, até aqueles

relacionados aos aspectos pessoais dos sujeitos envolvidos nesse processo,

docente universitário e estudante.

Page 23: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

23

Sendo a prática docente complexa, segundo Zabala, (1998, p. 16-17),

Entender a intervenção pedagógica exige situar-se num modelo em que a aula se configura como um microssistema definido por determinados espaços, uma organização social, certas relações interativas, uma forma de distribuir o tempo, um determinado uso de recursos didáticos, etc., onde os processos educativos se explicam como elementos estreitamente integrados nesse sistema.

Essa intervenção pedagógica anunciada pelo autor está amparada no modelo

de prática educativa emergente, a que já fizemos referência, pois, nessa prática, a

aula universitária é tratada como o lócus onde acontece o processo de ensino-

aprendizagem e a relação docente-estudante e a relação estudante-estudante.

Sendo assim, é com base nesse modelo de ensino emergente que passamos a

refletir sobre os marcos mundiais do movimento em torno do docente como

pesquisador de sua aula, posto que, dentre outros aspectos, a defesa desse

enfoque é que o docente necessita tomar a pesquisa como um dos elementos

importantes para o desenvolvimento de sua prática educativa, com vistas à

qualidade.

2.2 MARCOS MUNDIAIS DO MOVIMENTO DO PROFESSOR PESQUISADOR

(1940–1990) E A PESQUISA CIENTÍFICA

Este subitem visa tratar alguns aspectos do movimento mundial em torno da

importância do professor como pesquisador, buscando discutir sobre quatro dos

principais marcos conceituais obtidos com base na revisão de literatura feita para a

fundamentação teórica da presente Dissertação, a saber: I. Anos 1940 com a

perspectiva de pesquisa-ação de Kurt Lewin; II. Anos 1970 com os trabalhos de

Lawrence Stenhouse e Jhon Elliiott; III. Anos 1980 com os estudos críticos de Carr e

Kemmis e Donald Schön; IV. Anos 1990, com as ideias de Stephen Liston e Kenneth

Zeichner.

Entretanto, há que se considerar nesse debate que, segundo Pereira (1998),

o percurso do movimento do professor pesquisador é heterogêneo, complexo e não

se trata de um acontecimento recente na história educacional, sendo que sua

evolução no mundo ocorreu a partir das influências conceituais de diferentes tipos

de concepções teóricas divulgadas no âmbito acadêmico, as quais apresentaremos

sem a intenção de esgotar a discussão sobre o referido tema, apenas no intuito de

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fazer referência àquilo que já foi escrito fruto de pesquisas anteriores para buscar

dar conta do entendimento da relação ensino e pesquisa.

O primeiro desses marcos faz referência à “década de 1940, com os estudos

de Kurt Lewin sobre a pesquisa-ação nas Ciências Sociais e suas implicações para

o campo da pesquisa social e pesquisa educacional”, conforme afirma Ventorim

(2005, p. 78). Este teórico americano defendia uma perspectiva de pesquisa-ação

diferente da abordagem comumente aceita, na qual se produzia materiais científicos

desvinculados da ação social dos sujeitos. Afirmava, também, que as pesquisas no

campo da educação só teriam relevância social se fossem realizadas pelos próprios

professores em sua ação cotidiana e não por especialistas em educação,

normalmente oriundos de outras áreas do conhecimento.

Dessa forma, o trabalho de Kurt Lewin apresentou uma contribuição para a

discussão do processo de formação de professores, pois defendia a participação em

uma perspectiva democrática, contribuindo para a mudança social (CONTRERAS,

1994). Destacamos que essa concepção de pesquisa-ação perdurou durante a

década de 1950 até o final da década de 1960.

O segundo marco remete aos anos de 1970 com o movimento dos

professores como pesquisadores na Inglaterra, a partir dos estudos do inglês

Lawrence Stenhouse e, posteriormente, de John Elliott, envolvendo professores em

pesquisa-ação colaborativa na sua própria prática, que retoma o interesse pelo tema

na Grã-Bretanha de um modo diferente daquele defendido pelos adeptos do marco

anterior (VENTORIM, 2005).

Stenhouse, coordenador do Humanities Curriculum Prioject, tinha como

objetivo produzir melhorias em escolas inglesas nas quais não se preparava os

estudantes para a progressão nos estudos. Este teórico acreditava que o professor

era o principal agente do processo de mudança da educação e propunha que o

currículo deveria ser construído por professores, estudantes e comunidade escolar,

o que só poderia ser realizado se os docentes fossem investigadores de sua própria

prática educativa.

Com isso considerava importante que o professor fosse um pesquisador em

sua aula, pois, acreditava que esse contexto constituía-se em um espaço propício

para o exercício de articulação da teoria com a prática pedagógica, pois, para

Stenhouse (1984), a investigação educativa constitui-se em uma indagação

Page 25: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

25

planejada e autocrítica que está articulada à crítica pública e às competências

empíricas dos pesquisadores em seus contextos de ação pedagógica.

Nesse sentido, Elliott (1990 apud PEREIRA, 1998, p. 160) referindo-se a

Setenhouse, dizia que “mais que qualquer outro teórico contemporâneo da

educação, Stenhouse captou a significação pedagógica da consideração da

educação como uma forma de práxis em vez de como processo técnico”.

Em conformidade com essa perspectiva, Elliott propunha que a investigação-

ação devesse ser um processo de espirais de reflexão que contribuiriam para a

melhoria da prática educativa, tendo a pesquisa a função de integrar teoria e prática

docente em uma perspectiva de melhoria desta última. Assim, a defesa de Elliott se

assemelha a de Stenhouse, no que diz respeito à superação dos modelos de

pesquisas realizadas por pessoas de outras áreas de conhecimento que não

apresentam vinculação com a prática educativa dos sujeitos da educação (LISITA;

ROSA; LIPOVETSKY, 2001).

Sobre esse movimento que resultou em uma reforma curricular em seu país,

Elliott (1993, p. 18) afirma que

Do ponto de vista da minha história profissional, descobri a atividade de elaboração da teoria curricular entre os professores da escola. Organizamos as teorias de aprendizagem, ensino e avalição em assembleias e reuniões de professores, a partir do nosso desejo de alcançar um determinado conjunto de circunstâncias e não de nossa formação profissional em universidades e centros superiores de educação.

Para o autor, a pesquisa em que se deve basear a prática docente não é

aquela adquirida na formação acadêmica dos professores em suas universidades de

origem, mas sua defesa é que os conhecimentos deveriam emergir de reflexões

realizadas pelos próprios profissionais em suas ações cotidianas de trocas, dúvidas

e tensões, a fim de que eles se tornassem autores do currículo escolar.

Nesse contexto, Elliot (1991 apud PEREIRA, 1998, p. 157-158) defende que

Minha compreensão teórica da educação, do conhecimento, da aprendizagem e do ensino, não se derivam tanto de uma cultura acadêmica que adota um postura contemplativa a respeito do processo de ensino, senão das práticas curriculares que participei como professor com meus colegas.

Essa visão de pesquisa-ação reforça a ideia de que os professores devem ser

pesquisadores de sua experiência prática, à medida que vão se deparando com os

desafios e as tensões da ação educativa e não na perspectiva de um ensino

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dissociado da investigação, como nos moldes universitários na maioria dos cursos

de pós-graduação, nos quais a pesquisa é vista como conhecimento mais

importante do que os elementos do processo de ensino e, portanto, dos saberes

pedagógicos necessários à prática docente.

Com efeito, segundo Stenhouse (1996, p. 159),

Postular um ensino baseado na pesquisa é, ao meu modo de ver, pedir-nos, como professores, que compartilhemos com nossos alunos ou estudantes o processo de aprendizagem do saber que não possuímos; deste modo podem obter uma perspectiva crítica da aprendizagem que consideramos nossa.

A concepção desse teórico é a de que a pesquisa articulada ao ensino pode

favorecer o processo de construção do conhecimento necessário ao professor no

momento de desenvolver sua docência, não aquele saber acadêmico produzido em

instituições universitárias, mas um conhecimento construído a partir da reflexão

sobre sua ação cotidiana no âmbito do trabalho docente.

Para que seja possível realizar essa intenção proposta, Elliott (1990 apud

DICKEL, 1998, p. 58), defende que

Quando a pesquisa-ação é levada a cabo com suficiente profundidade, pode incrementar a consciência dos professores sobre suas „implicações políticas‟ e, portanto, realça sua capacidade coletiva para influir sobre as práticas de mudanças estruturais, tanto nas escolas como no sistema educativo. Todo tipo de pesquisa-ação capaz de promover um enfoque „de baixo para cima‟ em relação com o desenvolvimento profissional produzirá ideias que vinculam os problemas de ensino e de aprendizagem com questões de política institucional e social.

Com base nessa noção de pesquisa-ação, o docente pode contribuir para a

melhoria da aprendizagem dos estudantes em suas aulas, desde que esteja

vinculado ao processo de intervenção política em sua profissão, pois, fazem parte de

seu desenvolvimento profissional, além dos elementos do ensino, da pesquisa e da

aprendizagem, as questões sobre a participação política no âmbito da sociedade.

A noção de pesquisa-ação assim proposta perpassa pela consideração de

que sua característica mais marcante se refere a um processo de reflexão, no qual

cada um dos espirais de conhecimento compreende o diagnóstico de uma situação

prática que se pretende melhorar, a formulação de estratégias de ação, o

desenvolvimento dessas estratégias traçadas e a avaliação de sua concretização, a

ampliação do conhecimento da nova situação e o procedimento dos passos

descritos para a busca de resolução de uma nova situação prática (ELLIOT, 1993).

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27

Nesse sentido, segundo Dickel (1998, p. 163),

No campo da educação, pesquisar do ponto de vista dessa ênfase supõe buscar estratégias de mudança e transformação para melhorar a realidade concreta que se opera. O professor procura trabalhar o conhecimento já existente, convertendo-o em hipóteses-ação, e procura estabelecer uma relação entre a teoria, a ação e o contexto particular. Nessa ênfase de pesquisa, os problemas a serem pesquisados só surgem na prática e o envolvimento do prático é uma necessidade indispensável.

De acordo com essa ideia, a pesquisa se torna um conhecimento importante

para o trabalho do professor, pois, pode possibilitar a construção de estratégias de

transformação das práticas cotidianas marcadas pelo tecnicismo, atualmente

desenvolvidas nos contextos escolares e universitários. Isso se dá através de uma

articulação como um todo coeso da teoria, da prática e do contexto em que ocorre a

proposta educativa.

No bojo dessa reflexão sobre os fundamentos do pensamento de Stenhouse

e Elliott, esclarecemos que a função desse modelo de pesquisa-ação não se refere

apenas a resolução de um problema prático em um dado contexto, mas deve ser

tomado como um elemento que visa desvelar aspectos que ainda não tinham sido

percebidos em relação à compreensão da prática pedagógica do docente. Esse tipo

de investigação está centrada na mudança da situação problemática e não somente

em sua interpretação, processo que tende a gerar modificações nos sujeitos e nas

situações, através da aprendizagem em uma perspectiva crítica da ação educativa.

O terceiro marco do movimento do professor pesquisador refere-se a década

de 1980, com os estudos de Donald Schön e Carr e Kemmis, que buscavam

questionar aspectos dos modelos de pesquisa-ação dos movimentos anteriores,

inserindo uma perspectiva de dimensão política e crítica ao movimento, de acordo

com Ventorim (2005).

Schön ao estudar a formação universitária, tendo como base a área de

arquitetura, chegou a conclusão que este curso era desenvolvido vinculado à

concepção de racionalidade técnica, esta baseada na consideração da prática

profissional como um elemento de aplicação de técnicas estudadas, perspectiva que

desconsidera a maneira como os professores enfrentam a complexidade da relação

educativa, bem como não possibilita aos docentes a construção de uma identidade

produtiva e autônoma.

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A partir de uma crítica à concepção tecnicista de pesquisa, Schön propunha a

formação de profissionais reflexivos e produtores de conhecimentos sobre sua ação,

e influenciou sobremaneira os cursos de formação de professores do seu país e do

mundo, pois, no período em que construiu seus escritos a educação passava por um

processo de reformulação do papel do professor, de sua formação e do que

consistia a atividade de ensino. Entretanto, essa concepção sofreu críticas,

principalmente porque não se acreditava que o professor sozinho em uma estrutura

organizacional poderia realizar mudanças em sua atuação educativa, pois, a

transformação da prática pedagógica depende de outros fatores, a exemplo da

estrutura das instituições e da organização nela implementada, baseada, no geral,

em uma burocracia que não contribui, também, para que a prática dos docentes seja

alterada (LISITA; ROSA; LIPOVETSKY, 2001).

Segundo Campos e Pessoa (1998), Donald Schön em sua obra “O

profissional reflexivo (1983)” desenvolve uma nova epistemologia da prática,

baseada na noção dos saberes profissionais dos professores, através da concepção

de reflexão na ação desenvolvida pelo sujeito em sua prática pedagógica no

enfrentamento dos desafios e incertezas postos pela realidade da profissão docente.

Schön (1983 apud CAMPOS e PESSOA, 1998) faz uma crítica à concepção

epistêmica de pesquisa universitária na referida obra, pois, segundo ele, esta se

encontra amparada eminentemente no paradigma da racionalidade técnica, no qual

a competência profissional consiste na aplicação dos conhecimentos como uma

ação meramente técnica por parte dos docentes.

Em sua outra obra “Formação de profissionais reflexivos”, Schön (1987 apud

CAMPOS e PESSOA, 1998) defende a consideração da perspectiva formativa da

tutoria no campo das artes e trabalha com a noção difundida por ele em obra

anterior de reflexão na ação e sobre a ação educativa como proposição de

superação do modelo da racionalidade técnica.

Carr e Kemmis (1988), em uma perspectiva reflexiva do modelo das

pesquisas-ação anteriores e do movimento do professor pesquisador, dentro desse

marco da década de 1980, defendiam que as transformações educacionais só

seriam possíveis se fossem empreendidas socialmente, pois, para ele, a educação

está articulada à dinâmica coletiva da sociedade e opera com base nela, sendo

tarefa educacional contribuir para a construção de sujeitos críticos em relação às

suas práticas pedagógicas, podendo proporcionar a emancipação dos sujeitos e,

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29

consequentemente, da sociedade como um todo. A visão defendida pelos teóricos

desse marco é que a investigação-ação é uma das maneiras de compreender o

ensino como processo de construção social que visa colaborar para que os

professores possam reconstruir seu conhecimento profissional, a partir da produção

de discursos articulados diretamente à sua prática pedagógica (LISITA; ROSA;

LIPOVETSKY, 2001).

Alcançar esses objetivos requer considerar a reflexão sobre a prática, a partir

da teorização, no que se refere ao impacto dos contextos sociais nas relações entre

os sujeitos, para a modificação das formas de consciência. Essa perspectiva visa

transformar a prática pura e simples em práxis, ou seja, em ação com respaldo

social e amparada teoricamente (CONTRERAS, 1994).

O quarto e último marco compreende a década de 1990 com a retomada do

interesse em pesquisa por parte dos educadores, tendo Liston e Zeichner como os

teóricos principais. A proposta desses autores era implantar um processo de

formação de professores, tendo como base a reflexão e buscar formas de romper

com a dicotomia entre pesquisadores e professores, constituindo-se como uma

referência na contraposição à ideia de neutralidade política dos educadores.

Tomando como referência a noção de reflexão do pensamento de Schön, os autores

dessa concepção têm como defesa uma proposta de formação docente que

perpassasse por uma ação institucional de enfrentamento e resolução das

dificuldades postas a partir do trabalho do professor, seja as questões sobre salário

e carreira, seja os aspectos da imagem social deturpada da profissão (LISITA;

ROSA; LIPOVETSKY, 2001).

Para que seja superada essa dicotomia entre professores e pesquisadores,

os acadêmicos da universidade deveriam adotar as seguintes posturas: a)

comprometer-se em realizar discussões com os professores sobre a relevância de

suas pesquisas acadêmicas; b) desenvolver um processo de colaboração com os

docentes ao contrário da noção de dominação acadêmica; c) ajudar esses

profissionais no processo de realização de suas pesquisas-ação, considerando seus

achados como conhecimentos que foram produzidos e não como algo de menor

valor para a universidade e alguns de seus pesquisadores (LISITA; ROSA;

LIPOVETSKY, 2001).

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30

A pesquisa científica ligada à promoção da carreira do docente se encontra

institucionalizada na pós-graduação e consiste na investigação realizada com o

objetivo de alimentar o Currículo da Plataforma Lattes dos professores, ajudando-os

a progredir na carreira docente e que, também, os mantêm no mestrado e

doutorado, através da quantidade das produções acadêmicas que realizam.

Além disso, esse delineamento de pesquisa colabora para o desenvolvimento

da ciência, pois, visa a resolução de problemas detectados pelos pesquisadores a

partir de suas investigações, com vistas à superação das dificuldades enfrentadas

em sua prática, contribuindo, tanto para o desenvolvimento científico, quanto para as

reflexões cotidianas sobre suas práticas docentes.

Nessa perspectiva, segundo Demo (1997, p. 16),

Pesquisa não é ato isolado, intermitente, especial, mas atitude processual de investigação diante do desconhecido e dos limites que a natureza e a sociedade nos impõem. Faz parte de toda a prática, para não ser ativista e fanática. Faz parte do processo de informação, como instrumento essencial para a emancipação. Não só para ter, sobretudo para ser é mister saber.

A atividade de pesquisa, entendida dessa forma, deve fazer parte da práxis

pedagógica do profissional docente, por que pode levar à construção de novos

saberes e descobertas, pois, vivemos em um mundo onde as situações do cotidiano

são complexas e que o conhecimento sobre os diferentes aspectos da realidade

tornou-se algo imprescindível no desenvolvimento profissional docente. Sendo

assim, a investigação na universidade visa proporcionar a capacidade do docente

exercer na sua prática pedagógica, a indagação, a autocrítica e a reflexão na ação e

sobre a ação como parte de um conjunto de saberes necessários ao

desenvolvimento da docência no ensino superior.

Articulado a esse debate, Ventorim (2005, p. 75) trata da ideia sobre o

docente pesquisador a partir da seguinte reflexão:

O movimento de formação do docente pesquisador, como campo de estudo em construção, configura-se na expressão do reconhecimento da importância da pesquisa na formação e no trabalho docente, considerando o papel ativo e crítico do docente como o sujeito investigador nesse processo. Esse movimento de caráter político, social e epistemológico pode representar uma das estratégias de ressignificação do trabalho do docente, na medida em que ele assume a figura de investigador no/do processo de sua formação e de seu exercício profissional, ou seja, a partir de uma formação específica, esse docente investigaria e produziria explicações sobre o ensino e a realidade educativa entendida como prática social.

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Para a autora, o movimento em torno do docente pesquisador revela o papel

da investigação na sua formação, em outras palavras, a investigação possibilita ao

sujeito a ressignificação de sua ação docente com base na reflexão sobre a sua

práxis educativa. Além disso, considera-se que o professor deve assumir um papel

ativo frente à sua profissão, tomando a pesquisa como elemento que pode favorecer

a reflexão dos condicionantes de sua atividade.

Assim, a formação do docente para a pesquisa encontra-se articulada à

construção de competências para uma melhor atuação profissional, pois,

Essa perspectiva de formação defende a possibilidade da pesquisa na formação e na prática docente como instrumento de construção da autonomia do docente expressa no desenvolvimento de disposições para a produção e a reconstrução de saberes e para as mudanças na prática docente. Por meio dessas investigações, pretende-se a compreensão e transformação do pensamento e da prática do docente (VENTORIM, 2005, p. 75).

Desta maneira, o movimento do docente pesquisador coloca a pesquisa no

centro do debate da formação, pois, ela pode constituir-se em um dos elementos

responsáveis pela construção da autonomia de produção e reconstrução de novos

saberes por parte dos professores que desenvolvem a prática da investigação em

sua ação pedagógica cotidiana.

Sobre o docente pesquisador, Schön (1983 apud PAULA, 2003, p. 75-76),

defende que

[...] O docente, durante a prática, utiliza um conhecimento tácito, intuitivo e interiorizado, que é revelado na resolução de situações inesperadas [...]. Porém, em situações inéditas esse conhecimento se torna insuficiente, exigindo novas buscas, análises e problematizações. Para o enfrentamento deste novo problema, o profissional prático recorre a experimentações, a apropriação de teorias e a investigações. Schön nomeou esse movimento de reflexão sobre a reflexão na ação, abrindo perspectivas para a valorização da pesquisa na prática docente, ou seja, do docente pesquisador de sua prática. O ânimo despertado por essas ideias tem inspirado manifestações que aproximam muito a ideia de reflexão e de pesquisa, impulsionando quase uma identificação entre o docente reflexivo e o docente pesquisador.

Esse movimento de reflexão sobre a reflexão na ação corrobora para a

problematização em torno de um conceito, o de docente pesquisador, aquele sujeito

que investiga e reflete sobre sua própria prática em sala de aula, aspecto que

relaciona as duas perspectivas conceituais, pois, quem pesquisa reflete sobre algo,

Page 32: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

32

intervém e propõe mudanças no meio social e, no caso dos docentes, também em

suas práticas pedagógicas.

Ainda sobre a formação para o docente pesquisador Ventorim (2005, p. 77-

78) defende que

Quando mediada pela pesquisa, a formação do docente pode representar estratégia de produção de conhecimento, desenvolvimento profissional e mudança da prática docente, pois, rejeitando a perspectiva de docente como consumidor de conhecimento acadêmico, transmissor e implementador do ensino, reconhece-se a capacidade investigadora tanto da sua prática pedagógica quanto da realidade em que se insere. Essa perspectiva questiona a visão instrumental da prática e propõe a articulação entre conhecimento e ação, entendendo-os como integrantes de um mesmo processo. Com isso, o papel do docente muda de foco e se dirige para a produção de conhecimentos e a construção da sua autonomia profissional.

Conforme a autora, a pesquisa de forma intrínseca na formação dos docentes

pode representar a construção de competências ou qualidades de produção de

conhecimentos, desenvolvimento profissional e alteração de sua prática, de uma

perspectiva de mero transmissor de conteúdos a de construtor de novos

conhecimentos.

Nesse movimento, surge a necessidade do docente refletir que ter somente o

domínio de conteúdos não o habilita a enfrentar a complexidade da docência na

contemporaneidade, mas precisa submeter esse conhecimento ao crivo da reflexão

para que possa inseri-lo em seu fazer de sala de aula.

Em relação à prática da pesquisa na sala de aula universitária, Demo (1997,

p. 36) afirma que

A pesquisa deve ser vista como processo social que perpassa toda a vida acadêmica e penetra na medula do docente e do aluno. Sem ela, não há como falar de universidade, se a compreendermos como descoberta e criação. Somente para ensinar, não se faz necessária esta instituição e jamais se deveria atribuir esse nome a entidades que apenas oferecem aulas. Ainda que esse tipo de oferta possa existir em seu devido lugar, não pode ser misturada com aquela instituição que busca a sua principal razão de ser na pesquisa [...].

Conforme a citação, assinalamos que, quando nos remetemos à ideia de

universidade, em contraposição às faculdades isoladas de ensino superior, a

característica primordial que diferencia esses dois tipos de instituições é justamente

a relação indissociada do ensino com a pesquisa e a extensão presente na

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33

universidade, pois, como produtora de ciência, ela precisa ter como um de seus

princípios a investigação articulada às suas outras funções (DEMO, 1997).

Nesse quadro de análise, o papel do docente no movimento de proposição da

pesquisa articulada à prática pedagógica dos profissionais universitários passa a ser

de construtor de conhecimentos e de profissional autônomo em sua ação. O

professor torna-se, então, um sujeito mais capaz de articular teoria e prática, a partir

da conscientização de que o processo ensino-aprendizagem se faz cotidianamente,

sendo necessário, para tanto, desenvolver o espírito investigativo através da

reflexão na sua ação pedagógica.

Para Lisita; Rosa e Lipovetsky (2001), a formação dos docentes deve ser

aquela que os ajudem a produzir conhecimentos sobre a dinâmica da cognição e da

ação prática, com vistas a desenvolver competências que proporcionem a

reconstrução dos saberes docentes, articulando os conhecimentos teórico-práticos,

a fim de produzir as mudanças necessárias para o bom andamento de seu trabalho.

Na perspectiva de Demo (1998), o docente competente na atualidade precisa

responder constantemente às seguintes expectativas: o trabalho com a pesquisa, na

busca constante pelo conhecimento relativo à profissão; a atualização permanente,

participação em eventos, cursos, entre outros; o retorno à universidade para realizar

formação continuada; a auto-avaliação, capacidade de se questionar; a avaliação

para conhecer a situação de ensino; a visão geral, exigência da formação geral e

propedêutica; discutir e refazer qualidade, a participação como exigência essencial;

o trabalho de equipe e a teorização das práticas, a necessidade do constante

questionamento sobre sua prática educativa.

Em relação as atitudes necessárias ao docente na ação reflexiva no cotidiano

da sala de aula, Paula (2003) lista algumas delas, a saber: a) abertura de espírito

para admissão da possibilidade de errar; b) responsabilidade sobre as

consequências de seu ensino para os estudantes nos âmbitos pessoal, social e

político; c) sinceridade, pois o docente precisa ter comprometimento com sua própria

aprendizagem, aspecto que está articulado ao seu desenvolvimento profissional.

Nóvoa (2001, s/p), trabalhando com os conceitos de professor pesquisador e

reflexivo, afirma que

O docente pesquisador e o docente reflexivo, no fundo, correspondem a correntes (conceitos) diferentes para dizer a mesma coisa. São nomes distintos, maneiras diferentes dos teóricos da literatura pedagógica abordarem uma mesma realidade. A realidade

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34

é que o docente pesquisador é aquele que pesquisa ou que reflete sobre a sua prática. Portanto, aqui estamos dentro do paradigma do docente reflexivo. É evidente que podemos encontrar dezenas de textos para explicar a diferença entre esses conceitos, mas creio que, no fundo, no fundo, eles fazem parte de um mesmo movimento de preocupação com um docente que é um docente indagador, que é um docente que assume a sua própria realidade escolar como um objeto de pesquisa, como objeto de reflexão, como objeto de análise.

De acordo com o teórico, tratar do movimento do docente pesquisador e do

docente reflexivo constitui-se em uma discussão semelhante, principalmente porque

a questão posta aqui é a busca de um profissional que possa refletir e tomar sua

prática como objeto de análise e reflexão, a fim de que possa caminhar na busca da

articulação do ensino com a pesquisa.

Com base nesse modelo de docente que reflete sobre sua ação, para

Stenhouse (1981 apud PAULA, 2003, p. 74-75), “o desenvolvimento profissional é

um processo fundamentalmente educativo, que se realiza a medida que o docente

busca compreender as situações que ocorrem em sua prática e é dependente de

sua capacidade de investigação”. Portanto, desenvolver-se profissionalmente é

refletir sobre a profissão e investigar os aspectos que contribuem para o professor

constituir-se como profissional reflexivo nas dimensões pessoal, epistemológica e

social.

2.3 O DOCENTE PESQUISADOR E SUA PRÁTICA EDUCATIVA

Esta seção do nosso estudo tem como objetivo tratar do modelo de

pesquisador, tido como cientista, com o intuito de desmistificar uma atenção

exagerada dada a esse tipo de profissional no meio acadêmico e chamar a atenção

para a posição de desqualificação do ensino, notadamente em cursos de mestrado,

que é o foco do nosso estudo.

O perfil desse sujeito pesquisador é o de produtor de ciência e que cultiva a

erudição, que se concentra no desenvolvimento da atividade de pesquisa na

universidade. Por outro lado, existe, também, um tipo de profissional que se

aproxima mais do professor da educação básica, no que concerne à sua identidade

profissional, este dedicado essencialmente ao ensino, cada vez menos comum no

âmbito do ensino superior. Sendo assim, acreditamos que a existência de tais

modelos de docente tende a contribuir para a dicotomização de uma série de

Page 35: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

35

questões no plano educacional, dentre as quais se destaca a prática pedagógica dos

professores universitários.

Um aspecto que concorre para a instauração da dicotomia entre os referidos

perfis profissionais é a revolução tecnológica, que tem proporcionado uma alteração

no papel dos professores, estes deixando de ser os detentores do saber e passando

para sujeitos que, também, constroem conhecimentos junto com os estudantes nos

processos de sala de aula.

Segundo Cunha (2007), o docente universitário precisa responder aos

desafios profissionais da contemporaneidade, sendo imprescindível o rompimento

com a dicotomia estabelecida entre os perfis profissionais acadêmicos apontados.

Tal mudança pode contribuir para uma reconfiguração da profissionalidade docente,

com chances de ajudar no processo de integração efetiva entre a pesquisa e o

ensino no âmbito de cursos de mestrado. É claro que existem outras questões

concernentes à discussão como, por exemplo, as exigências institucionais, a que

estão sujeitos os professores na universidade e a reduzida atenção dada à

docência, especialmente no âmbito de cursos de bacharelado e de pós-graduação

stricto sensu.

Uma questão que está relacionada à discussão é que os diversos dispositivos

institucionais, responsáveis por formalizarem as Leis, ementas e currículos dos

cursos ou ações sobre a carreira docente, exigem o acúmulo de um capital cultural2

(BOURDIEU, 2007), através de cursos de pós-graduação stricto sensu, mestrado e

doutorado, que se apresentam como formações que tendem a dar ênfase à

pesquisa em detrimento dos saberes específicos da docência. A referida lógica

ajuda a construir uma imagem dos docentes do ensino superior como

pesquisadores, o que colabora para a desqualificação das atividades ligadas ao

ensino, sobretudo em nível de pós-graduação (CUNHA, 2007).

Esse processo de desqualificação tem a ver, também, com o fato das

propostas curriculares dos cursos de pós-graduação exigirem aspectos profissionais

do bom professor como o diálogo entre os pares, o planejamento coletivo, a

discussão em grupo sobre os aspectos constituintes do ensino, sobre a

aprendizagem dos estudantes e sobre sua própria formação, e um tipo de docente

2 Capital cultural consiste em um princípio de diferenciação quase tão poderoso como o do capital

econômico, uma vez que toda uma nova lógica da luta política só pode ser compreendida tendo-se em mente suas formas de distribuição e evolução.

Page 36: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

36

que busque romper com os elementos conservadores na sua atuação, que não

contribuem para a qualidade da aprendizagem dos estudantes, que reflita sobre os

elementos culturais e que leve em consideração o contexto em que se dá seu ensino

e no qual seu fazer educativo acontece (CUNHA, 2007).

Percebe-se, assim, uma lacuna entre a formação oferecida aos docentes que

deverão atuar no ensino superior e sua ação educativa, pois, de fato, os

profissionais desse nível precisam ministrar aulas, ou seja, desenvolver estratégias

didáticas que facilitem a aquisição e construção de conhecimentos por parte dos

estudantes tanto na graduação quanto na pós-graduação, articulando os saberes da

docência com as habilidades em pesquisa.

Nessa mesma direção, a atenção reduzida dada ao ensino com ênfase para a

investigação no espaço acadêmico, contribui, também, para o desprestígio quanto à

docência na universidade. Isso ocorre, no geral, por conta de uma atenção

exagerada depositada sobre o papel do pesquisador na atualidade, traduzida nos

seguintes aspectos: quantidade de publicações, dissertações e teses que examina e

não através do desenvolvimento de uma docência baseada na autoridade construída

a partir da interação, respeito e estabelecimento de uma relação horizontal com os

estudantes em sala de aula.

Mesmo tendo uma formação baseada na pesquisa, o docente adentra os

cursos de mestrado para ministrar aulas, trabalhar em uma instituição que tem como

uma de suas funções a formação de profissionais para a atuação nas diversas áreas

de conhecimento, no âmbito da docência universitária, mas esbarra numa formação

essencialmente centrada nos aspectos da investigação, como se a universidade se

constituísse apenas em um centro de pesquisa.

Nesse contexto, instaura-se uma problemática: em tese os docentes se

formam em nível de mestrado acreditando que vão ser pesquisadores de áreas

específicas, cientistas, pois, de maneira geral os currículos desses cursos têm

enfatizado a pesquisa e tratado a docência como uma espécie de apêndice e, na

maioria das vezes, esses profissionais olvidam de que sua função em uma

universidade consiste na busca da articulação da tríade ensino, pesquisa e

extensão, sendo que estas deveriam ser indissociáveis em suas práticas educativas,

o que na maioria das vezes não vem acontecendo.

Page 37: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

37

Essa dissociação entre ensino e pesquisa, tem suas origens, entre outros

elementos, na abordagem de educação tradicional, ainda presente no contexto

educacional brasileiro, sobre a qual o processo relacionado ao conhecimento está

centrado na figura do professor como sujeito que transmite informações aos

estudantes. Esse modelo enfatiza o método indutivo, baseado em aulas expositivas,

demonstrações e sistematização da matéria de forma sequencial, desvinculada dos

outros componentes curriculares do corpo do curso e, em consequência da

realidade, sendo o docente o centro do processo de ensino e um modelo a ser

seguido pelos estudantes (BEHRENS, 2003), sendo que a aprendizagem transcorre

basicamente pela via da transposição didática.

Desta maneira, a educação tradicional baseia-se numa concepção que

considera o aluno como uma tábula rasa3, onde tudo pode ser escrito pelo professor,

aquele que detém o conhecimento. Assim, o estudante teria que se comportar

passivamente internalizando os conteúdos reproduzidos pelo docente, sendo a

universidade caracterizada, entre outras funções, como instituição responsável pela

disciplina, formação de quadros profissionais em uma perspectiva tecnicista e

manutenção do status quo da sociedade.

No bojo dessa discussão, podemos dizer que existe uma crise em relação à

identidade profissional docente, pois, convivem socialmente imagens exteriores e

interiores sobre o ser professor. A primeira se refere à ideia social sobre o docente,

baseada em seu baixo status como profissional e a segunda trata-se da

representação que esse sujeito faz de si mesmo quando dá pouca atenção à sua

própria função de professor. Por esses elementos, essa crise identitária, anunciada,

é complexa e requer esforço coletivo dos próprios docentes e uma alteração em

seus processos formativos para que possa ser superada.

Assim, uma das possíveis saídas para o processo de construção das

identidades sociais/profissionais em meio a essa crise estaria em reduzir as

distâncias entre as “identidades para si” e as “identidades para o outro”, questão

central na abordagem de Dubar (2005), que envolve a maneira pela qual os atores

sociais se identificam uns com os outros e constroem simultaneamente uma imagem

3 Segundo o Dicionário de Filosofia Nicola Abbagnano (2012, p. 1104), a expressão tábula rasa se

refere a uma “expressão que indicou, às vezes, a condição da alma antes da aquisição do conhecimento. Essa expressão nasce da comparação do processo de aquisição de conhecimentos com o processo de impressão de sinais ou letras sobre tábulas cobertas de cera ou de escrita sobre página” [...].

Page 38: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

38

de si, ou seja, a configuração de determinadas identidades sociais e/ou profissionais

é forjada, também, na tensão de processos relacionais e biográficos.

Uma outra compreensão sobre a identidade profissional docente, segundo

Valle (2002), se refere ao fato de que ela está ligada ao fenômeno da

profissionalização implementado pelas reformas educacionais do Regime

Autoritário-Ditatorial Brasileiro (1964-1985), que apresentaram uma organização

burocrática da administração educacional e, por outro lado, a elevação dos níveis de

formação docente, pois conjugava interesses comuns e contraditórios das esferas

administrativas, dos representantes da educação e dos próprios docentes.

Essa identidade constitui-se em uma prática que vem se consolidando,

também, a partir das transformações advindas das reformas do Ensino Superior (Lei

n.º. 5.540/68) e do que foi denominado de ensino de 1º e 2º graus (Lei n.º. 5.692/71)

na década de 1960-70, momento em que o fenômeno da profissionalização ganhava

força. Tal construção sobre a profissão perpassa pelas dimensões individuais e

sociais dos docentes, a definição de si mesmos, o reconhecimento pelos outros e a

relação com a atividade de ensinar, aspectos que contribuem para a desqualificação

das visões do senso comum, que tratam a profissão docente como uma

semiprofissão, subprofissão, pseudoprofissão, profissão secundária, complementar

ou marginal, na busca de uma nova dimensão para a identidade profissional docente

(VALLE, 2002).

Nesse debate sobre a crise de identidade do professor universitário, uma

questão que necessita ser ressaltada é que não existe clareza sobre o que caberia a

esse profissional no exercício de sua função, pois, o seu lugar social encontra-se

amparado no conhecimento sobre a especialidade de sua área do saber e não sobre

a docência e seus elementos constituintes como uma das bases de sua profissão

(ZABALZA, 2004).

Nessa discussão, há que se considerar elementos como a cultura dos

estudantes, os saberes do docente do ensino superior, seus diferentes papéis

sociais e profissionais, aspectos que podem possibilitar a busca da qualidade da

docência universitária. Cabe esclarecer que refletir sobre o papel do professor do

ensino superior em cursos de mestrado da UEFS, requer o entendimento da

docência universitária como uma profissão polissêmica e complexa. Isto porque este

campo do saber está relacionado com a dimensão da ação de seres humanos em

locais de trabalho, com suas diferentes representações sobre a realidade, o que

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39

exprime a complexidade de se trabalhar com a dimensão da prática pedagógica e,

mais ainda, se a ideia é abordar esta dimensão do trabalho docente em um trabalho

científico.

Tratar sobre a natureza da docência e sobre a prática dos docentes, baseada

na pesquisa, pode conduzir à reflexão a respeito do papel da universidade numa

época de transição paradigmática, considerando que temos um paradigma antigo,

pautado no positivismo4 e um paradigma emergente5, ambos presentes nos debates

e ações no ensino superior, no qual a pesquisa tem se tornado cada vez mais

importante, principalmente quando se trata da avaliação que se propõe a “medir” a

qualidade desse nível de ensino, especificamente na pós-graduação.

Outro elemento que contribui para essa reflexão refere-se ao fato de que o

lugar do docente universitário depende, ainda, das concepções de docência que

estão presentes, tanto na literatura educacional, quanto na prática desses

professores e a relação da universidade com a sociedade, dentre outros fatores.

De um lado existem docentes que trabalham numa perspectiva que

poderíamos chamar de ensino tradicional e de outro, há professores que buscam

exercer uma ruptura com essa concepção que alguns teóricos, a exemplo de

(BEHRENS, 2003; CUNHA, 2007), têm denominado de modelo emergente de

ensino, no qual a ênfase encontra-se no processo de ensino-aprendizagem, que tem

no professor uma figura importante, mas não a única no desenvolvimento do

trabalho docente nos contextos de sala de aula.

Esse processo influencia numa crise entre as práticas dos professores na

universidade, pois, o mundo tem exigido deles novos saberes, concepções,

posturas, estratégias, entre outras competências, como por exemplo, a pesquisa

como caminho para a melhoria do ensino.

4 Segundo Meksenas (1996), o paradigma positivista teve como seus fundadores Augusto Comte

(1789-1857), Herbert Spencer (1820-1903) e Émile Durkheim (1858-1917) e provocou uma crença exacerbada na objetividade científica a partir de uma linearidade entre os três estados do conhecimento: o teológico, o metafísico e o positivo, respectivamente. Essa corrente preconizou, também, a observação sistemática dos fatos, a neutralidade científica, a generalização, e o desenvolvimento de pesquisas experimentais, aquelas baseadas na perspectiva do teste/experimento, transpondo esses princípios para a pesquisa no âmbito das ciências sociais e humanas. 5Segundo Souza Santos (2010), o paradigma emergente procura basear-se em um novo modelo

científico. Esta nova ordem, que emerge com o novo paradigma, tendo os sujeitos como o centro do processo de construção do conhecimento, baseia-se na ideia de que o sentido da transformação científica atual busca mudanças epistemológicas e metodológicas do quando os pesquisadores se propuserem a estudar o conhecimento humano.

Page 40: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

40

Essa crise anunciada ocorre, também, porque, desde muito tempo, os

professores exercem seu magistério repetindo os modelos de docentes que tiveram

enquanto eram estudantes. Desse modo, bastava dominar os conteúdos de um

determinado campo específico para se constituir em um docente e para atuar na

universidade, por exemplo, os professores eram escolhidos dentre aqueles que

eram bem sucedidos em seu campo profissional específico, a exemplo de médicos,

advogados, engenheiros, contabilistas, entre outros (MAIOLI, 2004).

Com efeito, respaldados em Sacristán (1996), consideramos a profissão

docente como uma semiprofissão, um dos motivos pelo qual alguns docentes não se

reconhecem como professores, mas o que ocorre socialmente é a consideração

apenas do título acadêmico outorgado pelas instituições responsáveis pela sua

formação de origem. Além do mais, a profissão carrega os efeitos econômicos e

sociais que concorrem para o aumento do desprestígio da função docente como os

baixos salários recebidos pelos professores, as más condições de trabalho, como a

defasagem dos materiais, a falta de infraestrutura, de mobiliário, entre outros

elementos.

Mas, sob a influência dos valores econômicos e técnico-científicos, a função

do professor foi tornando-se mais visível e considerada importante, o que vem

contribuindo para uma maior reflexão e visão, cada vez mais ampliada, sobre a

questão da identidade profissional, da profissão de professor e do seu papel na

sociedade e na sala de aula. Sendo assim, hoje, defende-se que para ensinar são

necessários saberes específicos provenientes da ciência pedagógica, e ser

professor tende a deixar de ser um simples ofício, no qual o docente apenas

transmitia o que aprendeu em momentos anteriores de sua experiência, para ser

reconhecido como uma profissão, como maior visibilidade do professor como

profissional da educação e com a alteração de seu papel.

Essa discussão é mais ampla, e envolve a relação entre a universidade e o

contexto social, pois, a referida instituição precisa lidar com as demandas do

paradigma emergente que começa a ser gestado desde o século passado e emerge

no século XXI, para poder enfrentar os desafios de um modelo que busca articular a

ciência com outros tipos de saberes, a exemplo das artes e das Tecnologias da

Informação e Comunicação (TICs), consideradas demandas da profissão docente do

presente século.

Page 41: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

41

Esse debate revela elementos importantes sobre o lugar do ensino, do

professor, do estudante e, também, sobre as funções do conteúdo e da avaliação,

aspectos que fazem parte da docência em todos os seus níveis. Assim, defende-se

que o ser professor envolve uma nova profissionalização para atender às diversas

exigências sinalizadas.

Faz-se necessário, também, o resgate de uma deontologia profissional, que

se refere ao conjunto de princípios e regras de conduta, ou seja, aos deveres de

uma determinada profissão. Neste caso, constitui-se no conjunto codificado das

obrigações impostas aos profissionais de uma determinada área, no exercício de

sua profissão. São normas estabelecidas pelos próprios profissionais organizados

socialmente, tendo em vista, não exatamente a qualidade moral, mas, a correção de

suas intenções e ações, em relação a direitos, deveres ou princípios, nas relações

entre a profissão e a sociedade. Assim, cada profissional está sujeito a uma

deontologia própria, a regular o exercício de sua profissão, conforme o código de

ética de sua categoria, ainda inexistente para o campo da docência.

Nesse contexto, certamente um dos problemas a serem considerados,

também, refere-se à questão do desprestígio em relação à Pedagogia como ciência

e da docência como profissão reconhecida e amparada legalmente, pois, a

identidade do professor universitário depende do estabelecimento de um estatuto de

cientificidade para a área, a criação de normas e parâmetros legais para

fundamentar a profissão do professor, com vistas a proporcionar o rompimento com

essa desqualificação da profissão a que Sacristán (1995) se refere.

Assim, as novas concepções de docência levam em consideração o campo

teórico-prático em suas abordagens, e têm no docente a função de mediador da

aprendizagem. Ressaltamos que a universidade pode contribuir para a melhoria da

profissão docente e de seus saberes específicos, através do desenvolvimento, por

exemplo, de processos de formação inicial e continuada que busquem refletir sobre

a importância do ensino como profissão, para que se possa buscar a sua qualidade.

A profissão docente, ou seja, a assunção dos professores como profissionais

do ensino, que tem no estudante a referência de sua ação, envolve um processo

com caráter de profissionalização, bem como a articulação entre a teoria e a prática,

entre a universidade e a escola básica, pois, o cerne da profissão docente consiste

no processo de ensinar-aprender, a relação professor-estudante, sendo estes

elementos essenciais para a ciência pedagógica (BEHRENS, 2003).

Page 42: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

42

Nesse sentido de profissão, a pesquisa pedagógica requer um processo de

observação empírica da sala de aula, a reflexão do observado e vivenciado, a

documentação dessas experiências, precisa basear-se em teorias científicas em

suas análises e contemplar as diversas áreas do conhecimento (TARDIF, 2011).

Esse tipo de investigação possui características semelhantes às demais pesquisas,

sendo um meio de construção do conhecimento que tem sido uma estratégia de

busca da melhoria do ensino universitário, pois, traz a possibilidade de proporcionar

aos docentes a aquisição de saberes da Pedagogia, necessários à sua atividade, na

busca da aprendizagem dos estudantes.

Essa temática tem se destacado como uma nova tendência da formação

universitária, que envolve reflexões sobre o ensino como fenômeno complexo e

como prática social, que é modificado pela ação e relação dos sujeitos envolvidos,

na busca de uma identidade processual construída por esses profissionais.

Entretanto, esse modelo de articulação do ensino com a pesquisa tem mais

possibilidade de se efetivar, se professores, estudantes, universidades públicas e

particulares, instituições de ensino superior e o Estado puderem dar sua contribuição

para efetivação do papel das instituições universitárias, quando se trata da

aprendizagem dos estudantes e da melhoria do ensino.

No plano teórico, a reflexão sobre a pesquisa como metodologia do ensino,

na busca da melhoria deste último, requer considerar a perspectiva de Demo (1997),

que trata de uma forma de educação pela pesquisa que tenha como um dos

princípios o questionamento reconstrutivo, ou seja, que ajude os sujeitos a

pensarem e refletirem sobre sua prática e sobre seu desenvolvimento profissional

(TARDIF, 2007). Educar pela pesquisa, assim, constitui-se no desafio de possibilitar

aos docentes e discentes a capacidade de reconstruir conhecimentos já expostos

pelos conteúdos de ensino, com vistas a contribuir para que a pesquisa possa fazer

parte da educação e do processo de formação da competência humana dos sujeitos

para a convivência em sociedade.

Cabe ressaltar que Demo (1998) defende, também, um modelo de pesquisa

que vise a melhoria do ensino superior, através da consideração da investigação

como metodologia para o desenvolvimento da docência, tratando a pesquisa como

princípio científico e educativo, como atitude cotidiana na vida universitária.

Page 43: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

43

Com base nas reflexões sobre a necessidade de pesquisar sobre a prática

docente, há que se considerar alguns pontos: o processo de reflexão, tanto

individual quanto coletivo formam a base para sistematização de princípios

norteadores de possíveis ações frente a realidade e não visam constituir-se em

modelos a serem seguidos; a busca por uma profissionalização docente, que

considere a reflexão sobre a prática deste profissional; postura profissional

competente e comprometida, que envolve a capacidade de conceber e implementar

novas alternativas diante de crises e problemas; construção de categoria profissional

significativa e representativa da sociedade reconhecida pelo conjunto social; investir

pessoal e institucionalmente na profissionalização continuada que se baseia em

conhecimentos específicos da área pedagógica; e reflexões críticas que possibilitem

mudanças e superação dos modelos de ensino tradicional ainda vigente.

Por outro lado, a docência tem sido colocada como elemento que precisa de

maior aprofundamento por parte de acadêmicos. Isto porque a universidade tem

centrado seu trabalho na produção do conhecimento científico, através da

investigação e o ensino muitas vezes tem sido objeto de reflexão da graduação,

contexto por vezes tratado pelos pesquisadores acadêmicos com menor importância

e sobre o qual não se pode construir conhecimentos com status científico.

Contribuindo com essa problemática, o que tem se verificado é que a

formação exigida ao professor para atuar no ensino superior, a especialização, o

mestrado e/ou doutorado, estão assentadas na importância dada à pesquisa e daí

surgem algumas indagações: qual o lugar da docência universitária nesse modelo

de universidade do século XXI? Como o professor pode enfrentar os desafios do

mundo atual no modelo de formação com destaque para a pesquisa? Qual

importância tem sido dada à Ciência Pedagógica nesse processo?

Tais questões apresentam relevância, pois ajudam a refletir a respeito da

constituição da identidade profissional do professor de ensino superior e se referem

aos desafios atuais da docência. Buscando elementos para tentar responder às

indagações, ressaltamos que a Constituição Federal do Brasil de 1988 (CF/88), em

seu Art. 207, prevê que “as universidades gozam de autonomia didático-científica,

administrativa e de gestão financeira e patrimonial, e obedecerão ao princípio de

indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão” (BRASIL, 1998, p. 01).

Page 44: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

44

Articulada com a Carta Magna, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional (LDBEN – 9.394/1996), em seu Art. 52, assegura que as universidades são

instituições pluridisciplinares de formação dos quadros profissionais de nível

superior, de pesquisa, de extensão, de domínio e cultivo do saber humano, que se

caracterizam por produzirem conhecimentos através de estudo de objetos de

investigação que sejam relevantes para a própria universidade, a cultura e a

sociedade como um todo. No Art. 53, Inciso III, a Lei n.º. 9.394/96 determina que no

exercício de sua autonomia são asseguradas às universidades, sem prejuízo de

outras, a atribuição de formular os planos, programas e projetos investigativos, bem

como de atividades de ensino e extensão (BRASIL, 1996).

A partir dessas exigências, nota-se que as universidades brasileiras na

atualidade necessitam adequar-se aos compromissos de ensinar, pesquisar e

realizar práticas extensionistas, funções sociais asseguradas na Carta Magna de

1988 e na Lei n.º. 9.394/96, LDBEN, para garantir a sua qualidade e poder enfrentar

os desafios apresentados no século XXI, tanto no que se refere à formação de seu

quadro de professores, quanto em relação à sua atuação como instituição de ensino

que tem relação direta com o conjunto mais amplo da sociedade.

Isto porque essas premissas presentes nos textos dessas Leis foram criadas

a partir de lutas e debates de alguns setores da sociedade organizados em prol de

melhorias no campo da educação como um todo e, notadamente, do ensino superior

e resgatam a necessidade dos docentes de ensino superior reconhecerem que as

universidades não existem apenas para realizar pesquisa, mas para desenvolver

atividades ligadas ao ensino e a extensão.

Todavia, ainda que o ensino, a pesquisa e a extensão constituam-se na tríade

que caracteriza historicamente a universidade, é importante investigar se essa

indissociabilidade tem sido alcançada na prática de docentes universitários, pois,

segundo diversos autores (DEMO, 1997 e 1998; ANASTASIOU, 1998; CASTANHO,

2000; SANTOS, 2004; PIMENTA, 2005), esses elementos ajudam a garantir a

qualidade do trabalho dos professores na universidade.

Nesse contexto, observamos que a qualidade na universidade tem servido,

geralmente, para medir e quantificar as atividades de ensino e pesquisa, através do

estabelecimento de critérios de quantidade produzidos ou gerados pelos

profissionais desta instituição. Logo, se antes o docente apenas tinha como objetivo

transmitir informações, atualmente existe uma tendência em lançar o docente para

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45

um outro campo, com ênfase na pesquisa, como se a docência fosse uma espécie

de apêndice na universidade.

Em contraposição a essa discussão sobre o processo de desqualificação do

ensino e a centralidade na pesquisa, defendemos a instauração de outro modelo de

docente que estaria amparado na concepção de educação emergente, na qual o

centro do processo de construção do conhecimento constitui-se na aprendizagem

dos estudantes. Nessa abordagem, a pesquisa é tratada como um dos elementos

que favorecem o desenvolvimento da postura científica diante dos conhecimentos

produzidos pela humanidade e, então, como o saber mais importante da

universidade. A nova lógica seria, portanto, a de docentes que pesquisam para

melhorar sua docência e não a de pesquisadores que ensinam para se manter no

trabalho na universidade sem, contudo, refletir sobre sua prática, a fim de

transformá-la, fundamentando sua docência em teorias educacionais e nos seus

elementos constituintes, tais como os saberes do campo pedagógico, as reflexões

sobre planejamento, avaliação, dentre outros.

Sobre a ideia desse profissional docente que pesquisa para melhorar sua

prática, Alarcão (2001, p. 6) afirma:

Realmente não posso conceber um professor que não se questione sobre as razões subjacentes às suas decisões educativas, que não se questione perante o insucesso de alguns alunos, que não faça dos seus planos de aula meras hipóteses de trabalho a confirmar ou informar no laboratório que é a sala de aula, que não leia criticamente os manuais ou as propostas didáticas que lhe são feitas, que não se questione sobre as funções da escola e sobre se elas estão a ser realizadas.

Pode-se dizer, portanto, que professor é aquele que consciente de sua função

de ensino, utiliza-se da pesquisa como fundamento das reflexões sobre os

fenômenos de sua sala de aula e que busca soluções para a resolução dos

problemas da prática pedagógica, instalando a investigação subordinada à sua ação

educativa e não colocando essa função em posição de destaque.

Um aspecto a ser ressaltado é que tratar sobre os modelos de docentes do

ensino superior requer uma abordagem sobre as práticas pessoais e sócio-

profissionais desses sujeitos, notadamente como os profissionais se relacionam com

o conhecimento, com a pesquisa, com o ensino e com a relação entre esses

elementos da prática acadêmica e educativa da universidade, o que se constitui

Page 46: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

46

como questões importantes para serem tratadas nesse debate sobre os modelos de

docentes universitários.

No bojo dessa reflexão, Pimenta (2005) faz uma análise sobre a

deteriorização da imagem do professor do ensino superior refletida no baixo status

social de sua profissão, na ineficiência do estatuto profissional para a carreira, que,

no geral, não garante dos direitos e deveres dos docentes como deveriam, nos

baixos salários que recebe pelo seu trabalho, na desqualificação do ensino em favor

da pesquisa no âmbito da universidade e, muitas vezes, de sua baixa estima em

relação ao desenvolvimento profissional e sua identidade. Dentre as causas desse

movimento de desqualificação, encontram-se questões sociais, econômicas,

políticas, culturais, entre outras, que já foram apontados neste capítulo.

Diante do exposto, ao longo desse capítulo, que tratou sobre alguns dos

elementos que concorrem para o entendimento do papel da pesquisa na formação e

na prática de docentes de ensino superior, percebeu-se que a investigação assume

uma função de destaque quando se quer entender os fundamentos da prática

educativa desses profissionais em nível de mestrado, ao passo que busca visualizar

o processo de constituição da docência universitária com vistas à qualidade.

Sendo assim, reconhecemos que discutir sobre ser professor pesquisador é

uma tarefa complexa que exige considerar a necessidade de uma articulação entre

ensino e pesquisa na prática dos docentes universitários, o que pode contribuir para

a melhoria da qualidade da ação desses profissionais. Além do mais, defendemos

que a investigação constitui-se na natureza da prática do professor, em outras

palavras, a pesquisa do docente em sala de aula pode colaborar para o

desenvolvimento do ensino na universidade, sendo condição sine qua non para se

manter nessa instituição e faz parte da vida acadêmica de professores e estudantes.

Ademais, o conceito de docente pesquisador refere-se a um campo de estudo

complexo que não está articulado à pesquisa nos moldes científicos para o

desenvolvimento da atividade docente, contudo, admite que a própria ação do

profissional é passível de ser investigada, o que pode gerar uma nova dinâmica

identitária do docente, articulada ao processo de desenvolvimento profissional. Uma

questão a ser ressaltada é que, após tratar da relação ensino e pesquisa no

contexto da sala de aula, no próximo capítulo realizaremos a discussão e análise

dos dados coletados e produzidos, através das entrevistas realizadas com os

sujeitos da pesquisa.

Page 47: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

47

3 CAMINHO INVESTIGATIVO DA PESQUISA

Com base nos pressupostos do paradigma emergente e nos princípios da

Teoria das Representações Sociais (TRS), traçamos o caminho investigativo

adotado para a elaboração do presente trabalho, entendendo que a realidade não é

um fim em si mesma e que captamos o real parcialmente, a partir das

representações que construímos a partir das interações com o meio social em que

vivemos.

O estudo que ora apresentamos trata-se de uma pesquisa descritiva, de

abordagem qualitativa. Este tipo de investigação preocupa-se com o significado dos

fenômenos e processos sociais, levando em consideração as motivações, crenças,

valores, representações sociais, existentes na rede de relações nos diversos

contextos sociais (PÁDUA, 2004).

Em contraposição à pesquisa quantitativa que é amparada no paradigma

positivista, para Gamboa (2009, p. 39), a investigação de abordagem qualitativa, ou

a pesquisa interpretativa

[...] Está enraizada no paradigma fenomenológico, que sustenta que a realidade é socialmente construída por meio de definições individuais ou coletivas da situação. Concebe o homem como sujeito e ator. Enfatiza a centralidade do significado, considerando-o como produto da interação social. Entende a verdade como relativa e subjetiva, reconhece a mudança e aceita a teoria do conflito.

Segundo o autor, a pesquisa qualitativa ou interpretativa como também é

conhecida, tem como base a fenomenologia, pois considera as práticas sociais

como base das construções de fenômenos que ocorrem na realidade e que ajudam

a representar essas mesmas práticas dos sujeitos que atribuem os significados ao

real.

Dessa maneira, para essa abordagem de pesquisa os sujeitos escolhidos

para participar do estudo, a que chamamos depoentes, constituem-se nos principais

atores do processo social e, através dos significados que eles atribuem ao conjunto

social, ajudam a elaborar olhares sobre essa realidade histórica, entendendo-a como

parcial, subjetiva e conflituosa.

Da mesma forma, conforme Gamboa (2009, p. 41),

[...] Enquanto a pesquisa quantitativo-realista se centra numa realidade independente, a perspectiva interpretativo-idealista dirige sua atenção para o reino do sujeito que conhece. Segundo essa

Page 48: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

48

ótica, qualquer afirmação sobre o mundo baseia-se inevitavelmente nos interesses, valores e situações do indivíduo. [...].

Nesse sentido, pode-se afirmar que, se para a pesquisa quantitativa a

realidade existe independente dos sujeitos que a constituem, na abordagem

qualitativa trabalha-se considerando que essa realidade é dotada de significados

que os atores sociais atribuem a ela.

Quanto aos aspectos idealistas, Gamboa (2009, p. 40) afirma que

na pesquisa interpretativo-idealista, o dualismo é inaceitável. A realidade é dependente da mente do sujeito e o pesquisador não se pode colocar fora da história nem da vida social. Nessa perspectiva, entende-se que a realidade é criada pela mente do sujeito (idealismo ontológico) ou moldada pela mente (idealismo conceitual). [...] O máximo que se pode fazer, segundo essa posição, é construir esquemas coerentes sobre a realidade. Em conclusão, a verdade é historicamente condicionada e se baseia na concordância social.

Conforme o autor, a pesquisa qualitativa tem como pressuposto a construção

da realidade de forma aberta, flexível e dependente dos sujeitos que integram o

processo, partindo do entendimento de que essa mesma realidade é apenas

captada de forma parcial pelos atores que a compõem, representam e a constroem

na dinâmica da vida.

Feitas essas considerações sobre alguns dos princípios epistemológicos que

guiam cada uma dessas abordagens (quantitativa e qualitativa), trataremos de

características essenciais da pesquisa qualitativa, segundo Triviños (2008, p. 128-

130). A primeira delas refere-se ao ambiente que serve como fonte de dados que se

constitui no contexto natural concreto, onde ocorrem os eventos e, ainda, o

pesquisador é o instrumento-chave para a realização desse tipo de investigação.

Outra característica dessa abordagem consiste no pressuposto de que a

pesquisa qualitativa é essencialmente descritiva, assume os significados que os

sujeitos atribuem ao mundo social como o cerne das abordagens. A terceira

característica remete à ideia de que os pesquisadores que trabalham no plano

qualitativo preocupam-se também com o processo de pesquisa e não apenas com

os resultados e o produto final (TRIVIÑOS, 2008, p. 128-129-130).

A quarta refere-se à análise dos dados que é feita indutivamente, levando em

consideração que os fenômenos sociais e humanos ocorrem no plano concreto, na

realidade, e que o pesquisador precisa analisá-los como e onde ocorrem esses

fatos.

Page 49: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

49

A quinta característica essencial da pesquisa qualitativa refere-se à questão

do significado que é, sem dúvida, a preocupação essencial do pesquisador

qualitativo, pois ao observar os fenômenos que ocorrem nas práticas dos sujeitos o

pesquisador qualitativo precisa problematizar os aspectos ressaltados em sua

pesquisa, mas levando em consideração a realidade vivida por esses indivíduos

(TRIVIÑOS, 2008).

Para Minayo (2001) a pesquisa qualitativa trabalha essencialmente com o

universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes dos

sujeitos, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações que os seres

humanos estabelecem entre si, dos processos e dos fenômenos que não podem ser

reduzidos à operacionalização de variáveis como na pesquisa quantitativa.

Segundo Chizzotti (2005), o debate sobre a questão epistemológica da

abordagem qualitativa

[...] Parte do fundamento de que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, uma interdependência viva entre o sujeito e o objeto, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito. O conhecimento não se reduz a um rol de dados isolados, conectados por uma teoria explicativa; o sujeito-observador é parte integrante do processo de conhecimento e interpreta os fenômenos, atribuindo-lhes um significado. O objeto não é um dado inerte e neutro; está possuído de significados e relações que sujeitos concretos criam em suas ações.

De acordo com o excerto, diferentemente da abordagem quantitativa,

amparada nos pressupostos do paradigma positivista, já tratados anteriormente, a

abordagem qualitativa de pesquisa está muito mais interessada nos aspectos que

denotam qualidade às ações dos sujeitos em contextos concretos de vida e

significação, e considera que existe relação indissociável entre sujeito-objeto, bem

como entre mundo objetivo e subjetividade dos indivíduos.

Ressalta-se que o nosso objeto foi trabalhado com base na investigação

qualitativa, que visa captar os sentidos e significados que os sujeitos sociais

atribuem aos contextos em que trabalham e que procederemos a análise dos dados

utilizando de princípios da Teoria das Representações Sociais (TRS), quando

considera o senso comum como conhecimento passível de ser problematizado em

um trabalho científico.

Page 50: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

50

O estudo amparou-se em princípios do paradigma emergente que, conforme

Santos (2010) procura basear-se em um novo modelo científico. Esta nova ordem,

que emerge com o novo paradigma, tendo os sujeitos como o centro do processo de

construção do conhecimento, baseia-se na ideia de que o sentido da transformação

científica atual busca mudanças epistemológicas e metodológicas, a partir do

momento em que os pesquisadores se propuserem a estudar o conhecimento

humano.

Nesse sentido, Santos (2010) trata de quatro pressupostos do paradigma

emergente. Esses pressupostos constituem-se nas quatro teses fundamentais sobre

as quais se assenta o modelo emergente.

A primeira tese consiste na ideia de que “todo o conhecimento científico-

natural é científico-social” (SANTOS, 2010, p. 61). Essa ideia assenta-se na busca

do rompimento com a distinção clássica entre Ciências Naturais e Ciências Sociais

que é um dos alvos de críticas que os adeptos do paradigma emergente fazem em

relação ao paradigma dominante, o positivista. Entretanto, para que essa dicotomia

seja superada é necessário à consolidação do paradigma emergente que não

admite essa separação entre as áreas do saber, pois essa situação ao longo da

História das Ciências desqualificava o campo das humanidades.

Assim, faz-se necessário aos adeptos do paradigma emergente repensar

sobre as condições teórico-metodológicas das Ciências Sociais, a fim de que se

possa instaurar um modelo científico humanístico no seio das ciências, ou seja,

aquela produção de saberes que considerem o sujeito como agente do progresso

científico (SANTOS, 2010).

Sobre essa questão, observemos a seguinte citação:

A concepção humanística das ciências sociais enquanto agente catalisador da progressiva fusão das ciências naturais e ciências sociais coloca a pessoa, enquanto autor e sujeito do mundo, no centro do conhecimento, mas, ao contrário das humanidades tradicionais, coloca o que hoje designamos por natureza no centro da pessoa [...] (SANTOS, 2010, 71-72).

Diante dessa nova forma de produção do saber científico, proposta na citação

anterior, que coloca os estudos humanísticos no centro da análise científica,

podemos sinalizar algumas das categorias-chave do paradigma emergente, em

outros termos, “[...] o mundo, que hoje é natural ou social e amanhã será ambos,

Page 51: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

51

visto como um texto, como um jogo, como um palco ou ainda uma autobiografia”

(SANTOS, 2010, p. 72).

A segunda tese consiste na ideia de que “todo o conhecimento é local e total”

(SANTOS, 2010, p. 73). É sabido que a especialização do conhecimento tende a

transformar o saber científico em algo disciplinarizado e que o pesquisador tornar-se

um ser que, de alguma forma, segrega os demais conhecimentos.

Entretanto, segundo Santos (2010, p. 76),

[...] No paradigma emergente o conhecimento é total, tem como horizonte a totalidade universal de que fala Wigner ou a totalidade indivisa de que fala Bohm. Mas sendo total, é também local. Constitui-se em redor de temas que em dado momento são adotados por grupos sociais concretos como projetos de vidas locais [...]. Ao contrário do que sucede no paradigma atual, o conhecimento avança à medida que o seu objeto se amplia [...].

Se no paradigma tradicional newtoniano-cartesiano, o conhecimento era

tratado de maneira dissociada da realidade social na qual se encontravam os

sujeitos e visava obter generalizações distanciadas da realidade vivida, no

paradigma emergente tem-se a consideração da totalidade e, também, da localidade

dos fenômenos sociais, dependendo do objeto em questão, adotado pelo

pesquisador.

Nesse sentido,

O conhecimento pós-moderno, sendo total, não é determinístico, sendo local, não é descritivista. É um conhecimento sobre as condições de possibilidade. As condições de possibilidade da ação humana projetada no mundo a partir de um espaço-tempo local. Um conhecimento deste tipo é relativamente imetódico, constitui-se a partir de uma pluralidade metodológica. Cada método é uma linguagem e a realidade responde na língua em que é perguntada. Só uma constelação de métodos pode captar o silêncio que persiste entre cada língua e pergunta (SANTOS, p. 77-78).

Conforme a ideia defendida por esse autor, para o paradigma emergente o

conhecimento moderno não se restringe à descrição ou determinação dos fatores

causadores dos acontecimentos sociais, pois, considera a realidade constituída de

múltiplas determinações, as quais o pesquisador deve buscar se aproximar do

entendimento das condições que a determinam e não de suas causa e efeitos. Para

isso, deve considerar a infinidade de métodos ou formas de análise dos fenômenos

não como algo pronto e acabado, mas em constante transformação.

Page 52: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

52

A terceira tese admite que todo conhecimento é autoconhecimento. Sabe-se

que um dos pressupostos mais marcantes da ciência moderna considera o sujeito

separado do objeto nos diferentes campos do saber, o que advém da dicotomização

feita pela mesma ciência em relação ao homem como sujeito epistêmico e como

sujeito empírico (SANTOS, 2010).

Esta nova possibilidade científica sinaliza que, atualmente, a pessoa pode

estar em conato com seu objeto de conhecimento, pois, num modelo de produção

de Ciência contemplativa do real, sujeito e objeto dão lugar a relações sujeito-

sujeito, possibilitando um caráter eminentemente humano à produção do

conhecimento no seio do paradigma emergente (SANTOS, 2010).

A quarta tese refere-se ao pressuposto de que “todo conhecimento científico

visa constituir-se em senso comum” (SANTOS, 2010, p. 88). Essa tese só tem

sentido porque

[...] A ciência pós-moderna sabe que nenhuma forma de conhecimento é, em si mesma, racional; só a configuração de todas elas é racional. Tenta, pois, dialogar com outras formas de conhecimento deixando-se penetrar por elas. A mais importante é o conhecimento do senso comum, o conhecimento vulgar e prático com que no cotidiano orientamos as nossas ações e damos sentido à nossa vida.

Depreende-se do dito, que essa ciência caracteriza-se pela consideração de

que o conhecimento é relativo e dependente de outras abordagens sobre o mundo,

com base em uma perspectiva que enfatiza o senso comum que é responsável pela

orientação das ações dos sujeitos historicamente situados.

Nesse sentido, o senso comum caracteriza-se a partir de alguns princípios, a

saber: considera a relação entre causa e intensão, bem como adota a visão de

mundo tendo como base ação e o princípio da criatividade e da responsabilidade;

constitui-se como prático e pragmático, reproduz-se nas trajetórias e experiências

dos grupos sociais; caracteriza-se como transparente, desconfiando da tecnologia e

do conhecimento que visa igualdade do acesso ao discurso, à competência cognitiva

e à competência linguística; é superficial porque se difere das estruturas, mas busca

a captação da profundidade das relações conscientes entre as pessoas; indisciplinar

e imetódico, não provém de prática orientada para a produção, ao contrário

reproduz-se no cotidiano da vida; aceita a realidade tal qual é e enfatiza ações que

não provoquem rupturas com essa realidade; retórico e baseado em metáforas, visa

a persuasão ao invés de ensinar (SANTOS, 2010).

Page 53: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

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Vale ressaltar que, a partir da tomada de consciência dessa riqueza das

representações que os seres humanos constroem sobre o real, é que no paradigma

emergente pode-se admitir que

[...] O conhecimento científico pós-moderno só se realiza enquanto tal na medida em que se converte em senso comum. Só assim será uma ciência clara que cumpre a sentença de Wittgenstein, „tudo o que se deixa dizer deixa-se dizer claramente‟. Só assim será uma ciência transparente que faz justiça ao desejo de Nietzsche ao dizer que “todo o comércio entre os homens visa que cada um possa ler na alma do outro, e a língua comum é a expressão sonora dessa alma comum” (SANTOS, 2010, p. 90-91).

De acordo com o pensamento esboçado, a ciência pós-moderna baseia-se na

assunção do conhecimento da dimensão prática da vida cotidiana dos sujeitos, que

busca clarificar os sentidos que esses mesmos indivíduos atribuem a um dado

conjunto social, aspectos que dão uma conotação de transparência ao

conhecimento científico na modernidade.

Após discutir essas teses do paradigma emergente, Santos (2010, p. 91) nos

alerta para o fato de que

[...] A ciência pós-moderna ao sensocomunizar-se, não despreza o conhecimento que produz tecnologia, mas entende que, tal como o conhecimento se deve traduzir-se em autoconhecimento, o desenvolvimento tecnológico deve traduzir-se em sabedoria de vida (SANTOS, 2010, p. 91).

Diante das questões apresentadas, em tempos de transformações

paradigmáticas, de incertezas, de complexidade, de desconhecimentos acerca de

para onde vamos, o que cabe é pensarmos no/sobre o presente e procurarmos

elementos em nossas ações que possam contribuir para que o conhecimento

científico possa levar em consideração o senso comum e que este último possa vir a

se constituir, através da revelação dos dados de pesquisas, em conhecimento

científico.

3.1 TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS (TRS)

Com base no objeto de pesquisa descrito, nos objetivos e nas questões

apresentadas na Introdução desta Dissertação, construímos um quadro teórico-

metodológico que se amparou em princípios da Teoria das Representações Sociais

(TRS). Esta foi elaborada a partir dos estudos de Moscovici (1987) e Jodelet (2001).

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54

O conceito de representações coletivas foi elaborado pelo sociólogo francês

Émile Durkheim (1858-1917), elaborou o conceito de Representações Coletivas

(RC) para designar um conjunto de elementos que visa à explicação de uma

multiplicidade de fenômenos sociais, na área da sociologia (NOBREGA, 1990).

Dessa maneira, para a sociologia, as representações coletivas exercem

coerção sobre os indivíduos, a fim de proporcionar um pensar e um agir de maneira

homogênea, sendo um saber partilhado e reproduzido coletivamente que transcende

o plano individual e possui status de objetividade na penetração das consciências

individuais. São estáveis na sua transmissão e reprodução à sociedade e uma vez

difundidas tornam-se autônomas e regidas por leis próprias. Essa interpretação de

um plano social estável e fixo e a dicotomia entre o indivíduo e a sociedade,

causaram o obstáculo principal à criação do conceito de representação social e,

principalmente, sua aplicabilidade prática (NOBREGA, 1990).

Com efeito, Serge Moscovici (1961), em sua obra “La Psychanalyse, son

image, son public”, que contém a matriz da Teoria das Representações Sociais

(TRS), buscou elementos na psicossociologia para preencher a lacuna entre o plano

individual e o coletivo, deixada pela sociologia durkheimiana a respeito do conceito

de representação (FARR, 1995).

Moscovici (1987, p. 28), substituiu o conceito de representação coletiva

cunhado por Durkheim, pelo de representação social que consiste em

[...] Um corpus organizado de conhecimentos e uma das atividades psíquicas graças às quais os homens tornam inteligível a realidade física e social, inserem-se num grupo ou numa ligação cotidiana de trocas e liberam os poderes de sua imaginação.

Essa noção de representação, como um tipo de conhecimento prático do qual

os sujeitos se servem socialmente para elaborarem suas noções sobre o mundo,

refere-se ao senso comum que serve de base para que os indivíduos possam

exercer suas atividades intelectuais de maneira a tornar a realidade significativa para

si ou para um conjunto social.

Segundo Moscovici (1981 apud SÁ, 1996, p. 31),

[...] Por representações sociais, entendemos um conjunto de conceitos, proposições e explicações originado na vida cotidiana no curso de comunicações interpessoais. Elas são o equivalente, em nossa sociedade, dos mitos e sistemas de crenças das sociedades tradicionais; podem também ser vistas como a versão contemporânea do senso comum.

Page 55: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

55

Esse conjunto de conceitos que se origina na dinâmica cotidiana da vida dos

sujeitos sociais, o chamado senso comum, apresenta três dimensões principais na

sua estrutura. Sobre as dimensões das representações sociais, Moscovici (1987

apud MAZZOTTI, 2008, p. 24-25) defende que

[...] Cada universo apresenta três dimensões: a atitude, a informação e o campo de representação ou imagem. A atitude corresponde à orientação global, favorável ou desfavorável, ao objeto da representação. A informação se refere à organização dos conhecimentos que o grupo possui a respeito do objeto. Finalmente, o campo de representação remete à ideia de imagem, ao conteúdo concreto e limitado de proposições referentes a um aspecto preciso do objeto, e pressupõe uma unidade hierarquizada de elementos. Essas três dimensões da representação social fornecem a visão global de seu conteúdo e sentido.

A primeira dimensão, a informação, está ligada à organização dos

conhecimentos pertencentes a um dado grupo social. A segunda, o campo de

representação, refere-se ao conteúdo da representação em sua dimensão concreta,

como se apresenta na prática dos discursos individuais ou coletivos. A terceira, a

atitude, trata-se do elemento de amplitude da representação e se refere à questão

globalidade do objeto representado (SÁ, 1996).

Outro ponto de consenso entre os pesquisadores que trabalham com as

representações sociais se refere às suas funções essenciais que são quatro, as

quais apresentaremos a seguir.

A primeira, a função de saber, que possibilita a compreensão e a posterior

explicação da realidade, imbuída da dimensão do conhecer. A segunda, a função

identitária, que contribui para a preservação da especificidade dos grupos sociais e

que ajudam a situar e identificar os indivíduos com base em suas identidades

intrapessoais e interpessoais, ou seja, no seu grupo de pertença. A terceira, a

função de orientação, que proporciona guiar as práticas sociais dos grupos e

determinar o tipo de relação que determinados indivíduos devem obter com outros

indivíduos ou grupos, operando em sua dimensão prescritiva. A quarta, a função

justificatória, que tem a ver com o processo de justificação que os sujeitos adotam

para guiar as tomadas de decisões, posicionamentos, formas de conduta, etc., frente

aos acontecimentos sociais (ABRIC, 1994a apud SÁ, 1996).

Em síntese, as funções da representação consistem na adaptação à realidade

concreta, a fim de exercer a diferenciação do conteúdo dessa representação, com

vistas à proteção de seu sistema central (SÁ 1996, p. 22).

Page 56: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

56

Segundo Moscovici (1987 apud MAZZOTTI, 2008, p. 23-24),

[...] A representação tem, em sua estrutura, duas faces tão pouco dissociáveis como as de uma folha de papel: a face figurativa e a face simbólica. Isso significa que a cada figura corresponde um sentido e a cada sentido uma figura. Os processos envolvidos na atividade representativa têm por função destacar uma figura e, ao mesmo tempo, atribuir-lhe um sentido, integrando-o ao nosso universo. Mas têm, sobretudo, a função de duplicar um sentido por uma figura e, portanto, objetivar, e uma figura por um sentido, logo, consolidar os materiais que entram na composição de determinada representação.

Essas duas faces constituem-se nos dois processos mais importantes que

dão origem às RS, a objetivação e a ancoragem. O primeiro refere-se à passagem

de conceitos abstratos para esquemas mais concretos, tornando-os visíveis e

materializando o que é representado. O segundo trata de classificar estes conceitos

e nomear um objeto em determinado contexto.

Moscovici (1987 apud MAZZOTTI, 2008, p. 24) assim define objetivação

como a

[...] Passagem de conceitos ou ideias para esquemas ou imagens concretas, os quais, pela generalidade de seu emprego, se transformam em “supostos reflexos do real”; e a ancoragem, como a constituição de uma rede de significações em torno do objeto, relacionando-o a valores e práticas sociais.

Pode-se dizer, portanto, que a objetivação, para a Teoria das Representações

Sociais, portanto, refere-se a um processo pelo qual passa qualquer sujeito na

dinâmica da linguagem, pois para que ele possa expressar-se primeiramente ocorre

uma espécie de transferência daquilo que se encontra no intelecto para o plano do

discurso, expressando os fenômenos do real.

Já a ancoragem constitui-se em um conceito que é utilizado para explicar a

dimensão prática das representações que resulta da implicação dessas expressões

da linguagem feitas pelos sujeitos, através da objetivação da realidade, para o

contexto em que vivem, buscando as justificações dos fatos sociais a partir dos seus

valores, crenças e normas de conduta, as quais de algum modo regulam suas ações

no plano social.

Uma questão a ser destacada é que Moscovici (1987 apud MAZZOTTI, 2008,

p. 27), trabalha com a ideia da situação social na qual são elaboradas as

representações, apresentando as seguintes características:

[...] a) Dispersão das informações, o que faz com que os dados de que o sujeito dispõe sobre um novo objeto social sejam, ao mesmo

Page 57: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

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tempo, excessivos e insuficientes, contribuindo para a incerteza quanto ao âmbito das questões envolvidas; b) pressão para a inferência, gerando desvios nas operações intelectuais, na medida em que o sujeito precisa, a qualquer momento, no curso das conversações cotidianas, estar pronto para dar sua opinião, tornando estáveis impressões com alto grau de incerteza; e c) focalização sobre um determinado aspecto ou ponto de vista, o que influencia o estilo de reflexão do sujeito.

Essas características das RS, tais como a dispersão das informações, a

pressão para a inferência e a focalização sobre um ponto de vista se referem à

situação social na qual se encontram os sujeitos que nem sempre são positivas e

que visam à caracterização daquilo que representa um conjunto social. Além disso,

[...] A marca social dos conteúdos ou dos processos se refere às condições e aos contextos nos quais emergem as representações, às comunicações pelas quais elas circulam e às funções que elas servem na interação do sujeito com o mundo e com os outros (JODELET, 1990 apud MAZZOTTI, 2008, p. 28).

Conforme o excerto, as representações carregam na sua elaboração, por

parte dos sujeitos, as marcas dos contextos em que vivem, da dinâmica

comunicativa que elaboram, além das interações que os indivíduos exercem nos

contatos com o outro e com a dinâmica social.

Segundo Serge Moscovici (1987), as representações são, também, uma

espécie de código de conduta com base no qual os sujeitos dão sentido às suas

ações práticas, internalizam o real a partir de suas aquisições mentais e adaptam-se

ao grupo social de pertença.

Para Doise (1990 apud SÁ, 1998, p. 74-75), “representações sociais são

princípios geradores de tomadas de posições ligados a inserções específicas em um

conjunto de relações sociais e que organizam os processos simbólicos que intervêm

nessas relações”.

Partimos do entendimento de que esse conhecimento do senso comum,

considerado como importante para a dinâmica das representações sociais, revela

muito das práticas pedagógicas desenvolvidas em contextos concretos de trabalho e

dão significado à ação dos sujeitos professores, no que se refere à sua percepção

sobre a realidade, notadamente sobre sua atividade docente em cursos de

Mestrado, no exercício diário de confronto entre a dinâmica de ensinar e de

pesquisar na universidade.

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Além da utilização de princípios da TRS, construímos um quadro teórico

amparado nos seguintes conceitos: pesquisa (DEMO, 1997 e 1998; PIMENTA,

2005; GIL, 2007 e 2008; TRIVIÑOS, 2008; GAMBOA, 2009); professor pesquisador

(DEMO, 1997 e 1998; PIMENTA, 2005; VENTORIM, 2005; GERALDI, 1998; CARR e

KEMIS, 1988; STENHOUSE, 1996; ELLIOTT, 1998; ZEICHNER, 1998); e prática

educativa (BEHRENS, 2003).

3.2 LÓCUS DA PESQUISA

Conforme já afiramos anteriormente, estamos desenvolvendo a presente

investigação foi desenvolvida na Universidade Estadual de Feira de Santana

(UEFS), situada na Avenida Transnordestina, s/n, bairro Novo Horizonte, Feira de

Santa, Bahia/Brasil, devido o vínculo com a instituição, seja como estudante do

curso de Licenciatura em Pedagogia, seja como Bolsista de Iniciação Científica

(PROBIC/UEFS), do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Pedagogia Universitária

(NEPPU), e, também, como participante de movimentos estudantis vinculados ao

curso e a ações mais amplas dentro desse espaço, além de outras vivências

acadêmicas.

A instituição que se constituiu como lócus da pesquisa é, também, uma das

mais importantes universidades estaduais do Nordeste, pois, tem desenvolvido

estudos e difundido conhecimentos nas mais diversas áreas do saber e tem formado

profissionais capacitados para atuarem nos diversos setores de trabalho da

sociedade.

Para a realização da pesquisa, foram escolhidos os seguintes cursos de

Mestrado: 1) História, Cultura e Poder; 2) Desenho, Cultura e Interatividade; e 3)

Ensino, Filosofia e História das Ciências. O critério de escolha se deu com base no

entendimento de que tais programas apresentam convergências no que se refere à

formação acadêmica, pois, esses cursos de Mestrado da UEFS têm como meta a

formação de docentes com ênfase na prática da pesquisa científica para atuarem

como formadores de sujeitos para a docência do ensino superior.

Assim, os objetivos permanentes dos Mestrados stricto sensu da UEFS,

selecionados como contexto de investigação se aproximam, pois, abordam a

necessidade de formar profissionais capacitados para a produção de conhecimento

científico e para atuação na docência no ensino superior (UEFS, 2013).

Page 59: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

59

O mestrado em História, por exemplo, tem como uma de suas metas a

qualificação de seu quadro de estudantes para atuação no ensino superior, ou seja,

para realizar atividades de planejamento, tanto do ensino como da pesquisa e da

extensão (UEFS, 2013).

Segundo o Regimento Interno do Programa de Pós-graduação em Desenho,

Cultura e Interatividade (PPGD), o curso tem como algumas de suas prioridades:

Capacitar docentes universitários; integrar permanentemente a pesquisa e a pós-graduação com as atividades de graduação, através de mecanismos de interface, bem como formar profissionais qualificados para as atividades de pesquisa, produção do conhecimento e atendimento às demandas da sociedade (UEFS, 2013, p. 01).

No mesmo sentido, o Mestrado em Ensino, Filosofia e História das Ciências,

tem como objetivo “o exame crítico da ciência, de seus resultados, de sua produção

e de sua difusão, especialmente através do ensino” (UEFS, 2013).

Nesse sentido, os três programas de mestrados stricto sensu da UEFS,

escolhidos como contexto para esta análise, preconizam em seus objetivos e

regimentos a preparação de seus estudantes para o exercício da docência

universitária, bem como para o desenvolvimento das atividades de pesquisa

articuladas às práticas de ensino.

3.3 SUJEITOS DA INVESTIGAÇÃO

A escolha dos depoentes observou os seguintes critérios: ter mais de cinco

anos de serviço na universidade como docente de cursos de mestrado; ser

pertencente ao quadro permanente dos referidos programas; vasta experiência em

pesquisa e, consequentemente, ampla produção acadêmica em livros e artigos

publicados; orienbtações de dissertações e teses concluídas.

Além disso, os sujeitos escolhidos para serem depoentes do nosso estudo

deveriam ser integrantes ou coordenadores de grupos de pesquisa e de programas

de pós-graduação, pois, entendemos que estes podem contribuir de maneira mais

contundente para respondermos a questão posta como objeto de estudo deste

trabalho: qual(is) representações são construídas por docentes de mestrados da

UEFS sobre a infuência da pesquisa em suas práticas pedagógicas?

Page 60: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

60

Os participantes do estudo correspondem a cinco docentes do sexo feminino

e quatro do sexo masculino, com idade entre quarenta e cinco e sessenta anos,

residindo a sua maioria na cidade de Salvador, Bahia, que fica distante,

aproximadamente, 110 km de Feira de Santana/BA, conforme o (PDI/UEFS, 2013),

cidade esta onde se encontra localizada a UEFS, Instituição que serviu de lócus

para a presente pesquisa de dissertação.

Quanto ao ano de ingresso como docente na UEFS, os depoentes

adentraram a instituição entre os anos de 1990 e 2005 como professores efetivos,

sendo que apenas três deles foram bolsistas de iniciação científica quando

estudantes de graduação.

Sobre a formação acadêmica, os(as) professores(as) entrevistadas são todos

doutores, a maioria não foi bolsista de iniciação científica quando eram estudantes

de graduação, mas fazem parte ou coordenam projetos de pesquisas na UEFS

atualmente.

Ressalta-se que o quadro apresentado abaixo contém o perfil sócio-

profissional dos(as) professores(as) de mestrados da UEFS, entrevistados durante o

ano de 2013, entre os meses de junho e julho, conforme cronograma do Projeto de

Pesquisa.

PERFIL SÓCIO-PROFISSIONAL DOS PROFESSORES DE MESTRADOS DA UEFS, 2014.

Sujeitos Idade Sexo Cidade Formação Ano de ingresso

Bolsista de iniciação científica

MI1 60 Feminino Salvador Doutorado 1997

Não

MA2 40 Feminino Salvador Doutorado 2005 Não

MG3 53 Feminino Salvador Doutorado 1991 Não

ML4 47 Feminino Salvador Doutorado 1993 Não

MM5 57 Feminino Feira de

Santana

Doutorado 1990 Não

MJ6 58 Masculino Feira de

Santana

Doutorado 1980 Sim

MW7 48 Masculino Lauro de Freitas

Doutorado 1997 Não

Page 61: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

61

Fonte: Guias de entrevistas semi-estruturadas realizadas com os depoentes.

3.4 PROCEDIMENTOS DE COLETA E PRODUÇÃO DOS DADOS

Para a coleta e produção dos dados, utilizamos a entrevista semi-estruturada

que consiste em uma estratégia metodológica de coleta e produção de dados que

favorece a pesquisa científica social, nos ramos da História, da Educação, da

Sociologia, da Antropologia, da Psicologia Social, da Política, do Serviço Social, do

Jornalismo, das Relações Públicas, da Pesquisa de Mercado, etc., bem como se

caracteriza como um rico e pertinente recurso metodológico na apreensão de

sentidos e significados e na compreensão das realidades humanas (MACEDO,

2004; PÁDUA, 2004).

Essa fase do processo metodológico de investigação da presente

Dissertação, constituiu-se em um momento de experiências com os discursos de

docentes de pós-graduação da UEFS, a partir das informações que esses sujeitos

nos cederam. A partir disso, a busca dos depoentes foi procedida da seguinte

maneira: inicialmente, fiz visitas aos respectivos Colegiados dos Programas de Pós-

Graduação da UEFS dos Mestrados escolhidos para a investigação.

Em seguida, procedemos um encontro com os depoentes em potencial,

propondo uma conversa informal, no intuito do estabelecimento de um segundo

contato com os entrevistados, bem como a explicação do porque da pesquisa, os

objetivos, a problemática, visando uma melhor qualidade na execução da coleta e

produção dos dados.

As entrevistas realizadas junto aos nove docentes dos referidos Programas

foram concluídas com sucesso, pois todos os depoentes responderam às questões

do roteiro de entrevista. Entretanto, a chegada a esses professores, desde a busca

dos e-mails ou telefones de conato dos mesmos não se deu de forma simples, por

causa dos motivos que apresentaremos a seguir. Primeiramente, foi realizada uma

pesquisa inicial na base de dados dos três cursos de mestrados escolhidos como

MR8 45 Masculino Salvador Doutorado 1997 Sim

MM9 46 Masculino Feira de

Santana

Doutorado 2001 Sim

Page 62: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

62

lócus para a investigação, com vistas ao estabelecimento de um contato inicial com

aqueles que poderiam vir a se constituir como sujeitos da pesquisa.

Em seguida, após esse contato de sondagem com vistas a realização das

entrevistas, apresentando o Termo de Consentimento (Apêndice A) e o Guia de

Entrevista (Apêndice B) contendo os elementos sobre o desenvolvimento da mesma,

indagávamos aos docentes selecionados sobre a participação na entrevista que

propúnhamos naquela ocasião, conforme critérios de escolha para participação em

nossa pesquisa, tais como: 1) Tempo de serviço como docente no Mestrado a que

está vinculado; 2) Notável produção acadêmico-científica na área de conhecimento a

qual está vinculado; e 3) Experiência em orientação de trabalhos acadêmicos,

especialmente dissertações e teses; 4) Coordenador ou membro de grupo de

pesquisa ligado ao mestrado a que é credenciado.

Por fim, após as idas e vindas aos respectivos Colegiados dos mestrados nos

módulos II, III e VII, da UEFS, e marcadas a realização da coleta e produção dos

dados de nossa investigação, estabelecemos os meses de junho e julho de 2013

para a realização das entrevistas dos nove sujeitos desta pesquisa. Essas diversas

visitas aos Programas de Pós-Graduação se deram pela dificuldade encontrada para

obter as entrevistas com os professores selecionados, por causa das diversas

demandas de trabalho na universidade, seja no ensino, na pesquisa, na extensão ou

mesmo em reuniões de Departamentos ou Colegiados dos cursos a que são

vinculados.

Para evitar qualquer desconforto ou danos à pessoa na dimensão física,

psíquica, moral, intelectual, social, cultural, espiritual e profissional, foram adotados

os seguintes procedimentos: a) para preservar o anonimato, o nome do participante

em cada transcrição foi substituído por letras e números; b) as gravações e as

respectivas transcrições foram guardadas, em lugar seguro, onde somente o

pesquisador terá acesso; c) logo após o seu tratamento científico, as gravações

serão destruídas ao término do Metrado do autor; e) as informações não serão

utilizadas em prejuízo dos participantes.

Com os dados obtidos por meio das entrevistas, o procedimento metodológico

de análise foi realizado com base em um processo de triangulação do material

colhido nas entrevistas, processo que consistiu na realização de uma articulação

entre as necessidades de formação dos professores pesquisadores, presentes nos

textos dos Projetos de cada curso de mestrado investigado, obtidos do site da

Page 63: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

63

Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), com

concessão dos coordenadores dos referidos programas, por meio de Ofício assinado

(Apêndice D), destacando as representações desses profissionais sobre o tema e

dialogando com a bibliografia discutida no quadro teórico do trabalho.

A partir da transcrição, que foi feita resguardando o texto da fala dos

participantes na íntegra, procederemos a categorização dessas falas recortando

cada uma conforme as categorias que emergiram, a partir da continuidade de

realização das entrevistas. A partir desse recorte, tratamos as entrevistas através de

categorias de análise que foram as seguintes: 1) Concepções de docentes de

mestrados da UEFS sobre a pesquisa, o ensino e a extensão; 2) Relação ensino e

pesquisa nos contextos de sala de aula; 3) Professor pesquisador: competências,

papel e identidade docente. Ressalta-se que estas foram criadas tendo como base

os dados obtidos através das falas dos sujeitos que foram entrevistados para a

presente investigação e foram desdobradas em seções de análise.

3.5 INSTRUMENTO DE COLETA E PRODUÇÃO DOS DADOS: ENTREVISTA

SEMI-ESTRUTURADA

Segundo Szymanski (2004, p. 10), a entrevista semi-estruturada, ou também

chamada de face a face, tem sido amplamente utilizada em pesquisa de abordagem

qualitativa, pois

É fundamentalmente uma situação de interação humana, em que estão em jogo as percepções do outro e de si, expectativas, sentimentos, preconceitos e interpretações para os protagonistas: entrevistador e entrevistado. Quem entrevista tem informações e procura outras, assim como aquele que é entrevistado também processa um conjunto de conhecimentos e pré-conceitos sobre o entrevistador.

É nessa perspectiva, abordada pela autora, que buscamos trabalhar com a

entrevista, não como um instrumento utilizado para obter respostas dos sujeitos,

mas como uma situação em que pesquisador e pesquisado dialogam entre si com o

intuito de desvelar conhecimentos sobre determinado objeto, no caso de nosso

estudo, as representações de docentes de mestrados da UEFS sobre a influência da

pesquisa em suas práticas.

Dessa maneira, segundo Macedo (2004, p. 164), a entrevista é um

Poderoso recurso para captar representações, na entrevista os sentidos construídos pelos sujeitos assumem para o etnopesquisador

Page 64: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

64

o caráter da própria realidade, só que do ponto de vista de quem a descreve. A linguagem aqui é um forte fator de mediação para a apreensão da realidade e não se restringe apenas à noção de verbalização. Há toda uma gama de gestos e expressões densas de conteúdos indexais importantes para a compreensão das práticas cotidianas [...].

Nesse sentido, a entrevista apresenta como principal objetivo a obtenção de

informações do entrevistado sobre determinado tema ou problema, bem como visa à

obtenção dos sentidos de uma dada realidade constituídos, pelos sujeitos

entrevistados. Além disso, utilizar a entrevista com um caráter da etnopesquisa visa

resgatar a dimensão oculta das representações contidas na linguagem do depoente,

seus conhecimentos, crenças, valores, visões de mundo, opiniões que são o

conteúdo essencial da pesquisa de abordagem qualitativa.

Ressalta-se que desenvolvemos o trabalho tendo como base esse tipo de

entrevista, pois, conforme afirma Szymanski (2004, p. 14),

A entrevista também se torna um momento de organização de ideias e de construção de um discurso para um interlocutor, o que já caracteriza o caráter de recorte da experiência e reafirma a situação de interação como geradora de um discurso particularizado. Esse processo interativo complexo tem um caráter reflexivo, num intercâmbio contínuo entre significados e o sistema de crenças e valores, perpassados pelas emoções e sentimentos dos protagonistas.

É nessa perspectiva que utilizamos a presente estratégia de coleta e

produção de dados, como um momento de revelação de ideias e discursos que se

referem à uma experiência particular de professores sobre seu fazer cotidiano, nas

construções e elaborações a respeito da relação entre o ensinar e o pesquisar, bem

como na consideração do caráter de interação social desse momento dotado de

reflexividade e com vistas à resgatar os significados atribuídos aos fenômenos pelos

atores/autores do objeto estudado.

Com efeito, existem algumas habilidades e cuidados que foram tomados no

trabalho de condução da entrevista, essenciais para o seu desenvolvimento.

Primeiramente, foi imprescindível o estabelecimento do contato inicial de maneira

amistosa. Para o início da conversação foi importante que o entrevistador explicasse

a finalidade da visita, o objetivo da pesquisa, o nome da instituição a qual está

vinculado, sua importância para a comunidade pesquisada e a contribuição da

colaboração pessoal do entrevistado para o estudo, bem como ter deixado claro que

sua identidade seria preservada com o anonimato (SZYMANSKI, 2004).

Page 65: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

65

Em segundo lugar, foi necessária a padronização das perguntas, para a

posterior comparação, bem como foram atendidas as recomendações válidas para a

formulação das questões, quais sejam: as perguntas foram feitas somente quando o

entrevistado estava pronto para dar respostas à informação solicitada; foram feitas

primeiramente as perguntas que não causassem negativismo por parte do

entrevistado; foi realizada uma pergunta de cada vez, evitando-se respostas

implícitas nas questões (GIL, 2008).

O terceiro aspecto consistiu no estímulo à respostas completas, através de

certa neutralidade em relação às perguntas, ou seja, estimulou-se a resposta de

maneira contundente, a partir de indagações sucintas que esclarecessem o

conteúdo das perguntas e facilitassem as respostas (GIL, 2008).

O quarto cuidado tratou-se do registro das respostas. Nessa etapa foi

importante para o pesquisador gravar as respostas da entrevista no momento da sua

realização e, além da gravação, foram feitas anotações de aspectos, atitudes e as

digressões relevantes e que as falas não deram conta de responder (SZYMANSKI,

2004).

Por fim, na conclusão da entrevista, foi imprescindível a cordialidade, pois

partiu-se do entendimento de que o entrevistado estava concedendo sua fala, sendo

de extrema importância o tratamento respeitoso e a possibilidade de deixar a porta

aberta para contatos posteriores, caso fosse necessário aprofundar outras questões

relacionadas à pesquisa (GIL, 2008).

Ressalta-se que o trabalho com as fontes documentais se deu não com o

intuito de realizar uma análise detalhada dos Projetos dos cursos de Mestrado da

UEFS (Apêndice C) e dos Currículos Lattes dos professores entrevistados, mas, na

busca de aprofundar a discussão sobre a prática dos professores de mestrado da

grande área de Ciências Humanas da UEFS, bem como para trabalhar com rigor

científico e mais detalhes no processo de análise dos dados deste trabalho.

Portanto, procedemos uma análise simples dos documentos.

3.6 TÉCNICA DE ANÁLISE DOS DADOS: ANÁLISE DE CONTEÚDO

Para o tratamento dos dados utilizamos a análise de conteúdo de tipo

temática, tendo como base a obra “Análise de Conteúdo”, da idealizadora da

técnica, Laurence Bardin (1977), que se constituiu em um instrumento metodológico

Page 66: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

66

de análise de dados que favorece a pesquisa qualitativa no campo das

representações sociais.

Com efeito, a organização da análise de conteúdo dividiu-se nas seguintes

fases, que são dependentes umas das outras no processo de análise dos dados

coletados e produzidos por meio das entrevistas: I. Pré-análise; II. Exploração do

material; III. Tratamento dos dados; IV. Inferência; V. Interpretação dos dados.

Na pré-análise ocorreu a organização propriamente dita do material colhido

nas entrevistas e teve como objetivo tornar operacionais e sistematizar as ideias

iniciais num plano de análise, o qual possuiu três etapas: a escolha dos documentos,

a formulação dos objetivos, dos pressupostos e a elaboração de indicadores para

fundamentar a interpretação final. Cabe salientar que para a organização adequada

do material foi necessária a leitura flutuante que consistiu em um primeiro contato

com as entrevistas transcritas a serem analisadas, a fim de conhecer melhor o

material que serviria para a análise dos dados (BARDIN, 1977).

A segunda etapa da pré-análise tratou-se da escolha dos documentos, que

são definidos de acordo com os objetivos da pesquisa. Assim, após a demarcação

do universo investigativo, procedeu-se à constituição de um corpus através de

quatro regras básicas: a regra da exaustividade, que consiste em não deixar de fora

qualquer elemento; a regra da representatividade, que consiste na análise a partir de

uma amostragem do material a ser analisado com base em parâmetros pré-

estabelecidos; a regra da homogeneidade, que consistiu em organizar os

documentos selecionados obedecendo a critérios de escolha que não apresentava

demasiada singularidade fora destes mesmos critérios eleitos; e a regra da

pertinência, que teve como objetivo adequar os documentos, enquanto fonte de

informação, de modo a corresponderem ao objetivo que suscitasse a análise

(BARDIN, 1977).

A terceira etapa da pré-análise consistiu na formulação dos pressupostos e

dos objetivos e se deu, a partir do levantamento de informações provisórias

confirmadas, recorrendo-se aos procedimentos de análise formulados segundo a

finalidade geral, propostas no estudo (BARDIN, 1977).

A quarta etapa da pré-análise tratou-se da referenciação dos índices para a

elaboração de indicadores que a análise fez “falar” em função da questão de

pesquisa principal e das secundárias, bem como a organização sistemática desses

indicadores. Ressalta-se a preparação do material como a última etapa da pré-

Page 67: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

67

análise, que consistiu na edição dos textos a serem analisados no estudo (BARDIN,

1977).

A exploração do material, fase de administração sistemática das decisões

tomadas na pré-análise, ocorreu mecanicamente de forma longa e complexa,

consistindo em operações de codificação, desconto ou enumeração em função de

regras previamente formuladas.

Para realizar o tratamento dos dados obtidos no processo de coleta de dados

utilizou-se o processo de codificação, sendo levantadas proposições de sentido a

partir do problema de pesquisa, dos objetivos e da fundamentação teórica do

estudo, com vistas a possibilitar o desenvolvimento do trabalho.

Com base no exposto, para Bardin (1977, p. 103), a codificação:

Corresponde a uma transformação – efetuada seguindo regras precisas – dos dados brutos do texto, transformação esta que por recorte, agregação e enumeração, permite atingir uma representação do conteúdo, ou da sua expressão susceptível de esclarecer o analista acerca das características do texto [...].

No processo de codificação, os dados brutos foram transformados e

agregados em unidades de registro que deram ideias sobre as características que

são pertinentes em determinado conteúdo da fala analisada na pesquisa.

O tratamento dos resultados foram obtidos e a interpretação são as fases

finais da análise de conteúdo, constituindo-se no trato dos dados brutos de maneira

a tornarem-se significativos e válidos à sua apresentação no texto do trabalho

científico e pudessem por em relevo as informações fornecidas pela análise, sendo a

interpretação feita com base nas questões de pesquisa, nos objetivos elaborados e

no quadro teórico.

A partir daí procedeu-se o recorte, que foi o período de escolha das unidades

de sentido, que visavam responder de maneira pertinente em relação às

características do material coletado, por meio das entrevistas, com base nos

objetivos da análise dos dados.

Esse recorte foi feito com o objetivo de análise e transformação dos

fragmentos de texto da fala dos sujeitos entrevistados em unidades de sentido: a

palavra, que é o recorte linguístico e o tema que é a unidade de significação que se

liberta naturalmente de um texto analisado segundo certos critérios relativos à teoria

que serve de guia à leitura.

Page 68: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

68

Essa análise foi realizada recortando-se o texto em ideias constituintes,

chamadas de temas, em enunciados e em proposições portadoras de significações

isoláveis. Esta técnica consistiu em descobrir os núcleos de sentido que compõem a

comunicação e cuja presença ou frequência de aparição, teve significado

relacionado à questão de pesquisa e aos objetivos elaborados para o trabalho. Além

disso, as entrevistas foram analisadas, tendo o tema por base, buscando as

unidades de sentido do texto, obtidas por meio das entrevistas realizadas com os

nossos sujeitos (BARDIN, 1977).

O penúltimo passo realizado na análise de conteúdo foi a categorização que,

segundo Bardin (1977) consiste em uma operação que visa classificar os elementos

diferenciando-os e, em seguida, reagrupá-los tendo como base uma analogia com

critérios definidos de acordo com a metodologia e as questões de pesquisa. Dessa

forma, a categorização comportou o inventário, que é a fase na qual se isola os

elementos e classifica-os, repartindo-os na procura de organizar as mensagens.

Tendo como objetivo fornecer, por condensação, uma representação

simplificada dos dados brutos do texto, foi necessário que as categorias de análise

tivessem algumas qualidades, tais como: a exclusão mútua, ou seja, cada elemento

não pode existir em mais de uma divisão; a homogeneidade, pois um único princípio

deve governar a sua organização; a pertinência, que significa a adequação ao

material de análise escolhido e o pertencimento ao quadro teórico definido; a

objetividade possível; a fidelidade e a produtividade dos dados (BARDIN, 1977).

Sobre a inferência, última fase da análise de conteúdo, segundo Namenwirth

(apud BARDIN, 1977, p. 137), vejamos o excerto:

É relativamente simples inferirem-se do conteúdo as predisposições causais do locutor - atitudes, valores, móbiles, etc. – mas é difícil preverem-se as comunicações engendradas por estes fatores causais, a partir do seu conhecimento.

Neste contexto de discussão, e sabendo-se que a inferência é uma

interpretação controlada das mensagens, destacamos seus três polos de atração, a

saber: I. O emissor, que é o produtor de mensagem: os entrevistados; II. O receptor

– o pesquisador; III. A mensagem que consiste no material, no ponto de partida e no

indicador sem os quais a análise de conteúdo não seria possível de ser realizada

(BARDIN, 1977).

Diante destas questões, ressaltamos que a análise de conteúdo foi um

importante instrumento de indução na coleta e produção de dados que favoreceu a

Page 69: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

69

pesquisa realizada. Sendo assim, foi com base nesta técnica de análise de dados

que desenvolvemos o processo de entendimento das representações de professores

de cursos de mestrados da UEFS sobre a influência que a pesquisa exerce em suas

práticas pedagógicas, o que iramos realizar a partir de agora.

Page 70: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

70

4 OLHARES DE DOCENTES DE MESTRADOS DA UEFS SOBRE A INFLUÊNCIA

DA PESQUISA EM SUAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS

Este capítulo tem por objetivo discutir os dados coletados e produzidos a

partir das entrevistas realizadas com os docentes que pertencem aos cursos de

Mestrado, já caracterizados na parte da Metodologia deste trabalho que concederam

seus depoimentos, com base no Guia de Entrevista. Para fins de resguardo da

identidade e do anonimato dos depoentes, apresentamos as falas dos docentes com

códigos, utilizando uma combinação de letras e números, cujas letras

corresponderam à inicial do primeiro nome do pesquisador autor deste estudo, a

segunda à inicial do nome do pesquisado e o número de acordo com a ocorrência

da entrevista.

As categorias de análise, a seguir apresentadas e discutidas, foram obtidas a

partir das respostas às questões do Guia de Entrevista de nossa investigação, e

compreendidas através da técnica de Análise de Conteúdo do tipo temática,

conforme Bardin (1977). Assim, emergiram três grandes categorias: 1) Concepções

de docentes de mestrados da UEFS sobre pesquisa, ensino e extensão; 2) Relação

ensino e pesquisa nos contextos de sala de aula; 3) Professor pesquisador:

competências, papel e identidade.

Essas categorias foram desdobradas nas seguintes subcategorias: a)

teoria(s) do conhecimento que orienta(m) o trabalho pedagógico; b) influência da

pesquisa na prática pedagógica de docentes de mestrados da UEFS; c) relação

entre o papel de pesquisador e a docência universitária; d) funções da pesquisa para

prática de mestrado; e) papel de pesquisador acadêmico e perfil de professor

pesquisador; f) influência do mestrado para construção da identidade de docentes

universitários. Estas subcategorias se tornaram seções do presente capítulo e foram

examinadas à luz do referencial teórico utilizado para produzir este trabalho.

Ressaltamos que para realizar o processo de análise e discussão do material

coletado, fizemos a triangulação desses dados com conclusões advindas de uma

análise simples dos Projetos Pedagógicos dos referidos cursos de mestrado da

UEFS, com as falas dos nove depoentes e com a fundamentação teórica do trabalho

com o intuito de refletir com mais riqueza de detalhes sobre o tema a que nos

propusemos estudar.

Page 71: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

71

4.1 CONCEPÇÕES DE DOCENTES DE MESTRADOS DA UEFS SOBRE A

PESQUISA, O ENSINO E A EXTENSÃO

O objetivo desta seção é problematizar as concepções dos nossos depoentes

sobre a pesquisa científica e suas diferenças em relação ao ensino e a extensão,

considerando que o foco é investigar se existe articulação entre a pesquisa e a

prática de sala de aula no âmbito de cursos de pós-graduação, especificamente em

mestrados acadêmicos da UEFS.

Com base nesse objetivo, vejamos o que um dos docentes entende por

pesquisa:

Pesquisar é buscar compreender a realidade que te cerca, através de determinados instrumentos e caminhos metodológicos que estão articulados a uma teoria ou a um conjunto de procedimentos teóricos que, por sua vez, se articulam com uma certa visão de mundo, uma ideologia, que te levam a escolher determinadas posturas metodológicas e éticas (MI1).

Percebe-se que o entrevistado faz uma articulação da pesquisa com a teoria.

Ademais, a fala aponta para o entendimento de que a investigação é um processo

de estudo relacionado a um conjunto de procedimentos teóricos e metodológicos

dos quais o pesquisador se utiliza para compreender as questões que surgem no

seio da sociedade. A teoria, por sua vez, é permeada por visões de mundo, de

ciência, de ser humano, de ideologias, que levam o pesquisador a realizar suas

escolhas filosóficas a respeito do método e do modo de agir frente à sua atuação

profissional e à realização da pesquisa.

MI1 fala, também, de sua experiência investigativa articulada à sala de aula

quando afirma: “na parte de pesquisa a gente discutia a pesquisa muitas vezes

aplicada como é em outras áreas, ou a pesquisa vinculada diretamente a essa

intervenção na realidade”. Ressaltamos que a pesquisa para o depoente possui um

importante papel social e deve ser desenvolvida com ética, pois, constitui-se em um

dos principais meios para se conhecer a realidade.

Consideramos que a afirmação feita pelo depoente MI1 articula-se com o que

diz Demo (1996), quando trata da pesquisa social como uma atividade sistemática

que ocorre cotidianamente no trabalho do pesquisador, com vistas ao entendimento

das novas questões sociais, humanas e culturais, com as quais os seres humanos

se deparam em seus cotidianos e ambientes de atuação profissional. A investigação

constitui-se, portanto, em um dos elementos da ação docente em nível universitário,

Page 72: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

72

para que seja possível enfrentar os desafios da prática educativa complexa, sendo

essa função parte integrante do processo de informação à sociedade e capaz de

contribuir para a transformação dos sujeitos, que a constitui, e, especificamente na

universidade, para a compreensão sobre a prática pedagógica de docentes em seus

contextos de ação.

Contudo, o depoente MI1 aborda apenas a noção de pesquisa, articulada a

intervenção em contextos sociais e não menciona outros tipos de investigações, que

não apresentam necessariamente essa ligação com a prática, a exemplo das

pesquisas puras de áreas como a Matemática, a Física e entre outras.

Na mesma linha do pensamento anterior, vejamos o que docente MA2 fala

sobre a pesquisa na universidade:

Eu entendo pesquisa como uma atividade sistemática, na qual o pesquisador tem um objeto a ser investigado. Quando falo em uma atividade sistemática, quero me referir no sentido do trato desse objeto. Então, a partir do momento que tenho um objeto definido preciso dar um trato metodológico e também ter referenciais para discutir.

Depreende-se do dito por MA2, que a pesquisa constitui-se em uma atividade

que requer a definição de objeto e, posteriormente, seu tratamento com base em

procedimentos teórico-metodológicos que estão articulados aos posicionamentos

filosóficos do pesquisador, conforme afirmamos na análise da fala de MI1. Esse

pensamento do depoente MA2 corrobora a noção de pesquisa defendida por Demo

(1997), quando se reporta a essa função como um processo da dinâmica social, que

deve fazer parte da prática educativa de docentes e discentes, pois, não há como se

referir à ideia de universidade sem a sua dimensão de construção do conhecimento,

amparada na investigação, que se constitui em um dos elementos que compõe o

tripé ensino, pesquisa e extensão, que pode ajudar a conferir qualidade acadêmica a

essa instituição.

Sobre a concepção de pesquisa no âmbito da pós-graduação, observemos o

depoimento que segue:

Pesquisa é você satisfazer uma curiosidade, buscar respostas para uma inquietação sua, uma curiosidade que você tem de alguma atuação que vem de sua experiência pessoal, sua prática profissional e com um pouco de fundamento da sua formação, mas a investigação precisa ter importância social, cultural ou política (MG3).

De acordo com a fala de MG3, a pesquisa constitui-se em um conhecimento

que requer indagação para satisfazer questões de pesquisa que o pesquisador

Page 73: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

73

busca responder, levando em consideração sua experiência pessoal, sua atuação

profissional e as aprendizagens adquiridas em sua formação acadêmica. Portanto, a

pesquisa trata-se de um elemento teórico-metodológico que se encontra articulado à

produção, mas precisa ter uma importância para a sociedade, nos âmbitos social,

cultural e político.

No entanto, MG3 trata de uma concepção reducionista de investigação

quando trabalha com a noção de que pesquisar significa apenas satisfazer uma

curiosidade pessoal, aspecto que está presente em um processo investigativo, mas

não é o único elemento constituinte de uma abordagem científica desenvolvida em

cursos de pós-graduação e em núcleos de pesquisa, por exemplo.

Segundo Pimenta (2005), a pesquisa desenvolvida no âmbito da universidade

envolve pontos, características e procedimentos diferenciados da noção abordada

por MG3. Os pesquisadores no desenvolvimento da pesquisa constituem-se, no

geral, em orientador e orientando, as teorias são os modelos científicos que servirão

de “lentes” para compreender o objeto em estudo, os resultados são os

conhecimentos específicos, que são gerados a partir das análises e o tempo

geralmente é compreendido entre dois e quatro anos de trabalho, em se tratando de

pesquisa realizada para conclusão de cursos de pós-graduação stricto sensu ou

àquelas desenvolvidas em núcleos universitários de investigação.

Sobre a concepção de pesquisa, vejamos o que ML4 afirma:

A pesquisa é um processo de estudo diferenciado, porque tem por trás uma metodologia, ter um método para seguir. Seguindo um método ela tem um objeto e quer aprofundar ou verificar um conhecimento sobre aquele fenômeno. Isso gera uma prática de docência, de ensino e de estudo muito diferenciada porque a gente passa a prestar atenção para esse caminho de estar estudando não só o que gosta, mas, ter percurso de leitura. O fato de fazer pesquisa me dá método, perceber a importância dessa sistematização dos procedimentos, buscar uma informação e reunir o que está estudando, mas, provocar o processo de estudar do aluno, tentar estimulá-lo a buscar novas informações para além daquele texto básico.

A partir do que foi dito pelo participante ML4, podemos dizer que a pesquisa

consiste no elemento que exerce uma diferenciação na trajetória profissional do

docente, exige aprofundamento teórico com método, ou seja, modifica a formação

do professor e, também, do estudante. É um processo de estudo que exige

metodologia, rigor e apresenta elementos diferentes do ensino e da extensão, por

exemplo, no que se refere aos seus objetivos e procedimentos.

Page 74: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

74

A pesquisa apresenta objeto a ser aprofundado e visa à produção de novos

conhecimentos, exige do pesquisador muita leitura e estudo para que se possa

levantar as informações, os dados empíricos e realizar o diálogo com os teóricos,

além de possibilitar a noção de método, ou seja, do caminho necessário ao

desenvolvimento de qualquer investigação científica.

Sendo a pesquisa esse saber que se reporta a produção do conhecimento

científico, podemos inferir, a partir da fala do participante ML4, embasados em Chauí

(2001), que essa função da universidade consiste em um processo de investigação

de um dado objeto científico, que visa à inserção do pesquisador no processo de

reflexão e crítica para poder enfrentar as determinações definidas como verdades na

sociedade.

Todavia, mesmo o depoente ML4 abordando que a investigação possibilita

uma ação docente que trata os estudantes como parceiros de trabalho e busca

proporcionar aprendizagens a eles, o entrevistado não menciona uma articulação da

pesquisa com o ensino, enfatizando apenas o processo de investigação.

Vejamos o que MM5 diz sobre a investigação científica:

A pesquisa, compreendo como um processo de aprofundamento para compreensão da realidade, de algo que você está problematizando. Então, começa um processo de investigação sobre aquele objeto e aqueles sujeitos que estão fazendo parte do processo da investigação. Seria pensar um pouco mais, de uma maneira mais apurada, sobre aquela determinada realidade para você ter algumas respostas para o que você está querendo investigar.

Para o docente, a pesquisa é um processo de aprofundamento de aspectos

da realidade que necessita da problematização do objeto a ser investigado, para a

sua melhor compreensão. Trata-se de um caminho que ajuda a afinar o olhar

investigativo do pesquisador, possibilita a construção de um pensamento mais

apurado sobre temas específicos para obter possíveis respostas, fundamentadas

cientificamente.

Para MJ6, a pesquisa, ainda, “[...] funcionaria como o pólo da universidade

que está voltado para a produção do conhecimento nas suas diversas formas ou

para uma reflexão aprofundada sobre o conhecimento” (MJ6). Segundo ele, essa

função da universidade é responsável pela produção do conhecimento em todas as

áreas ou para uma problematização mais específica sobre esse conhecimento.

Page 75: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

75

Tomando como base os comentários de MM5 e MJ6, podemos afirmar que a

pesquisa, especialmente no campo da educação, apresenta grande importância

para a formação do professor, pois consiste em uma das ferramentas que

possibilitam a construção de conhecimentos a respeito do mundo que o cerca,

contribuindo, assim, para sua atuação de forma a proporcionar a aprendizagem dos

estudantes no contexto da sala de aula; e, também, é essencial, porque visa o

aumento de sua capacidade em exercer o pensamento crítico-reflexivo em relação

aos fenômenos sociais e educacionais (MEKSENAS, 1996).

Entretanto, MM5 aborda essencialmente aspectos relacionados às pesquisas

aplicadas, como as que são mais desenvolvidas nas áreas das ciências humanas e

sociais e não menciona as investigações que não tem necessariamente relação com

contextos empíricos, tais como as pesquisas bibliográficas, os estudos de caso e

aquelas mais difundidas nas áreas das ciências naturais e exatas, aspectos já

tratados anteriormente.

Um dos nossos depoentes revela sua noção de pesquisa da seguinte

maneira:

Pesquisa vem de busca, de questionamento, de procura; e essa atividade se faz primeiro se há uma motivação, um questionamento inicial que precisa de solução. Então pesquisar é encontrar uma solução para uma questão que está sendo apresentada, seja pela sociedade, seja pelo mundo acadêmico, seja motivada por questões pessoais, e geralmente em toda atividade de pesquisa essas três vertentes estão associadas (MW7).

A pesquisa, para o docente é uma das atividades fundamentais de procura

pelo conhecimento existente na universidade. Ora, para que exista questionamento

deve haver estudo, motivação do pesquisador, a fim de que seja possível encontrar

as respostas à pergunta realizada. Ademais, o processo de pesquisa começa com

uma indagação a que chamamos de problema e, posteriormente, desenvolvem-se

as outras etapas do estudo, a exemplo da formulação dos objetivos, quadro teórico e

metodologia, sendo que o objeto precisa partir de um interesse pessoal, social e ou

acadêmico.

Porém, ao ler o depoimento de MW7 a impressão obtida é que o entrevistado

defende uma concepção de pesquisa nos moldes positivistas, na qual busca-se uma

solução para o problema em estudo, aspecto mencionado por ele, isto porque, uma

investigação não necessariamente visa dar respostas corretas às perguntas de

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76

pesquisa, mas, pode proporcionar novas situações problematizadoras e apontar

para aspectos não revelados anteriormente.

Para MR8, a pesquisa na universidade, no âmbito da pós-graduação,

apresenta duas concepções: a noção lato sensu e a stricto sensu. Diante disso,

vejamos o que ele relata:

Em lato sensu pesquisa é qualquer atividade que estimula a pessoa buscar conhecimento. Não diz respeito apenas a trabalhar com dados brutos que ninguém nunca manipulou ou realizar experimentos que nunca foram feitos, é a busca pelo conhecimento que resulte em um esforço particular para descobrir esse tipo de referência. Em termos de stricto sensu a pesquisa corresponde à tentativa de responder a determinadas questões que ainda estão em aberto no conhecimento científico de cada área, mas que venha contribuir para o aprofundamento que se tem a respeito de determinados objetos que caracterizam cada ciência.

Conforme o Art. 5º, da Resolução CNE/CES, n.º. 263/2007,

Os cursos de pós-graduação lato sensu, em nível de especialização, têm duração mínima de 360 (trezentas e sessenta) horas, nestas não computado o tempo de estudo individual ou em grupo, sem assistência docente, e o reservado, obrigatoriamente, para elaboração individual de monografia ou trabalho de conclusão de curso (p. 01).

Nesses cursos é possibilitado ao estudante um processo de formação mais

ampla na área específica de estudo e visa capacitá-lo a um grau mais elevado do

que a graduação, aspecto mencionado na fala de MR8. Já a Resolução CNE/CES,

n.º. 01, de 03 de Abril de 2001, em seu Art. 1º, preconiza que “os cursos de pós-

graduação stricto sensu, compreendendo programas de mestrado e doutorado, são

sujeitos às exigências de autorização, reconhecimento e renovação de

reconhecimento previstas na legislação” (p. 01). Estes cursos de mestrado e

doutorado apresentam aspecto mais restritivo no que se refere à investigação

realizada pelos discentes e visam a formação do sujeito no campo da pesquisa, o

que, também, pode ser visto no depoimento de MR8.

Observemos na fala que segue, que MM9 aborda uma visão de pesquisa

similar a divulgada anteriormente:

A pesquisa é produção de conhecimento. É o momento em que você tem questionamentos sobre determinados temas e que, a partir de uma pergunta, você vai tentar investigar para tentar responder aquele problema. E a partir disso, muitas vezes, você tem uma ideia, inclusive na parte de pesquisa mais da área de Saúde e Biologia que a gente usa o nome de hipótese, de algumas possíveis respostas,

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mas só com a coleta de dados é que a gente vai tendo essas respostas.

A noção de pesquisa de MR8 é abordada em lato sensu como uma atividade

de busca de determinado conhecimento e procura por produções científicas de seu

interesse. Já sua noção de pesquisa stricto sensu corresponde ao interesse de

revelar respostas para questões em aberto no campo científico de cada área de

conhecimento e necessita de definição de objeto, fundamentação teórica e

metodologia, que têm como objetivo ajudar no aprofundamento de temas das

diferentes áreas do saber universitário.

Mas, sinalizamos que a pesquisa, além de buscar respostas para contribuir

para o avanço do conhecimento científico, pode proporcionar novos

questionamentos sobre aquilo que se investiga e salientamos que esses achados a

que MR8 se refere não devem ser tratados como verdades absolutas sobre o

conhecimento de cada área específica.

Os comentários de MR8 e MM9 estão de acordo com o que defende Demo

(1996), quando afirma que a pesquisa não é algo realizado por pessoas

excepcionais e nem constitui-se em um saber genial; mas, está ao alcance de

docentes e discentes, que se abrem para a sua aprendizagem. Constitui-se em

atitude essencial do processo de construção do conhecimento e que se reporta à

capacidade de questionamento e busca investigativa dos sujeitos na concretude da

realidade, necessitando estar articulada à docência universitária no âmbito da pós-

graduação, refletindo, também, no trabalho com a graduação.

Nesse sentido, a pesquisa do tipo experimental, muito utilizada área das

ciências naturais, refere-se ao exemplo de investigação que, segundo Gil (2008, p.

51), “[...] consiste em determinar um objeto de estudo, selecionar as variáveis que

seriam capazes de influenciá-lo, definir as formas de controle e de observação dos

efeitos que a variável produz”. Esse esquema busca formular um problema, levantar

uma hipótese e testá-la, tendo como um de seus procedimentos o método da

tentativa e erro, para verificar se os dados respondem ou não à pergunta.

Entretanto, o maior problema desse tipo de investigação refere-se ao

interesse corrente da academia em tratar questões ligadas aos fenômenos das

ciências sociais e humanas com base nos métodos utilizados nas ciências naturais e

exatas. Esse é um dos elementos que se constitui como entrave para a discussão

entre a pesquisa quantitativa, respaldada na maioria dos casos pelo paradigma

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78

positivista e a pesquisa qualitativa, fruto de reflexões de outras correntes

epistemológicas, a exemplo da fenomenologia e do materialismo histórico dialético.

Esse entrave se dá, principalmente, pelo fato de que a dimensão do significado dos

fenômenos sociais e humanos, material que serve como base para a investigação

de âmbito qualitativo, não pode ser medido por meio de processo estatístico, como

ocorre na maior parte das investigações de abordagem quantitativa.

Discutidas as visões de pesquisa dos docentes, apresentaremos agora as

concepções de ensino e extensão elaboradas por esses sujeitos. Ressaltamos que,

mais que expor as características de cada uma dessas funções universitárias,

faremos o exercício de mostrar como os depoentes as diferenciam da dimensão

pesquisa.

Sobre a diferença entre o ensino e a extensão, que juntamente com a

pesquisa constituem-se no tripé da universidade, um dos docentes entrevistado diz:

O ensino é essa relação em certo termo teórico de você estar atuando junto aos alunos, na perspectiva do que pode ser feito, de como pode ser feito, o que pode não resultar em pesquisa nem em extensão (MI1).

MI1 trata do ensino como um processo teórico no trabalho de sala de aula,

através de procedimentos metodológicos que ajudam a discernir o “que” e o “como”

proceder na prática profissional, que não resulta em pesquisa nem em extensão.

Contudo, inferimos que o depoente MMI1 expõe uma opinião reducionista

simplista sobre a dimensão do ensino para a universidade, pois, ensinar, segundo

Pimenta (2005), envolve os sujeitos coletivamente organizados, um método que é

construído na coletividade, conhecimentos já existentes (conteúdos de ensino),

resultados que possibilitam novas sínteses sobre o objeto em estudo em um tempo

que, em média, é de quatro meses para conclusão de um determinado componente

curricular, quando se trata da oferta de curso semestral em instituições universitárias

(PIMENTA, 2005).

Por outro lado, vejamos a concepção de MI1 sobre a extensão:

Na extensão você já atua pensando que vai retornar à realidade. A extensão tenta sempre uma aplicabilidade do que foi feito na pesquisa e, cada vez mais, o que eu tenho lido, mesmo não sendo muito ligado à extensão [grifo nosso], é que ela já se propõe a fazer pesquisas que voltem diretamente para essa intervenção.

O depoente MI1 afirma que a extensão tem como base a pesquisa, mas com

um objetivo de aplicabilidade prática de seus resultados e visa um certo retorno à

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comunidade, baseada em um processo de intervenção. Entretanto, depreende-se da

fala que o entrevistado caracteriza a extensão e trata de sua importância, mas, deixa

escapar que não exerce essa função universitária em sua prática como docente da

instituição investigada.

É preciso ter muito cuidado sobre essa noção que o participante anuncia

sobre a extensão, posto que, existem pesquisas puras de áreas, a exemplo da

Matemática e da Física, que não têm o objetivo de refletir diretamente nas estruturas

sociais, mas, que possuem um cunho científico, que poderão ser bases para outras

pesquisas e indiretamente estarão contribuindo de alguma forma para o

desenvolvimento sócio-cultural (CARD, 2010).

Um aspecto problemático na fala de MI1, ainda, é com relação a afirmação de

que não é muito ligado à extensão universitária, noção que pode ter como uma de

suas razões o fato de que na universidade, no âmbito da pós-graduação, existe uma

ênfase dada a pesquisa e um certo descaso com o ensino, sendo a extensão tratada

como uma espécie de apêndice, tanto por parte de alguns docentes, quanto pela

pós-graduação, na qual a pesquisa tem sido a atividade essencial que é

desenvolvida e fomentada.

Sobre a noção do participante MI1 em relação a extensão universitária,

tomando como base o Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) da Universidade

Estadual de Feira de Santana (UEFS), para o período de 2011-2015, entendemos

que a extensão nessa instituição tem a função de exercer um diálogo entre os

saberes do senso comum e o científico, com o objetivo de construir uma

universidade baseada em ações mais abertas, que proporcionem um exercício de

alteridade, reconhecendo o saber do outro, das comunidades circunvizinhas (UEFS,

2013).

MA2 ressalta as diferenças entre a dimensão do ensino e da extensão para a

prática de uma universidade, primeiramente tratando da dimensão de ensinar: “[...] o

ensino se propõe a abordar determinado conteúdo relacionado, também, a uma

determinada área”. Conforme exposto na fala apresentada, o ensino tem como uma

de suas funções tratar de conteúdos específicos em sala de aula. Isto nos faz

pensar que o depoente expõe uma opinião considerada superficial do que

representa essa prática do ensinar para a universidade, pois, ela exige do docente

não só o conhecimento para a socialização dos conteúdos com os estudantes, posto

que, o ensino requer outros elementos do campo da Didática, dos saberes

Page 80: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

80

necessários à docência, que não dizem respeito exclusivamente à competência de

realizar uma aula baseada na fala do professor, mas, baseia-se em um processo de

reflexão e crítica, necessários ao debate no ensino superior e posterior atuação

profissional.

Diante desses comentários de MI1 e MA2 sobre as noções de ensino e

extensão, nos respaldamos em Cunha (2007), para dizer que o aprendizado da

docência é considerado um processo que envolve variados fatores, a exemplo do

cognitivo que é supervalorizado no processo educativo, seja na escola básica, seja

no ensino superior, por exemplo, quando são realizadas as avaliações dos

estudantes. Além disso, para ensinar são necessários conhecimentos do campo

afetivo e ético, bem como da dimensão pedagógica, aqueles relacionados às teorias

da aprendizagem e aos saberes da ciência pedagógica que tratam da metodologia

do ensino, que também são defendidos pela autora como basilares da prática

educativa na docência universitária.

MA2 aborda o seguinte sobre a atividade extensionista: “[...] a extensão tem o

propósito de articular atividades que são desenvolvidas no ensino e até mesmo na

pesquisa, mas com uma ligação com a comunidade no sentido de divulgar o que a

universidade vem fazendo”. Todavia, é preciso refletir melhor sobre essa noção de

que a extensão é responsável apenas por divulgar o que é produzido no ensino e na

pesquisa, posto que, a atividade extensionista não necessariamente tem essa

aplicabilidade. Isto pode ser visto no texto do PDI/UEFS/2013, que considera que a

extensão universitária apresenta os seguintes princípios norteadores: I. Ampliação e

fortalecimento da participação dos movimentos sociais na universidade; II.

Viabilização do relacionamento com os diferentes grupos sociais respeitando sua

diversidade cultural e sua identidade; III. Incentivo à construção de projetos com

cunho interlocutor entre as comunidades, resguardando seus modos de

conhecimento e ação sobre a realidade social.

Sobre a dimensão da extensão universitária, MG3 afirma que

[...] A questão do ensino é você estar em sala de aula, ter uma bagagem e estar transmitindo para os alunos aquele conhecimento [grifo nosso] teu, tua experiência, com fundamentos teóricos e provocando as experiências deles, para que essa interdisciplinaridade da prática pedagógica com as teorias suscite respostas.

O docente MG3 divulga uma ideia de educação que podemos dizer que se

encontra articulada ao paradigma conservador, principalmente, quando se reporta

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81

ao ensino como transmissão de conhecimentos aos estudantes. Amparados em

Behrens (2003), podemos afirmar que MG3 se reporta a uma ideia de que em meio

à realidade, onde se dá seu fazer docente, existe uma prática pedagógica baseada

em princípios conservadores. Esse modelo, no geral, enfatiza o método indutivo,

baseado em aulas expositivas, demonstrações e sistematização da matéria de forma

sequencial desvinculada das outras disciplinas do corpo de determinado curso e da

realidade, sendo o professor o centro do processo de ensino e um modelo a ser

seguido pelos estudantes. Assim, o docente tende a mostrar-se autoritário, severo e

guarda uma significativa distância em relação aos estudantes, impondo a disciplina e

uma atitude passiva e obediente por parte dos discentes, mediante um sistema

rígido de controle, de premiações e de punições, impedindo a comunicação entre

eles nas aulas.

Ainda a respeito da extensão, MG3 afirma:

[...] A extensão para mim é você trabalhar com a comunidade, provocando essa comunidade em termos de pensar em uma forma diferente de resolver seus problemas. A extensão basicamente é você estender o que traz para o aluno de graduação para a comunidade, fazer com que esse aluno trabalhe com a comunidade e repasse aquilo que você professor passou para ele: ensine, mostre como aprendeu e acrescente coisas novas [grifo nosso].

Nota-se que a extensão corresponde, para o depoente, ao trabalho com a

comunidade universitária e extra-universitária, estendendo os conhecimentos

trabalhados em sala de aula para outros setores da sociedade. Diante dessas

considerações, observa-se que esta unidade de sentido contradiz muitas ideias de

autores, a exemplo de Bedim (2006) quando trata da extensão universitária como

um processo além de educativo, cultural e científico que tem como objetivo realizar a

articulação necessária entre o ensino e a pesquisa de forma indissociável e viabiliza

a transformação da universidade e da sociedade.

Outra inferência a ser realizada, a partir da análise do depoimento de MG3, é

que a referência que ele faz a respeito da extensão é de uma função universitária

ligada ao processo de transmissão de conteúdos, verbo articulado ao paradigma

conservador. Isto nos faz pensar que há um conflito na fala, pois, o depoente quer

ser inovador, ao passo que diz trabalhar com a comunidade, mas, muitas vezes,

encontra-se imerso na maneira tradicional de ensinar que aprendeu em seu

processo formativo de estudante quando se reporta ao ensino como transmissão de

conteúdos.

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82

Vejamos o que outro depoente revela sobre a dimensão de ensinar: “se a

gente faz ensino, nós estamos preocupados em reunir estímulos para provocar e

fundamentar o estudo dos nossos alunos” (ML4). Percebe-se no excerto que o

ensino se refere à dinâmica de trabalho com os estudantes em sala de aula, na

perspectiva, mais uma vez, da concepção de educação tradicional, já tratada

anteriormente, na qual o professor transmite os conteúdos aos estudantes sem

provocar neles a reflexão através, por exemplo, da pesquisa como possibilidade

metodológica desse processo de educar.

Essa concepção a que o depoente se refere, é denominada por Freire (2007)

de educação bancária, na qual o professor é responsável por transferir os conteúdos

de maneira acrítica aos estudantes. Sendo assim, estas são considerados como

meros receptores, incapazes de realizar a devida leitura ou mesmo reflexões sobre

os conteúdos trabalhados no processo das aulas.

Ao se referir à extensão, vejamos o que ML4 aborda: “se a gente faz

extensão, estamos levando esses alunos a campo para eles verem aquela situação

na prática”. Neste comentário faz-se referência a uma noção de extensão muito

simples para o que ela de fato representa para a universidade, pois, esse

componente não só está relacionado à inserção dos estudantes em contextos

concretos de intervenção, mas que isso, a extensão requer um fundamento teórico-

metodológico, um processo de investigação dos aspectos mais gerais da

comunidade onde está inserida a universidade e uma participação ativa nesse

contexto, para que seja possível uma intervenção coerente com o contexto no qual

está sendo realizada a tarefa extensionista.

Nesse sentido, Jezine (2004) defende que a extensão universitária consiste

em uma função acadêmica que objetiva congregar as dimensões do pensar e do

fazer universitário, pois os projetos extensionistas visam o relacionamento,

principalmente, da produção do conhecimento com a realidade social, agindo como

um processo, sobretudo, educativo e formativo.

Observemos o que relata o depoimento a seguir sobre a extensão

universitária:

A extensão, o papel dela é contribuir para o cumprimento desse papel social da universidade, dessa interação com a sociedade, de intervenção, de diálogo, de respeito aos saberes da comunidade. Isso, também, é fazer uma pesquisa que está levantando dados, mas esses dados que vão poder contribuir efetivamente para enxergar melhor essa realidade, fazer uma interlocução com essa realidade,

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com vistas a modificá-la, mas a partir do que as pessoas já sabem (MM5).

Observa-se, a partir da fala de MM5, que a extensão constitui-se na função da

universidade que é responsável pelo contato e inserção/intervenção na comunidade

extra-universitária, com base no diálogo e respeito a esses sujeitos e ao seu

contexto. E o depoente, ainda, remete a ideia de que a extensão corresponde

atualmente a uma espécie de pesquisa com seus passos e prerrogativas científicas,

como a produção de referencial teórico e coleta de dados.

Segundo Saviani (1985), a extensão é tratada como a terceira função da

universidade, e é responsável pela articulação desta instituição com a sociedade, a

fim de que os conhecimentos produzidos não se restrinjam aos aspectos

necessários aos sujeitos no exercício de suas profissões. Ademais, a universidade

tem a responsabilidade de difundir seus conhecimentos para a comunidade, a fim de

que possam ser convertidos no meio de elevação do nível cultural da sociedade.

Segundo Bernheim (1978), a extensão universitária tem o compromisso de

fortalecer a universidade, através da projeção do povo e da cultura universitária em

articulação com a preocupação com os problemas nacionais. Sobre a diferenciação

entre o ensino e a extensão, vamos observar o que MJ6 diz:

O ensino seria o ato de transmitir os conhecimentos produzidos por você ou não, afinal de contas quando você prepara uma aula, ainda que a releitura de um certo material possa ter elementos de contribuição sua, no ensino você possibilita ao aluno o acesso ao conhecimento, não necessariamente produzido como resultado da sua pesquisa, mas da pesquisa de outro.

Segundo o depoimento, o ensino refere-se à transmissão de conteúdos em

sala de aula por parte do professor para os estudantes, sendo esses dados

produzidos através de pesquisas feitas pelo docente ou por outros pesquisadores.

Podemos inferir dessa fala que essa noção de ensino como transmissão de

conteúdos dá indícios de que o docente divulga um posicionamento que remeta

mais uma vez ao paradigma conservador, isto porque nessa concepção a dimensão

de ensinar existe separada da aprendizagem.

De acordo com Saviani (2005), essa pedagogia anunciada caracteriza-se

como tradicional e apresenta uma centralidade da instrução em detrimento da

aprendizagem, considera a universidade como agência de ensino centrada no

docente, cuja tarefa é transmitir os conhecimentos acumulados pela humanidade,

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84

cabendo aos estudantes adquirirem esses conhecimentos repassados pelos

docentes em processos de sala de aula.

Vejamos o entendimento de MJ6 sobre extensão: “na extensão você pretende

levar para além da sala de aula, para um público que não é o estudantil, como foco

principal aquilo que se produz dentro da academia”. A partir do dito, depreende-se

que a extensão busca levar o que se produz na universidade, através da pesquisa,

para fora de seus muros. Essa ideia nos faz pensar que os depoentes do nosso

estudo anunciam o que seria a extensão em seus discursos ora apresentados nessa

seção, mas não conseguem afirmar se desenvolvem essa terceira função na sua

atuação no âmbito da universidade. Além do mais, o processo extensionista não se

refere apenas ao que MJ6 se refere, perpassa, entre outros elementos, pelo

processo de intervenção na própria realidade.

Uma questão digna de nota é que a extensão universitária consiste em um

desafio atual ainda por se fazer, pois sua função é contribuir para a qualificação do

papel da universidade pública e proporcionar subsídios para a construção de uma

instituição preocupada, não só com a formação de sujeitos para atuação no mercado

de trabalho, mas que promova a preparação capaz de possibilitar a esses sujeitos o

questionamento sobre sua realidade de maneira crítica, em busca da construção de

uma sociedade mais igualitária. Em suma, o desafio do processo de extensão é

construir formas de estabelecimento do seu lugar no tripé ensino-pesquisa-extensão

(PDI/UEFS, 2013).

Ainda sobre a categoria que estamos analisando, vejamos o seguinte

depoimento colhido:

O ensino sem pesquisa fica mecânico e reprodutivo, e enquanto está ligado à pesquisa acompanha a evolução do conhecimento. Eles estão interligados, mas a pesquisa na verdade alimenta a atividade de ensino, é a fonte essencial do ensino e da extensão, é ela que reproduz o que se constitui aquele motor primeiro da realidade, é a fonte essencial de todo e qualquer projeto (MW7).

As ideias defendidas por esse participante se aproxima do pensamento de

alguns teóricos que discutem sobre a articulação do tripé que constitui a

universidade, quando trata da ideia de que o ensino desvinculado da pesquisa

constitui-se em um processo de reprodução de conteúdos, mas, interligado a ela

pode proporcionar uma inovação na atuação de docentes em qualquer nível de

ensino, pois considera que pesquisar é um passo anterior ao processo de ensinar.

Entendemos, portanto, que para realizar um processo de debate em sala de aula é

Page 85: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

85

necessário que o professor tenha feito pesquisa e se aproximado das

competências/qualidades obtidas através dessa experiência, a exemplo da

capacidade de reflexão, busca e indagação que são inerentes ao processo de

investigação e que precisam estar presentes na dinâmica de ensino.

No entanto, o depoimento põe ênfase na atividade de pesquisa quando se

refere a esse elemento como o “motor” das outras funções universitárias, o ensino e

a extensão.

Diante dessa noção de ensino, apoiados em Cunha (2007), esclarecemos que

a aula universitária no modelo de ensino tradicional, em algumas universidades, é

marcada por aspectos objetivos na organização do trabalho pedagógico, seja no

planejamento de ensino, seja na avaliação. A ênfase do processo de ensinar

encontra-se no produto final em detrimento do processo, sendo o docente o único

responsável pelo bom andamento do trabalho educativo, ações que não são

ressaltadas pelo depoente MW7 em seu comentário, mas que são importantes de

serem tratadas.

Vejamos agora a concepção de extensão de MR8: “a realização da atividade

de extensão requer um esforço de recolher informações que possam ser difundidas

para um público mais ampliado que não seja aquele exclusivo de sala de aula”. O

comentário indica que a extensão universitária é um saber que necessita de estudo,

de recolhimento de informações e posterior responsabilidade pelo contato com

espaços além da sala de aula. Todavia, mais uma vez, um depoimento apresenta

uma ideia reducionista sobre a extensão como uma função responsável apenas por

reunir informações e divulgá-las para outros públicos fora da universidade.

Essa ideia sobre a extensão pode ser problematizada ao tratarmos de alguns

dos princípios norteadores da prática extensionista no âmbito da universidade, a

exemplo da construção de autonomia e emancipação dos sujeitos envolvidos no

processo extensionista, ampliação e qualificação das ações de iniciação à extensão,

institucionalização dessa função e a promoção de ações para garantir a

indissociabilidade entre o ensino, a pesquisa e a extensão na prática (PDI/UEFS,

2013).

MR8, ao tratar das diferenciações entre o ensino, a pesquisa e a extensão,

ressalta a necessidade de articulação entre esses elementos na pedagogia

universitária, conforme pode ser visto a seguir:

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86

Embora nós tenhamos certas tendências a compartimentalizar as dimensões de difusão, reprodução e produção do conhecimento, é possível elas caminharem em paralelo. No ensino é possível discutir as práticas da pesquisa, na extensão a gente consegue difundir o que são essas práticas, inclusive através dela, conquistando novos interessados na realização da prática da pesquisa.

Depreende-se do que foi dito por MR8 que no ensino é possível trazer

discussões da pesquisa, pois, esta pode contribuir para a melhoria da prática

pedagógica. Vale ressaltar que o depoente sinaliza que a extensão tem como um de

seus passos um processo de pesquisa que, também, contribui para a melhoria do

ensino, ao passo que difunde os conhecimentos produzidos pela universidade para

a sociedade e discute as práticas da pesquisa no contexto da sala de aula.

Assim, percebemos que a fala de MR8 corrobora com o que diz Tubino

(1997), quando defende que a universidade em tempos de complexidade, tem como

uma de suas funções no plano acadêmico promover o estabelecimento de ações

que visem o desenvolvimento da unidade ensino-pesquisa-extensão-cultura na

prática e não só presente nos documentos, leis e programas dos cursos.

No entanto, apesar do depoente MR8 sinalizar elementos de inovação em seu

discurso quando se refere à articulação do ensino, da pesquisa e da extensão, não

menciona em que momento ou como é possível realizar esse diálogo com estas

funções universitárias, apenas pontua que é possível a articulação.

Ao indagarmos sobre as diferenças entre a pesquisa, o ensino e a extensão,

um dos depoentes do estudo revela:

A pesquisa está entrelaçada com o ensino. Os desdobramentos dela na extensão são interessantes porque com os resultados não tem como eu desvincular de uma proposta extensionista, porque trabalho com a escola. No ensino no mestrado quando vou discutir sobre a pesquisa faço essa relação (MM9).

Nota-se no depoimento de MM9 que o ensino, a pesquisa e a extensão estão

aparentemente interligados nas pesquisas e nos projetos que esse docente

desenvolve na universidade. Entretanto, o depoente relata uma concepção que

podemos considerar reducionista sobre a extensão, pois, bastaria articular o seu

trabalho com a comunidade externa à universidade, a escola, por exemplo, para que

seja considerado um docente que realiza propostas extensionistas. Ademais, o fato

de MM9 trabalhar em suas pesquisas com reflexões sobre a escola básica não

significa necessariamente que o depoente realiza extensão, o que é um equívoco,

posto que, a atividade extensionista perpassa por outros elementos, a exemplo da

Page 87: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

87

busca pela participação dos Movimentos Sociais na universidade, aspecto que já foi

tratado em partes anteriores deste trabalho.

Com efeito, tanto no depoimento de MM9 quanto nos outros aqui

apresentados e discutidos, os docentes anunciam que trabalham com a extensão,

mas não dizem especificamente de que maneira o fazem, o que nos faz pensar,

através da análise dos depoimentos apresentados sobre a questão, que, de fato,

essa relação talvez ainda encontra-se por ser feita na prática pedagógica de

docentes da pós-graduação. Se pensarmos sob a perspectiva do paradigma

emergente, podemos afirmar que os docentes já trazem em seus discursos

categorias que apontam para a inovação no ensino superior como, por exemplo, a

articulação entre pesquisa, ensino e extensão, mas não dizem como alcançar esse

diálogo entre estas funções da universidade.

Diante do exposto nessa primeira parte do capítulo, que buscou tratar das

concepções de docentes de mestrados da UEFS sobre a pesquisa, o ensino e a

extensão que os depoentes discursam sobre essas funções universitárias de uma

maneira muito generalista, sendo a pesquisa tratada como o pólo que se reporta à

produção do conhecimento e constitui-se em um saber do campo teórico-

metodológico.

Já o ensino se refere a um tipo de conhecimento que está articulado mais ao

trabalho de sala de aula, da exposição de conteúdos e a extensão consiste na

função universitária responsável pela dimensão da difusão e publicização daquilo

que se produz no âmbito da universidade para outras instâncias da sociedade.

Essas leituras apontam para o entendimento de que as práticas dos depoentes aqui

discutidas podem estar amparadas no paradigma de ensino tradicional, apesar dos

entrevistados assinalarem atitudes de inovação em suas representações.

Contudo, os comentários não apontam para a articulação desses elementos

na prática pedagógica dos docentes de pós-graduação, ainda que isso esteja

garantido nos documentos, leis, ementas curriculares e regimentos dos Programas

como se fossem indissociados, isto porque, essa relação ainda se encontra por ser

feita na docência de cursos de mestrados investigados.

Page 88: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

88

4.2 RELAÇÃO ENSINO E PESQUISA NOS CONTEXTOS DE SALA DE AULA

Esta parte do capítulo tem como objetivo discutir sobre a relação entre o

ensino e a pesquisa no âmbito da prática pedagógica de docentes de cursos

mestrados da UEFS. Levando em consideração o objetivo traçado, sinalizamos que

há um consenso na universidade de que a pesquisa encontra-se articulada ao

ensino, que faz parte da prática educativa da pós-graduação, seja nos documentos

oficiais, a exemplo da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

(LDB/9.394/96), seja nas ementas dos componentes curriculares dos programas dos

cursos de Mestrado que foram, também, objeto de análise para realização desse

estudo de Dissertação. Entretanto, as publicações científicas são incipientes no que

se refere a essa articulação do ensino e da pesquisa na prática educativa de

docentes de pós-graduação, por isso, é importante investigar sobre essa questão no

âmbito da docência universitária, visto que, podemos contribuir para aclarar as

discussões sobre a relação tão almejada entre essas funções da universidade, para

que o tripé ensino-pesquisa-extensão ocorra de maneira a garantir a qualidade e

excelência acadêmica dessa instituição.

Sendo assim, vejamos o que um dos depoentes do estudo revela sobre a

articulação entre o ensino e a pesquisa:

A gente tem uma relação de ensino muito desvinculada. De uma forma geral os alunos falam que muitos professores são excelentes pesquisadores, mas não sabem passar essa experiência de pesquisa em sala de aula, o que eu acho que há um distanciamento com questões relativas às estratégias de ensino. A gente ouve isso tanto na graduação como na pós-graduação: professores que são excelentes pesquisadores no sentido de produção de pesquisa e que na sala de aula não conseguem transmitir isso para seu aluno [grifo nosso] (MI1).

MI1 chama atenção para uma problemática que vem ocorrendo na pós-

graduação, especialmente quando se trata da formação científica de professores,

que se refere ao descaso com os elementos constituintes do ensino, das estratégias

didáticas, da organização do trabalho pedagógico como um todo na universidade.

Muitos docentes, a exemplo do que é visto no depoimento, galgam status de

pesquisadores com vasta produção acadêmica, mas apresentam dificuldades com

os elementos ressaltados anteriormente para articular sua experiência adquirida na

Page 89: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

89

pesquisa com a prática de sala de aula nos cursos de mestrados nos quais

trabalham.

Isso nos faz refletir sobre o papel que a dimensão da prática educativa tem

exercido na Pedagogia Universitária, muito desvinculada de sua função que consiste

em contribuir para que os docentes possam exercer seu papel de maneira a

proporcionar a melhoria da aprendizagem dos estudantes, assumindo uma postura

de orientadores da construção do conhecimento desses discentes.

Depreende-se do exposto na fala de MI1, que, apesar de ser difundido

atualmente um discurso consensual de que as funções do tripé que orientam a

prática acadêmica da universidade brasileira, a pesquisa, o ensino e a extensão,

serem trabalhadas de maneira articulada na prática dos docentes de graduação e de

pós-graduação, o que ocorre de fato é que há uma certa dicotomia entre o ser

professor e o ser pesquisador e, consequentemente, um distanciamento entre a

pesquisa e a prática docente.

Com essas afirmações, MI1 diz obter na sua experiência com os estudantes

que sinalizam que já tiveram muitos “professores que são excelentes pesquisadores

no sentido de produção de pesquisa e que na sala de aula não conseguem transmitir

para seu aluno”, pois, segundo os mesmos, existe um “distanciamento [da pesquisa]

com questões relativas às estratégias de ensino”.

Diante dessas questões, pode-se inferir que apesar dos pesquisadores

adquirirem uma vasta experiência na prática da pesquisa, tais como produção de

livros e artigos, eles são formados em cursos de pós-graduação nos quais as

discussões referentes aos aspectos da docência são incipientes e, terminada essa

formação, os docentes nesse nível deparam-se com a sala de aula com desafios

como, por exemplo, a relação docente-estudante, o planejamento, a avaliação,

elementos que muitas vezes não são objetos de discussões no processo de

formação dos docentes no decorrer desses cursos.

Esse processo influencia para a instauração de uma crise de identidade dos

professores na universidade, pois, o mundo tem exigido desses profissionais novas

estratégias, como por exemplo, a pesquisa como caminho para a melhoria do

ensino, ou seja, uma investigação que esteja articulada às questões pedagógicas,

sendo que os docentes universitários são formados para serem pesquisadores e sua

atuação, posteriormente, também se dará no âmbito da docência.

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90

Essa crise anunciada ocorre, também, porque desde muito tempo, os

professores exercem seu ofício repetindo os modelos de docentes que tiveram

enquanto estudantes. Desse modo, bastava dominar conteúdos de um determinado

campo específico para se constituir um docente. Para atuar na universidade, por

exemplo, os professores eram escolhidos dentre aqueles que eram bem sucedidos

em seu campo profissional específico de médico, advogado, engenheiro,

contabilista, etc. (MAIOLI, 2004).

Sendo assim, corroborando com Sacristán (1995), a profissão docente vista

dessa maneira é considerada como uma semi-profissão, um dos motivos pelo qual

esses profissionais não se reconhecem como docentes, mas, o valor está

concentrado na titulação acadêmica, outorgada pelas instituições responsáveis por

sua formação de origem. Além do mais, a profissão carrega os efeitos econômicos e

sociais que concorrem para o aumento do desprestígio da função do professor, a

exemplo dos baixos salários, das más condições de trabalho, entre outros

elementos.

Assim, vejamos o que diz MA2 sobre a questão da articulação entre o ensino

e a pesquisa:

É preciso deixar claro o que é o ensino e a pesquisa e como os dois podem estar se alimentando no seguinte sentido: um professor de Matemática está observando uma certa dificuldade dos alunos em aprender equações, que é uma questão do ensino, mas que o pesquisador pode tomar como objeto de estudo para fazer uma pesquisa, ver que teoria da aprendizagem pode dar conta dessas dificuldades deles. E assim o pesquisador pode estar trazendo implicações sobre como o professor pode tratar essa dificuldade.

Depreende-se do dito por MA2 que o ensino e a pesquisa são elementos que

se diferenciam, por exemplo, nos objetivos e metas que pretendem ser atingidos,

mas se complementam na prática de sala de aula de docentes que entendem a

importância da articulação entre essas duas funções que compõem o tripé que

fundamenta a universidade brasileira atual, na sua dimensão científica e educativa.

Pode ser percebido, a partir da fala de MA2, que a pesquisa se articula com o

ensino no momento em que o professor pesquisador detecta um problema que

emerge da sua prática como a dificuldade de aprendizagem de um conteúdo

específico de ensino e busca problematizar isso com a realização de uma pesquisa,

seja em um Grupo de Estudo, seja em sua formação acadêmica ou qualificação

Page 91: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

91

profissional, na busca de refletir teoricamente sobre a questão do ensino com base

na pesquisa.

Nesse sentido, a pesquisa pedagógica pode ser um caminho para a resolução

dos problemas do ensino, pois envolve um processo de observação empírica da sala

de aula, a reflexão daquilo que é observado e vivenciado pelo docente em sua

atuação cotidiana, a documentação dessas experiências em relatórios científicos e

em trabalhos acadêmicos tais como artigos, e deve basear-se em constructos

teóricos que visem contemplar reflexões sobre as diversas áreas do conhecimento

(TARDIF, 2011).

Quando indagado sobre se existe relação entre ensino e pesquisa na sala de

aula universitária, MG3 revela que:

Dentro de sala de aula você provoca situações de discórdia, questiona a prática e a postura do outro e quando você faz isso ele reage dando respostas positivas ou negativas, sendo caminho para novas soluções, projetos e investigações. Então quando você está pensando que não está fazendo pesquisa, provocando questionamento, está, quando é pesquisador.

Conforme o dito, a relação ensino e pesquisa ocorre quando o professor

pesquisador trabalha com a investigação em sala de aula cotidianamente,

proporcionando aos estudantes situações que possam contribuir para eles

questionarem-se sobre o conhecimento, a fim de que busquem respostas à essas

indagações via realização de pesquisas.

Segundo Lima (2007), docente é aquele profissional que consegue relacionar

e instrumentalizar os estudantes nas aulas na universidade, a partir de concepções

que regem esse profissional. O pesquisador, assim, é aquele que exerce a atividade

de buscar, reunir informações e produzir conhecimentos sobre um determinado

problema ou tema e analisá-los, utilizando para isso o método científico, com o

objetivo de aumentar o conhecimento sobre a temática, descobrir algo novo ou

romper com os conhecimentos produzidos anteriormente.

Ainda sobre a relação entre duas das funções que constituem o tripé que

sustenta a universidade academicamente, observemos o que diz o depoimento de

ML4:

Se o professor está pesquisando ele permite fazer atualizações em tempo presente, enquanto se a gente não é um professor pesquisador a gente trabalha com o conhecimento sistematizado. O fazer pesquisa dá uma forma de lidar com o desafio, o desconhecido, com o poder de sair da sua zona de conforto, de suas metodologias

Page 92: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

92

e de seus conteúdos e começar a trocar ideias com o aluno provocando, levantando questionamentos. E podemos transformar um saber em pergunta, que a principal coisa é saber perguntar e não confirmar as hipóteses, as sentenças e as afirmações.

Quando indagado sobre a possibilidade de ocorrer relação entre ensino e

pesquisa na sala de aula, o depoente ML4 esclarece que a formação de pesquisador

tende a gerar necessidade de atualização constante, dinâmica de leitura e busca de

informações, muda a forma de lidar com o novo e ajuda no desafio de não ficar

preso ao saber sistematizado; conduz ao saber perguntar e se questionar para que

sua aula possa gerar subsídios para investigações posteriores, para o próprio

pesquisador ou para os estudantes. No entanto, alertamos que não

necessariamente todos os pesquisadores exercem um processo educativo com

qualidade e nem o docente que se dedica eminentemente ao ensino desenvolve

uma prática pedagógica baseada no conservadorismo.

Amparados em Ventorim (2005), defendemos que o movimento do docente

como pesquisador de sua prática educativa revela a importância da investigação

para a formação docente, levando em consideração sua função de sujeito ativo,

crítico e reflexivo frente a essa prática. Além disso, pensar na ideia desse tipo de

profissional requer considerar a sua dimensão política, social e epistemológica, pois

esse modelo de docente pode respaldar o processo de mudança do trabalho

docente, ao passo que os docentes poderão assumir a figura de investigador ao

longo de sua formação e de seu exercício profissional.

Com base no que foi exposto no depoimento de ML4 e a partir das ideias de

Pimenta (2005), podemos afirmar que o trabalho com a dimensão pedagógica da

atividade docente no ensino superior, realizado pelo entrevistado, é essa capacidade

de visualização de que o ensino é um processo complexo e que deve ser

desenvolvido na coletividade, pois, para além daquilo que se considera como dom, o

docente necessita ter a formação para a pesquisa, para a indagação, para a busca,

além de estar atento aos conhecimentos relativos ao seu campo de atuação na

universidade, o que significa levar em consideração as questões de planejamento do

ensino, reuniões pedagógicas, etc., elementos que se constituem como demanda da

profissão de docente universitário: a didática e os saberes necessários à docência

universitária.

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Ainda sobre a categoria de análise dos dados que estamos problematizando

nessa parte do estudo, vamos observar o que a fala seguinte revela:

No mestrado isso é bem mais consistente, a gente consegue estabelecer melhor a relação pelo próprio nível dos alunos, porque já estão mais amadurecidos, sendo a perspectiva do mestrado fomentar essa relação com a pesquisa [grifo nosso]. Às vezes fomenta tanto que esquece das outras coisas e esse cuidado a gente precisa ter porque não só de pesquisa vive a universidade, ela tem inserção no ensino e na extensão (MM5).

Segundo o entrevistado, o mestrado fomenta a relação dos estudantes com a

pesquisa que ocorre, pois, a participação deles é maior devido ao amadurecimento

nos estudos. Do exposto por MM5, podemos sugerir que o mestrado foi criado para

formar pesquisadores, enfatiza a formação em pesquisa, entretanto esse saber tem

sido tão explorado que as dimensões do ensino e da extensão têm sido renegadas a

espécies de apêndices na prática da universidade, principalmente, no nível de pós-

graduação.

Nessa mesma direção, MM5 trata da atenção reduzida ao ensino dando

destaque para a pesquisa no espaço acadêmico, o que constitui-se em um dos

elementos que contribuem para o desprestígio quanto à docência na universidade.

Isso ocorre devido a uma ênfase depositada no perfil de docente pesquisador na

atualidade, ou seja, o status desse profissional constitui-se, a partir da quantidade de

publicações e teses que examina, ao contrário de buscar desenvolver uma docência

baseada, entre outros elementos, numa autoridade construída com base na

interação, no respeito e no estabelecimento de uma relação horizontal com os

estudantes em sala de aula.

Segundo o documento do V Plano Nacional de Pós-Graduação (V PNPG –

2011-2020), a ideia da pós-graduação stricto sensu (mestrado e doutorado) é

amparada em sua natureza acadêmico-científica com o objetivo de formar

professores e pesquisadores enfatizando a pesquisa, tomando como base a

titulação de doutorado como formação maior e o mestrado como a inicial (BRASIL,

2010).

Percebe-se, através do depoimento de MM5 e do texto do documento do V

PNPG, ainda, que a lógica desse sistema está assentada no preparo dos docentes

para serem pesquisadores com titulações acadêmicas de mestrado e doutorado. Por

outro lado, inferirmos, a partir do depoimento de MM5, que o ensino tem sido tratado

com um certo descaso pelos órgãos de fomento como a Coordenação de

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Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), o Conselho Nacional de

Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a Fundação de Amparo à

Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB) a um plano de descaso.

Para tanto, a CAPES deve se basear em alguns critérios criados por Jhon

Michael Ziman, em 1984, que inventou um acrograma chamado cudos para ajudar

as instituições a avaliarem seus quadros profissionais. As letras desta sigla tem o

seguinte significado:

Comunalismo (a pesquisa científica deve ser socialmente construída, conduzida no espaço público e com seus resultados publicizados), Universalismo (a ciência visa ao universal e não tem pátria), Desinteresse (a ciência tem valor intrínseco e está acima dos interesses particulares dos cientistas), Originalidade (a pesquisa científica deve estar marcada pela busca do conhecimento novo e da originalidade) e Ceticismo [...] (as proposições da ciência devem ser acatadas com reservas e averiguadas o tempo todo, ao se submeterem ao crivo da experiência) (BRASIL, 2010, p. 129).

Pela citação, podemos considerar que em tese a pós-graduação, considerada

como o lócus privilegiado da pesquisa, avalia seu quadro de pessoal com base

nesses pontos. Assim, a investigação deve ser construída socialmente e publicada

para a comunidade universitária e para a sociedade por meio da extensão, bem

como busca o que ainda não é conhecido e, portanto, o que é original.

Em busca de visualizar como tem se configurado a relação entre ensino e

pesquisa na docência universitária em cursos de mestrado, MJ6 diz o seguinte:

Você traz necessariamente a sua atividade de pesquisa para a sala de aula ao escolher e dimensionar a própria disciplina. Como estas na pós-graduação são mais flexíveis em termos de montagem, fatalmente a escolha vai ser sempre por uma disciplina que esteja diretamente relacionada com o seu fazer na pesquisa, ao contrário da graduação.

Para esse docente MJ6, a relação ensino-pesquisa pode ser verificada na

pós-graduação, porque geralmente o componente curricular com o qual trabalha o

docente se aproxima do que o pesquisador discute em suas pesquisas fora da sala

de aula. Isto ocorre porque em cursos de pós-graduação, ao contrário da graduação,

esses componentes são definidos e construídos com base na área de atuação,

interesse e produção dos pesquisadores que ministram as aulas nos componentes

que fazem parte da matriz curricular.

Page 95: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

95

Essa ideia defendida pelo depoente pode ser reforçada a partir do

pensamento de Soares (2009), quando afirma que a docência universitária constitui-

se em uma ação complexa que está atrelada à pesquisa, função do professor de

ensino superior. Isso acontece porque a universidade precisa de um alicerce

investigativo para dar conta de seu perfil acadêmico e, dessa maneira, seus

professores são impelidos a formarem profissionais nos campos específicos de

conhecimento para a atuação no âmbito do trabalho na sociedade atual. Demo

(1997, p. 14) revela que “quem ensina carece pesquisar; quem pesquisa carece

ensinar. Docente que apenas ensina jamais o foi. Pesquisador que apenas pesquisa

é elitista explorador, privilegiado e acomodado”.

Vejamos o depoimento de MW7 quando trata de sua experiência profissional

na pós-graduação:

Eu dou aula no mestrado, e geralmente nós levamos os alunos a visitarem museus para terem a oportunidade de interação com a arte e a preservação do patrimônio. E voltando para a sala de aula discutimos todo o processo e as posturas enquanto pesquisadores, a capacidade de leitura e de classificação de obras de arte, de enquadramento dentro do contexto, então tudo isso é fruto de pesquisa. Você não pode chegar a entender uma obra de arte sem um suporte de toda uma análise crítica, uma contextualização que a pesquisa possibilita.

O depoente afirma que no mestrado a relação da teoria com a prática se dá

por conta do contato com a dimensão da experiência dos profissionais na área

específica de conhecimento e a reflexão posterior em sala de aula, verificando a

postura dos estudantes nessa inserção de pesquisa, bem como suas percepções

sobre os conhecimentos obtidos e vivenciados na ida a campo com a supervisão do

docente pesquisador. MW7 assevera, ainda, trabalhar com prática, pois, esclarece

que realiza atividades de campo empírico para, posteriormente em sala com os

estudantes refletir sobre os materiais coletados nas visitações, a partir de referencial

teórico estudado no processo das aulas. Contudo, podemos depreender da fala de

MW7 que isso não se configura em extensão universitária, pois, ela tem uma de

suas dimensões essenciais que é a questão da intervenção em uma dada

comunidade.

Para Pimenta (2005), o docente de ensino superior deverá contribuir para que

os estudantes universitários possam vir a estabelecer um contato crítico e reflexivo

frente aos conhecimentos, tanto na atividade de pesquisa, quanto na sua prática

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96

profissional, seja na escola básica, seja no ensino superior. Para isso, é necessário

que o docente busque construir um ambiente favorável à aprendizagem, através do

entendimento de que para a realização de uma boa aula é importante que ambos,

docente e estudante, busquem estabelecer relações sociais e afetivas respeitosas,

além de o docente ser a autoridade em uma sala de aula e por isso necessita

gerenciar o desenvolvimento desta, sem, contudo, exercer o autoritarismo desejado

outrora no paradigma conservador.

Sobre a articulação entre ensino e pesquisa, vejamos o depoimento MR8:

A pesquisa e o ensino no mestrado é algo intrinsecamente ligado. Essa relação é estabelecida no momento em que você faz o diálogo com o aluno, que traz materiais novos para serem analisados, apresenta um texto que desdobra e pode ser muito útil para a pesquisa proposta por ele. Do primeiro ao último momento de uma sala de aula no nível do mestrado a gente está estabelecendo essa relação entre ensinar e pesquisar e o pesquisar em si que é uma ação mais individual.

Conforme pode ser visto no excerto, pesquisa e ensino no mestrado é algo

que deve ser articulado, tanto nos materiais que o professor utiliza em suas aulas,

quanto nos textos que adota como bibliografia para desenvolver seu trabalho

pedagógico, enfim, a pós-graduação é um espaço em que a docência requer a

pesquisa como estratégia pedagógica para que se possa desenvolver as situações

de aprendizagem.

Contudo, mesmo afirmando que o ensino e a pesquisa são funções

articuladas, MR8 diz que a investigação é inserida em sua prática somente através

de materiais bibliográficos levados para sua aula, com o intuito de diversificá-las, o

que não se constitui necessariamente em articular pesquisa e prática docente.

Para Demo (1997), educar pela pesquisa requer considerar que a educação

através da investigação é o caminho da atividade acadêmica, que o questionamento

para reconstrução é a peça fundamental do processo de pesquisa, que a

investigação deve ser atitude cotidiana, tanto do docente, quanto do estudante e que

a educação caracteriza-se como processo de formação da competência dos seres

humanos.

A respeito da existência da relação indissociada entre o ensino e a pesquisa

na prática docente, vejamos o que diz a fala que segue:

É possível porque estou formando pesquisadores, o ensino no mestrado e no doutorado é para formar um tipo de profissional que é o pesquisador [grifo nosso]. Então, vou exigir que escrevam

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academicamente, tenham linguajar próprio. Eu fico atento para distinguir um relato de experiência de um texto para congresso, de um capítulo de livro, que é outro jeito, o modo da linguagem. São essas coisas que exijo, vou formando e influenciando também as pessoas (MM9).

Percebe-se, no depoimento, que o ensino na pós-graduação existe para

qualificar o profissional pesquisador, ao fomentar excessivamente a pesquisa. MM9

ressalta, também, que algumas exigências para ser pesquisador são escrever com

clareza, distinguindo o tipo de texto e para qual evento ou veículo de comunicação

será escrito, bem como produzir trabalhos acadêmicos, entre outras competências

que o docente diz fomentar em sua dinâmica de sala de aula.

Segundo Pimenta (2005), a realização da prática da pesquisa em sala de aula

requer que o docente tenha abertura de espírito, flexibilidade e coragem para

enfrentar os desafios da prática educativa e da profissão docente no momento atual.

Além do mais, consiste em uma ação do professor como profissional e não de

pessoas de outras áreas de conhecimento que se tornam professores e se intitulam

experts da educação no âmbito da universidade, coisa muito comum nesse campo,

mas que desconhecem os saberes da Pedagogia Universitária e desenvolvem sua

ação muitas vezes baseada na transmissão de conteúdos.

Em síntese, a relação entre o ensino e a pesquisa ainda precisa ser

construída de fato na prática de docentes de mestrados, pois, constitui-se em um

desafio cotidiano da profissão e requer refletir sobre o papel da formação na pós-

graduação que tem sido ofertada aos docentes, que ainda é muito centrada na

pesquisa e, geralmente, distante de reflexões sobre os elementos constituintes da

docência, tais como o planejamento, a avaliação, a relação professor-estudante,

dentre outros saberes necessários ao exercício dessa profissão.

4.2.1 Teoria(s) do conhecimento que orienta(m) o trabalho pedagógico

Após tratar da articulação entre a pesquisa e o ensino no âmbito da pós-

graduação, especialmente em cursos de mestrado acadêmico, esta seção do

capítulo três visa apresentar e discutir sobre a(s) teoria(as) do conhecimento

científico que orienta(m) o trabalho pedagógico e de pesquisa dos docentes

entrevistados.

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Ademais, sinalizamos que as respostas dos depoentes que apresentaremos

em seguida foram obtidas a partir das seguintes questões feitas no Roteiro de

Entrevista e que se desdobrou em categoria: Qual a importância da pesquisa para a

sua prática? Sob que perspectiva você trabalha com ela? Existe uma teoria ou

teorias do conhecimento que norteia seu trabalho? Qual?

Em resposta à essas indagações, um dos sujeitos da pesquisa revela o

seguinte:

Em termos de teoria do conhecimento, minha formação no mestrado e doutorado foi em história social do trabalho. Minha vertente do conhecimento é uma história sociocultural do trabalho no campo da história da educação e da infância [grifo nosso]. O que me preocupa, por exemplo, é a criança trabalhadora, quais as estratégias ou experiências que elas tiveram na preparação para o trabalho (MI1).

Esse participante MI1 esclarece que teve uma formação pós-graduada no

campo da História e trabalha atualmente com a área da História da Educação,

articulada à dinâmica social de crianças em local de trabalho. Todavia, o depoente

sinaliza apenas áreas do conhecimento sobre as quais se debruça a estudar e não

apresenta a concepção teórica que orienta seu trabalho de pesquisa desenvolvido

na universidade, ou seja, uma teoria do conhecimento que sustente sua atuação

docente e seus trabalhos investigativos.

MA2 comenta o seguinte sobre a teoria que fundamenta seu trabalho:

Atualmente tenho trabalhado com teorias participacionistas que são aquelas nas quais a aprendizagem consiste nas diferentes formas de participação. E tenho utilizado muito essas teorias como lentes para analisar os dados dos meus projetos, isso tem refletido na minha participação como professora em ver que há diferentes formas das pessoas participarem em uma aula, seja escrevendo, falando ou até em silêncio, e a gente dá atenção a como essas diferentes formas de participar podem estar contribuindo para mudanças dos estudantes e de suas aprendizagens.

Esse participante MA2 informa que trabalha com Teorias Participacionistas6,

aquelas que buscam visualizar as formas de participação dos estudantes no

6 Segundo Cremonese (2008), Teorias Participacionistas são aquelas concepções do âmbito da

Ciência Política que também são conhecidas como Nova Esquerda e apresentam as seguintes características: maior grau de participação da sociedade; alargamento da definição de política; aliança de vários movimentos sociais (estudantes radicais, pacifistas e os primeiros movimentos feministas e ecológicos); intelectuais de origem e orientação variada (comunistas dissidentes, anarquistas, socialistas de esquerda e críticos culturais); fazem a crítica à abordagem elistista; defendem a democracia participativa. Seus representantes são: Markovic; Carole Pateman; Macpherson; Held; Bachrach; Boaventura de Sousa Santos; Avritzer; Bachrach.

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99

processo de ensino-aprendizagem no ensino superior. Essas maneiras de participar

das aulas constituem-se no modo como os discentes se relacionam com o

conhecimento que está sendo trabalhado na aula, o que nos faz pensar que na sua

atuação pedagógica o docente entrevistado leva em consideração o estudante ao

realizar o processo educativo. Além disso, observamos que o docente utiliza-se

dessa concepção teórica como “lente” para analisar não só a prática de sala de aula,

mas orienta todo o seu trabalho de pesquisa.

Em relação a articulação da pesquisa/teoria com a prática pedagógica, outro

participante afirma o seguinte:

A pesquisa vem da minha prática, não é a pesquisa que é importante para a prática, a prática é que é importante para a pesquisa. E as que desenvolvi no campo, trago para a prática, são inseparáveis uma da outra. Então eu não sei te dizer até onde estou pesquisando e estou praticando, porque tudo para mim é passível de uma investigação, construção de um texto, incentivo para uma proposta de pesquisa de um aluno. Então, as minhas teorias vêm da minha experiência, do que faço com meus alunos, do que eu pratico com eles, transformo em objeto de pesquisa embasado nas teorias do conhecimento (MG3).

Sobre a questão da teoria do conhecimento que rege o trabalho do docente

em sala de aula, o depoente MG3 esclarece que a prática é mais importante para a

pesquisa do que a teoria. Contudo, afirmamos que esses conhecimentos são

considerados como indissociáveis na docência universitária, relacionam-se na

atividade docente cotidiana do professor de pós-graduação.

Embasados no pensamento de Carr e Kemmis (1986 apud LÜDKE, 2001),

entendemos que a investigação no âmbito da educação não deve se dar apenas

pela resolução de problemas essencialmente teóricos, mas precisa ter como

objetivo, também, a consideração da dimensão prática do contexto em que ocorre o

processo ensino-aprendizagem e que embasa a dinâmica educativa, seja na escola

básica, seja no ensino superior e em programas de pós-graduação. Significa

articular teoria e prática em um processo de interdependência, que vise à superação

da dicotomização entre o que se pensa e o que se desenvolve na ação educativa

dos docentes, como se os dois processos ocorressem em momentos diferentes.

Porém, MG3 divulga uma noção equivocada da teoria, pois, esta não advém

da experiência desse depoente, constitui-se, por outro lado, em um conjunto de

procedimentos que denotam uma visão de mundo, de ser humano, de ciência,

dentre outros elementos.

Page 100: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

100

Quando indagado sobre a articulação entre teoria do conhecimento que apoia

suas pesquisas e sua prática de sala de aula, vejamos o que outro sujeito do estudo

fala sobre sua trajetória e experiência profissional:

Na pós-graduação tive a oportunidade de fazer pesquisa de delineamento experimental [grifo nosso] e isso foi crucial na minha formação. Se posso hoje falar desse caminho interdisciplinar é porque aprendi a fazer pesquisa rígida. É um problema do professor de pós-graduação quando não trabalha o método com seus orientandos, não dá consciência, não explicita o percurso que está seguindo [grifo nosso]. Inicialmente os alunos têm muitas dificuldades em falar disso e não percebem quais foram os critérios de escolha e é muito rico quando consigo conversar para saber deles, até que a gente explicita o que levou ele a essa escolha e quando isso sai no texto, o leitor agradece. Meu primeiro projeto de pesquisa foi com estado da arte que me deu habilidade para o processo de leitura, de análise das informações e produção de textos muito importantes (ML4).

Quando questionado sobre a relação da teoria do conhecimento com a prática

de sala de aula, o depoente ML4 revela que a pesquisa experimental possibilitou o

conhecimento sobre o método e sua importância no desenvolvimento da pesquisa

científica de qualidade acadêmica e relevância social.

Mas, de acordo com Soares (1993), a importância da pesquisa para a

formação e trabalho do professor não se situa na fronteira de acesso ao

conhecimento apenas. Porém, o contato cotidiano com esse saber tem como função

possibilitar ao docente dialogar e compreender os processos de produção desse

conhecimento em seu campo de estudo específico.

Todavia, na fala o depoente não esclarece que teoria, de fato, apoia seu

trabalho de sala de aula, apenas faz referência à pesquisa de delineamento

experimental que foi aquela que embasou seu percurso formativo de pós-graduação.

Ainda tratando da teoria do conhecimento que orienta o trabalho de sala de

aula, observemos o relato da experiência de MM5:

Quando entrei na universidade, minha experiência era nas secretarias de educação, me associei a um projeto de alfabetização e trabalhava basicamente com extensão. Foi dai que nasceu meu objeto de pesquisa do doutorado, passei uns dois anos trabalhando com professoras, fazendo círculos de leitura interessantes, porque nesse processo atuava como mediadora e as bolsistas faziam as transcrições e depois fiz a análise dos dados à luz da História da Leitura. Então, fui fazendo a opção teórica a partir do meu olhar para esses sujeitos e essas teorias foram me ajudando a compreender melhor esses objetos que a gente tem se debruçado.

Page 101: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

101

Conforme aborda MM5, a pesquisa de seu doutorado está articulada a

investigação que desenvolve atualmente em seus projetos na universidade e nasceu

de sua experiência desde a graduação, e a partir de sua atuação profissional como

professora universitária. Além disso, MM5 relata que seu objeto de pesquisa foi

gestado a partir de sua experiência prática no trabalho com a extensão universitária

em grupos de pesquisa, o que pode indicar que suas escolhas teóricas apresentam

vínculo com sua atuação docente. Todavia, a depoente não esclarece que teoria(s)

sustenta(m) seu trabalho docente na universidade, no âmbito da pós-graduação,

aspecto que foi possível perceber na maioria das falas desta seção do capítulo de

análise dos dados; a depoente apenas trata da História da Leitura, ou seja, de uma

área de conhecimento.

MM5 aborda sua relação com a extensão universitária, mas não esclarece

que teoria(s) do conhecimento científico orienta(m) seu trabalho docente. Conforme

esclarece Pimenta (2007), a relação da teoria com a prática requer considerar a

discussão sobre o processo de formação de professores e as instituições de ensino

que a oferecem, pois, em alguns cursos a fundamentação teórica ofertada aos

docentes é incipiente quando se trata da necessidade de conhecimentos específicos

para a atuação de sala de aula e muitas vezes não proporcionam o exercício da

prática como uma possibilidade de teorização sobre a ação educativa.

Em relação à articulação entre a teoria do conhecimento e sua atuação na

prática de sala de aula, outro depoente revela o seguinte:

Eu tento trabalhar no que norteou minha pesquisa. Então existe sim a articulação, agora não necessariamente a teoria tinha a ver com os assuntos que eu estava trabalhando e nem sempre isso estava permeado pela minha atividade de pesquisador, às vezes em um ou outro tópico era possível fazer isso (MJ6).

Esse participante esclarece que a teoria do conhecimento que fundamenta

suas pesquisas de formação ou a que realiza em grupos de estudo apresenta

importância para a sua prática docente. Todavia, inferimos que isso não pode ser

tratado como uma regra, como se a pesquisa realizada por todos os docentes

pudesse ser articulada com suas atuações em sala de aula e verificamos, ainda, que

MJ6 tem uma grande dificuldade em falar dos aspectos teóricos relacionados com a

docência, é evasivo, não define a postura teórica que embasa suas pesquisas e sua

atuação docente.

Page 102: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

102

Essa articulação entre teoria e prática requer cuidado ao ser refletida, pois,

segundo Demo (2004), é importante recuperar e institucionalizar a pesquisa como

uma das inspirações fundamentais da vida acadêmica no ensino superior. Para

tanto, é preciso requerer mudanças nos cursos de formação de professores para

que estes possam servir de modelo para outras instâncias formativas e para que a

ligação fecunda entre teoria e prática seja assumida como um compromisso com o

processo de humanização da modernidade, que deve perfazer a prática inovadora

do processo de construção do conhecimento.

Quando perguntado sobre se existe(m) teoria(s) do conhecimento que

rege(m) o seu trabalho em sala de aula em nível de mestrado, MW7 diz:

Eu não adoto uma teoria do conhecimento para desenvolver na sala de aula, não consigo dissociar a teoria da prática. Não existe na pós-graduação onde atuo um momento em que dou aula de teoria e depois de prática [grifo nosso]. Procuro começar com a prática e deixando que a teoria vá sendo estabelecida ao longo do caminho. Não escolho uma teoria específica, mas colho o que vejo de substancial de uma ou outra, gosto muito do construtivismo e procuro sempre atuar como uma pessoa que acredita que o conhecimento pode ser construído a partir da interação, sobretudo com a realidade e com os outros, e traço todo o percurso das aulas nessa direção [grifo nosso].

Um dado relevante que surge no comentário de MW7 é em relação ao

construtivismo que o depoente afirma ser o norte de sua ação docente, através da

consideração de princípios dessa corrente epistemológica, a exemplo da noção de

que o conhecimento é construído cotidianamente na relação entre os sujeitos sociais

e a realidade da vida, e busca desenvolver sua aula considerando aspectos dessa

perspectiva, que se relacionam, também, com alguns princípios do paradigma da

multirreferencialidade.

Segundo Fagundes & Burnham (2001, p. 48),

A multirreferencialidade surge de uma reflexão sobre a prática, é uma abordagem que assume plenamente a hipótese da complexidade do real, mas de forma diferenciada da inter/transdisciplinaridade. A multirreferencialidade não pretende ser uma integração (soma) de conhecimentos; ao contrário, postula o luto do saber total, posto que quanto mais se conhece, mais se cria áreas de não-saber. Quanto maior é a área iluminada, maior será a área de sombra.

Tomando como base essa concepção, entendemos que MW7 trabalha com

base na consideração de que a realidade é fruto das interações sociais e que se

orienta, através da relação entre a dimensão teórico-prática, que apresenta um

Page 103: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

103

plano de idealização, o teórico, e outro concreto, o prático, dimensões que só são

possíveis de serem separadas mentalmente através de abstração reflexiva. Com

efeito, relacionar a teoria, a prática e os outros elementos listados requer reflexões

complexas e problematização em torno dos conhecimentos, que perpassa por um

processo que ora subordina a prática à teoria, ora subordina a teoria à prática.

Contudo, apesar de MW7 tratar do construtivismo e de elementos que se

reportam à multirreferencialidade, menciona que não adota uma teoria do

conhecimento científico no desenvolvimento de sua docência e afirma que absorve

alguns constructos teóricos que mais lhe convém para o trabalho em sua dinâmica

educativa.

MR8 revela que na sua prática não se prende muito a leituras teóricas, como

pode ser visto no comentário a seguir:

Eu não sou muito dado a leituras teóricas, sobretudo de teorias do conhecimento. O que me faz pensar a importância da pesquisa para o ensino é minha prática, minha experiência. Aquilo que estou colocando para você é muito mais fruto de uma experiência de vida quando eu comecei ensinando no ensino básico do que consequência de leituras teóricas.

Depreende-se do dito pelo docente MR8 que sua experiência o ajuda a

pensar sobre a prática de ensino e que não faz leituras sobre teorias científicas.

Esses elementos de sua fala revelam que a importância da pesquisa para esse

docente de pós-graduação se dá a partir de sua reflexão sobre a prática, além do

fato de ser essa dimensão que orienta seu trabalho pedagógico em sala de aula, sua

experiência em ensino é que lhe confere competência para atuar na docência na

universidade.

Diante disso, podemos inferir que esse depoente MR8 prioriza a prática em

detrimento da teoria, pois ela o ajudou a desenvolver sua atuação pedagógica e lhe

proporcionou a aprendizagem da docência universitária, ao longo de sua experiência

no ensino básico, postura que pode conduzir para um fazer educativo ingênuo, como

acontecia na educação tradicional. Concluímos, também, que o depoente MR8 não

considera os aspectos teóricos como importantes para o exercício da prática

docente, quando afirma que não é muito atraído por leituras de teorias do

conhecimento e, portanto, desenvolve sua ação docente baseada na prática pela

prática.

Page 104: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

104

Segundo Carr e Kemmis (1988), a perspectiva centrada na prática baseia-se

eminentemente na oposição à concepção tecnicista de educação, sobretudo ao

modelo de ensino tradicional. Nessa abordagem defende-se que a dimensão do

ensino é uma atividade essencialmente prática e não técnica. Essa visão considera

que o processo de educar é uma ação social complexa que necessita do docente a

execução de ações educativas e a tomada de decisões práticas que,

posteriormente, podem servir de norte para sua atuação docente cotidiana.

Uma inferência possível de ser realizada da fala de MR8 é que seu

depoimento aponta para uma influência do empirismo na docência, posto que,

segundo Behrens (2003), ao tempo em que esse paradigma científico dá uma

grande contribuição à Ciência, apresenta uma mentalidade reducionista do mundo,

da sociedade e do sujeito, com elementos mecanicistas. Isto influenciou os diversos

campos da ciência, entre os quais destacamos aqueles que tratam da educação

formal. Desta maneira, a universidade passa a ser vista como uma instituição que

deveria apenas repassar os conhecimentos produzidos no âmbito da ciência.

Evidentemente, não seriam todos os conhecimentos, apenas aqueles necessários

aos sujeitos no exercício de suas atividades profissionais. Em consequência, o

professor é considerado como o detentor do conhecimento e o aluno mero

receptáculo.

Sobre a teoria do conhecimento que o docente trabalha em seus estudos e

pesquisas, observemos o que MM9 diz:

Tenho me aproximado com o doutorado de uma vertente pós-

estruturalista e sinto necessidade de me atualizar sempre, porque não domino os teóricos e é uma constante volta as obras clássicas deles [grifo nosso]. Na orientação não é só o fato de eu como pesquisador ensinando meus orientandos, mas as pesquisas que eles desenvolvem me exigem essa atualização [grifo nosso]. A importância da pesquisa é isso: ela vai abrindo leques, não fico hermético à medida que a gente vai pegando os dados, o que exige do pesquisador uma atualização.

Conforme pode ser visto na fala de MM9, o trabalho com teoria pode gerar

uma necessidade de atualização constante no campo conceitual da área de

conhecimento do docente, e possibilita abrir leques sobre o que ainda não foi

pensado, o que pode evitar um saber hermético. Além disso, a atualização a que o

depoente se refere se dá por causa de sua atuação como pesquisador e, também, é

fruto de sua relação de orientação com os estudantes, pois, esse processo tem

Page 105: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

105

como objetivo dialogar e contribuir para a escrita das pesquisas dos mestrandos.

Assim, para o depoente, as teorias são, de certa forma, determinadas pelos objetos

pesquisados.

Sinalizamos, por conseguinte, que a postura de MM9 aproxima-se do método

da investigação-ação muito utilizado como norte de melhoria da prática pedagógica

e da aprendizagem dos estudantes. A pesquisa em educação apoiada nessa

perspectiva opera com base na reflexão por parte dos docentes, o que contribui para

enfrentar as situações complexas e as incertezas presentes na organização do

trabalho pedagógico (SILVA, 2011).

Com base no que foi tratado nesta seção, os depoentes sinalizam que

trabalham eminentemente com a dimensão da prática em sua atividade docente e

buscam articular essa prática com a teoria. Ademais, nos depoimentos apresentados

e discutidos percebeu-se, também, que os docentes têm dificuldades de se

posicionar a respeito da(s) teoria(s) que sustentam sua docência universitária, o que

nos faz pensar que os relatos apontam para o entendimento de que as práticas dos

docentes dos mestrados investigados ainda encontram-se por fazer.

4.2.2 Influência da pesquisa na docência de mestrados da UEFS

Esta seção tem como objetivo tratar de como a pesquisa tem impactado a

dinâmica de ensino no âmbito da pós-graduação na universidade, especialmente

nos cursos de mestrados investigados. Sendo assim, vejamos como um dos

depoentes do estudo caracteriza essa influência da investigação articulada a sua

docência:

Na minha docência influenciou questões de metodologia do ensino, pari passo com a pesquisa, porque ela fez criar uma sensibilidade na minha experiência quando era pesquisadora no mestrado e no doutorado. Agora a pesquisa pura, ser pesquisador, influencia a docência no sentido de trazer exemplos, de saber o que é pesquisar, mas na prática do relacionamento com o aluno questões de metodologia do ensino influenciam mais (MI1).

O docente MI1 revela uma opinião interessante sobre a influência da pesquisa

na docência de cursos de mestrado quando aborda que a metodologia do ensino

exerce um impacto maior na docência universitária quando o docente se relaciona

com os estudantes no momento em que necessita desenvolver sua atuação em sala

de aula. Por outro lado, o depoente sinaliza que a formação em pesquisa exerce

Page 106: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

106

influência mais na aprendizagem do ser pesquisador, colaborando, assim, para o

desenvolvimento de exemplos para facilitar o entendimento do estudante sobre as

pesquisas que o docente articula ao trabalho pedagógico de sala de aula. Nesse

sentido, o que se percebe é que o professor destaca mais sua experiência em

ensino do que na pesquisa em seu processo formativo de ser docente, ao passo que

aponta para uma ênfase na formação no campo da investigação.

Contudo, inferimos que no caso do trabalho docente, MI1 aborda que a

pesquisa não contribui para o debate de sala de aula, fato que aponta para o

entendimento de que o depoente vive uma dicotomia entre a pesquisa realizada em

seu mestrado e doutorado e sua prática docente.

Segundo Imbernón (2002), o docente pesquisador tem se tornado tema de

debates e discussões atualmente, pois, existe um movimento mundial em torno do

docente pesquisador, articulado ao paradigma emergente, que postula que o

docente que pesquisa tende a exercer uma prática pedagógica de melhor qualidade

na sala de aula, ao passo que reflete sobre sua ação, que MI1 aparentemente não

realiza.

Vejamos a concepção de pesquisa de MA2 e como ele insere esse elemento

em sua prática de sala de aula em nível de mestrado:

O processo de pesquisar por ser uma ação sistemática que visa à produção de conhecimento para uma determinada área, tem disciplina, precisa estar apresentando resultados. Então a pesquisa acaba dando determinados caminhos para o pesquisador, seja metodologicamente, seja teoricamente, e também, do ponto de vista da prática de fazer pesquisa. Então, aqueles professores que têm contato com a pesquisa tem a possibilidade de estar trazendo discussões e atualizações do que se tem pesquisado para a prática de sala de aula.

A pesquisa, para MA2 é uma ação sistemática de estudo e reflexão que visa a

produção de conhecimentos, resultados e produtos para a universidade,

apresentando disciplina e elementos que requerem estudos aprofundados, não

meras leituras. Desse modo, inferimos, a partir do depoimento, que a investigação é

um saber que, com essas especificidades, contribui para a formação do professor no

campo teórico-metodológico, bem como possibilita ao docente uma atualização nas

discussões referentes à sua área de estudo, o que facilita a articulação desse saber

que é adquirido a partir do processo de investigação com a dinâmica da sala de aula

em nível de pós-graduação.

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107

Entretanto, depreende-se do exposto que o depoente MA2 acredita nas

qualidades do ser pesquisador e naquilo que a pesquisa pode proporcionar à sua

formação científica, mas não aborda a importância de uma articulação dessa função

com a dinâmica de ensinar e, assim, entendemos que ele enfatiza a formação no

campo da pesquisa.

Todavia, ressaltamos, mais uma vez, que a formação do docente para a

pesquisa encontra-se atrelada à construção de competências para uma melhor

atuação profissional, pois, conforme Ventorim (2005), esse modelo de formação é

regido pela interlocução da pesquisa no processo de profissionalização docente

como um saber que visa à constituição de autonomia do docente com base na

disposição para a produção de saberes e para as transformações em sua prática

educativa. Assim sendo, o professor por meio da articulação entre o ensino e a

pesquisa pode realizar a transformação de sua prática docente, como pode ser

depreendido do comentário de MA2.

MG3 revela que “tudo que eu faço hoje em termos de projeto de pesquisa

vem da minha necessidade como professora, das minhas inquietações”. MG3 expõe

uma opinião superficial sobre a pesquisa, posto que, essa função universitária

envolve princípios e normas, a exemplo da construção de referencial teórico, da

coleta e produção de dados e da análise desse material, que são passos

importantíssimos do processo investigativo e que não devem ser desconsiderados,

pois, caracterizam a investigação nos moldes científicos. Diante disso, segundo

Perrenoud (1993), relacionar pesquisa com formação docente constitui-se em um

importante papel da universidade, entretanto requer cuidado na aplicação desse

processo, posto que, é necessário considerar uma reflexão sobre seu impacto para

o desenvolvimento profissional docente.

Sobre a influência da pesquisa na docência de mestrados da UEFS, ML4

depõe:

É totalmente diferente, é essa relativização do saber, é o como fazer, é o segurar as emoções para acompanhar o caminho, é desconstruir as verdades. O pesquisar pode fazer a gente sair desse lugar e conviver com a dialética. A pesquisa dá segurança para o professor poder entrar em áreas desconhecidas, mesmo não tendo seus suportes sistematizados, mas já tem esse traquejo de lidar com o novo.

Sobre a influência da pesquisa na docência de cursos de mestrado, o

participante ML4 afirma que a investigação proporciona a relativização do saber, o

Page 108: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

108

entendimento do como fazer, a metodologia. Em outra perspectiva, acreditamos que

o trabalho com a investigação pode proporcionar o exercício de um olhar de

afastamento do pesquisador frente ao objeto de estudo, aspecto importante no

desenvolvimento da pesquisa científica, desconstruir as verdades estabelecidas,

pensar pela diferença, através da dialética, o que pode proporcionar segurança

teórica ao docente e um certo jeito para lidar com o desconhecido.

Assim sendo, esse depoimento assinala que a pesquisa articulada ao

processo de ensinar proporciona a docentes e discentes a construção de

habilidades do campo investigativo, aspecto que deve ser problematizado, pois, ML4

desconsidera os elementos basilares da docência, tais como a relação docente-

estudante, bem como os saberes didático-pedagógicos que são importantes, tais

como os saberes da pesquisa para o docente universitário.

Nesse sentido, amparados em Demo (1997), podemos dizer que a pesquisa

consiste em um processo do meio social que deve fazer parte do cotidiano

acadêmico, refletindo na prática de docentes e discentes. Sem essa função

responsável pela produção de conhecimento a universidade não pode contribuir com

seu papel de fonte de descoberta e criatividade, essa instituição precisa mais do que

ensinar ou oferecer aulas.

Com base nessa noção de pesquisa como parte do cotidiano do trabalho

docente, vejamos a forma que MM5 utiliza-se para articular a pesquisa com o

ensino:

Penso que sim, tem muitos professores que desenvolvem seus trabalhos junto com alunos do mestrado já formando grupos de estudo, a partir dessa interlocução das suas pesquisas com as investigações que os mestrandos estão realizando. Isso fortalece na verdade os grupos de pesquisa porque não dá para fazer pesquisa sozinho.

O depoente MM5 chama atenção para o fortalecimento dos grupos de

pesquisa na universidade, para sustentar a produção da pós-graduação e contribuir

para a formação dos seus pesquisadores. Assim, ele defende que os docentes

devem se articular com os mestrandos para realizar as pesquisas deles e, também,

do grupo de forma colaborativa.

Contudo, se pensarmos na categoria que estamos problematizando nesta

seção, que se refere à influência da pesquisa na docência de mestrados da UEFS,

percebemos no depoimento de MM5 que, apesar do entrevistado tratar de aspectos

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109

relacionados à dinâmica do trabalho pedagógico na pós-graduação, divulga uma

crença exagerada na atividade de pesquisa e, consequentemente, na formação dos

mestrandos como pesquisadores de áreas específicas.

Sendo assim, vejamos o que MJ6 entende sobre o ser professor no âmbito de

cursos de mestrado na universidade atual:

Para ser professor, hoje, no mestrado, tem que ser necessariamente alguém que esteja produzindo pesquisa, para se credenciar hoje em qualquer programa tem que mostrar produtividade, uma Plataforma Lattes dinâmica. Isso, em princípio reforça uma ideia de que esses professores devem ter algum tipo de diferenciação, mas essa diferenciação não necessariamente resulta em melhores professores, seja no mestrado, na graduação ou no doutorado.

MJ6 esclarece que para ser docente da pós-graduação o sujeito precisa ser

pesquisador e ter produção acadêmica, o que nos faz refletir sobre o descaso com

outros aspectos da pedagogia universitária, como os elementos da Didática e da

prática de ensino. Essa mentalidade é um dos fatores que concorrem para o

desprestígio que o ensino universitário e, consequentemente, a profissão docente

tem sofrido no cenário atual, o que contribui para uma desprofissionalização,

semiprofissionalização, enfim, uma proletarização da profissão do docente, e da

docência como atividade universitária exigida, tanto para a graduação, quanto para a

pós-graduação, conforme defende Tardif (2011).

Com efeito, essa crença acentuada na atividade investigativa na pós-

graduação, leva-nos a pensar nas práticas pedagógicas que serão desenvolvidas

pelos futuros mestres, formados pelos cursos de mestrado, ações que, por mais que

eles queiram, serão pautadas apenas no trabalho com a pesquisa, visto que, não

lhes foram possibilitados discussões referentes ao papel do docente e aos

elementos constituintes da docência. Esses aspectos denotam uma certa posição de

descaso com o ensino e resulta em proporcionar uma crise no processo de

formação desses futuros docentes e, consequentemente, de sua identidade

profissional.

Ainda sobre a influência da pesquisa na docência de mestrados da UEFS,

observemos o depoimento que segue:

A pesquisa exerce uma influência positiva, só que faço sempre essa ressalva: ainda estamos caminhando pouco em nível de investigação para fazer com que os alunos atinjam um grau de motivação necessária. Então, tem uma interferência positiva a pesquisa, uma pós-graduação sem pesquisa não merece o nome de pós-graduação (MW7).

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De acordo com o exposto por MW7, existe a influência da pesquisa na

docência dos cursos de Mestrado, pois, a pós-graduação não funciona sem

investigação. Entretanto, o depoente afirma que atualmente ainda há uma lacuna, no

que se refere ao nível de investigação dos cursos de pós-graduação e seu impacto

na motivação para a aprendizagem dos mestrandos. Em conformidade com o

comentário de MW7, sinalizamos, amparados em Pimenta (2005), que para a

realização da pesquisa sobre a prática educativa no ensino superior é importante

que o docente se posicione com abertura de espírito, flexibilidade e coragem para

enfrentar os desafios da profissão docente na atualidade. Essa ação profissional

deve ser realizada pelo docente que se reconhece como pertencente a uma

profissão e não constitui a ação de qualquer sujeito que tem bagagem de

informações e que é capaz de transmiti-las via ensino.

Porém, mais uma vez, um dos depoentes enfatiza a pesquisa, assim como

está posto nos Planos Nacionais de Pós-Graduação, e não mencionam os aspectos

do ensino como importantes, também, para o processo de formação dos

mestrandos, amparado apenas no ser pesquisador.

Segundo MR8, a pesquisa é um elemento essencial para a prática de um

mestrado acadêmico, como pode ser verificado na fala a seguir:

Tenho certeza que sim. Particularmente não consigo vislumbrar cursos que sejam ministrados no mestrado sem a pesquisa, sem que o professor tenha desenvolvido pesquisa, para mim é fundamental, completa para dizer a verdade.

Evidencia-se, através da análise da fala de MR8, que a pós-graduação é

sinônimo de pesquisa, e que o professor desse nível de ensino necessita ser,

consequentemente, um pesquisador com produção acadêmica e publicação via

materiais científicos para poder participar da socialização de seus conhecimentos

para os estudantes e poder lhes proporcionar a formação requerida no campo da

pesquisa. Diante do exposto por MR8, em conformidade com Demo (1996),

afirmamos que o docente na universidade é aquele sujeito que obtém espaço na

academia através de sua produção científica e tem competência para dialogar sobre

sua experiência na prática do ensino, ou seja, não há como falar de docente na pós-

graduação sem que ele seja essencialmente um pesquisador.

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111

Porém, é preciso deixar claro que uma pós-graduação não se constitui

apenas pela pesquisa, pois, antes dela ser um espaço para a produção de

conhecimentos, constitui-se em um local de ensino onde o docente deve realizar,

também, ações formativas no campo pedagógico, posto que, o sujeito que será

formado nesses cursos serão ou já são docentes e, como tais, necessitarão ou

necessitam realizar ações pedagógicas junto a seus estudantes no contexto da sala

de aula.

Vejamos como MM9 caracteriza a influência que a pesquisa exerce em sua

trajetória profissional e acadêmica:

Eu decidi ser pesquisador a partir de uma influência, porque quando entrei na universidade, fui ser bolsista de iniciação científica e comecei a gostar de fazer pesquisa. Exerce porque assim como eu na iniciação científica recebi essa influência da minha orientadora do que é pesquisar, da objetividade da pesquisa, faço com meus orientandos, e na sala de aula eu incentivo, principalmente os alunos do mestrado. Então eu chego para meus alunos falando: agora vocês estão aqui se formando para serem pesquisadores, porque acho que mestrado é para formar pesquisador.

Nota-se, a partir da fala de MM9, que para ser pesquisador o sujeito precisa

fazer pesquisa e que os cursos de mestrado foram criados para formar

pesquisadores, para fomentar esse tipo de atividade. No entanto, pode-se afirmar

que por causa dessa crença exagerada na pesquisa como um elemento essencial

da pós-graduação, alguns desses pesquisadores têm deixado de lado as questões

ligadas à docência universitária, ou seja, centram suas ações na universidade no ato

de pesquisar e, na maioria das vezes, não utilizam esse saber adquirido para

melhorar suas práticas de sala de aula.

Sendo assim, faz-se necessária uma reflexão cada vez mais ampliada dos

docentes de pós-graduação em eventos científicos e seminários sobre esse modelo

de formação, defendido atualmente, posto que, o docente ao sair desses cursos são

professores, seja em escolas básicas, seja em instituições de ensino superior, mas

sem a formação específica para a docência, que é tão importante para o

desenvolvimento do trabalho pedagógico quanto a qualificação de pesquisador.

Ao passo que discutimos sobre a influência que a pesquisa apresenta para o

âmbito de cursos de mestrado, conforme as representações dos pesquisadores que

foram entrevistados para a realização desse estudo, passaremos a uma reflexão

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112

sistematizada sobre como a pesquisa de fato tem contribuído para a organização do

trabalho pedagógico dos docentes de pós-graduação.

Um dos depoentes caracteriza essa influência da pesquisa diretamente

articulada à sala de aula da seguinte forma:

No debate de sala de aula sempre coloco para meus alunos que a gente deve ter essa articulação com a realidade e sou contra aquele tipo de pesquisa que o aluno faz o que o professor manda; deve ter sempre uma margem de autonomia, de desejo dentro das possibilidades dos projetos dos professores. A gente deve encontrar um meio termo que significa fazer com que os alunos percebam que a realidade permite pontos, caminhos, objetos, sujeitos de pesquisa que podem ser trabalhados e, na sala de aula, eu sempre tento articular essas duas coisas (MI1).

Esse participante MI1 revela que na sua prática docente busca proporcionar

aos estudantes a percepção de que a pesquisa deve estar articulada com a

realidade social, e que é preciso que os mestrandos tenham uma certa flexibilidade

ao discutir temas de investigação relacionados à área de estudo de seus

orientadores, mas com um grau de autonomia do ato de pesquisar. Assim, o docente

chama a atenção dos discentes, no sentido de mostrar que da prática pode emergir

objetos de pesquisa com diferentes caminhos e sujeitos, sendo que o conhecimento

deve estar articulado à dinâmica da vida dos seres humanos.

Pode ser lido a partir do pensamento de MI1, amparados nos escritos de

Souza Santos (2010), que essa nova ordem científica, que se instaura com o

paradigma emergente, tendo o sujeito como o centro do processo de construção do

conhecimento, assinala que o sentido da mudança no campo da ciência que

observamos atualmente advém de uma alteração das condições epistemológicas e

metodológicas do conhecimento científico no plano social. Assim, faz-se necessário

aos que trabalham com base nesse paradigma repensar sobre as condições teórico-

metodológicas das ciências sociais, a fim de que se possa instaurar um modelo

científico humanístico no seio das ciências, ou seja, aquela produção de sabres que

considerem o sujeito como agente do progresso científico e não como mero

participante desse processo.

Sendo assim, vejamos o depoimento de MA2 sobre sua atuação em sala de

aula no nível de mestrado:

Na atuação na sala de aula no mestrado a gente tem disciplinas obrigatórias e optativas e tanto uma como outra versam sobre determinado propósito, mas são subsidiadas por referenciais teóricos que são provenientes de pesquisas que foram feitas. Então, a partir

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113

do momento que a gente está em uma dessas disciplinas, trabalhando com determinado tema, esses referenciais e pesquisas sobre algum tema específico de alguma disciplina vão vir à tona.

Esse docente MA2 diz buscar uma articulação dos referenciais teóricos

obtidos através das pesquisas que realiza, ou mesmo daquelas feitas por outrem,

com o debate na prática de ensino no mestrado que atua. Então, na sua atuação em

componentes curriculares do corpo do curso procura se aproximar de uma

interlocução desses conhecimentos produzidos com a dinâmica do ensino na pós-

graduação.

Sendo uma das funções da universidade a produção e difusão do

conhecimento através da pesquisa, segundo Vasconcellos (2002), o professor é o

agente principal desse processo de construção de novos conhecimentos, pois, tem

um importante papel nesse caminho do estudante, através da provocação e do

desafio, dando condições para que o discente possa construir suas respostas e

propor ações, bem como interaja com os sujeitos, elaborando sínteses sobre esse

saber construído nessa dinâmica educativa.

Contudo, mesmo MA2 tratando de uma maneira de trabalhar a pesquisa no

contexto de sala de aula, o entrevistado acaba por enfatizar a atividade investigativa

e colocar o ensino em posição menor, pois, apenas defende levar as pesquisa que

foram desenvolvidas anteriormente para debater na sua atividade docente como

bibliografia, mas, não consegue articular o ensino e a pesquisa no processo

educativo.

MG3 coloca sobre o desenvolvimento de sua aula na pós-graduação o

seguinte:

Cada aula é passível de suscitar questionamentos, uma pesquisa em potencial. Sempre chamo atenção para o que deve ser observado e como deve ser observado, questiono o lugar de onde se fala. Isso a partir da atuação profissional dos estudantes, com a formação que tiveram, com o estudo que estão fazendo em determinada disciplina pode se transformar em textos científicos. Não tem como dissociar pesquisa de sala de aula, porque se você não tem experiência não consegue ter inquietações porque não tem vivência.

Segundo o depoente, a aula é um espaço em que o questionamento pode

existir e de onde podem emergir objetos de investigação diversos. Nesse sentido,

MG3 afirma que busca chamar a atenção dos discentes para aquilo que deve ser

objeto de atenção em uma dinâmica de pesquisa, sempre questionando as

determinações presentes nas construções teóricas que são lidas pelos estudantes.

Page 114: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

114

Além do mais, podemos dizer que o depoente trata da articulação entre a pesquisa e

a prática docente que deve existir na dinâmica cotidiana de uma universidade que se

posicione como instituição promotora de cultura científica e respaldada em sua

relevância social.

Diante dessa perspectiva apresentada por MG3 sobre a inserção da pesquisa

na prática de sala de aula, podemos afirmar que existem algumas atitudes

necessárias ao docente na ação reflexiva, a saber: a) abertura de espírito para

admitir a possibilidade de errar no processo de sala de aula; b) responsabilidade

sobre as consequências de seu ensino para os estudantes nos âmbitos pessoal,

social e político; c) sinceridade no trabalho docente, pois o profissional precisa ter

compromisso com sua própria aprendizagem (PAULA, 2003).

Reiteramos que essa noção de articulação da pesquisa com a docência

parece apontar para uma ênfase no processo investigativo e um descaso com os

aspectos constituintes da dimensão pedagógica, tais como os saberes experienciais,

dos conteúdos e os didático-pedagógicos, bem como reflexões sobre o papel do

docente, as funções das instituições de ensino, currículo, dentre outros. Isto porque

o diálogo proposto por MG3 da pesquisa com a prática docente não constitui de fato

uma articulação entre a dimensão da investigação no nível de reflexão e

problematização requerido para o debate das questões no ensino da pós-graduação.

Vejamos como ML4 trata sobre o fazer pesquisa do professor fora de sala de

aula:

O fazer pesquisa dá método, olhar para ele não como obrigação, mas a importância dessa sistematização dos procedimentos; buscar uma informação e reunir o que se encontra sobre o assunto que se está estudando, mas também na hora de provocar e entender o próprio processo de estudar do aluno. É importante que eles não fiquem reféns de um livro didático diretamente indicado pelo professor para ser lido em sala, mas, tentar estimulá-los a buscarem novas informações para além daquele texto básico.

Segundo o depoimento de ML4, o trabalho com a pesquisa proporciona a

noção de método, do caminho que é preciso percorrer para a realização de qualquer

investigação no âmbito da pós-graduação stricto sensu e da competência que ele

apresenta no processo de busca por informação sobre determinado tema e,

também, no momento do professor dialogar com os estudantes e buscar subsídios

para compreenderem a maneira de estudar deles; aspecto importante do papel do

professor em sala de aula, pois se refere à aprendizagem. Além disso, esse contato

Page 115: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

115

com a noção de método da pesquisa pode proporcionar uma ação docente que pode

favorecer a organização do trabalho pedagógico e uma dinâmica de ensino-

aprendizagem, ambas ações diferenciadas para o professor que realiza a formação

em pesquisa, o professor adjetivado de pesquisador.

Na concepção de Demo (1998), o docente competente na atualidade precisa

responder constantemente às seguintes expectativas: o trabalho com a pesquisa, na

busca constante pelo conhecimento relativo à profissão; a atualização permanente,

participação em eventos, cursos, entre outros; o retorno à universidade, através da

formação continuada; a auto-avaliação, capacidade de se questionar; a visão ampla,

exigência da formação geral e propedêutica; discutir e refazer qualidade, a

participação como exigência essencial do docente universitário; trabalho de equipe e

teorização sobre sua prática.

Porém, apesar do depoente ML4 afirmar que o seu fazer na pesquisa

contribui para provocar o estudo dos mestrandos, não menciona de fato a

importância da investigação para a prática docente. Apenas exerce uma ênfase na

dimensão científica como se essa constituísse sozinha a base do trabalho

pedagógico dos profissionais que atuam no âmbito da pós-graduação.

A fala de MM5 aborda a inserção da pesquisa na prática de sala de aula:

No mestrado isso é uma coisa que se torna mais constante, o que estou trabalhando nos meus processos de pesquisa levo para discutir na sala de aula. Mas não trabalho exatamente com meus objetos de pesquisa, a própria sala de aula muitas vezes estimula a ter esse olhar investigativo e vai me chamando a atenção de determinados aspectos que não estava atenta [grifo nosso].

A depoente MM5 revela que na sua atuação de sala de aula no mestrado em

que trabalha busca levar suas pesquisas ou de outros pesquisadores para debater

com os estudantes. Defende, ainda, que a prática docente estimula a pesquisa a

partir dos elementos teórico-práticos que são discutidos nesse espaço, sendo por

isso que há relação entre a pesquisa e o contexto de sala de aula.

É importante destacar que a formação do docente através da pesquisa pode

favorecer a produção de conhecimento, o desenvolvimento profissional e a

transformação de sua ação educativa, pois, ao rejeitar a perspectiva de consumidor

do conhecimento científico e transmissor de informações, o professor pode passar a

se reconhecer capaz de investigar sua prática pedagógica e a realidade na qual está

inserido. Esse modelo baseia-se em uma visão que tende a romper com a noção

Page 116: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

116

instrumental e técnica da prática e busca articular conhecimento e ação pedagógica

como partes integrantes de um mesmo processo. Dessa forma, o papel do professor

se altera, saindo da concepção de reprodutor de informações para se tornar produtor

de conhecimentos e a possibilidade de tornar-se construtor da autonomia didático-

científica em sua profissão (VENTORIM, 2005).

É possível destacar do depoimento de MM5, ainda, que a prática pode

provocar a postura investigativa do docente e, muitas vezes, funciona como o local

onde pode-se obter as indagações que são necessárias ao pesquisador para a

criação de uma questão norteadora e, posteriormente, o desenvolvimento de um

objeto de estudo científico.

Mas, mesmo MM5 divulgando a posição de que a sala de aula possibilita a

visualização de elementos que servem de estímulo às suas investigações,

sugerimos que a inserção desse saber no processo pedagógico pelo depoente

constitui-se em um aspecto problemático, posto que, a pesquisa, dessa maneira

trabalhada, não estaria fazendo parte do processo de reflexão de docentes e

discentes no trabalho cotidiano de sala de aula, estaria apenas servindo como

material bibliográfico para ser discutido entre os estudantes.

Sobre a influência da pesquisa na formação e atuação profissional do

professor, observemos o depoimento a seguir:

A rigor eu tenho uma particularidade porque terminei fazendo a minha pesquisa um pouco afastado da prática de sala de aula. Ainda assim era possível muito mais por uma vontade de trazer para a sala algo que eu estava praticando do que por necessidades de ementas ou programas. Em outros momentos foi possível trabalhar na sala de aula com a pesquisa, principalmente na pós-graduação que é um ambiente onde necessariamente você traz sua produção de conhecimento para a atividade da sala de aula (MJ6).

Conforme pode ser visto na fala de MJ6, verificamos primeiramente, que a

pesquisa realizada por esse docente não está diretamente ligada ao fazer educativo

do pesquisador. Outro ponto que pode ser destacado é que mesmo não estando em

sala de aula, o participante praticava essa inserção da pesquisa na sua dinâmica

educativa muito mais por uma necessidade sua como docente do que como

exigência de ementas curriculares ou programas de cursos de mestrado. Podemos

afirmar, ainda, que MJ6 defende que a pós-graduação constitui-se em um dos

espaços em que é possível a articulação da produção científica que o docente

Page 117: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

117

realiza em seus projetos e investigações particulares com o contexto de sala de

aula.

Em conformidade com as informações concedidas por MJ6, tendo acessado o

texto do V Plano Nacional de Pós-Graduação (V PNPG 2011-2020), sinalizamos que

este nível de ensino, etapa do conhecimento que enfatiza a pesquisa na formação

dos professores universitários, depende dos “critérios de qualidade”, criados pela

Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior (CAPES) e que

são regidos segundo a lógica do Ministério da Educação (MEC) para exercer suas

atividades. Por sua vez, este funciona de acordo com o sistema político-econômico

neoliberal, a partir da defesa de ideais como a competição, o individualismo e a

busca desenfreada pela qualidade baseada em critérios quantitativos de produção

no processo de avaliação dos cursos e de seus docentes, esta centrada

eminentemente na pesquisa.

Mesmo afirmando trabalhar com a pesquisa em termos de produção

bibliográfica em sala de aula, o depoente MJ6 se contradiz em sua explicação, pois,

menciona no início de seu depoimento que desenvolve suas pesquisas sem uma

articulação direta com o trabalho pedagógico.

O depoimento de MW7 também aborda a inserção da pesquisa na sala de

aula:

Na sala de aula no nível de pós-graduação, procuro incentivar os alunos nessa atitude de busca que primeiro parte de uma visão crítica, sempre questionar, nunca aceitar o que está sendo dito. A pesquisa nasce de uma inquietação, de uma possibilidade de um novo olhar; então procuro dar sempre espaço para que os alunos questionem, até o que estou trazendo, que reconheço os limites, até pela questão do tempo e pelo próprio contexto do objeto de estudo.

MW7 afirma que a prática da pós-graduação pode incentivar os estudantes a

exercitar o ato de questionar e exercer um pensamento crítico-reflexivo da realidade.

E sendo a pesquisa essa capacidade de se inquietar sobre as questões que são

apresentadas na prática com a possibilidade de perceber aquilo que ainda não foi

escrito ou divulgado, o entrevistado afirma incentivar seus discentes a

desenvolverem a pesquisa, a fim de que eles possam questionar sobre o que está

sendo difundido pelo professor ministrante do componente curricular e sobre o que

está sendo lido e publicado em seu campo específico de conhecimento.

Page 118: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

118

Observamos, portanto, que MW7 enfatiza o trabalho com a pesquisa em sala

de aula e, articulado a isso, busca incentivar os estudantes nessa atitude de procura,

que depende de uma visão crítica do real, mas sem considerar os aspectos da

docência como presentes no âmbito do trabalho na pós-graduação, o que denota um

posicionamento que contribui para a manutenção da dicotomia existente no âmbito

da pós-graduação entre a pesquisa que o docente produz e sua prática docente,

como se fossem elementos diferentes, mas que não pudessem fazer parte de um

mesmo trabalho.

MR8 revela o seguinte sobre a articulação entre a pesquisa e a prática de

sala de aula:

A inserção em nível de pós-graduação se dá porque todo debate que se faz em sala de aula está relacionado à pesquisa e a gente faz isso quando discute os objetos de trabalhos de cada um dos mestrandos, quando discute algum programa ou bibliografia específica, os métodos que cada autor utilizou para construir aquele conhecimento e quais as referências teóricas nas quais ele se embasa para produzir aquele conhecimento.

O docente assevera que em cursos de pós-graduação as reflexões de sala de

aula relacionam-se com a pesquisa, pois, a discussão dos conteúdos de ensino

pode estar articulada à prática ou ao ato de investigar, porque, por exemplo, é

possível discutir os objetos de pesquisa dos mestrandos articulando-os com a

prática de pesquisar, sendo o papel desta mobilizar e incentivar o debate em sala de

aula.

Diante do exposto por MR8, evidenciamos que o papel da pesquisa na

formação e na prática docente é importante. Mas, não se refere apenas à discussão

do docente ser um pesquisador/reflexivo. É preciso que sejam considerada as várias

maneiras de articulação entre o ensino e a pesquisa na formação dos docentes, bem

como que sejam possibilitadas as mínimas condições para que o professor possa

articular de fato a investigação à sua prática educativa cotidiana, tais como a

melhoria da infraestrutura das universidades públicas e da carreira e dos salários

dos docentes.

Assim, o depoente aborda uma ênfase total no processo de pesquisa e nos

aspectos teórico-metodológicos presentes nas produções científicas,

desconsiderando os elementos constituintes do ensino, como as relações entre

docente-estudante, as questões de planejamento e avaliação, entre outros

condicionantes da função de ensinar. Ademais, quando se reporta a questões

Page 119: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

119

teóricas articuladas à sua docência, trata apenas de formas de abordagem do

processo de construção do conhecimento científico.

Nesta seção que tratou da influência da pesquisa na docência de cursos de

mestrado da UEFS foi possível perceber que os depoimentos comungam com a

ideia de que ocorre essa articulação entre a dinâmica do pesquisar e a prática de

sala de aula, pois, no nível de pós-graduação, como a pesquisa encontra-se

difundida como o saber que fundamenta as ações de ensino, evidencia-se essa

articulação nos discursos dos docentes que entrevistamos.

Entretanto, os depoimentos revelam atitudes desenvolvidas pelos docentes

para realizar essa articulação entre ensino e pesquisa na dinâmica acadêmica da

universidade como, por exemplo, aquelas que trazem os resultados de suas

investigações individuais para debater com os estudantes por meio de socialização

de artigos ou outros textos produzidos por eles ou por outros pesquisadores. Assim,

inferimos, a partir dos resultados apresentados nesta seção, que a pesquisa nesses

moldes defendidos pelos participantes do estudo constitui-se em um aparato

técnico-instrumental que contribui para reforçar a ideia de reprodução de conteúdos

desvinculados da prática real dos sujeitos do processo de ensino-aprendizagem no

âmbito da universidade.

Isso pode ser verificado, também, em uma passagem do documento do II

Plano Nacional de Pós-Graduação (II PNPG – 1982-1985), que traz o seguinte:

[...] A questão central do II PNPG não foi apenas a expansão da capacitação docente, mas a elevação da sua qualidade, enfatizando-se, nesse processo, a importância da avaliação, da participação da comunidade científica e do desenvolvimento da pesquisa científica e tecnológica [...] (BRASIL, 2010, p. 26).

Nota-se, portanto, que um dos objetivos principais do II PNPG era ampliar a

qualidade da capacitação dos professores universitários através do desenvolvimento

do processo de avaliação do sistema de pós-graduação que tem na pesquisa um

dos elementos mais importantes na mensuração dos indicadores dessa qualidade.

A partir dos dados revelados pelos depoentes no que se refere à pesquisa e

com base no excerto, inferirmos que a noção de investigação atual, trabalhada na

pós-graduação é tratada como atividade que culmina na manutenção do Currículo

Lattes, sendo a avaliação aferida com base em critérios que denotam a produção

científica dos docentes através da quantidade de publicações. E a qualidade é

Page 120: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

120

reduzida à garantia de produção, publicação, orientações, entre outros itens que um

docente realiza ou que um programa de pós-graduação obtém.

Nessa lógica descrita e a partir dos depoimentos apresentados nesta seção,

amparados em Meksenas (1996), podemos dizer que esse modelo educacional que

enfatiza a pesquisa, exposto tanto nos depoimentos dos sujeitos da pesquisa,

quanto no texto do II Plano Nacional de Pós-Graduação, tende a gerar uma

dicotomia entre pesquisadores/cientistas que trabalham intelectualmente e os

docentes que executam esse saber elaborado anteriormente, reproduzindo apenas

construções conceituais prontas.

Assim, de um modo geral, os sujeitos que pesquisam são vistos como

“iluminados” e que, de certo modo, detêm um saber com um estatuto de verdade. No

entanto, vale salientar que a ciência, tendo como base os posicionamentos dos

novos paradigmas científicos, tem sido considerada mais acessível às pessoas e

que a função do pesquisador não deve ser encarada como mais importante do que a

docência numa universidade, local onde um dos objetivos é o desenvolvimento da

tríade ensino, pesquisa e extensão.

4.2.3 Relação ser pesquisador acadêmico e docência universitária

Esta seção versa sobre a seguinte questão: os pesquisadores acadêmicos,

que são também professores de pós-graduação, estimulam habilidades de pesquisa

em suas salas de aula na universidade, no âmbito de cursos de mestrado da UEFS?

Sobre a referida questão, um dos depoentes da pesquisa revela o seguinte:

Eu não sei se pesquisa permite melhorar o trabalho de sala de aula. Falta em nós professores universitários determinadas questões e discussões relativas à metodologia do ensino, pois, o curso de mestrado não dá nenhum desse tipo de habilidade, tem o tirocínio que não é obrigatório para todos os mestrandos. Então, é algo que precisa ser realmente repensado e colocado em prática, a articulação dessa formação de mestrado com a formação de docentes. Você está formando apenas pesquisador, mas ele vai ser docente em sala de aula como? Vai abrir o livro e colocar o aluno para ler teoria A, B e C? (MI1).

Para o depoente, além da problematização da pesquisa na pós-graduação,

existe uma necessidade de discussão sobre o ensino universitário, de reflexão sobre

a prática, sobre a pedagogia universitária, defendendo a articulação da formação em

pesquisa com o ensino no âmbito do mestrado.

Page 121: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

121

Sobre essa questão abordada por MI1, pautados no pensamento de Cunha

(2007), sinalizamos que o docente universitário deve atuar no processo de mediação

pedagógica, ou seja, entre o conhecimento já disponível, através da pesquisa e as

estruturas da cognição, da cultura e do afeto dos estudantes, encarando a

construção da profissionalização docente universitária como um desafio cotidiano.

Todavia, destacamos da fala de MI1 que existe uma lacuna em relação à

prática de docentes de ensino superior no que se refere a questões do campo da

metodologia do ensino e, também, o depoente não deixa claro se a pesquisa

contribui para a melhoria de sua prática docente, ao contrário, sinaliza não saber se

a investigação proporciona melhorias em sua docência.

Em relação à categoria que estamos estudando nesta seção, observemos o

comentário de um dos entrevistados:

Como o pesquisador têm atividades no processo de participar dessa comunidade, os alunos acabam tendo o contato com esse modo de fazer pesquisa que falo bastante na sala de aula: fazer uma boa revisão de literatura, escrever um artigo. Não sei até que ponto isso influencia, mas essas questões estão sendo colocadas em pauta sempre quando ministro uma disciplina e trago resultados de pesquisas, novas referências, digo de onde foram coletados os dados, você apresenta essas informações. Eu tento na minha prática enquanto professor e pesquisador deixar isso claro para os alunos: o que eu fiz, como foi o percurso, o que faço quando estou tentando trazer compreensões sobre determinado objeto de estudo (MA2).

Segundo MA2, em seu percurso de pesquisador influencia os estudantes pela

experiência e pela postura no trabalho em sala de aula, porque a comunidade da

qual ele participa lhe possibilita a aprendizagem no campo da pesquisa. Além disso,

a influência da investigação na prática docente desse participante se dá mais por ele

estar abordando cotidianamente sua experiência em pesquisa para os discentes,

seja tratando dos passos de uma investigação, como a coleta de dados, a procura

por bibliografia, seja quando leva para sala de aula os resultados de suas

investigações em forma de artigo ou de outros textos científicos. Isso, certamente,

contribui para que os estudantes presenciem essa experiência na pesquisa e sejam

influenciados por esse processo de produção e difusão do conhecimento científico e

da aprendizagem de serem pesquisadores.

Em acordo com os aspectos levantados pelo participante MA2 e amparados

nos estudos de Stenhouse (1996), defendemos que implementar um ensino tendo

como base a pesquisa, requer do professor o compartilhamento dos seus saberes e

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122

não-saberes com os estudantes, buscando a aquisição de uma aprendizagem

mútua, baseada na dimensão crítica e inovadora desse saber construído, a partir de

um processo de diálogo entre os atores da dinâmica educacional na universidade,

no âmbito da pós-graduação.

Contudo, há que ponderarmos a noção de MA2 sobre a articulação entre o

ser pesquisador e sua influência na docência universitária, pois, esse participante

enfatiza demais o processo de pesquisa com seus estudantes e acaba por reduzir a

docência apenas ao espaço propício para o pesquisador explorar sobre seu trabalho

investigativo, seja trazendo bibliografias para alimentar as discussões em sala, seja

explicitando seu percurso metodológico no processo de construção de seus

trabalhos científicos.

Ora, se o fato do professor ter um percurso de pesquisador reflete habilidades

de pesquisa nos estudantes de cursos de mestrado, verifiquemos o que MG3 diz em

seu depoimento sobre a discussão levantada:

Eu consigo meus pesquisadores bolsistas de Iniciação Científica da minha sala de aula por provocar aquilo que poderia se transformar em fonte de pesquisa e que nunca tinha sido pesquisado. A minha postura em sala de aula é de investigadora e quando peço para escrever um texto transformo em mini-projeto, peço para os estudantes questionarem e buscar respostas e vou explicando que eles precisam ter bibliografia. Estimulo a pesquisar e eles se transformam em elementos de investigação minha, porque passo atividade e peço autorização deles para utilizar aquelas informações futuramente em sala de aula ou para fazer artigos; é um laboratório.

O participante revela que realiza o trabalho de sala de aula como pesquisador

provocando os alunos a pesquisarem e a produzirem seus conhecimentos, pois,

considera a prática como um dos meios propícios para o desenvolvimento da

pesquisa pelo professor na universidade, e visualiza a sala de aula como uma

espécie de laboratório para professores e estudantes. MG3 afirma, ainda, que esse

local constitui-se em um espaço de conquista de novos pesquisadores para esse

docente, pois, incentiva os estudantes, através da prática de elementos adquiridos

na formação em pesquisa, a exemplo da construção de projetos e de bibliografia

sobre os temas de estudo dos discentes a articularem esse saber às suas

docências.

Com efeito, para que o docente possa desenvolver essa postura descrita no

depoimento de MG3 na prática é necessário um movimento de reflexão sobre a

reflexão na ação, mais precisamente, possibilitar a entrada em cena de um novo

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123

conceito, o de docente pesquisador, aquele sujeito que investiga e reflete sobre sua

própria prática em sala de aula, aspecto que relaciona as duas perspectivas

conceituais, pois, o ato de pesquisar e de refletir assemelham-se, porque a pesquisa

pode contribuir para a reflexão sobre os problemas da sociedade, assim como a

dimensão reflexiva constitui-se na base do ato de pesquisa (SCHÖN, 1983 apud

PAULA, 2003).

Porém, podemos dizer que MG3 expõe uma opinião que requer uma reflexão

mais cuidadosa, pois, em todas as partes de seu discurso enfatiza a experimentação

de princípios da pesquisa, seja quando pede aos estudantes para escreverem

artigos, seja quando os estimula a desenvolverem pesquisas. Ademais, outra noção

problemática que apontamos a partir do depoimento de MG3 é com relação ao fato

dele afirmar que os mestrandos servem como sujeitos de suas pesquisas e que trata

sua sala de aula como um laboratório de investigação, o que nos leva a pensar que

o depoente expõe uma opinião reducionista do processo investigativo, posto que, a

investigação constitui-se em uma função universitária responsável pela produção do

conhecimento, mas com base em um rigoroso trabalho de reflexão, análise e

síntese.

Sendo assim, destaca-se a fala de um dos depoentes da pesquisa que tece

sua opinião sobre a questão da articulação da experiência de pesquisa com sua

repercussão na prática de sala de aula:

Os alunos de pós-graduação tem maturidade. Esse semestre dei uma disciplina optativa no mestrado na qual discutíamos a metodologia de pesquisa na prática e a gente tentou contemplar os objetos de estudo dos alunos. Isso deu uma riqueza de discussões em sala e de olhares diferentes, a aula não era exposta por mim, a gente discutiu ideias de senso comum e não ficou a visão do orientador com o objeto de estudo. E é importante que eles saibam que existem outras perspectivas para não terem uma visão consagrada da dissertação que pelo esforço gerou a verdade (ML4).

O depoente relata que trabalha de forma dialogada com seus estudantes,

tratando da metodologia da pesquisa a partir dos projetos investigativos deles, o que

torna a aula mais rica, dinâmica e dialógica. Além do mais, esse processo de

aproximar a pesquisa da prática de sala de aula contribui para que os estudantes

visualizem que sua dissertação ou qualquer construção científica é passível de

lacunas, não se pode achar que ali está escrita a verdade sobre determinado tema,

sendo possível, nesse sentido, construir uma noção de relativização do saber

Page 124: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

124

gerado. Isso foi possível, segundo ML4, porque no mestrado os estudantes têm

alguma experiência em pesquisa e uma certa maturidade para realizar debates

teórico-metodológicos, mais do que na graduação, por exemplo.

Esse tipo de investigação que o depoente ML4 diz realizar baseia-se em uma

ideia defendida por Stenhouse (1996) de que os professores devem mudar sua

prática a partir de sua própria reflexão. Assim, propõe-se que o docente seja

pesquisador na sua aula, pois esse espaço constitui-se no local onde se pode

articular a teoria com a prática pedagógica.

Contudo, existe no depoimento de ML4 uma ênfase exacerbada na pesquisa

e uma certa desconsideração dos elementos do ensino, como já afirmado em outros

pontos deste capítulo. Isto pode ser visto quando o depoente diz que no componente

curricular que ministrou discutia apenas a metodologia da pesquisa e que tratava de

visões de senso comum e noções de teorias.

Quando perguntado sobre como seu percurso de pesquisador estimula

habilidades de pesquisa em sala de aula, MM5 responde:

Não só com a pesquisa, mas com a extensão porque quando estou vendo uma realidade, problematizando, na sala de aula vai fazer diferença porque vou poder exemplificar para meus alunos, vou ter um olhar sobre a realidade. Claro que, se a gente tem um grupo facilita porque estamos problematizando, isso estimula no trabalho da sala de aula e posso estabelecer essa relação. A pesquisa mostrou que você tem uma coisa que é do senso comum e ela lhe ajuda a aprofundar, a ter um olhar mais consistente, não ficar apenas

no senso comum.

O fato do docente realizar pesquisa estimula o desejo de investigar nos

estudantes, pois ele pode falar do plano da experiência e não só de teorias, daquilo

que leu em livros. Além do mais, a pesquisa ajuda a ter um olhar mais consistente, a

ensinar isso para os estudantes e relata sobre a importância do grupo de pesquisa

na formação dos sujeitos no plano das competências investigativas, de trabalhar em

conjunto. Ressalta-se que essas influências que a pesquisa proporciona, a extensão

também pode provocar nos participantes.

Para Schön (1983 apud PAULA, 2003), o docente durante sua ação educativa

se vale de um conhecimento muito mais intuitivo e subjetivo que se revela quando

enfrenta situações que não são esperadas ou programadas. Nessas situações que

ocorrem cotidianamente na sala de aula, o conhecimento científico sozinho não

torna-se ineficaz, o que exige do docente novos saberes, novas posições frente aos

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125

acontecimentos do dia a dia e a capacidade de problematização, qualidades que

podem ser adquiridas através da formação em pesquisa, mas isso não deve ser

tomado sem considerar os saberes pedagógicos.

Nesse sentido, MM5 trata da relação entre a pesquisa científica e o senso

comum, conhecendo esse saber popular e trazendo para a sala de aula para discuti-

lo com base em estudos científicos, o que demonstra a ênfase na importância da

pesquisa no âmbito da pós-graduação. Contudo, MM5 expõe uma opinião

reducionista sobre a extensão, pois, essa função universitária não se resume ao

contato com uma dada realidade, mas, requer um processo mais complexo de

trabalho com o contexto, com base em uma perspectiva de intervenção na realidade

que está sendo trabalhada.

Ainda no que se refere ao tema que está sendo discutido nesta seção, MJ6

revela que o estimulo à pesquisa em sala de aula se dá da seguinte forma:

Começa na graduação esse estímulo, pois se considerarmos que nesse percurso tive vários alunos de Iniciação Científica, isso quer dizer que existe alguma relação minha com eles que desperta esse interesse na pesquisa. Hoje a Iniciação Científica é um preparatório para a pós-graduação, o aluno termina fazendo mestrado e depois doutorado.

Este entrevistado MJ6 afirma que sua postura de pesquisador influencia os

estudantes a participarem da Iniciação Científica na graduação e a progredir nos

estudos futuros no âmbito da pós-graduação. Sinaliza, também, que a iniciação à

pesquisa tem sido atualmente preparatória para a continuidade nos estudos via

cursos de mestrado e doutorado; elemento que considera ser uma das influências

da pesquisa para a prática docente que afirma realizar em seu trabalho no mestrado

da UEFS.

No entanto, é preciso deixar claro que o depoente MJ6 faz referência apenas

a importância da pesquisa no processo de formação dos estudantes, e não se

reporta como importante para o docente em formação as discussões sobre os

elementos constituintes do ensino, tais como o planejamento, a avaliação, a relação

docente-estudante, dentre outros.

Na mesma direção do que foi dito por MJ6, MW7 diz sobre sua influência de

pesquisador na trajetória dos estudantes:

Estimula porque você transmite a experiência, o que lhe autoriza a atuar como professor, você percorreu um caminho, tem uma metodologia de ensino. Então, isso se deixa notar na sua atividade e quando o aluno percebe que você está falando de um percurso de

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126

investigação, de estudo e de análise, isso incentiva a fazerem um caminho similar porque isso vai conduzir a produção de conhecimento.

Conforme dito por MW7, sua experiência em pesquisa o autoriza a ensinar na

universidade, porque ele pode transmiti-la aos seus estudantes, o que não ocorre

quando o professor não teve essa formação. A vivência prática quando percebida

pelos estudantes favorece a influência que o docente apresenta na formação dos

discentes como futuros professores e pesquisadores, aspecto que corrobora o

explicitado pelo depoente MJ6.

De acordo com o pensamento de Tardif (2007), podemos afirmar que o

docente MW7 apresenta elementos em sua fala que se aproximam de um perfil

considerado como prático-reflexivo, ou seja, aquele sujeito experiente que além de

ter construído em suas estruturas cognitivas um acúmulo de conhecimentos,

entende que sua função vai mais além do que decidir sobre os meios e a resolução

dos problemas educacionais, versa sobre os fins da educação e baseia-se em uma

reflexão referente à atividade profissional dos sujeitos no contexto prático da ação

de ensinar. Nesse modelo, o docente é capaz de lidar com situações concretas de

instabilidade, buscando atitudes de resolução desses problemas que ocorrem

cotidianamente no trabalho pedagógico do docente de qualquer nível de ensino.

Porém, MW7 não menciona elementos teóricos no seu processo formativo,

apenas fala da importância da prática, o que pode levar a uma atuação docente

vazia, centrada na transmissão de conteúdos, aspecto que também está presente no

depoimento em questão. Outra inferência é que o entrevistado trata da necessidade

dos estudantes produzirem conhecimento, o que parece contradizer o que falou

anteriormente em seu depoimento.

Vejamos o que outro participante relata sobre o tema que estamos estudando

nesta seção:

Em nível de mestrado o aluno vem com potencial de pesquisa desenvolvido, o que pode acontecer é como a gente trabalha em uma área em que existe uma variedade de fontes, eu consegui apresentar possibilidades dele poder explorar outros materiais para enriquecer a abordagem que realiza. As habilidades vão no sentido de estimular a diversificação dos objetos que estão sendo utilizados para produzir esse conhecimento (MR8).

A pesquisa, segundo o entrevistado MR8, proporciona novas possibilidades

de diversificar as investigações dos estudantes e, consequentemente, de ampliar as

Page 127: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

127

fontes de pesquisa para eles, isso porque, geralmente, no mestrado os discentes

apresentam uma bagagem de investigação e, alguns deles entram no curso com

experiência docente, o que pode favorecer a articulação da pesquisa com o ensino,

entretanto isso não significa que eles serão melhores professores, porque para ser

um bom professor é necessário, além dos saberes da pesquisa, ter experiência no

campo pedagógico. E novamente esse depoente enfatiza o trabalho com a pesquisa

quando estimula o debate dos caminhos para a construção de diferentes objetos de

estudo na sua prática pedagógica.

Inferimos, assim, que MR8 trata apenas da influência do ser pesquisador em

sua aula e não menciona a função dos elementos da docência para o processo de

formação dos mestrandos, o que resulta em uma ênfase em formar nesses

discentes apenas o papel de pesquisadores, fazendo com que eles desconsiderem

os elementos da docência, tais como discussões sobre currículo, saberes docentes,

dentre outros.

O depoente MM9 relata sua experiência docente quando trabalha com a

pesquisa da seguinte maneira:

Sim por conta dos alunos que formei que gostaram daquilo que estudo e começaram a fazer monografia, ser bolsista. Tenho uma aluna que começou quando voltei do doutorado e assumi uma turma que me convidou para ser orientador da monografia, por causa de uma aula que eu estava dando que achou interessante, escreveu o projeto para o mestrado e no final defendeu a dissertação.

Esse docente MM9 revela que inspira os estudantes através das aulas que

ministra, trazendo sua experiência de pesquisador para o debate. Sua experiência é

assimilada pelos discentes porque, segundo o depoente, eles se identificam com o

tema e a maneira com que ele realiza seu trabalho pedagógico, muito por influência

de sua formação científica em nível de doutorado. No entanto, o depoente MM9

apenas faz referência aos elementos da pesquisa em sua prática pedagógica, como

sendo alvo de influências na formação dos estudantes e não aborda aspectos do

ensino articulados à sua docência.

Articulado com a seção que tratou da influência da pesquisa na prática

pedagógica de docentes de mestrados da UEFS, damos prosseguimento a

discussão da articulação da pesquisa com o ensino, apresentando os depoimentos

dos docentes entrevistados, continuando a problematizar a relação entre o ser

pesquisador e a docência universitária no âmbito de cursos de mestrado.

Page 128: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

128

Assim, um dos nove participantes dessa investigação revela:

Essa presença positiva também pode ser negativa se o professor falar da sua pesquisa com muita arrogância. Ele deve falar, mas não como se fosse a única, porque pode suscitar no aluno que não quer fazer pesquisa no mesmo campo do seu professor, um sentimento de impotência. Devemos falar da nossa pesquisa claro, porque somos o exemplo, mas sempre passando um olho na dos colegas (MI1).

A fala do participante demonstra que a formação no campo da pesquisa

contribui para a relativização da investigação individual, na busca de um trabalho

científico não-dogmático. Ao falar de uma influência negativa da investigação no

âmbito da prática, depreende-se que esse depoente está chamando atenção para a

necessidade de em tempos de complexidade e de desafio profissional estarmos

abertos para não tomar o conhecimento científico como algo dado, como verdade

absoluta e inquestionável, principalmente quando o docente faz referência à sua

própria pesquisa. Ao contrário precisamos realizar reflexão, crítica e ter abertura de

espírito para enfrentarmos aquilo que já está instituído como possível nas relações

sociais e profissionais, competências que podem ser adquiridas através do contato

com a formação em pesquisa e que devem ser utilizadas no desenvolvimento do

ensino universitário.

Sobre a ideia de abertura e flexibilidade para enfrentar a complexidade dos

elementos do tecido social, sinalizadas pelo depoente MI1, podemos afirmar que se

aproxima do que estabelece em linhas gerais o paradigma emergente que, segundo

Souza Santos (2010), opera com base em um conhecimento que busca romper com

a ideia de dualidade presente na ciência moderna e baseia-se na superação das

distinções natureza e cultura, observador e observado, subjetivo e objetivo.

Entretanto, ressaltamos que não basta a superação destas dicotomias para

que se possa obter uma prática pedagógica amparada no paradigma emergente,

faz-se necessário analisar o conteúdo epistemológico dessa mudança, que os

cursos de formação de professores busquem trabalhar com um currículo que leve

em consideração a multirreferencialidade e a interdisciplinaridade como

componentes estruturantes da matriz curricular e que as instituições universitárias

possam, também, elaborar ações que ajudem a buscar romper com a noção de que

teoria e prática existem separadamente, como se pregava a corrente filosófica

positivista.

Page 129: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

129

Sendo assim, percebemos que em mais um depoimento, aparece a ênfase na

prática da pesquisa em detrimento da docência. Não há, portanto, indícios que

destaquem a importância dos aspectos do ensino, afirmam somente que a

investigação influencia a formação de seus discentes no âmbito da pós-graduação,

sendo que essa dita influência se dá através, por exemplo, da inserção de

produções científicas por parte do professor pesquisador no debate de sala de aula.

O depoente MA2 afirma o seguinte:

Acaba exercendo porque quando a gente trabalha com pesquisa estamos tendo contato com tendências e discussões na nossa área e muitas vezes aquele professor que fica preocupado com o ensino acaba não tendo contato com uma atualização contínua. Já o pesquisador acaba tendo esse lado de atualização permanente porque precisa estudar, participar da comunidade, seja uma banca, um evento ou escrevendo.

Esse entrevistado MA2 afirma ter experiência como pesquisador, e declara

que o sujeito que trabalha com a pesquisa busca estar atualizado em seu campo de

estudo nas novas discussões sobre os temas que pesquisa e, segundo ele, adquire

com isso um processo de busca por informação, diferenciada do docente que dá

ênfase à docência na pós-graduação.

Ressaltamos que MA2 dá ênfase à pesquisa e revela um posicionamento que

aponta para uma cisão entre os perfis de pesquisadores acadêmicos e de

professores pesquisadores. Assim, mais uma vez, um dos depoentes do estudo

demonstra dar ênfase à pesquisa e, consequentemente, contribui para colocar os

elementos ligados ao ensino universitário em posição menor.

Para Perinat (2004), ser pesquisador ou ser docente é uma questão de

opção, porém, o que se acredita é que um docente universitário deve exercer o

ensino e a pesquisa sem que coloque nenhuma dessas funções em posição de

destaque, mas busque sínteses entre esses dois saberes fundamentais para a

formação de sujeitos críticos e conscientes de seu papel no meio social.

A relação entre ser pesquisador e a implicação disso na docência universitária

é problematizada pelo participante MG3:

Um professor pesquisador acredito que faça diferença porque por experiência própria meus alunos saem da graduação para fazer especialização pelo fato de serem provocados e questionados em sua formação. Isso pode tirar ele do lugar de conforto e se, naquele momento, o professor não conseguiu que eles se engajassem em algum projeto de pesquisa ou partissem para um mestrado [...].

Page 130: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

130

Para o entrevistado, o que influencia a sua docência é a postura de

pesquisador que adota na sala de aula com seus estudantes, buscando questioná-

los e provocá-los a pesquisar e a buscar transformações na sua prática educativa.

Isso pode contribuir para a continuação nos estudos, participação em projetos de

pesquisa e, principalmente, num processo de reflexão e crítica sobre sua atuação

docente cotidiana, com base na reflexão crítica sobre o que está posto em livros ou

naquilo que é divulgado no meio social como verdade. Amparados em Demo (1996),

defendemos que o pesquisador deve ser um ator social que participa da dinâmica

política do ato de pesquisar, buscando o enfrentamento do instituído pelos

interesses dos poderes hegemônicos e confronta os ditames determinados por esse

mesmo sistema.

Todavia, observamos nesse depoimento de MG3 que a influência dele na

formação dos mestrandos está direcionada à consideração do processo de

pesquisa, na busca de que os discentes se tornem pesquisadores, mas defendemos

que para ser professor não basta ter experiência investigativa, é necessária uma

inserção no âmbito da prática pedagógica e a consideração de reflexões sobre os

elementos da docência, a exemplo dos saberes docentes, da avaliação, do

planejamento e de concepções de aprendizagem. E, muitas vezes, os sujeitos fazem

uma pós-graduação visando apenas a mudança de nível e melhoria salarial.

O fato de o professor ser pesquisador influencia a sua docência de diversas

formas, como pode ser visto no comentário a seguir:

Nós temos uma profissão em que a formação do professor não é só técnica, não tem um kit básico que garanta a eficácia da ação docente, é uma profissão que se forma na prática e passa pelas características pessoais do sujeito professor. O professor que não tem essa formação é encontrado na zona rural e conhece as pessoas do lugar, a realidade desses sujeitos, o que lhe permite uma ação que um professor formado da academia vai precisar de abertura pessoal para conseguir fazer. Desenvolver um ensino que contemple a realidade do aluno, o cotidiano e as diversidades não é fácil, não depende só de cursos de capacitação. A Lei, as Diretrizes e o discurso da educação são bonitos, mas a prática é marcada por hábitos, valores e princípios morais que dão o viés na hora de lidar com a cultura do diverso (ML4).

A partir dessa fala, entendemos que a formação acadêmica em nível de

graduação e pós-graduação não é garantia de sucesso ou de melhoria da docência

em sala de aula, porque existem outros elementos que guiam e concorrem para a

definição das práticas dos docentes de ensino superior, a exemplo de suas crenças,

Page 131: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

131

opiniões e modos de ser e dos saberes didático-pedagógicos que, também, são

necessários à atuação desse profissional.

Diante do abordado por ML4, podemos afirmar, ainda, que no jogo entre o

diploma acadêmico e o cargo de docente na lógica da qualificação em cursos de

pós-graduação, não somente os produtores dos títulos são dotados de competência

técnica para exercer a profissão escolhida, mas principalmente, de diplomas que

têm um valor universal e relativamente intemporal. Esse diploma pode garantir uma

competência de direito ao profissional que pode ser ou não uma competência de

fato, pois o tempo do diploma não é o da competência. Assim, como dito pelo

depoente no comentário, um professor que não tem diploma acadêmico a depender

da situação pode vir a exercer uma docência mais integrada com a situação social

do que aquele docente que galgou formação acadêmica elevada, pois, as

capacidades do processo de ensinar são dissimuladas muitas vezes por essa

intemporalidade referida acima, ou seja, a titulação é adquirida uma só vez e

acompanha o indivíduo a vida toda (BOURDIEU, 2007).

Com efeito, o docente precisa enfrentar esses desafios da profissão, seja se

capacitando em cursos de formação continuada, no que se refere à assimilação das

competências do campo didático-pedagógico, seja na reflexão dos condicionantes

de sua docência, como os elementos do contexto dos estudantes, de planejamento,

de avalição, entre outros.

Entretanto, inferimos que em um aspecto problemático que surge do

depoimento de ML4 é que o participante exerce uma cisão entre o perfil de docente

que tem formação acadêmica e o professor tratado como leigo, cada vez mais difícil

de ser encontrado em atuação docente nos dias atuais.

Segundo MM5, a docência universitária é influenciada pela atuação do

professor na pesquisa da seguinte forma:

Possivelmente, não que os professores que pesquisam sejam melhores e os que não fazem piores, não colocaria nessa perspectiva. Eles podem ter um olhar diferenciado porque vão trazer a sua experiência da problematização dessas realidades e isso pode contribuir para, inclusive, estabelecer uma relação melhor entre a teoria e a prática.

Esse participante MM5 coloca que o fato dele ser pesquisador poderá

diferenciá-lo em sua prática, porque tende a trazer para a sala de aula a

problematização adquirida na formação em pesquisa, mas isso não constitui-se em

Page 132: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

132

uma regra para todos os professores. Isto porque existem profissionais que

desenvolvem sua ação docente apenas baseada na sua formação inicial de

graduação ou mesmo de pós-graduação e que não tem inserção em pesquisa

científica nos moldes acadêmicos no seu percurso de atuação, mas que são bons

professores, aspecto que diz observar no contato com os pares de trabalho na

universidade que atua e em outras instituições também.

Sendo assim, Tardif (2007) afirma que deve-se ter cuidado ao dizer que um

docente ensina bem, pois além da titulação obtida em pós-graduações e da

formação em pesquisa adquirida nesses espaços formativos, ser bom professor não

se resume apenas a ter competências cognitivas determinadas que o tornam um

docente qualificado.

Por outro lado, o que se deve considerar na questão do saber ensinar é que o

docente em qualquer nível se depara com um ambiente complexo e múltiplo que

exige dele um posicionamento cotidiano de abertura de espírito e reflexão inerentes

à atuação de sala de aula. Mais que isso, sua ação pedagógica é marcada

sobremaneira por normas de conduta ditadas, seja pela instituição universitária,

pelos pares de trabalho ou pelos estudantes, aspectos que estão em jogo no

processo de ensino e que o professor enfrenta em sua trajetória profissional.

Quando indagado sobre a relação entre a experiência em pesquisa e a

atuação na docência universitária, MJ6 apresenta um olhar que coaduna com a

forma de pensar de MM5:

Tenho colegas na universidade que não fizeram uma titulação de doutorado, nem de mestrado, no entanto são excelentes professores. A gente não pode ficar achando que a condição da titulação por si só torna alguém melhor professor. Torna diferenciado, porque para ser um bom professor, ser educador, não basta a titulação, ser pesquisador, pois pode existir excelentes pesquisadores que não são bons professores. Certamente vamos ter casos em que são excelentes pesquisadores e excelentes professores, mas vamos ter excelentes pesquisadores e professores medíocres (MJ6).

Segundo o participante MJ6, existe na universidade algumas noções que

devem ser levadas em consideração na discussão proposta. Por um lado, existem

professores que não galgaram titulação de mestrado ou doutorado e são bons

docentes. E por outro, há pesquisadores que produzem bastante, publicam em

revistas renomadas, escrevem livros, artigos, mas na sua atuação de sala de aula

não conseguem articular essa formação e experiência em pesquisa com a dinâmica

Page 133: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

133

do ensino, têm dificuldades para dar conta da melhoria da aprendizagem dos

estudantes.

Essa questão é discutida por Freire (2007) quando nos alerta que para

ensinar são necessários outros conhecimentos que não apenas aqueles

relacionados ao domínio do saber sistematizado. Para desenvolver um bom trabalho

em sala de aula, são necessários, também, outros elementos, a exemplo do

entendimento de que não existe docência sem discência. Portanto, ensinar não

significa transferir conhecimento e o processo de ensino constitui-se em uma

especificidade humana, saberes estes que são adquiridos na experiência docente de

sala de aula, mas que são importantes para o docente, além de saber coletar,

produzir e divulgar dados, frutos de processo de pesquisa.

MW7 aborda a relação da docência universitária com a pesquisa da seguinte

maneira:

Notei que enquanto aluno do mestrado tive professores em que se via claramente a atuação como pesquisador. Minha orientadora é uma grande pesquisadora e isso me motivou muito a percorrer aquele espaço. E eu pude perceber que sem ser pesquisador não tenho condições de ter um desempenho eficaz no nível da pós-graduação [grifo nosso].

No dizer desse depoente, quando foi estudante de mestrado observava e

percebia quais professores eram também pesquisadores pela postura diferenciada

que apresentavam no momento das aulas. No caso específico da professora que lhe

orientou, a experiência em pesquisa dela o motivou a ser também pesquisador, por

causa do exemplo que lhe proporcionava em orientações, pela demonstração

cotidiana da competência em pesquisar.

Com efeito, MW7 defende que a pesquisa de fato é o que autoriza o docente

a ensinar bem no âmbito da pós-graduação, entretanto, divulga uma crença

exagerada na capacidade investigativa e não menciona a necessidade de

conhecimentos pedagógicos por parte do professor. Assim sendo, a pesquisa

articulada à docência não é mencionada, pois, o depoente afirma mais uma vez uma

ênfase na pesquisa.

Outra inferência possível de ser realizada do depoimento se refere à maneira

do depoente se reportar à sua atuação quando diz que tem que apresentar um

desempenho eficaz no mestrado, termos que podem estar relacionados à noção de

Page 134: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

134

formação centrada na racionalidade técnica e que o sistema político-econômico

neoliberal se utiliza para divulgar os valores pregados por esse modelo.

Isso nos faz pensar nos outros saberes, competências ou qualidades que

deve ter um professor de nível de pós-graduação, assim como qualquer outro

docente. Esses saberes, as fontes sociais de aquisição e os modos de integração no

trabalho docente, segundo Tardif (2007) são: os pessoais, advindos da formação

familiar, da vida; os provenientes da formação escolar anterior, da escola primária,

entre outros; os adquiridos da formação profissional para o magistério, os cursos de

formação de professores, estágios, etc.; os obtidos através dos programas, livros

didáticos, cadernos, fichas; e os saberes oriundos de sua própria experiência na

profissão, a prática de sala de aula, por exemplo.

Em uma outra passagem de sua entrevista, MR8 assevera:

A importância da pesquisa em sala de aula é justamente habilitar o professor a repensar sobre a questão da produção do conhecimento. É muito mais fácil a gente trabalhar com os alunos e colocar os problemas, as dificuldades metodológicas e teóricas que a gente enfrenta para fazer esse conhecimento quando a gente realiza pesquisa do que quando não realiza.

Essa fala de MR8 revela que a pesquisa ajuda o professor a repensar sobre

os modos de produzir os conhecimentos e, também, a perceber os meandros que

estão por trás da produção desse conhecimento científico. Assim, segundo o

depoimento, o professor que pesquisa tem mais facilidade em realizar o trabalho de

sala de aula, porque a investigação contribui para o enfrentamento das dificuldades

do campo teórico-metodológico da produção do conhecimento científico.

Nesse sentido, Moraes (2004) considera que para o professor assumir a

pesquisa como princípio científico e educativo no contexto da sala de aula é

importante que esse processo possa suscitar dúvidas, a fim de que seja possível

produzir conhecimentos e práticas que tenham como objetivo a apreensão, a

construção e o acompanhamento da evolução do processo de ensino e

aprendizagem no âmbito da universidade, especialmente em cursos de pós-

graduação e não somente produzir conhecimentos desconectados da realidade

social que o rodeia.

MR8 trata, assim, de forma enfática a pesquisa e fala de sua inserção na sala

de aula, mas com um teor de produto para a fundamentação teórica dos temas de

investigação dos mestrandos e, geralmente, mais uma vez, os outros saberes da

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135

docência são negligenciados, a exemplo dos saberes pedagógicos, dos conteúdos e

da experiência, que são, também, importantes para os estudantes em processo de

formação de mestres aprenderem a serem professores.

Segundo o depoimento de MM9, a pesquisa influencia a docência de

professores de cursos de mestrado, como pode ser observado a seguir:

Uma das exigências para ser pesquisador é estar atualizado para fazer uma discussão melhor sobre o trabalho que está fazendo, senão pode correr o risco de fazer uma pesquisa igual. Tenho mais condições, não quer dizer que vou dar uma aula melhor, talvez o professor que só ensina vai falar de uma forma espetacular pela experiência. A gente encontra professores que têm muita experiência antes de entrar para a universidade, agora na pesquisa tenho mais elementos para trabalhar.

Na concepção de MM9 o docente que pesquisa se atualiza e traz a

investigação para a sala de aula através dos diferentes produtos científicos e tem

conhecimentos teóricos para ensinar aos estudantes. Entretanto, o depoimento

revela que na sua trajetória observou que o professor dedicado ao ensino, que pode

ser visto na escola básica ou, ainda, na graduação, tem mais experiência em

docência do que o professor pesquisador, ideia equivocada de MM9, pois, no âmbito

da pós-graduação, na universidade, não há como existir um professor que apenas

desenvolve ações de ensino, pois, para ser docente de mestrado e doutorado o

profissional deve ser pesquisador, é uma condição essencial.

É claro que não dá para afirmar que o docente que pesquisa exerce uma

melhor docência, pois, isso não é uma garantia que o faça, depende de outros

fatores que concorrem para embasar essa reflexão, como, por exemplo, as questões

relacionadas aos saberes didático-pedagógicos que são também importantes, tais

como aqueles conhecimentos obtidos com a formação em pesquisa. Ressalta-se

que esses saberes de ordem pedagógica são necessários ao professor de ensino

superior e não só ao professor de escola básica.

Uma questão a ser ressaltada é que o depoente não sinaliza que, para além

da formação em pesquisa, existem outros saberes, segundo Tardif (2007), que

compõem e concorrem para uma boa prática de ensino; saberes aos quais já

fizemos referência neste trabalho.

Observamos, a partir dos depoimentos, que apesar dos entrevistados falarem

da importância da pesquisa para a prática docente em nível de pós-graduação, eles

ressaltam tanto a investigação que esquecem-se de que abordar a importância que

Page 136: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

136

os elementos constituintes do ensino apresentam para a dinâmica do trabalho

pedagógico do docente no âmbito da pedagogia universitária, o que nos faz pensar

na posição de descaso que tem sofrido as funções de ensino nos dias atuais,

sobretudo nos cursos de pós-graduação stricto sensu.

4.2.4 Funções da pesquisa para a prática docente de mestrados da UEFS

Esta seção trata das funções da pesquisa para a prática educativa em nível

de pós-graduação, especificamente para o mestrado acadêmico. Para tanto,

relatamos as falas dos nove docentes de cursos de mestrados da grande área das

Ciências Humanas da UEFS, que concederam suas respostas no momento das

entrevistas, realizadas para o estudo ora apresentado. Sobre esse aspecto MI1

revela que

O mestrado pensa em afunilar no sentido de levar mais a fundo as pesquisas, essa intervenção de conhecimento na realidade em um nível mais elaborado. Uma das dificuldades que os mestrados têm é esse enfoque na pesquisa e não pensar na sua articulação com o ensino, formar professores para pesquisa e atuar na docência. A gente ainda tem muito essa visão mais bacharelesca do pesquisador que vai atuar em pesquisa como era com as fundações que você atuava como pesquisador.

Pelo depoimento podemos inferir que o professor entende a pesquisa como o

meio/instrumento que visa à produção de conhecimentos, sendo um dos objetivos

do mestrado acadêmico formar pesquisadores com um enfoque de aprofundamento

dos temas de estudo dos mestrandos. Por outro lado, esses cursos têm apresentado

uma problemática atualmente que se refere à questão de dicotomizar ensino e

pesquisa, contribuindo para gerar uma visão de que existem espaços específicos

para ambas atividades na universidade, a graduação o espaço do ensino e a pós-

graduação o local da pesquisa.

Depreende-se do exposto, que esse formato de mestrado com ênfase no

processo de pesquisar pode provocar uma crise na profissionalização docente no

ensino superior, pois, esses cursos formam o pesquisador, mas, ao fim do processo

formativo, esses diplomados mestres atuam eminentemente no ensino, na docência

universitária ou na escola básica, sem os conhecimentos da ciência pedagógica,

necessários a sua inserção nos contextos da sala de aula.

Page 137: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

137

Uma questão a ser ressaltada nesse debate é que existem duas facetas de

docentes no ensino superior que apresentam características diferenciadas, definem

papéis sociais distintos e convivem no âmbito acadêmico atual. A primeira refere-se

ao perfil de sujeito produtor de ciência e que cultiva a erudição, os pesquisadores. Já

a segunda trata daquele perfil de docente que se aproxima do professor secundário,

isto é, da educação básica. Esta dicotomia entre pesquisador e docente, de alguma

forma, tende a impossibilitar mudanças na profissão docente universitária na

atualidade, além de outros aspectos que corroboram para essa desqualificação da

profissão (CUNHA, 2007).

Sendo a pesquisa um elemento importante de um curso de pós-graduação,

vejamos o que outro depoente do estudo relata:

Como atividade sistemática que é a pesquisa, sua função é subsidiar e fundamentar novos trabalhos que vão ser realizados. O papel da pesquisa é no sentido de guiar, dando alicerces para você publicar, dar conta do seu objeto de estudo. Quando você entra para fazer pesquisa sobre determinado tema você entra em uma determinada comunidade e precisa ver nela o que é legítimo, o que pode fazer nela, o que ela tem produzido ou não, há normas específicas em relação a isso (MA2).

Esse depoente afirma que a pesquisa consiste em um guia teórico que tem

como função fundamentar novos trabalhos no campo da produção de conhecimento.

Seu papel essencial em nível de mestrado é orientar o processo de reflexão,

investigação e produção do conhecimento científico, para dar conta de um objeto de

estudo.

Para realizar a investigação, é preciso inicialmente fazer um levantamento

bibliográfico sobre o tema de interesse, verificando o que a comunidade acadêmica

já tem produzido sobre o tema de estudo a que se refere o trabalho. Esse tipo de

pesquisa tem como característica principal o trabalho com fontes, a exemplo das

escritas ou imagéticas, ao invés de trabalhar com os sujeitos em campo. Além disso,

consiste em uma das fases de qualquer trabalho acadêmico que se dá através do

levantamento das produções que já foram realizadas sobre determinada temática.

Entretanto, pode haver pesquisas que se utilizam eminentemente de bibliografias

para explicar determinado objeto, desde que deem conta do problema estudado.

Segundo Gil (2008), a principal vantagem da pesquisa bibliográfica está na

amplitude permitida por este tipo de investigação, podendo fazer com que o

pesquisador visualize e mapeie uma situação ampla sobre um dado objeto e é

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138

importante, sobretudo para o campo das pesquisas históricas que trabalham com

documentos escritos.

Contudo, nesse depoimento de MA2 as funções da pesquisa para sua prática

educativa no mestrado em que atua, consiste em fomentar a formação do

pesquisador e não contribuir para o processo de reflexão sobre o ensino e seus

elementos constituintes, a exemplo dos saberes didático-pedagógicos e das

questões relacionadas à organização do trabalho pedagógico. Assim, MA2 enfatiza

os elementos científicos em desarticulação com os aspectos da docência.

Ainda sobre a categoria que estamos estudando, um certo depoente de nossa

investigação afirma que:

A função do mestrado é formar novos questionadores. Minha função aqui é questionar, provocar para que você vá buscar novas respostas para situações do cotidiano, da sociedade, da política, da economia, que aparentemente estão corretas. Essas respostas devem ter relevância social, cultural, política, econômica, porque é com a pesquisa que o país cresce, avança, que você consegue não ser dominado por outros poderes, consegue ser político, lutar pelos direitos, incentivar o outro a buscar seus caminhos, outras respostas (MG3).

Sendo assim, a partir do que foi exposto por MG3, podemos dizer que

algumas das funções do mestrado são as seguintes: formar novos questionadores,

novos pesquisadores e preparar sujeitos para atuação com competência política,

ética e cultural nas diversas áreas do conhecimento. Além disso, a pós-graduação

tem sido o espaço privilegiado para a prática da pesquisa, sendo que esta visa a

transformação dos sujeitos nela envolvidos, a partir da(s) concepção(ões) teórico-

metodológica(s) sobre a(s) qual(is) se trabalha nessa função da universidade.

De acordo com Cunha (2007), a pesquisa constitui-se em uma das maneiras

de subsidiar a transformação das práticas pedagógicas pautadas no modelo da

racionalidade técnica, paradigma positivista, através da análise das experiências dos

docentes considerando o contexto sócio-político onde ocorre a ação educativa.

Assim, privilegiam-se os locais em que se dão a prática e a maneira com as quais os

docentes constroem seus saberes na dinâmica cotidiana de reflexão e atuação da

docência universitária.

Não obstante, inferimos que o processo de pesquisa é mais complexo do que

somente dar respostas à sociedade sobre questões em aberto no campo científico

de cada área do conhecimento. Constitui-se, por outo lado, em um saber que requer

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139

processos teóricos e metodológicos sobre o objeto em questão, bem como o trato

dos dados coletados e produzidos, através da realização da investigação, isto

quando se trata de pesquisas que envolvem seres humanos.

Ora, se o mestrado acadêmico deve formar novos pesquisadores, vejamos

como deve ser a noção de pesquisa para esse nível de ensino, conforme afirma

ML4:

A pesquisa da pós-graduação tem um aspecto restritivo e problemático que é o aluno se fechar para a sua pesquisa, a partir daquele projeto, do que o orientador acordou com ele, define um método, um objeto e só conhece aquele percurso. Mas, pesquisa não se restringe a isso, é importante no percurso da formação do professor e do pesquisador ele participar de grupos de pesquisa, transitar, ver projetos e métodos de outras pessoas.

Segundo ML4, o mestrado acadêmico tem como função, por exemplo,

capacitar o estudante no grau específico e formar o pesquisador universitário.

Defende, ainda, que a pesquisa não deve ser fechada no plano de trabalho

individual do mestrando, deve ser dialogada, partilhada com os pares de trabalho ou

em outras instituições, a exemplo dos grupos de pesquisa.

Entretanto, podemos dizer que o depoente ML4 chama atenção para uma

questão importante no processo de discussão sobre a docência universitária, que é

o fato da pós-graduação fomentar tanto a formação em pesquisa que os mestrandos

podem virem a se fecharem no desenvolvimento do seu trabalho, por conta, por

exemplo, do tempo de duração do curso.

Por outro lado, Demo (1997) esclarece que a concepção de pesquisa não se

refere aquela realizada apenas isoladamente em um local onde o pesquisador se

concentra nas questões relativas ao seu estudo. Ela constitui-se em um saber

baseado em um processo de reflexão e problematização de aspectos que

verificamos como complexos e dignos de aprofundamento teórico no tecido social. A

investigação deve fazer parte da ação do docente universitário, para que possa

romper com o modelo de educação tradicional, compreender a dinâmica da

informação, para que os sujeitos possam se emancipar e, sobretudo, constituírem-se

em atores conscientes do compromisso e da complexidade da ação docente.

Todavia, percebemos no depoimento de ML4 que novamente um dos

entrevistados de nosso estudo dá uma ênfase acentuada à investigação e uma

acaba por tratar a docência como menor, o que nos leva a pensar que o depoente

acredita que a formação de pesquisador é mais importante que a de ser professor

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140

no âmbito de cursos de mestrado, dado que está de acordo com o que tem

priorizado os documentos dos Planos Nacionais de Pós-Graduação, desde o seu

surgimento na década de 1975, até os dias atuais.

Ainda sobre as funções da pesquisa para a prática pedagógica de docentes

de mestrados da UEFS, vejamos o depoimento a seguir:

A pesquisa tem uma função que é contribuir para que o estudante do mestrado afine seu olhar, comece a pensar mais sobre o problema, analisar melhor, aprofundar alguns conteúdos teóricos que não conseguiu fazer na graduação. No mestrado, você poder fazer reflexões e diálogos com a teoria, coisa que a gente não consegue fazer na graduação, porque não tem o amadurecimento para esse diálogo, mas o mestrado deveria ter essa função, só que é tão rápido que não está dando conta dessa reflexão e desse diálogo com os autores (MM5).

A fala do docente MM5 se refere às funções da pesquisa para o nível de

mestrado que correspondem à contribuição desse momento formativo para o

estudante afinar seu olhar, pensar melhor sobre seu problema de pesquisa, analisar

e aprofundar conteúdos, sendo, pois, uma das funções do mestrado formar

professores competentes para atuação na universidade. Porém, depreende-se da

fala que o problema da pós-graduação stricto sensu se refere ao tempo de sua

duração, que não é suficiente para realizar uma pesquisa de dissertação com o rigor

e a profundidade necessários à formação nesse nível, a exemplo do debate teórico-

metodológico com os autores e com os demais colegas de turma.

Segundo Demo (1998), o processo de educação pela pesquisa requer,

sobretudo que o docente que vai gerir o trabalho de sala de aula seja um

pesquisador, exerça a prática da investigação através de princípios científicos e

educativos em sua ação cotidiana. Além disso, exige a promoção da pesquisa na

dinâmica de aprendizagem do estudante que, ao contrário do que acontecia na

educação tradicional, na qual o discente era visto como uma tábula rasa, perpassa

nesse enfoque por considerá-lo como um parceiro de trabalho.

Contudo, sinalizamos que o depoente MM5 se refere apenas a passos do

processo de pesquisa na sua docência no mestrado e em momento nenhum de sua

fala articula esses princípios investigativos com algum aspecto do ensino, nem

mesmo admite refletir sobre algo que esteja relacionado à dimensão da prática

educativa para os estudantes, que correm o risco de saírem para ensinar em

Page 141: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

141

qualquer curso de formação em qualquer nível de ensino, porém, sem os

conhecimentos didático-pedagógicos relativos à sua profissão.

Quando indagado sobre o tipo de pesquisa que tem sido desenvolvida em

cursos de mestrado e como configura-se a pós-graduação atualmente, MJ6 destaca:

A pós-graduação está de tal forma encadeada, que o aluno do mestrado pensa o curso praticamente em função do que vai fazer no doutorado, como um encadeamento natural. Infelizmente, isso pode fazer com que o mestrado seja apenas um ato preparatório para o doutorado. Quando essa vinculação não era imediata, o curso exigia uma capacidade de pesquisa maior, mas o mestrado exige um nível de pesquisa, capacidade de investigação, identificação de um problema e a busca da resolução que é inerente a atividade de pesquisa.

Percebe-se na fala de MJ6 que o sistema de pós-graduação brasileiro atual

carece de maior reflexão por parte dos pesquisadores, pois, os cursos de mestrado

têm se tornado cada vez mais uma espécie de preparação no campo da pesquisa,

dos estudantes para a realização do doutorado. Mas, mesmo assim, há que se

considerar que o mestrado exige do estudante uma capacidade de pesquisar, de

construção de objeto de estudo, de recorte de um problema a ser investigado e de

produção de conhecimento diferenciadas, por exemplo, da graduação. O depoente

ressalta que tempos atrás, quando essa vinculação do mestrado com o doutorado

não era tão forte, o processo de pesquisa do curso de mestrado era diferenciado,

exigia-se um nível de aprofundamento e reflexão maiores.

Percebemos que as proposições elencadas por MJ6 corroboram a ideia

descrita no documento do IV Plano Nacional de Pós-Graduação (IV PLANO, 2005-

2010), que afirma que o sistema de pós-graduação necessitaria de uma investigação

da qualidade de sua produção científica e tecnológica, da quantidade de professores

doutores que saíram da iniciação científica diretamente para o doutorado, a sua

integração com o setor econômico, para preparação de mão de obra qualificada a

serviço das grandes empresas, através dos cursos de mestrado e doutorado

(BRASIL, 2010).

Porém, defendemos que, tanto a perspectiva abordada por MJ6, quanto a

noção posta no texto do IV PNPG sobre a ênfase na dimensão da pesquisa no

processo de formação dos mestrandos são problemáticas, posto que, isto pode

contribuir para continuar difundindo um modelo de pós-graduação centrado na

importância da qualificação científica dos docentes como basilar para a atuação no

Page 142: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

142

ensino superior e uma descaracterização da docência como elemento que, também,

é integrante da profissão docente.

Segundo MW7,

O papel da pesquisa deveria ser possibilitar a própria universidade tomar novos rumos de conhecimento, de toda sua estrutura e dar novos passos para a mudança, mas ainda está muito distante disso. A pesquisa ainda não está conseguindo atingir a comunidade ou o professor, no sentido de que reflita sobre o próprio ser da universidade.

Para o depoente, o papel da pesquisa consiste em possibilitar à universidade

a tomada de novos rumos, a buscar subsídios pare se transformar em uma

instituição de qualidade acadêmica quando da realização de suas metas e funções,

a exemplo da consolidação do tripé que a sustenta: ensino-pesquisa-extensão.

Corroborando com MW7, amparados em Demo (1998), defendemos que a pesquisa

do docente tem como finalidade o conhecimento da realidade para transformá-la,

visando a melhoria de sua prática pedagógica e de seus colegas de profissão.

Assim, o objetivo da investigação defendido por este profissional deveria apresentar

funcionalidade, pois os resultados obtidos podem ser usados, também na sala de

aula.

Porém, inferimos que a noção do papel da pesquisa divulgada por MW7 é

reducionista, pois, a investigação não tem como objetivo somente proporcionar o

conhecimento das situações problemáticas da universidade, mais que isso, o

processo investigativo tem como função contribuir para a mudança do papel do

professor e para o entendimento de questões da sociedade, dentre outras funções.

No bojo dessa discussão, defendemos que a pesquisa desenvolvida no

âmbito da pós-graduação, denominada científica ou acadêmica, apresenta

características, princípios e modos de ação diferentes de outras noções de

investigação para o campo da metodologia. Assim sendo, vejamos que elementos

da pesquisa acadêmica outro participante de nosso estudo referencia como

necessários para o seu desenvolvimento nas atividades de sala de aula em cursos

de mestrado:

A pesquisa acadêmico-científica permite um perfil mais preciso para a universidade, para que atinja níveis de excelência, alcance um poder de difusão da sua produção mais acentuado e se torne mais referenciada do ponto de vista social, no sentido de universal, que está associado ao nome universidade. É fundamental para consolidar uma instituição, transmitir conhecimento é importantíssimo, mas a gente precisa de fato pesquisar. Tem muitas instituições voltadas

Page 143: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

143

para pesquisa que acabam fechadas em si mesmas por não terem a dimensão da difusão, seja através do ensino, seja através da extensão. Então a pesquisa faz parte desse tripé ensino-pesquisa-extensão da universidade (MR8).

Segundo MR8, a pesquisa pode possibilitar à universidade a construção de

um perfil mais preciso, atingindo níveis de excelência acadêmico-científica,

buscando afirmar seu status social de instituição reconhecida e sustentada na

integração da graduação, da pós-graduação e da extensão, para que, assim, ela

possa melhorar sua capacidade de produção de conhecimentos com base no

respaldo social. Além disso, a investigação no âmbito acadêmico tem como objetivo

sustentar o nome da universidade garantindo-lhe reconhecimento, sobretudo social

e diferenciá-la das faculdades isoladas que não têm a exigência da realização do

ensino, da pesquisa e da extensão de maneira indissociada na sua prática,

dimensões que se referem à produção e difusão desse conhecimento à sociedade.

Em conformidade com o que diz MR8 e de acordo com os escritos de

Castanho (2000), afirmamos que o modelo de universidade que tende a atender às

transformações do século XXI é aquele que apresenta como funções educar

profissionalmente os sujeitos e formá-los para a participação ativa na sociedade.

Tais aspectos não prescindem de ética, autonomia, responsabilidade social e a

realização de pesquisas, no intuito de promover, gerar e difundir o conhecimento

para os diversos setores da sociedade civil.

Todavia, podemos dizer que o depoente MR8 aborda uma crença acentuada

à dimensão da pesquisa na universidade, como se esta instituição somente tivesse o

papel de produção de conhecimentos e não se constituísse de outras funções em

seu âmbito de ação, a exemplo do ensino e da extensão, responsáveis,

respectivamente, pela formação de profissionais nas diversas áreas do saber e pela

difusão das ações desenvolvidas pela universidade para outras instâncias.

Em relação à inserção da pesquisa científica na prática pedagógica de

mestrados acadêmicos um dos depoentes desse estudo afirma que:

Primeiramente tenho o compromisso da divulgação desse conhecimento produzido com a pesquisa para a sociedade porque sou professor dessa universidade. E por sua função social, mas pela pesquisa ser financiada, dobra a prestação de contas com a sociedade, no sentido de fazer com que esse conhecimento produzido possa ser divulgado e ampliado. É uma parcela pequena da sociedade que frequenta a universidade e tenho o compromisso de levar para outros espaços onde a população, inclusive da classe popular, tenha acesso (MM9).

Page 144: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

144

A partir desse depoimento de MM9, afirmamos que a investigação no âmbito

da universidade ajuda na divulgação dos resultados das pesquisas feitas pelos

sujeitos pesquisadores através da extensão em locais públicos, para que a

comunidade externa possa ter acesso ao que é produzido nessa instituição. Essa

divulgação é uma necessidade da universidade, pois, é um dos aspectos que a

diferenciam de instituições que não têm o objetivo de socializar os conhecimentos

produzidos através da pesquisa.

Essas funções da universidade apontadas pelo depoente MM9 corroboram o

dito por Pimenta (2005), quando fala sobre a constituição e o papel do professor

pesquisador no âmbito da universidade. Esse sujeito, além de desenvolver a prática

da pesquisa, necessita de outras competências no enfrentamento dos desafios

cotidianos de seu trabalho docente, especialmente em nível de mestrado.

Esses desafios referem-se ao conhecimento sobre sua identidade, ao

exercício do diálogo com outras perspectivas de produção de conhecimento que não

só a sua, ao papel de busca por novas formas de realização da pesquisa e de

socialização de seus resultados, bem como ao exercício de uma postura dinâmica e

reflexiva no processo de aprendizagem do ser pesquisador.

Contudo, percebemos uma espécie de desvio do depoente MM9 em relação à

pergunta que lhe foi feita na entrevista: quais as funções da pesquisa para a prática

de cursos de mestrados da UEFS? Sendo assim, MM9 reflete mais sobre o papel

geral da universidade e não se posiciona claramente sobre as funções da

investigação para sua prática docente.

Diante do exposto, nesta parte do capítulo de análise dos dados, foi possível

perceber que a relação entre o ensino e a pesquisa constitui-se em uma temática

que necessita de estudos e reflexões aprofundadas, principalmente quando se

pretende desenvolver uma prática educativa de qualidade científica e educacional no

âmbito de cursos mestrados da UEFS. Desta maneira, admitir a pesquisa como

estratégia pedagógica que favorece a aprendizagem no ensino superior constitui-se

em um desafio a ser enfrentado pelos profissionais da educação, pesquisadores e

docentes, a fim de que seja possível buscar elementos para propor alterações no

processo de formação da pós-graduação, que se encontra centrada eminentemente

na dinâmica da pesquisa, colocando o ensino e seus elementos constituintes em

uma posição secundária ou até mesmo desnecessária.

Page 145: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

145

4.3 PROFESSOR PESQUISADOR: IDENTIDADE, PAPEL E COMPETÊNCIA

Tratar a respeito do professor pesquisador, de sua identidade profissional, de

seu papel na dinâmica educativa e das competências/qualidades necessárias para

atuação em nível de pós-graduação, tendo como base os depoimentos dos sujeitos

que foram entrevistados para a realização deste estudo, constituem-se nos objetivos

desta parte do capítulo três.

4.3.1 Influência do mestrado para construção de identidade de docentes

universitários

Pensar na influência da formação em nível de mestrado, em outros termos, na

qualificação do ser pesquisador e sua contribuição para a construção da identidade

docente em nível superior constituiu-se na questão construída no processo de

pesquisa que gerou a seguinte categoria: de que forma a prática da pesquisa pode

colaborar para a melhoria da docência universitária nesse nível de ensino? Na

perspectiva de buscarmos respostas à indagação, vejamos o que MI1 afirma em seu

posicionamento:

Tem colegas que acham que devem atuar no mestrado e ser liberado da graduação, porque não vai perder tempo se é pesquisador. Então, para graduação é quem está começando e para pós-graduação quem é pesquisador, são dois espaços desvinculados? É uma visão elitista, separatista e sem responsabilidade social. Deveria ser uma disciplina na graduação ou na pós, porque temos que dar aula nos dois, escrever textos para congressos e para as coletas da CAPES.

Depreende-se do que foi dito por MI1 que há necessidade na universidade, no

âmbito da pós-graduação, do professor ser pesquisador, há também, uma dicotomia

entre a pesquisa centrada na pós-graduação e o ensino vinculado à graduação.

Essa problemática tende a gerar um descaso em relação à dimensão do ensinar e

uma supervalorização da formação em pesquisa.

Além disso, o participante chama a atenção para alguns elementos que têm

contribuído para um processo de desprofissionalização da docência como profissão,

do ser professor, quando MI1 menciona que ouviu de colegas na universidade que

ao se tornarem pesquisadores não querem dar aulas na graduação. Isso pode

ajudar na construção de uma identidade, de certa forma, deturpada, na qual o

pesquisador passa a ser uma figura mais importante do que o professor em uma

Page 146: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

146

instituição de ensino, na qual há um predomínio da formação de quadros

profissionais para a atuação nos diversos setores da sociedade.

Com base nas ideias de MI1, apoiados no pensamento de Cunha (2007),

entendemos que algumas das Instituições de Fomento à Pesquisa, a exemplo da

CAPES, que ditam as questões sobre a carreira docente, exigem o acúmulo de um

capital cultural (BOURDIEU, 2007), através de cursos de pós-graduação stricto

sensu que se apresentam como formações que dão ênfase à pesquisa em

detrimento dos saberes específicos da docência. Essa lógica ajuda a construir uma

imagem dos docentes do ensino superior como pesquisadores, o que colabora para

a desqualificação das atividades de ensino em nível de graduação nas

universidades.

Seguindo a lógica da construção da identidade do professor de pós-

graduação, baseada nas funções da universidade, MA2 diz o seguinte:

[...] Eu vejo a construção da identidade como um processo contínuo que está ligado as várias formas desse professor participar dando aula, fazendo atividades extensionistas e pesquisar. E essas formas de participar no ensino, na pesquisa e na extensão vão construindo sua identidade, ao tempo em que está nessas instâncias produzindo textos.

Verifica-se através da fala de MA2 que a identidade constitui-se num

processo de construção contínuo, ligado à participação do professor na efetivação

do tripé ensino-pesquisa-extensão em sua prática docente. Sendo assim, observa-

se que na perspectiva de MA2 a identidade docente universitária tem relação com as

ações universitárias de ensinar, pesquisar e realizar práticas extensionistas, sendo

esses elementos partes importantes da docência universitária de qualidade.

Com efeito, sobre a construção da identidade dos docentes do ensino

superior, Pimenta (2005, p. 76) afirma que

A construção da identidade dos docentes do ensino superior parte da consideração do ensino e da pesquisa, enquanto atividades inerentes à atividade docente nesse grau de ensino. Para explicitar essa tendência de valorização da pesquisa no processo de ensinar, é necessário retomar seus pressupostos no que se refere à concepção de ensino e de docente: o ensino, fenômeno complexo, enquanto prática social realizada por e entre seres humanos é modificado pela ação e relação desses sujeitos que por sua vez são modificados nesse processo.

De acordo com a ideia dessa autora, a construção da identidade dos

docentes do ensino superior está intimamente relacionada à atividade de pesquisa,

Page 147: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

147

prática que caracteriza um docente universitário nesse nível de ensino, ou seja, a

práxis pedagógica do docente que ensina numa universidade, justifica-se pelo

desenvolvimento de atividades de ensino de maneira indissociada das práticas de

pesquisa. Dessa maneira, tal prática revela uma tendência social que admite a

complexidade da docência, atividade que é passível de mudanças, pois se realiza

por seres humanos em transformação.

Segundo Gatti (1996 apud BRZEZINSKI, 2002, p. 9);

A identidade do docente é fruto de interações sociais complexas nas sociedades contemporâneas e expressão sociopsicológica que interage nas aprendizagens, nas formas cognitivas, nas ações dos seres humanos. Ela define um modo de ser no mundo, num dado momento, numa dada cultura, numa história.

Depreende-se da citação que os aspectos psicológicos e sociológicos se

fazem presentes na construção das identidades individuais e/ou coletivas e juntos

contribuem para a configuração da maneira de ser dos seres humanos no mundo.

Sendo assim, as possibilidades de investigação das identidades docentes são

múltiplas dada a variedade das condições de formação e atuação profissional

desses sujeitos, a diversidade de artefatos culturais e discursivos envolvidos na

produção dessas identidades e a complexidade dos fatores que interagem nos

processos de identificação dos docentes com o seu trabalho.

A partir do dito por MA2 e de acordo com Pimenta (2005), podemos dizer,

portanto, que o processo de construção da identidade dos docentes do ensino

superior é complexo e leva em consideração a pesquisa e o ensino na prática

desses professores. Entretanto, essa concepção de articulação entre essas duas

funções requer o entendimento de que o ensino constitui-se em um fenômeno

complexo, baseado em uma ação que ocorre socialmente entre seres humanos em

uma dinâmica de transformação, tanto da ação educativa desses sujeitos quanto de

sua identidade. Contudo, o docente MA2 não exemplifica como faz para exercer as

atividades de ensino, pesquisa e extensão em sua atividade no âmbito da

universidade, o que ele fala apenas é que essas funções constituem a identidade de

docentes de ensino superior.

Vejamos o que o depoimento de MG3 aborda sobre a influência da formação

em nível de mestrado para a construção de identidade de professores universitários:

Não é o programa o responsável por estimular pesquisa, por formar professores, é a postura de cada professor porque pode ter um professor pesquisador que gosta de fazer pesquisa individualmente.

Page 148: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

148

Eu gosto de trabalhar em grupo porque acredito que cada um falando a gente consegue avançar e dar resultados para a sociedade. Depende da coordenação: se cumpre apenas tarefas burocráticas, acredito que não, mas se provoca os alunos, divulga eventos, provoca o professor para escrever com seus orientandos, a participar de projetos, acredito que ajude. O programa tem que ter um grupo de professores que gosta de pesquisa, não apenas para ter pontos no seu Currículo Lattes e ter status.

Quando indagado sobre a influência do mestrado para construção da

identidade de professores de ensino superior, o participante MG3 diz que a pós-

graduação contribui mais para a formação dos professores através de um interesse

mais pessoal dos próprios sujeitos e por parte da coordenação do curso, pois, se

esses professores são pesquisadores por convicção, isso acontece, mas se os

docentes do programa de pós-graduação não estiverem envolvidos com a pesquisa,

são pesquisadores apenas pelo status que a atividade lhe confere, o que não

contribui para efetivação da identificação com a profissão. Outra ideia apresentada

no comentário é que a postura do professor e do programa influenciam o estudante

a seguir na prática da pesquisa profissionalmente.

Um aspecto a ser considerado nessa discussão é que o III Plano Nacional de

Pós-Graduação – III PNPG (1986-1989) baseou-se no ideal de autonomia. Nesse

contexto, o referido plano buscava a preparação de cientistas para proporcionar o

desenvolvimento tecnológico e científico da nação brasileira. Assim, enfatizou-se

nesse documento o desenvolvimento da pesquisa pela universidade e a integração

entre a pós-graduação, a ciência e a tecnologia para que esse ideal fosse atingido,

contribuindo para a articulação das atividades de pesquisa com a pós-graduação, o

que ainda é objetivo dos Planos mais recentes (BRASIL, 2010).

Porém, o depoente MG3 aborda uma noção de que sua identidade

profissional está ligada essencialmente à prática da pesquisa e não articula essa

função à dinâmica do ensino na pós-graduação, o que, mais uma vez, denota o

modelo de formação dos cursos de mestrado essencialmente baseado na prática

científica, ao passo que desconsidera os elementos do ensino, tais como a relação

docente-estudante, os aspectos do currículo e da política educacional, dentre outros,

que são tão importantes quanto os saberes obtidos na pesquisa para a atuação do

docente universitário nos dias atuais.

Page 149: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

149

Levando em consideração que a postura do professor e do programa de pós-

graduação concorrem para a construção da identidade docente no ensino superior,

resgatamos a fala de ML4:

Um professor que faz pós-graduação, volta diferente. Defendo que a gente vai ganhar uma identidade que pode transitar pelos territórios, pois estamos no paradigma da complexidade e temos que desenvolver a habilidade de conversar com os diferentes. A principal identidade do professor ou do pesquisador é que seja estudioso, tenha habilidades para lidar com a desconstrução e leve seus alunos a caminhar em direção à diversidade de valores, habilidades e teorias.

Sobre a influência da formação em mestrado para a construção da identidade

docente no ensino superior, ML4 opina que uma identidade fechada não é

interessante para a prática pedagógica atual. Ele defende a construção de um

processo identitário baseado na perspectiva do paradigma da complexidade, no qual

o diálogo, a diversidade e a habilidade de conversar e conviver com diferentes

visões que devem fazer parte do repertório do docente. Essa nova identidade

relatada pelo entrevistado estaria articulada a um perfil de professor estudioso,

desconstrutor de verdades estabelecidas, com habilidade para lidar com a incerteza

e a diversidade em sala de aula com os estudantes.

Diante dessa noção de uma identidade articulada ao paradigma da

complexidade exposta por ML4, amparados em Nóvoa (2000, p. 10), podemos dizer

que “ser docente obriga a opções constantes, que cruzam a nossa maneira de ser

com a nossa maneira de ensinar e que desvendam na nossa maneira de ensinar a

nossa maneira de ser”. Essa defesa de que a identidade apresenta uma noção de

construção e tem a ver com a profissionalização docente é defendida pelo docente

em seu depoimento.

Todavia, mesmo ML4 tratando de elementos de inovação no âmbito da

docência universitária, não menciona princípios relacionados ao ensino em sua

atuação docente, a exemplo dos saberes da Didática e das questões relacionadas

ao planejamento e de toda a organização do trabalho pedagógico.

A fala de MM5 aborda de uma outra forma a discussão sobre a identidade

profissional docente, como podemos observar:

A gente está um pouco distante disso, pois muitos alunos não têm perspectiva de ser professor do ensino superior, querem resolver um problema na sala de aula, mas não a pesquisa contribuindo para o fortalecimento do ensino superior. O mestrado acadêmico carece de amadurecimento no sentido de uma reflexão melhor sobre

Page 150: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

150

determinados temas e diálogo com os autores para não tomar a teoria como algo acabado, mas se debruçar sobre ela.

Conforme pode ser visto no depoimento de MM5, o mestrado acadêmico

proporciona um amadurecimento teórico na formação dos estudantes, a fim de que o

sujeito não enfatize apenas a teoria. Outro dado que surge do depoimento é que os

mestrandos não estão interessados em se tornarem docentes de ensino superior,

fazem o mestrado apenas para tentar solucionar questões de suas salas de aula,

possivelmente, na educação básica.

Contrastando com o dito por MM5, podemos fazer uma leitura de que os

pesquisadores formados por cursos de pós-graduação stricto sensu, nos quais a

pesquisa é intensamente abordada em detrimento do ensino ou de seus elementos

fundantes, ao finalizarem seus processos formativos podem vir a serem professores

nas diversas instituições de ensino superior, seja atuando na graduação, seja na

pós-graduação lato sensu ou stricto sensu. Mas isso não significa que todos os

mestres irão necessariamente atuar como docentes no nível superior, eles podem

apenas realizar o curso de mestrado com vistas à melhoria salarial e à progressão

na carreira de professor da educação básica.

Assim, inspirados nas contribuições de Pimenta (2005), queremos mostrar, a

partir da fala de MM5, que há um descompasso em relação à dinâmica atual do

Sistema Nacional de Pós-Graduação (SNPG) brasileiro, pois os profissionais

professores graduados nas diversas áreas de conhecimento adentram os cursos de

mestrado para se qualificarem e galgam status de pesquisadores acadêmicos,

porém muitas vezes sem um respaldo no processo de ensino-aprendizagem ou

mesmo sem ter adquirido experiências no campo da docência universitária. Isso

acaba por gerar uma crise identitária do docente de ensino superior, por exercer

uma função sobre a qual não refletiu em relação a seus aspectos fundantes.

Não obstante, o depoimento de MM5, também, enfatiza a pesquisa como

função básica de um curso de mestrado, ao passo que desconsidera os saberes da

docência, a exemplo dos experienciais, dos didáticos, dos conteúdos, dos sociais,

dos pessoais, entre outros, articulados à formação dos pesquisadores.

Quando indagamos aos participantes do estudo sobre a perspectiva de como

a formação em mestrado colabora para a construção da identidade de docentes de

ensino superior, MJ6 diz o seguinte:

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151

Quanto mais preparado o professor está, maiores são as possibilidades de desenvolver sua atividade, pois essa qualificação do professor tem sido a base para acesso ao ensino superior nas universidades públicas. Temos instituições e programas que vivem batalhando para que o nível mínimo desse acesso seja o doutorado e certamente nessa fórmula o mestrado vai ser entrada para o doutorado e não para o ensino superior.

MJ6 diz ser o mestrado uma forma propedêutica para a formação do

pesquisador. Para ele a pesquisa qualifica o profissional que atua no ensino superior

como docente. Assim, o depoimento adverte que o mestrado acadêmico tem como

objetivo formar o pesquisador universitário e que para ser professor do ensino

superior hoje, especialmente de pós-graduação, o docente precisa realizar a

investigação científica como uma das condições de sua profissão e de sua

identidade profissional, o que se constitui em uma exigência da CAPES para o

ingresso e manutenção do docente em cursos de pós-graduação stricto sensu.

Amparados nos estudos de Pimenta (2005), sinalizamos que, se esses

profissionais a que o depoimento de MJ6 se refere, tiverem sido formados em cursos

de Licenciatura, até podemos dizer que foram oportunizados com algumas reflexões

sobre a dinâmica do ensino e da aprendizagem. Mas, se esses sujeitos são oriundos

de bacharelados sua atuação posterior em sala de aula tende a ficar desconectada

dos objetivos e funções do ensinar e aprender, exercendo um ensino baseado em

sua experiência quando estudante e de maneira reprodutivista.

Vejamos o que a fala de MW7 trata sobre o que estamos discutindo nesta

seção:

A visão que tenho do professor universitário é que ou assume perfil de pesquisador que tem espírito crítico, vontade de produção de conhecimento, de fazer ciência, ou vai perder espaço como professor porque os meios tecnológicos estão fazendo essa transmissão de conhecimento mais rápido. Isso são instrumentos, mas a motivação, o olhar cuidadoso sobre a realidade para perceber qual a fonte do conhecimento e que configurações ele vai tomar, porque a ciência parte do homem, não nos é dada, mas criada.

A identidade docente para atuação na pedagogia universitária para o

depoente MW7, também, é a de pesquisador, aquele sujeito com espírito crítico,

investigador, que produz conhecimentos e, consequentemente, faz ciência. Do

excerto podemos inferir que parece existir uma “cultura universitária” em que o

profissional professor realiza cursos de mestrado e doutorado galgando status de

pesquisador, mas, não atenta para o fato de que continua sendo professor e,

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152

portanto, alguém que deveria se preocupar com os elementos constituintes do

ensino.

Dessa forma, segundo Amaral (1988, p. 74), os cursos de pós-graduação

“visam, prioritariamente, a formação do pesquisador e não do professor”. Isso

contribui para a instalação dessa cultura, a qual nos referimos, de que os docentes

do ensino superior são considerados profissionais da pesquisa e não do ensino.

Entretanto, os elementos ligados à docência resultam, portanto, como

competências articuladas à identidade do profissional docente meio que

intuitivamente, muito por conta do que o professor vai buscando de forma individual

no decorrer de sua trajetória de formação. Ressaltamos que análises como estas

foram realizadas a partir das representações dos depoentes desse estudo em

passagens anteriores dessa seção do capítulo de análise dos dados, mas que são

importantes de serem retomadas.

Observemos como MR8 se coloca a respeito da formação do docente para o

ensino superior:

Os cursos de pós-graduação contribuem para ser um professor com algumas dificuldades no exercício de sua docência universitária pela falta de certas habilidades didático-pedagógicas. E como ficam as habilidades didático-pedagógicas desses sujeitos se os programas de pós-graduação não estão voltados para a formação de professores? [grifo nosso] Esse problema a gente precisa refletir porque temos que qualificar o pós-graduado para atuar com competência, pois existem excelentes pesquisadores que são péssimos professores e são qualificados, super-reconhecidos como produtores de conhecimento [grifo nosso].

Depreende-se do depoimento de MR8 que a identidade docente na

universidade está ligada ao papel do docente como pesquisador que deve ter

habilidades de pesquisa, de produção de conhecimento. Por outro lado, para ser

professor, é imprescindível ter habilidades de ensino, de ministrar aulas, ter

conhecimento sobre os saberes didático-pedagógicos inerentes ao ensinar.

Ademais, o comentário aborda que é necessário articular ensino e pesquisa na

prática dos professores de ensino superior, porém, os mestrados atualmente têm

contribuído para a existência de uma dicotomização entre a prática da pesquisa e a

dinâmica pedagógica, praticamente ignorando esta última.

Não obstante, essa questão levantada pelo depoente MR8 pode ser

problematizada, posto que, o modelo de formação da pós-graduação na atualidade

tem sido guiado pela qualificação dos profissionais como pesquisadores e não tem

Page 153: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

153

proporcionado espaços ou momentos de discussões sobre a formação de

professores, o que gera nos docentes dificuldades relacionadas às competências

didático-pedagógicas em seu trabalho educativo. Por isso, na prática existem

pesquisadores que produzem bastante e publicam seus materiais científicos, mas

que na sala de aula não conseguem articular sua experiência na pesquisa com o

ensino.

Outra ideia relatada por MR8 está relacionada ao fato do docente de nível

superior ser formado como pesquisador, porém, na sua atuação de sala de aula tem

“dificuldades no exercício de sua docência universitária pela falta de certas

habilidades didático-pedagógicas” [grifo nosso]. Isto é resultante de sua própria

formação.

Em outra perspectiva de abordagem, o depoimento de MM9, a seguir, trata da

influência da formação em mestrado na trajetória dos estudantes como um aspecto

positivo de construção da identidade docente, como pode ser visto a seguir:

O mestrado contribui para a identidade, pois abre um leque de possibilidades para os alunos na formação. Eles começam a mudança no processo das disciplinas e há um conflito necessário que é aquela coisa do aprendizado de assuntos que vão servir para sua pesquisa e para a mudança da prática pedagógica, e quando muda a prática vai mudando a identidade porque eles vão tendo outras visões de educação e de ser professor.

A partir do exposto por MM9, podemos afirmar que a identidade que o

mestrado tem ajudado a gerar nos docentes de ensino superior tem, mais uma vez,

ênfase na formação do pesquisador e, também, a inserção da pesquisa tem sido

algo para melhorar a prática educativa na universidade, o que tem supervalorizado

essa função do tripé universitário, sacralizada no âmbito da pós-graduação,

contribuindo para a desconsideração do ensino e dos elementos que o compõe, a

exemplo da organização do trabalho pedagógico. Tal postura não leva em

consideração a “necessidade de se favorecer na formação do futuro profissional da

educação uma aproximação integrada da didática, articulando domínios dos

conteúdos, metodologia e formação pedagógica” (PERRENOUD, 1993, p. 118).

4.3.2 Papel de pesquisador acadêmico e perfil de professor dedicado ao ensino

Esta seção busca entender como tem se configurado o papel do professor

pesquisador e do professor que exerce o ensino na universidade atualmente,

atentando para as diferenças básicas na configuração da atuação desses dois

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154

modelos de profissionais. Sendo assim, o intuito é de listar e problematizar os

depoimentos dos sujeitos de nossa pesquisa que foram entrevistados para a

construção desta Dissertação. Sobre o objetivo apresentado, um dos depoentes

demonstra que

O professor pesquisador anima os alunos quando fala da sua pesquisa na sala de aula, pois traz elementos da trajetória pessoal. Tem mais possibilidade de inserir discussões, exemplos e reflexões do que um professor que não faz pesquisa, porque este fica conteudista (MI1).

O participante fala das influências do pesquisador para os estudantes em sala

de aula, a exemplo da segurança teórica, da socialização de sua trajetória

profissional na investigação, coisas que interferem positivamente nesse contexto. Da

fala de MI1 podemos comentar que existe uma dicotomia entre ser pesquisador e

ser professor e que o docente que não realiza pesquisa acaba por exercer um

ensino baseado apenas em conteúdos.

Amparados em Vasconcellos (2002), defendemos que o docente é um dos

agentes principais do processo de construção de novos conhecimentos através da

pesquisa, pois seu papel corresponde à provocação de situações que possam gerar

aprendizagens significativas, possibilitem a elaboração de respostas por parte dos

estudantes e interação com o acompanhamento de seu percurso de construção do

conhecimento, ajudando-o a elaborar novas sínteses.

Entretanto, não podemos afirmar que simplesmente o pesquisador execre

uma prática pedagógica de qualidade e o docente dedicado ao ensino trabalha na

perspectiva da transmissão de informações. Isto porque defendemos que falta no

pesquisador que só investiga os elementos relacionados ao ensino, como os

saberes didático-pedagógicos e os conhecimentos da Didática e de seus

constituintes, e no docente que apenas ensina as competências da pesquisa, tais

como reflexões sobre a construção de um problema, fundamentação teórica e

metodológica de um trabalho científico, sendo necessário, portanto, que haja uma

articulação dessas duas funções universitárias na prática do docente para que ele

possa utilizar-se desses princípios de um de outro elemento no desenvolvimento de

seu trabalho pedagógico no contexto da sala de aula.

Page 155: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

155

Vejamos o que o depoimento de MA2 revela sobre a seguinte categoria:

Papel de pesquisador acadêmico e perfil de professor dedicado ao ensino:

A grande diferença do professor pesquisador para aquele do ensino é que está inserido em uma área de conhecimento fazendo pesquisa, tem objeto de estudo e projetos que vão trazer contribuições para a área. No mestrado tem essa função social que é participar de projetos, publicar o que vem pesquisando para a sociedade, seja artigo, participação em eventos, orientação.

O entrevistado ressalta que o pesquisador tem ações que o diferem daqueles

que se preocupam apenas com o ensino. Essas atividades se referem às exigências

da prática investigativa, pois, ele precisa estar participando de grupos de estudo,

produzindo trabalhos acadêmicos, escrevendo projetos e, posteriormente, publicar

esses resultados para a comunidade universitária e para a sociedade como um todo,

através de revistas especializadas, livros, anais de eventos científicos, etc.

Dessa maneira, de acordo com Demo (1997), o tipo de docente a que o

participante MA2 se refere constitui-se naquele sujeito que motiva os estudantes

para a busca de novos conhecimentos, através da inserção da pesquisa como

princípio científico e educativo em sua prática pedagógica, na busca da criação de

condições favoráveis à criatividade, elemento importante para o processo

investigativo, com o objetivo de construir soluções para os problemas que são

postos na realização de suas pesquisas. Por outro lado, o docente que não realiza o

processo de investigação fica preso à transmissão de informações aos estudantes.

Porém, é preciso ter cautela ao dar destaque à figura do pesquisador, pois,

este em atuação no trabalho docente sem ter adquirido experiência nos elementos

da docência, a exemplo do currículo, da avaliação, da relação docente-estudante,

entre outros, pode vir a desenvolver uma prática baseada essencialmente na

pesquisa, sendo que continua a ser professor e a trabalhar em uma instituição de

ensino superior.

Além do professor que realiza pesquisa na universidade ter que participar da

divulgação científica, necessita desenvolver outras habilidades para trabalhar em um

programa de pós-graduação acadêmico, conforme diz o depoimento que segue:

Tem que ser curioso, não se conformar com o que o autor, o colega ou seu objeto dizem, enxergar nas entrelinhas, gostar de pesquisar. Tem que ser “investigador policial”, para buscar todos os caminhos, documentos e provas que comprovem ou não aquela situação. É diferente de um professor que lê livros, prepara sua aula e pega o que a bibliografia traz, dá a aula e vai embora sem questionar (MG3).

Page 156: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

156

Segundo MG3, o pesquisador apresenta diferenças daquele sujeito que

ensina, tais como a capacidade de não se conformar com o que está posto e

acordado como verdade na dinâmica da vida social, cultiva uma percepção mais

aguçada sobre os temas, objetos e assuntos que investiga em suas pesquisas

acadêmicas. Por outro lado, o docente que exerce apenas o ensino desenvolve uma

prática baseada na exposição de conteúdos para os estudantes sem, contudo,

questionar nem problematizar os temas ou situações da dinâmica educativa.

Ressaltamos que é preciso ter cautela ao se discutir sobre o papel do docente

universitário que ensina na pós-graduação, pois, essa discussão a que o participante

MG3 se refere requer levar em consideração que o docente que não realiza

pesquisas acadêmicas na universidade também estuda e utiliza-se de reflexão e

problematização na organização do seu trabalho pedagógico e no desenvolvimento

de sua atividade de sala de aula, pois, o próprio trabalho educativo é uma ação

complexa, tanto no relacionamento com os estudantes, quanto nos posicionamentos

em relação aos conteúdos de ensino e forma de avaliação, entre outros elementos.

Concordando com Contreras (1994), defendemos que a pesquisa articulada à

ação docente pode contribuir para o desenvolvimento profissional do professor, pois

colabora para o estreitamento entre conhecimento e ação, sendo estes elementos

considerados como parte de um só processo. Além disso, contribui para a ruptura

com a dicotomia entre os acadêmicos que produzem o conhecimento e os docentes

que atuam ensinando-os, o que pode gerar mudanças na prática educativa, tendo

como objetivo ajudar na busca por questionamentos em relação à concepção

instrumentalista e tecnicista da prática pedagógica, ainda tão presente no contexto

educacional brasileiro.

Outro depoente aborda uma questão interessante sobre o movimento de

intensificação da pesquisa como uma atividade inerente à pós-graduação:

O CNPq e a CAPES não perguntam se o professor pesquisador é bom professor, se consegue estimular o sujeito a sentir entusiasmo pelo conhecimento. Temos professores maravilhosos que nunca fizeram pesquisa e professores considerados pesquisadores, mas que não são bons professores. A grande diferença de um bom professor é como ele prepara seu material e se debruça sobre o conhecimento para conseguir estabelecer esse diálogo com seus alunos, não ser apenas um despejador de conteúdos (MM5).

Pode-se dizer que esse participante do estudo, quando trata do papel do

pesquisador e daquele profissional que ensina esclarece que a condição de fazer

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157

pesquisa não garante a melhoria da atuação na docência universitária. Defende que

o pesquisador trabalha essencialmente com a pesquisa, mas, precisa aliá-la ao

ensino para a melhoria da aprendizagem dos estudantes em sala de aula.

Destacamos que a investigação, por si só, não qualifica para a docência, pois,

existem outros elementos que compõem a prática educativa como a concepção

sobre o ensino e a aprendizagem, e que, também, devem ser apreendidos por esses

sujeitos que trabalham em nível de pós-graduação.

Segundo Pimenta (2005), para exercer a docência no ensino superior são

necessários saberes relacionados à docência universitária, aqueles da dimensão

didático-pedagógica, ter experiência acumulada sobre o campo de conhecimento

que estuda e conhecimentos específicos da sua área de atuação. Isso o faz

qualquer profissional com bagagem de informações e oratória, não um professor que

articula pesquisa e ensino num processo de busca da aprendizagem significativa

dos estudantes.

Do depoimento de MM5 podemos afirmar que o entrevistado chama a

atenção para um problema referente aos órgãos de fomento, a exemplo do

Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da

Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior (CAPES), pois,

superestimam a pesquisa e, no geral, realizam um processo avaliativo para verificar

a qualidade do trabalho pedagógico dos docentes através, por exemplo, da Prova

Didática exigida para realização de concurso público em instituições de ensino

superior e da avaliação dos estudantes, através do Exame Nacional de

Desempenho de Estudantes (ENADE) que, de certa forma possibilita noções do

trabalho desenvolvido em sala de aula por parte dos docentes. Contudo, mesmo

com esses aspectos, percebemos que essa avaliação dos quadros de professores e

dos programas de pós-graduação está centrada na análise dos produtos gerados, a

partir das pesquisas registradas na Plataforma Lattes, em periódicos e livros com

Qualis da CAPES.

Quando indagado sobre o papel do professor pesquisador na universidade e

as diferenças básicas entre ele e o docente que não se dedica à investigação

acadêmica, vejamos o relato de MW7:

Nem todo professor deve ser pesquisador, deve ter tido na formação um período de pesquisa para chegar ao patamar de professor, pois dedicar-se a pós-graduação é uma opção. Este deve atuar como

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158

orientador discutindo os temas e fazendo aceno para a produção do conhecimento [...].

Segundo a fala de MW7, o docente universitário de pós-graduação precisa ter

experiência em pesquisa, ser orientador dos temas de investigação dos estudantes,

buscar transmitir sua experiência para os mestrandos. Entretanto, esclarece que

essas ações não são obrigatórias a qualquer professor, mas, para os docentes que

se assumem pesquisadores e que trabalham no âmbito da pós-graduação. Assim,

atenta para o fato de que nem todo professor deve ser eminentemente um

pesquisador acadêmico de formação, a pesquisa não é condição para que o sujeito

se torne docente, ela pode servir como elemento que pode ajudar no

desenvolvimento do seu trabalho de sala de aula ou na preparação e inspiração

teórica para a realização da sua ação docente.

Apoiados no pensamento de Lisita; Rosa e Lipovetsky (2001), defendemos

que o papel da pesquisa na formação e na prática dos docentes refere-se à

importância desse elemento para o reconhecimento do sujeito como docente e para

a construção de sua autonomia. Assim sendo, promover a pesquisa no processo

formativo de docentes requer considerar a reflexão desses sujeitos, não às

investigações científicas feitas por acadêmicos no âmbito da universidade, mas,

incluir a pesquisa realizada pelo próprio docente na sua dinâmica de sala de aula.

Isso requer que se inclua nos cursos de formação de professores ações que

proporcionem as condições necessárias para que esses sujeitos produzam

conhecimento sobre o trabalho docente. Essa defesa vai de encontro à concepção

amplamente divulgada da dicotomia entre pesquisadores acadêmicos e professores

dedicados apenas ao ensino, tornando explícita a perspectiva do poder que a

pesquisa tem no auxílio da participação dos próprios docentes na dinâmica da

produção do conhecimento e na reflexão sobre seu trabalho docente.

Depreendemos, também, a partir do depoimento de MW7 que o entrevistado

enfatiza o trabalho com a pesquisa no âmbito de cursos de mestrado e não se refere

ao impacto disso em sua docência, ao passo que não faz menção a elementos que

se refiram à dimensão do ensino, da prática pedagógica.

Ainda no que se refere ao papel de pesquisador acadêmico e ao perfil de

professor dedicado ao ensino, categoria esta que estamos estudando nessa seção,

vejamos o discurso de MR8:

Page 159: olhares de docentes de mestrados da uefs sobre a influência da

159

O professor que faz pesquisa aprende a lidar de modo diferenciado com o conhecimento, a compreender quais processos condicionam sua produção e vivenciar na prática as dificuldades dessa produção, pois não temos controle dos elementos com os quais vamos trabalhar. Isso faz repensar que a objetividade é condicionada por fatores subjetivos e que essa experiência faz a gente distinguir porque o conhecimento difundido tem limites, no que diz respeito às suas conclusões, elaborações e argumentações.

A partir do que foi dito por MW7, podemos afirmar que a experiência na

prática da pesquisa pode possibilitar ao docente a noção dos desafios dessa ação

no âmbito da pós-graduação; e tende a proporcionar um modo diferente de lidar com

o conhecimento, bem como poderá ajudar no pensar sobre os condicionantes, por

exemplo, de ordem política, cultural e pessoal, existentes na definição de

objetividade ou subjetividade do conhecimento científico.

Ressaltamos, baseados nas ideias de André (2001), que o papel da pesquisa

na formação e na prática dos professores requer considerar não só o debate em

torno do conceito difuso e complexo sobre o pesquisador/reflexivo, mas requer que

se pense nas variadas maneiras de articulação entre o ensino e a pesquisa na ação

docente, e o reconhecimento da necessidade das condições materiais, humanas,

sociais, políticas, entre outras, para que o docente possa articular a pesquisa com

sua prática cotidiana, seja na escola básica, seja no ensino superior que é o nosso

campo específico de estudo.

Mas, há que considerarmos que o depoente MR8, também, faz referência à

importância do docente como pesquisador para a atuação no ensino da pós-

graduação e desconsidera que este profissional precisa estar em diálogo com os

saberes relacionados à docência, pois, o fato é que ele não trabalha em uma

instituto de pesquisa, mas atua em uma instituição de ensino, que tem na pesquisa e

na extensão elementos que podem auxiliá-lo a desenvolver suas ações formativas,

porém não apenas baseada na dimensão da investigação.

Ao ser questionado sobre o papel do professor pesquisador e as diferenças

da ação do docente que realiza o ensino, observemos o que MM9 diz:

Tem professores que apenas ensinam, mas não têm formação. Tem mestre que domina o que é uma pergunta de partida, mas não faz pesquisa, porque o que leva a isso é iniciativa. Na universidade tem pesquisador que não quer fazer pesquisa, opta por dar aula, os conhecimentos que vai ensinar é aquilo que lê, meio reprodutivo. Ele se atualiza, mas diz: “os alunos me consideram um bom professor”, porém porque tem boa oratória, desenvoltura, é

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160

atualizado, mas gosta de dar aula, não se envolve com pesquisa [grifo nosso].

Levando em consideração a fala, percebe-se que o docente que desenvolve

sua prática sem experimentar a pesquisa científica tende a realizar seu trabalho de

sala de aula eminentemente reprodutivista, pois, no geral, ministra aulas sobre o que

leu no passado, normalmente no período de sua formação inicial, atualizando-se

eventualmente com o que outros produzem em sua área.

Há que considerar, portanto, nesse debate que a pesquisa, especialmente no

campo da educação, apresenta grande importância para a formação do professor,

pois, consiste em uma das ferramentas que possibilita a construção de

conhecimentos a respeito do mundo que o cerca e busca dar respostas à sociedade

sobre questões em aberto nos campos específicos do saber, contribuindo, assim,

para sua atuação de forma a contribuir para a aprendizagem dos estudantes no

contexto da sala de aula. Além disso, é essencial porque pode proporcionar o

aumento de sua capacidade em exercer o pensamento crítico-reflexivo em relação

aos fenômenos sociais e educacionais (MEKSENAS, 1996).

Outra leitura possível de ser realizada a partir do depoimento de MM9, que

converge com outras representações expressas pelos depoentes, é que existe uma

defesa da pesquisa articulada ao ensino, até no âmbito dos cursos de formação de

professores, mas, ao mesmo tempo, sinalizam que existe uma dicotomia entre os

pesquisadores acadêmicos que seriam responsáveis pela produção do

conhecimento científico e os professores que transmitiriam o saber gerado por esses

cientistas. Tal ideia nos faz pensar que os depoimentos revelam representações que

apontam para as contradições presentes na prática educativa de docentes de pós-

graduação, pois, eles apresentam em seus discursos ideias de inovação

pedagógica, contudo, parecem divulgar pensamentos amparados na concepção de

educação tradicional, aspecto que já foi discutido amplamente em outras passagens

na seção anterior, mas, que continua sendo recorrente em suas falas.

Ao final desta seção, podemos afirmar que os participantes do nosso estudo

apresentam ideias que tendem a dicotomizar os perfis de pesquisadores

acadêmicos e de professores dedicados ao ensino no âmbito da universidade. De

um lado estaria o docente cientista, pesquisador que seria responsável pelo trabalho

intelectual de produção de conhecimento científico e, de outro, haveria o professor

que ministra aulas e busca estratégias didáticas para trabalhar com os

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161

conhecimentos produzidos por esses pesquisadores que pensam a educação, estes,

no geral, com formação pós-graduada e vasta produção científica.

4.3.3 Competências/habilidades do docente de ensino superior

Nos dias atuais está em voga a defesa de que a atuação dos docentes nos

mais variados níveis de ensino baseia-se no domínio de competências ou

habilidades para sua atuação em situações de sala de aula. Dentro desse modelo,

esta seção visa tratar das competências ou qualidades necessárias à atuação de

docentes de cursos de mestrado da UEFS, ao passo que vamos expor e discutir os

depoimentos dos sujeitos entrevistados para realização do estudo ora em questão.

Sobre a questão das competências ou habilidades necessárias ao professor

pesquisador, MI1 afirma que:

Qualquer professor deve saber o que é atuar numa área com salários que não correspondem ao nível de preparação, se identificar com as atividades que são intrínsecas ao papel do professor como dedicar tempo para corrigir trabalhos e ler. Outra habilidade é ter um conhecimento mais amplo, saiba percorrer o seu campo de pesquisa para que possa despertar nos alunos o interesse para além do que ele está fazendo. E essas habilidades estão articuladas com as condições de trabalho, porque é difícil ter atendimento ao aluno se você não tem espaço próprio e a questão tecnológica o professor deve ter acesso, as ferramentas de pesquisa.

Para o depoente MI1, as competências exigidas atualmente para o exercício

da profissão docente universitária é, primeiramente, ter consciência daquilo que o

constitui como docente, de sua identidade que está de acordo com a aceitação da

docência como um dos elementos da profissão. Articulado a isso, deve ter em mente

que sua profissão carrega os elementos negativos das condições de trabalho

precárias e dos salários que não são compatíveis com o tipo de preparação para

atuar na sala de aula.

Ademais, podemos dizer que o professor deve ser um sujeito estudioso que

invista na sua formação e qualificação profissional constantemente, a fim de que

possa construir um cabedal de conhecimentos com certa amplitude para que possa

realizar seu trabalho de ensino com os estudantes em sala de aula, especialmente

em cursos de pós-graduação. Por último, o docente atualmente tem o papel,

também, de dominar as Novas Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs),

aspectos que perpassam pela necessidade da melhoria da profissionalização

docente.

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Amparados no que foi dito por MI1, entendemos que a profissão docente, ou

seja, a assunção dos professores como profissionais do ensino, envolve um

processo com caráter de profissionalização, bem como a articulação entre a teoria e

a prática, entre a universidade e a escola básica, pois, o cerne da profissão docente

é o processo de ensinar-aprender, a relação professor-estudante, sendo estes

elementos essenciais para a ciência pedagógica (BEHRENS, 2003).

Porém, sinalizamos que o depoente MI1 desconsidera os saberes do campo

pedagógico, reflexões sobre o currículo e sobre a pesquisa como competências

necessárias ao docente do ensino superior no desempenho de sua função na

atualidade.

Sobre a categoria que estamos estudando nessa parte do capítulo, MA2 diz:

Considero importante para um professor que se propõe a estar na universidade, dar conta do tripé ensino, pesquisa e extensão. Tem que se preocupar em formar profissionais que possam atuar no mercado de trabalho, formar pesquisadores, participar de grupos de pesquisa, anunciar seus resultados na comunidade via projetos de extensão.

Depreende-se do excerto que a principal competência/qualidade dos

professores universitários atualmente consiste no trabalho com o ensino, a pesquisa

e a extensão de maneira indissociada em sua prática pedagógica. Na parte do

ensino, o professor precisa estar preocupado com a formação de profissionais para

a atuação nos diversos setores da sociedade e nas várias áreas do conhecimento.

Na dinâmica da pesquisa, o docente precisa se preocupar com a formação de

novos pesquisadores, produzir conhecimentos e publicá-los, por exemplo, via

projetos extensionistas. Articulado diretamente à prática da investigação, a outra

função do professor seria divulgar o conhecimento produzido pela pesquisa na

universidade para a comunidade interna e externa, através de projetos de extensão.

Assim, amparados no pensamento de Souza Santos (2004), a

indissociabilidade entre o ensino, a pesquisa e a extensão constituem uma

universidade, corrobora para o desenvolvimento de sua função primordial, que

consiste em desenvolver eficazmente a graduação, a pós-graduação e a extensão

de maneira articulada na prática de seus docentes, o que não acontece em todas

instituições de ensino superior.

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163

Contudo, inferimos que o depoente MA2 assume como habilidades do

docente universitário apenas aspectos relacionados à pesquisa, ainda que mencione

outras funções, como o ensino e a extensão como elementos que fazem parte de

seu trabalho. Isto nos leva a refletir sobre o modelo de pós-graduação, centrado

eminentemente na investigação e, consequentemente, do papel do docente como

pesquisador, ao passo que é desconsiderado os elementos constituintes do ensino,

a exemplo do planejamento, da avaliação, dentre outros.

Ao questionarmos um dos depoentes sobre as competências ou qualidades

necessárias para a atuação docente em nível de pós-graduação, obtivemos a

seguinte resposta:

Tem que gostar de ser professor, saber que está em uma profissão, estar sempre buscando novos conhecimentos, questionando o sistema, provocando os alunos. Tem que ser flexível, tolerante, inquieto, perceba que em todos os espaços é possível ver o conhecimento que defende, somativo, cooperativo, gostar de trabalhar em equipe, produzir, entender que a sala de aula é um laboratório e que cada aluno é um projeto diferente, vem de um lugar e pode lhe trazer contribuições diferentes (MG3).

MG3 diz que o docente de ensino superior precisa ter tais competências:

gostar de ser professor; saber que está em uma profissão; buscar conhecimentos;

questionar o sistema; ser flexível, tolerante e inquieto; e gostar de trabalhar em

equipe, qualidades relacionadas ao papel do professor. Conforme defende Paula

(2003) e tomando como base o comentário de MG3, assinalamos que o docente

reflexivo é aquele sujeito que apresenta atitudes complexas de reflexão frente as

situações da sala de aula da educação formal, sendo para tanto necessários a esse

docente novos saberes que emergem na concretização de uma ação mais

qualificada, tais como: humildade frente as opiniões contrárias, responsabilidade

sobre as consequências da repercussão de sua atuação na vida, na formação e na

postura frente à sociedade e aos indivíduos sobre os quais esse docente exerce

uma ação educativa.

Porém, MG3 não menciona os saberes da docência, nem princípios da

pesquisa como habilidades do profissional para atuação em nível de mestrado, o

que pode apontar para a percepção de um papel de professor muito vinculado à

dimensão prática.

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164

De acordo com a discussão levantada sobre o papel do docente, vejamos o

que MJ6 revela sobre isso:

Para ensinar no mestrado as exigências formais para o professor são que tenha feito doutorado, dadas pela Plataforma Lattes, tenha produção, inserção na pesquisa capaz de garantir que tenha conhecimentos produzidos a transmitir. Vai formar pesquisadores, portanto, deve ser um pesquisador com produtividade.

Tomando como base o pensamento de Imbernón (2002) e buscando

elementos para comentar a indagação realizada, sinalizamos que a ideia de MJ6

sobre a centralidade da formação do docente de mestrado, essencialmente em

pesquisa, constitui-se em uma problemática que se refere ao descaso com os

elementos do ensino, pois para exercer a docência universitária o docente necessita

passar por um processo de aprendizagem do ato de ensinar que envolve os

seguintes componentes: o científico, o conhecimento da área específica de ensino

do professor; o pedagógico, conhecimentos a respeito das ciências da educação; o

cultural, os saberes do meio social do docente-estudante do processo educativo que

está acontecendo; a prática docente, as experiências de ensino-aprendizagem dos

sujeitos, a exemplo de suas concepções vivenciadas em sua trajetória de formação

que influenciam sobremaneira seu método de ensino e visão sobre a aprendizagem.

Em contraposição a isso, inferimos que o depoente MJ6 aborda uma ênfase

na pesquisa e desconsidera os elementos do ensino, tais como o currículo, a relação

docente-estudante, entre outros, como importantes habilidades do profissional que

ensina na pós-graduação, dado que já foi mencionado em análises de outros

depoimentos, mas que é digno de nota.

Sobre a ênfase dada à formação em pesquisa no âmbito da pós-graduação,

vejamos o comentário de MW7:

Tem que ser pesquisador, investigue, busque, queira produzir conhecimento. Deve ter espírito crítico, domínio do seu objeto de estudo e humildade para reconhecer os limites da sua atividade, porque se você acha que o conhecimento está acabado, não há evolução. Ter maleabilidade, disponibilidade para acompanhar o trabalho dos alunos, sem interferir muito, atuando como orientador.

O depoimento de MW7 destaca como competências/qualidades do professor

de ensino superior que ensina na pós-graduação as seguintes: ser pesquisador que

produza conhecimentos, humilde, crítico e criativo e exerça o papel de orientador da

construção de conhecimento dos alunos. Ampliando a discussão, podemos dizer

que MW7 considera que a formação do docente da pós-graduação deve ser

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baseada apenas na pesquisa, na busca do ser pesquisador e desconsidera em sua

fala os saberes necessários à docência, que são tão imprescindíveis quanto os

saberes da pesquisa para a atuação no mestrado.

Segundo Candau (1986), os elementos da dinâmica do ensinar são tão

complexos quanto os saberes da pesquisa, pois o ensino é um processo coletivo

que se dá na relação do docente com o estudante e apresenta um método que

compõe a ação do professor, o método didático, é composto pelo conteúdo,

estrutura e organização interna de cada componente curricular, bem como dos

elementos lógicos e contextuais em que ocorre a prática educativa dos sujeitos da

aprendizagem e dos fins da educação.

Além dessas competências elencadas anteriormente centradas

eminentemente na pesquisa, vejamos o que afirma MR8 sobre as qualidades

importantes para o professor de pós-graduação:

Precisa ter experiência de pesquisa, produzir conhecimento e ser difusor de textos publicados do modo mais democrático possível, que tenha capacidade de diálogo. É fundamental que o professor não se arrogue de plena autoridade e busque ser alguém que está ali para dialogar e aprender com essas pesquisas diferenciadas dos mestrandos.

MR8 defende que o docente de ensino superior precisa ter experiência na

pesquisa, ao passo que produz trabalhos científicos e publica-os democraticamente.

Além do mais, o docente carece de não exercer plena autoridade, como se tivesse a

verdade e buscar trabalhar a partir do diálogo com os mestrandos.

Essas qualidades do docente do ensino superior, segundo Masetto (1998),

são possíveis de serem construídas se o docente buscar formar um papel de

orientador das ações didático-pedagógicas que ajudarão o discente a aprender, que

se posicione como um sujeito essencialmente motivador das aquisições deles. Além

disso, que possa divulgar para os discentes não os erros, mas os saltos qualitativos,

corrigindo-os se necessário for, a fim de que eles possam com o tempo garantir um

acúmulo de aprendizagens significativas e não somente armazenar informações em

sua cognição, como se queria na concepção de educação tradicional.

Contudo, o depoente MR8 também fala de uma ênfase nos princípios da

pesquisa para o docente utilizar-se no seu trabalho de sala de aula e não reflete

sobre as competências adquiridas no ensino, a exemplo dos saberes do campo

pedagógico, das noções sobre currículo e planejamento, entre outros.

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166

Quando indagado sobre as competências do docente universitário em nível

de mestrado, MM9 revela que

As características são ter perfil de pesquisador, questão, método, fundamentação teórica. Essas competências são aprimoradas num curso de mestrado ou doutorado que é dominar uma metodologia, a literatura, estar atualizado com as últimas pesquisas e metodologicamente. São essas duas características: fundamentação teórica e metodológica (MM9).

O professor de pós-graduação, para o depoente MM9, deve ser pesquisador,

ter capacidade de perguntar, método e objeto, exercendo a prática da pesquisa para

adquirir fundamentação teórico-metodológica. Assim, pode-se deduzir que a ênfase

verificada no depoimento refere-se à prática da investigação que o depoente

considera como condição essencial para o exercício da prática de sala de aula,

ressaltando que o mestrado e o doutorado ajudam no processo de formação do ser

pesquisador e não na preparação no âmbito do ensino.

Estabelecendo a universidade como o local apropriado para a produção do

conhecimento, especialmente os cursos de pós-graduação, para o desenvolvimento

dessas prerrogativas listadas por MM9, podemos observar, a partir dos objetivos do

III Plano Nacional de Pós-Graduação (III PNPG – 1986-1989), retirado do

documento do V Plano Nacional de Pós-Graduação (V PNPG – 2011-2020) que

esse nível de ensino foi criado para preparar os docentes essencialmente no âmbito

da formação em pesquisa, para serem pesquisadores, como pode ser visto nas três

metas a seguir: I. Consolidação do desempenho dos cursos de pós-graduação; II.

Institucionalização da pesquisa nas universidades para garantir a eficácia desse

nível de ensino; III. Integração da pós-graduação ao setor empresarial, ao mercado

de trabalho (BRASIL, 2010).

No entanto, inferimos que, além da competência investigativa, apontada por

MM9 como importante para o docente de pós-graduação no desenvolvimento de sua

ação pedagógica, é necessário atentar para o fato de que esse profissional trabalha

em uma instituição, na qual a formação em pesquisa não é sua única função.

Admite-se, por outro lado, uma qualificação ampliada aos estudantes, seja no âmbito

do ensino e de seus condicionantes, seja na participação de Movimentos Estudantis

vinculados ao curso e ações mais amplas dentro do espaço universitário, posto que,

a universidade não se constitui em um centro de pesquisa, é um local onde se busca

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167

a formação da competência humana dos sujeitos nos âmbitos pessoal, social,

político, estético, artístico e científico, de maneira integrada.

Em síntese, os depoentes enfocam que a competência/qualidade dos

docentes de pós-graduação deve basear-se na formação e experiência na pesquisa,

ou seja, o professor precisa ser pesquisador com notável produção acadêmica,

contudo, os depoimentos não sinalizam como saber indispensável aos docentes a

dimensão do ensino, o que nos faz pensar sobre a desqualificação dos elementos

da dimensão pedagógica, pois, a ênfase dada por esses cursos se encontra na

prática da investigação como somente isso fosse importante para o docente ser um

bom professor e exercer um trabalho pedagógico de qualidade científica e educativa.

Diante do exposto neste capítulo de análise dos dados, percebemos que as

representações dos depoentes do nosso estudo sobre a influência da pesquisa em

suas práticas pedagógicas apontam para o entendimento de que essa relação da

investigação científica, realizada por pesquisadores pertencentes a cursos de pós-

graduação com a prática docente ainda encontra-se por se fazer na dinâmica

educativa de docentes universitários, pois, apesar dos entrevistados dialogarem

sobre a existência de uma articulação da pesquisa com o ensino e a extensão, eles

mesmos em suas falas, na maioria das vezes, expõem a dissociação entre essas

funções da universidade. E a identidade profissional, as competências e o papel

desses docentes entrevistados estão centrados na pesquisa e em um processo de

desconsideração de reflexões sobre o ensino e a extensão, estas duas funções

tratadas, no geral, como certa posição de descaso, como se fossem apêndices da

universidade. Feito o trabalho de discussão e análise dos dados, finalizaremos a

presente Dissertação com as considerações finais, apresentado, em síntese, nossas

conclusões sobre as representações expostas pelos sujeitos de nossa pesquisa, no

que se refere à influência da investigação em suas práticas pedagógicas.

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168

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados deste estudo tiveram como um dos pressupostos que a

realidade não é um fim em si mesma e que captamos o real parcialmente, a partir

das representações que construímos nas interações com o meio social em que

vivemos. Sendo assim, realizamos uma pesquisa de cunho qualitativo, de acordo

com a perspectiva de Minayo (2001) quando defende que esse tipo de abordagem

trabalha essencialmente com o universo de significados, motivos, aspirações,

crenças, valores e atitudes dos sujeitos, o que corresponde a um espaço mais

profundo das relações que os seres humanos estabelecem entre si, dos processos e

dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis

como na pesquisa quantitativa.

Assim, o desenvolvimento deste trabalho resultou do estabelecimento de um

diálogo entre as representações dos docentes dos seguintes Mestrados da UEFS: 1)

História, Cultura e Poder; 2) Desenho, Cultura e Interatividade; 3) Ensino, Filosofia e

História das Ciências; e os teóricos discutidos ao longo da Dissertação, visando a

categorização dos dados obtidos, analisando as falas desses sujeitos, para o

estabelecimento de uma visão panorâmica das práticas pedagógicas de ensino com

base na pesquisa, existentes na instituição.

Nesse sentido, o interesse consistiu em entender a problemática da formação

do professor universitário em nível de mestrado, buscando compreender a influência

da pesquisa na prática pedagógica dos docentes pertencentes aos cursos de

Mestrado supracitados, a partir de dois pressupostos: 1) Uma visão que considera

que a docência nesse nível tem exigido dos professores uma formação científica, na

busca do preparo para o ser pesquisador de forma articulada com a formação para o

ser professor; 2) A ideia de que a capacidade investigativa em articulação com os

saberes da docência é uma das exigências para a atuação desse profissional que

atua no ensino superior, especificamente em cursos de mestrado.

Inicialmente, ao realizamos uma análise simples dos Projetos Pedagógicos de

cada curso de Mestrado investigado, esclarecemos que nos textos não conseguimos

obter elementos que indicassem a noção de pesquisa presente nesses documentos

para que fosse possível discuti-la no capítulo de análise dos dados, conforme foi

previsto na metodologia desta Dissertação, o que nos leva a pensar que os referidos

Programas não deixam claro em seus documentos básicos a concepção de

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169

pesquisa e suas funções para a prática pedagógica dos professores, suas

características para os Mestrados em questão e para a formação dos futuros

docentes. Na análise desse material, também, não ficou clara a importância da

pesquisa para a prática pedagógica dos docentes, sob que perspectiva eles

trabalham nos contextos de sala de aula e se existe(m) teoria(s) do conhecimento

que norteia(m) a ação desses docentes.

Ademais, percebemos a insuficiência de estratégias descritas nos

documentos que busquem articular a pesquisa com a prática de sala de aula, que

nos Projetos há pouca referência sobre a colaboração dos Mestrados Acadêmicos

investigados para a constituição da identidade do professor de ensino superior e

que, no geral, não há referência de debate sobre a docência universitária, aspecto

que foi percebido, também, na análise dos dados coletados e produzidos por meio

das entrevistas.

Fizemos, também, uma breve leitura dos Currículos Lattes dos nove

professores entrevistados com o intuito de verificar se existia articulação do ensino

com a pesquisa nas ementas dos componentes curriculares que eles trabalham, o

que demonstrou uma ênfase na dimensão da atividade de investigação e uma

espécie de descaso com a docência, o que foi observado, também, nos

depoimentos dos sujeitos de nossa pesquisa.

Em relação ao objetivo específico – verificar se existem estratégias

utilizadas pelos docentes pesquisadores que articulem a pesquisa com suas

práticas pedagógicas –, identificamos, ao analisar os depoimentos dos sujeitos

desta investigação, que eles discursaram sobre a pesquisa, o ensino e a extensão

de maneira superficial, sendo a pesquisa tratada como o pólo que se reporta à

produção do conhecimento científico, requer a definição de objeto e, posteriormente,

seu tratamento com base em procedimentos teórico-metodológicos que estão

articulados aos posicionamentos filosóficos do pesquisador, o que denota

posicionamentos reducionistas sobre esta função da universidade.

O ensino foi tratado como um tipo de conhecimento que está articulado mais

ao trabalho de sala de aula, da exposição de conteúdos. E a extensão consiste,

segundo muitos dos entrevistados, na função universitária responsável pela

dimensão da difusão e publicização daquilo que se produz no âmbito da

universidade para outras instâncias da sociedade, noção muito simples, posto que,

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170

esta função requer, dentre outros elementos, um processo de intervenção coerente

com o contexto no qual está sendo realizada a tarefa extensionista.

Contudo, notamos que os depoimentos não apontaram para a articulação do

ensino com a pesquisa nas práticas pedagógicas de docentes de pós-graduação,

mesmo que esses aspectos estejam presentes nos documentos, ementas

curriculares e regimentos dos Programas como se fossem indissociados, isto porque

essa relação entre ensino e pesquisa ainda se encontra por ser feita na docência

dos cursos de mestrados da UEFS que investigamos. Inferimos, também, que esta

indissociabilidade constitui-se em um desafio cotidiano da profissão docente e

requer a reflexão sobre o papel da formação na pós-graduação, que tem sido

ofertada aos mestrandos, centrada na pesquisa e, geralmente, distante de reflexões

sobre os elementos constituintes da docência, tais como o planejamento, a

avaliação, a relação professor-estudante, dentre outros saberes necessários ao

exercício dessa profissão.

Desta maneira, admitir a pesquisa como estratégia pedagógica que favorece

a aprendizagem no ensino superior constitui-se em um desafio a ser enfrentado

pelos profissionais da educação, pesquisadores e docentes, a fim de que seja

possível buscar elementos teórico-metodológicos para propor alterações no

processo de formação da pós-graduação, que, conforme já mencionamos,

percebemos que se encontra centrada na dinâmica da pesquisa, o que tende a

colocar o ensino e seus elementos constituintes em posição secundária.

Quando indagados sobre a(s) teoria(as) do conhecimento científico que

orienta(m) o trabalho pedagógico e de pesquisa, os entrevistados afirmaram, no

geral, que trabalham com a dimensão da prática em sua atividade docente e buscam

articular essa prática com a teoria. Nos relatos percebemos, também, que os

docentes têm dificuldade de se posicionar a respeito da(s) teoria(s) que sustentam

sua docência universitária. Essas posturas nos fazem pensar que não há uma

preocupação dos entrevistados com os aspectos relacionados aos saberes docentes

e às teorias da aprendizagem que deveriam embasar seus trabalhos.

Destacamos, ainda, que os depoentes afirmaram em seus discursos que

articulam a pesquisa com a prática de sala de aula, entretanto, quando questionados

sobre as estratégias utilizadas para relacionar estas funções da universidade,

apontavam apenas que esse processo é realizado a partir do momento em que

levam suas produções científicas para socializar com os estudantes e mostrar-lhes o

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171

caminho metodológico no desenvolvimento dos materiais. E, portanto, as falas

deram indícios de que a ênfase encontra-se na dimensão da pesquisa e que os

depoentes não conseguem articulá-la com suas práticas docentes, apesar de seus

discursos apontarem para existência da referida relação.

Quanto ao objetivo específico – analisar a influência da pesquisa na

docência dos cursos de mestrado investigados –, notamos que os depoentes

comungam a ideia de que ocorre essa articulação entre a dinâmica do pesquisar e a

prática de sala de aula, pois, no nível de pós-graduação, como a pesquisa encontra-

se difundida como o saber que fundamenta as ações de ensino, evidencia-se essa

articulação nos discursos dos docentes que entrevistamos. Não obstante, ao

procedermos uma análise detalhada dos depoimentos, verificamos que é incipiente

essa articulação do ensino com a pesquisa, posto que, ao resgatarmos os sentidos

que aparecem nas falas o que fica explícito é que os depoentes enfatizam ser a

pesquisa o elemento quase único para que a docência em mestrados ocorra a

contento.

Assim, inferimos, a partir dos resultados encontrados, que a pesquisa nesses

moldes defendidos pelos participantes do estudo constitui-se em um aparato

técnico-instrumental que contribui para reforçar a ideia de reprodução de conteúdos

desvinculados da prática real dos sujeitos do processo de ensino-aprendizagem no

âmbito da Universidade.

A partir dos dados obtidos e dos relatos dos entrevistados, no que se refere à

pesquisa, podemos afirmar que a noção de investigação atual, trabalhada na pós-

graduação é tratada como atividade que culmina na manutenção do Currículo

Lattes, sendo a avaliação aferida com base em critérios que denotam a produção

científica dos docentes através da quantidade de publicações. E a qualidade é

reduzida à garantia de produção, publicação, orientações concluídas, entre outros

afazeres que um docente realiza em um programa de pós-graduação.

Nessa lógica descrita e a partir dos depoimentos que analisamos, amparados

em Meksenas (1996), podemos dizer que esse modelo educacional que enfatiza a

pesquisa, revelado, tanto nos depoimentos dos sujeitos de nossa investigação,

quanto nos documentos oficiais que tratam da pós-graduação no Brasil, tende a

gerar uma dicotomia entre pesquisadores/cientistas que trabalham intelectualmente

e os docentes que se dedicam eminentemente a atividade de ensino, estes que,

segundo muitas das falas analisadas, desenvolvem sua prática educativa com base

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no modelo de reprodução de informações, desvinculada das realidades sociais dos

estudantes.

Assim, de um modo geral, os sujeitos que pesquisam são vistos como

“iluminados” e que, de certo modo, detêm um saber com um estatuto de verdade. No

entanto, vale salientar que a ciência, tendo como base os posicionamentos dos

novos paradigmas científicos, tem sido considerada mais acessível às pessoas e

que a função do pesquisador não deve ser encarada como mais importante do que a

docência numa universidade, local onde um dos objetivos é o desenvolvimento da

tríade ensino, pesquisa e extensão de maneira articulada.

Outro dado revelado a partir das análises foi que a competência/qualidade

dos docentes de pós-graduação da UEFS baseia-se na formação e experiência com

a pesquisa, isto é, o professor deve ser pesquisador com notável produção

acadêmica. Contudo, reforçamos que os depoimentos não sinalizaram como saber

necessário aos docentes a dimensão do ensino, o que nos fez perceber um certo

descaso com os elementos pedagógicos, pois, mais uma vez, a ênfase dada por

esses cursos encontra-se na prática da investigação, como se somente isso fosse

necessário para o docente ser um bom professor e exercer um trabalho pedagógico

de qualidade científica e educativa na pós-graduação.

Ao buscarmos entender como tem se configurado o papel do professor

pesquisador e do professor dedicado ao ensino na universidade atualmente,

atentando para as diferenças básicas na configuração da atuação desses dois

modelos de profissionais, percebemos que os participantes do nosso estudo

divulgam uma ideia que tende a dicotomizar os perfis de sujeitos no âmbito da

universidade.

Na nossa leitura, essa indissociação entre o ensino e a pesquisa, foi

divulgada através das falas dos depoentes, posto que, os discursos apontaram para

a visualização de que a graduação tem sido responsável pelo ensino, local de

atuação do professor dedicado a essa função, e a pós-graduação constitui-se no

lócus da pesquisa e onde o pesquisador deve atuar. Ressaltamos que esta

inferência foi realizada a partir das análises dos depoimentos apresentados e

discutidos no capítulo de análise dos dados deste trabalho, no diálogo com o quadro

teórico e no contato com os Projetos Pedagógicos dos cursos de Mestrados

investigados.

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Outra dado obtido a partir do nosso estudo foi a percepção de que a influência

da formação em mestrado, isto é, a qualificação do ser pesquisador e sua

contribuição para a construção da identidade docente em nível superior foi apontada

como uma temática que requer um debate sobre a forma como a prática da

pesquisa colabora para a melhoria da docência universitária nesse nível de ensino.

Posto que, a partir das análises dos relatos, observamos que a identidade que o

mestrado tem ajudado a gerar nos docentes de ensino superior da UEFS está

centrada na formação do pesquisador e a inserção da pesquisa tem sido

considerada algo para melhorar a prática educativa na universidade, o que tem

supervalorizado essa função do tripé universitário, sacralizada no âmbito da pós-

graduação, contribuindo para a percepção de um dado recorrente nas falas dos

entrevistados: a desconsideração do ensino e dos elementos que o compõem, a

exemplo das estratégias didáticas que também são constituintes da organização do

trabalho pedagógico.

Diante do exposto, esperamos que o presente estudo possibilite a ampliação

do conhecimento sobre a docência universitária, no tocante à relação indissociada

do ensino com a pesquisa, e contribua para a reflexão dos professores de

mestrados da UEFS sobre seu fazer no curso do qual fazem parte, o que pode

provocá-los a refletir sobre os desafios apresentados em suas práticas educativas,

que requerem discussões referentes à docência e não só experiência em pesquisa.

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Apêndice A

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA (UEFS)

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO (DEDU)

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO (PPGE)

TEMA DE DISSERTAÇÃO

SER PROFESSOR NA ATUALIDADE:

REPRESENTAÇÕES DE DOCENTES DE MESTRADOS DA UEFS SOBRE A INFLUÊNCIA DA PESQUISA EM SUAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO PARA A PARTICIPAÇÃO NA ENTREVISTA

Esta pesquisa, que está sendo desenvolvida desde 2012 com previsão para

ser concluída em março de 2014, tem como objetivo geral compreender as

representações construídas por docentes de mestrados da UEFS sobre a

influência da pesquisa em suas práticas pedagógicas. Para atingir este objetivo

o pesquisador optou pela abordagem qualitativa de pesquisa e pela coleta dos

dados tendo como estratégia a entrevista semi-estruturada, guiada por um roteiro de

questões abertas. A entrevista terá uma duração estimada de 40 minutos e será

realizada após a anuência e assinatura nas duas vias deste termo de

consentimento. Antes do início da entrevista, os participantes serão consultados

sobre o registro em áudio dos seus depoimentos (gravador digital), permitindo uma

análise detalhada e com maior rigor cientifico.

Participar desta pesquisa, além de possibilitar a ampliação do conhecimento

sobre a docência universitária, poderá trazer como benefício a reflexão do

participante sobre seu fazer no curso de mestrado do qual faz parte, ajudando-o a

enfrentar os desafios apresentados em sua prática educativa. Assim, acreditamos

que será uma experiência de aprendizagem mútua para o pesquisador e para os

participantes (sujeitos da pesquisa).

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A Resolução nº. 167 do Conselho Nacional de Saúde (CNS) considera que

“toda pesquisa envolvendo seres humanos envolve riscos”. No entanto, para evitar

qualquer desconforto ou danos à pessoa na dimensão física, psíquica, moral,

intelectual, social, cultural, espiritual e profissional, previmos os seguintes

procedimentos: a) para preservar o anonimato, o nome do participante em cada

transcrição será substituído por um código numérico; b) as gravações e as

respectivas transcrições serão guardadas, em lugar seguro, onde somente o

pesquisador terá acesso; c) logo após o seu tratamento científico, as gravações

serão destruídas; d) as publicações relativas a esta pesquisa não permitirão a

identificação específica dos participantes; e) as informações não serão utilizadas em

prejuízo dos participantes. Apesar dessas medidas, aquele participante que se sentir

eventualmente invadido ou incomodado, pode, voluntariamente, desistir de sua

participação em qualquer momento da entrevista, sem qualquer prejuízo para ambas

as partes.

O pesquisador responsável por esta pesquisa compromete-se em comunicar

seus resultados em eventos científicos, como também aos Departamentos de

Educação (DEDU).

Esta pesquisa será conduzida pelo estudante do Mestrado em Educação da

UEFS, Murilo Oliveira Almeida, que estará à disposição para os devidos

esclarecimentos sobre qualquer aspecto da investigação, no tel.: (75) 9128-6605 em

qualquer horário, ou através do e-mail: [email protected].

Ciente da natureza desta pesquisa, dos seus objetivos, métodos e benefícios,

autorizo a minha participação voluntária. Este documento será assinado em duas

vias de igual teor e uma das cópias ficará com o(a) participante.

Feira de Santana,.......de ........................... de 2013

Assinatura do(a) participante

MURILO OLIVEIRA ALMEIDA Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE/UEFS)

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Apêndice B

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA (UEFS)

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO (DEDU)

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO (PPGE)

TEMA DE DISSERTAÇÃO

SER PROFESSOR NA ATUALIDADE: REPRESENTAÇÕES DE DOCENTES DE MESTRADOS DA UEFS SOBRE A

INFLUÊNCIA DA PESQUISA EM SUAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS

GUIA DE ENTREVISTA

Caro(a)……

A pesquisa que estamos desenvolvendo, intitulada Ser professor na

atualidade: representações de docentes de mestrados da UEFS sobre a

influência da pesquisa em suas práticas pedagógicas, tem como objetivo

compreender as representações elaboradas por docentes de mestrados da

UEFS sobre a influência da pesquisa em suas práticas pedagógicas. Eu

gostaria de contar com a sua colaboração como depoente, pois, julgo que suas

ideias e opiniões serão significativas para auxiliar no conhecimento do objeto de

estudo pesquisado. Antes do início da entrevista, os participantes serão consultados

sobre o registro em áudio dos seus depoimentos (gravador digital), permitindo uma

análise detalhada e com maior rigor cientifico.

Minha gratidão,

Murilo Oliveira Almeida

Estudante do Mestrado em Educação da UEFS

DADOS de IDENTIFICAÇÃO Nome:__________________________________________________________

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Idade:__________________________________________________________ Sexo:___________________________________________________________ Cidade onde reside:________________________________________________________ Formação acadêmica:

a) Graduação: b) Especialização c) Mestrado: d) Doutorado: e) Pós-Doutorado:

Ano de ingresso como docente na UEFS: Projeto de pesquisa que faz parte: Foi bolsista de Iniciação Científica quando era estudante de graduação: Sim ( ) não ( ) QUESTÕES:

1. O que você entende por pesquisa? Como o senhor(a) a insere no debate de sala de aula?

2. O que a diferencia do ensino e da extensão?

3. Que funções tem a pesquisa para a prática de uma universidade, em nível de mestrado?

4. Em sua concepção, que competências/qualidades deve ter um professor(a) universitário, em nível de mestrado?

5. E, para você, o que caracteriza um professor pesquisador? Quais os elementos que o diferenciam de um professor que não realiza pesquisa?

6. A sua condição de pesquisador(a) estimula habilidades de pesquisa em suas práticas em sala de aula? Poderia dar exemplos?

7. Você crê que os professores que são pesquisadores exercem uma docência diferenciada em sala de aula universitária? Caso positivo, quais os elementos que denotam esta diferença?

8. Qual a importância da pesquisa para a sua prática? Sob que perspectiva você trabalha com ela? Existe uma teoria ou teorias do conhecimento que norteia seu trabalho? Qual?

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9. Quais estratégias o senhor(a) utiliza para articular a pesquisa com sua prática de sala de aula, no mestrado em que leciona?

10. Em sua visão, a pesquisa exerce influência na docência dos cursos de mestrado da UEFS, na atualidade?

11. Em sua opinião, é possível perceber a relação entre ensino e pesquisa na sala de aula universitária em nível de mestrado? Pode dar um exemplo?

12. Em sua visão, como os programas de Mestrado Acadêmico têm colaborado para a constituição da identidade do professor de Ensino Superior? Como você vê o processo de construção da docência universitária?

13. Há mais algo sobre o tema que estamos estudando que lhe estimularia falar, no sentido de complementar esta entrevista?

Você doaria esta entrevista para ser utilizada em parte ou integralmente na pesquisa Ser professor na atualidade: representações de docentes de mestrados da UEFS sobre a influência da pesquisa em suas práticas pedagógicas ou em estudos futuros preservando o seu anonimato? sim não

Local....................................................., data..........................

Assinatura

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Apêndice C

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA (UEFS)

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO (DEDU)

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO (PPGE)

TEMA DE DISSERTAÇÃO

SER PROFESSOR NA ATUALIDADE: REPRESENTAÇÕES DE DOCENTES DE MESTRADOS DA UEFS SOBRE A

INFLUÊNCIA DA PESQUISA EM SUAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS

ROTEIRO DE ANÁLISE DOS PROJETOS DOS CURSOS DE MESTRADOS DA

UEFS

QUESTÕES:

1. Qual a concepção de pesquisa presente nos Projetos dos seguintes Cursos de Mestrados da UEFS: I. História, Cultura e Poder; II. Desenho, Cultura e Interatividade; III. Ensino, Filosofia e História das Ciências?

2. Que funções tem a pesquisa para a prática pedagógica de professores nesses cursos de Mestrado?

3. Como a pesquisa é caracterizada, quais as suas características para os Mestrados em questão e para a formação de futuros professores?

4. Qual a importância da pesquisa para a prática desses cursos? Sob que perspectiva eles trabalham com a investigação? Existe uma teoria ou teorias do conhecimento que norteia o trabalho nesses cursos?

5. Existem estratégias descritas que busquem articular a pesquisa com a prática de sala de aula, nesses mestrados?

6. Como esses Programas de Mestrado Acadêmico colaboram para a constituição da identidade do professor de Ensino Superior? Existe alguma referência de debate sobre a docência universitária?

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Apêndice D

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA (UEFS)

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO (PPGE – MESTRADO)

OFÍCIO

Venho, através deste, solicitar a colaboração da Coordenação dos seguintes

Programas de Pós-Graduação: I. História, Cultura e Poder; II. Desenho, Cultura e

Interatividade; III. Ensino, Filosofia e História da Ciências, para a disponibilização do

Regimento Interno dos cursos a fim de que o estudante do Mestrado em Educação

da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), MURILO OLIVEIRA

ALMEIDA, possa desenvolver sua pesquisa de Dissertação, cujo tema de pesquisa

é: Representações de docentes de mestrados da UEFS sobre a influência da

pesquisa em suas práticas pedagógicas.

Feira de Santana, 08 de abril de 2013.

Andreia & Mirela (Coordenação do PPGE)