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EQUILÍBRIO ENTRE VIDA PROFISSIONAL E VIDA PESSOAL:
A EXPERIÊNCIA DE MULHERES EMPREENDEDORAS NO
RIO DE JANEIRO
CAMILLA MUGLlA QUENTAL
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO - UFRJ
INSTITUTO COPPEAD DE ADMINISTRAÇÃO
MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO
Orientadora: Ursula Wetzel, D.Se.
Rio de Janeiro Fevereiro de 2003
Professora Adjunta
EQUiLíBRIO ENTRE VIDA PROFISSIONAL E VIDA PESSOAL:
A EXPERIÊNCIA DAS MULHERES EMPREENDEDORAS
NO RIO DE JANEIRO
Camilla Muglia Quental
Dissertação submetida ao corpo docente do Instituto COPPEAD de
Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro como parte dos
requisitos necessários á obtenção do grau de Mestre.
Aprovada por:
Prof. Ursula Wetzel Brandão dos Santos, D.Sc. COPPEAD/UFRJ
Prof. Letícia Moreira Casotti, D.Sc. COPPEAD/UFRJ
Prof.IMaria José Tonelli, D.Sc. FGV/EAESP
Rio de Janeiro, RJ
2003
Presidente da Banca
FICHA CAT ALOGRÁFICA
Quenlal, Camilla Muglia.
Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a experiência de mulheres empreendedoras no Rio de Janeiro I Camilla Muglia Quental.Rio de Janeiro: UFRJ/COPPEAD, 2003.
xi, 103 p.: il.
Dissertação (Mestrado em Administração) - Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, Instituto COPPEAD de AdministraçãoCOPPEAD,2003.
Orientadora: Ursula Wetzcl
I. Equilíbrio entre vida profissional e vida pessoal. 2.Empreendedorismo e gênero. 3. Mullicres empreendedoras no Rio de Janeiro.
I. Wetzel, Ursula (Orient.). 11. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Instituto COPPEAD de Administração. IIl. Título.
Agradecimentos
Em primeiro lugar, agradeço à minha orientadora, professora Ursula Wetzel, pelo apoio,
incentivo e carinho demonstrados na real ização deste trabalho.
A meus pais, em especial a meu pai, Paulo Quental, ex-aluno do COPPEAD, que sempre
me incentivou nos estudos e cuja formação serviu de exemplo e incentivo para que eu
viesse a estudar nesta instituição.
Ao meu companheiro Guilherme, pela compreensão, força e companheirismo
demonstrados durante o curso e a realização desta dissertação.
A meus amigos e colegas de turma e aos funcionários do COPPEAD, sempre tão
atenciosos e dispostos a ajudar.
RESUMO
QUENT AL, CamiJla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a
experiência de mulheres empreendedoras no Rio de Janeiro. Orientadora: Ursula
Wetzel. Rio de Janeiro UFRJ! COPPEAD, 2003. Dissertação.
As questões relativas ao equilíbrio entre vida profissional e vida pessoal têm se tomado
cada vez mais importantes e discutidas entre empresários e estudiosos do assunto. A
importância de se examinar as questões de equilíbrio entre trabalho e família para pessoas
empreendedoras é reforçada pelo aumento da formação de n ovos negócios, especialmente
por mulheres, que nos últimos anos começaram novas empresas a uma taxa duas vezes
maior do que a dos homens. Este trabalho descreve uma pesquisa realizada com mulheres
que praticam atividades empreendedoras no Rio de Janeiro e pretende investigar, a partir
das percepções destas, as questões relativas ao equilíbrio entre vida profissional e vida
pessoal.
ABSTRACT
QUENT AL, Camilla Muglia. Equilíbrio entre vida profissional e visa pessoal: a
experiência de mulheres empreendedoras no Rio de Janeiro. Orientadora: Ursula
Wetzel. Rio de Janeiro: UFRJ / COPPEAD, 2003. Dissertação.
The issues related to the work-life balance have become increasingly more important and
discussed between businessmen and academics in the last decade. The importance of
examining the issues related to the work-Iife balance for entrepreneurial people is
renforced by the increasing number ofnew businesses fonned, especially by women, who
have started new businesses in a tax two times bigger than that of men in the last years.
This work describes a research carried through with entrepreneurial women in Rio de
Janeiro and intends to investigate, from the perceptions ofthese, the issues related to the
balance between professionallife and personal life.
1
1.1
1.2
1.3
2
2.1
2.2
SUMÁRIO
INT.ROD'UÇAO ........................................................................ .
Objetivo da pesquisa ....
Relevância da pesquisa
Delimitação da pesquisa .. ,
REF,ER:ENCIA.L TEORICO ................................................... .
Equilíbrio entre vida profissional e vida pessoal............... ...... .
A mudança do papel da mulher no mercado de trabalho ......... .
2.3 As questões relativas ao equilíbrio entre vida profissional e vida
pessoal para as mulheres ...
2.3.1
2.3.2
2.4
2.4.1
2.4.2
2.4.3
2.4.4
2.5
2.5.1
2.5.2
2.5.3
2.5.4
Família ...
Amigos, lazer e cuidados pessoais ...... .
Estilos de equilíbrio entre vida profissional e vida pessoal ....
Modelos de conexão entre trabalho e família ............................... .
Trabalho e família como domínios experienciais ................ .
.Fronteiras entre trabalho e família ..
Diferenças individuais ............... . ......... .
Empreendedorismo e mulheres
A importância dos negócios dirigidos por mulheres ................... .
Teorias clássicas de empreendedorismo ..... .
Motivações das mulheres para o empreendedorismo .....
Característica do empreendedorismo em mulheres ................. .
2.6 Influências do tipo de emprego e do gênero no equilíbrio entre vida
profiss ional e vida pessoal
2.6.1
2.6.2
2.6.3
2.7
Tipo de emprego. ......... .............. .
Gênero
Modelo de Parasuraman e Simmers
Modelo conceitual......... ..
1
2
2
5
7
7
8
1 I
12
17
22
22
24
27
28
30
30
34
35
38
40
4\
43
44
47
3
3.1
3.2
3.3
3.4
3.5
4
4.1
4.1.1
4.1.2
4.1.3
4.1.4
4.1.5
4.1.6
4.2
4.2.1
4.2.2
4.23
4.2.4
4.2.5
4.2.6
4.3
4.3.1
4.3.2
4.3.3
4.4
METODOLOGIA .................................................................... .
Tipo de pesquisa......... ..
Sujeitos da pesquisa
Coleta de dados .....
Tratamento e análise dos dados.
Limitações do método.
DISCUSSÃO DE RESULTADOS .......................................... .
Vida profissional ............................ .
Satisfação e en volvimento com a profissão ...................................... .
Lugar marcado na sociedade.
Motivações para o empreendedorismo ..
A importãncia da flexibilidade de horário
A importãncia da sócia mulher ............... .
A insegurança ......................... ..
Vida familiar .......... .
O apoio do cônjuge .............................. .
Diferenças culturais entre o cônjuge brasileiro e o estrangeiro .......... .
Pais e parentes idosos .......................... .
A importãncia de estar com os filhos ...
O sentimento de culpa ...
Estrutura de apoio ..
Vida pessoal ... .
Estresse ......................................... .
Cuidados pessoais ............................. .
49
49
51
54
55
55
57
58
58
61
62
67
69
71
73
73
77
78
80
82
83
84
84
85
Lazer ....................................................... .
Estilos de equilíbrio entre vida profissional e vida pessoal ...
86
......... 87
5 CONCLUSÃO E SUGESTÕES PARA PESQUISAS
FUTURAS .................................................................................. 92
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................... 97
1 INTRODUÇÃO
Durante a última década do século xx, o equilíbrio entre vida profissional e vida
pessoal se tomou assunto de extrema importância nos discursos da comunidade, nas
tomadas de decisão corporativas, nos debates políticos e nas nossas reflexões cotidianas.
De fato, Hall (1990, p.S) afirma que "o equilíbrio entre vida pessoal e profissional está
rapidamente se tomando o assunto do momento sobre carreiras na nova década".
Histórias em proeminentes jornais de negócios, colunas semanais no The Wall Street
Journal, cobertura em jornais locais e programas no rádio e na televisão demonstram o
aumento da importância do equilíbrio entre trabalho e vida pessoal.
As demandas conflitantes do trabalho e da vida pessoal sempre estiveram com a maioria
das pessoas. Grande parte dos indivíduos já teve crianças ou parentes idosos para tomar
conta; possuiu hohbies ou devotou parte do seu tempo a atividades comunitárias. No
passado, muitos administradores lidavam com tais necessidades pessoais sucintamente:
"O que você faz no escritório é nosso negócio. O que você faz fora dele é da sua conta".
(FRIEDMAN, CHRlSTENSEN E DEGROOT, 2000)
Poder-se-ia questionar se os tempos mudaram. Por um lado, algumas mudanças
demográficas ocorridas nos últimos anos, como o aumento do número de mulheres na
força de trabalho, colocaram um número maior de mães nas profissões, aumentando a
importância das questões sobre equilíbrio entre vida profissional e pessoal. Novas
forças econômicas, como a competição global, também modificaram o cenário, criando
uma necessidade sem precedentes de funcionários comprometidos numa época em que
a lealdade se encontra em baixa nas corporações. Por outro lado, a maioria dos
executivos ainda parece acreditar que toda vez que os interesses pessoais de um
2
funcionário prevalecem, a organização sofre, de alguma forma, uma perda.
(FRIEDMAN, CHR1STENSEN E DEGROOT, 2000)
Nesse contexto, a atividade empreendedora surge como uma opção de carreira para
algumas pessoas que procuram alcançar um melhor equilíbrio entre as demandas do
trabalho e da família. A importãncia de se examinar as questões de trabalho e família
para pessoas empreendedoras é reforçada pelo aumento da formação de novos negócios,
especialmente por mulheres, que nos últimos anos começaram novas empresas a uma
taxa duas vezes maior que a dos homens. (PARASURAMAN E SIMMERS, 2001) Na
ausência de estudos conclusivos, é dificil determinar se o fato de ter seu próprio negócio
atenua as restrições encontradas no trabalho em grandes organizações, e se é uma
solução para o maior equilíbrio entre os papéis do trabalho e da família.
1.1 Objetivo da Pesquisa
A pesquisa tem como objetivo estudar o equilíbrio entre vida profissional e vida pessoal
para mulheres empreendedoras brasileiras. Especificamente, o estudo pretende
investigar, a partir das percepções destas mulheres, as questões relativas a esse
equilíbrio, abordando aspectos de relacionamento com o cônjuge ou companheiro,
filhos, pais ou parentes idosos e amigos. Serão abordados também aspectos como
cuidados pessoais e lazer, além de estilos de equilíbrio entre vida profissional e vida
pessoal.
1.2 Relevância da Pesquisa
As mudanças nas relações de trabalho que ocorreram a partir dos anos 80 levaram as
carreiras corporativas a grandes incertezas e instabilidade. O antigo sistema de trabalho
3
que pressupunha segurança, empregos vitalícios, com avanços profissionais previsíveis,
chegou ao fim. (CAPPELLl, 1999)
Kanter (1997) distingue três principais tipos de carreira, nas quais a malOna das
carreiras das pessoas um dia se encaixou: carreiras "corpocráticas" (ou burocráticas nos
negócios); carreiras profissionais e carreiras empresariais.
Na carreira "corpocrática" (burocrática), os elementos de oportunidade estão
intimamente ligados ao cargo que se ocupa na empresa e o crescimento ocorre por
promoções que afetam juntamente a hierarquia e o salário. Tal padrão de carreira se
encontra em extinção em muitos países, notadamente nos desenvolvidos.
A estrutura das carreIras profissionais, por sua vez, é definida por habilidades ou
ocupação, sendo o conhecimento a chance de ter tarefas mais exigentes e desafiadoras.
Neste tipo de carreira os profissionais têm pouca lealdade com as empresas e o lugar
certo para trabalhar depende de suas habilidades e das oportunidades do momento.
o terceiro padrão é a carreira empresarial. Segundo Kanter (1997), diferentemente da
idéia clássica da posse de um negócio, a carreira empresarial é aquela na qual o
crescimento ocorre através da criação de novo valor ou nova capacidade organizacional.
O risco das carreiras empresariais é certamente maior do que o dos outros tipos de
carreira. Por outro lado, os empresários capturam uma parte muito maior dos retornos
financeiros se tiverem sucesso.
Não existe fórmula pronta para que uma pessoa se tome empreendedora. Alguns
estudos que tentaram enfocar o perfil de empreendedores bem sucedidos, tentando unir
4
características de personalidade com desempenho do negócio, mostraram como é dificil
produzir resultados nesse campo. (MACHADO E GlMENEZ, 2001)
Embora a questão da personalidade empreendedora continue atraindo estudiosos do
assunto, a sua associação com o processo de gestão e com o gênero não foi
suficientemente explorada. De fato, a diversidade de pesquisa em termos de gênero tem
se acentuado relativamente nas duas últimas décadas com o sucesso e o crescimento do
número de mulheres empreendedoras em diversas localidades. (MACHADO E
GIMENEZ, 2001)
Estudos indicam semelhanças no comportamento empreendedor de homens e mulheres
em váríos aspectos. No entanto, algumas diferenças significativas foram encontradas,
principalmente associadas com características de estilo administrativo, relação com o
mercado e estratégia adotada pelos empreendedores. Na análise do estilo administrativo,
levando em consideração a dimensão "valores predominantes", os valores considerados
mais importantes, pela ordem, pelas mulheres foram: vida confortável, liberdade,
segurança da família, harmonia interior e mundo de paz No caso dos homens, embora
os valores sejam quase os mesmos, há algumas diferenças. O valor considerado mais
importante para os homens foi a felicidade, que não ficou entre os mais importantes das
mulheres.Os demais foram, pela ordem, os seguintes·. segurança da família, vida
confortável, auto-respeito e harmonia interíor. (MACHADO E GIMENEZ, 2001)
Os valores considerados mais importantes para as mulheres possuem estreita relação
com a questão do equilíbrio entre vida pessoal e trabalho. Tal questão tem se tomado
cada vez mais importante e discutida entre empresários e estudiosos do assunto. A
dificuldade em conciliar vida pessoal com profissional para mulheres que fazem
5
carreiras em empresas muitas vezes pode levar a crer que a carreira empresarial toma
mais fácil tal equilíbrio.
Diante de tal quadro, cabe perguntar quais são as vantagens e desvantagens das
atividades empreendedoras para as mulheres na busca pelo equilíbrio entre trabalho e
vida pessoal. Trata-se de um tema ainda insuficientemente pesquisado, mas cujas
implicações são bastante relevantes para os profissionais que pretendem alcançar esse
equilíbrio.
Os estudos sobre o assunto seguem, Via de regra, práticas metodológicas que
privilegiam a pesquisa por meio de entrevistas estruturadas. O presente estudo, por sua
vez, parte de uma perspectiva interpretativa, procurando captar as percepções das
mulheres envolvidas em atividades empreendedoras. Assim, espera-se uma contribuição
que possa se constituir em um primeiro passo para novas abordagens teóricas do tema
no caso brasileiro.
Além disso, o estudo de tais questões poderá permitir que pessoas desejosas de
ingressar na carreira empresarial tenham um maior entendimento das mesmas, em um
IÚvel de detalhe que se estenda para além de simples informações gerais.
1.3 Delimitação da Pesquisa
São várias as questões importantes tratadas pela literatura especializada sobre o
equilíbrio entre vida pessoal e profissional, tanto para homens quanto para mulheres. A
questão de tal equilíbrio para pessoas que trabalham em grandes corporações recebe
grande atenção. Esta pesquisa, porém, ficará limitada à captura das percepções de um
grupo específico: mulheres que praticam atividades empreendedoras.
6
Vale destacar, ainda, que o termo "empreendedorismo" não possui um conceito exato.
Segundo Shane e Venkataraman (2000), "empreendedorismo" envolve dois fenômenos:
a presença de oportunidades lucrativas e a presença de indivíduos empreendedores.
Drucker (1987) utiliza a expressão "entrepreneurship" como "espírito empreendedor".
Para o autor, o espírito empreendedor seria uma característica de um indivíduo ou de
uma instituição, não um traço de personalidade. Para Bernhoeft (1996), embora existam
pessoas que apresentem características empreendedoras desde muito cedo, para ser um
empreendedor não basta apenas identificar oportunidades de negócio; é preciso realizá
las.
No presente estudo, as mulheres empreendedoras em questão estabeleceram uma
atividade própria, tendo começado um negócio que consiste na sua atividade principal.
Tais mulheres não possuem outra profissão a que se dediquem integralmente, podendo
ser as únicas proprietárías do seu negócio ou possuir sócias também mulheres.
Esta pesquisa se propõe a investigar quais são as questões relativas ao equilíbrio entre
vida profissional e pessoal segundo a percepção de mulheres empreendedoras. Não
pertence ao escopo deste trabalho propor alternativas para alcançar tal equilíbrio.
Assim, o presente estudo não fornece nenhum guia para a realização de mudanças em
relação ao equilíbrio entre trabalho e vída pessoal.
7
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 Equilibrio entre vida profissional e vida pessoal
o problema do equilíbrio entre vida profissional e vida pessoal reflete uma
incompatibilidade entre as demandas do papel do trabalho e as demandas do papel da
família. O tipo mais freqüente de conflito entre trabalho e família ocorre quando as
demandas por tempo de um papel tomam dificil ou impossível participar integralmente
do outro. (PARASURAMAN E GREENHAUS, 1997) Conflitos de horário e excesso
de tempo despendido no trabalho podem ser citados como exemplos. Outros problemas
podem vir da interferência entre um papel e outro. Isto pode ocorrer quando sintomas de
natureza psicológica, como ansiedade, fadiga e irritabilidade, gerados pelas demandas
de um dos papéis, invadem o outro papel, tomando dificil a execução das
responsabilidades deste último.
A interferência excessiva do trabalho na família pode ter efeitos adversos nas relações
dos indivíduos com seus cônjuges e na qualidade da vida familiar. Por outro lado, a
interferência crônica da família nas responsabilidades do trabalho pode vir a prejudicar
o progresso nas carreiras dos empregados e, portanto, reduzir sua satisfação com a \~da
profissional. Segundo Waterman, Waterman e Collard apud Parasuraman e Greenhaus
(1997), da perspectiva de um empregador, severos conflitos entre trabalho e família
podem interferir na concentração dos empregados em suas atividades, aumentar o
absenteísmo e, em casos extremos, levar a demissões voluntárias. Assim, conflitos entre
vida profissional e vida pessoal podem criar múltiplos problemas que afetam diferentes
membros da sociedade de diversas maneiras.
8
Greenhaus e Beutell (1985) definiram o conflito entre trabalho e família como pressões
incompatíveis surgindo simultaneamente da interseção dos papéis do trabalho e da
família. Pesquisas anteriores identificaram dois tipos dominantes de conflito entre
trabalho e família: o conflito baseado no tempo e o conflito baseado na tensão.
o conflito baseado no tempo é experimentado quando o tempo despendido em um papel
toma dificil preencher as demandas do outro. O conflito baseado na tensão ocorre
quando as tensões geradas por um papel invadem o outro. Assim, sintomas como
irritabilidade, fadiga e depressão, sentidos em um dos papéis, podem tomar difícil
participar efetivamente do outro. (GREENHAUS E BEUTELL, 1985)
2.2 A mudança do papel da mulher no mercado de trabalho
A revolução no trabalho e na família da última parte do século XX afetou
profundamente as estruturas sociais, instituições e culturas que constituem a base de
nossa sociedade. (LlLLY, PlTT-CATSOUPHES E BRADLEY, 1997) Nossos
processos sociais mais básicos começaram a ser influenciados pelas transformações no
trabalho e na família. Novos papéis para os gêneros têm sido testados, permitindo
flexibilizar as estruturas tradicionais que determinaram as construções sociais relativas
ao gênero. Os efeitos da revolução no trabalho e na família podem ser sentidos em
quase todos os aspectos de nossa vida social e privada.
o aumento expressivo da participação das mulheres na força de trabalho pode ser
considerado a causa da transformação mais importante no mercado de trabalho nos
últimos vinte anos. Estimulado, inicialmente, pela oportunidade de igualdade de
emprego e pelos movimentos feministas, o crescimento da participação na força de
trabalho das mulheres foi sustentado pelo aprimoramento na educação, pelo seu desejo
9
de realização pessoal, pela necessidade econômica e alto custo de vida, e pelo grande
número de divórcios. (FERBER, O'F ARRELL E ALLEN, 1991)
Na medida em que novas formas de estrutura familiar emergiram, a família tradicional
consistindo no marido responsável por garantir o pão de cada dia, na mulher dona de
casa e nas crianças declinou para um status minoritário e agora responde por apenas
10% dos lares em que se trabalha nos Estados Unidos. Em contraste, a proporção de
famílias em que tanto o homem quanto a mulher são responsáveis pelo sustento e
famílias sustentadas por somente um dos pais cresceu significativamente.
(P ARASURAMAN E GREENHAUS, 1997)
Os acontecimentos mais significativos oconidos nosEstadosUnidos, em termos de suas
implicações para as questões de trabalho e família foram, segundo Parasuraman e
Greenhaus {I 997):
• entre 1970 e 1994, a participação das mulheres na força de trabalho cresceu duas
vezes mais rápido que a do homem;
• as mulheres respondiam por 46% da força de trabalho total em 1994; em 1970
respondiam por apenas 38%;
• das mães que têm filhos com menos de 6 anos, 62% estão empregadas;
• das mães que têm filhos com idade entre 6 e 17 anos, 75% estão empregadas;
• quase metade (40%) de todos os trabalhadores são membros de famílias em que
tanto o homem quanto a mulher trabalham;
10
• famílias com somente um dos pai s respondem por 23% da força de trabalho e
formam o segmento que cresce mais rapidamente;
• estima-se que 15% dos homens e mulheres adultos possuem responsabilidade pelos
cuidados com pais idosos ou outros parentes de idade, e a proporção está
aumentando. ( SCHARLACH apudPARASURAMAN E GREENHAUS, 1997)
Uma das limitações mais óbvias no entendimento da natureza e do significado do
trabalho para as mulheres se encontra na definição bastante limitada do que constitui
trahalho. Tradicionalmente, as ciências sociais definiram trabalho como a produção de
bens e serviços que são de valor para outros. (FOX E HESSE-BIBER, 1984) Tomando
como critério essa definição, as mulheres deveriam ser vistas como envolvidas em
trabalho na maior parte do tempo em que se encontram acordadas, estejam sendo pagas
ou não. No entanto, o trabalho da mulher sempre foi considerado menos seriamente que
o dos homens, principalmente quando executado sem pagamento.
Mesmo para as mulheres que trabalham com remuneração, seu trabalho, em
comparação com aquele do homem, geralmente foi considerado menos importante,
menos central para sua definição como pessoa e menos propenso a refletir um
compromisso genuíno. (GROSSMAN E CHESTER, 1990)
o fato de que a malOna das mulheres está concentrada em ocupações de status
relativamente menor continua sendo verdadeiro nos dias atuais. Além disso, as mulheres
que estão empregadas continuam a fazer a maior parte do trabalho da casa,
independentemente do seu status, de suas horas de trabalho ou remuneração.
(BARUCH, BARNETT E RNERS apud GROSSMAN E CHESTER, 1990) Assim, as
experiências profissionais das mulheres possuem caracteristicas específicas, que devem
11
ser levadas em conta ao analisarmos a questão do equilíbrio entre vida profissional e
vida pessoal.
No Brasil, o mercado de trabalho passou por profundas transformações ao longo da
última década. Dentre elas, uma das mais importantes (e desapercebidas) foi a mudança
de perfil da força de trabalho, que se tomou mais velha, mais escolarizada e mais
feminina. Vários aspectos associam-se a esse processo, como mudanças nas
caracteIÍsticas produtivas por gênero, alterações no âmbito familiar e transformações
estruturais na composição setorial do PIB. (FONTES E URANI, 200 I)
O crescimento do desemprego e a necessidade de complementação de renda da família
se apresentam como causas para a entrada da mulher no mercado de trabalho. Porém, a
inserção da mulher no mercado de trabalho não pode ser vista apenas como
complementar, tendo em vista que o trabalho das mulheres tem sido crescentemente
reconhecido e elas são, cada vez mais, as responsáveis pela principal fonte de renda da
família. (FONTES E URANI, 200 I)
Na região metropolitana do Rio de Janeiro, quase 80% do aumento da população
economicamente ativa (PEA) na década de 90 se deveu às mulheres; elas já
representam, hoje, mais de 40% da PEA da segunda maior região metropolitana do país.
(FONTES E URAN~ 200 I )
2.3 As questões relativas ao equilíbrio entre vida profissional e pessoal para as
mulheres
Várias são as implicações das mudanças do papel da mulher no mercado de trabalho
ocorridas nos últimos anos. A seguir serão colocadas algumas questões relativas ao
12
equilíbrio entre vida profissional e pessoal, abordando-se aspectos como relacionamento
com os filhos, com os pais e parentes idosos, com o cônjuge ou companheiro e com os
amigos, além de cuidados pessoais e lazer.
2.3.1 Família
Lares em que ambos os pais são responsáveis pelo sustento da família e a presença de
crianças aumentam consideravelmente as demandas por tempo no papel da família.
(BENlN E NlENSTEDT apud PARASURAMAN E SIMMERS, 2001) A demanda
pelos pais parece ser uma função do número e da idade das crianças, e da idade da
criança mais nova. (GREENHAUS E PARASURAMAN apud PARASURAMAN E
SIMMERS,200l)
A demanda pelos pais também parece ser maior para aqueles com crianças pequenas e
na idade pré-escolar, menor para aqueles com crianças na idade escolar, e menor ainda
para aqueles com crianças adultas que não vivem na mesma casa. (OSHERSON E
DILL apud PARASURAMAN E SIMMERS, 2001) No entanto, Sue ShelIenbarger,
jornalista responsável pela coluna "Work & Family" do The Wall Streei Journal, afirma
que um dos maiores erros que cometeu na condição de mãe que trabalha foi assumir
que, uma vez que as crianças tinham atingido a idade escolar, a fase mais dificil em
conciliar trabalho e família já teria passado.
Na opinião de ShelIenbarger (1999), o período que começa a partir da idade de cinco
anos é pelo menos tão desafiador para os pais que trabalham quanto os anos pré
escolares, e freqüentemente até mais. As crianças em idade escolar passam somente
cerca de um quinto do número total de horas em que permanecem acordadas na escola.
Segundo Shellenbarger (1999), as crianças mais velhas possuem necessidades
13
complicadas ligadas às questões relacionadas a valores que somente os pais podem
responder. "Suas atividades extra-curriculares requerem os serviços de uma animadora
de torcidas, chau./Jeur e dama de companhia (para não mencionar banqueiro para cobrir
essas contas extra-curriculares sempre crescendo)", afirma Shellenbarger. A jornalista
também chama a atenção para o fato de que os pais precisam estar o tempo todo
disponíveis para fazer o papel de conselheiros e amigos, não só quando lhes é
conveniente, mas quando seu filho deseja falar.
A análise das mudanças nas características demográficas e na estrutura familiar da força
de trabalho revela que a maioria das famílias não possui um dos pais ou alguma outra
pessoa que tome conta das crianças o tempo todo. (pARASURAMAN E SIMMERS,
200 I) Um estudo recente mostra que, apesar dos acordos extras feitos pelos pais com
pessoas que tomam conta de seus filhos, quase um terço dos pais relataram a quebra
desses acordos num período de três meses. Pais que conseguem obter um menor número
de quebras em acordos desse tipo geralmente experimentam menos estresse, lidam mais
eficientemente com os problemas e tendem a ficar mais satisfeitos com sua vida em
geral. (pARASURAMAN E SIMMERS, 2001)
A maioria das mães com crianças pequenas nos Estados Unidos ingressa na força de
trabalho num momento em que ao menos um de seus filhos tem menos de 12 meses de
idade. (O.S. BUREAU OF LABOR STATlSTlCS CENSUS apud GROSSMAN E
CHESTER 1990) Uma série de fatores tende a afetar os padrões de emprego das
mulheres durante o período em que seus filhos possuem pouco tempo de nascidos,
incluindo educação, duração e tipo de emprego antes de ter filhos; atitudes do marido,
salário, e tipo de profissão; percepções na imancia das mulheres da experiência de suas
14
próprias mães e as próprias atitudes das mulheres em relação à possibilidade e ao desejo
de combinar emprego remunerado com a função de tomar conta das crianças.
(GROSSMAN E CHESTER, 1990)
o sucesso dos esforços de qualquer mãe para trabalhar fora de casa dependerá de
variáveis externas (status na organização, flexibilidade de horário, disponibilidade de
tempo, atitude do cônjuge, etc). Entretanto, como afirmam Grossman e Chester (1990),
informações sobre atributos de personalidade, como níveis de motivação individual,
também podem levar a importantes e legítimos insights sobre os diferentes modos pelos
quais as mães reagem às demandas de duplos papéis.
As necessidades de suporte familiar também incluem a assistência aos pais ou parentes
idosos. Nos Estados Unidos, cerca de 15% dos homens e mulheres adultos possuem
responsabilidade pelos cuidados com paIs ou outros parentes idosos.
(PARASURAMAN E GREENHAUS, 1997) A demanda por cuidados com pessoas
idosas deverá crescer significativamente com o iminente aumento da população idosa.
Dentro de poucos anos, os padrões demográficos tornarão a assistência a pessoas idosas
um fator mais importante nos Estados Unidos do que a assistência a crianças. Cerca de
um terço das pessoas que trabalham e tomam conta de seus pais ou parentes idosos
consideram que precisam tirar um tempo no trabalho para dar assistência e eles.
(SHELLENBARGER, 1999)
Segundo Ferber, O'Farrell e Allen (\991), para a próxima geração, duas tendências de
longo prazo na sociedade americana irão contribuir para aumentar as demandas dos
adultos que trabalham por cuidados com os dependentes. Uma tendência é a de aumento
na proporção de pessoas idosas na população americana; os idosos dependem em vários
15
graus de seus filhos adultos, principalmente das filhas mulheres. A segunda tendência é
a de fluxo constante de mulheres para a força de trabalho, que reduz o tempo que elas
têm disponível para os papéis tradicionais de cuidar dos parentes idosos e das crianças e
cria conflitos para as mulheres empregadas que são responsáveis por dependentes.
A fragilidade ou doença de um parente idoso por quem se tem estima pode trazer à tona
enervantes questões emocionais, causando confusão e preocupação para os envolvidos
no problema. As necessidades de uma pessoa idosa costumam ser complicadas,
geralmente envolvendo períodos de críse alternados com longos períodos de calma. Tais
realidades podem causar grandes impactos, freqüentemente traumáticos, na vida
profissional e pessoal de uma pessoa. (SHELLENBARGER, 1999)
As crises de saúde das pessoas idosas são como relâmpagos, com pouco aviso e força
quase destruidora. Devido a essa imprevisibilidade, ao menos J 6% da força de trabalho
já se encontra providenciando cuidados com os idosos antecipadamente. Nesses casos,
procura-se saber que tipo de assistência o idoso deseja ter, assegurar o direito legal de
realizar seus desejos caso este fique incapacitado e tomar decisões quanto aos cuidados
com a sua saúde. (SHELLENBARGER, 1999)
A assistência aos idosos tem redirecionado carreiras de nível mais elevado nos últimos
anos. Isso ocorre devido ao fato de que no passado, os parentes idosos constituíam um
problema marginal no mercado de trabalho, já que as mulheres, geralmente
responsáveis pela maior parte dos cuidados com os idosos, possuíam, em sua maioria,
profissões marginais. Hoje, um número cada vez maior de mulheres está obtendo
melhores posições nas corporações e cada vez mais os homens se responsabilizam por
questões familiares. (SHELLENBARGER, 1999)
16
Freud e outros observaram que as duas maiores tarefas da vida são amar e trabalhar.
Com a simples sabedoria da observação, poderiamos nos perguntar o que acontece com
o amor quando o trabalho vai mal e o que acontece com o trabalho quando o amor já
não vai bem. Estas são questões profundas e não admitem respostas simples, universais.
(CROSBY, 1990)
Nos casais em que as duas pessoas trabalham, freqüentemente os dois se encontram
estressados e cansados. Desse modo, o tempo disponível para o relacionamento pode ser
prejudicado, principalmente nos casos em que o casal possui crianças e uma alta
ambição de crescimento profissional. Junto com essa ambição de crescer
profissionalmente, vem a necessidade de reconhecimento e apreciação de seus esforços
por parte do parceiro. Geralmente essas necessidades não são satisfeitas, levando á
frustração e á insatisfação com o relacionamento. Disputas de poder, sentimentos não
apoiados ou falta de cuidados mútuos são comuns, particularmente entre parceiros
muito competitivos. (O'RARE, 1997)
As famílias compostas por parceiros no segundo ou terceiro casamento formam um
grupo em crescimento. Além disso, mulheres divorciadas são as que em maior número
trabalham em horário integral (RIES E STONE apud O'RARE, 1997)
Muitos casais em que as duas pessoas trabalham não são casados pela primeira vez.
Desses casais, muitos possuem carreiras e crianças. Assim, várias das dificuldades
encontradas no primeiro casamento tendem a ocorrer nas novas famílias formadas.
Portanto, os parceiros precisam não só ajustar -se aos seus novos relacionamentos, mas
muitos também precisam fazer o papel de padrasto ou madrasta. (O'RARE, 1997)
17
Em estudo realizado com o objetivo de descobrir conexões entre vida profissional e
divórcio em mulheres profissionais, Crosby (1990, p.128) observou que o trabalho
parece proporcionar grande alívio ao sofrimento causado pelo divórcio. Uma das
mulheres entrevistadas capturou o sentimento de quase todas as outras entrevistadas ao
dizer: "O trabalho me salvou". Nas palavras de outra entrevistada: "".enquanto outra
pessoa definitivamente contribui para esse sentimento de satisfação, uma profissão pode
fazer quase o mesmo, se não mais".
Os resultados do estudo levaram a crer que quatro aspectos interrelacionados do
trabalho contam muito para este poder de aliviar o sofrimento causado pelo divórcio.
Primeiro, o fato de que o trabalho dá uma estrutura para o dia. Segundo, as atividades
absorventes do trabalho fazem com que as pessoas "dêem um tempo" dos seus
problemas domésticos. O terceiro aspecto é o fato de que ser um bom profissional
permite à pessoa reparar sua auto-estima prejudicada. Quarto, ter uma profissão ajuda a
mulher a diminuir as preocupações financeiras que surgem durante o divórcio.
(CROSBY,1990)
2.3.2 Amigos, lazer e cuidados pessoais
A frase "não tenho tempo para mim mesmo ou meus amigos" é cada vez mais dita por
pessoas que trabalham, seja para sustentar uma família, aumentar o salário familiar ou
mesmo para atingir satisfação pessoal.
Em um estudo conduzido pelo Research Group on Women and Work (RGWW),63%
das mulheres que responderam às perguntas feitas indicaram ter pouco tempo para
relacionamentos (inclui-se aí os amigos e a família mais ampla) fora do casamento. O
estudo do RGWW também indicou que, em termos de horas de lazer, as mulheres
18
casadas que trabalham têm menos tempo do que as mulheres solteiras que trabalham, e
as mulheres casadas que trabalham e que têm filhos têm menos tempo do que qualquer
um, incluindo mulheres solteiras com crianças. O estudo sugeriu que a presença de um
marido efetivamente diminuía a quantidade de tempo que uma mulher tinha para si
mesma e seus amigos, por causa da carga de trabalho doméstico aumentada. (O'HARE,
1997)
As pessoas casadas, geralmente, reportam sentimentos de culpa quando querem tempo
para si e seus amigos, sentindo-se egoístas porque "não deveriam" deixar o cônjuge
e/ou as crianças. Porém, o estresse, a fadiga e a carga excessiva de trabalho contribuem
para um sistema imunológico enfraquecido e uma vulnerabilidade emocional. Homens e
mulheres que acumulam horas de trabalho ficam com sua saúde física e emocional
debilitada. Aqueles que tentam ser "super-humanos" tomam-se fisicamente doentes e
esgotados. (O'fL\FUE, 1997)
Na opinião de O'Hare (1997), as pessoas precisam entender que ter tempo para si e para
os amigos é uma maneira muito importante de preencher as necessidades emocionais e
se revitalizar. As fontes de suporte para pessoas casadas incluem, além do parceiro,
amigos, família, colegas, e outros recursos da comunidade em que vivem, que devem
estar disponíveis na hora da necessidade. A ajuda pode ser tangível, como na forma de
dinheiro ou baby-sitting, ou intangível, como na forma de "um ombro amigo para se
chorar". Ter outras pessoas com quem contar e em quem confiar aumenta o sentimento
de estabilidade e a auto-estima, fortalecendo e criando um ambiente de atenção mútua.
(O'fL\RE, 1997)
19
O lazer é tido como uma atividade livre de qualquer obrigação. O trabalho, por outro
lado, é considerado como sendo puramente instrumental, necessário para se obter lucro
e lazer. Essa relação de exclusão entre trabalho e lazer ressoa a máxima favorita de
Frederick Taylor e Henry Ford: "work when you work and play when you play".
(ANDREW,1999)
Para os gregos e romanos, trabalho relacionava-se ao tempo ou à condição em que não
havia lazer.
"Trabalho envolve esforço, tensão, dor; lazer, ao contrário, é fácil e
prazeroso. Trabalho é feito através da coação ou necessidade; por outro
lado, ninguém é forçado ao lazer, tampouco é essencial à sobrevivência.
Trabalho é um meio para atingir um fim; lazer é o próprio fim. Trabalho é
o tempo gasto para outros; lazer é o seu próprio tempo. Trabalho é
socialmente útil; lazer é individualmente agradável mas não
necessariamente é útil para outros. Trabalho é recompensado; o lazer é a
própria recompensa". (ANDREW, 1999, p.19)
Rodrigues (1991) sugere que o lazer não é simples resíduo de tempo que resta além do
trabalho remunerado. Para nos aproximar da definição de lazer como tempo livre,
devemos subtrair do tempo em que o indivíduo não está no trabalho remunerado, o
tempo gasto nas atividades domésticas, compras, manutenção da casa, filhos e cuidados
pessoaIs.
20
Bernhoeft (1985) também ressalta que, no lazer, pode se observar, muitas vezes,
atividades de caráter recreativo aparente. Existe um compromisso ligado a status ou a
necessidades de relacionamento. Segundo o autor, isto não é lazer, pelo fato de ter
assumido um caráter de obrigatoriedade que pode se transfonnar até em ritual.
Segundo Wellner (2000), um casal trabalha atualmente em média 717 horas anuais a
mais do que trabalhava em 1969. As ferramentas que supúnhamos nos livrar do
escritório estão cada vez mais nos prendendo. Isto não significa o fim do lazer, mas sim
uma mudança na nossa idéia de liberdade do trabalho. Antes definido como a
capacidade de ficar longe do escritório fisico, "workplace independence" é atualmente
um tenno definido pela habilidade de criar horas flexíveis que nos pennitam resolver
problemas de nossas vidas pessoais e desenvolver um ambiente que propicie lazer
mesmo durante o próprio trabalho. (WELLNER, 2000)
Bowman (200 I) sugere que, para a maioria, o trabalho se tomou menos limitativo e o
lazer mais disponível. Na virada do século XIX para o XX, pesquisas indicaram que,
nos Estados Unidos, os 10% das pessoas economicamente ativas que ganhavam os
salários mais baixos trabalhavam 600 horas anuais a mais do que os 10% das pessoas
que recebiam os maiores salários. Hoje os 10% que ganham menos trabalham 400 horas
a menos. (BOWMAN, 2001)
Pesquisas recentes também sugerem que o Jazer está sendo redefinido. Quando as férias
começaram a se tornar disponíveis para a classe média americana, eram geralmente
usadas para trabalhos de outra natureza - religiosos, educacionais ou de caridadade. A
aceitação do Jazer por si mesmo é recente. Em 1975, 48% dos respondentes de uma
pesquisa feita sobre lazer afinnaram que "trabalho é o que importa e o propósito do
21
lazer é recarregar as baterias das pessoas para que elas trabalhem melhor". Atualmente
34% são dessa opinião. Aqueles que responderam "lazer é o que importa e o propósito
do trabalho é tomar possível tempo para lazer e curtir a vida" aumentaram de 36% para
40%. (BOWMAN, 2001)
Como o lazer tem se tomado mais importante, sua definição pode estar mudando de
"tempo livre" para "tempo para ficar sozinho". Entre os resultados mais interessantes de
pesquisas: 50% dos respondentes afirmou ao Gallup em 1950 que geralmente acordava
antes das 7 horas no sábado de manhã; hoje somente 28% afirmaram fazê-lo. Além
disso, as mulheres estão despendendo menos tempo em afazeres domésticos do que no
passado. (BOWMAN, 2001)
A entrada das mulheres na força de trabalho nos últimos anos chama a atenção para o
efeito que o trabalho remunerado tem sobre o seu bem-estar. Até recentemente, teorias e
pesquisas sobre estresse foram direcionadas principalmente às experiências masculinas.
Como resultado, as experiências de estresse das mulheres permaneceram relativamente
inexploradas. (LONG E KAHN, 1993)
A literatura sugere que as mulheres que trabalham estão sujeitas aos mesmos fatores
causadores de estresse experimentados pelos homens. No entanto, as mulheres são
adicionalmente confrontadas com fatores potencialmente específicos, tais como
discriminação, estereótipo, isolamento social e conflitos entre trabalho e família. Além
disso, tomar conta de crianças e parentes idosos continua a ser uma fonte de estresse
para mulheres que trabalham fora de casa. (REPETTI, MATTHEWS E WALDRON,
1989)
22
Apesar de as mulheres na força de trabalho remunerada se depararem com numerosos
fatores de estresse, a sabedoria convencional de que o trabalho é necessariamente
prejudicial ao bem-estar das mulheres não foi provada. Repetti, Matthews e Waldron
(1989) não chegaram a evidências conclusivas que suportem uma relação entre trabalho
remunerado e saúde mental ou fisica de mulheres. Pelo contrário, acharam que o
trabalho remunerado possui claros efeitos benéficos à saúde para algumas mulheres e
efeitos prejudiciais para outras. Tais efeitos dependem das características individuais de
cada mulher, de sua situação familiar, e das especificidades de sua profissão.
(REPETTI, MATTHEWS E WALDRON, 1989)
Segundo Repetti, Matthews e Waldron (1989), as mulheres que trabalham
experimentam uma série de fatores causadores de estresse relacionados ao trabalho. No
entanto, parecem estar em melhor situação do que aquelas mulheres que não trabalham.
Os individuos que possuem seus próprios negócios, em particular, estão mais propensos
a se deparar com altos níveis de estresse devido ao fato de que o trabalho e suas
demandas geralmente dominam suas vidas. Para os indiviiduos empreendedores, a
separação clara entre atividades de trabalho e não relacionadas ao trabalho
freqüentemente não existe. Além disso, para esses indivíduos, um dia típico de trabalho
pode facilmente se estender para 12 horas ou mais por dia. (JAMAL, 1997)
2.4 Estilos de equilíbrio entre vida profissional e vida pessoal
2.4.1 Modelos de conexão entre trabalho e família
Wilensky apud Sumer e Knight (2001) formulou hipóteses de três possíveis modelos
para explicar a relação entre os domínios do trabalho e da família: extravasamento
23
(spillover), compensação e segmentação. Na hipótese de extravasamento, a satisfação
em um domínio da vida irá causar satisfação em outros. O extravasamento pode ser
positivo ou negativo, ou seja, a vida familiar pode facilitar e estimular a vida
profissional (~pillover positivo) ou torná-Ia maIs dificil e problemática (LAMBERT
apud SUMER E KNIGHT, 2001)
O modelo de compensação defende que as experiências de trabalho e de família tendem
a ser anti éticas, isto é, há uma relação inversa entre trabalho e família. A compensação
ocorre quando as pessoas respondem às condições insatisfatórias de um dos domínios
envolvendo-se mais no outro. De acordo com Lambert apud Sumer e Knight (2001), a
compensação geralmente ocorre indiretamente; reações subjetivas (geralmente na forma
de insatisfação) transmitem os efeitos de condições objetivas de um domínio para
resultados no outro domínio. Os resultados da compensação são niveis diferenciados de
envolvimento no trabalho e na família. (SUMER E KNIGlIT, 2001)
O terceiro modelo, a hipótese de segmentação, enfatiza a separação dessas esferas da
vida. Tal modelo defende que trabalho e familia são distintos e não se relacionam.
Proponentes dessa visão afirmam que trabalho e lazer são psicologica e fisicamente
separados; a maioria dos indivíduos na sociedades industriais vive cada segmento mais
ou menos independentemente do outro. (SUMER E KNlGHT, 2001)
Devido ao fato de que extravasamento, compensação e segmentação são tipicamente
considerados processos mutuamente exclusivos, os indivíduos são tipicamente
classificados como extravasando, compensando ou segmentando, com base no padrão
que mais se aproxima das suas próprias experiências. A evidência empírica sugere, no
entanto, que extravasamento, compensação e segmentação podem não ser mutuamente
24
exclusivos. Piotrkowski apud Sumer e Knight (2001), por exemplo, descreveu exemplos
de compensação e extravasamento experimentados pelos mesmos indivíduos. Parece
plausível pensar que alguns aspectos tanto da vida em familia quanto da vida
profissional estão sujeitos a extravasamento, enquanto outros são mais propensos à
compensação, e ainda outros são mais prováveis de serem segmentados.
Assim, parece ser mais lógico tratar compensação, extravasamento e segmentação como
processos potencialmente em sobreposição, mais do que competindo entre si.
Experiências com os três processos podem ser diferentes entre indivíduos, assim como
ao longo do tempo para um mesmo indivíduo. (SUMER E KNlGHT, 2001)
2.4.2 Trabalbo e família como domínios experienciais
Segundo Christena Nippert-Eng (1995), em nossa sociedade, por razões históricas, a
abordagens segmentárias em relação ao trabalho e à familia são geralmente muito
melhor compreendidas do que as integradoras. De fato, o "mito das esferas separadas"
permeiam a nossa cultura. (KANTER apud NIPPERT-ENG, 1995) À exceção de uma
pequena elite e/ou ocupações e estilos de vída não usuais (políticos, cléricos, médicos
rurais, soldados, pescadores comerciais, fazendeiros), raramente se espera que trabalho
e família sejam intimamante ligados para membros de nossa sociedade. (NIPPERT
ENG,1995)
As expectativas normativas de uma experiência segmentária de trabalho e família
resultam da separação de valores, ativídades, funções sociais e pessoas do trabalho e da
família em localidades espaciais e temporais separadas. Ao longo dos séculos dezenove
e vínte nos Estados Unidos, trabalho e família se tornaram cada vez mais distintos,
mentalmente e fisicamente. (NIPPERT -ENG, 1995)
25
Foi durante esse periodo que o trabalho se tomou o domínio público da atividade
assalariada. Foi crescentemente conceituado como o masculino, político, artificial (e
portanto instrumental, racional e socialmente valorizado) mundo da produção
econômica. Tomou seu espaço longe do domínio da família durante uma parte
específica do dia. A esfera familiar, por sua vez, ficou identificada como o território
privado onde o individuo residia e encontrava atividades simbolizando o amor da
mulher pela sua família. O domínio familiar foi se tomando gradualmente o dominio
feminino, um natural, não político (ou seja, irracional, emocional, biologicamente
necessário) mundo focado na reprodução social e biológica, no consumo, e, em termos
de lazer, na restauração fisica e mental para o trabalhador assalariado. (NIPPERT -ENG,
1995)
Essa separação entre os domínios do trabalho e da família pode ser ressaltada no modo
como pensamos em termos de trabalho e família hoje. Em primeiro lugar, trabalho é
tanto um lugar como uma atividade, uma função da sua associação com uma
determinada hora e lugar. Nós "vamos"para o trabalho "com o objetivo"de trabalhar.
Além disso, descrever algo como "trabalho" geralmente implica uma tediosa e até
mesmo desagradável atividade, que requer grandes doses de esforço, auto-disciplina e
habilidade. (NIPPERT ~ENG, 1995)
Apesar dos crescentes esforços das feministas, "trabalho" é geralmente associado a
"trabalho remunerado". O termo referencialmente exclui trabalho doméstico e não
remunerado, e deve ser acompanhado do termo "voluntário" quando realizado fora de
casa, sem remuneração. A implicação disso é que o trabalho remunerado é tido como
26
um tipo de atividade fundamentalmente diferente das outras, mesmo se as tarefas
realizadas forem as mesmas. (N1PPERT -ENG, 1995)
A implicação mais profunda disso é que o trabalho assalariado, fundamentalmente um
território masculino, é necessário, central para a economia, e requer esforço e
habilidade. Resistimos em igualar trabalho doméstico com remunerado porque tal
atitude rebaixa seu valor simbólico de "trabalho por amor" (DEV AUL T apud
NlPPERT-ENG, 1995) As mulheres especialmente vêem o trabalho doméstico como
um presente para sua família e uma extensão de motivos e relacionamentos mais puros
do que os que assumimos no trabalho assalariado. (N1PPERT-ENG, 1995)
Na nossa cultura, tendemos a contrastar "trabalho" com "diversão" ou "lazer", usando o
primeiro para comprar os últimos. Procuramos refügio e individualidade através do
lazer, raramente esperando encontrá-los através do trabalho. Tendemos a ver "trabalho"
principalmente como um meio para atingirmos um fim. É o que fazemos para obter os
bens necessários e desejáveis para manter nossa "casa" em várias dimensões: como uma
unidade familiar coerente, como uma residência, como um local de lazer, e como um
refügio do trabalho. É um "bônus" se o nosso trabalho é prazeroso; seu objetivo último
é proporcionar dinheiro para a obtenção de prazer em outro lugar. (NlPPERT-ENG,
1995)
Assim, trabalho e família se tomaram ideologicamente distintos nos últimos dois
séculos, cada um imbuído de expectativas que se contrapõem às do outro. A experiência
segmentária do trabalho e da família pode ser atribuída a essa imagem conceitualmente
contrastante. Realidades individuais à parte, nós culturalmente contrastamos trabalho e
27
família, cada um definido inversamente pelo outro dentro de um sistema conceitual
fechado. (NIPPERT -ENG, 1995)
2.4.3 Fronteiras entre trabalho e família
A agenda diária de uma pessoa que faz a segmentação entre trabalho e família cria um
caráter de transição para algumas horas do dia e para os espaços onde essas horas são
passadas. Preferências e necessidades individuais à parte, tais horas incluem aquelas
antes de deixarmos um determinado local de ocupação, aquelas que se seguem à
ocupação de um local diferente, e aquelas em que nos movemos de um local para o
outro. (NIPPERT-ENG, 1995)
Um exemplo de segmentação é dado pela autora Christena Nippert-Eng (1995), que
considerava difícil escrever antes que seu marido e sua filha deixassem a casa todos os
dias. Uma vez que eles saíssem de casa, a autora se considerava "pronta para trabalhar".
Em outras palavras, a saída de sua família de casa guiava a transição da autora de "casa"
para o "trabalho".
Segundo a autora, quanto mais segmentamos entre trabalho e família, mais alternamos
entre status sociais, retirando-nos de um domínio para ocupar o outro. Ao contrário,
quanto mais integramos os dois domínios, mais mantemos a presença e o contato com
os dois domínios. Nesse caso, mantemo-nos mais tanto no domínio do trabalho quanto
no da família simultaneamente, apesar de que provavelmente nos dedicamos mais a um
dos domínios em cada momento. (NlPPERT -ENG, 1995)
28
2.4.4 Diferenças individuais
A conexão entre as diferenças individuais e as relações entre trabalho e família parecem
ter sido amplamente ignoradas, apesar de existir alguma evidência de que as diferenças
individuais podem predizer padrões de satisfação nesses domínios. (JUDGE e
WAT ANABE apud SUMER E KNIGHT, 2001)
Entre as variáveis relativas a diferenças individuais, os estilos de vinculação merecem
especial atenção por várias razões. Primeiro, a teoria da vinculação (attachment theory),
que é um paradi!,>ma relativamente novo para se estudar relacionamentos próximos tanto
na infància quanto na vida adulta, oferece uma fundamentação teórica para se examinar
as orientações das pessoas em relação a tais relacionamentos. Segundo, a evidência
empírica sugere que o estilo de vinculação dominante de uma pessoa, que tem se
mostrado relativamente estável ao longo do tempo, proporciona uma perspectiva única
para se entender diferenças individuais em experiências interpessoais, incluindo como
as pessoas reagem ao seu ambiente de trabalho. (HAZAN e SHA VER apud SUMER E
KNlGHT,2001)
Terceiro, a teoria da vinculação sugere que indivíduos com diferentes estilos também
irão diferir na manutenção de limites entre trabalho e família (CASSIDY E BELSKY
apud SUMER E KNIGHT, 2001) Quarto, e talvez mais importante, a teoria da
vinculação fornece uma plataforma para se estudar a questão das relações de trabalho e
família de uma perspectiva de personalidade, de modo a se compreender o papel do
estilo de vinculação no uso de diferentes estratégias de equilíbrio entre trabalho e
família. (SUMER E KNIGHT, 2001)
29
Apesar de o conceito de vinculação ter sido mais profundamente estudado em relação às
interações entre a criança e a mãe, a literatura recentemente focou na continuidade da
vinculação ao longo da vida. Hazan e Shaver apud Sumer e Knight (2001)
argumentaram que os três padrões de vinculação na infância identificados por
Ainsworth el ai. (1978), seguro, esquivo e ansioso/ambivalente, seriam evidentes no
modo como os adultos pensam, se comportam e se sentem em seus relacionamentos
íntimos. (SUMER E KNIGHT, 2001)
Bartholomew apud Sumer e Knight (2001) propôs um modelo de quatro categorias para
a vinculação adulta: seguro, preocupado, desprezador e receoso. O padrão de vinculação
seguro é caracterizado por uma imagem positiva de si e dos outros. Ele reflete um
sentimento positivo de mérito e uma expectativa de que as outras pessoas são
disponíveis e atenciosas. O padrão preocupado é caracterizado por uma imagem
negativa de si e uma imagem positiva dos outros. Ele indica um sentimento de
desmerecimento, combinado com uma visão positiva dos outros. Esse padrão
corresponde ao grupo ansioso/ambivalente de Hazan e Shaver (1987). (SUMER E
KNIGHT,2001)
O padrão receoso reflete uma imagem negativa de si e dos outros. Essa categoria é
caracterizada por um sentimento de desmerecimento, combinado com a expectativa de
que os outros são rejeitadores e não confiáveis. Finalmente, o estilo desprezador é
tipificado por uma positiva imagem de si e uma imagem negativa dos outros; esse estilo
indica um sentimento de auto-estima, combinado com uma expectativa de que os outros
serão rejeitadores e não confiáveis. (SUMER E KNlGHT, 2001)
30
Hazan e Shaver apud Sumer e Knight (2001) argumentaram que as diferenças
individuais relacionadas às vinculações podem ter importantes implicações para a
atitude das pessoas em relação ao seu trabalho. Os autores demonstraram que os adultos
seguros têm uma atitude mais positiva em relação ao seu trabalho. Apesar de
valorizarem o trabalho, tendem a dar mais valor aos relacionamentos. Além disso, são
menos propensos a permitir que o trabalho interfira em seus relacionamentos. (SUMER
E KNIGHT, 2001)
Para os indivíduos preocupados, os problemas amorosos geralmente interferem na sua
performance no trabalho, já que eles expressam medo de rejeição por baixa
performance. Os indivíduos receosos, por sua vez, são mais propensos a usar o trabalho
para evitar interação social. Eles reportaram que o trabalho interfere em ter amigos e
uma vida social. Apesar de sua média salarial quase se igualar à do !,'lUpO seguro, os
indivíduos receosos se encontram menos satisfeitos com sua profissão. (SUMER E
KN1GHT,2001)
2.5 Empreendedorismo e Mulheres
2.5.1 A importância dos negócios dirigidos por mulheres
Os negócios dirigidos por mulheres estão cada vez mais crescendo em importância na
economia mundial, notadamente nos países mais desenvolvidos. Nos Estados Unidos,
por exemplo, vinte por cento de todos os negócios são de propriedade de mulheres.
(CENSUS BUREAU 1991 apud BUTTNER E MOORE, 1997) As mulheres empregam
mais de quinze milhões de americanos, mais do que todas as 500 empresas da F ortune
em todo o mundo. (NAT10NAL FOUNDATlON FOR WOMEN BUSINESS
OWNERS [NFWBO] apud BUTTNER E MOORE, 1997) Operando em todas as
31
indústrias, as mulheres empreendedoras mais do que triplicaram em número, de 2,5
milhões em 1980 para 7,7 milhões em 1994, representando uma taxa de crescimento
duas vezes maior do que a dos negócios de propriedade masculina. (NFWBO apud
BUTTNER E MOORE, 1997)
Esta alta taxa de crescimento no número de mulheres empreendedoras não é tão
facilmente explicável, especialmente do ponto de vista puramente econômico, dado que
os ganhos das mulheres com seus próprios negócios são significantemente menores do
que aqueles de mulheres assalariadas e de homens com seus próprios negócios - mesmo
quando ajustados pelas diferenças de indústria, ocupação e horas trabalhadas. (BROWN
apud CARR, 1996)
No Brasil, estudos recentes do lnstituto Brasileiro de Geografia e Estatística (ffiGE)
indicam que quase metade da população urbana brasileira trabalha sem assinar carteira
ou receber ordenado. Isso se deve ao fato de que, para a classe média do país, empregar
se com carteira assinada não mais fascina as pessoas como antigamente. Uma
significativa parcela da sociedade descobriu o caminho paralelo de trabalhar por conta
própria, vivendo sem patrão. Segundo o ex-ministro da Fazenda Mailson da Nóbrega,
sócio da consultoria econômica Tendências, esta é uma das maiores mudanças já
ocorridas na estrutura e na dinâmica da economia brasileira. (ABBUD, 2001)
Como a carteira de trabalho assinada foi uma conquista da era Vargas, que garantiu
direitos básicos aos empregados, trabalhar sem ela significava o mesmo que estar
subempregado. Exemplos de pessoas nessa situação são camelôs e domésticas. Essa
fatia mais humilde da sociedade continua na mesma situação de penúria. A grande
mudança ocorrida diz respeito ao ingresso no grupo dos que trabalham sem carteira
32
assinada de uma fatia expressiva formada por uma mão-de-obra qualificada. (ABBUD,
2001)
Assim, um número cada vez maior de administradores, engenheiros, publicitários e
bancários vem optando por trabalhar sem patrão no Brasil. Esse grupo se divide em três
blocos centrais: há os terceirizados, que permanecem vinculados à empresa onde
trabalhavaIfl antes, só que na condição de prestadores de serviço; há os consultores, que
atuam em diversas companhias; e há os empresários, que montaraIfl um negócio
qualquer. Comércio e prestação de serviço são as áreas mais procuradas, com cerca de
35% da preferência. Estima-se que essa fatia mais qualificada concentre em tomo de 12
milhões de pessoas, entre as 23 milhões de pessoas que trabalhaIfl sem carteira assinada
no BrasiL (ABBUD, 2001)
HistoricaIflente, a remuneração dos trabalhadores sem carteira assinada situava-se num
patamar abaixo do auferido pela fatia empregada da sociedade. Ao longo das décadas de
80 e 90, esse patamar foi subindo de forma expressiva. Segundo o cientista político
Sérgio Abranches, o Brasil se tomou uma nação de empreendedores, e tal mudança vem
se intensificando de forma silenciosa. (ABBUD, 2001)
Dados do Departamento Nacional de Registro do Comércio mostram que, de 1985 a
1989, foram abertas, em média, 420.000 empresas por ano no Brasil. Entre 1995 e 1999,
essa média aumentou para 496.000, um aumento de 18%. Outra indicação do fenômeno
empreendedor no Brasil é um trabalho recente elaborado pelo Babson College e pela
London Business School. Neste estudo, os especialistas criaram um ranking com os
povos mais empreendedores do planeta. O Brasil ficou em primeiro lugar na lista. Um
33
em cada oito brasileiros adultos monta um negócio próprio. Nos Estados Unidos,
segundo colocado, a proporção é de um para dez. (ABBUD, 2001)
Um dos motivos que contribuem para o alto índice de empreendedores no Brasil é a
legislação trabalhista rigida, que impede contratações flexíveis. Enquanto nos Estados
Unidos uma mulher que precise cuidar de uma pessoa inválida e dos filhos ao mesmo
tempo pode ser contratada como secretária de uma firma para trabalhar apenas duas
horas por dia em dias alternados, no Brasil isso não é possível. O único modelo aceito é
o das oito horas diárias, com um mês de férias, décimo terceiro salário e indenização.
(ABBUD,2001)
Há pessoas que abrem uma empresa para melhorar a qualidade de vida. Um exemplo
disso é o de um casal em que ambos tinham bons cargos na Rhodia, em São Paulo.
Depois de dez anos de carreira, os dois se desligaram da empresa para inaugurar uma
pousada no interior de Minas Gerais. Com o rendimento da pousada, o casal sustenta
quatro filhos, tem casa própria, plano de saúde e mantém um bom padrão de vida. A
renda do casal é um pouco menor se comparada à da época em que ambos eram
empregados. Porém, segundo o próprio casal, a diferença acaba sendo compensada pelo
prazer de levar adiante um projeto pessoal. (ABBUD, 2001)
Outros motivos levam as pessoas a se tomarem empreendedoras no Brasil. Alguns dos
mais fortes são: demissão por iniciativa da empresa, desejo de livrar-se do chefe,
esperança de encerrar uma rotina de trabalho que começa às 9 da manhã e acaba às 7 da
noite e, por fim, aspiração de melhorar o padrão de vida da família. (ABBUD, 2001)
34
2.5.2 Teorias clássicas de empreendedorismo
Duas teorias clássicas de empreendedorismo fornecem meios de se exammar as
caracteristicas de indivíduos empreendedores. Por um lado, as pessoas empreendedoras
podem ser vistas como aquelas que possuem habilidades particulares e o
reconhecimento dessas habilidades as motiva a estabelecer suas próprias empresas.
(KNIGHT, 1933 apud CARR, 1996) Consistentemente com esta teoria, alguns autores
descobriram que variáveis como educação, idade e experiência passada de trabalho têm
um efeito positivo nas chances de se abrir um negócio.
Borjas e Bronars apud Carr (1996) chegaram à conclusão de que a formação escolar e o
aumento da idade cronológica aumentam a probabilidade de que um indivíduo escolha
estabelecer um empreendimento, em detrimento do trabalho assalariado. Outros
atributos que podem ser cruciais para o estabelecimento de um negócio são tempo de
experiência profissional, acúmulo de capital para iniciar o negócio e o estabelecimento
de uma reputação profissional consistente. (BORJAS apud CARR, 1996) Outras
análises também mostraram que as mulheres empreendedoras, em média, são malS
velhas e melhor educadas do que as assalariadas. ( DEVINE apud CARR, 1996)
Outra perspectiva vê o empreendedorismo como a única opcão alternativa para aqueles
que sofrem restrições com a tradicional profissão assalariada. De acordo com essa
perspectiva, os indivíduos empreendedores não possuem necessariamente habilidades
específicas que os diferenciam dos outros em empregos assalariados, mas estão
simplesmente reagindo às restrições estruturais com que se deparam. (SCHUMPETER,
1934 apud CARR, 1996)
35
Similarmente, estudos também mostram que o empreendedorismo agiria principalmente
como uma defesa contra o desemprego ou como um refugio para trabalhadores mais
velhos, incapacitados, e para aqueles com baixa produtividade pessoal. Essa teoria
sugere que as minorias étnicas, os imigrantes, os fisicamente incapacitados e aqueles
que vivem em áreas geográficas com alto desemprego tendem a reagir aos obstáculos do
tradicional setor de empregos assalariados formando seus próprios negócios. (CARR,
1996)
As duas teorias sobre empreendedorismo se baseiam implicitamente no modelo padrão
de participação no mercado de trabalho, segundo o qual os indivíduos se comportam
racionalmente de modo a maximizar seus retornos financeiros. Segundo Aronson apud
Carr (1996), ambas as teorias foram formuladas para explicar o empreendedorismo em
homens.
2.5.3 Motivações das mulheres para o empreendedorismo
Em um estudo sobre motivações de mulheres para o empreendedorismo, Hisrich e
Brush (1985) perguntaram às mulheres respondentes, donas de negócios, quais foram as
razões que as fizeram começar seus negócios. Os fatores mais freqüentemente citados
foram frustração e tédio em suas profissões anteriores, seguidos por interesse no
negócio e autonomia. Pesquisa mais recente feita por Stokes, Roger e Sullivan apud
Buttner e Moore (1997) chegou à conclusão de que as mulheres vêem o ambiente de
trabalho em grandes organizações como sendo significantemente mais hostil e essa
percepção está relacionada com suas intenções de mobilidade profissional.
Nos últimos anos, atenção considerável tem sido dada ao "teto de vidro" - a barreira
aparentemente impenetrável que impede que mulheres com cargos gerencias se movam
36
para a suíte executiva. (Crichton apud BUTTNER E MOORE, 1997) Consistentemente
com a pesquisa de Hisrich e Brush (1985), essas mulheres com experiência profissional
que deixam as grandes organizações para se tornarem empreendedoras podem estar
abrindo mão de suas posições nas empresas devido ao "teto de vidro".
Algumas pesqUISas sugerem que as carreiras das mulheres não podem ser bem
compreendidas se forem levados em conta os padrões dos homens. Espera-se dos
homens que direcionem sua energia para a carreira durante os anos de trabalho,
enquanto das mulheres é esperado que assumam maior responsabilidade pelos cuidados
com a família, assim como com o trabalho. (BUTTNER E MOORE, 1997)
A administração das responsabilidades do trabalho e da família é uma questão que
preocupa a maioria das mulheres que trabalham. Apesar de haver um crescente
reconhecimento das responsabilidades dos pais e maridos na manutenção da vida
doméstica, as mulheres ainda assumem uma parte desproporcionalmente maior dessas
responsabilidades. Olson e Currie apud Buttner e Moore (1997) concluíram que o valor
mais importante para mulheres empreendedoras é a segurança da família.
Carr (I996), por sua vez, afirma que nem a teoria das restrições de Schumpeter nem a
teoria de escolha de Knight oferecem uma explicação adequada dos fatores que levam
as mulheres a se tornarem empreendedoras. Segundo Carr (1996), ter seu próprio
negócio, assim como trabalhar meio expediente ou em casa, são estratégias de trabalho
flexível adotadas por mulheres para melhor conciliar as demandas da família e do
emprego remunerado. Assim, de acordo com a autora, uma teoria de empreendedorismo
que se aplique a mulheres precisa incorporar características familiares, incluindo estado
37
civil e idade das crianças, Tais características familiares representam tanto motivações
corno restrições nas decisões profissionais das mulheres,
Para Carr (1996), abrir um negócio oferece à mulher urna alternativa adaptativa ou "via
escapatória" de empregos menos convenientes e menos flexíveis no setor assalariado. A
autora desenvolve urna nova teoria de empreendedorismo em mulheres, que pOSSUI
aspectos tanto da teoria de Schumpeter corno da teoria de Knight,
Apesar de as características familiares - maIS notavelmente, cnanças pequenas -
imporem restrições nas opções de emprego remunerado de urna mulher, alguns fatores
corno educação e os rendimentos do cônjuge permitem que esta escolha ter seu próprio
negócio ao invés de ter um emprego assalariado menos flexível. As mulheres não se
tomam empreendedoras por não terem outra opção, corno sugerido pela teoria das
restrições de Schumpeter. Ao invés disso, as mulheres - especialmente aquelas com
críanças pequenas e que possuem recursos para facilitar o início do seu próprio negócio
(ex: educação e urna segunda fonte de renda vinda do cônjuge) - irão optar por abrír um
negócio porque isso permite que ela tenha mais flexibilidade e um maior grau de
autonomia do que outras formas de trabalho contingente, corno meio expediente e
trabalho temporàrío. (CARR, 1996)
Green e Cohen (1995) oferecem algumas citações ilustrativas extraídas de suas
entrevistas com 24 mulheres que deixaram posições em grandes organizações para
estabelecer seus própríos negócios. Urna das mulheres tentou permanecer em sua
profissão na área de vendas por um ano depois de ter seu bebê: "Eu continuei a
trabalhar porque pensei que fosse conseguir fazer tudo, Pensei que Jessica iria fazer
exatamente o que eu havia dito a ela, e pensei que poderia ter urna profissão em vendas
38
que me demandava viajar por todo o país, e que ainda poderia cuidar do meu bebê. Mas
essa foi a declaração mais estúpida que já dei na minha vida." A respondente agora é
proprietária e gerente de uma distribuidora de papéis.
2.5.4 Características do empreendedorismo em mulheres
São várias as histórias heróicas de mulheres que fundaram companhias que cresceram
milhões em vendas, com centenas de empregados. Ao mesmo tempo, há casos de
empreendimentos que trouxeram menos de mil dólares nos seus melhores anos. (BURT,
2000)
Hisrich e Brush apud Carter, Anderson e Shaw (200 I, p.24), na tentativa de traçar um
perfil demográfico das mulheres empreendedoras, descreveram a típica empreendedora
feminina como sendo "a primeira filha de pais de classe média ... depois de obter um
diploma em artes, ela se casa, tem filhos e trabalha como professora, administradora ou
secretária. Seu primeiro empreendimento na área de serviços começa depois que ela tem
35".
Algumas características de mulheres empreendedoras foram listadas por Hisrich apud
Burt (2000), em contraste com as características masculinas: enquanto os homens
empreendedores possuem forte opinião e são persuasivos, as mulheres são flexíveis e
tolerantes; enquanto os homens obtêm satisfação profissional com o fato de estar no
controle, as mulheres obtêm satisfação por estarem livres das fiustrações da profissão
anterior; enquanto os homens contam com o suporte de amigos e colegas de profissão,
as mulheres confiam nos amigos mais próximos; enquanto os homens abrem seus
negócios com idade entre 25 e 35 anos, as mulheres empreendedoras são uma década
mais velhas.
39
Usando uma amostra de 58 mulheres e 43 homens empreendedores, Watkins e Watkins
apud Carter, Anderson e Shaw (2001) descobriram que as experiências anteriores das
mulheres eram substancialmente diferentes daquelas dos homens. As experiências
anteriores dos homens empreendedores tendem a ser mais relacionadas com o seu
empreendimento atual. Para eles, a abertura do próprio negócio permite que tenham
uma ocupação similar a que tinham antes, porém com mais independência e autonomia.
As mulheres empreendedoras, por sua vez, geralmente não possuem experiência
anterior relacionada ao negócio atual. Os autores também concluíram que a maioria das
mulheres se encontra despreparada para iniciar o negócio e, conseqüentemente, tende a
incorrer em maiores riscos.
Em relação à aquisição de recursos para iniciar um negócio, pesquisas mostram que as
mulheres enfrentam mais barreiras para obter dinheiro, seja pelo sistema bancário ou
por outras fontes. Como Hisrich e Brush apud Carter, Anderson e Shaw (2001)
descreveram: "Para uma mulher empreendedora que não tem experiência em
administração executiva, tem responsabilidades financeiras limitadas, e propõe um
produto não registrado, a tarefa de persuadir um funcionário do setor de empréstimos a
disponibilizar capital inicial não é fácil. Como resultado, uma mulher geralmente
precisa ter seu marido para assinar uma nota promissória, procurar um avalista ou usar
ativos pessoais. Muitas mulheres empreendedoras sentem fortemente que foram
discriminadas nesta área financeira" Os autores também reportaram que metade de
suas respondentes disseram ter tido dificuldades em enfrentar as crenças sociais de que
as mulheres não são tão sérias quanto os homens nos negócios.
40
Em pesquisa feita com 814 mulheres que cursaram um MBA na Graduate School of
Business da Universidade de Chicago e que vivem nos Estados Unidos, Burt (2000) se
deparou com o fato de que quase todas as atividades empreendedoras praticadas pelas
respondentes eram em serviços. Refletindo a reputação da Universidade de Chicago, a
categoria mais popular foi a de serviços financeiros, desde contabilidade até
aconselhamento financeiro. Uma em cada cinco empreendedoras são consultoras de
marketing. Um número similar de mulheres se encontra em outros ramos de consultoria,
incluindo aconselhamento em fusões e aquisições e, mais freqüentemente,
aconselhamento ou serviços em gerência de recursos humanos.
Segundo a pesqUIsa, os empreendimentos manufatureiros são variados, desde uma
companhia que produz equipamentos de golf (Avid Diva) até uma doceria na California
(Robin Rose Ice Cream & Chocolate). (BURT, 2000)
Outros aspectos encontrados na pesquisa foram quanto ao tamanho das organizações em
que as mulheres trabalham antes de se tornarem empreendedoras e quanto à sua posição
na empresa. Quanto maior a organização em que a mulher trabalha, menos provável que
ela se tome empreendedora. Em relação à posição na empresa, observou-se que a
probabilidade de que uma mulher se torne empreendedora diminui consideravelmente
depois que esta alcança urna posição senior em uma organização. (BURT, 2000)
2.6 Influências do tipo de emprego e do gênero no equilíbrio entre vida
profissional e vida pessoal
Equilibrar as demandas e responsabilidades dos papéis do trabalho e da família tem se
tomado um problema cada vez mais comum para trabalhadores e empregadores. De
41
fato, a perda de produtividade relacionada ao estresse entre mulheres empregadas em
grandes organizações é estimada em quase 40 bilhões de dólares por ano.
(PARASURAMAN E SlMMERS, 2001)
A maior parte das pesquisas feitas sobre o conflito entre trabalho e família focou quase
que exclusivamente nas experiências de indivíduos empregados em grandes
organizações. Pouca atenção foi dada a examinar -se as relações de trabalho e família de
homens e mulheres que operam seus próprios negócios. A literatura sobre pequenos
negócios e empreendedorismo tende a focar nos fatores que motivam os indivíduos a
começarem seus próprios negócios e nas habilidades e outros atributos que contribuem
para seu sucesso econômico e sobrevívência. Fatores como necessidade de realização,
autonomia e auto-satisfação são proeminentes dentre aqueles que motivam homens e
mulheres a iniciarem seus próprios negócios. (pARASURAMAN E SlMMERS, 2001)
Ter seu próprio negócio é percebido como uma opção de carreira que conduz a um
maior equilíbrio entre as responsabilidades dos papéis do trabalho e da família. A
importância de se investigar as relações de trabalho e família para pessoas que possuem
seus próprios negócios é reforçada pelo aumento da formação de novos negócios,
especialmente por mulheres, que abriram novas empresas a uma taxa duas vezes maior
do que a dos homens. (P ARASURAMAN E SlMMERS, 200 I )
2.6.1 Tipo de emprego
A literatura sobre o estresse sugere que é a falta de controle pessoal sobre as situações
que torna os trabalhadores estressados e gera tensão. Assim, a natureza firmemente
estruturada das profissões e os horários inflexíveis de trabalho característicos de grandes
42
organizações contribuem para o conflito entre trabalho e família baseado no tempo.
(GREENHAUS et ai apud PARASURAMAN E SIMMERS, 2001)
As pessoas que possuem seus próprios negócios geralmente reportam uma maIOr
liberdade, autonomia e oportunidade de auto-realização do que aquelas empregadas em
grandes organizações. A posse da empresa e o fato de que o proprietário é seu próprio
chefe proporcionam a esses indivíduos a liberdade e a flexibilidade de estruturar seu dia
de trabalho de acordo com suas preferências, e portanto um maior controle sobre a
situação de trabalho (LOSCOCCO apud PARASURAMAN E SIMMERS, 2001)
Segundo Greenhaus et aI apud Parasuraman e Simmers (200 I), tal flexibilidade pode
reduzir o nível de conflito entre trabalho e família experimentado, permitindo a pessoas
donas de seus próprios negócios administrar os conflitos entre trabalho e família mais
eficazmente e aumentar o bem estar psicológico.
No entanto, sendo a propriedade do negócio responsável por uma parte do sucesso
deste, o empreendedorismo poderia também aumentar a identificação com o papel do
trabalho e o investimento nele, em detrimento do papel da familia. Parasuraman e
Simmers (200 I) advertem que os indivíduos donos de seus próprios negócios tendem a
ser mais envolvídos psicologicamente com o trabalho do que aqueles empregados em
grandes organizações. Além disso, as pessoas que possuem seu próprio negócio
tipicamente trabalham mais horas, já que possuem a responsabilidade pelo sucesso ou
fracasso do negócio. Conseqüentemente, os indivíduos empreendedores tendem a
experimentar um maior número de conflitos entre trabalho e família do que aqueles que
trabalham em grandes empresas, diminuindo assim seu bem estar psicológico.
(pARASURAMAN E SIMMERS, 2001)
43
Assim, o empreendedorismo pode oferecer certas características de trabalho, como
autonomia e horário flexível, que potencialmente facilitam um melhor equilíbrio entre
trabalho e família, reduzindo a ocorrência de conflitos e conseqüentemente aumentando
o bem estar psicológico. Porém, tais beneficios podem não se concretizar e podem ser
compensados pelo aumento do envolvimento com a profissão e do comprometimento de
tempo com o trabalho demonstrado por pessoas donas de seus negócios, diminuindo
assim o envolvimento no domínio da família, exacerbando os conflitos e afetando
adversamente o bem estar psicológico dessas pessoas. (P ARASURAMAN E
SIMMERS, 2001)
2.6.2 Gênero
Teorias do papel do gênero sugerem que os homens e as mulheres diferem na
quantidade de tempo e energia que devotam às duplas demandas do papel do trabalho e
do papel da família. Na medida em que os homens se conformam com seu papel
socialmente previsto de responsáveis pelo "pão de cada dia", tendem a se envolver mais
com seu trabalho do que as mulheres e despendem mais tempo e esforço em preencher o
seu papel no trabalho. Esse maior comprometimento dos homens com o trabalho os
deixa com menos tempo e energia dispoJÚveis para a família. (PARASURAMAN E
SJMMERS, 2001)
Pesquisas em pequenos negócios mostram que as mulheres donas de seus próprios
empreendimentos experimentam dificuldades e problemas que limitam sua pe~formance
em termos econômicos e prejudicam seus sentimentos pessoais de satisfação.
(HISRICH E BRUSH apud PARASURAMAN E SlMMERS, 2001) Apesar de a
propriedade do negócio e o fato de ser seu próprio chefe darem liberdade e flexibilidade
44
para se estruturar o dia de acordo com as suas preferências, e portanto maior controle
sobre a situação de trabalho, esses aspectos positivos podem ser menos sentidos pelas
mulheres. (PARASURAMAN E SIMMERS, 2001)
Assim, dado que as mulheres possuem mais responsabilidade pela casa, as que possuem
seus próprios negócios podem se encontrar motivadas a se envolverem com o trabalho,
mas incapazes ou não dispostas a diminuir seu envolvimento no domínio da família,
exacerbando portanto o conflito entre trabalho e família. (PARASURAMAN E
SIMMERS, 200 I )
2.6.3 Modelo de Parasuraman e Simmers
Parasuraman e Simmers (200 I) propõem um modelo que relaciona tipo de emprego e
gênero com conflito entre trabalho e família e bem-estar. Os autores examinam quatro
indicadores de bem-estar nos domínios da família e do trabalho, e na vida em geral:
satisfação com a profissão; satisfação com a carreira; satisfação com a família e estresse
de vida.
A satisfação com a profissão se refere às reações afetivas quanto à profissão. Reflete o
quanto o indivíduo possui sentimentos positivos em relação à sua profissão. A
satisfação com a carreira reflete uma avaliação da satisfação com o progresso e o
sucesso dos indivíduos ao longo do tempo na sua vida profissional. A satisfação com a
família se refere à medida pela qual os indivíduos se sentem bem em relação à sua
situação familiar. O estresse de vida, por sua vez, se refere ao estado de resposta
psicológica aos efeitos dos distúrbios causados pelos fatores estressantes na vida de uma
pessoa. (PARASURAMAN E SIMMERS, 2001)
45
O conflito entre trabalho e família está associado a uma diminuição da satisfação com a
profissão, a uma pobre adaptação conjugal, a uma diminuição da satisfação com a
carreira e com a vida, e a um aumento no estresse de vida. (GREENHAUS E
BEUTELL, 1985). Assim, chega-se à conclusão de que o conflito entre trabalho e
família irà reduzir a satisfação com a profissão, com a carreira, com a família e està
estreitamente associado a uma vida mais estressante. O modelo de Parasuraman e
Simmers (2001) pode ser expresso na figura a seguir:
46
FIGURA 1
Modelo de tipo de emprego, gênero, conflito entre trabalho e família e bem-estar
Cardcterísticas e pressões do
papel do trabalho
" Autonomia (-) Tipo de ----. Flexibilidade de horário (-) Indicadores de bem-
emprego Envolvimento com o trabalho( +)
estar
Comprometimento de tempo com o Satisfação com a
trabalho (+) Conflito entre profissão
L-. trabalho e 4 Satisfação com a
família familia Características e pressões do
I ~ papel da família Satisfação com a
Gênero carreira Demandas pelos pais (+)
Envolvimento familiar (+) Estresse de vida
Comprometimento de tempo com a
familia ( +)
i
Fonte: Parasuraman e Simmcrs (2001)
47
2.7 Modelo conceitual
Tendo por base a revisão de literatura realizada, pode-se chegar ao quadro conceitual
orientador da coleta, da análise e da interpretação dos dados.
As questões relativas ao equilíbrio entre vida profissional e vida pessoal para mulheres
empreendedoras serão examinadas utilizando os temas apresentados na revisão de
literatura. O quadro a seguir identifica os tópicos e sub tópicos a serem considerados:
Vida profissional Satisfação e envolvimento com a profissão
Lugar marcado na sociedade
Motivações para o empreendedorismo
A importância da flexibilidade de horário
A importância da sócia mulher
A insegurança
Vida familiar O apoio do cônjuge
Diferenças culturais entre o cônjuge brasileiro e o estrangeiro
Pais e parentes idosos
A importância de estar com os filhos
O sentimento de culpa
Estrutura de apoi o
Vida pessoal) Estresse
Cuidados pessoais
Lazer
Estilos de equilíbrio Extravasamento (spillover)
entre vida profissional Compensação
e vida pessoal Segmentação
1 O tópico vida pessoal se refere aos cuidados das mulheres com elas próprias.
48
Os estilos de equilíbrio entre vida profissional e vida pessoal foram considerados na
análise devido ao fato de que a revisão de literatura revelou uma quantidade relevante
de pesquisas que se voltaram para tal assunto. Esses estudos realizaram-se tendo por
foco não apenas o tipo de atividade e o gênero, mas também o indivíduo. Optou-se,
portanto, por adicionar o modelo de conexão entre trabalho e família de Sumer e Knight
(200 I), que propõe três hipóteses para explicar a estratégia de equilíbrio entre os
domínios do trabalho e da família: extravasamento (spillover), compensação e
segmentação.
49
3 METODOLOGIA
3.1 Tipo de Pesquisa
Segundo Vergara (1997), a pesquisa pode ser definida quanto aos fins e quanto aos
meios. No que se refere aos fins, a pesquisa poderia ser do tipo exploratória, descritiva,
explicativa, metodológica, aplicada ou intervencionista. No que se refere aos meios, a
pesquisa pode ser classificada como de campo, de laboratório, telematizada,
documental, bibliográfica, experimental, ex-posl facto, participante, pesquisa-ação e
estudo de caso.
Assim, tendo por base a tipologia proposta por Vergara (1997), o presente estudo pode
ser caracterizado como tendo dupla finalidade: exploratória e descritiva. Exploratória
porque, embora o fenômeno esteja parcialmente pesquisado e documentado em outros
países, não se verificou no âmbito brasileiro a existência de estudos que abordem a
questão do equilíbrio entre vida profissional e vida pessoal em mulheres
empreendedoras com o ponto de vista pelo qual a pesquisa tem a intenção de abordá-lo.
A pesquisa também se caracteriza como descritiva porque visa descrever percepções das
mulheres que praticam atividades empreendedoras acerca do seu equilíbrio entre vida
profissional e vida pessoal.
Quanto aos meios, duas classificações se aplicam: estudo de campo e pesquisa
bibliográfica. Bibliográfica, por ter partido de conhecimento obtido em fontes como
livros e periódicos especializados. De campo, por ter entrevistas com os principais
atores do fenômeno - mulheres que estabeleceram um negócio que consiste na sua
atividade principal. Além disso, possui uma metodologia abrangente que inclui a
50
pergunta da pesquisa, prossegue com a coleta e a análise de dados e termina com as
conclusões e a redação final da pesquisa. (YIN, 1994)
É importante ressaltar que o presente estudo utiliza alguns princípios dagronded theory,
notadamente o de que a teoria deve ser gerada a partir de dados observados pelo
pesquisador. A grounded theory foi originalmente desenvolvida pelos sociólogos
americanos Anselm Strauss e Barney Glaser. O nome justifica-se por ser uma
abordagem aos dados qualitativos cujo objetivo principal se encontra na geração de
teoria a partir dos dados coletados . (STRAUSS apud SANTOS, 1994)
Diferentemente da prática comum a outros métodos, na grounded theory o fenômeno
não é abordado tendo-se um quadro teórico como referência e orientação; parte-se do
princípio de que, através de procedimentos sistematizados com os dados coletados, a
teoria surgirá de forma indutiva. Ao longo da pesquisa conceitos são formulados e
hipóteses são geradas, sendo continuamente retrabalhadas. O processo de construção da
teoria é, dessa forma, paralelo ao processo de coleta e análise de dados. (SANTOS,
1994)
Assim, pode-se dizer que o presente estudo utilizou alguns princípios da grounded
Iheory, no sentido de que o número de pessoas a serem entrevistadas e os locais a serem
visitados e observados não foram especificados previamente. As perguntas e eventuais
lacunas teóricas serviram parcialmente de guia para a definição dos próximos dados a
serem coletados.
51
3.2 Sujeitos da Pesquisa
Tendo em vista a compreensão das questões relativas ao equilíbrio entre vida
profissional e vida pessoal para mulheres brasileiras que praticam atividades
empreendedoras, foram definidos os sujeitos da pesquisa'. mulheres que estabeleceram
um negócio próprio, consistindo este na sua atividade principal, no estado do Rio de
Janeiro. Tais mulheres se encontravam ativas em seus negócios até a data das
entrevistas e não possuíam outra profissão a que se dedicassem integralmente. Algumas
das entrevistadas eram as únicas proprietárias do negócio, enquanto outras possuíam
sócias também mulheres.
Como as questões de equilíbrio entre vida profissional e pessoal vão surgindo no dia-a
dia das mulheres à medida que o empreendimento se mantém, é necessário um certo
tempo para a percepção de tais questões por parte das mulheres empreendedoras. Não é
por outra razão que os sujeitos da pesquisa deveriam estar praticando a atividade
empreendedora há pelo menos um ano.
Quanto ao número de entrevistas, não foi definido, em princípio, um número ideal
antecipadamente. No entanto, devido às limitações de tempo, e por se tratar de uma
dissertação de mestrado, foram feitas 12 entrevistas em profundidade. A saturação
teórica, situação indicativa de repetição das questões conceituais, não chegou a ser
assegurada devido ao número limitado de entrevistas. No entanto, alguns aspectos
emergiram com razoável consistência conforme observado no capítulo de discussão de
resultados.
Em relação aos ramos dos negócios, duas possuem restaurantes; duas possuem buffet
(oferecem serviços para festas e reuniões); uma possui restaurante e buffet; duas
52
possuem lojas de roupas femininas; uma possui uma confecção de roupas infantis; uma
possui uma loja de tecidos para decoração; uma possui uma assessoria de imprensa;
uma possui uma produtora de cinema e uma possui sua própria clínica de
odontopediatria.
A seleção das respondentes foi feita por conveniência, ainda que se tenham tomado
cuidados, como o de distribuir as entrevistas por ramos de atividade diferentes.
Algumas pesquisadas indicaram pessoas de seu conhecimento para serem entrevistadas,
de ramos de negócios diferentes, porém de nível sócio-cultural semelhante. Assim, é
importante ressaltar que a maioria das mulheres empreendedoras entrevistadas provém
da região metropolitana do Rio de Janeiro e possui um alto nível de renda e de educação
formal.
Um breve perfil das entrevistadas é traçado no quadro a s%'Uir:
53
QUADRO]
Ramo de atividade, faixa de idade, número de filhos e estado civil das entrevistadas
Ramo de atividade Faixa de idade Número de filhos Estado civil
E1 restaurante I bulfet 36 - 40 1 casada/companheiro
E2 restaurante 36 - 40 1 casada/companheiro
E3 restaurante 36 - 40 O solteira
E4 loja de roupas 30 - 35 2 casada/companheiro femininas
E5 loja de roupas 36 - 40 2 casada/companheiro femininas
E6 buffet 30 - 35 3 casada/companheiro
E7 bulfet 30 - 35 2 casada/companheiro
E8 confecção de 40 - 45 2 casada/companheiro roupas infantis
E9 loja de tecidos 40- 4S 1 casada/companheiro para decoração
ElO assessoria 40 - 4S 2 casada/companheiro de imprensa
Ell produtora de cinema 36 - 40 O solteira
E 12 clínica 40 - 45 O solteira de odontopediatria
54
3.3 Coleta de Dados
o principal meio de coleta de dados foi a entrevista, pois esta permitiu a obtenção de
dados em profundidade acerca das questões relativas ao equilíbrio entre vida pessoal e
profissional das entrevistadas. Cada entrevista gravada teve, em média, uma hora de
duração . .Por meio do relato, foi dada às respondentes a oportunidade de expressar seus
sentimentos e pensamentos sobre tais questões, relacionando sua experiência de vida a
um contexto social mais amplo.
Yin (1994) indica que três tipos de entrevista podem ser utilizados no estudo de caso:
aberta, focada e com questões estruturadas. No presente estudo, as entrevistas foram
focadas, podendo as perguntas incluir dados e opiniões acerca de determinados eventos.
Além disso, foram obtidos das respondentes insights acerca de determinadas
ocorrências. A pesquisadora elaborou uma lista de itens que serviu como um guia, o que
permitu a captura de pontos de vista diferentes acerca das mesmas questões, sem
impedir que novos aspectos que surgissem fossem investigados.
Antes de cada entrevista ser iniciada, foram explicados à entrevistada o objetivo e a
relevância da pesquisa, a importância de sua colaboração, bem como foi garantida a
confidencialidade. As entrevistadas foram encorajadas a entrar em detalhes, a exprimir
sentimentos e crenças e a relatar características e experiências pessoais. Vale ressaltar
que a liberdade de condução das entrevistas propiciou a emergência de questões que não
estavam previstas, e que foram abordadas no capítulo de discussão.
55
3.4 Tratamento e Análise dos Dados
Numa primeira etapa, as entrevistas foram gravadas e, posteriormente, transcritas para
documentos em Word.
Primeiramente, cada entrevista foi analisada separadamente, permitindo a emergência
de questões e conceitos de cada situação. Em uma etapa posterior, uma análise
simultânea de todas as entrevistas foi realizada, obtendo-se aSSim as eventuais
similaridades e diferenças nos depoimentos, e procurando-se estabelecer aderência ou
discrepância em relação ao referencial teórico.
Dentro dos princípios da grounded theory, permitiu-se a emergência de categorias
conceituais não previstas ne revisão de literatura. Assim, questões como a importância
da sócia mulher e as diferenças culturais entre o cônjuge brasileiro e o estrangeiro
surgiram indutivamente das entrevistas.
3.5 Limitações do Método
A pesquisa possui limitações que devem ser consideradas quando da interpretação de
seus resultados. Em primeiro lugar, a opção por entrevistas em profundidade pode trazer
problemas, como o fornecimento de respostas falsas, determinadas por razões
conscientes ou inconscientes; a influência exercida pelo aspecto pessoal do
entrevistador sobre o entrevistado; e a influência de opiniões pessoais do entrevistador
sobre as respostas do entrevistado. Tais limitações, de alguma forma, podem intervir na
qualidade das entrevistas.
Outro tipo de limitação se refere à amostra pesquisada. Devido ao fato de a maioria das
respondentes possuir um alto nivel de renda e de educação formal, as conclusões deste
56
estudo não devem ser estendidas a outras classes sociais ou a outras localizações
geográficas. É reduzida, também, a capacidade de comparar os resultados obtidos com o
de estudos já realizados no Brasil, devido à escassez de bibliografia específica sobre o
assunto no âmbito brasileiro.
57
4 DISCUSSÃO DE RESULTADOS
Neste capítulo, apresentamos o resultado do processo de pesquisa, isto é, como, a partir
da análise das entrevistas realizadas, conseguiu-se esboçar as questões relativas ao
equilíbrio entre vida pessoal e vida profissional das entrevistadas.
A partir da análise das entrevistas, e a fim de facilitar a compreensão da interpretação,
organizamos os pontos de conteúdo mais significativo em quatro grandes temas,
incluindo, por vezes, alguns trechos dos discursos das informantes, tendo sido suas falas
fielmente reproduzidas. Portanto, os eventuais erros gramaticais foram mantidos para
manter a naturalidade dos relatos.
É importante lembrar que os temas, embora apresentados separadamente para facilitar o
entendimento, na prática estão entrelaçados. Assim, os quatro principais tópicos que
podemos depreender do discurso das entrevistadas são apresentados a seguir, de modo a
se estruturar com maior clareza o pensamento das mesmas acerca das questões de
equilíbrio entre vida pessoal e vida profissionaL
Os principais tópicos identificados foram: (1) Vida profissional; (2) Vida familiar e
(3) Vida pessoal 2 Por fim, em relação aos modelos de conexão entre trabalho e família,
foram identificados os estilos de equilíbrio que explicam a relação das pesquisadas com
os domínios do trabalho e da família, constituindo-se no quarto tópico: (4) Estilos de
equilíbrio entre vida profissional e vida pessoaL
2 O tópico vida pessoal se refere aos cuidados das muI heres com elas próprias.
58
4.1 Vida Profissional
4.1.1 Satisfação e envolvimento com a profissão
A satisfação com a profissão, que reflete o quanto o indivíduo pOSSUl sentimentos
positivos em relação à sua profissão, é uma característica que parece estar presente nas
mulheres brasileiras que possuem seus próprios negócios. As pesquisadas demonstram
estar satisfeitas com a sua profissão e ter orgulho desta, principalmente devído ao
interesse pelo trabalho e à autonomia conquistada. Nas palavras de uma das
entrevístadas:
"Eu não pensava em nada disso. Eu não planejei muito. Mas tenho prazer de fazer.
De ver crescer, fuzer planos para crescer mais. Meu marido, que trabalha numa
empresa, não é assim. Eu fico muito mais empolgada do que ele quando chego em
casa. Eu acho o meu trabalho muito mais interessante, meu trabalho tem muito mais
novidades a cada dia. Cada trabalho feito é uma vitória". (E 6 - buffet)
As entrevistadas também demonstram estar satisfeitas com o desenvolvímento de seus
negócios, ou seja, com o progresso e o sucesso dos negócios ao longo do tempo:
"As satisfações pessoais, pelo Restaurante 2, pelo que ele é. Se eu tivesse outro
negócio, uma sapataria, conserto de relógio, talvez não me desse tanto prazer. Mas o
meu negócio me dá muito prazer. Eu tenho satisfação com o sucesso que o
Restaurante 2 tem." (E 2 - restaurante)
"Gosto muito do que faço. Não conseguiria me imaginar hoje em dia sem meu
trabalho". (E I - restaurante / buffet)
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Este aspecto parece corroborar a afirmação de Loscoceo (1997) de que as pessoas que
possuem seus próprios negócios reportam uma maior liberdade, autonomia e
oportunidade de auto-realização do que aquelas empregadas em grandes organizações.
o envolvimento com o trabalho é grande entre as mulheres brasileiras donas de seus
próprios negócios. Algumas das entrevistadas tiveram experiência de trabalho em
grandes organizações antes de se tornarem empreendedoras, e demonstram estar muito
mais envolvidas com o seu negócio atual do que antes:
"Eu costumo dizer que é como se você estivesse trabalhando de temo e gravata. Eu
saía da Organização I e tirava a gravata. Eu saio daqui e fico de temo e gravata até
muitas vezes 3, 4 horas da manhã, pensando". (E 4 -loja de roupas femininas)
A expressão "ficar de terno e gravata", utilizada por uma entrevistada, pode ser
interpretada como uma constatação de que as pessoas que possuem seus próprios
negócios tendem a ser mais envolvidas psicologicamente com o trabalho do que aquelas
empregadas em grandes organizações. Assim, mesmo não estando mais em seu
ambiente de trabalho, as mulheres empreendedoras demonstram permanecer envolvidas
com este durante muitas horas.
Outra possível interpretação da expressão "ficar de terno e gravata" é a de que as
mulheres bem sucedidas tendem a assumir uma postura mais agressiva, mais masculina.
Segundo Tonelli e Beliol (1991), o papel idealizado de docilidade feminina parece não
ter espaço nas organizações, pelo menos para a atuação da mulher em postos de
comando. As mulheres assalariadas da amostra do estudo realizado pelas autoras
afirmaram atuar segundo padrões masculinos de conduta nas organizações em que
trabalhavam As mulheres empreendedoras entrevistadas para a presente pesquisa, por
60
sua vez, não demonstraram ter que assumir tal postura a fim de obter crescimento
profissional.
Segundo a psicóloga e socióloga Rosiska Oliveira, nas décadas de 70 e 80 esperava-se
que a mulher agisse profissionalmente como homem; até a postura fisica era masculina.
"Nos anos 80 uma vez saí na Quinta Avenida em Nova York, às 17h30, e fiquei
estarrecida, porque a maioria das mulheres estava de temo e gravata.", diz a especialista
em mulheres. (BRlSSAC, 1997)
Segundo Miranda e Petraglia (2002), hoje, ao contrário, as mulheres querem ter
igualdade salarial com os homens, mas também querem ter o direito de interromper uma
reunião diante de um telefonema do filho sem receber olhares tortos. Ou chorar em paz
em pleno expediente nos dias de tensão pré-menstrual. Na Europa, alguns patrões
preferem permitir que as mulheres façam meio expediente nos primeiros dias de
menstruação. "Primeiro elas se igualaram aos homens para conquistar o mercado de
trabalho. Depois, perceberam que não precisavam agir como eles para serem
valorizadas.", diz o psicanalista Joel Birman apudMiranda e Petraglia (2002).
Além do maior envolvimento com o trabalho, observa-se uma maior realização pessoal
por parte das pesquisadas, que demonstram valorizar o controle sobre a forma de
trabalhar, apesar da grande carga de trabalho.
"Muito mais, muito mais feliz. O que eu fazia na Organização I eu amava, eu não
suportava era a maneira com que eu tinha que fazer. Achava que era imposta, tinha
muita pressão. Aqui eu tenho o controle da situação, é muito mais prazeroso".
(E 4 - loja de roupas femiuinas)
61
Outro fator observado foi a motivação que algumas entrevistadas demonstraram possuir
para gerir e expandir seus negócios. Nas palavras destas depoentes:
"A gente tem que crescer. Tem uma hora em quc você ou cresce ou fecha as portas.
Então a gente está crescendo, a gente está querendo sair daqui para uma casa maior".
(E 6 - buffet)
"Tenho expectativas excelentes para o ano que vem. Eu quero ter uma cadeia de
lojas, isso é uma coisa que está na minha cabeça, abrir franquia ou abrir com capital
próprio. A gente vai rcalizar esse objetivo, que já virou obsessão".
(E 4 - loja de roupas femininas)
4.1.2 Lugar marcado na sociedade
Um interessante aspecto observado em algumas das entrevistadas é a necessidade de
demonstrar ter um lugar marcado na sociedade e de interagir em conversas e reuniões
com o marido e os amigos, definida por elas próprias como uma necessidade de "falar a
mesma língua que o marido":
"Me sinto bem em me posicionar na sociedade, sou mais segura, mais atual, mais
independente, tenho satisfação própria, você vê o resultado do seu trabalho".
(E 9 - loja de tecidos para decoração)
"Quando você tem trabalho, você começa a entender mais o seu marido, também. Eu
falo a mesma linguagem que ele, eu participo das mesmas coisas, você troca idéias.
A pessoa que trabalha, você sai para jantar numa reunião e você participa mais, você
está entendendo do que está se falando". (E 5 - loja de roupas femininas)
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É curioso notar que, apesar de desejarem "falar a mesma língua que o marido", as
mulheres empreendedoras pesquisadas possuem atividades que podem ser consideradas
tipicamente femininas, relacionadas a cozinhar, como possuir buffet e restaurante; à
moda, como possuir uma loja de roupas femininas ou de tecidos para decoração; ou a
cnanças, como possuir uma confecção de roupas infantis ou uma clínica de
odontopediatria. Os trabalhos tipicamente femininos parecem se reproduzir também
dentro das organizações. De acordo com Monaban, Kuhn e Shaver apud Tonelli e
Betiol (1991), o sucesso da mulher em campos tradicionalmente masculinos envolve
considerável negatividade e conflito. Por outro lado, os autores indicam que o sucesso
das mulheres, na visão das próprias, em campos tradicionalmente femininos é bem
visto. (TONELLI E BETIOL, 1991)
4.1.3 Motivações para o empreendedorismo
Em relação às motivações das entrevistadas para trabalhar em seus próprios negócios,
foram identificados dois grupos principais. Um grupo de mulheres começou a praticar a
atividade empreendedora sem um planejamento anterior. Para este grupo, o crescimento
do negócio foi uma conseqüência do sucesso inicial. Outro grupo de mulheres
demonstra ter procurado a atividade empreendedora como uma forma de melhor
conciliar vida profissional e maternidade.
Dentre as entrevistadas, o maior número de mulheres que disse ter começado o negócio
sem planejar não possuía experiência anterior em grandes organizações. Segundo
depoimentos das entrevistadas:
"A gente começou sem pretensão alguma de ter um negócio desse tamanho".
(E I - restaurante / buffet)
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"E a gente começou, sem muitas expectativas, a gente estava experimentando, era
mais para curtir, estava gostando. Se der certo ótimo, se não, ótimo também., eu não
tinha plan~iado." (E 6 - buffet)
No segundo grupo, das mulheres que procuraram a atividade empreendedora como uma
forma de conciliar trabalho e maternidade, grande parte das pesquisadas possuíam
experiência de trabalho anterior em grandes empresas. Nas palavras das entrevistadas:
"Trabalhei na Organização I e eram 14 hs de trabalho por dia, era enlouquecedor,
não tinha flexibilidade de horário, muitas vezes eu faltava ás festinhas da escola das
crianças, reuniões de pais, porque tinha reunião de trabalho e eu tinha que
estabelecer prioridades, porque naquele momento aquilo era mais importante".
(E 4 - lqja de roupas femininas)
"O que me deu mais estimulo para me tornar empreendedora e abrir um negócio foi
muito essa questão. Foi principalmente essa questão. O sonho de qualquer pessoa é
ter o seu próprio negócio. Mas eu acho que o que mais me estimulou foi o fato de
não poder acompanhar o desenvolvimento das crianças quando eu trabalhava em
empresa grande" (E 8 - confecção de roupas infantis)
Esta constatação vai ao encontro do estudo feito por Buttner e Moore (1997), segundo o
qual mulheres que experimentaram conflito de papéis entre trabalho e família nos seus
empregos anteriores tendem a medir o sucesso em termos de alcançar um maior
equilíbrio das responsabilidades do trabalho e da família.
Segundo Stoner e Fry apud Buttner e Moore (1997), existe uma relação entre o nível de
(in)satisfação que uma pessoa empreendedora reporta com seu emprego anterior e o tipo
de negócio iniciado posteriormente. Consistentemente com os achados dos
64
pesquisadores, parece possível que as mulheres deixem suas posições corporativas
devido a aspirações frustradas. Por exemplo, mulheres que se sentiram frustradas pela
falta de desafio em suas posições anteriores e se tornaram empreendedoras podem vir a
medir o sucesso internamente em termos de crescimento pessoal ou externamente em
termos de lucros e crescimento dos negócios.
As razões para que uma mulher se torne empreendedora parecem se basear em
circunstâncias pessoais e externas, que podem ser positivas ou negativas. Os fatores
negativos tendem a impulsionar (push) as mulheres, para que estas considerem a
possibilidade de se tornarem empreendedoras, enquanto os fatores positivos as atraem
(pull). (STARCHER, 2001)
Os fatores impulsionadores (push) incluem necessidade financeira, falta de facilidades
para cuidar das crianças, condições de trabalho inaceitáveis, diferença grande de salário
entre homens e mulheres, segregação ocupacional, frustração com a profissão, ou
desilusão com as relações tradicionais entre o empregado e o empregador. Em alguns
paises, o desemprego é um dos maiores fatores impulsionadores (push). (STARCHER,
2001)
Fatores positivos que atraem mulheres para o empreendedorismo incluem oportunidades
de mercado, interesse por uma área de atividade particular, objetivos sociais,
necessidade de horário flexível, maior salário e independência financeira, uma simples
necessidade de sair de casa e um desejo de autonomia, crescimento pessoal e aumento
da satisfação com a carreira. (STARCHER, 2001)
Outro fator motivador para o empreendedorismo em mulheres identificado nas
entrevistas é o fato de que, no mercado de trabalho, as mulheres se deparam com o
65
chamado "teto de vidro", que as impede de ascender na carreira em grande
organizações. O seguinte depoimento corrobora esta afirmação:
"A gente conversava sobre as limitações do universo feminino, o quanto você dá e o
que você recebe, quem são os seus pares, quantos são os homens e as mulheres, qual
é o seu potencial jlillto a seus pares, o cara do seu lado pode amanhã fazer um
doutorado e você mal terminou uma faculdade, já quase morrendo de eulpa por
causa dos scus filhos. Você começa a ter uma série de desvantagens no mundo
profissional" (E 8 - confecção de roupas infantis)
Este fator motivador para o empreendedorismo em mulheres vai ao encontro da
pesquisa realizada por Hisrich e Brush (1985), segundo a qual mulheres com
experiência profissional que deixam as grandes organizações para se tornarem
empreendedoras podern estar abrindo mão de suas posições nas empresas devido ao
"teto de vidro".
"Teto de vidro" é uma expressão surgida na década de 80, nos Estados Unidos, como
metáfora para os obstáculos que impedem a ascensão profissional. A maioria dos
estudiosos e consultores considera que o mundo corporativo caminha para valores tidos
como femininos, como importância do relacionamento, trabalho em equipe, uso de
motivação e persuasão ao invés de ordem e controle, cooperação no lugar de
competição. Esta teoria parece estar de acordo com as estatísticas sobre o avanço
profissional das mulheres, tanto no Brasil como no exterior. Tomando-se o caso dos
donos de empresas, por exemplo, constata-se que as mulheres representavam 17% dos
empregadores brasileiros em 1991 e passaram a 22,4% em 1998, segundo a Pesquisa
Nacional por Amostragem de Domicílios (pnad), feita pelo IBGE. (COHEN, 2001)
66
Apesar disso, observa-se que as empresas têm poucas mulheres em áreas de comando.
Segundo a organização feminista americana Catalyst, nas 500 maiores empresas da lista
da revista Fortune, apenas 12,5% dos diretores são mulheres. Porém, nem todos os
cargos de diretoria são iguais: dos postos com poder de decisão e impacto na operação,
apenas 6,2% são ocupados por mulheres. Dos cargos que levam ao topo, somente 7,3%.
Entre os cinco executivos mais bem pagos de cada empresa, apenas 4,1% são mulheres.
Vale ressaltar que todos esses dados são dos Estados Unidos, um pais em que as
mulheres representam 49% da força de trabalho. (COHEN, 2001)
No Brasil, não há esse tipo de acompanhamento. Porém, uma pesquisa feita com as 500
empresas da lista de "Melhores e Maiores" publicada pela revista Exame revela dados
muito parecidos. Entre as 500 maiores, apenas duas têm uma mulher na presidência. As
mulheres são 40% da força de trabalho no Brasil e 24% do universo de gerentes. No
entanto, de todos os diretores de primeiro escalão das 100 melhores empresas para
trabalhar, apenas 7,7% são do sexo feminino. (COHEN, 2001)
Apesar da existência do "teto de vidro", um motivo por que as mulheres não ocupam
cargos de comando é que muitas delas simplesmente não querem. Um estudo da
consultoria KornlFerry, feito em 1996, concluiu que apenas 14% das executivas
empregadas em grandes companhias ambicionavam a presidência. Para os homens, a
taxa era de 46%. (COHEN, 2001)
Segundo a pesquisadora Dominique Lazanski, do Pacific Research Institute, "muitas
mulheres obtêm diplomas e lutam por posições gerenciais, mas muitas ainda escolhem
tirar um periodo sabático ou trabalhar em tempo parcial para cuidar da família, ou
67
começar negócios próprios. Em suma, os resultados profissionais das mulheres refletem
suas escolhas pessoais". (COHEN, 2001)
Podemos depreender dessas informações que as carreiras das mulheres não podem ser
bem compreendidas se forem levados em conta os padrões dos homens. Concordando
com Carr (1996), podemos dizer que ter seu próprio negócio muitas vezes é uma
estratégia de trabalho flexível adotada por mulheres para melhor conciliar as demandas
da família e do trabalho. Muitas mulheres desejam mais flexibilidade de horário e
autonomia no trabalho e estão iniciando negócios próprios em números recordes.
4.1.4 A importância da flexibilidade de horário
A flexibilidade de horário aparece como um fator determinante na satisfação com a
carreira. As pesquisadas, apesar de trabalharem muitas horas, valorizam a flexibilidade
de horário e a vêem como uma vantagem, especialmente para as próprias mulheres que
são donas do próprio negócio. Segundo depoimentos das pesquisadas:
"A maior vantagem é a flexibilidade de tempo. Por mais que você trabalhe, você
trabalha na hora que você quer, entre aspas. Se você tem que entregar um trabalho,
eu fico até às 10 horas da noite, mas não tenho que dar satisfação. Isso te dá um
alívio muito grande." (E 6 - buffet)
"Tipo alguém está doente, sei lá, qualquer que seja o assunto, eu já não preciso ficar
negociando com todo mundo para estar presentc na vida dos mcus filhos. Hoje, no
início do ano, eu já tenho aquelas datas e eu já não marco nada naqueles dias que são
importantes para mim. Pode ser o maior cliente do mundo, que eu tenho como deixar
pra outro dia". ( E 8 - confecção de roupas infantis)
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A contribuição da flexibilidade de horário para o equilíbrio entre vida pessoal e vida
profissional se dá devido ao fato de que, sendo as donas dos próprios negócios, as
mulheres empreendedoras possuem a liberdade de estruturar o dia de trabalho de acordo
com suas preferências, adaptando os compromissos de profissionais ás necessidades da
família.
A socióloga Rosiska Oliveira propõe a "reengenharia do tempo" para solucionar os
problemas relativos ao equilíbrio entre vida pessoal e vida profissional da mulher.
Segundo Oliveira, a briga pela igualdade com os homens foi uma formulação totalmente
equivocada: "No momento em que a mulher conquista seu espaço no mercado e
esconde que a vida privada dá trabalho e consome seu tempo, ela oculta que a vida
privada prejudica o desempenho profissional. Na luta pela igualdade de oportunidades,
é inevitável deixar claro que a vida privada é algo a ser negociado. Não negociamos,
assumimos tudo e transformamos nosso tempo em algo elástico. É por isso que as
mulheres estão esgotadas", diz a socióloga em entrevista à Melo (2002, p.36).
Oliveira afirma que a flexibilidade na organização do trabalho, permitindo uma melhor
distribuição do tempo, por si só não basta para garantir melhor permuta entre os
membros de um casal no atendimento à família e á vida privada. O que teria sido
verdade se a flexibilidade não estivesse sendo entendida pelas empresas, cada vez mais,
como uma disponibilidade permanente do empregado, chamado quando dele se tem
necessidade. Para a escritora, é legítimo imaginar que a flexibilidade tal como está
sendo entendida e praticada, sobretudo nas emprresas mais modernas nos países mais
desenvolvidos, seja uma das razões que determina a postergação da idade do casamento
e a conseqüente queda da natalidade. (OLIVEIRA, 2001)
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A socióloga defende a idéia de que uma reengenharia do tempo, que leve em conta, na
relação trabalho/família, valores até então indiscutíveis como a responsabilidade dos
pais face aos filhos, o direito ao lazer e o espaço interior necessário à construção de si, é
não somente prioritária, mas uma ocasião ideal para tornar nítidos os valores que estão
informando as novas conformações do mundo do trabalho e da vida familiar.
(OLIVEIRA, 2001)
De acordo com a autora, precisamos mudar a organízação da sociedade, seus horários e
sua produção, reestruturando o tempo social para que homens e mulheres possam se
ocupar mais de suas famílias. Em relação às mulheres, a socióloga afirma que a
sociedade tem que se redesenhar diante do novo, que é a chegada ao espaço público de
seres que engravidam, amamentam e, como fruto de uma experiência diferente da dos
homens, desenvolvem sensibilidades e linguagens próprias. (OLIVEIRA et ai, 2002)
4.1.5 A importância da sócia mulher
Outro aspecto observado em relação às pesquisadas é a compreensão por parte das
sócias, também mulheres, de suas necesssidades fora do trabalho. Esse aspecto faz com
que o contentamento com a opção de ter seu próprio negócio aumente, já que podem
contar com a outra sócia nos momentos em que precisam resolver algum problema
relativo à família. Os seguintes depoimentos corroboram esta afirmação:
"Você ter alguém para revezar é importante. Eu não poderia imaginar ter um sócio
homem. A sócia mulher entende mais. Eu não me imagino dizendo para um sócio
homem que o meu filho está com febre e então vou ter que chegar mais tarde, ou não
vou poder vir. A cabeça da mulher é mais caótica. O homem é mais metódico e não
compreende que no final dá tudo certo. Amamentando eu ficava trabalhando em
70
casa, e vinha aqui. Um homem logo pergunta: 'Que negócio é esse que dá certo com
a mãe amamentando?'" ( E 6 - buffct)
"Como ela segurou a minha onda grávida, eu também segurei a onda dela grávida."
(E I - restaurante / buffct)
Algumas entrevistadas já haviam tido a experiência de ter sociedade com um homem, e
reportam diferenças entre ter um sócio homem e uma sócia mulher:
"Eu acho que flui melhor se é uma mulher, porque tem uma cabeça diferente da do
homem. A minha sócia foi criada como eu, tem até questões da época. Eu já tive
experiência de ter um negócio com um homem e, agora que tenho com uma sócia
mulher, posso dizer que é bem diferente. Flui melhor, a gente se entende melhor."
(E 3 - restaurante)
o apoio da sócia mulher parece ser, portanto, um fator importante para a manutenção do
equilíbrio entre trabalho e família das mulheres empreendedoras. Tal aspecto vai ao
encontro das características de mulheres empreendedoras listadas por Hisrich apud Burt
(2000), em contraste com as características masculinas: enquanto os homens
empreendedores possuem forte opinião e são persuasivos, as mulheres são flexíveis e
tolerantes; enquanto os homens obtêm satisfação profissional com o fato de estar no
controle, as mulheres obtêm satisfação por estarem livres das fiustraçães da profissão
anterior; enquanto os homens contam com o suporte de amigos e colegas de profissão,
as mulheres confiam nos amigos mais próximos.
Outra interpretação das razões pelas quais as mulheres entrevistadas afirmaram preferir
ter uma sócia mulher pode ser a de que num empreendimento em sociedade, valores
tidos como femininos, como a cooperação e a importância do relacionamento, parecem
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ser mais importantes para o sucesso profissional do que valores considerados
masculinos, como a competição e o controle, importantes dentro da maIona das
organizações. Segundo Tonelli e Betiol (1991), a mulher, ingressando nas organizações,
deverá reavaliar os investimentos que faz nos papéis femininos, e isto exige uma
capacidade de superação de papéis prescritos, sem medo ou culpa. Tal capacidade de
superação de papéis não parece ser tão necessária quando uma mulher possui seu
próprio empreendimento.
Um aspecto cunoso sobre a ajuda mútua das mulheres foi observado em pesquisa
recente realizada por pesquisadoras da USP sobre o comportamento humano O estudo
demonstrou que as mulheres que vivem e trabalham no campo também contam com a
ajuda de suas amigas mulheres no dia-a-dia. A antropóloga social Beatrice Gropp, que
participou da pesquisa Mulheres do Braçil coordenando as visitas a comunidades rurais,
ficou impressionada com o auxílio mútuo das mulheres do campo. Elas vivem próximas
de suas tias, das mães, dos amigos e isso as faz sentirem-se menos sozinhas. "Na cidade
grande, esse agrupamento poderia ser feito com vizinhas, se o senso de comunidade
fosse resgatado", diz Oriana White, coordenadora da pesquisa. (MIRANDA E
PETRAGLIA,2002)
4.1.6 A insegurança
Por serem responsáveis pelo sucesso ou fracasso de seus empreendimentos, as
entrevistadas apontaram a insegurança como uma das principais desvantagens em se ter
o seu próprio negócio. Apesar de se encontrarem bastante envolvidas e satisfeitas com a
atividade empreendedora, a insegurança de não ter um salário fixo e outros beneficios
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proporcionados por grandes organizações é um fator que incomoda as mulheres
pesquisadas.
" ... tem esse negócio da insegurança, é uma vida de altos e baixos. Você depende de
venda. Se vender bem, ótimo, foi um mês bom. Se não vender bem, não é um mês
bom e cu tenho que adequar a minha vida a isso" (E 4 -loja de roupas femininas)
"Por exemplo, eu fiquei doente, tive meningite e fiquei 20 dias fora. Para tirar isso
na empresa, nenhum problema. Sinto muito, a empresa tinha que dar um jeito e
colocar alguém no meu lugar. No meu caso, quem foi sacrificada foi a minha sócia.
A gente acabou sacrificando o nosso negócio, porque eu não estava aqui. Eu tenho
essa insegurança". (E 12 - clínica de odontopediatria)
A insegurança provocada pela dependência do retorno financeiro do seu próprio
empreendimento, assim como as prioridades na vida de uma mulher empreendedora,
parecem ser uma função do quanto a mesma depende dos lucros advindos do negócio
para Viver.
As entrevistadas que não possuem apoIo financeiro do cônjuge nem dos paiS
demonstram colocar a carreira em primeiro lugar em suas vidas. Conforme depoimento
de uma entrevistada divorciada:
''Nesse momento, é dificil para mim administrar essas três coisas: o namorado, as
crianças e o trabalho. A prioridade é o trabalho, depois as crianças, e depois o
namorado, e depois não sobra mais." (E 4 -loja de roupas femininas)
Ao contrário, quando existe o apoio financeiro do cônjuge ou dos pais, os filhos tendem
a ocupar o primeiro lugar na lista de prioridades das mulheres empreendedoras. Nas
palavras de uma pesquisada:
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"Para mim, para o resto da minha vida, a prioridade são os meus filhos. A gente faz
uma listinha de prioridades, até porque é muito fácil a gente dizer isso, quando é um
outro que está provendo, quando tem alguém que está por trás para pagar as contas.
São problemas diferentes. Eles se sentem muito cobrados. A gente tem a opção de
dar prioridades." (E 6 - buffet)
4.2 Vida Familiar
4.2.1 O apoio do cônjuge
Em relação ao cônjuge ou companheiro, é destacada a sua importância como fonte de
apoio para as mulheres empreendedoras. O apoio do cônjuge é principalmente
emocional, apesar de algumas entrevistadas terem obtido apoio financeiro do cônjuge
no início do empreendimento.
"Meu marido é um companheirão, eu não teria conseguido chegar aonde cheguei
sem ele. Ele nunca saiu de casa para tomar um chope, ele sempre me espera quando
a festa é longe. Na Casa Cor ele sempre me dá força, ele me substihri á noite.
Quando eu tive esse baque do colesterol, ele ia aos eventos para mim". (E 7 - buffet)
"Primeiro, o marido tem que ser muito legal e tem que apostar junto, curtir. Se fosse
um marido assim, jogando contra, seria muito difícil. Ele dá apoio, a orientação
gastronômica foi idéia dele. Ele fíca muito orgulhoso quando sai alguma coisa no
jornal". (E 6 - buffet)
Quanto à aquisição de recursos para iniciar um negócio, as mulheres parecem enfrentar
mais barreiras para obter dinheiro, seja pelo sistema bancário ou por outras fontes.
Como Hisrich e Brush apud Carter, Anderson e Shaw (200 I) indicam, a obtenção de
empréstimos é mais dificil para as mulheres do que para os homens. Dentre as mulheres
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pesquisadas, nenhuma recorreu ao sistema bancário para a obtenção de capital inicial.
No entanto, uma das entrevistadas afirmou ter tido ajuda financeira do marido no início
do empreendimento. Em suas palavras:
"Meu marido dá a maior força. Nesse começo aqui ele deu a maior força, até porque
foi ele quem me bancou. Eu sempre tive o meu dinheiro, e no começo aqui eu tive
que ter uma ajuda dc custo, senão você não tcm nem dinheiro para colocar gasolina
no carro". ( E 9 - loja de tecidos para decoração)
Quanto ao relacionamento com o cônjuge, foi observado que existe uma cobrança por
parte deste em relação às tarefas domésticas, que ainda são, na sua maior parte,
realizadas pelas mulheres. Corroborando a afirmação de Grossman e Chester (I 990), as
mulheres que estão empregadas continuam a fazer a maior parte do trabalho da casa,
independentemente do seu status, de suas horas de trabalho ou remuneração:
"Por exemplo, tenho que manter a água de coco do meu marido na geladeira, essas
besteiras. Homem é muito cricri, super cricri. Eles estão acostumados a ser
cuidados." (E 6 - buffet)
"O meu marido gosta da mulher que tcm o seu negócio, mas tem as cobranças. Se
ele chega antes de mim, já liga me procurando, aquela coisa de a mulher ter que
chegar antes do homem". ( E 5 - loja de roupas femininas)
o movimento feminista parece ter sido maIs eficiente na luta por igualdade de
oportunidades profissionais do que na luta por igualdade doméstica. Os homens ainda
cuidam muito pouco do lar. Quem faz a lista de compras, quem conversa com a babá
quando chega em casa para saber como foi o dia das crianças, quem arruma o quarto do
filho ainda é a mulher. Dividir as tarefas domésticas com o companheiro parece ser o
75
sonho de toda mulher que trabalha fora - mesmo das que têm um batalhão de
empregados para cuidar das refeições do dia-a-dia, fazer as compras do mês, dar banho
e levar as crianças ao colégio. (MIRANDA E PETRAGLIA, 2002)
A divisão de tarefas do lar pode ser considerada um nó ainda não desatado. "A mulher
resiste em aceitar que o domínio doméstico, área onde sempre reinou, seja algo
compartilhado. Isso deixa o homem numa situação confortável. Se ninguém pede, ele
vai tomar a iniciativa por quê?", diz a antropóloga Mirian Goldenberg, antropóloga da
UFRJ. A mulher não fala, mas se ressente. Quer que o homem seja mais participativo,
mas espera que ele assuma o novo papel sem que seja necessário convocá-lo, já que o
pedido poderia soar como uma confissão de fracasso, uma admissão de que ela não dá
conta de levar a vida que as mulheres de gerações anteriores tanto lutaram para
conseguir viver. (MIRANDA E PETRAGLlA, 2002)
Portanto, o homem parece entrar nas tarefas domésticas como um suporte, uma
"mãozinha a mais". Em reportagem recente (Miranda e Petraglia, 2002), uma das mais
conceituadas dermatologistas cariocas, Paula Bel1otti, de 33 anos, relata viver um
casamento feliz. Não hesita em dizer que, se não fosse o apoio do marido, não teria
conseguido chegar onde chegou na carreira. No entanto, ao falar sobre o cotidiano, não
menciona uma vez sequer o nome do companheiro.
A divisão de trabalho no lar parece ocorrer de maneira mais natural entre os casais mais
jovens do que entre pessoas que estão juntas há muitos anos. Segundo a socióloga e
psicóloga Rosiska de Oliveira, casos em que o cônjuge ou companheiro ajuda nas
tarefas domésticas são cada vez mais freqüentes entre pessoas que estão juntas há pouco
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tempo. Isso porque as mulheres adultas de hoje sabem desde meninas que não querem
cuidar sozinhas da casa. (BRISSAC, 1997)
Apesar das cobranças, parece existir uma admiração por parte do cônjuge pela mulher
que trabalha e se ocupa com uma atividade. Segundo depoimento de uma entrevistada:
"Quando eu tenho algum problema no trabalho, chego em casa mais agitada. Mas aí
é que cu acho que o homem admira a mulher empreendedora, ele olha para você
com admiração, sempre com aquela admiração." (E 5 -loja de roupas femininas)
Diferentemente do que ocorre nos casos em que a mulher é empreendedora, quando a
mulher trabalha em uma grande empresa e aspira alcançar cargos elevados, o apoio do
cônjuge parece ter que ser ainda maior. Isso porque se torna mais fácil para a mulher
subir na carreira se há uma sólida retaguarda. Em alguns casos, o cônjuge deixa o
emprego para cuidar do casal e dos filhos. Entre as cinco executivas mais influentes dos
Estados Unidos, listadas pela revista For/une, quatro têm maridos que não trabalham
fora. (COHEN, 2001)
Um exemplo é o marido de Carly Fiorina, executiva-chefe da Hewlett-Packard, que se
aposentou da AI &I há alguns anos e lhe serve de assistente e companheiro de viagem.
Debby Hopkins, diretora financeira da 'Lucent, tem no marido, David, a sua "arma
secreta". Aposentado da General Motors, David edita os discursos e cuida do guarda
roupa da esposa. No Brasil, temos o exemplo de Melanie Healey, gerente-geral para a
America Latina da Procter & Gamble, que tem o firme propósito de se tornar executiva
chefe de uma grande empresa. Quando sua ascensão profissional determinou a segunda
transferência para o exterior, o marido largou o emprego para cuidar dos filhos.
(COHEN,2001)
77
Entre as mulheres empreendedoras entrevistadas, não foi encontrado nenhum caso em
que o cônjuge tenha deixado seu emprego para cuidar do casal ou dos filhos.
Vale ressaltar também as diferenças entre o apoio do cônjuge nas relações entre homens
e mulheres que possuem alto nível de renda e na classe operária. Sulerot apudTonelli e
Betiol (1991) aponta que há maior hostilidade nas relações entre mulheres e homens da
classe operária, porque os homens já são tão explorados fora de casa que não querem
perder o único lugar em que são os primeiros. Além disso, a idéia de trabalhar fora vem
acompanhada do temor de que haverá maior liberdade sexual, ficando as mulheres
exageradamente independentes. Nas classes mais altas, tal hostilidade parece não
ocorrer tão freqüentemente.
4.2.2 Diferenças culturais entre o cônjuge brasileiro e o estrangeiro
Um aspecto interessante que surgiu durante as entrevistas foi a comparação feita pelas
entrevistadas entre o homem brasileiro e o estrangeiro, mais especificamente entre o
cônjuge brasileiro e aquele europeu ou americano. Na opinião de várias das
entrevistadas, o homem brasileiro não foi educado para auxiliar nas tarefas domésticas,
diferentemente do homem europeu e do americano, que parecem ter uma mator
disposição para ajudar nas tarefas de casa. Nas palavras das entrevistadas:
"É claro que, em relação às coisas de casa, os homens brasileiros são muito mais
'mal educados' do que os europeus, por exemplo. Meu marido, como qualquer
brasileiro, não foi educado para ajudar nas coisas de casa. Na França, na Europa em
geral, é muito mais comum ver os homens fazerem o jantar, cuidarem dos filhos,
etc" ( E 1 - restaurante / buffet)
78
"O homem pode cozinhar muito, mas a mulher quer estar lá. É ela quem vai estar
preocupada com os filhos, em como a casa está administrada, é ela que é cobrada por
isso. O Brasil é muito chauvinista. Eu não vejo isso na França, na Alemanha, nos
Estados Unidos. Lá não tem empregada mesmo e, se o homem não dividir o trabalho
de casa, não tem como. A gente ainda tem aqui a bendita passadeira."
(E I O - assessoria de imprensa)
"Eu ligo para o pai dos meus filhos e ele é incapaz de levar ao pediatra. De repente
os homens americanos e europeus têm um pouquinho mais disso, de entender que
têm que ajudar também. Tem que ter mais matéria para eles lerem, mais estatística,
para mostrar que eles podem ser diferentes, que eles têm que dividir com as
mulheres." (E 4 - loja de roupas femininas)
4.2.3 Pais e parentes idosos
Quanto aos pais e parentes idosos, os depoimentos não corroboram a teoria exposta no
referencial teórico, sendo os pais ou parentes idosos uma fonte de apoio, muito mais do
que uma preocupação para as entrevistadas.
"Eu tive esse apoio, até hoje eu tenho Eu poderia trabalhar, viajar, porque cu tenho
uma família super legal que me ajudaria em todos os níveis, emocional e .financeiro".
(E 3 - restaurante)
"Pelo contrário, meus pais também ajudam. Saem para passear com eles, buscam no
colégio, etc" (E 7 - buffet)
"Hoje em dia minha mãe ajuda. Tenho também muita ajuda dos outros avós."
(E l- restaurante I buffet)
79
O fato de os pais e parentes idosos serem uma fonte de apoio para as mulheres
empreendedoras brasileiras entrevistadas, ao contrário do que acontece com as
americanas, provavelmente se deve a diferenças demográficas e culturais entre as
sociedades brasileira e americana. Nos Estados Unidos, os idosos dependem em vários
graus de seus filhos adultos, principalmente das filhas mulheres (FERBER, O'FARREL
E ALLEN, 1999). Cerca de um terço das pessoas que trabalham e tomam conta de seus
pais ou parentes idosos consideram que precisam tirar um tempo no trabalho para lhes
dar assistência (SHELLENBERGER, J 999)
No Brasil, ao contrário, os pais e parentes idosos contribuem com a renda familiar e,
devido a características culturais, tendem a ajudar mais do que os norte-americanos nas
tarefas domésticas. Pesquisa recente realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (Ipea) demonstra que, das 47 milhões de famílias brasileiras, em 12 milhões
são os idosos que mantêm a casa com a renda da aposentadoria (GRECCO, 2002)
Pode-se dizer que, em geral, o idoso hoje no Brasil está em melhores condições de vida
do que a população mais jovem: ganha mais, uma parcela maior tem casa própria e
contribui significativamente na renda familiar. Em estudo realizado pelo Ipea,
observaram-se melhorias significativas no nível de renda da população idosa nos
últimos anos. (CAMARANO et aI., J 999)
Foi observado também um aumento da longevidade, como tem ocorrido na maior parte
do mundo. Tal aumento da longevidade está alterando a sociedade brasileira, através de
um crescimento mais elevado do segmento populacional em idades mais avançadas,
geralmente definido como contingente idoso, que está passando a viver mais. No Brasil,
aos 65 anos, um indivíduo do sexo masculino pode esperar viver mais 13 anos e as
80
mulheres, mais 17 anos. O aumento da longevidade, conjugado com o momento
recessivo pelo qual passa a economia brasileira, com efeitos expressivos sobre o jovem,
têm levado o idoso a assumir papéis não esperados nem pela literatura, nem pelas
políticas públicas. (CAMARANO el aI., 1999)
Assim, além de ser explicado pelas diterenças culturais em relação aos norte
americanos, o apoio dos pais e parentes idosos relatado pelas entrevistadas também
poderia ser explicado pela idade e aumento da longevidade dos mesmos. É possível que
os pais e parentes idosos das pesquisadas ainda não estejam na idade em que começam a
apresentar problemas de saúde mais sérios, já que nove das doze respondentes se
encontra na faixa etária abaixo dos quarenta anos.
Outro fator explicativo do apoio dado pelos idosos poderia ser a conjuntura econômica
do país nos últimos anos. Pode-se dizer que os idosos brasileiros, de forma geral,
passaram a maior parte de sua vida produtiva num periodo mais propício da economia
brasileira, o que os permite ser uma fonte de apoio para os filhos.
4.2.4 A importância de estar com os filhos
A idéia de que os cuidados da mãe são melhores para os filhos nos seus primeiros anos
de vida do que os cuidados de qualquer outra pessoa parece estar presente nas mulheres
pesquisadas. Muitas consideram o período de amamentação extremamante importante, e
se esforçam para não deixar que a carreira prejudique essa fase, utilizando-se de vários
meios para conciliar o trabalho com a amamentação dos filhos pequenos.
"Agora que eu acabei de ter filho, eu estou tirando a manhã para ficar com ele. Eu
estou amamentando. Antes era muito engraçado, eu tirava o leite, mandava pelo
8l
motorista, ele pegava o leite para levar para o meu filho .. Eu não podia amamentar
toda hora ... " (E 6 - buffct)
"Meu filho estava com quatro meses e eu tive que viajar a trabalho. Eu tive que tirar
leite lá e mandar, para não desestimular. Quando eu voltei, eu consegui retornar a
amamentação. Mas eu corri o risco de não conseguir retomar. Tudo isso mexe com a
criança." (E 5 -loja de roupas femininas)
A maioria das pesquisas não encontrou evidências de que a carreira da mãe é prejudicial
às crianças com idade acima de um ano. Para crianças muito pequenas, há evidências
nos dois sentidos; alguns estudos encontraram efeitos negativos para as crianças quando
a mãe trabalha em tempo integral durante o primeiro ano de vida, enquanto outros
estudos não encontraram efeitos da carreira da mãe sobre as crianças. (BLAU E
EHRENBERG, 1997)
Mesmo após os primeiros anos de vida, as entrevistadas que têm filhos demonstram ter
uma preocupação em estar com eles, comparecer às reuniões de pais na escola e às
festinhas. Além disso, consideram importante o acompanhamento escolar. Segundo
depoimento das mesmas:
"Eu sempre procurei ir ás reuniões da escola, a não ser que eu tivesse uma viagem.
Não vou dizer que eu saiba tudo. Mas eles sempre me viram na escola."
(E 5 - loja de roupas femininas)
"Eu hoje fui convidada para assistir a uma aula do pequeno. Fui lá, assisti á aula com
ele. Às vezes tem apresentação de capoeira do outro. Eu procuro estar em todos
esses eventos." (E 6 - buffet)
82
"Eles às vezes me passam e-mails, mas eu não quero ser uma mãe virtual. Eu
estabeleci que eu almoçaria com cada um dos meus filhos, separadamente, toda
semana. O mais velho vem mais ao escritório, então eu almoço com ele por aqui. O
mais novo, eu marco de almoçar com cle num restaurante, para ter mais contato com
ele." (E 10 - assessoria de imprensa)
4.2.5 O sentimento de culpa
As mulheres empreendedoras brasileiras demonstram um sentimento de culpa por não
estarem com sua família, principalmente com os .filhos, na maior parte do tempo.
Assim, tentam obter qualidade no tempo em que estão com a sua família. Conforme
relatos das pesquisadas:
"Eu sinto um pouco de culpa. Por isso tento nos finais de semana e sempre que eu
posso durante a semana aproveitar ao máximo quando estou com eles. É o que
chamam de "quality time", o seu tempo com os filhos tem que ter qualidade. Tento
aproveitar e ter qualidade nos momentos em que estou com os meus filhos."
(E 6 - buffct)
"Eu estava com sensação de culpa, toda mulher que trabalha e tem filhos tem essa
sensação. Eu devo ter passado esse desespero da culpa, de não estar acompanhando
tudo, os detalhes, quantas coisas você perde, a quantas festinhas você não pode ir
para acompanhar os filhos". ( E 8 - confecção de roupas infantis)
Tal sentimento de culpa observado nas entrevistadas pode ser encontrado em estudos
anteriores, como o de O'Hare (I997), em que as mulheres casadas reportam sentimentos
de culpa quando querem tempo para si, sentindo-se egoístas porque "não deveriam"
deixar as crianças e o marido.
83
4.2.6 Estrutura de apoio
Devido ao alto envolvimento das mulheres empreendedoras com o trabalho, muitas das
pesquisadas demonstraram precisar de uma estrutura de apoio no dia-a-dia. Tal estrutura
consiste em babá para os filhos, empregada doméstica e algumas vezes motorista. As
demandas maiores do domínio da família parecem vir dos filhos pequenos.
Segundo Shellenberger (1999), as atividades extra-curriculares dos filhos "requerem os
serviços de uma animadora de torcidas, chauffeur e dama de companhia (para não
mencionar banqueiro para cobrir essas contas extra-curriculares sempre crescendo)". A
estrutura de apoio foi apontada como sendo de grande importância. Os relatos abaixo
sintetizam a idéia:
"Babá é fundamental. Eu tenho uma babá para os dois, ela é muito mais cara, mas
ela tem uma capacidade de liderança enorme. Hoje cu dei dinheiro e ela foi para a
feira com as crianças. A minha pequcninha tinha que ir para o balé, eu deixei ela no
balé, c ela foi com o meu filho, Ela vai à feira, arruma tudo e cu também tenho urna
empregada," ( E 7 - buffet)
"Tenho uma enfermeira para a pequena, uma babá para os meninos, e tenho também
uma cozinheira, Graças a Deus, senão eu não sei como seria". ( E 6 - buffet)
"Acho que o primeiro filho sempre é mais dificil. Agora eu tiro de letra, Na época eu
nem tinha empregada, Agora já tenho babá. Agora eu já estou escolada, tenho toda
uma infra", ( E 5 -loja de roupas femininas)
Assim como as donas de empresas, as mulheres que trabalham em grandes organizações
também parecem montar uma estrutura de apoio para melhor conciliar a vida
profissional com as tarefas domésticas. Um exemplo é dado pela ex-presidente da CSN,
84
Maria Sílvia Bastos Marques, que afinnou não ter remorsos por trabalhar fora. A
solução, disse a executiva, é montar uma estrutura que substitua os cuidados da mãe:
babá, empregada, faxineira. (COHEN, 2001)
Esse parece ser um ponto paradoxal do avanço das mulheres no mundo corporativo
brasileiro. Na imensa maioria dos casos, o avanço se dá pela terceirização do trabalho
tipicamente feminino de cuidar da casa - com a contratação de outras mulheres.
Segundo a socióloga Cristina Bruschini, da Fundação Carlos Chagas, o aumento
absoluto de empregadas domésticas foi de quase 200% entre 1970 e 1997, de 1,7 milhão
para 4,9 milhões de trabalhadoras. A existência dessas trabalhadoras facilita a ascensão
profissional da mulher de classe alta, na maioria das vezes sem alterar a posição
dominante do marido. (COHEN, 2001)
Assim, podemos dizer que a presença de inrra-estrutura doméstica funciona como um
suporte para que a mulher possa exercer, com custos pessoais menores, atividades no
dominio público, tanto nas organizações quanto em seus próprios empreendimentos.
4.3 Vida Pessoal
4.3.1 Estresse
o estresse se refere ao estado de resposta psicológica aos efeitos dos distúrbios
causados pelos fatores estressantes na vida de uma pessoa. Como estas profissionais
trabalham muitas horas por dia, e seu envolvimento com o trabalho é grande, o estresse
é apontado como uma das principais desvantagens em se ter um empreendimento
próprio.
85
"Ano passado eu tive uma crise de estresse, de tanto cansaço, Meu colesterol foi a
240, estorou urna veia na minha perna, Realmente é muita responsabilidade, eu não
consigo deixar meu trabalho"- ( E 7 - buffet)
As mulheres brasileiras parecem ser adicionalmente confrontadas com fatores
específicos, tais como as dificuldades em se ter um negócio no Brasil. Além disso,
tomar conta das crianças e ser responsável pela maioria das tarefas domésticas, além de
possuir a responsabilidade pelo sucesso ou fracasso do negócio constituem fontes de
estresse para as mulheres que possuem um empreendimento,
As entrevistadas lidam com os problemas relacionados ao estresse praticando atividades
que encaixam no seu dia-a-dia, como ginástica, ioga c outras. Foi apontada como uma
das vantagens em serem donas do próprio negócio a flexibilidade de horário para essas
atividades, Alguns depoimentos das pesquisadas corroboram essa afirmação:
"Hoje, fim de semana, estou trabalhando, já fui na loja do Leblon encontrar com a
minha filha, fiz um spinning, vou encaixando, fui andando, tomei uma água de coco,
Eu vou encaixando no dia-a-dia as coisas que me dão prazer. Se eu tenho que vir do
Leblon para Ipanema, eu certamente vou vir pela praia, Nem que seja só para olhar",
(E ) - restaurante I buffct)
4.3.2 Cuidados pessoais
Um aspecto curioso que pôde ser depreendido das entrevistas é o fato de que as
mulheres empreendedoras, principalmente as que possuem filhos, não dispõem de um
tempo satisfatório para os cuidados pessoais, Entenda-se por cuidados pessoais os
cuidados com elas próprias, como consultas médicas, cuidados com a pele, cabelos e
unhas, Nas palavras das entrevistadas:
86
"Eu faço muito pouca ginástica, deveria fazer mais. Eu sinto falta de me cuidar mais.
A mulher que trabalha muito não tem tempo de sc cuidar mesmo."
(E 5 - loja de roupas femininas)
"Eu sou um péssimo exemplo para as mulheres. O máximo que eu estou fazendo é o
meu cabelo. Eu mantenho o mcu corte, faço uma escova e faço unha, mas eu não
tenho uma rotina para isso. Eu estou em débito com a questão física, estou muito
sedentária, não estou conseguindo romper um ciclo. Eu acho que a mulher tem que ir
sempre a uma dermatologista, por exemplo. Eu estou fazendo mal e porcamente o
meu check-up. Acaba que você vai se acomodando." (E I O - assessoria de imprensa)
Podemos notar, portanto, que a flexibilidade de horário proporcionada pelo fato de ter
seu próprio negócio não parece contribuir muito para o aumento dos cuidados pessoais
das mulheres empreendedoras.
4.3.3 Lazer
o lazer é visto pelas pesquisadas como sendo importante fonte de relaxamento. No
entanto, foi freqüentemente associado a "tempo para ficar sozinho", mais do que a
"tempo livre". Algumas pesquisadas relataram que, para elas, lazer significa passar mais
tempo com os filhos e o marido, enquanto outras demonstraram desejo de ter mais
tempo sozinhas nos momentos de lazer.
"Meu lazer é fazer minhas aulinhas, ficar com minha filha. Vou para Búzios quando
posso." ( E 9 - loja de tecidos para decoração)
"Gostaria de ter mais tempo para mim, para ficar quieta, em silêncio, porque é uma
demanda muito grande. São 80 pessoas falando comigo, 60 funcionários, e todos os
telefones tocando. Quando chego em casa, tem sempre alguém perguntando, a conta
87
de luz, o que eu faço para o jantar, minha filha pedindo para ler história, meu
marido .. " (E I - restaurante f buffet)
"É por isso que cu faço ioga e spinning, porque é a hora em que ninguém fala
comigo, eu estou quieta. As atividades de que eu goslo, velejar, por exemplo, é
porque sou eu com a minha prancha. En sinto mais falta disso, silêncio."
(E 7 - buffet)
Pode-se observar, também, que entre as mulheres empreendedoras é comum existirem
compromissos ligados a status ou a necessidades de relacionamento, que muitas vezes
são confundidos com lazer, como encontros informais com clientes. Tal aspecto é
particularmente comum em atividades empreendedoras no setor de serviços.
"Eu tenho meu finais de semana mas, mesmo assim, minha amiga diz que para sair
comigo ela tem que inventar algum trabalho. Eu ando muilo cansada, e o tempo de
lazer nunca é suficiente. Aí tem aquela coisa do estresse diário. Eu até almoço com
cliente no final de semana ... " ( E 10 - assessoria de imprensa)
Segundo Bernhoeft (I985), isto não pode ser considerado lazer, pois assume um caráter
de obrigatoriedade que pode se transformar até em um ritual. De fato, as entrevistadas
demonstraram estar constantemente ligadas de alguma maneira ao trabalho.
4.4 Estilos de equilíbrio entre vida profissional e vida pessoal
Foram encontrados nos relatos das pesquisadas os estilos de equilíbrio propostos por
Sumer e Knight (200 I) para explicar a relação entre os domínios do trabalho e da
família: extravasamento (.\pillover), compensação e segmentação. Algumas
88
entrevistadas demonstraram estar utilizando o extravasamento (spillover), como no
depoimento a seguir:
"Isso acontece. É inerente ao ser humano, tem que ter um limite. Eu vejo isso com as
minhas funcionárias, algumas têm mms facilidade e outras têm rnrus dificuldade para
separar. Elas trazem os problemas de casa para o trabalho e isso atrapalha enquanto
outras não. É impossível você não trazer, mas a gente tenta. Tem dias que aparece
um fiscal que fica o dia inteiro e dá tudo errado, me aborrece, aí é dificil você chegar
em casa feliz. Principalmente em casa". ( E 2 - restaurante)
Pode-se observar no depoimento acima o extravasamento (ópillover) negativo, em que
problemas na vida profissional tomam mais dificil e problemática a vida familiar.
Outras entrevistadas demonstraram responder ás condições insatisfatórias de um dos
domínios envolvendo-se mais no outro. Tal atitude caracteriza o modelo de
compensação. Um exemplo é dado por uma das entrevistadas, que durante certo periodo
de sua vida envolveu-se integralmente com o trabalho, em detrimento da vida pessoal:
"Então eu acho que, até os 30, eu tive a vida muito equilibrada, muito saudável.
Fazia esporte, tinha trabalho, amigos, vida pessoal. Depois dos 30, eu pensei: 'O
tempo está passando e a minha carreira está indo muito devagar'. Observando as
pessoas que eu admirava profissionalmente, eu vi que o ritmo tinha que ser esse. Eu
joguei tudo na carreira profissional. Tive um problema no joelho, e parei de fazer
esporte. Joguei 100% na carreira, na vida profissional. Eu me fechei totalmente
afetivamente nessa época" (E II - produtora de cinema)
89
O relato acima parece corroborar a teoria de Sumer e Knight (2001), segundo a qual as
experiências com os três processos podem ser diferentes entre individuos, assim como
ao longo do tempo para um mesmo indivíduo.
Em outras pesquisadas, foi encontrado o estilo de equilíbrio segmentação para lidar com
os dois domínios.
"Eu saio daqui c desligo. Enquanto eu estou andando do Lcblon para Ipanema, eu
desligo. Eu criei uma capacidade de desligamento. Se cu saio do Leblon, cu não fico
carregando problema, o garçom chegou atrasado, etc. Eu desligo. Eu vou olhar o
mar. Chego aqui eu ligo". (E I - restaurante I buffet)
As pesquisadas demonstram estar sujeitas a extravasamento (spillover), compensação e
segmentação em diferentes situações, e por vezes simultaneamente. Tal fato corrobora a
teoria, segundo a qual experiências com os três processos não são mutuamente
exclusivas. (SUMER e KNlGHT, 2001) Em alguns relatos, podem ser identificados
mais de um estilo de equilíbrio, como no relato a seguir da mesma entrevistada:
"Como a gente é a dona do negócio, leva para casa os aborrecimentos, não tem
jeito ... eu procuro tentar relaxar, eu procuro dividir. Quando eu estou com meus
amigos, é lazer; trabalho é trabalho, senão vira uma bola dc neve".
(E 2 - restaurante)
Observa-se, no relato anterior, que há sobreposição dos estilos de equilíbrio
extravasamento e segmentação.
Além dos três estilos de equilíbrio, notou-se que uma estratégia adotada pelas
entrevistadas para melhor equilibrar vida pessoal e vida profissional é a de simplificar o
90
cotidiano. Pesquisa recente feita por pesquisadoras com mulheres bem-sucedidas
profissionalmente demonstrou que as mulheres urbanas de classe média querem uma
vida mais simples. (MIRANDA E PETRAGLIA, 2002)
Tendo conquistado a sua fatia do mercado de trabalho, as mulheres trabalham tanto
quanto os maridos e ainda precisam levar o filho na escola do outro lado da cidade,
buscar a filha no balé e comprar as roupas da família no shopping center. Estão
cansadas e gostariam de encurtar as distâncias fisicas percorridas diariamente. Assim,
morar no mesmo bairro em que trabalham, onde fica o colégio do filho, a academia de
ginástica e bem ao lado da vendinha (a ida ao supermercado para grandes compras
mensais é encarada como tormento) virou desejo de quase todas as mulheres.
(MIRANDA E PETRAGLIA., 2002)
A empresária Cristiana Beltrão, que Vive no Rio de Janeiro, é um exemplo de
profissional que conseguiu encurtar as distâncias fisicas que percorre diariamente. Seu
vaivém diário resume-se aos limites entre a Lagoa e Ipanema. Por ali fica seu
apartamento, a escola do filho e o restaurante que abriu há dois anos, na Lagoa.
Cristiana também transferiu a sede da empresa de de sua família, uma holding ligada ao
mercado financeiro, para Ipanema. "Minha vida ficou mais fácil", diz. (MIRANDA E
PETRAGLIA, 2002)
Foram encontrados depoimentos dados pelas entrevistadas do presente estudo que
demonstram estratégias para simplificar o cotidiano:
"Vou trabalhar de tarde, e no final do dia muitas vezes meus filhos vêm para cá, e
daqui a gente vai junto para casa. Outras vezes eles vão para casa, até porque eu
91
moro do lado. Eu consegui isso, então vou a pé para casa. Não preciso maIS
enfrentar duas horas para ir e voltar para casa. Antes, cu perdia tempo com as
crianças, em qualidade de vida, no trânsito." (E 4 -loja de roupas femininas)
92
5 CONCLUSÃO E SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS
As percepções das mulheres entrevistadas trazem importantes reflexões para as questões
relativas ao equilíbrio entre vida pessoal e vida profissional.
Os relatos apontam para uma escolha pela atividade empreendedora devido ao fato de
que esta permite uma maior flexibilidade e um maior grau de autonomia do que outras
formas de trabalho, principalmente o trabalho em grandes organizações. Não há
indicação nos depoimentos de que as mulheres se tomam empreendedoras por não
terem outra opção. Retirando-se os casos em que o empreendimento começou sem um
planejamento anterior, ter seu próprio negócio demonstrou ser uma estratégia de
trabalho flexível adotada por mulheres para melhor conciliar as demandas da família e
do emprego remunerado.
A flexibilidade de horário proporcionada pelo fato de ter seu próprio negócio parece
diminuir o conflito entre trabalho e família, permitindo a mulheres donas de seus
próprios negócios administrar os conflitos entre trabalho e família mais eficazmente.
As mulheres entrevistadas demonstram ser bastante envolvidas psicologicamente com o
trabalho, o que poderia contribuir para aumentar o conflito entre trabalho e família. No
entanto, pode-se dizer que, apesar do grande envolvimento psicológico com o trabalho e
da responsabilidade pelo sucesso ou fracasso do negócio, a flexibilidade de horário e a
autonomia proporcionadas pelo fato de possuir seu próprio empreendimento parecem
compensar, fazendo com que as mulheres empreendedoras se encontrem satisfeitas com
sua profissão.
93
Tal constatação poderia ser explicada levando-se em conta o fato de que as mulheres
acabam por possuir mais responsabilidade pelos cuidados com os filhos e pelas tarefas
domésticas. Assim, sendo donas de seu próprio negócio, podem utilizar mais facilmente
estratégias de integração entre os domínios do trabalho e da família. Um exemplo disso
é o fato de que algumas entrevistadas levam os filhos para o local de trabalho. Além
disso, muitas entrevistadas relataram levar trabalho para casa freqüentemente.
Portanto, podemos dizer que as características de trabalho que o empreendedorismo
oferece, como horário flexível e autonomia, tendem a facilitar o equilíbrio entre os
domínios do trabalho e da família para mulheres, reduzindo a ocorrência de conflitos
entre os dois domínios.
Os resultados do presente estudo vão de encontro à afirmação de Parasuraman e
Simmers (200 I) de que os aspectos positivos proporcionados pelo empreendedorismo
podem ser menos sentidos pelas mulheres. Ao contrário, os beneficios da atividade
empreendedora para as mulheres parecem se concretizar e compensar pelo aumento do
envolvimento com o trabalho, característico de pessoas donas de seus negócios.
Outro ponto observado na análise das entrevistas é a importância do apoio, notadamente
o emocional, seja da sócia mulher, do cônjuge ou dos pais. Quanto à sócia mulher, sua
importância se dá pela maior compreensão dos problemas domésticos da outra sócia.
Em relação ao cônjuge, apesar de reclamarem da pouca ajuda nas tarefas domésticas por
parte destes, as mulheres pesquisadas consideram importante seu apoio emocional.
Corroborando a teoria, as depoentes parecem continuar a fazer a maior parte do trabalho
da casa, e tal fato se acentua ainda mais se levarmos em conta as diferenças culturais
entre os homens brasileiros e estrangeiros.
94
Por sua vez, os pais e parentes idosos brasileiros, diferentemente do que acontece na
sociedade norte-americana, parecem servir como uma fonte de apoio para as mulheres
brasileiras donas de seus próprios negócios, muito mais do que representar um ônus.
Este fato provavelmente se deve a diferenças demográficas e culturais entre as
sociedades brasileira e americana, mas também pode ser explicado pela idade do pais e
parentes idosos das pesquisadas. Por estar a maioria das mulheres entrevistadas na faixa
etária entre 35 e 40 anos, é possível que os pais e parentes idosos das mesmas ainda não
estejam na idade em que começam a apresentar problemas mais sérios.
Outro fator explicativo do apoio dado pelos idosos poderia ser a conjuntura econômica
de recessão vivida pelo país nos últimos anos. Pode-se dizer que os idosos brasileiros,
de forma geral, passaram a maior parte de sua vida produtiva num período mais
propício da economia brasileira, o que os permite ser uma fonte de apoio para os filhos.
Apesar dos beneficios que o empreendedorismo oferece, principalmente em relação aos
cuidados com os filhos, proporcionando um melhor equilíbrio entre vida pessoal e vida
profissional, devido à melhor utilização de estratégias de integração entre os dois
domínios, foram identificadas algumas áreas passíveis de melhoria. A principal área em
que as entrevistadas demonstraram não estar satisfeitas é a que se refere aos cuidados
pessoais, entendendo-se por cuidados pessoais os cuidados das mulheres com elas
próprias, como consultas médicas, cuidados com a pele, cabelos e unhas .
Assim, pudemos notar que tais cuidados, na maioria das vezes, acabam por ficar em
segundo plano, notadamente para as mulheres que possuem filhos. Portanto, as
estratégias de integração entre os dois domínios, proporcionadas pelo
95
empreendedorismo, tendem a ser mais utilizadas em beneficio dos filhos, e pouco
utilizadas para os cuidados pessoais das pesquisadas.
Outra área de melhoria diz respeito ao lazer. Parece haver pouca segmentação entre os
domínios do trabalho e da família para as mulheres entrevistadas, tomando-se dificil
para as mesmas obter um tempo de lazer, definido como uma atividade livre de
qualquer obrigação. Tomando a definição de lazer como "tempo para ficar sozinho", as
pesquisadas demonstram sentir falta desse lazer, pois tendem a se dedicar aos filhos e ao
cônjuge quando não estão trabalhando.
Quanto às prioridades, podemos concordar com Buttner e Moore (1997), concluindo
que o valor mais importante para as mulheres empreendedoras é a segurança da família.
Porém, o conceito de segurança da família apresenta diferenças em relação ao nível de
dependência das mesmas do retomo financeiro do empreendimento.
Quando há apOlO financeiro do cônjuge ou dos pais, e a mulher não depende
inteiramente dos lucros do negócio para manter sua casa, geralmente os filhos vêm em
primeiro lugar na lista de prioridades da mulher empreendedora.
Ao contrário, quando não há apoio financeiro de nenhuma espécie e a renda familiar
depende unicamente do retomo financeiro advindo do negócio, a mulher
empreendedora tende a colocar o trabalho em primeiro lugar nas suas prioridades.
Assim, concordamos com a teoria de Carr (1996), segundo a qual não podemos levar
em conta os padrões dos homens para compreendermos as questões do
empreendedorismo em mulheres. Concluimos que uma teoria de empreendedorismo que
96
se aplique a mulheres precisa incorporar características familiares, incluindo estado
civil, presença de filhos e idade destes.
o objetivo deste trabalho foi entender as questões relativas ao equilíbrío entre vida
profissional e vida pessoal para mulheres empreendedoras brasileiras. Esta pesquisa
podería ser realizada com um grupo de mulheres empreendedoras em outros países,
procurando captar as características culturais que diferem o grupo de outras
nacionalidades,
Outra possibilidade de pesquisa é a que leva em conta atributos de personalidade, como
níveis de motivação individual. Apesar de termos detectado que as mulheres
empreendedoras entrevistadas demonstram ter níveis de motivação individual bastante
altos em relação a seus negócios, nosso modelo conceitual não abordou tal aspecto.
Seria interessante estudar como os atributos de personalidade influem sobre os diferntes
modos pelos quais as mulheres reagem às demandas de duplos papéis,
Outra contribuição poderia vir de uma pesquisa realizada com mulheres que trabalham
em grandes organizações, a fim de verificar se as áreas de melhoria identificadas neste
estudo, cuidados pessoais e lazer, constituem também áreas de melhoria para essas
mulheres.
Sugerimos ainda um estudo sobre o equilíbrio entre vida profissional e vida pessoal para
mulheres empreendedoras que leve em conta as diferenças entre os setores de atuação
dos negócios, Acreditamos que o grupo de mulheres que possuem empreendimentos no
setor de serviços tende a fazer menos segmentação entre os domínios do trabalho e da
família, o que poderia levar a um aumento do conflito entre trabalho e família.
97
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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BLAU, F.D.; EHRENBERG, RG. Gender and family issues in the workplace. New
York: Russell Sage Foundation, 1997.
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ANEXO I
Guia para entrevistas
1) Como você iniciou o seu negócio? / Como tudo começou?
2) Você se tornou empreendedora por que razões? Já pensava nas vantagens e desvantagens?
3) Como você equilibra sua vida profissional com relação a:
Filhos
Pais ou parentes idosos
Cônjuge ou companheiro
Amigos
Lazer
Cuidados pessoais
4) Quais as vantagens que vê hoje em ser dona de seu próprio negócio?
5) Você se veria numa empresa? Voltaria a trabalhar numa empresa (se for o caso)?
6) Encontrou dificuldades para financiamento ( se for o caso)?
7) Quais são as suas fontes de apoio?
8) Quais são os principais entraves?
9) Alguma coisa que te incomoda em ter o seu próprio negócio?
10) Como você faz para equilibrar os dois lados, profissional e pessoal, no dia-a-dia?