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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
ADUBAÇÃO ORGÂNICA - POSSIBILIDADE DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL PELO ESTUDO DA COMPOSTAGEM DOMÉSTICA
Edi Ostroshi1
Denise E. H. David2
RESUMO - Este trabalho tem como objetivo propor métodos e estratégias para aprimorar o processo ensino-aprendizagem no cultivo orgânico, realizado de forma teórico prático acerca da “Adubação Orgânica”, utilizando para isto a técnica da compostagem mediante o uso e reaproveitamento de resíduos de origem animal e vegetal. Neste estudo participaram 12 alunos do Ensino Médio do CEEP. Lysímaco Ferreira da Costa. As estratégias metodológicas foram desenvolvidas em 8 tópicos: Educação Ambiental; Pesquisa teórica sobre o tema; Separação dos resíduos orgânicos e inorgânicos; Coleta e separação dos resíduos orgânicos; Preparação das camadas na compostagem; Emprego do composto e análise dos resultados; Relatório das atividades; e, Socialização do estudo da compostagem. A análise da aplicação do projeto resultou ações possíveis de serem implementadas na escola e nas propriedades rurais, como: adotar e apoiar práticas de cultivo orgânico que minimizem o uso de insumos químicos e agrotóxicos; utilizando os resíduos produzidos para realização de compostagem; facilitando a conversão da agricultura convencional em agricultura sustentável. Pois, o conhecimento científico e tecnológico necessita ultrapassar as barreiras da sala de aula, atingindo toda a comunidade escolar, mostrando suas implicações e relações aos aspectos cotidianos. A compostagem contribui como novas formas de aprendizado para o aproveitamento dos resíduos vegetais e animais. Portanto, a Adubação Orgânica, é uma alternativa para a produção de alimentos isentos de adubos químicos e agrotóxicos, colaborando para diminuir o acúmulo de resíduos orgânicos
de origem animal e vegetal, atrelada aos aspectos econômicos, sociais e ambientais assumindo práticas sustentáveis em nossas ações diárias.
Palavras – chave: Adubação Orgânica; Compostagem; Desenvolvimento Sustentável; Educação Ambiental.
INTRODUÇÃO
A geração de resíduos sólidos ocasiona uma grande problemática ambiental,
como a disposição inadequada em lixões que contaminam os solos e os recursos
hídricos, além da saturação dos aterros sanitários. Até 2007 o CEEP. Lysímaco
Ferreira da Costa depositava todo o lixo gerado, orgânico ou não, em locais
inapropriados na escola.
Posteriormente, houve um acordo com a Prefeitura Municipal, a qual faz a
coleta duas vezes por semana deste lixo. Cabe ressaltar que é adotada a separação
1 Professor PDE. Especialista em Educação. Docente do CEEP. Lysímaco F. da Costa. Rio Negro –
2 Orientadora PDE. Dr. Eng. Produção. Docente da UTFPR – Curitiba - PR
seletiva, onde aquilo que é possível reciclar doa-se a uma associação de recicláveis
denominada de FUNDIR.
Para solucionar a problemática lixo é necessário que os municípios adotem o
gerenciamento integrado de resíduos sólidos, que compreendem a redução da
geração destes, a reutilização, a reciclagem de materiais que podem servir de matéria
prima e a compostagem que trata o resíduo orgânico, dando a este uma nova
utilidade. Todas essas ações realizadas de forma integrada e estrategicamente
orientadas pelos princípios da Educação Ambiental acarretam a diminuição do
desperdício e promovem a geração de renda no meio urbano (SANTOS; FEHR, 2007).
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2000) informa que
resíduos sólidos domiciliares coletados no Brasil contam em sua composição com
grande parte de matéria orgânica, superior a 50% em peso. Esta matéria orgânica,
quando não tratada ou sua disposição final é feita de forma incorreta, torna-se a
principal fonte de poluição dos solos, dos corpos hídricos e da atmosfera, pois gera
efluentes líquidos (chorume) e gasosos (biogás).
Em relação aos resíduos sólidos orgânicos, a compostagem tem sido a forma
eficiente, de se reciclar os resíduos de animais e vegetais, possuindo grandes
vantagens. Além de diminuir a quantidade de resíduos do lixão a céu aberto, do aterro
sanitário ou controlado, ainda promove uma nova utilização através de sua
transformação em adubo orgânico unificado (VESPA, 2000).
Conforme a NBR13591 (1996), a compostagem corresponde ao processo de
decomposição biológica da fração orgânica biodegradável dos resíduos, efetuado por
uma população diversificada de organismos em condições controladas de
anaerobiose e demais parâmetros desenvolvidos em duas etapas distintas: uma de
degradação e outra de maturação.
O presente trabalho relata as atividades inicialmente desenvolvidas em um
projeto de Educação Ambiental por meio da compostagem doméstica de resíduos de
origem animal e vegetal de uma escola pública estadual de Rio Negro – Paraná, com
o intuito de promover ações sustentáveis na dinâmica da escola relacionando-as ao
estudo da Adubação Orgânica com ênfase no estudo da compostagem doméstica.
Considerando a aplicabilidade dos aspectos teóricos, surge à necessidade de
analisar as relações entre educação, no que diz respeito à apropriação dos conceitos
de compostagem necessários à alfabetização científica de sustentabilidade, na prática
do reaproveitamento dos resíduos de origem animal e vegetal, sistematizando
procedimentos para efetivação do projeto de implementação na socialização dos
conhecimentos científicos aprendidos. Essa abordagem cognitiva da sensibilização
identifica que será necessário trabalhar com o conflito entre o que a escola pode
oferecer em matéria de conhecimento e o tipo de conhecimento necessário ao aluno
para que possa estabelecer relações conscientes e de transformação no mundo
tecnológico e de trabalho.
Em foco de discussão no âmbito das transformações, o desenvolvimento
sustentável sugere que as modificações ocorram de forma harmoniosa nas dimensões
espacial, social, ambiental, cultural e econômica, as quais estão “inter relacionadas
por meio de instituições que estabelecem as regras de interações e, também,
influenciam no comportamento da sociedade”. (SILVA, 2006 p.18).
Contudo, considera-se que a escola é uma das instituições que participa no
regimento das interações sociais, sendo responsável pela democratização dos
saberes científicos os quais são determinantes na formação do aluno. Neste entorno,
a prática docente, no discurso do professor, pode intermediar a análise e a discussão
dos conceitos biológicos, químicos e estéticos (interdisciplinaridade) com enfoque na
sustentabilidade ambiental, onde podem abordar a compostagem doméstica,
provocando a reconstrução do conhecimento experiencial dos alunos.
Um dos principais objetivos da compostagem doméstica é sensibilizar tanto
alunos como servidores públicos e a própria família em relação às questões
relacionadas ao aproveitamento e aos danos ambientais causados pelo descarte
incorreto destes resíduos, quer sejam gerados em sua casa ou na escola, buscando
sempre trabalhar inter disciplinarmente estas questões, estimulando o espírito crítico
sobre a realidade e auxiliar na busca de soluções para os problemas ambientais.
ADUBAÇÃO ORGÂNICA NO CONTEXTO ESCOLAR
Em uma análise conceitual, define-se a tecnologia, assim como a ciência,
resultando da atividade social orientada por incentivos e recompensas. Por nascer em
certo momento histórico, a tecnologia não pode ser considerada como inerente ao ser
humano. É um processo que alia ciência e técnica no desenvolvimento de produtos
tecnológicos. Dessa forma, uma determinada tecnologia pode gerar múltiplos
resultados, surgindo situações novas que inicialmente não foram previstas. Portanto
não pode ser considerada também como passiva, pois existem pessoas que decidem
sobre sua aplicabilidade.
Os avanços tecnológicos, como afirmam Auler e Delizoicov (2001), não operam
por si mesmos já que as mudanças acontecem porque favorecem grupos, sendo que
outros grupos oferecem resistências. Assim, influem, no desenvolvimento tecnológico,
condições econômicas, políticas e sociais entre organizações estatais e privadas.
Nesse sentido os autores consideram que o endosso ao determinismo tecnológico,
consiste numa forma sutil de negar as potencialidades e a relevância da ação humana.
Portanto, a tecnologia precisa ser apresentada aos alunos como aplicação das
diferentes formas de conhecimento utilizadas no atendimento das necessidades
sociais. Como tal abordagem, Santos e Schnetzler (2003) argumentam que o aluno
compreenderá as pressões das inovações tecnológicas na sociedade, caracterizando
a tecnologia da Adubação Orgânica, mediante a técnica da compostagem doméstica
como um processo de produção social e reconhecendo a dependência da sociedade
para com os produtos orgânicos isentos da fertilização química e dos agrotóxicos.
Segundo Medeiros (1998) a adubação orgânica pode ser definida como a
incorporação de resíduos orgânicos de diferentes origens, visando à melhoria na
produtividade do solo. Sendo o resultado final a obtenção da matéria orgânica.
Todavia, o que se encontra no contexto escolar, são conhecimentos
historicamente construídos repassados aos alunos por disciplinas setorizadas em
diferentes áreas de ensino e de conhecimento. Na prática docente, também
fragmentada, a transmissão linear dos conceitos científicos acerca da compostagem
doméstica centrada apenas no professor, ocasiona um crescente distanciamento em
relação aos problemas teóricos e os do contexto real. Dessa forma, ao focalizar
apenas aspectos isolados da realidade e da necessidade do emprego da Adubação
Orgânica, fica difícil para o aluno compreendê-las em sua totalidade. Em
contrapartida, o aluno não se encontra preparado e capacitado para enfrentar
problemas adversos do uso da compostagem doméstica, quer sejam: meios de
comunicação a serviço de multinacionais que promovem verdadeira “lavagem
cerebral” pregando a impossibilidade de produzir alimentos sem uso de agroquímicos,
e aqueles “aventureiros” que desconhecem a forma ambientalmente correta de
produzir alimentos, utilizando da retórica como argumentação no sentido de
convencer os alunos menos esclarecidos. Assim, como esperar dos alunos que
enfrentem este problema de ordem ambiental com responsabilidade e consciência,
onde existe um ensino desarticulado que pouco contribui para a formação cidadã.
Ao se ensinar as disciplinas escolares como estanques, ou seja, não citar onde
ela vai contribuir na atividade prática do Técnico em Agropecuária, torna-se difícil
estimular o aluno a pensar e exprimir-se criticamente sobre os problemas advindos do
uso cada vez mais frequente e abusivo dos adubos químicos e agrotóxicos,
encontrados na vida cotidiana, o que leva a crer que o conhecimento acerca da
fertilização orgânica é acessível apenas aos especialistas o que lhes garante o
domínio quase que exclusivo que é possível sim, produzir alimentos saudáveis, em
quantidade, nutritivos, isentos dos adubos químicos e dos agrotóxicos.
No entanto, um processo educativo democrático, universal, gratuito, com
currículo que permeia a Educação Ambiental, principalmente no que tange ao uso de
tecnologias ambientais, que prepare o aluno para atuar como cidadão, precisa
promover discussões sobre as questões pertinentes aos impactos ambientais. Os
jovens agricultores são atores fundamentais no processo construtivo de um projeto
regional ou local, do desenvolvimento agrícola sustentável, para a diminuição das
injustiças, das desigualdades sociais, e para a garantia da produção de alimentos do
País (FETRAF, 2011). É aqui que devem- se fazer presente a ciência e tecnologia, no
sentido do aluno, saber utilizar destes avanços tecnológicos em prol da produção de
alimentos saudáveis isentos de resíduos químicos que contaminam, intoxicam as
pessoas, além de trazerem transtornos significativos para a natureza.
Admite-se, porém, que a utilização da Adubação Orgânica, mediante o
emprego da compostagem doméstica desempenha importante papel no suprimento
de demanda de novos produtos orgânicos, estando presente nas inovadoras áreas de
estudo sobre a biotecnologia, indústria de alimentos, cosméticos e medicamentos. Isto
faz com que a ciência da fertilização orgânica seja considerada como ciência chave
para as grandes preocupações ambientais, das quais depende o futuro da
humanidade, as quais se relacionam à energia, aos recursos naturais, à poluição, à
saúde ou mesmo à população.
Os métodos orgânicos de produção, ao equilibrar o meio ambiente e trabalhar de modo harmônico e convergente em relação ao tempo, ritmo, ciclos e limites da natureza, tende a reduzir substancialmente seus custos, podendo até mesmo competir com o agroquímico em termos de produtividade e resultados econômicos (THEODORO, 1999).
O uso da Adubação Orgânica através do emprego da compostagem
doméstica implica em relacionar os conteúdos da ciência no contexto autêntico da sua
base tecnológica e social. Dessa forma, os alunos estarão preparados e capacitados
para tomar decisões reconhecendo a importância de atuar como cidadão crítico e
responsável na produção de alimentos orgânicos de origem animal e vegetal para
toda a sociedade e percebendo-se capazes de provocar mudanças que visem à
melhoria da qualidade de vida de toda a sociedade e não para um grupo seletivo e
restrito.
Ainda nesse contexto, a compreensão pelos alunos, dos conceitos da
fertilização orgânica, mediante o uso da compostagem doméstica, leva-os ao
interesse por outras disciplinas, quando aplicada à interdisciplinaridade por todos os
docentes, facilitando o aprendizado de modo a estarem aptos a participarem de
debates sociais, quer sejam na família e na escola, explicando as problemáticas
ambientais decorrentes do uso da adubação química a qual é tão dependente dos
agrotóxicos.
Assim, torna-se possível estabelecer conexões entre os conceitos de adubação
orgânica, e compostagem doméstica das outras áreas do conhecimento, englobando
saberes, que até então, foram repassados de forma isolada, em uma sequência de
conteúdos determinada pela ementa curricular. O ensino da adubação orgânica no
enfoque da compostagem doméstica adquire um caráter interdisciplinar, sendo que,
a construção cognitiva do novo ocorre por meio de mudanças significativas entre o
modelo educacional tradicional/conservador e aquele esperado e inovador que deve
ser implementado em todas as escolas visando atender as necessidades dos alunos
e de toda sociedade.
Dessa forma, os jovens e seus familiares no decorrer dos estudos, poderão
manter o convívio e a produção agrícola regular (mais renda para a família). Assim
sendo o jovem poderá contextualizar os conhecimentos recebidos na escola, com o
conhecimento acumulado por seus pais. O jovem ao desenvolver o seu projeto
profissional, contribuirá com o desenvolvimento econômico, social e sustentável da
comunidade (FONSECA, 2008).
Em nível de prática pedagógica, isso significa romper com a concepção
tradicional que predomina na escolada única certeza do produzir convencional, onde
para isto investe-se nos adubos químicos e agrotóxicos. Para isto acontecer é preciso
promover uma nova forma de entender a produção do saber. É preciso desmistificar
o espírito imposto da impossibilidade da produção orgânica em quantidade e
qualidade dos alimentos produzidos. Portanto, ciência e tecnologia devem encarar a
responsabilidade e trazer à tona o resgate de que alimentos orgânicos, tanto de
origem vegetal quanto animal possui boas características de produtividade, sanidade,
valores nutritivos e estéticos. Isso supera aquele ensino da mera repetição, de cunho
essencialmente baseado na produção de que somente é viável produzir alimentos
mediante o uso de agroquímicos. Com isto, os alunos recebem subsídios para
questionar, desenvolver a imaginação e a fantasia, abandonando o estado de
subserviência diante daquele professor que apresenta conhecimentos conservadores
e meramente utópicos. (PINHEIRO; SILVEIRA; BAZZO, 2007).
No entanto, para relacionar as questões entre ciência, tecnologia e sociedade
no que tange ao uso da fertilização orgânica, na produção de alimentos orgânicos,
evidencia-se a necessidade de uma renovação crítica tanto nos conteúdos como do
encaminhamento metodológico. Isso torna um desafio que o professor precisa
assumir, pois para estimular à atitude crítica, participativa e reflexiva dos alunos não
se pode reproduzir em aula a postura tecnocrática e de autoridade que rege a atual
conjuntura social.
Nessa perspectiva, Pinheiro, Silveira e Bazzo (2007), afirmam que o trabalho
em sala de aula, ou nas aulas práticas de campo passa a ter outra conotação. A
pedagogia não é mais um instrumento de controle do professor sobre o aluno, ou seja;
“faça isto e pronto”. Agora, professores e alunos passam a descobrir, a pesquisar
juntos, a construir e/ou produzir o conhecimento científico da viabilidade da produção
orgânica de alimentos, deixando de lado aquilo que até então era considerado
sagrado e inviolável. Dessa forma, aluno e professor reconstroem a estrutura do
conhecimento acerca do emprego da adubação orgânica, fazendo uso da
compostagem doméstica, na obtenção de alimentos sadios, de qualidade, mais
nutritivos sem necessitar para isto dos adubos químicos e agrotóxicos.
É por meio da educação escolar que se estabelece os primeiros contatos com
o conhecimento científico do emprego da Adubação Orgânica. Discutir e analisar
formas de reaproveitar os resíduos produzidos em casa ou na escola a fim de diminuir
o acúmulo de resíduos vegetais e animais e gerar menor impacto ambiental é possível
de demonstrar, assumindo atitudes simples, porém sustentáveis para com o meio em
que vivemos.
A idealização de propostas viáveis para o reaproveitamento dos resíduos de
origem animal e vegetal incorporam o trabalho de pesquisa do projeto de
implementação pedagógica no CEEP. Lysímaco Ferreira da Costa, outrora
denominado de Colégio Agrícola, buscando perspectivas científicas e tecnológicas
que aliadas a uma nova mentalidade entre professores, servidores públicos e alunos,
estima produzir posturas diferentes em relação ao aproveitamento deste “lixo”
mediante o uso da compostagem doméstica, fazendo uso deste “adubo caseiro” para
nutrir os vegetais produzidos no setor de horticultura que irão abastecer o refeitório da
escola. O processo educativo da compostagem doméstica, em casa ou na escola
extrapola o mero repasse de conteúdos ou informações, possibilitando modificações,
a princípio na maneira de pensar, mediante um trabalho processual, em que toda a
comunidade escolar possa ir além da ação, incorporando formas mais responsáveis
de se relacionar com o meio ambiente onde vivem.
A adubação química ou convencional e o uso abusivo dos agrotóxicos estão
relacionados com as transformações ambientais, uma vez que muitos destes
problemas que afligem o planeta e a saúde dos consumidores são pertinentes à
produção vegetal e animal dependente destes agroquímicos. Contudo, considera - se
que o estudo da adubação química e emprego dos agrotóxicos sejam abordados para
os alunos, assim, estes conhecem a produção convencional e seus transtornos,
podendo traçar parâmetros entre aqueles alimentos muitas vezes com níveis de
agrotóxicos assim do que recomenda a ANVISA, com aqueles produzidos
organicamente de forma sustentável. Assim, mediante o conhecimento destas duas
modalidades de produção, quer seja, com uso dos agroquímicos ou com fertilizantes
naturais, o aluno terá condições de incorporar conceitos com significado para seu
aprendizado.
Segundo Mazzeu (2007, p.23) o estado de Santa Catarina está despontando,
pelas suas características fundiárias, sociais e culturais, como o estado em que a
agricultura orgânica sustentável e agroecológica possuem condições para atingir um
grande número de agricultores, sobretudo, aqueles oriundas da pequena agricultura
familiar, que perfaz praticamente 90% do total de agricultores.
Investir na produção orgânica significa acompanhar o que a sociedade está
demandando, não só do mercado, mas também das instituições públicas. A agricultura
orgânica e sustentável, além de diminuir a contaminação ambiental, traz mais saúde,
tanto para os produtores rurais, como também para os consumidores. Em geral reduz
os custos de produção, utiliza mais os recursos existentes na propriedade e torna o
produtor menos dependente de insumos externos. Na área social, ajuda a manter o
homem no campo, pois a tendência é utilizar mais o trabalho, e com isso agrega mais
a família, valoriza o trabalho e traz dignidade ao ser humano. Além disto, vale
ressaltar, que o desenvolvimento da produção agrícola orgânica em Santa Catarina e
no Brasil deve-se, em muito, ao pioneirismo de grupos e associações de agricultores
como a Coolméia, Abio, AAO, Apaco, Cepagri, Biorga, Acevam, Agreco, etc. Mais
recentemente, com a criação da Rede Ecovida, que congrega dezenas de
associações agroecológicas no Sul do Brasil, a produção orgânica ganhou novo vigor
(DEMARCO, 2007).
Para Ireland (2007), a agricultura orgânica é uma das propostas do atual
programa do governo estadual catarinense (Plano 15), e é estratégica para o Projeto
de Microbacias II, pois, por não depender de recursos externos, é a alternativa mais
viável para os agricultores mais descapitalizados; público preferencial deste programa
coordenado pela Epagri. Por estes e outros motivos, a demanda por esta alternativa
começa a se destacar na maioria dos planos de desenvolvimento das microbacias
elaborados até o momento. São 105 mil famílias a serem assistidas e prevê-se a
criação de 936 associações, sendo 10 grupos indígenas. Ainda a destacar, é a
merenda escolar orgânica, importante ação socioeconômica e cultural, também
fazendo parte deste programa, sendo atualmente atendidas 56 mil crianças em mais
de 100 escolas básicas estaduais. Este programa tem seu enfoque na produção de
arroz, hortaliças, fruticultura de clima temperado, bovinocultura e manejo dos solos.
Cabe enaltecer que este programa da Epagri já treinou e qualificou mais de 2000
agricultores, e também capacitaram 350 técnicos. Portanto, a produção orgânica, por
sua própria natureza, é integradora. Ela ajuda a congregar extensão, pesquisa, ensino
e agricultor. E é cada vez maior a articulação dos vários segmentos representativos
da sociedade, como sindicatos, ONGs, prefeituras, universidades, extensão rural,
cooperativas e pesquisa agropecuária.
Portanto, confere-se à escola, em específico na sala de aula ou naquelas aulas
práticas, levar o aprimoramento da consciência ambiental e ética, de valores e
atitudes, de técnicas e de comportamento que estejam em consonância com o
desenvolvimento sustentável, favorecendo a efetiva tomada de decisão. Porém,
inquietações, sobre a interferência da adubação química e uso de agrotóxicos, na
conservação do planeta e saúde, se fazem presentes na sala de aula e nas práticas
de campo, o que requer do professor capacidade para abordar os temas relacionando-
os com o conteúdo disciplinar por meio de metodologias que promovam discussões e
análises para que no conjunto, sejam propostas ações locais que demonstrem a
responsabilidade de cada cidadão na manutenção do meio ambiente.
ENCAMINHAMENTO METODOLÓGICO
O projeto foi organizado em dois momentos de interação. O primeiro constitui-
se da implementação do projeto propriamente dito no ambiente escolar, com a
participação dos alunos e da equipe pedagógica. Esta etapa foi estruturada como um
curso: “Adubação Orgânica – reaproveitamento de resíduos animais e vegetais
mediante o uso da compostagem”. O segundo momento refere-se à participação dos
professores da rede estadual de ensino, com a integração do professor PDE,
analisando e contribuindo para a construção do conhecimento, ou das práticas
metodológicas, a partir do Grupo de Trabalho em Rede – GTR/via portal Moodle da
SEED.
A apresentação do estudo para os professores, funcionários, equipe
pedagógica e direção ocorreu na Semana Pedagógica de fevereiro de 2014. Nesta
oportunidade foi apresentada e disponibilizada cópia do projeto de intervenção e da
produção didático/pedagógica.
Após serem apresentados ao referido estudo, os alunos voluntariamente se
inscreveram no curso. Na conclusão das atividades do projeto de implementação, os
participantes receberam um certificado, contabilizando a carga horária e registro das
ações realizadas.
Na execução do projeto contou-se com o apoio da Coordenação do Curso de
Técnico em Agropecuária do CEEP Lysímaco Ferreira da Costa, com a colaboração
do Assistente Técnico do Setor de Horticultura, e do acompanhamento, orientação e
supervisão da Equipe Pedagógica e da Direção Escolar.
A preocupação com o descarte dos resíduos orgânicos de origem animal e
vegetal vem sendo foco de discussões em diversos setores da sociedade, e no CEEP
Lysímaco Ferreira da Costa não é diferente. O aumento da produção destes resíduos
fez aumentar também, a “pressão” da SEED na escola, principalmente devido a
existência do curso em Meio Ambiente, além, é claro do Técnico em Agropecuária, no
sentido de reduzir o volume e a quantidade desses materiais visando conservar as
fontes naturais aqui existentes. Neste contexto, encontrar formas de aproveitar estes
resíduos se torna fundamental em se tratando do termo sustentabilidade na escola,
sendo assim, um dos propósitos é a realização deste curso de “Adubação Orgânica
– reaproveitamento de resíduos animais e vegetais mediante o uso da compostagem”.
Para essa proposta, analisou-se a eficácia da aplicação compostagem
doméstica na correção dos solos no que tange às suas propriedades físicas, químicas
e biológicas, bem como, num “adubo caseiro” possível de substituir os fertilizantes
químicos e agrotóxicos, na produção de alimentos orgânicos, a serem consumidos
pelos alunos em sua casa ou na escola.
Para o desenvolvimento e aplicação da estratégia metodológica, contou-se com
a participação dos alunos pertencentes ao CEEP Lysímaco Ferreira da Costa, situado
no Município de Rio Negro – Pr., orientado pelo Núcleo Regional de Educação
Profissional da Área Metropolitana Sul. A presente instituição oferece cursos técnicos
de formação profissional às comunidades provenientes das cidades regionais de Rio
Negro e do Estado de Santa Catarina.
O CEEP Lysímaco Ferreira da Costa, mais conhecido por Colégio Agrícola de
Rio Negro, selecionado para o desenvolvimento da estratégia de ensino em questão,
oferta o curso Técnico em Agropecuária na modalidade integrada, para alunos
concluintes do Ensino Fundamental e o curso Técnico em Meio Ambiente na
modalidade subsequente para alunos que já concluíram o nível médio e buscam
formação profissional. De acordo com o Projeto Político Pedagógico da escola, a
maioria dos alunos é proveniente de localidades rurais, filhos de pequenos
agricultores e pecuaristas, com renda familiar de classe média a baixa.
ADUBAÇÃO ORGÂNICA – Reaproveitamento de Resíduos de Origem Animal e
Vegetal mediante o uso da Compostagem
As atividades da presente estratégia metodológica foram realizadas com um
grupo de 12 alunos da terceira série, turmas A e B, do Ensino Médio do curso Técnico
em Agropecuária na modalidade integrada. Estes foram divididos em dois grupos (A
e B), os quais tiveram a iniciativa de participação e elaboração do trabalho.
As atividades relacionadas à estratégia metodológica foram desenvolvidas com
uma duração aproximada de três meses, apresentados nos 8 tópicos que seguem.
1 – Discussão inicial sobre o tema para sondagem dos conhecimentos
prévios dos alunos
Para se obter uma condição favorável ao aprendizado, é preciso se estabelecer
um diálogo real, caracterizando os conhecimentos prévios dos alunos e dos cursistas
do GTR, bem como suas ansiedades em relação ao tema a ser estudado como sugere
Demarco (2007). Com isso é possível estipular o ponto de partida do conhecimento
ao qual estão aptos a entender e compreender a produção vegetal orgânica mediante
o uso da compostagem doméstica.
Foi aplicado um questionário (Apêndice A) para doze alunos das terceiras
séries participantes do curso “Adubação Orgânica – reaproveitamento de resíduos
animais e vegetais mediante o uso da compostagem”, selecionados aleatoriamente
de duas salas diferentes, buscando avaliar o nível de percepção ambiental em relação
ao descarte e aproveitamento dos resíduos orgânicos. Com o questionário, contendo
nove questões objetivas, buscou-se conhecer a maneira com que os resíduos
orgânicos são descartados na residência dos alunos além de perceber o nível de
percepção ambiental apresentado por eles.
Com a aplicação do questionário foi possível identificar nas três últimas
questões quais os principais resíduos sólidos produzidos nas residências dos alunos,
como eles são acondicionados e se há ou não a separação para a coleta seletiva.
Em relação ao tipo de resíduos sólidos gerados, os mais citados foram os
resíduos orgânicos (restos de alimento, ramos e folhas de quintais, além de alguns
estercos) e secos (oriundo de higiene pessoal, embalagens de alimento, vidro,
alumínio e papelão).
O acondicionamento, em quase a totalidade das respostas, mostrou ser feito
em sacos de lixo (“sacolinhas”) e de adubos, sendo estes recolhidos pelo serviço de
coleta de lixo da cidade. Porém, 10% dos alunos responderam que os resíduos
gerados em sua residência são queimados, fato este preocupante, visto que a queima
do lixo causa vários problemas ambientais.
Percebeu-se também que apesar de na maioria das cidades dos participantes
não ser realizada a coleta seletiva 87% dos alunos entrevistados responderam que
em sua residência os resíduos orgânicos são separados do restante dos outros
resíduos.
Com a realização do questionário foi possível avaliar o nível de satisfação,
obtido através das respostas de cada um dos alunos entrevistados, constatando quais
os principais temas que devem ser trabalhados durante o desenvolvimento do projeto
de implementação pedagógico na escola.
As questões 2 e 5 tratam da definição de resíduos orgânicos e os problemas
causados pela sua destinação incorreta, nestas 56,3% dos alunos não conseguiram
relacionar o termo orgânico aos restos de alimentos, frutas, legumes e verduras e os
estercos que são descartados em sua residência. O principal problema é a falta de
conhecimento em relação aos danos ambientais gerados por estes resíduos, sendo
que apenas 28,1% dos entrevistados souberam mencionar alguns desses danos,
citando principalmente o mau cheiro e a transmissão de doenças.
Na questão 1, que trata sobre o melhor destino do resíduo produzido, em 97%
das respostas foram citados alguns destes destinos, como lixão, aterro sanitário e
compostagem. O fato mais preocupante é que alguns alunos mencionaram que a
queima dos resíduos seria a melhor forma de destinação final. Em relação à
compostagem (questão 4) a grande maioria dos alunos não dispõe do conhecimento
sobre esta técnica, porém, uma porcentagem maior de alunos (75%, questão 3)
citaram que os resíduos orgânicos podem ser aproveitados como adubo para as
plantas, mostrando que apenas o processo não é conhecido.
Posteriormente eles foram avisados de que seriam capacitados num curso de
“Adubação Orgânica – reaproveitamento de resíduos animais e vegetais mediante
uso da compostagem”, onde seria informado a eles o que seria a compostagem, qual
o produto final, suas etapas, a importância de sua realização, e o seu benefício para
o meio ambiente como medida de amenizar os impactos ocorridos pela geração dos
resíduos orgânicos e inorgânicos.
Em seguida deu-se a abertura do curso de compostagem doméstica, onde os
alunos teceram comentários inerentes a esta modalidade de fertilização que beneficia
nós os consumidores que almejamos alimentos nutritivos, isentos dos adubos
químicos e agrotóxicos, e o legado maior no que tange a sensibilização às causas
ambientais. De um modo geral os alunos relataram que sabiam que a compostagem
doméstica é utilizada como forma de reaproveitar os resíduos orgânicos tanto de
origem animal quanto vegetal na produção de um “adubo caseiro”. Porém, afirmaram
desconhecer os procedimentos técnicos a serem realizados na obtenção de um
composto de qualidade, que viesse a adubar os solos, nutrindo as plantas, no sentido
de se obter alimentos saudáveis, isentos da fertilização química e emprego dos
agrotóxicos. O aluno 03 comentou “muitas vezes a gente separa os restos de cozinha,
e minha avó enterra num buraco, onde depois nós plantamos verduras”. A fala do
aluno possibilitou retomar conceitos sobre: emprego das adubações químicas e
orgânicas, as vantagens e desvantagens de cada uma destas modalidades de
fertilização. Ainda, demonstrar que o processo de ensino por meio da aprendizagem
dos conhecimentos dos fatos reais, explicados e analisados cientificamente podem
contribuir na aquisição dos conceitos químicos (salinidade, acidificação, volatilidade,
higroscopicidade e solubilidade) na formação técnica dos alunos com perspectivas à
alfabetização científica e tecnológica.
Na sequência, propôs-se aos alunos que relacionassem suas principais
dúvidas, curiosidades e objetivos em relação ao emprego da compostagem
doméstica. As indagações do aluno 07 sintetizam as dos demais alunos, “quero saber
qual é a composição química do composto pra ver se dá pra usar no processo de
adubação do solo, se ele alimenta as plantas, também como preparar a compostagem
pra que isso seja feito e ver se isso dará o resultado esperado”. Discutiram-se também
sobre os impactos ambientais dos resíduos orgânicos de origem animal e vegetal,
geradores nas transformações globais, que motivam debates científicos – sociais
relacionados e difundidos no cotidiano da população em geral e nas comunidades
agrícolas do que fazer com estes resíduos. Neste sentido exemplifica a fala da aluna
06 “se der certo fazer o tratamento do solo com o composto vamos contribuir para
diminuir a quantidade de resíduos produzidos na escola e até mostrar que muito lixo
produzido em casa e no mundo pode ser reaproveitado diminuindo a poluição”.
Esta etapa possibilitou aos alunos exporem seus conhecimentos e indagações
sobre o tema de estudo compostagem doméstica, socializando-os com os demais
colegas de forma a organizar os próximos passos da atividade.
2 – Pesquisa teórica sobre o tema
Para o estabelecimento da pesquisa teórica, os alunos buscaram em fontes de
informações mais acessíveis, tais como livros, revistas e jornais, informações
solicitadas sobre: conhecimentos das espécies vegetais no tocante às suas
exigências nutricionais; quando do emprego da adubação química e a dependência
pelos agrotóxicos e, aquelas pertinentes ao tema tecnologia da compostagem
doméstica. Estas informações devem ser relacionadas ao tema proposto, “Adubação
Orgânica – reaproveitamento de resíduos animais e vegetais mediante uso da
compostagem”.
Nesta etapa, as considerações sobre o bom uso das tecnologias ofertadas pela
sociedade do consumo, foram determinantes nas reflexões acerca das implicações
ideológicas que permeiam o uso das fertilizações químicas, orgânica, e emprego dos
agrotóxicos na produção agrícola como descreve o aluno 03 “se analisarmos a
quantidade de resíduos que produzimos podemos perceber que consumimos muito
mais que precisamos e de que muitas vezes podemos reutilizar o que temos em casa
ao invés de comprar adubo químico e veneno, por exemplo, se o composto pode ser
utilizado no preparo do solo para nutrir as plantas então à escola pode diminuir a
compra de adubos químicos e venenos economizando com isso”. Também, a aluna
02 comentou, “eu sei que a gente usa muito adubo químico e veneno, mas que não
precisava disso tudo pra produzir nossas verduras pra vender ou consumir em casa”.
Nesse sentido, pode-se perceber que os alunos refletiam sobre a importância
de analisar a necessidade ou não da fertilização química e orgânica e, uso dos
agrotóxicos antes de consumir alimentos, bem como buscando alternativas para
diminuir o descarte dos resíduos de origem animal e vegetal.
Após o estudo bibliográfico, os alunos realizaram discussões e anotações dos
aspectos que identificaram necessários para a elaboração das demais etapas do
trabalho, considerando principalmente, os conceitos químicos, físicos e biológicos da
importância da compostagem doméstica para os solos, plantas cultivadas e
consumidores. Neste sentido o aluno 01 cita, “eu não sabia como é bom reaproveitar
o lixo”, outro comentário é o da aluna 02, “então é por isto que nossa terra tá tão fraca
nem tem minhoca como antes”.
3 – Separação dos resíduos orgânicos e inorgânicos
Por meio da pesquisa bibliográfica os alunos verificaram que a compostagem
doméstica pode ser utilizada para alterar o pH (potencial hidrogeniônico) de solos
considerados ácidos; que retém água para as plantas; serve para unir as partículas
dos solos evitando erosões; que favorece a biologia benéfica para os solos e que
contém macro e micronutrientes importantíssimos para nutrir e deixar as plantas mais
saudáveis, nutritivas e resistentes contra as pragas e doenças.
Em se tratando de um curso profissionalizante em Técnico em Agropecuária,
uma das atividades práticas são a manutenção e a limpeza dos setores (Horticultura,
Paisagismo, Fruticultura, Silvicultura, Agricultura, Mecanização e Pecuária) cuja
produção é utilizada na alimentação dos animais (bovinos, suínos, caprinos e aves) e
para os próprios alunos na escola (refeitório).
Durante algumas semanas os alunos coletaram e separaram todos os resíduos
gerados na escola. Quer sejam aqueles provenientes da cozinha, secretaria, salas de
aula, alojamentos, cantina e nos diversos setores de produção da escola (atividades
da agricultura e pecuária), modificando em parte, a rotina desses setores e da postura
dos professores, alunos e funcionários da escola em relação ao rejeite desses
materiais.
Ainda com base nos dados obtidos pela pesquisa bibliográfica e com o auxílio
das informações dos professores das disciplinas de Solos, Biologia, Química,
Agricultura e Pecuária, os alunos analisaram que para se obter uma compostagem de
qualidade é necessário preparar previamente o material. Sendo assim, realizaram a
separação em recicláveis inorgânicos (latas, vidros, plásticos, papéis e papelões)
destinados à doação ou comercialização e, aqueles denominados recicláveis
orgânicos (apara de grama, estercos, folhas e restos de cozinha) estes submetidos a
um local destinado à compostagem doméstica. Cabe ressaltar aqui, que as gorduras
e óleo de cozinha foram envazados em descartáveis para futura utilização nas aulas
práticas de Agroindústria na fabricação de sabão e biodiesel, utilizados na
higienização e movimentação dos tratores da escola.
Toda comunidade escolar demonstrou entusiasmo nessa etapa, como relatam
o professor 01 “agora as lixeiras das salas não ficam cheias de papéis”, outro
comentário é da aluna 04 “eu não sabia que a gente produzia tanto lixo assim, com o
projeto aprendi que é bom reciclar, pois podemos fazer muitas coisas como o lixo”.
Outra citação é o da funcionária da cozinha “separamos tudo para compostagem,
cascas de frutas e verduras, pó de café e outros resíduos para não dar mau cheiro,
separamos também às gorduras, não acumulando o lixo na cozinha”. A funcionária da
limpeza comentou: “antes eu juntava tudo e queimava, agora faço a separação”.
Outros alunos demonstraram sensibilização quanto ao lixo produzido, como relatam o
aluno 05 “é muito legal mobilizar toda a escola para esse trabalho”, e a aluna 11 “estou
gostando muito de realizar esse estudo, estou aprendendo muitas coisas
interessantes que posso depois mostrar para os outros”. Todas estas falas evidenciam
que o enfoque da compostagem doméstica atribui maior significado para o aluno,
podendo promover a aprendizagem dos conceitos de reciclagem, separação, e
aproveitamento dos resíduos orgânicos, contribuindo para a consciência sustentável.
Quanto aos demais, envolvidos no projeto, ficou expresso que o objetivo principal não
é somente reciclar e transformar todo o lixo gerado na escola, mas sim, que deve
haver uma conscientização para que toda a comunidade escolar possa fazer o mesmo
processo em casa e que o lixo é responsabilidade de todos.
4 – Coleta e separação dos resíduos orgânicos
Os próprios alunos se encarregaram de coletar os resíduos orgânicos de
origem animal e vegetal para serem submetidos à tecnologia da compostagem
doméstica. A separação do material foi realizada da seguinte forma: num local
previamente determinado, ou seja, próximo ao Setor de Horticultura, formou-se dois
“montes” - um de resíduos vegetais e outro dos resíduos animais (ambos cobertos
com lona plástica para evitar proliferação de moscas e fonte de alimento para aves,
cães e ratos). Em cada um dos montes foi colocada uma placa indicativa, conferindo-
se: “Projeto PDE – Resíduos Vegetais” e “Projeto PDE – Resíduos Animais”. Desta
forma, os resíduos ficaram separados e facilitou a montagem da compostagem nas
diferentes camadas que a compõe.
Nesta etapa da atividade muitos conceitos foram surgindo, por meio de dúvidas
e curiosidades dos alunos, afinal estavam ali por necessidade de compreensão das
transformações e dos processos envolvidos na tecnologia da compostagem
doméstica. Exemplificando a afirmação, nos seguintes questionamentos: do aluno 12
“porque a escolha deste local?”, da aluna 09 “porque devemos fazer a separação e
cobertura dos resíduos?”, ainda o aluno 05 “o chorume proveniente dos resíduos
poderia contaminar o lençol freático?”.
A mediação do professor foi determinante para que os alunos estabelecessem
significados entre as informações teóricas conferidas no momento em que o curso de
“Adubação Orgânica – reaproveitamento de resíduos animais e vegetais mediante
uso da compostagem” estava sendo ministrado em sala de aula e, naquele momento
em que a prática do curso estava se fazendo presente em nível de campo. Coube aqui
a explicação de impactos ambientais (no solo, águas e atmosfera) e as possíveis
zoonoses decorrentes do uso inapropriado dos estercos (salmonelose, leptospirose e
alergias). Dessa forma, compreende-se que os conceitos químicos, físicos e
biológicos estão inter-relacionados, possibilitando ao aluno compreendê-los melhor,
percebendo que estes são constituídos e criados pelo pensamento humano, numa
construção histórica e cultural configurando assim, um saber possível de ser
aprendido (CHASSOT, 2004; 2010).
5 – Preparação das camadas na compostagem e composto pronto
Neste momento prático do curso “Adubação Orgânica – reaproveitamento de
resíduos animais e vegetais mediante uso da compostagem”, os alunos começaram
a atuar no seu grupo (A ou B). Cada grupo realizou a confecção de uma composteira,
onde indicava “Projeto PDE – Grupo A – Composteira Doméstica”, procedimento este
também adotado pelo grupo B. Em seguida ambos os grupos realizaram a
metodologia da compostagem, da seguinte maneira:
- Verificaram se o local reservado atende as especificidades requeridas para a
confecção da compostagem: proximidade a um ponto de água; com espaço suficiente
para reviramento da pilha; com terreno de boa drenagem e baixa declividade.
- Certificaram-se de que tem disponível na escola ou em casa materiais básicos para
realizar a atividade: pá, carrinho de mão, mangueira d’água, ancinho, enxada, fita
métrica e quando necessária carreta acoplada à micro trator, pulverizador costal e
lona plástica.
- Construção da pilha: a primeira camada foi feita com material fibroso numa altura
numa altura de 30 cm, em seguida colocaram uma camada de esterco bovino “cru”
com 10 cm de altura em toda extensão da camada; em seguida adicionaram a esta
camada os seguintes aditivos: calcário dolomítico e cinza (2 cm de altura
sucessivamente). Repetiram a sequência de camadas até atingir a altura desejada de
1,60 metros, sendo que em cada camada preparada pulverizaram com um produto
contendo 2 litros de urina de bovinos adicionados a 18 litros de água.
- Posteriormente os alunos cobriram esta pilha (frente, fundo, laterais e superiores)
com palhada de capim seco (sem sementes).
- Nos dias sujeitos a chuvas, utilizaram para cobrir a compostagem uma lona plástica
de 180 micras de espessura para proteger das chuvas, que poderia interferir na
decomposição dos resíduos.
- Verificavam duas vezes por semana se a pilha estava muito quente ou fria, utilizando
para isto um vergalhão (barra de ferro) até o centro do composto.
- Realizavam uma vez por semana a irrigação na pilha, tomando os devidos cuidados
para não encharcar. E, quinzenalmente faziam a pulverização do preparado com urina
e água em toda extensão da pilha.
- Aos trinta dias fizeram o revolvimento da pilha objetivando o controle da temperatura
e acelerar o processo de decomposição dos resíduos.
- Constataram que aos sessenta dias este “adubo caseiro” estava pronto para ser
utilizado nos canteiros onde seriam semeados rabanete e salsa.
Ao término desta atividade, realizada coletivamente no grupo (A ou B) e na
forma individualizada (na propriedade rural, ou em casa), com o registro imagético e
o relatório do grupo na escola e na propriedade do aluno, realizou-se um debate
(plenária) em sala de aula para que dúvidas fossem sanadas no que tange à
tecnologia da construção da composteira doméstica e composto obtido, quer sejam
na forma coletiva ou individualizada. Imagens do processo realizado na escola podem
ser vistos no Apêndice B. Nesta etapa do curso de “Adubação Orgânica –
reaproveitamento de resíduos animais e vegetais mediante uso da compostagem”,
surgiram questionamentos (Quadro 1), as quais foram sanadas por alunos ou pelo
professor.
Aluno (a) Questionamento (s) Resposta
01 “Quais materiais são considerados resíduos orgânicos?”. 04 e 11
02 “Quais são os materiais que não devem ser misturados na compostagem?”.
06 e 08
03 “Como deve ser separado e armazenado os resíduos para compostagem?”.
07 e 09
04 “Qual o melhor local para preparar a compostagem?”. 01 e Prof.
05 “Qual o tamanho e formato da leira?”. 11
08 “Como construo a pilha?”. 03–10 e 12
10 “Se existe um meio para acelerar a compostagem e, quando está pronto o composto?”.
02 e 05
11 “Quais as vantagens do uso do composto?”. 07 e 12
12 “Como o composto melhora a fertilidade do solo?”. 08 e 10
Quadro1 – Exemplos de questionamentos sanados no curso compostagem doméstica.
6 – Emprego do composto e análise dos resultados
Após o intervalo de sessenta dias entre a confecção da composteira doméstica
e estar pronto o composto para o uso, os alunos nos seus respectivos grupos (A e B)
iniciaram a confecção de dois canteiros por grupo, onde seriam semeados salsa e
rabanete.
Inicialmente os grupos fizeram placas indicativas: “Projeto PDE – Grupo A:
Produção de Salsa Orgânica” e “Projeto PDE – Grupo A: Produção de Rabanete
Orgânico”. Também o grupo (B) seguiu esta metodologia na identificação dos seus
canteiros.
Para ambos os grupos as medidas dos canteiros construídos para semear
salsa e rabanete foram 3m de comprimento, 1,20m de largura e altura de 20 cm.
A aluna 02 questionou “porque adotar estas medidas para os canteiros onde
iremos colocar o composto e fazer semeadura do rabanete e salsa?”, explicações
foram dadas no sentido que se trata de uma experimentação agrícola, não
necessitando de uma área maior.
Posteriormente, os alunos realizaram a fertilização dos canteiros com o
composto obtido. Foi solicitado que incorporassem nos canteiros 3 kg/m2 deste adubo
caseiro e, que procedessem a semeadura do rabanete e salsa em sulcos com
profundidade de 1,0 cm no sentido transversal do comprimento dos canteiros.
Concluída esta atividade os alunos depositaram uma camada de serragem em torno
de 0,5 cm de altura, em toda a extensão dos canteiros. Quando questionado o porquê
disto o aluno 12 comentou: “para manter a umidade, melhorar a germinação e não
fazer crescer o mato nos canteiros”. Feito isto, os canteiros foram irrigados com
regadores de crivo fino (perfurações finas situadas em toda extensão do “bico” do
regador). A aluna 09 perguntou: “por que usar este tipo de crivo?”. Prontamente o
aluno 01 respondeu: “para não estragar os canteiros, desenterrar as sementes e
também para não espalhar a serragem”. Em seguida cada grupo (A e B) fixou próximo
aos seus canteiros placa indicativa, exemplo, “Projeto PDE – Grupo A: Composto em
olerícolas”.
Passados nove dias os alunos constataram que tanto a salsa quanto o rabanete
haviam emergido e formado plântulas (plantas novas). Porém, o aluno 11 questionou:
“nos nossos canteiros, tanto de salsa quanto de rabanete tem falhas de plantas em
algumas linhas, que será que aconteceu?”. Neste momento a aluna 02 respondeu da
seguinte maneira: “vocês devem ter colocado as sementes muito fundas ou não
molharam os canteiros, porque as nossas plantas estão bonitas”.
Com o passar dos dias os alunos verificavam que as plantas dos seus canteiros
tinham um desenvolvimento melhor quando comparadas àquelas situadas noutros
canteiros no setor de Horticultura. A este respeito o aluno 08 perguntou: “professor,
por que as nossas plantas estão bonitas e ali não?”. Solicitei que a aluna 06
colaborasse no sentido de esclarecer esta dúvida, assim ela argumentou: “os
canteiros estão mal feitos, eles não fizeram a semeadura alinhada, tem muitas plantas
juntas porque não realizaram o desbaste e quando estavam preparando os canteiros
vi que tavam usando muito adubo químico o que deve ter queimado muitas plantas”.
Neste momento, outros questionamentos vieram à tona, tais como do aluno 05: “como
assim desbaste?” e o aluno 07: “não entendi este queimar?”. A aluna 04 assim
respondeu: “o desbaste é aquilo que nós fizemos quando as plantas ainda estavam
novinhas; lembra que o professor disse pra deixarmos uma planta a cada 5 cm para
que elas tivessem espaço para crescerem melhor, e ali não está tendo”. Ainda neste
sentido o aluno 03 relatou: “lembra naquele dia que o professor falou que não podia
colocar muito adubo químico para as plantas porque podiam matar elas”. A respeito
disto a aluna 11 comentou: “nossas plantas estão bonitas porque nós cuidamos delas
fazendo tudo certo, nós fizemos os canteiros nas medidas certas, semeamos bem,
molhamos as plantas e tiramos os matinhos que não iriam deixar as nossas plantas
crescerem”. Ainda sobre isto o aluno 01 relatou: “eu concordo com tudo isto, mas nós
demos ainda para nossas plantas um adubo caseiro que é o composto que tem todos
os nutrientes que as plantas precisam para crescerem fortes e sadias”. Outro
questionamento surgiu, onde o aluno 05 perguntou: “professor, por que nós tivemos
que limpar nossos canteiros sem usar mata mato (herbicidas), sendo que já vi usarem
na nossa horta venenos?”. Comentei que iria responder sobre isto no momento em
que estivéssemos em sala de aula, por ser um assunto muito importante e de mandar
um tempo maior. Isto aconteceu no novo encontro do curso, onde, citei, relatei, e
expliquei alguns itens que já havíamos comentado em encontros anteriores tais como:
agrotóxicos (venenos) no que se refere à contaminação dos alimentos, solos e cursos
de água; as vias de intoxicação (oral, dérmica e respiratória); o uso e quais E.P.I.’s
(equipamentos de proteção individual); além de resgatar a importância de produzir
alimentos saudáveis e nutritivos sem necessitar para isto do emprego de fertilizantes
químicos e agrotóxicos.
Com o início dos períodos de colheita da folhosa e condimentar salsa (parte
comestível da planta e finalidade na culinária) e do rabanete, os alunos levantaram
alguns comentários que se seguem: aluno 03 “as folhas e os maços de nossa salsa
estão mais bonitos que outros produzidos na escola”; o aluno 08: “não vejo danos
ocasionados por pragas e nem manchas que caracterizam doenças em nossas
plantas”; a aluna 06: “até parece que nossa salsa tem um cheirinho bom”; ainda o
aluno 12: “como são bonitos e grandes estes rabanetes”. Porém, o aluno 07
questionou: “o porquê de alguns rabanetes apresentarem-se rachados”; assim se
manifestou a aluna 02: “lembra que foi comentado para nós num dos encontros que
tivemos em sala de aula de que alguns rabanetes poderiam partir-se porque estariam
passando do ponto de colheita ou por faltar água pra eles, ou porque é uma planta
indicadora que falta o micro nutriente boro naquele solo”.
Apesar de se tratar de um experimento agrícola em pequena área onde apenas
duas olerícolas foram submetidas à fertilização orgânica, tendo como fonte principal o
composto obtido no processo da compostagem doméstica, para nutrir tanto a salsa
quanto o rabanete, os alunos constataram as seguintes vantagens deste adubo
caseiro:
Favoreceu a disponibilidade dos macros e micros nutrientes para as plantas;
Incrementou a atividade microbiana do solo e a mineralização da matéria
orgânica;
Aumentou a produtividade da salsa e do rabanete;
Melhorou a umidade no local, uma vez que a matéria orgânica contida no
composto serve como uma esponja;
Uniu as partículas do solo (areia, silte, e argila) que uma vez soltas poderiam
favorecer o processo erosivo;
Atraiu organismos benéficos os quais previnem as plantas das pragas e
doenças, exercendo o controle biológico;
Aperfeiçoou a relação custo/benefício, uma vez que os agricultores não ficam
dependentes dos fertilizantes químicos e agrotóxicos que são caros;
Os alimentos ali produzidos (salsa e rabanete) se apresentaram mais bonitos,
saudáveis e nutritivos sem comprometer o meio ambiente;
Os consumidores pagariam mais por estes alimentos;
Diminuiu a quantidade dos resíduos orgânicos de origem animal e vegetal
descartados de forma inapropriada na natureza e no lixo comum;
Houve aproveitamento dos resíduos orgânicos para fazer a compostagem,
principalmente aqueles de origem animal prevenindo as zoonoses, proliferação de
moscas e maus odores.
7 – Relatório das atividades do curso compostagem doméstica
Para fins avaliativos visando à certificação do curso “Adubação Orgânica –
reaproveitamento de resíduos animais e vegetais mediante uso da compostagem”, os
alunos se comprometeram a realizar atividade teórica– prática quer sejam
coletivamente no grupo (A e B) ou individualmente na sua propriedade.
Os conceitos, pesquisas, objetivos, procedimentos e resultados foram
sistematizados pelos alunos por meio de relatório descritivo. Essa etapa foi
determinante na elucidação das informações que a princípio estavam desconexas,
porém, contextualizadas e aplicadas apresentaram significado na apropriação da
aprendizagem na tecnologia da compostagem doméstica, tanto quanto nas disciplinas
da base nacional comum (Português, Matemática, Química, Biologia, Arte...) quanto
naquelas específicas (Solos, Agricultura, Pecuária...) que fazem parte da grade
curricular do curso Técnico em Agropecuária.
Na descrição dos relatórios e na análise de seus discursos, os alunos não se
preocuparam em separar as informações em áreas de conhecimento, os conceitos se
interligaram na teia de informações que possibilitaram a compreensão das
transformações do processo da compostagem doméstica em um “adubo caseiro”
denominado composto que traz inúmeras vantagens aos produtores, consumidores e
meio ambiente, observados no relato do aluno 07: “na correção dos solos ácidos com
calagem pode ser utilizado o composto onde está presente a matéria orgânica, sendo
um produto de baixo custo e de fácil acesso para o produtor rural”.
8 – Socialização do estudo da compostagem doméstica
Ampliando esse contexto, a explanação feita das atividades realizadas pelos
grupos (A e B) em plenárias e feira escolar (Feira de Ciências realizada na escola em
maio de 2014), estendeu sua dimensão social promovendo e efetivando a valorização
do processo democrático do conhecimento acerca da produção vegetal orgânica
utilizando o composto como “adubo caseiro” na produção de alimentos saudáveis,
nutritivos e isentos da fertilização química e dos agrotóxicos.
CONTRIBUIÇÕES DOS PROFESSORES DO GRUPO DE TRABALHO EM REDE
(GTR) - Síntese das considerações e discussões referentes aos diários e
fóruns
Os jovens do campo assediados pelos atrativos urbanos, e ao se depararem
com a realidade agropecuária, como a falta de perspectivas de crescimento
profissional, baixo rendimento do trabalho agrícola, baixa capacidade de investimento
das famílias na produção agropecuária orgânica familiar, dentre outras, induz a uma
parcela desta juventude ao êxodo rural. A permanência do jovem no campo depende
das ações de ordem das políticas públicas para o segmento familiar: que a sociedade
se mobilize para garantir políticas públicas específicas para o setor agropecuário
familiar criando mecanismos de valorização da agricultura familiar e para os
agricultores.
A produção agropecuária orgânica é uma necessidade atual para os
agricultores familiares, onde suas aplicações são fundamentais tanto no processo
educativo, especificamente na formação e capacitação de futuros Técnicos em
Agropecuária, quanto no contexto das produções agrícolas voltadas à
sustentabilidade.
Neste sentido, dentre as várias contribuições recebidas neste GTR, resgatam-
se cinco, que podem representar as intenções/considerações dos professores
participantes, em relação ao projeto de “implementação pedagógica na escola” que
trata do assunto “Adubação Orgânica – reaproveitamento de resíduos animais e
vegetais mediante uso da compostagem”.
Professor GTR1: “A adubação orgânica utilizando como fonte para nutrir as
plantas o composto não é a solução, mas sem dúvida contribui para a formação
profissional de jovens agricultores”;
Professor GTR2: “Acredito que o mais interessante para iniciar este processo
da produção vegetal orgânica seja a enumeração dos conceitos das atividades iguais
(teórico e prático), que possam ser desenvolvidos em ambientes escolares ou
familiares”;
Professor GTR3: “Infelizmente, está sendo utilizada muito a mídia favorecendo
a produção dos alimentos convencionais em detrimento dos orgânicos e a resposta
disto está presente no comprometimento da nossa saúde e nas questões ambientais”;
Professor GTR4: “A minha filha começou a me ajudar em casa na reciclagem
do lixo. Este curso ajudou-me a desenvolver nela o interesse de plantar verduras
orgânicas em nossa horta, mudando até a alimentação dela que antes era uma
dificuldade para comer verduras e agora pega a verdura que plantou”;
Para os professores cursistas do GTR, o tema do projeto de “implementação
pedagógico na escola” é relevante para a sociedade brasileira. Quanto à paranaense,
faz-se importante no sentido das dimensões sociais que envolvem a formação
profissional dos jovens agricultores familiares, resgatando a permanência destes
jovens nas propriedades agrícolas evitando com isto o fenômeno do êxodo rural jovem
o qual traz implicações no âmbito da agricultura familiar, com alcance alarmante e
significativo nas regiões metropolitanas.
CONCLUSÕES
A compreensão dos conceitos e a aplicabilidade do curso “Adubação Orgânica
– reaproveitamento de resíduos animais e vegetais mediante uso da compostagem”,
proposto para 12 alunos do CEEP Lysímaco Ferreira da Costa (Colégio Agrícola de
Rio Negro) e para 19 professores cursistas do GTR (Grupo de Trabalho em Rede) via
portal Moodle da SEED demonstrou que é viável o sistema de adubação orgânica.
Isto porque a Agricultura Orgânica é um sistema de produção sustentável e à medida
que vai se consolidando existe uma tendência de equilíbrio entre as diferentes
dimensões da sustentabilidade. Nesse sentido, é preciso reforçar que as políticas
voltadas para o desenvolvimento das atividades agropecuárias orgânica não devem
ser generalizadas, mas considerar as especificidades de cada grupo de agricultor e
as diferentes dimensões sociais, técnica, econômica e ecológica, dando oportunidade
aos agricultores tradicionais e seus filhos de migrarem para a agricultura orgânica.
A análise dos resultados obtidos da aplicação do projeto na escola trouxe ações
que são possíveis de implementar na escola e nas propriedades rurais:
Adotar e apoiar práticas de cultivo orgânico que minimizem o uso de insumos
químicos e agrotóxicos;
Usar as partes não aproveitadas das plantas e os estercos como adubo
orgânico;
Consorciar a criação de animais e o cultivo de plantas, utilizando os resíduos
produzidos para realização de compostagem visando à nutrição das plantas;
Fazer igualmente a compostagem a partir de resíduos agrícolas e domiciliares,
para que sejam aproveitados como fertilizantes;
Aplicar sistema de rotação de cultivos orgânicos, afim de não empobrecer os
solos e não aumentar a incidência de pragas e doenças;
Estimular o associativismo, de maneira a facilitar a conversão da agricultura
convencional em uma agricultura sustentável.
Com isso, atingiu-se o propósito educativo de que, o conhecimento científico e
tecnológico necessita ultrapassar as barreiras da sala de aula, atingindo toda a
comunidade escolar (professores, funcionários, alunos e pais), mostrando suas
implicações e relações aos aspectos cotidianos da vida humana.
Ao analisar as contribuições dos alunos no decorrer do curso de compostagem
doméstica, conclui-se que as tecnologias, principalmente a da capacitação em
compostagem doméstica devem ser priorizadas no âmbito educacional, pois auxilia
no resgate das informações e transmissão dos novos conhecimentos da produção
orgânica e permite que os agricultores possam acompanhar a evolução dos diferentes
métodos tecnológicos acessíveis ao ramo agropecuário, facilitando a permanência
destes no meio rural.
Considerando as produções dos professores do Grupo de Trabalho em Rede
(GTR), sempre no sentido da metodologia e aplicabilidade do curso de compostagem
doméstica, consideraram que a proposta pode representar uma saída para minimizar
os problemas decorrentes da produção dos resíduos orgânicos vegetais e/ou animais
gerados nas escolas, em casa e nas propriedades agrícolas.
Todo o segmento escolar - professores, alunos, familiares e funcionários
colaboraram na implementação do projeto. Os funcionários ajudaram na separação
do lixo; os professores sensibilizaram os alunos da coleta, separação, reciclagem e
danos ambientais dos resíduos orgânicos; e, as famílias se mobilizaram na coleta,
separação e destino do lixo (horta e doação). Sem todos estes envolvidos, o projeto
de compostagem doméstica não teria dado certo.
Devido à quantidade de resíduos orgânicos de origem animal e vegetal gerados
na escola e a pequena capacidade de suporte destes resíduos (principalmente os de
origem animal), quando se trabalha apenas com compostagem, percebeu-se a
necessidade de se trabalhar simultaneamente com pelo menos mais dois modelos de
acondicionamento utilizados. As alternativas seriam a minhocultura e a utilização de
biodigestores, a fim de acondicionarem uma maior quantidade destes resíduos
orgânicos no sentido de aproveitar a totalidade do que é gerado.
O conhecimento sobre compostagem, destinação correta dos resíduos
orgânicos quer sejam de origem animal ou vegetal e os problemas ambientais
causados por esta destinação incorreta ainda não foram suficientes para motivarem a
mudança de atitudes de todos os alunos e educadores (família, professor e
funcionário), a fim de colaborarem na produção de alimentos saudáveis, nutritivos e
isentos da fertilização química, uso de agrotóxicos e na preservação ambiental. Cabe
aos educadores e gestores (na Semana Pedagógica e nas atividades ao longo do
período escolar) buscarem sempre o diálogo, aumentando o nível das relações
pessoais de toda a comunidade escolar, desenvolvendo a percepção da importância
do consumo de alimentos orgânicos para a saúde e a preocupação no destino final
para estes resíduos orgânicos, ou não, que geram transtornos ambientais.
Coube ao Professor PDE, exercer papel fundamental na efetivação da
aprendizagem dos alunos; professores cursistas participantes do GTR e comunidade
escolar, mediando situações problemas, pontuando informações importantes e
sistematizando os conteúdos relacionados à compostagem doméstica. Sua função foi
no enfoque da alfabetização científica, facilitando o estudo da compostagem no
contexto da compreensão comum, trazendo aportes provenientes desta ciência em
benefício da produção vegetal orgânica para os consumidores e o meio ambiente,
visando enriquecer o espaço do conhecimento compartilhado de que saúde alimentar
e meio ambiente podem caminhar juntos sem substituir ou interferir nos processos da
construção do conhecimento, sem imposição em suas próprias representações.
Portanto, considerando o processo de ensino e aprendizagem, com este estudo
verificou-se que a utilização da “Adubação Orgânica – reaproveitamento de resíduos
animais e vegetais mediante uso da compostagem”, é uma alternativa eficiente para
a produção de alimentos saudáveis e nutritivos isentos de adubos químicos e
agrotóxicos, colaborando para diminuir o acúmulo de resíduos orgânicos de origem
animal e vegetal na escola, justificando-se sua viabilidade atrelada aos aspectos
econômicos, sociais e ambientais e evidencia a possibilidade de assumir práticas
sustentáveis em nossas ações diárias.
REFERÊNCIAS
AULER, Décio., Bazzo, Walter Antonio. Reflexões para a implementação das teorias no contexto educacional brasileiro. Ciência e educação, v.7, n.1, 2001, p. 1- 13. DEMARCO, Joel. Trabalho no campo. Dados internacionais de catalogação na publicação (CIP) – vol. 12 – jan/dez, 2007.
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FONSECA, Aparecida Maria. Contribuição da Pedagogia da Alternância para o Desenvolvimento Sustentável: Trajetórias de Egressos de uma Escola Família Agrícola. Brasília: Universidade Católica de Brasília, 2008. 161 p. Dissertação Apresentada ao Programa de Pós Graduação Strictu Sensu em Educação da Universidade Católica de Brasília como requisito para obtenção do Título de Mestre em Educação. Brasília, 2008.
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MAZZEO, Virginia Olga Koeche. Ministério do Meio Ambiente. Departamento de Articulação Institucional – Instrumentos da Gestão Municipal. 2007.
MEDEIRO, Jacimar Luiz. Cultivo orgânico de hortaliças – sistema de produção. CPT – Centro de Produções Técnicas, 1998, 154 p.
SANTOS, Wildson Luiz Pereira dos. , Schnetzler, Roseli Pereira. Educação em química: compromisso com a cidadania. 3 ed. Ijuí, RS: Ed. Unijuì, 2003.
SANTOS, H. M. N.; FEHR. Educação Ambiental por meio da compostagem de resíduos sólidos orgânicos em escolas públicas de Araguari – MG. Caminhos de Geografia, Uberlândia, v. 8, n. 24, p. 163 – 183, 2007.
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VESPA, I. C. G. Escola limpa. Reciclagem de lixo. Resumo expandido. In: 1° SIMPÓSIO DA UNESP SOBRE O LIXO E SUAS MÚLTIPLAS DESTINAÇÕES. 2000, Águas de São Pedro.
APÊNDICE A– Atividades complementares realizadas pelos alunos de forma
coletiva no grupo (A e B) ou individualizada no curso “Adubação Orgânica – reaproveitamento de resíduos animais e vegetais mediante uso da compostagem”. Primeira atividade – realização do pré – questionário o qual buscou avaliar a percepção ambiental dos alunos.
Questões Perguntas
1 Qual o melhor local para destinação do lixo produzido?
2 O que você entende por Resíduo Sólido Orgânico?
3 O lixo orgânico pode ser reaproveitado?
4 Você sabe o que é compostagem? Explique como ela funciona.
5 Quais os principais problemas causados pela destinação incorreta do lixo orgânico?
6 Como você pode contribuir para diminuir esses problemas?
7 Que tipo de lixo é produzido em sua casa?
8 Como o lixo é acondicionado em sua casa?
9 Na sua casa o lixo é separado para coleta seletiva?
Segunda atividade – Nesta unidade do curso “Conhecendo as espécies vegetais e suas exigências”, os alunos consultaram a bibliografia em busca dos conceitos sobre anatomia e morfologia das plantas além daqueles inerentes à nutrição das plantas.
Sugestão bibliográfica da primeira unidade temática do curso
Sugiro a você aluno como atividade complementar desta unidade que consulte a bibliografia, nela você obterá mais conhecimentos sobre as plantas. Botânica: morfologia externa das plantas (organografia) / Mario Guimarães Ferri. – 15 ed. – São Paulo: Nobel. 1983.
Terceira atividade – esta temática “A adubação química e a dependência dos agrotóxicos”, trouxe aos alunos informações referente ao método tradicional de nutrir as plantas e o porquê dele ser tão dependente ao uso dos agrotóxicos.
Sugestão para pesquisa – adubação química e os agrotóxicos
Existe legislação para a produção, comercialização e consumo de alimentos que utilizam a fertilização química e os agrotóxicos. Sugiro que realizem pesquisa para a aperfeiçoarem seu conhecimento nesta unidade de estudo.
Quarta atividade – nesta unidade de estudo “Você escolhe, você decide”, fez com que os alunos pensassem, analisassem e tomassem a atitude correta no método de produção que irão implantar na propriedade.
Acervo bibliográfico sugerido como atividade complementar do curso
Introdução à Agricultura Orgânica/ Silvio Roberto Penteado – Viçosa: Aprenda Fácil, 2003. Ela traz informações sobre o potencial do mercado orgânico no Brasil e no mundo; os métodos de comercialização; as vantagens dos orgânicos sobre os produtos convencionais; além da cotação dos produtos orgânicos.
Quinta atividade – de forma coletiva os grupos (A e B) realizaram a síntese do texto “Compostagem – transformando matéria orgânica em adubo” numa produção escrita sobre decomposição de resíduos de origem animal e vegetal gerados na escola.
GRUPO (A) GRUPO (B)
Sexta atividade – como atividade complementar desta unidade de estudo, o grupo irá pesquisar e trazer para o próximo encontro os conceitos de:
Características ou propriedades dos solos
Químicas Físicas Biológicas
APÊNDICE B – Imagens do Curso “Adubação Orgânica – reaproveitamento de
resíduos animais e vegetais mediante o uso da compostagem”
FIGURA 01: EXPLANAÇÃO INICIAL DE COMO SE DARÁ O CURSO “ADUBAÇÃO ORGÂNICA –
REAPROVEITAMENTO DE RESÍDUOS ANIMAIS E VEGETAIS MEDIANTE O USO DA COMPOSTAGEM”
FIGURA 02: ARMAZENAMENTO DE RESÍDUO VEGETAL ORGÂNICO
FIGURA 05: PREPARO DOS CANTEIROS A SEREM FERTILIZADOS COM O COMPOSTO
FIGURA 06: FERTILIZAÇÃO DOS CANTEIROS DE SALSA E RABANETE COM HÚMUS