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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3 Cadernos PDE I

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · diversidade da população brasileira, mostrando que é possível aprender Geografia através da música. ... Como afirma Paulo

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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3Cadernos PDE

I

¹ Graduada em Geografia pela Unicentro, pós graduada em Geografia e Meio Ambiente pela Fafijan e em Educação do Campo pela Abrasce. Professora de Geografia na rede Estadual de Ensino desde 1997 com lotação no Colégio Estadual DR João Ferreira Neves – EFMNP, Palmital, Núcleo Regional

de Educação de Pitanga. ² Professor Doutor em Geografia Humana, com atuação na área de Ensino de Geografia.

Departamento de Geografia da Unicentro/Cedeteg.

O ESTUDO DA DIVERSIDADE DA POPULAÇÃO BRASILEIRA ATRAVÉS DE

LETRAS DE MÚSICAS E PRODUÇÃO DE PARÓDIAS

Rosana Bida¹

Clayton Luiz da Silva²

Resumo

O presente artigo relata os estudos realizados durante o ano de 2014 e a intervenção pedagógica realizada com alunos de 2º ano do Ensino Médio em 2015, cujo foco foi o estudo da diversidade da população brasileira através de letras de músicas e produção de paródias levando-se em consideração as três matrizes formadoras da população para a sua devida valorização, pois o Brasil é um país de muitos povos e culturas e estes retratam em suas músicas o contexto étnico e cultural em que vivem ou viveram seus antepassados. Esta produção também levou em consideração a preocupação com a necessidade de inserção de novas metodologias às aulas de Geografia tornando-as mais significativas para os discentes. Percebe-se a importância de muitas músicas, pois retratam conceitos da Geografia ajudando na problematização dos conteúdos. A produção de paródias instiga a criatividades dos discentes, já que para a sua produção é necessário ter o conhecimento do conteúdo, fazer pesquisa referente ao assunto para adaptar à música que será parodiada. Levar as músicas para a sala de aula significa mostrar aos discentes novas possibilidades e que a Geografia, diferente do que muitos pensam, pode ter aulas muito dinâmicas saindo apenas da exposição de conteúdos, enfim, pode ser muito interessante. Palavras-chave: Diversidade, música, paródia, geografia, metodologia.

Abstract This paper reports the studies conducted during 2014 and the educational intervention performed with students of 2nd year of high school in 2015, whose focus was the study of the Brazilian population diversity through lyrics and production parodies taking into account the three forming dies of the population for its due appreciation, as Brazil is a country of many peoples and cultures and they portray in their music ethnic and cultural context in which they live or their ancestors lived. This

production also took into account the concern with the need for inclusion of new methodologies for Geography classes making them more meaningful to the students. We realize the importance of many songs because depict concepts of Geography helping in the questioning of the contents. The production of parodies instigates the creativity of students, as for its production is necessary to have knowledge of the content, do research in the subject to adapt the music to be parodied. Take the music to the classroom means to show students new possibilities and geography, different from what many people think, can be very dynamic classes leaving only the contents of exposure, in short, can be very interesting. Keywords: Diversity, music, parody, geography, methodology.

Considerando-se que “(...) a escola deve incentivar a prática pedagógica

fundamentada em diferentes metodologias, valorizando concepções de ensino, de

aprendizagem (internalização) e de avaliação” (PARANÁ, 2008, p.15) e no sentido

de tornar as aulas de Geografia mais significativas e motivadoras e que façam o

discente envolver-se verdadeiramente e ter vontade de aprender, construindo

situações de mobilização para o conhecimento e, com a oportunidade de se utilizar

letras de músicas nas aulas de Geografia para dinamizar as aulas e com especial

atenção estudar sobre a diversidade da população brasileira definiu-se o foco de

estudo e posterior intervenção pedagógica no espaço escolar, que será explicado a

partir de agora. Esta produção teve o objetivo de interpretar letras de músicas e

produzir paródias com discentes do Segundo ano do Ensino Médio utilizando o tema

diversidade da população brasileira, mostrando que é possível aprender Geografia

através da música.

Faz-se necessário refletir sobre a prática docente e buscar metodologias

inovadoras fazendo um trabalho de produção e construção de conhecimentos nas

aulas de Geografia onde o professor se utilize de estratégias instigadoras e procure

entender e compreender a linguagem musical como forma de metodologia

diferenciada, para que o ensino de Geografia na Educação Básica contribua com a

formação de um aluno capaz de compreender o espaço geográfico, nas mais

diversas escalas, e atuar de maneira crítica na produção socioespacial do seu lugar,

território, região, enfim, de seu espaço (PARANÁ, 2008, p. 68.). Diante desta

constatação, o uso de letras de músicas nas aulas de Geografia, é uma estratégia

importante já que, “as letras de música apresentam noções e conceitos básicos

dessa disciplina. Também é uma das artes que mais influencia na subjetividade, nos

desejos e nos comportamentos humanos” (MUNIZ, 2012, p. 02). A música é uma

forma de linguagem capaz de expressar e comunicar ideias, emoções, sentimentos,

manifestações culturais, pensamentos entre outros. Ela faz parte do dia-a-dia das

pessoas, se manifestando de diferentes maneiras, em ritos, festas, manifestações e

celebrações das mais diversas exercendo um relevante papel e influência na

formação cultural das pessoas, por meio do repasse de ideias, informações e

conceitos, servindo para o aprimoramento do aprendizado, pois é comum em muitas

canções a descrição de problemas sociais, fatos históricos, ou outro assunto

relevante. Também, em muitos casos as músicas são de interpretações diversas, ou

seja, cada pessoa pode fazer a sua interpretação de acordo com o seu

entendimento. O fato é que as letras de músicas podem contribuir com as aulas de

Geografia.

Correia afirma que,

(...) a música/canção dinamiza a intencionalidade e equilibra os saberes: conhecer, fazer, ser e viver, pois a linguagem musical facilita a comunicação e a função pedagógica na geografia em sala de aula, além de favorecer abordagem empírica e aplicação às atividades, ressignificando os conteúdos geográficos, proporcionando o resgate das emoções, motivadas pelas canções escolhidas e compartilhadas pelos alunos que concebem percepções e representações signo-imagéticas sistematizadas em textos e imagens configuradas em mapas mentais. (CORREIA, 2009, p. 06).

Assim, percebe-se que a música é uma linguagem universal que exprime

aquilo que as pessoas pensam e, às vezes, não conseguem dizer de outra maneira,

mas que na canção se expressam expondo ideias, opiniões, sentimentos e outras

emoções. Outra prática importante é a produção de paródias, definidas como “(...) a

imitação de um texto literário, de um personagem ou de um tema com propósitos

irônicos. Muitas vezes, substituem as palavras da letra de uma composição musical”

(ANTUNES, 2005, p. 130). Estas estimulam a criatividade e a sensibilidade dos

discentes, visto que, para a sua produção é necessário o estudo do conteúdo para

poder formar as frases que se encaixem na composição verdadeira e, tem papel de

estimular a leitura, a interpretação de diferentes temas da Geografia e proporcionar

oportunidade de utilizar diversas músicas ou ritmos, transformando-as num

instrumento de aprendizagem, pois “(...) essas novas letras musicais podem trazer

protestos, críticas, análises, sínteses, sugestões e outras habilidades” (ANTUNES,

2005 p. 130) mostrando a criatividade e o que os discentes aprenderam referente

aos conteúdos estudados e ao seu conhecimento de mundo. Assim, trabalhando

com novas metodologias „o professor organiza o processo de ensino de

modo que os alunos ampliem suas capacidades de análise do espaço geográfico e

formem os conceitos dessa disciplina de maneira cada vez mais rica e complexa‟

(PARANÁ, 2008, p.76).

É importante no trabalho com letras de músicas que estas se tornem parte de

todo o trabalho tornando as aulas mais atrativas e produtivas, levando os discentes

a serem curiosos e buscar pelos conhecimentos. É preciso despertar neles o

interesse pelo estudo da Geografia, pois é sabido que muitas vezes as aulas são

expositivas e, portanto desmotivadoras. Como afirma Paulo Freire, o professor deve

“saber que ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a

sua própria produção ou a sua construção” (FREIRE, 2013, p. 47) e ainda,

Mulheres e homens, somos os únicos em quem aprender é uma aventura criadora, algo, por isso mesmo, muito mais rico do que meramente repetir a lição dada. Aprender para nós é construir, reconstruir, constatar para mudar, o que não se faz sem abertura ao risco e à aventura do espírito. (FREIRE,2013, p. 68).

Sendo assim, utilizando letras de músicas e produção de paródias com

instrumento didático, o professor estará abrindo uma oportunidade de tornar as

aulas mais interessantes e produzindo conhecimento já que poderá despertar a

atenção dos discentes para algo novo que instiga a curiosidade. Levando-se em

conta, também a diversidade cultural da população brasileira, é possível relacionar,

nas aulas de Geografia, o uso da música como estratégia de aprendizagem com a

diversidade da população, pois o Brasil é um país de muitos povos e culturas e

esses povos produzem suas músicas relacionando-as muitas vezes ao seu contexto

cultural caracterizando (...) „os diferentes mundos musicais do Brasil, tornando este

país um contexto cultural/musical que possui músicas de diferentes significados,

usos e funções, simbolizando a diversidade identitária de uma cultura, a cultura

brasileira‟ (QUEIROZ, 2014. p. 100). Considerando a diversidade musical do Brasil e

relacionando-a a diversidade da população brasileira é perfeitamente possível

estudar a diversidade da população através de letras de músicas e produção de

paródias.

Fala-se muito hoje em dia em motivação para os estudos ou que os discentes

estão desmotivados. Os docentes reclamam dessa falta de motivação e por isso é

necessário repensar o trabalho que se faz. Se o discente está desmotivado o que os

docentes estão fazendo para atraí-los nas suas aulas? Há que se pensar nisso.

Nas escolas, é preciso debater sobre o uso de novas metodologias para o ensino e

aprendizagem, apresentar alternativas para o trabalho com a Geografia, desafiando

e motivando os discentes evitando-se um modelo de ensino tradicional e expositivo

que muitas vezes leva a indisciplina e a evasão, grandes problemas enfrentados na

escola.

Vasconcelos, ao analisar a metodologia expositiva coloca que,

O problema metodológico não se refere a uma escola, curso ou professor; ao contrário, é um problema que perpassa todo o sistema educacional, uma vez que é longa a tradição de um ensino passivo, desvinculado da vida. Em outros tempos esse tipo de ensino até que era suportado; hoje, com as crescentes transformações do mundo contemporâneo, há um questionamento profundo e uma rejeição por parte das novas gerações. O mundo mudou! A escola tem que mudar! (VASCONCELOS, 2004. p. 14).

A presença da metodologia expositiva é muito forte ainda entre os docentes e

pode significar um atraso na aprendizagem, uma barreira ao ensino significativo.

Talvez seja necessária mais formação para que os docentes percebam como é

possível deixar as aulas de Geografia mais interessantes e motivadoras. Existem

inúmeros métodos e maneiras de se inovar na sala de aula para que esta seja “(...)

um desafio e não uma cantiga de ninar. Seus alunos cansam, não dormem.”

(FREIRE, 2013, p. 84). É o professor que tem que buscar o que melhor se adapta ao

seu trabalho, aos objetivos que quer alcançar e ao perfil dos seus discentes. É muito

importante ter clareza de objetivos do que se vai fazer e saber fazer para não acabar

propondo aos discentes apenas uma atividade complementar de estudos de

determinado tema. Devem-se propor desafios, chamar a atenção, a curiosidade. É

preciso que o professor reflita sobre sua prática para que possa atuar melhor e a

aprendizagem acontecer de fato.

Apesar das diferentes metodologias que existem e que possibilitam um

trabalho diferenciado e com significado, geralmente a maneira de ensinar

Geografia baseia-se na introdução e exposição teórica que o professor faz do

conteúdo com auxílio de algum material didático. Dessa forma, considerando

que “ (...) a escola deve incentivar a prática pedagógica fundamentada em

diferentes metodologias, valorizando concepções de ensino, de aprendizagem

(internalização) e de avaliação” (PARANÁ, 2008, p.15) e no sentido de tornar as

aulas de Geografia mais significativas e motivadoras fazendo o discente envolver-

se verdadeiramente e ter vontade de aprender, construindo situações de

mobilização para o conhecimento. Sendo assim, pensando na possibilidade de

ensinar Geografia através de letras de músicas e produção de paródias é que esta

unidade didática foi realizada.

A implementação foi iniciada explicando-se aos discentes sobre o PDE -

Programa de Desenvolvimento Educacional sob a orientação do Professor

Orientador da IES que é um projeto ofertado pela Secretaria de Educação do

Estado do Paraná objetivando a formação docente.

Inicialmente, os discentes ficaram curiosos e entusiasmados com a

possibilidade de trabalhar com músicas nas aulas de Geografia. Foi entregue o

caderno para utilizarem como “caderno diário do projeto” e registrem todas as

conclusões das atividades realizadas. Como primeira anotação no caderno

escreveram suas impressões sobre o projeto e a maioria opinou positivamente sobre

a ideia de aulas de Geografia com músicas visto que, para eles as aulas de

Geografia, às vezes são “chatas” e precisam ser mais motivadoras a ponto de levar

a curiosidade sobre o que será estudado, havendo também mais debate, falando

mais da sua realidade e fazendo um comparativo entre seu modo de vida e outros.

Falaram também sobre a diversidade da população brasileira onde citaram termos

como: cultura, língua, religião, músicas, hábitos alimentares, cor da pele. Quanto ao

conhecimento que têm de paródias, os discentes disseram que conhecem e que é

um trabalho interessante onde se “pega” a letra de uma música e faz outra sobre um

tema e que pode ser feito de um poema também e que às vezes fica muito

engraçado e alguns disseram que já fizeram em outros momentos da vida escolar.

Afirmaram que será interessante fazer paródias sobre a diversidade da população

brasileira, já que a nossa cultura é muito rica e há muito que escrever.

Em seguida, houve a interpretação da música, Música para ouvir de Arnaldo

Antunes / Edgard Scandurra (1999) com o objetivo de perceber a presença e a

importância da música no cotidiano das pessoas. Os discentes ficaram atentos, pois

nunca tinham ouvido esta canção. Acharam-na muito curiosa, diferente de tudo que

ouvem, também fizeram muitos comentários e houve entusiasmo nas interpretações.

Para a maioria esta canção quer dizer que a música está presente em todos os

momentos da vida das pessoas e que há músicas para todas as situações que

vivenciamos. Foi uma atividade muito interessante em que houve a participação

efetiva dos discentes que debateram muito dando suas opiniões.

Dando sequência aos trabalhos, interpretamos o Canto das três raças (1974)

composição: Paulo Cesar Pinheiro e Mauro Duarte. Interpretação: Clara Nunes. Esta

atividade tinha o objetivo de conhecer as “Três raças” (Lusa, Afro e Indígena) que

iniciaram a formação da população brasileira e suas lutas. Nenhum dos discentes da

turma já tinha ouvido falar de Clara Nunes e demonstraram não gostar da canção,

pois perguntaram por que trabalhar esta música tão antiga e não outra mais

moderna. Após a explicação sobre a letra e a cantora compreenderam a riqueza que

ela tem e fizeram a interpretação dizendo que esta canção fala bem do sofrimento

dos escravos fazendo pensar sobre a escravidão e o preconceito que essas pessoas

sofriam e também o preconceito que existe ainda hoje com relação às pessoas que

são consideradas diferentes por um grupo. Ficaram curiosos sobre os quilombos e

como se vivia num lugar desses. Houve a sugestão, por parte de alguns discentes

de trabalhar outra música que tratasse do tema e ficou combinado que quem

encontrasse uma canção diferente e mais moderna, na visão deles, poderia trazê-la

para a próxima aula, mas ninguém trouxe. Afirmaram que não encontraram algo que

tratasse tão bem do assunto como o Canto das Três raças.

Sendo assim, seguiram-se os trabalhos sobre as três matrizes formadoras da

população brasileira onde os discentes assistiram aos seguintes vídeos de Darcy

Ribeiro: Matriz Tupi/O Povo Brasileiro/Darcy Ribeiro, O Povo Brasileiro - PARTE 2 -

Matriz Luso, e Matriz Afro, O Povo Brasileiro Darcy Ribeiro Cap3. Antes de cada

vídeo foi feita uma breve introdução ou explanação sobre o assunto para criar uma

expectativa em relação ao que seria assistido e também sobre quem foi Darcy

Ribeiro. Durante a apresentação dos vídeos foram realizadas pausas para

comentários e esclarecimento de dúvidas. Em seguida houve um debate onde

alguns discentes estavam curiosos e perguntavam sobre a vida dos índios e dos

negros, pois acharam tudo muito curioso. Chegaram à conclusão de que os índios

faziam só o que precisavam para viver, caçavam pescavam faziam seus alimentos,

concluindo que a vida de índio era muito boa e que eles não se adaptariam mesmo

ao trabalho escravo. Aliás, ninguém pode se adaptar a isto. Assim esclareceu-se

que o modo de vida de um povo tem relação com sua cultura e que há uma ideia

equivocada de que índio não gosta de trabalhar como muitas pessoas sem

esclarecimento dizem. Concluíram também que os negros trazidos para o trabalho

escravo no Brasil já tinham muitos conhecimentos como, por exemplo, o trabalho

com cerâmica, agricultura, a metalurgia entre outros e que sua cultura era muito rica.

Dessa forma influenciaram muito a formação da cultura brasileira. Chegaram à

conclusão de que a cultura brasileira realmente é uma mistura de costumes

adquiridos tanto dos índios, como dos negros e dos lusos, as matrizes formadoras

da cultura brasileira e que mesmo assim o Brasil ainda sofre muito com o racismo

devido à cor da pele, a etnia, aos modos de vida e que o país precisa melhorar muito

nesta questão onde o povo brasileiro devia entender a riqueza que é a diversidade e

que de forma alguma isto é um problema, mas algo belo e engrandecedor da nossa

cultura.

Para esclarecer ainda mais esta questão do trabalho escravo, foi trabalhado o

texto “Trabalho escravo na atualidade” onde foi possível perceber que ainda há

pessoas que trabalham como escravos no Brasil e em diversos países (mulheres,

escravas domésticas, pessoas que são escravizadas em fazendas distantes,

pessoas são vendidas para prostituição, no Brasil muitos trabalham escravizados

nas confecções de roupas entre outros). Percebe-se que os discentes vivem

distantes da realidade, pois a maioria não tinha conhecimento desse tipo de

atividade existente no mundo. Debateram bastante. Acharam um absurdo e não

conseguem entender como que ainda no século XXI possa haver pessoas

trabalhando como escravos e que pessoas possam se aproveitar do outro para levar

vantagem dessa forma.

Para perceber a miscigenação, a diversidade cultural no Brasil e os

movimentos populacionais no país, foi interpretada a música “Para todos” (Chico

Buarque 1993). Alguns discentes não conheciam Chico Buarque, outros já tinham

ouvido falar. Esta canção levou a reflexão sobre as migrações devidas às origens

dos familiares de Chico. Quanto aos artistas citados na música, muitos não eram

conhecidos. Alguns discentes os reconheceram como artistas da MPB já estudados

na disciplina de Arte. No debate sobre esta canção os discentes concluíram que

Chico Buarque teve influência desses artistas citados na sua carreira. Ainda sobre

os artistas citados na música, os discentes foram divididos em grupos e, através de

sorteio fizeram pesquisas sobre a biografia de alguns deles, entre os quais: Luiz

Gonzaga, Tom Jobim, Pixinguinha, Gilberto Gil e Roberto Carlos. A apresentação

desse trabalho foi realizada através de exposição de cartazes na sala de aula onde

os discentes falaram da vida desses artistas e das curiosidades que encontraram.

Concluíram dizendo que a atividade foi interessante e que gostaram de conhecer

sobre a vida desses artistas.

A canção Para todos é muito rica e nos versos que diz: O meu pai era paulista

Meu avô, pernambucano, O meu bisavô, mineiro, Meu tataravô, baiano (...)sugere o

estudo dos movimentos populacionais que foram vistos através de mapas de alguns

períodos das migrações no Brasil. O primeiro mapa mostrou o período de 1950-

1970, o segundo 1970-1990 e o terceiro, 1990. Com esse estudo, os discentes

perceberam a movimentação da população pelo Brasil. Foram unânimes em dizer

que as pessoas migram em busca de melhorar as condições de vida. Perceberam

também a fuga do Nordeste pela seca e busca de emprego em São Paulo e grande

circulação de pessoas por todo o Brasil atualmente.

Para completar este estudo, foi realizada uma entrevista com os familiares

dos discentes para perceberem que os movimentos migratórios também acontecem

com as pessoas próximas. Os discentes procuram nos mapas as cidades ou

localidades de suas origens e ficavam admirados quando encontravam o lugar.

Parece que não tem noção de que os lugares de sua vivência também são

mostrados em mapas e concluiu-se que a maioria teve alguma mudança de lugar e

os motivos sempre relacionados com trabalho ou para ficar perto dos familiares e

que ao chegar a um lugar novo sempre há um sentimento de expectativa para novas

amizades, de conhecer novas culturas, esperança, adaptação, mas também há o

medo do desconhecido, de não ser aceito, insegurança, saudade do que ficou para

traz.

Depois de conhecer sobre a diversidade na formação da população brasileira

foi retomado o tema paródia. Os discentes demonstraram que conhecem o assunto

e que já fizeram paródias em outros momentos da vida escolar. Acham que é uma

atividade interessante, pois da letra de uma música conhecida se faz outra. Mesmo

assim, para entenderem melhor, foram apresentadas algumas paródias relacionadas

a temas diversos e que estão disponíveis na Internet para que os discentes tivessem

uma ideia melhor de como fazer as paródias propostas. Os grupos de trabalho foram

os mesmos que fizeram a pesquisa biográfica dos artistas da música Para todos.

Esses grupos tiveram que ouvir as músicas dos artistas que pesquisaram e

escolheram entre elas a música para fazer a paródia. O tema tinha que ter relação

com os assuntos estudados no desenvolvimento desta unidade didática. Foi um

trabalho interessante, pois debateram, pesquisaram, perguntaram até que o trabalho

ficou pronto. O grupo que ficou de fazer uma paródia com uma música de

Pixinguinha não conseguiu adaptar o assunto a nenhuma das músicas então

escolheu uma canção de Raul Seixas, um artista apreciado pelo grupo. Para a

apresentação os grupos poderiam escolher através de vídeos, cartazes, slides,

dramatização ou cantar ou ainda outra maneira que preferissem. Resolveram

apenas cantar. Todos se divertiram muito com a apresentação. Houve a sugestão de

encontrar alguém que ensaiasse e cantasse para a apresentação dos grupos, mas

percebeu-se que não houve interesse em fazê-lo. Então cantaram na sala de aula e

com a condição de que ninguém filmasse. Alegaram timidez e que não era para

mostrar para ninguém. Mesmo com essa relutância para a apresentação, o

importante foi que escreveram, demonstraram o que sentem o que sabem.

Feitas as paródias, o trabalho continuou. Para reconhecer a diversidade da

população como característica própria que forma a identidade nacional foram

interpretadas as seguintes músicas:

Lourinha Bombril dos Paralamas do Sucesso (1996): que faz alusão à

miscigenação da população:

Etnia de Chico Science & Nação Zumbi (1996): que mostra que nossa etnia é

a etnia da miscigenação, que somos uma mistura e dá exemplos de

manifestações culturais presentes nela como danças, folclore e músicas;

A mão da limpeza, Gilberto Gil (1984), que mostra o preconceito e a

discriminação em relação aos negros na sociedade brasileira;

Sob o mesmo céu, Lenine (2010) que mostra a riqueza que é a diversidade

nosso país.

Ser diferente é normal, Adilson Xavier e Vinícius de Castro.

Para este trabalho os discentes foram divididos em cinco grupos que

receberam através de sorteio uma das músicas citadas para fazer a interpretação.

Os grupos preferiram primeiramente ver vídeos das músicas todos juntos em sala de

aula para conhecerem as músicas que os colegas trabalhariam. Em seguida

receberam a letra com algumas questões para interpretação e depois pensaram em

como apresentar. A sugestão era que poderia ser apresentada através de cartazes,

apresentação de power point, Windows movie maker, dramatização ou de outra

forma que preferirem. Fizeram vídeos e um cartaz. O grupo que fez o cartaz

interpretou a música Etnia de uma forma bem criativa. Fizeram desenhos e definiram

alguns termos citados na música como o folclore, capoeira, barimbau e os ritmos

musicais citados: samba, hip, hop, embolada, maracatu, embolada e frevo. Os

outros grupos fizeram vídeos das outras músicas mostrando a diversidade da

população brasileira através de imagens.

Concluindo a implementação, os discentes apresentaram os trabalhos

desenvolvidos através de exposição na sala de aula onde a comunidade escolar

pode conhecer as atividades desenvolvidas. Para esta exposição foram produzidos

cartazes, exibidos os vídeos e expostos os “cadernos diários”, onde os visitantes

puderam conhecer as atividades realizadas durante o desenvolvimento do projeto.

Dessa forma, tiveram a oportunidade de mostrar suas produções além da sala de

aula estabelecendo um vínculo entre comunidade e escola aproximando-os e

expondo o que aprenderam sobre a diversidade da população brasileira através da

interpretação de letras de músicas e produção paródias utilizando o tema

diversidade da população brasileira, mostrando que é possível aprender Geografia

através da música seja com interpretação de letras ou produção de paródias.

Assim os discentes desenvolveram a sensibilidade para a interpretação de

diferentes gêneros musicais, perceberam que letras de músicas podem ser

utilizadas como estratégia de aprendizagem; identificaram conteúdos referentes à

Geografia nas letras de músicas estudadas; interpretaram letras de músicas

referentes ao tema diversidade da população brasileira e produziram paródias

com letras relacionadas a este tema e suas temáticas como: diferenças étnicas e

culturais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao longo do desenvolvimento desta Unidade Didática e do Grupo de Trabalho

em Rede (GTR) ressaltamos a importância de se buscar metodologias diferentes

nas aulas de Geografia havendo uma concordância geral quanto à necessidade de

mudanças na forma de ensinar. As aulas precisam ser motivadoras com mais

debates sobre a realidade havendo, dessa forma, maior integração dos discentes no

contexto social em que a escola está inserida enfatizando a interpretação de letras

de músicas e produção de paródias para este fim. A expectativa ao término deste

trabalho foi de ampliar a compreensão e o conhecimento de docentes e discentes a

respeito da necessidade de mudança aliando a isto o conhecimento e a valorização

da diversidade presente na população brasileira.

Há uma concordância geral de que as aulas precisam ser motivadoras. Os

docentes são unânimes em dizer que é preciso renovação na prática do cotidiano

escolar e consideram a música uma importante aliada tendo o poder de resgatar o

interesse dos discentes. Também evidenciam a falta de materiais tecnológicos nas

escolas para o desenvolvimento dos trabalhos mais ao mesmo tempo dizem que

sempre é possível realizar algo diferenciado para atrair os discentes e que a música

contribui para a construção do conhecimento.

Acreditamos que, a Geografia geralmente considerada uma disciplina sem

muita importância, pode ter um referencial diferenciado a partir da valorização que o

próprio docente dá ao seu trabalho. E assim, com as adaptações necessárias

acreditamos ter alcançado as expectativas, pois enriquecemos a prática docente e

modificamos comportamentos e atitudes dos discentes, os quais passaram a ter

uma visão diferenciada da Geografia com mais entusiasmo e interesse o que pode

torna-los cidadãos mais motivados e atuantes quanto às mudanças que o mundo

precisa.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANTUNES, C. A sala de aula de história e geografia: inteligências múltiplas, aprendizagem significativa e competências no dia-a-dia. Campinas. Papirus, 2005. CORREIA, M. A. Representação e ensino: música nas aulas de geografia: emoção e razão nas representações geográficas. Disponível em: http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/2010/artigos_teses/GEOGRAFIA/Dissertacoes/correia_versao_final.pdf. Acesso em abril de 2014. FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários a pratica educativa. Rio de Janeiro: Paz E Terra, 2013. MUNIZ, A. A música nas aulas de Geografia. Uberlândia, vol. 3, n. 04, 2012. Disponível em: http://www.revistaensinogeografia.ig.ufu.br. Acesso em abril de 2014. QUEIROZ, L. R. S. Educação musical e cultura: singularidade e pluralidade cultural o ensino e aprendizagem da música. 2014. P. 100. Disponível em: http://www.abemeducacaomusical.com.br/revistas/revistaabem/index.php/revistaabe m/article/view/367/296.Acesso em junho de 2014. Acesso em junho de 2014. SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO DO PARANÁ. Diretrizes curriculares da educação básica: Geografia. Curitiba: Jam3 Comunicação, 2008. VASCONCELLOS, Celso Dos S. Construção do conhecimento em sala de aula. São Paulo: Libertad, 2004.

ANEXOS

Paródias produzidas pelos discentes durante o desenvolvimento desta

Unidade Didática:

ANEXO 1 - Paródia da música sítio do pica-pau amarelo de Gilberto Gil feita

pelas alunas: Alunas: Ellindem Panizzon dos Santos, Aline Vaz Martins Larissa de

Oliveira Nascimento.

Branco, negro, negro branco

Todos juntos sem racismo

Lutando todos juntos

Por um mundo sem preconceito.

Negro também é gente,

Só a cor que é diferente

Vamos lutar por nossa gente!!

Por um mundo sem preconceito.

Todos juntos somos uma só raça

Sem preconceito na escola e na praça

Universo sem racismo.

Por um mundo sem preconceito!

No país sem racismo,

Num Estado de igualdade,

Cidade sem discriminação

ANEXO 2 - Paródia da música medo da chuva de Raul Seixas feita pelos

alunos: Juliano Costa dos Santos e Bruno Machado Costa:

Medo da rua

Que pena que você pense

Que posso ser humilhado

Dizendo que só porque sou negro não posso exigir

Como as pedras imóveis na praia

Eu sou pisado, sem merecer

Sou tratado como um bandido

Sem ter um por quê!

Eu perdi o meu medo,

Meu medo, meu medo da rua

Pois na rua tem muito gente

E todo mundo é igual

Aprendi o segredo,

O segredo, o segredo da vida

Hoje eu sei me defender

Do preconceito racial!

ANEXO 3 - Paródia da música Asa Branca de Luiz Gonzaga feita pelos

alunos: Tatiane Pereira, Natan Hening da Silva e Allef Panizzon Dziecinny :

Quando olhei pra tanta gente

Deu uma dor no coração

Eu perguntei a Deus do céu, ai

Por que tanta perseguição?

Eu perguntei a Deus do céu, ai

Por que tanta perseguição?

Cada dia, cada ano

Só se vê discriminação,

O povo sofre com tudo isso

Chega de escravidão.

O povo sofre com tudo isso

Chega de escravidão.

Tanto faz se preto ou branco

Se é pobre ou ricão

Então eu disse foi Deus quem fez

É dele toda população.

Então eu disse foi Deus quem fez

É dele toda população.

As tradições e os costumes

De diferentes regiões

Eu peço a Deus que abençoe

Pra alegrar meu coração

Eu peço a Deus que abençoe

Pra alegrar meu coração

Só porque eu sou um negro

Me discriminam, maldição

Eu te asseguro, eu voltarei, viu

deixando mais recordação

Eu te asseguro, eu voltarei, viu

deixando mais recordação!

ANEXO 4 - Paródia da música Águas De Março de Tom Jobim feita pelas

alunas: Aniliese Gabrieli de Oliveira Rodrigues, Cleidieli Onisko da Costa e Janiesi

Helena Pereira Moreira.

É lindo, é lindo, é o nascer da cultura,

É na beira das águas do rio Patachó.

É a mistura de raças, que é a vida, que é o sol,

São as matrizes diversas que o Brasil tem.

É o banho diário, é o costume indígena que o povo herdou.

É a dança do negro, é a capoeira,

É o respeito às culturas é o fascínio à vida.

Que coisa mais linda, que coisa mais linda.

É o índio cantando, é o negro dançando.

É o luso, é o afro, é o índio também.

É na mistura da raça que o Brasil tem.

Sem preconceito, sem discriminação, é assim

Que se constrói uma linda nação.

É o som do tambor que ressoa a dor do povo vencido.

É no rosto o desgosto do povo esquecido.

É o amor é a luz que a esperança conduz.

É o progresso é a chama

É um gesto sincero que une a nação

É a diversidade que vira igualdade no nosso Brasil.

É lindo, é lindo, é o nascer da cultura,

É na beira das águas do rio Patachó.

É o céu mais azul, é o povo contente.

São as culturas formando o Brasil da gente.

São as raças cantando ao som da canção

Com esperança de vida nos seus corações.

São as “águas de março” banhando a nação

São as culturas se unindo em um só coração.

ANEXO 5 - Paródia da música Esse cara sou eu de Roberto Carlos feita

pelas alunas: Ana Paula de Oliveira Zevandorski, Erilim Hinzelmann Rodrigues,

Gisele Ferreira de Souza e Maria Aparecida Leal.

O povo que pensa em mudar o Brasil

Que conta os segundos para a mudança

Que está a todo tempo querendo mudar

Porque já não quer continuar assim

E no meio da noite te chama

Vamos pra rua dizer:

Esse povo sou eu!

O povo que quer conscientização

E esbarra em quem quer que interrompa seus atos

Quer um governo pra estar ao seu lado

O herói esperado por toda população

Pelo povo encare a miséria, a desigualdade.

Esse povo sou eu.

O governo que ame o seu povo

Que depois das eleições seja seu amigo

Te fale a verdade, promete e cumpr

Demonstre confiança e não o perigo.

De manhã você acorda e diz

Sou um povo infeliz

Porque eu quero mudança

Esse povo sou eu

Eu sou apenas um

Querendo mudança

Porque neste mundo falta mais segurança

Esse povo sou eu

O povo que espera essa mudança

Que tem esperança

Que um dia o mundo irá melhorar

Esse povo sou eu!