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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3Cadernos PDE
I
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ESTRATÉGIAS DE LEITURA ATRAVÉS DE FÁBULAS
Cleusa Desplanches Buard1
Viviane do Rocio Barbosa2
RESUMO O presente artigo tem como objetivo apresentar a experiência do projeto de intervenção pedagógica desenvolvida pelo Programa de Desenvolvimento Educacional – (PDE 2014 - 2015) da Secretaria de Educação do Estado do Paraná, tornando-se um grande aliado ao estímulo da leitura no desempenho escolar e no processo ensino aprendizagem. Aplicado em uma turma do 6º ano do Colégio Estadual do Campo Salto Grande do Turvo, Ensino Fundamental e Médio, localizada na zona rural do município de Doutor Ulysses - Paraná. As atividades realizadas tinham como objetivo despertar o interesse no aluno por ler e formar leitores críticos e conscientes, através da leitura do gênero fábula, visto que isso está se afastando dos educandos em função da utilização das tecnologias que passam a ser mais atrativas e descartam a leitura que requer concentração e dedicação. As estratégias de leitura que foram usadas proporcionaram a compreensão, a interpretação e motivaram a prática de leitura. A escolha do gênero fábula foi justamente por proporcionar a discussão, reflexão, serem textos de fácil compreensão, com histórias geralmente curtas e humoradas. Os resultados alcançados na implementação do projeto pedagógico foram satisfatórios, obtendo melhorias significativas no aprendizado do aluno. Palavras-chave: Leitura - Fábula – Interpretação - Produção 1 INTRODUÇÃO
O presente artigo é resultado do projeto de intervenção intitulado
“Estratégias de leitura através de fábulas”, realizado durante o curso de
formação continuada do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE,
organizado pela Secretaria de Estado da Educação, e tem como objetivo
demonstrar as ações e os resultados obtidos na implementação da proposta
pedagógica realizada.
O projeto foi desenvolvido com o objetivo de despertar a motivação da
leitura utilizando o gênero fábula de forma eficiente, de modo a contribuir
1 Professora PDE, do Colégio Estadual do Campo Salto Grande do Turvo - Ensino Fundamental e Médio, NRE - Área Metropolitana Norte, da SEED-PR. e-mail: [email protected] 2 Professora Doutora em Educação UFPR; orientadora. e-mail: [email protected]
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efetivamente para o enriquecimento curricular dos alunos envolvidos e servir de
inspiração às demais turmas da escola. A escolha do gênero fábula facilitou a
implementação da proposta, pelo fato dos alunos residirem na zona rural e
terem contatos frequentes com animais – personagens das histórias – e por
serem textos breves.
As estratégias usadas no desenvolvimento das atividades serviram
como elementos motivadores para a assiduidade do ato de ler, a compreensão
do que se lê, a participação argumentativa e defesa de seus conceitos, bem
como o enriquecimento cultural e apropriação dos conhecimentos
historicamente produzidos pela sociedade.
Segundo Solé:
A leitura nos aproxima da cultura. Por isso um dos objetivos da leitura é ler para aprender. Quando um leitor compreende o que lê, está aprendendo e coloca em funcionamento uma série de estratégias cuja função é assegurar esse objetivo (SOLÉ, 1998, p.46).
Por acreditar que estratégias motivadoras dinamizem o processo de ler e
efetivem seu uso, essa proposta buscou agregar a esses recursos o
desenvolvimento cultural, visto que a região rural onde os alunos estão
inseridos é desprovida de recursos para a leitura, cabendo à escola
proporcionar essa ação.
Sabe-se que o uso de estratégias interessantes em sala de aula, leva a
motivação do aluno em várias disciplinas, por isso, não cabe apenas ao
professor de língua portuguesa desenvolvê-las, mas também aos professores
que usufruem desta prática, tornando suas aulas dinâmicas e interativas,
consequentemente auxiliando na aprendizagem da leitura, interpretação e da
escrita dos educandos.
Desse modo, a leitura é fundamental na prática social e deve-se investir
no aluno procurando descobrir seu interesse e possibilitando, assim, uma
leitura crítica para exercer sua função na sociedade.
2 O DESENVOLVIMENTO DA LEITURA NA ESCOLA
2.1 Leitura
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A leitura é um dos principais caminhos para que o educando adquira
conhecimentos, através dela acontece a interação entre os seres humanos,
promove-se reflexão de diferentes assuntos, amplia seu universo imaginário,
descobre as variedades de gêneros existentes e contribui na formação de um
leitor crítico.
Segundo as Diretrizes Curriculares de Educação Básica – DCEs: “Ler é
familiarizar-se com diferentes textos produzidos em diversas esferas sociais:
Jornalísticas, artísticas, judiciária, científica, didática pedagógica, cotidiana,
midiática, literária, publicitária, etc." (PARANÁ, 2008, p. 71). Portanto, quanto
maior for o contato com a diversidade de gêneros, abre-se mais campo para
desenvolver seu potencial na leitura.
Sendo assim, ler é muito mais do que somente decodificar os sinais
impressos em uma página; é, antes de tudo, interagir, construir um sentido
para o texto. Ainda neste sentido, Solé, diz que [...] “ler não é decodificar, mas
para ler é preciso saber decodificar.” (SOLÉ, 1998, p.52).
É através da leitura que acontece a interação do leitor com o texto e com
o autor, extrapolando o universo linguístico do texto; Kleiman (2013, p. 12) diz
que [...] “leitura é um ato social, entre dois sujeitos – leitor e autor – que
interagem entre si, obedecendo a objetivos e necessidades socialmente
determinados.”
Sendo assim, através da leitura o ser humano adquire a ferramenta para
adentrar no processo de participação social, na aquisição de novos
conhecimentos, neste mesmo foco, (Antunes, 2003, p.70) diz: “A atividade da
leitura favorece, num primeiro plano, a ampliação dos repertórios de
informação do leitor...” encaminha o mesmo acessar, participar, interferir e até
modificar. Proporciona elemento de repouso, de prazer intelectual e emocional,
afasta das agitações modernas; constitui uma prática de interiorização para
poder renovar as forças das recriações.
Para que se possa ler com propriedade, compreender a essência de um
texto demanda um aprofundamento de sentidos e também requer elementos
técnicos para que se possa absorver o que o autor quer expressar.
Segundo Carneiro:
O primeiro entrave para a leitura eficiente é a dispersão mental, a falta de concentração ou controle dos próprios pensamentos. Um
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bom leitor, em qualquer técnica, antiga ou moderna, é o que tem a capacidade de “submergir” no processo da leitura. É preciso desenvolver a concentração ou atenção perfeita (CARNEIRO, 1984, p.21).
Sendo assim, é importante para a compreensão de um texto, que o leitor
possa interagir, buscar o entendimento, adentrar em suas entrelinhas, não
desviar sua atenção, emergir em uma profunda concentração para poder
realmente entender o que está sendo proposto.
No entanto, ler é algo esplendoroso, o indivíduo tem a possibilidade de
desencadear leituras do mundo, tanto pela sua experiência, por percepção ou
até mesmo por formação. Familiariza com a modernidade, informa, corrige,
incentiva, completa e acompanha os outros modos de comunicação.
De acordo com Os Parâmetros Curriculares Nacionais dos 3º e 4º ciclos
– PCNs - (1998):
A leitura é o processo no qual o leitor realiza um trabalho ativo de compreensão e interpretação do texto, a partir de seus objetivos, de seu conhecimento sobre o assunto, sobre o autor, de tudo que sabe sobre a linguagem etc. Não se trata de extrair informação, decodificando letra por letra, palavra por palavra. Trata-se de uma atividade que amplia estratégias de seleção, antecipação, inferência e verificação, sem as quais não é possível proficiência. É o uso desses procedimentos que possibilita controlar o que vai sendo lido, permitindo tomar decisões diante de dificuldades de compreensão, avançar na busca de esclarecimentos, validar no texto suposições feitas (BRASIL, 1998, p. 69).
Portanto, é por meio da leitura que pode-se ter o domínio da palavra,
através da palavra, troca-se ideias e conhecimentos, sendo possível
compreender o mundo que nos rodeia; sendo assim, com o domínio da palavra
transforma-se, e com essa transformação, constrói-se um mundo melhor.
Almeida, (2008, p.39), diz que “ler o mundo é compará-lo, desconstruí-lo
e reinventá-lo a seu modo.” Nesse sentido, quando o livro é lido com prazer
transporta-nos a outros mundos, dá vida aos nossos sonhos, estimula as
nossas emoções, imaginações e melhora o desenvolvimento da escrita.
Segundo Solé:
Aprende-se a ler e a escrever lendo e escrevendo, vendo outras pessoas lerem e escreverem, tentando e errando, sempre guiados pela busca do significado ou pela necessidade de produzir algo que tenha sentido (SOLÉ, 1998, p. 61).
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Outrossim, é neste entusiasmo que poderá ligar o aluno ao livro,
despertando-lhe o gosto e a necessidade de aprender a ler e escrever, no
sentido de desbravar a fantasia que cada história ou cada livro carrega.
2.2 Formação do leitor
A formação do leitor competente deve envolver práticas que busquem
novos caminhos para tornar o ensino e a aprendizagem de leitura mais
significativa e dinâmica. Significa que cada texto dever ser lido com grande
concentração, para obter sentidos diferentes, justiçar e validar com coerência
sua leitura e os elementos discursivos localizado no texto, isso fará com que
torne um leitor eficiente.
Nas Diretrizes Curriculares da Educação Básica a orientação que se tem
a respeito da leitura é de que “somente uma leitura aprofundada, em que o
aluno é capaz de enxergar os implícitos, permite que ele depreenda as reais
intenções que cada texto traz”. (PARANÁ, 2008, p.71).
Sendo assim, a escola deve proporcionar ao aluno o acesso a uma
variedade de leituras, com o intuito de aprofundar as intenções que cada leitura
traz; mostrar a importância das descobertas na vida individual, o prazer que
pode atribuir e a busca da formação de leitores através da diversidade de
esferas que circula no meio social e o professor deve ser um dos motivadores
para a formação de leitores assíduos, portanto cabe ao docente selecionar
textos adequados a idade do aluno, que seja interessante e desperte a
curiosidade do mesmo.
Segundo as Diretrizes Curriculares da Educação Básica pode-se
localizar alguns aspectos pertinentes as ações docentes nas quais:
O professor atua como mediador, provocando os alunos a realizarem leituras significativas. Assim, o professor deve dar condições para que o aluno atribua sentidos a sua leitura, visando um sujeito crítico e atuante nas práticas de letramento da sociedade (PARANÁ, 2008, p.71).
Nesse sentido, o educador tem um grande compromisso, cabe a ele
esse papel de motivador e mediador; proporcionar a oportunidade a todos,
independente das dificuldades enfrentadas em funções das desigualdades
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sociais e culturais da comunidade em que vivem os alunos, com o objetivo de
que o trabalho seja desenvolvido com maior dedicação e responsabilidade,
para que os resultados possam ser expressivos.
Pensando ainda na formação do leitor, nos Parâmetros Curriculares
Nacionais aponta:
Um projeto educativo comprometido com a democratização social e cultural atribui à escola a função e a responsabilidade de contribuir para garantir a todos os seus alunos os acessos aos saberes linguísticos necessários para o exercício da cidadania (BRASIL, 1998, p.19).
Portanto, não se deve esquecer que, além da escola, os pais têm o
compromisso de ajudar no incentivo da leitura de seus filhos para tornarem
grandes leitores.
Segundo Cavalcanti ( 2002, p.2):
Formar leitores é compromisso da família e da escola. Também deve fazer parte dos interesses de toda comunidade, pois uma sociedade não letrada, ou mesmo formada por leitores funcionais, está fadada à condição de miséria e indignidade. Nunca a questão da formação de leitores foi tão discutida como nos dias atuais, até porque se entende que o desenvolvimento de uma nação depende do nível de letramento dos seus habitantes. Não existe país livre e desenvolvido sem investimentos na educação e na leitura.
Desta forma, o docente não constrói um leitor sozinho, depende do
interesse, dedicação, perseverança e o empenho do educando, também o
apoio familiar é de extrema importância para a motivação da leitura. Este
trabalho tem que haver parceria para que se possa chegar ao resultado
almejado.
Ainda, nos Parâmetros Curriculares Nacionais entende-se como leitor
competente aquele que:
[...] sabe selecionar, dentre os textos que circulam socialmente, aqueles que podem atender a suas necessidades, conseguindo estabelecer as estratégias adequadas para abordar tais textos. O leitor competente é capaz de ler as entrelinhas, identificando, a partir do que está escrito, elementos implícitos, estabelecendo relações entre o texto e seus conhecimentos prévios ou entre o texto e outros textos já lidos (BRASIL, 1998. p.70).
Sendo assim, a leitura acompanha o poder, transforma o leitor, e ele, o
mundo a sua volta, portanto, a leitura deve ser conduzida de uma maneira que
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o leitor possa enxergar melhor o mundo, compreender a sociedade e também
ser crítico. Para tanto, as atividades que envolvem a leitura precisam ser mais
amplas, proporcionar momentos para o aluno falar, discutir, contar, debater,
ouvir, escrever, encenar a assim poder construir novas formas de ler a vida,
contribuindo para conquista de melhores condições de ordem social.
2.3 Leitura de Fábula e sua importância
Na implementação do projeto foi trabalhado o gênero textual fábula, pois
ela tem relação com o tempo, visto que sob o ponto de vista da etimologia da
palavra Fábula, tem-se sua origem no latim, cujo significado seria história, jogo,
narrativa, ou mais especificamente, o que é dito. A Fábula é um dos gêneros
textuais mais antigos e também populares, isto faz com que ainda hoje
continue persistindo e resistindo ao tempo, despertando a entretenimento nos
leitores.
Sousa, (2003, p. 29), diz que “a origem da Fábula perdeu-se na pré-
história. É impossível determinar a época exata do seu aparecimento”. No
entanto, indiferente da época do seu surgimento, ela consiste em atrair ao leitor
por ser uma narrativa textual normalmente curta, fácil assimilação por parte dos
leitores, seus personagens são geralmente animais, suas atitudes são
comparadas às dos seres humanos, proporcionando uma distração e ao
mesmo tempo uma reflexão.
Nas palavras de Sousa (2003, p. 30):
A Fábula costuma ser conceituada como uma breve narrativa alegórica, de caráter individual, moralizante e didático (...), as personagens apresentam situações do dia-a-dia, de onde podem ser extraídos paradigmas de comportamento social, com base no bom-senso popular.
Seguindo o mesmo raciocínio, Portela et al. (1992, p.09), diz que “as
fábulas são histórias curtas, em prosa ou verso, apresentando, geralmente,
animais falantes que tomam atitudes humanas”. Sendo assim, a Fábula de
maneira simples e direta, propõe explicações de alguns comportamentos,
situações e posturas do ser humano.
A partir dessas indicações, pode-se dizer que através da Fábula, o aluno
poderá analisar e refletir sobre certas atitudes dos personagens e fazer
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comparações críticas entre as apresentadas nas fábulas como também a da
sociedade. Além disso, o trabalho com tal gênero poderá possibilitar o
desenvolvimento da oralidade, da interpretação textual, das produções e
discussões, aprimorando aprendizado do aluno.
De acordo com Silva:
A fábula pode ter surgido junto com a necessidade de vencer a censura e questionar as injustiças. Antes de ser considerado um gênero, passou dispersa na boca do povo até ser acolhida por escritores que a consagraram enquanto gênero literário. (SILVA, 2008, p.77).
A Fábula apresenta geralmente uma moral, sendo explicada no começo
ou no fim, ou implícita muitas vezes no corpo da narrativa. É a moralidade que
diferencia a fábula das demais narrativas. Segundo Portela et al. (1992, p. 9),
“a moralidade serve de alerta para os homens, passa observações importantes
sobre o comportamento humano”. Sendo assim, através das mensagens da
moralidade das fábulas, o ser humano baseia-se para tirar suas conclusões.
Neste gênero, os principais autores que se destacaram foram: o grego
Esopo, o romano Fedro, o francês La Fontaine e o brasileiro Monteiro Lobato,
etc.
Segundo Ash e Higton (1999, p. 06):
As fábulas de Esopo costumavam ser curtas e bem-humoradas, transmitindo em linguagem simples mensagens relacionadas ao comportamento cotidiano, com singelos conselhos sobre lealdade, generosidade e as virtudes do trabalho.
Assim, Esopo buscava forma para fazer suas críticas e, segundo Souza
e Cavéquia (2004, p. 224-225) ele criticava “[...] o comportamento inadequado
das pessoas usando animais referindo-se a elas, desse modo ele conseguia
expor seu ponto de vista sem ser castigado por aquele que detinha o poder”.
Neste sentido, Smolka diz que “Esopo deixou obra monumental que
encerra visão crítica extraordinária da natureza humana e lições de moral que
hoje, decorridos mais de 25 séculos, são, no mínimo, de rara beleza e
impressionante atualidade” (SMOLKA, 2004, p. 06).
Outro escritor que se destacou foi Jean de La Fontaine, o qual era um:
[...] francês que popularizou a fábula no Ocidente, publicou na segunda metade do século XVII, doze livros de fábulas recolhidas dos
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fabulistas ancestrais Esopo ( grego, séculos VII e VI a. C.) e Fredro (romano, 15 a. C.-50 d.C.), somadas a muitas outras de sua própria autoria, em forma de versos leves, metrificados e rimados, livros esses que foram traduzidos e publicados em todo mundo. (FERRI, s/ ano, p. 5).
Sendo assim, La Fontaine foi um grande escritor do gênero fábula,
buscou seguir o estilo de Esopo, abordando temas como: a vaidade, a
estupidez e a agressividade humana, através de animais.
Já no Brasil, Monteiro Lobato foi um importante representante do
gênero, onde suas produções eram vultosas, e recontava as fábulas de Esopo
e de La Fontaine, demonstrando assim, a influências dos referidos escritores
em sua obra.
Portanto, a fábula é um gênero literário que se encontra em
praticamente todas as culturas e períodos históricos. É uma narrativa curta que
ilustra alguma virtude e termina na maioria das vezes, com uma lição de moral.
Além de aguçar o imaginário, conduz para a formação do leitor.
4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS DA PROPOSTA DE
IMPLEMENTAÇÃO
A apresentação desse projeto e seu desenvolvimento deu-se no Colégio
Estadual do Campo Salto Grande do Turvo, que fica na zona rural do município
de Doutor Ulysses – Pr, com a funcionalidade da turma do 6º ano do Ensino
Fundamental. A implementação do projeto na escola foi realizada durante 32
horas/ aula dividida em seis momentos.
Foram planejadas atividades que levaram os alunos a refletirem sobre a
importância da leitura, com a utilização de um vídeo educativo mostrando a
importância da leitura e questionamentos sobre esse tema, procurando fazer
com que os alunos tivessem uma postura crítica e compreendessem que o ato
de ler é indispensável para sua formação humana e intelectual. Foram
utilizadas leituras de fábulas de Esopo, Jean de La Fontaine e Monteiro Lobato
e desenvolvidas várias dinâmicas para tornar o projeto mais atrativo, com o uso
de dramatizações, ilustrações, produções pessoais e coletivas e reflexões.
As atividades foram divididas em 6 momentos: 1º Momento – Dinâmica:
Participando da história; 2º Momento – Dinâmica: Conhecendo e refletindo os
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ditados populares; 3º Momento – Dramatizando as fábulas; 4º Momento –
Compreensão e interpretação das fábulas; 5º Momento – Dinâmica: Usando a
imaginação; 6º Momento – Criar, imaginar e produzir.
O projeto teve início com uma breve apresentação, onde foi colocado a
sua finalidade e a sua importância, dimensionando suas etapas e os objetivos
que deveriam ser alcançados.
No 1º momento foi feita uma dinâmica através da leitura de um trecho da
fábula O lobo e o cordeiro na versão de Monteiro Lobato, para que os alunos
finalizarem a história, e depois comparassem com a produção original. Paralelo
a essa atividade foi trabalhado os vocábulos desconhecidos por eles, com o
objetivo de ampliar seus conhecimentos através de palavras novas, isso
ressalta o que disse (Antunes, 2003).
Após, foi assistido um vídeo intitulado “A importância da leitura” de Rilde
(2014), que serviu como suporte motivacional, e para finalizar essa primeira
etapa da implementação foi aberta uma discussão sobre o exposto e as
experiências dos alunos com a leitura. Muitos alunos ficaram motivados após
assistirem o vídeo, e buscaram na biblioteca da escola obras literárias para
lerem. Percebe-se que, com uso de estratégias adequadas, é possível
despertar a vontade de ler do aluno e consequentemente fazê-lo tomar gosto
pela leitura. (SOLÉ, 1998).
No 2º momento foi trabalhado o conceito de ditado popular, sendo
desenvolvida uma dinâmica onde os alunos em círculo, passavam de mão em
mão ao som de uma música, uma caixinha com vários ditados populares e
quando a música parava, o aluno que estivesse segurando a caixa pegaria em
seu interior um cartão com uma frase e, em voz alta faria a leitura expondo o
seu entendimento. Em seguida circulava novamente a caixa até terminar os
cartões. Ao término dessa dinâmica, cada aluno teve a oportunidade de
apresentar outros ditados populares que conheciam. Sendo assim, a
participação foi muito interessante, porque todos queriam falar ao mesmo
tempo, contando e interagindo com os colegas, isso ressalta que a interação na
leitura é algo que se conquista com estratégias atrativas e contagiantes.
(KLEIMAN, 2013).
No 3º momento foram desenvolvidas atividades de dramatização, o
professor fez leitura de uma fábula com entonação e dramatização, e os alunos
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teriam que observar os gestos, as expressões faciais e a entonação de voz que
estava sendo usada, e que estes recursos usados facilitavam a interpretação e
compreensão da leitura. Na sequência, dividido em grupos, os alunos
receberam uma fábula diferente por equipe e fariam o mesmo que o professor.
Após a apresentação, foi aberto espaço para comentários sobre as histórias
lida e distribuído um questionário para responder. Percebe-se que, ao ler
gesticulando, encenando e com entonação de voz, chama bastante a atenção
do aluno, havendo uma concentração e um envolvimento maior por parte dos
estudantes. (CARNEIRO, 1984).
No 4º momento da Unidade Didático Pedagógica, foram selecionadas
três fábulas “O leão e o mosquito” de Esopo, “A coruja e a águia” de Jean de
La Fontaine e “A raposa e a cegonha” traduzida por Heloisa Jahn. Foi realizada
leitura individual e coletiva; discussão dos textos e oportunizados comentários
individuais e coletivos. Após os questionamentos e discussões, cada equipe
respondeu as questões de interpretação e foi registrado por escrito. Nesta
atividade, os estudantes reclamaram bastante, apresentaram dificuldades para
interpretar. Teve aluno que disse: “Vamos pular esta parte, é muito chato,
vamos ler e fazer o mesmo que fizemos na atividade anterior, encenar os
textos é mais divertido”. Nas DCE’s (PARANÁ, 2008), há menção de que cabe
ao professor o compromisso de ser um bom mediador e motivador para que
haja um bom aproveitamento daquilo que está sendo proposto.
No 5º momento das atividades de implementação, em grupos os alunos
receberam uma fábula e fizeram uma leitura silenciosa para familiarizar; após,
um aluno de cada equipe leu apenas uma parte da história fazendo com que os
demais grupos pudessem finalizar as histórias por escrito de acordo com suas
imaginações. Esta atividade proporcionou momentos divertidos e prazerosos
para os estudantes e teve grupo que foi necessário fazer sorteio para a escolha
de quem iria fazer a leitura em voz alta da história, pois todos gostariam de ler.
Almeida (2008) diz que quando se lê, proporciona-se ao indivíduo a autonomia
de compará-lo, desconstruí-lo e reinventá-lo de sua maneira.
Em seguida, cada equipe apresentou suas produções, e ao final, o grupo
que chegasse mais próxima da história original receberia uma bonificação, sem
desmerecer as demais finalizações, assim aconteceu sucessivamente com
cada grupo.
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No 6º e último momento das atividades de implementação da Unidade
Didático Pedagógica, com objetivo lúdico e para que os desejos por futuras
leituras pudessem ser estimulados, a turma foi dividida em grupos e cada
equipe produziu uma fábula e ilustrou usando a criatividade, após, cada grupo
apresentou para a turma e foi encadernado.
Ao término dessa atividade, os alunos se entristeceram, pois, o projeto
estava chegando ao fim. Mas, depois de muitas leituras, os estudantes
demonstraram através da produção escrita que o programa obteve êxito, e
cujos resultados apresentaram melhoras significativas em suas produções.
Pode-se verificar que, para alcançar resultados significativos na leitura e na
escrita, utilizou-se da prática intensa de ouvir e ler, bem como de escrever, isso
mostra que através da persistência e também dos erros para buscar o
almejado, pode-se alcançar bons resultados em termos de desenvolvimento da
leitura. (SOLÉ, 1998).
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do apresentado ao longo do desenvolvimento das atividades
programadas neste projeto, conclui-se que os objetivos propostos foram
atingidos e que houve uma recepção positiva a respeito do programa.
A implementação do projeto, justificou-se por acreditar que a escola tem
o papel de proporcionar estratégias e trabalhar os conhecimentos envolvidos
nas práticas de leitura para que o aluno possa desenvolver suas habilidades e
competências individuais, fatos que ficaram evidentes ao longo do
desenvolvimento das atividades.
Percebeu-se uma nítida motivação dos alunos que participaram deste
programa, devido ao aumento considerável na busca por materiais de leitura,
apresentando resultados significativos no desenvolvimento da produção
textual, oralidade, participação e argumentação, elementos que auxiliam
efetivamente na formação de leitores críticos e assíduos.
Pelo desenvolvimento das ações realizadas e intervenções pedagógicas
aplicadas, percebe-se que o professor é aquele que leva o aluno a apropriar-se
do conhecimento através dos conteúdos e motivá-los com aulas que possam
ser atrativas, despertando seu interesse e suas potencialidades.
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As estratégias usadas durante a implementação, serviram de motivação
e facilitaram a compreensão das atividades realizadas. Os alunos passaram a
ser mais participativos nas aulas, demonstrando interesse, discutindo mais,
ouve melhoras nas produções e passaram a frequentar mais a biblioteca da
escola, até mesmo argumentando e fazendo reclamações da falta de livros
novos na escola.
Para o professor de língua portuguesa, é um grande desafio fazer com
que o aluno se torne um leitor competente, e este trabalho evidenciou que a
leitura deve ser praticada constantemente e estimulada tanto no ambiente
escolar como familiar.
O trabalho desenvolvido proporcionou aos alunos a oportunidade de ler
diversas fábulas, discutir, interpretar e produzir, fazendo com que os
educandos adquirissem mais autonomia na leitura, e os mesmos
demonstraram entrosamento e interesse pelos textos por se tratar de um
gênero de fácil compreensão e desenvolvido com atividades lúdicas.
Outro fator importante que através das fábulas se percebeu foi à função
social que cada texto transmitia, a lição de moral que os alunos recebiam,
sendo assim, levavam a reflexão, percebendo que eles não necessitam apenas
dos conteúdos em si, mas precisam aprender a conviver de forma harmoniosa
com seu próximo, ser prestativo e acima de tudo responsável. Sendo assim,
pode se dizer que estas reflexões realizadas com a prática desenvolvida, serviu
como base para a convivência de todos no dia a dia.
Quando chegou à hora da produção escrita, alguns alunos apresentaram
muitas dificuldades, tanto nas imaginações da produção quanto erros
ortográficos e pontuação. Mas, no decorrer das correções realizadas junto com
os alunos, nas explicações e nas reescritas, apresentaram compreensão e
ouve evolução no aprendizado. A questão ortográfica não era foco desse
trabalho, mas ficou evidente a necessidade de continuidade interventiva neste
sentido.
Ao final deste projeto considera-se que, para um aprimoramento maior
no processo ensino aprendizagem, é necessário dar continuidade no trabalho,
pelas dificuldades que os alunos demonstram na leitura.
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Ao longo do desenvolvimento do projeto efetivou-se uma avaliação
contínua, observando o desenvolvimento e respeitando as limitações de cada
aluno durante a realização das atividades.
REFERÊNCIAS ALMEIDA, Geraldo Peçanha de. Práticas de Leituras para neoleitore. – Curitiba: Pró-Infantil, 2008. ANTUNES, Irandé. Aula de português: encontro & interação. São Paulo Parábola Editorial, 2003. ASH, Russell; HIGTON, Bernard (Ed.). JAHN, Heloisa (Trad.) Fábulas de Esopo. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 1994. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Língua Portuguesa. Rio de Janeiro/ Brasília: DP&A, 1998. CARNEIRO, Marcel Motta. O processo na arte de ler: o método dinâmica. Curitiba: Vicentina, 1984. FERRI, René (Trad. E Adap.). Fábulas de La Fontaine. São Paulo: Escala, s/ ano. KLEIMAN, Angela. Texto e Leitor: Aspectos cognitivos da leitura. 15ª edição. Campinas: Pontes Editores, 2013. LA, FONTAINE, Jean de. 1621 – 1695. Fábulas de Esopo. Adaptação de LúciaTulchinski. São Paulo: Scipione, 2004. (Série Reencontro infantil). Ms RILDE. Atividade trabalhada na Biblioteca Leitura, Arte e Poesia com alunos do 2º ciclo da E. M. Florestan Fernandes, de Belém/ MG. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=3UuQzUKUU-M> Acesso em: 21/07/2014. PARANÁ, Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa. Curitiba, 2008. PORTELA, Fernando; VEIGA, Luiz Maria; KUPSTAS, M.; BASTOS, Orlando. Sete Faces da Fábula. São Paulo: Moderna, 1992. SILVA, Adriana Paula dos Santos. Amoras sem Espinhos: A Recepção de Fábulas (1922), de Monteiro Lobato, por Crianças do Ensino Fundamental. 272 p. Dissertação (Mestrado em Letras) – Universidade Estadual de Maringá, 2008.
15
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