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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO ... · Autora: Conceição Aparecida Penteado Martins1 Orientadora: Leonor Dias Paini 2 ... A história do diagnóstico

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

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POSSIBILIDADES DE INTERVENÇÃO EM UMA ESCOLA PÚBLICA

Autora: Conceição Aparecida Penteado Martins1

Orientadora: Leonor Dias Paini2

Resumo: O presente estudo objetiva elaborar subsídios para verificar as possibilidades de Intervenção Pedagógica a serem utilizadas em sala de aula pelo professor que atende estudantes diagnosticados com TDAH no ensino regular. METODOLOGIA: Pesquisa teórico-descritiva e de campo com os seguintes procedimentos: análise e seleção de literatura sobre TDAH, investigação documental dos alunos com dificuldades especiais, principalmente dos estudantes com TDAH; Organização de oito encontros para um grupo de estudos/leitura; Elaboração de material didático para o trabalho com 13 (treze) professores do 8º ano na Escola Estadual Indira Gandhi - Ensino Fundamental. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Na análise dos dados constatou-se que a maioria dos alunos atendidos na Sala de Recursos Multifuncional Tipo I, são diagnosticados com TDAH e apresentam ritmo lento, falta de atenção, falta de concentração e dificuldade para apreender os conteúdos programáticos. Eles necessitam de um apoio mais individualizado do professor e, muitos deles, mesmo com um atendimento diferenciado não conseguem obter sucesso no desenvolvimento das atividades. A partir desta pesquisa houve uma reflexão coletiva sobre quais conhecimentos os professores precisavam pesquisar para conhecer melhor os alunos que são diagnosticados com TDAH, isto oportunizou a criação de estratégias/propostas de intervenções pedagógicas que contribuem para o processo ensino-aprendizagem. Palavras-chave: Educação inclusiva. TDAH. Déficit de Atenção.

INTRODUÇÃO

O TDAH tem sido um tema relevante em congressos e pesquisas. A cada dia

mais se avoluma o número de pessoas que apresentam este transtorno. Um alto

índice de alunos com TDAH tem preocupado muitos educadores. Ausec (2014)

mostra que pesquisas nacionais e internacionais apontam a prevalência do TDAH

entre 3% de crianças, em sua maioria na idade escolar.

Quando falamos de inclusão, deparamo-nos com diversas situações em que

os alunos podem apresentar inúmeras necessidades educacionais especiais. De

acordo com Instrução nº. 013/2008, essas necessidades são Deficiência

Mental/Intelectual, Transtornos Funcionais Específicos: DDA - Distúrbio do Déficit de

1Professora da Educação Especial da Rede Pública Estadual de Ensino – Aluna PDE 2013

2Doutora em Psicologia Escolar – USP/SP. Docente da área de Psicologia Escolar, Orientadora do

PDE

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Atenção; TDAH - Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade e Distúrbios

de Aprendizagem (dislexia, discalculia, disgrafia, disortografia).

Dados revelam um total de 174 alunos diagnosticados com TDAH do NRE de

Umuarama, Estado do Paraná, sendo que 74 alunos são das escolas municipais e

100 alunos são das escolas estaduais.

Embora as políticas públicas tentem apoiar a Educação Especial inclusiva,

percebemos o quanto os professores se angustiam frente às dificuldades de

aprendizagem apresentadas por esses alunos.

Em minha vivência como professora PAC (Professora de Apoio a

Comunicação Alternativa), foi possível observar o cotidiano da sala de aula e com

isso, constatei que a grande maioria dos professores não consegue desenvolver um

trabalho pedagógico que atenda de fato os problemas de aprendizagem

apresentados por alguns alunos, em especial aqueles avaliados como alunos de

inclusão. Esse é um problema que vem incomodando muitos profissionais da

educação e que merece um olhar diferenciado, na expectativa de investigar uma

solução ou possibilidades de trabalhos pedagógicos que, no mínimo, amenizem

essa dificuldade.

Os professores participantes dessa implementação repensaram a prática

pedagógica, o que oportunizou um novo olhar para o processo ensino-aprendizagem.

Uma vez que em muitas situações, essas dificuldades apresentadas pelos

estudantes eram ignoradas, eles eram penalizados e rotulados como preguiçosos e

desinteressados, aumentando, assim, o índice de fracasso escolar.

A possibilidade do estudante ter um diagnóstico de TDAH pode causar

prejuízos ao aluno no processo de aquisição do conhecimento, o foco da atividade

pedagógica pode ser outro e isto, em nosso entendimento, justifica essa proposta de

trabalho no Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE.

Nesta perspectiva, essa pesquisa constou dos seguintes procedimentos

metodológicos: - análise da realidade escolar da Escola Estadual Indira Gandhi; -

levantamento do número de alunos do ensino regular que frequentam o contra turno,

a Sala de Recursos Multifuncional Tipo I; - verificação documental (pasta individual)

com o objetivo de analisar o parecer da avaliação neurológica e a avaliação escolar

desses alunos.

A implementação foi realizada por meio de um curso de formação continuada

do qual participaram a Equipe da Educação Especial do NRE - Núcleo Regional da

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Educação de Umuarama, professoras da Educação Especial e do Ensino Regular da

Escola Estadual Princesa Izabel e professoras e pedagoga da Escola Estadual

Indira Gandhi. O curso intitulado “Conhecer propostas pedagógicas que atendem

alunos avaliados com TDAH" foi desenvolvido por meio de 8 (oito) encontros, em

horário extra escolar, totalizando 32 (trinta e duas) horas.

Apresentamos os seguintes passos: Primeiramente recuperamos alguns

aspectos históricos do TDAH. Num segundo momento, tratamos da conceitualização

do TDAH. Num terceiro momento, falamos do Diagnóstico e Tratamento (prognóstico)

do TDAH. Num quarto momento, problematizamos sobre a medicalização como

tratamento do TDAH. E por fim, buscamos as possibilidades de intervenção

pedagógica junto ao aluno com TDAH.

ALGUNS ASPECTOS HISTÓRICOS DO TDAH

Apesar de vários avanços alcançados, os relatos históricos da educação

especial revelam que por um longo período, as pessoas com necessidades

especiais, de alguma forma, foram vítimas de segregação. Somente a partir da

década de 70 se inicia, timidamente, um movimento de integração e, em meados da

década de 90, começa a discussão, no Brasil, a respeito da Inclusão Escolar que até

os dias atuais é questionada por muitos estudiosos do assunto.

No Estado do Paraná, uma das preocupações com a inclusão foi oferecer

apoios pedagógicos que contribuíssem com o atendimento dos alunos com

necessidades educacionais especiais. Historicamente, convém assinalar um passo

importante na educação inclusiva ocorrido com a criação das Salas de Recursos

Multifuncionais Tipo I, amparadas pela Instrução nº 016/2011, SEED/SUED,

definidas como um “atendimento especializado de natureza pedagógica que

contempla alunos que apresentam deficiência intelectual, deficiência física

neuromotora, transtornos globais do desenvolvimento e transtornos funcionais

específicos.”

É importante destacar que quando se fala em Sala de Recursos Multifuncional

tipo I, existe uma diferença no atendimento da Política Nacional de Educação (MEC)

e a Política Educacional no Estado do Paraná.

A diferença está em que, no estado do Paraná, nas escolas de ensino para o

público-alvo da educação especial, o atendimento defendido pelo MEC é acrescido

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do atendimento aos estudantes com Transtornos Funcionais Específicos,

preconizado na Instrução nº 016/21, SEED/SUED como “um grupo heterogêneo de

alterações manifestadas por dificuldades significativas: na aquisição e uso da

audição, fala, leitura, escrita, raciocínio ou habilidades matemáticas, na atenção e

concentração.” (PARANÁ, 2011) (grifo nosso). Essa definição contida na referida

Instrução, permite o atendimento dos estudantes avaliados com TDAH nas Salas de

Recursos Multifuncional Tipo I.

A dificuldade de atenção e concentração é claramente citada pelos estudiosos

como alguns dos sintomas que compõem o quadro de diagnóstico do TDAH. A

literatura revela que a história desse transtorno é marcada pela predominância de

um dos seus três sintomas centrais, a hiperatividade, a impulsividade e a

desatenção que vêm se entrelaçando uma com as outras.

Caliman (2010), ao se referir à história do TDAH, mostra as fases da história

da infância, do adolescente, do adulto e do familiar. A história da criança com TDAH

se destaca e traz uma relação com o espaço escolar. A sustentação dessa relação

se deve ao fato de que a descrição do transtorno nos três sintomas, desatenção,

hiperatividade e impulsividade aparecem primeiramente no ambiente escolar.

Ao tratar da história do adolescente com TDAH, não se deve desconsiderar o

discurso e a prática médica que envolve a delinquência e a adolescência desviante.

O diagnóstico do adulto com TDAH está presente desde a década de 80 e o fato

relevante do TDAH familiar é que o mesmo é visto como uma desordem que pode

acontecer em toda família.

A qualificação deste transtorno é marcada por algumas divergências, existem

pesquisadores que acreditam que o aspecto principal da constituição do diagnóstico

do TDAH está relacionado à descoberta e à utilização terapêutica das drogas

estimulantes e nos interesses econômicos das mesmas, criados pelo comércio.

Outros pesquisadores apontam o TDAH como um diagnóstico médico que está

estreitamente ligado à construção da legitimação científica da neurologia e das

tecnologias da imagem cerebral.

A história do TDAH também é vista por vários analistas sociais como um

distúrbio produzido pelo excesso de informações, pelo consumo de material abusivo,

da cultura somática, das identidades que não se solidificam e da perda da

autoridade da família, da igreja e do estado.

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A história do diagnóstico surgiu na literatura médica em meados do século XX

e recebeu uma variedade de nomenclaturas. Como cita Caliman (2010), “Desde os

últimos 20 anos do século XX, ela é marcada por um defeito inibitório que afeta o

desenvolvimento das funções executivas cerebrais.” (CALIMAN 2010, p. 49).

Historicamente a classificação do TDAH é marcada por frequentes

mudanças,uma vez que em menos de um século foi alterada por mais de dez vezes.

As descrições psiquiátricas mostravam que as características desse transtorno eram

o excesso de movimento e dificuldade de manter os impulsos, passando a ser

chamado, em 1957, de Síndrome do Impulso Hipercinético, em 1960, foi nomeado

como Síndrome da Criança Hiperativa e a hipótese de uma lesão cerebral precisa,

foi substituída por um déficit neurofisiológico. Na década de 70, o diagnóstico se

centraliza na desatenção e na década de 90, o transtorno passa a ser visto como um

defeito inibitório e incapacidade de autocontrole.

O alto índice de crianças diagnosticadas com este transtorno tem chamado

atenção, Ausec (2014) relata que pesquisas nacionais e internacionais apontam a

prevalência do TDAH entre 3% e 6% de crianças em sua maioria na idade escolar.

Ela ainda cita Ximenes (2008), mostrando que no Brasil essa prevalência é de 3,6%

a 5% da população escolar, predominando a desatenção que fica numa

porcentagem de 25% das crianças. Já em adolescentes entre 12 e 14 anos, a

prevalência tem um nível um pouco mais elevado atingindo 5,8%. A diferença

existente entre meninos e meninas é de 1,5 meninos para cada menina. Na fase

adulta, a prevalência estimada é de 0,3% a 3,5%, no entanto, com o crescimento a

hiperatividade vai diminuindo e a desatenção permanece constante.

Estudos revelam que a partir de 1994, surgiu a nomenclatura atual

“Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade” e mostram que vários estudiosos

sobre este transtorno, citamos Mattos (2003) e Arruda (2006), o defini como um tipo

de transtorno neurológico, que surge na infância e em muitos casos, acompanha o

indivíduo em sua vida adulta, tendo como principais características a desatenção, a

hiperatividade e a impulsividade, resultando na dificuldade de relacionamento com a

família, com outras crianças e professores no ambiente escolar.

O conhecimento acerca de alguns aspectos históricos do TDAH possibilitou

aos professores integrantes do grupo de estudos perceberem que para se chegar ao

conceito atual, muitos estudos foram realizados, como bem explicita a professora A.

A.:

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Todo conhecimento é histórico, e para se compreender o Transtorno é importante situá-lo no processo histórico de construção do mesmo, até para perceber que ele sempre foi alvo de estudos por vários pesquisadores e ainda hoje o tema não foi esgotado, havendo muito que se pesquisar sobre esse assunto (A.A, 2014).

DA CONCEITUALIZAÇÃO DO TDAH

Na atualidade, a maioria dos professores vem encontrando em suas aulas

vários estudantes que não conseguem manter por muito tempo a atenção,

prejudicando sua aprendizagem. Intensos estudos são feitos procurando descobrir

as causas desse problema. Estudiosos sobre o assunto como Mattos (2004) e

Arruda (2006) apontam variados motivos para isso, no entanto, o que vem de

encontro com o nosso interesse é o TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção e

Hiperatividade).

Mas o que vem a ser esse transtorno? Alguns estudiosos definem o TDAH

como um transtorno mental de origem neurológica que provoca no sujeito dificuldade

em exercer suas aptidões, não consegue lidar com situações de stress comuns da

vida e não produz no trabalho, tendo prejuízo global em sua existência. Arruda

(2006) define esse transtorno como: “Alterações genéticas vão determinar

modificações na produção de neurotransmissores [...]A disfunção dessas áreas vai

provocar, consequentemente, os sintomas principais do TDAH: dificuldade de

atenção, hiperatividade e impulsividade” (ARRUDA, 2006, p.6).

A dificuldade de atenção tem sido considerada como o sintoma principal

desse transtorno, mas, não é o único. Sintomas como hiperatividade e a

impulsividade também fazem parte do TDAH. Mas como são definidos estes

sintomas? Com base nos conceitos de Arruda (2006), procuraremos fazer uma

breve definição de cada um dos sintomas:

a)Dificuldade de Atenção: a atenção pode ser definida como o esforço de

focalização do pensamento em um estímulo específico. Quando isso não acontece,

tem-se a falta de atenção que pode ser detectada com facilidade no início dos

estudos e quando o sujeito começa trabalhar, dependendo do grau apresentado

pode provocar dificuldades à aprendizagem.

b) Hiperatividade: é mais fácil de ser identificada, pois desde pequena a

criança é agitada, fala excessivamente, em alto volume, possui inquietação corporal

excessiva e desnecessária sem um objetivo funcional.

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c) Impulsividade: muitas vezes este sintoma não é reconhecido pelos pais

com filhos que tem TDAH, embora façam colocações como: “é atirado”, “impaciente”,

“irritado”, “explosivo”, queixas essas, que se referem diretamente à impulsividade,

sintoma presente em todos que possuem o TDAH.

É importante que os profissionais da educação percebam isso e procurem

caminhos que venham favorecer o ensino e a aprendizagem de todos os seus

alunos. O médico psiquiatra e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro,

Paulo Mattos, escreveu várias considerações a respeito do TDAH. Segundo o autor,

é preciso ficar atento ao fato de que nem todas as pessoas que possuem TDAH são

necessariamente iguais no seu comportamento.

Ele explica que existem três tipos de TDAH: a forma predominante desatenta,

sendo que esta é a forma mais comum, a forma predominantemente hiperativo-

impulsiva, sendo esta a forma mais rara e a forma combinada, que acontece quando

existem sintomas tanto da primeira como da segunda. Por serem causadoras de

maiores problemas, tanto para o indivíduo como para as demais pessoas, esta é a

forma em que se procura ajuda médica.

Mattos (2004) alerta que para concluir o diagnóstico se faz necessário

observar: primeiro, se esses sintomas estão presentes antes dos sete a doze anos;

segundo, se os problemas ocorrerem em pelo menos em dois ambientes diferentes

(ex: escola e casa); terceiro, se esses sintomas atrapalham o sujeito na escola, na

profissão ou no relacionamento com os outros; e por último, se os sintomas como

ansiedade, depressão ou outros parecidos não sejam a explicação para o problema.

A importância em se fazer estas observações e de não se tirar conclusões

precipitadas, rotulando a pessoa de algo que não possui.

As crianças com TDAH apresentam, muitas vezes, na escola lentidão em

concluir suas atividades, por estarem sempre desligadas, cometem vários erros por

falta de atenção, não terem o costume de prestar atenção em detalhes,

atrapalhando seu desempenho na realização das atividades. A impulsividade

também é um fator que “perturba”, pois os mesmos acabam resolvendo suas

atividades sem ao menos ler até o final as mesmas.

Quando o estudante é apenas desatento, o diagnóstico demora em

acontecer, devido o mesmo apresentar uma hiperatividade mínima ou totalmente

ausente, não perturbando na sala de aula, no entanto, ele não consegue o mesmo

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rendimento dos demais alunos e quanto mais complexo for o conteúdo mais isso se

torna evidente.

Mattos (2004) define o TDAH como um transtorno psiquiátrico ou

neuropsiquiátrico, justificando os problemas emocionais comuns em conjunto com

este transtorno, sendo eles: “baixa auto-estima, oscilações grandes de humor,

sensação de fracasso e instabilidade nas relações com os demais colegas [...]. As

crianças e os adolescentes com TDAH tendem a ser mais rejeitados pelos colegas.”

(MATTOS, 2004, p.35).

Além dos problemas de comportamento podem existir outras dificuldades nos

estudantes com TDAH, que acabam impedindo que tenham um desenvolvimento

satisfatório na leitura, matemática, escrita e linguagem. Isso acontece na população

em geral, no entanto, associado com o quadro de TDAH são mais frequentes.

Baseando-se nesses diversificados problemas que acontecem com os

estudantes que são diagnosticados com TDAH, é que se sustenta a tese de que os

professores do ensino regular necessitam de um esforço mediado por opção teórica,

estudo e reflexão para terem o conhecimento necessário para trabalhar com esse

aluno, sustentando o relato da professora S.A.M:

É imprescindível e norteador para um trabalho efetivo com estudantes diagnosticados com TDAH, que toda escola tenha conhecimento a respeito dos sintomas desse aluno, pois o aprofundamento teórico sobre o assunto poderá dar sustentação ao trabalho do professor e garantir o melhor despenho escolar desses estudantes (S.A.M. 2014).

COMO SÃO OS DIAGNÓSTICOS E TRATAMENTOS DO TDAH?

As autoras Moysés e Collares (2011) discorrem sobre o diagnóstico do TDAH

em um texto intitulado “O lado escuro da dislexia e do TDAH”. Nesta obra procuram

deixar bem claro que acreditam na existência da diferença no trato da linguagem

escrita pelas pessoas, que algumas têm muita facilidade e outras dificuldades

extremadas, e questionam a transformação dessas dificuldades em uma doença

neurológica que de acordo com as autoras, nunca se conseguiu comprovação.

Explicam que a sociedade formula padrões e normas a serem obedecidas e

aqueles que não se enquadram nestes são tidos como problemáticos, necessitando

de um diagnóstico para se saber a causa, transformando questões coletivas, de

ordem social e política em questões individuais e biológicas.

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Em se tratando de um problema biológico, compete à medicina resolver

através de medicamentos. Moysés e Collares (2011, p.136) deixam isso bem claro

ao escreverem: “A medicina afirma que os graves e crônicos problemas do sistema

educacional seriam decorrentes de doenças que ela, a medicina seria capaz de

resolver; cria, assim, a demanda por seus serviços, ampliando a medicalização”.

Afirmam ainda que a maioria de discursos sobre medicalização tem como tema a

dislexia e o TDAH.

Segundo as autoras, as hipóteses de que as doenças neurológicas

comprometem a aprendizagem e o comportamento vêm acontecendo a mais de um

século, no entanto, até os dias de hoje, não conseguiram ser comprovadas. Outra

crítica feita pelas autoras é sobre a eficácia das anfetaminas na solução deste

problema, elas afirmam que a amostragem de sujeitos estudados é pequena,

explicitando que é necessário uma melhor definição e um maior rigor estatístico para

uma afirmação tão séria.

Atualmente o diagnóstico é feito através de entrevistas com pacientes,

familiares e professores que relatam os sintomas e respondem a um questionário

conhecido por SNAP IV, composto de 18 questões, que depois de preenchido passa

pela interpretação de um especialista. Moysés e Collares (2011) colocam que esse

diagnóstico realizado leva em consideração cinco critérios: A, B, C, D e E, sendo

que o critério A (Snap IV) contém nove questões que se referem à desatenção e as

outras nove, à hiperatividade e impulsividade. As autoras explicam que em caso de

respostas afirmativas em seis itens em um dos subgrupos, o diagnóstico de TDAH já

é afirmativo. Segundo Moysé e Collares (2011), na realidade, esse transtorno passa

a ser definido a partir do momento que os pais dessas crianças são convencidos que

seus filhos têm um problema.

O critério A traz questões que investigam a falta de atenção em detalhes,

erros por descuido, dificuldade de manter a atenção em tarefas ou atividades de

lazer, demonstração de desinteresse, dificuldade em seguir instruções até o fim,

conclusão das tarefas escolares ou obrigações, organização em tarefas e atividades,

envolvimento com tarefas que exigem esforço mental; cuidados com seus pertences,

distração com estímulos externos, movimentos constantes com os pés e mãos,

agitação e inquietude, fala em excesso; dificuldade em esperar que perguntas sejam

concluídas para poder responder, não conseguir esperar sua vez e interromper as

outras pessoas.

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Elas levantam a questão de que se formos realmente analisar essas

questões, quantos de nós não estaríamos enquadrados nesse diagnóstico. No

entanto, é importante destacar que o critério A não deve ser avaliado

separadamente, ele deve estar em conjunto com os demais critérios, assim

definidos: Critério B - alguns desses sintomas devem estar presentes antes dos sete

anos de idade; Critério C - existem problemas causados pelos sintomas acima em

pelo menos dois contextos diferentes (por ex: na escola, no trabalho, na vida social e

em casa); Critério D - há problemas evidentes na vida escolar, social e familiar por

conta dos sintomas; Critério E - se existe outro problema (tal como depressão,

deficiência mental, psicose, etc.), os sintomas não podem ser atribuídos

exclusivamente a ele.

Moysés e Collares consideram que esse instrumento utilizado para

diagnosticar o TDAH é muito frágil, levantando o seguinte questionamento: A quem

interessa manter um número tão elevado de crianças que cada vez mais vêm sendo

diagnosticadas com esse transtorno? Esse questionamento das autoras parte de

pesquisas que revelam a indústria farmacêutica como uma das mais beneficiadas,

considerando o crescente número de caixas de remédios que são vendidas para

esse fim.

Embora haja divergências a respeito do diagnóstico desse transtorno, não

podemos negar que ele existe e precisa de alguma forma ser reconhecido como um

problema a ser discutido no ambiente escolar e, se necessário, utilizar o tratamento

medicamentoso. No entanto, é importante que se identifique a fragilidade de

pesquisas e testes realizados para o diagnóstico, como reforça afirmação da

professora V.A.A.S. que diz:

Os critérios utilizados para o diagnóstico do TDAH são realizados partir de questionamentos em relação à desatenção, à hiperatividade e impulsividade, mas é importante mencionar que se analisarmos os mesmos, chegaremos à conclusão que a maioria da população é acometida desse transtorno (V.A.A.S. 2014).

TRATAMENTO DO TDAH

Mattos (2004), ao se referir ao tratamento do TDAH, fala da importância da

medicação, desde que seja receitada por profissionais capacitados e competentes.

No entanto, admite a importância de tratamentos com técnicas psicológicas, as

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quais podem colaborar para aqueles que possuem esse transtorno, deixando bem

claro que estes profissionais precisam conhecer muito bem o TDAH.

Para o tratamento das pessoas que têm este transtorno, mais uma vez,

aparece a importância de um acompanhamento com vários profissionais e de forma

diversificada, como é citado por Feltes e Prischula: “Não há uma abordagem

terapêutica que seja comum a todos os casos.” (FELTES e PRICHULA, 2010,

p.122).

É preciso que todos os que estão envolvidos com estas pessoas estejam

atentos e contribuam com o seu tratamento. Embora em seu trabalho, Feltes e

Prichula (2010) admitam que o TDAH esteja presente nas escolas, e que se constitui

numa das grandes dificuldades enfrentadas pelos professores, alertam que as

escolas cometem muitos erros por não terem as informações sobre o que realmente

seja TDAH, dizendo que [...] “hoje na maioria das vezes falam que a criança é

hiperativa e na verdade ela só é imatura ou ansiada em ter algo novo e diferente na

escola, ela na realidade precisa é gastar energia”(FELTES e PRICHULA, 2010,

p.133).

Nessa perspectiva, é necessário um comprometimento não somente da

escola, mas também de órgãos competentes que facilitam um trabalho

multiprofissional, favorecendo o diagnóstico correto desses estudantes. Segundo as

autoras, é recomendável, no mínimo, seis meses de observação contínua para que

não haja erros quanto aos métodos de lidar com estas crianças com TDAH,

impedindo que as mesmas sejam rotuladas por falta de informações dos docentes e

de profissionais que ajudem no diagnóstico e na intervenção quanto às dificuldades

de aprendizagem.

Eidt(2004) em seu trabalho, alerta para o diagnóstico que se tem dado para o

TDAH, de acordo com os resultados alcançados com a medicação, se o

comportamento da criança medicalizada corresponde aos resultados esperados

conclui-se que ela apresenta o transtorno. Segundo ela, isso ocorre devido ao

avanço da farmacologia e da divulgação que o medicamento consegue resultados

rápidos e eficientes. Fatalmente o diagnóstico diferenciado não acontece,

favorecendo a rotulação, o uso indiscriminado de medicamentos e o fracasso do

estudante como justificativa de um suposto distúrbio.

É bom lembrar que algumas doenças não são reflexos apenas de aspectos

biológicos, uma vez que existem reflexos das relações sociais, os quais não podem

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ser desprezados para não acontecer o erro ao se diagnosticar. A psicologia

considera que homem e sociedade estão ligados, como cita Eidt (2004), “[...]

comportamentos desatentos e hiperativos são também resultantes das contradições

estabelecidas internamente pela sociedade neoliberal”(EIDT, 2004 p.34).

A teoria Histórico Cultural parte da premissa que a transmissão do

conhecimento deve acontecer, considerando a produção histórica dos mesmos, pois

só dessa forma realmente ocorrerá a aprendizagem. Essa teoria está sendo pouco

estudada nas escolas, o que contribui para que muitos professores duvidem da

capacidade de aprendizagem de seus alunos, justificando-se muitas vezes casos de

desatenção, hiperatividade e indisciplina nas escolas. Segundo Eidt (2004), isso

pode explicar os inúmeros artigos que foram escritos na década de 1970 sobre

TDAH: “É interessante notar que na década de 1970 houve tanto a difusão do

ideário escolanovista como o aumento expressivo do número de artigos sobre

TDAH. Possivelmente não se trata apenas de uma coincidência” (EIDT, 2004, p.43).

Dessa forma, é preciso analisar com cuidado especial os acontecimentos

diante dos fatores sócio econômicos num determinado momento histórico da

sociedade, pois os mesmos podem trazer conclusões mais corretas em relação a um

determinado fato que ocorre em um determinado momento histórico trazendo

aumento ou diminuição de índices.

Assim, ao analisarmos um transtorno mental ou um comportamento diferente,

não se pode ver apenas o aspecto biológico, achando isso natural, é necessário que

questões sociais sejam associadas, pois o comportamento do homem difere de

acordo com o período histórico vivido por ele, ficando a cargo da sociedade julgar se

são adequados ou não para época que se está vivendo.

Eidt (2004) faz a crítica quanto ao encaminhamento de alunos com TDAH ao

psicólogo, explicando que os mesmos não consideram o motivo que a criança foi

encaminhada, quais são as queixas que fizeram estas chegarem ao seu consultório,

eles acabam ficando focados apenas na criança.

Outra mudança que se faz necessária, defendida pela autora, é a atribuição

que se dá ao fracasso escolar, culpando a criança, deslocando as questões sociais

para o âmbito individual. Essa ideia reforça que é necessário analisar o momento

histórico em que está inserida a pessoa que possui o transtorno, como destaca Eidt:

“É importante analisar a influência da ideologia neoliberal em relação à subjetividade

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humana, datando as manifestações comportamentais da atualidade como

expressões de um período histórico determinado” (EIDT, 2004, p. 53).

A ideologia vivenciada em cada momento histórico determina o

comportamento da sociedade, necessitando, portanto, de que a mesma seja

analisada para se concluir qualquer tipo de comportamento. Feito isso e

diagnosticado o transtorno, é necessário que vários caminhos sejam levados em

consideração para que se consiga um tratamento eficiente com esse sujeito, isso

requer um conjunto de profissionais envolvidos juntamente com a família para que

se obtenha resultados positivos. A professora M.S.M.F comunga com essa ideia ao

dizer :

Além da medicalização é necessário que esses estudantes, bem como seus responsáveis, recebam acompanhamento psicológico, para orientações acerca de comolidar com situações do TDAH, considerando ainda, que a parceria entre profissionais da saúde, professores e família é de suma importância (M.S.M.F. 2014).

A MEDICALIZAÇÃO COMO TRATAMENTO DO TDAH

Moysés (2013) discorre sobre o assunto numa entrevista para o Portal

Unicamp, explicando que o uso da Ritalina, da família das anfetaminas, que é

prescrita para pessoas que são diagnosticadas com TDAH, vem cada vez mais

sendo alvo de discussões. Alguns defendem este medicamento como sendo a

grande salvação pra quem tem esse transtorno, outros o consideram como uma

droga severa. Este medicamento tem como indicação a melhora da concentração,

diminuição do cansaço e faz com que o indivíduo retenha mais informações em um

tempo menor.

Nessa entrevista, a pediatra e professora Maria Aparecida de Affonso Moysés

(2013) afirma sua grande preocupação com o uso descontrolado dessa droga em

nosso país, ela levanta a questão de estarmos sujeitos à exterminação do futuro e

diz que o mais importante é a orientação familiar.

A doutora explica que o medicamento Ritalina tem como substância o

metilfenidato, o qual estimula o sistema nervoso, aumentando a concentração de

dopaminas que é um neurotransmissor que dá o sensação de prazer nas sinapses,

mas não em nível fisiológico. Segundo ela, o metilfenidato consegue aumentar por

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muito mais tempo a dopamina do que os próprios prazeres da vida, classificando-o

como um mecanismo de dependência química, tal como a cocaína.

Os sintomas desse medicamento, segundo a doutora, podem ser observados

em qualquer livro de farmacologia e dentre eles estão a crise de abstinência se a

criança já desenvolveu dependência química, surtos de insônia, sonolência, piora na

atenção e cognição, surtos psicóticos e alucinações. Podem ocorrer riscos de

suicídios, cefaléia, tontura e um efeito chamado de zombielike, fazendo com que a

pessoa fique quimicamente contida em si mesma. Isso são reações adversas, sinal

de toxidade, podendo também ocorrer alteração no sistema vascular com

possibilidade de hipertensão, taquicardia, arritmia e até parada cardíaca. No sistema

gastrointestinal causa boca seca, falta de apetite, dor no estômago, altera a

secreção de hormônio sexual e diminui a secreção do hormônio de crescimento. Ela

afirma que analisando a relação custo beneficio, não vale a pena o uso desse

medicamento.

Moysés (2013) realiza uma pesquisa onde foram levantadas todas as

publicações de 1980 a 2010 que falavam sobre o tratamento do TDAH e

comprovavam a eficácia do metilfenidato, destes, apenas uma minoria foram

consideradas publicações científicas e estes tinham registros que a orientação

familiar é mais eficaz do que o medicamento. Reforçando segundo a autora a

necessidade das famílias serem orientadas de como se deve lidar com essas

crianças. Os dados dessa pesquisa não trouxeram nada de concreto sobre o

rendimento escolar e nada que mostre a melhora do prognóstico em longo prazo.

Quando o Portal da Unicamp questionou a Doutora sobre quem está sendo

medicado, ela responde que são as crianças que estão sempre questionando, que

sonham, “viajam”. E afirma que o mundo só é transformado por pessoas que ousam

sonhar, questionam e lutam por um mundo diferente. E que os medicamentos estão

impedindo estas manifestações, repetindo a frase de um Psiquiatra Uruguaio, “a

gente corre o risco de estar fazendo um genocídio do futuro”. Que isso pode

provocar empecilhos para a construção de um futuro e um mundo diferentes.

Moysés (2013) se refere à França como um país com índice quase zero de

diagnóstico de TDAH e isso se deve aos valores culturais desse povo e não por ser

esse um país desenvolvido, pois aponta os EUA como o primeiro grande consumidor

de Ritalina, seguido pelo Brasil, deixando claro que isso realmente é por causa dos

valores culturais de cada região geográfica.

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Citamos Mattos (2004) como outro estudioso que fala sobre o uso do

medicamento para tratamento do TDAH. Ele é mais flexível, em seu livro “No mundo

da Lua”,refere-se ao tratamento do TDAH falando da importância da medicação,

desde que seja receitada por profissionais capacitados e competentes, porém,

admite a importância de tratamentos com técnicas psicológicas que podem

colaborar para aqueles que possuem esse transtorno, deixando bem claro que estes

profissionais precisam conhecer muito bem o TDAH.

Ele diz que o TDAH muitas vezes tem como forma predominante a

desatenção, não raras vezes pessoas com esse transtorno acabam sendo rotuladas

como indolentes, preguiçosas, burras ou limitadas. Elas próprias percebem suas

dificuldades, pois sempre precisam de um tempo maior para terminar suas

atividades, aulas de apoio, precisam se esforçar muito mais e mesmo assim não

conseguem tirar notas boas, resultando em uma baixa autoestima, desinteresse

pelos estudos e ansiedade.

No entanto, segundo Mattos (2004, p.105), “Frente a qualquer destes indícios,

é importante que tais comportamentos sejam avaliados por especialistas. É preciso

ter cautela para não se atribuir tudo ao TDAH, também!”

Na realidade, os alunos de hoje tem uma liberdade exagerada pelo próprio

convívio social e muitos deles têm comportamentos que se confundem com os que

têm TDAH, precisando realmente que se analise cada caso para não se chegar a

uma conclusão errada.

Considerando que o número excessivo de estudantes na sala de aula,

contribui para aumentar a dificuldade de se trabalhar com estudantes avaliados com

TDAH, faz-se necessário que o professor perceba que os mesmos têm suas

limitações e que esteja interessado em ajudá-los mesmo sabendo que não é uma

tarefa fácil.

De acordo com o autor, o professor precisa estar atento para poder enxergar

que os alunos com TDAH não atendem as regras não porque não querem, mas

porque não conseguem atendê-las. É preciso procurar formas de manter a atenção

destes alunos e mesmo assim o professor pode perceber que o aluno continua com

dificuldades na aprendizagem, é importante detectar se estes alunos não possuem

outro problema que esteja associado ao TDAH.

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Segundo Mattos (2004), existem outras dificuldades de aprendizagem que

podem acompanhar o TDAH que são os Transtornos do Aprendizado, classificados

em: transtorno de leitura, transtorno da expressão escrita, transtorno da matemática.

Muitas crianças com TDAH e com transtornos de aprendizagem não sentem

prazer com os estudos porque tem consciência de suas dificuldades e não acreditam

que vão conseguir algum progresso significativo, necessitando de algumas

intervenções que possam facilitar sua aprendizagem e consequentemente aumentar

sua autoestima. E muitos educadores defendem o uso da medicalização como mais

um meio de estar auxiliando esses estudantes para o seu sucesso acadêmico, como

podemos ver no depoimento da professora A .B. O. P.:

O uso de medicamento por estudantes com TDAH como forma de terapia sempre causa polêmica, principalmente se a medicação tem a função de alterar, de alguma maneira, as funções cerebrais. Para a neurologia, a terapia medicamentosa costuma produzir resultados confirmados na maioria dos casos. Na minha prática, tenho observado esses resultados em alunos que após uso do medicamento tem conseguindo manter atenção e concentração e concluir com êxito suas atividades, melhorando significativamente sua autoestima (A.B.O.P., 2014).

ALGUMAS POSSIBILIDADES DE INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA JUNTO AO

ALUNO COM TDAH

Os estudos aqui organizados demonstram que o TDAH é bastante

complicado e muitas vezes não entendido, mas os alunos com este transtorno

existem, e estão nos bancos escolares e necessitam de um olhar diferenciado.

Mattos (2004) enumera várias sugestões para trabalhar com estes alunos como:

Nas avaliações sempre levar em consideração o esforço que o aluno teve para

fazer alguma coisa e não o resultado final, não esquecendo a importância em adotar

critérios diversificados.

Os progressos do aluno devem ser sempre elogiados, como que ele tem de bom,

e mostrar que ele é capaz de melhorar se houver esforço da parte dele.

Elogiar quando ele não interromper uma conversa ao invés de criticá-lo quando

faz isso, os elogios são sempre melhores que criticas e castigos e acabam elevando

a autoestima.

Fazer um treinamento para aprender a parar, a olhar a ouvir e pensar antes de

responder. Podendo ser feito em situações do cotidiano de sala de aula.

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Fazer o aluno meditar sobre quais as consequências em fazermos alguma coisa

que desejamos muito.

Para a falta de memória pedir sempre que o aluno leia em voz alta, que repita o

que leu nas partes mais importantes, resumir o que leu tanto em voz alta como por

escrito, fazer lembretes em cartões. Não esquecer que só é possível memorizar

coisas que têm algum vínculo com outra já conhecida. Então, procure sempre

vincular aquilo que se está estudando com algo real da vida do aluno. Outro tipo de

vínculo que ajuda é o visual.

Brincadeiras e exercícios de memorização das coisas do cotidiano ajudam muito

quando se exige memorização nos estudos.

Procurar sempre se comunicar de forma clara com o aluno, sem explicações

longas e com muitos detalhes.

O professor precisa ter a capacidade de modificar as suas estratégias de ensino,

procurando adequá-las ao estilo de aprendizagem e às necessidades do aluno.

Como cita Mattos (2004, p.96) “Se ele aprende matemática melhor com jogos, então

o professor ideal será aquele que consegue produzir uma variedade de jogos

matemáticos interessantes.”

Dividir as tarefas em pequenas etapas, que não exijam muito tempo, conseguindo

maior estímulo por parte dos alunos e o sucesso na realização das mesmas.

Estabelecer rotinas constantes e previsíveis, regras claras.

Procurar sempre colocar limites no comportamento do aluno.

Outro fator importante é que se ouça o aluno, veja suas sugestões para contribuir

com sua aprendizagem, fazendo que ele perceba positivamente a posição do

professor.

O professor deve agir de forma que aos poucos o comportamento do aluno vá se

modificando, mas isso deve ocorrer gradativamente, procurando começar sempre

pelas mais prejudiciais.

A exigência do cumprimento das regras e a flexibilização de comportamento

devem ser equilibradas. O indivíduo com TDAH tem que aprender a obedecer às

regras, mas também deve saber que as mesmas podem ser amenizadas

dependendo do momento, no entanto é preciso que isso seja explicado para ele.

Fazer adaptações tanto de conteúdo como de metodologias que facilitam a

aprendizagem do aluno com TDAH.

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Geralmente estes alunos não conseguem ficar parados por muito tempo, uma

solução seria colocá-lo como ajudante do professor, permitindo sua movimentação

pela sala um pouco mais que o normal.

Os comportamentos adequados devem ser elogiados e premiados.

Quando se inicia algo novo a tendência sempre é de partir do mais simples para o

mais complexo, no entanto é sempre importante lembrar que o que é mais fácil para

os outros alunos tidos como “normais”, pode ser muito difícil para aquele que tem

TDHA.

Outras dicas importantes ao trabalhar com estes alunos: sempre procurar colocá-

los longe de janelas, que façam trabalhos em pequenos grupos, a proximidade com

o professor é muito importante, procurar tanto quanto for possível incentivar a

participação deste aluno nas atividades.

Mattos (2004) afirma que os alunos com TDAH necessitam de um tratamento

diferenciado com o objetivo de aumentar suas chances de serem bem sucedidos,

não se frustrando e percebendo que são capazes de desenvolver as atividades que

lhes são atribuídas. Não pretendemos afirmar que esta seja uma tarefa fácil e

provavelmente, muitas destas dicas não sejam possíveis de serem realizadas por

muitos professores, no entanto, estes alunos estão nas salas de aula do ensino

regular e merecem uma atenção especial.

Como citam as autoras Bonadio e Mori (2013) “Aprendizagem não é

desenvolvimento; entretanto quando intencionalmente organizada pelo professor, ela

mobiliza uma série de processos psíquicos e promove o desenvolvimento.” Dessa

forma, podemos afirmar que tanto o professor do ensino regular quanto o professor

atuando em sala de recurso ou na educação especial propriamente dita, necessita

ter um nível mínimo de conhecimento sobre as características desse transtorno, para

que ele possa, a partir desse conhecimento, idealizar e elaborar estratégias didático

pedagógicas visando atender às necessidades educacionais que são próprias do

indivíduo com o transtorno de déficit de atenção/hiperatividade, como bem relata a

professora R.S.R.:

Estes estudantes precisam de um olhar diferenciado por parte do professor, para que eles possam perceber que são capazes de realizar as atividades propostas, não se frustrando e sendo estimulados a demonstrarem suas capacidades, para tanto o professor precisa lançar mão de várias estratégias como as citadas por Mattos para contribuir com a superação das

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diversas dificuldades que são enfrentadas pelos mesmos no seu dia a dia acadêmico (R.S.R. 2014).

O QUE OS PROFESSORES CONTAM SOBRE O TDAH: ENTREVISTAS

Para dar início às atividades de implementação do projeto na escola,

consideramos importante investigar quais os conhecimentos que o grupo de

participantes tinha a respeito do TDAH. Para isso, elaboramos algumas questões

que foram respondidas pelos professores e que posteriormente, nortearam os

trabalhos.

Ao serem questionados se sabiam identificar os estudantes de sua turma que

recebiam atendimento em Sala de Recursos Multifuncional Tipo I (SRM), a maioria

dos professores respondeu que conseguiam identificar, principalmente por eles

apresentarem algumas dificuldades e limitações para acompanhar suas aulas.

Ao perguntarmos quais dificuldades encontradas ao trabalhar com esses

alunos, foram apontados o número elevado de alunos por sala, comprometendo o

atendimento individualizado que os mesmos necessitam e as adaptações nas

atividades. Os professores da disciplina de Língua Portuguesa destacaram que os

alunos enfrentam muita dificuldade na produção textual, por conta da sequência, da

coerência e da coesão.

Ao se levantar a questão sobre o conhecimento dos professores a respeito do

transtorno de aprendizagem, as respostas obtidas foram: defasagem na

aprendizagem; inabilidade específica na aprendizagem da leitura, escrita ou cálculos

matemáticos; disfunção a nível neurológico; dificuldades na aprendizagem, na

concentração e na atenção.

Quando perguntamos se eles consideravam que o atendimento educacional

especial em Sala de Recursos propiciava progresso na aprendizagem dos alunos

TDAH, todos concordaram que esse atendimento é muito satisfatório quando feito

por profissionais capacitados e comprometidos, resultando em avanços

consideráveis no ensino regular.

Outra questão levantada foi quanto à importância dos professores do ensino

regular terem conhecimentos sobre o TDAH, todos afirmaram que é necessário que

se tenha esse conhecimento, pois é o mesmo que contribuirá para que o trabalho

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feito com esses alunos seja adequado, respeitando suas limitações e especificidade,

possibilitando uma intervenção adequada.

Ao perguntarmos se eles tinham conhecimentos das especificidades dos

sintomas do TDAH e qual delas considerava a mais difícil de trabalhar no ensino

regular, apenas um não soube responder, os outros destacaram a falta de atenção e

hiperatividade como sintomas, dando ênfase à questão comportamental como a

mais difícil de ser trabalhada.

Outra pergunta foi se os mesmos tinham conhecimento de quem era o

responsável em dar o laudo de transtorno de aprendizagem em especifico do TDAH,

quase todos os professores têm consciência de que esse é feito por um profissional

da área da saúde especializado em neurologia.

Ao se pedir que fossem pontuados os critérios que deveriam ser observados

para diagnosticar o TDAH, mais uma vez foi salientado o déficit de atenção, a

hiperatividade e a impulsividade.

A medicalização é uma questão bastante polêmica, ao perguntarmos aos

professores sobre suas opiniões a esse respeito, podemos perceber nas respostas

de alguns uma preocupação com o uso de medicamentos, com alegações de que os

mesmos trazem prejuízos como sonolência, dependência, perda de peso, dores

abominais entre outros, porém já observaram melhoras na aprendizagem dos

estudantes após o uso da medicalização.

Quando se perguntou sobre como deveria ser o tratamento do estudante com

diagnosticado com TDAH, a questão da medicalização volta a surgir como um mal

necessário para amenizar o transtorno, no entanto ele não deve ser utilizado sozinho,

é necessário que haja um acompanhamento por vários profissionais, e não apenas

com o estudante, mas também com a família deste.

Para encerrar as questões, perguntamos como deveria ser o atendimento

educacional dos indivíduos com TDAH, os professores afirmaram que é necessário

que o mesmo seja respeitado em suas necessidades, tenham o direito de receber

acompanhamento na educação especial com um professor especializado,

atendimento com profissionais na área da saúde e ter principalmente a família como

apoio em todos os momentos.

Mediante as respostas dadas, pudemos perceber que existe, por parte dos

professores, um conhecimento tácito sobre o que vem a ser esse transtorno, para

clarear essa informação se faz necessário apresentarmos os temas trabalhados

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como também o objetivo traçado para cada um, conforme elencamos o quadro

abaixo.

Síntese do conteúdo da Implementação Pedagógica:

ENCONTROS TÍTULO OBJETIVO

1º Alguns aspectos históricos do TDAH

Conhecer a história do TDAH.

2º Conceitualização do TDAH Evidenciar a importância do conhecimento para trabalhar com alunos que possuam esse transtorno

3º Como são os diagnósticos do TDAH?

Perceber a importância do diagnóstico correto

4º Tratamento do TDAH Entender as possibilidades de tratamento.

5º A medicalização como tratamento do TDAH

Refletir sobre o uso da medicalização

6º Algumas possibilidades de intervenção pedagógica junto ao estudante com TDAH

Escolher possibilidades de intervenções de acordo com sua realidade

7º Intervenção pedagógica Escolher possibilidades deintervençõesde acordo com realidade.

8º Entrevistas - O que os professores contam sobre o TDAH

Compreender que é possível desenvolver com esses estudantes trabalhos pedagógicos satisfatórios.

Através desse quadro, podemos sintetizar o trabalho desenvolvido nesta

implementação, esclarecendo que os temas trabalhados procuraram atender ao

objetivo proposto, de que a partir do conhecimento a respeito do TDAH podemos

levantar algumas possibilidades de intervenção pedagógica que contribuíram com o

processo de ensino-aprendizagem dos estudantes do ensino regular diagnosticadas

com esse transtorno.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A participação no PDE possibilitou um espaço significativo para estudar sobre

o TDAH, e, com esse conhecimento, foi possível levantar possibilidades de algumas

intervenções pedagógicas que puderam facilitar o ensino-aprendizagem dos alunos

avaliados com esse transtorno. É importante reconhecer que na escola esse projeto,

tem um total de 198 (cento e noventa e oito) estudantes dos quais 16 (dezesseis)

têm diagnóstico de TDAH, desses, um número de 08 (oito) estudantes fazem uso do

medicamento conhecido pelo nome de Ritalina, um número bastante expressivo se

levarmos em consideração os dados levantados pelo NRE, cuja estatística revela

um total de 174 (cento e setenta e quatro) estudantes com esse diagnóstico,

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lembrando que 74 (setenta e quatro) são das escolas Municipais e 100 (cem) são

das escolas Estaduais.

Convém pontuar que no projeto de implementação, preocupamo-nos em

analisar o conhecimento que os professores tinham sobre o TDAH. No questionário

inicial percebemos que existia por parte dos professores algum conhecimento sobre

o assunto, no entanto, a dúvida estava em como trabalhar com esses alunos e, para

isso, houve a necessidade de uma discussão mais aprofundada em vários

encontros, para que pudéssemos enriquecer esses conhecimentos, na tentativa de

contribuir com uma prática pedagógica.

Nessa etapa de implementação, por meio dos estudos propostos, o grupo

pode realizar um paralelo entre a teoria e a prática, apontando as convergências e

divergências entre elas.

No primeiro encontro o tema trabalhado discorreu sobre alguns dados

históricos do TDAH, oportunizando ao grupo o conhecimento de como vem sendo

discutido esse transtorno ao longo dos anos, o que facilitou a todos a compreensão

de que para se chegar à atual nomenclatura foram realizados diversos estudos e

pesquisas sobre o assunto.

A partir do resgate da história do TDAH, foi possível apresentar a

conceitualização do mesmo embasado nos estudos de Arruda (2006) e Mattos

(2004), que definem o TDAH como um transtorno mental de origem neurológica, que

tem como sintomas a dificuldade de atenção, a hiperatividade e a impulsividade.

Esses dados foram recebidos pelos participantes como um suporte ao seus

trabalhos em sala de aula, reforçando a ideia de que o conhecimento sobre o

assunto dará sustentabilidade a seus trabalhos com os estudantes com TDAH,

permitindo aos mesmos um melhor desempenho acadêmico.

O diagnóstico do TDAH é discutido por vários estudiosos, e apontado como

frágil, pois não existe nenhum exame que comprove o mesmo, o instrumento

utilizado é um questionário respondido por pais e professores e analisado por um

médico neurologista. Após analisar esse questionário as professoras participantes

desse curso concordaram que é preciso muito cuidado ao dar o diagnóstico, pois

muitos de nós poderíamos, de acordo com ele ser diagnosticados com o TDAH.

A partir do laudo médico, é preciso que se passe para o tratamento, e esse

deve ser feito com algumas considerações, como o cuidado com a medicalização,

que só deve ser administrada ser for receitada por profissional capacitado,

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acompanhamento de profissionais diversificados, considerar que, além da parte

biológica, as questões sociais e professores informados sobre esse transtorno fazem

a diferença. O grupo de professores participantes do curso acredita que para se ter

resultados positivos no tratamento é necessário uma parceria entre pais professores

e profissionais das diversas áreas da medicina.

Um tema bastante polêmico tratado neste curso foi a questão da

medicalização, debatido a partir de estudos da doutora Moysés, uma das pessoas

que faz severas críticas sobre o uso da Ritalina, medicamento utilizado para o

tratamento desse transtorno, dando ênfase aos prejuízos que o mesmo causa e

levantando a questão de que as indústrias farmacêuticas são as principais

beneficiadas com o uso desse medicamento. Já Mattos acredita que o mesmo é

importante no tratamento do TDAH, mas deve ser indicado por profissional

capacitado. As professoras não discordam das colocações de Moysés, no entanto

relatam que vários alunos ao usarem esse medicamento melhoraram em suas aulas

conseguindo acompanhar os demais colegas de sala.

O objetivo principal desse trabalho foi levantar e analisar com os professores

algumas possibilidades de intervenções junto aos alunos diagnosticados com TDAH.

Embasados nos estudos de Mattos, foram levantadas várias possibilidades,

chegando-se à conclusão que é necessário uma flexibilização constante para

adaptar o ensino ao estilo de aprendizagem do aluno, independente do número de

alunos, de conteúdo a ser trabalhado, ou o pouco tempo de aula; a metodologia

utilizada precisa ser flexível e adequada às diferentes necessidades e realidades.

Faz-se necessário lembrar que esses alunos estarão em sala de aula juntos com

outros tantos, com a mesma idade e talvez mesmos anseios, é provável que com

níveis de conhecimento semelhantes. As estratégias e metodologias precisam ser

introduzidas e desenvolvidas no decorrer das aulas com todos.

Na entrevista realizada com os professores, em dois momentos distintos,

antes da implementação do projeto e após os estudos realizados pode-se observar,

pelas respostas dadas, que a maioria dos professores tinham uma noção sobre o

que vem a ser esse transtorno e como ele é maléfico aos estudantes, no entanto as

respostas obtidas no final da pesquisa, demonstraram maior convicção por parte dos

professores sobre o tema em questão. Eles deixaram claro que é preciso ter

conhecimento sobre a dificuldade do aluno e a partir daí procurar metodologias que

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possam minimizá-la, considerando que vários fatores interferem na aplicação das

mesmas, no entanto, não conseguem impedir que elas aconteçam.

Dessa forma, consideramos que o trabalho contribuiu para reafirmar a

necessidade de um novo olhar acerca da prática pedagógica que está sendo

utilizada pelos professores que trabalham com estudantes com TDAH que existem

possibilidades de intervenções que podem favorecer o ensino-aprendizagem desses

alunos. O professor tem papel fundamental no processo de aprendizagem e saúde

mental de seus alunos. Sendo assim, a mediação por parte dos professores em

relação à hiperatividade e o conhecimentos dos procedimentos adequados e o

próprio diagnóstico, são essenciais, se a escola pretende desenvolver um trabalho

pedagógico para poder contribuir no processo ensino aprendizagem.

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REFERÊNCIAS

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BONADIO,Rosana Aparecida Albuquerque; MORI, Nerli Nonato Ribeiro. Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade: Diagnóstico e Prática Pedagógica. Maringá: Eduem, 2013.

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EIDT, Nadia Mara. Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade: Diagnóstico ou Rotulação? Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia do Centro de Ciências da Vida PUC – Campinas como parte dos requisitos para obtenção de título de mestre em Psicologia Escolar. Campinas – SP, 2004.

FELTES Adriana Maria; PRICHULA Leila Maria A escola e o professor perante o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade(orgs)TIBURSKY, Alessandra; FINK, Rosane de F. Ferrari, CANAN Silvia R.. Psicopedagogia em Debate - Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões Frederico RS: URI/FW, 2010. – (Série Pesquisa em Ciências Humanas). Disponível em: <http://www.fw.uri.br/site/publicacoes/Publicações arquivos / 120.pdf>. Acesso 14em mai. 2013.

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MATTOS, Paulo. No mundo da Lua: Perguntas e respostas sobre o transtorno do déficit de atenção com hiperatividade em crianças, adolescentes e adultos, 4º ed. – São Paulo: Lemos Editorial, 2004.

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