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Os Dilemas da Tradução

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http://web.archive.org/web/20090724023328/http://www.sobresites.com/alexcastro/artigos/traducao.htm[30/01/2013 00:03:08]

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Os Dilemas da Tradução

A leitora Denise se insurgiu contra uns comentários que fiz sobredublagem. Ela escreveu:

"Percebo em você um preconceito comumnos brasileiros: "filme dublado é ruim".Engana-se. Enquanto você não perde tempolendo legenda - que nem sempre é bemtraduzida -, você presta mais atenção nacena. E a dublagem feita no Brasil éconsiderada uma das melhores do mundo. Euvejo filme legendado também, mas acho puropreconceito achar que dublagem só "estraga"filme. Para captar a essência de um filmesem interferências, teríamos que dominar alíngua... o que raramente acontece."

Esse assunto é interessantíssimo. Vou tentar aqui discutir os prós econtras da dublagem e das legendas e ainda vou aproveitar prafalar sobre tradução literária e outras questões mais transcendentais.

Afinal, o que é mais importante: entender uma obra de arte ousentir uma obra de arte?

Preconceito ou Pós-Conceito?

Pra começar, não dá pra ter preconceito contra dublagem. A nãoser que você pegue um daqueles índios do meio do nada, que aindanão teve contato com a civilização, explique pra ele o que é umfilme, o que é uma televisão, o que é dublagem e só então perguntea opinião dele. Aí sim, se o índio disser: "Mim pensa que gravar vozno língua pátria sobre o voz original é uma método pobre comparadocom inserir letrinhas no canto inferior da tela", você vai poder tercerteza de estar diante de um caso flagrante de preconceito.

Quanto a mim, e todas as outras pessoas que conheço, nossoprimeiro contato com filmes e programas dublados foi muito, muitoanterior a qualquer conceito que pudéssemos ter formulado sobre oassunto. Você pode até discordar da minha opinião sobre dublagem,e minha opinião pode até estar errada, mas ela foi formulada comtotal conhecimento de causa, depois de uma vida inteira deexposição a programas dublados. Não é preconceito, é pós-conceito.

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Dominando Línguas

Pela sua última frase, "para captar a essênciade um filme sem interferências, teríamos quedominar a língua..." acho que me enquadronesse caso. Fui educado em escola americanae falo inglês tão bem quanto falo português.Pra mim, ver Magnólia dublado em portuguêsseria tão esdrúxulo quanto ver Os Normaisdublado em espanhol. Pode ser atédivertido como curiosidade, mas um filmelegal, que eu vi que tem potencial, eu nãovou assistir assim pela metade.

Eu deixo de ler um livro pra não ler emtradução. Livros que foram escritos eminglês, espanhol e (por que não?) português

eu não leio em outra língua de jeito nenhum.

Meu projeto atual é alcançar esse nível de fluência em italianotambém. Já li Il Conformista, do Moravia, e Il Deserti deiTartari, do Buzzatti, no original, mas precisei suar a camisa edemorei muito. Svevo e Lampedusa eu confesso que ainda leio emtradução, mas chego lá.

Ficou estabelecido, então, que eu ter desligado o Magnólia dubladonão foi nem preconceito e nem, digamos, pirraça contra dublagem,pois como eu entendo inglês perfeitamente, não haveria porque verem português.

Mas, independente de tudo isso, dublagem é muito, muito ruimsim.

Prós e Contras da Dublagem

Ficou estabelecido, então, que eu ter desligado o Magnólia dubladonão foi nem preconceito e nem, digamos, pirraça contra dublagem,pois como eu entendo inglês perfeitamente, não haveria porque verem português.

Mas, independente de tudo isso, dublagem é muito, muito ruimsim.

E digo isso não só como consumidor/espectador, mas tambémcomo profissional da área (já trabalhei muito com tradução e,durante dois anos, fui tradutor full-time) e vítima (na minhacondição de escritor/roteirista).

A questão central é simplesmente definir qual método, dublagem oulegendas, é o menos intrusivo.

Dublagem Sacrifica o Lado Auditivo

A dublagem torna impraticáveis filmes baseados em diálogo. MontyPython, Woody Allen ou Irmãos Marx perdem cerca de 60% doconteúdo se dublados. Melhor nem assistir.

Muitos atores são conhecidos por suas vozes. É comum diretoresescalarem determinados atores justamente por causa de suas vozes etimbres, dicção e sotaque. Tudo isso se perde na dublagem.

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Algumas vezes, a própria fama do ator vem de sua voz. Nunca viGuerra nas Estrelas dublado, mas duvido que a voz do Darth Vaderbrasileiro seja mais sinistra do que a voz do James Earl Jones, porexemplo.

A dublagem sacrifica os sotaques. O fato de uma southern belleem Nova Iorque ser zoada por seu arrastado sotaque sulista podefazer uma diferença vital na trama, mas o espectador de um filmedublado jamais saberá disso.

Quem vê Star Trek na televisão e não escuta o forte sotaque russodo Chekhov não entende metade do personagem, como ele se vê ecomo é visto pelos outros. Tudo perdido.

É incrível imaginar as distorções que podem ser causadas nacabeça de alguém que só assiste filmes dublados na TV aberta.

Imaginem um super fã do Schwarzenegger, que viu todos os seusfilmes, mas não sabe que ele fala com um carregadíssimo sotaquealemão.

Imaginem alguém que assistiu a vários filmes com a Jennifer Tilly,até acha que ela é boa atriz e se pergunta porque será que ela nãofaz mais filmes?, sem nunca saber que sua voz de taquara rachadaé uma das mais insuportáveis de todos os tempos.

Concordo plenamente, claro, com a dublagem de filmes infantis.As crianças raramente têm velocidade o suficiente para acompanharas legendas. Pra mim, é uma merda, mas não tem problema, assistoem dvd.

Pior são os países em que a dublagem é obrigatória. Na Alemanha,por lei, todos os filmes que passam no cinema são dublados. Comcerteza, alguma antiga lei nazista que os aliados esqueceram dederrubar.

Eu assisti Life of Brian, do Monty Python,pela primeira vez em um cinema alemão.Foi uma experiência desagradável, ainda maisporque não consegui pegar a menina que foiao cinema comigo. Ela era brasileira também,falava alemão fluente, devia saber que aúnica coisa que me arrastaria pra dentrodaquele cinema seria a possibilidade detascar-lhe um beijo. Pois ela me fez verMonty Python em alemão e nem um beijinhoa cretina liberou.

Aqui em casa, minha mulher assiste muitatelevisão. Muitas vezes, eu estou na sala trabalhando e fico ouvindoos diálogos. É surreal. Parece que ela está sempre assistindo aomesmo filme. Devem haver só uns 20 dubladores no Brasil. São asmesmas vozes, programa após programa. As mesmas mocinhas, osmesmos heróis, os mesmos bandidos.

Imagino as dificuldades dos cegos. O Pikachu das 10hs é o PauloOtávio das 18hs e o traficante boliviano das 21hs. Você não sabenem quem visualizar, nem como se orientar.

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Com exceção de analfabetos e crianças, só há um tipo de pessoa quevai preferir dublados: aquelas muito visuais e pouco auditivas.

Pra pessoas assim, abrir mão do aspecto sonoro, que lhes soainsignificante, é um sacrifício pequeno comparado a não ter maisaquelas letrinhas incômodas poluindo a tela e impedindo uma boavisão da cena como visualizada pelo diretor.

Eu confesso que, como pedólatra, já fiquei injuriado muitas vezespelas legendas estarem bloqueando logo os pezinhos das atrizes.

Esse talvez seja o melhor argumento em favor da dublagem.

Legendas Sacrificam o Lado Visual

Não pensem que gosto de legendas. Legendas são uma merda.

Ler legenda é um hábito detestável. Falam que os americanos têmpreconceito contra filme legendado, e é verdade, porque americanodetesta consumir cultura estrangeira, mas, por outro lado, lerlegenda é muito difícil e custoso sim. A gente faz isso tanto que nãose dá conta do esforço que é. Passem um ano só assistindo filmebrasileiro, ou morando nos EUA, e tentem depois ver um filmelegendado. Não é fácil ler e assistir ao mesmo tempo. Só com muitotreino.

Eu odeio mesmo filme legendado. Não é brincadeira. Sou escritor,obcecado por letrinhas. Leio até embalagem de pasta de dente.Mesmo não precisando, não consigo não ler as legendas. Elas sugammeu olho, diluem minha atenção, abafam o filme.

A melhor coisa do dvd é poder ver filmes com som original, semlegenda. Não ter legenda melhora até a minha compreensãoauditiva: você ouve melhor quando não está tentando ler outracoisa.

Há filmes eminentemente visuais. Planoslongos, cenários belíssimos, detalhes emcada canto. Quem lê legenda, perde tudoisso. Perde não só porque a legenda bloqueiaparte da tela como também, maisimportante, porque o olho preso nasletrinhas não passeia pela tomada.

Legendas são ideais para filmes baseados emdiálogo - a grande maioria, hoje em dia.Assim, de cabeça, eu não consigo pensar emnenhum filme tão visual que seria melhorassisti-lo dublado. Talvez Lawrence ofArabia. Sugestões serão bem recebidas.

Houve pelo menos um filme que me impressionou tanto visualmenteque eu voltei para assisti-lo dublado, para aproveitar melhor. Jádesisti de tentar lembrar que filme foi.

Romeo + Juliet, do Baz Luhrman, porexemplo, é o meu filme preferido de todos ostempos. O lado visual é forte, potente,belíssimo, mas se você colocar o Di Capriodeclamando Shakespeare em português,

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eu iria rir tanto que nem conseguiriadegustar o visual.

A Denise apontou, com muita propriedade,que muitas vezes os filmes legendados sãomal-traduzidos. Mas, pelo menos, com aslegendas, o espectador tem a possibilidade decaptar o erro, de comparar a legenda com oque ele ouviu. Para quem tem força de vontade, um filme legendadopode ser uma boa maneira de treinar seu ouvido em uma línguaque esteja aprendendo.

De qualquer modo, acho que dá pra ficar razoavelmente estabelecidoque dublagem é preferível para filmes eminentemente visuais e parapessoas mais visuais que auditivas. Por outro lado, legendas sãopreferíveis para filmes baseados em diálogo e para pessoas maisauditivas do que visuais.

Tendo sempre em mente que o objetivo da boa tradução é transmitiro sentido original com o mínimo de interferência, a pergunta é: qualdesses dois métodos oferece menor interferência?

Você e Cervantes, Sozinhos noQuarto

O objetivo de qualquer boa tradução écolocar você em contato com o original, como mínimo de interferência possível.

Ano passado, decidi ler o Quixote. Eu tinhaduas edições aqui em casa, uma em inglês euma em português. São duas línguas quedomino igualmente bem. Poderia ler o livroindiferentemente em qualquer uma delas.Escolheria o português apenas por ser bemmais próxima ao original.

Só que encasquetei de ler em espanhol. Leio espanhol bem, emboranão fluentemente, como inglês e português. Pior, seria espanhol doséculo XVII. Eu não iria compreender tudo.

Mas compreensão não é tudo.

Não há nada que substitua estar sozinho em um quarto comCervantes. Ler uma tradução seria como levar mais uma pessoa pracama conosco. Quase um adultério: tradutore traditore.

Cervantes está me dizendo: "En un lugar de la Mancha, de cuyonombre no quiero acordarme, no ha mucho tiempo que vivia umhidalgo de los de lanza en astillero, adarga antigua, rocin flaco ygalgo corredor."

E eu, ao invés de ouvir essa bela frase em sua própria voz, como sehouvesse sido recém-proferida, teria que ouvi-la distorcida porséculos de distância e pelo conhecimento de um terceiro, que eu nem

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sei quem é, ou quais suas qualificações: "In a village of La Mancha,the name of which I have no desire to call to mind, there lived notlong since a gentleman that kept a lance in the lance-rack, an oldbuckler, a lean hack and a greyhound for coursing."

Ou então, na mais recente tradução brasileira, recém-lançada pelaEditora 34: "Num lugarejo em La Mancha, cujo nome ora me escapa,não há muito que viveu um fidalgo desses com lança guardada,adarga antiga, rocim magro e bom cão caçador."

Leiam com carinho as três versões. Sei que todo brasileiro tem umconhecimento inato de espanhol. Usem-no. Saboreiem o primeirotrecho. É a voz do próprio Cervantes. Não há substituto pra isso. É omais perto que o ser humano pode chegar da imortalidade.

A princípio, lendo essa frase, você pode até se sentir ignorante, ouconcluir que está perdendo muito por ler Cervantes no original.Afinal, o que é "lanza en astillero" (lança no artilheiro?), "adargaantigua" (uma adaga antiga?) ou "rocin flaco" (uma roca fraca?).Mas aí você lê o trecho em português e percebe que ele não é lámuito diferente nesse sentido. Adarga antiga? Rocim magro? Ficouna mesma.

Quem lê a primeira frase em espanhol não precisa conhecer todasaquelas palavras citadas pra entender o espírito da coisa: estamosfalando de um hidalgo à moda antiga, mantenedor das tradições masum pouco decadente. A leitura das próximas frases só fará confirmarisso.

O significado exato de rocin é irrelevante,mas em breve vai ficar claro, pelo contexto,que rocin é um cavalo. Adarga é um tipo deescudo que, já naquela época, era obsoleto.

E se o brasileiro não souber disso e pensarque adarga, na verdade, é adaga? Simples:isso não vai fazer a menor diferença, anão ser que ele encuque e decida procurar otermo numa enciclopédia até encontrar.Leitores assim demoram três horas pra lerduas páginas em língua estrangeira e logodesistem.

Ao ler um texto literário, sua última preocupação deve ser entendertudo. Largue as palavras individuais pra lá. Atire-se na corrente edeixe o texto te levar. Se alguma palavra realmente for essencial, elaserá repetida, o contexto ajudará. Na pior das hipóteses, vocêprocura no dicionário aquelas poucas palavras que criaremproblemas. Mas, via de regra, siga adiante. As palavras são pedraspelo caminho, concentre-se no romance, confie na estrada.

Tradutore Traditori

Jorge Luis Borges dizia que há dois tipos de tradutor.

Um se contenta em simplesmente traduzir, sem tentar melhorar ooriginal. Esse, diz Borges, é um medíocre e não me interessa.

Outro, mais literário, não resiste a melhorar o texto aqui e ali, eacaba criando um novo texto. Esse é ainda mais perigoso.

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Não há como fugir. O problema das legendas e da dublagem é oproblema intrínseco da tradução: qualquer tradução, por maisbem-feita que seja, às vezes por ser bem feita, sempre acabadistorcendo o texto original - especialmente se for literário.

Na Rússia, o nosso ditado "Não conte com o ovo no cu dagalinha" é "não conte com a pele antes de matar o urso."

Digamos que, no meio de um romance russo, um dos personagens,querendo algo pra ontem, pressione outro personagem e esseresponde: "Calma, Dmitri, a pele do urso já vem" ou então "relaxaque o urso ainda está vivo." Naturalmente, para o leitor russo,esse diálogo remete imediatamente ao ditado que todo mundoconhece.

Mas como traduzir a frase para o português?

A primeira opção, dos medíocres de Borges, é traduzi-la assimmesmo e o leitor que se foda. Quase sempre, verdade seja dita,essa opção não é bem uma opção. O tradutor medíocre faz isso porignorância, por não conhecer o ditado original e por ignorartotalmente aquela cultura. Ele acha que a frase é algum non-senseque ele não entendeu e passa ela adiante como a encontrou,torcendo pra ninguém perceber.

O segundo tradutor, o literato, só tem compromisso: o bomentendimento do texto. Muda e adapta sem dor na consciência.Então, traduz a frase como "Calma que a galinha ainda nem botou oovo" e, se o leitor não souber que o ditado com a galinha não existeem russo, nunca vai sentir a diferença.

Borges é um pouco injusto com o tradutor literato, Ele, às vezes, éuma força do bem. Outras vezes, claro, você fica perplexo aoencontrar um personagem em um romance italiano da década de 50imitando o Chacrinha. E você coça a cabeça e pensa: não deve tersido isso que o Moravia escreveu!

Há um terceiro tradutor, o acadêmico. Esse coloca uma nota de péde página e explica que o Stefano está imitando o PolpetoneParmigiano (1899-1960), um dos pioneiros dos programas deauditório na Itália, cuja atração El Stromboli foi o maior sucesso datevê italiana na década de 50 e, até você acabar de ler essalonguíssima e absolutamente inútil nota de rodapé, você já perdeu oritmo do romance, esqueceu com quem o Stefano estava falando e selembrou que vai começar a novelas das oito, esse negócio de lerlivro é muito complicado.

Tradutor é pior que goleiro. Tradutor e goleiro você só reparaquando erra. Mas o goleiro, pelo menos, quando pega o pênalti, viraherói, ninguém tem o que reclamar.

Já o tradutor está sempre errado. Não tem jeito. É inerente.

Não há caminho certo, método unânime: só pencas de contras ealguns poucos prós.

Traduzir Literatura e Traduzir Cinema

Traduzir literatura é mais difícil do que traduzir cinema. Na literatura,

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a linguagem é tudo. Todo e qualquer significado será transmitidosomente pela linguagem.

Cinema, entretanto, é bem mais complexo de traduzir do queliteratura. No cinema, as variáveis se multiplicam. Na literatura, avariável é uma só.

Traduzindo Quadrinhos

Fui Editor de Texto da Revista Mad. Uma das minhas tarefas eraencaixar o texto traduzido no balão. Não era fácil. O balão éadaptado ao tamanho da frase e o tamanho da frase em inglês erasempre menor. Fazer adaptações para o texto caber no balão até queera fácil: o desafio era fazer isso sem matar a piada. Muitas vezes,quando não dava mesmo, a gente simplesmente sentava, mudavatudo, inventava uma nova piada e bola pra frente.

Tradução para Dublagem

Traduzir para dublagem deve ser o inferno.

Como a própria Denise apontou (e eu reiterei antes da hora, pra nãome lincharem), a dublagem brasileira é ótima: a frase nunca sobra,nunca falta, sincronia labial perfeita.

Só quem encaixa piadas em balões sabe o valor que isso tem.

Posso imaginar a cena:

Zé, não coube. Corta mais alguma coisa.

Caralho, não tem mais o que cortar, não dá para o dublador falar umpouquinho mais rápido?

Não, porra! O personagem é calmo e ponderado, não vai dispararfalando rápido só porque você não conseguiu cortar a frase. Te vira,Zé!

E lá se vai o Zé ralar o cu nas ostras pra tentar descobrir um modomeio segundo mais curto de dizer "Reúna os homens no saloon àsquatro horas."

Todos os tradutores e dubladores têm a minha irrestrita simpatia eadmiração. E têm também todas as minhas críticas, as mesmas queeu me fazia quando traduzia, revisava tradução e encaixava texto embalão.

Literatura Intraduzível: Ulysses, de James Joyce

Sempre fico espantado quando alguém mediz que leu Ulysses em tradução.

Ler Ulysses em português é trapaçaintelectual.

Quem lê Ulysses em português não quer lerUlysses: quer dizer que leu Ulysses. Quemquer ler Ulysses, conhece o bastante sobre aobra pra saber que Ulysses é intraduzível.Quem quer ler Ulysses aprende inglês

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primeiro. E é melhor aprender muito bem,pois a maioria dos falantes nativos de inglêstambém não consegue ler Ulysses no original.

Joyce dizia que literatura não é pra dizer, é pra fazer: "I havediscovered that I can do anything with language I want." Ulysses éexperimentação narrativa pura. Tire isso do livro e o que sobra éuma história absurdamente prolixa sobre um dia em Dublin.

Não saber ler inglês não é vergonha alguma, mas essas pessoas nãotem nada que ler Ulysses.

A regra vale para qualquer romance experimental, ou que dependafundamentalmente da linguagem em detrimento do enredo.

Li um pedaço da tradução de Grande Sertão: Veredas para oinglês: Devil to Pay in the Backlands. O tradutor, sabiamente, nemmesmo tentou adaptar a linguagem rosiana. Mas também, sem isso,sobrou muito pouco: só uma história de cowboys e cross-dressing.

Literatura Intraduzível: EugeneOnegin, de Puchkin

Alguns devem estar dizendo: o homem lêinglês, espanhol e italiano, é fácil pra ele memandar desistir de Ulysses. Mas já senti issona pele também.

Amo os russos. Gogol, Tchecov, Turgenev,Dostoievski, Tolstoi, Bulgakov, Zamiátin,Gorki, um melhor que o outro.

Só não entendo a adoração que os russostêm por Puchkin. Li alguns contos e não vi

nada de mais. Tsc tsc, pensou o leitor de Devil to Pay in theBacklands, o que os brasileiros vêem nesse tal de Rosa?

Os russos, por algum motivo insondável para estrangeiros,consideram Puchkin seu maior escritor, o inventor da moderna línguarussa. Mais estranhamente ainda, os ciumentos russos se orgulhamde que só eles reconhecem o valor de Puchkin. Seu gênio, dizem, sóse manisfesta em russo e, principalmente, em seus longos poemas,como Eugene Onegin. Assim como o Alcorão, Puchkin, só nooriginal.

Até comecei a ler uma tradução de Eugene Onegin, mas desisti.Perda de tempo. Gosto tanto dos russos que talvez seja um bominvestimento de tempo aprender a língua. Nesse dia, eu vou

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descobrir se Puchkin é bom mesmo.

Até lá, quem não sabe russo não tem nada que ler Eugene Onegin.

Compreensão Não É Tudo

Começamos falando sobre os prós e contras de dublagem e legendas.Depois, saí em uma aparente tangente sobre intereferência emtradução. Dentro disso, falei dos estilos de tradução: literal,metafórica e acadêmica. Terminei comparando as dificuldadesinerentes à tradução em cinema, quadrinhos e literatura.

A função da tradução é colocar o leitor/espectador em contatodireto com o artista, fazê-lo sentir a obra. Compreensão não é tudo.

Por isso, o maior argumento contra a dublagem é o artístico.

O Hamlet do Olivier

Quem vê o Hamlet, do Olivier, vê porque é o Hamlet do Olivier.Quem vê o Hamlet do Olivier está querendo ver um grande ator emsua maior forma. Quem vê o Hamlet do Olivier quer ver suaexpressão corporal, seus gestos, seus olhos e, também, quer ouvirsua voz, seu timbre, sua intonação. Não a voz do rapaz que dubla oHe-Man!

Colocar uma outra voz por cima da do Olivier é um desrespeitoquase criminoso. Equivale a dizer que é tudo muito bom, mas queo que importa mesmo é a cara dele, sua expressão corporal. O restoé detalhe. A gente pode colocar outro cara falando por cima que nãovai fazer falta alguma. Quem liga pra voz dele?

Meu trecho preferido da peça é quando Ofélia está tentandoconvencer Hamlet a deixar de ser maluco e ele manda ela ir pra umconvento: "Get thee to a nunnery! Why wouldst thou be a breederof sinners?"

Há tantos modos de se interpretar essa cena. Hamlet pode dizer issonum surto de raiva, pode dizer isso com indifirença. Eu prefiroquando ele diz isso com malícia, quase que zoando da pobrezinha.

Em última análise, pessoas como Lawrence Olivier, MarceloMastroiani e Antônio Fagundes passam suas vidas se preparando paradizer frases como essas da melhor maneira possível.

Se o moço da Hebert Richers conseguir dizer "Vá pra um convento!Pra que ser, você também, uma parideira de pecadores?" com amesma força e intensidade com que Olivier diz "Get thee to anunnery! Why wouldst thou be a breeder of sinners?", bem, eu diriaque ele está no emprego errado. Se quiser um agente quereconheça os seus talentos, por favor, entre em contato comigo peloemail na coluna da esquerda.

Dublador É Ator?

A Denise escreveu: "Você se contradiz quando afirma que "todas asminhas críticas são à dublagem enquanto método de tradução deuma obra de arte, nunca à qualidade do trabalho dos dubladores" eanteriormente diz, referindo-se ao fato de sua mulher assistir a filmesdublados: "Parece que ela está sempre assistindo ao mesmo filme.

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Devem haver só uns 20 dubladores no Brasil. São as mesmas vozes,programa após programa. As mesmas mocinhas, os mesmos heróis,os mesmos bandidos."... ora... se isso não é uma crítica aosdubladores, é ao quê??? Um bom dublador não parece sempreigual... afinal, ele é, antes de tudo, um ator!"

Mas dublador não é ator. Dublador é dublador. São profissõesdiferentes, que exigem habilidades diferentes e, principalmente, egosde tamanhos diferentes.

Tradutor também não é escritor - e falo isso com conhecimento decausa, pois sou ambos. Até acontece de escritores e atores fazerembicos de dubladores e tradutores, mas nunca dura. Quem quer criartem o ego muito grande: não consegue se prender a simplesmentereproduzir o trabalho dos outros. Dublar e traduzir são exercícios emhumildade: antes de mais nada, você tem que saber o seu lugar.

Eu tinha uma edição dos contos de Poe traduzidos pela ClariceLispector. Alguém aqui confia na fidelidade (ou seja, na não-interferência) de uma tradução da Clarice Lispector? Aquele espíritomais livre e louco que já nasceu nesse país, tolhido numa tradução?Será que Clarice sabia o seu lugar?

Clarice era mais escritora do que Poe jamais sonhou em ser - e olhaque o Poe era maravilhoso, mas a Clarice era algo de outradimensão. É capaz de os contos de Poe traduzidos por Clarice seremmelhores que os originais. Mas aí já estaríamos lendo uma novaobra, não mais os contos do Poe.

Será que, digamos, o Marco Nanini conseguiria dublar decentementeo Olivier? Marco Nanini é, talvez, mais ator do que Olivier. Devesaber disso. Será que conseguiria seguir Olivier quando discordassedele? E se ele achar que o get thee to a nunnery tinha que serchoroso e não irônico?

Dublador não é ator. Dublador não ser ator não é demérito algum.Mas, principalmente, dublador não deve ser ator. Dublador deveser dublador, deve ter respeito ao texto e saber o seu lugar.

Vendo as Figuras

Ao assistir Hamlet legendado, já estamos abrindo mão daquelamágica primordial, você e Cervantes sozinhos no quarto. Élamentável, mas necessário. As letrinhas sambando aos pés dePolônio são um preço pequeno a se pagar para que você possaentender que a concisão, afinal, é a essência da sabedoria.

Mas, ao ver Hamlet dublado, você está abrindo mão de coisasdemais. Não ouvir nunca a voz do Olivier? Não saber jamais qual otom exato que ele usou ao mandar Ofélia para o convento?Depender da interpretação de dubladores?

Quem assiste filmes dublados é como aquele analfabeto que folheiaum livro e só vê as figuras. Você até vê os atores correndo de lá pracá, lutando de espadas, levantando caveiras em cemitérios, mas ofilme, o filme mesmo, não está lá.

Melhor nem assistir.

Posfácio: Reverberações

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Nenhum outro assunto até hoje (outubro de 2003) gerou tantapolêmica quanto esse artigo. A seguir, algumas reverberações que seseguiram à sua publicação:

Um Blog Intelectual?

Que horror! Hoje me acusaram de pseudointelectual! E pior: comrazão! Inventem o que quiserem de mim, mas ficar por aíespalhando verdades a meu respeito é torpe demais! Vocêsjogam baixo!

Realmente, qualquer um que tenha acompanhado essa história datradução, com argumentos, debates, contra-argumentos e premissaslógicas, teria toda a razão do mundo em achar que está em um blogsobre debates intelectuais, comandado por um intelectual. (Não vouentrar na questão do pseudo.)

Intelectual é tudo o que eu não sou e não quero ser. Erudição é umapraga que eu adquiri lendo muito, mas da qual tento me livrar aomáximo, cultivando uma falta de memória proverbial. Eu pensomuito, é verdade, por isso dói fundo ser chamado de intelectual, masfiz por onde, escuto calado.

Sou artista, sou romancista. Felizmente, ninguém precisa serinteligente, ou culto, ou erudito para pintar um grande quadro,compor uma grande sonata ou escrever um grande romance. Viva aidiotice, viva a sensação, viva o instinto.

Infelizmente, o blog continuará intelectual por mais algum tempo,pois escrevi uma outra enorme série de posts sobre a defesa dalíngua. Como a série que terminou, essa será uma seqüência lógicade argumentos destinados a provar uma hipótese. Ou seja, tudo queeu não queria, tudo o que eu tinha jurado que não ia mais escrever.

Não consegui evitar. O assunto é importante demais: a línguaportuguesa é a minha ferramenta de artesão, com ela trabalho de diae me deito à noite. Me parte o coração vê-la tão incompreendida,tratada com tanta condescendência: essa atitude xenófoba deque a língua portuguesa está sob ataque e precisa ser defendida melembra aqueles maridos que fazem cafuné nas esposas e falam: "Nãopreocupe sua linda cabecinha com isso, não, meu amor...", como seelas fossem retardadas mentais que não sabem se cuidar.

Mas a língua portuguesa sabe se cuidar e não está precisando danossa ajuda para nada. Pelo contrário, se cortarem seu acesso àsinfluências estrangeiras que a alimentam, ela vai se atrofiar emorrer, sozinha e subnutrida, na solitária onde estão tentandoencarcerá-la.

Tentarei provar essa posição *ai ai* logicamente, através deexemplos e argumentos, já sabendo que é inútil. Qualquer coisa quepossa ser logicamente provada ou demonstrada é algo que nem valea pena saber.

Enfim, meu coração não é enfeite: gosto de usar meus instintos.Pensar muito distorce o próprio pensamento, a gente acaba semnem saber o que quer: a vida não é jogo de xadrez.

Premissas, Você Aceita ou Não Aceita

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Os Dilemas da Tradução

http://web.archive.org/web/20090724023328/http://www.sobresites.com/alexcastro/artigos/traducao.htm[30/01/2013 00:03:08]

Só quero aproveitar esse interlúdio pra deixar algumas coisas claras.Quase tudo o que eu falo é polêmico, pode ser debatido oucontrariado, e todos continuaremos bons amigos. Mas algumasafirmações são premissas que, por definição, não podem serrebatidas: ou você aceita, e parte daí em diante, ou não, e acabou aconversa.

Disseram que legendas eram ruins porque não mostravam o filme emsua totalidade. Eu apontei que nenhuma versão mostra o filme emsua totalidade. As legendas resumem os diálogos e bloqueiamvisualmente a tela. A dublagem cobre as vozes. Filme em suatotalidade só no original, pra quem pode, ou seja, para quem temhabilidade linguística para tanto. A questão em discussão era qualmétodo, dublagem ou legendas, mais se aproximava dessatotalidade.

Alguém discorda ou não aceita a premissa acima? A pergunta não éretórica: por favor, respondam.

Aparentemente, o ponto não ficou claro, pois o Mauro Salesescreveu: "E quem pode, Alexandre? Parece que vc sabe inglês masnão sabe nada de matemática *risos* Perdão pela brincadeira. Masjá ouviu falar em estatística? Sabe quantos brasileiros sabem falaroutra língua? Não acha mais justo e democrático deixar a informaçãoacessível a todos(ou a uma maioria) e não apenas a uma elite?"

Essa é a premissa de toda a discussão. Se não foi compreendida (ouaceita) então não tem o que conversar além disso.

Não foi um comentário arrogante. Eu posso ser capaz de ver filmesem inglês no original, em sua totalidade, mas nunca poderei ver umfilme, digamos, russo em sua totalidade, pois não falo russo. Pra euver um filme russo, ele tem que ser mediado ou por legendas ou pordublagem e, por isso, é essencial discutir qual método é melhor.

Claramente, cada um tem sua opinião sobre qual é o melhor método,mas se vocês não entenderam ou discordam da premissa básicaacima, então a discussão não valeu absolutamente nada. Perdemos onosso chão em comum.

Confundir o Específico com o Geral

Por fim, nada do que falei foi específico em relação à línguaportuguesa.

Infelizmente, parece que alguns leitores acharam que defendi aslegendas porque tenho baixa auto-estima, porque penso pouco doportuguês, porque não amo a minha língua, e que, por exemplo, seeu fosse alemão ou francês estaria defendendo a minha língua nospiquetes, mandando abaixo-assinados para os Aldos Rabelos daEuropa.

Ou seja, transformaram uma defesa ponderada e lúcida (mesmo quea considerem equivocada) das legendas, utilizando argumentostécnicos e gerais que se aplicariam para qualquer país e qualquerlíngua, em um questão de entreguismo em relação ao nosso idioma.

Não, gente, não é que o Alexandre acha que filmes legendados sãomelhores do que dublados por tais e tais razões que podem ou não

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Os Dilemas da Tradução

http://web.archive.org/web/20090724023328/http://www.sobresites.com/alexcastro/artigos/traducao.htm[30/01/2013 00:03:08]

estar corretas.

É que ele tem baixa auto-estima, não ama o português e, portanto,aceita sem questionar tudo o que vem de fora.

Ah, então tá.

Pessoa de Espírito Pequeno e Inteligência Medíocre

Esse aí do título sou eu. Leiam o que andam escrevendo sobre mim:

"Eu adoraria escrever pra esse cara.... Mas é uma pessoa comvisão curta, que acha que não entender o filme, ouvir a voz do atorque interpreta o personagem e por cima de tudo não conseguir vermetade da obra por estar lendo letrinhas, é melhor do quecompreende a obra, ASSISTIR e se divertir.

É lamentável que a maior parte das pessoas "cultas", acham que serinteligente é "assistir" (se é que conseguem) filmes legendados,porque isso "é ser intelectual".

Porque essa pessoa não vai morar em algum país de línguainglesa???

Porque viver num país tão "medíocre" como o nosso amado Brasil?

Porque, já que é tão inteligente, ele não é reconhecido e famoso, nasua profissão?

Porque as pessoas acham que o português é tão ruim assim???

Pra esse tipo de pessoa só tenho uma coisa a dizer: POBRE PESSOADE ESPÍRITO PEQUENO, LAMENTAVEL QUE TENHA UMAINTELIGENCIA TÃO MEDÍOCRE."

Eu não me importo de discordarem de mim: é o não me entenderemque às vezes me frustra.

Até parece que, em algum momento eu critiquei o português, elogieio inglês ou disse que qualquer língua era melhor do que qualqueroutra em qualquer aspecto. Falam da língua inglesa como se todadublagem fosse de filme em língua inglesa. Não entendem que todosos meus argumentos seriam os mesmos para defender, digamos, aexibição de Central do Brasil legendado na TV americana. Imaginaque esdrúxulo que iria ser Central do Brasil dublado em inglês?

Realmente, estou atacando o método dublagem e acho até válido queos dubladores, como essa moça, me ofendam ou me ataquem. Maseles poderiam fazer isso dizendo o que a dublagem tem de bom, oque a dublagem oferece que as legendas não oferecem, etc.

Ao invés disso, eles trocam de assunto, apelam pra umpatriotismo corporativista e agem como se achassem, como sesinceramente achassem, que tudo o que eu falei contra o métododublagem foi, na verdade, uma crítica à língua portuguesa("porque as pessoas acham que o português é tão ruim assim?!") euma apologia ao inglês ("porque essa pessoa não vai morar emalgum país de língua inglesa?!").

Ai ai.

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Os Dilemas da Tradução

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Idiomas em Guerra

Quando meus leitores me dizem que a língua portuguesa está emperigo, que a defesa da soberania passa pela tradução, etc etc, eume vejo no meio de uma guerra linguística, com línguas boas e más,fortes e fracas, lutando pela dominação mundial, no qual línguasatacam umas às outras, no qual as línguas têm que se defender umadas outras.

Que mundo é esse em que vocês vivem?

No meu mundo, as línguas convivem em harmonia, uma enriquece aoutra, todas parte de uma mesma sinfonia das muitas vozes dahumanidade. No meu mundo, o Aldo Rebelo é uma piada e das maissem-graça. Estudar línguas, ver como uma influencia a outra, comoduas línguas se unem para formar uma terceira, ver como osvocábulos se originam em uma língua, migram pra outra e outra,mudam de significado de acordo com as culturas pelas quais passam,isso é lindo.

Os idiomas não guerreiam: eles se amam e têm filhos.

Não sei o que leva pessoas inteligente ao nível de xenofobia quetenho encontrado nos comentários desse blog. Será desconhecimentodo exterior? Será que já viajaram pelo mundo? Será que têm amigosestrangeiros? Será que falam outras línguas? A pergunta fica lançadaaos meus leitores que acham que a língua portuguesa tem que serdefendida.

Esse é o assunto do próximo artigo dessa série: Em Defesa da LínguaPortuguesa.

Postada no blog entre Setembro 09 e 20, 2003

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