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Caracterizar os diferentes tipos de movimento de massa; discutir os fatores que regulam esses processos nas encostas e apresentar uma classificação para os distintos mecanismos relacionados aos movimentos de massa nas vertentes.
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Otavio Miguez Rocha Leo; Leonardo B. Brum
Aula 7
h
Os movimentos de massa
Geografi a da Continental
142
Meta da aula
Caracterizar os diferentes tipos de movimento de massa; discutir os fatores que
regulam esses processos nas encostas e apresentar uma classifi cao para os distintos
mecanismos relacionados aos movimentos de massa nas vertentes.
Objetivos
Esperamos que, ao fi nal desta aula, voc seja capaz de:
1. Caracterizar o movimento de massa e sua relevncia para a dinmica
geomorfolgica das encostas;
2. Discutir os fatores que controlam o rompimento de massa das encostas;
3. Identifi car os diferentes tipos de movimentos de massa.
Aula 7 Os movimentos de massa
143
Introduo
Na poca das chuvas, no Brasil e em todo o mundo,
recorrente acompanharmos notcias relacionadas a movimentos
de massa e seus impactos s sociedades. No ms de janeiro de
2011, na regio serrana do Estado do Rio de Janeiro, houve uma
das maiores catstrofes ambientais no Brasil o que um exemplo
disso, e defl agra a necessidade de maior ateno e entendimento
desses processos naturais na sua interface com a ocupao humana.
Torna-se cada vez mais relevante a popularizao desse
conhecimento, e nisso a Geografi a Fsica Escolar tem dever e
responsabilidade. No h outra disciplina mais apropriada, nos
currculos do ensino fundamental e mdio no Brasil, que a Geografi a,
para refl etir com a populao atravs da escola sobre as causas e
consequncias desses fenmenos, que se apresentam constantemente
em nossa realidade.
Leia a reportagem sobre o Desastre na Regio
Serrana em 2011, realizada pelo jornal O Glo-
bo, com a Professora Ana Luiza Coelho Netto, do
Instituto de Geocincias da Universidade Federal
do Rio de Janeiro.
Link: http://oglobo.globo.com/rio/desastre-na-regiao-
-serrana-foi-maior-devido-ocupacao-irregular-do-so-
lo-2838491
No se pode prever o momento exato em que massa de solo,
rocha e outros materiais inconsolidados vo se mover encosta abaixo,
mas podemos, atravs do conhecimento geomorfolgico, minimizar
esses impactos na vida das pessoas, atravs do ordenamento do
Geografi a da Continental
144
uso do solo.
Figura 7.1: Vista ampla com sinalizao de cicatrizes de movimentos de massa no municpio de Nova Friburgo aps as chuvas de janeiro de 2011.Fonte: Foto dos autores.
O movimento de massa
Os movimentos de massa so processos naturais da dinmica
externa que fazem parte da evoluo da paisagem terrestre. Devido
fora da gravidade, ocorrem constantemente movimentaes
de materiais nas encostas, podendo ser de forma lenta, s vezes
imperceptveis, ou rpidas. O Brasil, por sua condio climtica
mida e presena de relevo montanhoso em muitas reas, se torna
favorvel ocorrncia desses eventos naturais, que, potencializados
pelo uso desordenado do solo, podem tornar esses movimentos
catastrfi cos.
Os movimentos de solo, rocha e demais materiais inconsolidados
Aula 7 Os movimentos de massa
145
nas encostas o que chamamos de movimento de massa. Essa
movimentao de massa de rocha e solo determinada pela
fora da gravidade, pelas propriedades dos solos e pelo grau de
saturao dos solos. Esse material rompe da encosta medida que
a fora de coeso do sistema encosta (manuteno do seu padro
de organizao) superada pela fora da gravidade (Figura 7.2).
Figura 7.2: Movimentos de massa no municpio de Nova Friburgo aps as chuvas de janeiro de 2011.Fonte: Foto dos autores
Nesse processo pode ocorrer a saturao de gua no solo,
o que provoca a perda ou diminuio do atrito das partculas
da massa da encosta, gerando a movimentao encosta abaixo
de materiais.
Alm do processo descrito sobre movimentao de massa,
importante destacar que atividades tectnicas de grande magnitude
tambm podem gerar o desprendimento de grande volume de massa
das encostas.
Geografi a da Continental
146
Na Mecnica dos solos, o Grau de saturao
(S) expresso em percentagem e defi nido
como a relao entre o volume de gua (Va) e
o volume de vazios (Vv) (PINTO, 2000) presente
em uma amostra de solo, ou seja:
= .100aV
SVv
O volume de vazio (Vv) obtido pela diferena entre
o volume dos slidos (Vs), que calculado atravs
do ensaio de Massa Especfi ca Real dos Gros, e o
volume total da amostra (V), que pode ser calculado,
por exemplo, pelo Mtodo da Balana Hidrosttica.
O volume da gua (Va) obtido na determinao da
Umidade do solo.
Quando S=100%, dizemos que o solo est saturado,
porque todos os seus poros esto preenchidos com
gua. Se S=0% signifi ca que o solo est totalmente
seco.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Grau_de_satura-
rao
Aula 7 Os movimentos de massa
147
Assista na Tv Brasil o programa Expedies,
veiculado em 22/02/2011 sobre a Catstrofe
na Regio Serrana do Rio.
O programa mostra as consequncias do maior de-
sastre natural e as perspectivas das cidades atingidas.
A ONU considerou como o maior desastre natural do
pas e o oitavo pior deslizamento da histria mundial.
Link: http://tvbrasil.ebc.com.br/expedicoes/episodio/
catastrofe-na-regiao-serrana-do-rio
Atende ao objetivo 1
1. Objetivamente, caracterize a ocorrncia de um movimento de massa.
Resposta Comentada
Os movimentos de massa caracterizam-se por quaisquer movimentos gravitacionais de massa
de rocha, solo e demais materiais inconsolidados com a participao de gua. Esse material
move-se encosta abaixo no momento em que a fora da gravidade supera a fora de coeso
do sistema encosta.
Geografi a da Continental
148
Fatores que controlam o movimento de massa
Nas encostas, existe permanente movimentao de materiais
devido ao da gravidade, entretanto h grande variabilidade em
tais movimentaes, podendo ser extremamente lentas, mostrando-se
imperceptveis ao longo dos anos, ou devastadoramente rpidas,
mobilizando grande volumes de rochas e sedimentos.
Veremos a seguir os fatores que controlam essa movimentao.
Fatores Naturais que Controlam (Infl uenciam) a Estabilidade/Instabilidade das Encostas
O tipo de material que compe a encosta: caractersticas geolgicas, pedolgicas e biolgicas
Na superfcie terrestre, o material que compe uma encosta
dos mais variados, produto de uma complexidade de fatores, como
o agente climtico e geolgico, gerando os diferentes terrenos.
Cada tipo de material que forma as encostas apresenta
diferentes respostas na interao com os outros fatores (morfologia da
encosta, grau de saturao), gerando diferentes resistncias, o que,
consequentemente, interferir em maior ou menor suscetibilidade
movimentao.
As encostas so constitudas de materiais consolidados e
inconsolidados. Solo compactado e rocha macia so considerados
materiais consolidados, enquanto solos, depsitos de areais e
materiais soltos so os materiais inconsolidados. O tipo de solo,
em relao sua constituio, granulometria e nvel de coeso, ir
infl uenciar a ocorrncias desses movimentos.
Aula 7 Os movimentos de massa
149
importante destacar, que as encostas cobertas com materiais
inconsolidados so as mais suscetveis a ocorrncias de movimentos
de massa.
A literatura especializada tambm aponta que as encostas
sem cobertura vegetal tornam-se mais propcias aos movimentos de
massa, visto que perdem o sistema de razes que ajudam o fi xar os
materiais nas vertentes.
2.1.2 - A morfologia da encosta: declividade, ngulo de repouso e feio geomorfolgica
A morfologia da encosta tem papel fundamental na
espacializao e explicao desses eventos.
Em relao declividade, encostas abruptas potencializam
a fora gravitacional sobre os materiais da encosta (propriedade
sine qua non do movimento de massa). Entretanto, a literatura
especializada aponta que h limite nessa relao entre o grau
de declividade e movimentos de massa, visto que ambientes
com alto grau de declive raramente tero materiais disponveis
a movimentar-se.
Ainda tratando da declividade, outro fator importante o
ngulo de repouso das vertentes, ou seja, o ngulo mximo no
qual os materiais de uma encosta suportam sem desabar. Uma
encosta mais inclinada que seu ngulo de repouso se torna instvel,
aumentando seu potencial ao deslizamento.
Geralmente, o ngulo de repouso de um monte de partculas
aumenta medida que aumenta seu tamanho (mais angulosas)
(Figura 7.3). O ngulo de repouso tambm varia de acordo com a
quantidade de gua existente entre as partculas da vertente.
Geografi a da Continental
150
Figura 7.3: ngulo de repouso de diferentes tipos de materiais.
Alm disso, feies geomorfolgicas cncavas, como
discutidos na Aula 4 do curso, so reas de convergncia de fl uxo de
gua e materiais, intensifi cando a participao de gua no sistema
vertente, aumentado a suscetibilidade a movimentos de massa.
A quantidade de gua presente no sistema de vertente: grau de saturao e as chuvas
Essa caracterstica est ligada porosidade dos materiais das
encostas (grau de saturao) e ao regime de chuvas.
Em solos saturados, a grande quantidade de gua separa as
partculas, possibilitando que elas deslizem. J em encostas com
materiais secos, as partculas so ligadas apenas pela sua forma
Aula 7 Os movimentos de massa
151
(encaixe) e o atrito entre as mesmas. J nos materiais com baixa
umidade ocorre uma atrao de gua entre os poros, aumentando a
resistncia dessa encosta ao movimento de massa. Essa atrao entre
as molculas de gua o que chamamos de tenso superfi cial.
(Figura 7.4)
Um bom exemplo disso so os artistas que fazem suas
esculturas com areia de praia. Para criarem suas esculturas, esto
sempre as molhando, para criarem uma tenso superfi cial e aumentar
a resistncia ao desmoronamento. Caso uma onda atinja a escultura
e sature os poros entre os gros de areia, a escultura se desmancha.
Figura 7.4: Esquema representando a tenso superfi cial de gua em areia seca, molhada e saturada.
Tenso superfi cial
um efeito fsico que ocorre na camada
superfi cial de um lquido que leva a sua superfcie a se
comportar como uma membrana elstica. As molculas situadas no interior de um lquido
so atradas em todas as direes pelas
molculas vizinhas e, por isso, a resultante
das foras que atuam sobre cada molcula praticamente nula. As
molculas da superfcie do lquido, entretanto,
sofrem apenas atrao lateral e inferior. Esta
fora para o lado e para baixo cria a
tenso na superfcie, que faz a mesma
comportar-se como uma pelcula elstica.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/
Tenso_superfi cial
Geografi a da Continental
152
Regies midas e com regime pluviomtrico concentrando em
determinados perodos do ano (vero) so mais suscetveis a esses
fenmenos.
Interferncias Antrpicas que Infl uenciam na Estabilidade/Instabilidade das Encostas
A produo social do espao gera variadas intervenes
no ambiente e, na maioria dos casos, no h preocupao com a
preservao e manuteno da dinmica natural. Parecem esquecer
que a plataforma social est inserida numa plataforma fsica, e
as intervenes precisam ser estudadas e planejadas, se no as
consequncias podem ser desastrosas.
Em se tratando dos movimentos de massa, so sabidas e
recorrentes as aes antrpicas que infl uenciam potencializando
esses eventos:
intervenes na morfologia das encostas, atravs de cortes
para abertura de sistema virio (rodovias, ferrovias, etc.) e
construes, alterando o ngulo de repouso da encosta e/
ou aterros com objetivo de disponibilizar reas planas para
viabilizar projetos de construo civil (Figura 7.5). Cortes e
aterros sem estudo prvio desestabilizam as vertentes e podem
ocasionar um movimento de massa (Figura 7.6). Os cortes e/ou
aterros em degraus menos prejudicial encosta, por alterar
menos o seu perfi l natural;
Aula 7 Os movimentos de massa
153
Figura 7.5: Corte e aterro formando um patamar para construo na encosta.
Figura 7.6: Movimento de massa provocado por corte/aterro em encostas ngremes.
a remoo da cobertura vegetal, a partir de vrios interesses,
como a explorao vegetal, expanso da agricultura, criao
de animais, dentre outros;
Geografi a da Continental
154
despejo inadequado de lixo e quaisquer outros materiais que
pesam sobre a encosta, alm da alta porosidade desses materiais
depositados, infl uenciando o grau de saturao;
redes de gua e esgoto mal dimensionadas ou clandestinas podem
gerar vazamentos, acelerando a saturao do solo.
Cabe destacar que as intervenes destacadas agem tambm
direta ou indiretamente nos processos de escoamento, infi ltrao e
percolao da gua nas vertentes, que infl uenciar na saturao
dos materiais da encosta, o que potencializa a ocorrncia do
movimento de massa.
Estabilidade/Instabilidade
A estabilidade/instabilidade das encostas produto da
interao dos fatores naturais assinalados nesta aula e do uso do
solo da regio (atividades antrpicas).
A estabilidade da encosta vai depender das particularidades
da geologia local, da geomorfologia, do clima e das intervenes
da sociedade no terreno.
Aula 7 Os movimentos de massa
155
Atende ao objetivo 2
2. Observe a fi gura a seguir:
A fi gura representa o mesmo local em dois momentos distintos. Qual interveno ocorreu
nessa encosta em relao ao momento A e B? E quais as consequncias? Responda luz
dos fatores que controlam os movimentos de massa.
Resposta Comentada
A encosta apresentada se tornou mais suscetvel a movimentos de massa devido remoo
da cobertura vegetal, visto que perde o sistema de razes, que ajuda a fi xar os materiais nas
vertentes. Alm disso, se trata de um ambiente em declive, que potencializa a fora gravitacional.
Os tipos de movimentos de massa
Geografi a da Continental
156
Frequentemente, assistimos na mdia ao termo deslizamento,
generalizando todos os tipos de movimentos de massa.
Existem na literatura diversas classificaes que, em
linhas gerais, classifi cam os eventos a partir do tipo de material
movimentado e do comportamento e velocidade do movimento.
Sabe-se da complexidade e das limitaes prticas em
classifi car os movimentos de massa, principalmente em campo e
nos limites entre cada tipo de movimento de massa. Consideramos
aqui as classifi caes mais simplifi cadas encontradas na literatura
especfi ca e classifi caremos os movimentos de massa em quatro tipos:
o rastejamento, o escorregamento ou deslizamento, as corridas de
massa e as quedas e rolamentos.
Rastejamento (Creep)
o mais lento dos movimentos de massa inconsolidado (solo
e/ou outros detritos).
Ocorre em ambientes de declive onde as camadas superiores
deslocam-se em velocidade diferente das inferiores. Apesar de
se caracterizar por um movimento de massa lento, as camadas
superiores movem-se mais rapidamente. No h na paisagem
uma feio de ruptura clara, mas percebido pela inclinao das
rvores, cercas, rachaduras nas construes e postes, por exemplo
(Figura 7.7).
Aula 7 Os movimentos de massa
157
Figura 7.7: Esquema representando o rastejamento.
Deslizamento/Escorregamento
So movimentos rpidos de massa encosta abaixo com
rupturas bem defi nidas, tanto lateralmente quanto em profundidade.
Na encosta deslizada, possvel identifi car o material que foi
movimentado e o que no sofreu esse processo.
Os deslizamentos so subdivididos em dois tipos: os
rotacionais e os translacionais.
Os deslizamentos rotacionais so tpicos de solos profundos,
onde o movimento rotacional da massa movimentada produz na
cicatriz de deslizamento uma feio curva-cncava (Figura 7.8)
Geografi a da Continental
158
Figura 7.8: Deslizamento rotacional em vertente com solos espessos. Estrada Bananal-Arape (SP).Fonte: Foto dos autores.
Os escorregamentos translacionais so mais comuns em solos
rasos com ruptura plana e comprida, muito ligado saturao do
solo em eventos extremos de chuva (Figuras 7.9, 7.10, 7.11).
Figura 7.9: Deslizamento translacional no municpio de Nova Friburgo aps as chuvas de janeiro de 2011.Fonte: Foto dos autores.
Aula 7 Os movimentos de massa
159
Figura 7.10: Detalhe de contato solo/rocha em escorregamento translacional na estrada Parati-Cunha (RJ/SP).Fonte: Foto dos autores
Figura 7.11: Escorregamentos translacionais em contato solo/rocha nas vertentes da Serra do Mar. Estrada Parati-Cunha (RJ/SP).Fonte: Foto dos autores
Geografi a da Continental
160
Os deslizamentos podem ser rotacionais ou
translacionais (slides: rotational or translatio-
nal) e envolvem deslocamentos ao longo de
uma ou mais superfcies de cisalhamento. Podem
ser:
rotacionais: formam uma superfcie de ruptura cn-
cava e so chamados de slump.
Translacionais: o movimento ocorre ao longo de
uma superfcie aproximadamente plana ou suave-
mente ondulada, frequentemente controlada por
superfcie de fraqueza, tais como fraturas, falhas,
foliaes e variaes de resistncia entre camadas
de solo ou no contato solo/rocha. So chamados
de slide.
O
3.3 Corridas de Massa
So movimentos de massa mais lentos que os deslizamentos/
escorregamentos, porm mais desastrosos. Esses movimentos esto
associados participao de grande quantidade de gua no evento,
onde o material da encosta se comporta como uma massa semifl uida.
Nesse tipo de movimento de massa, so removidos grandes pacotes
de material das encostas, acrescidos de construo, vegetao e
tudo mais que estiver na rota do fl uxo. Recebem os nomes de fl uxo
de terra (earthfl ows), fl uxos de lama (mudfl ows) e fl uxo de detritos
(debris fl ows).
Aula 7 Os movimentos de massa
161
Figura 7.12: Cicatriz de fl uxo de detritos. Parati (RJ)Fonte: Foto dos autores
Em eventos pluviomtricos de alta intensidade e/ou longa
durao, podem ocorrer diversos movimentos de massa nas
encostas. O material colapsado nas encostas por escorregamentos
(rotacionais e translacionais) e quedas de bloco convergem
para os fundos de vale, entulhando a rede de drenagem. Com
a convergncia simultnea de fl uxos de gua, esses materiais se
saturam rapidamente, desencadeando Fluxos de Detritos (corridas)
nos eixos de concavidade que encaixam a rede de drenagem.
Geografi a da Continental
162
Esses movimentos de massa podem tomar grandes propores
e mobilizar e remover grandes quantidades de materiais a jusante
pela rede de drenagem, possuindo um grande poder destrutivo. O
material mobilizado pelo fl uxo de detritos tende a seguir pela rota da
rede de drenagem at a primeira mudana signifi cativa no gradiente
do canal, que possibilita a deposio desse material.
Figura 7.13: Cicatriz de Fluxo de Detritos encaixada em rede de drenagem. Notar, ao fundo, cicatrizes de deslizamentos translacionais no contato solo/rocha, que disponibilizam grandes quantidades de materiais para os fundos de vale. Estrada Parati-Cunha.Fonte: Foto dos autores
Aula 7 Os movimentos de massa
163
Figura 7.14: Cicatrizes de Fluxo de Detritos encaixado em rede de drenagem.Fonte: Foto dos autores
Figura 7.15: A imagem mostra a grande capacidade de transporte de material do movimento de massa Fluxo de Detrito.Fonte: Fotos dos autores
Geografi a da Continental
164
Quedas ou Rolamentos de Blocos (Rockfall)
Movimentos extremamente rpidos de blocos ou fragmentos
de rochas em queda livre, a partir do intemperismo fsico e qumico,
comum em pontos com interseo de fraturas nas rochas. (Figura
7.16)
Figura 7.16: Queda de blocos na Estrada Parati-Cunha (SP/RJ).Fonte: Foto dos autores
As Quedas de Blocos podem tambm estar associadas a
outros processos erosivos superfi ciais que podem remover o solo nos
locais onde os blocos esto assentados. A propagao de ravinas
em encostas com presena de blocos pode instabilizar as encostas
e provocar esse tipo de movimento de massa, como mostra a Figura
7.17.
Aula 7 Os movimentos de massa
165
Figura 7.17: rea com alta suscetibilidade queda de blocos, devido a processo erosivo superfi cial (ravina) que instabiliza a vertente. Estrada Parati-Cunha (RJ/SP).Fonte: Foto do autores.
Figura 7.18: Vista da Serra dos rgos Terespolis (RJ) com o Dedo de Deus ao fundo, com potencial a ocorrncia de quedas de blocos rochosos, devido interseo entre sistemas de faturamento no embasamento rochoso.Fonte: Foto dos autores
Geografi a da Continental
166
Veja na internet a publicao do Atlas Brasileiro
de Desastres Naturais.
O Atlas Brasileiro de Desastres Naturais um
produto de pesquisa, resultado do acordo de coo-
perao entre a Secretaria Nacional de Defesa Civil
e o Centro Universitrio de Estudos e Pesquisas sobre
Desastres, da Universidade Federal de Santa Catarina.
O levantamento dos registros histricos, derivando na
elaborao dos mapas temticos e na produo do
Atlas, relevante na medida em que viabiliza construir
um panorama geral das ocorrncias e recorrncias de
desastres no pas e suas especifi cidades por Estados e
Regies.
Possibilita, assim, subsidiar o planejamento adequado
em gesto de risco e reduo de desastres, a partir
da anlise ampliada abrangendo o territrio nacional,
dos padres de frequncia observados, dos perodos
de maior ocorrncia, das relaes destes eventos com
outros fenmenos globais e da anlise sobre os proces-
sos relacionados aos desastres no pas.
A pesquisa teve por objetivo compilar e disponibilizar
informaes sobre os registros de desastres ocorridos
em todo o territrio nacional nos ltimos 20 anos
(1991 a 2010), por meio da publicao de 26 Volu-
mes Estaduais e um Volume Brasil.
Segue o link de publicao digital de acesso pblico
do Atlas Brasileiro de Desastres Naturais:
http://www.ceped.ufsc.br/biblioteca/projetos/encer-
rados/atlas-brasileiro-de-desastres-naturais
Aula 7 Os movimentos de massa
167
CONCLUSO
Como visto nesta aula, os movimentos de massa so processos
naturais, partes da evoluo da paisagem terrestre, que esto
sendo potencializados pelo uso desordenado e no planejado do
uso do solo. Observamos tambm a importncia do conhecimento
geomorfolgico no entendimento desses processos naturais na
interface com as intervenes humanas, possibilitando minimizar
esses impactos na vida das pessoas, onde o canal de difuso desses
conhecimentos sociedade a Geografi a Fsica Escolar.
Atividade Final
Atende ao objetivo 1, 2 e 3
O Atlas Brasileiro de Desastres Naturais, volume Rio de Janeiro (veja informaes no
boxe multimdia), apresenta, na pgina 46, um mapa de desastres naturais causados por
movimentos de massa no Estado do Rio de Janeiro no perodo de 1991 a 2010. (mapa
8). Acesse o atlas e identifi que o municpio com maior nmero de registros, pontuando os
condicionantes naturais da regio e a interferncia da ao humana com a intensidade
destes eventos.
Resposta Comentada
O municpio em questo Petrpolis, localizado na regio serrana do Rio de Janeiro. Inserido
numa regio tropical mida, com chuvas concentradas no vero e relevo montanhoso, Petrpolis
naturalmente uma regio suscetvel a movimentos de massa. Entretanto, o que explicar a
grande quantidade de registros desses eventos na cidade a anlise dos condicionantes naturais
juntamente com as intervenes da sociedade no ambiente. Nas ltimas dcadas, houve um
crescimento desordenado no municpio e, devido omisso do poder pblico, a consequente
ocupao de suas encostas. Junto a essas ocupaes, incluem a retirada da cobertura vegetal,
Geografi a da Continental
168
o corte e aterro para viabilizar construes sem estudos em relao ao ngulo de repouso, o
despejo inadequado de lixo e as redes de gua e esgoto que, num vazamento, infl uenciam
na saturao do solo.
Essas intervenes interferem na estabilidade das encostas, potencializando a fora da gravidade,
que supera a fora de coeso dos materiais, gerando os movimentos de massa.
RESUMO
Os movimentos de massa so processos naturais da dinmica
externa que fazem parte da evoluo da paisagem terrestre.
Essa movimentao de massa de rocha e solo nas vertentes
determinada pela fora da gravidade e o grau de saturao
dos solos. Esse material rompe da encosta medida que a fora
de coeso do sistema encosta (manuteno do seu padro de
organizao) superada pela fora da gravidade.
A maior ou menor suscetibilidade a movimentos de massa
(estabilidade/instabilidade) deve ser analisada a partir da
combinao dos materiais que formam a encosta, da umidade,
da morfologia da vertente e do uso do solo que, em certos casos,
tornam o movimento encosta abaixo inevitvel.
Existem na literatura diversas classifi caes de movimentos
de massa que, em linhas gerais, classifi cam os eventos a partir do
tipo de material movimentado e do comportamento e velocidade
do movimento.
Nesta aula, os movimentos de massa foram classifi cados em
quatro tipos: o rastejamento, o escorregamento ou deslizamento, as
corridas de massa e as quedas e rolamentos.
Aula 7 Os movimentos de massa
169
Informaes sobre a prxima aula
Na nossa prxima aula, iniciaremos o estudo da Geomorfologia
Fluvial. Esse campo da Geomorfologia Continental objetiva
compreender os processos e as formas ligadas ao escoamento dos
cursos de gua e a dinmica das bacias hidrogrfi cas.