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Quem é o Óscar (Astronothus ocellatus) Autor: Alexandre Avari Ordem: Perciformes Família: Cichlidae Nome científico: Astronotus ocellatus Nomes populares: Oscar, Apaiari, Acará-açú, Corró, Cará-dorminhoco O Astronothus ocellatus foi descrito pela primeira vez à sociedade científica em 1831 pelo Dr. Jean Luiz R. Agassiz da Universidade de Harvard, baseado em alguns espécimes recebidos de uma expedição da instituição à America do Sul. Por falta de dados mais consistentes, foi classificado inicialmente como um peixe marinho da família Lobotidae, sem quaisquer relação direta com a família onde atualmente essa espécie é incluída, a Cichlidae. Sua primeira nomenclatura foi Lobbotis ocellatus. Com mais dados sobre seu habitat e suas características, sua classificação foi revisada pelo renomado ictiólogo Curvier em 1929, e passou a ser chamado pelo meio científico como Astronothus ocellatus, do Grego Astra=Raios; Notus=traseiros;Ocellus=Mancha como um olho. Seu nome popular mais popular, Oscar, foi dado em relação a estatueta do premio da Academia de Artes Cinematográficas Estadunidense, pelo formato arredondado de sua cabeça e os belos reflexos dourados dos exemplares selvagens. A título de curiosidade, o apelido da estatueta foi dado durante sua terceira edição, quando uma das camareiras que trabalhava no evento disse que a imagem parecia com seu tio Oscar! ORIGEM O Oscar é encontrado originalmente na bacia amazônica no Brasil, Peru, Colômbia e Venezuela. Foi introduzido artificialmente no sul da Florida. Habita lagos e riachos lentos com vegetação densa, onde pode caçar e descansar à noite entre as raíses e folhagens, habito que lhe valeu o nome popular no Brasil de Cará-dorminhoco. Estes ambientes possuem Ph bastante ácido (6, 6,7), moles e temperaturas altas, em torno de 28 graus. Os exemplares introduzidos na América do Norte suportam picos de frio de até 12 graus. Temperaturas inferiores a estas são muito perigosas, podendo leva- lo à morte. Seus principais predadores são jacarés, piranhas e aves pernaltas, os filhotes podem ser vítimas de peixes maiores e aves como os bem-te-vis e martins pescadores. CARACTERÍSTICAS A coloração do A. ocellatus selvagem simula a luz do sol penetrando na água, o que o deixa muito bem mimetizado (camuflado) em seu ambiente. O ocelo na cauda é um artifício muito usado na natureza para enganar eventuais predadores, que pensarão que ali

Óscar (Apaiari)

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Page 1: Óscar (Apaiari)

Quem é o Óscar (Astronothus ocellatus)

Autor: Alexandre Avari

Ordem: Perciformes Família: Cichlidae Nome científico: Astronotus ocellatus Nomes populares: Oscar, Apaiari, Acará-açú, Corró, Cará-dorminhoco

O Astronothus ocellatus foi descrito pela primeira vez à sociedade científica em 1831 pelo Dr. Jean Luiz R. Agassiz da Universidade de Harvard, baseado em alguns espécimes recebidos de uma expedição da instituição à America do Sul.

Por falta de dados mais consistentes, foi classificado inicialmente como um peixe marinho da família Lobotidae, sem quaisquer relação direta com a família onde atualmente essa espécie é incluída, a Cichlidae. Sua primeira nomenclatura foi Lobbotis ocellatus.

Com mais dados sobre seu habitat e suas características, sua classificação foi revisada pelo renomado ictiólogo Curvier em 1929, e passou a ser

chamado pelo meio científico como Astronothus ocellatus, do Grego Astra=Raios; Notus=traseiros;Ocellus=Mancha como um olho.

Seu nome popular mais popular, Oscar, foi dado em relação a estatueta do premio da Academia de Artes Cinematográficas Estadunidense, pelo formato arredondado de sua cabeça e os belos reflexos dourados dos exemplares selvagens.

A título de curiosidade, o apelido da estatueta foi dado durante sua terceira edição, quando uma das camareiras que trabalhava no evento disse que a imagem parecia com seu tio Oscar!

ORIGEM

O Oscar é encontrado originalmente na bacia amazônica no Brasil, Peru, Colômbia e Venezuela. Foi introduzido artificialmente no sul da Florida.

Habita lagos e riachos lentos com vegetação densa, onde pode caçar e descansar à noite entre as raíses e folhagens, habito que lhe valeu o nome popular no Brasil de Cará-dorminhoco.

Estes ambientes possuem Ph bastante ácido (6, 6,7), moles e temperaturas altas, em torno de 28 graus. Os

exemplares introduzidos na América do Norte suportam picos de frio de até 12 graus. Temperaturas inferiores a estas são muito perigosas, podendo leva-lo à morte.

Seus principais predadores são jacarés, piranhas e aves pernaltas, os filhotes podem ser vítimas de peixes maiores e aves como os bem-te-vis e martins pescadores.

CARACTERÍSTICAS

A coloração do A. ocellatus selvagem simula a luz do sol penetrando na água, o que o deixa muito bem mimetizado (camuflado) em seu ambiente. O ocelo na

cauda é um artifício muito usado na natureza para enganar eventuais predadores, que pensarão que ali

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está a cabeça pela presença de um “olho”, poupando partes vitais do peixe, permitindo-o fugir.

Peixe predador de tocaia e dado às perseguições se necessário, possui dentículos em toda a boca e garganta, cuja principal função é agarrar suas vítimas, impedindo a fuga.

O dimorfismo sexual é bastante sutil, difícil de ser constatado. As fêmeas possuem o corpo mais ovalado, coloração mais esmaecida e proporção entre as nadadeiras e corpo menor do que o macho, apresentam ovopositor aparente quando estão prontas para a reprodução. Os machos são mais esguios e coloridos, apresentam nadadeiras maiores e mais pontiagudas. Nas variedades selecionadas em cativeiro, a diferenciação é ainda mais difícil.

Variedade albina

ALIMENTAÇÃO

A analise do conteúdo estomacal dos A. ocellatus encontrados na natureza indica que a maior parte de sua dieta é composta por pequenos peixes, em menor proporção insetos, crustáceos, restos de animais terrestres encontrados mortos e até frutas. São raríssimos os casos de canibalismo.

Além de peixes, crustáceos, inclusive os grandes lagostins e caranguejos, que eles bicam até vira-los de forma a expor as partes mais moles, onde o ataque será mais efetivo. Vermes, insetos e frutos complementam sua alimentação.

Em cativeiro aceitam facilmente ração peletizada, alguns aceitam até flocos, especialmente quando jovens.

Apesar de serem caçadores vorazes, eventualmente comem frutas, frutas essas que boa parte do pessoal do sul e sudeste nunca sequer ouviu falar o nome, nativas da Amazônia. Particularmente a goiaba é muito apreciada! Ricas em vitamina C e é saborosa ao paladar. Recomendo evitar frutas muito ácidas, como abacaxi e frutas cítricas em geral, ou as muito gordurosas, como abacate e banana, e sementes, prefira as partes carnosas do fruto. Uva, morango, goiaba, kiwi, maça e pera sem casca, açaí fresco, coquinho etc são boas opções.

A POLÊMICA DA RAÇÃO DE CACHORROS

Algumas pessoas alimentam seus exemplares com ração canina, creio que este costume venha devido às similaridades de comportamento dos dois animais.

As empresas de ração de cachorro, assim como as de peixe, desenvolvem estudos a respeito nas taxas nutricionais ideais específicas para seu público final. Cães, por serem mamíferos, tem metabolismo muito mais rápido que os peixes, ainda mais por que precisam manter sua temperatura corporal bem acima da média do ambiente, capacidade que os peixes não tem (mamíferos=sangue quente X peixes=sangue frio).

Como se metaboliza?? Utilizando açúcares e gorduras, ainda mais por serem originalmente carnívoros. Seus

organismos são adaptados a digerirem grandes animais, tipo bois, antílopes, além de pequenos, como roedores e aves. Os peixes, de metabolismo mais lento, se alimentam principalmente de coisas bem mais light… insetos, outros peixes menores, frutas etc…

A ração de cachorro é, portanto, muito mais gordurosa que o que um peixe está acostumado, e sobretudo adaptado, a metabolizar. É melhor para ser ingerida por nós, humanos, do que por nossos peixes!

Não recomendo este alimento. Temos muitas alternativas, algumas coisas que podemos criar em casa, tipo larvas de besouro do amendoim e tenébrio, insetos e lesmas de jardim, minhocas…

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COMPORTAMENTO EM AQUÁRIO

Em cativeiro, o A. ocellatus é um peixe de forte personalidade, cada indivíduo tem seu “humor”. Tendem a afeiçoar-se ao dono chegando a comer em sua mão, observar o dono em suas atividades etc.

Os exemplares jovens são mais fáceis de adaptarem-se ao cativeiro, adultos já possuem suas manias e as vezes, por stress, podem tornar-se extremamente agressivos

Por se tratar de um peixe grande e relativamente anti-social, a escolha de companheiros para ele é sempre um dilema. Bons companheiros são outros ciclídeos grandes, como tucunarés, jacundás, espécimes do gênero Geophagus, Acará severum etc.

Além destes, grandes peixes gato, como Clarias sp, pintados, surubins, cascudos e diademas, desde que

de bom tamanho para não serem comidos, mas não o suficiente para come-lo.

Caracídeos grandes, como Chalceus sp., Pacús, os chamados Corimbatás, como os Semaprochilodus taeniurus e outros são excelentes. Podem ser atacados por traíras (Hoplias malabaricus). Evite-as. Mussuns, peixes pulmonados como pirambóias eProtopterus, aruanãs grandes também são ótimas opções.

Ainda assim, a aceitação de companheiros depende muito do indivíduo. Cara peixe tem sua personalidade, alguns são particularmente tímidos e calmos, outros são verdadeiras feras! Conheça seu óscar e experimente, se houverem problemas, é melhor separar o companheiro antes que o pior aconteça!

A POLÊMICA DO TAMANHO DO AQUÁRIO

Ao se interessar por oscares, o aquarista vai se deparar com os mais diversos biotopos para este peixe, desde grandes tanques comunitários de peixes jumbo até pequenos aquários de 50 litros com um grande peixe.

Ah quem fale em 80 litros para um único Oscar, há quem pregue os 200 litros como o mínimo. o fato é que quanto maior o aquário, muito melhor será para o peixe. Uma das grandes lendas do aquarismo é manter “um aquariozinho pequeno para começar”, quando, na verdade, é exatamente o contrário,

grandes aquários são muito, mas muito mais fáceis mesmo de manter e controlar do que aquários pequenos.

Me parece uma medida razoável 200 litros para um Oscar e, se bem decorado e colocados desde pequenos juntos, alguns companheiros “coadjuvantes”, como um mandi pintado ou um trio pacuzinhos, como Mylossoma duriventre. Caso queira manter mais ciclídeos, mesmo outros oscares num mesmo aquário, considere adicionalmente 100 litros por cada peixe.

DECORAÇÃO DO AQUÁRIO

Assim como muitos dos grandes ciclídeos, oscares tem idéias bem específicas quanto a decoração. Designers natos, reviram o solo, troncos, plantas e tudo mais. Até o filtro pode ser alvo de seu apurado senso estético!

É possível, contudo, sugerir lhes algumas coisas. A decoração, por mínima que seja, dá ao peixe mais segurança e familiaridade ao ambiente, por isso vale a pena tentar.

Grandes rochas, desde que não empilhadas, podem ser deixadas em paz. Troncos grandes podem ter placas plásticas (poliestireno, acrílico, PVC) fixadas em suas bases com pregos de aço e enterradas profundamente no cascalho.

Algumas plantas grandes, como Anubia, Spatiphyllun e Sygonium dentre outras, se fixam no solo graças a suas grandes raízes ou em vasos de barro enterrados no cascalho. Micosoruns podem ser amarradas nos troncos. A Cardamine lirata ou trepadeira chinesa pode ser deixada na superfície. O efeito de suas raízes caindo é muito bonito.

Estas espécies são bastante rústicas e suportam ambientes com menor luminosidade, ideal para o Óscar, que prefere certa penumbra.

REPRODUÇÃO

A reprodução é relativamente fácil, desde que se disponha de espaço e de um casal formado. Ocorre cerca de três vezes ao ano. No norte e nordeste chega a acontecer mais vezes. Na época de reprodução os machos disputam as fêmeas em longas batalhas que

podem causar graves ferimentos e até morte. O ferimento mais comum é na região da boca, que pode se dilacerar até que impeça-o de alimentar-se, matando por inanição ou, por estar debilitado, por ataques de outros machos.

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Exemplar adulto com quase 40cm

Uma vez formado o casal, deixe-os sozinhos no aquário, eles escolhem uma superfície lisa, uma grande folha, rocha, tronco, telha ou um tubo de PVC, e desovam até 2000 ovos, imediatamente fertilizados pelo pai.

Nesse período os pais vigiam insistentemente os ovos e depois os filhotes. Assim que começarem a nadar livremente, pode-se alimenta-los com flocos moídos e naupilos de artêmia.

A eclosão depende da temperatura, leva em média de 3 a 5 dias. Separe os pais quando os filhotes atingirem seus 5mm, provavelmente você vai perceber a perda de interesse dos pais pelos filhotes. Alguns exemplares, contudo, demoram muito a deixar os filhotes. Nesses casos é recomendado deixa-los, pois eles vão tentar desesperadamente voltar ao aquário, podendo se ferir no processo.

A mudança de coloração do jovem ao adulto é bastante drástica e muito interessante de ser acompanhada.

DOENÇAS

São bastante resistentes à doenças, mas podem contrair íctio caso hajam variações bruscas de temperatura ou stress. Exemplares novos podem apresentar infecções bacterianas ou por fungos na pele e nadadeiras, neste caso recomenda-se alimenta-lo com ração balanceada medicamentosa e alimentos vivos mais energéticos, ricos em gorduras, como

tubifex e as larvas (não os besouros) de amendoim ou tenébrio, e açúcares, como frutas. Existem medicamentos no mercado específicos para cada infecção.

Podem apresentar vermes intestinais, de difícil cura. Nesse caso usa-se medicamentos e rações específicas.

REFERÊNCIAS texto do Dr. Robert H. Robis do Instituto de Ictiologia do Museu de História Natural da Flórida Revista Tropical Fish Hobbist – Diversas edições