If you can't read please download the document
Upload
nguyenphuc
View
216
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
UNIVERSIDADEDESOPAULOESCOLASUPERIORDEAGRICULTURALUIZDEQUEIROZ
DEPARTAMENTODECINCIASBIOLGICASLABORATRIODEECOLOGIAERESTAURAOFLORESTAL
(LERF)
PACTOPARAARESTAURAOECOLGICADAMATAATLNTICA
REFERENCIALTERICO
Piracicaba Novembro, 2007
2
SUMRIO
1. PRINCIPAIS INICIATIVAS DE RESTAURAO FLORESTAL NA MATAATLNTICAEEVOLUODASMETODOLOGIASECONCEITOS ........................ 3
FASE 1: PLANTIO DE RVORES SEM CRITRIOS ECOLGICOS PARA A ESCOLHA DAS ESPCIES..3 FASE 2: PLANTIO DE RVORES NATIVAS BRASILEIRAS COM BAIXA DIVERSIDADE FLORSTICA E
COM A INSERO DA SUCESSO FLORESTAL .........................................................................8 FASE 3: INCORPORAO DO CONCEITO DE DISTRIBUIO ESPACIAL DAS MUDAS NO CAMPO
(FITOSSOCIOLOGIA) E UTILIZAO DE ALTA DIVERSIDADE DE ESPCIES NATIVAS REGIONAIS ............................................................................................................................19
FASE 4: ABANDONO DA CPIA DE UM MODELO DE FLORESTA, ALIADA RESTAURAO DOS PROCESSOS ECOLGICOS QUE CONSTROEM UMA FLORESTA SEM VISAR A UM CLIMAX
NICO (FASE ATUAL)............................................................................................................25 PRXIMOS DESAFIOS DA RESTAURAO FLORESTAL...........................................31 FASE 5: INCORPORAO DO CONCEITO DA DIVERSIDADE GENTICA......................................31 FASE 6: INSERO DE OUTRAS FORMAS DE VIDA NAS REAS EM RESTAURAO....................43 FASE 7: APLICAO DO CONCEITO DE GRUPOS FUNCIONAIS, BUSCANDO CONHECER A
BIOLOGIA DAS ESPCIES UTILIZADAS E O ENTENDIMENTO DOS PROCESSOS REPRODUTIVOS
NAS REAS EM RESTAURAO.............................................................................................50 FASE 8: VISO ECOSSISTMICA DA RESTAURAO FLORESTAL ..............................................60
2. DIAGNSTICO AMBIENTAL DAS REAS A SEREM RESTAURADASVISANDO A DEFINIO DE METODOLOGIAS DE RESTAURAOFLORESTAL .............................................................................................................................. 69
72 3.IMPORTNCIADOMONITORAMENTODASREASRESTAURADASPARAANLISEDAEFETIVIDADEDASAES....................................................................... 944.QUANTIFICAO EMONITORAMENTODA BIOMASSA ECARBONO EMPLANTIOSDEREASRESTAURADAS ......................................................................... 1095.METODOLOGIA DE RESTAURAO PARA FINS DE APROVEITAMENTOECONMICO(RESERVALEGALEREASAGRCOLAS)........................................ 1186. DESCRIO DAS ATIVIDADES OPERACIONAIS DE RESTAURAO ELEVANTAMENTODECUSTOSMDIOS(IMPLANTAOEMREATOTAL)138
3
1. PRINCIPAIS INICIATIVAS DE RESTAURAO FLORESTAL NAMATA ATLNTICA E EVOLUO DAS METODOLOGIAS ECONCEITOSFASE1:PLANTIODERVORESSEMCRITRIOSECOLGICOSPARAAESCOLHADASESPCIES
Andrezza Bellotto, Ricardo Ribeiro Rodrigues, Andr Gustavo Nave
O processo histrico de ocupao de terras revestiu-se de um carter predatrio
que resultou na destruio de grande parte das formaes vegetais originais. A palavra
de ordem era o desmatamento visando expanso da fronteira agrcola e
desenvolvimento a qualquer custo (Barbosa, 2006). Com os sucessivos ciclos de uso
do solo, grande parte das regies tropicais apresenta sua cobertura florestal nativa
altamente fragmentada e/ou restrita a pequenas pores de terra onde a expanso
agropecuria, a implantao industrial e a construo de grandes empreendimentos no
foram possveis (Barbosa & Mantovani, 2000; Rodrigues & Gandolfi, 2004). H,
portanto, extensas reas que h tempos necessitam ser restauradas e redestinadas
conservao ou preservao permanente.
A restaurao de ecossistemas degradados uma prtica muito antiga, podendo-
se encontrar exemplos de sua existncia na histria de diferentes povos, pocas e
regies (Rodrigues & Gandolfi, 2004), porm, s recentemente adquiriu o carter de
uma rea de conhecimento, sendo denominada por alguns autores como Ecologia da
Restaurao (Palmer et al., 1997). Incorporou conhecimentos sobre os processos
envolvidos na dinmica de formaes naturais, fazendo com que os programas de
recuperao deixassem de ser mera aplicao de prticas agronmicas ou silviculturais
de plantios de espcie perenes, visando apenas a reintroduo de espcies arbreas
numa dada rea, para assumir a difcil tarefa de reconstruo das complexas interaes
da comunidade (Rodrigues & Gandolfi, 2004).
A fase a qual ser descrita a seguir relata um pouco o incio do histrico deste
processo de aprimoramento das tcnicas e conhecimentos sobre restaurao florestal,
4
destacando-se as principais caractersticas relativas s primeiras experimentaes
destinadas recuperao das florestas.
Plantiossemcritriosemtodos
As caractersticas desta fase refletem exatamente um cenrio de pouco
conhecimento em relao s aes de restaurao florestal, desvinculada de concepes
tericas. As primeiras tentativas de recuperao de reas degradadas, de se encontrar
metodologias e tcnicas de plantio de rvores, culminavam em plantios aleatrios de
espcies exticas e nativas de crescimento rpido e lento (Rodrigues & Gandolfi, 1996).
O foco era a proteo dos recursos naturais e a mitigao dos impactos anteriormente
causados, tendo uma viso simplificada do sistema, buscando apenas recriar uma
fisionomia florestal. O entendimento da floresta restaurada se restringia apenas a um
plantio de rvores, sem critrios ecolgicos para a escolha e combinao das espcies.
As metodologias de recomposio eram incipientes e a sistematizao de regras
era controvertida, alm de insuficiente, devido ao reduzido conhecimento do
comportamento biolgico das espcies nativas e a forma de utiliz-las em plantios
heterogneos, para recuperao de reas degradadas. Outro problema era a inexistncia
de resultados que permitissem avaliar a eficincia dos projetos (Barbosa, 2006).
A pesquisa com a implantao de plantaes mistas de espcies nativas no
procurava entender o papel das espcies quanto sua funo na floresta. Essas
experimentaes procuraram colocar as espcies casualizadamente no campo, sem a
preocupao de combinar espcies segundo suas exigncias ecolgicas, o que dificulta
generalizaes sobre grupos de espcies com comportamentos comuns, ou seja, no
incorporavam os conceitos de grupos ecolgicos e nem o conhecimento sobre o papel
da diversidade na restaurao de reas degradadas (Nave, 2005).
5
HistriconoBrasilasprimeirasexperincias
O papel da floresta consistia na produo dos recursos hdricos e edficos, na
recuperao de bacias degradadas e na estabilizao de encostas, servindo de
justificativa fundamental para a elaborao, desde o sculo XVII, de um conjunto de leis
visando proteo e a recomposio das florestas nativas brasileiras, conforme se
depreende de Andrada e Silva (1925) (apud Kageyama & Castro, 1989).
A escassez de gua e a proteo das matas foram, no Brasil Colnia e Imprio,
dois problemas que andaram lado a lado. Como exemplo deste cenrio, a necessidade
de gua para a populao carioca foi o fator decisivo para a desapropriao das terras
das bacias hidrogrficas dos rios que abasteciam a cidade, com o objetivo de recompor a
vegetao original devastada pelo extrativismo e pelas plantaes de caf (Kageyama &
Castro, 1989).
O histrico desta fase, no Brasil, inicia-se no sculo XIX , sendo um dos primeiros
trabalhos de restaurao florestal iniciado em 1862, na atual Floresta Nacional da Tijuca,
municpio do Rio de Janeiro, visando preservao das nascentes e regularizao do
abastecimento pblico de gua (Czar & Oliveira, 1992). Em seguida, um processo
semelhante ocorreu na recomposio de parte da mata do Parque Nacional de Itatiaia,
com a plantao, em 1954, de espcies de rpido crescimento promovendo a
regenerao natural de espcies caractersticas dos estdios finais da sucesso
(Kageyama & Castro, 1989). Outro trabalho de grande importncia iniciou-se no
municpio de Cosmpolis em 1955, s margens do Rio Jaguari, utilizando-se 71 espcies
arbustivo-arbreas, a maioria nativas, sem espaamento definido entre as mudas
plantadas (Nogueira, 1977). Esse reflorestamento foi finalizado em 1960, e segundo o
autor, as espcies foram distribudas de forma a no constituir grupos homogneos,
com o objetivo de reconstruir a fisionomia da mata original e fornecer alimento a
ictiofauna.
J na dcada de 1970, houve alguns exemplos de iniciativas de plantios
realizados pela CESP (Companhia Energtica de So Paulo), iniciados nos reservatrios
da Usina Hidreltrica de Paraibuna (Paraibuna, SP) e UHE Mrio Lopes Leo
6
(Promisso, SP), partindo dos objetivos de "consolidar as reas de emprstimo para
controle de deslizamentos de solo e de reafeioar a paisagem adulterada, recuperando
os padres visuais predominantes na regio". Esses reflorestamentos basearam-se no
modelo de plantio com distribuio ao acaso das espcies, resultando em florestas
mistas, com longo tempo para estabelecimento (fechamento das copas) e insucesso de
diversas espcies nas condies existentes, o que determinou a reavaliao da
metodologia (Kageyama etal., 1990) e possibilitou a incorporao de novos objetivos.
Embora as condies no tenham sido controladas experimentalmente, os resultados
obtidos mostram tendncias a serem testadas no consrcio de espcies arbreas. Esses
resultados, aliados aos conceitos da sucesso secundria, permitiram delinear os
experimentos instalad