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SALVADOR SEGUNDA-FEIRA 23/6/2014 B2 POLÍTICA ENTREVISTA Eduardo Vasconcelos (PSB), candidato a vice-governador da Bahia na chapa PSB-Rede NÃO SE FAZ EDUCAÇÃO SEM SAÚDE PÚBLICA PATRÍCIA FRANÇA Engenheiro civil de carreira, o ex-prefeito de Brumado em dois mandatos conseguiu reduzir o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) do município, que passou da 100ª posição no Estado para a 1ª. A fórmula para tal feito, revela ele, foi a municipalização de todas as escolas. “Isso é possível fazer em toda Bahia”, crê, avisando que educação será sua principal bandeira, caso a senadora Lídice da Mata (PSB) vença o governo. O senhor pensava em dispu- tar uma das cadeiras na As- sembleia Legislativa ou na Câmara dos Deputados, mas acabou abrindo mão e acei- tou o convite para ser vice na chapa da senadora Lídice. Por quê? Eu tinha motivação muito forte para ser deputado fe- deral, era a minha prefe- rência, em função da mi- nha bandeira municipalis- ta, que acho que ela só po- dia ser desfraldada, de fato, lá no Congresso. Mas, com a andar da carruagem, e a senadora tendo lembrado do meu nome, eu fiquei muito honrado e aceitei es- te desafio, porque tenho certeza do sucesso desse grupo de pessoas de mãos limpas, que querem dar um novo rumo para a Ba- hia do futuro. Os seu único cargo eletivo foi como prefeito, duas vezes, do município de Brumado. O senhor está preparado para ser vice-governador de um estado com as dimensões e os problemas da Bahia? Eu me considero prepara- do porque tenho uma for- mação acadêmica bastante robusta. Sou engenheiro civil, fui juiz classista du- rante seis anos, minha es- posa é juíza aposentada, te- nho história de participa- ção no Conselho de Cida- dania no nosso município, sem falar na própria car- reira profissional de 42 anos de engenharia, exer- cendo cargos de gerencia- mento na Magnesita S.A. Toda essa história de vida somada a mais oito anos no exercício do comando de um município do porte de Brumado, que chega a 70 mil habitantes, me prepa- raram e me deram apren- dizado. O chinês diz que se aprende por duas formas: pelo estudo ou pelo sofri- mento. Aprendi pela dor, muito mais. Costumo dizer que se eu fosse escrever um livro se chamaria Gracilia- no Ramos ao Cubo, porque o escritor, ao contar em ver- so e prosa a história do seu mandato de prefeito em Palmeira dos Indios (Ala- goas), acaba renunciando ao final do segundo ano de mandato. Como eu fiquei oito, também sem nenhum caixa dois, sem meter a mão na coisa pública, pos- so dizer que sou Graciliano ao cubo. No primeiro mandato de prefeito, em 2004. o senhor era do PR, partido que à épo- ca integrava o núcleo carlis- ta. Em 2008, elege-se pelo PSDB, mas logo se desfilia, fica sem legenda mais de dois anos e, no final de 2013, vai para o PSB. Essa troca partido se deve a quê? Essa é uma necessidade de- corrente da fraqueza dos partidos no Brasil e das contingências, sobretudo da Bahia e do Nordeste, em que a cooptação das lide- ranças políticas acontece, não que o cooptado tenha essa personalidade de Ma- cunaíma, de não saber o que quer. Eu diria, muito pelo contrário. Eu diria que é uma forma de patriotis- mo. Ninguém pode preju- dicar a sua terra, o seu povo, não corresponder à con- fiança dos eleitores, pelo fato de você estar em um partido que não tem um livre trânsito nas escalas maiores do poder. Essa é uma história vivida no Bra- sil todo. Quem não se lem- bra do governo de Sarney, quando o PMDB se tornou, de uma hora para outra um mega partido? Olha o PT, quanto cresceu de lá para cá? Então, não fui exceção, embora tenha mantido uma fidelidade aos meus ideais de servir o povo. No primeiro mandato eu me filiei ao PL, que depois vi- rou PR, porque eu me con- trapunha a Geddel Vieira Lima e o então prefeito da cidade (Edmundo Pereira, também do PMDB e ex-vi- ce-governador de Jaques Wagner) e me filiei a um partido do grupo de ACM, em contraposição ao que representava, para nós, um mal para a cidade. E sua ida para o PSDB? Disputei o segundo man- dato pelo PSDB (derrotan- do a ex-deputada estadual Marizete Pereira, mulher do então vice-governador) porque entendia que ele ti- nha uma bandeira que fa- zia sentido. Posteriormen- te, fiquei sem legenda por um bom tempo e só voltei a me filiar, agora. Eviden- temente que há uma dose de desilusão com tudo o que acontece no País. Mas como a luta continua, e é a para frente que se anda, eu busquei o PSB em função das pessoas que o com- põem, sobretudo a senado- ra Lídice da Mata, e, agora, reforçado com Marina Sil- va, Eduardo Campos e a ex-ministra Eliana Cal- mon. Então, me sinto num grupo que está elevando o patamar ético da política estadual e do País. Que projetos o senhor de- senvolveu em Brumado, que imagina poderá tocar em âmbito estadual? O que pinço como mais im- portante é o da educação. Não se faz educação sem saúde pública. Isso está até no Evangelho. Cristo, quan- do às margens do Mar da Galileia, antes de explicar o Evangelho, multiplicou os pães e os peixes, porque a fome é um tipo de doença. Ele curou as pessoas da fo- me para depois pregar o Evangelho. Um professor não pode ensinar na sala de aula, com alunos doentes. Mais de 80% da felicidade humana depende da saú- de. Pegamos o hospital de Brumado e mais do que quintuplicamos área da saúde. Deixamos o hospi- tal com a UTI pronta, falta o prefeito atual colocar em funcionamento. E o que fi- zemos na educação em Brumado é perfeitamente possível se fazer em toda a Bahia, apenas com os 25% de recursos do orçamento destinados ao setor pela Constituição e a Lei de Res- ponsabilidade Fiscal. O senhor pode explicar co- mo fez? Nós implementamos 10 atividades diferenciadas para chegar ao êxito que tivemos. Em 2005, o Ideb (Índice de Desenvolvimen- to de Ensino Básico), na pri- meira avaliação feita em sala de aula, colocou Bru- mado no 100º lugar na Ba- hia. Dois anos depois, fo- mos para o 20º lugar; em 2009, para o 5º; e deixamos o município, em 2012, em primeiro lugar. Foi em um passo de mágica? Não. Foi fazendo a municipalização de todas as escolas de en- sino fundamental. Seis ou oito dessas escolas eram geridas pelo Estado, e fi- cavam sem aula até meado do ano. Registra-se que esse índice Ideb é a média do aproveitamento dos alu- nos de todas as escolas do fundamental, quer sejam municipal ou gerida pelo Estado. E como as escolas do Estado puxavam as do município para baixo, ti- vemos que municipalizar, sob pena de o município não crescer, o que é um ab- surdo. Depois fui fazer o que Anísio Teixeira (edu- cador baiano) já dizia em 1930: ‘Jamais teremos uma democracia, enquanto não implantarmos no País uma fábrica de democracia, e es- sa fábrica chama-se escola pública de qualidade’. Fui a Belo Horizonte copiar o modelo da escola de tempo integral, que é uma evolu- ção da escola-parque de Anísio teixeira. Deixamos sete escolas prontas, com cinco em funcionamento. E fizemos convênios com universidades e, hoje, os 200 professores do muni- cípio têm curso superior. Uma chapa puro sangue, com cerca de dois minutos no horário eleitoral na TV, tem chances, efetivas, de chegar ao segundo turno? Acho que tem. A idade traz muitas inconveniências, mas algumas valem a pena. Fui contemporâneo do ‘varre, varre, vassourinha’, do ex-presidente Jânio Quadros, que mexeu com o País. Era um homem des- conhecido, do Mato Grosso, que criou uma ex- pectativa muito grande de mudar o Brasil. Infeliz- mente sete meses depois renunciou. Mas o apelo funcionou, porque o bra- sileiro ansiava por uma mudança de mãos limpas. Depois tivemos a Repúbli- ca dos Marajás (era Collor), que nós esperávamos tam- bém que corrigisse esse desvirtuamento ético do País. Mas deu no que deu (impeachment). Então, acredito que o apelo Lídi- ce-Eliana Calmon vai atin- gir, exatamente, o coração dos baianos no sentido de buscar uma mudança e transferir a Bahia desse passado, que ninguém quer mais voltar, desse pre- sente, que está decepcio- nando, para um futuro realmente promissor. O fato de ser uma liderança do interior, um ex-prefeito, vai ajudar, de fato, a candi- data ao governo conquistar votos no Estado, já que, até agora, o PSL declarou apoio à chapa socialista? Acho que agregar diversos partidos tem um lado bom, mas tem um lado ruim. Po- de ter um lado bom para chegar ao poder, mas não se pode pagar todos os pre- ços, porque os fins não jus- tificam os meios. Então, chegar lá com uma coliga- ção menor , vai-se ter mais liberdade para implemen- tar aquilo que tem que ser feito. Não vai ficar refém de nenhum ideal diferente do seu. E é isso que estou ven- do na nossa chapa. O nosso plano de governo, que está em fase final, foi fruto de seis seminários exaustivos falando de saúde, educa- ção, segurança pública.Foi elaborado um documento que vai pautar todo o nosso programa a ser colocado para a população. Essa será a nossa grande aliada. Uma das reivindicações dos prefeitos é o aumento dos repasses federais, como o Fundo de Participação dos Municípios (FPM). Sendo vi- ce-governador, o senhor pre- tende abraçar a causa mu- nicipalista? Já abracei no dia da nossa convenção. No meu discur- so eu falei que a educação é a primeira bandeira e a segunda, o municipalismo. Nós nascemos e vivemos no município. É nele que nós somos felizes ou não, nos realizamos ou não. É ele que nos acolhe na úl- tima hora. Portanto, come- çando pela economia, acho que tem que haver uma re- forma. Em países desenvol- vidos como a Alemanha, quarenta por cento da ri- queza nacional fica nos municípios. Aqui nós te- mos pífios 15%, ficando 25% para os Estados e 60% para a União. Os municí- pios estão empobrecidos. É preciso facilitar, tornar possível a vida dos prefei- tos, para administrarem com dignidade e com au- tonomia. Porque os prefei- tos são violentados pelo or- denamento administrati- vo do País, o que faz com que muitos se submetam a situações absurdas. O candidato governista, o petista Rui Costa, costuma dizer que nenhum outro go- verno investiu e realizou tantas obras como este go- verno. O senhor concorda? Comparar governo em exer- cício com governo anterior é um erro matemático grave, porque o orçamento cresce em escala geométrica. É o mesmo que comparar alhos com bugalhos. Eu não vejo como se possa fazer um pa- ralelo, uma comparação nessa ordem. O senhor acha, então, que é perda de tempo levar o de- bate político na campanha para a polarização entre o PT e DEM? Essa comparação não é vá- lida, porque não se pode comparar coisas que acon- teceram em períodos dife- rentes. Não entendo assim. Querer comparar o gover- no do PT com o governo anterior do DEM e com o anterior a esse e o que vem, é difícil. Porque estamos fa- lando de épocas diferentes e recursos totalmente di- ferentes. Essa discussão é vazia. Por isso, apostamos é na nossa proposta. Nós so- mos a terceira via que vai fazer a diferença. Gabriel Carvalho/ Instituto Pensar/ 18.6.2014 Fiquei oito anos na prefeitura sem nenhum caixa dois, sem meter a mão na coisa pública A causa municipalista será a minha segunda prioridade no governo Comparar o governo do PT com o do DEM é erro matemático grave porque os orçamentos são diferentes

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SALVADOR SEGUNDA-FEIRA 23/6/2014B2 POLÍTICA

ENTREVISTA Eduardo Vasconcelos (PSB), candidato a vice-governador da Bahia na chapa PSB-Rede

NÃOSEFAZEDUCAÇÃOSEMSAÚDEPÚBLICA

PATRÍCIA FRANÇA

Engenheiro civil de carreira, o ex-prefeito de Brumado em doismandatosconseguiu reduzir o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb)do município, que passou da 100ª posição no Estado para a 1ª. A fórmulapara tal feito, revela ele, foi a municipalização de todas as escolas. “Isso épossível fazeremtodaBahia”,crê,avisandoqueeducaçãoserásuaprincipalbandeira, caso a senadora Lídice da Mata (PSB) vença o governo.

O senhor pensava emdispu-tar uma das cadeiras na As-sembleia Legislativa ou naCâmara dosDeputados,masacabou abrindo mão e acei-touoconviteparaservicenachapa da senadora Lídice.Por quê?

Eu tinha motivação muitoforte para ser deputado fe-deral, era a minha prefe-rência, em função da mi-nha bandeiramunicipalis-ta, que acho que ela só po-dia serdesfraldada,de fato,lá no Congresso. Mas, coma andar da carruagem, e asenadora tendo lembradodo meu nome, eu fiqueimuitohonradoeaceitei es-te desafio, porque tenhocerteza do sucesso dessegrupo de pessoas de mãoslimpas, que querem darum novo rumo para a Ba-hia do futuro.

Osseuúnicocargoeletivofoicomo prefeito, duas vezes,domunicípiodeBrumado.Osenhor está preparado paraser vice-governador de umestado com as dimensões eos problemas da Bahia?

Eu me considero prepara-do porque tenho uma for-maçãoacadêmicabastanterobusta. Sou engenheirocivil, fui juiz classista du-rante seis anos, minha es-posaé juízaaposentada, te-nho história de participa-ção no Conselho de Cida-dania no nosso município,sem falar na própria car-reira profissional de 42anos de engenharia, exer-cendo cargos de gerencia-mento na Magnesita S.A.Toda essa história de vidasomadaamaisoitoanosnoexercício do comando deum município do porte deBrumado, que chega a 70mil habitantes, me prepa-raram e me deram apren-dizado. O chinês diz que seaprende por duas formas:pelo estudo ou pelo sofri-mento. Aprendi pela dor,muitomais. Costumodizerqueseeufosseescreverumlivro se chamaria Gracilia-no Ramos ao Cubo, porqueoescritor,aocontaremver-so e prosa a história do seumandato de prefeito emPalmeira dos Indios (Ala-goas), acaba renunciandoao final do segundo ano demandato. Como eu fiqueioito,tambémsemnenhumcaixa dois, sem meter amão na coisa pública, pos-so dizer que souGracilianoao cubo.

No primeiro mandato deprefeito, em 2004. o senhorera do PR, partido que à épo-ca integrava o núcleo carlis-ta. Em 2008, elege-se peloPSDB, mas logo se desfilia,fica sem legenda mais dedois anos e, no final de 2013,vai para o PSB. Essa trocapartido se deve a quê?

Essaéumanecessidadede-corrente da fraqueza dospartidos no Brasil e dascontingências, sobretudoda Bahia e doNordeste, emque a cooptação das lide-ranças políticas acontece,não que o cooptado tenhaessa personalidade de Ma-cunaíma, de não saber oque quer. Eu diria, muitopelo contrário. Eudiriaqueé uma forma de patriotis-mo. Ninguém pode preju-dicarasuaterra,oseupovo,não corresponder à con-fiança dos eleitores, pelofato de você estar em umpartido que não tem umlivre trânsito nas escalasmaiores do poder. Essa éumahistóriavividanoBra-sil todo. Quem não se lem-bra do governo de Sarney,quando o PMDB se tornou,deumahoraparaoutraummega partido? Olha o PT,quanto cresceu de lá paracá? Então, não fui exceção,embora tenha mantidouma fidelidade aos meus

ideais de servir o povo. Noprimeiro mandato eu mefiliei ao PL, que depois vi-rou PR, porque eu me con-trapunha a Geddel VieiraLima e o então prefeito dacidade (Edmundo Pereira,também do PMDB e ex-vi-ce-governador de JaquesWagner) e me filiei a umpartido do grupo de ACM,em contraposição ao querepresentava, paranós,ummal para a cidade.

E sua ida para o PSDB?Disputei o segundo man-dato pelo PSDB (derrotan-do a ex-deputada estadualMarizete Pereira, mulherdo então vice-governador)porque entendia que ele ti-nha uma bandeira que fa-zia sentido. Posteriormen-te, fiquei sem legenda porum bom tempo e só volteia me filiar, agora. Eviden-temente que há uma dosede desilusão com tudo oque acontece no País. Mascomo a luta continua, e é apara frente que se anda, eubusquei o PSB em funçãodas pessoas que o com-põem, sobretudoa senado-ra Lídice da Mata, e, agora,reforçado com Marina Sil-va, Eduardo Campos e aex-ministra Eliana Cal-mon. Então, me sinto numgrupo que está elevando opatamar ético da políticaestadual e do País.

Que projetos o senhor de-senvolveu emBrumado, queimagina poderá tocar emâmbito estadual?

Oquepinçocomomais im-portante é o da educação.Não se faz educação semsaúde pública. Isso está aténoEvangelho.Cristo,quan-do às margens do Mar daGalileia,antesdeexplicaroEvangelho, multiplicou ospães e os peixes, porque afome é um tipo de doença.

Ele curou as pessoas da fo-me para depois pregar oEvangelho. Um professornãopodeensinarnasaladeaula, com alunos doentes.Mais de 80% da felicidadehumana depende da saú-de. Pegamos o hospital deBrumado e mais do quequintuplicamos área dasaúde. Deixamos o hospi-tal com a UTI pronta, faltao prefeito atual colocar emfuncionamento. E o que fi-zemos na educação emBrumado é perfeitamentepossível se fazer em toda aBahia, apenas com os 25%de recursos do orçamentodestinados ao setor pelaConstituição e a Lei de Res-ponsabilidade Fiscal.

O senhor pode explicar co-mo fez?

Nós implementamos 10atividades diferenciadaspara chegar ao êxito quetivemos. Em 2005, o Ideb(Índice de Desenvolvimen-todeEnsinoBásico),napri-meira avaliação feita emsala de aula, colocou Bru-mado no 100º lugar na Ba-hia. Dois anos depois, fo-mos para o 20º lugar; em2009,parao5º;edeixamoso município, em 2012, emprimeiro lugar. Foi em umpasso de mágica? Não. Foifazendoamunicipalizaçãode todas as escolas de en-sino fundamental. Seis ouoito dessas escolas eramgeridas pelo Estado, e fi-cavam semaula atémeadodoano.Registra-sequeesseíndice Ideb é a média doaproveitamento dos alu-nos de todas as escolas dofundamental, quer sejammunicipal ou gerida peloEstado. E como as escolasdo Estado puxavam as domunicípio para baixo, ti-vemos que municipalizar,sob pena de o municípionão crescer, o que é umab-

surdo. Depois fui fazer oque Anísio Teixeira (edu-cador baiano) já dizia em1930: ‘Jamais teremosumademocracia, enquanto nãoimplantarmosnoPaísumafábricadedemocracia,ees-sa fábrica chama-se escolapública de qualidade’. Fui aBelo Horizonte copiar omodelodaescolade tempointegral, que é uma evolu-ção da escola-parque deAnísio teixeira. Deixamossete escolas prontas, comcinco em funcionamento.E fizemos convênios comuniversidades e, hoje, os200 professores do muni-cípio têm curso superior.

Uma chapa puro sangue,com cerca de dois minutosno horário eleitoral na TV,tem chances, efetivas, dechegar ao segundo turno?

Acho que tem. A idade trazmuitas inconveniências,masalgumasvalemapena.Fui contemporâneo do‘varre, varre, vassourinha’,do ex-presidente JânioQuadros,quemexeucomoPaís. Era um homem des-conhecido, lá do MatoGrosso, que criou uma ex-pectativa muito grande demudar o Brasil. Infeliz-mente sete meses depoisrenunciou. Mas o apelofuncionou, porque o bra-sileiro ansiava por umamudança de mãos limpas.Depois tivemos a Repúbli-ca dosMarajás (era Collor),que nós esperávamos tam-bém que corrigisse essedesvirtuamento ético doPaís. Mas deu no que deu(impeachment). Então,acredito que o apelo Lídi-ce-Eliana Calmon vai atin-gir, exatamente, o coraçãodos baianos no sentido debuscar uma mudança etransferir a Bahia dessepassado, que ninguémquermaisvoltar,dessepre-

sente, que está decepcio-nando, para um futurorealmente promissor.

O fato de ser uma liderançado interior, um ex-prefeito,vai ajudar, de fato, a candi-data ao governo conquistarvotos no Estado, já que, atéagora, só o PSL declarouapoio à chapa socialista?

Acho que agregar diversospartidos temumladobom,mas temumlado ruim. Po-de ter um lado bom parachegar ao poder, mas nãose podepagar todos os pre-ços, porque os fins não jus-tificam os meios. Então,chegar lá com uma coliga-çãomenor , vai-se ter maisliberdade para implemen-tar aquilo que tem que serfeito.Nãovai ficarrefémdenenhum ideal diferente doseu. E é isso que estou ven-donanossa chapa.Onossoplano de governo, que estáem fase final, foi fruto deseis seminários exaustivosfalando de saúde, educa-ção, segurança pública.Foielaborado um documentoquevaipautar todoonossoprograma a ser colocadopara a população. Essa seráa nossa grande aliada.

Uma das reivindicações dosprefeitos é o aumento dosrepasses federais, como oFundo de Participação dosMunicípios (FPM). Sendo vi-ce-governador,osenhorpre-tende abraçar a causa mu-nicipalista?

Já abracei no dia da nossaconvenção.Nomeudiscur-so eu falei que a educaçãoé a primeira bandeira e asegunda,omunicipalismo.Nós nascemos e vivemosno município. É nele quenós somos felizes ou não,nos realizamos ou não. Éele que nos acolhe na úl-tima hora. Portanto, come-çandopelaeconomia, achoque temque haver uma re-forma.Empaísesdesenvol-vidos como a Alemanha,quarenta por cento da ri-queza nacional fica nosmunicípios. Aqui nós te-mos pífios 15%, ficando25% para os Estados e 60%para a União. Os municí-pios estão empobrecidos. Épreciso facilitar, tornarpossível a vida dos prefei-tos, para administraremcom dignidade e com au-tonomia. Porque os prefei-tos sãoviolentadospeloor-denamento administrati-vo do País, o que faz comquemuitos se submetamasituações absurdas.

O candidato governista, opetista Rui Costa, costumadizer que nenhum outro go-verno investiu e realizoutantas obras como este go-verno. O senhor concorda?

Comparargovernoemexer-cíciocomgovernoanterioréum erro matemático grave,porque o orçamento cresceem escala geométrica. É omesmoquecompararalhoscom bugalhos. Eu não vejocomo se possa fazer umpa-ralelo, uma comparaçãonessa ordem.

O senhor acha, então, que éperda de tempo levar o de-bate político na campanhaparaapolarizaçãoentreoPTe DEM?

Essa comparação não é vá-lida, porque não se podecomparar coisas que acon-teceram em períodos dife-rentes. Não entendoassim.Querer comparar o gover-no do PT com o governoanterior do DEM e com oanterior a esse eoquevem,édifícil.Porqueestamosfa-lando de épocas diferentese recursos totalmente di-ferentes. Essa discussão évazia.Por isso, apostamoséna nossa proposta. Nós so-mos a terceira via que vaifazer a diferença.

Gabriel Carvalho/ Instituto Pensar/ 18.6.2014

Fiquei oito anosna prefeiturasem nenhumcaixa dois, semmeter a mão nacoisa pública

A causamunicipalistaserá a minhasegundaprioridade nogoverno

Comparar ogoverno do PTcom o do DEM éerro matemáticograve porque osorçamentos sãodiferentes