1
PÁGINA 6 - MAIO DE 2011 Tecnologia muda consumo do brasileiro Compras virtuais competem com mercado tradicional conforme avanço da tecnologia no país Banco de Imagens Modelos de compra pela internet conquistam consumidor brasileiro Pesquisas recentes apontam que o comércio eletrônico teve alta de 27,4% no país. Os consumidores adquirem desde livros, CDs, DVDs, eletrodomésticos a viagens e pacotes em spas. “Cada vez mais o brasileiro está adaptado à compra na inter- net, porém ainda há resistência em relação a produtos da linha branca (eletrodomésticos)”, afirma o econo- mista Guilherme Medeiros. Nas últimas décadas, pelo menos três modelos de compra via inter- net surpreenderam o consumidor brasileiro. Algumas empresas aliam lojas físicas também à venda de seus produtos em grandes portais; outras apostam em um modelo unicamente virtual; outras ainda utilizam um mo- delo de vendas que vem ganhando maior destaque no mercado online, chegando a ter descontos de até 90%: as compras coletivas. Um nú- mero mínimo de compradores é pré-estabelecido, lança-se uma oferta e a venda do produto só é concretizada se o número de consumidores for atingido. O grupo pio- neiro desse pro- jeto no Brasil é o Peixe Urbano, que surgiu no início de 2010 com o objetivo de desenvolver um modelo de negócios “ganha-ganha”, que alavan- casse o poder de mobilização da inter- net para trazer benefícios à sociedade, Usuários devem ter cuidados com e-mails colocando em contato os me- lhores prestado- res de serviços de cada cidade e um número grande de consumidores interessados em conhecer novos estabelecimentos perto de suas re- sidências. “Um dos fatores do grande sucesso das compras co- letivas tem a ver com as características do consumidor brasileiro de utilizar bastante a internet, as redes sociais, de compartilhar novidades rapidamente, e de sair. Isso faz com que tudo se CIÊNCIA E TECNOLOGIA Andressa Moura Felipe Leandro espalhe muito rápido”, afirma Leticia Leite, diretora do Peixe Urbano. Além do comodismo que as lojas virtuais oferecem, preços inusitados e produtos que em lojas físicas não estão a venda, muitas também eliminam a cobrança de frete, o que chama a aten- ção do consumidor. “Normalmente, antes de finalizar qualquer compra, pesquiso nos sites e quase sempre eles têm alguma vantagem que a loja física não tem, e acabo finalizando a compra virtualmente mesmo”, conta Claudomiro Silva, mecânico industrial. Entre as desvantagens em adqui- rir produtos pela internet apontadas pelos consumidores, estão as preocu- pações em receber o que corretamen- te foi comprado e, em alguns casos, não ter o direito de troca. Embora uma das maiores agên- cias de viagens online do país afirme que “todos os seus consultores são aptos a fazer o que for necessário para contornar a situação para o bem maior dos clientes”, grande parte dos consumidores reclama quanto à prestação de serviço quando erros acontecem. “Em caso de desistência da compra, é muita dor de cabeça e raramente tudo dá certo, desde a devolução, troca, até o estorno do pagamento”, diz Matheus Medola, designer gráfico. Seguindo as novas estatísticas so- bre o comércio eletrônico, especialis- tas acreditam que nos próximos anos o mercado ainda pode ser palco de um número ainda maior de novos produ- tos e modelos de negócios. “A internet Banco de Imagens Número de crimes virtuais cresce no país Confira algumas dicas do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) para se proteger na hora das compras virtuais: Além do e-mail, verifique se a loja oferece outros meios (tele- fone, endereço) para que possa encontrá-la caso aconteça algum problema. As administradoras de cartão de crédito também podem ajudar na localização da empresa. Imprima todos os procedi- mentos realizados para a compra, assim como a confirmação do pedido, que muitas vezes é enviada por e-mail. Se possível, também solicite à empresa um fax ou uma confirmação por escrito de que a aquisição foi feita. Evite pagar antecipadamen- te pela encomenda. Cuidado com promoções. Lembre-se que muitas vezes ao preço do produto ainda será soma- do o valor de sua postagem (frete). Ao comprar num site es- trangeiro, não deixe de verificar as taxas de importação e o valor do frete. Procure saber também se a empresa tem representantes no Brasil. Dicas para sua proteção “A internet é muito ampla, nela você pode vender qualquer coisa e com isso as pessoas vão criando novas ferramentas que cada vez mais acostumam usar.” Guilherme Medeiros Adriano Alves Acompanhando a tendência de evolução da tecnologia, os criminosos também adotaram novas formas para atingir objetivos ilícitos, por meio dos chamados crimes cibernéticos. Esse tipo de crime é cometido por meios tecnológicos, e atualmente atingem grande parte da população brasileira, que é 5ª no ranking mundial com mais conexões de internet. Segundo estudo do instituto Nielsen Online, de outubro de 2009 a outubro de 2010, o número de usuários ativos cresceu 13,2%, o que representa 41,7 milhões de pessoas. Ainda de acordo com estatísticas do Cert.br, em 10 anos o número de incidentes registrados pulou de 99,3 mil para 328,3 mil. Neste contexto, os criminosos ganharam novas ferramentas para se aproveitar da inexperiência de muitos usuários da internet, como explica o delegado Higor Vinicius Nogueira Jorge, especialista em crimes cibernéticos e professor de análise de inteligência da Acadepol. “Temos visto muitos casos de criminosos que utilizam programas de spam, ou seja, que enviam e-mails em massa que geralmente possuem como anexos programas maliciosos ou contendo links que direcionam o usuário a um site que tenha algum programa com esta finalidade. Este tipo de programa pode ser um keylogger, que registra todas as teclas digitadas, também pode ser um trojan horse, que permite a utilização do computador da vítima de forma remota e a inclusão de diversos tipos de vírus que produzem danos ao computador da vítima. Boa parte das invasões tem a finalidade de obter informações confi- denciais da vítima, como por exemplo, dados do cartão de crédito, da conta e senhas”, explica Jorge. Os crimes virtuais ainda podem ser classificados como exclusivamen- te cibernéticos, quando praticados somente na web, ou abertos, quando há a possibilidade de acontecer também em âmbito real, como a pedofilia, por exemplo. O internauta Eduardo Fonseca já foi vítima de worms (mensagens que, quando clicadas, se espalham por to- dos os contatos) pelo MSN (programa que permite conversa entre usuários em tempo real). “Cliquei sem querer e meu MSN chamava conversas com mensagens para clicar no link. Avisei o máximo de amigos que pude”, conta. Esses são os crimes exclusivamente cibernéticos. Nogueira destaca que a difusão desses crimes é muito comum, principalmente pela inserção de fotos e alguns vídeos em sites. Ele diz que essas situações geralmente são resol- vidas e os autores presos e indiciados. “Recentemente tivemos a oportuni- dade de participar de investigações relacionadas à difusão de vídeos com pornografia infantil no Youtube, cujos autores foram devidamente identifica- dos. Para evitar essa situação, indico o diálogo franco e aberto, além da mo- nitoração das atividades dos filhos”, afirma o delegado. A outra classificação de crimes cibernéticos são as ações atípicas que são aquelas que causam transtorno ao usuário, como a disseminação de um vírus pela rede. Estas ações não são consideradas criminosas, o que acaba atrapalhando a ação da polícia, deixando-a de mãos atadas. Algumas atitudes devem ser to- madas quando uma pessoa perceber que foi vítima desses tipos de crime. Bruno Aguiar, criador do blog “cri- mesciberneticos.com”, diz o que deve ser feito. “Se a ameaça realmente se concretizou, se você foi vítima de um crime, sugiro procurar os meios legais convencionais, registrar um boletim de ocorrência na delegacia, procurar o banco se for fraude bancária e reunir o maior número possível de provas salvando todos os arquivos que tiver sobre o crime. Caso seja para fazer denúncia, pode fazer para o Minis- tério Público Federal”, aconselha. É importante ressaltar que todas as uni- dades da polícia civil e polícia federal atendem a esse tipo de ocorrência. A polícia civil destaca que umas das dificuldades de se investigar esses crimes é a demora dos provedores de internet e de serviços de informação em fornecerem os dados que interes- sam à investigação. Outro empecilho encontrado pelas autoridades é o fato de muitas lan houses não registrarem as pessoas que acessam a internet nos estabelecimentos, mesmo existindo uma lei que as obriguem a isso. “Acredito que existam dois pro- blemas para serem abordados sobre esta questão. O primeiro é que algumas atividades nocivas contra usuários de internet devem ser crimi- nalizadas para que se iniba a prática das mesmas. A outra, é que muitas vezes os integrantes do Judiciário, do Ministério Público e de órgãos da segurança pública não estão adequa- damente preparados para lidar com a persecução de crimes cibernéticos. Neste sentido, defendemos a aprova- ção da lei sobre crimes de informática (Lei Azeredo) e esperamos que haja um melhor investimento na prepa- ração de todos os funcionários que tenham contato com crimes virtuais,” finaliza Jorge. é muito ampla, nela você pode vender qualquer coisa e com isso as pessoas vão criando novas ferramentas que cada vez mais as pessoas acostumam usar. E com isso a economia gira trazendo coisas melhores para quem acessa a internet e assim fidelizando o cliente”, conclui Medeiros.

Página6

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Página6

PÁGINA 6 - MAIO DE 2011

Tecnologia muda consumo do brasileiroCompras virtuais competem com mercado tradicional conforme avanço da tecnologia no país

Banco de Im

agens

Modelos de compra pela internet conquistam consumidor brasileiro

Pesquisas recentes apontam que o comércio eletrônico teve alta de 27,4% no país. Os consumidores adquirem desde livros, CDs, DVDs, eletrodomésticos a viagens e pacotes em spas. “Cada vez mais o brasileiro está adaptado à compra na inter-net, porém ainda há resistência em relação a produtos da linha branca (eletrodomésticos)”, afirma o econo-mista Guilherme Medeiros.

Nas últimas décadas, pelo menos três modelos de compra via inter-net surpreenderam o consumidor brasileiro. Algumas empresas aliam lojas físicas também à venda de seus produtos em grandes portais; outras apostam em um modelo unicamente virtual; outras ainda utilizam um mo-delo de vendas que vem ganhando maior destaque no mercado online, chegando a ter descontos de até 90%: as compras coletivas. Um nú-mero mínimo de compradores é pré-estabelecido, l ança - s e uma oferta e a venda do produto só é concretizada se o número de consumidores for atingido.

O grupo pio-neiro desse pro-jeto no Brasil é o Peixe Urbano, que surgiu no início de 2010 com o objetivo de desenvolver um modelo de negócios “ganha-ganha”, que alavan-casse o poder de mobilização da inter-net para trazer benefícios à sociedade,

Usuários devem ter cuidados com e-mails

colocando em contato os me-lhores prestado-res de serviços de cada cidade e um número grande de consumidores interessados em conhecer novos estabelecimentos perto de suas re-sidências. “Um dos fatores do grande sucesso das compras co-

letivas tem a ver com as características do consumidor brasileiro de utilizar bastante a internet, as redes sociais, de compartilhar novidades rapidamente, e de sair. Isso faz com que tudo se

CIÊNCIA E TECNOLOGIA

Andressa MouraFelipe Leandro

espalhe muito rápido”, afirma Leticia Leite, diretora do Peixe Urbano.

Além do comodismo que as lojas virtuais oferecem, preços inusitados e produtos que em lojas físicas não estão a venda, muitas também eliminam a cobrança de frete, o que chama a aten-ção do consumidor. “Normalmente, antes de finalizar qualquer compra, pesquiso nos sites e quase sempre eles têm alguma vantagem que a loja física não tem, e acabo finalizando a compra virtualmente mesmo”, conta Claudomiro Silva, mecânico industrial.

Entre as desvantagens em adqui-rir produtos pela internet apontadas pelos consumidores, estão as preocu-pações em receber o que corretamen-te foi comprado e, em alguns casos, não ter o direito de troca.

Embora uma das maiores agên-cias de viagens online do país afirme que “todos os seus consultores são aptos a fazer o que for necessário para contornar a situação para o bem maior dos clientes”, grande parte dos consumidores reclama quanto à prestação de serviço quando erros acontecem. “Em caso de desistência da compra, é muita dor de cabeça e raramente tudo dá certo, desde a devolução, troca, até o estorno do pagamento”, diz Matheus Medola, designer gráfico.

Seguindo as novas estatísticas so-bre o comércio eletrônico, especialis-tas acreditam que nos próximos anos o mercado ainda pode ser palco de um número ainda maior de novos produ-tos e modelos de negócios. “A internet

Banco de Im

agens

Número de crimes virtuais cresce no país

Confira algumas dicas do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) para se proteger na hora das compras virtuais: Além do e-mail, verifique se

a loja oferece outros meios (tele-fone, endereço) para que possa encontrá-la caso aconteça algum problema. As administradoras de cartão de crédito também podem ajudar na localização da empresa. Imprima todos os procedi-

mentos realizados para a compra, assim como a confirmação do pedido, que muitas vezes é enviada por e-mail. Se possível, também solicite à empresa um fax ou uma confirmação por escrito de que a aquisição foi feita. Evite pagar antecipadamen-

te pela encomenda. Cuidado com promoções.

Lembre-se que muitas vezes ao preço do produto ainda será soma-do o valor de sua postagem (frete). Ao comprar num site es-

trangeiro, não deixe de verificar as taxas de importação e o valor do frete. Procure saber também se a empresa tem representantes no Brasil.

Dicas parasua proteção

“A internet é muito ampla, nela você pode vender qualquer coisa e com isso as pessoas vão

criando novas ferramentas que cada vez

mais acostumam usar.”Guilherme Medeiros

Adriano Alves

Acompanhando a tendência de evolução da tecnologia, os criminosos também adotaram novas formas para atingir objetivos ilícitos, por meio dos chamados crimes cibernéticos. Esse tipo de crime é cometido por meios tecnológicos, e atualmente atingem grande parte da população brasileira, que é 5ª no ranking mundial com mais conexões de internet. Segundo estudo do instituto Nielsen Online, de outubro de 2009 a outubro de 2010, o número de usuários ativos cresceu 13,2%, o que representa 41,7 milhões de pessoas. Ainda de acordo com estatísticas do Cert.br, em 10 anos o número de incidentes registrados pulou de 99,3 mil para 328,3 mil.

Neste contexto, os criminosos ganharam novas ferramentas para se aproveitar da inexperiência de muitos usuários da internet, como explica o delegado Higor Vinicius Nogueira Jorge, especialista em crimes cibernéticos e professor de análise de inteligência da Acadepol. “Temos visto muitos casos de criminosos que utilizam programas de spam, ou seja, que enviam e-mails em massa que geralmente possuem como anexos programas maliciosos ou contendo links que direcionam o usuário a um

site que tenha algum programa com esta finalidade. Este tipo de programa pode ser um keylogger, que registra todas as teclas digitadas, também pode ser um trojan horse, que permite a utilização do computador da vítima de forma remota e a inclusão de diversos tipos de vírus que produzem danos ao computador da vítima. Boa parte das invasões tem a finalidade de obter informações confi-denciais da vítima, como por exemplo, dados do cartão de crédito, da conta e senhas”, explica Jorge.

Os crimes virtuais ainda podem ser classificados como exclusivamen-te cibernéticos, quando praticados somente na web, ou abertos, quando

há a possibilidade de acontecer também em âmbito real, como a pedofilia, por exemplo.

O internauta Eduardo Fonseca já foi vítima de worms (mensagens que, quando clicadas, se espalham por to-dos os contatos) pelo MSN (programa que permite conversa entre usuários em tempo real). “Cliquei sem querer e meu MSN chamava conversas com mensagens para clicar no link. Avisei o máximo de amigos que pude”, conta. Esses são os crimes exclusivamente cibernéticos. Nogueira destaca que a difusão desses crimes é muito comum, principalmente pela inserção de fotos e alguns vídeos em sites. Ele diz que

essas situações geralmente são resol-vidas e os autores presos e indiciados. “Recentemente tivemos a oportuni-dade de participar de investigações relacionadas à difusão de vídeos com pornografia infantil no Youtube, cujos autores foram devidamente identifica-dos. Para evitar essa situação, indico o diálogo franco e aberto, além da mo-nitoração das atividades dos filhos”, afirma o delegado.

A outra classificação de crimes cibernéticos são as ações atípicas que são aquelas que causam transtorno ao usuário, como a disseminação de um vírus pela rede. Estas ações não são consideradas criminosas, o que acaba atrapalhando a ação da polícia, deixando-a de mãos atadas.

Algumas atitudes devem ser to-madas quando uma pessoa perceber que foi vítima desses tipos de crime. Bruno Aguiar, criador do blog “cri-mesciberneticos.com”, diz o que deve ser feito. “Se a ameaça realmente se concretizou, se você foi vítima de um crime, sugiro procurar os meios legais convencionais, registrar um boletim de ocorrência na delegacia, procurar o banco se for fraude bancária e reunir o maior número possível de provas salvando todos os arquivos que tiver sobre o crime. Caso seja para fazer denúncia, pode fazer para o Minis-

tério Público Federal”, aconselha. É importante ressaltar que todas as uni-dades da polícia civil e polícia federal atendem a esse tipo de ocorrência. A polícia civil destaca que umas das dificuldades de se investigar esses crimes é a demora dos provedores de internet e de serviços de informação em fornecerem os dados que interes-sam à investigação. Outro empecilho encontrado pelas autoridades é o fato de muitas lan houses não registrarem as pessoas que acessam a internet nos estabelecimentos, mesmo existindo uma lei que as obriguem a isso.

“Acredito que existam dois pro-blemas para serem abordados sobre esta questão. O primeiro é que algumas atividades nocivas contra usuários de internet devem ser crimi-nalizadas para que se iniba a prática das mesmas. A outra, é que muitas vezes os integrantes do Judiciário, do Ministério Público e de órgãos da segurança pública não estão adequa-damente preparados para lidar com a persecução de crimes cibernéticos. Neste sentido, defendemos a aprova-ção da lei sobre crimes de informática (Lei Azeredo) e esperamos que haja um melhor investimento na prepa-ração de todos os funcionários que tenham contato com crimes virtuais,” finaliza Jorge.

é muito ampla, nela você pode vender qualquer coisa e com isso as pessoas vão criando novas ferramentas que cada vez mais as pessoas acostumam usar. E com isso a economia gira trazendo coisas melhores para quem acessa a internet e assim fidelizando o cliente”, conclui Medeiros.