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PARQ magazine issue 32

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M83, Lana del Rey, Rosangela Renno, PressPausePlay, Guimaraes 2012

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N. 32. ANo V. MArço 2012.

editoriAl

Parabéns

Quase sem perceber, cumprimos mais um ano de existência (e já são quatro!), o que nos faz sentir ainda muito verdes mas com alguma segurança. É uma espécie de fase de adolescência que nos faz viver num estado de ansiedade latente, com a necessidade de provar que ainda conseguíamos mais, caso tivéssemos mais oportunidades. Cada número ainda é vivido como sendo o primeiro e encarado como uma oportunidade de celebrar as nossas palavras iniciais, em prol de uma nova cultura de características urbanas que, acreditamos, está a crescer.

Nesta edição destacamos na grande entrevista rosANgelA reNNó, uma artista brasileira que consideramos ser uma das mais importantes na área da política das imagens e nos tem levado a pensar sobre as formas como a sociedade lembra ou esquece o seu passado. depois, não podíamos deixar de contribuir para a polémica em torno do maior fenómeno musical da temporada, lANA del rey, nem podíamos esquecer a originalidade dos M83. Ainda muito importante, trazemos um artigo com o testemunho de vários criadores, entre eles Moby, que falam sobre as oportunidades de desenvolver uma carreira sustentável tendo a internet como uma janela aberta para o mundo.

Como é uma edição de aniversário, quisemos celebrá-la pedindo a quatro fotógrafos que admiramos para, cada um, desenvolver uma imagem celebrativa. Agora é só escolherem a vossa favorita.

por Francisco Vaz Fernandes

direCtorFrancisco Vaz Fernandes [email protected]

editorFrancisco Vaz [email protected]

CoordeNAção editoriAl e ModAMargarida brito [email protected]

direCção de ArteValdemar lamego [email protected]

PubliCidAdeFrancisco Vaz [email protected]

PerioCidAde:MensaldePósito legAl: 272758/08registo erC: 125392

ediçãoConforto Moderno uni, lda.NiF: 508 399 289

PArQrua Quirino da Fonseca, 25 – 2ºesq.1000-251 lisboat. 00351.218 473 379

iMPressãobeProfit / sogAPAl2730-120 barcarena20.000 exemplares

distribuiçãoConforto Moderno uni, lda.A reprodução de todo o material é expressamente proibida sem a permissão da Parq.todos os direitos reservados. Copyright © 2008—2011 PArQ.

teXtos

Ágata C. de PinhoCarla CarboneCláudia gavinhoCláudia Matos silvadiana de Nóbregadavide Pinheiroeduarda AllenFrancisco V. Fernandesinês Monteiroingrid rodriguesJúlio dolbethMargarida brito PaesMaria João teixeiraMaria são MiguelMarta FerreiraPedro douradoPedro limaPedro Pinto teixeiraroger Winstanleyromeu bastosrui Miguel Abreu

Fotos

André britoKind&Nakedlaura Palmerle-Joyluís de barrosMário PríncipeNian CanardNuno PalhaPedro Janeirosal Nunkachov

styliNg

bárbara do óivan MartinsMargarida brito PaesNelson Vieirasónia Jesus

ilustrAção

bráulio Amado

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w.parqmag.com

Assinatura anual 12€.

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reAl PeoPle06 — Clemente Cebrián10 — luís gama

you Must12 — 15

you Must shop

16 — 49isabel brisonbenjamin JeanJeanguy le tatooerHand&CraftPranaFeistJornal Pedalraw soundsCurve idred bull bC one

souNdstAtioN50 — M8352 — lana rey54 — leonard Cohen

grANde eNtreVistA56 — 61

rosângela rennó

CeNtrAl PArQ62 — 65 reportagem

guimarães 201266— Cinema

Florbela68 — Cinema

takeshi Kitano70 — 73 digital

PressPausePlay

ModA74 — 81

582 — 89

glass House

PArQ Here90 — 95

restaurante: the decadentePlaces: Novo Cais do sodré, Champanharia da baixa, Maria gonzaga, MoMo

96— bebidas: dois em um, Hot Mango97— guia de Compras98— dia Positivo: trendy trash

F — luís de bArross — bÁrbArA do ó

Make-up — elodie FiuzaHair — Pini

M — daniela Hanganu (Central)ass. F — Felipe serralheiro

vestido storytAilors, colar H&M, botas dr. Martens

F — ANdrÉ britos — NelsoN VieirA

Make-up — tinocaHair — Juliana lamares

M — daniel Coutinho (Central)ass. F — Mariana rocha

coordenado de luis buCHiNHo, colar cervical e restrição de Punho olgA NoroNHA, brinco MAus MAriA by MiriAM MAtos

F — NiAN CANArds — sóNiA Jesus

Make-up&Hair — Joana bM — Marco e Nuno Moreira (Central)

roupa AleXANdrA MourA

F — MÁrio PríNCiPes — MArgAridA brito PAes

Make-up — tânia doceHair — Marco Pinheiro esPelHo

Meu

M — Ana Casian (Central)ass. F — José lage

roupa riCArdo dourAdo

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19579_PARQ_PORT_ROPE_DP.indd 2 26/01/12 08.07

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P: Porque decidiu com o seu irmão investir na área têxtil e criar uma nova marca?C: Quando estávamos a estudar na universidade em Madrid, íamos sempre para Londres trabalhar no que calhava durante as férias. Na altura, reparávamos que havia um estilo de roupa que gostávamos mas que não se via em Espanha nem em grande parte da Europa. Tentámos criar esse estilo para Espanha e em seguida percebemos que também podíamos exportar para outros países.

P: EL GaNso parece realmente ter um estilo britânico, contudo é uma marca espanhola. Não é um contra-senso?C: Em Espanha dizem-nos que a marca tem um estilo britânico mas em França e na Itália dizem que tem um estilo nova-iorquino. ou seja, cada sítio tem uma perspetiva de estilo diferente. o que tentamos é criar um estilo cosmopolita

trazendo cores mais chamativas, tal como gostamos em Espanha. Não acreditamos que seja um estilo 100% britânico.

P: o que pensam trazer de novo para o mundo competitivo da indústria da moda?C: Tentamos produzir roupa para homem e mulher com qualidade e design e com algo pessoal que diferencie a EL GaNso

de outras marcas. Em termos de preço, temos valores muito razoáveis, o que permite chegar a público muito alargado.P: a política de preços da INdITEx poderá ser um exemplo?C: Estamos entre as marcas mais caras e as marcas do grupo INdITEx. Temos preços próximos da MassIMo duTTI mas de resto tudo é diferente, porque tentamos dar algo de diferente e acrescentamos autenticidade e realismo ao produto. Por exemplo, esse senhor de kilt no poster atrás do balcão é o nosso tio em Edimburgo. Tentamos que tudo seja real.

P: a vossa loja de Lisboa ficou bastante bonita. o que encontraramos aqui de autêntico?C: Estas caixas de madeira são comprados numa fábrica antiga, têm 50 anos e não foram feitas para uma loja. o poster, como expliquei, é feito a partir de uma foto do meu tio tirada em 1978 em Edimburgo. a barca é de Bilbau e todo o resto vem de casas antigas e aqui e acolá há algo que nos liga a elas. Nada apareceu por acaso, tudo contribui para a autenticidade da marca.

P: Porquê “El Ganso” e esse logotipo?C: o logo foi desenhado pelo nosso tio. Chama-se JosE MosQuEra e é um pintor respeitado. Escolhemos o ganso como logotipo porque em Espanha tem algo de divertido e elegante. Em Espanha dizemos que alguém está a fazer “El Ganso” quando está a fazer palhaçada com o propósito de ser divertido. depois, o ganso parece-nos um animal elegante.

www.elganso.com

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ClementeCebrián

el gANso é uma marca espanhola com toques britânicos que em poucos anos ganhou presença em vários países. Criada em 2004, pelos irmãos AlVAro e CleMeNte CebriÁN, a marca tem um toque fresco, refinado e preppy. A propósito da inauguração da sua nova loja em lisboa, encontrámos CleMeNte que nos deu a conhecer o universo da el gANso.

El Ganso Rua nova do almada, 79

Chiado — lisboa

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Real People Clemente Cebrián

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Shop

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ampe

r.com

To&ether withBernhard Willhelm by Camper

Camper shop, Av. de Roma 55b, Lisboa Telf 217 961 635Camper shop, Rua de Sta Justa 85 (Baixa), Lisboa Telf. 213 422 068

CAMPER_T74_PORTUGAL_PARQ_BW.pdf 1 20/02/12 17:26

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P: o tipo de trabalho que tu desenvolves destina-se geralmente à indústria de audiovisual, nomeadamente ao cinema e à indústria de videojogos. o que estás a fazer em Portugal?l: Comecei a trabalhar como concept artist há cerca de um ano e por isso ainda tenho muito a aprender. Para um concept artist o cinema é o Santo Grall, o que é o mesmo que dizer que é a área em que é mais dificíl penetrar, por ser onde a concorrência e a exigência são maiores. o que faço agora é trabalhar todos os dias com esse objetivo em mente. Existe uma espécie de caminho que todos os artistas têm que percorrer e que

inclui, por exemplo, criar arte para jogos digitais, fazer ilustrações para o setor editorial ou desenhar cartas de rPG (role Playing Games). se ou quando surgir a oportunidade de ir lá para fora e trabalhar em cinema, presumo que o farei, sobretudo por acreditar que poderei crescer bastante equanto artista e enquanto pessoa.

P: Existe um caráter anárquico no teu trabalho, não é fácil encontrar uma temática ou procura específica. Concordas com esta afirmação? E se sim porque é que achas que isto acontece?l: sim, concordo. desde sempre cultivei múltiplas influências e não só ao nível das artes plásticas. acho que isso contribuiu

um bocado para a vontade que tenho de experimentar muita coisa. dou por mim a falar menos e a produzir cada vez mais, se não gostar do resultado... paciência, sigo em frente! Para além disto, exige-se a um concept artist a capacidade de adaptação a vários estilos de representação e temáticas, estas temáticas são sempre definidas pela direção de arte. a noção de equipa e de divisão de tarefas dita, obrigatoriamente, que o caminho a percorrer seja diferente de alguém que controla todo o processo de criação.

P: Gostarias de destacar algumas pessoas que tenham de influenciado o teu percurso e o teu trabalho?l: Pessoalmente, o meu pai sem dúvida, sempre me apoiou e acreditou em mim, ainda para mais nesta era de doutores e engenheiros. a nível profissional destacaria os grandes mestres como o JohN sINGEr sarGENT, o WILLIaM TurNEr ou o NorMaN roCkWELL. atualmente gosto bastante do trabalho de pessoas como o rIChard sChMId, o JErEMy LIPkING ou o CraIG MuLLINs.

P: o que é que te faz feliz?l: acordar sabendo que vou fazer aquilo que gosto, definir o meu horário e ter, normalmente, tempo para fazer aquilo que quero.

Auto-Retrato, Luís Gama.

Doomb, Luís Gama.

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Luís Gama

luís gAMA é um designer industrial tornado concept artist. Faz parte de uma nova espécie de artistas que não desprezando o calor da era analógica também não consegue ser indiferente às vantagens apresentadas pelos novos meios digitais. As máquinas não estão a chegar, elas já estão no meio de nós.

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Real People Luís Gama

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capacete bArbour, mala oNitsuKA tiger, casaco ANtoNy MorAto, perfume bang MArC JACobs, ténis vermelhos AdidAs,

ténis azuis CoNVerse, cinto lACoste, relógio NiXoN

Foto — Pedro Janeiro

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You Must Shop for Men Ready, Set, Go!

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caveira black xs, headphones WesC

ténis e relógio lACoste, perfume dAVidoFF Champion

ténis PuMA by Alexander Mcqueen, perfume black Xs,

óculos rAy-bAN, relógio NiXoN

mala Fred Perry

styling — sónia Jesus

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You Must Shop for MenReady, Set, Go!

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mala lACoste, sandálias PuMA by Hussein Chalayan, ténis AdidAs, pólo lACoste, perfume Habit rouge guerlAiN, body

lotion J.s.douglAs soHNe, baton dior, gloss guerlAiN

Foto — Pedro Janeiro

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You Must Shop for Women Ready, Set, Go!

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ténis PuMA, AsiCs e diesel

3 biquinis PuMA, óculos rAy-bAN, creme good-sKiN lAbs, tónico facial douglAs

polo Fred Perry, relógio KoMoNo, verniz ANNy e

siNFulColors ProFessioNAl

styling — sónia Jesus

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You Must Shop for WomenReady, Set, Go!

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isAbel brisoN apresentou recentemente na galeria Carlos Carvalho uma série de fotografias onde a artista recorre a manipulações digitais conglomerando vários tipos de construções até criar um corpo estranho e esquizoide no centro de uma paisagem urbanizada. Na verdade, a artista recicla e contextualiza uma velha temática que se refere ao impacto do desenvolvimento e crescimento dos centros urbanos na era capitalista. É uma temática que não é tão clara quando nos referimos ao centro das cidades e ao polo financeiro mas que se torna evidente quando observamos o que resta do movimento de deslocação urbana. encontramos espaços que tiveram uma vida própria e que se tornaram obsoletos, tendo sido abandonados porque o centro nevrálgico

se deslocou, estabelecendo uma nova centralidade.esta própria questão está mais enfatizada num outro trabalho exposto, suburbia Fantastica (2012), que consiste numa projeção de vídeo que nos torna conscientes da câmara deambulante, sem aparente destino pelos subúrbios de lisboa, ao som de um texto de 1926 de loVeCrAFt . Neste, como noutros contos, loVeCrAFt insiste em descrever poderes ocultos que fugiam à capacidade de compreensão da sociedade positivista americana. esta mesma sensação percorre o espetador porque, em geral, é chamado

a estabelecer conexões entre o descrito e a imagem, aumentando apenas o grau de incerteza.Como se depreende do trabalho de isAbel brisoN, a ideia de ruína e de subúrbio aparecem lado a lado, repetindo uma consciência que surge no final

do séc. XiX quando alguns pensadores se apercebem do impacto que a revolução industrial tem na paisagem inglesa. Na verdade, o movimento romântico desconfiava dos benefícios do desenvolvimento e olhava com nostalgia o património arcaico e os ideais humanistas em que se baseara a sociedade ocidental. os jardins ingleses, com as suas falsas ruínas muitas vezes exóticas, seriam o lado visível desse pensamento que, no fundo, persistiu durante todo o modernismo. tanto as fotografias dos beCHer como de robert sMitHsoN na segunda metade do séc. XX ainda documentam ruínas resultantes do impacto do capitalismo na paisagem norte-americana.

também em isAbel brisoN os destroços contribuem para a imagem idílica. estabelecem-se numa zona de fronteira onde o subúrbio está entregue a uma poética do caos que é simultaneamente o espaço da liberdade, na qual a artista pode fundar o seu corpo de trabalho. Muitas das imagens do vídeo fazem-nos relembrar PAsoliNi, particularmente o filme Mamma roma, onde toda a ação dos adolescentes se desenvolve em baldios, tendo ao fundo uma fronteira constituída por uma linha de prédios novos, ameaçadores, à qual grande parte da existência humana está confinada.

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You Must Isabel Br ison

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envolto pela atmosfera do surf e do skateboard, beNJAMiN JeANJeAN é um jovem artista francês cujo trabalho artístico se destaca da banalidade. À conversa com a PArQ procurámos saber um pouco mais deste promissor designer e fotógrafo.

depois do café, é tempo de ver as ondas, tirar fotografias e desenhar. este é o dia de beNJAMiN JeANJeAN, jovem artista que viu no papel um confidente através do qual desenvolve desenhos onde funde uma heterogeneidade de elementos contemporâneos.

MAgritte, eiCHer e bretoN, são nomes de referência para JeANJeAN. Com efeito, é no surrealismo que vai buscar a inspiração necessária ao seu trabalho, fazendo desenhos e fotografias que parecem ter sido tirados de autênticos sonhos.

desta forma, a qualidade do seu trabalho já lhe possibilitou a colaboração com a rVCA, tendo tido a oportunidade de tirar as fotos da primeira coleção da marca para a europa.

Quer seja através das suas fotos ou de desenhos que chegam a exigir 150 horas de trabalho, o artista procura fazer o que gosta e fazê-lo bem, um trabalho que poderá ser visto no seu website ou na próxima exposição da galeria Mondopop, em roma.

T — Marta Ferreira

www.rvca.com

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You Must Benjamin JeanJean

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SAGATEX, LDA – Tel: +351 22 5089160 – [email protected]

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Provando que a tatuagem não se resume a agulha e tinta, guy le tAtooer é exemplo de que também o corpo pode ser a tela de uma verdadeira obra de arte. distinguido pelo seu talento, o artista apresenta um portefólio identificável em qualquer parte do

mundo, uma obra obrigatória para os autênticos admiradores de arte. Filho de pai tatuador, guy le tAtooer cedo percebeu que este também era o caminho que tencionava seguir. Com apenas 12 anos, começou a trabalhar em Noumea (Nova Caledónia), desenvolvendo um trabalho artístico definido por blackwork.

de facto, nas tatuagens do artista francês, existe o predomínio dos tons cinza e preto, que exibem a qualidade e atenção prestada ao pormenor. Quer esteja no seu estúdio em toulouse ou noutro lugar, guy deixa a sua marca em desenhos que revelam o

gosto pela tatuagem tradicional, embora também seja entusiasta das tendências inglesas e argentinas. Com efeito, é nas viagens que vai buscar muita da sua inspiração e, por isso mesmo, não exclui uma visita a lisboa. Hoje com 30 anos, diz que não há boa ou má forma de se tatuar mas sim gostos diferentes, e o gosto de

guy é, sem dúvida, irreverente. exemplo disso foi a sua exposição na galeria gimpel & Muller, em Paris, onde equiparou a tatuagem a outra forma de arte, expondo-a num museu. Ao emoldurar diversos braços de cera tatuados, guy mostrou a singularidade do seu trabalho, marcado pela minuciosidade com que executa as tatuagens, conseguindo um excecional resultado onde o preto e branco são tudo menos ausência de cor.

www.parqmag.

com

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irawww.guyletatooer.com

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You Must Guy le Tatooer

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A importância do design nas sociedades contemporâneas fez com que se apostasse cada vez mais nessa formação. Contudo, a indústria do design não acompanhou esse

desenvolvimento, o que levou muitos designers a procurarem o seu próprio espaço, o mesmo seja dizer, a fundar as suas próprias empresas. Neste aspeto, a Holanda foi pioneira e durante a década passada os percursores desta nova atitude trouxeram

para o plano internacional uma linguagem menos massificada e industrializada do design. Contudo, a outra face da moeda resultou em edições de autor reduzidas, dirigidas

no essencial a coleções que entretanto proliferaram, tornando as produções inacessíveis ao comum dos mortais.No entanto, esta passagem por expressões mais pessoais, onde

o elemento craft estava mais presente assim como a reciclagem de materiais, trouxe novas perspetivas para a indústria. Hoje, temos exemplos de pequenas empresas e de jovens designers que exploram os conhecimentos locais e ancestrais que não resultam de uma tecnologia sofisticada e cara para, a partir daí, acrescentarem valor de design. Neles reside a vontade de construir projetos onde o aspeto manual e a autenticidade estão mais presentes do que a questão tecnológica porque o toque e a sensação das coisas

Drop Stools, por objeti

Babilonia, por Jahara studio

T — Francisco Vaz Fernandes

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You Must Hand & Craf t

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ganha um novo valor. É o caso da JAHArA studio que tem feito grande parte da sua produção a partir de materiais recolhidos das favelas, integrando no processo comunidades desfavorecidas. em termos de reciclagem, os norte-americanos da obJeCti, empresa fundada em 2009, integram conhecimentos tradicionais de produção com elementos reciclados provenientes

de casas demolidas.A oK desigN, uma pequena empresa dinamarquesa, atua no México onde reabilita um antigo modelo de cadeira mexicana muito popular nos anos 70, recorrendo a um conhecimento de execução que se estava a perder, feito a partir de uma pequena oficina local. Já a iNCH, uma pequena empresa suíça, funda

o seu produto na qualidade da madeira maciça que não precisa de importar da indonésia. toda a produção passou a ser feita in loco e os modelos modernistas ocidentais são adaptados a tecnologias locais, o que faz com que tenham uma outra expressão. Por fim, temos que incluir a portuguesa riluC, que aproveita os conhecimentos de uma metalomecânica

local para o desenvolvimento de peças de design.

Sidetable Tuju, por inch Furniture

Riluc Mouse coffe table, por toni grilo

Shanghai Chair, por inch Furniture

Acapulco Chair, por ok design

You Must

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Hand & Craf t

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A editora alemã gestalten lançou recentemente um livro dedicado a VHils que reúne os seus trabalhos mais importantes. MArC e sArAH sCHiller da Wooster Collective afirmam no seu prefácio que, nas mãos de VHils, "o vandalismo se transforma na arte da criação". este artista, com formação em pintura, interessou-se desde cedo por intervenções no espaço público, tendo começado incialmente por produzir stencils. o seu reconhecimento dá-se quando começa a "escavar paredes", dando uma expressão única no contexto da arte urbana. o livro está à venda online na página da gestalten, por 39,90€.

dividida entre o lápis e a agulha, bÁrbArA desde cedo se deixou seduzir pelo mundo artístico. Contudo, só aquando da entrada no curso de design de Moda no gudi, no Porto, é que o sonho começou a solidificar-se. detentora de um traço inconfundível, depressa

se sentiu motivada a entrar em concursos onde apresentava as suas coleções. e apresentou em 2007, no Portugal Fashion, e em Paris, Vanity uma coleção muito elaborada que certamente fazia advinhar um lugar ao sol caso houvesse investimento. o seu gosto pelo que é único, pelas referências clássicas e pela execução manual são uma característica fortemente presente no seu desenho, com bastante detalhe e riqueza de execução manual. o talento de bÁrbArA não deixa ninguém indiferente, até mesmo quando falamos de marcas como a Zara, com a qual já colaborou, fornecendo estampados da sua autoria para peças de jersey masculinas, um projeto que confessa ter sido interessante pelo facto de se ter privilegiado a execução manual dos desenhos. Com projetos em mãos, só nos resta então saber quando voltaremos a falar desta jovem que, decerto, tem ainda muito para colorir.

Vhils @ Miami 2011

Horse Tears, bárbara belo

Twin Sisters, bárbara belo, para Zara

Vhils @ Nuarte 2011

T — Marta Ferreira

T — Maria São Miguel

www.parqmag.

com

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You Must Vhi ls + Bárbara Belo

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Março de 1900, em plena Belle Époque. entramos no dia-a-dia das raparigas que dão corpo a um requintado e melancólico bordel parisiense. Vítimas das doenças da sociedade, são punidas com sífilis, gravidezes e encontros sexuais humilhantes. l’apollonide é um clube onde cavalheiros se encontram para conversar, beber e fumar e onde o relacionamento social é tão importante quanto o sexual. o filme mostra a dinâmica das raparigas em grupo e

Herdeiro da tradição humanista e cómica de CHAPliN e reNoir, do burlesco de tAti e do realismo poético de ClAir e CArNÉ, KAurisMAKi constrói um conto de fadas num bairro de pescadores da cidade

simin e Nader estão casados há 14 anos e decidem separar-se, uma vez que ela quer deixar teerão e proporcionar à filha um crescimento em condições mais justas. Nader recusa-se a deixar o país porque tem a seu cargo o pai com Alzeihmer. É então que contrata uma mulher tradicional da classe baixa, com uma filha pela mão e outra que esconde dentro de si. o trabalho demasiado pesado, fá-la ter vários acidentes e leva Nader a despedi-la. A partir daí desenha-se uma luta de classes, género e crenças religiosas, suportada por um enredo complexo onde pequenas decisões têm graves repercussões. A filha do casal tem nas mãos uma injusta decisão a tomar, num dos finais em aberto

entre os seus clientes. rico em texturas, dá-nos os contornos da ansiedade e tragédia destas odaliscas. A lírica da câmara cria uma claustrofobia exuberante, uma espécie de gaiola dourada

portuária de le Havre, na Normandia, populado por pessoas de hábitos e rotinas atemporais, que se movimentam entre uma padaria, uma mercearia e um café. Como protesto à velocidade da era digital, filma cenas longas e silenciosas sobre cenários teatrais, iluminados artificialmente. A trama remete para Casablanca: o engraxador Marcel Marx vê-se na obrigação moral de ajudar um refugiado africano a chegar a londres. Para isso, conta com o apoio dos vizinhos e do sinistro inspetor Monet, e formam uma espécie de “nova internacional pós-comunista”, cunhada pela consciência social, fraternidade e união. o happy end contraria os presságios da mulher de Marx, que sofre de cancro terminal, e mostra que os milagres acontecem, num mundo onde se expõe o verso da moeda. Com uma economia técnica espantosa, reflete sobre a problemática dos refugiados na europa e sobre a “europa sem fronteira”.

mais belos da História do Cinema. A simpatia é reservada às crianças desprotegidas —que se vêem crescer num mundo de injustiças sociais e politicas— e ao idoso que perdeu a memória. É o primeiro filme de sempre a arrecadar três ursos no Festival de berlim —melhor filme, melhor ator e melhor atriz— e está na corrida aos óscares nas categorias de Melhor Filme estrangeiro e Melhor Argumento original.

onde as prostitutas da alta-sociedade vivem. Há claras alusões à pintura de MANet, reNoir e toulouse-lAutreC, tanto na pose e nos detalhes técnicos, como nos figurinos e na iluminação. A

inesperada utilização de música moderna em várias cenas cruciais pinta não só um retrato triste do fim de uma época, como relata uma tragédia contemporânea.

T — Inês Monteiro

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You Must Movies

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www.prana.com.pt

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You Must Nike & Prana

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Quem diria que as tardes com os amigos nos jardins de são João da Madeira acabariam por culminar num projecto musical bastante mais sério?de facto, foi a partir do momento

em que os devaneios musicais do Miguel e do João começaram a ser levados mais a sério, que os dois elementos iniciais deram lugar a quatro, passando a contar com o diogo e com a ANA, elemento feminino que faltava para “amaciar a piano a pedra rugosa” da banda inaugural, completando o núcleo.embora sendo um nome inusual, PrANA foi escolhido por conseguir transmitir os objectivos de uma banda jovem que procura fazer boa música e dar concertos recheados de

-A-n-a-suadeira de turco NiKe, casaco NiKe

sPortsWeAr better Windrunner, t-shirt NiKe sPortsWeAr geometrics, calções NiKe sPortsWeAr

time out tempo shorts, meias AMeriCAN

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-M-i-g-u-e-l-punhos de turco

NiKe, casaco NiKe sPortsWeAr better Windrunner, tank top NiKe sPortsWeAr,

calções NiKe sPortsWeAr Alumni

shorts, meias AMeriCAN APPArel, ténis NiKe sPortsWeAr Cortez Classic og leather

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get into the gear 10K tee, calças NiKe

sPortsWeAr N98 Pant, ténis NiKe sPortsWeAr

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sPortsWeAr N98 Jacket, t-shirt NiKe sPortsWeAr gF

CX1 team tee, calções NiKe sPortsWeAr

stadium shorts, meias AMeriCAN APPArel,

ténis NiKe sPortsWeAr Cortez Classic og

energia e emoções, integrando o público no seu espectáculo.depois de terem feito parte da selecção Fnac Novos talentos, o grupo conheceu uma maior projecção nacional, que acabou por incentivar a evolução para trapo tapézio, um trabalho mais maduro e ponderado, que conta uma história em que os capítulos vão sendo lidos através das músicas do álbum. etanol é um dos temas presentes em trapo trapézio, tendo servido de cenário ao primeiro videoclip da banda. Falamos de um single diferente,

ao começar com um assobio que fica nas nossas cabeças, um pequeno detalhe demonstrativo da atenção prestada ao pormenor.esta é, sem dúvida, uma banda caracterizada pelo espírito livre e despreocupado, que não se prende a nenhum género em particular, proporcionando ao ouvinte uma heterogeneidade rítmica que acaba por nos surpreender em cada trabalho.depois de já terem provado o seu mérito com um álbum pincelado a cores de circo, resta agora saber o que contará o próximo álbum?

de nome invulgar, porém bastante sugestivo, PrANA é o nome da banda que nos habituámos a ouvir pela forma alternativa como apresentam os seus temas, numa fusão de magnéticos ritmos sonoros que vale a pena conhecer.

F — Nuno Palha

S — Ivan Martins M-U&H — Daniela Reis

T — Marta Ferreira

You Must

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Nike & Prana

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esta é a mesma menina que, em 2004, cantava sobre a natureza de um sentimento tantas vezes fugaz como o amor mas que conseguia tornar fácil ignorar o facto, pelo modo simplesmente adorável como cantava aquela gatekeeper e entregava o equilíbrio doce certo, a um

assunto tão sério —Her performance was so lovely that it's easy to skip over the fact that she's singing about the often fleeting nature of love... Que, em 2007, e com sentido de humor, embelezou a technicolor o seu sucesso com o álbum the reminder e a 1234, música de uma —If the exuberance of the song wasn't obvious enough, the brilliant music video sold it even more, with the grand choreography took the song to a whole— exuberância bastante óbvia a ofuscar a melancolia escura de um relacionamento a cair aos pedaços (foi bonito vê-la ficar um pouco irritada). ela mesma, vem ao Coliseu dos recreios, em lisboa, a 18 de Março, e ao Coliseu do Porto, no dia seguinte, para a apresentação do álbum Metals, lançado em novembro de 2011, no qual leslie Feist manteve elementos ténues folk de trabalhos anteriores mas em divergência e com uma habilidade imaculável, conseguiu conferir-lhe um tom ainda mais

nostálgico, quase flutuante, devido à sua voz profundamente versátil. Num álbum que oscila entre nuances de jazz e blues, Feist confirma mais uma vez o seu profundo conhecimento musical e que as suas explosões

T — Ingrid Rodrigues

18.03.2012Coliseu dos recreios

19.03.2012Coliseu do Porto

estilísticas-musicais estão longe de ter fim. Não que How Come you Never go there não seja uma excelente música de apresentação do álbum, mas muitos de nós estão prontos a aninhar-se aos seus pés, de sorriso no coração, a ouvir a Confert Me. For sure.

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You Must Feis t

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Mergulhados numa metrópole que grita por rapidez, o barulho dos carros torna-se ensurdecedor. A paisagem mudou e com ela também os nossos hábitos. estaremos confinados a uma era em que a bicicleta caiu em desuso? o jornal Pedal prova o contrário, uma iniciativa

que nos mostra que a palavra “bicicleta” nada tem de arcaico.No início de 2012, os leitores puderam ampliar o seu leque de escolhas. Falamos do Pedal, um jornal fundado por 4 jovens que aliaram o gosto pela bicicleta ao design e às artes gráficas. tal como qualquer criança, também brÁulio, luís, FiliPe e João recordam os passeios de bicicleta da infância, veículo que nunca os deixou de fascinar. desta forma, a criação do jornal Pedal foi um desafio através do qual procuraram atingir tanto as pessoas que andam como as que não andam de bicicleta, criando uma publicação cultural onde o

leitor pode encontrar ilustrações e fotografias (analógicas) de artistas, textos pessoais, críticas a livros e filmes, bd, editoriais de moda e sempre uma reportagem e uma entrevista. Com 5000 exemplares presentes de Norte a sul do país, o jornal tem ainda a particularidade de, em lisboa, ser distribuído de bicicleta, fazendo lembrar os emblemáticos filmes norte-americanos. embora recente, este jornal mensal promete continuar a crescer, surpreendendo todos aqueles que queiram “pedalar”.

T — Marta Ferreira

Nos últimos anos, a coleção de lifestyle da PuMA tem-se concentrado no que chamamos as afterhours, tanto do desporto como do trabalho, com coleções pensadas para os bons momentos da vida. daí que, ultimamente, o mote tenha sido seja feliz,

divirta-se, emocione-se, socialize e descontraia. Por isso, de toda a coleção, queríamos destacar um modelo old school da marca, o PuMA Clyde, originalmente criado por WAlt FrAZier em 1973. em camurça, distingue-se pelo logotipo em dourado. de

referir um outro modelo original dos anos 70, o PuMA Faas 300, criado para a corrida com barreiras, agora para galgar a calçada de forma muito mais leve, graças à tecnologia BioRide.

Cycle 78€

Cycle 78€

Faas 300 90€

T — Maria São Miguel

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You Must Pedal + Social

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Au revoir simone

tom Vek

Johnny Marr com rAy-bAN signet

A rAy-bAN sempre esteve ligada às grandes estrelas da música. o guitarrista JoHNNy MArr, da banda pop dos anos 80 tHe sMitHs, foi chamado a desenvolver um projeto musical, o rAy-bAN raw sounds, em que juntou bandas com diversos estilos que marcam a atualidade. Au reVoir siMoNe, best CoAst, MoNA e toM VeK compuseram cinco peças individuais a partir do repto lançado por JoHNNy MArr. todo o projeto foi fotografado

por PAt grAHAM e filmado por PoPPy de VilleNeuVe que simultaneamente dão a conhecer a coleção rAy-bAN raw sounds, inspirada nos grande ícones da música que popularizaram alguns modelos da marca.Para quem goste de modelos mais exclusivos, JoHNNy MArr criou, em paralelo, um modelo homónimo: rAy-bAN signet, em bronze cinzento, lentes azuis e com a assinatura na extremidade das hastes. Há apenas 1500 pares, disponíveis na loja online da rAy-bAN.

www.rayban.com

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You Must Ray-Ban

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tudo começou com o novo modelo de calças leVi's Curve id Ankle skinny, que chegam nesta estação em cores pastel, doces e femininas. um pouco mais curtas que os habituais modelos da marca e ultra skinny, são o par perfeito para um dia alegre nesta nossa cidade cheia de luz. imbuídos desta jovialidade e energia convidámos MAFAldA MAtos, JessiCA AtHAyde e teresA tAVAres para filmarem uma produção exclusiva para a PArQ. Vestidas com as leVis Curve id, as três atrizes encarnaram na perfeição o espírito divertido da marca, entre cenas caseiras e urbanas, sempre com um sorriso na cara e um olhar aguçado. A primeira a chegar foi MAFAldA MAtos e, vestida de azul, percorreu a Avenida da liberdade, descontraída e natural como num verdadeiro passeio

primaveril. Já JessiCA AtHAyde levou-nos a comprar flores no Príncipe real, onde os violetas das pétalas e o violeta das suas calças se misturaram de forma harmoniosa e doce. Por fim, e já com a noite a começar a cair, encontrámo-nos com teresA tAVAres que brindou a cidade com uma explosão de confétis do alto da Fonte luminosa. um vídeo a não perder, que captou o lado mais inocente de três atrizes que marcam esta geração.

TMargarida Brito Paes

Mafalda Matos

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You Must Cur ve ID

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FotoSal Nunkachov

StylingMargarida Brito Paes

HairJoana Bernardo

Make-UpDulce Doce

Jessica Athayde

teresa tavares

www.levis.com

www.parqmag.

com

You Must

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Cur ve ID

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lAgAet é um artista extraordinário, com um domínio invejável do corpo e um entendimento profundo do que significa ser um b-boy. Na reta final de 2012, o b-boy que representa as cores da Momentum Crew do Porto foi a Moscovo como participante de pleno direito da final do red bull bC one 2011. um circo, uma orquestra que tocava breaks, elefantes e cavalos no backstage, danças tradicionais de cossacos e uma eletrizante prestação por parte dos 16 melhores b-boys do mundo contribuíram para uma noite

inesquecível. roXrite arrecadou o cinturão mais cobiçado no universo do hip hop e lAgAet não foi capaz de impor o seu estilo único mas, no final, os pedidos de autógrafos revelavam que a história deste b-boy ainda tem muitos capítulos pela frente.«Um b-boy não desiste», explicou lagaet, «isto está cá dentro e não há nada que o tire». É desta forma arrebatada que os representantes desta cultura se referem ao que fazem. os breaks debitados pelo dJ despoletam uma reação que não podem controlar. e quando chega a hora da batalha, não há quem os pare. será assim também em 2012, ano que o bC one se desloca até ao escaldante rio de Janeiro, sem dúvida uma das

Newcomers Week que irá permitir a um dos 16 b-boys nacionais presentes poder reclamar um lugar na qualificativa holandesa que abre caminho para a final da red bull bC one, no brasil. Para que tudo seja “à séria”, a red bull bC one Cypher – Portugal terá dimensão internacional com a presença de júris, um host e um dJ de renome mundial no circuito do b-boying. «Um b-boy não desiste», explicou-nos lAgAet em Moscovo. É por isso que, neste momento, 16 b-boys portugueses sonham com um lugar no círculo do rio de Janeiro. o caminho começa a Norte, na exponor, no próximo dia 27 de abril.

capitais mundiais desta cultura. Portugal, entretanto, voltará a estar na rota do brasil, ao ser um dos 27 países a organizar Cyphers, que abrirá caminho

às provas qualificativas que escolhem b-boys para a edição 2012 do red bull bC one.A Cypher portuguesa decorrerá na exponor, num evento integrado na

T — Rui Miguel AbreuF — Dean Treml

www.redbullbcone.com

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You Must Lagaet & BC One

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A Keds nasceu com a criação de um sapato inovador com sola em borracha, no ano de 1916. the Champion é o antepassado dos ténis que conhecemos e que é reinventado à quase um século. os Keds são os seus descendentes mais próximos e têm marcado gerações e gerações com as suas linhas simples, solas brancas e cores fortes. Perfeitos

para looks descontraídos, fáceis de usar e divertidos, fazem parte da infância e adolescência de todos nós. em 2012, chegam com novos materiais, cores e padrões numa coleção que vai muito para além do clássico modelo Keds.

Para este verão, a Merrell volta à coleção de modelos origins, uma das novidades da estação passada que celebrou os 30 anos da marca recriando um dos primeiros modelos inspirados no calçado de montanha. estes modelos em pele ou em lona oleada e perfurada são também

amigos do ambiente, graças às palmilhas e sola interior em borracha eVA reciclada para maior conforto e absorção do impacto, e à sola exterior em borracha reciclada.No que se refere às novidades absolutas, a Merrell lança a linha Momentum com dois

modelos —rant e ebro Chukka— a pensar no público urbano, procurando assim trazer toda experiência do calçado outdoor com o conforto e a resistência de um sapato usado no dia-a-dia. o rant é um modelo vulcanizado e o ebro Chukka toma a forma de um mocassin desportivo.

T — Maria São Miguel

T — Margarida Brito Paes

the Champion 49€

eagle origins 89,90€ solo origins 79,90€

rant Mid 64,90€

ebro Chukka 99,90€

You Must

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The Champion + Origins

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A coleção de verão da lACoste l!ve para homem inspira-se em três grandes temas: acampamentos de verão, a vida aquática e os anos 90. o primeiro traz para a próxima estação cores fortes e padrões vintage renovados. o crocodilo da lACoste também cresce de tamanho, enfatizando o lado old school da coleção. A vida aquática remete-nos para o universo da vela e dos desportos

aquáticos. destacam-se um corta-vento com costuras seladas a quente, um croco em silicone e também um casaco navy em algodão lavado. os calções de banho, os pólos e as t-shirts são estampados com referências náuticas. Já a inspiração dos anos 90 traz-nos cores vibrantes e padrões inspirados em cartoons. uma coleção jovem com um estilo muito preppy.

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You Must L ive

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T — Pedro Resende

o Musée des Arts décoratifs, em Paris, recebe de 9 de Março a 16 de setembro uma exposição que comemora duas das mais brilhantes carreiras no mundo da moda: louis VuittoN e MArC JACobs. estes dois designers são os alicerces de uma das maiores marcas de luxo mundiais e marcam o mundo da moda de forma incontestável. Ambos estiveram à frente da casa

francesa em alturas complicadas, louis VuittoN no início da industrialização e MArC JACobs no auge da competitividade e globalização, duas fases decisivas na evolução da indústria da moda, onde ambos se destacaram enquanto designers. todos estes motivos fazem desta exposição não apenas uma viagem pelas carreiras destes dois homens mas, também, uma

revisão da história da moda e da sua evolução tecnológica e conceptual. o espaço foi concebido por gAiNsbury e beNNet, ocupando dois andares: o primeiro ocupa-se dos míticos baús de louis VuittoN e o segundo apresenta uma seleção dos modelos mais emblemáticos criados por MArC JACobs.

A marca brasileira de osKAr MetsAVAHt apresentou a coleção royal black para a estação quente que se avizinha a passos largos. Aproveitando um 2011 que comemorou as ascendências e descendências de uma África que povoa o mundo, o criador homenageia desta forma a população africana no brasil. um black and gold que eleva à realeza o sangue africano, numa mistura efusiva de materiais,

cortes e cores, conjugados numa coleção desprendida, descomprometida, despojada de intencionalidades secundárias para comunicar expressivamente a intenção e o conceito. Como o próprio criador o diz, o processo começa com “uma cena, uma história, um estilo, um conceito que crio a partir de algo que eu desejei ou vivi. deste ponto, eu crio o clima, a atmosfera, os looks e as atitudes.”

Mala - cama de campanha de 1891, criada por louis Vuitton

T — Margarida Brito Paes

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Royal Black + Louis Vuit ton & Marc Jacobs

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uma rapariga que é gira com apenas umas calças de ganga e uma t-shirt branca, é gira de qualquer maneira. Qualquer mulher sonha com o dia em que acorda, veste um par de jeans e um top e fica deslumbrante… Mas afinal qual é o segredo para o conseguir? o segredo está nos jeans, têm de ser o jeans perfeitos.talvez por isso marcas como a diesel tenham aperfeiçoado durante anos o tratamento do denim, em busca

das lavagens e cortes perfeitos. em 2012 essa procura continua com a linha Fit your Attitude, são 6 novos modelos, cada um pensado para uma ocasião diferente: grupee, para uma saída à noite; getlegg,

as típicas calças de ganga, perfeitas para qualquer ocasião; bootzee, para ir trabalhar, mais sofisticadas mas muito confortáveis; Highkee, de cintura subida inspiradas nos anos 50, são a escolha certa para uma saída à noite; Myguy, as boyfriend jeans reinventadas, descontraídas e cheias de estilo, ótimas para passear pela cidade no fim-de-semana; e, por fim, as Flairlegg, largas em baixo, as mais trendy da coleção.

grupee getlegg Myguy Fairlegg

bootzee Highkee

T — Margarida Brito Paes

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You Must Fi t

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A relação entre a CAMPer e o designer de moda berNHArd WillHelM é longa. Começa em 2008, quase no princípio da linha together que a marca de sapatos espanhola lança para enfatizar a relação entre o design de ponta e a tradição das técnicas. Nesse sentido, entre os muitos designers que colaboram em todas as estações, WillHelM, provavelmente o mais irreverente

de todos, tem sido o mais fiel. os sneakers com um perfil híbrido e único que criou para homem e mulher são hoje uma das suas imagens de marca e continuam

a ter todas as estações novas versões. esta estação, o modelo camuflado ganha tons e cintas refletoras com um toque disco. Ainda em matéria de sneakers, WillHelM fez uma releitura

das pelotas dando-lhes uma versão mais leve e urbana. Além dos sneakers, WillHelM acrescentrou para o pico de calor vários modelos de sandálias.

Para mulher, as sandálias (com salto alto ou raso) trazem algumas palavras impressas em várias tiras. Para homem, existe um modelo de sandálias com

impressões que nos remetem para as fitas que se usam para vedar recintos. No conjunto, temos uma coleção urbana e distinta para quem sabe que a diferença começa pelo calçado.

T — Maria São Miguel

www.camper.es

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Bernhard Wil lhelm

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o estilo intemporal de Fred Perry é perfeito para todas as mulheres que gostam de roupa casual mas com um toque bastante clássico. os pólos e os ténis são a sua grande referência, em coleções muito completas que privilegiam a malha e o algodão, baseando-se sempre no estilo desportivo de décadas passadas. Para a primavera feminina de

Já vai longe o tempo em que quando se falava em HAVAiANAs só nos vinha à cabeça a imagem das míticas chinelas de enfiar no pé. Hoje em dia a marca brasileira é muito mais do que chinelos de praia e tem linhas de sapatos,

2012, a marca revisitou mais uma vez o passado, contando-nos três histórias: team travel, track and Field e downtime. três linhas com um toque um pouco vintage como já vinha acontecer na coleção de inverno, desta vez com o xadrez a marcar um presença mais forte e os padrões florais em cores mais suaves.

ténis e até de botas de borracha. Para o próximo verão, apresenta dois modelos inovadores de ténis: o urbis summer, que mantém o conforto das solas HAVAiANAs combinando-o com um design moderno, onde o

tecido é trabalhado de forma a criar um efeito de quadrados respiráveis; e o essentia, que relembra os clássicos sneakers de forma estreita e elegante, com sola pespontada e cores fortes que gritam: brasil!

www.fredperry.com

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argarida Brito Paes

essentia low urbis summer Mid urbis summer

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You Must Summer + Fred

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inspirados nos campos de batalha, os novos relógios diesel revelam a robustez e eficácia de uma verdadeira arma de guerra. Munidos de funções únicas como múltiplos fusos horários, cronómetro e iluminação led, prometem deixar qualquer amante de relógios apaixonado. os mostradores são originais, em castanho, as braceletes plaqueadas e as de couro têm um aspecto envelhecido. um estilo perfeito para enfrentar os combates do dia-a-dia.

Jovem e feminina, há muito que a Miu Miu deixou de ser vista como uma segunda linha da PrAdA, sendo hoje uma marca reconhecida e com um caráter muito próprio. A casa italiana criou uma linha em cores pastel cheia de cristais e formas retro. Perfeitas para usar durante toda a estação, tanto durante o dia em looks girly ou retro, como durante a noite em looks onde não falta o glamour dos brilhantes.

uns óculos CAZAl são inconfundíveis, até pela forma como o acetato e o metal aparecem integrados. Hoje, os modelos vintage ou as recriações são muito procuradas porque as suas formas e lentes degradé permitem um look retro-futurista. estão disponíveis na André ópticas e são fundamentais para quem quer reviver a sério o disco do anos 70.

A editora sete diAs seis Noites, imbuída da máxima de FerNANdo PessoA “a minha pátria é a língua portuguesa”, alia o mote à literatura. Nesse sentido criou blocos em que cada página é diferente propondo a cada dia citações de importantes autores. todos podem aprender a gostar de FlorbelA esPANCA, FerNANdo PessoA, JosÉ sArAMAgo, entre outros autores internacionais, como CerVANtes e sHAKesPeAre.

T — Margarida Brito Paes

T — Margarida Brito Paes

T — Pedro Dourado

T — Margarida Brito Paes

You Must

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Acessór ios

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T — M

aria São Miguel

A CANoN apresenta a Powershot g1 X, uma nova e revolucionária câmara compacta com um sensor CMos grande, desenhada para produzir níveis de qualidade de imagem e controlo dslr num corpo metálico extremamente portátil.

A NoKiA apresentou o novo lumia 900, o seu primeiro Windows Phone compatível com redes lte (4g). este novo smartphone vem com um processador de 1.4gHz single-core, ecrã de 4,3 polegadas amoled Clear black, com 800x480 de resolução e câmara de 8 megapixels, com lentes Carl

Para quem gosta de aliar imagem e tecnologia o novo Asus Zen é perfeito. É um notebook, ultra fino, ultra leve e ultra rápido equipado com processador intel Core i5 de segunda geração. É incrivelmente rápido e reacende-se em dois segundos, com uma espontaneidade similar à dos smartphones. Para quem gosta de pequenos detalhes que fazem a diferença tem um sonicMaster, desenvolvida em parceria com a bang&olufsen ice Power que permite um som similar a uma boa Hifi.

desenvolvida para fotógrafos amadores e profissionais, a Powershot g1 X cria uma nova e prestigiosa categoria no topo da lendária série g da CANoN e redefine a performance atingível por uma câmara compacta.

Zeiss. o novo topo de gama da NoKiA tem o mesmo design do lumia 800 e do N9, é construído em policarbonato, vem com aplicações exclusivas como o Nokia drive para navegação gPs e outras aplicações resultantes da parceria com o canal CNN e a electronics Arts.

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Há um novo homem only the brave, rebelde e corajoso. A nova fragrância evoca a determinação e auto-confiança de quem usa as tatuagens

o marinheiro cede o seu lugar a um don Juan completamente assumido. o novo perfume de gAultier é viril, sem complexos. o top model basco JoN KortAJAreNA

simplesmente, não vai ser possível resistir a este aroma. A tHe body sHoP lançou uma linha completa para o corpo com aroma a chocolate: body butter, body scrub, boody lotion, lip

esta primavera, a maquilhagem da dior surge em tons pastel, com um espírito bucólico. os rosas, os verdes e os cinzas claros estão em destaque nos lábios, nos olhos e nas unhas. A garden Clutch é o produto-estrela da coleção.

Verniz verde nenúfar Waterlily, 24,80€batom rose Corolle, 33,30€

como obra de arte e as encara como parte de um estilo de vida.

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é o protagonista da campanha e dá a cara e o corpo a Kokorico.

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Body butter, 200 ml, 14€Body Scrub, 200 ml, 12€sabonetes individuais, 100 ml, 3€

o mais recente black Xs l’excès para homem expressa uma atitude rock sofisticada. Além de um novo conjunto olfativo, a grande novidade é a

participação de iggy PoP nos spots publicitários.

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Foi desta que ANtHoNy goNZAleZ apontou para as estrelas, sem medo que a bala lhe acertasse em cheio entre os olhos. Com o duplo álbum Hurry up, We’re dreaming, o músico francês natural de Antibes, dominou a arte de transformar cada canção num épico emotivo de proporções olímpicas. Aliás, goNZAleZ foi mais longe, ao combinar as exigências conflituosas da pop comercial com o rock experimental em faixas realmente gigantescas.desde 2001, com o álbum de estreia homónimo e os seguintes dead Cities, red seas & lost ghosts e before the dawn Heals us, os M83 vieram a aperfeiçoar-se na arena post-rock e eletrónica cósmica. Mas foi só em 2008, com o aclamado saturdays = youth, que a banda criou um território próprio de paisagens sonoras a s sombrosas , assentes em evocações de adolescência, imagética cinematográfica impregnada em nostalgia e desamparo, sintetizadores anestesiantes, vocais sonhadores dispostos em camadas, guitarras futuristas injetadas de efeitos digitais e uma celebração descomplexada a KAte busH e JeAN-MiCHel JArre, que

abriram caminho para o monumental álbum de 22 faixas, em que até os interlúdios se sorvem avidamente.

ANtHoNy goNZAleZ está mais maduro e confiante do que nunca. A voz atingiu novas amplitudes, as letras tornaram-se mais imersivas e a produção ficou cada vez mais detalhada. No entanto, mantém-nos bem próximos de si a orbitar subtilmente pelas suas memórias mais íntimas. o próprio nome do disco remete para as recordações de infância do cantor e das suas fantasias, fazendo uma retrospetiva da vida de goNZAleZ desde miúdo, passando pela adolescência e como adulto. temas como raconte-Moi une Histoire (nome da revista com uma cassete de contos narrados que a sua mãe lhe comprava quando tinha 5 anos) ou oK Pal (que relembra episódios de adolescência como “quando conheces alguém que realmente te compreende”), narram a vida de ANtHoNy como um diário aberto para quem quiser ler.

Hurry up, We’re dreaming é uma experiência catártica e desconcertante. A falta de uma narrativa clara não choca, afinal continuamos a saltar de sonho em sonho. um álbum sem refreio, criado como um filme com tema de abertura e créditos finais que não esconde uma profunda paixão pela sétima arte e uma admiração romantizada pela música dos anos 80, presente em texturas

sobrepostas de synths capazes de encher estádios, baixos em síncope cardíaca ou solos de saxofone a la Cut CoPy.

Nes ta audição somos confrontados com duas realidades. Por um lado, o tom urgente e introspetivo do álbum, por outro a dupla identidade de goNZAleZ como entusiasta de pista da dança e trovador solista. Por isso não estranhamos quando saltamos da euforia nu-disco efervescente de Midnight City, o single inaugural, para o cosmonauta espectral intro, numa inesperada colaboração com NiKA dANiloVA, do projeto goth-pop ZolA Jesus. da doçura inocente e ensolarada de raconte-Moi une Histoire, com palmas e vocais de criança, para as guitarras aceleradas, percussão aguerrida e vozes arrancadas das entranhas de reunion e the bright Flash ou num regresso ao passado às batidas oitocentistas de Claudia lewis, dominadas pela mestria funk-rock do slapbass.

Quando goNZAles descreveu a sua nova produção, resumiu-a como “muito, muito, muito épica”. e não estava enganado. Apesar da palavra estar cada vez mais vulgarizada, “Hurry up, We’re dreaming” é digno de tal ambição, que nos transporta numa montanha russa de emoções maiores do que a vida. uma fantasia a que nos agarramos com a força que o corpo nos permite e que tentamos, a todo o custo, prolongar.

Com o novo álbum Hurry Up, We’re Dreaming, os M83 fizeram-nos desejar não acordar de um sonho

demasiado grandioso para ser interrompido.

Soundstat ion

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Soundstat ion Lana del Rey

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ouve-se um canto de serpente. uma voz grave, quase barítono, cobre camadas de música cinematográfica, milimetricamente dispostas para evidenciar a cantora. As canções de lANA del rey parecem feitas de estatística e a verdade é que a dimensão do fenómeno pode ser avaliado de forma muito objetiva. Não há no mapa presente sequer quem lhe faça frente no trono das expectativas, o que em época de descrença alumia ainda mais a candeia.

born to die, o álbum, é apenas um capítulo definitivo de uma história que muitos carateres já fez correr e que promete ser mais do que uma bolha em ponto de efervescência adolescente, isto é, pronta a rebentar. A grandeza adquirida graças à viralidade determina uma previsão que supera largamente as cartas do horóscopo: lANA del rey é uma estrela pop do presente que, graças à velocidade de propagação da informação e à partilha de conteúdos em redes sociais e outros suportes, praticamente não chegou a pertencer à "classe média". Nem há dois anos, lANA del rey era liZZy grANt e gravava um álbum homónimo por 7500 euros com a ajuda do produtor dAVid KAHNe, conhecido pelo seu trabalho com regiNA sPeKtor, por exemplo. o disco esteve dois meses à venda no itunes antes de ser retirado quando a artista foi descoberta pela editora atual. As canções estão disponíveis no youtube para

exercícios comparativos e, a julgar pelos comentários, não são poucos aqueles que o fazem. A vontade manifestada pela própria em reeditá-lo por alturas do verão parece mais um ato de gestão para limpar a imagem fake do que propriamente um ato espontâneo de recuperação do passado.

É que além de todas as alterações estruturais que a mudança para uma multinacional e decorrente

aposta global obrigaram, liZZy grANt —o seu nome verdadeiro até é elizabeth— passou a ser lANA del rey, uma inspiração siamesa entre lANA turNer e Ford del rey. A construção da personagem passou também por um reforço labial de botox, além de outras transformações apenas ao alcance dos cirurgiões mais competentes. o que se depreende do processo que a elevou ao estrelato num ápice é que a música foi apenas um meio para atingir um fim. As referências assumidas (de bob dylAN aos NirVANA) pouco ou nada se refletem

num conjunto de canções que revelam uma identidade duvidosa e, sobretudo, excesso de mecânica. o que a previsibilidade do álbum não indiciava era um falhanço tão rotundo na hora do confronto com o microfone. Já se notava grande cautela na gestão da relação entre lANA del rey e os palcos mas nem os maiores detratores poderiam esperar uma prestação tão desastrosa no saturday Night live. regozijaram-se os mais críticos e desiludiram-se aqueles que a defendiam arreigadamente. No momento em que não podia mesmo falhar, deixou uma imagem de desorientação como quem não sabe o que fazer ao microfone. As versões de palco de Video games e blue Jeans tomaram proporções gigantescas no contexto de uma comunicação cada vez mais rápida e viral mas para trás havia todo um trajeto de antecipação capaz de produzir milhões de cliques no youtube. o mais importante nesta história não é a música mas antes a forma como ela é comunicada. ou, por outras palavras, a forma como o processo se tornou tão ou mais importante que a obra. É que à saída de born to die, metade do álbum já era conhecido o que não impediu que se tratasse de um acontecimento. Mesmo com a digestão feita antes sequer de a refeição completa ser servida. Há um mundo em mudança, o da comunicação e, sem redefinir as regras, lANA del rey soube jogar com elas. As canções aparecem lá pelo meio.

É a nova estrela pop, capaz de ocupar um

centro esvaziado pela dispersão. LANA DeL ReY define um tempo

marcado pela viralidade em que o processo é o fim e a obra o meio.

Soundstat ion

53

Lana del Rey

Page 54: PARQ magazine issue 32

Pós 7,

Hallelujah

L e o n a r d

C o h e nwww.leonardcohen.com

t —

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54

Soundstat ion Leonard Cohen

Page 55: PARQ magazine issue 32

A maturação é processo imper feito, incómodo e doloroso quando tudo o que precisamos é de amor, bem-querer. Percorrer linhas tortas faz parte. Atravessar a estrada sem olhar e torcer o pé, também. Mas fechar os olhos e ver azul, confundir crer com querer e nunca deixar de acreditar em canções de embalar, também. o tempo é escrito a sugestões de expiação para o equívoco luxurioso e fé equivocada e CoHeN sabe disso.

old ideas é toda uma lição de vida numa linguagem compreensível, mutilada e intervalada através de mostras de (i)moralidades e explosões de amor. Por ali, não se espera pelo sinal verde para dar o passo e não nos é permitido o medo de fechar os olhos e deixar vir o escuro. “I'm old and the mirrors don't lie” —diz CoHeN em Crazy to love you, e nós agradecemos esse reflexo enrugado de quem já aprendeu que as rotinas e rituais são vitamina C e que a vida é uma cidade de encontros e desencontros mas que estamos cá e que aguentamos porque há quem diga que o amor são os cinco segundos finais de uma música dele. e nós acreditamos. Amen e show me the Place são prova de, como de forma incansável, leoNArd CoHeN, continua a desenterrar relíquias dos terrenos baldios do coração e da alma humana que a maioria de nós prefere esquecer ou não tem a coragem de explorar.

old ideas é um álbum de músicas assim, que não nos deixam conter e nos trazem tudo aos olhos. Que são a melhor síntese. Peças de um puzzle que bem poderia ser nosso e forçamos que encaixe naquela nossa noite. e encaixa. No fim, limpamos a cara e prometemos sempre que só voltaremos a deixa-nos importunar quando a razão nos notificar e o coração estiver a fazer a sesta. Mas as promessas não se fazem de visão turva e com a alma virada do avesso. É preciso deixar as feridas expostas ao ar para assim deixar cicatrizar. Não interessa a quantidade de areia e cinza e memórias e alcatrão e suspiros e sangue e rum que tenham em cima. Não, não interessa mais. o importante é o riso que chega quando todas as esperanças são frustradas e as opções são poucas. sim, por vezes, uma

pessoa incorre nessa bizarria que é ter sentido o ridículo e rir-se de si própria. enfim, podia ser pior.

“Um santo não resolve esse caos; se pudesse, o mundo teria mudado há muito tempo”*. Mas acalma. Amansa. Apazigua. e com subtis investidas melhora. As feridas saram mais rápido e são mais bonitas.

de voz vacilante e entoando letras de um lirismo incomum, as músicas de leoNArd CoHeN obrigam a um ritual de entrega que só se consegue na comparência de grandes espíritos com uma interpretação intensa e contida, sensual. Conseguem emudecer qualquer coração e vivem eternos-internos em nós. esta é uma época de exageros e hipérboles em que a palavra perdeu o seu significado. old ideias é, no verdadeiro sentido, um primor. o requinte da perfeição.

Já é sabido que LeONARD COHeN nos faz dar nome a todas as feridas. e que faz questão de

escarafunchar carne, alma, vísceras adentro e ir mais dentro e mais

fundo e mais além de todos os outros. Mas com ele chega também a certeza

que um dia todas as feridas aparecerão

cicatrizadas.

* be

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66)

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Cohe

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Soundstat ion

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Leonard Cohen

Page 56: PARQ magazine issue 32

R o s â n g e l a

deise lANe, Zorki 11, do projeto A última foto, 2006

Fotografia a cores e câmara fotográfica Zorki 11, emolduradas (díptico)

Fotografia: 82,8 x 54,9 x 9,3 cmCâmara: 17,5 x 15 x 9,3 cm

Parte de um dos 43 dípticos realizados com a colaboração de 43 fotógrafos profissionais convidados a fotogra-far o Cristo redentor usando câmaras mecânicas de diversos formatos, câmaras de chapa 9x12 cm do início do séc. xx e câmaras reflex para filme 35mm da década de 80, que rosâNGELa rENNó tinha colecionado ao longo dos últimos 15 anos. as câmaras e a última foto registada constituem o trabalho exposto.

A Vida56

Q&A Rosângela Rennó

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R e n n ó

rogÉrio reis, yashica Mat

Fotografia a cores e câmara fotográfica yashica Mat 124b, emolduradas (díptico)

Fotografia: 67,8 x 67,8 x 12,5 cm Câmara: 20 x 18 x 12 cm

e a M

orte

das imagens

Q&A

57

Rosângela Rennó

Page 58: PARQ magazine issue 32

o Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste gulbenkian apre-senta uma retrospetiva da artista brasileira rosâNgelA reNNó que marca duas décadas de trabalhos em torno de questões rela-tivas à imagem. A artista, residente no rio de Janeiro, cedo teve acesso a um palco internacional, tendo sido convidada a expor em várias bienais como a de Veneza (1993 e 2003), a de berlim (2001) e a de são Paulo (1994 e 2010), entre muitas exposições individu-ais em vários centros de arte. o seu trabalho constrói-se a partir de fotografias, negativos e slides, na maior parte das vezes encon-trados, que servem de matéria para o desenvolvimento de instala-ções multimédia onde o lugar social da imagem está em foco. e é precisamente mergulhando no que se poderá chamar de arquivo morto, constituído por imagens anónimas cuja identidade o tem-po apagou, que rosâNgelA desconstrói os alicerces de uma so-ciedade, observando especialmente aquilo que se quis esquecer. Amnésia e memória são dois elementos que atravessam parte do seu trabalho, que tanto ganha uma comovente carga poética como política. e apesar de muito do seu trabalho se referir a um contex-to social brasileiro, a passagem do tempo apaga os aspetos indi-viduais deixando assim em evidencia a dimensão abrangente do seu universo. em exposição até 6 de maio no CAM.

t — Francisco Vaz FernandesF — Cortesia da galeria Vermelho

lição de realismo Fantástico, 1991—2000

Fotografias a p&b, em papel rC, 101 x 630 cm, cada

Coleção e cortesia da artista

58

Q&A Rosângela Rennó

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P: a rosâNGELa não é uma desconhecida em Portugal, várias vezes aqui mostrou o seu trabalho e, inclusivamente, é representada por uma galeria portuguesa, como tal, não precisa de grandes apresentações... o que iremos ver de novo nesta exposição?

r: a IsaBEL CarLos (diretora do CaM) e eu tentá-mos fazer uma exposição que tivesse uma leitura mais ou menos linear do meu trabalho desde 1991, data da obra mais antiga desta mostra. adotámos a estraté-gia de desenvolver um percurso que complementasse o que nunca sido mostrado em Lisboa. ainda assim, vão aparecer algumas obras que puderam ser vistas anteriormente só que, agora, integradas num contex-to evolutivo, onde ficam evidenciadas as questões ex-ploradas de cada momento. o mesmo acontecerá no catálogo,que será bastante completo.

P: Vai ser uma espécie de catálogo raisonné?r: o catálogo não tem o objetivo de ilustrar todo o meu percurso mas tem cerca de 400 páginas... Na verda-de, a exposição segue de Lisboa para o Fotomuseum Winterthur, na suíça, onde a minha obra é menos co-nhecida. Que me lembre, apenas participei em duas ex-posições na suíça e estou pouco representada nas co-leções públicas suíças. Por isso, seguimos a estratégia de privilegiar a documentação de grandes instalações e de obras montadas e apresentar outras obras, além das que estão na exposição. o catálogo ficou muito bonito porque tem muitas imagens e vai ser possível ver os conjuntos completos, muitas vezes instalados de formas diferentes, dependendo das condições dos lugares onde foram expostos.

P: ou seja, são imagens comparativas, que permitem ver como a obra foi instalada num determinado sítio ou noutro?

r: Exato. Isso dá uma melhor compreensão do traba-lho e ajuda especialmente na suíça, onde o meu tra-balho é menos conhecido. Penso que o catálogo com-plementa a exposição em si. Nunca tinha feito um catálogo assim, bem maior e mais completo do que a própria exposição.

P: E relativamente à exposição, também foram privilegiadas as grandes instalações ou houve outro critério?

r: Não há nenhuma grande instalação. acabámos por fazer pequenos conjuntos que não foram vistos em Portugal. Por exemplo, não dava para montar toda a Biblioteca ou a Última Foto, então criámos pequenos grupos que saíram de projetos maiores. Queria que houvesse um sentido de percurso e, como tal, era mais interessante mostrar o maior número de séries e re-velar as conexões que existem entre elas do que estar a privilegiar apenas duas ou três grandes instalações.

P: Então vamos ter versões mais reduzidas de algumas das suas grandes instalações?

r: Justamente, porque eu já fiz instalações de pro-jetos específicos na Cristina Guerra e no Museu do Chiado, então achei que estava na hora de mostrar os outros conjuntos, mesmo que em versões mais redu-zidas, de forma a permitir uma visão mais global do meu pensamento plástico.

P: Muito do seu trabalho parece partir do universo arqueológico já que escava bem fundo algumas camadas da cultura material, sedimentadas e caídas em esquecimento. É daqui que recolhe materiais para um desenvolvimento plástico?

r: há duas coisas envolvidas na minha pesquisa que, na verdade, é o que me atrai enquanto produtora de imagens e de objetos. uma, é investigar a origem es-pecífica de cada arquivo, de cada fotografia ou de cada coleção que acaba caindo na minha mão. É fun-damental para mim conhecer as origens dessas ima-gens. Funciona mais ou menos assim: é preciso con-textualizá-la para poder descontextualizá-la e então recontextualizá-la. Eu aprendi a ter esse rigor e res-peito por cada uma das etapas da pesquisa na escola de arquitetura. o uso da interdisciplinariedade den-tro do meu trabalho leva-me a respeitar as especifi-cidades de cada disciplina que está envolvida nessa produção. Mas existe uma outra arqueologia que tal-vez eu tenha descoberto mais recentemente: gostar de redescobrir e de rever a própria historia da fotogra-fia. Não só a historia da fotografia mas a história so-cial da fotografia. Mapear os usos, as funções sociais e entender a sua importância dentro da evolução do processo fotográfico.

P: E quando começou esse interesse?r: Primeiro senti um envolvimento afetivo e emocio-nal com a fotografia e mais tarde veio a compreen-são de que eu não precisava de fazer as minhas pró-prias imagens para usar a fotografia como um campo

biblioteca, 2002. grupo 1 (vitrines 20,25,27 e 28). Parte de 37 vitrines com álbuns de fotografia a P&b e fotografia a cores laminada sob acrílico, mapa e arquivo de aço.F— eduardo eckenfels

Q&A

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Rosângela Rennó

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de expressão e um campo de interlocução com o es-petador. Na verdade, eu posso prescindir do ato fo-tográfico e continuar dentro do universo fotográfico propriamente dito. uma coisa não invalida a outra. o ato fotográfico é apenas um gesto. Existe todo um léxico envolvido, desde a produção, à edição até à fi-nalização, que são muito mais interessantes do que o ato em si. acho que foi aí que me envolvi, com essa liberdade eu podia dialogar com os vários usos e fun-ções da imagem... E o meu interesse pela pesquisa de imagens dentro de modalidades diferentes vem daí.

P: Mesmo antes de ser artista, tinha uma pulsão de colecionadora, tinha interesse por objetos antigos?

r: Eu não diria que tivesse percebido isso antes, mas sempre fui muito multidisciplinar. Penso que no tempo da escola tinha vários talentos: quis ser física, astró-noma, paleontóloga e artista, tudo ao mesmo tempo... arqueóloga inclusivamente, isso é muito engraçado! Mas o envolvimento com as coleções veio pelo enten-dimento da multiplicidade da imagem e das coleções —que não são propriamente coleções, tornam-se co-leções pela reunião de objetos que não têm muito em comum. Quando contactei, pela primeira vez, o estú-dio de fotografia mais conhecido do rio de Janeiro, que estava prestes a colocar no lixo todos os negati-vos reunidos ao longo de sei lá quantos anos, entendi a dimensão do que significa “arquivo morto”. apenas nessa altura percebi o que era um arquivo, que nunca foi propriamente um arquivo mas, na verdade, já era um “arquivo morto” e já estava destinado ao lixo. Foi desse volume que nasceram várias das minhas pre-ocupações, não só em relação ao processo fotográfi-co como, também, a um possível ciclo de vida da fo-tografia. detetar a morte da imagem e a função que ela cumpre são tarefas simples, o que é difícil saber é quem decreta, e porquê decreta, a sua morte.

P: Pensando na história do Brasil, essa massa anónima de negativos fotográficos tem uma força poética porque, no essencial, são tudo o que resta de traços de vida…

r: É isso mesmo. Quando nos deparamos com essa massa anónima, constituída por esses fantasmas de ge-latina, somos chamados a pensar em várias situações: desde as questões inerentes à própria existência daque-la imagem, ao que ela representa enquanto fantasma isolado ou o que ela representa dentro de um contex-to, dentro de um conjunto, nessa massa. representa especialmente o indivíduo pobre, desprovido de bens. Muitas dessas fotos são feitas, precisamente, porque o indivíduo precisa de fazer os seus documentos de identificação. uma coisa leva à outra e, inevitavelmen-te, não deixo de pensar no nosso Brasil, nos nossos arquivos, no desrespeito pela memória. Não porque não se respeite o passado mas porque se tem pressa para chegar no futuro. Nós temos um presente com-plexo e um futuro melhor é o que se espera e se tenta alcançar. dentro desse quadro, não há muito tempo para se cuidar daquilo que passou. aliás, como dizia o geógrafo MILToN saNTos, “quando estamos a

falar de uma sociedade que tem fome, a última coi-sa que essa sociedade vai dar importância é ao seu passado”. É óbvio que ela não tem o menor interesse nisso. o problema é que muitas vezes certos setores da sociedade utilizam essa necessidade, que o brasi-leiro tem de pensar sempre adiante, para apagar epi-sódios e fatos incómodos, que convêm ser esquecidos.

P: E relembrar esse passado, trouxe-lhe algum dissabor?

r: Tive uma vez um problema. Convidada a partici-par numa coletiva de brasileiros dentro da progra-mação da Feira do Livro de Frankfurt, onde o Brasil era o país homenageado, a própria comissão brasilei-ra tentou censurar meu trabalho. os organizadores não queriam que o meu trabalho fosse exposto por-que, segundo eles, mostrava uma imagem negativa do Brasil. É uma situação que não é única é, até, re-corrente quando não interessa que certas coisas ou temas sejam abordados. o meu trabalho só foi mos-trado porque o curador, PauLo hErkENhoFF, na época, defendeu a sua pertinência e ameaçou cance-lar a exposição, que envolvia outros artistas, caso o trabalho fosse retirado.

P: Por curiosidade, o que estava a gerar polémica nessa obra?

r: É um trabalho intitulado atentado ao Poder que, in-clusivamente, vai ser mostrado na exposição do CaM. É constituído por um conjunto de 13 fotos de cadáve-res fotografados, recolhidas diariamente nas primeiras páginas dos jornais mais populares do rio durante os 13 dias em que decorreu o Fórum Global, dentro da conferência “rio 92” [Conferência das Nações unidas sobre o Meio ambiente e o desenvolvimento, que reu-niu grande parte dos lideres mundiais]. Não queriam que o trabalho fosse mostrado mas, ainda assim, tive-ram o gosto de o reproduzir na publicação do even-to num tamanho mínimo, tentando disfarçadamente diminuir a sua importância e seu impacto dentro da mostra, que se chamava “a espessura da luz”.

P: hoje o Brasil é visto como a sexta potência mundial, com um crescimento invejável. Isso trouxe-lhe alterações na perceção da realidade à sua volta e em termos de produção do trabalho?

r: Essa sensação de riqueza não nos deixa mais feli-zes porque muito disso é uma grande ilusão, uma fan-tasia. Existe uma melhoria na qualidade de vida de uma forma geral mas existe muito mais propaganda e investimento na “autoestima” do brasileiro do que uma melhoria realmente efetiva. Existe muita coisa maquilhada no Brasil. o que ficou muito claro para a maioria das pessoas atentas aos fenómenos da cor-rupção, é que o Brasil tem uma capacidade absoluta-mente fantástica de produzir riqueza. o Brasil é um país riquíssimo habitado por gente muito pobre. o di-nheiro escapa, simplesmente desaparece e não é re-vertido em reais benefícios, tão necessários para as comunidades carentes. Existem pagamentos de pro-pina [luvas] em todos os níveis, desde o policial na esquina, passando pelo fornecedor de medicamentos para os hospitais públicos do interior, até ao político

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Q&A Rosângela Rennó

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que vende favorecimentos de todo tipo. são tantos os casos de desvio de verdadeiras fortunas que você fica imaginando quanto dinheiro é gerado para desapare-cer dessa maneira. Estamos a tornar-nos num país ri-quíssimo, o único problema é que a população con-tinua muito pobre.

P: E em termos de condições de produção, houve de facto uma melhoria?

r: algumas coisas, inclusive, pioraram, porque os meios de produção, hoje, são caríssimos. Estamos a viver uma alta de preços sem precedentes. É mais barato comer bem em Lisboa ou em Paris do que no rio de Janeiro, é mais caro produzir uma fotografia no Brasil do que na Europa. Na verdade, coincidência ou não, eu acabei por produzir um trabalho chamado Menos-valia [leilão], que era uma espécie de estudo de caso. o projeto visava transformar objetos adquiridos nas feiras de segunda mão em obras de arte. o meu sistema começava pela seleção e transformação de al-guns objetos que foram expostos na 29ª Bienal de são Paulo, em 2010, onde foram leiloados por um leiloeiro oficial e adquiridos por colecionadores de arte junta-mente com um certificado, na última semana da ex-posição. o momento em que este trabalho acaba por emergir não pode ser considerado uma coincidência.

Existe, sim, uma hiper valorização da arte brasilei-ra, existem preços obscenos. Na verdade, o mercado de arte não faz o menor sentido e, parece-me, nunca fez. Isso tudo é muito interessante pois faz-me pen-sar, cada vez mais, no valor, no significado e na ser-ventia do que é chamado “arte”. Continuando, acho que ela a mim, serve-me para entender melhor o mun-do, compartilhar as minhas dúvidas e, talvez, ordenar o meu próprio caos. No momento em que isso entra numa espiral de especulação, escapa do meu contro-lo e, ao mesmo tempo, passa a distanciar-se do obje-tivo inicial. Isso deve acontecer com vários artistas. acho que esse trabalho em particular lidou com es-tas questões com uma boa dose de humor e colocou o meu próprio valor como artista em jogo. É claro que, dentro dessa perspetiva, aumentou em muito minha própria autoestima.

P: apesar de Menos-valia [leilão] ser formalmente próximo de outros trabalhos, tem um comentário social mais vincado e dirigido ao próprio meio em que se move. Como foi recebido pelos seus pares?

r: Foi visto como um jogo que deu certo. uma espé-cie de “golpe de mestre”...

P: apesar do obscurantismo em que a massa anónima vive, o Brasil sempre conseguiu ter uma elite cultural que acompanhou as vanguardas, especialmente na literatura e nas artes plásticas, ao invés de outros países da américa Latina. o mesmo se pode dizer da sua geração que, a partir de alguns nomes entre os quais incluo a rosâNGELa, ganhou relevância internacional. No seu entender, a que se deve esse fenómeno?

r: Eu não saberia avaliar isso tudo mas houve alguns episódios que impulsionaram a arte brasileira ao lon-go das últimas décadas, principalmente. Mas acho que isso aconteceu em escalas diferentes também noutros países, com as devidas porporções. o Brasil é muito maior que os demais países da américa do sul. No caso do Brasil, houve o reconhecimento internacio-nal da obra de grandes artistas como LyGIa CLark e hELIo oITICICa, já falecidos na época das suas grandes retrospetivas na Europa. houve também a inserção da arte brasileira no mercado internacional pelas mãos dos maiores galeristas da década de 90, principalmente, MarCaNTôNIo VILaça e LuIsa sTrINa. há, com certeza, outros fatores relevantes mas acho que esses dois foram decisivos.

P: Por fim, o seu percurso internacional nunca lhe trouxe vontade de se instalar numa dessas grandes metrópoles onde aparentemente as oportunidades estão a cada esquina? o rio foi sempre o melhor sítio para viver?

r: Nunca tive vontade de mudar de país, talvez ain-da pense em passar 3 ou 6 meses, ou talvez um ano, noutro lugar, mas nem saberia apontar qual ou, pelo menos, em que continente. acho que as idiossincra-sias brasileiras e as próprias dificuldades impostas pelo quotidiano do rio de Janeiro alimentam muito o meu trabalho. ainda tenho muito que fazer, morando lá.

Menos-Valia [leilão], 2010. os 73 objetos que constituem este projeto, exposto pela primeira vez na 29ª bienal de são Paulo, foram encontrados e adquiridos em diversas feiras de artigos usados e a sua “denominação de origem” está identificada no próprio objeto. Ao serem selecionados, recompostos, transformados e recontextualizados, esses objetos passam por sucessivas agregações de valor material e simbólico até ao seu destino final, definido no dia 9 de dezembro de 2010, quando foi submetido a leilão dentro do próprio pavilhão da bienal.

Q&A

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Rosângela Rennó

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se até a time out singapura, que fica do outro lado do mundo, aconselha os seus leitores a visitarem guimarães neste ano de 2012, porque é que nós, que somos portugueses, não rumamos a norte e ficamos a conhecer a cidade que, este ano, se orgulha —e nos orgulha— de ser a Capital europeia da Cultura? Foi isso que fizemos, pusemo-nos a caminho e só parámos em guimarães.

t — José reisF — le-Joy

G u i m a r ã e s

A Cultura

à po

rta d

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casa

rodrigo Areias, realizador e ricardo Areias, arquitecto, no CAAA

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Repor tagem Guimarães 2012

Page 63: PARQ magazine issue 32

E tanto nos falaram do Centro para os assuntos da arte e arquitetura (Caaa), que foi por aqui mesmo que começámos. Em plena baixa da cidade, entre ar-mazéns industriais mais ou menos abandonados e o fervilhante motor da cidade que é o mercado de pro-dutos frescos, fica um edifício que, se fosse construí-

do em Nova Iorque, seria apenas mais um, mas por-que foi feito em Guimarães é o edifício do momento. os motivos: ser uma nova incubadora criativa multi-disciplinar, um novo local de exposições e de mostra de trabalhos de jovens artistas, e o único edifício da cidade, até à data, de cor preta, dos “pés à cabeça”. a Fábrica Preta, como é carinhosamente apelidada en-tre os habitantes da cidade, pouco habituados a arre-messos criativos deste calibre, “era uma antiga fábri-ca têxtil, um edifício fechado há oito ou nove anos”, começa por explicar rICardo arEIas, o arqui-teto responsável pelo feito. o Caaa abriu portas a 1 de outubro do ano passado mas o espaço está em constante mutação, entre os dois andares do edifício. “Neste momento, temos cá sediados o laboratório de criação digital, o laboratório de arte e arquitetura, o programa de fotografia ReImAGINAR GUImARãeS [dinamizado pelo fotógrafo eDUARDo BRIto, que procura revitalizar o acervo fotográfico da associação muralha, da cidade] e espaços para residências ar-tísticas e exposições”, revela. Já o irmão, o realizador rodrIGo arEIas, fica com a responsabilidade da componente cinematográfica e pela gestão da plata-forma do produção audiovisual da Capital Europeia da Cultura (CEC 2012), também com sede no Caaa. “esta é a oportunidade de passarmos de meros con-sumidores a produtores de cinema. É este discurso

que me motiva a deixar Lisboa e a criar uma estru-tura na minha cidade”. rodrIGo arEIas fala até num “momento de viragem”. se, há uns anos, falar na produção de 50 filmes em Portugal era impossí-vel, hoje, com este evento e com meios de produção próprios, o impossível vira possível, estando previs-

tas estreias de filmes-encomenda de realizadores tão insuspeitos como akI kaurIsMakI ou PETEr GrEENaWay, sem esquecer um portento chama-do JEaN-LuC Godard, que aceitaram o convi-te e filmam a cidade de Guimarães durante este ano.

É um momento de viragem em toda a cidade e toda a cidade “sofre” com o que a CEC 2012 deixará para o futuro. Que o digam os atores do TEaTro oFICINa, que vão usufruir de um novo auditório quando a Plataforma das artes, o empreendimento mais vis-toso da CEC, estiver operacional no antigo Mercado Municipal da Cidade e que irá acolher o espólio do artista plástico JosÉ dE GuIMarãEs. a única companhia de teatro da cidade, que este ano terá oito produções a estrear em vários locais, será uma das felizardas com a atribuição do novo espaço. Por ago-ra, dividem-se entre os espaços existentes na cida-de. a primeira peça estreia já a 8 de março, no espa-ço da estrutura teatral. “É um texto e encenação de LAUtARo VILo, chama-se Cosmos e é quase uma peça de teatro radiofónico”, revela dIaNa sá, uma das atrizes da companhia que, este ano, aumentou o número de atores do elenco —de dois passaram a ser seis. “Este é um momento importante para a cidade

oficina com oito produções

elenco do teatro oficina no espaço da Companhia

Repor tagem

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Guimarães 2012

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Pedro bastos, artista plástico e visual no espaço que intervenciona

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Repor tagem Guimarães 2012

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e eu, enquanto atriz, não podia estar num sítio me-lhor”, revela. “Sou atriz da companhia há dez anos e sinto que tem havido um crescimento do número de público mas ao mesmo tempo existe um aumento da exigência dos espectadores. este evento serve para compensar uma população com um crescente inte-resse cultural”. “o timing é perfeito”, lança EMíLIo GoMEs, outro dos atores da companhia.

É perfeito também para as artes plásticas na cidade, quer no espaço público quer em galerias e espaços mais ou menos convencionais (em armazéns abando-nados). Que o diga PEdro BasTos, artista plásti-

co, cineasta e dinamizador cultural numa associação cultural chama “ó da Casa”. atualmente, interven-ciona um armazém anexo ao Caaa para o tornar em alguma coisa que ainda não sabe o quê. “A ideia é criar aqui o meu atelier, mas ainda não sei o que isto vai dar”, conta, entre camadas e camadas de madeira carcomida e material inutilizado. “A ideia é aprovei-tar os materiais existentes, reaproveitá-los, utilizar o espaço devoluto e construir algo de raiz. talvez um conjunto de ateliers, talvez novas galerias de arte”,

revela PEdro BasTos. o mesmo sente NuNo MaChado, outro dos artistas da cidade, atualmen-te com uma instalação no Paço dos duques e que, em breve, irá levar a cabo uma ação de rua de cariz so-cial dirigida a um público “dos 30 aos 80 anos, com uma componente musical” mas que ainda não pode revelar. segundo o próprio, “se o objetivo da capi-tal é a criação de um centro artístico, é algo que está a conseguir, pois o trabalho que está a ser realizado é excelente”. Palavras que encontram ainda eco em Luís rIBEIro, um dos elementos do Laboratório das artes, uma estrutura criada em 2001 para potenciar a criatividade emergente na cidade. Com um edifício centralmente colocado —mesmo ao lado do renova-do Largo do Toural— Luís rIBEIro diz que este “é

o momento da cidade”. o também artista plástico e professor é ainda o responsável pelo projeto Memórias Coletivas singulares que surge integrado no progra-ma associativo Tempos Cruzados. “Desafiei nove ar-tistas plásticos a refletirem sobre várias associações da cidade”. É o caso da associação Convívio, onde as artistas plásticas IsaBEL rIBEIro e MaFaLda saNTos estiveram em residência artística e que agora apresentarão pinturas murais alusivas ao local. o re-sultado será dado a conhecer ao público a 20 de abril.

luís ribeiro e Nuno Machado, no laboratório das Artes

Artes plásticas em todo o lado

Repor tagem

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Guimarães 2012

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depois de Quinze Pontos na Alma, ViCeNte AlVes do ó assi-na o seu segundo filme, uma viagem ao coração da poesia de FlorbelA esPANCA, interpretada por dAlilA CArMo, num mo-mento de writer's block e busca de inspiração.

t — Ágata Carvalho de Pinho

F l o r b e l a

Fora do

circ

uito

feminino

comercial

dalida Carmo

dalila Carmo e Albano Jerónimo

e no

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Cinema Florbela

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Nome incontornável da poesia portuguesa, FLorBELa EsPaNCa produziu ao longo dos seus 36 anos de vida uma obra poética rica e tocante, agitada mas delicada também. “Ó mulher! Como és fraca e como és for-te! Como sabes ser doce e desgraçada!”, escrevia. Foi uma das primeiras mulheres a frequentar o ensino se-cundário em Portugal, altura em que leu algumas das obras que mais a influenciaram, entre elas duMas, CaMILo CasTELo BraNCo e GarrETT. Muitos conhecem os seus versos —por os terem lido na esco-la, por os ouvir declamar espontaneamente a uma mãe ou avó, ou por que um dia os encontraram sem querer numa das prateleiras da biblioteca em casa. Está na al-tura de os revisitar, sugere VICENTE aLVEs do ó, e à mulher que os escreveu como fruto da sua expe-riência, de uma vez só alimento e obstáculo ao pró-prio ato de escrever. Fugir a sete pés do estereótipo? sim, também é essa a ideia.

daLILa CarMo interpreta a poetisa alentejana lado a lado com aLBaNo JEróNIMo, que dá vida a Mário Lage, o seu terceiro marido, e IVo CaNELas, o irmão, apeles Espanca, cuja morte foi para ela um dos acontecimentos mais dolorosos. Não fosse o filme uma viagem ao mundo interior de uma personagem feminina de carne e osso (e tinta e papel), o elenco é forte em contribuições femininas: soraIa ChaVEs, MarIa João aBrEu, aNaBELa TEIxEIra, rITa LourEIro e rITa BruTT também mar-cam presença. depois de Quinze Pontos na alma

(que conta também com IVo CaNELas e daLILa CarMo no elenco), VICENTE aLVEs do ó fala de Florbela como a concretização de um projeto mui-to pessoal, que reflete um amadurecimento e uma aprendizagem muito prática, depois do desafio que foi o seu primeiro filme.

a estreia está prevista para dia 8 de março, mes-mo a tempo de celebrar de forma especial o dia Internacional da Mulher. Já no dia 14 de fevereiro, o filme o Que há de Novo No amor? (realizado não por um mas por seis realizadores, produzido pela rosa Filmes) veio celebrar o dia de são Valentim. E se ce-lebrar datas com filmes temáticos apropriados à oca-sião se tornar um hábito? Bem, pode ser uma forma de promoção que incentive o público português a ver cinema nacional, quem sabe. Florbela, produzido por PaNdora da CuNha TELLEs —Como desenhar

um Círculo Perfeito (2009) de MarCo MarTINs e américa (2011) de João NuNo PINTo, que tem feito sucesso em festivais por todo o mundo— será distribuído pela ukbar Filmes. VICENTE aLVEs do ó é claro nas suas intenções: o filme deve con-quistar o público fora do circuito comercial, seguin-do o exemplo de o Filme do desassossego (2010) de João BoTELho, que contou com um número feliz de espectadores. a ideia, explica o realizador, é exibir o filme no maior número possível de salas pelo país fora e durante mais do que duas semanas.

dalila Carmo e ivo Canelas

Cinema

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Florbela

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No trabalho de tAKesHi KitANo alguma coisa angustia. da tão ardilosa violência à beleza imensa brutal, os seus filmes cumprem um só papel: transformar o corpo num arremesso frágil contra o tempo, inimigo sempre cruel e voraz. Numa coreografia bem ensaiada e bem filmada, outrage comprova isso.

t — ingrid rodrigues

T a k e s h iK i t a n o

Cinema

yakuza

Norte

-Am

erica

no

As one

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Cinema Takeshi Kitano

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assim, sem mais nem ontem, TakEshI kITaNo dá um passo atrás e volta a construir um filme gan-gster, melhor dizendo, yakuza (termo usado para de-finir a máfia japonesa). dedos decapitados a palitos que trespassam corpos. Momentos de pancadaria bru-tais, com dentes ou a ausência deles, e uma cena que envolve uma cabeça, uma corda e um carro de luxo —e mais não digo. digamos só que neste filme se po-dem encontrar novas formas de chacinar corpos e no-vos métodos inventivos de carnificina para deleite dos espectadores mais sedentos de sangue.

Inserido na vida pós-moderna, TakEshI kITaNo dialoga com o passado e o futuro com a mesma des-treza com que vive o presente. surpreendeu todos quando em 2002 resolveu revelar o seu lado mais arrebatador e nos apresentou a obra-prima dolls (cento e vinte minutos de pura poesia, delicada, su-ave, crua e profunda.) Em dolls, estão presentes to-das as diferentes facetas do amor e da dor que an-dam de mãos dadas num abstracionismo romântico sem comparação. Mostrou-nos as possibilidades e impossibilidades. os encontros e desencontros. E com uma linguagem muitíssimo própria, cada foto-grama encerrava a beleza e o fatalismo da felicida-de efémera, frágil e impossível.

Em antítese, outrage narra uma guerra sangrenta en-tre fações rivais do gangue criminoso sanno-kai, de Tóquio, numa luta obstinada e implacável pelo poder (ou usurpação dele), vários clãs yakuza disputam os fa-vores do Padrinho. Elevando-se na organização, cons-pirando, fazendo falsos juramentos, negócios parale-los e pactos na prisão. suspeitas, traições, conflitos e interesses são só algumas das palavras-chave que vão ter lugar nesta trama. os diálogos ruidosos entre as personagens infligem uma certa agilidade à ação, com o zoom a criar tensão e a tornar o filme mais di-

nâmico. a música é bem trabalhada e, para atingir o clímax, vale-se de cortes rápidos e de planos curtos, criando um certo êxtase para depois gerar, no desfe-cho, um alívio e uma sensação agradável.

Em outrage as personagens têm uma vida, aparente-mente, sem sentido e sem muitos sentimentos. Justiça, dever, dedicação, coragem, benevolência, polidez, mo-dos refinados, veracidade, sinceridade, dever, lealdade, indiferença à morte e honra, são alguns dos valores contemplados e distorcidos. o cinema de kITaNo traduz culturas tão distintas e, através dos seus perso-nagens isolados e perdidos, reflete sobre as suas apre-ensões e o seu modo de ver a sociedade atual.

Cinema

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Takeshi Kitano

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durante a última década, a criatividade e o talento de milhares de milhões de pessoas foi libertado de uma forma sem precedentes e a cultura humana mudou para sempre. PressPausePlay é um documentário sobre esperança, receio e a internet, baseado em entrevistas a alguns dos mais importantes nomes da era digital.

t — diana de Nóbrega

P r e s s

Pause

era

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Digital PressPausePlay

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P r e s s

P l a y

digital

seth godin

www.presspauseplay.com

Digital

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PressPausePlay

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desde 1927 que a revista TIME publica anualmen-te a edição especial Person of the year, destinada a homenagear a pessoa, grupo, ideia ou objeto que mais influenciou os eventos do ano. MohaNdas GaNdhI, ELIsaBETh II, JohN F. kENNEdy e MarTIN LuThEr kING integram a lista de pes-soas que a revista americana selecionou pela extraor-dinariedade e percurso pioneiro, marcado por ideias, movimentos ou episódios que mudaram o mundo. Fortalecia-se, assim, a teoria “Grandes Homens” ini-ciada pelo filósofo escocês ThoMas CarLyLE, que afirmava que “a história do mundo se resume a bio-grafias de grandes homens”. acreditava que apenas alguns homens, poderosos e célebres, conduziam o destino coletivo. Este ideia foi aceite como uma ver-dade durante séculos.

Quando, em 2006, a revista TIME considerou que a Person of the year era “VoCÊ” (sim, VoCÊ —apon-tava a capa da revista) era já óbvio que o poder de in-fluenciar o curso da história tinha mudado de mãos. a consciência de comunidade e as colaborações ar-tísticas ergueram-se sobre o egos de elites, conside-radas culturalmente superiores, assumindo um po-der nunca antes experienciado na história. decorria a democratização das indústrias criativas e a ruína das empresas megalómanas. o documentário premia-do PressPausePlay criado pela agência criativa sueca housE oF radoN, debruça-se exatamente sobre esse poder. a provar a sua experiência está o facto do filme estar disponível gratuitamente na web para quem quiser ver, guardar, analisar ou escrever sobre ele, como é o caso deste texto.

Tendo trabalhado em indústrias criativas durante vá-rios anos, daVId dWosky e VICTor koEhLEr, os realizadores de PressPausePlay, ouviam queixas recorrentes sobre o desaparecimento de modelos de negócio e as crescentes perdas de lucro como conse-quência da pirataria. até que decidiram demonstrar ao mundo uma perspetiva que parecia esquecida. “Sentimos que uma parte importante da história ti-nha sido perdida”, explicaram à ParQ. “esta é uma revolução cultural sem precedentes. Claro que existem muitos problemas nas indústrias criativas causados

pelas inovações tecnológicas, mas existem também novas oportunidades para a criação”. o documentá-rio não pretende dar respostas certeiras sobre o futu-ro da criatividade e do talento na era digital porque este, dizem, nunca foi tão imprevisível. Pretende-se, antes, apontar questões pertinentes sobre a definição e impacto de tal poder. será que a democratização da cultura na era digital é sinónimo de melhor arte, me-lhores filmes, melhor música, melhor literatura, ou estarão os verdadeiros talentos afogados num vasto oceano digital de cultura de massas? Qual será o des-tino das indústrias criativas tal como as conhecíamos?

algumas das figuras mais influentes da era digital analisam no documentário estas e outras questões: MoBy, que dispensa apresentações; sETh GodIN, génio do marketing; sCoTT BELsky, CEo e funda-dor do website de partilha criativa Behance; kEITh harrIs, produtor da lendária editora discográfica Motown; sEaN ParkEr, criador do extinto Napster, entre muitos, muitos, outros, arriscam as suas melho-res apostas sobre a revolução cultural em curso. “Pode ter sido arriscado fazer um filme sobre algo que está em tão rápida transformação, onde nada está defini-do e não se consegue distinguir entre os heróis e os vilões”, explicaram os jovens criativos de Estocolmo, “mas quisemos apenas criar um testemunho dos dias de hoje e documentar os aspetos positivos e negati-vos desta nova cultura democratizada”. Entre os as-petos positivos contam-se as histórias de jovens que conseguiram criar as suas realidades profissionais e artísticas independentes no mundo digital. Estes no-mes comuns criaram algo de extraordinário com a mesma tecnologia que permitiu que outros pirateas-sem. uma subversão dos antigos modelos de negócio estava criada. “Há alguns anos as pessoas comuns não criavam coisas. Hoje todos são artistas”, afir-ma MoBy. “Já não existe mistério nas técnicas de criação artística porque toda a informação está na Internet, já não é necessário dinheiro e existem mui-tas formas de se fazer o que se quer”.

os entrevistados acreditam que tantas mudanças criam uma sensação de entusiasmo mas também um certo receio. “Ninguém sabe de onde o próximo pagamento vai chegar, mas estamos bastante entusiasmados com

david dwosky & Victor Koehler, realizadores do documentário PressPlayPause

Moby, músico

Até que surgiu a internet

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Digital PressPausePlay

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a possibilidade de criar e comunicar a nossa criativi-dade tão livremente”, sublinha sETh GodIN, que afirmou que o conceito de indústria estava morto e disponibilizou o seu livro unleashing the Idea Virus gratuitamente na Internet, o que lhe valeu vários con-vites de editoras, milhares de milhões de downloads e o estatuto de superstar do marketing. “o entusias-mo vem principalmente da liberdade de se saber que se tomam decisões próprias e que não se está depen-dente das decisões de terceiros, que também são seres humanos”, afirma o escritor daVId WEINBErGEr. “Agora os talentos podem trabalhar por si, represen-tar-se a si próprios e organizar as suas carreiras on-line”, explica o criador do website Behance, “os jo-vens podem construir as suas próprias empresas e marcas com um investimento e recursos mínimos”. E os exemplos de sucesso são inúmeros, como pode-mos comprovar tanto pelas histórias que ilustram o documentário, como pelo percurso dos entrevistados.

“Quando olhamos para décadas da história em que houve mudanças revolucionárias desejámos por ve-zes ter estado presentes, porque era tudo tão emocio-nante”, diz entusiasticamente sETh GodIN. “Isto é ainda maior do que isso. e a maioria das pesso-as continuam a ignorar o que se passa e a concen-trarem-se na ideia de que há uma recessão. esta é a maior oportunidade que você já teve!”, garante.

Você.

david Weinberger, escritor

PressPausePlay live

robyn, música

scott belsky, fundador do behance

Digital

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PressPausePlay

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fotografiaKiNd ANd NAKed

stylingsóNiA Jesus

modelos elite lisbonbeN, diogo FiliPe, FÁbio

CoeNtrão, FrANCisCo CyMbroN, João MotA

ass. stylingMAriA João roCHA

make-up&hairJoANA b.

Agradecimentos: Carlos tavares —takargo

j-o-ã-o:t-shirt rVCA

camisa ganga dieselcalças ganga leVi’s

cinto e mala toMMy HilFigerbotas Merrell

óculos escuros KoMoNorelógio NiXoN

colaborador especialPiVete

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j-o-ã-o:t-shirt billAboNg

camisa leecalças leVi’s

botas dieselmochila lee

óculos escuros MosCot na óptica do sacramento

relógio NiXoN

f-r-a-n-c-i-s-c-o:camisa iNsigHt

calções leebotins diesel

relógio KoMoNo

d-i-o-g-o:pólo Fred Perry

calças eleMeNtsapatos dKode

chapéu g-stAr rAWrelógio NiXoN

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f-á-b-i-o:camisa diesel

d-i-o-g-o:pólo Fred Perry

chapéu gANtrelógio NiXoN

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b-e-n:t-shirt lee

camisa dieselóculos MosCot na óptica

do sacramento

j-o-ã-o:camisa ANtoNy MorAto

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f-r-a-n-c-i-s-c-o:camisa iNsigHt

blusão diesel

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d-i-o-g-o:camisa e calças lee

mochila dieselchapéu toMMy HilFiger

f-á-b-i-o:pólo lACoste l!Ve

casaco e botas dieselcalções WesC

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f-r-a-n-c-i-s-c-o:camisa lee

blusão, calças e botins dieselrelógio NiXoN

b-e-n:camisa 55dsl

calças e mochila dieselrelógio KoMoNo

óculos MosCot na óptica do sacramento

f-á-b-i-o:camisa e calças leVis

casaco rVCArelógio NiXoN

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b-e-n:pólo Fred Perry

blusão 55 dsl

j-o-ã-o:t-shirt g-stAr rAW

camisa leelenço gANt

óculos escuros MosCot na óptica do sacramento

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ass. fotografiatAMy

make-uptâNiA doCe

modeloKAriNe loubACK (Just)

fotografiaNiAN CANArd

stylingbÁrbArA do ó

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top transparente e soutien cor de rosa H&M

calções de camurça AdidAs

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t-shirt verde estampada dieselcorpete de napa branco H&M

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vestido verde transparente H&Mtop amarelo reeboK

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top laranja neon H&Mcalções lilas PePe JeANs

Page 87: PARQ magazine issue 32

camisola de malha azul H&M calções verde escuro NiKe sPortsWeAr

sandalias de pele laranja diesel meias vermelhas MANgo

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blusa verde H&Mcalções cor de rosa MANgo

mochila amarela reeboK

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camisola de malha cor de rosa claro MANgo

leggings amarelas NiKe sPortsWeAr

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FANNy e Fred já tinham ouvido fa-lar do the independente, um hos-tel integrado num edifício apala-çado, e até já tinham conhecido o chefe NuNo bANdeirA de liMA durante uma degustação promovi-da por uma amiga comum, sancha trindade, do blogue lisboa na Ponta dos dedos. desde então, Fred pas-

sou a fazer com sucesso um chutney de maçã e cebola roxa que apren-deu na ocasião. e foi por aí que co-meçou, mesmo não sendo grande fã do enchido: pediu a morcela grelha-da com o tal chutney (6€) servido à parte numa mini frigideira. FANNy, que procurava algo mais leve, de-liciou-se com uns camarões pican-tes (7€) e comentava que para uma segunda-feira a casa estava relati-vamente cheia. os nefastos sinais de crise passavam ao lado do the decadente e Fred & FANNy brinda-vam a isso com um branco da Casa de santar. A vista de FANNy perdia-se por ve-lhos louceiros, balanças e outros objetos inusitados recuperados das casas das avós que, reunidos, faziam uma decoração ecléctica,

estrategicamente desarranjada. A par de outros projetos recentes com decoração semelhante, FANNy não percebia se era uma tendência ou apenas uma circunstância de quem começa e dá maior ênfase à quali-dade e criatividade da cozinha. Já Fred, não perdia tempo com embró-glios e, olhando à volta, só via van-

tagens. Naquele caso, o ambiente transmitia-lhe o calor e a informa-lidade própria de um hostel, onde se espera partilha de experiências de viagem, se possível. só lamen-tava não ter jantado na esplanada traseira mas logo se esqueceu dis-so quando experimentou o bife de picanha com ovo cozido em longa cozedura a 65 graus (13,5€) que con-siderou ter sido o melhor momen-to da noite. Não se inibiu de segre-dar, sufocado por uma gargalhada final, que a textura cremosa do ovo cozido que espalhava sobre a pi-canha fazia do ovo a cavalo um parente pré-histórico. FANNy nem sempre entendia esse humor e pre-feriu desviar a conversa para ter-renos amenos, comentando a ce-rimónia dos óscares, os prémios e

os vestidos enquanto honrava o fiel amigo, um bacalhau confitado com mel e amêndoas (13,5€). Ainda tiveram tempo para partilhar um cheesecake com Queijo da serra cremoso e doce de tomate que se-ria o segundo momento alto da noi-te. de facto, essa receita que pouco teria de portuguesa leva uma adap-

tação que lhe dá uma graça nacio-nal. É aqui que uma cozinha gour-met inspirada dá uma volta de 360 graus e encontra uma solução que podia ser tipicamente rural. À saí-da ainda tiveram tempo de se de-bruçarem sobre o Miradouro de são Pedro de Alcântara e comtemplar a noite. tudo parecia perfeito.

The DecadenteVis—à—Vis

por Fanny & Fred

the decadente

rua de são Pedro de Alcântara, 81lisboa

t.: 213 461 381

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Parq Here Fanny&Fred

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o Cais do sodré ganha uma nova vida, estando de repente envolto num surpreendente movimento de reabilitação. longe, ficaram as noi-tes escuras e sombrias de caráter du-vidoso que facilmente se associava àquela zona e hoje é um dos locais mais in de lisboa, que abraça al-guns dos projetos mais inovadores que a cidade já viu. Para um rotei-ro com poucos passos mas muitas sensações, basta ir até à rua Nova do Carvalho.

Começamos pela porta nº19, cuja fachada discreta não deixa adivi-nhar as gravuras eróticas da auto-ria de MÁrio belÉM, com as pa-

redes forradas a tecido encarnado, os espelhos no teto e os candeeiros de berloques. um espaço que respi-ra o ambiente das casas de mada-me no final no século XiX, onde se podem alugar livros e filmes eróti-cos e ir ao cabeleireiro, entre mui-tas outras coisas, já que a ideia é que o espaço funcione como uma pensão onde artistas e projetos po-dem alugar o seu espaço dentro da PeNsão AMor. Assim, este não é apenas um espaço diferente onde se respira uma liberdade sem ta-bus (existindo até um varão para

quem quiser dançar livre de qual-quer preconceito), mas também se quer cultural e dinâmico onde a tro-ca de ideias, as parcerias e a criati-vidade têm um lugar cativo.

saímos agora deste mundo outrora clandestino e seguimos até ao nº 32-36 onde, na calçada podemos ver o antigo nome “Arizona” mas, se olhar-mos em frente, rapidamente encon-tramos outro que o substitui: PoVo. este é um projeto que pretende recu-perar a tradição das antigas tascas portuguesas onde a conversa, o fado e os petiscos andam sempre lado a lado. Mas o PoVo não é uma casa de fados, nem uma tasca, é antes um “laboratório do fado” onde há espaço para artistas da casa, para novos talentos e até para o impro-viso espicaçado pelo bom vinho de um jantar castiço, num lugar cuida-dosamente restaurado que casa o moderno com o tradicional. os es-petáculos decorrem de terça a quin-ta-feira e aos domingos e já culmi-naram na gravação de um álbum. Mas este PoVo não é só fadista, também é fã de outras músicas do mundo e promete trazer para a sua casa outras vozes e ritmos.

depois do fado há que manter a tradição e, por isso mesmo, dirigi-mo-nos até ao nº44 daquela mes-ma rua. espera-nos uma montra que deixa antever uma enorme vitrina repleta de anzóis, iscos e latas de

conservas —muitas, mas muitas latas de conservas. em frente, mesa bran-cas e cadeiras pretas ocupam o es-paço que em quase tudo se mantém igual aos tempos em que era uma loja de pesca. Mas, e agora, o que se faz ali? Comem-se conservas! É verdade, por muito estranho que pa-reça, é um espaço dedicado exclu-sivamente às conservas, os melho-res petiscos são vindos diretamente da lata mas não de uma lata qual-quer… de uma lata 100% portugue-sa onde não falta o sabor do nosso mar. uma excelente sugestão para quem quer uma refeição diferente num espaço com muita história, é assim o sol e PesCA!

Assim termina um roteiro rápido e curto mas que vale a pena desco-brir, onde não falta a tradição e a boémia, que são vizinhas e compa-nheiras no renovado Cais do sodré!

O novo Cais do Sodré

T — Margarida Brito Paes

F — Laura Palmer

Pensão Amor

Povo

sol e Pesca

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Parq Here Places

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o nome não nos levava ao enga-no e, de facto, a Champanharia da baixa no Porto é um bar devoto ao champanhe onde podemos encon-trar garrafas a 50 euros (ou mais) mas também de flutes de espuman-te a 1,90 €. ou seja, instalado na zona boémia do Porto, este espaço não quer ser um local demasiado seletivo onde, para além do cham-panhe, oferece uma carta com dois vinhos brancos e tintos e cerveja. e tudo isso pode ser acompanhado

por um pequeno serviço de restau-ração que inclui tapas, entradas, car-paccios e pratos quentes. um pei-to de pato fumado com geleia de Vinho de Porto (4,90€) ou uma ter-rina de foie gras (8,90€) pareceu- -nos suficientemente atraente para justificar uma visita. Para quem es-teja mesmo com vontade de jantar, existem três pratos quentes que ron-dam os 8,50€.

em termos de espaço, a champa-nheria é constituída por uma espla-nada, uma sala basicamente do-minada pelo balcão —que tem um toque de pub inglês— e, por fim, uma pequena sala interior com so-fás e mesas redondas que é a jóia da casa. Confortável e acolhedor, com algo de salon dos anos 20, fi-cámos completamente conquista-dos pela seleção de fotografias na parede com estrelas do cinema em momentos que bebiam ou brinda-vam com champanhe.

Champanharia da Baixa

T — Maria São Miguel

www.champanheriadabaixa.com

Champanharia da baixa

largo de Mompilher, 1—2Porto

t.: 220 962 809

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Parq Here Places

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MAriA goNZAgA é uma das mais importantes figurinistas do país, com uma enorme experiência na confe-ção de trajes de época e pioneira na criação de figurinos, que não se ficou apenas pela confeção de répli-cas fieis à história. soube olhar mais além e arranjou uma solução inova-dora para o seu negócio: começou a alugar os projectos que lhe eram encomendados, sendo- lhe estes de-pois devolvidos. deste modo, arma-zenou um enorme espólio de peças vintage únicas e, na maior parte das vezes, nunca usadas. Agora, passada

MoMoMoMo é o novo restaurante pan- asi-ático do Casino de lisboa que re-sulta da parceria estabelecida en-tre o Casino de lisboa e o grupo lágrima para a área da restaura-ção. oferece a riqueza e o exotismo da cozinha do oriente com pratos que têm por base as tradições culi-nárias da China, do Vietname, do Japão, da índia e da tailândia. um dos pontos-chave deste restaurante

uma longa carreira a investir nos fi-gurinos de cinema, abre uma loja com todas as suas peças, que po-dem ser vendidas ou alugadas. A loja Vintage Maria gonzaga é o lugar ideal para encontrar peças de época e com histórias muito espe-ciais, o sonho de qualquer amante de história da moda!

MariaGonzaga

T — Margarida Brito Paes

T —Maria São Miguel

www.ateliermariagonzaga.blogspot.com

Maria gonzaga

estrada dos Prazeres, 57—59Alisboa

t.: 213 950 163

MoMo

Casino de lisboaAlameda dos oceanos

t.: 218 929 000

é PAulo MorAis, chefe especiali-zado em cozinha asiática com mais de 20 de experiência marcados por um crescente sucesso que o leva-ram a dirigir o Furusato (estoril), o Midori (Hotel Penha longa), o sushi- bar da bica do sapato (lisboa), o Qb essence (oeiras) e, finalmente, o umai, onde, juntamente com a chefe ANNA liNs, faz uma cozinha de autor, de inspiração asiática. o

espaço é igualmente um dos pon-tos fortes já que a maior parte das mesas distribui-se ao longo de uma parede de vidro com uma vista de 180 graus. Para quem não se sentir muito aventureiro, recomendamos o menu de degustação com sete pra-tos com um preço de 42 euros, que pode incluir Pão naan com chutney de manga, Caranguejo de casca mole crocante com molho de abaca-te e de malagueta, seguindo-se, nos frios, uma seleção de sushi e sashi-mi e, nos quentes, Dim Sum Momo, Siumai e Há kau. A Bento Box vem com Som Tom Thai (salada de pa-paia verde, bacalhau fresco assado com molho de miso e legumes as-sados) e Satay de porco com mo-lho de amendoim, puré de batata--doce e erva limeira. Para terminar, uma trilogia de sobremesas.

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Parq Here Places

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os vinhos que sugiro desta vez, em-bora provenientes de regiões opos-tas, têm um perfil e caráter seme-lhantes: são robustos, muito bem estruturados e com potencial para excelente envelhecimento. e, como nesta altura do ano, me apetece be-ber vinhos que aquecem o corpo e a alma, não posso deixar de sugerir o terrus 2007 e o Altas Quintas 2007.

Começando pelo douro, o terrus 2007 é um vinho que reflete muito bem a localização geográfica onde tem origem bem como as castas que o compõem (touriga Nacional, touriga Franca, sousão, Cabernet sauvignon e shiraz), que lhe con-ferem uma enorme complexidade aromática. É um vinho de cor muito carregada, com aromas de notas de fruta vermelha e preta bastante ma-dura, bem conjugadas com a madei-ra (estágio de 12 meses em carvalho francês) que este ano está, na minha opinião, um pouco menos pronun-ciada). Na boca, é um vinho "gor-do", mineral, cheio de força, taninos muito pronunciados mas bem inte-grados, com um final de boca longo.

o segundo vinho que sugiro é um alentejano da zona de Portalegre, Altas Quintas 2007, proveniente de um terroir a mais de 600 metros de altitude. As castas que lhe dão ori-gem são Aragonês, trincadeira e Alicant bouschet, usuais naquela região, contudo, este vinho tem um perfil mais fresco resultado da ele-vada altitude das vinhas. No nariz é um vinho complexo, com notas de fruta preta compotada, tabaco e especiarias. Na boca é um vinho fresco, encorpado, com taninos mar-cantes mas bem integrados com um estágio em balseiros e posterior es-tágio em barricas durante 18 meses. Final longo, muito longo...

Doisem Um

HotMango

T — Romeu Bastos

terrus, 2007, 16€Altas Quintas, 2007, 16€

• 5 cl de Absolut Mango• 5 cl de sumo de tangerina• 2 cl de sumo de limão natural• 2 cl de xarope de açúcar• 1/2 colher de sopa de raspa de tangerina• 1/2 colher de café de paprika

Colocar todos os ingredientes num copo de shaker cheio de gelo, agitar 7 vezes e verter o conteúdo para um copo alto, cheio de gelo, com a ajuda de um coador.

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Parq Here Cocktai ls

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A VidA PortuguesA Rua anchieta, 11 — lisboaT. 213 465 073

AdidAsT. 214 424 400 www.adidas.com/pt

AForest desigNT.966 892 965 www.aforest-design.com

ANA sAlAZArRua Do Carmo, 87 — lisboa T. 213 472 289

ANdrÉ óPtiCAsav. Da liberdade, 136 a lisboa Telf. 213 261 500

AreAamoREiRas shoppinG CEnTER, loja 2159T. 213 715 350

bCbgRua Castilho, 27—lisboaT. 226 102 845

billAboNgDEspomaRT. 261 860 900

breitliNgCromometria s.a T. 226 102 845

burberryBRoDhEim lDaT. 213 193 130

CAMPerRua stª Justa, 85 lisboa

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definitivamente, não está inscrita no sindicato dos “super-heróis” de ban-da desenhada. Porém, Miss trendy de estilo irrepreensível, pela noite dentro calça as luvas de borracha roxas sarapintadas à laia de cristais swarovski. Nem a Wonder Woman conseguiria os feitos desta mulher maravilha, residente na bobadela.

Miss trendy, operadora de call center, sempre impecavelmen-te maquilhada, nunca repete in-dumentárias e, com o bom gosto

costumeiro, é uma ávida “olheira” do que serão as novas tendências. diz-se à boca pequena nos corre-dores aquando do coffee break, que deverá absorver as páginas da Vogue como se tratasse de hóstias abençoadas. Mas nada disso, das revistas de moda compra apenas as que trazem ofertas, e eventual-mente, passa os olhos pela secção de livros e filmes.

É noite de nevoeiro cerrado, Miss trendy, não costuma depender

das condições meteorológicas para se fazer à vida. É 1h25m da manhã, florescem por entre o imenso man-to escuro luzes alaranjadas. Vêm aí os bandidos, recolhem tudo o que apanham e as turbinas do camião deglutem, sem dó nem piedade, o útil e o inútil. Não há tempo a per-der, e com dois contentores de avan-ço, trendy vasculha com receio da fava e calha-lhe o brinde; uma ces-ta com peças vintage de marcas como ralph lauren e Calvin Klein. Não se deixa intimidar pelas turbi-nas do carro do lixo que continuam a persegui-la. Ainda vai a tempo de reclamar um portátil ibM funcional, uma Playstation 1 e uma coleção de cassetes de vídeo antigas, onde se destaca o breakfast at tiffany’s.

tanto Holly, do clássico de blake edward, como Miss trendy são duas “bonequinhas de luxo” com um felino em tom de caramelo que as aguarda em casa. A grande dife-rença é que Holly procura um ma-rido rico e trendy só quer um bom achado.

T r e n d yTrash

Diapositivo

por Cláudia Matos Silvawww.claudiamatossilva.pt.vu

I — Bráulio Amadowww.braul.io

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