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Mishima no Brasil Retrato do escritor quando Jovem darci kusano passagens 3 dezembro 2009 apoio

Passagens - Mishima no Brasil

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Mishima no Brasil

Retrato do escritor quando Jovem

darci kusano

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Passagens é uma publicação destinada a registrar e divulgar palestras, intervenções ou conferências que aconteceram no Fórum de Ciência e Cultura da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

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Uma tal passagem é uma cidade, um mundo em miniatura.

walter benjamin, Passagens

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Darci Kusano é Livre–Docente pela Universidade de São Paulo e autora de Os Teatros Bunraku e Kabuki: uma visada Barroca; Mishima: Homem de Teatro e de Cinema, entre outros.

Mishima no Brasil

retrato do escritor quando Jovem

darci kusano

Este texto é em grande parte um complemento ao capítulo “Mishima e o Brasil” do meu livro Yukio Mishima: o homem de teatro e de cinema. Agradecimentos a Hiroko Nishizawa, Rimi H. de Oliveira, Susumu Miyao, Helena Mizumoto e Marcos Reigota, pelo auxílio na coleta do material de pesquisa e troca de idéias.

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No Natal de 1951, Mishima conseguiu ser enviado como correspondente no exterior do periódico Asahi Shimbun. Nos cinco meses seguintes, vi-sitou os Estados Unidos, Brasil, Suiça, França, Inglaterra, Grécia e Itália. Dentre os vários escritores estrangeiros, talvez não houvesse alguém que tivesse amado tanto o Brasil como Mishima. Mas o que o teria levado a desembarcar no Rio de Janeiro, na madrugada de 27 de janeiro de 1952?

Em São Paulo, dias depois, um jornal em língua japonesa alardeou na manchete matutina: “Uma fragrância fresca à deriva: admiração pe-las feições naturais do Brasil!” E o sub-título: “Yukio Mishima chega ao Brasil à procura de um tema novo”. Assim, num dos seus primeiros de-poimentos em nossa terra, o escritor declarou:

No Japão, meus colegas discorrem muito sobre Paris. Eu senti uma espécie de justa indignação contra isso e vim em busca de algo nas artes literárias e nas características naturais da América do Sul. Mas a impressão que tive do Brasil é de que há algo, que combina perfeitamente comigo.

Segue-se uma breve nota biográfica: “Kimitake Hiraoka (nome ver-dadeiro) nasceu em 1925 em Tokyo e formou-se em direito pela Univer-sidade de Tokyo. É autor do romance Confissões de Uma Máscara, entre outros livros.” 1

Após deixar o Rio de Janeiro, onde se hospedara no Hotel Copaca-bana Palace, Mishima transfere-se para o Hotel Claridge, em São Paulo, onde permanece de 5 a 10 de fevereiro de 1952. Como o Claridge’s de Londres, frequentado pela aristocracia britânica desde o século 19 e um dos hotéis mais sofisticados do mundo, o de São Paulo era o melhor da cidade na década de 1950. Situado na avenida 9 de Julho, 210, em estilo americano e com dezessete andares, posteriormente, foi rebatizado como Hotel Cambridge. Atualmente, funciona como um local para eventos, com um charmoso bar que conserva o estilo da época. Todos os hotéis, do Rio de Janeiro e de São Paulo em que se hospedou, aparecem nas suas obras ficcionais e crônicas inspiradas no Brasil.

No dia 7 de fevereiro, o escritor é convidado para um almoço de confraternização num restaurante turco de Santo André, na Grande São Paulo. Logo seguiu-se um animado debate sobre a literatura brasileira (Monteiro Lobato, Érico Veríssimo), a literatura sensualista em voga no Japão, o julgamento da publicação nipônica de O Amante de Lady Chat-terley, de D. H. Lawrence, que provocou um grande rumor na época no Japão, a natureza e as mulheres brasileiras, a moda e os biotipos dos dois países.Participantes: Shirô Ishiguro(chefe da Associação dos Japoneses Residentes no Brasil), Masakatsu Nozaki (secretário da entidade), Shi-zuo Hosoe (médico), Kô Kihara (médico), Shûho Nakanishi (secretário geral da Câmara de Comércio), Kikuo Furuno (poeta), Keishû Tokuo (poeta), Fumiko Kitajima (escritora), Gorô Hashimoto (botânico), Yoshi-kazu Morita (arquiteto), Takeo Chiba (editor do São Paulo Magazine) e o patrocinador, Mituto Mizumoto, proprietário do periódico São Paulo Shimbun.

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Uchiyama – Você tinha interesse pela literatura da América Latina? Mishima – Eu não conhecia muito a respeito, portanto, não me interessava. Ao invés de algo artificial como a cultura da América do Sul em geral, eu sentia uma inquietação pela natureza e condições ambientais. Vim para cá para co-nhecer tais coisas. Enfim, pode-se dizer que vim mais pela curiosidade sobre a natureza selvagem do que pela civilização aqui formada. (...)Uchiyama – Mishima, os escritores e editores japoneses mostram algum inte-resse pela literatura brasileira?Mishima – Parece que ninguém tem interesse pela literatura brasileira.Kitajima – Breve poderá haver a publicação da tradução de Presença de Anita (de Érico Veríssimo). Porém, quando eu era estudante e retornara ao Japão do Brasil, percorri muitas editoras de revistas e livros, com várias traduções que eu fizera de obras brasileiras da Editora Garnier. Entretanto, ninguém me deu atenção. Diziam: ‘Ah, são do Brasil?’Mishima – Mesmo agora, parece que não demonstram muito interesse. É a idade de ouro da França no mundo literário. Beija-flores e a dança de sedução dos tangarásHashimoto – Mishima, há pouco, você disse que veio ao Brasil, fascinado pela natureza e seu ambiente. Há um livro muito bom, que descreve literariamente a Amazônia. O autor é um inglês, Walter Pace, da época de Hudson. Por acaso, eu adquiri o original no Japão. Há também uma versão em português no Brasil. É um entomologista, que residiu treze anos na Amazônia e creio que sua obra também venderá bem no Japão. Já Hudson retornou à Inglaterra no final. Ele é famoso pela sua pesquisa sobre o beija-flor...Mishima – Ah, não consigo me esquecer disso. Há beija-flores aqui?Hashimoto – Sim.Mishima – Quero ver o local onde estão voando.Hashimoto – As cores das asas daquele pássaro parecem diferentes, quando voando e quando parado. Empalhado, as suas cores mudam de novo.Nakanishi – Hashimoto, fale sobre o tangará. É interessante. Hashimoto – O tangará tem uma peculiaridade, pois o macho dança diante da fêmea.Mishima – Onde se encontra?Hashimoto – Quando for a Lins, verá. (...)

Mishima – Que interessante. Pretendia avistar o beija-flor. Mas achava que só poderia vê-lo na Argentina. Desbravamento de um novo território, tendo como tema o BrasilUchiyama – Mishima, quando você retornar desta viagem, irá escrever muito inspirado em temas locais, não é mesmo?Mishima – Pretendo escrever bastante.Uchiyama – Desde já, estou aguardando com prazer os seus romances, tendo como cenário o Brasil. Pois você deve encontrar material em abundância por aqui.Mishima – Romances como A Melancolia da Viagem, de Yokomitsu 2 (em que um japonês e uma mulher se encontram nos Champs-Elysées , já são antiqua-dos. A América também não serve. Creio que aqui é melhor. 3

Na fazenda dos Tarama em Lins

Mishima era amigo de Toshihiko Tarama, três anos mais novo e ex-príncipe Wakanomiya Higashikuni, desde a época do colégio Gakushûin, em Tokyo. Como desejava muito ver o novo modo de vida como fazen-deiro do ex-aristocrata, no dia 11 de fevereiro, ele deixa São Paulo e chega à propriedade rural de Tarama, em Lins, noroeste do Estado de São Paulo.

Tarama ficou muito contente com a visita inesperada. Conversavam até o dia amanhecer e, à tarde, o anfitrião recepcionava o hóspede ilustre com cavalgadas pelos arredores da fazenda ou conduzia-o de carro à ci-dade de Lins e locais próximos. Nas horas de folga, o escritor colocava a correspondência em dia.

Carta ao mentor e amigo Yasunari Kawabata, Nobel de Literatura em 1968

Carta enviada por Yukio Mishima (a/c Tarama, Lins, Estado de São Paulo, Brasil) a Yasunari Kawabata (Hase 246, Kamakura, Japão):

13 de fevereiro de 1952 Desculpe-me, pelo meu longo silêncio.Agradeço-lhe, por tudo o que a sua mulher e você fizeram por mim no momen-to da minha partida. Escrevo-lhe esta carta da fazenda de Toshihiko Tarama,

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não longe de Lins, a cerca de uma hora e meia de avião de São Paulo. Toshihiko adquiriu um perfeito comando da língua brasileira e, portanto, não há nada de surpreendente que ele tenha trocado tão facilmente o seu título de nobreza pelo de proprietário rural. Passin me prestou um grande favor em Nova York. Ele acabara de voltar aos Estados Unidos, após perder a sua criança, que ainda era um bebê. Mas ele me ajudou muito, me servindo principalmente de intérprete nas minhas entrevistas. Se você o encontrar, transmita-lhe, por favor, as minhas melhores lembranças.Em Nova York, eu utilizei unicamente a carta de introdução de Pas-sin. A sra. Williams também me dera uma carta de recomendação para o Departamento de Estado. Porém, como me aborreceria se elas entras-sem em choque, aguardarei para me servir dela quando estiver na Grécia.Nos Estados Unidos, todo o mundo foi gentil e a srta. Kruger, amiga de Passin, se ocupou particularmente de mim. Fiquei surpreso ao ver o quanto os ameri-canos que eu encontrava eram simpáticos, mas não é absolutamente a mesma coisa ser simpático e ter personalidade. E quanto a isto, ninguém pode rivalizar com os estrangeiros que, como Passin, residem há um longo tempo no nosso país. Enfim, o Japão dá um ‘sabor’ às pessoas.Desde a minha chegada na América do Sul, fui completamente seduzido pela in-dolência dos brasileiros. Nunca vi gente tão pouco complicada. Mesmo os imi-grantes japoneses e são todos abertos e agradáveis – talvez porque a maioria deles possua fortunas cifradas em milhões – e eles não têm nada de comparável com os japoneses servis fixados no Havaí ou na costa leste dos Estados Unidos, há uma ou duas gerações. Em primeiro lugar, eles são cultos e conhecem bem mais sobre o nosso país do que os que vivem em Honolulu, o lugar mais próximo do Japão.A mesma coisa no que concerne à língua. O português, que comporta muitas vogais, se pronuncia quase como o japonês e, mesmo falado por nossos compa-triotas, soa bastante natural. Quando os imigrantes japoneses do Havaí ou seus filhos dizem, por exemplo: “Let’s go” ou “Hey, hey, come on, go ahead!”, essas formas de expressão de anglo-saxões corpulentos, que absolutamente não lhes caem bem, parecem de uma feiúra de fazer estremecer. Porém, nada de tal com o português, que convém bem mais aos japoneses.Eu estava convencido de que deveria trabalhar com a enxada na fazenda de Tarama, mas não foi o caso, longe disso. Estou tão fatigado, que passo meu

tempo a não fazer nada. Os hábitos das saúvas, entre outras, são bem interes-santes e parece que há também pássaros-moscas e tatus nesta região, todavia, ainda não os vi.Eu voltarei a São Paulo, por volta do dia 16, e de lá partirei à descoberta das regiões mais remotas do Brasil, em companhia de uma velha raposa, um tal de Nakanishi. Nós planejamos ir a Mato Grosso e até à fronteira boliviana. Os japoneses que foram lá até o presente contam à pena, me disseram, nos dedos das duas mãos.Retornarei para o carnaval do Rio, que começa no dia 23 (estou ansio-so em poder assisti-lo), e uma vez terminado, tenho a intenção de partir para a Argentina. Entretanto, como estou com dificuldades em obter o vis-to, se não o conseguir de modo algum, voltarei diretamente a Nova York.O frio deve estar muito rigoroso no Japão neste momento, portanto, peço-lhe que se cuide.Transmita os meus respeitos à sua esposa.Yukio Mishima 4

A estadia em Lins lhe rendeu as crônicas “As Nuvens Brasileiras”, “A Aldeia Vila Sabino”, “Saúvas, Vagalumes, Beija-Flores, Ema” e “Caval-gando na Fazenda de Café”, mais tarde coligidas no diário de viagem O Cálice de Apolo (1955). O texto sobre “A Aldeia Vila Sabino”, que fica no subúrbio de Lins, a dois ou três quilômetros da fazenda do Tarama, foi logo publicado no São Paulo Shimbun, em fevereiro de 1952, com o título e nome do autor em caligrafia do próprio Mishima. Sua versão definitiva em O Cálice de Apolo, traduzida abaixo, sofreu ligeiras modificações.

Mishima cronista em A Aldeia Vila SabinoOntem nós visitamos uma típica aldeia brasileira. Seu nome é Vila Sabino.A grande maioria das aldeias é de origem recente. As velhas e pequenas cidades, que permanecem antiquadas, limitam-se apenas a Tietê e Itu. Vila Sabino tam-bém está rodeada por fazendas e, de fato, até há pouco tempo, a própria vila era um pedaço de terra de um grande proprietário. Mas para aliviar a inconve-niência dos habitantes terem de fazer compras na cidade distante, a colônia de poucas lojas e moradias, resultou do acréscimo de uma casa seguida de outra.

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As duas ou três lojas isoladas nos arredores das fazendas, num estágio anterior a uma vila, são chamadas de vendas.Há uma pequena igreja, um bar com janela e porta estreitas em estilo por-tuguês, uma loja de tecidos e um posto de gasolina. Há casas de vendedores ambulantes e percebe-se que aqui é a base deles. Janelas de vidro são extrema-mente raras e nas partes internas das janelas deixadas abertas ao calor tórrido lá fora, há pranchas de madeira.Nas ruas de terra vermelha, há dois ou três carros e quatro ou cinco cavalos amarrados, que são híbridos e de estatura baixa. Peles ruivas de carneiros co-brem as suas selas. Elas servem de colchão aos boiadeiros, quando eles dor-mem ao relento.Assim que saímos do carro, as crianças descalças nos olham fixamente.Como nas vilas japonesas, nesta não há o que impeça o cacarejar das galinhas e o latido dos cães. A terra cor de ocre, as paredes cor de ocre, o telhado cor de ocre, as peles de carneiro cor de ocre sobre as selas, os tijolos cor de ocre que espreitam através da parede desmoronada... Eles evocam o colorido de camuflagem dos animais.A vila silenciosa banha-se nos raios solares do intenso verão sub-tropical. E mais, as imponentes nuvens de verão elevam-se solitariamente no céu.Se por acaso assolar uma calamidade inesperada e a Vila Sabino desaparecer da face da terra, os jornais estrangeiros não informarão sobre isso e, provavelmen-te, os deste país também se limitarão a conceder-lhe algumas poucas linhas. Ninguém notará o seu desaparecimento. Ou então, talvez mesmo os habitantes da vila vizinha acabem por não se aperceberem disso. Porque, mesmo se esta vila modesta retornar à terra exatamente da mesma cor, após a desgraça ela se levantará de novo dessa terra, fingindo-se de ignorante. E é certo que ressurgi-rão o cacarejar das galinhas e o latido dos cães, e os boiadeiros viajantes, que de nada sabem, amarrarão os seus cavalos nos cantos silenciosos das ruas 5

Mishima prosador poeta ao ver um beija-florHoje eu vi o beija-flor da minha devoção, pela primeira vez. Foi um único espécime e, além disso, uma visita momentânea. Uma reverberação, como a hélice de um leve avião em miniatura, se propagou na tarde abrasadora e sem vento. Dentre as dezenas de espécies, a que veio foi o beija-flor do tipo maior.

Mesmo assim, a sua grandeza não chega nem à de um pardal. Inicialmente, ele se aproximou das flores de trepadeira, as alamandas, que se enroscam na ba-laustrada da varanda. Suas folhas brilhantes se parecem com as do jasmim, mas as grandes flores amarelas se assemelham às centáureas azuis. E desfraldando as suas asas tremulantes como um arco-íris, ainda parado no ar, enfiou o bico comprido na flor. O significado em português deste pássaro, beija-flor, é que beija é seppun (beijo) e flor é hana (flor).Pode-se dizer que o beija-flor sugou o mel da flor de alamanda, por cerca de um ou dois segundos. (...)De repente, ele virou o corpo e se mudou para as flores carmesins no gradea-do de primavera. Depois de visitar duas ou três flores, esse visitante inquieto, esse mensageiro expresso, que se anunciava e se despedia, se anunciava e se despedia, não sei se com notícias boas ou atrozes, se esgueirou como uma bala para o canteiro de flores no jardim dos fundos. E voou para a mata, ignorando completamente as florações das conteiras em pleno esplendor.As cores das asas quando estão batendo, que Hudson descreveu tão minuciosamente, não tive tempo de discerni-las, refreado pela surpresa deste primeiro encontro. 6

Mishima dramaturgo em A Toca de CupinsPara escrever sobre os beija-flores, as saúvas e os cupins, como um estudioso aplicado, Mishima cita William Henry Hudson (1841–1922), escritor inglês e ornitólogo amador, e consulta as obras do biólogo inglês Julien Sorell Huxley (1887–1975).Quando vim aqui, senti renascer o meu sonho da época de menino, quando pensava em me tornar um entomologista. Por exemplo, passei a achar que o azul e o alaranjado do céu poente só se referiam às cores das asas das borboletas.Num canto da mata no quintal da residência do Tarama, vi uma toca de cupins já desabitada. É uma toca de pouco menos de um metro de altura e rija como uma rocha. No topo da torre elevada, pode-se ver um buraco, de onde já não entra nem sai mais um único cupim. Essa torre é musgosa, como se fosse um velho castelo, após a fuga da família real. 7

Esta toca de cupins inspira-o a criar o drama A Toca de Cupins (1955), ambientado numa fazenda de café em Lins. A metáfora da toca

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de cupins, um castelo vazio e abandonado e, num contexto mais amplo, o Japão do pós-guerra, com a fadiga e exaustão do homem contemporâneo, é o grande tema que perpassa os três atos desta peça.

Neste ano do centenário da imigração japonesa no Brasil (1908–2008), nada mais oportuno do que esta obra. No conto Mulheres Insa-tisfeitas, Mishima trata do estranhamento de um artista japonês com os japoneses residentes no Brasil e na opereta Bom Dia, Senhora! os perso-nagens são todos brasileiros. Já em A Toca de Cupins, este importante fenômeno intercultural (Japão-Brasil) é abordado através de um qua-drilátero amoroso: o casal japonês de meia-idade da nobreza decadente, Yoshirô e Taeko Kariya, e o jovem casal nipo-brasileiro de empregados, o motorista Kenji Momoshima e sua esposa Keiko.

O grande impacto dramático deriva de uma relação que, ao extre-mo, pode ser lida como vampiresca. O “sangue velho”, dos valores aristo-cráticos debilitados do Japão pré-II Guerra, vem se abastecer do “sangue novo”, a vitalidade, paixão e esperança do gigante adormecido, o Brasil. O embate entre o “Brasil jovem e vital” versus o “Japão velho e morto”, o

“mundo novo” e o “velho mundo”, delineia um dos motivos principais da peça: as forças da vida e as forças da morte.

Com a fortuna familiar dilapidada, o casal da nobreza nipônica de-cadente aceitara a oferta da viúva de um fazendeiro japonês radicado no Brasil e se tornara seus herdeiros. Mas no Brasil, logo se dá o inevitável. Assim como no Japão, Taeko continua infiel. Ela seduz o motorista Mo-moshima e o induz a um pacto de duplo suicídio amoroso. Fracassam no intento e seis meses depois, Momoshima desposa a jovem nissei Keiko.

Kariya critica Taeko por seduzir Momoshima, quando ele próprio também seduz Keiko.

Como afirma Valdo H. Viglielmo, no ensaio Mishima y Brasil: Um estudio de Shiroari no su: “o segundo tema é marcado pelo efeito corrup-tor do perdão constante unido a uma ausência de castigo”. 8 Pois assim como Kariya perdoa todas as infidelidades de sua mulher Taeko, o nissei

Momoshima perdoa a traição de Keiko.No final, ao ouvir o barulho do carro de volta, horrorizada, Keiko

percebe que Taeko e Momoshima fracassaram na sua segunda tentativa de duplo suicídio. Agacha-se no centro do palco e diz: “ – Que medo! Os mor-tos levantam as pedras das tumbas e ressuscitam. Os cupins regressarão.”

E Kariya balbucia: “– Não pode ser ...” 9 Criada a pedido da Companhia Seinen-za (Teatro dos Jovens), A

Toca de Cupins foi montada pelo Seinen-za no Haiyû-za, de Tokyo, em 1955. A peça foi agraciada com o Prêmio Kishida de Dramaturgia, em dezembro de 1955.

Ao deixar Lins e regressar à São Paulo, o escritor hospeda-se na residência de Mituto Mizumoto, do São Paulo Shimbun. Muito aberto e simpático, ele inclusive iniciou os filhos pequenos do empresário jorna-lista no aprendizado da caligrafia cursiva katakana.

Mishima contista em Mulheres Insatisfeitas

A primeira obra ficcional com tema brasileiro, que Mishima criou ao regressar ao Japão,foi o conto Mulheres Insatisfeitas. Publicado na re-vista Bunguei Shunshu em julho de 1953,ele trata basicamente de suas vivências nas capitais paulista e carioca.

Amigos se reúnem numa festa noturna em Tokyo, para recepcionar o pintor Jun Kuwabara (alter ego do autor), que retornara há pouco do Brasil. Como queriam ouvir estórias sobre mulheres, propositalmente não convidaram a esposa do artista.

O pintor apresenta São Paulo como a capital que prosperara com o café. E onde se destrói o antigo, para se construir arranha-céus, sendo chamada de “irmã mais nova de Nova York”. O encontro de conterrâneos no exterior é normalmente motivo de alegria. Mas no texto isso é apre-sentado de forma inusitada.

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Nesta cidade deparo-me com muitos japoneses. Se ando cem metros, é certo que dou de cara com um. Dá uma estranha impressão encontrar japoneses numa cidade estrangeira. É exatamente como se um espelho viesse caminhan-do do outro lado. Enfim, é como se em cada esquina de São Paulo houvesse um espelho.

Logo o pintor aborda a questão da derrota do Japão na II Guerra e sua repercussão na colônia nipônica do Brasil: a ferrenha oposição entre o partido dos vitoristas (kachigumi), que sustentava que o Japão havia ganho a guerra, e o partido dos derrotistas ou esclarecidos (makegumi), que alegavam que havia perdido, e a sua posição nesse quesito.

O patrocinador da exposição individual, que apresentei em São Paulo, era o presidente de um jornal japonês. Dentre os inúmeros jornais em língua ja-ponesa que há em São Paulo, este era do partido dos vitoristas. Vocês devem saber que pós-guerra, o antagonismo ao partido dos vitoristas está firmemente enraizado entre os imigrantes japoneses no Brasil. O partido dos derrotistas não é necessariamente de esquerda, mas o partido dos vitoristas é categoricamente ultranacionalista e, uma vez que se diz de direita, dedica-se exclusivamente, desde a manhã, a conversas sobre mulheres e bebidas. (...)Além disso, o pessoal deste jornal do partido dos vitoristas – não é que ainda pensem que o Japão venceu, mas é apenas uma designação que indica a dife-rença de posição – me agradou um pouco.

Em seguida, o contista introduz as personagens do título. Duas mu-lheres japonesas visitam a galeria e veem a exposição com óculos de sol. Uma é a Setsuko Tottori, cujo marido trabalha no Banco do Brasil e a outra, Graça Hosokawa, apelido da locutora. Mas na realidade, o marido de Setsuko trabalhava no Banco América do Sul e a modelo real veio a fa-lecer em julho de 2005. Certa noite, o casal Tottori e Graça o levam para sambar na boate Bambu, no subúrbio de São Paulo. O pintor esbalda-se e ao sair, vê a constelação do Cruzeiro do Sul na noite estrelada. Ao receber um telegrama do Rio, decide partir de avião, que na época levava duas

horas para chegar. Mas Graça o procura no Hotel Serrador no Rio.O autor insere a arguta observação sobre o hábito brasileiro das

“mulheres nas janelas”. Mas ao contrário das mulatas exuberantes e sen-suais no quadro de Di Cavalcanti, Mishima as descreve como sinônimo de insatisfação.

Uma visão curiosa – isto sim é uma coisa rara nos Estados Unidos – em algu-mas das várias janelas, há necessariamente figuras matando o tempo, com os cotovelos fincados no parapeito das janelas, olhando a rua abaixo ou contem-plando distraidamente as nuvens.(...) a maioria é de mulheres. Não tricotam nem leem. A janela é o tricô e o livro delas. Nessa paisagem de ‘mulheres nas janelas’, que certamente não combina com os edifícios modernos, há um gosto poético. É um costume colonial natu-ral, que elas têm. Nos colégios femininos do Brasil, deve-se ensinar que o há-bito de ficar o dia inteiro olhando lá fora pela janela é maL educado, portanto, é preciso parar com isso. Nesse ínterim, empenhe-se em limpar a casa ou leia. Entretanto, depois da formatura e passados alguns anos após o casamento, elas se tornam estereotipadamente em ‘mulheres nas janelas’. (...)Provavelmente, a Graça Hosokawa também seja uma das mulheres nas janelas. A sua insatisfação também... Sim, não sei bem o quê, mas talvez seja a insatis-fação que a janela lhe ensinou, que a vida ao redor da janela lhe ensinou. Para uma japonesa, é uma insatisfação um pouco de classe superior, por isso, talvez ela fique com vontade de alardeá-la.”

A mulher o assedia tanto, que acabam tendo um caso no carnaval do Rio. E ele, por sua vez, termina incorporando o hábito das “mulheres nas janelas”.

Na manhã seguinte, eu e a mulher, ainda de pijamas, nos debruçamos na janela e contemplamos o pavimento de manhã, deserto por um momento. De fato, a cidade dorme por um breve instante. (...)Ao longe, a Baía de Guanabara brilhava. Eu perdi o ânimo de até ontem e com os olhos um pouco abaixados, estendi o meu braço aos ombros da mulher, só de camisa, que parece melancólica mes-

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mo. E como se a sacudisse, perguntei-lhe assim:– O que aconteceu?A mulher estava penteando nervosamente as têmporas, com um pequeno pen-te de bolso.

– Eu ..., estou insatisfeita. 10

Na história do Japão, Graça Hosokawa (1562–1600) é famosa como uma cristã, modelo de coragem e sacrifício. Filha de Mitsuhide Akechi, muito bela e inteligente, casou-se com Tadaoki Hosokawa. Chamava-se Tamako, mas ao tornar-se cristã é batizada de Graça. Mas seu infortúnio começa quando seu pai mata Nobunaga Oda, que promovia campanha para unificar o país. No final, ela morre dentro do castelo incendiado, recusando-se a tornar-se refém de Mitsunari Ishida, servo de Hideyoshi Toyotomi, que ascendera ao poder. Num mundo onde imperava o budis-mo, ela foi livre para optar pelo catolicismo e se martirizou pela defesa do seu clã.

Ao colocar esse apelido de Graça Hosokawa justamente na perso-nagem mais arrojada do conto, Mishima se revela sem dúvida sarcástico. Pois a sua Graça Hosokawa, que se diz locutora, é uma japonesa muito orgulhosa, mas de classe média baixa, separada do marido brasileiro e que o assedia abertamente. Portanto, totalmente oposta ao protótipo ori-ginal. Todo o conto é narrado de maneira realista e bastante irônico. Ao lerem a obra, as mulheres reais que o inspiraram ficaram furiosas.

Posteriormente, quando o irmão de Mishima, o diplomata Chiyuki Hiraoka passou a trabalhar por três anos na Embaixada Japonesa no Rio de Janeiro, ele escreveu na correspondência a Mituto Mizumoto, do São Paulo Shimbun:

Não sei por que conexão, o meu irmão mais novo foi designado para servir no Brasil. Creio que doravante, ele precisará ser auxiliado em várias questões.Mas por favor, gostaria de recomendá-lo.Quanto a Mulheres Insatisfeitas, ao ouvir do escritor Norio Taoka, que fora

mais tarde ao Brasil, que as mulheres que serviram de modelo estão fumegan-do de raiva, abaixei a cabeça.A profissão de romancista é profundamente ofensiva. Mas quem leu aquele conto, creio que deu para compreender o quanto eu sinto saudades da vida em São Paulo. Recordo-me vivamente do Hotel Claridge, do restaurante italiano, do Butantã, como se tivesse sido ontem. Disse também ao meu irmão mais novo, que ‘não há no mundo um país tão bom quanto o Brasil’. 11

A opereta Bom Dia, Senhora!

Após a estadia em São Paulo, Mishima retorna ao Rio de Janeiro a 20 de fevereiro e hospeda-se no Hotel Serrador, na avenida Rio Branco 16, onde permanece até 1 de março de 1952. Inaugurado em 1944, o ho-tel funcionou até 2003 e aparece em Mulheres Insatisfeitas. No carnaval, o escritor assiste ao desfile das escolas de samba, da avenida Presidente Vargas à avenida Rio Branco. E diverte-se, brincando duas noites no clu-be High Life e a última no Iate Clube. Ele confessa que se extasiara.

Ao presenciar uma briga entre uma loira e uma ruiva por um Pier-rot barbudo no Iate Clube, essa cena lhe evocara uma comédia italiana. Assim, com várias peripécias e casais trocados, os personagens da opereta Bom Dia, Senhora! de Mishima assemelham-se aos tipos da Commedia dell’Arte. O boiadeiro Pedro lembra o Pierrô/Arlequim; a cigana Noite, a Colombina; a senhorita, a jovem enamorada; o duque Clementino, o Pantaleão; o rico Adolfo, o jovem enamorado; e a duquesa Clementino, uma enamorada.

Cena I – Hotel Copacabana PalaceCena II – CinelândiaCena III – No interior do Estado de Mato GrossoCena IV – O jacaré e a moça negraCena V – A Casa Grande na fazenda de caféCena VI – Prólogo de Carnaval

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Cena VII – Parque do Bosque de Figueiras da BengalaEsta opereta em sete cenas, uma estória de amor no carnaval do

Rio, foi encenada pela Companhia de Opereta Feminina da Shôchiku, no Minami-za de Kyoto, em 1954.

Após sua breve estadia de pouco mais de um mês no Brasil, Mishi-ma deixa o Rio com destino a Paris, em 2 de março de 1952. Mas o legado, variado e vivo de obras inspiradas no Brasil, mostra o quanto o jovem Mishima se impressionara e amara a nossa terra.

ÚLTIMA MISSIVA AO BRASIL

8 de dezembro de 1969Caro Sr. Mituto Mizumoto,Muitíssimo obrigado, por ter-me enviado desta vez, palmito e pau-santo, mi-nhas iguarias favoritas. Especialmente o palmito, só de ver o recipiente, o seu gosto delicado e saboroso me dá água na boca. Como é impossível obtê-lo no Japão, delicio-o pouco a pouco, como um tesouro. Não sei como lhe agradecer, por sempre se preocupar comigo. A ágata com água está todos os dias sobre a minha escrivaninha, anichada sobre o bloco de papel. Vou frequentemente a Izui e, toda vez que me encontro com a proprietária, falamos sobre o sr. Mizu-moto, e ela também estava orgulhosa com o quadro de borboletas, pendurado no seu altar artístico.Este ano também está para acabar e, passar os últimos dias do ano sem a crise tão esperada, me dá a sensação de ter sido ludibriado. Se continuar assim, tal-vez o próximo verão se passe sem grandes acontecimentos. Para que os seus espíritos não fiquem lassos, os estudantes da Sociedade do Escudo estão se esforçando nos treinamentos.Lembranças a todos da sua família.Feliz Ano Novo!Sinceramente,Yukio Mishima 12

O escritor confessa estar francamente decepcionado com a reno-vação do Tratado de Segurança Mútua Japão-Estados Unidos. Conse-quentemente, a tão esperada manifestação anti-americana, “a crise tão esperada”, não dera em nada. Daí os membros do seu exército particular, a Sociedade do Escudo, realizarem treinamentos paramilitares.

“Talvez o próximo verão se passe sem grandes acontecimentos”, re-gistra o remetente na carta. E exatamente no verão seguinte, Mishima publica o artigo Os 25 Anos dentro de mim: o compromisso que deixei de realizar 13, num tom pessimista sobre o pós-guerra.

Quando reflito sobre esses 25 anos dentro de mim, fico espantado com o seu vazio. Quase não posso dizer que ‘vivi’. Passei pela existência suportando com paciência o seu fedor. As coisas que eu odiava há 25 anos mudaram um pouco a sua forma, porém, mesmo agora, sobrevivem teimosamente como sempre.

E no final profetiza: “Se continuar assim, o Japão se extinguirá e no seu lugar restará uma grande potência econômica, inorgânica, vazia, neutra, rica e astuta num canto do Extremo Oriente.”

Na era da globalização, o século 21, tudo parece tender à unifor-midade. Portanto, doravante, cada nação não mais se sobressairá pelo seu valor econômico, mas por um valor mais alto, pelo qual Mishima se imolou: a necessidade de preservação da identidade cultural do país.

Patriotismo

O escritor costumava asseverar que se alguém quisesse ler uma úni-ca obra sua, ele recomendaria o conto Patriotismo (1960). E na adapta-ção cinematográfica da obra homônima, acabou acumulando as cinco funções: original, roteiro, produção e atuação principal. O Rito de Amor e Morte, título estrangeiro que ele próprio atribuiu ao filme, estreou na Cinemateca de Paris, em outubro de 1965 e a 12 de abril de 1966, em Tokyo.

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A estória de Patriotismo é inspirada num fato real, o incidente de 26 de fevereiro de 1936. 22 jovens oficiais do exército lideraram 1400 soldados num golpe de estado, para restituir ao imperador e ao povo os poderes políticos e econômicos, a tão sonhada Restauração Shôwa. Mas fracassaram e foram condenados. Dois dias depois, ocorre o duplo suicí-dio do tenente Kenkichi Aoshima e sua jovem esposa.

No filme Patriotismo, o tenente Shinji Takeyama (protagonizado por Mishima), de 31 anos, que não participara do levante por ser recém-casado, decide suicidar-se com sua mulher Reiko (a atriz Yoshiko Tsu-ruoka), de 23 anos. Porque ele se viu diante do dilema de ter que fuzilar os seus colegas ou manter a sua amizade aos companheiros.

Os ensaios foram feitos num palco de nô. Portanto, na filmagem, cenário e direção adotaram o formalismo ritual de um nô clássico. Nas cenas de amor e morte, dois tatames simulavam o palco de nô e um enor-me rolo de papel pendente (kakemono), com os ideogramas Sinceridade Absoluta, numa caligrafia do próprio Mishima, substitui o cenário imu-tável de nô. No final, para expressar a purificação, os cadáveres do casal são dispostos sobre ondas de areia branca, semelhantes ao do jardim zen Ryôanji, de Kyoto.

A máscara do shite (protagonista) foi substituída pelo chapéu mili-tar, que cobre metade da face, semelhante a uma máscara. E ao maquiar-se para a morte, a mulher também se prepara para a possessão divina.

O tripé essencial na estética de Mishima, juventude, beleza e morte, se apresenta aqui como um espetáculo de amor e morte, eros e obrigação moral. E como na convenção das peças de duplo suicídio do bunraku e kabuki, as cenas sexuais no filme são extremamente estilizadas, simbóli-cas, em contraponto com as cenas de morte, realistas, fisiológicas, diretas.

Com a completa ausência de fala, a película é narrada através de letreiros. A embriaguez rítmica da música “A Morte de Amor”, da cena final de Tristão e Isolda de Wagner, sobre o êxtase amoroso que se consu-ma com a morte, acaba purificando ao máximo a cena amorosa.

O conto Patriotismo e o filme homônimo já prefiguram o ato derra-deiro de Mishima: o suicídio ritual do seppuku, cortando-se o abdômen, no Quartel General das Forças de Audodefesa do Japão, no distrito de Ichigaya, em Tokyo, em 25 de novembro de 1970.

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Bibliografia

DEBATE .Mishima Yukioshi kakonde: kiitari, kikasetari (Em torno do sr. Yukio Mishima: perguntando e ouvindo). São Paulo Shimbun, São Paulo, 9 de fevereiro de 1952 (parte I) e 12 de fevereiro de 1952 (parte II).

KUSANO, Darci. Yukio Mishima: o homem de teatro e de cinema. São Paulo: Perspectiva, 2006.

MISHIMA, Yukio e KAWABATA, Yasunari. Correspondance (1945–1970). Paris: Albin Michel, 2000. Traduzido por Dominique Palmé.

MISHIMA, Yukio. Aporo no sakazuki (O Cálice de Apolo).In: Mishima Yukio zenshû (Obras Completas de Yukio Mishima). Tokyo: Shinchôsha, 1975,vol. 26.

− Bom deia seniora! (Bom Dia, Senhora!) e Shiroari no su (A Toca de Cupins). In:Mishima Yukio guikyoku zenshû (Teatro Completo de Yukio Mishima). Tokyo: Shinchôsha, 1990, vol. 1.

− Fumanna onnatachi (Mulheres Insatisfeitas). In: Mishima Yukio zenshû. Tokyo: Shinchôsha, 1988, p. 585–610.

− Correspondência. Mishima Yukio zenshû. Tokyo: Shinchôsha, 1988.

VIGLIELMO, Valdo H.. Mishima y Brasil: Un estudio de Shiroari no su. In:Estudios Orientales. Mexico: El Colegio de Mexico, 1973, vol. VIII, n. 1.

Notas

1 Yukio Mishima. Cópia obtida nos arquivos do Museu da Imigração Japonesa em São Paulo, sem procedência e sem data. Em 1952 na capital paulista, já existiam os jornais em japonês: São Paulo Shimbun, Brasil-Japão, Nambei Jiji, Notícias do Brasil e Jornal Paulista.

2 Romancista Riichi Yokomitsu (1898–1947), pertencente ao movimento literário neo-sensualista. Na época, ele era mais famoso do que Yasunari Kawabata, também dessa escola.

3 Debate “Mishima Yukioshi kakonde: kiitari, kikasetari” (Em torno do sr. Yukio Mishima: perguntando e ouvindo), em São Paulo Shimbun, parte I (9 de fevereiro de 1952) e parte II (12 de fevereiro de 1952).

4 MISHIMA, Yukio e KAWABATA Yasunari. Correspondance (1945–1970), p. 86–88

5 MISHIMA, Yukio. “Koyû uira Sabino”. Aporo no sakazuki, p.63–65

6 MISHIMA, Yukio “Hakiri ari, hotaru, hachisuzume, dachô”. Aporo no sakazuki, p.66–67

7 Idem, Aporo no sakazuki, p. 65

8 VIGLIELMO, Valdo H. “Mishima y Brasil: Un estudio de Shiroari no su”, p. 10

9 MISHIMA,Yukio. Shiroari no su (A Toca de Cupins) ,em Mishima Yukio guikyoku zesnhû, vol. I

10 MISHIMA, Yukio. Fumanna onnatachi (Mulheres Insatisfeitas),em Mishima Yukio zenshû, p. 585–610

11 Carta a Mituto Mizumoto em Correspondência, Mishima Yukio zenshû, p. 896

12 Idem, ibidem, p. 897–898

13 Idem, “Watashi no naka no 25nen” (Os 25 anos dentro de mim), em Sankei Shim-bun, 7 de julho de 1970

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