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1 A Função da Assertividade no Relacionamento Afetivo* Paula Virgínia Oliveira Elias Ilma A. Goulart de Souza Britto Universidade Católica de Goiás O amor é um poderoso estado emocional que pode direcionar um casal a estabelecer um relacionamento e a constituir uma família. Entretanto, apesar de ser considerado necessário este estado emocional não deve ser avaliado como fator determinante único e suficiente para a manutenção de um relacionamento afetivo. Não configura a base única para a construção do alicerce da convivência satisfatória. Certas habilidades comportamentais, integrantes do repertório comportamental característico de cada indivíduo, são cruciais para a manutenção de uma convivência harmoniosa e, mais do que isso, prazerosa. Deve estar presente no contexto do relacionamento afetivo um conjunto de comportamentos, por parte de ambos, que podem ser denominados favorecedores da interação ajustada, como, por exemplo, alguma flexibilidade, confiança, tolerância, cooperação, capacidade para tomar decisões conjuntas, admiração, comunicação eficaz, entre outros (Beck, 1995). Dependendo da forma como o relacionamento se estabeleceu e das características de comportamento de cada parceiro, pode haver um comprometimento quanto à dedicação pessoal a determinadas áreas da vida. Muitos relacionamentos acabam por promover a dependência e a falta de privacidade. Isso pode trazer prejuízos para a manutenção de uma relação afetiva saudável, na medida em que limita as possibilidades de conquistas em outras áreas, como por exemplo, na área profissional e das amizades. Quando há discrepância entre as condições básicas necessárias e as contingências em vigor no âmbito do relacionamento, a terapia pode ser um procedimento eficaz para levar a discriminação e modificação de comportamentos incompatíveis para a consolidação ou prosseguimento da união. Para atender a estes objetivos, o processo de avaliação clínica deve ser amplo o suficiente para permitir ao terapeuta formular hipóteses sobre quais contingências vigoraram na história de vida de cada um e no histórico de convivência do casal, bem como quais estão vigorando atualmente. Conforme Otero & Ingberman (2004), para que o terapeuta entenda as queixas apresentadas por um casal e possa auxiliá-lo a lidar com suas dificuldades deve examinar toda a sua história de relacionamento passada e presente, assim como a história de vida de cada um dos membros do casal. Sabe-se que as queixas atuais têm componentes passados. O início do namoro é uma fase do relacionamento na quais as pessoas se conquistam visando uma vida futura: ambos explicitam suas melhores idéias, comportamentos e formas de resolver questões divergentes. Os encontros são mais esporádicos e, freqüentemente, têm por objetivo a recreação, o lazer e o prazer. As diferenças e semelhanças potencialmente conflitantes podem não caracterizar problemas neste período (Otero & Ingberman, 2004). Conforme as autoras citadas anteriormente, após a decisão de viverem juntos, e o conseqüente aumento do tempo de convivência, revelam-se mais claramente suas características individuais, como estados de humor, hábitos de vida e preferências pessoais. Os valores e os padrões de relacionamento tornam-se mais genuínos. Nesta fase nem sempre o casal deseja as mesmas coisas ao mesmo tempo e da mesma maneira. Com o intuito de iniciar o processo de avaliação das contingências passadas e presentes, algumas questões necessitam de respostas, baseando-se no resultado da coleta de dados com o casal ou com um dos membros do casal, se for este o caso. Algumas destas questões são abordadas no Quadro 1 a seguir: _____________________________________________________________________ *Elias, P. V. O. & Britto, I. A. G. S. (2007). A função da assertividade no relacionamento afetivo. Em R. R. Starling (Org.). Sobre Comportamento e Cognição: temas aplicados . Vol. 19, (pp.23-36). Santo André: ESETec.

Paula a Funcao Da Assertividade No Relacionamento Afetivo

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    A Funo da Assertividade no Relacionamento Afetivo*

    Paula Virgnia Oliveira Elias Ilma A. Goulart de Souza Britto Universidade Catlica de Gois

    O amor um poderoso estado emocional que pode direcionar um casal a estabelecer um relacionamento e a constituir uma famlia. Entretanto, apesar de ser considerado necessrio este estado emocional no deve ser avaliado como fator determinante nico e suficiente para a manuteno de um relacionamento afetivo. No configura a base nica para a construo do alicerce da convivncia satisfatria. Certas habilidades comportamentais, integrantes do repertrio comportamental caracterstico de cada indivduo, so cruciais para a manuteno de uma convivncia harmoniosa e, mais do que isso, prazerosa.

    Deve estar presente no contexto do relacionamento afetivo um conjunto de comportamentos, por parte de ambos, que podem ser denominados favorecedores da interao ajustada, como, por exemplo, alguma flexibilidade, confiana, tolerncia, cooperao, capacidade para tomar decises conjuntas, admirao, comunicao eficaz, entre outros (Beck, 1995).

    Dependendo da forma como o relacionamento se estabeleceu e das caractersticas de comportamento de cada parceiro, pode haver um comprometimento quanto dedicao pessoal a determinadas reas da vida. Muitos relacionamentos acabam por promover a dependncia e a falta de privacidade. Isso pode trazer prejuzos para a manuteno de uma relao afetiva saudvel, na medida em que limita as possibilidades de conquistas em outras reas, como por exemplo, na rea profissional e das amizades.

    Quando h discrepncia entre as condies bsicas necessrias e as contingncias em vigor no mbito do relacionamento, a terapia pode ser um procedimento eficaz para levar a discriminao e modificao de comportamentos incompatveis para a consolidao ou prosseguimento da unio.

    Para atender a estes objetivos, o processo de avaliao clnica deve ser amplo o suficiente para permitir ao terapeuta formular hipteses sobre quais contingncias vigoraram na histria de vida de cada um e no histrico de convivncia do casal, bem como quais esto vigorando atualmente. Conforme Otero & Ingberman (2004), para que o terapeuta entenda as queixas apresentadas por um casal e possa auxili-lo a lidar com suas dificuldades deve examinar toda a sua histria de relacionamento passada e presente, assim como a histria de vida de cada um dos membros do casal. Sabe-se que as queixas atuais tm componentes passados.

    O incio do namoro uma fase do relacionamento na quais as pessoas se conquistam visando uma vida futura: ambos explicitam suas melhores idias, comportamentos e formas de resolver questes divergentes. Os encontros so mais espordicos e, freqentemente, tm por objetivo a recreao, o lazer e o prazer. As diferenas e semelhanas potencialmente conflitantes podem no caracterizar problemas neste perodo (Otero & Ingberman, 2004).

    Conforme as autoras citadas anteriormente, aps a deciso de viverem juntos, e o conseqente aumento do tempo de convivncia, revelam-se mais claramente suas caractersticas individuais, como estados de humor, hbitos de vida e preferncias pessoais. Os valores e os padres de relacionamento tornam-se mais genunos. Nesta fase nem sempre o casal deseja as mesmas coisas ao mesmo tempo e da mesma maneira.

    Com o intuito de iniciar o processo de avaliao das contingncias passadas e presentes, algumas questes necessitam de respostas, baseando-se no resultado da coleta de dados com o casal ou com um dos membros do casal, se for este o caso. Algumas destas questes so abordadas no Quadro 1 a seguir:

    _____________________________________________________________________

    *Elias, P. V. O. & Britto, I. A. G. S. (2007). A funo da assertividade no relacionamento afetivo. Em R. R. Starling (Org.). Sobre Comportamento e Cognio: temas aplicados. Vol. 19, (pp.23-36). Santo Andr: ESETec.

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    Quadro 1 Algumas questes a serem respondidas durante o processo de coleta de dados sobre o passado e presente do relacionamento do casal (baseado em Keefe, Kopel & Gordon, 1980; Beck, 1995; Kirk, 1997). Quando o relacionamento teve incio? Como e aonde foi a aproximao? O que fez com que um se sentisse atrado pelo outro? Como ambos se comportavam um com o outro durante o perodo inicial de estabelecimento da relao? O que mudou atualmente na relao? Quais os comportamentos de ambos podem ser descritos como adequados e quais podem ser descritos como inadequados (identificar os problemas de comportamento que geram desentendimentos)? Quando as brigas e/ou o desinteresse mtuo (ou no) tiveram incio? Houve algum acontecimento especfico que produziu o problema inicialmente? Houve mudanas importantes ocorridas durante o transcurso do relacionamento? Qual o compromisso do casal com o relacionamento? Quais so as principais situaes-problema que levam desentendimentos? Na sua avaliao, estes poderiam ser evitados com certo esforo por parte de ambos? H um superdimensionamento dos problemas, ou seja, questes relativamente simples tomam uma proporo maior? Quais so as conseqncias das discusses? Como as discusses so resolvidas? Quais so os fatores que os mantm unidos? Quais so as auto-regras estabelecidas pelo casal a respeito um do outro e do relacionamento? Como estabelecida a comunicao entre o casal? H clareza quanto ao que desejado por parte do outro? O outro conjugue aceita participar do processo teraputico? Pode haver divergncia quanto s respostas fornecidas por cada um dos parceiros, ou seja, a maneira de descrever as contingncias envolvendo o comportamento de cada um pode divergir durante a coleta de dados por meio do relato verbal. Em vrios momentos, pode ser observada a tendncia a avaliar, julgar e formular concluses precipitadas sobre os comportamentos do parceiro diante das mais diversas situaes.

    Christensen e Jacobson (2000, citados por Otero & Ingberman, 2004) apontam quatro tipos de argumentos indicadores de discusses entre casais: a) crtica; b) exigncia injusta ou ilegtima; c) o aborrecimento acumulado; d) o sentimento de rejeio. Cada parceiro s tem a viso do papel do outro no conflito e faz acusaes sobre caractersticas negativas e definitivas. Passam a avaliar um ao outro por meio de atributos que os definem negativamente.

    Na fase inicial do processo teraputico centra-se a necessidade de formulao de hipteses a respeito das relaes funcionais referentes a eventos envolvidos nas contingncias em vigor. Assim, a partir deste momento, pode ter incio o direcionamento do programa de interveno e o incio de sua aplicao. A definio dos objetivos favorece o xito da terapia (Kirk, 1997). Sabe-se que este programa passar por reavaliaes constantes e, caso necessrio, sofrer modificaes, conforme verificao de alguns fatores, dentre eles a colaborao de ambos os parceiros ou no no processo.

    Deve estar claro que os atendimentos em consultrio devero ser complementados com os exerccios de casa solicitados ao final de cada sesso, pois a aquisio e manuteno das modificaes objetivadas sero determinadas pela prtica nas contingncias do ambiente natural.

    Explicaes e instrues sobre o estabelecimento de comportamentos por meio da modelagem tambm so relevantes, considerando a identificao dos esquemas de reforamento que vigoravam no passado e os que vigoram atualmente no contexto do casal. Elias e Britto (2004) esclarecem que para auxiliar a discriminao e atuao adequada frente aos eventos ocorridos no ambiente natural devem ser fornecidas informaes e explicaes ao cliente a respeito do estabelecimento de relaes funcionais entre tais eventos: antecedentes, comportamentais e conseqentes. Conforme Skinner (1953/2000), a anlise funcional a anlise das variveis das quais o comportamento funo.

    Pode haver a manuteno e/ou surgimento de situaes-problema em funo dos tipos de consequenciao fornecidas por um parceiro diante de comportamentos especficos do outro. Nas observaes clnicas torna-se perceptvel que pode no haver esta discriminao por parte do casal.

    Em funo desses tipos de ocorrncia, deve haver a explicao, aos clientes de forma geral, sobre a realizao de anlises funcionais, levando-os a observar a necessidade de alterar seu prprio comportamento como forma de afetar o comportamento do parceiro, principalmente, no caso de as intervenes ocorrerem de forma unilateral, isto , quando um dos dois se recusa a participar da terapia. Alterar o prprio comportamento aumenta a

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    probabilidade de modificao das contingncias ambientais, o que por sua vez gera resultados no comportamento alterado, ou seja, estabelece-se um processo de retroalimentao.

    Segundo Keefe, Kopel e Gordon (1980), em geral, os casais com problemas no conseguem aplicar adequadamente os princpios de reforo positivo. Geralmente empregam a coero recproca como uma estratgia primria para a alterao de comportamento. Isto conduz a ressentimentos, frustraes, hostilidade e a agresses. Para que os procedimentos clnicos tenham alta probabilidade de resultados satisfatrios deve estar claro que o dilogo ajustado importante e que o reforamento apropriado deve predominar. Assim, torna-se importante a identificao de comportamentos considerados adequados, por mais que estes se apresentem, no momento, numa freqncia menor do que o desejado, bem como a nfase no reforamento destes, considerando as idiossincrasias.

    Para que os esquemas de reforamento mtuo se estabeleam de forma adequada, as habilidades de comunicao so fundamentais e encontram-se entre os assuntos mais discutidos na literatura sobre relacionamento de casais. de extrema importncia avaliar a forma como a pessoa se relaciona. Este comportamento se desenvolve por meio das interaes estabelecidas ao longo da vida, ou seja, aprendido. A forma de interao entre o casal, tambm, leva a aprendizados especficos nesta rea. Os parceiros podem desenvolver seu prprio esquema de comunicao, algumas vezes apropriado outras vezes no.

    Conforme Moraes e Rodrigues (2001) deve ser considerado o fato de que o relacionamento conjugal um dos contextos em que necessrio e importante o comportamento assertivo. A comunicao, ou seja, a expresso de pensamentos, sentimentos e emoes uma habilidade que pode ser instalada no repertrio de um casal e facilitar de sobremaneira o desenvolvimento do autoconhecimento. No que se refere terapia para casais, o autoconhecimento uma habilidade que contribui para que cada um consiga identificar e discriminar em si algumas limitaes e dficits comportamentais que possam ser alterados, para resultar em melhorias para o relacionamento conjugal.

    Skinner (1953/2000) destaca que o autoconhecimento de origem social e coloca a pessoa em melhores condies para prever e controlar seu prprio comportamento.

    Outro fator que pode desfavorecer o processo de mudana na forma de se relacionar do casal relaciona-se s regras formuladas, por cada um dos parceiros sobre as qualidades e defeitos do outro, bem como sobre o relacionamento em si. Estes julgamentos e avaliaes baseados apenas em parmetros de referncia pessoais podem favorecer o superdimensionamento de algumas situaes-problema. No pode haver confuso entre conhecer caractersticas do parceiro e adivinhar seus comportamentos, inclusive os encobertos.

    A formulao de regras tem vantagens, pois permite, por exemplo, que um indivduo se comporte de determinada maneira num contexto apropriado sem a necessidade de se expor s contingncias que a prpria regra define ou que o indivduo produza respostas adequadas em um tempo menor. Entretanto, as regras se constroem a partir das contingncias a que o sujeito est exposto e so efetivas na medida em que descrevem adequadamente estas contingncias (Matos, 2001).

    Abaixo segue o exemplo de regras formuladas de forma inapropriada, levando as concluses distorcidas:

    Por que ele est calado? Deve estar zangado comigo. Devo ter feito alguma coisa que ele no gostou. Eu o conheo... Sei que vai continuar zangado comigo. Ele est sempre zangado comigo. Acho que eu sempre ofendo as pessoas. Ningum nunca vai gostar de mim. Sempre vou ficar sozinha. Sinto isso!

    Para complementao da avaliao do aprendizado de comportamentos sociais

    apropriados ou no, includo a interao com o parceiro, deve ser realizada a investigao sobre as contingncias familiares s quais a pessoa foi exposta. A composio familiar pregressa, de ambos os parceiros, deve ser considerada ao longo das relaes funcionais estabelecidas. Os modelos de casal observados podem ter favorecido o aprendizado de comportamentos inapropriados sobre situaes envolvendo relacionamentos afetivos. A

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    modelao derivada dos estudos de Bandura (1979) sobre a aprendizagem por meio da observao do desempenho de outra pessoa.

    Para maximizar as possibilidades de sucesso e minimizar as chances de fracasso do relacionamento, certas habilidades sociais gerais e especficas para o casal, devem ser desenvolvidas. Conforme Caballo (1999), algumas classes de respostas consideradas eficazes so: iniciar e manter conversas; capacidade de expressar amor, agrado e afeto; saber dos prprios direitos e deveres; pedir favores; recusar pedidos; aceitar elogios; capacidade de expressar opinies pessoais, inclusive discordantes; capacidade de aceitar opinies discordantes; capacidade de expressar incmodo, desagrado ou enfado; desculpar-se ou admitir ignorncia; solicitar mudana no comportamento do outro; enfrentar crticas; entre outros.

    De acordo com Del Prette e Del Prette (2002), vrias pessoas apresentam dficits de comportamento social apropriado em funo de que estes no foram aprendidos. Assim, considerando que as habilidades sociais so aprendidas e podem ser objeto de intervenes teraputicas ou educativas, os programas de habilidades sociais privilegiam a identificao das classes comportamentais consideradas relevantes para o desempenho social e a promoo e aperfeioamento dessas classes, tanto em relao a sua topografia quanto a sua funcionalidade.

    Algumas tcnicas devem ser utilizadas durante a estratgia de treino de habilidades sociais, para promover a aquisio dos comportamentos necessrios. Pode ser citado como fundamentais: o processo educacional (informar, explicar e instruir); a modelao; o treino em assertividade; o treino em comunicao (verbal e no-verbal); o ensaio comportamental; o reforamento diferencial; a reelaborao de regras formuladas; o treinamento em soluo de problemas; o registro para monitorar-se; a exposio sistemtica gradual ao vivo e/ou imaginria, o relaxamento muscular.

    Estas tcnicas aplicadas apropriadamente, a partir das anlises funcionais, auxiliam na construo de comportamentos adequados s demandas do relacionamento, ou seja, assertivos, j que os comportamentos de passividade e/ou agressividade demonstram conseqncias problemticas.

    Conforme Caballo (1999), o indivduo passivo no produz respostas adaptativas em favor do que acredita e, caso isso seja um acontecimento freqente, os efeitos podem ser o rebaixamento de humor, auto-imagem empobrecida, sensao de ineficcia, perda de oportunidades, ansiedade, sensao de falta de controle da situao e de si, sentimento de solido, baixa auto-estima, entre outros.

    J o indivduo que se comporta de modo agressivo, impe suas opinies de forma coercitiva, o que gera conflitos interpessoais e contra-reao quase automtica, sentimento de culpa e frustrao, prejuzo aos demais, perda de oportunidades, sensao de tenso, sente-se sem controle, percebe-se solitrio e ineficaz, no gosta da proximidade dos demais.

    Finalmente, a pessoa assertiva, sabe ouvir, falar, respeitar os prprios direitos e os direitos da outra pessoa. Quando o casal se relaciona de forma assertiva, sabe se comportar diante de possveis desacordos. Os efeitos disso correspondem soluo adequada dos problemas, sentir-se vontade com na presena de outros, satisfao com os prprios comportamentos e seus resultados, vontade consigo mesma, relaxado, percebe-se com controle da situao, acredita, cria e promove a maioria das oportunidades, refora a si mesmo e aceita as caractersticas dos demais.

    Estes trs tipos de comportamento referentes forma de interao com outras pessoas podem ser observados por meio de comportamentos especficos durante as interaes sociais. Estes comportamentos podem ser, por exemplo, o olhar, a expresso facial, os gestos, a postura, a orientao, a distancia versus a proximidade fsica, o volume da voz, a entonao da voz, a fluncia da fala, o tempo de fala e o contedo expressado.

    Estudo de Caso

    O processo teraputico aqui descrito foi realizado apenas com a participao ativa da esposa, pois o parceiro no se disps a freqentar as sesses de terapia. Ela decidiu por iniciar o processo mesmo na ausncia dele, pois estava disposta a aprender habilidades pessoais que auxiliassem na interao do casal. O objetivo do processo teraputico centrou-se em questes referentes ao relacionamento, envolvendo aquisio de habilidades de assertividade por parte da cliente para lidar com o marido e, tambm, com outras pessoas.

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    A cliente tinha 25 anos de idade e seu marido 29 anos, ele com curso superior completo e ela com curso superior incompleto, ambos atuavam na rea da sade, tm uma filha.

    As queixas apresentadas, de acordo com relato da cliente em atendimento, estavam relacionadas a problemas conjugais em funo de excesso de crticas, desateno, superdimensionamento de problemas, cobranas e brigas constantes. No que se refere s suas prprias dificuldades relatou inabilidade para interagir assertivamente com o parceiro e com outras pessoas, apresentando falhas de comunicao. Outros comportamentos-problema relacionavam-se ao estabelecimento de expectativas altas a respeito do comportamento do marido, sintomas de rebaixamento de humor e ansiedade acentuada. Queixou-se de desgaste do relacionamento. Entretanto, a cliente destacou que, apesar disso, havia demonstraes de afeto em momentos espordicos. Com relao histria de vida da cliente, esta relatou que conviveu num ambiente harmonioso, onde os pais demonstravam carinho, respeito e admirao mtuos. A cliente afirma que, com relao a ela, os pais eram superprotetores. Fato que pode ter desfavorecido a oportunizao do aprendizado para lidar com finanas, tomar decises e para comunicar-se assertivamente. Tem um irmo mais novo que apresenta comportamentos semelhantes. Foram observados, durante as sesses, relatos de regras formuladas sobre si mesma, sobre o marido, sobre restries na convivncia social e a respeito de seu casamento, em especial. Aprendera a descrever os eventos de modo negativo, fato que ocorria desde a infncia. Com relao histria afetiva, relata ter tido poucos relacionamentos. Iniciou o namoro com o atual marido aos 17 anos. Afirma que desde que o conheceu ambos se apaixonaram. Esperou por seis meses at que ele a pedisse em namoro e se casaram aps 4 anos. A partir do momento em que o conheceu diz ter concentrado sua ateno quase que exclusivamente no relacionamento, afastando-se inclusive de todas as suas amigas. Moldou seus comportamentos de acordo com o que acreditava ser aprovado por ele. Ele reforava seus comportamentos de forma diferencial e intermitente. Durante as brigas mostrava-se persuasivo em convenc-la de suas idias. Desde o incio predominavam as brigas, apesar de haver momentos harmnicos. Primeiramente, foi realizada a entrevista inicial para coleta de dados e estabelecimento da relao teraputica. Houve a aplicao do Questionrio de Histria Vital (Lzarus, 1975/1980) e do Inventrio de Depresso de Beck (BDI) (Cunha, 2001). Foi solicitado o preenchimento de folhas de registro comportamental sobre s interaes da cliente com o marido, bem como pontuaes na Escala Subjetiva de Ansiedade para cada situao descrita.

    Em seguida, foi elaborado um programa de intervenes. Esta programao baseou-se nas informaes coletadas sobre os comportamentos da cliente, do marido e da interao entre ambos. Este programa de intervenes inclua tcnicas para controle fisiolgico da ansiedade, como treino de controle respiratrio e relaxamento muscular, bem como estratgias para lidar com regras formuladas, como questionamento socrtico, confrontao de idias, escrita teraputica, assim como registros comportamentais para monitorar-se. Outras tcnicas utilizadas foram a dessensibilizao sistemtica imaginria e ao vivo, reforamento diferencial, modelao, treino de assertividade, treino em habilidades de comunicao, treino em soluo de problemas e tomada de decises, ensaio comportamental e, ainda, informaes e explicaes sobre ansiedade e modelagem de comportamentos, incluindo explicaes sobre aspectos da anlise funcional.

    A avaliao dos resultados foi feita por meio dos relatos verbais da cliente durante os atendimentos, monitorao por meio das folhas de registro comportamental, bem como aplicao do BDI e pontuaes na Escala Subjetiva de Ansiedade diante de variadas situaes.

    Foram avaliados, por meio das folhas de registro preenchidas pela cliente, os seguintes comportamentos dela e do marido: a) Comportamentos da cliente: comunicar-se com o marido demonstrando habilidade verbal e no verbal, por meio da expresso de opinies sobre questes em pauta; expresses de aprovao; desagrado; desejos e necessidades. Durante as sesses foi avaliada, por meio do relato verbal, a capacidade de discriminar adequadamente fatos positivos sobre o casamento, sobre o marido e sobre si mesma, em funo das regras descritas pela cliente nas primeiras sesses.

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    b) Comportamentos do marido: demonstrar ateno durante dilogos, por meio do olhar, expresso facial, gestos e comportamento de aproximao; expressar contentamento, por meio de elogios; comunicar desagrado por meio de apontamentos ao invs do desencadeamento de brigas. Resultados e Discusso

    A seguir sero apresentados dados coletados durante a fase de linha de base do processo teraputico, ou seja, durante as quatro primeiras sesses de atendimento. Mediante o preenchimento das folhas de registro de monitorao e por meio do relato verbal foram observadas ocorrncias de situaes-problema e comportamentos especficos. Abaixo consta um fragmento de sesso ilustrativo: Situao freqente o marido, constantemente, se recusa, sem justificativa, a acompanhar a esposa (cliente) em eventos comemorativos de sua famlia, e se recusa, tambm, a acompanh-la na terapia. T Como voc se comporta quando L. se recusa e se mostra indiferente nestas situaes? C Eu tento conversar, explicar a importncia da presena dele para mim. s vezes ele nem me olha enquanto eu falo. Mas eu insisto!!! S que chega uma hora que a gente se cansa, n!? A, na maioria das vezes, eu tambm no vou, porque muito chato chegar sozinha e ouvir as pessoas perguntando por ele o tempo todo. Tenho que ficar inventando desculpas... T E com relao a terapia? Voc no desistiu. C que eu quero muito aprender a lidar com todas essas situaes. No sei se agento continuar casada se isso continuar... Por meio do relato verbal supracitado observa-se que a cliente acredita estar agindo adequadamente insistindo no dilogo e desistindo de sair quando o marido no lhe d ateno. Entretanto, por meio do estabelecimento de relaes funcionais entre os eventos descritos, considerando a freqncia de ocorrncia de situaes semelhantes, observa-se que h conseqncias reforadoras para os comportamentos inadequados do marido (recusa em acompanh-la sem justificativas e indiferena enquanto ela verbaliza). A partir disso, estes comportamentos tendero a aumentar de freqncia no futuro. Alm disso, est em vigor um esquema de reforamento intermitente, que pode ser identificado no momento em que a cliente relata que na maioria das vezes desiste de sair nestas ocasies. Sabe-se que este tipo de esquema resulta em maior probabilidade de manuteno dos comportamentos relacionados.

    Seguem os exemplos referentes a regras formuladas pela cliente, apresentadas durante o incio do processo teraputico: Quadro 2 Exemplos de regras formuladas pela cliente com relao a seus comportamentos, aos comportamentos do marido e referentes relao conjugal. Eu no consigo mudar./Acho que a culpa toda minha./Se eu me dedicar minha profisso as coisas vo piorar no meu casamento./ Tenho que agentar tudo calada, porque quando falo as coisas pioram./ No consigo sair disso. / Ele nunca vai me admirar, posso fazer o que for.../Se eu me separar ser pior. No sei viver sem ele./ Eu vou ser infeliz porque tenho que conviver com isso pra sempre./Sou muito lenta./No sou bonita. Acho que ele j enjoou de mim./Ele no me respeita e nunca ir me respeitar./ Ele est de mal com a vida o tempo todo./ No vou ficar atendendo aos caprichos dele. Na seqncia, h um fragmento de sesso que complementa as demonstraes de insatisfao da cliente com o relacionamento conjugal, em que relata no acreditar nas mudanas no comportamento do marido, bem como aponta pensamentos de incapacidade sobre a conquista de resultados. Observa-se que a cliente antecipa resultados negativos e faz generalizaes sobre tentativas anteriores de modificao: T: Como foi sua semana com seu marido? C: Pssima!!! No vou conseguir sair desse casamento e no consigo suportar as coisas como esto. (choro...) T: Voc j tentou agir de outra maneira pra conseguir resultados diferentes? C: No adianta nada. J tentei de tudo. T: Tudo o qu?

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    C: (Tempo) ...Na verdade, acho que sempre fiz tudo igual. Vivi pra ele. Fao tudo o que ele quer. Se eu mudar, a tendncia que as coisas piorem ainda mais... T: Mas, voc j tentou? C: No. Desse jeito acho que no. Segue a apresentao de alguns exemplos de anlise funcionais realizadas, tambm, durante a fase de linha de base. Sero considerados para anlise os comportamentos do marido, os comportamentos da cliente que conseqenciam os comportamentos do marido e as conseqncias gerais:

    Figura 1 Anlise funcional do comportamento da cliente durante situaes envolvendo problemas com o marido, durante a fase de linha de base.

    Situao Antecedente

    Comportamentos do Marido

    Comportamentos da Cliente

    Conseqncias para o Comportamento do Marido

    Conseqncias Gerais

    Marido a convida para sarem juntos. Ele escolhe o lugar.

    Excesso de tempo para se arrumar. Reclama: Voc nunca me pergunta onde quero ir... No respeita minhas opinies... Sou um zero a esquerda... No deveria ir... Deveria saber... um absurdo eu ter que falar isso.

    Saem atrasados e ele a critica. Ela diz que no agenta mais essa situao. Ambos ficam irritados.

    Figura 2 Anlise funcional do comportamento da cliente durante situaes envolvendo problemas com o marido, durante a fase de linha de base.

    A seguir sero apresentados os resultados gerais das intervenes efetuadas, referentes aos comportamentos da cliente e as conseqncias para a modificao dos padres de comportamento de interao do casal.

    Um fragmento de sesso que evidencia o aprendizado da discriminao das contingncias em vigor e suas conseqncias ser apresentado a seguir. O relato ilustra um trecho do dilogo entre terapeuta e cliente aps explicaes gerais sobre como as contingncias devem ser analisadas.

    T Aps compreender que deve haver a identificao do que chamamos de relao funcional entre antecedentes, comportamentos e conseqncias acredito que esteja preparada para analisar alguns acontecimentos. C Sim. Acho que com sua ajuda posso chegar a algumas concluses. T Quando h uma situao em que voc convida seu marido para algum programa em famlia, os comportamentos dele podem ser considerados adequados ou inadequados, de acordo com o que voc definiu? C Acho que so inadequados pelo que pude perceber. T Quando estes comportamentos ocorrerem, quais so as conseqncias mais apropriadas? Voc deve conseqnciar tais comportamentos dele com insistncia (ateno em excesso) e se restringir em sua atividade tambm? O que voc pensa sobre isso? C No, porque se eu der ateno insistindo ele se mostra indiferente, e eu fao um monlogo e no um dilogo, j que ele no me responde. E, se eu deixar de participar dos eventos em

    Situao Antecedente

    Comportamentos do Marido

    Comportamentos da Cliente

    Conseqncias para o Comportamento do Marido

    Conseqncias Gerais

    Marido diz que no comparecer a festa da famlia, pois acha os parentes dela esnobes.

    Insiste para que ele v. Chora. Diz que no ficaro por muito tempo. Reclama do casamento.

    Ele vai aps meia hora de insistncia e fica irritado. Discutem e chegam no final da festa.

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    famlia estarei me isolando e levando ele a ficar acomodado com a situao. ... Ele consegue ficar e que eu fique tambm. T O que voc acha que deve ser modificado para que haja aproximao e no afastamento entre vocs? A partir da utilizao do questionamento socrtico, aps as informaes e explicaes sobre relaes funcionais, a cliente passou a discriminar que seus comportamentos deveriam ser alterados, tornando-se assertivos, para que houvesse, tambm, modificaes nos comportamentos do marido, levando ao estabelecimento de proximidade e no de afastamento. partir da foi implementado o treino de habilidades sociais, direcionado para as interaes entre a cliente e seu marido.

    Seguem exemplos de anlises funcionais realizadas durante a fase em que o programa de interveno estava sendo aplicado. Novamente sero considerados para anlise os comportamentos do marido, os comportamentos da cliente que conseqenciam os comportamentos do marido e as conseqncias gerais:

    Situao Antecedente

    Comportamentos do Marido

    Comportamentos da Cliente

    Conseqncias para o Comportamento do marido

    Conseqncias Gerais

    Outra festa em famlia. O marido diz que no vai e se senta para assistir TV, ignorando-a.

    Ela o convida uma vez e demonstra a importncia da presena dele. Arruma-se, despede-se carinhosamente e sai em direo a porta.

    Ele a chama, diz que no sabe se vai... Mostra indeciso, levanta-se do sof e pede para que ela espere at ele colocar roupa e sai resmungando.

    Figura 3 - Anlise funcional do comportamento da cliente durante situaes envolvendo problemas com o marido, durante a fase de interveno.

    Situao Antecedente

    Comportamentos do Marido

    Comportamentos da Cliente

    Conseqncias para o Comportamento do marido

    Conseqncias Gerais

    Marido a convida para jantar fora. Ele escolhe o lugar em que iro.

    Arruma-se em tempo adequado. Agradece o convite e diz que adorou a surpresa. Novas formas de descrever as contingncias: ... acho que vai ser divertido... No vou reclamar disso... Outro dia vou cham-lo para sair e escolher o lugar... Acho que ele deve estar querendo me agradar, do jeito dele. Vou curtir a noite e mostrar que gostei do convite. Vou aproxim-lo de mim e no afast-lo como vinha fazendo.

    Saem no horrio combinado. Ambos se divertem durante a noite e conversam sobre assuntos que no eram discutidos antes.

    Figura 4 - Anlise funcional do comportamento da cliente durante situaes envolvendo problemas com o marido, durante a fase de interveno.

    A Figura 5 representa os dados comparativos entre a fase de linha de base e a avaliao final, referentes a ansiedade e rebaixamento de humor. Os dados referentes a ansiedade correspondem ao nvel mdio de ansiedade apresentado pela cliente diante de situaes envolvendo interao com o marido, coletados por meio do preenchimento de folhas de registro de auto-monitorao. Os dados referentes ao rebaixamento de humor correspondem aos resultados do preenchimento do BDI pela cliente, nas duas fases.

  • 9

    Observa-se que os nveis, tanto de ansiedade quanto indicativos de rebaixamento de humor, sofreram uma queda quando comparadas s duas fases do processo teraputico. A mdia dos nveis gerais de ansiedade diante de situaes-problema na interao com o marido, inicialmente, era de 80. Mdia considerada alta para os tipos de situaes registrados. J na fase de avaliao final, o ndice mdio de ansiedade caiu para 20, ou seja, passou a apresentar-se de forma proporcional s situaes descritas. O ndice alcanado no BDI inicialmente foi de 19 pontos, indicativo de rebaixamento de humor leve. Posteriormente este ndice caiu para 3 pontos, o que indica nvel mnimo de rebaixamento de humor. Estes dados apontam para a eficcia dos procedimentos empregados.

    Figura 5 Demonstrao dos nveis de ansiedade e rebaixamento de humor durante as fases de linha de base e avaliao final.

    A Figura 6 representa os dados comparativos entre a fase de linha de base e a

    avaliao final dos comportamentos da cliente indicativos de aquisio de habilidades de interao com o marido. Estes dados foram coletados mediante preenchimento das folhas de registro de monitorao pela cliente. Foram consideradas as ocorrncias registradas em trs folhas de registro preenchidas para cada uma das duas fases.

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    Linha de

    Base

    Avaliao

    Final

    Nvel de Ansiedade

    BDI

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    Linha de

    Base

    Avaliao

    Final

    Expresso de Opinies

    Expresso de Aprovao

    Expresso de Desagrado

    Expresso de Desejos eNecessidades

    Intensidade

    Freqncia

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    Figura 6 Demonstrao de habilidades verbais e no-verbais para comunicar-se com o marido, por meio de expresso de opinies, de aprovao, de desagrado, de desejos e necessidades, durante as fases de linha de base e avaliao final. Observa-se que, durante a fase de linha de base, o preenchimento de registros sobre adequao da Expresso de Opinies, Expresso de Aprovao e Expresso de Desejos e Necessidades apresentou uma nica ocorrncia para cada um dos trs comportamentos. J durante a fase de avaliao final estes comportamentos tiveram 5, 8 e 7 ocorrncias respectivamente.

    No que se refere Expresso de Aprovao, de 1 para 8 ocorrncias, este foi o comportamento que apresentou maior aumento de ocorrncias, se comparado aos outros trs. Isto pode ter ocorrido em funo da aprendizagem da cliente sobre reforamento positivo, o que depende, tambm, da discriminao dos comportamentos adequados do marido. Tal fato pode ter influenciado no aumento da freqncia de comportamentos adaptados por parte do parceiro, conforme mostra a Figura 7. Pode ser observado que o comportamento que menos aumentou de freqncia, se comparado aos outros trs, foi o de adequao na Expresso de Desagrado, de 0 para 2 ocorrncias. Isto pode indicar menor emisso de comportamentos considerados inadequados por parte do marido, bem como maior foco de ateno e discriminao dos comportamentos adequados deste por parte da cliente. Em sntese, houve um total de 3 ocorrncias dos comportamentos indicativos de habilidade verbal e no-verbal de comunicao por parte da esposa na fase de linha de base e um total de 22 ocorrncias dos mesmos comportamentos na fase de avaliao final. A Figura 7 representa os dados comparativos entre a fase de linha de base e avaliao final dos comportamentos do marido indicativos de habilidades de interao com a esposa, de acordo com a percepo desta. Estes dados foram coletados mediante preenchimento, feito pela esposa, das folhas de registro solicitadas. Foram consideradas as ocorrncias registradas em trs folhas de registro preenchidas para cada uma das duas fases.

    Figura 7 Demonstrao de habilidades por parte do marido, por meio de demonstrao de ateno, expresso de elogios e comunicao de desagrado por meio de apontamento e no de brigas, durante as fases de linha de base e avaliao final. Pode ser observado, a partir dos dados apresentados na Figura 7, que os comportamentos de Demonstrao de Ateno e Comunicao Adequada de Desagrado tiveram 2 ocorrncias, cada um, na fase de linha de base. Na fase de avaliao final, estes

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    Linha de

    Base

    Avaliao

    Final

    Demonstrao de Ateno

    Expresso de Elogios

    Comunicao Adequada deDesagrado

    Freqncia

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    mesmos comportamentos apresentaram-se com 8 e 4 ocorrncias respectivamente. Os dados mostram que as demonstraes de ateno para com a esposa aumentaram mais do que a necessidade de comunicar desagrado. J a Expresso de Elogios, passou de 0 para 5 ocorrncias, o que indica maior reconhecimento, por parte do marido, das qualidades da esposa durante a fase de avaliao final do processo teraputico. Resumindo, na fase de linha de base, houve um total de 4 ocorrncias dos comportamentos indicativos de demonstrao de habilidades por parte do marido para lidar com a esposa e um total de 17 ocorrncias dos mesmos comportamentos na fase de avaliao final. Os dados teraputicos apontam que tais resultados foram influenciados pela modificao dos comportamentos da esposa, participante das sesses de terapia, para com o marido, o que conseqentemente tambm foi essencial para a modificao dos comportamentos deste para com ela.

    Neste estudo, pde ser observado que a modificao de comportamentos da cliente contribuiu para a alterao de alguns comportamentos do parceiro, como conseqncia, j que, no caso descrito, as intervenes ocorrerem de forma unilateral. Sabe-se que a modificao do prprio comportamento aumenta a probabilidade de modificao das contingncias ambientais, o que por sua vez promove resultados no comportamento alterado, ou seja, estabelece-se um processo de retroalimentao. A partir dos dados apresentados acima se observa que a cliente adquiriu as habilidades necessrias para comunicar-se com o marido de forma assertiva. Alm disso, iniciou a execuo de atividades fsicas como forma de cuidar de si, restabeleceu antigas amizades, comeou a tomar a iniciativa de convidar o marido para algumas programaes de lazer, passou a planejar e executar atividades antes no realizadas e/ou interrompidas. Houve mudanas no comportar-se em relao a si mesma e aos outros.

    Apesar da conquista de tais resultados, houve, durante o perodo de avaliao final, trs episdios-problema. Para monitorar a manuteno dos ganhos teraputicos, sesses de acompanhamento mensais foram realizadas durante trs meses. Apesar de ocorrncias de alguns comportamentos considerados prejudiciais para a satisfatria relao conjugal, por parte de ambos, a cliente conseguiu aplicar os procedimentos aprendidos em variadas situaes e obter importantes mudanas em seu relacionamento afetivo.

    Consideraes Finais

    importante ressaltar que os resultados dos atendimentos dependeram da disponibilidade da cliente em questo para lidar com as contingncias aqui expostas e adeso ao procedimento teraputico, bem como da identificao da possibilidade de recuperao e estabelecimento de interaes conjugais adequadas.

    Vale enfatizar que cada caso clnico apresenta-se de forma diferenciada, podendo, em alguns casos, haver baixa probabilidade de ocorrncia de modificaes considerveis nos comportamentos de interao do casal, principalmente quando so realizadas intervenes apenas com um dos conjugues, como foi o caso.

    Houve importantes modificaes nos comportamentos apresentados pela cliente, como na habilidade de comunicao e assertividade, e conseqentes mudanas na forma de interao do casal. Entretanto, o trabalho teraputico funcionou com algumas limitaes, pois a participao do marido no processo teraputico seria um fator facilitador das intervenes. Neste caso, o processo teraputico realizado com a esposa atendeu a maior parte dos objetivos propostos, pois esta apresentava poucas habilidades verbais e no-verbais de comunicao que necessitavam de interveno individual.

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  • 12

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