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FACULDADE DE TEOLOGIA DA IGREJA METODISTA DONS E MINISTÉRIOS uma estrutura organizacional que visa a realizar a missão de Deus por Paulo Dias Nogueira Trabalho apresentado à Congregação da Faculdade de Teologia como requisito para conclusão do Curso de Bacharel em Teologia São Bernardo do Campo, outubro de 1994

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FACULDADE DE TEOLOGIA DA IGREJA METODISTA

DONS E MINISTÉRIOS uma estrutura organizacional que visa a realizar a missão de Deus

por

Paulo Dias Nogueira

Trabalho apresentado à Congregação da Faculdade de Teologia como requisito para conclusão do Curso de Bacharel em Teologia

São Bernardo do Campo, outubro de 1994

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A comissão tendo examinado o presente Trabalho Final de Curso, o considera

_________________

_______________________

Prof. Clovis Pinto de Castro

Orientador

_______________________

Prof. José Carlos de Souza

_______________________

Prof. Hélerson Bastos Rodrigues

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DEDICATÓRIA

À minha querida esposa Valéria Aparecida dos

Santos Nogueira, que com muito carinho e

compreensão compartilhou comigo os momentos

difíceis de minha formação teológico-pastoral. A

você todo o meu amor e gratidão pela amizade,

paciência, tolerância, companheirismo e

colaboração em momentos de necessidade.

“As muitas águas não poderão apagar o nosso

amor, nem os rio afogá-lo”. Ct 7.8

Aos meus pais, Gildo Nogueira e Maria Dias

Nogueira, pelo carinho com que me educaram.

Sou grato por todo o vosso amor e apoio. A

vocês todo o meu amor e admiração.

Às minhas irmãs, Patrícia, Perla e Priscila, pelo

apoio e incentivo dispensados nestes anos.

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AGRADECIMENTOS

A Deus...

... pelo privilégio concedido ao me vocacionar

para o ministério pastoral;

... pelo sustento que me propiciou nestes anos de

formação.

À Igreja Metodista na Quinta Região

Eclesiástica, que possibilitou minha vinda à

Faculdade de Teologia.

Ao meu orientador, professor Clovis Pinto de

Castro, pela disponibilidade e amizade.

Aos leitores, professor José Carlos de Souza e

professor Hélerson Bastos Rodrigues pelas

sugestões e orientações dispensadas.

À Rosilei Mantovani amiga e digitadora destas

páginas.

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ÍNDICE

Introdução ...................................................................................................................

Capítulo 1

Dons e Ministérios - Uma Igreja que busca realizar a Missão de Deus .....................

1. “De olho no retrovisor” ..........................................................................................

1.1. Uma missão norte-americana..........................................................................

1.2. Em busca de autonomia ..................................................................................

1.3. Em busca de uma estrutura organizacional comprometida com a Missão .....

1.4. Planos Quadrienais 1974 e 1978; Plano para a Vida e a Missão da Igreja ....

1.4.1. Missão e Ministério (Plano Quadrienal 1974-1978) ............................

1.4.2. Unidos pelo Espírito, Metodistas evangelizam (Plano Quadrienal

1979-1982) ....................................................................................................

1.4.3. Plano para a Vida e a Missão da Igreja - 1982 .....................................

1.4.4. As práticas de algumas Igrejas .............................................................

Capítulo 2

Dons e Ministérios - A Bíblia e a História como fontes inspiradoras .......................

1. Dons e Ministérios na Bíblia .................................................................................

1.1. Paulo e a organização em Dons e Ministérios ................................................

1.1.1. Definição das fontes paulinas ...............................................................

1.1.2. O uso da palavra dom (charisma) .........................................................

1.1.3. O uso das palavras Ministério e Ministro ............................................

1.1.4. A estrutura carismática da eclesiologia paulina ...................................

1.1.4.a. As listas dos carismas em Paulo ..............................................

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1.1.4.b. O carisma como “estrutura estruturante da comunidade” ........

1.1.4.c. Instruções paulinas à igreja de Corinto ....................................

2. Dons e Ministérios na História da Igreja Cristã ....................................................

2.1. Dons e Ministérios na Reforma Protestante ...................................................

2.1.1. O povo participa ativamente do culto ...................................................

2.1.2. Tradução da Bíblia para o alemão ........................................................

2.1.3. O lar como espaço para a instrução religiosa .......................................

2.1.4. A igualdade dos cristãos diante de Deus. Todos são sacerdotes ..........

2.2. Dons e Ministérios no Movimento Wesleyano do século XVIII ....................

Capítulo 3

Dons e Ministérios - Uma estrutura organizacional participativa e missionária .......

Conclusão ...................................................................................................................

Bibliografia ................................................................................................................

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INTRODUÇÃO

A Igreja Metodista tem por princípio administrativo reunir-se periodicamente

em concílios, para tratar de assuntos referentes à sua vida e missão. Os concílios são

"órgãos jurisdicionais",1 e constituem-se em três, a saber: Concílio Geral, Concílio

Regional e Concílio Local. O Concílio Geral é considerado "órgão superior de

unidade da Igreja e suas funções são legislativas, deliberativas e administrativas".2

No mês de julho de 1987, a Igreja Metodista se reuniu na cidade de São

Bernardo do Campo (SP), para realizar o seu XIV Concílio Geral. Concílio este que

tomou algumas decisões visando a organizar a igreja em Dons e Ministérios, uma

sistemática que optou, explicitamente, por um novo modelo de igreja.

No texto "Dons e Ministérios: Espiritualidade e Serviço", vemos os Bispos

relembrarem algumas das decisões deste XIV Concílio Geral.

O Concílio Geral da Igreja Metodista em 1987 tomou algumas decisões visando organizar a Igreja em Dons e Ministérios. a) Reafirmou o princípio conciliar para todos os níveis, inclusive igreja local e a descentralização do poder; b) a igreja local deixou de ser vista como uma unidade institucional, e sim como "Comunidade de fé"; c) enfatizou o sacerdócio universal de todos os crentes e a necessidade de todos se envolverem na Missão; d) reafirmou o conceito de Igreja e Missão percebida nos

1IGREJA METODISTA, Cânones 1992, São Bernardo do Campo, Imprensa Metodista, 1992, p. 16. 2Idem, p. 163 (artigo 54).

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últimos anos e presente no "Plano para a vida e a missão da Igreja"; e) reafirmou a unidade da Igreja e o princípio Metodista de conexionalidade. A igreja local é, assim, desafiada a dar oportunidades iguais a seus membros, de modo que expressem seus dons através de serviços prestados à comunidade e circunvizinhanças. Esse é o objetivo da Igreja de Dons e Ministérios. Dons que habilitam para o serviço, práticas que correspondam ao evangelho que é pregado. Com isso, surge uma exigência de maior liberdade de organização, a fim de utilizar os dons presentes nas comunidades, e a fim de atender às necessidades de serviço ao povo.3

Este Concílio Geral (1987), no que compete à sua capacidade de legislar,4

procurou ser mais enfático no que diz respeito à participação do laicato nos diferentes

ministérios, colocando entre os deveres dos membros:

7. Reconhecer seu chamamento como ministro de Deus para as diversas áreas da missão. 8. exercer seu ministério participando dos serviços da Igreja Metodista e da Comunidade.5

Continuando a analisar os Cânones da Igreja Metodista, aprovados pelo XIV

Concílio Geral, vemos que um grupo é reconhecido como Igreja, entre outras coisas,

"no exercício de Dons e Ministérios do Espírito Santo" (art. 121 b); compete ao

Concílio Local “reconhecer os dons das pessoas que se apresentam para exercê-los

nos ministérios da Igreja Local" (art. 128, nº 21); sendo que “o trabalho desenvolvido

nas Igrejas Locais toma a forma de ministérios por ela reconhecidos" (art. 135). Este

Concílio Geral estabeleceu a organização da Igreja Local, tendo como ponto de

partida os dons concedidos pelo Espírito Santo, os ministérios de seus membros e as

necessidades do serviço na comunidade.

Ao afirmarmos que, em 1987 (no Concílio Geral), a Igreja Metodista optou por

um novo modo de ser igreja, ou seja, uma igreja organizada em "Dons e Ministérios",

3COLÉGIO EPISCOPAL, "Dons e Ministérios: Espiritualidade e Serviço", in: Igreja: Comunidade Missionária a serviço do Povo, São Bernardo do Campo, Imprensa Metodista, 1991, p. 13-14. 4IGREJA METODISTA, op. cit., p. 163. 5Idem, p. 130.

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não estamos querendo dizer que esta opção tenha sido algo instantâneo ou mágico.

Por isso, este trabalho procura mostrar que esta decisão (opção) não aconteceu por

acaso.

O primeiro capítulo indica que esta decisão é conseqüência da luta da Igreja

Metodista brasileira por tornar-se “verdadeiramente” autônoma da Igreja Metodista

Episcopal do Sul. E também que ela tem suas raízes mais fortes nos planos

quadrienais de 1974 e 1978 e, principalmente, no Plano para a Vida e a Missão da

Igreja de 1982.

O segundo capítulo apresenta a Bíblia e a História da Igreja Cristã como fontes

inspiradoras deste novo modelo organizacional. A releitura da Bíblia e da História é

apresentada como sendo uma das motivações que levou a Igreja Metodista a optar por

Dons e Ministérios em 1987.

O terceiro capítulo apresenta Dons e Ministérios como uma estrutura

organizacional participativa e missionária. A Igreja, que se organizara por muito

tempo dentro de uma estrutura excessivamente burocrática de manutenção, optou em

1987 por uma estrutura organizacional mais flexível e condizente com sua proposta

ministerial.

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CAPÍTULO I

"DONS E MINISTÉRIOS"

uma igreja que busca realizar a missão de Deus

Ao afirmarmos que, em 1987 (no Concílio Geral), a Igreja Metodista optou por

um novo modo de ser igreja, ou seja, uma igreja organizada em "Dons e Ministérios",

não estamos querendo dizer que esta opção tenha sido algo instantâneo ou "mágico".6

Podemos afirmar, sim, que as decisões tomadas neste concílio (1987), principalmente

no que se refere ao movimento "Dons e Ministérios", são resultantes "de um longo

processo de avanços e retrocessos, que tem suas raízes mais fortes nos Planos

Quadrienais de 1974 e 1978 e, principalmente, no Plano para a Vida e a Missão da

Igreja de 1982".7

Se queremos entender o movimento "Dons e Ministérios” da Igreja Metodista

brasileira, não devemos nos limitar apenas na análise das decisões do XIV Concílio

Geral. Devemos, sim, dar crédito à história da Igreja Metodista no Brasil,

principalmente no que diz respeito à sua luta por tornar-se "verdadeiramente"

autônoma da Igreja Metodista Episcopal do Sul, procurando, assim, criar uma

6Termo utilizado pelo professor Clovis Pinto de Castro em sua dissertação de mestrado. Vejamos o que ele nos diz: "Na verdade, essa opção não pode ser vista como algo mágico". Ele refere-se à opção por Dons e Ministérios feita pelo XIV Concílio Geral da Igreja Metodista. 7CASTRO, Clovis Pinto de, Igreja Metodista: Ação pedagógica do Colégio Episcopal na implantação de um novo modelo de Igreja organizada em Dons e Ministérios (1987-1991), Piracicaba, Unimep, 1992, p. 23. (Dissertação de Mestrado).

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estrutura organizacional que respondesse à sua realidade de Igreja brasileira. Outro

ponto fundamental (que não trataremos neste trabalho) é que Dons e Ministérios

surgiu na década de oitenta, em meio a um contexto político bem diferente do

anterior. O crescimento do partido dos trabalhadores, o projeto Nova República, a

mobilização popular em torno do movimento das “diretas já” e a instalação do

Congresso Nacional Constituinte foram fatores que certamente influenciaram o

surgimento de um projeto de igreja mais democrática, participativa e descentralizada.

Para se falar de "Dons e Ministérios", devemos estar com os "olhos no retrovisor ", ou

seja, estarmos olhando para o que já se passou.

1. "DE OLHO NO RETROVISOR"

Um breve histórico do metodismo no Brasil

1.1. Uma missão norte-americana

O Metodismo chegou ao Brasil como fruto das missões da Igreja Metodista

norte-americana. Vejamos um breve resumo feito pelo professor Reily:

A primeira tentativa de vinda e fixação do Metodismo ao Brasil, naufragou diante da grande recessão econômica nos Estados Unidos, a qual inviabilizava a manutenção da pequena missão. Só depois da guerra civil americana é que os metodistas vieram para ficar. O primeiro núcleo metodista foi montado em Santa Bárbara D'Oeste, interior de São Paulo, onde , através de trabalho do Rev. Junias Gastham Newman, foi organizada uma paróquia Metodista entre norte-americanos que para ali tinham imigrado após a guerra. Por solicitação destes imigrantes vieram missionários metodistas para trabalhar junto aos brasileiros, utilizando o nosso idioma. O primeiro a chegar foi o Rev. J.

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J. Ransom. A Igreja Metodista no Brasil tem se destacado pelo seu trabalho educativo. A primeira de suas escolas foi fundada em 1881 em Piracicaba por miss Martha Hit Watts, gerando, com o crescimento, a atual “UNIMEP.8

Durante os anos de 1867 à 1930 (sessenta e três anos) o território brasileiro foi

considerado campo missionário da Igreja Metodista dos Estados Unidos. “A obra

missionária era desenvolvida sob o domínio quase absoluto da presença e ação dos

missionários nos pontos chave e de poder da Igreja”.9

A estrutura organizacional e administrativa montada pelos missionários era uma

cópia fiel do modelo utilizado na igreja norte-americana.

O metodismo era na realidade uma micro-sociedade, onde havia todos os

componentes necessários para a construção de uma nova vida cultural, era uma

extensão da sociedade norte-americana. Toda a ideologia apresentada aos brasileiros

serviu para conduzí-los a “uma profunda admiração e dependência do sistema

político-social norte-americano, e a um total alheamento da cultura e realidade

brasileiras”.10 Esta mentalidade norte-americana fez com que o metodista brasileiro

fosse indiferente à sua própria cultura; “sacralizando”, assim, o modo de viver destes

missionários.

Os missionários não hesitaram em pressionar e mandar de volta colegas que não concebiam a missão como o prolongamento dos usos e costumes americanos no Brasil. Dentre eles eu cito dois: - o pioneiro do metodismo no Brasil, que foi o rev. Ranson, foi pressionado a ir embora, precisamente por este motivo; e mais tarde o rev. Lee.11

8 REILY, Duncan Alexander, Igreja Metodista em 3 Tempos, Folheto distribuído pela Pastoral Universitária do Instituto Metodista de Ensino Superior, São Bernardo do Campo, sd. Para um melhor aprofundamento deste assunto, ler: SALVADOR, José Gonçalves, História do Metodismo no Brasil, São Bernardo do Campo, Imprensa Metodista, 1982. 9OLIVEIRA, Clory Trindade, Cem anos de Igreja Metodista do Brasil, in: Situações Missionárias na História do Metodismo, São Bernardo do Campo, Imprensa Metodista/Editeo, 1991, p.26. 10 Idem, p. 27. 11 Transcrição da palestra apresentada na 43ª Semana Wesleyana, na Faculdade de Teologia da Igreja Metodista, pelo professor Peri Mesquida, com o tema: “Estruturas Práticas do Poder na Igreja Metodista: da Inglaterra até o Brasil”, realizada em 25 de maio de 1994, às 14.00 horas, no Salão de

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Durante este período o metodismo brasileiro era totalmente submisso à Igreja

Metodista norte-americana.

1.2. Em busca de autonomia12

Num esforço para tornar a Igreja Metodista no Brasil, ou melhor, Igreja

Metodista Episcopal do Sul no Brasil, em Igreja independente da Igreja Metodista

norte-americana (ou seja, Igreja Metodista Episcopal do Sul), acontecerão três

conferências em 1929 (divididas por região), de onde sairá uma proposta de

autonomia da Igreja brasileira. Queria-se que:

as conferências anuais do Brasil fossem organizadas em Igreja autônoma, para que, tendo plena liberdade de se desenvolver como instituição nacional continuasse, contudo, em união com a Igreja Metodista Episcopal do Sul.13

A Igreja Metodista Episcopal do Sul (em sua conferência Geral, reunida em

maio de 1930 na cidade de Dallas, Texas, Estados Unidos da América), após ter

estudado a proposta enviada pela Igreja no Brasil, aprovou-a decretando assim a

autonomia da mesma.

Leitura da Faculdade de Teologia. Para um maior aprofundamento desta questão, pesquisar: MESQUIDA, Peri, Hegemonia Norte-Americana e Educação Protestante no Brasil, Juiz de Fora/SBC, UFJF/Editeo, 1994. 12 Este é um tema um tanto quanto vasto e complexo, que não queremos problematizar neste trabalho. Nos restringiremos a apresentar este acontecimento histórico a partir da análise dos seguintes textos: 1- IGREJA METODISTA, Cânones 1992, op. Cit., p. 9; 2- OLIVEIRA, Clory Trindade, Estrutura organizacional e administrativa do Metodismo (1965-1982), in: Caminhando, Revista da Igreja Metodista, São Bernardo do Campo, 1982, p. 35-46; e 3- SILVA, Geoval Jacinto da, Buscando situar-se na Missão Hoje, in: Situações Missionárias na História do Metodismo, São Bernardo do Campo, Imprensa Metodista/ Editeo, 1991, p. 49-55. Para um estudo mais aprofundado e crítico sobre este assunto, ler: 1- JOSGRILBERG, Rui de souza, O movimento da autonomia. Perspectiva dos nacionais, in: História, Metodismo, Liberações, São Bernardo do Campo, Editeo, 1990, p. 92-133; 2- REILY, D. A., Metodismo Brasileiro e Wesleyano, São Bernardo do Campo, Imprensa Metodista, 1981, p. 21-46; 3- ROCHA, Isnard, Histórias da história do Metodismo no Brasil, São Bernardo do Campo, Imprensa Metodista, sd, p. 129-142. 13 IGREJA METODISTA, Cânones 1992, op. cit, p. 9.

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Ainda que a Igreja Metodista do Brasil tenha se tornado autônoma com respeito

à Igreja Metodista Episcopal do Sul, ela continuará a organizar-se como um reflexo da

estrutura norte-americana.

A estrutura com a qual se organiza o metodismo autônomo no Brasil é a mesma, com pequenas modificações, usada pelo metodismo norte-americano conforme estabelecida na sua disciplina (cânones) de 1922.14

A Igreja que recebeu sua autonomia em 1930 continuou ainda sendo dirigida por

um bispo americano aposentado, que seguia a legislação da Igreja norte-americana.

“Só em 1934 é que surge uma legislação da Igreja brasileira e a eleição do primeiro

bispo nacional”.15

No decorrer dos trinta e cinco anos após a autonomia (1930-1965), a Igreja

Metodista do Brasil vai amadurecendo sua autonomia, embora recebendo uma

influência muito grande da Igreja norte-americana.

A forma organizacional da Igreja brasileira durante estes anos é descrita pelo

professor Clory Trindade, da seguinte maneira:

A estrutura organizacional e administrativa implantada no metodismo autônomo era uma estrutura de manutenção e não missionária, isto é, a estrutura representava uma maquinária pesada exigindo cuidados permanentes e recursos crescentes, desviando a dinâmica do trabalho da evangelização e ação social. A necessidade da jovem Igreja Metodista no Brasil era de ordem missionária e não de manutenção.16

14OLIVEIRA, Clory Trindade, Estrutura Organizacional e Administrativa do Metodismo (1965-1982), in: Caminhando, Revista Teológica da Igreja Metodista, São Bernardo do Campo, Imprensa Metodista, 1982, p.36. 15SILVA, Geoval Jacinto da, Buscando situar-se na Missão Hoje, in: Situações missionárias na história do metodismo, São Bernardo do Campo, Imprensa Metodista/Editeo, 1991, p. 49. 16OLIVEIRA, Clory Trindade, Estrutura Organizacional e Administrativa do Metodismo (1965-1982), op. cit., p.36.

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1.3. Em busca de uma estrutura organizacional comprometida com a missão.

Em 1965, a Igreja Metodista do Brasil revelava os primeiros sinais de uma

Igreja a caminho de sua plena autonomia. No Concílio Geral deste ano se farão

algumas alterações na carta constitucional, em relação a 1960, principalmente nas

sessões: das ordens, do ministério, do episcopado, das responsabilidades morais e

administrativas. Podemos dizer que este concílio refletiu um pouco da crise que o país

enfrentava, com as conseqüências da Revolução de 1964. O Bispo Paulo Ayres nos

apresenta, ainda que sucintamente, uma análise de conjuntura da Igreja Metodista do

final dos anos cinqüenta e anos sessenta, destacando os seguintes aspectos ocorridos:

... incidente (não devidamente explicado) da renúncia do bispo César em 1955, a pressão para o estabelecimento de novas regiões (em parte devida ao regionalismo xenófobo crescente na Igreja), a crise na Faculdade de Teologia em 1962 (exoneração do reitor Natanael I. do Nascimento; eleição e renúncia do professor Almir dos Santos), a esquerdização do movimento da juventude Metodista (“ser cristão é ser da esquerda” Richard Shaull), o movimento da direita denominado “Esquema” em 1965, os impasses do Concílio Geral de 1965.17

O Concílio Geral de 1970 vai receber o impacto de todas estas crises. O Rev.

Clory Trindade diz o seguinte: “O Concílio Geral de 1970/71 é o mais tumultuado da

história do metodismo no Brasil. Pela primeira vez um Concílio é suspenso, voltando

sua continuidade seis meses após, em janeiro de 1971”.18 Já o professor Geoval

Jacinto da Silva (atual bispo da 3ª Região Eclesiástica) nos diz o seguinte com

respeito à década de setenta: “A década de setenta surge como esperança e

possibilidade de articular e elaborar as bases para uma igreja que esteja comprometida

com a missão”.19

17 MATTOS, Paulo Ayres, A Questão da unidade Metodista (ou da Unidade que temos à Unidade que precisamos), in: Luta pela Vida e Evangelização, São Paulo, Paulinas, 1985, p. 299. 18OLIVEIRA, Clory Trindade, Estrutura Organizacional e Administrativa do Metodismo (1965-1982), op. cit., p.37. 19SILVA, Geoval Jacinto da, Buscando situar-se na Missão Hoje, op. cit., p. 50.

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Como vimos até agora, a Igreja Metodista no Brasil viveu por muito tempo

organizada dentro de uma estrutura proposta pelo metodismo norte-americano. A

década de setenta é considerada a década de mudanças (podemos dizer, mudanças

“radicais”). A Igreja enfatiza mais a missão, e por isso quer deixar a estrutura de

manutenção e organiza-se numa estrutura missionária. Uma estrutura que permita

responder ao chamado de Deus, para a implantação de Seu Reino no mundo, e em

particular na América Latina.

Esse Concílio Geral (1970/71) promoveu grandes modificações no que diz

respeito à estrutura organizacional e administrativa da Igreja Metodista. Se

compararmos esta nova estrutura aprovada com a antiga (1930-1965), veremos quão

profundas foram estas modificações.20 O objetivo maior destas modificações era o de

construir uma estrutura organizacional e administrativa que fosse mais brasileira.

Pensava-se que, com o abrasileiramento da estrutura, seria possível exercer-se o

verdadeiro papel da Igreja, que é promover a Missão de Deus.

Uma das coisas que se pretendia alcançar com estas modificações era a de

“enxugar-se a máquina”. Como já dissemos acima, a estrutura norte americana, com a

qual o metodismo brasileiro se organizava, era de manutenção, uma estrutura pesada,

burocrática e sem fins missionários. Tendo em vista “enxugar” um pouco a máquina,

esse Concílio Geral (1970/71) aprovou a eliminação de “um” dos “cinco” níveis de

estrutura da Igreja. O nível eliminado foi o Paroquial, permanecendo então apenas os

níveis Local, Distrital, Regional e Geral.

Outro ponto que se pretendia era o de dar um espaço maior ao leigo.

Examinando todas as modificações estruturais, nos vários níveis da Igreja, vemos que

“há um processo de laicização do poder”.21 Alguns órgãos passam a ser dirigidos por

20 Isto pode ser comprovado se compararmos os Cânones de 1970/71 com o anterior. 21OLIVEIRA, Clory Trindade, Estrutura Organizacional e Administrativa do Metodismo (1965-1982), op. cit., p.39.

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leigos, em outros, ainda que não estejam presidindo, eles terão espaço como os

clérigos.

Foi neste Concílio também que a denominação deixou de ser “IGREJA

METODISTA DO BRASIL” passando a ser chamada apenas por “IGREJA

METODISTA”.

Analisando os Cânones da Igreja Metodista de 1971, vemos que uma outra

alteração básica foi a modificação da seção sobre Fins da Igreja, em Missão da

Igreja.22 O rev. Clory afirma que esta alteração significa que a Igreja passa “de uma

filosofia empresarial, secular, para uma filosofia missionária, de um enfoque

individual para um enfoque mais amplo, de caráter social”.23

Houve outras modificações tanto na Carta Constitucional quanto nas Leis

Adjetivas, mas não nos referiremos a elas.24

Podemos afirmar que o Concílio Geral de 1970/71 marcou profundamente o

metodismo brasileiro. Ele apresentou alguns novos rumos para a atuação da Igreja. O

Rev. Clory Trindade nos diz: “A mudança da estrutura organizacional e

administrativa, foi o meio usado para dar forma concreta às aspirações”.25 A Igreja

Metodista do Brasil por muito tempo aspirava uma Igreja mais brasileira e mais

missionária. Julgava que certas estruturas estavam envelhecidas, e os resultados já não

satisfaziam mais. Este Concílio (1970/71) tornou-se assim o momento de se realizar

essas mudanças aspiradas por muitos.

22IGREJA METODISTA, Cânones 1971, São Bernardo do Campo, Imprensa Metodista, 1971, p. 11. 23OLIVEIRA, Clory Trindade, Estrutura Organizacional e Administrativa do Metodismo (1965-1982), idem, p.41. 24 Para um maior aprofundamento com respeito a estas modificações da estrutura organizacional e administrativa da Igreja, na Carta Constitucional e também nas Leis Adjetivas (todas citadas acima), ler: OLIVEIRA, Clory Trindade, Estrutura Organizacional e Administrativa do Metodismo (1965-1982), op. cit. & IGREJA METODISTA, Cânones 1971, São Bernardo do Campo, Imprensa Metodista, 1971, op. cit., comparando com o Cânones de 1978. 25OLIVEIRA, Clory Trindade, Estrutura Organizacional e Administrativa do Metodismo (1965-1982), idem, p.44.

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Ainda que tenham sido feitas modificações na estrutura organizacional e

administrativa da Igreja Metodista, neste Concílio Geral, “faltava, ainda, um plano

que pudesse aprofundar esse processo”.26 Nasce então em 1974 o primeiro Plano

Quadrienal, realmente brasileiro, com propostas renovadoras e missionárias.

Desencadeado o processo, com as modificações estruturais, logo mais a nova filosofia subjacente busca sua expressão, o que vai acontecer em 1974, com a elaboração do primeiro plano quadrienal, realmente brasileiro, e que representava uma nova teologia, numa nova visão missionária, chamando por mais renovadas formas institucionais. A missão é a fonte, o reino de Deus é o ponto de chegada, a libertação e o ministério de todos são a dinâmica, o Brasil e a sua cultura são o lugar e a forma da missão libertadora do evangelho de Cristo.27

1.4. Planos Quadrienais 1974 e 1978; Plano para a Vida e a Missão da Igreja e a

prática de algumas igrejas

Como já vimos, no Concílio Geral de 1974 nasce o primeiro Plano Quadrienal

plenamente brasileiro. Seu título é: “Missão e Ministério”. Seguindo a mesma linha do

plano anterior, o Plano Quadrienal de 1978, com o título: “Unidos pelo Espírito,

Metodistas Evangelizam”, foi aprovado pelo Concílio Geral deste ano (1978). O plano

posterior ao de 1978 foi o de 1982. Um plano que “apesar de dar seqüência aos

Planos Quadrienais, é um documento com características diferentes”.28

Se afirmamos que “Dons e Ministérios” tem suas raízes mais fortes nestes

documentos,29 devemos então, neste momento, analisar um pouco a história e o

conteúdo dos mesmos.

26CASTRO, Clovis Pinto de, op. cit., p. 48. 27 OLIVEIRA, Clory Trindade, Estrutura Organizacional e Administrativa do Metodismo (1965-1982), idem, p.44. 28CASTRO, Clovis Pinto de, op. cit., p. 50. 29 Verificar a página 10 deste trabalho.

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1.4.1. Missão e Ministério (Plano Quadrienal - 1975-1978)

A Igreja Metodista reuniu-se em Concílio Geral nos dias 4 a 14 de julho de

1974, no Instituto Bennett de Ensino, na cidade do Rio de Janeiro. Tal Concílio

aprovou um documento chamado Plano Quadrienal (1975-1978), que trazia o seguinte

título: Missão e Ministério”. O rev. Geoval Jacinto da Silva afirma que “desde o

início dos anos setenta havia uma preocupação por parte do Conselho Geral em

formar um grupo para elaborar um Plano de Trabalho para a Igreja”.30 Com respeito à

elaboração e aprovação deste Plano Quadrienal, o prof. Clovis faz a seguinte

ponderação:

A elaboração do Plano foi bastante participativa. Houve um envolvimento de vários setores e segmentos da Igreja. A sua aprovação no Concílio Geral só aconteceu após quatro dias de muitas reuniões em grupos, para um estudo mais aprofundado.31

Podemos dizer que este Plano Quadrienal é o fruto da vontade da própria Igreja.

Se no Concílio Geral de 1970/71 ela havia aprovado mudanças estruturais na

organização e administração, em 1974 ela irá aprovar um Plano que venha a

aprofundar este processo. A Igreja está em busca de realizar a missão de Deus. Quer

conscientizar seus membros da necessidade de se envolverem na obra missionária. Por

isso, entre outros elementos existentes no Plano, encontramos os seguintes:

Reconhecemos ainda: 1) Que ministério é a Igreja Total, todos os seus membros; 2) que pastor e membro da igreja completam-se e completam a Igreja para o desempenho da sua Missão; 3) Que o ministério pastoral carece de uma reavaliação...; 4) que o ministério do crente não tem sido devidamente compreendido pela Igreja como essencial à Missão, e por isso carece de presença e ação no corpo de Cristo; 5) que a missão implica em testemunho, nas

30 SILVA, Geoval Jacinto da, op. cit., p. 50. 31CASTRO, Clovis Pinto de, op. cit., p. 47.

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diferentes áreas da vida, que indivíduos e grupos dão da obra de Deus em Jesus Cristo e em apelo para que os homens participem dessa obra, pela fé, e se comprometam com ela, sendo para isso equipados pelo Espírito Santo.32

Após apresentar suas considerações, reconhecendo as necessidades de mudança

da Igreja, teremos algumas propostas apresentadas neste plano. Podemos ver, tanto

nas considerações acima, quanto nas propostas abaixo, que este plano apresenta

realmente o início de um processo, que levaria a Igreja Metodista brasileira a optar,

em 1987, por um modelo de igreja organizada segundo os Dons e Ministérios.

Vejamos as propostas do Plano:

Propomos, portanto: A) Que tudo na Igreja Metodista (ministérios, instituições educacionais e de serviço, igrejas locais, congregações, sociedades e grupos e o próprio patrimônio) passe a existir em função da Missão e do testemunho cristão, em todas as áreas de ação da Igreja; B) Que a primeira tarefa da Igreja Metodista., agora, seja a de despertar o povo de Deus (pastor e laicato) para descobrir o seu lugar na Missão; C) Que esse despertamento se faça através do preparo devocional, teológico e doutrinário do pastor, primeiramente, e a seguir, do laicato (pastor preparado prepara para a Missão); D) Que todos (Bispo, pastor e membro da Igreja) zelem para que a Missão se cumpra fielmente, nas suas respectivas áreas de ação; E) Que o culto a Deus seja o “momento”, no espaço, para onde converge o povo e de onde emerge a Missão.33

Podemos também afirmar que este Plano (1975-1978) tinha uma direção clara,

pois prosseguia rumo a uma igreja mais participativa e ministerial. Tinha como alvo

envolver todos os membros da Igreja (leigos e clérigos) na obra missionária. Vejamos

o que ele diz com respeito a seus objetivos:

O objetivo do presente trabalho é conscientizar-nos do programa de ação da Igreja, como serva de Jesus Cristo, para libertar totalmente o Homem, através do poder do Evangelho, do pecado, do sofrimento, do medo e da morte,

32IGREJA METODISTA, Conselho Geral, Plano Quadrienal 1975-1978, São Bernardo do Campo, Imprensa Metodista, 1974, p. 8. 33 Idem, p. 8-9.

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dando-lhes a paz da fé mediante a nova vida em Cristo Jesus. Será um guia para a aplicação docente da Igreja nas igrejas locais, instituições de ensino e outras organizações que a Comunidade Metodista possui. Orientará o ministério no exercício da Missão em sua totalidade de leigos e clérigos. Conscientizará a todos para o alistamento nesta grande obra ministerial durante o quadriênio e, futuramente, até o tempo que for da vontade do Senhor.34

Reconhecemos, tendo em mente principalmente a parte final desta citação, que a

vontade de Deus foi além deste quadriênio (1975-1978), e que este Plano foi apenas o

início de uma nova caminhada. Podemos afirmar que, em 1974, a Igreja Metodista

começa a traçar algumas linhas mestras, que trilhará futuramente. Analisando este

Plano, encontramos claramente a “semente” de onde brotará a opção por Dons e

Ministérios (1987).

1.4.2. Unidos pelo Espírito, Metodistas Evangelizam (Plano Quadrienal

1979-1982)

No ano de 1977 o Conselho Geral35 constituiu um Grupo de Trabalho para

elaborar o anteprojeto do Plano Quadrienal para o período 1979-1982. O anteprojeto,

elaborado pelo Grupo de Trabalho, foi aprovado pelo Conselho Geral, que o

encaminhou ao XIII Concílio Geral da Igreja Metodista em 1978.

O documento enviado teve “a aprovação do plenário do Concílio Geral da Igreja

Metodista no Brasil, realizado de 23 à 30 de julho na cidade de Piracicaba, estado de

São Paulo”;36 tendo o seguinte título: Unidos pelo Espírito, Metodistas

Evangelizam.

34 Idem, p. 6. 35 Conforme o artigo 73, 1 dos Cânones da Igreja Metodista de 1974, “compete ao Conselho Geral formular as linhas de ação, submetidas à aprovação do Concílio Geral”. 36 IGREJA METODISTA, Conselho Geral, Plano Quadrienal 1979-1982, São Bernardo do Campo, Imprensa Metodista, 1978, p. 3.

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Após uma pesquisa, reconheceu-se que o Plano Quadrienal de 1975-1978 foi em

seu todo considerado bom. Seguindo então o mesmo pensamento que o Plano anterior,

o Plano Quadrienal de 1979-1982, continuará caminhando rumo a uma Igreja

missionária, onde todos os seus membros (clérigos e leigos) participam desta obra

evangelizante. Continua-se a caminho de uma Igreja ministerial, onde todos são

considerados ministros.

Antes mesmo de expor seus objetivos, o Plano nos apresentará algumas

afirmativas que julga ser importantes. Estaremos citando algumas:

1- O propósito de Deus é salvar o ser humano, concedendo-lhe nova vida à imagem de Jesus Cristo, integrando-o no seu reino, através da ação e poder do Espírito Santo, a fim de que, como Igreja, constitua neste mundo e neste momento histórico, sinais concretos do Reino de Deus. 2- A missão da Igreja é participar da ação de Deus nesse propósito (...) 10- O viver humano, nestes dias, é altamente condicionado pela técnica, pelo consumismo imediato, pelos falsos valores do materialismo, pela massificação, pelo esquema de uma sociedade mercantilista. Sente-se a imperiosa necessidade de permitir ao ser humano a criação de situações nas quais ele tenha um confronto com a pessoa salvadora e libertadora de Jesus Cristo. Urge anunciar uma notícia boa no meio de tantas más notícias. Urge evangelizar. (...) 13- Tudo na Igreja Metodista: ministérios, instituições educacionais e de serviço, igrejas locais, congregações, sociedades e grupos e o próprio patrimônio, existe em função da Missão, isto é, do testemunho, serviço e evangelização. 14- Todos os membros da Igreja pelo fato de pertencerem ao povo de Deus através do batismo, são ministros do evangelho. São chamados por Deus, preparados pela Igreja para, sob a ação do Espírito Santo, cumprirem a missão, em testemunho, serviço e evangelização.37

Somente então, após apresentar estas afirmativas (dentre as quais citamos

apenas algumas), é que serão expostos os objetivos deste Plano. Como veremos, este

37 Idem, p. 13-14.

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Plano continuará insistindo na conscientização da Igreja em participar plenamente na

obra missionária. Vejamos o objetivo geral do Plano:

Objetivo Geral: orientar o povo metodista na sua vivência cristã sob a dinâmica do Espírito Santo que, em unidade, crescimento e serviço, promove a evangelização, em meio à realidade concreta do mundo.38

Quando afirmava isto, estava preocupado em levar o povo metodista a alguns

objetivos operacionais, tais como:

1- A compreensão de que a evangelização é uma atitude natural e necessária de todo o cristão que esteja vivendo a nova vida em Cristo, vitalizada pela ação poderosa do Espírito Santo. Isto é o que aprendemos na Palavra de Deus, especialmente em Atos 2.42-47, 4.32-35, 9.32, entre muitos outros textos (...) 5- À consciência de que o Espírito Santo é a presença, o poder e ação na vida da Igreja (...) 9- À ação evangelizadora e pessoal e comunitária, através dos mais diversos meios de expressão e comunicação. 10- Ao conhecimento da problemática social, econômica e cultural do mundo contemporâneo. 11- À vida de serviço cristão (...) 13- À reconsagração de todo o povo metodista como ministros de Deus.39

Não podemos deixar de reconhecer que neste Plano também encontramos alguns

vestígios de um movimento que culminaria na opção por Dons e Ministérios. Temos

aqui, então, um pequeno desenvolvimento da “semente” lançada pelo Plano

Quadrienal de 1974.

1.4.3. Plano para a Vida e Missão da Igreja Metodista (1982)

38 Idem, p. 16. 39 Idem, p. 16-17.

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O XIII Concílio Geral da Igreja Metodista foi realizado em Belo Horizonte -

MG, no período de 18 a 28 de julho de 1982, nas dependências do Instituto Isabela

Hendrix. Este Concílio Geral aprovou um documento denominado “Plano para a

Vida e a Missão da Igreja”, reconhecendo ser este um Plano que dava continuidade

aos dois Planos anteriores.

Este Plano (PVMI) surgiu como resultado da Consulta Nacional de 1981. Uma

consulta realizada no Rio de Janeiro, que visava a avaliar a vida e a missão da Igreja, e

que também é reconhecida como o principal evento da celebração de 50º aniversário

da autonomia da Igreja Metodista brasileira. O professor Clovis afirma: “os resultados

desta consulta não agradaram aos setores mais conservadores e carismáticos da Igreja;

por outro lado, marcaram um avanço significativo dos setores mais progressistas da

IM”.40

Ainda que este Plano (PVMI) seja uma continuidade dos dois Planos anteriores,

ele terá algumas características particulares que o diferenciará dos anteriores.

Um dos pontos que o diferencia dos dois “Planos Quadrienais” anteriores (1974

e 1978) é que este não propõe um programa de ação para um quadriênio, mas sim

apresenta algumas linhas gerais que visam a orientar a ação da Igreja por um período

indeterminado. Na própria introdução deste documento (PVMI), vemos descrito

porquê seria importante aprovar um plano que não se limitasse a um quadriênio:

A experiência do Colégio Episcopal e de vários segmentos da Igreja Metodista nestes últimas anos indica que o metodismo brasileiro está saindo da profunda crise de identidade que abalou nossa Igreja após a primeira metade da década de sessenta. Estas experiências nos têm mostrado que a Igreja necessita de um plano geral, que inspire sua vida e programação, e que não será dentro do curto espaço de um quadriênio, que corrigiremos os antigos vícios que nos impedem caminhar. Esse fato esteve claro na semana da consulta Vida e Missão, e no documento que ela

40CASTRO, Clovis Pinto de, op. cit., p. 51.

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produziu. Ao adotarmos aquele documento como a base do novo plano, estamos propondo ao Concílio não mais um programa de ação para o quadriênio, mas linhas gerais que deverão orientar toda a ação da Igreja nos próximos anos, enquanto necessário, devendo ser avaliado periodicamente.41

O rev. Ely Éser Barreto César42 faz uma introdução do Plano, na segunda sessão

regular do XIII Concílio Geral da Igreja Metodista, onde apresenta como sendo três as

fontes que fundamentam o novo Plano (PVMI).

O documento está fundamentado em três fontes: a) Texto básico da consulta Vida e Missão, realizada pelo Conselho Geral como parte das comemorações do Jubileu de Ouro da autonomia da Igreja Metodista. b) documento enviado pelo Colégio Episcopal ao Conselho Geral, contendo objetivos, bases, metas e prioridades para o próximo quadriênio; c) texto do atual Plano Quadrienal, especialmente a parte relativa às áreas da Missão e sua estruturação.43

O “Plano para a Vida e a Missão da Igreja” foi exaustivamente examinado pelo

conciliares, que se dividiram em onze grupos para discutir este documento antes de

levá-lo ao plenário. Ainda que houvesse alguns pontos polêmicos em torno deste

documento, após sofrer algumas alterações em sua redação, foi aprovado pela maioria

do plenário. Vejamos a redação da Ata, no que diz respeito à aprovação deste

documento em 1982:

APROVAÇÃO GLOBAL DO “PLANO PARA A VIDA E A MISSÃO DA IGREJA”: O presidente declara em ordem, como matéria para ser aprovada globalmente, depois de exaustivamente examinada, o “Plano para a Vida e a Missão da Igreja”. Setenta e oito conciliares votam a favor, dois, contrariamente e um em branco. Aprovado (documento nove).44

41IGREJA METODISTA XIII CONCÍLIO GERAL, Plano para a Vida e a Missão da Igreja Metodista, in: Cânones 1992, p. 61. 42 O rev. Ely Éser Barreto César fazia parte do Conselho Geral, e por isso apresentou ao Concílio o Plano para a Vida e a Missão da Igreja que eles haviam elaborado, através do Grupo de Trabalho. 43 IGREJA METODISTA XIII CONCÍLIO GERAL, Atas e Documentos, Belo Horizonte, p. 10. 44 Idem, p. 28.

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Em sua dissertação de mestrado, o professor Clovis Pinto de Castro nos

relembra que este Concílio Geral de 1982 foi um tanto quanto conturbado, em virtude

de estar discutindo questões muito polêmicas.

É bom lembrar que o XIII Concílio Geral foi marcado também por outras questões mais polêmicas, entre elas a integração da Igreja Metodista no Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC), que foi aprovada só com cinco votos de diferença - 45 a favor e 40 contrários, e a transferência da administração do Instituto Metodista de Ensino superior (IMS), da Área Geral para a 3ª RE, com 44 votos favoráveis e 33 votos contra.45

Neste momento queremos passar para uma análise deste plano. Não estaremos

preocupados em analisá-lo em seu geral, mas apenas algumas partes que estejam

apontando na direção de uma Igreja Ministerial.

Como já dissemos, e queremos relembrar neste momento, o “Plano para a Vida

e a Missão da Igreja é continuação dos Plano Quadrienais de 1974 e 1978”.46 Como

continuidade, ele enfatizará a necessidade de se envolver tudo e todos da Igreja na

Missão de Deus. Não há um rompimento com os dois planos anteriores (1974-1978),

mas sim, uma continuidade do processo iniciado no plano de 1974. A Igreja continua

preocupada em direcionar todos os seus esforços para a missão.

Preocupado com a má interpretação que poderia surgir a respeito da palavra

Missão, este plano apresentará uma definição da mesma.

O que é Missão? Missão é a construção do Reino de Deus, sob o poder do Espírito Santo, através da ação da comunidade cristã e de pessoas, visando o surgimento da nova vida trazida por Jesus Cristo para a renovação do ser

45 CASTRO, Clovis Pinto de, op. cit., p. 52. 46IGREJA METODISTA XIII CONCÍLIO GERAL, Plano para a Vida e a Missão da Igreja Metodista, op. cit, p. 61.

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humano e das estruturas sociais, marcados pelos sinais da morte.47

O Documento (PVMI) convoca a Igreja Metodista a “experimentar de modo

cada vez mais claro que sua principal tarefa é repartir fora dos limites do templo o que

ela de graça recebe do seu Senhor”.48 A Missão de Deus no mundo é o

estabelecimento do Seu Reino. A tarefa da Igreja é a de participar deste ato, realizando

assim sua principal tarefa, a evangelização.

Para a realização desta obra, a Igreja deve reconhecer, entre outras necessidades,

a de um auto-conhecimento. A Igreja precisa “descobrir suas possibilidades e seus

Dons e valorizar seus ministérios para alcançar a participação total do povo na Missão

de Deus”.49 Vemos aqui que a semente lançada, em 1974, começa a desenvolver-se

com maior intensidade. A Igreja sabe que, para realizar a Missão de Deus, ela precisa

valorizar os Dons existentes no seu meio. Seus membros são chamados a trabalhar na

Missão de Deus, participando com seus dons, realizando seus ministérios. Vejamos o

que o documento nos apresenta sobre o ato de trabalhar na Missão de Deus:

-é trabalhar para o Senhor do Reino num mundo espremido pelas forças do pecado e da morte, participando, como comunidade, com dons e serviços para o nascer da vida (Jr 1.4-10; Fp 1.18-26, 3.10-11; II Tm 1.10; Jo 3.14); - É somar esforços com outras pessoas e grupos que também trabalham na promoção da vida (Mc 9.38-41; At 10.28, 15.8-11).50

Para que a Igreja venha a realizar esta missão, este plano reconhece também a

necessidade de se utilizar ferramentas e métodos adequados. Entre algumas das

ferramentas, ele nos apresenta a seguinte:

Na Igreja e na comunidade hoje encontramos novos desafios que exigem ferramentas adequadas. Uma destas,

47 Idem, p. 74. 48 Idem, p. 74. 49 Idem, p. 69. 50 Idem, p. 50.

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por exemplo, é a participação de todos os membros da Igreja, homens e mulheres, nos diferentes níveis de decisão.51

Como vimos, o Plano para a Vida e a Missão da Igreja não interrompeu o

processo iniciado em 1974. Ele preservou a linha de pensamento, rumo a uma Igreja

missionária., onde todos os membros desta Igreja são convocados a participar da

Missão de Deus.

Podemos dizer que este plano não é apenas uma fonte, mas sim uma parte

integrante do Movimento Dons e Ministérios. Pois ainda que em 1987 a Igreja

Metodista tenha optado por um novo modelo de ser Igreja, ou seja, uma Igreja

organizada em Dons e Ministérios, ela não abandonará o Plano para a Vida e a Missão

da Igreja. Os Cânones, em nota explicativa sobre o Concílio Geral de 1987, fazem a

seguinte ponderação:

Passados cinco anos, o XIV Concílio Geral aprovou que os dons e ministérios, exercidos nos diferentes níveis da vida da Igreja, fossem tomados como elementos básicos para a sua estruturação. A organização da igreja, portanto, deve ser conseqüência da descoberta das necessidades e dos desafios missionários e do exercício dos dons e ministérios suscitados pelo Espírito Santo como resposta a tais desafios. Dentro deste novo contexto estrutural eclesiástico, o Plano para a Vida e a Missão da Igreja continua sendo instrumento básico para a prática missionária da Igreja Metodista.52

O Plano para a Vida e a Missão da Igreja é o ideário que leva esta Igreja,

organizada em Dons e Ministérios, a realizar uma prática missionária (estaremos

falando mais sobre isto no 3º capítulo).

51 Idem p. 73. 52 IGREJA METODISTA, Cânones 1992, São Bernardo do Campo, Imprensa Metodista, 1992.

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1.4.4. As Práticas de algumas Igrejas

Se afirmamos que “Dons e Ministérios” não nasceu do nada, mas que é fruto

histórico de uma Igreja que busca realizar a missão, devemos então reconhecer que,

além das influências dos planos anteriores,53 este plano será resultado de uma prática

já existente em algumas igrejas metodistas, vejamos o que os Bispos afirmam no

relatório prestado ao XIV Concílio Geral:

Em formas mais diversas possíveis motivados por circunstâncias diferentes, regiões, igrejas locais, lideranças leigas e pastorais têm sido inspiradas e mobilizadas, na direção dos Dons e Ministérios. Cremos ser uma ação do Espírito presente, de forma dinâmica, na vida da IM. Devemos estar atentos a esta manifestação e procurar na vivência da igreja local, da região e da área geral, estabelecer nova configuração para a igreja, fundada não em cargos e poderes, mas em Dons e ministérios.54

Podemos afirmar que esta prática, já existente nas igrejas locais, em organizar-se

em ministérios, seja resultado da implantação do Plano para a Vida e a Missão da

Igreja. Ainda que este plano tivesse apresentado uma nova linha de pensamento para a

igreja, ele não mexia nas estruturas organizacionais. Seria necessário uma nova

maneira de organizar-se, se é que a igreja queria cumprir as exigências deste Plano.

Veremos que é na Quinta Região que encontramos o maior núcleo de Igrejas se

organizando desta maneira, ou seja, em ministérios alternativos. Este fato se deu

devido ao projeto regional denominado Agentes da Missão. Este projeto tinha como

seu principal objetivo “permitir que cada metodista se decida por um ministério e

receba a nutrição para exercê-lo no mundo, fora das quatro paredes do templo”.55

53 Os Planos referidos são: Plano Quadrienal (1975-1978), Plano Quadrienal (1979-1982), Plano para a Vida e Missão da Igreja (1982). 54IGREJA METODISTA XIV CONCÍLIO GERAL, Relatório do Colégio Episcopal, São Bernardo do Campo, julho de 1987, p. 10. 55CÉSAR, Ely Éser Barreto, Uso da Bíblia na prática de nosso Ministério, Piracicaba, Agentes da Missão, 1988, p. 03.

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No Relatório da Execução do projeto integrado “Agentes da Missão”,

apresentado ao XII Concílio Regional da Quinta Região, vemos que essa experiência

foi de grande importância no planejamento do Programa Dons e Ministérios da Igreja

Nacional.

Todos os secretários de área da 5ª Região e os presidentes de federações e a Diretoria das crianças participaram, em março, na Sede Geral da Igreja Metodista, do Encontro Nacional de líderes para se planejar a implantação do Projeto Dons e Ministérios em todo o país. A contribuição da 5ª Região, dada a nossa experiência na primeira etapa recém-finda, foi decisiva.56

No próximo Concílio da Quinta Região Eclesiástica (XVIII), o Bispo Messias

Andrino apresenta a Quinta Região como sendo uma região que já havia

experimentado o exercício dos Dons e Ministérios, mesmo antes da deliberação do

XIV Concílio Geral.

A Quinta Região Eclesiástica é, reconhecidamente, uma das regiões metodistas que vem acumulando muita experiência no exercício dos Dons e Ministérios, em seu programa “Agentes da Missão”. Aqui ele não foi criado ou desenvolvido de modo isolado. A prova disso é que agora o XIV Concílio Geral o consagra como programa nacional. O positivo é que ele tem dado vários frutos na nossa Região. As poucas igrejas locais que o adotaram estão demonstrando muita vitalidade. Desta forma devemos reconhecer como positivo, podemos iniciar o quadriênio, e uma nova administração, com um programação para a qual, e de muitas maneiras, já estamos preparados. Esperamos que este fato contribua para o crescimento, em unidade, de todas as forças vivas da Região. Assim como o compromisso missionário uniu os cristãos do passado, temos razões para esperar que este mesmo fato se repita entre nós.57

56IGREJA METODISTA, XVIII Concílio Regional da 5ª Região Eclesiástica, Atas, Registros e Documentos, São Bernardo do Campo, Imprensa Metodista, sd, p. 57. 57 IGREJA METODISTA, XIX Concílio Regional da 5ª Região Eclesiástica, Atas, Registros e Documentos, São Bernardo do Campo, Imprensa Metodista, sd, p. 131.

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Como já vimos nas afirmações citadas, a prática da Igreja também foi um dos

motivos que levaram o Concílio Geral de 1987 a optar por um modelo de Igreja

organizada em Dons e Ministérios.

Podemos concluir este capítulo relembrando a afirmação feita no início do

mesmo: as decisões tomadas no XIV Concílio Geral (1987), principalmente no que se

refere ao novo modelo de igreja, são resultantes deste longo processo (movimento)

que descrevemos no decorrer deste capítulo. Dons e Ministérios é o fruto histórico de

uma Igreja que visa a realizar a Missão de Deus.

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CAPÍTULO II

“DONS E MINISTÉRIOS”

a Bíblia e a História como fontes inspiradoras

Afirmamos, no primeiro capítulo deste trabalho, que a Igreja Metodista, reunida

em Concílio Geral em 1987, havia feito a opção por um novo modelo de igreja. Ou

seja, uma igreja organizada segundo os Dons e Ministérios. Há duas perguntas que

podemos fazer neste momento: 1. Será que este modelo de igreja organizada segundo

os Dons e Ministérios é realmente algo novo, inédito? 2. Será que este modelo nasceu

apenas como fruto “ocasional” da História da Igreja Metodista brasileira?

Não. Pois o modelo de igreja organizada em Dons e Ministérios é uma estrutura

organizacional muito antiga, já utilizada por algumas comunidades cristãs do primeiro

século. De fato, a estrutura carismática da igreja faz parte de um movimento

conduzido pelo Espírito Santo que, desde o início do cristianismo até hoje esteve

presente em alguns grupos e comunidades cristãs.

Por isso, apresentaremos, neste capítulo, a Bíblia e a História da Igreja Cristã,

principalmente a Reforma Protestante e o Metodismo Inglês do século XVIII, como

sendo duas, entre outras, fontes inspiradoras que levaram a Igreja Metodista brasileira

a optar por um modelo de igreja organizada segundo os Dons e Ministérios. A

releitura da Bíblia e da História foi uma das motivações que levou a IM a optar por

Dons e Ministérios.

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1. DONS E MINISTÉRIOS NA BÍBLIA

Em primeiro lugar queremos descartar a afirmação de que Dons e Ministérios

seja “O”58 modelo bíblico de organização da igreja. Podemos afirmar, sim, que ele

seja “UM”59 dos modelos, dentre outros, apresentados pelo Novo Testamento.

Ao estudarmos os escritos neotestamentários, descobrimos que não há uma

unidade doutrinária entre os mesmos. Ao contrário, encontramos uma variedade de

grupos, com teologias e maneiras de se organizarem bem diferentes. Querer legitimar

a VERDADE EXCLUSIVA de um destes grupos, é ser muito pretensioso e também

um mau intérprete do texto bíblico.

Durante muito tempo a igreja cristã esqueceu-se, teórica e praticamente, da

possibilidade de organizar-se segundo os Dons e Ministérios. Isto se deu devido ao

fato de a eclesiologia cristã “se ter apoiado unilateralmente na eclesiologia das cartas

pastorais (e os atos dos apóstolos), tendo esquecido a eclesiologia especificamente

paulina das epístolas indiscutidas de São Paulo”.60

No final do primeiro século, o cristianismo iniciou um processo de definição de

comportamento social e religioso.

Este processo de uniformização teológica, de opção por uma ética e uma praxis política mais harmônica com a sociedade e da exclusão da autoridade carismática e feminina em favor de cargos hierárquicos, recebe o nome pelos exegetas e historiadores de Formação do Catolicismo Primitivo ou da Grande Igreja.61

58 Artigo definido - o único - individualiza o substantivo. 59 Artigo indefinido - um entre outros - generaliza o substantivo. Estas anotações gramaticais foram retiradas de: SACONI, Luiz Antonio, Nossa Gramática, São Paulo, Atual Editora, sd., p. 61. 60 KÜNG, Hans, A Igreja, Lisboa, Moraes Editora, 1969, p. 256, volume 1. 61 NOGUEIRA, Paulo A. S., Multiplicidade Teológica e a Formação do Catolicismo Primitvo na Ásia Menor, in: Igreja e Seita - Estudos da Religião nº 8, São Bernardo do Campo, Edims, 1992, p. 36.

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Como vimos, a formação do Catolicismo Primitivo é um processo de exclusão e

limitação. E é bem neste momento que a igreja faz uma opção pelas epístolas

pastorais, pois este modelo lhe permitia uma melhor harmonia para com a sociedade

da época. Na verdade, o que aconteceu foi que um certo grupo, utilizando-se de poder,

estabeleceu-se como norma e ponto de referência. Bultmann diz o seguinte: “A grande

igreja é unicamente a heresia que teve mais êxito”.62

Hans Küng, teólogo católico contemporâneo, discorre a respeito deste abandono

e esquecimento da estrutura carismática, afirmando:

Por muito tempo, a Teologia Católica e a Igreja Católica desconheceram, teórica e praticamente, a estrutura carismática da igreja. Isso teve seu fundamento, em primeiro lugar naquele clericalismo e juridicismo que nos últimos tempos, tanto tem sido criticado mesmo dentro da Igreja Católica. A atitude clerical só pode aceitar no clero a atitude e a iniciativa propriamente ditas e decisivas, nunca em todos os membros do Povo de Deus. Pensamento juridicista é aquele que se mostra profundamente desconfiado em face da dinâmica antecipadamente não regulamentável do livre Espírito de Deus, que na Igreja sopra onde e quando quer. O desconhecimento da estrutura carismática da Igreja acha ainda o seu segundo fundamento especial no fato de a eclesiologia dos livros católicos de escola se ter apoiado unilateralmente na eclesiologia das Epístolas pastorais (e dos Atos dos Apóstolos), tendo esquecido a eclesiologia especificamente paulina das Epístolas indiscutidas de São Paulo, isto mesmo quando freqüentemente fazia citações formais de textos de São Paulo. A variedade e a tensão interna no Novo Testamento ou não eram notadas ou eram harmonizadas de maneira ilegítima.63

Percebe-se que a igreja cristã por muito tempo se esqueceu da possibilidade de

organizar-se dentro de uma estrutura carismática, preferindo, assim, a organização

hierárquica: Epíscopo - Presbítero - Diácono. E é tendo isto em mente que

apresentaremos a organização carismática, ensinada pelo apóstolo Paulo, como uma

62 BULTMANN, R., Teologia Del Nuevo Testamento, Salamanca, Sígueme, 1980, p. 563. 63KÜNG, Hans, op. Cit., p. 256.

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das fontes onde o modelo de igreja organizado em Dons e Ministérios inspira-se

biblicamente.

Para isso estaremos nos restringindo somente ao estudo das cartas que são

consideradas fontes do pensamento paulino e não ao estudo de toda a Bíblia. Nosso

objetivo é bem específico; apresentaremos a estrutura carismática da igreja,

apresentada por Paulo, como uma maneira bíblica da igreja atual organizar-se. Em sua

obra A Igreja, Hans Küng apresenta esta estrutura carismática como sendo a forma

mais antiga da igreja se organizar.64

1.1. Paulo e a organização em Dons e Ministérios

1.1.1. Definição das Fontes Paulinas65

Ao lermos o Novo Testamento, encontramos várias epístolas que citam o

Apóstolo Paulo como autor. São elas: I Tessalonicenses, II Tessalonicenses, I

Coríntios, II Coríntios, Gálatas, Romanos, Filipenses, Colossenses, Filemon, Efésios, I

Timóteo, II Timóteo e Tito.

Com o aperfeiçoamento das pesquisas neotestamentárias, a autoria destas cartas

recebeu muitos questionamentos. Não iremos aqui apresentar os problemas que

marcam estas epístolas, mesmo porque este não é o nosso objetivo neste trabalho.

Estaremos seguindo a opinião da maioria dos estudiosos do Novo Testamento, que

preferem definir os seguintes escritos como fonte segura do pensamento paulino:

Romanos, I Coríntios, II Coríntios, I Tessalonicenses, Filipenses, Gálatas e Filemon.

64 Idem, p. 257.

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1.1.2. O uso da palavra Dom (charisma)

Com exceção de I Pd 4,10, somente Paulo e os escritos dependentes dele

empregam a palavra dom (charisma). Esta “palavra é rara na literatura profana e

também véterotestamentária, onde ocorre duas vezes, ainda assim em variantes”.66

A palavra carisma está decalcada no grego charisma que significa “dom gratuito” e se relaciona com a mesma raiz que CHÁRIS, “graça”. No NT esse termo nem sempre tem sentido técnico. Pode designar todos os dons de Deus, que são irrevogáveis (Rm 11,29), notadamente o “dom da graça” que nos vem por Cristo (Rm 5,15s) e que desabrocha com vida eterna (Rm 6,28). Com efeito, em Cristo Deus nos “cumulou de graça” (Ef 1,6: charitoo) e “nos concederá toda a espécie de dons” (Rm 8,32: charizo). Mas o primeiro de seus dons é o próprio Espírito Santo, que foi infundido em nossos corações e põe neles a caridade (Rm 5,5; Cf 8,15). O emprego técnico do termo charisma se entende essencialmente na perspectiva dessa presença do Espírito, que se manifesta por toda sorte de “dons gratuitos” (I Cor 12,1-4).67

Introduzir o termo CHARISMA num contexto de organização da comunidade foi

um mérito unicamente do apóstolo Paulo. Ao discorrer sobre as igrejas paulinas, Ph.

H. Menoud:

O apóstolo teve o cuidado de organizar as igrejas que fundou. A esperança viva no retorno do Senhor não lhe é pretexto para negligenciar a ordem a reinar na casa de Deus (Cf I Cor 14,93), tanto que esta espera não deve encorajar os fiéis a não suprir suas necessidades pelo trabalho (Cf II Ts 3.6-12). Mas o apóstolo não consagra uma epístola especial à questão dos ministérios. Ele se limita a dar a cada igreja prescrições em harmonia com as circunstâncias locais.68

O termo charisma (geralmente usado no plural: charismata) aparece dezessete

vezes no Novo Testamento; dessas, quatorze vezes em I e II Coríntios e Romanos

65 Para um maior aprofundamento com respeito a este assunto, pesquisar: KÜMMEL, W. Georg, Introdução ao Novo Testamento, São Paulo, Paulinas, 1982, p. 319-506. 66 BOFF, Leonardo, Igreja, Carisma e Poder, Petrópolis, Vozes, 1981, p. 237. 67 LEON-DUFOUR, Xavier, Vocabulário de Teologia Bíblica, Petrópolis, Vozes, 1972, p. 124. 68 VON ALLMEN, J. J., Vocabulário Bíblico, São Paulo, Aste, 1972, p. 254.

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(fontes incontestáveis do pensamento paulino), duas em I e II Timóteo (pós-paulinas)

e uma em I Pedro.

Vejamos a ocorrência deste termo nas fontes paulinas:69

Rm 1,11 - Porque muito desejo ver-vos, a fim de repartir convosco algum DOM

espiritual, para que sejais confirmados;...

Rm 5,15 - Todavia, não é assim o DOM gratuito como a ofensa; porque se pela

ofensa de um só morreram muitos, muito mais a graça de Deus, e o dom (doorea) pela

graça de um só homem, Jesus Cristo, foi abundante sobre muitos.

Rm 5,16 - O DOM, entretanto, não é como no caso em que somente um pecou;

porque o julgamento derivou de uma só ofensa, para a condenação; mas a graça

transcorre de muitas ofensas, para a justificação.

Rm 6,23 - Porque o salário do pecado é a morte, mas o DOM gratuito de Deus

é a vida eterna em Cristo Jesus nosso Senhor.

Rm 11,29 - Porque os DONS e a vocação de Deus são irrevogáveis.

Rm 12,6 - Tendo, porém, diferentes DONS segundo a graça que nos foi dada: se

profecia, seja segundo a proporção da fé;

I Cor 1,7 - De maneira que não falte nenhum DOM, aguardando vós a revelação

de nosso Senhor Jesus Cristo;

I Cor 7,7 - Quero que todos os homens sejam tais como também eu sou, no

entanto cada um tem de Deus o seu próprio DOM; um, na verdade, de um modo,

outro de outro.

I Cor 12,4 - Ora, os DONS são diversos, mas o Espírito é o mesmo.

69 Os versículos citados abaixo, foram retirados de 1. Bíblia Sagrada, edição revista e atualizada no Brasil, Brasília, 1969. 2. Bíblia Sagrada, Edição Pastoral, São Paulo, Paulinas, 1986.

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I Cor 12,9 - A outro, no mesmo Espírito, Fé; e a outro no mesmo Espírito,

DONS de curar;

I Cor 12,28 - A uns estabeleceu Deus na Igreja, primeiramente apóstolos, em

segundo lugar profetas, em terceiro lugar mestres, depois operadores de milagres,

depois DONS de curar, socorros, governos, variedade de línguas.

I Cor 12, 30 - Tem todos DONS de curar? Falam todos em outras línguas?

Interpretam-nas todos?

I Cor 12,31 - Entretanto, procurai, com zelo, os melhores DONS.

II Cor 1,11 - Ajudando-nos também vós, com as vossas orações a nosso favor,

para que, por muitos sejam dadas graças a nosso respeito, pelo BENEFÍCIO que nos

foi concedido por meio de muitos.

Para o apóstolo Paulo os Dons têm sua fonte na CHARIS (graça), no favor e na

bondade de Deus. Com toda liberdade (I cor 12,11) Deus distribui esses “dons”, ou

“serviços”, ou “realizações” (I Cor 12,4-6), mas tem sempre em vista as diferentes

necessidades da igreja, bem como a situação e a capacidade de cada um.

1.1.3. O uso das palavras ministério e ministro

As palavras gregas que traduzidas em português podem significar ministério,

ministro e ministrar são as seguintes: DIAKONIA (ministério), DIAKONO (ministro),

LEITOURGÉOO (ministrar, servir), LEITOURGIA (serviço, ministério) LEITURGÓS

(ministros).

As palavras “ministro” e “ministério”, decalcadas no latim da Vulgata, correspondem ao grego diakonos e diakonia.

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Esses dois termos não pertencem à linguagem religiosa dos setenta, que os emprega, raramente, em sentido profano (Est 1,10; 6,1-5). Na vulgata, minister traduz o hebraico mesaret (cf. Ex 24,13: Josué, servidor de Moisés), que pode designar os sacerdotes, ministros do culto (Is 61,6; Ez 44,11; Jl 1,9). Entretanto, desde o AT, o fato dum ministério religioso exercido no povo de Deus pelos titulares de certas funções sagradas é coisa bem atestada: os reis, os profetas, os depositários do sacerdócio, são servos de Deus, que exercem uma mediação entre Ele e seu povo. Assim São Paulo dirá que Moisés era ministro da primeira aliança (I Cor 3,7.7). No NT, Cristo é o único mediador entre Deus e os homens, o único sacerdote que oferece o sacrifício da salvação, o portador único da revelação porque ele é a Palavra feita carne. Mas na igreja que ele fundou se exerce um ministério de novo gênero, que está a serviço de sua Palavra e de sua graça.70

Em geral, as listas e referências a ministérios, nas fontes paulinas, acompanham

os mesmos critérios dos Dons.

Assim como os dons, todos os ministérios, enquanto ministérios do Senhor, são espirituais e assistidos extraordinariamente pelo Espírito Santo. Além dos ministérios serem assistidos pelo Espírito em sua repartição e diversidade, também a igreja de Cristo, como um todo e em sua unidade do corpo, é assistida extraordinariamente pelo Espírito.71

Vejamos o uso das palavras que podem ser traduzidas em português por

ministro, ministério e ministrar; nas epístolas que são consideradas fontes

incontestáveis do pensamento paulino:

DIACONIA (ministério - serviço)

Rm 11,13-14 - dirijo-me a vós outros, que sois gentios! Visto, pois, que eu sou

apóstolo dos gentios, glorifico o meu MINISTÉRIO para ver se de algum modo

posso incitar à emulação os do meu povo e salvar alguns deles.

70 BORN, A. Van Den,Dicionário Enciclopédico da Bíblia, Petrópolis, Vozes, 1871, p. 591. 71 JOSGRILBERG, Rui de Souza, Dons e Ministérios na Bíblia, in: Dons e Ministérios Fontes e Desafios, Piracicaba, Agentes da Missão, 1991, p. 28.

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Rm 12,7 - se MINISTÉRIO, dediquemo-nos ao MINISTÉRIO; ou o que

ensina, esmere-se no fazê-lo;

Rm 15,31 - para que eu me veja livre dos rebeldes que vivem na Judéia, e que

este meu SERVIÇO em Jerusalém seja bem aceito pelo santos;

I Cor 12,5 - E também há diversidade nos SERVIÇOS, mas o senhor é o

mesmo.

I Cor 16,15 - ... (sabeis que a casa de Estefanas é as primícias da Acaia, e que se

consagraram ao SERVIÇO dos santos).

II Cor 3,7 - E se o MINISTÉRIO da morte, gravado com letras, se revestiu de

glória, a ponto de os filhos de Israel não poderem fitar a face de Moisés, por causa da

glória do seu rosto, ainda que desvanecente.

II Cor 3,8 - como não será de maior glória o MINISTÉRIO do Espírito.

II Cor 3,9 - Porque se o MINISTÉRIO da condenação foi a gloria, em muito

maior proporção será glorioso o MINISTÉRIO, segundo a misericórdia que nos foi

feita, não desfalecemos;

II Cor 4,1 - Pelo que tendo este MINISTÉRIO, segundo a misericórdia que nos

foi feita, não desfalecemos;

II Cor 5,18 - Ora, tudo provém de Deus que nos reconciliou consigo mesmo por

meio de Cristo, e nos deu o MINISTÉRIO da reconciliação,

II Cor 6,3 - não dando nós nenhum motivo de escândalo em cousa alguma, para

que o MINISTÉRIO não seja censurado.

II Cor 8,4 - pedindo-nos, com muitos rogos, a graça de participarem nesse

SERVIÇO em favor dos santos.

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II Cor 9,1 - Quanto ao SERVIÇO em favor dos santos, é desnecessário

escrever-vos;

II Cor 9,12 - Porque o SERVIÇO desta assistência não só cumpre a necessidade

dos santos, mas também redunda em muitas graças a Deus.

II Cor 9,13 - Tal SERVIÇO será para eles uma prova; e eles agradecerão a Deus

pela obediência que vocês professam ao Evangelho de Cristo e pela generosidade com

que vocês repartem os bens com eles e com todos.

II Cor 11,8 - Despojei outras igrejas, recebendo salário, para vos poder

SERVIR.

DIÁKONOS (ministro-servo).

Rm 13,4 - visto que a autoridade é MINISTRO de Deus para teu bem.

Entretanto, se fizeres o mal, teme; porque não é sem motivo que ela traz a espada;

pois é MINISTRO de Deus, vingador, para castigar o que pratica o mal.

Rm 15,8 - digo, pois que Cristo foi constituído MINISTRO da circuncisão, em

prol da verdade de Deus, para confirmar as promessas feitas aos pais;

Rm 16,1 - Recomendo-vos a nossa irmã Febe, DIACONISA da Igreja de

Cencréia.

I Cor 3,5 - Quem é Apolo? E quem é Paulo? SERVOS por meio de quem

crestes, e isto conforme o Senhor concedeu a cada um,

II Cor 3,6 - o qual nos habilitou para sermos MINISTROS de uma nova

aliança, não da letra, mas do Espírito; porque a letra mata, mas o Espírito vivifica.

II Cor 6,4 - Pelo contrário, em tudo recomendando-nos a nós mesmos como

MINISTROS de Deus: na muita paciência, nas aflições, nas provações, mas

angústias,

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II Cor 11,15 - não é muito, pois, os seus próprios MINISTROS se transformem

em MINISTROS de justiça; e o fim deles será conforme as suas obras.

II Cor 11,23 - São MINISTROS de Cristo? (Falo como fora de mim) eu ainda

mais; em trabalho, muito mais; muito mais em prisões; em açoites, sem medida; em

perigos de morte, muitas vezes.

Gl 2,17 - Mas se, procurando ser justificados em Cristo, fomos nós também

achados pecadores, dar-se o caso de ser Cristo MINISTRO do pecado? Certo que

não.

Fl 1,1 - Paulo e Timóteo, servos de Cristo Jesus, a todos os santos em Cristo

Jesus, inclusive bispos e DIÁCONOS, que vivem em Filipos.

I Ts 3,2 - e enviamos nosso irmão Timóteo, MINISTRO de Deus no Evangelho

de Cristo, para, em benefício de vossa fé, confirmar-vos e exortar-vos.

LEITURGÉOO (servir).

Rm 15,27 - Isto lhes pareceu bem, e mesmo lhes são devedores; porque se os

gentios têm sido participantes dos valores espirituais dos judeus, devem também

SERVÍ-LOS com bens materiais.

LEITOURGÍA (serviço).

Fl 2,17 - Entretanto, mesmo que seja eu oferecido por libação sobre o sacrifício

e SERVIÇO da vossa fé, alegro-me e com todos vós me congratulo.

Fl 2,30 - Visto que, por causa da obra de Cristo, chegou ele às portas da morte, e

se dispôs a dar sua própria vida para SERVIR-ME de socorro.

LEITOURGÓS (ministro-servo)

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Rm 13,6 - Por esse motivo pagais tributos; porque são MINISTROS de Deus,

atendendo constantemente a este serviço.

Rm 15,16 - para que eu seja MINISTRO de Cristo Jesus entre os gentios, no

sagrado encargo de anunciar o Evangelho de Deus, de modo que a oferta deles seja

aceitável, uma vez santificada pelo Espírito.

Fl 2,25 - No momento, achei necessário enviar a vocês Epafrodito, este nosso

irmão que é também meu companheiro de TRABALHO e de luta, que vocês mesmos

mandaram SERVIR às minhas necessidades

1.1.4. A Estrutura Carismática da Eclesiologia Paulina

Como já verificamos nos dois itens anteriores (1.1.2 e 1.1.3), o Apóstolo Paulo

utilizou-se muito dos termos dons (charisma) e ministérios (diakonia, leitourgia) em

seus escritos. Observando-os mais atentamente, percebemos o uso da palavra dom

(carisma), algumas vezes em sentido genérico e outras vezes em sentido específico e

técnico.

Em sentido genérico, carisma significa “um dom generoso”, “uma graça ou

bênção do amor de Deus”. Em sua carta aos Romanos 5,15-16, por exemplo, o termo

carisma designa o “dom divino da redenção, realizada por Cristo”. Em Rm 6,23,

carisma é aplicado a uma realidade ainda mais genérica: “Porque o salário do pecado é

a morte; enquanto o dom de Deus (Carisma) é a vida eterna, em união com Cristo

Jesus, nosso Senhor”.

Em Rm 11,29 lemos: “Pois os Dons (carisma) e o chamamento de Deus são

irrevogáveis”. Carisma é usado, pois, de forma muito geral para designar todos os

Dons de Deus. Na segunda carta aos Coríntios 1,10-11, São Paulo escreve: “Ele nos

livrará de tamanhos perigos de morte... se nos ajudardes, também vós, com vossas

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orações. Assim esta graça (carisma) obtida por intervenção de muitos...”. Carisma

significa, aqui, a graça de ser libertado dos perigos de morte.

Poderíamos buscar ainda outros textos em que o apóstolo Paulo usa a palavra

carisma em sentido genérico.

Em outros escritos o apóstolo usa o termo carisma em sentido específico,

técnico. Sentido que ele mesmo define como “manifestação do Espírito para proveito

comum” (I Cor 12,7). Encontramos, de modo especial, a palavra carisma usada em

sentido específico nos textos clássicos de I Cor 12,1-11; 12,12-31; 13,1-8; 14,1-25;

14,26-40 e Rm 12,6-9.

Em sentido específico, carisma designa os dons espirituais dados pelo Espírito

Santo a quem lhe apraz, para o serviço (ministério) em favor da comunidade ou de

algum membro da mesma.

Para entendermos melhor a dinâmica do pensamento paulino, com respeito a

organização carismática da igreja local, devemos deter-nos um pouco no estudo das

listas de carismas apresentadas pelo apóstolo.

1.1.4a - As listas dos Carismas em Paulo

Em duas de suas cartas, São Paulo faz uma listagem de carismas. Ao todo

encontramos seis listas, sendo cinco em I Coríntios e uma em Romanos.

Percebe-se que a intenção do apóstolo não era a de apresentar uma enumeração

precisa, sistemática, mas a de ensinar, orientar, exortar para a realidade da existência,

da diversidade, da origem, da função, da hierarquia e do uso correto dos carismas.

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Com certeza, ele poderia ter enumerado muitos outros carismas que havia constatado

em suas comunidades cristãs.

Carisma... Partindo do caráter orgânico da Igreja, São Paulo insiste em I Cor 12 na grande diversidade dos c.s. As enumerações em I Cor 12,8.-11.28.30; Rm 12,6-8, ao que tudo indica, não pretendem ser completas. Nem tampouco pode-se delas reduzir uma divisão, pois algumas dessas denominações são genéricas (milagres), outras específicas (curas); algumas referem-se ao conteúdo (sabedoria, ciência), outras ao exercício concreto (profecia, governo, instrução, falar línguas). Em I Cor 12,28 (Cf Ef. 4,11) encontramos uma certa hierarquia: apóstolos (em sentido mais largo), profetas, doutores e depois os demais. Aqui trata-se de ofícios com carisma permanente.72

Uma visão de conjunto das listas, auxilia a análise e distinção das diversas

funções e espécies de carismas. Observemos as seis listas de carismas apresentadas

nos escritos paulinos.

Rm 12,6-9

1. profecia

2. serviço

3. ensino

4. exortação

5. distribuição de seus bens

6. presidência

7. misericórdia

I Cor 12,1-11

1. sabedoria

2. conhecimento

3. fé

4. cura

5. operação de milagre

6. profecias

7. discernimento de Espírito

8. variedade de línguas

9. interpretação de línguas

I Cor 12,12-31

1. (ser) apóstolo

2. (ser) profeta

3. (ser) doutor

4. milagres

5. curas

6. assistência

7. governo

8. falar línguas

I Cor 13,1-8

1. falar línguas

2. profecia

3. conhecimento

4. fé

I Cor 14,1-25

1. falar línguas

2. profecia

I Cor 14,16-40

1. profecia

2. revelação

3. falar línguas

4. interpretar línguas

72 BORN, A. Van Den, op. Cit., p. 245.

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5. distribuição de seus bens

Paulo não se preocupou em dar-nos uma classificação racional dos carismas, embora os enumere diversas vezes. É, contudo, possível reconhecer os diversos domínios de aplicação em que os dons do Espírito têm lugar. Em primeiro lugar, certos carismas são relativos às funções do ministério (cf. Ef 4,12): os dos apóstolos, dos profetas, dos doutores, dos evangelistas, dos pastores (I Cor 12,28; Ef 4,11). Outros concernem às diversas atividades úteis à comunidade: serviço, ensinamento, exortação, obras de misericórdia (Rm 12,75), palavra de sabedoria ou de ciência. Fé eminente, dom de cura ou de operar milagres, falar em línguas, discernimento dos espíritos, ...73

Analisando as listas citadas no quadro acima, vemos que o apóstolo Paulo

apresenta uma hierarquia entre os carismas. Esta classificação hierárquica não é

estabelecida de maneira igual para as duas comunidades.

Com respeito a esta hierarquização diferenciada dos carismas, entre a

comunidade Corintiana e a Romana, Roberto Alves Viana nos diz o seguinte:

Aos Coríntios, Paulo estabelece que o maior e mais importante carisma (dom) é a profecia. Os carismas chamados espirituais, como o de falar em línguas, devem ficar em segundo plano. Aos Romanos, o apóstolo demonstra que eles devem procurar os carismas de profetizar, ensinar e presidir, bem como os carismas de servir, distribuir seus bens e exercer misericórdia... Torna-se claro que, para Paulo, a hierarquia de carismas é determinada pela conjuntura vivida na comunidade que fará uso destes carismas.74

Paulo escreveu para comunidades que viviam em contextos diferentes, e por isso

apresenta hierarquias diferentes ao relacionar as listas de dons. Apesar das diferenças,

há um ponto fundamental que coincide nestes ensinamentos: tanto na carta aos

73 LÉON-DOFOUR, Xavier, op. Cit., p. 125. 74 VIANA, Roberto Alves, Os carismas em Paulo, Faculdade de Teologia, São Bernardo do Campo, 1993, p. 114 (monografia final do Curso de Bacharel em Teologia).

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Corintios, quanto na carta aos Romanos, “os carismas devem ser usados para o

serviço, edificação, ensino e exortação da comunidade”.75 Ou seja, o carisma não tem

um fim em si mesmo, é antes o meio pelo qual Deus atua na comunidade, a qual,

movida pelo Espírito de Deus, atua na sociedade. Lenardo Boff afirma que em Paulo:

“o carisma significa simplesmente a função concreta que cada qual desempenha

dentro da comunidade a bem de todos”.76

1.1.4b - O carisma como “Estrutura estruturante da comunidade”.77

Hans Küng, teólogo sistemático, afirma que “a redescoberta dos carismas é uma

redescoberta da eclesiologia especificamente paulina”.78 Como fruto de seu trabalho

teológico, consegue descobrir que em sua origem a igreja não possuía estrutura

hierárquica, mas sim uma estrutura carismática.

A I Cor, como todas as Espístolas indiscutidas de São Paulo, não fala nem de “presbíteros” nem de “Episcopos” ( a única exceção tardia é Filip 1:1: “Episcopos” e “diáconos”), nem de ordenações ou de imposição das mãos; é esta Epístola que, repetidamente, nomeia os “carismas” ou os “dons espirituais” que, correspondentemente à medida da graça, são dados a cada cristão, assim como é esta Epístola que traz largos capítulos sobre a estrutura carismática da Igreja que, por toda parte nas Epístolas paulinas, transparece e é pressuposta.79

Para detalhar este modelo de igreja organizada segundo os dons e ministérios,

Paulo apresentará a igreja como um corpo que possui muitos membros, todos estes

vivificados pelo mesmo espírito e cada qual com sua função.

75 Idem, p. 120. 76BOFF, Leonardo, op. cit., p. 238. 77 Expressão utilizada por Leonardo Boff em seu livro Igreja Carisma e Poder, op. Cit., 238. 78 KÜNG, Hans, op. cit., p. 258. 79 Idem, p. 257.

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A pluralidade e a diversidade dos carismas e a sua finalidade eclesial convergente têm desenvolvimento adequado no paralelo com o organismo humano, constituído de muitos e diferentes membros, empenhados no seu crescimento e no seu bem. A comunidade cristã local é como um corpo; por isso, no seu interior vale a regra da pluralidade e da multiplicidade, ou da diferenciação, mas também da interdependência e da solidariedade.80

Na estrutura carismática apresentada pelo pensamento paulino, é impossível

existir um membro não carismático no seio da comunidade.

Não existe nenhum membro não carismático. Vale dizer ocioso, sem ocupar um determinado lugar na comunidade: “cada membro está a serviço do outro membro” (Rm 12,5). Todos gozam de igual dignidade, não cabem privilégios que desestruturam a unidade do todo: “o olho não pode dizer à mão: não preciso de ti; nem tampouco a cabeça aos pés: não necessito de vós” (I Cor 12,21). A regra de ouro que salvaguarda a sanidade do modelo, sua circularidade fraterna foi assim formulada por Paulo: “todos os membros tenham igual solicitude uns com os outros” (I Cor 12,25).81

Grabner-Hainder, ao discorrer sobre o vocábulo carismático, afirma o seguinte:

Pablo da este nombre a los hombres dotados de especiales dones en beneficio de la comunidad. El carácter sobrenatural de estos dones del Espiritu y su procedencia del Espíritu Santo se reconoce por el hecho de que se ordenan al servicio de todos (I Cor 12,7). Este criterio alude, por un lado, a los excesos de los exaltados y de los entusiastas (cf. I Cor 14,22) y, por otro, sitúa a los carismáticos dentro de la historia, porque bajo diferentes circunstancias y en diferentes épocas pueden ser muy variadas las necesidades de la comunidad, e por consiguiente también los servicios que necesita. Los carismas mencionados en el Nuevo Testamento (palabra de sabiduria, palabra de ciencia, fé en el Espíritu, don de curaciones, poder de milagros, profecia, dicernimento de espíritus, diversidade de lenguas, don de interpretárlas, cf. I Cor 12,8-10) no son en modo alguno una enumeracion exclusiva. Al contrário, debe considerar-se carismático a

80 BARBAGLIO, Giuseppe, 1-2 Coríntios, São Paulo, Paulinas, 1993, p. 51. 81BOFF, Leonardo, op. Cit., p. 238.

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todo hombre que se compromete en Cristo para bien de la Iglesia, aun en el caso (y precisamente en el caso) de que su actuación se salga del esquema de lo acostumbrado, tradicional y convencional. Mientras que en la primitiva Iglesia los encargados del ministério eram casi siempre a la vez carismáticos, hoy, debido a la evolucion del ministério, el campo de acción conjunta de los carismáticos y ministros oficiales en el sentido de I Cor 12,11 ayudaria a ebitar desagradables incidentes en la vida actual de la Iglesia.82

O apóstolo Paulo nos apresenta um modelo alternativo de organização

comunitária. Um modelo bem diferente daquele apresentado pelas Epístolas Pastorais,

onde tudo gira em torno da tríade: BISPO - PRESBÍTERO - DIÁCONO.

... os três são portadores privilegiados do Espírito e sobre eles se constrói a comunidade, estabelecendo, de entrada, uma divisão entre membros que deixam de ser iguais.83

Para o modelo carismático do apóstolo Paulo, não há distinção entre os

membros. Todos são iguais. Nele não vemos uma hierarquia que acumula todo o

poder sagrado e todos os meios de produção religiosa, ou mesmo um grupo de

membros passivos ou desinteressados. Ou seja, não vemos uma separação entre os

clérigos e os leigos. A hierarquia é considerada apenas um “estado carismático na

igreja que não pode recalcar, como as vezes ocorre, outros carismas que o Espírito

suscita na comunidade”.84

Os carismas recebidos pela comunidade são revertidos em ministérios, ou seja,

em serviços prestados para o bem comum. A estrutura carismática paulina é aquela

que valoriza os dons de cada um, proporcionando a eles a oportunidade de transformá-

los em ministérios (serviços). É Deus quem capacita a cada membro, visando um fim

proveitoso.

82 GRABNER-HAIDER, Anton, Vocabulário Prático de la Bíblia, Barcelona, Herder, 1975, p. 194. 83BOFF, Leonardo, op. Cit., p. 236. 84 Idem, p. 239.

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Para melhor entendermos o pensamento paulino, com respeito à estrutura

carismática da igreja, estaremos apresentando um pequeno estudo sobre as instruções

do apóstolo Paulo à comunidade de Corinto. Será um breve estudo de caso.

1.1.4c - Instruções Paulinas à Igreja de Corinto

A comunidade cristã de Corinto abarcava dentro de si a mesma configuração

sócio-econômica da sociedade da qual fazia parte, ou seja, sua maioria era procedente

das classes mais baixas (I Cor 1,26ss). Havia também algumas pessoas da classe alta

(I Cor 11,21ss; At 18,8; Rm 16,23) e também a presença de alguns judeus (At 18,4; I

Cor 7,18).

O primeiro problema tratado por Paulo em I Coríntios é o das divisões e

conflitos entre os diferentes grupos dentro da comunidade. Grupos estes que

“representavam diferentes segmentos da sociedade, agora convertidos ao

cristianismo”.85

Frente a todos estes conflitos internos, Paulo conclama a comunidade a uma

unidade, como um só corpo, em um só Senhor, um só Deus e um só Espírito.

Apresenta uma estrutura carismática como sendo a maneira de superar estes conflitos.

Se a igreja é um corpo, os carismas devem servir para a sua edificação, e é por isso

que Paulo vai recomendar mais a profecia que o falar em línguas. Para desarticular

todo o conflito existente na comunidade, Paulo prefere sugerir carismas que

beneficiem a todos sem privilegiar o indivíduo. É por isso que ele apresenta uma certa

hierarquia nestas listas apresentadas em Coríntios.

Segundo o apóstolo Paulo, não há espaço na comunidade cristã para membros

ociosos, por isso que ele não concorda que seja possível existir dentro desta

85 VIANA, R. A., op. cit., p. 48.

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comunidade algumas pessoas que comandem e outras que são comandadas. “Cada um

tem de Deus o seu próprio dom, um dum modo, outro de outro” (I Cor 7,7). “A cada

um é dada a manifestação do Espírito para a utilidade comum” (I Cor 12,7).

Daí se segue, novamente, que os carismas não são reservados a certo número de pessoas, como por exemplo aos presbíteros, aos bispos etc. Ninguém deve pretender possuir todos os carismas: “são porventura todos apóstolos? Todos profetas? Todos doutores?... (I Cor 12,29). Cada cristão é assim convidado a ver suas funções, suas profissões, suas habilidades, não apenas de modo superficial, mas de modo profundo, como dons recebidos sobre os quais não é dono, mas que deve exercê-los na construção da comunidade.86

Segundo o pensamento de Paulo, a estrutura carismática da igreja não é de

maneira alguma incompatível com a Diaconia, pois os carismas possuem sempre uma

intencionalidade e uma função diaconal. Sendo assim, a estrutura carismática se

apresenta como estrutura diaconal. O carisma habilita para o exercício de um

determinado serviço, que um membro é chamado a desenvolver na igreja.

Paulo instrui a comunidade cristã de Corinto a se estruturar segundo os dons

(charismas) recebidos do Espírito Santo, e os ministérios (diakonia) emergentes do

cotidiano. É a capacitação do Espírito que os levaria a superar os conflitos existentes

na comunidade, fazendo deles um só corpo no Deus trino. Todos na comunidade são

capacitados por Deus para a realização da obra do Espírito, a Missão.

Como vimos, até agora, organizar a igreja segundo os Dons e Ministérios já era

uma prática existente nas comunidades paulinas.

Organizar-se segundo Dons e Ministérios não é algo novo ou inédito. É, antes,

uma estrutura organizacional muito antiga, já utilizada pelas comunidades fundadas

86 BOFF, Leonardo, op. Cit., p. 241.

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por Paulo. E é nas fontes do pensamento paulino que podemos encontrar, melhor

apresentada, esta estrutura carismática da igreja primitiva.

2. DONS E MINISTÉRIOS NA HISTÓRIA DA IGREJA CRISTÃ

Como vimos, no final do primeiro século o cristianismo iniciou um processo de

definição do seu comportamento social e religioso. Este acontecimento é denominado

pelos historiadores de: formação do Catolicismo Primitivo ou da Grande Igreja. Neste

momento a igreja fez opção por organizar-se em uma estrutura hierárquica (epíscopo -

presbítero - diácono), baseando-se no modelo apresentado pelas epístolas pastorais.

Ainda que o Catolicismo Primitivo tenha optado por um modelo de igreja,

estruturado hierarquicamente,87 no decorrer da História, vemos alguns movimentos

cristãos (muitos até mesmo no seio da igreja), utilizarem-se de uma estrutura mais

flexível, valorizando os Dons e os Ministérios existentes na comunidade. Entre eles,

destacaremos dois,88 a saber: 1) a Reforma Protestante e 2) o Movimento Wesleyano

do século XVIII.

2.1. Dons e Ministérios na Reforma Protestante

A Reforma Protestante é um movimento de grandes proporções, e por falta de

espaço, teremos que nos ater somente à fase luterana. O leitor deve ter em mente que

mesmo antes de Lutero, já haviam algumas vozes protestando contra a estrutura

hierárquica da Igreja.

87 Uma hierarquia verticalista (de cima para baixo), onde apenas o clero era considerado igreja. 88 O professor Duncan Alexander Reily apresenta outros movimentos. Verifique: REILY, D. A., Dons e Ministérios na História da Igreja, in: Dons e Ministérios - Fontes e Desafios, Piracicaba, Agentes da Missão, 1991, pp. 31-46.

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... os intelectuais, os “pré-reformadores” como Wiclif e Huss, os místicos, os flagelantes - constituem vozes de protesto que diziam claramente: “A Igreja como está, dominada pela hierarquia, inteligível só à elite, não responde nem às nossas necessidades e nem às nossas aspirações. Queremos uma igreja renovada, mais nos moldes de Cristo e seus Apóstolos”.89

Buscava-se um novo modelo de igreja, com uma nova estrutura

organizacional.90 Já não se suportava mais esta estrutura hierárquica que sufocava o

povo, não lhe considerando parte da Igreja.

Lutero retomou a idéia dos pré-reformadores, de que a Igreja era o povo e não a hierarquia. Esta nova visão de igreja (comunhão dos santos) provocou mudanças nas formas organizacionais e na missão da Igreja.91

Tanto Lutero como os reformadores que vieram depois dele, souberam valorizar

o sentido de comunidade (harmonia) apresentado pela Bíblia. Eles lutaram para que o

povo pudesse ter, de novo, a oportunidade de assumir seu justo lugar na vida da

comunidade cristã. Podemos ver aí uma redescoberta da comunidade (Koinonia).

Histórica e teologicamente há bases bastante sólidas para se afirmar que o Protestantismo nasceu como uma redescoberta da comunidade. E mais do que isto: que a comunidade (Koinonia) é a própria essência do Protestantismo, seria possível então afirmar que se há um princípio protestante, ele é a comunidade. Guardamos o sentido duplo da palavra princípio: (1) como início histórico e (2) como idéia ou realidade que se constitui na essência de algo.92

Martinho Lutero dedicou-se muito em reformar a igreja. Muito fez para que o

povo tivesse seu lugar na vida da comunidade cristã. “Pelo seu conhecimento da

Bíblia e da História da Igreja, ele inverteu muitos conceitos e sacudiu profundamente

89REILY, D. A., A História da Igreja, Revista Em Marcha, volume 1, São Bernardo do Campo, Imprensa Metodista, 1988, p. 81. 90CASTRO, op. cit., p. 43. 91 Idem. 92 ALVES, Rubem, Dogmatismo e Tolerância, São Paulo, Paulinas, 1982, p. 133.

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a estrutura da igreja”.93 Sua interpretação do significado de comunidade colocou em

dúvida a eficiência da estrutura segundo a qual a Igreja Medieval se organizava.

Esta “interpretação” da significação da comunidade tem uma importante conseqüência para a articulação da relação entre comunidade estrutura. Se na Igreja Medieval as estruturas eram a Lei da Comunidade, agora elas perdem sua densidade ontológica e a sua validez ética. Passam a ser entendidas como funções da comunidade, como instrumentos de sua liberdade. Passa a ter caráter de evento: subordinadas, funcionais, provisórias, abertas para o futuro. É muito instrutivo o fato de haver Lutero se recusado a incluir as estruturas da igreja como parte de sua essência, como Calvino fez (...) Isto significa que as estruturas têm que estar permanentemente submetidas à dialética de morte e ressurreição que a comunidade impõe, não lhe sendo permitido nunca cristalizar-se.94

Nesta interpretação do significado de comunidade e na afirmação sobre o

sacerdócio universal de todos os crentes, Lutero apresentava uma nova visão da igreja.

O professor Clovis Pinto de Castro afirma que esta nova visão, proposta por Lutero,

“relaciona-se diretamente com a dinâmica dos Dons e Ministérios”.95

Apresentaremos neste momento algumas das conseqüências desta nova visão de

igreja, proposta por Lutero.

2.1.1. O Povo participa ativamente no culto

Lutero incentivou a participação dos leigos no culto. Aboliu totalmente a prática

utilizada na Igreja Católica Romana, onde os leigos eram simples espectadores. O

povo de Deus não apenas assiste ao culto, mas participa ativamente dele.

No texto “Missa e Ordem do Culto Alemão”, Lutero apresenta algumas

diretrizes, ordens e formulários para o culto cristão. Nele vemos um “programa de

93 REILY, Dons e Ministérios na História da Igreja, op. cit., p. 40.

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culto” completo, que comprova a importância da participação leiga na liturgia.

Passaremos a citar alguns momentos litúrgicos onde estes leigos participavam no

culto:

- Para iniciar cantamos um Hino ou um salmo alemão no primeiro tom. Então segue o “kyrie eleison” no mesmo tom, três vezes, e não nove...

- (...) Após o evangelho, toda a congregação canta o credo em alemão: “nós cremos todos num só Deus”.

- (...) Depois do sermão deve seguir uma paráfrase pública do Pai-Nosso e uma exortação aos que querem participar no sacramento (...) eu os exorto em primeiro lugar a elevar os corações a Deus, para orar comigo o Pai-Nosso.

- (...) Cante-se o Sanctus alemão ou o hino “Jesus Cristo, que nos salva”. Então o cálice deve ser abençoado e oferecido enquanto se canta o restante destes hinos, ou o Agnus Dei alemão.96

Como vimos, o povo canta a sua fé, ouve a pregação e participa da liturgia na

sua própria língua. O culto é um lugar onde o povo de Deus pode expressar sua fé,

através da participação ativa no canto, nas orações e nas leituras.

2.1.2. Tradução da Bíblia para o Alemão

Lutero empenhou-se em traduzir a Bíblia para o alemão, visando levar o povo a

ter contato direto com os textos sagrados. Com isto, retirou a Bíblia da mão da

hierarquia da igreja (que tinha acesso ao grego, hebraico e latim) e distribuiu-a ao

povo (que tinha acesso apenas à língua alemã).

94 ALVES, op. cit., p.112. 95CASTRO, op. cit., p. 43. 96LUTERO, Martinho, Missa e Ordem do Culto Alemão, in: Pelo Evangelho de Cristo, Porto Alegre/São Leopoldo, Concórdia/Sinodal, 1984, pp. 225-228. O texto completo encontra-se nas páginas 217-231.

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Entendia que a capacidade (dada por Deus) de interpretar as Sagradas Escrituras

não era uma exclusividade do papa, mas um dom dispensado a todos os crentes.

... Há cristãos retos entre nós, que têm a verdadeira fé, Espírito, compreensão, palavra e conceito de Cristo. Ora, por que razão se haveria de rejeitar a palavra e compreensão dos mesmos, e seguir ao papa que não tem nem fé nem o Espírito? Isto seria negar toda a fé e a Igreja Cristã! Mais: não pode ter razão o papa sozinho, se está correto o artigo:”Creio na Santa Igreja Cristã!”, ou teremos que orar: “Creio no papa em Roma”, reduzindo assim toda a Igreja Cristã em uma única pessoa, o que outra coisa não seria senão um erro diabólico e infernal. Além disso, todos nós somos sacerdotes, como está dito acima. Todos temos uma fé, um Evangelho, o mesmo sacramento. Como não haveríamos de ter também poder de perceber e de julgar o que seria correto ou incorreto na Fé?97

2.1.3. O lar como espaço para a instrução religiosa

Grande parte da instrução religiosa é transferida para os lares, onde os pais

assumem funções “sacerdotais” semelhantes às dos pais israelitas. Esta tarefa era

realizada com o auxílio do “Catecismo Menor”, muito utilizado ainda hoje pelos

luteranos.

Lutero reconheceu que a doutrina cristã não estava sendo ensinada ao povo. Por

isso preparou o Catecismo Menor, como um material didático que ajudaria os pais a

ensinarem a doutrina cristã a seus familiares. Vejamos alguns apontamentos, feitos

por ele, que confirmam esta tese:

I- OS DEZ MANDAMENTOS, como o chefe de família deve ensiná-los com simplicidade a sua casa. (...) II- O CREDO, como o chefe de família deve ensiná-lo com toda simplicidade a sua casa. (...) III- O PAI NOSSO, como o chefe de família deve ensiná-lo com toda simplicidade a

97LUTERO, Martinho, À Sereníssima, Poderosíssima Majestade Imperial e à Nobreza Cristã da Nação Alemã, in: Matinho Lutero obras selecionadas, Volume II, op. cit., p. 287.

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sua casa. (...) IV- O SACRAMENTO DO SANTO BATISMO, como o chefe de família deve ensiná-lo com simplicidade a sua casa. (...) VI- O SACRAMENTO DO ALTAR, como o chefe de família deve ensiná-lo com simplicidade a sua casa. (...) VII- ORAÇÕES, como o chefe de família deve ensinar a sua casa a orar de manhã e de noite... Como o chefe de família deve ensinar a sua casa. A pedir a bênção e dar graças. (...)98

Como vimos, o lar era um local muito apropriado para se ensinar as doutrinas

cristãs. Por isso, Lutero incentiva os pais a exercerem o “ministério do ensino”, em

suas próprias casas. Com este catecismo, Lutero demonstra o quanto ele valorizava o

ministério do leigo. Ou seja, os pais assumam funções “sacerdotais” diante da família.

2.1.4. A igualdade dos cristãos diante de Deus. Todos são sacerdotes

Lutero não admitia haver distinção entre classe clerical e leiga. Para ele, cada

serviço ou profissão é um serviço a Deus e à comunidade, e por isso deve ser

considerado uma vocação.

Inventou-se que o papa, os bispos, os sacerdotes e os monges sejam chamados de estamento espiritual; príncipes, senhores, artesãos e agricultores, de estamento secular. Isso é uma invenção e fraude muito refinada. Mas que ninguém se intimide por causa disso, e pela seguinte razão: Todos os cristãos são verdadeiramente de estamento espiritual, e não há qualquer diferença entre eles a não ser exclusivamente por força do ofício, conforme Paulo diz em 1Co 12.12ss: “Todos somos um corpo, porém cada membro tem sua própria função, com a qual serve aos outros. Tudo isso se deve ao fato de que temos um Batismo, um Evangelho, uma Fé e somos cristãos iguais, porque é só Batismo, Evangelho e Fé que tornam as pessoas espirituais e cristãs. Ora, o fato de que o papa ou o bispo unge, faz tonsura, ordena, consagra, se veste de forma diferente que os leigos

98LUTERO, Martinho, Catecismo Menor, in: Os Cetecismos, Porto Alegre/São Leopoldo, Concórdia/ Sinodal, 1983, pp. 363-384.

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pode perfazer um hipócrita ou um pseudo-sacerdote, jamais constitui, porém, um cristão ou pessoa espiritual. Assim, pois todos nós somos ordenados sacerdotes através do Batismo, como diz são Pedro em 1Pe 2.9: “vós sois um sacerdócio real e um reino sacerdotal”.99

Para Lutero, o que vai diferenciar os leigos dos sacerdotes é a função, ou

ocupação, que eles exercem, e não o seu estamento, pois todos são considerados

participantes do estamento espiritual.

Da mesma forma como aqueles que agora são chamados de clérigos ou sacerdotes, bispos ou papas, não são mais dignos ou distintos do que os outros cristãos senão pelo fato de deverem administrar a palavra de Deus e os Sacramentos - esta é sua ocupação e ofício -, também a autoridade secular tem a espada e o açoite na mão para com eles punir os maus e proteger os bons. Uma sapateiro, um ferreiro, um lavrador, cada um tem o ofício e a ocupação próprios de seu trabalho. Mesmo assim todos são sacerdotes e bispos ordenados de igual modo, e cada qual deve ser útil e prestativo aos outros com seu ofício ou ocupação, de modo que múltiplas ocupações estão voltadas para uma comunidade, para promover corpo e alma, da mesma forma como os membros do corpo servem todos um ao outro.100

Nesta palavra de Lutero, vemos claramente que o movimento Dons e

Ministérios (conduzido pelo Espírito Santo) se fazia presente na reforma Luterana.

Todos eram considerados sacerdotes, e exerciam seus ofícios visando a servir ao resto

da comunidade.

Ele não admitia as ordens clericais como um sacramento, mais sim como “uma

maquinação belíssima para consolidar todas as monstruosidades que se cometeram e

que ainda cometem na igreja”.101 Dirá o seguinte com respeito às ordens:

99 LUTERO, Martinho, À Sereníssima, Poderosíssima Majestade Imperial e à Nobreza Cristã da Nação Alemã, in: Matinho Lutero obras selecionadas, Volume II, op. cit., p. 282. 100 Idem, p. 284. 101 LUTERO, Martinho, Do cativeiro Babilônico da Igreja. Um Prelúdio de Martinho Lutero, in: Martinho Lutero, obras selcionadas, volume II, Porto Alegre/São Leopoldo, Concórdia/ Sinodal, volume II, 1989, p. 414.

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Caso se vissem obrigados a admitir que nós todos somos igualmente sacerdotes, todos os que fomos batizados - como na verdade somos -, e que a eles se confiou apenas o ministério, mas por consenso nosso, deveriam reconhecer simultaneamente que não têm direito algum de dominar-nos, a não ser até onde nós o admitirmos espontaneamente. Pois assim diz 1Pe 2.9: “Vós sois raça eleita, sacerdócio real e reino sacerdotal”. Por isso somos todos sacerdotes, todos quantos somos cristãos. No entanto, os que denominamos de sacerdotes são ministros, eleitos dentre nós, que devem fazer tudo em nosso nome. O sacerdócio não é outra coisa que ministério. Assim é dito em 1Co 4,1: “Assim nos considere o ser humano como ministros de Cristo e dispenseiros dos mistérios de Deus”.102

O que fundamenta o sacerdócio não é mais a ordenação, mas sim a fé em

Cristo. Qualquer pessoa que tenha fé, pode ser considerada sacerdote, bispo e papa.

Ao proclamar o sacerdócio universal de todos os crentes, Lutero não somente tornou impossível para um grupo na igreja manter outros em posição inferior, como também elevou a todos os fiéis, incluindo os considerados mais baixos, à condição privilegiada de sacerdote.103

As mudanças propostas por Lutero desencadearam uma série de transformações

na maneira da igreja organizar-se. O modelo de igreja estruturada hierarquicamente é

substituída por um novo modelo, onde a comunidade é valorizada e todos os seu

membros considerados sacerdotes. Para ele, todos os crentes recebem o dom de Deus

para exercer uma função na sociedade, visando ao bem comum. Esta nova dinâmica

proposta por Lutero está muito relacionada à idéia de organizar-se em Dons e

Ministérios, que a Igreja Metodista brasileira adotou em 1987. Com isto, afirmamos

que a reforma protestante, em particular a fase luterana, é uma das fontes onde o

metodismo brasileiro inspirou-se para optar por um modelo de igreja organizado

segundo os dons e ministérios.

102 Idem. 103 SHAULL, Richard, A Reforma Protestante e a Teologia da Libertação, São Paulo, Pendão Real, 1993, p. 45.

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2.2. Dons e Ministérios no movimento Wesleyano do século XVIII

O principal movimento de renovação da Igreja foi, sem dúvida, o da Reforma do

século XVI. O que não se deve ignorar é que houve outras reformas, tanto antes

quanto depois da Reforma. O metodismo Wesleyano do século XVIII é um destes

movimentos que procurou reformar e renovar a igreja. Ele é parte integrante do

movimento protestante, pela mediação da Igreja da Inglaterra. 104

Os grandes reformadores do século XVI reconheciam que uma Igreja Reformada era uma Igreja em perpétua reforma. É nesse contexto que devemos compreender a auto-imagem dos metodistas no século XVIII. Já por ocasião da primeira Conferência na Inglaterra, em 1744, Wesley e um grupo seleto de colaboradores concluíram que Deus havia levantado o movimento para “reformar a nação, particularmente a Igreja (da Inglaterra) e espalhar a santidade bíblica por toda a Terra”.105

Wesley jamais pensara em formar uma nova Igreja. Sempre se considerou

ministro da Igreja Anglicana, na qual ele se empenhava por reformar. “Era um

movimento crítico dentro da instituição eclesiástica”.106

... a Igreja da Inglaterra havia caído em um estado de rigidez cerimonial, ritualismo e sequidão espiritual. As condições das igrejas chamadas “dissidentes” ou “não-conformistas” não parecia ser melhor. Uma e outra tinham, segundo a expressão metodista que se tornaria famosa, a “forma”, mas não a experiência “da piedade”.107

104 REILY, A História da Igreja, op. cit., p. 87. 105 VVAA., Teologia em Perspetica Wesleyana: Marcas Metodistas - Caminhando nº 6, São Paulo, Igreja Metodista, 1993, p. 44. 106 CASTRO, op. cit., p. 44. 107 BAEZ, Camargo G., Genio e Espírito do Metodismo Wesleyano, São Paulo, Imprensa Metodista, 1986, p. 15.

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O metodismo estabeleceu-se como um movimento de renovação e não tinha

qualquer pretensão de tornar-se uma instituição. Seu objetivo maior era o de reformar

as estruturas da igreja, pois, enrijecidas como estavam, não poderiam alcançar o povo,

deixando assim de cumprir a missão de Deus.

Como um avivamento evangélico, quer dizer, como um retorno desde o centro da própria reforma ao cristianismo do novo Testamento, o metodismo repudiou os extremos do sacramentalismo, do institucionalismo, do dogmatismo intelectualista, do sentimento sensual, do clericalismo hierárquico, do ensinamento mítico e do semipelagianismo moralista: desvios perigosos, todos eles, do Evangelho autêntico de Jesus Cristo.108

Ainda que Wesley não aprovasse a idéia do movimento metodista separar-se da

Igreja Anglicana, após a sua morte, por forças de circunstâncias históricas, a separação

aconteceu.

O movimento metodista, iniciado por Wesley e seus amigos, foi se estruturando

aos poucos, para assim permitir a solidificação e crescimento do Metodismo. Tinha

uma estrutura flexível, muito apropriada ao movimento. Podemos dizer que havia

muito de “DONS E MINISTÉRIOS” na estrutura organizacional do movimento

metodista do século XVIII.

Wesley nunca preparou um anteprojeto da estrutura do metodismo. As peças surgiam, uma a uma de muitas fontes e Wesley adaptava-as às exigências do movimento.109

A forma de organização do metodismo permitia conservar a “espontaneidade dentro da ordem, a liberdade dentro da unidade, e o movimento dentro da instituição”.110

108Idem, p. 19. 109 REILY, D. A., Momentos Decisivos do Metodismo, São Bernardo do Campo, Imprensa Metodista, 1991, p. 44. 110 CASTRO, op. cit., p. 46.

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O movimento metodista tinha como grande preocupação, proporcionar a

participação ativa do povo na missão de Deus. A missão não era só realizada pelo

povo, mas também em prol dele próprio. Assim, como a Reforma Luterana, o

metodismo também procurava uma melhor maneira de organizar-se, para assim

aproximar-se do povo, procurando fazer deste um participante ativo da comunidade

cristã.

Também descobriram (os metodistas) meios adequados para edificar o povo despertado pelo seu trabalho de proclamação e para orientá-lo na sua caminhada em direção à perfeição cristã, por meio de sociedades, classes, bands (círculos, pequenos grupos), cultos e celebrações adequadas a essas finalidades.111

Como vimos, o movimento Wesleyano procura organizar-se diferentemente da

Igreja Anglicana, visando a proporcionar espaços para a participação do povo.

Enquanto que na Igreja Oficial (anglicana) a estrutura enrijecida não dava espaço para

o povo; no movimento Wesleyano este povo terá espaço e se realizará como

participante da missão divina.

Na estrutura a qual o movimento Wesleyano foi se organizando, encontramos

alguns pontos que indicam sua flexibilidade e sensibilidade em organizar-se. Podemos

dizer que nesta flexibilidade e sensibilidade encontramos muito de “DONS E

MINISTÉRIOS”. O movimento procurava sempre organizar-se, segundo os DONS

existentes na comunidade e os MINISTÉRIOS emergentes da sociedade. Dentre

alguns pontos que comprovam esta tese, destacamos os seguintes: “pregação ao ar

livre”, “ministério itinerante” e “pregação leiga”.

111 VVAA, op. cit., p. 45

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Podemos dizer que a “pregação ao ar livre” e o “ministério itinerante” foram

MINISTÉRIOS (serviços) que emergiram da igreja, diante de questões levantadas pela

sociedade; e que a “pregação leiga” começou como expressão do DOM de um dos

leigos (Tomás Maxfield) que participava do movimento. Como vimos, havia uma

dinâmica de “DONS E MINISTÉRIOS” implícita no movimento Wesleyano.

A estrutura organizacional, com a qual o metodismo vai se organizando no

século XVIII, apresenta uma dinâmica que se relaciona, em muito, com o modelo de

igreja organizado segundo os Dons e Ministérios. Afirmamos que este modelo

estrutural, pelo qual a Igreja Metodista brasileira opta por organizar-se, tem como uma

de suas fontes inspiradoras o movimento Wesleyano do século XVIII.

Podemos concluir este capítulo relembrando uma afirmação feita no início do

mesmo: “A releitura da Bíblia e da História foi uma das motivações que levou a Igreja

Metodista a optar por “Dons e Ministérios”. Nesta releitura, destacamos as

“Comunidades Paulinas”, a “Reforma Luterana” e o “Movimento Wesleyano do

século XVIII”, como fontes inspiradoras que motivaram a Igreja Metodista brasileira a

organizar-se segundo os “Dons e Ministérios”.

Devemos destacar o fato de que todas as três fontes apresentadas não se

constituem em igrejas institucionalizadas, mas sim em movimentos. Por isso, torna-se

necessário que tenhamos o cuidado de não fazer conclusões precipitadas com respeito

à implantação de “Dons e Ministérios” na Igreja Metodista. Pois, podemos cair no

erro de querer implantar estruturas organizacionais do passado, na igreja do presente.

Ou ainda, implantar uma estrutura organizacional de movimento em uma igreja

“super-estruturada”. Enfim, “Dons e Ministérios” inspirou-se muito em alguns

modelos organizacionais apresentados pela Bíblia e pela História.

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CAPÍTULO III

“DONS E MINISTÉRIOS”

uma estrutura organizacional participativa e missionária

O novo modo de ser igreja, aprovado pelo XIV Concílio Geral da Igreja

Metodista (1987), tem como seu maior objetivo propiciar uma estrutura

organizacional onde todos os seus membros possam expressar seus dons através de

ministérios prestados à comunidade. Ao relembrarem algumas das decisões tomadas

neste Concílio (1987), os Bispo afirmaram:

A igreja local é, assim, desafiada a dar oportunidades iguais a seus membros, de modo que expressem seus Dons através de serviços prestados à comunidade e circunvizinhança. Esse é o objetivo da Igreja de Dons e Ministérios. Dons que habilitam para o serviço, práticas que correspondam ao Evangelho que é pregado. Com isso, surge uma exigência de maior liberdade de organização, a fim de atender às necessidades de serviço ao povo.112

A Igreja, que se organizara por muito tempo dentro de uma estrutura

excessivamente burocrática e de manutenção, opta, em 1987, por uma estrutura

organizacional mais flexível e condizente com sua proposta ministerial. Nos concílios

anteriores, a Igreja Metodista havia aprovado “Planos de Ação” - que representavam

propostas ministeriais - neste ela aprova mudanças substanciais em sua estrutura

organizacional - procurando assim facilitar o cumprimento das propostas apresentadas

no último dos Planos o Plano para a Vida e Missão da Igreja.

112COLÉGIO EPISCOPAL, Dons e Ministérios: Espiritualidade e Serviço, in: Igreja: Comunidade Missionária a Serviço do Povo, op. cit., p. 14.

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A partir deste Concílio Geral (XIV), organizar-se segundo os “Dons e

Ministérios” passou a ser o grande desafio da Igreja. A implantação deste novo

modelo organizacional ficou sob a responsabilidade do Colégio Episcopal.

O Colégio Episcopal recebeu do Concílio Geral, além da grande responsabilidade de governar a Igreja, a incumbência de implantar um novo modelo de Igreja organizada em Dons e Ministérios, isto é, uma Igreja Ministerial. Desafiar e conscientizar a Igreja Metodista a viver e agir missionariamente, na perspectiva do movimento Dons e Ministérios, não seria uma tarefa fácil...113

Nos anos decorrentes a 1987, o Colégio Episcopal empenhou-se em

proporcionar materiais e atividades pedagógicas que levassem a Igreja Metodista a

organizar-se em Dons e Ministérios.114

Mas, ainda que o Colégio Episcopal tenha se empenhado por implementar este

novo modelo de Igreja, ele não foi muito assimilado por uma grande parte da Igreja.115

Muitas comunidades locais apenas substituíram os nomes, ou seja, o que era chamado

de “comissão” passou a ser chamado de “ministério”. Exemplo: Comissão de

Evangelização passou a ser chamada de Ministério da Evangelizacão. Citamos este

exemplo por entendermos que ele representa significativamente a “ignorância” de

muitas igrejas com respeito a Dons e Ministérios. Pois nesta nova estrutura

organizacional, todos os dons e todos os ministérios estão à serviço da evangelização,

não necessitando assim existir um único ministério se responsabilizando por esta

tarefa.

Destacam-se os ministérios “oração e louvor” e “louvor e música”, seguidos dos ministérios de “comunicação”, “ação social e comunitária”. Além desses, observa-se a existência

113 CASTRO, op. cit., p. 61. 114 Para um maior aprofundamento com respeito a ação pedagógica do Colégio Episcopal na Implantação de Dons e Ministérios, leia: CASTRO, op. cit., p. 59.117. 115 Podemos verificar isto no relatório apresentado pelo Colégio Episcopal (1991) e no testemunho de alguns pastores.

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dos ministérios “visitação”, “ensino e educação cristã”, “proclamação”, “patrimônio e finanças”, “evangelização”. Por um lado, o estilo dos ministérios é a reprodução das comissões outrora existentes. São poucos os ministérios inovadores e específicos, para o tratamento de problemas localizados da comunidade. A maior parte dos ministérios ainda se volta para a manutenção da vida de “culto” e “administração” da igreja, vida interna.116

Percebe-se, através do relatório apresentado pelos bispos e também pelo

testemunho de alguns pastores, que embora os delegados da igreja, reunidos em

Concílio Geral, tivessem optado por Dons e Ministérios, na esperança de que esta

nova estrutura organizacional levaria a igreja a ter uma postura mais missionária,

muitas igrejas locais não entenderam esta mudança e apenas modificaram os nomes,

sustentando ainda a antiga forma de organizar-se (estrutura de manutenção - cargos e

comissões). Fazendo analogia a uma expressão neotestamentária, podemos dizer que o

Concílio Geral havia proposto “odres novos para vinho novo”, mas muitas igrejas

locais não entenderam esta proposta. Ainda que tivessem o “vinho novo”,

continuaram usando “odres velhos”.

Embora os bispos tenham se empenhado na promoção de atividades e materiais

pedagógicos para a implementação dos Dons e Ministérios, após quatro anos eles

reconheceram que todo o esforço ainda não havia sido suficiente, pois algumas Igrejas

não conseguiam se desvencilhar da antiga estrutura organizacional.

Nota-se que a orientação, ao longo do quadriênio, sobre como organizar-se em Dons e Ministérios, não foi totalmente suficiente. Permaneceram, embora em pequena escala, dúvidas e queixas. E há igrejas que se declaram com falta de condições para se organizarem como tal.117

116COLÉGIO EPISCOPAL, Dons e Ministérios: Espiritualidade e Serviço, in: Igreja: Comunidade Missionária a Serviço do Povo, op. cit., p. 27. 117 Idem.

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Reconhecendo as limitações do processo pedagógico utilizado no quadriênio

anterior (1987-1991) e também algumas dificuldade relativas a questões políticas,118

referentes a implantação do novo modelo de igreja, os bispos e os delegados reunidos

em Concílio Geral em 1991, colocaram como um dos pontos a serem alcançados, nos

próximos anos, a reorganização da igreja local em Dons e Ministérios, tendo o PVMI

como seu ideário.

O que esperamos alcançar... - aprofundar a reorganização das igrejas locais, com base nos Dons e Ministérios, a partir dos documentos produzidos pela Igreja Metodista, inclusive o Plano para a Vida e a Missão, como forma de avaliação da caminhada de Dons e Ministérios, principalmente junto às lideranças das igrejas locais.119

Organizar as igrejas locais em Dons e Ministérios continua sendo o grande

desafio da Igreja Metodista brasileira. Pois, ainda que este modelo organizacional

tenha bases bíblicas, teológicas, históricas e pastorais, que comprovem sua eficácia,

no cotidiano de algumas igrejas ele tem sido abandonado, ou implantado

incorretamente (não dando resultados e trazendo descrédito).

Para reverter o quadro, levando-se mais igrejas locais a optarem por Dons e

Ministérios (na sua real proposta), torna-se necessário realizar um trabalho mais árduo

de conscientização, do que o usado até agora. Deve-se levar as igrejas locais a

reconhecerem que “Dons e Ministérios não é um programa”,120 mas sim um

“movimento” conduzido pelo Espírito Santo. Movimento este que já esteve presente

em outras comunidades cristãs e que agora faz-se presente também na Igreja

Metodista brasileira. Organizar-se em Dons e Ministérios é estar disposto a seguir o

sopro do Espírito. O Espírito sopra onde quer, capacitando quem quer e quando quer,

visando a um fim proveitoso (a missão).

118 Muitos pastores e líderes ficaram com medo de perder o seu “status” diante da nova configuração, por isso não se esforçavam por implementá-la. 119 COLÉGIO EPISCOPAL, Planejamento Nacional, in: Igreja: Comunidade Missionária a Serviço do Povo, op. cit., p. 82-83. 120 COLÉGIO EPISCOPAL, Dons e Ministérios, op. cit., p. 05.

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Organizar-se em Dons e Ministérios. Significa dar oportunidade a uma estrutura

flexível e missionária. Uma estrutura que se molda às exigências da missão.

Para continuar o processo de conscientização da Igreja, é preciso que se estude

mais as fontes deste novo modelo organizacional, optado em 1987. Deve-se promover

estudos bíblicos e históricos que relatem as experiências de outras comunidades que

se organizaram em Dons e Ministérios. No primeiro e segundo capítulos deste

trabalho, apresentamos alguns subsídios que ajudam na elaboração destes estudos.

Foram apresentados: As comunidades Paulinas, a Reforma Luterana, o Movimento

Wesleyano (século XVIII) e o Programa Agentes da Missão (5ª RE), como algumas

comunidades e movimentos que tiveram experiências positivas com Dons e

Ministérios, e que serviram de fontes inspiradoras para que o Concílio Geral de l987

optasse por este modelo “carismático” (organizado segundo os carismas e os

serviços).

Neste processo de conscientização é importante levar a Igreja a valorizar seu

passado, pois assim ela evitará de cometer alguns erros, já cometidos por alguns; e

também poderá recriar algumas experiências positivas, vividas por outros. A Igreja

precisa fazer uma releitura da Bíblia e da História, pois nelas encontrarão exemplos de

comunidades que se organizavam num modelo semelhante ao dos Dons e Ministérios,

e que tiveram muito êxito.

Dons e Ministérios é uma estrutura organizacional participativa e missionária.

Inspira-se muito na doutrina do sacerdócio universal de todos os crentes, apresentada

por Lutero. Pois valoriza em muito a participação de todos os membros da Igreja na

obra evangelizadora. Procura não fazer distinção entre os vários ministérios: todos são

iguais.

... (E) na igreja ministerial os presbíteros ou presbíteras são habilitados para ensinar, coordenar, motivar animar, e

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integrar os demais ministérios. Não formam uma classe ou um ministério acima dos demais.121

Mesmo que os(as) presbíteros(as) tenham um ministério muito importante na

vida da Igreja, eles não são considerados melhores; pois, na Igreja de Dons e

Ministérios todos são sacerdotes, e todos participam de sua missão. Podemos uma vez

mais fazer uso da fala de Leonardo Boff, quando apresenta a estrutura carismática das

comunidades paulinas.122

Não existe nenhum membro não carismático. Vale dizer ocioso, sem ocupar um determinado lugar na comunidade “cada membro está a serviço do outro membro” (Rm 12,5). Todos gozam de igual dignidade, não cabendo privilégios que desestruturam a unidade do todo: “o olho não pode dizer à mão: não preciso de ti; nem tampouco a cabeça aos pés: não necessito de vós” (I Cor 12,21). A regra de ouro que salvaguarda a sanidade do modelo, sua circularidade fraterna foi assim formulada por Paulo: “todos os membros tenham igual solicitude uns com os outros” (I Cor 12,25)123

Tanto o sacerdócio universal de Lutero, quanto a eclesiologia paulina, valorizam

em muito a participação de todos os membros na igreja, não permitindo que uma

pessoa ou grupo possa colocar-se acima dos demais. É esta visão de corpo que Dons e

Ministérios procura levar a sério. Organizar-se em Dons e Ministérios é permitir que

cada membro participe com seus dons, nos vários ministérios existentes na

comunidade.

Além de promover uma estrutura bem participativa, Dons e Ministérios tem

como seu maior objetivo levar todos os participantes da comunidade a realizar,

conjuntamente, a missão de Deus. Ela é uma estrutura missionária.

Organizando-se em Dons e Ministérios, a Igreja Metodista é chamada a ser parte da Igreja de Cristo e parte do povo de

121COLÉGIO EPISCOPAL, Dons e Ministérios: Espiritualidade e Serviço, in: Igreja: Comunidade Missionária a Serviço do Povo, op. cit., p. 17. 122 Veja p. 47, capítulo II. 123 BOFF, op. cit., p. 238.

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Deus, com uma vocação própria. Desde os inícios de seu movimento na Inglaterra, liderado por João Wesley, com grande participação de muitos leigos e leigas, os metodistas associaram-se em comunidades (sociedade, classes, pequenos grupos) e exerceram ministérios em nome de Jesus Cristo, junto ao povo.124

Neste novo modelo organizacional da Igreja, o povo se organiza enquanto

corpo, tendo em mente realizar os vários ministérios que a missão lhe impõe. Sua

antiga estrutura era “pesada” e “muito burocrática”, esta nova é mais flexível e voltada

para a realidade. Enquanto a antiga estrutura valorizava a “manutenção”, esta nova

valoriza a missão.

Com este novo modelo organizacional, a Igreja Metodista é convidada a

desprender-se de si mesma, procurando realizar a missão de Deus, em meio ao povo.

As regras para a sua estruturação estão na própria realidade onde irá realizar esta

missão. Sua estrutura se “molda” às exigências do momento. Podemos dizer que são

as necessidades do “campo missionário” que designam quais os Dons e Ministérios

necessários para o cumprimento da missão.

Para uma melhor realização da missão, na igreja de Dons e Ministérios, o

Concílio Geral de 1991 dividiu a ação da Igreja em três áreas: “Ação Missionária”,

“Ação Docente” e “Ação Administrativa”. Esta divisão é apenas um caminho

metodológico, pois todas as três devem convergir para a missão.

O presente Planejamento Nacional põe em destaque a “ação missionária”, propriamente dita, bem como a “ação docente” e a “ação administrativa”. O ensino (ação docente) por variadas formas e métodos, e a manutenção e busca de eficácia das estruturas da organização (ação administrativa) se constituem em componentes da própria ação missionária. Pois, seja o ensino ou a administração, ambos só tem sentido na medida que tiverem como eixo central a preocupação missionária. A separação entre “ação missionária”, “ação docente” e “ação administrativa”,

124 COLÉGIO EPISCOPAL, Dons e Ministérios: Espiritualidade e Serviço, in: Igreja: Comunidade Missionária a Serviço do Povo, op. cit., p. 9.

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portanto, é um caminho metodológico e necessário para composição deste plano. Todas essas ações precisam convergir para a fundamental razão de ser Igreja: a missão. A docência lhe dá fundamento, orientação. A administração lhe dá mobilidade, sustentação, oxigenação vital.125

Como vimos, as diferentes áreas de ação da igreja devem estar voltadas para a

missão. O Planejamento Nacional (1991) apresenta várias propostas para estas áreas

de ação, tanto para o nível local, quanto para os níveis regional e geral. Destacaremos

apenas uma proposta feita para as igreja locais na área de ação missionária, por estar

totalmente ligada ao tema de nosso capítulo. Seu tema é: adoção de um modelo de

“organização por projetos”.126

- Adotar o modelo da “organização por projetos, para a estruturação da igreja local, com base nos seguintes passos: a) tomar conhecimento das necessidades do agrupamento humano onde se localiza a igreja local; b) esquematizar, com base nessas necessidades, os serviços que pode realizar, aproveitando para isso os dons e os recursos que possui; c) avaliar seu potencial, identificando os recursos disponíveis, ou que possam ser conseguidos, tanto interna como externamente, junto a grupos cujo interesse pela defesa da vida condiga com a proposta do evangelho; d) selecionar é priorizar os serviços, de acordo com os recursos disponíveis; e) organizar a comunidade, internamente, de acordo com os serviços a serem executados; f) prover a instrução e a disciplina, de modo que todos os participantes sejam coesos, mutuamente edificados, efetivamente companheiros na missão.127

Ao organizar-se em Dons e Ministérios a Igreja Metodista é convidada a

elaborar seu “plano de ação”, ou seja, planejar o que pretende realizar. Optar por Dons

e Ministérios não é, portanto, optar pela desordem ou desorganização; muito pelo

contrário, é optar por uma estrutura organizada e ordenada. Ao afirmarmos que Dons

125COLÉGIO EPISCOPAL, Planejamento Nacional, in: Igreja: Comunidade Missionária a Serviço do Povo, op. cit., p. 81-82. 126 O Colégio Episcopal procurou facilitar a compreensão desta determinação do XV Concílio Geral, confeccionando a apostila: Elaborando juntos nosso projeto, preparada por Lúcia Leiga (ver anexo 1). 127 COLÉGIO EPISCOPAL, Planejamento Nacional, in: Igreja: Comunidade Missionária a Serviço do Povo, op. cit., p. 83.

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e Ministérios é um modelo de igreja onde todos os membros participam, devemos

reconhecer os vários estágios da participação, que vai do planejar (elaborar o plano) à

avaliação dos resultados.

A organização por projetos, numa Igreja Ministerial, deve ter como referencial teórico a administração participativa. A comunidade é convidada a participar ativamente do planejamento (planejamento participativo). Esta participação deve se dar em nível de decisão (Concílio Local); de execução (ministérios) e de resultados (todos/as).128

Dons e Ministérios valoriza muito os atos comunitários. Todos são chamados

por Deus para exercerem seus Dons nas várias áreas de ação da Igreja. Todos são

convidados a participar conjuntamente da missão de Deus; tal como um corpo (muitos

membros, mas com uma só finalidade - evangelizar). O “planejamento

participativo”129 é um dos momentos onde os vários ministros atuam como corpo, se

preparando para a execução da missão para a qual foram vocacionados.

Dons e Ministérios é um estrutura organizacional que visa proporcionar a

participação de todos, tendo como seu maior objetivo realizar a missão de Deus.

O novo modo de ser igreja, organizado segundo os Dons e Ministérios, é um

estrutura organizacional que nasceu em protesto contra a antiga forma de organizar-se

(cargos e comissões); procurando construir uma estrutura mais participativa e

missionária.

A participação de todos da comunidade, na realização da missão de Deus, é o

grande “alvo” proposto por Dons e Ministérios.

128 CASTRO, Clovis Pinto de, O(A) Pastor(a) e a organização da igreja por projetos, Apostila distribuída no Encontro Nacional de Pastores e Pastoras. Sesc Bertioga, São Paulo, setembro, 1992, p. 9. 129 Para melhor compreender o que é um planejamento participativo, ler: BRIGHENTI, Agenor, Metodologia para um Processo de Planejamento Participativo, São Paulo, Paulinas, 1988.

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CONCLUSÃO

No Concílio Geral de 1987, a Igreja Metodista optou por um novo modo de ser

igreja, ou seja, uma igreja organizada em “Dons e Ministérios”.

Dons e Ministérios é mais do que um programa ou projeto. É uma nova forma de ser Igreja. É um movimento que simboliza o caráter ministerial de toda a igreja, envolvendo pastores(as) e leigos(as) no ministério total da igreja.130

A opção por Dons e Ministérios não aconteceu por acaso. Ela é fruto de um

longo processo de avanços e retrocessos. Nasceu da busca da Igreja Metodista

brasileira por tornar-se uma comunidade mais missionária. As raízes mais fortes desta

opção se encontram nos Planos Quadrienais de 1974 e 1978, no Plano para a Vida e a

Missão da Igreja (1982) e nas práticas de algumas igrejas (principalmente na Quinta

Região). Por isso, no primeiro capítulo, procuramos apresentar um pequeno histórico

da Igreja Metodista brasileira, principalmente no que se refere à sua busca por uma

estrutura organizacional mais condizente com sua proposta ministerial.

No segundo capítulo, a releitura da Bíblia e da História Cristã foi apresentada

como sendo uma das motivações que levou a Igreja Metodista a optar por Dons e

Ministérios em 1987. Nesta releitura, destacamos as “Comunidades Paulinas, a

“Reforma Luterana” e o “Movimento Wesleyano do século XVIII”, como fontes

inspiradoras que motivaram a Igreja a decidir por este novo modelo organizacional.

Dons e Ministérios é uma estrutura organizacional que visa proporcionar a

participação de todos, tendo como seu maior objetivo realizar a missão de Deus. Foi

tendo isto em mente que apresentamos, no terceiro e último capítulo, alguns

130 CASTRO, op. cit., p. 143.

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apontamentos com respeito a este novo modo de ser igreja. Dons e Ministérios é

apresentado como sendo uma estrutura organizacional participativa e missionária.

Podemos concluir o nosso trabalho fazendo a seguinte afirmação: Dons e

Ministérios é uma estrutura organizacional que visa realizar a missão de Deus.

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