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rev. ufmg, belo horizonte, v. 20, n.1, jan./jun. 2013 294
pena, a. poemapr
isci
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295rev. ufmg, belo horizonte, v. 20, n.1, p. 294-295, jan./jun. 2013
penna, a. d. a um passante
A UM PASSANTE
Você não é belo ao passar.
Pálido ou indesculpavelmente branco,
cabelos recém-lavados,
óculos espelhados, de corrida como os de um cavalo,
o aro amarelo mal se equilibrando no rosto de ossos,
civil, moderna, heroicamente feio.
Traficante, dono da boca, do pedaço?
Não sei, mas sabe você como haverão de saber outros.
A caminho da favela, seus passos – planos – estão traçados,
como os meus. Em círculos caminho, circunscrita,
ou corro, presa da organização – outra? –
de que preciso, ser-no-mundo vasto e sem solução.
Raimundo poderia ser o seu nome quanto o meu,
em letra somente para poucos decifrável,
assinados em multidão.
*Arquiteta e Doutora em Geografia pela Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG. Escritora, tradutora e professora do
curso de Arquitetura e Urbanismo da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas (Brasil). Publicou, entre
outros, Espelho diário (UFMG, EDUSP e IOESP, 2008) e Quarenta poemas e dez (Scriptum, 2011). O poema, inédito, integra
seu próximo livro, com previsão de lançamento em 2013. E-mail: <[email protected]>.
alícia duarte penna*
TO A PASSERBY