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1 Pensar entreVidas minúsculas: cartografia de sentidos e viveres; relatos de experiências Vívidas Janete Marcia do Nascimento 1 Luciana Alves Pinto 2 Introdução Este texto é um relato sobre uma oficina chamada Vida, desenvolvida com crianças de sete a doze anos, estudantes de turmas do 3° e 4° Anos dos Anos Iniciais/Ensino Fundamental, de uma escola pública municipal situada no município de Toledo, no estado, no estado do Paraná, no Brasil. O tema da oficina surgiu do desejo 3 de pensar os sentidos da palavra Vida entre as crianças, em diferentes aspectos. Assim, objetivou-se criar atividades que captassem intensidades vivenciadas pelas crianças, compreendendo os processos de elaboração de sentidos através do desenho, da pintura, da escrita e da leitura. Seu começo foi no ano de 2011 e algumas atividades continuam sendo desenvolvidas ainda neste ano. Seu título: Vidas minúsculas cartografando viveres infantis, inventado para significar a singularidade das vidas infantis com as quais convivemos no universo das salas de aula. Nosso desejo foi destacar a grandeza das vidas das crianças, mostrando nas atividades desenvolvidas os viveres infantis cartografados a cada intensidade, em cada atividade. Esse o desejo deste texto. Conhecer a vida de cada um, reconhecer-se na vida de cada um, aprender com as outras vidas, respeitar as vidas que se entrelaçam, entender e compreender os sentidos de 1 Professora da Educação Básica/Anos iniciais/Ensino Fundamental. Bolsista pesquisadora do projeto Escrileituras um modo de ler-escrever em meio à vida do Observatório de EducaçãoOBEDUC/Inep/Capes. Núcleo de Toledo/UNIOESTEUniversidade Estadual do Oeste do Paraná. Contato: [email protected] . Pedagoga de formação; Especialista em Fundamentos da Educação, Mestre em Letraslinguagem e Sociedade (UNIOESTE/CASCAVEL/PR). Escrileitora iniciante, inquieta, curiosa e encantada pelas coisas sensíveis e intensas. Atenta ao devir criação. Amante da Literatura, da Arte, da Filosofia. 2 Professora da Educação Básica/Anos iniciais/Ensino Fundamental. Bolsista pesquisadora do projeto Escrileituras um modo de ler-escrever em meio à vida do Observatório de Educação OBEDUC/Inep/Capes. Núcleo de Toledo/UNIOESTEUniversidade Estadual do Oeste do Paraná. Contato: [email protected] . Pedagoga de formação; Especialista em Educação Especial na Educação Inclusiva/UNIPAN/Cascavel/PARANÁ. 3 O desejo permeia o campo social, tanto em práticas imediatas, quanto em projetos muito ambiciosos. Por não querer me atrapalhar com definições complicadas, eu proporia denominar desejo a todas as formas de vontade de inventar uma outra sociedade, outra percepção do mundo, outros sistemas de valores (GUATTARI; ROLNIK, 1986, p.125).

Pensar entre vidas

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Page 1: Pensar entre vidas

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Pensar entreVidas minúsculas: cartografia de sentidos e viveres; relatos de

experiências Vívidas

Janete Marcia do Nascimento1

Luciana Alves Pinto2

Introdução

Este texto é um relato sobre uma oficina chamada Vida, desenvolvida com crianças de

sete a doze anos, estudantes de turmas do 3° e 4° Anos dos Anos Iniciais/Ensino

Fundamental, de uma escola pública municipal situada no município de Toledo, no

estado, no estado do Paraná, no Brasil. O tema da oficina surgiu do desejo3 de pensar os

sentidos da palavra Vida entre as crianças, em diferentes aspectos. Assim, objetivou-se

criar atividades que captassem intensidades vivenciadas pelas crianças, compreendendo

os processos de elaboração de sentidos através do desenho, da pintura, da escrita e da

leitura. Seu começo foi no ano de 2011 e algumas atividades continuam sendo

desenvolvidas ainda neste ano. Seu título: Vidas minúsculas – cartografando viveres

infantis, inventado para significar a singularidade das vidas infantis com as quais

convivemos no universo das salas de aula. Nosso desejo foi destacar a grandeza das

vidas das crianças, mostrando nas atividades desenvolvidas os viveres infantis

cartografados a cada intensidade, em cada atividade. Esse o desejo deste texto.

Conhecer a vida de cada um, reconhecer-se na vida de cada um, aprender com as outras

vidas, respeitar as vidas que se entrelaçam, entender e compreender os sentidos de

1 Professora da Educação Básica/Anos iniciais/Ensino Fundamental. Bolsista pesquisadora do projeto Escrileituras – um modo de ler-escrever em meio à vida do Observatório de Educação–OBEDUC/Inep/Capes. Núcleo de Toledo/UNIOESTE–Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Contato: [email protected]. Pedagoga de formação; Especialista em Fundamentos da Educação, Mestre em Letras–linguagem e Sociedade (UNIOESTE/CASCAVEL/PR). Escrileitora iniciante, inquieta, curiosa e encantada pelas coisas sensíveis e intensas. Atenta ao devir criação. Amante da Literatura, da Arte, da Filosofia.

2 Professora da Educação Básica/Anos iniciais/Ensino Fundamental. Bolsista pesquisadora do projeto

Escrileituras – um modo de ler-escrever em meio à vida do Observatório de Educação OBEDUC/Inep/Capes. Núcleo de Toledo/UNIOESTE–Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Contato: [email protected]. Pedagoga de formação; Especialista em Educação Especial na Educação Inclusiva/UNIPAN/Cascavel/PARANÁ.

3 O desejo permeia o campo social, tanto em práticas imediatas, quanto em projetos muito ambiciosos. Por não querer me atrapalhar com definições complicadas, eu proporia denominar desejo a todas as formas de vontade de inventar uma outra sociedade, outra percepção do mundo, outros sistemas de valores (GUATTARI; ROLNIK, 1986, p.125).

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Vidas. Esse foi o nosso grande desafio. Pois, como cartógrafos, segundo Kastrup (2009,

p.61), nos aproximamos do campo como estrangeiros visitantes de um território que não

habitávamos. O território, no sentido aqui delimitado, foi sendo explorado por olhares,

escutas, pela sensibilidade aos odores, gostos e ritmos. O que se passou nos dias que

vieram? A cada novo dia íamos sendo afetadas por aquilo que os afetava, sofríamos dos

mesmos sofrimentos, bebíamos das mesmas descobertas, estabelecíamos elos. Os

rizomas foram surgindo das intensidades vividas minusculamente, os mapas de vidas se

cartografavam infinitamente!

Destacar-se-ão aqui os disparadores escolhidos para o desenvolvimento da oficina, os

quais se consistiram em conversações, relatos de experiências vividas, elaboração de

sentidos orais e escritos sobre Vida, escrita em diários, elaboração de desenhos,

cartazes, painéis e, finalmente, mostra de desenhos e produções. Importante mencionar

que diversas atividades foram inventadas durante a oficina Vida.

Pensar EntreVidas

A sala de aula é um encontro com inúmeras vidas. Vidas que se refletem, que se

manifestam, que se gestam, que se libertam, que se desejam, que se imaginam, que se

conhecem, que se desconhecem, que brilham a cada olhar, a cada gesto de atenção!

Vida? Quais vidas? Que vidas? Cruzam-se entre si e com outras vidas. Assemelham-se?

Diferem-se? Repelem-se? Libertam-se? Aprisionam-se? Emocionam-se?

De como tudo se passou...

Vidas Minúsculas...

Fevereiro. 2011. Manhã de quarta-feira. Trinta faces. Amedrontadas,

assustadas, felizes, amadas, expostas, escondidas, atentas, desconectadas, descuidadas,

emocionadas, apáticas, audaciosas, nervosas, tranquilas, tristes, vivas, mortificadas...

Um misto de susto, desafio e esperança. Retrato de uma sala de aula; relatos da vida de

professora. Na sala em frente, o quadro se desenha, repetindo-se a cena. Insiste, repele,

pouco difere. O que há em comum? Escrileitoras numa tentativa desenfreada de

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conhecer, escrever em meio à vida; vida que se desenha sob nossos olhares e sob os

olhares de nossos pares. Vazio! Na bagagem, dois textos nos serviriam de norte: “Pistas

para o método cartográfico” e “Estratégias biográficas“.

Como descobrir o que se esconde por detrás de cada rosto, expressão, gesto?

“Entretanto, o gesto nunca é totalmente o que parece estar sendo. Apenas insinua algo

do qual seu portador pouco sabe” (COSTA, 2011, p.133). “Vidas Minúsculas”, tentativas

de biografemas de vidas. Conhecer, reconhecer a vida de cada criança; pesquisar vidas,

ler vidas. “A leitura biografemática faz irromper a figura do leitor, não como curioso

empírico, mas como ator de uma escritura que já é ela mesma, a realização de uma vida

possível.” (COSTA, 2011, p.134). O texto surge como um desabafo, descompasso,

tentativa de explicar o inexplicável, busca constante num território inconstante, busca do

nexo, daquilo que não se vê num primeiro olhar, daquilo que não se vê, mas se sente,

contentamento descontente, viver livremente. Será? O que será? Como será? Não sei!

Talvez jamais o saiba completamente, mas sou insistente, não busco respostas: busco

saídas; busco vidas! Então as encontro; e me encanto, me emociono, me decepciono;

vejo um caminho em cada rosto, em cada momento, em cada sinal, em cada desenho,

em cada história, muitos caminhos, que em algum momento se cruzam, se afinam, se

completam. E depois? Depois seguimos caminhos que nos levam a novos caminhos, a

velhos caminhos. Seguiremos sempre!

Vida. O que é?

Por que elaborar e desenvolver uma oficina com o tema Vida? O que move sentimentos,

intensidades, curiosidades sobre a mera constatação de que se está vivo em meio a

tantas vidas que se entrelaçam todos os dias na escola? Na sala de aula, a cada pedaço

de tempo, durante uma ou muitas manhãs, os nervos se afloram na tentativa de

reconstruir laços afetivos de convivência, de ânimo – e por vezes, de desânimo – pela

responsabilidade que se tem como professoras sobre as vidas que se nos entregam,

todos os dias. O que dizer sobre a vida escolar dessas crianças? Como definir, perante as

crianças as muitas vidas das quais todos nós estamos constituídos e repletos de normas

de convivência em todos os grupos aos quais pertencemos? Como definir uma vida que

adentra a sala de aula e sobre a qual pouco ainda se sabe? O que dizer do brilho nos

olhos das crianças ao observar, dia a dia, o nascimento da vida das sementes de vegetais

nos experimentos que se fazem nas aulas de Ciências? Como compreender a curiosidade

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das crianças pelas vidas que conhecemos juntos, nos diversos livros para os quais se

criou o hábito de adentrar para viagens inusitadas durante o ano inteiro? Muitas são as

perguntas. E é possível que se pudessem elaborar inúmeras respostas, igualmente

questionadoras. Costa (2010, p.47), ao questionar “e a gente entra numa vida como?”

dirá, através de Alain Robbe-Grillet em Por um novo romance, ao comentar a obra do

escritor Robert Pinget, que: “Trata-se de possíveis que erram pelos cantos – de vidas

possíveis, literaturas possíveis”. Pode ser, pois, que nas inúmeras possibilidades de dar

sentido à palavra Vida se possam considerar os encontros que se dão, diariamente,

através dos conteúdos, atividades, brincadeiras, olhares e encantamentos que se

oferecem a cada dia, por crianças únicas, com olhares ávidos por experimentar outros

conceitos de vida.

Seguindo e analisando a forma de escrita do citado crítico, essa é compreendida como

“breves pedaços de realidade decomposta”, ligadas por um só princípio, que ele chamará

de vida – para Pinget, “não estaria no desenrolar das cenas, no seu enredo ou na

narrativa de acontecimentos, mas no que acontece desde que o romance inventa para si

uma origem”. Entende-se então, segundo Costa, que, “se a vida começa por um ‘eu

nasci’”, é porque, a partir daí, dessa invenção, tudo se bifurca, toda uma coleção de

inícios possíveis que se abre a partir desse primeiro enunciado (vida), numa escritura,

seria, ela mesma, um vir a ser.

Com a oficina Vida, foi possível observar o nascimento de um conjunto de possibilidades.

Novos elos que se constituem das intensidades do vívido e do vivido. Talvez aqui seja o

lugar e agora seja o momento de escrevermos sobre Vidas que não são nossas, mas que

se encontram entrelaçadas às nossas pelas possibilidades dos encontros que ainda

nascem das atividades que se compartilham, diariamente. Escrever, portanto, dar-se-á

num gesto desconfortavelmente confuso pelo medo de agonizar, de não dar conta de

expressar as intensidades dos sentidos de vida que se estão construindo durante a

oficina. Observa-se, no entanto, que as atividades desenvolvidas na oficina ainda estão

criando para nós, crianças e professoras, sentidos de Vida referentes às vivências

fundamentais como amor, amizade, carinho; as coisas que gostamos de fazer, como

brincar, ler; aulas de educação física, hora do recreio; sorvete; recreio no parque; vídeo

-game, brinquedos, guloseima. Enfim. As coisas mais fundamentais que vivenciamos no

dia a dia, tanto na escola quanto em casa, em nossas diversas outras Vidas. Chamamos

de disparadores as formas de atividades que escolhemos para desenvolver durante a

oficina Vida, os quais caracterizam iniciativas definidoras de orientações para criar,

desenhar, pensar a Vida, por diferentes meios. Serão apresentados, a seguir, os

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disparadores que ainda temos usado para a oficina que ora permanece em nossas

práticas.

Rodas de conversações

As rodas de conversas deram corpo a todas as atividades desenvolvidas na oficina Vida.

A cada roda, novas descobertas e criações que se tornaram arte, brincadeiras, desenhos,

leituras, sentidos orais e escrituras desenhadas, a cada vez que iniciávamos uma

atividade diferente. As conversações permearam sentidos, criaram manias,

transformaram-se em cobranças – entre as crianças quando alguém, de repente, se

deixava levar pelas tentações que atentavam contra a vida, como o desejo de machucar

verbalmente o outro, o uso de palavras indelicadas que feriam os sentimentos do outro e

que, de pronto, lembravam-nos do compromisso estabelecido entre as vidas que

conviviam diária e cotidianamente. Dos sentidos, as constatações de que a vida se

construía a cada dia. Para dar vida às conversas, trabalhamos com a memória. Para isso,

trouxemos objetos pessoais sobre os quais muito conversamos acerca de suas origens,

seus sentidos, suas intensidades, conhecendo a si e ao outro, reconhecendo na história

do outro um pouco da própria história. Através desses objetos pessoais, cada estudante

conta, reconta, inventa e apresenta sua história, a história que vive e que revive ao

contar. Ao ouvir e ser ouvido criam-se elos... Semelhanças, sentimentos, sentidos.

Foto 1: crianças expondo seus objetos pessoais, expressando suas memórias de Vida.

Criando sentidos

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Descobrimos, no decorrer da oficina, que falar sobre a Vida é muito mais fácil que

escrever. As palavras saem facilmente; já a escrita necessita de recursos mais

elaborados de representação. Então começamos falando... E como falamos! Cada aluno

se deixando ver, mostrando um pouquinho de si, falando o significado da palavra Vida e,

às vezes, mostrando a vida que leva. Quando falamos, deixamos que os outros vejam o

que temos na alma! E foi isso o que aconteceu: lemos almas! Conhecemo-nos, nos

sensibilizamos, nos apaixonamos! E através das histórias de vida de cada um e do

significado da palavra vida para cada um de nós, percebemos as possibilidades de

recomeços e novos começos para nossas próprias vidas e para a vida dos outros.

Utilizamo-nos de disparadores diversos para desvendarmos a vida nas entrelinhas de

nossa existência. Desenhamos, pintamos, dançamos, cantamos, lemos, fabulamos e

escrevemos. Os momentos vividos durante a oficina foram tornando-se necessários,

felizes e livres. Gostamos da ideia de fazer parte daquele território.

Palavras...

Definir o sentido de vida, da palavra vida para si mesmo, através de outra palavra.

Traduzir ao que a palavra vida remete, o que nela permeia, o que nela está presente.

Explicar oralmente o motivo da escolha; escrever em fichas a palavra escolhida e junto a

ela o significado dela para si. Procurar no dicionário o significado da palavra escolhida e

comparar o significado encontrado com o que a palavra teve para si mesmo, antes desse

encontro. Essa atividade nos fez perceber o quão importante é o contexto também no

universo das palavras. Assim como nós, elas, sozinhas, possuem significados diversos,

que podem ser transcriados, reinventados.

Foto 3: Escrita

de palavras

que

expressam

Vida.

Page 7: Pensar entre vidas

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Escritas das histórias de Vida, escrita do minúsculo

Retomando o objetivo maior desta oficina – a escritura de vidas –, propusemos às

crianças que escrevêssemos em diários; escritas do seu mundo, real e imaginário, do que

é, do possível, daquilo que passa despercebido, daquilo que nem mesmo os olhares mais

atentos conseguem ver. Escrita dos segredos, dos medos, dos sonhos, dos desejos, como

forma de melhorar a escrita. De melhorar a vida, pois à medida que escrevíamos nossos

diários, nos conhecíamos, as crianças confiavam-nos seus segredos, seus medos,

alegrias; dúvidas, enfim. O elo tornava-se mais forte. Juntos, descobrimos que a Vida

está presente na arte, na música, no medo, nas pessoas, nos objetos, nos livros, naquilo

que somos, fomos e poderemos ser!

Das diversas formas de ser, sentir e expressar sentimentos!

Foto 4:

Elaboração

de cartazes

que

expressam

Vida.

Buscamos envolver a todos, de diferentes formas. Para isso, optamos por expressar em

cartazes coloridos alguns sentidos de Vidas, por meio da leitura e ilustração de poesias

em homenagem ao Dia das Mães que se aproximava, e que previa uma apresentação

artística na Sessão Cívica da escola. Desenhou-se a vida colorida, viva, atenta como os

Page 8: Pensar entre vidas

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olhares das crianças, que se intensificavam sobre o branco do papel na vontade de

expressar os sentidos mais intensos dessa palavra em destaque.

Vida por escrito...

Foto 5: Sentido de Vida.

Foto 6: Sentido de Vida.

Dos sentidos orais e escritos – Vidas

Escrever sobre a vida foi tarefa construída aos poucos: nas produções de textos exigidas

como avaliações constantes dos avanços na escrita; nas cobranças diárias sobre o

cuidado para não trocar as letras que insistiam manchar o branco do papel com o cinza

da mistura lápis/dedo/borracha. Tantos desejos se desenharam! As vozes aflitas das

professoras assustadas por desejarem ver um cartaz bonito, limpo, colorido surgir no

branco do papel. As marcas das mãos minúsculas tocando a vida que nele surgia a cada

desenho, a cada cor. Os olhares minúsculos, atentos, apertados, críticos ao denunciarem

o descaso de crianças que não desejavam expressar, naqueles momentos organizados,

sentidos de vidas que muitas vezes ficaram no parque na hora do recreio, na correria, na

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gritaria que ecoa por todo o espaço vívido da escola. Vida. O que é? Como desenhar

Vida?

Foto 7: Desenho e escrita dos sentidos de Vida.

Como escrever palavras que expressem

Vida?

Foto 8: Desenho e Escrita dos sentidos de Vida.

Que palavras são essas? O que significa,

diariamente, a Vida? A minha? A tua? A

nossa?

Foto cartazes

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Fragmentos de Vida – diálogos aos pedaços

Os fragmentos a seguir referem-se às vivências das crianças da turma da professora

Janete Marcia do Nascimento – 3º Ano A/2011 – e foram produzidos no decorrer do mês

de janeiro deste ano durante a elaboração do relatório das atividades desenvolvidas no

início do mesmo ano. Em seguida, serão apresentados os fragmentos de anotações

realizadas pela professora Luciana Alves Pinto, durante o decorrer do ano de 2011, em

seu diário de bordo. Tais fragmentos retratam a escrita das intensidades vividas durante

o caminhar da oficina, das emoções, dos sentimentos.

Vidas minúsculas e minuciosas

Crianças pequenas. Faixa etária de sete a nove anos. Algumas com onze, doze anos.

Vários são os motivos para o atraso na vida escolar: características familiares, mudanças

geográficas, morte ou doença dos pais. Abandono de uma das partes. Nova formação

familiar. Falta de casa para morar. Irmãos separados pelas separações dos pais.

Sofrimento pela ausência dos membros da família. Mães que não aceitam os filhos, a

gravidez, a condição em que foram gerados. Imaturidade. Insegurança. Medo.

Desconhecimento sobre os cuidados infantis. Filhos e avós! Vida marital precoce.

Desemprego. Subemprego. Condições precárias de sobrevivência. Mortes por violência

na família. Carências afetivas. Amor pela escola. Admiração pela professora. Necessidade

de chamar atenção para si. Crianças bonitas. Falantes. Silenciosas. Entusiasmadas.

Apáticas. Famintas. Bem cuidadas. Desorganizadas. Limpas. Mal cuidadas. Cansadas.

Sonolentas. Vivas!

Leituras minúsculas

Ler a escrita no quadro de giz. Ler os trechos dos livros didáticos. Ler as tarefas de casa.

Ler a expressão da professora. Ler as regras da escola. Ler os poemas no Dia das Mães.

Interpretar. Conviver. Ler obras de arte. Ler os livros da professora. Dar um lar aos livros

bonitos, novos, cheirosos, velhos, usados, comprados no sebo, trazidos de casa, das

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casas. Inventar casas para eles no armário. Sentir saudades da Alice (no país das

maravilhas). Entrar na Bolsa Amarela (da Lygia Bojunga). Conhecer o cosmos com o

Pequeno Príncipe. Viajar para um castelo do terror. Conhecer monstros horripilantes. Ler

o diário das invenções de Leonardo da Vinci. Conhecer o menino marrom e seu amigo cor

de rosa (do Ziraldo). Ler as alegrias das crianças ao ler, ouvir, contar e escrever uma

história. Sentir saudades de ler. Ver algumas crianças aprender a ler. Escrever.

Desenhar. Pintar. Fazer livros. Refazer histórias. Desenhar as histórias prontas. Mostrar

desenhos e contar/escrever/ler as histórias que eles contam. Ler desejos de ler.

Emocionar-se com leituras primeiras. Viver as histórias. Ser o minúsculo das vidas que se

desenham para mim. Olhar as leituras e gostar delas. Abrir envelopes com livros.

Conhecer os livros das crianças. Compartilhar a alegria de quem recebeu livros pelo

Correio. Ler vida! Escrita! Leitura! Ler juntos os livros que se tem. Contar que o número

de livros está engordando – como as vontades da Raquel, da Bolsa Amarela (BOJUNGA,

2003). Ver crianças trazer os livros para ler na hora do recreio!. Emoção!

Relatos vívidos e vividos

I. Saudades “do” Alice

Um aluno que ama livros, comentando sobre o livro Alice no país das maravilhas

(SABUDA, 2010), que lemos inteiro, juntos, durante as aulas, duas vezes, de tanto que

as crianças gostaram:

– Professora, eu tô com uma saudade “do” Alice!

– Você está com saudades de quem?

– “Do” Alice, aquele seu livro lindo que nós lemos juntos, lembra? Traz ele de novo,

pra morar mais uns tempos no nosso armário?

II. Voltar para Bolsa Amarela

Uma aluna pedindo, alguns dias depois de termos concluído a leitura compartilhada da

obra A bolsa amarela:

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– Profe, você me empresta o seu “bolsa amarela” pra eu ler em casa?

– Mas por quê? Nós acabamos de ler aqui na escola!

– Ah, profe, mas é que eu quero tanto voltar pra dentro da bolsa amarela sozinha,

lá em casa. Me empresta?

- Tudo bem, eu empresto.

III. Esse livro é antigo ou novo?

Estávamos estudando histórias de vida. Biografias. Fizemos uma atividade de pesquisa

sobre pessoas conhecidas e desconhecidas. Surgiu então a ideia de conhecer o Leonardo

da Vinci. Algumas crianças pesquisaram, trouxeram por escrito e lemos, juntos, para as

demais crianças, alguns fatos sobre a vida do artista/gênio. Mostrei então o livro Diário

das invenções de Leonardo da Vinci (BARK, 2009). É um livro bonito, gordo, com aspecto

envelhecido. Um menino, bastante curioso, pegou o livro, virou, mexeu, analisou e

perguntou, empolgado: “Profe, esse livro é velho ou é novo?”. Encantamento.

Curiosidade. Descobertas. Leituras!

IV. O mais importante não é cor por fora, mas o que tem dentro de nós!

Lemos, juntos, a obra O menino marrom (ZIRALDO, 2009). As crianças gostaram de

conhecer a história sobre a amizade entre o menino marrom e o menino cor de rosa.

Conversamos sobre os valores abordados no texto, sobre as coisas que envolvem os

relacionamentos humanos. Contamos várias coisas que acontecem em nossas vidas e

que nos envolvem com outras pessoas o tempo todo. Falamos sobre a relação humana

em todos os âmbitos da vida. Discutimos sobre o respeito mútuo que envolve os

relacionamentos humanos. As crianças ressaltaram os aspectos importantes nas

amizades. Desenvolvemos atividades diversas durante semanas. Desenhos. Palavras.

Frases. Textos. Conversas. Atitudes. Uma menina pediu para falar sobre a coisa que ela

mais gostou de aprender durante todas essas atividades. E disse a todos os presentes:

“O mais importante não é a cor por fora, que as pessoas têm. Mas o que tem dentro de

nós!”

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V. Agora eu já gosto de ler livro gordo!

Aluna indisciplinada. Triste. Agressiva. Faltosa. Relatos de violência física. Desanimada.

Apática. Tudo fazia para chamar para si toda a atenção, o tempo todo. Nada a

empolgava. Depois de alguns meses começou a se interessar pelos livros. Começou a

preocupar-se em concluir as atividades para pesquisar livros no armário. Parou de faltar

às aulas. Começou a chegar atrasada com justificativas de adultos: precisara cuidar da

irmã, levar a prima à creche, tivera que adiantar o almoço. Mas ali estava ela. Centrada

nas atividades, nas leituras e nos livros. Despercebida de sua realidade e feliz dentro das

roupas e calçados de adultos! Nas aulas de biblioteca, lia vários livros. A princípio em voz

alta, como que para certificar-se do que estivesse lendo. Depois sozinha, encolhida em

algum cantinho escondido. Mas sempre centrada nas leituras, nos livros. Às vezes, ao

lado da professora, como que para esbarrar e ser notada, ouvida, elogiada. Encantada.

Feliz. Descobridora! Nos últimos meses de aula, disse-me, com brilho nos olhos: “Profe,

agora eu melhorei, né? Eu até já gosto de ler os livros bem gordos. Eu adoro ler!”

Marcante e inesquecível! Diferença! Rizoma?

VI. Alguém não tá cuidando dos nossos livros!

Com o tempo, no decorrer do ano letivo, as crianças passaram a cuidar e observar mais

os livros. Passou a ser comum comentários como: “Alguém não cuidou do livro”. “Quando

eu o peguei já tinha essa sujeira aqui”. “Esse rasgado não fui eu quem fez!”. “Profe, tem

gente batendo no amigo com o livro”.

Vida de professora – relatando intensidades no diário de bordo

EPISÓDIO I: Aula de Português

A aula de Português transcorria dentro do esperado. Atividade oral: selecionei algumas

gravuras/figuras e pedi para que as crianças, conforme fossem passando as gravuras

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(estavam sentadas em círculo), relatassem o que viam, o que aquela gravura

representava ou significava. A primeira gravura foi passando e, como já era esperado, as

crianças foram descrevendo o que viam: “Tem crianças”. “Tem skate”. “Tem meninos”.

“São três meninos”. “Um está no muro”. “Dois estão brincando”. Até que Rudson viu algo

além das gravuras, além daquilo que os olhos curiosos das crianças puderam descrever

até aquele momento; enxergou sentimentos, realidade vivida, luta de classes...

– Professora, eu vejo que esses meninos não são iguais, não pertencem à mesma classe.

Dois estão brincando e um está catando lixo reciclável.

Meu Deus, vibrei! Aquela criança ali, bem na minha frente, transformou a minha simples

aula num grande debate e fez, a partir do seu olhar, da sua realidade, da sua voz, com

que outros colegas enxergassem o que outrora seus olhos cerrados para além do que

parece visível não viram. Leram as entrelinhas; ousaram ver; saíram de suas “zonas de

conforto”; despertaram! Após fervorosa discussão mediante tantas outras gravuras,

solicitei que todos escolhessem uma e escrevessem sobre ela. O Rudson escolheu aquela,

a que gerou o encantamento de todos, que transformou a aula.

EPISÓDIO II: Uma conversa vale mais que mil aulas!

Tentando compreender o porquê de uma mesma criança ter atitudes tão diferentes num

mesmo dia, comecei a conversa questionando:

– F., será que existe outro F. no 3º ano e eu não estou sabendo?

– Não, profe, sou eu mesmo!

– Então me explica, F., por que aqui comigo você é tão querido, bom aluno, e no recreio,

nas aulas de outros professores você é tão diferente?

– É que eu gosto de você, profe!

– E o que lhe faz gostar de mim?

– Você me respeita, me entende! Posso ir agora?

– Pode. É claro que pode!

Page 15: Pensar entre vidas

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Nessa ocasião, lembrei-me do texto das pistas, mais precisamente da pista 3.

“Cartografar é acompanhar processos” (Virginia Kastrup). Em um trecho, falava-se sobre

criar elos. Nessa conversa, constatei que entre eu e o F. existia um elo.

EPISÓDIO III: Contradições

Acompanhar processos, fazer cartografia, tornar-se parte, respeitar individualidades,

criar um coletivo, estar aberto para novos pontos de vista, novas experiências, habitar o

território existencial, ter afeto com o local de trabalho, com os envolvidos, cartografar...

Como reagir quando ouvir:

– Você está se envolvendo demais com seus alunos, com seu trabalho. Isso pode lhe

prejudicar! Pense nisso!

EPISÓDIO IV: Histórias de Vidas!

Como atender a cada ser indivíduo, com sua história de vida, seus bons e maus

momentos, seus acertos, suas esperanças e desencantos, e cumprir com todas as

obrigações e normas impostas pelo “sistema”? Luta diária? Questionamento diário?

Dúvida diária? Busca diária?

EPISÓDIO V: Dia das mães

Não se trata de trabalhar datas comemorativas, e sim de trabalhar a figura materna...

Mas o que é ou quem é a figura materna?

Trinta alunos, trinta histórias... E que histórias!

Mãe que ensinou o filho o que é ser mãe!

Mãe que trouxe o filho ao mundo e só!

Mãe que não sabe-se o que é, quem é, onde está.

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Em tempos modernos, informatizados, qual o conceito de mãe?

Um aluno diz:

– Mãe é a pessoa que cuida!

A professora pergunta:

– O que é cuidar?

O aluno responde:

– Cuidar!

A professora questiona:

– Como?

Os alunos respondem:

- Fazer comida, dar roupas, brinquedos!

A professora questiona:

– Só?

Os alunos respondem:

– Dar carinho!

– Cuidar quando está doente!

– Fazer carinho!

– Amar!

– Se preocupar!

– Proteger!

A professora diz:

- Então vamos escrever uma carta para essa pessoa que vocês descreveram!

Alguns escreveram para ela.

EPISÓDIO VI: Resgate

Já faz algum tempo que não paro para escrever, mas sinto que hoje, independente das

outras obrigações que tenho, vou recolher-me aos meus pensamentos e registrar os

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últimos acontecimentos. Tenho uma nova companheira de oficina e isso tem me trazido

novas oportunidades e expectativas. Compartilhamos de muitas ideias e ansiamos por

objetivos senão comuns bastante próximos. Temos trabalhado juntas com minha turma

do 3º ano e finalmente percebo que eles estão mergulhados de corpo e alma nessa

tentativa de aproximá-los da Filosofia. Digo isso especialmente devido a comentários

feitos por eles após nossa última oficina.

Trabalhamos com a obra de LIPMAN, com a ideia de nome, e para isso realizamos uma

oficina que trabalhava como essa ideia de nome foi constituída, convencionada em nossa

sociedade. Utilizamos a obra literária Marcelo, marmelo, martelo, de Ruth Rocha, para

envolvê-los na discussão e compreensão de que tudo e todos têm nome, e que isso se

trata de uma convenção. Após a oficina, os alunos ficaram inquietos e questionando-se a

respeito daquilo que haviam vivenciado. No dia seguinte, um aluno que havia faltado no

dia anterior e por esse motivo não participou da oficina, ao deparar-se com as fichas

contendo os questionamentos utilizados durante a mesma, que estavam expostas na

parede, perguntou a seus colegas:

– O que são estas perguntas?

E os colegas responderam:

– São perguntas que utilizamos na aula de Filosofia.

E comentaram sobre como a aula/oficina havia ocorrido, contando sobre a dinâmica

utilizada, sobre a obra “Marcelo, marmelo, martelo”, e então o aluno questionou:

– Mas nós já conhecíamos este livro e já sabíamos que todas as coisas têm nome!

E obteve como resposta o seguinte comentário:

- Sim, mas dessa vez estávamos pensando o porquê, discutindo.

Relato isso porque algumas falas me chamaram atenção devido aos termos utilizados:

aula de Filosofia, pensando o porquê, discutindo... Acredito que estamos nos

aproximando do nosso objetivo. E conseguindo que percebam a importância e a

necessidade de se pensar o porquê de todas as coisas.

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Foto 9: Ler sobre a vida... A curiosidade de Marcelo,

marmelo, martelo.

Foto 10: Escolhendo leituras... Vida, viveres vívidos

Considerações Vívidas

Continuamos a escrever a Vida, das vidas, nas vidas e entreVidas, que se cartografam

minusculamente, a cada dia nas atividades que se construíram e que ainda sobrevivem

às tentativas constantes.

Vida. O que é? Diremos que vida é o que flui, o que revive dia a dia nas atividades e

intensidades que quase se podem tocar ao serem vistas nos olhares ávidos por vida das

crianças que, como estudantes do ensino fundamental, passam a dar sentido às nossas

vidas de professoras. Invadem nosso sono, colorem nossos sonhos ao fazer parte de

nossa vida, ao correrem nas nossas veias como o alimento que nos mantém de pé, diária

e insistentemente. Repetidamente. São corpos vivos, vívidos, animados, a movimentar-

se num vai e vem ritmado. Angustiado. Disparado.

Gostamos de pensar que pensar a vida com e entre as crianças requer coragem,

animação, sorrisos constantes e broncas, às vezes desconfiguradas diante do apelo

inocente de uma criança viva: “Profe, lê um livro pra gente?” O que fazer? O que dizer?

Como não sorrir – e às vezes até chorar – de desespero pelo medo de não conseguir ser

professora, no sentido que o termo requer: aquela que ensina os conteúdos curriculares

e que poderá, ao final do ano, aprovar as crianças para a série seguinte. Como discernir,

fantasia e realidade diante das vidas que se criam, recriam, fazem e refazem sentidos

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19

vívidos para este termo vividamente construído a cada instante: Vida é isso. Esse devir

respirar. Criar. Olhar. Viver!

Referências

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Campinas, SP: Papirus, 2009.

BARK, Jaspre. Diário das invenções de Leonardo Da Vinci. São Paulo: Ciranda

Cultural, 2009.

BOJUNGA, Lygia. A bolsa amarela. 33ª Ed. Rio de Janeiro: Ed. Casa Lygia Bojunga, 2003.

COSTA, Luciano Bedin da. Estratégias biográficas: biografema com Barthes,

Deleuze, Nietzsche e Henry Miller. Luciano Bedin da Costa, Porto Alegre: Sulina,

2011.

________________________. O destino não pode esperar ou o que dizer de uma

vida. In: FONSECA, Tania Mara Galli e COSTA, Luciano Bedin (Orgs.). Vidas do Fora –

habitantes do silêncio. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2010.

DALAROSA, Patrícia. Apud: Heuser, Ester Maria Dreher (org.) Caderno de Notas 1:

projeto, notas & ressonâncias. Cuiabá: EdUFMT, 2011. 120 p.

KASTRUP, Virginia. Pistas do método da cartografia: Pesquisa-intervenção e

produção de subjetividade / Orgs. Eduardo Passos, Virgínia Kastrup e Liliana da

Escóssia. – Porto Alegre: Sulina, 2009. 207 p.

OLIVEIRA, Marcos da Rocha. Biografemática do homo quotidianus: o senhor

educador – Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-graduação em Educação,

Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre: 2010.

ROCHA, Ruth. Marcelo Marmelo Martelo e outras histórias. Ed. Salamandra, São

Paulo: 1999.

SABUDA, Robert. Alice no país das maravilhas. / Lewis Carrol; [adaptação] Roberto

Sabuda; (Trad. Cynthia Costa.) São Paulo: Publifolhinha, 2010.

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ROLNIK, Suely; GUATTARI, Félix. Cartografias do desejo. Editora Vozes, Petrópolis, 1986.

ZIRALDO, O menino marrom. São Paulo: Melhoramentos, 2009.