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Percursos Passeio por Terras de Basto, quer chova, quer faça sol Um dia chuvoso não detém quem gosta de esticar as pernas, especialmente se a paisagem prometida for belíssima, e as pausas incluírem visitas a um mosteiro antigo, prova de vinhos e almoço de comida regional. Era esse o programa - cumprido - de uma visita de um dia às Terras de Basto, onde Ana Isabel Mineiro (textos e fotos) palmilhou uns quilómetros sem que o céu lhe caísse em cima da cabeça.

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Percursos

Passeio por Terras de Basto,quer chova, quer faça solUm dia chuvoso não detém quem gosta de esticar as pernas, especialmente se

a paisagem prometida for belíssima, e as pausas incluírem visitas a um mosteiro antigo,prova de vinhos e almoço de comida regional. Era esse o programa - cumprido -de uma visita de um dia às Terras de Basto, onde Ana Isabel Mineiro (textos e fotos)palmilhou uns quilómetros sem que o céu lhe caísse em cima da cabeça.

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A manhã começou ameaçadora,com uma chuvinha imparável quenão deixava ver nada - um horror,para quem se prepara para fazeruns alegres doze quilómetros pelomeio dos campos. Embrulhadosem blusões de várias cores, os

participantes miravam-se, paraver quem era primeiro a desistir.Mas a determinação de passar umsábado bem palmilhado foi maisforte, assim como a esperança de

que os santos ajudassem, já que o

percurso começava por uma visitaao Mosteiro de S. Miguel de Refojos,em Cabeceiras de Basto.

Somos recebidos pelas imagens,em tamanho natural, do padroeirodo mosteiro, São Miguel, etambém dos irmãos São Bentoe Santa Escolástica. O interiorimponente e escuro convida aorecolhimento, mas o fantástico

órgão, ornamentado por diabos

gigantescos pintados com coresgarridas tira-nos do sério. A obra é

de Frei José de Santo António Vilaçae remete-nos para o imaginário de

Disneylândia que, segundo alguns,é imagem de marca do conhecidoentalhador, a quem se deve tambémo altar-mor, uma orgia de talhadourada do século XVIII.

O templo católico já está nestelocal desde a primeira metade doséculo XII, certamente com formase decorações mais modestas esimples, que a cada reconstruçãoforam sendo remodeladas ao estilodas épocas. Com a extinção dasordens religiosas em 1834, a últimaversão do mosteiro foi vendidae hoje é sede da paróquia e daCâmara Municipal. 0 edifício abrigatambém o pequeno mas muito ricoe bem cuidado Núcleo Museológicodo Baixo Tâmega, dedicado à

Arte Sacra, onde várias pinturasdo início do século XVII servemde aperitivo às preciosidades queencontramos na sacristia, e quegraças à fartura da sua reservatêm de ser expostas em sistema derotatividade.

A excelente visita guiada fez-nos esquecer por completo a

meteorologia instável que nos

aguardava no exterior: as nuvensbaixavam, formando grandes rolosescuros sobre as nossas cabeças.Sem piedade, o autocarro largou-

nos à nossa sorte na antiga estaçãode comboios de Arco de Baúlhe,que abriga o Núcleo Ferroviário.

O percurso pedestre segue a

antiga via-férrea em direcção aMondim de Basto, cujos carris jáforam retirados, e as paisagensque percorre fazem-nos lamentara extinção do troço ferroviário,menos mediático que o do Tua, é

certo, mas igualmente belíssimoe de grande potencialidadeturística, com as colinas de umverde escandaloso a sucederem-se,exibindo aglomerados de casinhas

brancas em redor de uma igreja detorre pontiaguda, e aqui e ali ummajestoso solar minhoto.

A caminhada poderia levar duashoras, como estava anunciado,mas as distracções foram muitas;além das fotografias obrigatórias,ensombradas pela escuridão dodia, apareceu um campo de umverde alucinante, onde despontavaum diospireiro de frutos quasefluorescentes; mais adiante eramas laranjeiras que despejavam nochão os excessos, com que todos

se regalaram. Seguiu-se umachuva de medronhos que levou a

uma caçada em busca dos menosmaduros, e depois os campos devinhas, geométricos e despidos peloinverno.

A adega da Quinta da Raza ficano alto de uma colina, em plenovinhedo. Aguardava-nos uma mesacheia de petiscos proporcionadospelo restaurante Sabores da Quinta,

que serviram de lastro a uma sériede néctares de produção local. E

quando se diz local, isso significaestar no meio das vinhas e ao ladodos lagares e restante processo de

produção, a ver sair as garrafas empaletes. As explicações sobre todo ofuncionamento são dadas a pedido,de copo na mão sempre atestadocom três magníficos Dom Diogo,que levam o nome do produtor.Provou-se um Ariz, um Padeiro e

um Alvarinho, que nos mostrouque os vinhos verdes de hoje jánão são tão ácidos como reza afama. Os "enólogos" presentes nãoconseguiam decidir-se, pelo queatribuíram um "excelente" a toda a

prova, que nos preparou para outromomento difícil em Terras de Basto:o almoço.

As más-línguas dizem que não

há passeios felizes em Portugalsem os prazeres da boca, e o casonão foi deixado em más mãos.

Seguimos o rasto dos aperitivos atéao restaurante regional Sabores daQuinta, na aldeia de Molares, ondeas Terras de Basto continuarama marcar pontos. Desde o local,aquecido e com vidraças suficientes

para nos sentirmos lá fora, atéaos petiscos, entradas, doces e

pratos principais. 0 menu variade acordo com o que de bom há

disponível, e nem os vegetarianosficam de fora. Privilegiam-se os

produtos regionais, dos vinhosàs sobremesas, e o proprietário,Francisco Lemos, rondava as mesas

para se verificar o elevado grau de

satisfação dos comensais.0 programa previa ainda uma

visita ao solar da Casa do Campo,a única parte que nos deixou comágua na boca por maus motivos:as nuvens escuras aliaram-seà noite para encurtar o prazerdo que merecia uma visita mais

prolongada. Pequeno e compacto,o jardim de japoneiras é umajóia barroca feita de flores emtúneis, arcos, corredores floridos,pontuado por lagos, recantoscom mesas e "casas de fresco",esculturas vegetais onde podemosrefugiar-nos do calor, nos soalheirosdias do verão minhoto, ou da

pavorosa chuva miudinha queameaçava cair durante a visita.O solar, esse resiste ao passardos tempos com uma imponentebeleza, prometendo dias e noitesbem passados num cenário deoutras eras.

A noite caiu, e restou-nosrelembrar o dia de regresso aGuimarães, frente a um chazinhoquente e uma fatia de bolo. Nessaaltura já ninguém se importava queo céu desabasse em água sobre as

nossas cabeças, coisa que acabou

por nem acontecer.

Quando Ir0 percurso, tal como está indicado,pode ser feito durante todo o anocom a agência Quality Tours, e

tem início e fim na sua sede, emGuimarães. Os locais visitadosestão abertos ao público em horárioa confirmar, à excepção da Quintada Raza, que se visita mediantemarcação.

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Como IrCaso pretenda fazer o percurso deforma independente, terá de disporde viatura própria e estar dispostoa repetir o caminho pedestre, pararegressar ao ponto de partida e

continuar o trajecto.

Onde Comer

Para além do restaurante Saboresda Quinta, em Molares, existemoutros locais onde pode almoçar naregião, quer em Celorico quer emCabeceiras de Basto. No fim do diasabe bem jantar ou tomar um cháe uma fatia de bolo no restauranteCor de Tangerina, no mesmoedifício da Quality Tours, no LargoMartins Sarmento, em frente ao

Paço dos Duques.

Onde DormirNão falta escolha na futura CapitalEuropeia da Cultura de 2012: desdea Pousada da Oliveira, em plenoCentro Histórico, com preçosa partir de 67 €, à Pousada daJuventude, no Largo da Cidade.Se preferir não regressar aGuimarães, a Casa do Campoé uma excelente opção e temquartos a partir de 90 €,com pequeno-almoço.

InformaçõesOs intervenientes do itinerárioestão todos na Net, proporcionandotodas as informações necessáriaspara visitas independentes ou

guiadas. Basta aceder awww.qualitytours.pt,www.quintadaraza.pt,

www.casadocampo.pt,www.saboresdaquinta.net, e

www.cabeceirasdebasto.pt.