Pixacao Em Belo Horizonte

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  • Ponto Urbe12 (2013)Ponto Urbe 12

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    Flvia Cristina Soares

    Pixao em Belo HorizonteIdentidade e Transgresso como Apropriao doEspao Urbano................................................................................................................................................................................................................................................................................................

    AvisoO contedo deste website est sujeito legislao francesa sobre a propriedade intelectual e propriedade exclusivado editor.Os trabalhos disponibilizados neste website podem ser consultados e reproduzidos em papel ou suporte digitaldesde que a sua utilizao seja estritamente pessoal ou para fins cientficos ou pedaggicos, excluindo-se qualquerexplorao comercial. A reproduo dever mencionar obrigatoriamente o editor, o nome da revista, o autor e areferncia do documento.Qualquer outra forma de reproduo interdita salvo se autorizada previamente pelo editor, excepto nos casosprevistos pela legislao em vigor em Frana.

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    Referncia eletrnicaFlvia Cristina Soares, Pixao em Belo Horizonte, Ponto Urbe [Online], 12|2013, posto online no dia 31 Julho2013, consultado o 19 Junho 2014. URL: http://pontourbe.revues.org/565; DOI: 10.4000/pontourbe.565

    Editor: Ncleo de Antropologia Urbanahttp://pontourbe.revues.orghttp://www.revues.org

    Documento acessvel online em:http://pontourbe.revues.org/565Documento gerado automaticamente no dia 19 Junho 2014. NAU

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    Flvia Cristina Soares

    Pixao em Belo HorizonteIdentidade e Transgresso como Apropriao do Espao Urbano

    Introduo1 Este artigo se prope a discutir a relao estabelecida entre os pixadores1 da cidade de Belo

    Horizonte e a apropriao do espao urbano. A escolha por este tema de pesquisa se consolidoua partir das mudanas realizadas pelo poder pblico com a finalidade de impedir que a prticase disseminasse pela cidade. A primeira iniciativa consistiu em prender seis jovens com idadeentre 21 a 27 anos praticando o crime de formao de quadrilha para a prtica de pixao. Emseguida, a Delegacia Especializada para combater a pixao foi inaugurada na metrpole. Aomesmo tempo, o projeto intitulado Movimento Respeito por BH foi implantado com trs frentesde atuao: represso qualificada, sensibilizao social e limpeza, mobilizando associaescomunitrias e a iniciativa privada. Diante deste contexto, verificamos um crescente nmerode detonas2 nos muros, nos edifcios, nas placas e nas caladas da cidade e um aumentode adolescentes cumprindo Medida Socioeducativa de Liberdade Assistida e Prestao deServios Comunidade3. Tal situao permitiu indagar qual a relao estabelecida entre osjovens pixadores e a cidade.

    2 Para a realizao da investigao, utilizamos como metodologia de trabalho a observaoparticipante no Duelo de MCs localizado embaixo do Viaduto Santa Tereza, no centro dacapital. O point4 frequentado por integrantes e admiradores do Movimento Hip Hop, skatistase pixadores. Devido quantidade expressiva de jovens que praticam a pixao, escolhemospesquisar os Pixadores de Elite (PE) por serem os mais antigos de Belo Horizonte e porobterem uma notoriedade entre os pares. A partir desta escolha, frequentamos reunies eencontros promovidos pelo grupo vivenciando o cotidiano dos jovens e verificando como elesse apropriam do espao urbano atravs das marcas estampadas nos muros. Tambm foramfeitas entrevistas semiestruturadas para colher dados em relao constituio de identidade,a apropriao do espao urbano e a transgresso, incluindo membros dos anos 90 e 2000. Osnomes originais dos entrevistados foram mantidos em sigilo.

    3 Atravs das entrevistas realizadas, os jovens ressaltaram a importncia das reportagens emjornais, revistas e televiso como forma de obter ibope5. Sendo assim, analisamos algumasreportagens cedidas pelos prprios pixadores e obtidas no Arquivo Pblico Mineiro e naBiblioteca Pblica Estadual Luiz de Bessa. As redes sociais, tambm, foram um dispositivointeressante para se aproximar dos pixadores e inserir nos grupos de discusso, observandoa divulgao do pixo e a interao entre eles. No entanto, para se aproximar dos jovensenvolvidos com a prtica de pixao foi necessrio um tempo para estabelecer a confiana,pois acreditavam que a presena de uma pesquisadora no campo fazia parte de uma estratgiapolicial em funo dos rumores por parte da prefeitura para erradicar esta atuao.

    O Contexto Dos Pixadores De BH4 Em meados das dcadas de 1930 e 1940, Belo Horizonte sofreu um acentuado crescimento

    populacional o que acarretou na ocupao de morros caracterstica da cidade, cercadapela Serra do Curral. Como resultado desta situao, os espaos segregados da cidadeforam apropriados de maneira desordenada e uma situao considerada provisria acabouse tornando definitiva. A ilegalidade se inicia neste contexto, favorecida pela inrcia dopoder pblico, que no responde com a prestao dos servios bsicos como moradia,saneamento e abastecimento de gua. Durante dcadas, os moradores so vtimas de enchentesou objetos de desapropriao cuja [...] situao legal de posse e ordenao permaneceindefinida (BEATO, 2012, p.180). Esta condio de desigualdade encontrada na literaturaassociada ao surgimento de grupos de jovens em conflito com a lei. A partir da dcada de 1990,verificamos um crescimento da criminalidade violenta, principalmente, nas vilas e favelas daregio metropolitana (BEATO, 2012). Por outro lado, nos anos 90, os grupos de pixadores

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    comearam a se constituir com a finalidade de levantar a quebrada6, segundo o relato dosjovens. Eles ressaltam que a pixao se constituiu com a finalidade de mostrar para a sociedadeque determinada comunidade existe e faz parte da cidade. Atualmente, a metrpole abrigamais de dois milhes de moradores, observando, sobretudo, a desigualdade social na paisagemcitadina.

    5 Segundo o artigo 65 da Lei 9.605/98 Lei dos Crimes Ambientais a pixao consideradacomo crime que estipula pena de deteno de 3 (trs) meses a 1 (um) ano, e multa, paraquem pixar monumentos urbanos. Ao percorrer a cidade, percebe-se a quantidade de marcaselaboradas pelos jovens estampadas nos muros, atravs das alcunhas7 que so reconhecidospor outros pixadores. Estes nomes so caracterizados por letras que possuem facilidadepara estilizar. Sendo assim, o tema investigado propicia estabelecer uma conexo entre asformas como a juventude se apropria do espao urbano atravs da cultura de rua. Pois, seconsiderarmos que a maioria dos pixadores representa a sua quebrada atravs do nome pixadoe da sigla do grupo a qual pertencem, podemos debater a forma como estes jovens se apropriamdo espao pblico para se integrar na vida da cidade, uma vez que, so segregados fisicamentee socialmente pelo contexto urbano. De certo, ressaltamos as caractersticas de Belo Horizontepor considerar que a pixao vista apenas nas grandes cidades e, inegavelmente, a leiestabelecida para impedir esta prtica , inclusive, objeto de deboche pelos pixadores emfuno da atuao dos policiais.

    6 O primeiro ponto a ser discutido se remete formao de grupos de jovens. No se querdizer que um conjunto de jovens que possuem um lder est, necessariamente, condicionadoa cometer violncia. De acordo com os relatos dos pixadores, a formao de uma galerase caracteriza por manter laos de amizade e por considerarem uma famlia. Alm disso, agalera uma forma estabelecida entre os jovens para constiturem identidades. Alba Zaluar(1999) distingue a formao de galeras e gangues, salientando que a galera se constituipela raiva decorrente da privao da conscincia de classe que instigaria a marginalidadedifusa, a imprevisibilidade da ao e, portanto, a proximidade com as classes perigosas.Em contrapartida, ela ressalta o estudo das gangues realizado pela Escola de Chicago,principalmente, por Trasher (1963) destacando que as gangues dos Estados Unidos socaracterizadas pela defesa da honra familiar. Em meados dos anos 90, a paisagem da metrpolese constitui de maneira segregacionista e a atuao dos jovens se remete a uma extenso donarcisismo masculino. Cechetto (1999, p.148) expressa que a prtica exige um porte fsicoprivilegiado como [...] poderosa marca de masculinidade relacionada a papis de disposio,sujeito-homem, raa [...]. neste contexto que o ethos da virilidade est presente, poisa pixao fornece aos praticantes a capacidade de firmar como homem, fora jovem,ou mesmo da crena na sua invencibilidade diante da morte (CECHETTO, 1999, p.149). Agalera possui uma funo fundamental para os pixadores fornecendo a proteo e o poder paraos membros.

    7 Nos Estados Unidos, o surgimento de gangues ligadas criminalidade foi influenciado pelaimigrao nas reas marcadas pela pobreza, [...] onde os costumes e os valores tradicionaisperderiam fora ou deixariam de regular comportamentos, abrindo o caminho para a criseda moralidade, dos laos familiares e de vizinhana (ZALUAR, 1999, p.177-178). Trasher(1963) destacava que estas reas eram cintures de pobreza, pois os jovens no poderiam semobilizar. A primeira teoria que explica a insero de jovens no comportamento criminosopossui origem nos fatores econmicos, ou seja, a privao de oportunidades, a desigualdadesocial e a marginalidade. Em 1960, Trasher retoma a Teoria da Frustrao provocada pela faltade oportunidades impedindo que os indivduos possam se ascender socialmente (MERTON,1965). A segunda teoria expressa que os atos criminosos so uma contestao s normasimpostas pela sociedade. Sendo assim, [...] o baixo grau de integrao moral que produz ofenmeno do crime [...] (BEATO, 2012, 144p). No entanto, a teoria da rotulao critica asanteriores e focaliza a ateno nas prticas governamentais, policiais, judiciais que classificamos jovens moradores de periferias como delinquentes. Conforme exposto por Zaluar:

    Por isso, ela chamada teoria do rtulo, cuja vantagem principal lembrar que as organizaesjuvenis no existem isoladas do resto da sociedade e proliferam ou decaem e desaparecem num

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    contexto institucional que tece uma trama de interaes simblicas entre os jovens pertencentesa essas organizaes e os representantes da ordem e da lei (ZALUAR, 1999, p.178).

    8 De fato, o ato de pixar possui um contexto perifrico8. No entanto, os Pixadores de Elite ejovens pertencentes a outros grupos possuem como principal objetivo a prtica da pixao.A notoriedade, a competio e a rivalidade dos pixadores podem ser observadas nos muros.O quebra-quebra9 um exemplo dessa trama elaborada por eles. Quanto mais alto o pixadordeixar a sua marca atravs da escalada em um prdio, mais reconhecimento ele ter10. Outroaspecto abordado por Pereira (2005) a hiperterritorializao da cidade realizada pelospixadores o que no coincide com a formao de gangues nos Estados Unidos, pois, alm dedefenderem a honra familiar possuem um territrio altamente demarcado. O que caracterizaa pixao nos tempos atuais a rede de relacionamentos tecidas pelos jovens e a apropriaodo espao urbano.

    9 Ao invs da noo de delinquncia, a caracterstica que mais se destaca na formao destesgrupos a transgresso. Este conceito implica uma postura marginal que est presente nocotidiano e na vida desses pixadores (PEREIRA, 2005). Alm disso, importante destacaros estudos propostos por Becker (1928) na sociologia do desvio, permitindo perceber umadimenso que vai alm do ato praticado e considerado como crime. As pessoas que estoenvolvidas nas aes coletivas definem as situaes como certas ou erradas, ou seja, o queno deve ser feito. A sociedade cria medidas para impedir que se faa aquilo que foi definidocomo errado. Segundo o autor, [...] de forma alguma essas atividades sero todas criminosasem qualquer sentido da palavra [...] (BECKER, 1928, p.13). Ele designa as pessoas que novivem de acordo com as regras estipuladas pela sociedade como um outsider.

    10 De acordo com lei mencionada referente pixao, pode-se afirmar que as regras sopromulgadas na forma dessa conveno e, por isso, [...] o poder da polcia e do Estado serusado para imp-las [...] (BECKER, 1928, p.15). O desvio possui uma concepo estatstica,ou seja, aquele que varia em relao mdia. Tal exposio fortalece a galera dos pixadoresconsiderados como um grupo homogneo, pois cometem o mesmo ato. Neste sentido, [...] odesviante algum a quem esse rtulo foi aplicado com sucesso; o comportamento desviante aquele que as pessoas rotulam como tal [...] (BECKER, 1928, p.22). A mdia e o Estadoconcebem os pixadores enquanto vndalos e criminosos. esse o ponto que o artigo se propea discutir, pois os pixadores que moram na periferia possuem o direito de participar da cidadee, portanto, so considerados como uma camada que deve ser punida por no estar dentrodas normas impostas pela sociedade. No entanto, a problemtica se resume nessa dicotomia.Os jovens que possuem melhores condies econmicas esto livres das punies ditada pelalei. Ento, torna-se comum escutar dos pixadores, moradores de aglomerados ou favelas, oabuso de poder cometido pelos policias. Desde 2009, surgiu uma complexidade para tratar dospixadores em Belo Horizonte. A atuao dos representantes do Estado permitiu conden-lospelo crime de formao de quadrilha, acentuando a pena que deve ser cumprida, muitas vezes,atravs de prises o que no possui efeito para minimizar esta prtica, pelo contrrio, apenasfortalece os pixadores na medida em que saem s ruas detonando para afrontar cada vez maisa forma como o Estado lida com esta questo. Por outro lado, a polcia no tem interesse delevar os pixadores para a delegacia, pois no h prestgio algum neste meio para quem prendepixador. Os artefatos mais utilizados pela polcia so espanc-los e pix-los com o prpriospray. Os relatos dos pixadores apontam que um amigo morreu por intoxicao causada pelatinta no corpo devida a este abuso de poder pelos policiais. Segundo Souza:

    Pintar os pixadores com suas prprias tintas j virou a forma de sano no oficial maiscorriqueiramente empreendida na represso contra a atividade. O escasso dinheiro nessa faixaetria torna os pichadores desinteressantes do ponto de vista da propina, restando aos abordantesou entreg-los em delegacias (menores de idade na DPCA e maiores nas Delegacias Legais), oque no deve ser muito gratificante para um policial militar ou seja, deslocar-se para um distritopolicial acompanhando pixadores no deve render muito reconhecimento para os PMs (SOUZA,2007, p.43).

    11 O estudo de Becker (1928) referente aos outsiders aponta que as regras so mais aplicadasqueles jovens de bairros miserveis. Os pertencentes classe mdia tm menos probabilidade

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    de ser autuado e quando isso acontece quase improvvel que seja condenado e sentenciado.At ento, os dados da pesquisa fornecem a discrdia, principalmente, entre os pixadores eo Poder Pblico que no encontrou formas eficazes para minimizar a prtica e responde compunies cada vez mais severas. Este contexto fortalece a identidade do grupo para acirraressa disputa.

    Membros de grupos desviantes organizados tm, claro, algo em comum: o desvio. Ele lhes dum sentimento de destino comum, de estar no mesmo barco. A partir desse sentimento de destinocomum, da necessidade de enfrentar os mesmos problemas, desenvolve-se uma cultura desviante:um conjunto de perspectiva e entendimentos sobre como se deve lidar com ele e um conjuntode atividades rotineiras baseadas nessas perspectivas. O pertencimento a um grupo desse tiposolidifica a identidade desviante (BECKER, 1928, p.47-48).

    12 O estudo sobre Winston Parva realizado por Elias (2000) indica que o grupo estabelecidoatribui aos outsiders caractersticas ruins. Essa estigmatizao possui um efeito catastrficopara os grupos de menor poder, pois pode paralisar a mobilizao dos membros com afinalidade de alcanar outros objetivos. Elias (2000, p. 27) constata que os [...] outsidersso vistos pelo grupo estabelecido como indignos de confiana, indisciplinados e desordeiros[...]. Essa retaliao reduz a capacidade que eles possuem de competir pela busca do poder,colocando-os sujeitos a boatos depreciativos e at mesmo equivocados retratado nos temposatuais pela mdia e pela autoridade do Estado para tratar este fenmeno na cidade. A regulaoque os estabelecidos propem permite a construo de um sentimento de maior valor humanoem relao aos considerados desviantes pela sociedade (ELIAS, 2000). Um membro dosPixadores de Elite ressalta:

    [...] Por exemplo, a pixao, no caso, escrita, t falando da escrita. Ela uma arte porqu? Porquevoc pode criar a sua marca, voc vai fazer ela, eu vou fazer, mas eu nunca vou conseguir fazerigual a voc, nunca, s voc vai fazer do seu jeito, eu posso fazer parecido, igual, idntico nunca,no vai ter jeito, ento muito pessoal. Mesma coisa um quadro branco por exemplo, Renoir, vocpegar e tentar reproduzir, voc vai fazer parecido, igual, s o original, s que o pintor fez. Ento,isso j o primeiro ponto, que acho que a caracterstica pessoal. E eu acho que a outra coisa quecaracteriza a maneira como voc vai intervir naquele espao que est desocupado, que est semvida, que t sem cor, sem nada, sem expresso, um espao que no te diz nada. Ento voc passaali hoje e voc v aquele espao branco, vazio, oco, aquela coisa inerte, sem, enfim, sem sentido,a partir do momento que voc intervm naquele espao com uma escrita, com a sua escrita, queno caso que a sua marca pessoal, ento ele j no mais um espao vazio, voc est passando eele j passou a ter um significado pra voc, pra outras pessoas que passarem e olharem tambm,um significado negativo ou positivo, tanto faz, no interessa, mas ele morto, inerte, insignificanteassim, ele no est mais, ele j foi ocupado de alguma forma, ento eu acho que uma das intenesda pixao essa. Tem outro detalhe tambm que , isso a tambm caracteriza muito a pixaoque a auto-promoo. Isso a o sujeito que segue, vai pichar, que no tem interesse nenhum emse auto-divulgar, em se auto-promover mentira, bobagem [...].

    13 A definio de arte concebida pelos pixadores pode ser entendida como uma estetizao daviolncia (SOUZA, 2012). Na pixao, constata-se a transgresso e a atitude de pixar comosubversiva. Os muros da cidade no pertencem ao pixador e este no possui autorizao paramarcar. O encontro entre os pixadores e seus pares, os pixadores e a sociedade ou os pixadorese o Estado deve possibilitar a problematizao desta prtica. Os atos so proibidos e nestesentido a questo no banalizar a atuao, mas perceber em qual contexto se d com afinalidade de compreender a pixao na vida destes jovens e no dia a dia da cidade. Souza(2012, p.273) observa em suas investigaes que a competio travada entre os pixadores, asociedade e o Estado um [...] redirecionamento da violncia fsica para a competio pelafama [...], [...] emergindo a perspectiva de estetizao (ou sublimao) da violncia [...].Este conceito expressa que os jovens no necessitam das prticas competitivas urbanas como,por exemplo, as torcidas organizadas e os grupos rivais de bailes funk. A competio corporal deixada de lado e sublimada atravs da quantidade de rabiscos espalhados e a dificuldadedos alvos que atingem. Sendo assim, a possibilidade de se considerar a pixao como arte um paradigma, uma vez que as assinaturas elaboradas pelos pixadores atravs das latas despray, rolos, extensores e borrifadores so ininteligveis para aqueles que no pertencem aomeio. Um dos pixadores expressa: [...] rivalidade, tipo assim, ... voc comear a marcar, um

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    monte, pixar um monte de lugar n? Porque onde que voc passa, a pixao est na cara, vocvai l e marca perto da dele, ou vai marcando um monte, essa a rivalidade que hoje em diatem entre os pichadores [...].

    14 Na observao de campo, o grupo expressa que a arte possui como funo gerar polmica,divergir do que considerado convencional. Destaca que o muro das reas consideradas nobresna metrpole, no atraem os pixadores, uma vez que, os donos da propriedade podem apagaro pixo realizado. Considera que a funo do pixo ficar o mais tempo possvel na cidade.A outra caracterstica importante neste meio a denominao que eles fazem em relao aospixos que possuem letras feias, ou seja, que no so estilizadas. O caga muro ou mobral depreciado pelos pixadores e, por isso, eles devem treinar as letras antes de marcar a cidade.Nos encontros estabelecidos com os membros do grupo investigado, a tica unnime emrelao aos locais que devem pixar, principalmente, rgos da prefeitura como postos de sadee outras instituies, pois acham que o poder pblico deve se preocupar com o que acontecedentro da instituio e no com o que est ao lado de fora. H um consenso em conceber apixao como arte e destacam que sendo arte no possvel acabar, pois arte no tem fim.Um dos integrantes ressalta:

    [...] Enquanto tiver tinta, enquanto tiver espao branco, algum vai t ocupando aquele espaoe no vai conseguir acabar com isso, talvez ele v tirar de circulao, um ou outro, ali, por umdeterminado perodo, mas quando o sujeito sair, ele vai conseguir, porque isso t na alma. umaarte, ento o sujeito carrega aquilo com ele.[...].

    15 Pereira (2012) questiona se os pixadores so artistas ou arteiros e fundamenta que estes doisconceitos esto intrincados entre si. Arteiros no sentido de que eles aprontam traquinagens,mas destaca que estas travessuras ou transgresses concebem um sentido artstico. Alm domais, o autor destaca que [...] muitos deles afirmam que no tm o que fazer a noite e apontamo ficar em casa como sinnimo de tdio. A pixao surge, ento, como uma opo de ocuparo tempo, de se divertir e sair da monotonia [...] (PEREIRA, 2005, p.35-36). Sendo assim, ospixadores almejam o ibope para serem reconhecidos por outros pixadores. Nas observaesde campo realizadas nas redes sociais, os jovens procuram aparecer na mdia, divulgar suasmarcas atravs das fotos, o perfil estilizado com o nome pixado para alcanar a notoriedadeentre os grupos e eles se (re)conhecem e tecem novos laos. Um membro da PE relata:

    [...] voc mora aqui no centro e conhece uma pessoa que mora em Ibirit. Voc marca um rolcom ele: vamo d um jeito de fazer uma detona, essa parceria que forma os pixadores n, tipoassim, nunca que as pessoas sai com a mesma pessoa, tipo assim , ela vai procurando outraspessoas, outro incentivo, tipo assim, pessoas mais audaciosa pra pichar n? [...].

    16 Sendo assim, os prprios membros da PE competem entre si e com outros pixadores com afinalidade de se tornarem cada vez mais conhecidos pelo nicho, procurando lugares de difceisacessos, maior visibilidade e que proporcionam um risco para alcanarem cada vez mais afama almejada. Por outro lado, a competio no exclui a solidariedade, pois eles circulam pelacidade, na maioria das vezes, com outros pixadores pertencentes a grupos diferentes, dispostoa se ajudarem para alcanar o objetivo almejado.

    Memrias Dos Pixadores De Elite17 Em Belo Horizonte, os pixadores iniciam a sua carreira, principalmente, nas escolas pblicas.

    Segundo o relato dos jovens, eles admiravam as escritas nos muros e elaboravam letras naspginas finais dos cadernos, estilizando a sua alcunha. Geralmente, as marcas e os desenhosrealizados nas folhas advm da falta de interesse na matria ensinada nas salas de aula.Sugere-se, mais do que se afirma, que neste momento seria possvel estender a observaoquanto estetizao da violncia (SOUZA, 2012), pois, no se rebelando diretamente quanto aula desinteressante, passa o aluno a criar subterfgios sua insatisfao, escrevendo letrase criando desenhos no instrumento que deveria servir como suporte ao contedo oficialtransmitido pelo ensino formal: o caderno.

    18 No incio da adolescncia, eles possuem um contato com outros pixadores, sejam atravs deamigos ou parentes que podem incentiv-los na prtica. Tambm, passam a formar grupos quepossuem afinidade dentro da escola e no local de moradia para sair durante a noite e marcar

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    algumas prezas11. Nesta fase, os adolescentes no possuem tanta liberdade para circular nacidade e representam a sua alcunha na quebrada, principalmente nas ruas onde h a circulaode nibus para se tornarem reconhecidos por outros jovens da regio em que habitam. Com opassar do tempo, eles vo assumindo uma posio de destaque no grupo formado e, comeama frequentar outros points de pixadores localizados pela cidade. Alguns abandonam a prticana adolescncia quando completam dezoito anos em funo da maioridade penal e outros porse tornarem pais. No entanto, aqueles que escolhem construir uma carreira dentro da pixao,passam a participar de galeras com integrantes de diversas regies da cidade.

    19 De acordo com o relato do primeiro Presidente da PE, INXS, ele possua uma conexocom os pixadores do Rio de Janeiro. Nesta cidade, havia os Pixadores de Elite e devido asua articulao com estes jovens optaram por fundar o grupo em Belo Horizonte. Os dadosapontam que a estrutura da galera denominada Pixadores de Elite se igualava com a estruturado BOPE Batalho de Operaes Policiais Especiais - fundado em 1978. O BOPE compostopor policiais renomados e capacitados para enfrentar a guerra urbana. A formao da Tropade Elite influenciou a escolha do nome e da estrutura dos Pixadores de Elite.

    20 Em 1992, a galera formada pelos dez jovens que mais se destacavam no cenrio da pixaopassou a ser almejada pelos demais pixadores travando uma disputa entre aqueles quepossuam o maior nmero de marcas pela cidade, pixos realizados nos locais arriscados,patrimnios pblicos, estdios de futebol, igrejas e at cemitrios. As matrias de jornaisque rendiam ibope faziam com que os jovens ascendessem ou descendessem na escala daposio do grupo. Como os integrantes foram influenciados pelo Rio de Janeiro, o estilo deletra que predominava era a carioca caracterizada por traos curvilneos e rpidos. Alm donome pixado, o jovem deveria marcar a sigla do grupo da quebrada12 do qual pertenciam eas letras PE para mostrarem que eram os melhores. De acordo com as informaes, os relatoscoincidem que a maioria deles possua como principal objetivo se inserir na PE: [...] e euficava falando: um dia eu vou ser PE, um dia eu vou ser PE [...].

    21 Os pixadores dos anos 90 relembram que a liderana desta poca se tornou um cone peloexemplo de coragem. Em 1994, o grupo j havia dominado a cidade travando uma rivalidadeentre os pixadores, a sociedade e o Estado. Para o fortalecimento da galera, eles se reuniamna Praa da Estao, Central Shopping e Shopping Cidade localizados no centro de BH paradiscutir a expulso de membros que no representavam o grupo, a posio dos integrantes e ainsero de outros jovens. Os nomes mais comuns que se destacam no cenrio da pixao dosanos 90 foram influenciados pelas bandas de Rock como: INXS e SHAMA. Outros jovens quepossuam destaque pelo reconhecimento da mdia foi o PACO que apareceu por duas vezesno Fantstico e na retrospectiva do MGTV da Rede Globo, devido a sua pixao no HospitalSanta Casa, no tmulo do Padre Eustquio, do ex-governador Olegrio Maciel e a capela doCemitrio do Bonfim; SKILO por pixar duas vezes o Relgio da Prefeitura de Belo Horizonte;COBRA por escrever frases em Igrejas restauradas desafiando o governador do Estado napoca com os seguintes dizeres: Eduardo Azeredo. No nos leve a mal, mas pichar no nada num pas onde matar e roubar no crime; AIR e GG pelas reportagens concedidasaos jornais dizendo que os pixadores no deveriam pixar estes locais como um artefato paramanter o grupo coeso sem a possvel retaliao feita pelos rgos governamentais.

    22 Como os pixadores mais famosos integravam PE, o principal objetivo dos jovens era seinserir neste grupo. Uma vez dentro da galera, eles almejavam subir na escala de numeraopara chegar at a presidncia. Em 1994, INXS a primeira liderana abandona o grupodevido a uma pixao na Igreja de Santa Luzia Regio Metropolitana de Belo Horizonte- com uma dedicatria para ele. Como havia o seu nome estampado na parede, os policiaisfecharam o cerco e, aps a sua priso, ele decide abandonar o grupo e repassar a presidnciaao COBRA que possua condies para comandar a galera. O empoderamento do grupoimplicou no fracasso da prpria liderana. Mas, a inquietude da sociedade com esta prtica noconseguiu desmembrar a PE e a segunda liderana se mostrou ainda mais forte e capaz de lidarcom as artimanhas dos rgos governamentais. Os jornais nos anos 90 demonstram iniciativasde exterminar esta prtica na cidade. E desde ento os pixadores relatam que qualquer tentativa

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    do governo de enfraquecer a atuao cada vez mais vista como uma maneira de se arriscareme de possurem fama.

    23 De acordo com o relato dos membros da PE, COBRA configurou o grupo de maneira distinta,passando a contemplar 15 (quinze) membros em funo da quantidade de pixadores renomadosna cidade. O 01, alm de representar a sua marca, determinava os locais que os membrosdeveriam alcanar e cobrava uma atitude dos jovens para marcar lugares em que se arriscavam.Tambm, foi eleito o novo vice-presidente - GG. Para ganhar a cidade13, eles andavam a p e denibus, e algumas vezes, por falta de condies financeiras para se locomoveram na metrpolesurfavam14 ou pegavam carona15 nos coletivos. O pouco recurso tambm fomentava a prticade alguns furtos, como tintas de spray em depsitos de construo e at mesmo garrafas dewhisky para vender em bares e adquirir a tinta.

    24 Nos finais de semana, as boates Trash, Space e Arena concentrava um nmero expressivo dejovens tocando msicas do estilo Flash House um nome apropriado pela juventude brasileiraem uma poca que a dance music se destacou pela presena de DJs e os mais bem vistosentre os pixadores, alm de frequentar estes locais, deveriam ter habilidade para encenar umacoreografia, denominada por eles de passinhos. Os jovens com mais fama sabiam lidar comesses modos expressivos da poca. Em pesquisa de campo, acessamos a coleo de jornais,revistas e reportagens como fonte de memria preservada pelos antigos pixadores. Nestesmateriais, encontramos, predominantemente, pixaes utilizadas apenas com latas de spray erepresentada atravs do estilo carioca, ou seja, letras arredondadas, juntas e escritas sem tirar ospray do muro. Raramente, o estilo brasiliense uma letra indecifrvel, inscrita uma dentro daoutra era utilizado pelos pixadores como forma de continuar representando na cidade apsserem reconhecidos por policiais.

    25 Na capital mineira, pertencer PE era sinnimo de prestgio e reconhecimento social. Paraser respeitado, o lder tinha mais duas pessoas em quem confiava para escolt-lo, chamados02 (vice-presidente) e 03. Alm disso, cada integrante possua uma carteirinha de filiao galera e com a sua numerao na posio da escala dos pixadores. Tambm, o grupo adotoucomo mascote o Tazmania, smbolo de um desenho animado americano dos anos 90. Naverdade, no h qualquer meno significativa para a escolha do smbolo. O relato se resumeapenas popularidade do desenho animado.

    26 Ao investigar a histria da PE na dcada de 90, percebemos como a pixao est enraizadana memria destas pessoas. As entrevistas, os encontros e os passeios pela cidade foramimportantes para observar a mudana da arquitetura da metrpole dos anos 90 para 200016

    e, principalmente, a forma como eles pixavam e possuam fama. Os pixadores inativos17

    passaram a se encontrar para relembrar as estrias de suas vidas com a finalidade de fornecer omaior nmero de dados para a pesquisa. Em todo momento, eles se mostravam dispostos a falarsobre o passado, apesar do sigilo solicitado para no divulgarem o nome, pois estas atuaes,muitas vezes, no so conhecidas pelos filhos e esposas. A maioria dos entrevistados dos anos90 abandonou esta prtica e, atualmente trabalham em profisses que se relacionam marca,como Marketing, Designer Grfico e Grafiteiros. Segundo o relato, alguns pixadores famososse envolveram com a criminalidade violenta, mas, ressaltam que a pixao no possui relaocom outros crimes. Eles destacam que esta atuao era um estilo de vida e que propiciounovos caminhos para construrem uma estria diferente do contexto vivenciado. Nos encontroscom os antigos pixadores, percebemos o quanto a memria da pixao est presente naslembranas e no corpo. Eles carregam consigo as marcas de uma poca atravs das tatuagensde latas de spray, o mascote Tazmania e as assinaturas da Carteira de Identidade semelhantess assinaturas dos muros. Apesar de no relatarem essa poca para as pessoas ntimas, revivera memria representou voltar ao passado e reencontrar as pessoas que faziam parte dos laosde amizade e que haviam se distanciado com o tempo. De acordo com o relato de um antigopixador:

    [...] Quanto mais ele divulgar a marca dele, mais comentado ele vai ser, naturalmente, maisrespeitado, mais falado ou no. Eu acho que a pixao no envolve muito com a criminalidade.Ento, o sujeito que picha muito, no necessariamente ele um forto, ele anda armado, ele sejaum elemento perigoso, so raros os casos. Geralmente quando o cara pixador, ele pixador, ele

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    no de briga, ele no de confuso, desde que tambm, um pixador, pra ele arrumar confuso,se algum fizer em cima, ou riscar, ou o que a gente chama de atropelar, a sim, pode gerar algumaconfuso [...].

    27 Pela constituio de uma famlia e a entrada na fase adulta, COBRA deixa a presidncia, em1999, e decide no repassar o comando a outro pixador.

    Pixadores De Elite: Anos 200428 Durante a pesquisa de campo, observamos que alguns pixadores das antigas, muitas vezes,

    se encontram numa posio de abandono e retomada da prtica, principalmente, pelo lemainstaurado pelo INXS, fundador do grupo: Uma vez PE, sempre PE. Assim, um pixador ressaltaque [...] eu na verdade no tenho nmero exato assim, igual eu t falando, eu j alcancei umstatus, digamos assim, que eu sempre vou ser PE, hoje em dia tem quinze outros ali, mas eusou PE do mesmo jeito e sempre vou ser [...]. Este relato nos remete Sennett (1999), pois eleaponta que a contemporaneidade acarreta ao indivduo uma experincia com a deriva do tempoe de lugares. Isso demonstra a incerteza nos dias atuais, intrnseca no cotidiano dos jovens.

    29 Aps cinco anos sem a formalizao dos Pixadores de Elite, o vice-presidente escolhido porCOBRA nos anos 90, passa a ocupar a Presidncia retomando uma nova configurao do grupocom algumas dificuldades. Pela consolidao de outras galeras em Belo Horizonte, muitospixadores j no percebiam a insero na PE como uma estratgia de ibope e fama. Diantedeste contexto, GG teve problemas para agregar um nmero de pixadores com a finalidade dedivulgar a PE na metrpole. Muitos convites foram realizados sem o sucesso de novos adeptosreconhecidos no meio. Esta situao provocou uma configurao diferenciada do grupo emrelao aos anos 90. Convidar quinze pixadores que possuam uma notoriedade no espaourbano foi difcil e, portanto, o grupo passa a se organizar sob um novo aspecto.

    30 Atualmente, a PE possui novas tticas para ser reconhecida no contexto atual. Os antigospixadores18 passaram a incorporar um segmento denominado velha guarda, em que eles fazemparte da estria da pixao em Belo Horizonte e no precisam representar a marca comassiduidade, pois j so consagrados. Eles passaram a juventude detonando os muros da cidadee, agora, atingiram uma posio favorvel. Por mais que ainda participam de rols, a escolhapor no pixar em algumas madrugadas livre. Velha guarda foi uma forma de retomar osantigos pixadores a fazerem parte do circuito da pixao, mesmo que no sejam mais jovense no tenham tanta destreza que a prtica impe. Neste sentido, eles no possuem numeraona escala proposta pela primeira formao. Para a nova guarda19 de pixadores pertencentesao grupo o contexto se modifica, pois necessitam ganhar um reconhecimento para estabilizara sua insero neste meio. No entanto, precisam marcar o maior nmero de pixo na cidadee colocar ao lado a sigla PE como sinnimo de fidelidade ao grupo em que foi convidado aparticipar. Tambm, percebemos a presena de grafiteiros e pixadoras na galera.

    31 O Presidente constituiu um conselho com integrantes antigos da PE em que so consultadoscom a finalidade de saber se novos membros devem ou no fazer parte da famlia. Osintegrantes pertencentes a esta comisso so diferenciados em relao velha guarda. Estanova liderana caracterizada como a estria real do pixo em BH, respeitado e com famaentre os mais jovens. A velha guarda possui uma abertura maior com ele podendo discordarsem maiores problemas das suas opinies. Essa a flexibilizao apontada por Sennett (1999)nos tempos atuais. No entanto, ele possui como principal funo articular festas, encontros edivulgar o pixo nas redes sociais.

    32 Contextualizando o pixo nos anos 2000, a juventude passa a ser influenciada pelo movimentoHip Hop, uma cultura artstica que engloba quatro elementos: o Rap, o DJ, o Break e o Grafite20

    que so vivenciados tambm em ambientes exteriores ao grupo de pixadores, desde eventosculturais destinados a pblicos de diversos estratos sociais, at incorporao em programasestatais de combate violncia ou educao para jovens moradores de periferias. Nesta novadcada, muitas mudanas foram observadas na maneira como os pixadores atuam na cidade.A locomoo pela cidade se tornou mais fcil atravs da aquisio de motos e carros poralguns pixadores. O nmero de prezas se multiplicou pela facilidade de transitar pelo espaourbano e o acesso a veculos automotores possibilitou a utilizao de outros instrumentos

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    como rolo, borrifador, extensor e at mesmo escadas com a finalidade de escalar monumentos.Atualmente, alm do estilo carioca marcado no muro, os jovens incorporaram o estilo paulistae abandonaram a brasiliense. As letras paulistas - caracterizadas por uma maior visibilidadena paisagem urbana - so grandes e separadas. Segundo o relato:

    [...] Outra coisa que tem facilitado muito hoje em dia, a vida do pichador, carro, moto. A maioria,hoje, o sujeito faz dezoito anos e compra uma moto, um carro, a prestao, enfim, o pai d, dequalquer forma o cara adquiri um veculo e o sujeito sai de moto, de carro. Uns param o carro,desce, e faz, os outros vo. Param o carro numa rua um pouco mais afastada e desce, vai l e faze tal. De qualquer forma, se torna mais fcil a locomoo, ento obviamente [...].

    33 Outro de um integrante dos Pixadores de Elite:

    [...] , por que uma lata de spray doze, treze, quinze reais, no barato. Ento por exemplo, hojeem dia parou muito isso. Mas antigamente o sujeito roubava depsito de material de construo,e era aos montes pra poder roubar o spray, ento assim, isso hoje em dia mudou, o preo do spray muito alto ento no d pra todo mundo ficar, ficar comprando assim a revelia e tal. Ento umadas alternativas que o pessoal buscou foi esse borrifador. Voc pode colocar gua, com xadrez.Uma bisnaguinha de xadrez custa dois reais [...].

    34 Como os jovens possuem outras formas de identidade, eles circulam por diversos eventosrealizados na cidade. Atualmente, eles se renem no Duelo de MCs, encontros de skatistas,festas e na sede da PE21. As vestimentas se adequam ao movimento Hip Hop com camisetas,calas largas e bons com marcas elaboradas pelos prprios pixadores. Hoje em dia,encontram-se lojas que vendem os produtos comercializados pelos pixadores que tambmfazem exposies de quadros com letras de grapixo22 e bomb23. Estes locais promovem festasde lanamento de DVDs, sorteios e articulam a vinda de jovens de outras regies do pas paradivulgar a cultura de rua.

    35 Outro aspecto importante de ressaltar a dimenso notria que a pixao tem obtido no cenriobrasileiro. O atual Presidente da PE passou a contemplar a famlia denominada Crculo Forte,resultado da unio de duas grifes em So Paulo: Os+Fortes e Crculo Vicioso. O Crculo Fortefoi fundado em 1999 e, atualmente, possui representantes em Curitiba, Porto Alegre, BeloHorizonte, Salvador, Campina Grande, Vitria e Berlin. Com a facilidade de transitar peloterritrio brasileiro e a proximidade com os pixadores de outras regies pelas redes sociais,o 01 passou a integrar essa famlia e representa na pixao, alm da sigla PE, o smboloCrculo Forte.

    Relao Entre Espao Pblico E Privado36 O tema de pesquisa abordando a atuao dos Pixadores de Elite, entre os anos de 1992

    2013, nos remetem a problematizar a relao entre o espao pblico e privado e, em seguida,verificar a apropriao do espao urbano realizada pelos pixadores. Em O Declnio do HomemPblico, Sennett (1999) discorre sobre as concepes intimistas contemporneas e argumentaacerca do conflito entre a vida pblica e privada. Com o surgimento do capitalismo, este autoraponta para a morte do espao pblico, ou seja, o esvazio da vida pblica na medida em quea cultura do narcisismo avana para a cultura social atravs da constituio do secularismo,urbanismo e capitalismo. O indivduo se encolhendo para a vida privada consolidou duasformas de identidades: o confinamento no domnio privado ou a personalizao do domniopblico, principalmente, na poltica. Segundo Botton:

    Isso foi desenvolvendo uma cultura do espetculo, o homem pblico agora tinha de ser umexcelente orador, mas antes de tudo, uma visual personalidade, um virtuoso ator, portador daessncia do espetculo. Frente a tal espetculo, cabia ao cidado comparado ao espectador observar o poltico silenciosamente, como se ele possusse uma aura mstica que o tornassesuperior ao restante das pessoas (BOTTON, 2010, p.627-628).

    37 A dcada intimista resultou no crescimento de uma cultura narcsica e no surgimentode comunidades destrutivas em que os indivduos se enclausuravam em crculos sociaisfechados devido ao receio de construir relaes sociais, promovendo grupos de identidade eenfraquecendo a possibilidade de refletir sobre uma comunidade poltica mais ampla. ParaSennett (1999, p.319-320), [...] o campo da poltica passa a ser abandonado graas crena na

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    personalidade enquanto signo de credibilidade incontestvel, a personalidade em pblico [...]levada s ltimas consequncias, destrua o poder pblico [...]. O retraimento do indivduopara a vida privada impede que os homens vivenciem o sentido da cidade como localde encontro com os estranhos (BOTTON, 2010, p. 629). Nesse sentido, quanto maior aintimidade, menor a sociabilidade. E parece que os pixadores fazem questo de quebrareste paradigma se apropriando do espao pblico como privado. Se, a sociedade, de formageral, possui uma concepo intimista, eles apropriam do espao pblico como uma formade existncia. De acordo com o relato de um pixador membro da PE: [...] pixam onde tiverbranco ali, inclusive a gente, hoje em dia, a gente tem vivido esse problema que escassezde espao, tem tanto pixo na cidade. T difcil, voc sai pra pichar hoje e difcil pra vocconseguir um espao [...].

    38 Assim, como bem aponta Franco (2009, p.17) que So Paulo no esttica, a cidade deBelo Horizonte se movimenta a cada dia. O contexto segregacionista faz com que os jovenssejam projetados no espao pblico com a finalidade de circular pela cidade. Outro aspectoque o autor aponta o ato de pixar como transgressivo permitindo a disseminao da prticae a radicalidade dos pixadores para suas atuaes (FRANCO, 2009). De acordo com o relato:

    [...] Ah, se amanh for legalizado a pixao, voc vai poder pixar todo lugar. Acho que muitagente vai parar, no vai ter muita graa, a, mesmo assim, ainda assim, vo querer pixar onde nopode. Por que a que eu acho que t o X da questo. O proibido ser gostoso, ser um atrativoa mais. Se fosse legal todo mundo faria. Ento ia acabar sendo uma coisa muito popular, muitocomum. O comum no interessante, n? O interessante o que diverge, o que, o controverso,o polmico que eu acho que a funo da arte tambm [...].

    39 A discusso acerca da apropriao do espao urbano discutida por Franco (2009),em Iconografias da Metrpole: grafiteiros e pixadores representando o contemporneo,destacando que as grandes cidades se caracterizam pelo anonimato do sujeito, principalmente,no que tange as mazelas do espao pblico, ou seja, crianas de rua, mendigos que setornam invisveis diante da sociedade e do estado. Mas, para os pixadores que vivenciam ocotidiano da rua, os nomes estampados nos muros, muitas vezes, com uma frase e a sigla daquebrada demonstra um protesto diante da cidade para se tornarem vistos. De acordo comesta problemtica, lanamos questes a serem debatidas em relao forma como a cidade deBelo Horizonte est coibindo a atuao dos jovens com punies atravs de leis severas noque diz respeito formao de quadrilhas e a higienizao do espao pblico com a finalidadede combater uma prtica imposta pela forma como a juventude se apresenta nos tempos atuais.

    Consideraes Finais40 A criminalizao dos pixadores em Belo Horizonte segue como no passado, em que as

    pixaes comearam a serem vistas na Capital. Restringir o estudo ao estabelecimento decausa e efeito de um ato criminal deixaria de desvendar os fluxos entre a ao dos pixadorese o formato, em constante movimento, dos respectivos coletivos de pixadores, na utilizaodo espao pblico para a realizao da pixao e na construo do discurso por eles, deforma a legitimar seus atos. Outra abordagem reducionista seria tomar a pixao apenas comoexpresso de marginalizados sociais. de se notar que o fazer pixao tambm incorporadocomo capital cultural de agentes, que tende, na Capital mineira correspondendo a outrascidades do pas a dialogar com outras expresses culturais como o movimento Hip Hopatravs do Rap, DJ, Break e Grafite. Estas ltimas tm, ao contrrio da pixao, estabelecidosua legitimidade nas camadas sociais, encontrando o acolhimento at mesmo em programasestatais de Segurana Pblica ou de Educao, para preveno da criminalidade que investemno reforo e enaltecimento de identidade de culturas perifricas, inclusive.

    41 A marginalizao, inerente s pixaes, fica minorada nas expresses adjacentes a ela, aoque parece. As pixaes, entretanto, continuam marginalizadas, foram, desde a origem,criminalizadas. Mas, ao que indica, refora o sentimento de legitimidade da expresso entreos pixadores, uma vez que a transgresso seria um fundamento do prprio ato de pixar.

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    Notas

    1 Segundo Pereira (2005, p. 9), [...] a pixao com x, expressaria o modo com que se apropriam dacidade, que no teria relao com os significados apontados pelo dicionrio Aurlio para o verbo pichar[...].2 Nome pixado.3 Durante trs anos, trabalhei como Tcnica Social das Medidas Socioeducativas atendendo adolescentesencaminhados pelo Centro Integrado de Atendimento ao Adolescente Autor de Ato Infracional (CIA/BH).4 De acordo com Pereira (2005, p.68), o point o local [...] onde eles estabelecem laos de sociabilidadee demonstram seu conhecimento especfico sobre a pixao, compartilhando-o com outros colegas [...].5 Ibope a forma de obter reconhecimento e prestgio entre os pixadores.6 Segundo Pereira (2005, p. 56), [...] o termo quebrada utilizado para se referir ao bairro onde mora.

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    7 Segundo o Dicionrio Aurlio (1980, p.78), alcunha significa um apelido, em geral depreciativo, quese pe a algum, e pelo qual fica sendo conhecido, tirado de alguma particularidade fsica ou moral. Nocontexto da pixao, a alcunha o nome que o pixador reconhecido.8 Por mais que encontramos pixadores de classe mdia e alta, o contexto perifrico abordado aqui dizrespeito procedncia no sentido de que os jovens devem representar uma quebrada, ou seja, o localde moradia.9 Quebra-quebra uma expresso utilizada pelos pixadores demonstrada nos edifcios de Belo Horizonteatravs da capacidade que cada um tem para escalar o prdio e deixar sua marca. Quanto mais alto, maiorreconhecimento. Sendo assim, os jovens disputam entre si o lugar mais alto, uma rivalidade sem lutafsica.10 Um dos pesquisadores relata que um pixador marcou no ltimo andar do edifcio o sua alcunha e aolado escreveu acima de mim s Deus. Mas, logo acima do ltimo andar havia uma caixa dgua, localonde um outro pixador disse: ento, sou seu Deus.11 Nome pixado.12 Os pixadores relatam que se no houvesse a pixao, a sociedade no poderia saber que alguns lugaresde Belo Horizonte existem. Isto pode ser verificado atravs de alguns nomes dos grupos que fazemmeno s quebradas que pertencem: Demnios Pixadores do Cachoeirinha, Demnios Sanguinriosdo Jaragu, Demnios do So Tomz, Galera Frigo Diniz, Galera Vndalos do Amazonas, Malucos daFloresta, Pixadores Surfistas do Amazonas e Pindorama Vida Loka.13 Ganhar a cidade uma expresso utilizada para dizer que os muros pertenciam a um determinadogrupo.14 Surfar significa subir em cima do veculo e ficar em p se equilibrando.15 Pegar carona um termo utilizado para no pagar a passagem do nibus.16 Os pontos da cidade mais visados pelos pixadores eram a Praa da Estao, Praa Raul Soares, aadministrao do Estado ao redor da Praa da Liberdade e o Obelisco da Praa 7. Atualmente, as praasforam revitalizadas, construiu a cidade administrativa e o Obelisco da Praa 7 monitorado pelo OlhoVivo cmeras.17 Pixador inativo aquele que no atua, mas sabe ler os muros.18 Pixadores dos anos 90.19 Jovens pixadores que surgiram nos anos 2000.20 De acordo com o relato dos jovens, nos anos 90 o estilo de msica predominante era o Flash House.Mas, j existia o Rap na periferia da cidade.21 A sede da PE localizada prximo uma avenida de grande circulao local de fcil acesso paraos pixadores e, funciona em um posto de gasolina.22 Grapixo uma mistura de grafite com pixo com efeitos de sombra sobre sombra.23 Bomb so algumas pinturas complexas realizadas de maneira rpida. A palavra derivada do Grafite.

    Para citar este artigo

    Referncia eletrnica

    Flvia Cristina Soares, Pixao em Belo Horizonte, Ponto Urbe [Online], 12|2013, posto onlineno dia 31 Julho 2013, consultado o 19 Junho 2014. URL: http://pontourbe.revues.org/565; DOI:10.4000/pontourbe.565

    Autor

    Flvia Cristina SoaresMestranda no Programa de Ps-graduao em Sociologia pela Universidade Federal de Minas Gerais.E-mail: [email protected]

    Direitos de autor

    NAU

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    Resumos

    O artigo apresenta uma breve contextualizao em relao forma como os Pixadores deElite da cidade de Belo Horizonte se apropriam do espao urbano. O grupo foi fundado em1992 com o objetivo de divulgar a pixao na paisagem citadina. Dessa maneira, para esboara pesquisa, utilizou-se uma metodologia qualitativa atravs da observao participante,entrevistas semiestruturadas e anlises de reportagens entre os anos de 1992 2013. De acordocom os resultados da investigao, observa-se uma distino entre a formao do grupo nosanos 90 e 2000 e, por conseguinte, uma forma diferenciada para circular pela metrpole.O contexto permitiu verificar como os jovens constituem identidades, apropriam do espaourbano e transgridem as leis atravs dos nomes pixados, tomando como perspectiva a culturade rua, a segregao social e a distino entre o espao pblico e privado.The article shows a brief contextualization related about how the Pixadores de Elite fromthe city of Belo Horizonte and the appropriation of urban space. The group was founded in1992 with the objective to publish the pixao in the citizen landscape. In this way, todelineate the survey, it was utilized a quality methodology through the participant observation,interviews semi structured and reports analysis between the years 1992 to 2013. Accordingto the investigation results, it was possible to observe a distinction around a group formationin the years 90 and 2000. Therefore a different style starts to circle the town. The contextallowed to attest how the young people creates identities, appropriated the urban space andgoes beyond the law, trough written, giving their own perspective about the street culture,social segregation and the distinction between the public and private spaces.

    Entradas no ndice

    Keywords :identity, transgression, appropriation of the urban spacePalavras chaves :identidade, transgresso, apropriao do espao urbano