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Magazine do Centro Internacional de Voo à Vela de Mogadouro.
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ASW 15ALEMÃO, CLÁSSICOMODERNO E
E SE O VOO À VELA FOSSEIMPORTANTE PARA ALINHA AÉREA?
BOAS PRÁTICAS PARAEVITAR COLISÕES COM AVES
COMO FAZER AS MELHORESLEITURAS DO ALTÍMETRO
CENTRO INTERNACIONAL DE VOO À VELA DE MOGADOURO
Nº04
CENTRO INTERNACIONAL DE VOO À VELA DE MOGADOURO
Nº04
Caros leitores,
2012 foi para a aviação desportiva portuguesa um ano
particularmente difícil. Um pouco por todo o país as comu-
nidades dedicadas às diversas especialidades foram aba-
ladas por um conjunto de acidentes com o custo severo de
perdas humanas. Ficaram marcas profundas e vazios
impossíveis de reparar. Da parte do CIVVM é devida uma
sentida palavra de solidariedade e encorajamento aos
mais diretamente afetados por estas perdas.
Foi difícil também porque a conjuntura económica em que
o país vive reflete-se numa redução acentuada dos níveis
de atividade e da procura dos cursos de pilotagem. Contu-
do os entusiastas da aviação não desistem e temos notí-
cias de desenvolvimentos muito positivos.
É o caso da notícia do arranque das obras do aeródromo
da Amendoeira em Montemor-o-Novo, infraestrutura que
está a ser pensada para integrar de raiz um centro de voo
à vela. Este é um projeto impulsionado pelo Centro de Voo
Livre (CVL) apontando na direção daquilo de que o país
tem comprovadamente falta – centros de voo que tenham
o ADN do voo à vela em evidência. Há uma cultura de
operação que é própria de cada especialidade. No voo à
vela há uma necessidade crítica de espaço e de tempo
para se poder afirmar e vivenciar a atmosfera única e
salutar que a atividade proporciona.
Consideramos que este é um exemplo a seguir por todos
os entusiastas dispersos pelo território nacional e que vão
orbitando por diversos pontos. Os projetos que integram
uma base, uma escola de pilotagem e um compromisso
operacional próprio são os nós de uma rede agarrada ao
território onde se poderá de forma permanente oferecer a
genuína experiência do voo silencioso e amigo da nature-
za. Um piloto de planador é muito mais do que alguém
que se remete para a postura de quem usufrui egoistica-
mente as condições existentes. Sendo o voo à vela uma
atividade iminentemente cooperativa, cada piloto tem que
dar algo mais, tem que deixar de ser um mero “utente” e
abraçar um projeto sustentável com o qual se identifique,
assumindo as responsabilidades inerentes ao facto de ser
um elo sólido numa cadeia de cultura de voo.
A revista Gliding International publica anualmente um
resumo dos dados estatísticos gerais, organizados por
países, de grande interesse para o estudo da evolução da
atividade. Os números divulgados recentemente indicam
que em Portugal existem 177 pilotos ativos, 25 planadores
operacionais e 7 clubes. Perante esta informação os
comentários a fazer são óbvios: Em termos relativos Portu-
gal tem poucos praticantes pelo que há um enorme
potencial de crescimento do número de pilotos, para cuja
formação as escolas têm que se mobilizar; Há um núme-
ro muito reduzido de centros dedicados ao voo à vela face
o número de clubes/associações existentes.
A geração atual de pilotos portugueses tem estes desafios
pela frente. Cremos que estará à altura para os enfrentar.
No CIVVM o ano de 2012 foi precisamente um ano de
reestruturação. O modelo de responsabilidades centrali-
zadas foi abandonado em favor de um processo de
repartição de áreas de trabalho que ainda decorre e que
envolveu a nomeação de um novo Diretor de Aeródromo,
um novo Diretor da Escola e a formação e certificação de
quatro novos Instrutores de Planadores. Há agora que
avançar no sentido da criação de grupos de missão dedi-
cados a setores como o de intervenção externa, de forma
a ser reforçada a relação com a comunidade envolvente,
e o da consolidação do diálogo e estabelecimento de
novas parcerias com entidades com afinidade ao voo à
vela nas vertentes desportiva, social e formativa. Há por-
tanto muito caminho a percorrer em prol da atividade e
da região que nos acolhe.
Caros, o melhor de todos os voos é o voo em segurança!
EDITORIAL
ICAO - Anexo 14 Números e letras de identificação de pista
CAPACAPACAPACAPA J. Corredeira / ASW 15 no Red Burros
CONTRACAPA CONTRACAPA CONTRACAPA CONTRACAPA P. Castanheira / TWIN, fim de voo e dia
Sumário
CIVVM 5555 Aeródromo Municipal de Mogadouro
Coordenação editorialCoordenação editorialCoordenação editorialCoordenação editorial Artur Moreira Gonçalves
Colaboraram neste númeroColaboraram neste númeroColaboraram neste númeroColaboraram neste número António Machado, Emanuel Alves, Gonzalves; João Corredeira, João Custódio, Joaquim Sá Correia, José Carlos Fernandes, José Loureiro, Jyrki Leppanen, Mathieu Neuforge, Nelson Reis, Nicolas Jourdain, Paulo Cabral, Pedro Castanheira, Pedro Cavadas Dias, Pedro João Ferreira, Pedro Mesquita, Sérgio Mota Ferreira,
AgradecimentosAgradecimentosAgradecimentosAgradecimentos Camilo Miranda, Dulce Gonçalves PLANADOURO O4 PLANADOURO O4 PLANADOURO O4 PLANADOURO O4 - Ano de 2012
OPINIÃO 6666 CVL - Novo aeródromo da Amendoeira
8888 E se o voo à vela fosse importante para a L.A.?
NOTÍCIAS 10101010 RED BURROS 2012 - Festa em Mogadouro 19191919 TÉRMICAS 2012 - Encontro convivial no CIVVM
DOSSIER ASW 15 22222222 ASW 15 - 1º standard de Schleicher e Wailbel 28282828 Uma viagem “across countries”
DOSSIER ASW 15 32323232 A primeira vez, outra vez... 36363636 PB - ASW
TÉCNICA 37373737 O altímetro 40404040 A centragem de planadores
NÃO TENHO MAIS NADA SENÃO AS ASAS... 50505050 Colisões de aeronaves com aves
VER DO CÉU, VIVER EM TERRA 56565656 Brunhosinho, intento e serenidade
Nelson Reis
HUMOR 9999 Bouo zem metore ESCOLA CIVVM
46464646 Curso de instrutores de planadores do CIVVM 47474747 2013 - Cursos e projetos
5 CIVVM
AERÓDROMO AERÓDROMO AERÓDROMO AERÓDROMO MUNICIPAL DE MOGADOUROMUNICIPAL DE MOGADOUROMUNICIPAL DE MOGADOUROMUNICIPAL DE MOGADOURO
A inda na qualidade de candidato à presidência
da Câmara Municipal de Mogadouro, em
agosto de 2001, sou abordado por três cida-
dãos ligados à aeronáutica, aficionados e entu-
siastas de voos planados, arquiteto Artur Gonçalves, enge-
nheiro José Carlos Fernandes, e Adriano Osório, que me
chamaram a atenção para as ótimas condições climatéri-
cas para a prática de voos planados – voo à vela.
Eleito em dezembro de 2001 presidente do Município e
entusiasmado com a oportunidade de implementar em
Mogadouro uma infraestrutura que permitisse a prática de
um desporto radical de inovação, raro no país, porquanto
só existiam então dois centros ligados à formação de pilo-
tos de voos planados, resolveu a Câmara Municipal, após
ponderação de interesses e custos, avançar com a cons-
trução de um aeródromo que servisse de base à pratica
desse desporto. Escolheu-se o local, alto de Azinhoso, e
elaborou-se um projeto de raiz da autoria do arquiteto
Artur Gonçalves que amavelmente o ofereceu.
Encarregado o vereador da Obras Públicas, António Joa-
quim Pimentel, de executar este projeto, vimos nascer com
a determinação deste homem para vencer obstáculos que
se interpuseram, aquisição e negociação dos terrenos,
desafetação da reserva ecológica nacional e apresenta-
ção do projeto a apoios comunitários, já não um campo
de voo à vela mas o Aeródromo Municipal de Mogadouro.
Criou-se a Associação Internacional de Voo à Vela para
sustentar oficialmente o projeto e deitamos mãos à obra.
Para obviar os custos solicitamos os serviços da engenha-
ria militar que rapidamente se disponibilizou para realizar
o trabalho de terraplanagem em toda a pista. Surge assim
o Protocolo de Cooperação entre o regimento de Enge-
nharia nº 3 e a Câmara Municipal de Mogadouro, assina-
do em cerimónia realizada em fevereiro de 2002 no Salão
Nobre, pelo Presidente da Câmara, pelo Coronel Jorge
Santos, RE3 e a Engenheira Joaquina Miranda, CCDRN.
Com o 1º Sargento Afonso Resende a chefiar a frente de
trabalho e a aprovação do projeto e apoio financeiro pelo
PICTUR, foi possível inaugurar o aeródromo com uma
pista asfaltada de 1270 m, em 31 de julho de 2005.
Entregue a gerência do aeródromo ao Vice-presidente, Dr.
João Manuel dos Santos Henriques, e contratado o pes-
soal de apoio foi possível por à disposição do concelho e
do país uma infraestrutura multidisciplinar aprovada pelo
INAC e hoje chefiada com recursos humanos próprios,
alguns já formados em Mogadouro.
Está em pleno funcionamento o Centro Internacional de
Voo à Vela de Mogadouro (CIVVM) com funções de forma-
ção de pilotos de planador, que tem vindo a obter alguns
sucessos no número de diplomas atribuídos pela escola e
homologados pelas instâncias superiores, em quantidade
que excede a das restantes escolas do país juntas.
Para além das funções habituais de estar à disposição da
defesa civil do território, de turistas e aficionados da avia-
ção, desenvolve ação meritória na realização de um dos
eventos mais populares do Concelho de Mogadouro, o
Red Burros Fly In que, nos finais dos mês de julho, faz
acorrer à nossa terra milhares de pessoas.
O CIVVM publica uma revista única no país, o magazine
Planadouro, de alto
nível técnico nas valên-
cias do voo à vela.
Parabéns pelo dinamis-
mo e pela promoção
que imprime ao Conce-
lho de Mogadouro.
António Machado Presidente da Câmara Municipal de Mogadouro
Um pouco de história sobre uma
das obras mais emblemáticas do
concelho de Mogadouro nos 3 últi-
mos mandatos.
Sessão de assinatura do Protocolo de Cooperação entre o
Regimento de Engenharia nº 3 e o Município de Mogadouro
Aeródromo da Amendoeira:
Novo projeto com destino traçado ao sucesso
Abordava eu na última edição a falta de projetos que ajudassem a fomentar o voo à vela em Portugal. Pois foi com muita alegria que as boas novas não tardaram a chegar. Acaba de se dar um passo de gigante na sedimentação de um desses projetos de que tanto carece a comunidade ligada a esta atividade. Iniciaram-se as obras de construção do aeródromo da Amendoeira em Monte-mor-o-Novo e respetivas infraestruturas. Projeto do Centro de Voo Livre (CVL) leva-do a cabo com apoio do Município local. Pela importância do projeto, pela admi-ração pessoal, e por estar bem ciente da titânica tarefa que ainda os aguarda, partilho aqui a mensagem que enviei aos Cmdts. Sá Correia e João Marques, mal o início das obras foi notícia.
Por Pedro Mesquita
6 OPINIÃO
Em cima à direita e na pág. seguinte: Visita ao local das obras do grupo de participantes no seminário de refrescamento de instrutores, realizada na tarde do dia 23 de fevereiro de 2013. Imagens de João Corredeira
» « Caríssimos
Acabo de ler no site da CVL a notícia do inicio
das obras de construção do Aeródromo e respe-
tivas infraestruturas (Hangar, escola, instalações
sociais, equipamentos…).
Os meus mais sinceros parabéns!
Parabéns pelo projeto, por ver que estão a conseguir con-
cretiza-lo, e pela luta titânica que sei que tiveram até aqui.
É apenas o início de muitas outras lutas.
Eu estou no projeto Mogadouro desde a primeira hora e
sei bem o que isso é.
Mas o V/ é de uma importância vital para o desenvolvi-
mento nacional da atividade.
Escrevi um artigo na edição nº 3 do magazine PLANA-
DOURO precisamente sobre isso.
A atividade só se desenvolverá em Portugal com o apare-
cimento de mais projetos, autónomos e sem estar cons-
tantemente sujeita outras guerras e tricas menos dignas.
Como sempre, há quem vá à frente. Há quem faça. Quem
empreenda. Quem luta. Quem tem visão. Quem não se
conforma com as “não existências”. Quem não se limita a
ficar sentado à espera que as coisas lhes caiam do céu.
E depois há os “sabichões” que fariam sempre melhor,
mas como nunca fizeram nada limitam-se a fomentar
essas guerras e tricas e apenas se apresentam para criti-
car e desfrutar dos projetos desenvolvidos por outros.
A pluralidade de projetos leva a que se agucem compe-
tências. Partilhar, competir (de forma saudável claro),
organizar eventos conjuntos, combinar permutas, etc.
Tudo isto só é possível se tivermos um leque de projetos,
que sendo “alternativos e concorrenciais” não deixarão
NUNCA de ser COMPLEMENTARES…
Um grande BEM HAJAM para vocês!!
Parabéns e força!
Abraço amigo,
8 OPINIÃO
LINHA AÉREA?LINHA AÉREA?LINHA AÉREA?LINHA AÉREA?
N o passado ano de 2012 o CIVVM teve o privile-
gio de ver alguns dos seus pilotos qualificados
como instrutores de voo. Abraçando a nova
função, estes instrutores irão percorrer com
rigor um "syllabus" cuidadosamente elaborado levando a
cabo a formação personalizada de alunos candidatos a
piloto de planador. Estes serão munidos com conhecimen-
tos teóricos e técnicos adequados para que tenham
sucesso não só na obtenção das suas licenças como tam-
bém na realização de voos com a segurança pretendida.
Aprenderão que a natureza do voo sem motor exige efi-
ciência e logo proficiência na gestão da energia do plana-
dor aliada a uma pilotagem precisa. Rapidamente perce-
berão que o voo a vela é o exercício de aviação no seu
estado mais puro.
Paralelamente os alunos irão assimilar que a segurança
do voo depende não tanto das mãos do aviador mas sim
da sua cabeça e de uma forma quase imperceptível
começarão a interiorizar algo de muito mais evasivo do
que polares, voltas coordenadas e anéis de MacCready;
algo a que podemos chamar de "cultura aeronáutica".
Difícil de definir, trata-se de uma filosofia de segurança
baseada em disciplina e conhecimento, no uso sistemáti-
co de bom senso, no pensamento "fora-da-caixa" e na
busca constante de excelência associada a um modelo
comportamental de humildade, rigor e assertividade. A
"cultura aeronáutica" tem como combustível a paixão pelo
voo e tudo o que o viabiliza; este é um sentimento que os
pilotos de planador conhecem bem.
Penso que um instrutor de pilotos de planador não deve
declarar "missão cumprida" ao ver os seus alunos licen-
ciados; deverá sim aprender a incentivar e orientar aque-
les que demonstraram vontade e potencial para continuar
a sua formação aeronáutica. Este instrutor poderá ter a
singular oportunidade de ter impacto no principio de car-
reira de um futuro piloto profissional, cultivando nele a
paixão que o atraiu para a aviação, incutindo nele a refe-
rida "cultura aeronáutica" e orientando-o na sua meta-
morfose de "ser terrestre" para "ser aéreo".
Todas as qualidades acima mencionadas são desejáveis
num piloto de linha aérea e felizmente estão presentes na
maioria deles, no entanto é a minha opinião que na avia-
ção de linha moderna caminha-se para uma crise da
referida "cultura aeronáutica" porque existe uma crise de
paixão pelo voo. Frequentemente nos cockpits aparecem
indivíduos para quem voar profissionalmente não é um
objectivo em si mas meramente um meio para atingir
objectivos alternativos. Os critérios qualitativos de contrata-
ção de pilotos profissionais variam em função das neces-
sidades quantitativas das companhias. Para estas, os
pilotos são ferramentas (caras mas ainda indispensáveis)
para o alcance dos seus objectivos económicos. A forma-
ção destes, baseada em exigências legais que salvaguar-
dam a segurança, é ajustada às necessidades das com-
panhias e tendencialmente a valorização de indivíduos
pela sua "cultura aeronáutica" está a desaparecer. A
médio e longo prazo isso poderá ter um impacto na segu-
rança dado que a segurança de uma operação aérea é
directamente proporcional à qualidade dos seus profissio-
nais e acredito que um profissional apaixonado pelo seu
trabalho fornece um "produto" de maior qualidade.
Actualmente um indivíduo que ambicione seguir uma car-
reira na aviação não está sensibilizado para a escolha do
voo a vela para iniciar a sua formação e poderíamos enu-
merar varias razões que justifiquem isso. Irei, no entanto,
destacar que a indústria de formação de pilotos profissio-
nais não valoriza ou simplesmente desconhece a mais
valia qualitativa que o voo a vela pode proporcionar aos
futuros pilotos de linha aérea. Associada a isso está uma
comunidade de voo à vela tendencialmente fechada nela
própria e alheia ao resto do mundo aeronáutico.
Com esta realidade em mente, termino deixando uma
questão para reflectir:
Não caberá à comunidade do voo a vela fazer ver à indús-
tria de formação de pilotos profissionais e aos legisladores
da EASA que existe um papel para o voo à vela na forma-
ção inicial de pilotos de linha aérea?
E se o voo à vela fosse importante para aE se o voo à vela fosse importante para aE se o voo à vela fosse importante para aE se o voo à vela fosse importante para a
Por Mathieu Neuforge
No passado dia 28 de Julho DE 2012 o Aeródromo Municipal de Mogadouro, localizado na freguesia de Azinhoso, foi palco da 3ª edição do Red Burros Fly In. Comemorando o aniversário do aeródromo, que entra nesta data no oitavo ano de atividade, o evento tem crescido em termos de notoriedade nacional e interna-cional mantendo o caráter festivo e despretensioso que tem sabido cultivar desde a primeira edição. A mobilização de entusiastas da aviação e do público em geral foi a maior até agora alcançada o que deixa os seus organizadores satisfeitos pela concretização dos objetivos de convívio entre o público e os pilotos, pela qualidade do espetáculo aéreo que proporcionou e pelos efeitos que o evento tem na promoção da região de Mogadouro e do Centro Internacional de Voo à Vela do Município de Mogadouro (CIVVMM) cuja atividade em prol da formação e da dinamização do voo em planador é reconhecida. Claro que numa festa com este espírito e neste local os burros, mais uma vez, marcaram bem a sua presença e proporcionaram emocionantes “voos rasteiros” a valentes de todas as idades.
10 NOTÍCIAS
Festa no céu e na Festa no céu e na Festa no céu e na Festa no céu e na terra de Mogadouroterra de Mogadouroterra de Mogadouroterra de Mogadouro
A ssistiram ao festival aéreo deste ano perto de
4000 pessoas, número que atesta o crescimen-
to da notoriedade do evento. Para além do
público local que continua a aderir, são cada
vez mais os que viajam de todo o país e da vizinha Espa-
nha para vivenciar a atmosfera e o espetáculo que aqui se
realiza no último sábado do mês de julho.
A organização recebeu 104 inscrições de aeronaves para
participarem no Fly-In que decorre ao logo do dia, tendo
41 delas sido enviadas dos quatro cantos do país vizinho,
o que dá a perceber o grau de espalhamento da mensa-
gem de acolhimento e de convívio que é a marca de toque
deste evento.
As condições de nevoeiro que se verificaram na manhã
deste dia na orla costeira de Portugal impediram que mui-
tos pilotos inscritos realizassem o voo para Mogadouro.
Felizmente na região de Mogadouro as condições do tem-
po foram as melhores, contribuindo muito para o lustro
deste encontro de entusiastas da aviação.
Participaram efetivamente no encontro 70 aeronaves ultra-
passando largamente os números atingidos nas edições
anteriores, distribuídas pelas classes de aviões ligeiros, de
aviões ultraligeiros e de autogiros. Viajaram nestas aero-
naves mais de 140 pessoas.
Tanto a imprensa generalista como a especializada na
aviação, em toda a diversidade de suportes anunciou a
realização deste evento em Mogadouro. Realizado o festi-
val outro tanto aconteceu, agora dando conta do que se
passou. Através das redes sociais a troca de mensagens
e de imagens atingiu proporções muito significativas.
Especialmente no YouTube a partilha de vídeos esteve
muito animada, deixando um registo visual bastante forte
do que se viu e sentiu nesta festa.
No que respeita às questões fundamentais de organiza-
ção e segurança do Fly-In e do festival, para além do tra-
balho de gestão do espaço e de encaminhamento no solo
realizado pelo corpo de voluntários, foi inestimável a cola-
boração graciosa dos controladores aéreos profissionais
que se juntaram à organização partilhando as suas com-
petências e envolvendo-se na magia da festa. Rende-se
assim uma homenagem bem merecida a José Rocha
(controlador militar) e a Pedro Batista (controlador na torre
do Porto) que se aplicaram em desembaraçar o tráfego
aéreo nos momentos críticos de chegada e de partida.
Na página da esquerda:
Cartaz de divulgação do evento. Design de Nelson Reis
Nesta página:
Vista aérea do aeródromo durante o fly-in. Imagem de José Rocha
Concentração na mesa dos “controladores”
Imagem de João Corredeira
CALEIDOSCÓPIO
AERONÁUTICO
O público, composto por pessoas de todas as
idades e proveniências, respondeu à chama-
da desfrutando a tarde de verão, preenchen-
do e animando o espaço disponível, produzin-
do um ambiente rico de luz, cor e festa.
O festival aéreo teve início às 14:00H com a
intervenção de boas-vindas realizada pelo Sr.
Presidente da Câmara Municipal de Moga-
douro, Dr. António de Moraes Machado, que
deu o sinal de partida para o espetáculo
aéreo.
Passagem de autogiro Imagem de José Loureiro - ULM em exposição - Alinhamento das aeronaves das atrações - Parque de ULM de visitantes Imagens de João Corredeira
12 NOTÍCIAS
Emanuel Alves
UM ALINHAMENTO DE ATRAÇÕES UM ALINHAMENTO DE ATRAÇÕES UM ALINHAMENTO DE ATRAÇÕES UM ALINHAMENTO DE ATRAÇÕES
SENSACIONALSENSACIONALSENSACIONALSENSACIONAL
Planador ASW 15B Planador ASW 15B Planador ASW 15B Planador ASW 15B –––– Pedro MesquitaPedro MesquitaPedro MesquitaPedro Mesquita A abertura das exibições aéreas coube ao CIVVMM com o
voo de demonstração de performance e manobrabilidade
realizada pelo piloto Pedro Mesquita aos comandos do
ASW 15B. Para além da descolagem e de uma passagem
baixa sobre o eixo da pista 03 na configuração de rebo-
que, foi também realizada uma passagem a alta velocida-
de seguida de uma aterragem de precisão. Aos coman-
dos do MS 893A RALLYE, avião rebocador do CIVVMM,
esteve o piloto Camilo Miranda.
Salto de precisão de paraquedistasSalto de precisão de paraquedistasSalto de precisão de paraquedistasSalto de precisão de paraquedistas Dando continuidade ao sucesso obtido no ano anterior,
assistiu-se ao salto de precisão realizado por 4 paraque-
distas do Pára-Clube da Maia, que voltou a proporcionar
imagens vibrantes, cheias de cor, que combinam controlo
e graciosidade. A pilotar o avião Cessna 172 na missão de
transporte e largada dos paraquedistas esteve Mathieu
Neuforge que, abraçando de forma entusiástica o espírito
do evento, colaborou como voluntário nas tarefas de coor-
denação no solo.
Husky AHusky AHusky AHusky A----1 1 1 1 –––– Marinho PereiraMarinho PereiraMarinho PereiraMarinho Pereira Foi uma surpreendente novidade a exibição do piloto
Marinho Pereira aos comandos de um modelo de avião
raro entre nós. As capacidades de descolagem e aterra-
gem curta do Husky A-1 foram plenamente exploradas e
testemunhadas pela multidão que vibrou com a explora-
ção dos limites de manobrabilidade desta aeronave,
superiormente pilotada por um aviador que já marcou os
seus créditos nas edições anteriores do Red Burros aos
comandos de outros aviões. Um avião belo, obediente e
potente, que faz sonhar na liberdade de descolar, aterrar
e voar em praticamente qualquer local!
João Corredeira José Loureiro
14 NOTÍCIAS
Bellanca 7ECA Citabria Bellanca 7ECA Citabria Bellanca 7ECA Citabria Bellanca 7ECA Citabria –––– Pedro C. PereiraPedro C. PereiraPedro C. PereiraPedro C. Pereira Pedro Cunha Pereira regressou ao Red Burros para nos
fazer desfrutar de uma demonstração da sua capacidade
de gestão da energia do Citabria 7ECA. Um brilhante e
elegante espetáculo de pilotagem num avião clássico que
está cada vez melhor em forma estética e funcional!
O piloto realizou também voos de batismo para o publico.
Patrulha FantasmaPatrulha FantasmaPatrulha FantasmaPatrulha Fantasma Asso VXAsso VXAsso VXAsso VX----Ray Ray Ray Ray ---- Carlos CostaCarlos CostaCarlos CostaCarlos Costa Rutan VariEze Rutan VariEze Rutan VariEze Rutan VariEze ---- José FigueiredoJosé FigueiredoJosé FigueiredoJosé Figueiredo Rever o “canard” VariEze de José Figueiredo em voo e no
solo continua a fascinar. Carlos Costa, o líder da Patrulha
Fantasma, apresenta-se agora com o Asso VX-Ray. Duas
aeronaves modernas em que motores mais eficientes de
baixa cilindrada proporcionam elevadas performances,
valorizadas pela sincronização das passagens e mano-
bras. A estes dois pilotos se deve um trabalho admirável
de promoção da aviação experimental no nosso país,
representando a Experimental Aircraft Association dos
EUA, organizadora dos eventos Airventure em Oshkosh,
meca da aviação experimental mundial.
YakYakYakYak----52 Smokewings 52 Smokewings 52 Smokewings 52 Smokewings –––– Marco Rodrigues Marco Rodrigues Marco Rodrigues Marco Rodrigues Foi com uma exibição consistente e profissional que Marco
Rodrigues a solo, aos comandos do Yak 52 negro Smoke-
wings, presenteou a multidão que vibrou com as mano-
bras, passagens e cruzamentos de precisão, num espetá-
culo visual cuja banda sonora provem do característico
rumor emanado pelo motor radial, e que constituiu a exi-
bição aérea que empolgou os presentes pela força das
manobras mas também pela interação com o público.
J. Loureiro
J. Corredeira
J. Loureiro
Aerobática Extra S 300 Aerobática Extra S 300 Aerobática Extra S 300 Aerobática Extra S 300 ---- Filipe Conceição e Silva Pitts S2B Filipe Conceição e Silva Pitts S2B Filipe Conceição e Silva Pitts S2B Filipe Conceição e Silva Pitts S2B ---- Luís GarçãoLuís GarçãoLuís GarçãoLuís Garção
A evolução coordenada do Pitts S2B azul de Luís Garção e do Extra 300 vermelho de
Filipe Conceição e Silva espantou-nos pela aparente facilidade e naturalidade das
manobras de voo invertido e movimentos de espelho em perfeita simetria. Voo em
formação cerrada e exibição a solo combinaram-se numa sequência e ritmo que
prenderam a atenção do público, deixando no céu os traços de fumo que materializa-
ram as estonteantes trajetórias dos aviões e as prolongaram na retina.
Voo em formação dos 8 aviões participantes, momento final de rara Voo em formação dos 8 aviões participantes, momento final de rara Voo em formação dos 8 aviões participantes, momento final de rara Voo em formação dos 8 aviões participantes, momento final de rara
beleza que fica como um símbolo do espírito do Red Burros Flybeleza que fica como um símbolo do espírito do Red Burros Flybeleza que fica como um símbolo do espírito do Red Burros Flybeleza que fica como um símbolo do espírito do Red Burros Fly----In!In!In!In!
J. Loureiro
J. Loureiro
Nelson Reis
16 NOTÍCIAS
Os burros da festa Os burros da festa Os burros da festa Os burros da festa Claro que no Red Burros não podem faltar os burros! Esta
é uma nota tónica da experiência proporcionada pelo
evento. Eles marcaram a sua presença proporcionando
circuitos sob um espaço sombreado criado no interior do
recinto do aeródromo, passeando os mais pequenos, e
não só, que assim puderam “voar”… a baixa altitude. Este
é um contributo da população de Azinhoso, coordenado
pela Junta de Freguesia, que assim promove junto do vas-
to público a defesa da raça asinina e os valores e tradi-
ções da região.
Espírito dos voluntáriosEspírito dos voluntáriosEspírito dos voluntáriosEspírito dos voluntários Uma celebração da aviação e do convívio entre a comuni-
dade aeronáutica e o público só funciona se tiver o contri-
buto de uma equipa dedicada de voluntários que agem
como uma correia de transmissão e um elo seguro da
rede de decisão que um evento deste tipo envolve. Depois
da programação e da planificação realizada pelos res-
ponsáveis há a árdua tarefa de aplicar o plano à realida-
de e de resolver as incontáveis novas situações que sem-
pre aparecem.
Neste capítulo deve ficar bem sublinhado o empenho e
dedicação dos voluntários que se prestaram a participar
nesta edição de 2012,. Sem a sua ajuda a festa não seria
possível!
J. Rocha (Arquivo do Município de Mogadouro) J. Corredeira J. Corredeira
J. Corredeira
Em conclusão, e como ficou claro pelo atrás exposto, tive-
mos uma jornada de celebração da aviação onde anima-
ção e descontração, as marcas do Red Burros Fly-In, se
confirmaram e se projetaram para o futuro onde este
evento continua a afirmar-se como um ponto especial do
ano aeronáutico. O êxito alcançado nas três edições já
realizadas permite à Câmara Municipal de Mogadouro,
que o promove, e aos voluntários que com ela colaboram
na organização do festival, traçar o objetivo de dar a este
evento um carácter regular, calendarizado, em cada ano,
para o último sábado do mês de Julho.
Assim...
Encontro marcado noEncontro marcado noEncontro marcado noEncontro marcado no
Red Burros FlyRed Burros FlyRed Burros FlyRed Burros Fly----In 2013In 2013In 2013In 2013!!!!
Um projeto em crescimentoUm projeto em crescimentoUm projeto em crescimentoUm projeto em crescimento
O público acompanhou com entusiasmo o espetáculo. Imagem de J. Rocha (Arquivo de Município de Mogadouro
Husky e Cessna 182 Imagem ar-ar de João Corredeira Aterragem do Rutan VariEze de José Figueiredo Imagem de José Loureiro
Para montar e gerir um evento desta importância é neces-
sário uma grande coordenação e cooperação. O espírito
de equipa com altos índices de motivação fazem com que
tudo funcione, salientando o facto da esmagadora maioria
dos intervenientes serem voluntários.
Com um protocolo bastante rigoroso e perfeitamente defi-
nido, cada elemento da organização tem uma tarefa pre-
cisa a cumprir. No meu caso, juntamente com o meu ami-
go Mesquita, fomos destacados para realizar várias fun-
ções, nomeadamente transmitir aos pilotos o local de par-
queamento das aeronaves, auxiliar e coordenar o seu
reabastecimento e distribuir pequenas lembranças.
Durante toda a manhã, o trabalho foi bastante intenso, era
necessário que tudo estivesse operacional para o início do
evento. Após o fecho previsto da pista, regressei a Moga-
douro onde já me esperava, e vindos de Coimbra, o meu
amigo Francisco Batista e a sua esposa. Eles estavam de
visita e pela primeira vez vinham assistir ao festival aéreo
do RED BURROS FLY-IN 2012. Sendo eu um bom Mogadou-
rense, a hospitalidade teria de ser exemplar e ao mais alto
nível. A gastronomia é um dos valores que distingue uma
região, por isso foi preparada a verdadeira e saborosa
posta assada na brasa do Talho Custódio, sem dúvida a
“cereja no topo do bolo”.
Às 14 horas o espetáculo começou, e uma grande multi-
dão de pessoas afluiu à localidade do Azinhoso, para
acompanhar as manobras dos incríveis pilotos, que de
forma muito profissional exibiram fantásticas acrobacias.
Além das acrobacias, existia também uma grande varie-
dade de atividades, que proporcionaram aos visitantes
horas de diversão e de convívio. Algumas dessas ativida-
des foram: os passeios de burro, a atuação dos gaiteiros,
a venda de produtos regionais... Todos estes fatores con-
tribuíram para que existisse muito dinamismo e animação
nessa extraordinária tarde.
No final do evento, as aeronaves ordeiramente descola-
ram do aeródromo e seguiram viagem. Os responsáveis
pela organização ficaram satisfeitos, procederam ao par-
queamento dos planadores no hangar, e por fim encerra-
ram este maravilhoso festival aéreo.
Acredito que estamos numa fase de amadurecimento, e
mais novidades poderão ser implementadas nos próxi-
mos anos, para que este evento continue a oferecer um
magnífico espetáculo de forma a proporcionar um conví-
vio único e memorável.
A o longo do dia, foram várias as peripécias que
acorreram, das quais gostaria de partilhar um
pequeno episódio, intitulado “pernas para que te
quero”. Encontrava-me no meu posto a realizar as minhas
funções, quando começo a ouvir o som de uma aeronave
cada vez mais próxima, olhei nessa direção e apercebi-
me que a mesma se dirigia para o local onde me encon-
trava. A minha reação instintiva foi correr em direção à
vedação do aeródromo e num impulso comecei a gritar
“FUJAM, FUJAM”. Olhei assustado para o piloto e apercebi
-me que a aeronave se encontrava a descolar bem junto
a mim. Foi um momento muito intenso, e de preocupação,
dado que a aeronave esteve realmente muito próxima.
Mais tarde, informaram-me que um dos pneus da aero-
nave rebentou ao aterrar, o que fez com que o piloto per-
desse algum controle da mesma, optando por abortar a
aterragem, e voltar a descolar. Evitando assim o risco de
ocorrer algum acidente.
18 RED BURROS FLY-IN
Compromisso de voluntário Já se passaram três anos desde a pri-meira edição do Festival Aéreo RED BUR-ROS FLY-IN que, a cada ano que passa, se converte num festival mais admirável, com mais aviões e mais espetadores, algo notável para uma vila do interior como Mogadouro. Tal facto implica um maior compromisso organizacional.
A 2ª edição do Red Burros Fly-In TÉRMICAS 2012, encontro
de voo à vela organizado pelo Centro Internacional de
Voo à Vela de Mogadouro (CIVVM) decorreu de 21 a 29
de Julho, tendo atraído pilotos de diversas regiões de
Portugal e de Espanha.
As excelentes condições meteorológicas verificadas
durante a semana permitiram realizar voos de viagem
um pouco por todo o distrito de Bragança.
A atmosfera descontraída é uma das marcas deste even-
to. Em vez de um caráter competitivo, o encontro é sobre-
tudo cooperativo. Pilotos mais experientes e menos expe-
rientes trocam informações sobre as condições atmosféri-
cas e os padrões de desenvolvimento dessas condições,
sobre técnicas de centragem das “térmicas”, sobre a
localização das famosas “térmicas de serviço, sobre as
áreas do território mais amigáveis em caso de aterragem
fora, sobre os procedimentos de segurança a implemen-
tar, realizam-se voos em duplo comando e a solo, enfim,
partilham-se os saberes e os meios disponíveis.
No final de cada jornada de voo o convívio continua, ago-
ra centrado na deliciosa e substancial gastronomia regio-
nal, e é complementado pelas inesgotáveis histórias épi-
cas e humorísticas e pelas picardias entre sempre inspi-
rados “oradores” de serviço.
20 NOTÍCIAS
TÉRMICAS 2012
Momentos do Red Brurros Fly - In
Na página da esquerda:
Descolagem do ASW 24 - Imagem de N. Jourdain.
P. Mesquita pilotando o Twin - Imagem de N. Reis
SZD Jantar Standard 3, Piper Super Cub e MS 893A
Rallye em alinhamento na placa
Imagem de J. Corredeira
Paulo Cabral pilotando Twin Astir CS-PBH.
Sá Correia aterra no ASW 15B.
Piloto e ajudantes conduzem o SH Discus B de regres-
so à placa do aeródromo.
Churrasco e “minis” no final da jornada de voo à vela.
Imagens de J. Corredeira
Por João Corredeira
Imagem de João Corredeira
22 DOSSIER ASW 15
ASW 15
Primeiro standard de Schleicher e Waibel
A Alexander Schleicher GmbH&Co é uma das maiores e mais antigas empresas de concep-ção e produção de planadores que até aos dias de hoje continua de boa saúde, mantendo
em constante produção novos e melhores modelos para todas as classes de planadores preconizadas pela FAI (Federation Aériene Internacionale). Alexander Schleicher, nasceu em Huhnrain em 22 de Maio de 1901. Filho de carpinteiro, aos 14 anos começou a trabalhar com o seu pai numa fábrica de mobilias. E m 1923 foi trabalhar na fábrica de aviões Weltensegler en Baden-Baden, tendo-se mudado para Wasserkuppe 2 anos mais tarde a desempenhar funções na Rhön-Rossitten Gesellschaft na construção de planadores. Acabou por aprender a voar e em 1926 ganhou o cam-peonato de planadores que decorria todos os anos em Wasserkuppe. Aplicou o dinheiro do prémio para fundar a sua própria empresa, começando no espaço do salão de danças Huhnrain tendo mais tarde alugado uma oficina em Remmerz. Schleicher continuou a projectar planadores até ao inicio da Segunda Guerra Mundial, tendo a sua empresa duran-te este período ministrado instrução de voo, prestado ser-viços de manutenção e reparação aos planadores da juventude hitleriana. Após 1945, Alexander Schleicher regressou às suas raízes e durante 6 anos dedicou-se à produção de mobiliário usando as instalações da sua empresa. Em 1951, após serem levantadas as restrições pelos Aliados, retomaria a construção de planadores. Engenheiros aeronáuticos como Rudolf Kaiser, Gerhard Waibel, Martin Heide e Michael Greiner são reconhecidos internacionalmente e respeitados, uma vez que os seus nomes estão associados à fiabilidade das suas aeronaves desde a fase de projecto à fase do voo. A Alexander Schleicher ganhou mais notoriedade através de planadores projectados por Rudolf Keiser, como o ASK-4, ASK 6, ASK 7 (bilugar), ASK 8, ASK 13 (bliugar), ASK 14
(motoplanador), ASK 16, ASK 21 (bilugar) e ASK23. O enge-nheiro aeronáutico Gerhard Weibel projetou planadores marcantes como o ASW 12, ASW 15, ASW 17, ASW 19, ASW 20, ASW 22, ASW 24, ASW 27, ASW 28. Num período mais recente, a Alexander Schleicher desta-cou-se também com os planadores de Martin Heide o ASH 25 (bi-lugar), ASH 26, ASH 30Mi, ASH 31 e de Michael Grei-ner com o ASG 29. Por esta altura o leitor já deve ter reparado que as duas primeiras letras representam a abreviatura de Alexander Schleicher e a terceira letra representa o apelido do res-ponsável pelo projeto. A empresa mantém o negócio na família, sendo actual-mente propriedade dos netos, Peter e Ulrich Kremer. Edgar Kremer, também um dos proprietários, continua a servir a empresa, assumindo apenas o papel de consultor. É cons-tituída por 115 funcionários, produzindo cerca de 100 pla-nadores anualmente, dos quais 65% são para exportação. Todos os componentes são construídos na fábrica de Pop-penhausen (Alemanha), permitindo grande flexibilidade e grandes níveis de controlo de qualidade.
Imagem de Pedro Mesquita
24 DOSSIER ASW 15
O ASW 15 foi desenhado Gerhard Waibel tendo sido produ-zido em série pela Alexander Schleicher GmbH&Co. O seu voo inaugural foi realizado a 20 de Abril de 1968 em Was-serkuppe. É um planador de “plástico” contendo no entanto alguns componentes em madeira balsa (estrutura interna), trem-de-aterragem fixo, asa média, leme de profundidade monobloco, gancho de reboque deslocado do eixo do planador, freios aerodinâmicos do tipo Schempp-Hirth e desprovido de tanques para lastro. O desenvolvimento da versão “B” veio introduzir alguns melhoramentos ao projeto inicial, uma vez que as regras FAI para a classe standard tinham sido alteradas, passan-do a permitir trem-de-aterragem retrátil e lastro. O gancho de reboque foi reposicionado para o plano de simetria do planador, aumentado o espaço em comprimento do cock-pit, leme de direcção 11cm mais alto que o original, trem de aterragem principal retrátil com uma roda de maior diâme-tro, painel de instrumentos redesenhado para permitir maior visibilidade para a frente e sistema de lastro com capacidade para 90 litros. O perfil na raíz das asas é o Wortmann FX 60-163, transi-tando a partir do inicio do aileron até à ponta da asa para o perfil Wortmann FX 61-126. A dada altura, num dos exemplares iniciais, foi detectado um fungo que atacava a estrutura interna de madeira, o que veio a originar a TN (Tecnical Note) 23 de carácter obri-gatório, referindo a necessidade uma inspecção a todos os ASW 15 e ASW 15B. Nestas inspecções foi detectada infec-ção fúngica nas longarinas e nervuras em quatro ASW 15, tendo nos restantes sido aplicado anti-fúngico como medi-da preventiva. Assim sendo, em 1973, a partir do número de série 15357, a estrutura em madeira balsa foi posta de lado e passou a ser utilizado o Conticell C 60, levando a um ligeiro aumento
ASW 15 Concepção e evolução técnica
Imagem de Pedro Castanheira Diagrama 3 vistas de João Corredeira
no peso das asas – (balsa=62-68kg | Conticell C 60 = 70-75kg) - não tendo no entanto penalizado a performance do planador. O Conticell C 60 é uma espuma pvc com densidade de 60kg/cm³ amplamente utilizada em aero-náutica, especialmente na concepção de planadores, devido à sua elevada resistência e durabilidade. A empre-sa encarregue de produzir este material, Continental, dei-xou de o fazer, tendo no entanto surgido um material substituto, o Divinycel, produzido pela empresa Sueca DIAB. Inicialmente o peso máximo à descolagem estava estipulado nos 318Kg para os modelos ASW 15, sendo que os ASW 15B tinham um peso máximo à descolagem de 408Kg, incluindo o lastro de água localizado nas asas. O ASW 15 conta com um total de 452 exemplares, tendo a Alexander Schleicher encerrado a produção em 1977. Os números de série do ASW 15, iniciam com o 15001 até ao
Evolução do desenho da fuselagem, deriva e leme
Imagem de Sérgio Mota Ferreira
26 DOSSIER ASW 15
15183, sendo que a partir do 15184 até 15453 são da “clássica” versão “B”. Os ASW 15 com os números de série 15001 ao 15356 man-tiveram a estrutura interna em madeira balsa, o que totali-za 172 ASW 15B construídos com este material e 97 plana-dores com o Conticell. Considerando todos os modelos construídos com madeira balsa (ASW 15 e ASW 15 B) obte-mos um total de 355 unidades. A partir de 1991 foi possível instalar uma roda de cauda certificada no ASW 15 e ASW 15B (TN nº24), uma vez que até aqui a cauda estava equipada com um patim de bor-racha. Em 1997 foi emitida uma TN que permite a instalação de winglets produzidos pela empresa FBW-Flugzeugbau GmbH em ambos os modelos, o que vem adicionar maior estabilidade ao ASW 15. No que respeita ao limite operacional, em 2007 saí a TN nº27 que permite aumentar o tempo de vida do planador até as 12.000 horas de voo.
Palmarés admirável No campo das competições, estreou-se no Campeonato do Mundo de 1968 realizado em Lezne (Polónia), pilotado pelo alemão Hans-Werner Grosse, tendo terminado em 10º lugar da classe standard. Dois anos mais tarde, no Campeonato do Mundo em Marfa (Texas), Gerhard Weibel alcançou o 6º lugar da classe standard. Em 1972, o piloto Eugene Rudesnky (U.S.S.R), conseguiu obter o 2º lugar no Campeonato do Mundo realizado em Vrsac (Jugoslávia). Em 1972 o piloto Karl Striedieck (antigo piloto da USAF – Força Aérea dos E.U.A) estabeleceu o record do mundo de distância em planador (ir e voltar), 3 três vezes aos coman-dos de um ASW 15. O primeiro foi em 7 de Novembro de 1971, em Eagle Field – Pensilvânia, tendo voado 916.30Km. No ano seguinte mas em 7 de Outubro, estabelece o record de 1025.02 Km (mesmo local), e 8 dias depois, a 15
ASW 15 BM Versão de descolagem autónoma A Alexander Schleicher chegou a modificar um ASW 15B número de série 15440 (alterado para 15001M) para aco-modar um motor Wankel KM27, retrátil de 300cc equipa-do com um depósito de combustível de 20 litros. Para além da instalação do motor, foi necessário efectuar um corte das asas em cerca de 30 centímetros, isto para manter os esforços estruturais dentro dos limites. O ASW-15 BM, matrícula D-KIWB, acabou por ser abatido ao registo oficial em 1983 pelo que se desconhece a sua localização e estado. Existe ainda outro registo de um ASW-15 BR, com número de série 15207, matrícula D-KGHE, do qual apenas de sabe que terá tido um acidente em 21 de Maio 1989. As únicas fotografias e a pouca informação disponível que foi possível encontrar sobre esta versão, foram retira-das do site www.asw15.org, não tendo sido possível apu-rar o autor das fotos.
ASW 15 BM pronto para a descolagem
Imagem de João Corredeira
Imagem de Paulo Cabral
Características ASW 15 ASW 15B
Comprimento 6.45m 6.48m
Envergadura 15m
Área alar 11m²
Massa em vazio 205Kg 230Kg
Peso máximo à descolagem 318Kg 408Kg
Velocidade máxima (Vne) 220Km/h
Velocidade de perda 63Km/h
Diedro 2º
Perfil aerodinâmico FX61 163 e FX61 126
Lastro Não equipado 90 litros
Carga alar 26.5 a 28.9Kg/m² 28 a 37Kg/m²
Coeficiente de planeio máx. 1:38
Razão de afundamento mín. 0.58m/s a 70km/h 0.59m/s a 73Km/h
Polar de velocidades do ASW 15B
Especificações técnicas
Imagem de Paulo Cabral
Imagem de João Corredeira
Velocidade ar indicadaVelocidade ar indicadaVelocidade ar indicadaVelocidade ar indicada Ve
loci
dade
de
afun
dam
ento
Velo
cida
de d
e af
unda
men
toVe
loci
dade
de
afun
dam
ento
Velo
cida
de d
e af
unda
men
to
Como diz o provérbio, “a necessidade aguça o engenho” e foi o que aconteceu em
agosto de 1996 quando um grupo de pilotos decidiu juntar algum dinheiro e ir pela
Europa fora à procura de um planador que permitisse melhores voos.
Uma viagem
across countries
28 DOSSIER ASW 15
Por José Carlos Fernandes
Em cima: O ASW 15B D-3976 na soleira da pista do aeródro-mo de Chaves, com cabo esticado, asas niveladas, pronto para a primeira descolagem de um dos sócios-piloto. Imagem de Jyrki Leppanen, 1996 À direita: Adaptações ao cockpit e briefing de dois sócios-piloto acompanhados por vários pilotos e curiosos, em Chaves. Imagens de Jyrki Leppanen, 1996
A comunidade nortenha estava a crescer e a
ganhar alguma experiência voando noutras
geografias e começou a tornar-se intolerável
não possuirmos uma máquina própria com
alguma performance. Não íamos aceitar as velhas des-
culpas de que não havia dinheiro ou não era fácil adquirir
ou manter uma aeronave em Portugal, etc.
Certo dia, após os habituais voos locais de manutenção
de proficiência, na cativante contemplação do entardecer
no aeródromo habitual, em Chaves, um grupo de amigos
decide: É agora ou nunca! Fizeram-se contas às participa-
ções financeiras reais e prometidas, reviram-se mais uma
vez os modelos adequados à experiência e ambição dos
pilotos interessados, conferiram-se os contactos de
potenciais vendedores e marcou-se hora de partida para
o dia seguinte às seis da manhã com farnel para a via-
gem. Poderia durar até uma semana, mas a missão era
trazer um pássaro na mão.
Fomos três, estrada fora, com destino ao primeiro objeti-
vo, um aeroclube em St Denis L’Hotel, ainda a uns bons
quilómetros a sul de Paris. O primeiro dia de viagem
passou a planar: ainda antes do pôr-do-sol já estáva-
mos no destino a examinar um Cirrus, que se encontra-
va no meio de um enorme hangar apinhado de plana-
dores que até fazia inveja! Mas, na verdade, o planador
não entusiasmou pois tinha uma boa rachadela na
canopy, um gelcoat pouco radioso e umas boas folgas
que gemiam devido ao trato dos recém alunos piloto
que, com toda a certeza, faziam os seus batismos em
monolugar naquele mesmo planador.
Assim ainda o dia não tinha acabado e já viajávamos
em direção à fronteira alemã. No dia seguinte íamos
examinar outro planador no aeroclube de Hockenheim
mesmo junto ao circuito automóvel.
Foi amor à primeira vista, mal a porta do hangar se abriu
e os primeiros reflexos do ASW15, as suas linhas imacu-
ladas, enfim o seu estado geral fez-nos até desconfiar
da intenção dos donos em vendê-lo. Rapidamente per-
cebemos a razão. Um dos donos, o Frank, era um dos
técnicos do fabricante de planadores Salto e pretendia
adquirir um outro planador com mais performance para
participar em competições.
Talvez devido à paixão comum entre todos nós, criámos
entre todos uma grande empatia. Mais tarde percebi
que havia uma forte componente emocional da parte do
30 DOSSIER ASW 15
Frank quando no dia seguinte ficou a chorar como uma
criança ao ver-nos partir com o planador no atrelado em
direção a Portugal.
O regressoO regressoO regressoO regresso Viajar mais de dois mil quilómetros com um reboque
com quase sete metros de comprimento e com o aspeto
de míssil balístico comprado na ex-URSS prometia ser
uma aventura. E assim foi. Logo nos primeiros quilóme-
tros percebemos que a mais de oitenta quilómetros por
hora o reboque começava a baloiçar ameaçando a
direção da trajetória rodoviária. Logo reconhecemos que
a opção devia ter sido viajar pelo ar, mas enfim, não
poderíamos andar de noite e pela estrada podíamos...
O rumo de regresso estava claro e o tempo era precioso,
por isso mantivemos sempre o andamento de dia e de
noite. O problema foi que um de nós não conseguia dor-
mir tal era o desconforto e a excitação, tendo chegado ao
ponto de, aí por volta de Santander, começar a ter aluci-
nações e jurar a pés juntos que o planador tinha saído do
atrelado e tinha ficado atrás no meio da estrada. Após
tanta lamúria lá parámos o carro e fomos fisicamente
mostrar que o planador ainda lá se encontrava intacto.
Era já manhã cedo quando cruzámos a fronteira perto de
Chaves, local de destino e base de voo durante aquele e
anos seguintes.
Finalmente podemos festejar, voltar a montar o planador,
apreciá-lo demoradamente, entreolharmo-nos e dizer
cada um para si e depois em conjunto - “aqui nasce uma
nova etapa dos nossos sonhos”.
Na página anterior Corrida para a primeira descolagem de um sócio aos comandos do D-3976, em Chaves; Um sócio familiarizando-se com o cockpit na compa-nhia de dois pilotos que posam para a posteridade. Imagem de Jyrki Leppanen, 1996 Em cima: Aterragem na pista 16 do aeródromo de Chaves Imagem de Jyrki Leppanen, 1996. Ao lado: Atrelado do D-3976 em viagem no IP4 Imagem de José Carlos Fernandes
A primeira vez outra vez...
Por Pedro Mesquita
Costumo dizer em tom de brincadeira, mas convicto do que digo, que se per-guntarem a um piloto aviador como foi a sua “primeira vez”, este acaba por dececionar grande parte da plateia mas vai relatar o seu voo de largada. O seu primeiro voo solo. Será difícil ao comum dos mortais enten-der o misto de sensações que atraves-sam um aluno quando pela primeira vez vai para o ar sozinho. Medo, prazer, emoção, concentração, realização… É chorar e tremer e cantar e sorrir e ten-tar não estragar tudo. É tentar que termine tudo da melhor for-ma e ao mesmo tempo tentar que o momento não acabe! “Também cantaste na tua largada?”
32 DOSSIER ASW 15
A largada é sem dúvida dos momentos mais
marcantes de qualquer aviador. Atinge dimen-
sões inenarráveis.
O tema merecia por si só um artigo, e mesmo
assim seria uma árdua tarefa. Há coisas que… só mesmo
sentindo! Não se descrevem, sob o risco de as
“estragarmos”.
Depois desse momento, claro que há outras primeiras
vezes. E também outras primeiras vezes aeronáuticas. O
primeiro looping, o primeiro batismo, o primeiro voo de
planador fora do cone, a primeira aterragem fora (não
obrigado, essa para já passo. Pastos com vacas ou cam-
pos de batatas não são grandes locais para aterrar um
planador. Continuo a preferi-las no debriefing ao jantar à
mesa no Ti Abílio.)
Há contudo um outro momento [aeronáutico] que se apro-
xima do voo de largada: O primeiro voo num monolugar.
Uma máquina que desconhecemos, que nunca voamos
com outro piloto já experiente que nos corrija se metermos
água, cujo comportamento apenas conseguimos imagi-
nar e cujas reações aos comandos são mais imprevisíveis
do que as de uma namorada zangada.
Se num voo de largada a questão passa por gerir a ansie-
dade , manter a concentração, e tentar cumprir à risca
aquilo que já se treinou com instrutor inúmeras vezes, um
primeiro voo num monolugar é marcado essencialmente
pelo desconhecido. O mistério. As questões. Tantas ques-
tões sem resposta!!
Como reage aos pedais? E efetividade de ailerons? E leme
de profundidade, é muito brusco? E freios, são eficientes?
Mas afunda muito ou só perde velocidade? E nos rebo-
ques, mantem-se estável ou temos de corrigir muito? E…?
E foi assim que um dia chegou a minha vez e descolei no
ASW 15. Neste caso um exemplar do modelo ASW 15 B de
matricula D-9638, de uma elegância ainda hoje invejada
por máquinas moderníssimas.
LPMU, a meio de uma tarde de verão, ainda com bastan-
te atividade térmica e ligeiramente atrasado após ter feito
3 batismos inesperados no bilugar do CIVVM.
Manual decorado. Todas as velocidades e procedimentos
sabidos de cor, salteado e de trás para a frente. Sem
esquecer nenhuma das dicas dadas por quem já tinha
experimentado a máquina, mas acima de tudo carregado
de fé e vontade.
Nesta página:
- Eu bem que queria fugir, mas eles amarraram-me.
- Vais ver que é fácil. Isso aí serve para subir e descer. Se
puxas sobes, se empurras desces. Não há que enganar!
Imagens de Paulo Cabral
Na página da esquerda:
A colocar o para-quedas momentos antes do voo.
Imagem de Paulo Cabral
Na verdade foi com muita vontade que acreditei que tudo
iria correr bem quando carreguei no PTT e pedi ao sempre
amigo e companheiro Camilo Miranda para iniciarmos a
corrida de descolagem.
Porque há momentos que são mesmo assim: contaram-
me que aquilo funcionava e eu acreditei que também
seria capaz.
Tão diferente! Mas tudo tão diferente!
Primeira constatação foi a de que o peso faz mesmo dife-
rença. Reboque levava meia dúzia de metros e já estava
capaz de descolar. Menos de metade da pista que o bilu-
gar costuma gastar, ou mais do dobro da velocidade
deste naquela mesma distância…
Tão leves os comandos. Uma leve pressão na manche e
foi suficiente para me fazer sair do solo e subir um par de
metros, mantendo o alinhamento com o eixo da pista.
Tudo batia certo com o manual e os avisos que levava
comigo. Muito franco de comandos, sem reações brus-
cas, mas bem mais efetivo que qualquer máquina já voa-
da até à altura.
Foi um reboque trabalhoso. Muitas térmicas, fortes, e foi
fácil perceber que tinha nas mãos um planador com mui-
ta vontade de voar. Precisamos de muito pouco tempo
para atingir os 600 metros e me despedir do avião de
Reboque. Trem dentro.
O Silêncio. A leveza. O mundo parou, e a magia aconte-
ceu. Qual miúdo fascinado a olhar para borboleta, eu
estava colado na máquina que voava. E foi óbvio naque-
les primeiros segundos, que nascia ali uma relação inten-
sa. Havia harmonia no que fazíamos. De térmica em tér-
mica, nas velocidades, no modo como tudo o que eu que-
ria era tão bem interpretado pelo planador.
Foram quase 3 horas de voo. E sempre muito alto. Deu
para explorar alguns limites. Voltas apertadas, aproxima-
ção à perda, arco amarelo. Não vou esconder que foi um
voo de descoberta. Muitas surpresas. Era uma máquina
completamente nova. Mas acima de tudo, aquilo que
rapidamente aprendi é que é uma máquina franca. As
reações repetem-se vezes sem conta. Depois de ver como
faz na primeira vez, podemos contar que vai ser sempre
assim. Pressenti-o na altura e confirmo-o hoje, uns anos e
umas dezenas de horas de voo depois.
Da pista vinham notícias de um certo vento cruzado, tão
típico das tardes transmontanas, e que estaria a aumen-
tar de intensidade. Horas de aterrar, não sem antes
acompanhar um Discus numa estrada de térmicas bem
marcada entre Mogadouro e Alfandega da Fé. Em poucos
minutos deu para ir, voltar, e à mesma altitude do Discus
tal como quando saí. Isto sempre a voar em frente, a velo-
cidade de passeio, claro, a desfrutar o aproximar do pôr-
do-sol. Porque voar em Mogadouro ao por do sol… um
dia, quem sabe, partilho esse feitiço.
Foi uma aterragem difícil. Bastante difícil até. Muitos avisos
e muitas leituras sobre reações do planador aos coman-
dos, mas muito pouca informação sobre reações da
máquina ao ambiente que a rodeia. Vento estava mesmo
forte, planador a acusar efeito de cata-vento muito acima
do que eu esperava, falta de habituação minha a coman-
dos tão sensíveis, tornaram a aterragem num quase
numero de circo. Mas não passou disso. Rápido, estava
em cima da situação e dentro de um planador quase
ancorado, não no eixo mas ainda muito dentro da pista.
Foi um primeiro voo memorável. E tal como previ, nasceu
uma relação que se sedimenta voo sobre voo.
Depois desse já foram muitos os voos com surpresas, já
foram muitos os desafios, os ventos inesperados, as tér-
34 DOSSIER ASW 15
“Essa esteve sempre onde eu a esperava. Onde eu
contava com ela. Relação nobre, de confiança, como se de outro ser se tratasse.
micas estreitas fora do cone, a turbulência quase severa
de um dia onde lindos cúmulos de base plana se transfor-
maram em congestus, e em cada um desses voos o ver-
dadeiro desafio fui eu e nunca a máquina…
Na página da esquerda:
- “Índia Victor, D 38 pronto para descolar.”
- Final da aterragem, já “ancorado”.
Imagens de José Carlos Fernandes
Nesta página:
Estrada de térmicas, captada em pleno voo .
Imagem de Pedro Mesquita
”
Desenho a tinta de Pedro CastanheiraDesenho a tinta de Pedro CastanheiraDesenho a tinta de Pedro CastanheiraDesenho a tinta de Pedro Castanheira
Observando a graciosa silhueta do ASW 15 quando este, na fase final do circuito de aterragem, se prepa-ra para arredondar a trajetória.
PB - ASW
D e quando em vez, por brincadeira, pergunto à
minha filha de 3 anos de quem gosta mais, do
pai ou da mãe. Ela responde: dos dois! A res-
posta deixa-me embevecido, mesmo sabendo
que não é verdade. Quando está doente ou mal disposta,
é a mãe que procura…
Enquanto professor de instrumentos de voo, os alunos
fazem muitas vezes uma pergunta semelhante: qual o
instrumento de voo mais importante. A minha resposta
politicamente correta é: Todos! No entanto, sei que, tal
como a minha filha, estou a cometer uma mesma impre-
cisão bem-intencionada.
O convite, que tanto me honra, a escrever um artigo
sobre um instrumento de voo, levou-me a deixar de lado
o “politicamente correto” e eleger um instrumento como o
mais importante. Confesso que a escolha não foi difícil: O
altímetro.
Se, na minha opinião, o altímetro é o instrumento de voo
mais importante na aviação geral, ele reveste-se de uma
importância acrescida no voo à vela. Capaz de provocar
as maiores alegrias quando o vemos subir e as maiores
deceções (e por vezes sustos) quando o vemos a descer,
os olhos do piloto de planador estão sempre cravados no
altímetro, porque ele sabe que este instrumento é o
“indicador de combustível” do planador.
Ao me propor a falar sobre o altímetro (altímetro de pres-
são se quisermos ser mais corretos), penso ser oportuno
relembrar o seu funcionamento.
“O” Altímetro
TÉCNICA 37
Por Pedro Cavadas Dias
Princípio de funcionamentoPrincípio de funcionamentoPrincípio de funcionamentoPrincípio de funcionamento Nas camadas mais baixas da atmosfera (até cerca de
3000 metros de altitude), a pressão atmosférica diminui a
uma razão aproximada de 1hPa por cada 30 pés. Assim,
houve uma mente brilhante (o físico francês Louis Paul Cail-
letet) que se lembrou de construir um barómetro que
medisse pressão atmosférica e cuja indicação se movesse
numa escala de altitudes. Assim nasceu o Altímetro de
pressão!
O Altímetro é então constituído por uma caixa hermética,
tendo como única entrada uma tubagem que está ligada à
tomada de pressão estática da aeronave. Assim, podemos
dizer que todo o interior do instrumento está alimentado
com pressão estática (pressão da atmosfera envolvente).
Dentro do altímetro existe uma cápsula expansível aneroide
38 TÉCNICA
Pressão de Referência O Altímetro indica:
QFE (pressão atmosférica no aeródromo) Avião no chão: ZERO Avião em voo: Altura do avião à pista
QNH (pressão atmosférica reduzida ao nível médio das águas do mar)
Altitude (relativamente ao nível médio das águas do mar)
1013,25 hPa = 29,92 Hg Inch
Avião no chão: QNE Avião em voo: Nível de Voo (Altitude Pressão)
(cápsula hermética contendo vácuo ou uma quantidade
muito pequena de ar). Esta cápsula é o sensor de pressão.
À medida que a aeronave sobe, a pressão estática dimi-
nui, provocando uma expansão da cápsula. Este movi-
mento é transmitido por engrenagens aos ponteiros do
instrumento, indicando um aumento de altitude.
Tudo estaria resolvido se a pressão atmosférica no nível
médio das águas do mar fosse sempre a conhecida
1013,25 hPa da atmosfera ISA. Porque tal não acontece,
tornou-se necessário introduzir um dispositivo que permita
introduzir diferentes pressões de referência: janela de
Kollsman.
Pressões de referênciaPressões de referênciaPressões de referênciaPressões de referência As diferentes pressões de referência inseridas na janela
de acerto altimétrico vão resultar em diferentes indicações
no instrumento:
QFE QFE QFE QFE É bem verdade que o piloto de planador voa a esmagado-
ra maioria das vezes em QFE. Voar em QNH, obrigaria o
piloto a fazer um constante cálculo mental da subtração
da sua altitude em relação à elevação do aeródromo. O
uso do QFE é, de facto, mais confortável e menos per-
meável a erros quando voamos no cone de um mesmo
aeródromo. Convém no entanto lembrar que a pressão
no aeródromo (QFE) poderá variar significativamente ao
longo do dia. Principalmente na aproximação de siste-
mas frontais, a pressão pode variar significativamente no
tempo. Como diz a nossa velha conhecida mnemónica
em relação às pressões: “From low to high look out the sky. From high to low look out bellow”. Com efeito, se a
pressão diminuir 4 hPa e nós mantivermos um mesmo
acerto altimétrico, estaremos a voar cerca de 40 metros
abaixo do indicado no altímetro. Esta poderá ser uma
diferença significativa no planeamento de um circuito
para aterragem. Em voos de curta duração, estes erros
serão mínimos. Já nos voos de permanência, uma forma
de contornar este risco é pedir à equipa de chão o acerto
altimétrico de QFE na aproximação ao circuito.
Prevenindo a eventual necessidade de diferentes acertos
altimétricos durante o voo (QNH ou 1013hPa para níveis
de voo), ou até de um desacerto inadvertido do altímetro
pelo piloto, seria uma boa prática o aviador registar o
valor de QFE no início de cada voo.
Componentes e mecanismo interno do altímetro
QNH QNH QNH QNH Já para aqueles que se queiram aventurar a sair do cone e
fazer umas viagens de “cross-country”, apenas o aeródro-
mo de descolagem é garantido. Já o de aterragem…
Por esta razão, e porque dificilmente conseguiríamos o QFE
de um outro aeródromo, é aconselhável utilizar o QNH.
Passando agora a ler Altitudes no altímetro, poderemos
determinar a nossa altura ao aeródromo se ao valor indi-
cado descontarmos a elevação da pista. Para estes voos,
será prudente levar uma pequena “cábula” com as infor-
mações essenciais dos vários aeródromos da área: pistas,
frequência rádio e elevação.
O QNH poderá ser determinado com base nas isóbaras de
uma carta de superfície. Há, no entanto, uma outra forma
talvez mais pragmática de conseguir este acerto altimétri-
co. Com a aeronave no chão, se introduzirmos no altímetro
a elevação do aeródromo, podemos descobrir o QNH na
janela de Kollsman.
À semelhança do QFE, seria uma boa prática registar o
QNH antes de cada voo, prevenindo a eventual necessida-
de de aterrar num aeródromo no qual desconhecemos o
QFE.
Sistema de EstáticaSistema de EstáticaSistema de EstáticaSistema de Estática Sendo a pressão estática a fonte do funcionamento do
altímetro, qualquer condicionante que afete o sistema de
estática afetará também o altímetro.
Um fenómeno clássico (embora felizmente pouco frequen-
te) é o bloqueamento do sistema de estática. Isto pode
dever-se a uma série de fatores, tais como: tubagens
dobradas, sujidades, insetos, esquecimento de retirar a
cobertura de estática… Em todas estas situações, o avia-
dor apercebe-se rapidamente que algo não está bem,
logo no início do voo.
Noutros casos, este bloqueamento poderá acontecer
durante o voo, o que se poderá dever, por exemplo, à for-
mação de gelo na tomada de pres-
são estática ou ao congelamento de
humidades nas tubagens de estática.
Quando isto acontece, o altímetro
mantém a indicação de altitude a que
se deu o bloqueamento e o varióme-
tro passa a ler zero. Assim, quando o
piloto observar uma altitude constante
e o variómetro a zeros durante algum
tempo, será de suspeitar de um blo-
queamento de estática. Perante isto, o
aviador deverá fazer uma descida e
planear o circuito de aterragem fazen-
do-se valer do seu olho treinado (e
não há quem ganhe aos pilotos de
planadores na determinação visual
de uma altura). Mesmo que o altíme-
tro comece a dar algumas indicações
devido a descongelamentos durante
a descida, os valores indicados pode-
rão não ser os corretos.
É ainda importante lembrar que, quando a estática está
bloqueada, também o velocímetro fica afetado, indicando
velocidades superiores às reais abaixo da altitude de blo-
queio. Este erro será tanto maior quanto mais afastados
estivermos da altitude de bloqueio, pelo que deveremos
utilizar velocidades de aproximação significativamente
mais altas e, acima de tudo, voar por atitude e ouvido!
Uma forma eficaz (mas dispendiosa) de resolver o proble-
ma seria partir o vidro do variómetro. Ao fazê-lo, estaría-
mos a alimentar pressão de cabine a todo o sistema de
estática. Uma vez que a pressão de cabine não será muito
diferente da pressão exterior, voltaríamos a ter indicações
razoavelmente fiáveis de altitude e velocidade.
Um outro fenómeno (este já mais comum) é a acumulação
de humidade nas tubagens de estática. Este fenómeno
resulta em flutuações visíveis de altitude e de variómetro.
Nestas circunstâncias, será prudente assumir que a altitu-
de indicada poderá não estar correta. Após o voo, dever-
se-á fazer uma inspeção cuidadosa a todo o sistema de
estática.
Para finalizar, gostaria de falar de um outro erro comum
nos altímetros: a fricção nos mecanismos internos.
Quem nunca deu uns toquezinhos no vidro do altímetro?
Quantas não foram as surpresas?
Com efeito, a fricção pode provocar alguns erros de indi-
cação. Aquele toquezinho milagroso pode fazer a dife-
rença e será um bom procedimento a adotar na prepara-
ção da aterragem.
E agora, já sabem a resposta à pergunta: Qual é o instru-
mento de voo mais importante?
Todos, pois está claro!
Esquema de tubagens do sistema de pressão estática
Bons voos! E que o altímetro vos traga
mais alegrias que desilusões!
A centragem dos planadores
40 TÉCNICA
Por Nicolas Jourdain
Tradução de P. Castanheira
O piloto de uma aeronave deve ter consciência do efeito da posição do Centro de Gravidade nas características e na segurança do voo. No voo de planador tal cons-ciência integra-se no âmago de um conjunto de variáveis que têm que ser geridas para garantir, por um lado, a performance ideal e a harmonia da pilotagem, e por outro, a manutenção de bons níveis de estabilidade e de reação positiva do planador nas situações críticas de voo. Vamos focar a atenção nesta matéria procurando as ligações entre os princípios básicos de voo e as operações práticas cuja realização cabe ao piloto.
Acima, verificação do carregamento do planador.
Imagem de Nelson Reis
PONTOS A CONSIDERARPONTOS A CONSIDERARPONTOS A CONSIDERARPONTOS A CONSIDERAR
Um planador está sujeito a uma série de esforços:
Peso (P): Peso (P): Peso (P): Peso (P): força vertical resultante de todas as massas
constituintes e transportadas na aeronave:
- Massa dos componentes geradores de sustenta-
ção: asas;
- Massa dos componentes não geradores de sus-
tentação: fuselagem equipada (estrutura/
instrumentos/rádio/ assento/pesos de lastro) estabi-
lizador horizontal/winglets; - Massa da carga: piloto/para-quedas/bagagem/
lastro/ …
- Centro de Gravidade (CG): É o ponto, real ou imagi-
nário, no qual se aplica a resultante do peso.
Sustentação (S): Sustentação (S): Sustentação (S): Sustentação (S): Força gerada pelas asas. O perfil aerodi-
nâmico das asas determina a capacidade destas para
gerar sustentação.
- Força aplicada numa direção aproximadamente
perpendicular à trajetória;
- Força proporcional ao quadrado da velocidade de
circulação do ar;
- O centro de aplicação da sustentação é um ponto
(real ou imaginário) denominado Centro Aerodinâ-
mico (CA).
Resistência (R): ÉResistência (R): ÉResistência (R): ÉResistência (R): É a resultante de todas as forças geradas
na área em contacto com o ar (área molhada) da aero-
nave (asas/empenagens/fuselagem/trem de aterragem)
que se opõem ao movimento:
- Força paralela à trajetória
- Força proporcional ao quadrado da velocidade de
circulação do ar
- O ponto de aplicação da força da Resistência (R) é
um ponto (real ou imaginário) que coincide com o
Centro Aerodinâmico (CA).
Em regime estacionário (velocidade constante), a soma
vetorial dessas forças é zero (Fig. 1).
A Resistência (R) é equilibrada pela componente horizon-
tal de peso. Logo, quanto maior for a atitude de nariz em
baixo do planador (picada), maior é a velocidade e
maior é a resistência uma vez que esta aumenta de
acordo com o quadrado da velocidade.
Consequências para o voo:
- Quanto mais forte for a atitude de picada
mais alta será a velocidade estabilizada do
planador;
- Quanto mais velocidade, mais resistência;
A Finesse Finesse Finesse Finesse é uma característica importante do plana-
dor: Quanto maior ela for, maior a autonomia de um
planador para uma dada altitude.
É a razão entre a Sustentação (S) a Resistência (R),
ou, de forma equivalente, a razão entre a velocidade
de deslocamento e a velocidade de afundamento,
ou ainda, a razão entre a distância percorrida e a
altura perdida.
A finesse de um dado planador está intimamente
ligada à velocidade de circulação no ar. A "polar" de
velocidades é uma representação gráfica que expri-
me esta interelação.
42 TÉCNICA
CÁLCULO DA SUSTENTAÇÃO NEGATIVA PRODUZIDA CÁLCULO DA SUSTENTAÇÃO NEGATIVA PRODUZIDA CÁLCULO DA SUSTENTAÇÃO NEGATIVA PRODUZIDA CÁLCULO DA SUSTENTAÇÃO NEGATIVA PRODUZIDA
PELO ESTABILIZADOR HORIZONTALPELO ESTABILIZADOR HORIZONTALPELO ESTABILIZADOR HORIZONTALPELO ESTABILIZADOR HORIZONTAL
Propomo-nos agora determinar de forma aproximada a
força gerada pelo estabilizador horizontal para compensar
o momento de picada (fig. 3)
A força de sustentação negativa a ser gerada pelo estabili-
zador de um planador centrado à frente (CG próximo do
limite anterior) é o dobro da necessária a esse mesmo
planador centrado atrás (CG próximo do limite posterior).
Esta sustentação negativa prejudica a sustentação gerada
pelas asas, e induz resistência e deflexão permanente de
superfícies de comando: Tal situação afeta diretamente a
finesse do planador.
A perda de finesse nestas circunstâncias é tipicamente da
ordem de 2 pontos para um planador de classe standard, o que é bastante significativo.
POR QUE É QUE A CENTRAGEM É TÃO IMPORTANTE?POR QUE É QUE A CENTRAGEM É TÃO IMPORTANTE?POR QUE É QUE A CENTRAGEM É TÃO IMPORTANTE?POR QUE É QUE A CENTRAGEM É TÃO IMPORTANTE?
A posição do CG relativamente ao centro aerodinâmico
(CA) é crucial para garantir a estabilidade e a controlabili-
dade da aeronave (fig. 2):
- A centragem atrás (CG perto do CA) provoca um com-
portamento instável e nervoso da aeronave assim como:
- Controlo de pranchamento difícil;
- Recuperação da vrille difícil ou impossível;
- Em teoria, a finesse melhora
- A centragem no limite à frente (CG mais distante do cen-
tro aerodinâmico (CA)) provoca um comportamento da
aeronave menos ágil e elevado esforço de ação sobre os
comandos assim como:
- Voo estável;
- Início das voltas difícil, se não impossível;
- Em princípio, degradação da finesse.
O fabricante estabelece limites do passeio do CG, geral-
mente medidos a partir de um ponto de referência, um
ponto notável da aeronave (bordo de ataque da asa /
firewall, o DATUM, dentro dos quais se deve localizar o
Centro de Gravidade em voo. A não conformidade com
estes limites compromete severamente segurança de voo
(fig. 3). A configuração mais perigosa corresponde à posi-
ção junto ao limite posterior (centragem atrás). Nessa
configuração uma ligeira variação em voo da massa
embarcada (efeito da transpiração / urinar /...), pode
deslocar o Centro de Gravidade para fora do intervalo
aprovado.
Por isso é muito importante assegurar que o Centro de
Gravidade da aeronave em configuração de voo perma-
nece dentro de limites aceitáveis em todos os momentos.
QUANDO DEVER SER REALIZADA A DETERMINAÇÃO QUANDO DEVER SER REALIZADA A DETERMINAÇÃO QUANDO DEVER SER REALIZADA A DETERMINAÇÃO QUANDO DEVER SER REALIZADA A DETERMINAÇÃO
DO CENTRO DE GRAVIDADE?DO CENTRO DE GRAVIDADE?DO CENTRO DE GRAVIDADE?DO CENTRO DE GRAVIDADE?
A posição do Centro de Gravidade tem de ser determina-
da novamente sempre que:
- O planador sofra alterações que podem afetar a
posição do CG (reparações / reparação de pintura /
instalação de novos instrumentos)
- Atinge o termo da validade da pesagem anterior
(normalmente a cada quatro anos).
COMO DETERMINAR A POSIÇÃO DO CENTRO DE COMO DETERMINAR A POSIÇÃO DO CENTRO DE COMO DETERMINAR A POSIÇÃO DO CENTRO DE COMO DETERMINAR A POSIÇÃO DO CENTRO DE
GRAVIDADE?GRAVIDADE?GRAVIDADE?GRAVIDADE?
Na primeira fase devem ser pesados os seguintes ele-
mentos:
- Asa esquerda
- Asa direita
- Fuselagem equipada
- Estabilizador horizontal
O planador deve ser colocado numa configuração de
referência:
- Trem de aterragem fora
- Canopy fechada
- Os equipamentos fixos no lugar (instrumentos/
baterias, etc.)
- Cadeira e/ou encosto e/ou almofadas no lugar
---- Wingtips instalados
- Asas horizontais
- Fuselagem posicionada no ângulo de referência do
estabilizador horizontal (ASW 24 - 100:4.9 DISCUS b -
100:4.4)
Equilibrio estático : S1 = P + S2 (1) S1*d1 = S2*d2 (2)
(1)(2) => S2 = d1/(d2-d1)*P
S1 = d2/(d2-d1)*P
AN1 : Centragem à frente P = 350kg d1 = 400mm d2 = 4000mm S2 = 39kg S1 = 389kg
AN2 : Centragem a meio
P = 350kg d1 = 200mm d2 = 3800mm
S2 = 19kg S1 = 369kg
Dolly - não esquecer de a remover antes do voo!
O planador é então montado sobre duas balanças:
- Uma balança sob o trem de aterragem com capa-
cidade para um peso próximo ao peso em vazio do
planador (num monolugar duas balanças com capa-
cidade de 150kg podem ser uma opção prática)
- Precisão necessária: 500g
- Uma balança na roda de cauda com capacidade
mais baixa, normalmente menos de 70 kg.
- Precisão necessária: 100g
- Controle da altura para o ângulo de referência da
cauda horizontal
A fórmula (Fig. 5) dá como resultado a posição do Centro
de Gravidade XL em relação ao bordo de ataque da asa
(BA - DATUM).
QUEM PODE CALCULAR E REGISTAR O CENTRO DE QUEM PODE CALCULAR E REGISTAR O CENTRO DE QUEM PODE CALCULAR E REGISTAR O CENTRO DE QUEM PODE CALCULAR E REGISTAR O CENTRO DE
GRAVIDADE?GRAVIDADE?GRAVIDADE?GRAVIDADE?
O procedimento está ao alcance de qualquer pessoa. No
entanto, o registo dos resultados na ficha de pesagem e
o lançamento de dados no manual de voo deve ser reali-
zado por um inspetor autorizado.
QUE REGULAÇÃO DEVE SER ADOPTADA EM CADA QUE REGULAÇÃO DEVE SER ADOPTADA EM CADA QUE REGULAÇÃO DEVE SER ADOPTADA EM CADA QUE REGULAÇÃO DEVE SER ADOPTADA EM CADA
PLANADOR?PLANADOR?PLANADOR?PLANADOR?
É vital respeitar o intervalo do passeio do CG especificado
pelo fabricante, sendo conveniente conservar uma certa
margem para garantir que as mudanças nas massas
embarcadas (piloto/lastro/...) não resultem numa posição
do CG fora do intervalo aprovado para a aeronave
(especialmente atrás).
O ideal é pesar a aeronave em configuração de voo com
o piloto na cabine de cintos ajustados/lastro completo/
etc, e determinar a posição do CG, mesmo quando esta
pode ser obtida por cálculo.
Para reflexão, é interessante colocar dois exemplos típi-
cos para se ter a noção do impacto das alterações da
distribuição dos pesos no planador: a montagem de um
novo painel de instrumentos ① e o esquecimento da
dolly na fuselagem do planador ②, tomando como base
de cálculo o caso do planador ASW 24.
No exemplo ①, a adição de 3 kg no painel de instrumen-
tos será de pouca consequência: o Centro de Gravidade
mantem-se dentro do intervalo permitido e o desloca-
mento do CG não é significativa (apenas 8 mm). No
entanto, o esquecimento da dolly, exemplo ② é muito
mais crítico pois adicionar 6 kg na cauda tem como resul-
tado a deslocação do CG para fora 30 milímetros do
intervalo aprovado que é entre 240 milímetros e 370 milí-
metros relativamente ao DATUM.
O voo na configuração do exemplo ② é muito perigoso!
Todo o piloto deve ter consciência que esta é uma receita
comprovada para o acidente…
¿
O cabo de reboque é o elemento que faz a liga-
ção entre o avião rebocador e o planador.
Com uma das extremidades presa no avião e
outra no planador, é efetuado o reboque até à
altitude previamente estipulada. Este elemento fundamen-
tal na atividade do voo à vela é composto por vários ele-
mentos. Genericamente podemos considerar os seguintes
elementos fundamentais:
1. Argola de ligação ao avião rebocador
2. Cabo
3. Elemento fusível
4. Argola de ligação ao planador
Durante a fase do voo denominada por “reboque”, ocor-
rem várias perturbações, quer no planador, quer no avião
rebocador, provocados pelos elementos envolventes.
Estas perturbações originam esforços e forças adicionais
sobre o elemento “cabo de reboque”.
Para garantir que esta fase do voo é concluída com suces-
so, é necessária uma boa inspeção ao cabo de reboque
para garantir que todos os seus elementos estão em per-
feitas condições de operação, reduzindo assim a probabi-
lidade de ocorrerem separações intempestivas.
Verifique as argolas de reboque quanto ao seu desgaste,
certificando-se que estas não têm riscos profundos. Para
o conjunto de engate de reboque, existem dois tipos de
argolas de reboque, um Tost (tipo europeu) ou Schweizer
(tipo americano). Não use argolas ou outro tipo de hard-ware não certificado, pois a solda pode ser fraca e falhar
durante o reboque.
É também fundamental que se proceda a uma inspeção
pormenorizada do cabo (corda) pelo menos uma vez por
dia, antes do início da atividade, de forma a detetar possí-
veis rompimentos, abrasões ou pontos fracos que pode-
rão diminuir a resistência à tração do cabo. Deve verificar-
se igualmente a segurança das junções em ambas as
extremidades.
1 1 1 1 Certifique-se que a resistência cabo de reboque é apro-
priada para o planador a ser rebocado. A resistência do
cabo de reboque deverá estar compreendida no seguinte
intervalo:
Mínimo: 80% do peso máximo certificado do planador a
rebocar
Máximo: Dobro do peso máximo certificado do planador
a rebocar
Linha da vida Entre o planador e o avião de reboque há um equipamento cuja inspeção diária é fundamental para a segurança de todo o processo de lançamento. Qual é?
Texto e imagens de Sérgio Mota Ferreira
44 PRÁTICA VV
2222 Elemento fusível – Esta peça metálica romper-se-á quando
atingida a sua força de rutura, evitando danos nos restantes
elementos do cabo, planador e avião de reboque.
Os elementos fusíveis deverão também ser escolhidos de
acordo com peso máximo do planador a que se destinam.
Alguns fabricantes distinguem estes elementos por cores,
segundo a sua força de rotura.
Segurança em primeiro lugar! Bons voos
Códigos de cor dos fusíveis TOST®
Preto 1000 +/-100 daN
Castanho 850 +/- 85 daN
Vermelho 750 +/- 75 daN
Azul 600 +/- 60 daN
Branco 500 +/- 50 daN
Amarelo 400 +/- 40 daN
Verde 300 +/- 30 daN
À esquerda, de cima para baixo: ---- Conjunto terminal de cabo, composto por portaConjunto terminal de cabo, composto por portaConjunto terminal de cabo, composto por portaConjunto terminal de cabo, composto por porta----fusíveis, argola oval e argola de engate.fusíveis, argola oval e argola de engate.fusíveis, argola oval e argola de engate.fusíveis, argola oval e argola de engate.
---- Cabo com marcas de grande desgaste.Cabo com marcas de grande desgaste.Cabo com marcas de grande desgaste.Cabo com marcas de grande desgaste. Em cima: ---- Á esquerda fusíveis com furação circular e, à Á esquerda fusíveis com furação circular e, à Á esquerda fusíveis com furação circular e, à Á esquerda fusíveis com furação circular e, à direita, fusíveis de reserva com furação alongada.direita, fusíveis de reserva com furação alongada.direita, fusíveis de reserva com furação alongada.direita, fusíveis de reserva com furação alongada.
N o aeródromo do Mogadouro, e apoiados
pelas instalações da escola de voo à vela na
aldeia do Azinhoso, a 23/06/2012, Artur Gon-
çalves, João Corredeira, José Carlos Fernandes
e Pedro Mesquita, iniciaram a sua formação de instrutor
de planadores.
A lecionar o curso, o CIVVM contou com a distinta direção
e colaboração dos Cmdts. Joaquim Sá Correia e João Mar-
ques, instrutores experientes do Centro de Voo Livre (CVL).
O curso iniciou com uma parte teórica com a duração de
30 horas. Foram diversos os temas. Enquadramentos
legais; Funções, qualidades, direitos e obrigações enquan-
to instrutor; Teorias de aprendizagem; Características e
reações dos alunos; Processos de decisão assim como
perigos de atitudes individuais; Briefings típicos e um espe-
cial enfase à parte de Fatores Humanos.
Também fez parte do curso um conjunto de várias mis-
sões práticas de objetivos diferentes. Simulação de emer-
gências, recuperação de um planador voluntariamente
posto em atitudes anormais, aperfeiçoamento de algumas
técnicas de pilotagem, etc. Acima de tudo deu-se a provar
aos novos instrutores, o quanto imprevisíveis e perigosos
podem ser certos alunos.
Foram bem vistosas algumas dessas manobras e fizeram
também a delícia de quem as assistia em terra.
Cada um dos candidatos teve ainda de preparar um tema
e leciona-lo à restante comunidade de pilotos local.
Tudo terminou nos dias 15 e 16 de Setembro com as pro-
vas de exame. Todos os alunos passaram com distinção.
Aos novos instrutores, boa sorte e votos de muito sucesso,
em prol do voo à vela.
Ao CIVVM, parabéns por ter dado este passo. É agora um
projeto mais completo, rico e maduro.
46 ESCOLA CIVVM
Curso de instrutores de planadores do CIVVM Curso de instrutores de planadores do CIVVM Curso de instrutores de planadores do CIVVM Curso de instrutores de planadores do CIVVM
Não é fácil medir a maturidade de um projeto. Certamente que a mesma se mede por vários parâmetros. Um desses parâmetros é sem dúvida a sua capacidade de crescer, de se ir tornando independente e de se renovar. O CIVVM deu o que pode ser considerado um passo de gigante nessa direção. Realizou o seu primeiro curso inter-no para instrutores de planadores.
O início de um novo ano num centro de voo à vela como o que existe em Moga-
douro é sempre um período em que se realiza o balanço do ano que termina,
se faz o levantamento de necessidades e se definem as novas metas.
No final do ano de 2012 demos mais um passo importante para a operacionali-
dade da escola do nosso centro de Voo á Vela. Podemo-nos orgulhar de termos formado
quatro novos instrutores de pilotos de planador, os primeiros a serem formados em Moga-
douro, que têm agora uma responsabilidade acrescida em todo o processo de fortaleci-
mento da atividade da escola de pilotagem do centro de Voo à Vela. Assim sendo, estão
criadas condições de maior flexibilidade para podermos formar futuros pilotos de planador,
os quais são a matéria-prima para a “máquina” poder funcionar em toda a sua plenitude. E
esse é um trabalho contínuo e sempre em evolução.
Neste ano de 2013 iniciar-se-á mais um curso ab-initio de pilotos de planador, e já temos
interessados em dar o “salto” de mero mortal para praticante de voo à vela.
Paralelemente a este curso, abrimos portas também aos interessados (e são bastantes) que
já são pilotos de outro tipo de aeronaves, alguns deles profissionais da aviação, que dese-
jam ter a qualificação de piloto de planador. Todo este interesse surgiu em grande parte,
devido à divulgação por nós realizada no meio aeronáutico em Portugal e no estrangeiro,
promoção essa realizada através da internet, publicações da especialidade e claro tam-
bém pelo evento anual Red Burros, que atrai as atenções da comunidade aeronáutica e
população em geral.
Um dos desígnios da escola do CIVVMM para este ano de 2013 é a realização de um curso
de qualificação para piloto rebocador de planadores, o que vai valorizar a globalidade da
atividade e garantir a existência de pilotos devidamente preparados no capítulo teórico e
prático para realizar esse serviço fundamental do qual depende toda a atividade. Há no
CIVVMM um acervo invejável de saber e experiência neste campo que merece ser partilha-
do e perpetuado.
Com toda esta evolução e acréscimo de alunos, surge a necessidade promover uma maior
uniformização de procedimentos em todo o contexto académico e operacional de uma
escola. Todos os manuais de formação, publicações operacionais, aulas teóricas, testes
escritos e voos de instrução têm de estar aprovados pelo órgão regulador da aviação em
Portugal, INAC (Instituto Nacional de Aviação Civil) de quem temos sempre a preciosa
ajuda no campo documental e logístico.
Uma escola, para além de formar alunos, tem também a responsabilidade acrescida de
proporcionar os meios para que seja mantida toda a proficiência dos seus ex-alunos
depois de eles terem ganho o privilégio de serem pilotos comandantes de um planador.
A formação e aprendizagem não terminam quando o piloto recebe a autorização legal
(do INAC) para exercer a função de piloto comandante de um planador, devendo por esse
motivo manter toda a proficiência e conhecimentos atualizados, pois caso contrário, a
performance do piloto não evoluirá. Esta continuará a ser uma das áreas de intervenção
da escola nomeadamente através da divulgação de informação atualizada e pertinente e
da realização de verificações de proficiência. É a eleição da segurança como alicerce da
cultura aeronáutica dos pilotos que permitirá manter o estado de alerta necessário a uma
atividade de voo focada no bem-estar dos praticantes e da população residente.
2013 - Cursos e projetos
ESCOLA CIVVM 47
Por Pedro João Ferreira Diretor de Escola
Ilustração de Pedro Castanheira
E stas breves notas sobre as história dos planadores
de escola operados em Portugal continuam nesta
parte II com uma abordagem das opções que as
escolas realizaram para se equiparem nos anos 70
e 80. Avançamos então para uma época marcada por dois
modelos totalmente diferentes mas ambos com uma forte
“personalidade” que permanece como referência para
muitos pilotos que neles fizeram a sua instrução – o Blanik
L-13 e o Twin Astir II Acro.
O magazine PLANADOURO publicou já na edição 01 e na
edição 03 dossiers circunstanciados sobre estes planado-
res que estão disponíveis para os interessados em apro-
fundar o conhecimento sobre os mesmos.
Anos 70 Anos 70 Anos 70 Anos 70 –––– A era de ouro dos Blanik A era de ouro dos Blanik A era de ouro dos Blanik A era de ouro dos Blanik Ao longo da década de 60 do séc. XX a atividade do voo
á vela e, em especial a ação das escolas dos aeroclubes
com secções de voo sem motor, desenvolveu-se balizada
pela nova estratégia do Estado para o setor da aviação, e
que apostava numa política de abandono dos projetos de
dinamização centralizados e, em alternativa, de apoio às
associações e clubes que, descentralizadamente, já
haviam dado provas de competência nesta área.
A Direção Geral de Aeronáutica Civil passou a ter então o
papel de administradora do pequeno orçamento destina-
do ao fomento da atividade aeronáutica em Portugal. É
assim que, com a ajuda da DGAC, os aeroclubes se pre-
48 HISTÓRIA VV
Por Pedro Castanheira
J. Corredeira
Planadores de escola em Portugal
pararam para adquirir os planadores Blanik L-13 fabrica-
dos na Checoslováquia, junto à cidade de Kunovice, para
substituir e(ou) complementar a frota de Rhönlerches exis-
tente e que constituía, até ao início dos anos 70, a coluna
dorsal da atividade de formação de pilotos.
Esta nova “máquina” de instrução, mantendo as caracte-
rísticas de robustez e de estabilidade de voo tão aprecia-
das dos Rhönlerches, proporcionava uma performance
muito mais alta e dispunha de comandos de trem de ater-
ragem e de flaps que permitiam dar uma instrução mais
completa, integrando procedimentos duma mais variada
gama de situações de manobra. Ao observador a compa-
ração entre as duas aeronaves colocava em relevo a rusti-
cidade do Ka 4 de Schleicher e a modernidade e a serie-
dade do produto de alumínio da LET. A exploração de
térmicas mais fracas e, consequentemente, uma maior
duração dos voos tornou-se uma realidade.
Os aeroclubes de Coimbra, de Torres Vedras, do Porto e o
Ae. C. de Portugal operaram Blaniks L-13 a partir de 1971, e
alguns deles, como o de Torres Vedras e o de Portugal,
reintegraram, em etapas posteriores, novos exemplares
na frota após acidentes com os iniciais.
Também em Angola, onde um pequeno grupo de entu-
siastas do voo à vela trabalhava para o florescimento da
atividade num território com condições de sonho, os aero-
clubes adquiriram neste início de década Blaniks para as
suas escolas.
Com algumas interrupções os Blanik foram uma ferramen-
ta de formação nas escolas portuguesas até que os dois
últimos exemplares que ainda voavam em Portugal foram
impedidos de o fazer em Setembro de 2010 na sequência
da decisão da Agência Europeia para a Segurança Aérea
por falta de garantias de integridade estrutural.
Twin Astir II Twin Astir II Twin Astir II Twin Astir II ---- o “plástico” chega à escolao “plástico” chega à escolao “plástico” chega à escolao “plástico” chega à escola A evolução tecnológica no campo da construção de pla-
nadores apontou para a consolidação da técnica dos
compósitos como a via a seguir na permanente procura
de solidez, performance e qualidades de voo. A melhoria
da qualidade das estruturas dos planadores em compósi-
tos foi, desde 1965, ano em que de deram os primeiros
passos práticos nesta tecnologia, simplesmente espanto-
sa, e a ela se renderam de imediato as principais marcas.
Naturalmente os fabricantes de planadores integraram
nos seus catálogos máquinas bilugares de duplo coman-
do, aptas para a fundamental missão de formação de
pilotos. A Grob Flugzeugbau foi uma das pioneiras nesta
via, tendo, em 1976 lançado o Twin Astir I e, no ano
seguinte, o Twin Astir II, com alterações relativamente ao
modelo anterior que o elevaram ao estatuto de planador
de instrução praticamente ideal.
Uma das opções inéditas da Grob foi a de criar um laço
de continuidade entre os seus planadores bilugares de
duplo comando e os monolugares que produzia, facilitan-
do assim a transição. Tal característica foi muito apelativa
para os aeroclubes com escola que assim ofereciam aos
alunos em voo solo e aos pilotos recém-formados um
planador de aspeto e de comportamento similar.
Foi o Aero Clube de Portugal que, em 1989, ao adquirir o
Twin Astir II Acro, o CS-PBH inaugurou a era do “plástico” na
instrução de pilotos. Mais tarde, juntou à sua frota um novo
Twin do mesmo modelo, o CS-PBP para dispor simultanea-
mente de material para a instrução básica na base de
Sintra e de um planador de aperfeiçoamento para expedi-
ções a Évora e à Covilhã.
Atestando as qualidades da criação da Grob Flugzeuge-
bau, estes dois Twins continuam a desempenhar o seu
papel na atualidade.
Colisões de aeronaves
com aves
50 NÁO TENHO NADA MAIS SENÃO AS ASAS...
Por Paulo Cabral
É sensacional poder compartilhar os céus com as aves quando voamos em pla-nador. Voar lado a lado na companhia destes seres alados dá-nos a sensação efémera de fazermos parte do seu Reino. Contudo, temos de estar conscientes que existem alguns perigos potenciais, que podemos minimizar pela adoção de alguns cuidados na nossa conduta enquanto pilotos. Imagem de Pedro Castanheira
F ez este ano um século que foi reportada a primeira
colisão fatal entre um avião e uma ave. Foi precisa-
mente em 3 de Abril de 1912 que o piloto Norte-
americano Calbraith Perry Rodgers, um dos pionei-
ros da aviação, discípulo dos irmãos Wright, que se celebri-
zou por ter feito o primeiro voo transcontinental desde a
costa Atlântica Estado‑unidense à costa do Pacífico, e que
infelizmente viria também a ficar na história da aviação
como o primeiro piloto a morrer em consequência de uma
colisão com aves ou bird strike 1.
Apesar dos bird strikes serem tão antigos como a aviação,
os riscos que comportam não têm diminuído, tornando-se
um sério problema para a aviação civil e militar com inúme-
ras perdas materiais e humanas, como a do voo do Loc-
kheed L-188 Electra da Eastern Air Lines no ano de 1960,
com origem em Boston, no qual viriam a perecer 62 pes-
soas. Melhor desenlace viria felizmente a ter em 2009
aquele que se tornou um dos bird strikes mais famosos da
história da aviação, o do voo 1549 do Airbus A320-214 da
US Airways, com origem no aeroporto de La Guardia em
New York, o qual após colisão com aves sofreu a paragem
de ambos os motores, tendo o piloto tomado a decisão de
planar até ao Rio Hudson e aí aterrar, salvando-se todos os
150 passageiros e os 5 tripulantes. O piloto que conseguiu
este feito – o Comandante Chesley Sullenberger, viria a ser
condecorado como herói, tendo sido considerada decisiva
a sua experiência enquanto piloto de planadores na preci-
são da manobra de aterragem sem motor que conseguiu
efetuar com sucesso (Figura 1).
Mas não são somente as grandes aeronaves que estão
sujeitas a estes impactos. Também os aviões mais peque-
nos e os planadores podem sofrer bird strikes. Ainda muito
recentemente, em Outubro de 2011 em Espanha nos Piri-
néus Aragoneses, dois pilotos finlandeses, voando um Duo
Discus, se despenharam contra a montanha vindo ambos a
falecer. Da investigação do acidente vir-se-ia a apurar que
foi a colisão com um grifo (Figura 2) que lhes provocou
danos no leme e a consequente perda de controle do
planador (Figura 3).
As colisões de aviões com aves tornaram-se um problema
tão sério que a Convenção sobre a Aviação Civil Interna-
cional, assinada em Chicago em 1944, definindo numero-
sas obrigações internacionais destinadas a garantir a
segurança aérea, adoptou um conjunto de normas e reco-
mendações, que constam dos Anexos publicados pela
ICAO, entre as quais se destacam as provisões constantes
do Anexo 14 – Aeródromos, Vol. 1 (Emenda 10)7, que con-
tém as normas e práticas recomendadas relativas ao risco
de Bird strike e ao potencial aumento deste evento devido
à presença ou desenvolvimento de condições de atração
de aves nos aeroportos ou sua vizinhança. A ICAO viria
mesmo a criar um Sistema de Informação para recolher e
divulgar informação sobre colisões de aeronaves com
animais em cerca de 200 países – o IBIS – ICAO Bird Strike
Information System.
Partilhar as térmicasPartilhar as térmicasPartilhar as térmicasPartilhar as térmicas Temos o privilégio de voar no Nordeste Transmontano,
uma das zonas do país com maior densidade de avifau-
na. Aqui existem condições excelentes de formação de
térmicas, como bem sabemos, que são aproveitadas não
somente pelos pilotos de planadores mas também por
todas as aves planadoras, algumas delas de grande
dimensão, como águias, abutres e cegonhas, facto que
pode agravar os danos de uma eventual colisão. Os bird
strikes com aves voando em bandos, com elevado núme-
ro de indivíduos, são particularmente perigosos devido à
possibilidade de múltiplas colisões em simultâneo.
Dados da equaçãoDados da equaçãoDados da equaçãoDados da equação Os danos produzidos por uma colisão estão relacionados
com a parte do avião atingida e pela força de impacto
criada no momento da colisão. Esta força de impacto está
dependente da velocidade a que se dá a colisão, massa
da ave envolvida, bem como pelo ângulo do impacto. A
Fig. 1 - What’s that? It’s a boat? It’s a plane? Airbus A320 - 214 flutuando nas águas do Rio Hudson (Fonte: http://voarnews.blogspot.pt/2009/10/tolerancia-zero-de-nova-iorque-com.html)
Fig.2 - Grifo envolvido na colisão com o Duo Discus com marcas visíveis do impacto (Fonte: Colisiones de Aviones Ligeros Contra Pájaros; Autor desconhecido)
Fig. 3 - Destroços do Duo Discus após colisão com o solo. (Fonte: http://www.diariodelaltoaragon.es/NoticiasGaleria.aspx?Id=709188&Pg=0)
52 NÃO TENHO NADA MAIS SENÃO AS ...
período que existe um maior número de voos comerciais,
contudo, depois de normalizados os dados, verificou-se
que é no Outono e Primavera que parece existir uma
maior probabilidade de colisões com aves, pelo que
devemos ter um cuidado acrescido nestas épocas.
Relativamente à fase do voo, as colisões com aves regis-
tadas no IBIS distribuem-se da seguinte forma (Figura 7):
aterragem (39%), descolagem (23%), rolagem (17%), subi-
da (16%), em rota (4%) e descida (3%).
No caso concreto dos planadores, sendo as térmicas
locais potenciais de concentração deste tipo de aviões e
de aves planadoras, dever-se-á ter também atenção
redobrada durante a termalização. Normalmente a maioria dos impactos verificam-se abaixo
dos 600 metros e muito poucos acima dos 1800 metros. A
colisão registada a maior altitude aconteceu contudo a
11,300 m (37,100 ft), entre um Boeing 747 e um Abutre de
Rüppell's, na Costa do Marfim em África.
Como a maioria das colisões se verifica a baixa altitude é
especialmente importante estar atento a esta possibilida-
de durante as fases mais críticas de voo a baixa altitude.
Cerca de 90% das aves têm hábitos diurnos e é também
durante o dia que existem mais voos de aviões, não sen-
do por isso de estranhar que a maioria das colisões se
regista neste período. Ainda assim, algumas colisões
verificam-se durante a noite, quer com espécies noturnas
quer com aves em migração, uma vez que, dependendo
da espécie e tipo de navegação usada, muitas aves via-
jam durante a noite.
Espécies de aves envolvidasEspécies de aves envolvidasEspécies de aves envolvidasEspécies de aves envolvidas Segundo o IBIS as espécies de aves mais envolvidos em
colisões são as passeriformes (31%), gaivotas (18%), aves
de rapina (15%), pombos (10%) e aves aquáticas (6%).
Vimos já que a perigosidade dos impactos está muito
correlacionada com a dimensão das aves. Devemos
assim tomar muitas precauções quando voamos na pro-
ximidade de aves de grande porte, tais como os grifos,
não só por esta espécie ser uma das maiores aves exis-
energia da colisão (E) é proporcional à massa (m) da ave e
ao quadrado da velocidade (v) a que se verifica o impacto:
E=1/2 mv2.
Além do tamanho da ave e da velocidade a que voamos
no planador, outro factor decisivo aquando de uma even-
tual colisão é o local de impacto, sendo obviamente as
zonas mais expostas aquelas que têm uma maior proba-
bilidade de ser atingidas, tais como a canopy, os bordos
de ataque das asas (Figura 4) e os estabilizadores horizon-
tal e vertical. Particularmente perigosos são os impactos
que danifiquem as superfícies de controle da aeronave.
De acordo com o IBIS as partes dos aviões mais afetadas
são o pára-brisas, motores, nariz e fuselagem (Figura 5).
Quando e onde?Quando e onde?Quando e onde?Quando e onde? Apesar de se registarem colisões ao longo de todo o ano,
a época de maior número de bird strikes em Portugal
parece verificar-se nos meses de Maio a Agosto, segundo
os dados do GPIAA, para uma média dos anos de 2006 a
2011 (Figura 6).
No IBIS, entre os anos de 2001 a 2007, foram registadas
42508 colisões, sendo também nos meses de Julho a
Outubro que se verificaram um maior números de bird
strikes. Em parte esta situação explica-se por ser neste
Fig. 4 - Danos provocados numa asa devido à colisão com ave. (Fonte: Bird population trends and their impact on Aviation safety 1999-2008)
Fig.5 - Partes das aeronaves atingidas ou danificadas por colisões. (Fonte: IBIS - 2001- 2007 BIRD STRIKE ANALYSES)
Fig. 6 - Distribuição mensal de colisões registadas em Portugal, média de 4 anos. (Fonte: GPIAA)
Fig. 7 - Bird strikes reportados de acordo com a fase de voo (Fonte: IBIS - 2001- 2007 BIRD STRIKE ANALYSES)
tentes no nosso país mas também porque apresenta
uma capacidade de manobra muito reduzida devida
nomeadamente à pequena dimensão da sua cauda,
situação que é agravada pela sua idiossincrasia de não
demonstrar medo de aproximação dos planadores quan-
do em térmica, facto que todos nós já bem constatámos.
Devemos ainda recordar de edições anteriores desta
secção do magazine Planadouro, o facto do Douro Inter-
nacional e a província espanhola adjacente de Castela e
Leão, serem as zonas onde se regista o maior contingen-
te de grifos de toda a Península Ibérica.
Se bem que os grifos nas suas prospeções diárias pos-
sam cobrir áreas muito extensas com várias centenas de
quilómetros quadrados, as suas zonas de repouso e nidi-
ficação localizam-se nos alcantilados rochosos do rio
Douro, pelo que se deve evitar voar nas proximidade
destas zonas de maior concentração, sendo particular-
mente perigosa a zona do Douro localizada na Freguesia
de Bruçó, a Sul de Mogadouro, por se verificarem aqui as
maiores colónias destas aves no Douro Internacional.
Boas práticasBoas práticasBoas práticasBoas práticas Durante o voo as aves estão focadas principalmente na
prospeção do território, pelo que não devemos assumir
que se apercebem sempre da aproximação e presença
de um planador (até porque são aviões silenciosos). Um
bom princípio será os pilotos tomarem as medidas
necessárias para evitar uma colisão.
O comportamento de uma ave quando avista um avião é
altamente imprevisível, podendo variar consoante a espé-
cie, maturidade do indivíduo, ciclo biológico, etc. Existem
aves que tomam imediatamente medidas evasivas assim
que se apercebem de uma aeronave ou, no outro extre-
mo, aves que em certas circunstâncias podem inclusiva-
mente “atacar” o avião, como por exemplo algumas
águias mais territoriais.
Perante tal facto, a atitude mais prudente de um piloto
será a de manter sempre que possível uma distância de
segurança entre o seu avião e a ave. Em termalização é
Bando de grifos voando em térmica nos céus de Bruçó, Parque Natural do Douro Internacional Imagem de Pedro Castanheira
NÃO TENHO NADA MAIS SENÃO AS ASAS...
também imprescindível adotar o mesmo sentido de rota-
ção das aves presentes na mesma corrente ascendente, à
semelhança aliás do que se deve fazer em relação a
outros planadores, diminuindo a probabilidade de colisão.
Em térmica, as aves são muito mais eficientes a subir do
que qualquer planador, consequentemente, se um piloto
observar que uma determinada ave se mantém aproxi-
madamente à mesma altura do planador durante algum
tempo, o mais certo é tratar-se de uma ave territorial que
está avaliando o “invasor” para decidir qual o melhor
momento e forma de atacar, conforme já relatado por
pilotos, pelo que o melhor é abandonar a térmica e afas-
tar-se o mais possível.
Na circunstância de um piloto se aperceber demasiado
tarde que se encontra em rota de colisão eminente com
uma qualquer ave, e considerando que um comporta-
Em síntese... Em síntese... Em síntese... Em síntese... pode ser dito que o melhor será seguir sempre o princípio da precaução, pois partilhamos o céu com aves e aeronaves. Observar cons-tantemente o espaço que nos rodeia e antever qualquer perigo emergente, atuando com antecipação, diminui com certeza a probabilidade de uma colisão com efeitos imprevisíveis. Será esta a atitude mais racional que devemos adotar, para que possamos continuar a desfrutar do prazer do voo silencioso na companhia de aves.
mento frequente das aves perante uma provável colisão é
o de executar um súbito desvio, normalmente acompa-
nhado de mergulho para ganhar velocidade, uma atitude
de último recurso que o piloto poderá tomar será a de
puxar o manche fazendo subir o avião. Não só porque
assim adota uma atitude contrária à da provável trajetória
da ave, mas também porque desta maneira se transforma
a energia cinética em potencial, ganhando altura com
diminuição da velocidade e, consequentemente, reduzin-
do os danos potencias em caso de colisão, a qual será
também mais tangencial. Cumulativamente com esta ati-
tude cabrada, a parte do avião mais “exposta” será a par-
te inferior, protegendo zonas mais sensíveis como a
empenagem e a canopy. Obviamente que o recurso a
esta manobra evasiva apenas deverá ser efetuado quan-
do a altitude de voo o permita fazer com segurança.
Bibliografia consultada e sugestões de leitura para quem Bibliografia consultada e sugestões de leitura para quem Bibliografia consultada e sugestões de leitura para quem Bibliografia consultada e sugestões de leitura para quem quiser saber mais:quiser saber mais:quiser saber mais:quiser saber mais:
European Aviation Safety Agency - Safety Analysis and Research Depart-ment (2009); Bird population trends and their impact on Aviation safety 1999-2008; Ilias Maragakis.
Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves (2010); Bird Strikes / Wildlife Strikes – Estatísticas 2009.
Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves (2011); Breves reflexões sobre bird strikes em Portugal.
International Civil Aviation Organization (2009); IBIS - 2001- 2007 Bird strike analyses; Electronic bulletin.
Transports Canada (2004); SHARING THE SKIES - An Aviation Industry Guide to the Management of Wildlife Hazards.
Video de um bird strike: http://www.youtube.com/watch?v=hTyv8f-_8Mw&feature=player_embedded#!
Nota 1 Nota 1 Nota 1 Nota 1 ---- Estas colisões passaram a designarEstas colisões passaram a designarEstas colisões passaram a designarEstas colisões passaram a designar----se como bird strike, se como bird strike, se como bird strike, se como bird strike, segundo a nomenclatura adotada pela ICAO ou, mais recentemente, segundo a nomenclatura adotada pela ICAO ou, mais recentemente, segundo a nomenclatura adotada pela ICAO ou, mais recentemente, segundo a nomenclatura adotada pela ICAO ou, mais recentemente, como wildlife strike, uma vez que esta última abrange também como wildlife strike, uma vez que esta última abrange também como wildlife strike, uma vez que esta última abrange também como wildlife strike, uma vez que esta última abrange também colisões com outro tipo de animais. colisões com outro tipo de animais. colisões com outro tipo de animais. colisões com outro tipo de animais.
Cruzamento de planador com ave no céu de Mogadouro Imagem de Nicolas Jourdain
54 NÃO TENHO NADA MAIS SENÃO AS ASAS...
Sá Correia pioneiro do voo à vela em Angola
GLISSAR NO TEMPO 55
santuários do Voo à Vela, onde normalmente
a instabilidade da primeira quinzena dos meses de Março
e Setembro, supera os 6 m/s (térmica de cúmulo) numa
área de centenas de quilómetros”.
Os registos fotográficos da sua coleção aqui apresentados
referem-se aos anos 70 do séc. XX,
Na imagem acima, do ano de 1973, Sá Correia está ao
centro, à sua esquerda o aluno José Caroço e à sua direita
o “grande entusiasta e amante do voo sem motor, Vice
Presidente da Direção do Aero Clube de Angola”, Eng.º
Fernandes Pinto, posando à frente de um Blanik.
Entre os pilotos que protagonizaram a fase de descoberta
e exploração das condições de voo à vela existentes em
Angola destaca-se o Com. Joaquim Sá Correia.
Para além do seu envolvimento contagiante como piloto
empenhado em desbravar novos territórios de voo, partici-
pou como instrutor do Aero Clube de Angola na formação
de novos pilotos indispensáveis ao fortalecimento da
pequena, mas dinâmica, comunidade existente.
Sá Correia destaca o imenso potencial para o voo de via-
gem existente em regiões como a de “Sá da Bandeira,
cidade do planalto da Huíla, que classifico como um dos
Em cima, imagens do primeiro planador em fibra no “Império Português”, o Glasflügel H201 Libelle. Aeroporto de Luanda, 1974.
Em baixo, o avião rebocador Auster após um acidente à descolagem. Em segundo plano, destroços de um Blanik. Huíla, 1973.
A ssente num cabeço que pontua o planalto, no
recanto oriental do concelho de Mogadouro,
eis Brunhosinho, povoação morena de raiz
antiga, airosa e simples.
Com a estrada de Miranda do Douro a passar a seus
pés, a terra revela-se desperta e empreendedora, anco-
rada num alto e alongada pelos caminhos. A fusão entre
o casario que serpenteante e a moldura vegetal que o
suporta confere à paisagem um sabor e bucólico que
convida à evasão da realidade.
Da raiz antiga de Brunhosinho permanecem importantes
marcas tais como a graciosa fonte mergulho do largo do
Ribeiro, de desenho românico, e a igreja matriz, esta tam-
bém de traço românico mas mais tardio, erguida no lugar
mais alto da povoação e no centro do largo a que dá o
nome. Ainda neste largo da Igreja, e à sua ilharga, ergue
-se o esbelto cruzeiro que completa o acervo de valores
arquitetónicos e urbanísticos aqui presentes
Para as redondezas mais altas a norte e nascente abun-
dam os terrenos de mato e a floresta de carrasco, valor
inestimável que integra o Parque Natural do Douro Inter-
nacional. Soutos e olivais são as opções de renovação
das culturas de exploração. Aqui e além, dispersos sobre
o solo magro, solitários barrocos de dorso curvado, talha-
dos pelos elementos ao longo de eras e eras, quebram a
suavidade da ondulação da terra.
Nos baixos, mais para sul e poente, estendem-se hortas,
olgas e lameiros, espécie de tecido verde composto por
retalhos cozidos uns aos outros, salpicado pelo branco
dos pombais redondos. Entre os retalhos de terra erguem
-se muros, arbustos e amieiros, cortando o vento, mas
também ribeiros, represas e agueiros que, num plano
lógico de regadio, se ramificam conduzindo as águas até
onde são necessárias.
Casas de dois pisos sucedem-se quase iguais, mas de
detalhe único. Varanda mais aberta ou mais resguarda-
da, de corpo de pedra à vista ou rebocado e pintado,
mas sempre dotadas da imprescindível porta carral.
Brunhosinho, intento e serenidade
56 VER DO CÉU, VIVER EM TERRA
Por Pedro Castanheira
Mas a vida da gente de Brunhosinho, partindo daí, vai
para além da casa de família e do trabalho. Os valores
culturais e o sentido comunitário permanecem pujantes.
Nas artes tradicionais a produção de rendas, bordados e
colchas patenteia bem alto a destreza e sensibilidade
estética das bordadeiras aqui nascidas.
Da criação do porco, atividade recorrente nesta região
como base da dieta e como rendimento, emana o saber
fazer dos enchidos e fumados que, aplicado em salpi-
cões, linguiças e no célebre bulho, deixa os gastrónomos
rendidos aos aromas singulares de tais especialidades.
A matança do animal, é o passo mais marcante deste
processo de produção que continua a ser um evento
social de importância cimeira.
Há nestas atividades e artefactos traços de uma cultura
ancestral que, mais do que uma forma atávica e fechada
de ler o mundo, é um refazer constante das ligações
entre a comunidade e o meio que ela explora e do qual
se sustenta. As festas que aqui se fazem são isso mes-
mo - momentos de reequilíbrio.
Que o digam os mancebos e as moças de Brunhosinho
que, apesar das censuras antigas de prelados e bispos,
acendem as fogueiras de S. Sebastião e dançam à volta
delas, em pleno Inverno, pelos dias 18 e 19 de Janeiro.
Na pág. anterior, de cima para baixo: - Núcleo urbano central organizado em redor da igreja e o
seu largo; - Vista geral da mancha construída agarrada aos caminhos; - Localização de Brunhosinho no território. Imagens de Paulo Cabral
Nesta página, de cima para baixo: - Largo da igreja com cruzeiro e casa com porta carral; - Fonte de mergulho românica ; - Lameiros e pombal redondo. Imagens de Pedro Castanheira.
A té ao dia de hoje tive a oportunidade de voar
em planadores por duas vezes.
Mantenho viva a recordação de ambas as
experiências. Foram, na verdade, voos em dis-
tintos modelos de planadores e, bem assim, em condi-
ções atmosféricas bem diferentes…
Quer numa, quer noutra ocasião, um dos fundamentos
que me fez “descolar” do chão foi o de conciliar um voo
sobre as belas terras transmontanas com a Fotografia.
Quando fotografámos um determinado local a perspetiva
é, regra geral, a mesma com que o observámos diaria-
mente. Ou seja, ao nível dos nossos olhos. A fotografia
aérea, por outro lado, propicia a oportunidade de obser-
var (e fotografar) a paisagem doutro modo. Vista do céu,
essa mesma paisagem parece ter outras dimensões,
outras formas, outras cores, outras texturas…
Bom, devo dizer que na altura em que me estreei neste
tipo de voo não tinha plena consciência da experiência
que viria a ter… Por isso mesmo, penso que até o nosso
Eça de Queirós teria alguma dificuldade em descrever a
fantástica sensação que é! Mas adianto que em nada é
parecida com a sentida em voos efetuados em aeronaves
de grande porte ou mesmo em pequenos aviões ligeiros
como os que já havia feito antes…
Desde logo, a ausência de motor (e, naturalmente, do seu
ruído); o exíguo espaço interno; a forma de descolar e de
Click
Texto e imagens de José Loureiro
58 DESCOBERTA
aterrar… Enfim, tudo isto evidência, desde logo, algumas
diferenças importantes.
Contudo, o que mais me maravilhou foi a natural intera-
ção que este tipo de aeronaves tem com o espaço. A sim-
biose é natural e perfeita! Tudo é mais próximo, imediato
e direto! As sensações tocam-nos! Quer seja num dia
calmo, num descontraído voo, quer seja num dia de tur-
bulência, sentimo-nos verdadeiramente a voar! Qualquer
toque no manche, qualquer “mexida” nos comandos é
imediatamente sentido!
Regressando atrás no tempo… A primeira vez:
Estávamos, então, no ano de 2010 e num calmo dia de
Abril, mais concretamente no dia do lançamento deste
mesmo Magazine (dia 24), eis-me chegado ao Aeródro-
mo Municipal de Mogadouro há pouco tempo quando
alguém, de repente, me aborda e diz:
- Prepara-te! A seguir vais tu para cima!
E assim foi! Sem mais, sem ter tempo sequer para assimi-
lar a ideia, quando dei por mim lá estava eu na compa-
nhia do piloto e amigo João Corredeira a sobrevoar as
imediações da pista e a simpática aldeia de Azinhoso a
bordo do “BLANIK”!
Até então, quando pensava em planadores, um misto de
leveza e fragilidade vinham sempre à ideia. Todavia, o
“natural receio” que tinha antes de experimentar este tipo
de voo desvaneceu-se, de imediato, ainda durante o
reboque do mesmo até ganhar a altitude necessária.
Fizeram-se algumas fotografias e em plena segurança lá
regressámos para uma serena aterragem.
Fiquei a gostar!
Segunda vez…:
Julho de 2012… Dia bem diferente… chegado ao mesmo
local, a meio da manhã, depois de mais de 200Km per-
corridos, não se vislumbravam hipóteses de efetuar um
voo… Como, desta feita, levava em mente repetir a expe-
riência, pairava alguma frustração… Mas a turbulência
era tanta que não aconselhava a voos com “turistas aci-
dentais”! Diz-se que a aviação é uma escola de paciência.
Bom, da parte da tarde as condições alteraram-se para
melhor e, já para o final do dia, lá fui eu, de novo, voar de
planador. Na companhia doutro grande amigo, o Pedro
Ferreira, com que já fizera outros voos, noutro tipo de
aeronaves, lá descolámos no “TWIN”.
Não posso dizer que tenha sido propriamente um voo
calmo… mas, pela sensação de subir tão rápido (a mais
de 5m/s) e de chegar aos cerca de 2000 metros de altitu-
de, valeu! O mesmo género de aeronave - uma experiên-
cia nova e totalmente diferente! A adrenalina subia e para
baixar (…a aeronave), foi necessário recorrer ao sistema
de “travões” aerodinâmicos!
Tal como da primeira vez, a câmara fotográfica também
voou comigo. Fotos? Nem por isso… Dia bom para voar,
mau para fotografar!
Mas há sempre uma próxima…
Imagem do CIVVMM registada a bordo do TWIN José Loureiro com Pedro Ferreira à sua direita
RED BURROS 2011—Passagem do ASW 24 largando lastro
E ditada continuamente desde 1955, a revista SAIL-
PLANE & GLIDING (S&G) constitui uma referência
incontornável no universo das publicações periódi-
cas de voo à vela. Enquanto órgão oficial da BGA
goza do suporte institucional que esta entidade associati-
va e reguladora da atividade no Reino Unido lhe confere.
Assim sendo, todos os pilotos de planador licenciados/
membros da BGA, que no ano de 2012 eram mais de
7300, se sentem de alguma forma ligados à revista, por
esta lhes pertencer e por ser pensada para os servir.
Curiosamente a S&G é herdeira de uma tradição de publi-
cações periódicas de voo em planadores do Reino unido
que remonta a 1930. Nesse ano foi lançada a revista SAIL-
PLANE AND GLIDER, nome que parece redundante mas,
efetivamente, na época não o era, que tinha uma periodi-
cidade variável, mensal, quinzenal e, às vezes, semanal, e
que combinava as características de uma publicação des-
portiva independente com uma secção da responsabilida-
de da BGA. Em 1950 a BGA lança uma revista própria, a
GLIDING, que entra de certa forma em concorrência com a
que até então existia, até que em 1955 se dá a fusão des-
tas duas publicações e nasce, como atrás foi dito, aquela
sobre a qual estamos a focar a atenção, e que tem manti-
do inalterada a sua periodicidade bimensal.
Dada esta raiz associativa a S&G tem, na sua base, uma
componente que funciona como correia de transmissão
da política e da intervenção da BGA na realidade do voo à
vela no Reino Unido. O interessante é que tal intervenção é
muito mais do que ação organizadora e disciplinadora. É
entendida como um contributo para a difusão da informa-
ção e da sua discussão e ainda como apoio concreto aos
clubes e aos pilotos associados. Através da leitura desta
revista fica claro que a atitude da BGA é de liderança mas
também de suporte e de serviço aos seus associados, de
atenção aos problemas existentes e de colaboração na
procura de soluções.
A BGA dispõe de um núcleo profissional que trabalha na
produção da revista, complementado por dirigentes afeta-
dos a áreas específicas que, enquanto responsáveis e
mentores num determinado setor, registam a sua voz em
artigos da S&G. Mas esta é apenas uma componente. Na
realidade os conteúdos mais significativos da revista são
produzidos pelos membros de forma voluntária como
contributos para a cultura do voo à vela de toda a comuni-
dade de leitores.
Sente-se que esta revista está muito mais centrada nas
experiências das pessoas enquanto praticantes do voo à
vela do que nas questões da alta competição e da alta
tecnologia. Sem descurar estes temas mais especializa-
dos, doseia-os com moderação pois a estratégia é a de
incluir e espelhar a diversidade de formas de viver a ativi-
dade. Há temas dedicados aos juniores e aos seniores, às
mulheres, aos colecionadores, aos curiosos e também,
claro, aos “viciados na competição”.
E, last but not least, dirige-se ao leitor num tom de conver-
sa que estimula a interatividade.
Para os que gostam de consultar as edições antigas des-
de 1955 até 1996 estão disponíveis online em
www.lakesgc.co.uk/mainwebpages/oldsandgmagazines.htm .
Acreditem, uma verdadeira preciosidade!
SUGESTÃO DE LEITURA
Revista de VV Por Pedro Castanheira
Para os apaixonados por revistas e pelo voo à vela mais uma sugestão imperdí-vel, a revista da British Gliding Associa-tion (BGA) SAILPLANE & GLIDING. Trata-se da continuação da exploração da oferta internacional existente nesta área, ini-ciada no nº03 do magazine PLANADOU-RO, com o confronto de duas publica-ções - a revista americana SOARING e a revista francesa VOL À VOILE.
Pontos Pontos Pontos Pontos ++++ • Seleção e qualidade dos conteúdosSeleção e qualidade dos conteúdosSeleção e qualidade dos conteúdosSeleção e qualidade dos conteúdos • Atenção às diversas sensibilidades existentesAtenção às diversas sensibilidades existentesAtenção às diversas sensibilidades existentesAtenção às diversas sensibilidades existentes • Regularidade e estabilidade editorialRegularidade e estabilidade editorialRegularidade e estabilidade editorialRegularidade e estabilidade editorial • Design gráfico moderno e elegante, mantido com Design gráfico moderno e elegante, mantido com Design gráfico moderno e elegante, mantido com Design gráfico moderno e elegante, mantido com
qualidade constantequalidade constantequalidade constantequalidade constante • Linguagem que privilegia o tom interativo Linguagem que privilegia o tom interativo Linguagem que privilegia o tom interativo Linguagem que privilegia o tom interativo
PontosPontosPontosPontos ---- • Focagem direcionada para o caso do Reino UnidoFocagem direcionada para o caso do Reino UnidoFocagem direcionada para o caso do Reino UnidoFocagem direcionada para o caso do Reino Unido
R umei em direção a um farrapo de nuvem pai-
rando um pouco mais a sul da pista e desta vez
fui recompensado com uma ascendente tão
violenta que provocou um súbito pranchamento
do planador que ultrapassou a vertical. Embora os picos
de leitura do variómetro parecessem promissores a ver-
dade é que a média de subida era medíocre, pelo que
subi apenas umas dezenas de metros.
No entanto, depois de repetir esta sequência várias vezes,
fiquei convencido de que estas térmicas estavam associa-
das a onda. Depois de algumas deambulações pelo vale
do rio Till, acabei por alcançar a base de um cúmulo a
850m e aí, ao progredir em direção a sotavento, a subida
constante começou. Finalmente, depois de tanto
“trabalhar”, eu estava em onda!
O contraste era espantoso: tendo lutado durante uma
boa hora para ganhar apenas 300m, estava de repente
imerso no silêncio da suave ascendente da uma onda. O
meu prévio esforço para me manter em voo, enrolando
bolhas e térmicas turbulentas deu lugar a uma aparente
experiência de facilidade e de ter entrado no “elevador da
onda”. O planador parecia voar por si mesmo e era sufi-
ciente a pressão das pontas dos dedos para o comandar,
o que permitiu concentrar-me na observação da situação
INSPIRAÇÃO 61
exterior e na monitorização do traçado do GPS para me
manter na área de melhor ascendente da onda. A subida
consolidada situou-se próximo dos 1.5 m/s.
À passagem dos 3000m liguei o fornecimento de oxigé-
nio, acertei o altímetro para os 1013mB e solicitei às ope-
rações de voo de Wooler diligências junto do ATC para a
autorização de abertura da caixa de onda que permite a
subida até ao FL240. Já estava em fase de mudança de
atitude para picar, interrompendo a subida, quando che-
gou a autorização.
Quando a leitura do altímetro era de 7200m, no apex do
voo, a subida continuava, mas era difícil manter a posição
– a força do vento tinha aumentado significativamente,
situando-se agora acima dos 100km/h – e, sem experiên-
cia de voo fora da área, pareceu-me prudente terminar a
subida. Estava feliz por ter alcançado os 7200m, mas
agora o que eu queria era descer em segurança…
Andy Bardgett tem mais de 2000 horas de voo em plana-dor, e é detentor das insígnias de C de Ouro e 2 Diaman-tes. É instrutor de planadores e alcançou os melhores registos de ganho de altura no Reino Unido em 2010, 2011 e 2012. Tradução de P.Castanheira; imagem de J.Corredeira
Tomar o elevador Por Andy Bardgett