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ano um | nº 7 | junho/agosto2008 | R$ 10 ,00 | AÇÃO | CIDADANIA | AMBIENTE plurale IMIGRAÇÃO O BRASIL JAPONÊS GA ECOLOGIA NAS CAVERNAS, CIÊNCIA E BELEZA NO SERTÃO MORTE E VIDA SEVERINA GA em revista

Plurale em revista edição 7

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Plurale em revista edição 7

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ano um | nº 7 | junho/agosto2008 | R$ 10 ,00 | AÇÃO | CIDADANIA | AMBIENTE

plurale

IMIGRAÇÃO

O BRASILJAPONÊSGA

ECOLOGIA

NAS CAVERNAS,CIÊNCIA E BELEZA

NO SERTÃO

MORTE E VIDASEVERINAGA

em rev i s ta

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18..�

Contexto

O JAPÃO NO BRASIL

4 PLURALE EM REVISTA | Maio/Junho 2008

�12.

PERFILELIEZER BATISTA30

PELO BRASIL34

PELAS EMPRESAS58

CARBONONEUTRO64 3

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42. 14.PELO MUNDOCARRO E

ECOLOGIAARTIGOSRODRIGUES,GOLDEMBERG ERICUPERO

REVI

TALI

ZAÇÃ

OPO

RTUÁ

RIA

UMA VIAGEM AOINTERIOR DAS

CAVERNAS

46.

ENTREVISTAGORBACHEVE O FUTURO

10.

60.NO SERTÃO,VIDA E MORTE

38.

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Quem faz a pluraleDiretores

Carlos Franco

[email protected]

Sônia Araripe

[email protected]

Diretor comercial

[email protected]

Editor de arte

Marcelo Begosso

[email protected]

Fotografia

Luciana Tancredo, Cacalos

Garrastazu, Agência Brasil e

Maradentro

Colaboradores nacionais

Múcio Bezerra, Isabel Capaverde,

Marcelo Pinto, Vicente Senna, Nícia

Ribas, Geraldo Samor, Sérgio Lutz e

Tiago Ribeiro

Colaboradores internacionais

Renata Mondelo, Virginia Silveira,

Yume Ikeda, Marta Lage e Ivna Maluly

Plurale é a uma publicaçãoda Editora Olympia (CNPJ 07.596.982/0001-75)

em parceria com a SA Comunicação Ltda

(CNPJ 04980792/0001-69)

Impressão: SuperGráfica

Revista impressa em papel reciclado

Rio de Janeiro | Rua Etelvino dos Santos 216/202

CEP 21940-500 | Tel.: 0xx21-39040932

São Paulo | Alameda Barros, 66/158

CEP 01232-000 | Tel.: 0xx11-92310947

Uberlândia (MG) | Avenida Afonso Pena,

547/sala 95

CEP 38400-128 | Tel.: 0xx34-32530708

Os artigos só poderão ser reproduzidos com

autorização dos editores

� Copyright Plurale em Revista

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olhosamendoados

As grandes obras são executadas, não pela força, mas pela

perseverança. A frase de Santo Agostinho dá o tom desta

edição que antecede à comemorativa ao nosso um ano de cir-

culação. Nesse período aprendemos muito, sobretudo a olhar

o mundo e as pessoas com olhos bem abertos e a perseve-

rar, acreditando em um projeto que não é para apenas para

amanhã, mas de quem acredita estar, de alguma forma con-

tribuindo com uma rede que trabalha pela construção de um

mundo melhor e mais sustentável.

Perseveramos como perseveraram os japoneses que entra-

ram no navio Kasato Maru há 100 anos e aqui chegaram e se

mesclaram aos brasileiros, criando traços orientais na nossa

cultura. Aprendemos, em restaurantes, a ter como entrada a

toalha cozida e como prato principal o peixe cru.

Aprendemos também novas técnicas agrárias com os

japoneses e também novas canções. E a fazer pedidos para

as estrelas. Eliezer Batista plantou japoneses no solo brasilei-

ro, sonhando com fartas colheitas.

Assim, como quem partiu, a exemplo de Ruth Cardoso,

plantou, deixando como herança um programa que forma

cidadãos solidários.

Cidadãos de vida e sina severina como os que Eny Miran-

da flagrou com sua câmera para ilustrar um belo ensaio. Duro,

poderoso como as rochas das cavernas que aqui revelamos.

É uma edição que mostra exemplos, como o da Bunge,

que traz pessoas para o centro e que tem a leveza do meni-

no que estampa a capa dessa edição, com forte dose de bra-

silidade e olhos amendoados. É preciso perseverar na luta e

na pluralidade de idéias. E, sobretudo, resistir às imtempéries

ambientais que nos cercam, criando o novo, buscando o elo

e os elos perdidos e os a conquistar. Que Santo Agostinho pro-

teja a todos nós, irmãos nesta caminhada, sem aceitarmos ata -

lhos aparentemente fáceis, mas traiçoeiros.

editorial

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“Fiquei encantada com as matérias da edição 6 de Plu-rale em revista. Como as histórias sobre as açõessociais de empresas de telefonia; a emocionante caçaàs onças relatada por Sérgio Lutz e o perfil de CelsoFurtado escrito por Carlos Franco. Também com asduas belíssimas entrevistas: uma sobre Educação,com Ana Lagoa (pela jornalista Maria Helena Malta) eoutra com Israel Klabin, dada à Sônia Araripe. A cadaedição, surpreendente, ainda melhor”Cláudia Peixoto , Brasília

“Parabéns! Gostei muito da entrevista com IsraelKlabin.”Wilberto Lima Júnior, São Paulo

“Israel Klabin, experiente e com grande visão domomento atual, colocou exatamente o dedo na ferida:há muito “new richismo” mesmo neste mercado desustentabilidade. Excelente a entrevista com o presi-dente da FBDS no número 6. Que venham outraspolêmicas em Plurale.”Marcos Antunes, Rio de Janeiro

“A revista está cada vez melhor”Antônio Corrêa Lacerda, Professor de Economia daPUC-SP

“Gostei bastante de Plurale em revista. Assuntos inter-essantes e variados. Parabéns também pela iniciativada impressão em papel reciclado.”Alcides Amaral, São Paulo

“Recebi Plurale em Revista, edição 5. Muito obrigadapelo carinho e pela matéria sobre o meu trabalho emSana. Achei linda a apresentação da revista, o lay out.Múcio Bezerra fez uma matéria bacana, com um toquede humor que estimula a leitura.”Lucila Proença, Sana (RJ)

“Aproveitei o feriado para colocar a leitura em dia. Lide ponta a ponta Plurale em revista. Matéria e notasótimas. Leitura Leve e inteligente, com muita infor-mação.”Carina Almeida, Sócia-diretora da Textual Serviçosde Comunicação, Rio de Janeiro

“Como consigo números atrasados de Plurale emrevista? E para fazer assinatura?”César Moreira, Belo Horizonte

Prezado César, você pode adquirir números atrasadosmandando um e-mail para [email protected] fazer assinatura basta acessar o site www.plu-rale.com.br e clicar em assinaturas.

“Plurale em revista vem ocupar uma lacuna impor-tante no mercado editorial. Parabéns e vida longa!”Luiz Gornstein, São Paulo

“Plurale em revista tem belo projeto gráfico e reporta-gens que interessam a todos os que se preocupamcom o futuro da humanidade e de nosso planeta”.José Maria dos Santos, de Caxias do Sul

“É sempre um prazer ler Plurale em revista e atualizardiariamente as informações em Plurale em site. Ostemas são relevantes para os alunos aos quais douaula de educação ambiental”.Maria Lídia Carvalho, de Palmas, Tocantis

“A revista tem projeto gráfico que instiga a leitura e asreportagens de Sérgio Lutz são sempre saborosas”.Cíntia de Souza Oliveira, de São Paulo

p l u r a l e @ p l u r a l e . c o m . b r

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Artigo ASPÁSIACAMARGO

MEIO AMBIENTE

saída de Marina Silva do Ministério do MeioAmbiente vem demonstrar que o Brasil não incor-porou a questão ambiental como variável estraté-gica de seu desenvolvimento e que sucessivosgovernos têm sido incompetentes em utilizar asoportunidades do desenvolvimento sustentável. Ostempos são novos mas nossas elites estão preco-cemente envelhecidas. Marina, mais uma vez,posou na fotografia como elegante princesa da flo-resta e saiu do Governo porque não havia maisjogo possível. “Prefiro o bebê vivo mesmo que nocolo de outro” diz ela, generosa como a lenda de

Salomão, extraída da Bíblia que tanto conhece. É uma visão desto-ante em um país tragado pela voraz petite politique, enquanto a Gran-de Política parece condenada ao esquecimento.

Meio ambiente não é problema, é solução. Se o Brasil fosse a Chi-na, não deixaria de aproveitar melhor as florestas, que lá são escas-sas. O Império do Meio, como manda a tradição, negocia e tem estra-tégias. Nós, filhos do Império Lusitano, improvisamos, vivemos debico, e até o etanol, o trunfo escondido na manga, está levando pan-cadas, enquanto os chineses se esbaldam de vender quinquilhariasde contrabando, que chegam pela Avenida Brasil com a maior faci-lidade. Lula, que tem o mérito da intuição e de se comunicar bemcom o seu povo, tem também o defeito de olhar o mundo com a anti-ga visão mecanicista do torneiro mecânico que não percebe que ovelho modelo desenvolvimentista precisa ser reinventado, mais pró-ximo de um mundo de escassez, turbulento e instável. Um sábiosecretário do estado do Amazonas, disse um dia que “o Brasil vê aAmazônia com o binóculos ao contrário”. À distância e com visão dis-torcida: preferimos uma Transamazônica delirante a usar hidrovias

como “estradas queandam”.

A política ambientalbrasileira foi construí-da com brilho pelasmãos de PauloNogueira Neto - ohomem que inventou,junto com Gro Brund-tland, o termo “desen-volvimento sustentá-vel”. Ele colocou à dis-posição doze instru-mentos de controlepara garantir a susten-tabilidade do desen-volvimento. Infeliz-mente a nossa pre-guiça nos fez usar ape-nas o licenciamento ea fiscalização que, poruso abusivo e solitá-rio, acabaram desnatu-rando a harmonia ori-ginal do sistema. Olicenciamento é lentoporque os instrumen-tos de informação eplanejamento sãopobres. Não devemoslicenciar uma hidrelé-trica isoladamente esim uma rede racionalde fontes energéticasque cubram determi-nado território comvocações definidas emfunção do uso racio-nal de seus recursos.

Para definir asvocações, é precisoum instrumento peloqual nenhum políticose interessa: o Zonea-mento Econômico-Ecológico (ZEE), quedetermina áreas e tiposrecomendáveis de pro-dução, e outras de usolimitado, vulneráveis

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Aé a

SOLUÇÃO

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ou proibidas. A missão parece lenta e cara para os apressados que trabalham no varejo, masé indispensável e barata para quem quer solucionar problemas por atacado, promovendo odesenvolvimento durável. Por que não instalar um grande centro de biotecnologia na Amazô-nia, para produzir medicamentos, cosméticos de altíssimo valor agregado? Por que não o eco-turismo, a indústria de sucos naturais e a moveleira, como a sueca, com recursos renováveis?

Os políticos do passado preferem a indústria itinerante da destruição, em um presente fugaze sem futuro. Acabar com as florestas para vender madeira para a Europa, e produzir gado esoja, é destruir, sem remorsos, a galinha de ovos de ouro da biodiversidade planetária. E com-prar uma briga internacional que pode comprometer nossa soberania. Enquanto isto, contra-bandistas da biodiversidade atravessam, dia e noite, os territórios que abandonamos à própriasorte. Para acabar com este desatino, só o Presidente, o zoneamento e a transversalidade. Lulaprecisa reciclar-se, o que não é difícil. Alguém pode explicar-lhe como funciona esta tal de “sus-tentabilidade”. Minc, chegou a sua hora. Não se esqueça de que apenas comando e controle-licenciamento e fiscalização- não bastam.

� Aspásia Camargo é vereadora do Partido Verde pelo Rio de Janeiro

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Entrevista

GoRbADurante a Gala dos

Energy Globe Awards que serealizou no fim de Maio noParlamento Europeu, emBruxelas, o ex-Presidentesoviético Mikhail Gorbachevrecebeu um prémio honorífi-co. Atual presidente da Fun-dação Gorbachev e da GreenCross Foundation, Gorbachevdefende uma nova definiçãode progresso e entende queo desenvolvimento sustentá-vel é a base de uma pazduradoura.

Será possível definir adegradação ambientalcomo o principal proble-ma da atualidade, quandoainda existem tantas pesso-as a viver abaixo do limiarda pobreza?

O que diria às pessoaspara quem a alteração doshábitos de vida representa-ria um luxo insustentável?

"Os principais problemasda atualidade são a pobreza,a qualidade do ar e da água,as condições sanitárias e abaixa produtividade agríco-la, todos relacionados comquestões ecológicas. Não fazsentido dizer que a ecologiaé um luxo, porque é umaprioridade absoluta nos diasque correm. A segunda prio-ridade é a luta contra apobreza, uma vez que doismil milhões de pessoas nomundo dispõem apenas de

COM A PALAVRA

CHEV

TEXTO [AGÊNCIA DE NOTÍCIAS

DO PARLAMANETO EUROPEU

BRUXELAS]

FOTOS [DIVULGAÇÃO]

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EX-PRESIDENTE SOVIÉTICO FALA SOBRE

POBREZA E ENERGIA SUSTENTÁVEL

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um a dois dólares por dia. A terceira prioridade é a segu-rança mundial, incluindo a ameaça nuclear e as armasde destruição massiva. Todas elas são prioridades urgen-tes, mas coloco a ecologia em primeiro lugarporque atinge diretamente os cidadãos do mundo.

Durante a sua presidência iniciou importantesmudanças na então União Soviética e trabalhoumuito para acabar com a Guerra Fria. Que liçõespodemos retirar dessa experiência?

Em meados da década de 1980, os líderes dos gran-des países tiveram consciência de que era urgente fazerqualquer coisa. Gorbachev, Reagan, Bush, Thatcher,Mitterrand e muitos outros foram suficientemente inte-ligentes para ultrapassar os preconceitos existentes e ini-ciar um diálogo sobre a ameaça nuclear. Os dias de hojejá são diferentes porque estamos perante o fenómenoda globalização. Alguns países tornaram-se mais inde-pendentes e outros, como o Brasil, a China e a Índia, tor-naram-se atores importantes no plano mundial. A liçãomais importante que podemos retirar é a consciência danecessidade desse diálogo. É necessário renunciar à polí-tica da força, que não traz nada de bom. É necessárioter consciência de que estamos todos no mesmo barcoe que temos que remar juntos. Isto porque se algunsremarem, outros despejarem água e alguns fizeremburacos ninguém conseguirá vencer seja o que for.Vejamos o que se passa com os EUA no Iraque. Todosos aliados estavam contra a invasão, mas os EUA nãoouviram ninguém e o que é que aconteceu? Agora nãosabem como sair da situação. Percebemos que a situaçãoé séria e temos que os ajudar a sair dela. É necessáriauma nova ordem mundial e mecanismos globais quepermitam geri-la. Com o fim da Guerra Fria, todas as pes-soas defendiam uma nova ordem mundial e até o Papase juntou a nós e falou na necessidade de uma novaordem mundial, mais estável, mais justa e mais huma-na. No entanto, quando a URSS se desmoronou, essen-cialmente por razões de ordem interna, os EUA não resis-tiram e aproveitaram a confusão. As elites políticasmudaram, os que acabaram com a Guerra Fria saíramde cena e os novos protagonistas queriam escrever a suaprópria história. Estes erros de visão, de decisão e deacção tornaram o mundo ingovernável. O mundo emque vivemos atingiu uma fase caótica. É possível que docaos emirjam novos estilos de vida e mecanismos polí-ticos, mas o caos também pode levar à ruptura, à

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Entrevistaresistência e ao conflito armado.

Rumo a uma Nova Civilização é o mote da Fundação Gorbachev. Comose define essa nova civilização? Onde poderá o mundo ir buscar os recursosnecessários para essas mudanças fundamentais?

Não se trata apenas de dinheiro. Se as questões internacionais forem tratadasde uma forma desorganizada, gasta-se mais dinheiro. É uma questão de confiança,cooperação, diálogo, ajuda mútua e trocas recíprocas. Por que é que a Europa cres-ce economicamente? Unicamente por causa da União Europeia. É este o caminhopara as novas oportunidades e a UE é um bom exemplo disso. Claro que nem tudoé perfeito e, na minha opinião, a União Europeia já está sobrecarregada enquantosistema. É necessário que tenha a inteligência necessária para saber quando deveparar, absorver e avançar.

Na sua opinião, a Rússia caminha actualmente no bom sentido?"Considero que a Rússia caminha na boa direcção e vai avançar, apesar de estar

a meio de um difícil processo de transição democrática. Durante a presidência deBoris Yeltsin as pessoas tratavam a Rússia sem respeito, mas isso deixou de ser pos-sível e temos que esquecer esses tempos. A Rússia estará ao nível de todos os outros".

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eAtravés de uma

narrativa que tem inícioem Mileto, atual Tur-quia, em 545 a.C., eviaja até o Rio de Janei-ro contemporâneo, oeconomista LeonardoFaccini traça umromance que, de formafluida e cativante, contaa história das idéiaseconômicas. “A faceviva da moeda” apre-senta o personagemJoão Pedro, um rapazque está prestes a ter-minar a faculdade deEconomia. Apesar denão conseguir se imagi-nar em qualquer outracarreira, todas aquelasfórmulas com letrasgregas, modelos abstra-tos, testes estatísticos dehipóteses e tão poucarealidade acabaram pordeixá-lo desestimuladoem relação à futuraprofissão. Um encontrocasual com um miste-rioso e iconoclastasuíço vai mudar amaneira como Joãoenxerga a carreira, omundo e a própriavida. Como uma espé-cie de O mundo deSofia dedicado à cha-mada “ciência da escas-sez”, o livro de Faccinipode ser visto comoliteratura.

A FACE DAMOEDA

13

Eles já foram os miseráveis, os marginalizados, o lumpesinato, os sem-teto.Agora são os excluídos. Mas a sociedade reserva um lugar para eles. Eos esquece lá. Criada em 1947, a Fazenda Modelo é um dos maiores depó-sitos de mendigos em todo o mundo. O maior da América Latina.Essagrande área em Campo Grande, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, diri-gida pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social, ocupa 47 mil

hectares e abriga 1.300 pessoas, entre crianças, adultos e idosos que viviam nas ruas ouforam vítimas de algum infortúnio, perdendo a casa e tudo o que tinham. Uma vila, umasenzala, um campo de concentração, um hospício, um reflexo do que acontece nas ruasda cidade? Tudo isso um pouco. “Aqui é melhor que nada”, resume a moça de 20 e pou-cos anos, grávida, que passava o dia deitada num dos alojamentos.

Durante quatro anos, de 1999 a 2003o médico pernambucano Marcelo Anto-nio da Cunha dirigiu a Fazenda Modelo,“prefeito da pior cidade do mundo”,“presidente de uma nação de indigentes”como ele diz. E colecionou histórias fan-tásticas, lindas e dilacerantes sobre aspessoas jogadas ali, reunidas no livro“No Olho da Rua”, da editora Nova Fron-teira. A obra permite tanto uma leiturarealista quanto metafísica, até o do ido-so que foi parar ali porque não sabiamais voltar para a casa da filha. Um sim-ples ato inadvertido pode romper a lin-ha frágil que separa os mundo e jogaralguém ali, como o varredor que, depoisde 15 anos preso por matar o pai da mul-her que amava numa discussão, não tin-ha mais para onde ir. Ou uma aeromoçaque, com seqüelas após um acidente,esperou durante anos a indenização. Ou

a jovem vendida pelos pais para traficantes de mulheres.Drogas, armas, prostituição, estupros, violência, tragédias familiares se misturam a

relatos emocionantes como a de seu Manoel, cuja mulher vem da Europa, onde moracom os filhos, apenas para assinar os papéis do divórcio. Ou o casal que, ela refugiadado tráfico, ele viciado, se encontrou nas ruas e, após o nascimento do primeiro filho,resolveu criar uma família na Fazenda Modelo. Um trabalha de dia, o outro de noite,revezando-se nos cuidados das quatro crianças.

Bandidos foragidos, prostitutas, pacientes psiquiátricos, deficientes, misturam-se a ido-sos, crianças, mulheres, famílias.

Despejar no papel estas histórias, para que um dia chegassem a ser conhecidas peloresto da sociedade, foi para este médico de espírito humanista, várias vezes ameaçadode morte, a única forma de deitar a cabeça de noite no travesseiro e dormir em paz.

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Ponto ROBERTORODRIGUES

ALIMENTOS E BIOCOMBUSTÍVEISTodos sabem que os preços dos

produtos agrícolas – alimentos,fibras ou energéticos – variam, comotudo no mercado, em função daoferta e da procura. Esta caracterís-tica produz ciclos que se repetemeternamente: quando os preços dedeterminado produto caem muito,os agricultores deixam de plantá-lo,de modo que seu estoque vai dimi-nuindo até um ponto em que ademanda volta a ser superior à ofer-

ta; os preços sobem e os agricultores voltam a plantá-lo,e a oferta cresce de novo até superar a procura, quandoos preços diminuem outra vez... E assim vai. É por estarazão que os países ricos criaram mecanismos de proteçãoaos seus agricultores, com subsídios que lhes garantama renda, independente dos preços de mercado, dandoestabilidade à atividade e evitando o êxodo rural.

No entanto, há uma tendência sistemática de quedados preços agrícolas, porque novas tecnologias aumen-tam a produtividade, o que significa maior oferta; se ademanda não crescer na mesma proporção, os preçoscaem. Estes ciclos são características da economia ruralem qualquer lugar.

Estamos vivendo um deles: o crescimento da rendaper capita dos países emergentes aqueceu o consumo dealimentos e fibras. E a oferta não acompanhou estemovimento, basicamente em função de grandes secas queafetaram diferentes regiões da Terra, começando pelo Bra-sil (entre 2004 e 2006) e vizinhos; outros países agríco-las importantes, como Austrália, Ucrânia (e boa parte da

Europa Central e do Leste), também tiveram gran-des faltas de chuvas. Como resultado, os estoquesmundiais acabaram despencando, e os preçossubiram.

Esta não foi a única razão do encarecimentodos alimentos: os custos de produção tambémexplodiram. Os fertilizantes mais do que dobra-ram de preço em 1 ano, e o petróleo aumentoubastante. É claro que isto se reflete nos preçosfinais.

Outro fator de aumento foi a especulaçãofinanceira: muitos investidores, inclusive grandesfundos, que aplicavam no mercado imobiliárioamericano, por exemplo, migraram para especu-lar com alimentos depois da crise do sub-prime.

E tem mais: nos últimos anos, uma quintaparte das safras norte-americanas de milho foi usa-da para produzir etanol. Através de subsídiosvultuosos, o etanol de milho acabou “roubando”áreas de outras culturas, como a soja. Com isso,os preços do milho e da soja subiram nos EstadosUnidos, e contaminaram o mercado mundial.

Quanto tempo durará este ciclo? Difícil deresponder, mas uma coisa é certa: a demandasegue aquecida nos países em desenvolvimento,e a renda de suas populações continuará crescen-do. E a oferta depende de fatores diversos, quevão desde o custo de produção até a adequaçãodas chuvas.

Em condições normais, os preços deverãoficar acima da média histórica por alguns anos.Mas é bom lembrar que os agricultores modernos

N

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são rápidos, e, atraídos pelos bons preços atuais, ampliarão suas áreas de plantio e tecnologia,melhorando a oferta.

Neste cenário, o Brasil tem uma oportunidade extraordinária, que não pode ser desper-diçada.

Temos muita área para plantar, hoje ocupadas com pastagens degradadas. Atualmente cul-tivamos 72 milhões de hectares e temos quase 180 milhões de hectares de pastagens, dos quais71 são aptos para agricultura, por condições edafoclimáticas favoráveis. Como a tecnologia dapecuária progrediu espetacularmente, estamos tirando muito mais carne por hectare do que antes,de modo que está sobrando pastagem, para transformar em agricultura.

Também temos a melhor tecnologia tropical do planeta. Basta dizer que nos últimos 15anos, a produção de grãos cresceu 124%, enquanto a área plantada cresceu só 23%, a pro-dução de frangos cresceu 200% a de carne suína 130%, e assim por diante. Há uma nova tec-nologia, a integração lavoura-pecuária que permite usar a mesma terra para produzir grãose carne num só ano.

E, finalmente, temos o melhor produtor rural do mundo, jovem, ativo, ligado aos mercados,e com uma grande percepção de gestão moderna, seja na área financeira, comercial, de recur-sos humanos, seja na ambiental, o que proporciona uma atividade sustentável em suas 3 ver-tentes: economica, social e ambiental.

Sem grandes sacrifícios, podemos chegar a 350 milhões de toneladas de grãos.Mas também na agroenergia, a longa experiência com o Proalcool nos coloca na vanguarda

mundial desta atividade, com vantagens comparativas imensas sobre o etanol de milho ameri-cano: o milho americano é subsidiado, e o etanol também; aqui, zero de subsídio. O milho ame-ricano concorre com os alimentos. Aqui, não: este ano temos nossa maior safra de grãos, a maiorsafra de cana, a maior safra de carnes, a maior safra de leite. Não há concorrência. Por fim, omilho americano consome 1 unidade de energia fóssil para produzir 1 e meia de renovável, aopasso que a cana consome 1 e produz 9! Muito melhor o balanço energético.

E mais: dos 71 milhões de hectares de pastagens que podem ser agricultadas, 22 servem paracana, que hoje ocupa só 3,6 milhões de hectares (5% do total cultivado) para produzir etanol.Usando toda esta área, e dobrando a produtividade, podemos chegar a 300 bilhões de litros! Adi-cionalmente, podemos liderar um projeto mundial que produza biocombustível em toda a Amé-rica Latina, na África sub-sahariana e na Ásia tropical e pobre, mudando até mesmo a geopolí-tica e o paradigma agrícola mundiais. E, por fim, podemos exportar fábricas de álcool com cha-ve na porta, tecnologia, conhecimento, que é o que mais temos.

Tudo isso é possível, mas exige uma estratégia de governo, do governo todo e não apenasdo MAPA, porque implica em logística e infraestrutura, implica em política de renda para o cam-po que garanta estabilidade da atividade, e o seguro rural está quase pronto para isso. Implicamais investimentos em tecnologia e em recursos humanos; em promoção comercial e aberturade mercados; em agregação de valor, através do fortalecimento das cooperativas agrícolas; emmenores juros e impostos; em modernização da legislação trabalhista e ambiental; em rastrea-bilidade e certificação; em preocupação real com a sustentabilidade; em mais recursos para cré-dito; em investimentos na produção de fertilizantes; na criação de um mercado para biocom-bustíveis, com a eliminação dos mitos falsos.

Enfim, há uma boa lição de casa por fazer. Mas vale a pena: o nosso agronegócio pode gerarmilhares de empregos estáveis, mais renda, riqueza e excedentes exportáveis que nos colocarãona constelação dos países mais progressistas do mundo.

� Roberto Rodrigues é ex-ministro da Agricultura do governo Lula e coordenador doCentro de Agronegócios da FGV

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JOSÉGOLDEMBERG

Uma das facetas surpreendentes dopresidente Lula é seu engajamentosolitário na defesa do programa doálcool em foros internacionais. Emsuas viagens pelo Brasil, quer anun-ciando obras ou benesses o presiden-te vive cercado de políticos, ministrose áulicos em que sua retórica temmuito sucesso. Ele cumpre bem seupapel, mas não tem revelado con-vicções pessoais muito fortes.

No entanto, na defesa do progra-ma do álcool do Brasil o presidentetem revelado convicções profundas

e não oportunistas ao se tornar um cavaleiro andante emdefesa do uso dos biocombustíveis, um dos maiores progra-mas de energia renovável do mundo. Aparentemente, ele ofaz por convicção.

Biocombustíveis (tanto etanol como biodiesel) já são pro-duzidos naEuropa há muitos anos em pequenas quantida-des e o seu uso como substituto dos derivados de petróleofoi saudado inicialmente como umas das soluções maiscriativas da área energética nas últimas décadas. Nos últimos10 ou 15 anos, a produção de etanol cresceu muito, sendoproduzida a partir da cana-de-açúcar no Brasil e de milho nosEstados Unidos. Hoje, cerca de 3% da gasolina do mundofoi substituída por etanol. No Brasil, ele substitui 40%. O bio-diesel foi apresentado como parte do programa de agricul-tura familiar, que poderia atrair o apoio de certos setores daesquerda , mas dificuldades técnicas tornaram esse progra-ma pequeno e problemático.

O custo de produção do etanol a partir do milho nos Esta-dos Unidos é o dobro do seu custo no Brasil. Na Europa,onde é feito de beterraba ou trigo, o custo é quatro vezesmaior. O excelente clima do Brasil é favorável à cultura dacana-de-açúcar e 30 anos de experiência na produção de eta-nol o tornaram imbatível no mundo.

É evidente, portanto, que o etanol do Brasil ameaçainteresses comerciais dos produtores dos Estados Unidose da Europa, e, para impedir que penetre nessas áreas,barreiras alfandegárias foram criadas. Os ataques dos inte-resses comerciais ameaçados contaminaram o movimen-

to ambientalista, cuja oposição nãodeve ser menosprezada.

Os ambientalistas conseguiramparalisar os programas nucleares emmuitos países e quase paralisaram aconstrução de hidroelétricas. Seu prin-cipal argumento é que o uso de mil-ho para produzir álcool é um dos res-

ponsáveis pelo crescimento do preço dos alimentos e, por-tanto, está criando fome no mundo. Sucede que o etanoldo Brasil vem da cana-de-açúcar e está se expandindo empastagens, não substituindo outras culturas. Os ataques aoBrasil se concentram também nas condições sociais dostrabalhadores que trabalham nos canaviais e no desmata-mento da Amazônia, que não é conseqüência da produçãode cana.

Para enfrentar esses ataques, não basta o presidente dis-cursar em Bruxelas, em reuniões da União Européia ou emRoma, onde ele tem tido até um desempenho razoável. Épreciso demolir tecnicamente esses argumentos e tambémconquistar os corações e mentes das organizações ambien-tais e acadêmicas que alimentam os argumentos protecio-nistas dos governos dos Estados Unidos, Europa e dos paí-ses produtores de petróleo.

Essa batalha não ocorre em Bruxelas e Roma, mas naspáginas das revistas científicas, como Science (americana)e Nature (inglesa), e nelas poucos são os cientistas brasi-leiros engajados até agora.

O presidente não se cercou, nem aparece em forosinternacionais apoiado pelos seus ministros das áreas téc-nicas (exceto o de Relações Exteriores). Ele está só e pare-ce ao mundo externo estar só.Ao falar de temas comple-xos como biocombustíveis e as diferenças entre o mode-lo brasileiro e o americano e europeu de produzi-los, elenão pode fazê-lo de maneira convincente.

O presidente parece ter se dado conta disso ao anun-ciar a realização de uma conferência científica em São Pau-lo, em novembro, para discutir biocombustíveis. É uma boainiciativa, mas vem atrasada, sendo preciso fazer mais. Atéagora o governo tem promovido apenas conferênciaschapa-branca, como a realizada em Iguaçu pelo Ministé-rio de Minas e Energia, em que nem foram convidados oscientistas das nossas universidades e institutos de pesqui-sa que trabalham na área e que, portanto, não ajudarama dissipar as restrições mundiais aos nossos programas.

� José Goldemberg é Professor da USP

uPontoContra

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PRESIDENTEO ISOLAMENTO DO

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RUBENSRICUPERO

A FALÁCIA DO PREÇODOS ALIMENTOS

FALSO ou exagerado boa parte do que se alardeiasobre a alta do preço dos alimentos. Nos últimos dezmeses, é fato que os preços subiram em termosnominais. Contudo, quando se comparam essespreços com a média histórica e se corrige o efeito dainflação, a realidade é bem diferente.

Levando em conta o colapso no preço das com-modities nos anos 1980 e 1990, José Antonio Ocam-po, ex-subsecretário econômico da ONU, hoje naUniversidade de Columbia, e Maria Ângela Parrapublicaram artigo provando que a explosão é depreços minerais, e não agrícolas.

Tomaram como base o período 1945-1980, fase de 35 anos de preçosaté um pouco abaixo da tendência histórica. Aplicaram depois, comodeflator, o índice da ONU/Banco Mundial conhecido como Unidade de Valorde Manufaturas.

Resultado: os números mostram explosão nos preços do petróleo e dosmetais, sobretudo do cobre. Todos mais que dobraram, em termos reais,em relação à média de referência. O único ano em que os metais estive-ram tão caros foi 1916, no meio da Primeira Guerra.

Já os preços agrícolas apenas se recuperam do abismo em que se tin-ham precipitado nos anos 80, sem que ninguém vertesse lágrimas pelas per-das dos agricultores. A maioria dos produtos tropicais na verdade ainda seencontra longe de haver recomposto as perdas.

Só existe um alimento de primeira necessidade com preço superior àmédia do pós-guerra. É o trigo, com índice de 189,7 (o índice 100 corres-ponde à fase 1945-1980). Os três outros produtos agrícolas acima de 100são o óleo de palma (260,1), a banana (185) e a borracha (162,8). O Bra-sil não é grande exportador de nenhum: na banana, ocupamos posição mar-ginal, e na borracha mal atingimos um terço das nossas necessidades. Umasegunda categoria é a dos alimentos que quase recuperaram o nível damédia passada: o milho (95,7) e o arroz (78).

Na pior classe, a dos preços ainda deprimidos, encontramos o cacau(60,9), o chá (58,7), o café (58), o algodão (43,5) e o açúcar (41). O fatode que o açúcar nem conseguiu chegar à metade de sua cotação históricamédia põe por terra o argumento de pressão direta do álcool de cana sobreo preço de alimentos.

Chega-se ao mesmo resultado pela evolução dos termos de intercâm-

Ponto final

Ébio, isto é, a relação entre preços deexportações e de importações. O últi-mo relatório da Cepal sobre a econo-mia da América Latina, divulgado emdezembro de 2007, revela que os úni-cos países cujos termos de intercâmbiono ano passado melhoraram em 90%-100% acima dos de 2003 foram o Chi-le, exportador de cobre, e a Venezue-la, de petróleo.

As outras melhoras significativasforam todas de exportadores de miné-rios: Bolívia e Peru (40%-60%); Colôm-bia e Equador (acima de 25%). Osdois maiores exportadores agrícolas,Argentina e Brasil, tiveram melhorade 10% ou menos.

Não é por acaso que Ocampo ten-ha sido diretor da Cepal e herdeiro doconselho de Raúl Prebisch: temos deolhar para os relatórios econômicosproduzidos nos países ricos com espí-rito crítico e a partir da nossa realida-de. Quem come da mão de america-nos e europeus vê o que eles queremque vejamos.

A realidade é outra: os preços agrí-colas e a renda rural ainda não serecuperaram plenamente da longa fasede colapso, os produtos tropicais con-tinuam deprimidos e a real explosão éa do petróleo e dos metais.

� Rubens Ricupero é diretor daFaculdade de Economia da Faap edo Instituto Fernand Braudel deSão Paulo, foi secretário-geral daUnctad (Conferência das NaçõesUnidas sobre Comércio e Desen-volvimento) e ministro da Fazen-da (governo Itamar Franco).

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Há 100 anos, precisamente no dia18 de junho de 1908, o navio KasatoMaru atracou no porto de Santos emSão Paulo. Foi a chegada de 781japoneses de 165 famílias, que mar-cou oficialmente o início da imigraçãopara o Brasil. Na bagagem traziamsonhos e vontade de trabalhar, se ali-mentar e serem felizes. É que, após aabolição da escravatura, em 1888, oBrasil tinha necessidade de mão-de-obra para os cafezais, já que negroslibertos sonhavam construir a suaPátria, feita de liberdade e fartura.No Japão, fome e falta de espaçopara a lavoura e a moradia, estimula-ram a imigração.

O movimento foi fruto de acordoentre os dois governos. Nos primei-ros sete anos, vieram mais 3.434 famí-lias (14.983 pessoas). Com o começoda I Guerra Mundial (1914), explodiua imigração: entre 1917 e 1940, vie-ram 164 mil japoneses para o Brasil.75% para São Paulo, visto que o Esta-do concentrava a maior parte doscafezais. Trazidos pela empresa Tei-koku Imin Kaisha (Companhia Impe-rial de Imigração), que firmou em1907 contrato com a Secretaria deAgricultura do Estado de São Paulopara alocar 3 mil imigrantes até 1910como empregados de várias fazendasde café, os japoneses pretendiamficar por cinco anos - período emque, de acordo com informaçõesdadas pelos agentes, fariam fortunas.

Hoje, o Brasil exibe uma popu-lação de 1,5 milhão de japoneses, omaior contingente fora do Japão, divi-didos em grupos específicos: isseis(japoneses de primeira geração, nas-cidos no Japão) 12,51%; nisseis (filhosde japoneses) 30,85%; sanseis (netosde japoneses) 41,33%; e yonseis (bis-netos de japoneses) 12,95%. Genteque não voltou depois de cinco anos,ao contrário, se integrou e hoje fazparte da cultura brasileira.

TEXTO [CARLOS FRANCO]

FOTOS [DIVULGAÇÃO E AGÊNCIA BRASIL]

Especial Brasil-Japão

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JAPONESES TROUXERAM SONHOS E SEMEARAM

REALIDADE E CULTURA EM

SOLO BRASILEIRO

O BRASIL

JAPONÊS

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Especial Brasil-Japão

Os anos 30, de grande ebulição em todo o mundo, coma revolução industrial e outras revoluções políticas e cul-turais, foram cruciais para a colônia japonesa no Brasil. Éque o Brasil, até o início dos anos 40, integrava com Japão,Alemanha, Itália, Argentina e Espanha, o Eixo liderado porHitler, mas pressões internas e externas levaram o gover-no Getúlio Vargas, especialmente após a deportação deOlga Benário Prestes e outros judeus e comunistas para aAlemanha de Hitler, a mudar de lado. O Brasil, então, pas-sou a integrar as tropas aliadas contra o Eixo. Ganhou debrinde a Companhia Siderúrgica Nacional e grande estímu-los dos americanos. Foi proibido, então, o ensino de lín-guas estrangeiras no País, espeficamente o japonês, o ita-liano e o alemão, os três países que integraram, até o finalda Segunda Grande Guerra Mundial, o Eixo. As perse-guições à colônia no Brasil, cresceram. Japoneses passa-ram a enfrentar duplo preconceito, assim como seus pri-meiros descendentes no País, os nisseis.

E seguindo a tradição milenar dos samurais, fiéis aosseus princípios, à honra e à disciplina militar, um grupoliderado pelo coronel aposentado Junji Kikawa fundoupouco após o final da guerra a organização secreta Shin-do Renmei ("liga do caminho dos súditos"), para impedirque as "notícias falsas da derrota" se espalhassem e paramatar os "derrotistas", também apelidados "Corações Sujos"(que batizou um livro sobre a organização escrito por Fer-nando Morais e lançado em 2000).

Durante a Segunda Guerra Mundial, alguns japonesesradicais protestavam contra a posição brasileira na guerrae criavam panfletos pedindo a destruição do cultivo de seda(usada para pára-quedas, por exemplo) e hortelã (o men-tol poderia aumentar a potência da nitroglicerina e era usa-do para resfriar motores).

A maioria dos 200 mil imigrantes não aceitou derrotaem 1945, e assim a colônia se dividiu em "derrotistas"(makegumi), menos de 20% da população, e os "vitoris-tas" (kachigumi).

Essa organização pretendia propagar no Brasil a idéiade que o Japão não tinha perdido a Guerra, pois seria umainvenção dos Estados Unidos para enfraquecer o Japão. Osimigrantes japoneses eram fiéis ao Imperador do Japão,Hirohito, e grande parte tornou-se membro da organização.

Quando o Brasil declarou guerra ao Japão, osjaponeses passaram a ser perseguidos pelo governobrasileiro, e assim como aconteceu com as comuni-dades alemã e italiana do Brasil, manifestações cul-turais nipônicas foram proibidas em território brasi-leiro sob a alegação que faziam parte de um ideárioestranho à cultura e aos valores brasileiros e de seusaliados.

O Shindo Renmei perseguiu os japoneses queacreditaram que o Japão realmente tinha perdido aguerra, entre katigumis e makegumis foram mortosoficialmente 23 pessoas entre 1946 e 1947.

A organização perdeu força a partir do final de1947, quando o governo do General Dutra, após inte-rrogar 30 mil pessoas, prendeu mais de 300 suspei-tos e condenou à expulsão do território nacional 155japoneses, decisão esta que nunca foi colocada emprática.

CORAÇÕESSUJOS

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O príncipe herdeiro do trono japonês Nahurito esteve no Bra-sil para as comemorações oficiais do centenário da imigração, emjunho. E como o Japão tem histórias saborosas de príncipes, o Paístambém comemora uma data especial na sétima noite do sétimomês do ano, o Festival das Estrelas, o Tanabata Matsuri, no bai-rro paulistano da Liberdade.

Conta a lenda, que morava próximo da Via-Láctea uma lindaprincesa chamada Orihime, a "Princesa Tecelã". Certo dia Tenkou,o "Senhor Celestial", pai da moça, apresentou-lhe um jovem e belorapaz, Kengyu, o "Pastor do Gado" (Hikoboshi), acreditando queeste fosse o par ideal para ela.

Os dois se apaixonaram fulminantemente. A partir de então,a vida de ambos girava apenas em torno do belo romance, dei-xando de lado suas tarefas e obrigações diárias.

Indignado com a falta de responsabilidade do jovem casal, opai de Orihime decidiu separar os dois, obrigando-os a morar emlados opostos da Via-Láctea.

A separação trouxe muito sofrimento e tristeza para Orihime.Sentindo o pesar de sua filha, seu pai resolveu permitir que ojovem casal se encontrasse, porém somente uma vez por ano, nosétimo dia do sétimo mês do calendário lunar, desde que cum-prissem sua ordem de atender todos os pedidos vindos da Terranesta data.

Na mitologia japonesa, este casal é representada por estrelassituadas em lados opostos da galáxia, que realmente só são vis-tas juntas uma vez por ano: Vega (Orihime) e Altair (Kengyu).

O festival que celebra esta história de amor teve início na Cor-te Imperial do Japão há cerca de 1.150 anos, e lá tornou-se feria-do nacional em 1603.

Atualmente o Tanabata é uma das maiores festas populares doJapão. É realizado em diversas cidades, e, no Brasil, o seu palcoé o bairro oriental da Liberdade, onde brasileiros depositam seuspedidos em árvores de bambu, na certeza de que chegarão ao infi-nito, ao serem queimados, e se tornarão realidade.

Especial Brasil-Japão

O PRÍNCIPEE AS ESTRELAS

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O cineasta Akira Kurosawa imortalizou no filme"Sonhos", o ritual que cerca a morte numa pequenaaldeia. É de um a beleza exemplar, além do apelo pre-servacionista da natureza que encerra a lição desse car-pinteiro de emoções. É que a aldeia dos MoinhosD'Água, onde filma o último episódio de "Sonhos",comemora a morte, quando ela vem depois dos anos80, 90 anos. Só chora de tristeza quando se trata decriança, que teria muito por viver e a aprender. A fes-ta é um tributo àquele que partiu. Tem o feitio deoração como o dos sambas, com a mesma expressãoda alegria, que encerra gratidão. É da cultura japone-sa essa forma de ver a morte, especialmente a xintóis-ta e a budista. Há cerca de três anos, acompanhei oenterro da mãe de um amigo - o Oscar casado com aNair Susuki, a mulher que tem coração de ouro epaciência oriental. Ali, prevalecia o tributo a quem par-tia pelo que fez em vida. Era como se estivesse, ao vivo,no belo filme do cineasta Kurosawa. Era tempo decolheita e plantio, que o cheiro do incenso espalhava,como espalha a brisa das manhãs que tanto encanta-ram o cineasta japonês.

A VIDA E AMORTE

Pratos típicos da culinária japonesa como o sushi,o sashimi, o yakissoba se integraram perfeitamente àculinária brasileira e aquela sopa de cubos de queijode soja, o tofu, casa perfeitamente com um bom e sucu-lento suco de açaí. A manga brasileira e outras frutasentram no recheio de pratos e como sobremesa de umaculinária regada pela cultura. Aprendemos a comer pei-xe cru e apreciar o yakissoba. Nas feiras, o tempurájaponês, embala camarões e peixes com tremendaoriginalidade e nos bares e restaurantes mãos nordes-tinas cortam hoje sushis e sashimis.

SUSHIE AÇAÍ

Os traços do desenho japonês também fazemparte hoje da cultura nipo-brasileira, na forma dedesenhos em quadrinhos criativos, ousados e curio-sos, os mangás. Também é comum em lares do Bra-sil inteiro a presença do origami, os papéis quedobrados dão origem a diferentes enfeites decora-tivos, alguns de profundo significado, como o maisconhecido deles, o pássaro chamado tsuru, quetransmite esperança e tranquilidade a quem o rece-be. Já os bonsais estão presentes em todas ascasas. Resultam do corte correto da raiz de árvoresde forma a mantê-las originais e em miniatura, dasquais brotam frutos. Além disso, os arranjos floraisjaponeses hoje se espalham por festas tipicamentebrasileiras. A técnica do ikebana, uma arte floral quese originou na Índia onde os arranjos eram desti-nados a Buda, foi aqui e em todo o mundo perso-nalizada pela cultura nipônica. Em constraste coma forma decorativa de arranjos florais que prevale-ce nos países ocidentais, o arranjo floral japonês criauma harmonia de construção linear, ritmo e cor.Enquanto que os ocidentais tendem a pôr ênfasena quantidade e colorido das cores, dedicando amaior parte da sua atenção à beleza das corolas, osjaponeses enfatizam os aspectos lineares do arran-jo. A arte foi desenvolvida de modo a incluir o vaso,caules, folhas e ramos, além das flores.

A estrutura de um arranjo floral japonês estábaseada em três pontos principais que simbolizamo céu, a terra e a humanidade, embora outrasestruturas sejam adaptadas em função do estilo eda escola.

E se esses arranjos tranquilizam,os mangás bus-cam na conturbada vida urbana o seu foco e semesclam com o País, em perfeita desarmonia.

Especial Brasil-Japão

MANGÁS, ORIGAMISE BONSAIS

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O Brasil hoje é destaque notatame onde se disputa o karatê,o judô, o Tae-ken-Dô e até nasquadras de esgrima. Uma influên-cia direta da cultura japonesa quelevou o santista Aurélio Miguel aconquistar para o ouro olímpico.O brasileiro que nasceu na cidadeonde desembarcaram os primeirosjaponeses é um dos exemplos decomo a cultura do país do solnascente, brilha desse lado debai-xo do Equador, na linha dos tró-picos. Campeão olímpico de judô,Aurélio Miguel aprendeu comjaponeses os primeiros passos daluta na qual se sagrou campeão.No bairro da Liberdade, em SãoPaulo, enfileiram-se escolas queensinam artes marciais, numa mis-sigenação de cultura que está lon-ge do fim; o centenário da imi-gração é apenas um começo.

KARATÊ, JUDÔ E

BUDISMO

Especial Brasil-Japão

O CAMINHODE VOLTA

Yume Ikeda não gosta de falar da sua história. Talvez por-que sonhe em voltar; ser feliz. Mas nessa edição comemo-rativa, queríamos o seu depoimento. Ela resistiu. Depois, aca-bou cedendo. Só que optou por coletar o depoimento devárias amigas. Histórias comuns de muitos dekasseguis.Imprimiu um pouco de si no texto, mas o deixou anônimocomo relato de muitas que partiram em busca do sol, de ondenasce o sol, para trazê-lo de volta ao Brasil na forma de dóla-res e prosperidade. Eis o relato, como ela o mandou. No plu-ral, porque o singular leva sempre a marca de quem escre-ve e ela preferiu seguir à risca o título da publicação que, háquase um ano, se orgulha de tê-la como colaboradora.

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A VIDA DURAMuitas de nós sonhávamos com o futuro no Brasil. Algumas estavam estudando

Letras e Pedagogia, imaginando dar aulas em escolas públicas - o ensino é valori-zado dentro da colônia japonesa e é tarefa nobre às mulheres; também aos homens.Salários baixos, alunos indisciplinados e obrigatoriedade de aprovação, queixascomuns a todos os professores da rede pública, acabaram por empurrar uma levade mulheres nisseis para o Japão, algumas acompanhando namorados e maridos. Fize-mos, assim, o caminho de volta de antepassados - grande parte dos que estão aquisão da terceira geração de famílias que imigraram para o Brasil, mas que não faziaparte daqueles pioneiros do Kasato Maru; vieram depois, nos sucessivos ciclos imi-gratórios pós-1908, atraídos por histórias de sucesso daqueles que haviam cruzadoo Oceano, trocando a noite pelo dia.

Segui, no final dos anos 90, os passos de primos que vieram para o Japão embusca de dinheiro e na expectativa de, na volta ao Brasil, realizar sonhos há muitoacalentados, como uma boa casa e um bom negócio. Dinheiro para a família e cer-teza de prosperidade. A maioria de nós nunca imaginou ser metalúrgica, mas é essaatividade que muitas exercem hoje, especialmente na cidade de Osaka, a que tema maior colônia de brasileiros residentes no Japão. O coração da maioria fica parti-do quando se opta por esse ciclo, mas repleto também de esperanças. Somos meta-de - mais da metade, é verdade, Brasil e outra metade Japão, uma ilha menor tantoterritorialmente como no peito da maioria. É que aqui, como acontecia com nossosantepassados no Brasil, também é preciso romper a barreira do preconceito. Nãosomos vistos como japoneses pelos japoneses. Mas executamos em fábricas, bares,residências, trabalhos que o País que se voltou para a tecnologia desde a RestauraçãoMinji, havia deixado de lado. A exceção fica por conta daqueles que se dedicam àagricultura e a preservaçção de rituais ancestrais.

A realidade de um dekassegui é dura. Não é tarefa fácil ser dekassegui. Não temsido para muitos Só que perseverar é da alma de um nissei. É virtude cultuada. E acada tsuru que fazemos, desejando sorte, saúde, felicidade e prosperidade, recebe-mos outros tanto de volta. Esse pássaro, um dos mais simples de serem manusea-dos com a técnica também ancestral do origami, tem o poder de transmitir paz e pros-peridade, saúde e felicidade.

Então, é com esse espírito que podemos dizer arigatô a todos. Arigatô à vida. Essamágica palavra que o brasileiro aprendeu a pronunciar é que tem o formato de obri-gado. E também da obrigação de se ser o que é e ser feliz. É só uma tentativa, masnela encerra-se toda uma vida. As nossas vidas.

TEXTO [YUME IKEDA, DE TÓQUIO]

FOTOS [DIVULGAÇÃO]

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De acordo com uma lenda chinesa, em 2327AC, o imperador Shen Nung descansava sob umaárvore quando algumas folhas caíram em umavasilha de água que seus servos ferviam para beber.O imperador provou o líquido e adorou. Nascia,então, o chá, a bebida mais consumida no mundo.

Não há confirmação oficial sobre esta história.Pelos escritos, o uso do chá data do século III a.C.O tratado de Lu Yu, conhecido como o primeiro tra-tado sobre chá com caráter técnico, escrito no séc.VIII, durante a dinastia Tang, definiu o papel da Chi-na como responsável pela introdução do chá nomundo.

Já no inicio do séc. IX, a cultura do chá foi intro-duzida no Japão por monges budistas que levaramda China algumas sementes. A cultura teve êxito edesenvolveu-se rapidamente. O chá experimentounestes dois países - China e Japão - uma evoluçãoextraordinária, abrangendo não só meio técnico eeconômico, mas também os meios artísticos, poé-ticos, filosóficos e até religiosos. No Japão, porexemplo, o chá é protagonista até hoje de um ceri-monial complexo e de grande significado.

E como o chá tornou-se uma tradição inglesa?Marco Pólo teria relatado sobre a bebida em seusescritos, mas tudo indica que teriam sido os holan-deses, grandes comerciantes, os responsáveis pordifundir o chá na Europa, chegando á Inglaterra,que passou a “abraçar” este comércio.

Chineses e japoneses utilizam há milhares emilhares de anos o chá em todas suas variações,sempre de olho nas propriedades. O extrato dechá verde, ou camélia sinensis – com gosto umtanto amargo - é conhecido por suas propriedadesantioxidantes. As folhas vão para a secagem logoapós a colheita, evitando a fermentação.

De olho nestas propriedades, empresas de cos-méticos lançaram produtos à base de chá verde. OBoticário, por exemplo, tem a Bodyactive loçãofluida hidratante chá verde, produto para hidrataçãoda pelo do corpo, indicado para pessoas comtendência a pele seca. Já a Natura tem xampu e con-dicionador à base de chá verde, que controlam a ole-osidade, na linha Cristalplant.

A Leão, fabricante do tradicional Matte Leão(controlada pela Coca-Cola) lançou o primeiro cháverde granel recentemente. O chá é zero caloria:vem na embalagem de 150 gramas e rende até 20litros. A bebida também é encontrada em saquinhosindividuais (nas versões natural, maçã verde, limãoe maracujá) e na forma gaseificada, Green TeaSpree, como um refrigerante sabor limão.

Especial Brasil-Japão

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OS PODERES DO

CHÁ VERDE

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Perfil

LEi30 PLURALE EM REVISTA | Julho/Agosto 2008

EEZRTEXTO [SÔNIA ARARIPE]

FOTO [LUCIANA TANCREDO]

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Os olhos são amendoados e senão fossem de um azul contagiantepoderiam perfeitamente se passarcomo uma possível herança longín-qua de orientais. Também o estilodiscretíssimo, de pouco falar, muitoapreender e ensinar, o aproxima daTerra do Sol Nascente. Mesmo sendode família portuguesa, com físicogermânico ou nórdico, corre nas veiasdo ex-ministro Eliezer Batista, minei-ro de nascimento, de alguma forma,a sabedoria e a paciência oriental.

O Japão foi e sempre será suasegunda pátria. Amor que ele tambémnutre pela Rússia, que o recebeu sem-pre de braços abertos, tendo inclusi-ve eleito o primeiro brasileiro comassento na Academia Russa de Ciên-cias. A ligação da Vale com o Orien-te começou ainda nos anos 50, masfoi na década de 60 que o então pre-sidente da Companhia Vale do RioDoce (hoje, após uma modernizaçãode marca, simplesmente Vale) perce-beu no que aquela parceria poderiaresultar. Em plena Guerra Fria, Dou-tor Eliezer notou que os Estados Uni-dos estavam diminuindo suas com-pras de minério de ferro e procurouo mercado japonês. Que precisavam– e muito - de ferro para construção

de prédios, pontes e ferrovias.

No livro “Conversas com Eliezer”(Insight Engenharia de Comunicação),dos jornalistas Luiz César Faro, CarlosPousa e Cláudio Fernandez, EliezerBatista conta que os japoneses procu-ravam parceiros não só para comprarminério de ferro, mas também paraconstruir fábricas no Brasil. “Diversosprojetos, percepção lógica que o tem-po se encarregaria de comprovar.”Como em celulose, siderurgia e alumí-nio. Nesta época conheceu Inada San.Matemático brilhante, se encantoupelo Brasil e instalou uma consultoriano Rio.

Estava apenas começando a parce-ria decisiva da Vale com o Japão.Naquele caso típico do ditado “ohomem certo no lugar certo.” Foi eleque ajudou a intermediar o encontrocom Takashi Imai, anos mais tardetodo-poderoso presidente da NipponSteel e chairman da Keidanren, semel-hante à Conferederação Nacional daIndústria daqui.

No relato aos jornalistas, o ex-ministro conta causos e históriasdaquela época. Como a do filho doentão embaixador japonês no Brasil

Eliezer Batista, ex-ministro e

“pai” da Vale do Rio Doce, estreitou laços

com a Terra do Sol Nascente e comprova que

é possível sim praticar o desenvolvimento

sustentável

que ajudava como intérprete. Brasileirosbrincalhões (quase um pleonasmo) ensi-naram para o jovem que alguém muitointeligente seria um “macado velho”. EAntônio Dias Leite, ex-ministro de Minase Energia, assim foi chamado.

Brincadeiras à parte, foram anos demuitas solenidades, cerimônias, forma-lidades. Visitas para grupos japoneses,deles aqui no Brasil. Eliezer e sua equi-pe prepararam o que é hoje a grandereceita de sucesso da Vale, alçando vôosinternacionais cada vez mais altos: umcomplexo integrado que interliga minase portos por ferrovias expressas e com-petitivas até o destino final. A minerado-ra conquistou os japoneses com quali-dade e preço. Custou caro do ponto-de-vista pessoal esta obstinação: foram qua-se 200 vôos para o Japão, alguns de ape-nas dois dias, em uma época de aviõesbem menos avançados do que hoje. Oex-ministro perdeu 70% da visão da vis-ta direita, mas continuou sua missãocom entusiasmo de garoto.

Recebeu, do imperador Hirohitouma condecoração pelo seu trabalho ededicação. Eliezer agradece o grandeapoio recebido de John Aoki (de tradi-cional família japonesa) e sua esposa,Chieko, donos da tradicional rede hote-leira Caesar Park que abriram portasimportantes no Japão. Para que o miné-rio da Vale se tornasse competitivo erapreciso chegar do outro lado do plane-ta a tempo e com custos adequados. Foiaí que surgiu a idéia de reforçar as ferro-vias, construir portos, ter navios comcapacidade para carregar 120 mil tone-ladas e das tradings japonesas apoiandoa operação. O terminal de Tubarão foiinaugurado em 1966 e, antes disso, dele-gações de japoneses estiveram aqui paraconfirmar se aquilo que o senhor dosolhos azuis e voz forte falava era verda-de. Confirmaram e estava dada a larga-da para a internacionalização da Vale.

Mas nem só da Terra do Sol Nascen-te se faz a história deste engenheiromineiro de Nova Era, que conhececomo a palma da mão o Vale do Rio

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Doce, também a Amazônia, onde fincou a bandeira da Vale na Reserva de Carajás (PA), maiormina de ferro a céu aberto do mundo e diversos destinos do planeta. Boa parte da trajetóriade Eliezer Batista se fez como estrategista, como homem público. Mesmo que tenha ocupa-do, efetivamente, apenas dois de alto escalão: ministro de Minas e Energia no governo de JoãoGoulart e de Assuntos Estratégicos no Governo Collor.

O engenheiro é autoridade em assuntos estratégicos, com trânsito nos últimos presiden-tes, incluindo nesta lista o presidente Lula. Aos 84 anos, segue vida ativa, como quem nãofoge de sua missão maior. Chega cedo todos os dias no escritório na sede da Federação dasIndústrias do Rio, que compartilha com o também ex-ministro da Previdência, Raphael deAlmeida Magalhães. Tem sempre agenda tomada. Recebe várias comitivas estrangeiras, gen-te que em de longe ouvir sua opinião sobre o Brasil. Na hora do almoço, costuma sentar-sesempre à mesma mesa no restaurante do próprio prédio, normalmente com um convidado.A luz forte o atrapalha e, assim, fica de costas para a sua grande criação, a sede da Vale.

Participa do debate social. “Sonho com um país mais justo e com melhor educação”, nãose cansa de dizer. Para os seus filhos, netos e todos os filhos e netos deste país. Trabalha assun-tos relevantes para o Desenvolvimento Sustentável, como logística, melhor distribuição de ren-da e atração de mais investimentos.

No entanto, sua grande preocupação nos últimos tempos tem sido como transformar a edu-cação atual em um processo capaz de entender melhor a “revolução” em curso. “O profes-sor não está preparado para a nova teoria do conhecimento, não sabe ensinar aos alunos quepensam hoje de forma digital. É um grande desafio.”

Engana-se quem imagina um intelectual empoado e distante. Intelectual sim: dos melho-res e mais vívidos de sua geração. Capaz de ler no original em seis idiomas. Mas, por favor,sem nenhum ar de pompa ou circunstância. Sem espaço para vaidades. Quando alguém oenaltece muito, sorri educadamente e depois dispara que nunca foi, nem gosta, de “massa-geador de egos”. Se o interlocutor entender o recado terá avançado um passo à frente no con-ceito do Dr. Eliezer.

Que o digam os mais próximos. Tímido, sempre evita os flashes e nunca gostou das colu-nas sociais. Os amigos são os da vida toda e alguns que o conquistaram ao longo de sua tra-jetória. Sente até hoje a perda de sua companheira de toda uma vida, Jutta, em 2000. Ela nas-ceu na Alemanha: tiveram seis filhos e hoje dá nome à fundação social com diversas açõesna região do Espírito Santo.

Defensor do desenvolvimento sustentável, Eliezer deu as bases, com seu companheiro, DiasLeite, da Lei Florestal de 1966. Amigos de Erling Lorentzen, ajudaram a criar as bases para aAracruz nascer e tantas outras empresas de papel e celulose. Amante da botânica, dos ani-mas e da ciência, é na fazenda na serra capixaba, em Morro Azul, que Eliezer encontra refú-gio para a alma. Sustentabilidade é um tema de ontem, hoje e sempre. Participou ativamen-te da Eco 92 e de tantos outros debates recentes sobre o tema. Está sempre em atividade.Defende, por exemplo, o plantio de florestas em áreas já degradadas para a produção de carvão,preocupado com o uso desenfreado de carvão de mata nativa em fornos de algumas usinas.

Há dois anos, a Vale homenageou seu criador batizando uma usina hidrelétrica, em Minas,com seu nome. Antigos funcionários da mineradora vieram de longe para dar um abraço noamigo. O presidente Lula fez questão de marcar presença. Mais recentemente, recebeu outropresente emocionante. Um de seus filhos, o empresário Eike Batista - considerado um doshomens mais ricos do país, com diversas empresas - comprou uma imensa área no Pantanale criou uma reserva em homenagem ao pai. Uma floresta para o samurai verde.

Perfil

32 PLURALE EM REVISTA | Julho/Agosto 2008

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Page 34: Plurale em revista edição 7

PELO BRASIL

Ao contrário de Fernando Henrique Cardoso, a antropóloga Ruth Vilaça

Correia Leite Cardoso detestava os holofotes da política. Chegava, duran-

te os oito anos de mandato de Fernando Henrique, a ser áspera com jor-

nalistas, procurando preservar sua intimidade e sair do foco da notícia. Essa

paulista nascida em Araraquara, interior do Estado, no dia 19 de setem-

bro de 1930, mudou, no entanto, as políticas sociais da Presidência da

República, ainda que rechaçando o rótulo de primeira-dama. Formada em

ciências sociais pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Univer-

sidade de São Paulo (USP), onde conheceu Fernando Henrique Cardo-

so, com quem se casou e teve três filhos, Ruth ergueu o Comunidade Soli-

dária. E com ele mudou a forma de fazer política social. Em vez de repas-

ses para órgãos públicos, priorizou as Organizações Não-Governamentais

(ONHs) e abriu espaço para um mecanismo que pudesse cumprir o papel

de educar e alfabetizar mesmo longe do poder. Hoje, a Comunitas, uma

organização da sociedade civil de interesse público (Oscip), vem cumprin-

do este papel.

E aqueles aos quais Ruth se aliou prometem levar adiante o projeto

mesmo com sua repentina partida no último mês de junho.

Voz firme no combate à exclusão social e à pobreza, Ruth Cardoso dei-

xou como legado vários livros, e

uma trajetória reta, sem falácias e

de muito respeito aos movimentos

sociais. Ela, aliás, foi uma das pri-

meiras vozes do mundo acadêmi-

co a apontar que os movimentos

sociais teriam grande importância

no futuro. Fez mais. Deu aval à

organização da sociedade civil em

grupos de interesse e pressão por

uma nova ordem social.

A sua tese de doutorado

"Estrutura familiar e mobilidade

social: estudos dos japoneses no

Estado de São Paulo", por exem-

plo, foi lançada como livro em

1995, em português e japonês.

Em 1997 foi publicado "3º Setor,

Desenvolvimento Social Sustenta-

do", com a participação de vários

autores. Outra obra de referência

é "Bibliografia sobre a Juvetude",

34 PLURALE EM REVISTA | Julho/Agosto 2008

A CERIMÔNIA DO ADEUS

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Page 35: Plurale em revista edição 7

Tentando resumir o debate sobre políticas sociais, visando sua para continuidade, creio

que já temos alguns fatos sobre os quais refletir:

A semelhança entre programas implementados em vários países, com governos de diferen-

tes colorações políticas e ongs de diferentes posturas, faz pensar que estes planejamentos são

quase sempre muito repetitivos e que falta uma análise da coerência entre os pressupostos atri-

buídos aos programas e as metodologias empregadas.

Certamente o desenho das políticas sociais está condicionado pelas opções políticas e por

determinadas visões sobre desigualdade, mas as escolhas podem ser mais criteriosas se consi-

derarmos os conhecimentos de que já dispomos. A facilidade com que se repetem experiências

que não foram avaliadas ou que não tiveram bons resultados é impressionante, simplesmente

porque os recursos precisam ser gastos ou as imagens que documentam as ações precisam ser

divulgadas. Atualmente, já dispomos de amplo conhecimento sobre monitoramento e ava-

liação de resultados, que deve ser usado pelos planejadores para aumentar a eficácia tanto na

esfera pública como na privada.

A participação da sociedade na promoção do desenvolvimento social já é uma realidade e

conta com a mobilização tanto dos empresários e universitários quando dos segmentos de bai-

xa renda, cada qual com seu papel. A contribuição do Terceiro Setor para a renovação de

metodologias para programas sociais, assim como a abertura de canais de participação local

que dão voz aos que demandam oportunidades, formam um novo contexto para a mudança

social.

O combate à pobreza tem sido uma obra de Penélope onde o que se constrói durante um

período se desmancha no momento seguinte. E, freqüentemente se atribui aos pobres a

resistência ao progresso. Atualmente sabemos que a sustentabilidade das mudanças depende

de desenho de programas que incluam a participação dos beneficiados e promovam o desen-

volvimento do capital social que existe em todas as comunidades.

A firme disposição já existente entre os brasileiros para não mais aceitarmos a extrema

desigualdade social será promotora da continuidade do debate sobre a eficácia das políticas

sociais.

que analisa livros e ensaios sobre o tema, escrito em parceria com Helena Sampaio.

Professora aposentada da USP e diretora do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento

(Cebrap), Ruth atuou em instituições como a Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais (Flac-

so/Unesco), a Universidade do Chile (Santiago do Chile), a Maison des Sciences de L'Homme

(Paris), a Universidade de Berkeley (Califórnia) e a Universidade de Columbia (Nova Iorque). Mais

do que palavras, Ruth era uma mulher de ações. A conclusão, extraída do texto que deixou como

legado é a prova mais cabal desse seu comportamento. Confira:

35

SUSTENTABILIDADE, OS DESAFIOS DASPOLÍTICAS SOCIAIS NO SÉCULO 21

POR RUTH CARDOSO

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Page 36: Plurale em revista edição 7

A idéia é criativa e inovadora. A Vale, pre-

ocupada em firmar-se como empresa susten-

tável, criou o Prêmio Brasileiro Imortal: seis

personalidades brasileiras vão batizar novas

espécies descobertas na Reserva Natural de

Linhares, imenso berçário de 22 mil hectares

da biodiversidade mantido pela Vale, no nor-

te do Espírito Santo. O lançamento foi feito

pelo diretor-presidente da Vale, Roger Agne-

lli e pelo ministro do Meio Ambiente, Carlos

Minc. A votação já começou na internet. Para

maiores informações, acesse o site

http://www.brasileiroimortal.com.br/

O bagaço de duas variedades de uva, subpro-

duto do processamento de vinhos e sucos que

normalmente é descartado, pode contribuir

para a redução do risco de cânceres e doenças

cardiovasculares. A conclusão é de Emília Ishi-

moto, pesquisadora do Departamento de

Nutrição da Faculdade de Saúde Pública da

USP. Em sua tese de doutorado, a pesquisado-

ra fez a desidratação e trituração da casca e das

sementes de duas variedades de uva, caber-

net, sauvignon e isabel, para obtenção de um

tipo de farinha de bagaço e, em seguida, para

a elaboração de extratos concentrados.

Com o objetivo de avaliar a capacidade antioxidan-

te do bagaço e sua atuação no perfil lipídico dos ani-

mais, 60 hamsters foram divididos em seis grupos e

submetidos a diferentes dietas. Um grupo utilizado

como controle recebeu alimentação normal e outro

teve dieta acrescida com óleo de côco, de modo a

aumentar o teor de gordura consumido.

Os outros quatro grupos de dez animais se alimen-

taram com subprodutos do bagaço de uva, sendo dois

com extratos e dois com farinhas de vinho, um de cada

variedade da fruta. Depois de cerca de um mês, os pes-

quisadores coletaram amostras de sangue e sacrifica-

ram todos os animais para extrair seus fígados.

PELO BRASIL

36 PLURALE EM REVISTA | Julho/Agosto 2008

U

BRASILEIRO IMORTAL

UVA SAUDÁVEL

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Page 37: Plurale em revista edição 7

Parece que foi ontem. Plurale em revista e Plurale em site completam um ano em outubro. E

a próxima edição da revista, a número 8, de setembro e outubro será ainda mais especial. Repor-

tagens, artigos, fotos e entrevistas de fôlego. Não perca. Fechamento publicitário até 29 de agos-

to. Maiores informações através do e-mail [email protected]

Presença constante em eventos

Plurale em revista e Plurale em site se consolidam como veículos independentes, voltados para

o amplo debate sobre Sustentabilidade. Assim, têm sido presença constante em eventos impor-

tantes deste segmento, como na 10ª Conferência do Instituto Ethos, em São Paulo; do 10º Encon-

tro IBRI/Abrasca, em São Paulo, e no Global Fórum da América Latina, em Curitiba. Outros even-

tos que também terão Plurale como parceiros estão a caminho, como o Congresso Nacional de

Excelência em gestão e o Simpósio Internacional de Transparência, organizados pela Escola de

Engenharia da Universidade Federal Fluminense, entre os dias 31 de julho e 2 de agosto, no Rio

e o 20º Congresso da Apimec, nos dias 20 a 22 de agosto, também no Rio. Quem tiver interesse

em fazer parceria com Plurale deve procurar Sônia Araripe: através do e-mail

[email protected] ou do telefone (21) 3904 0932.

UMANO

de pluraleEDIÇÃO COMEMORATIVA

FECHAMENTO PUBLICITÁRIO DE AGOSTO29

PLURALE EM AÇÃO

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Page 38: Plurale em revista edição 7

Urbanização

uem visita a Estação das Docas, em Belém; o Puerto Madero, emBuenos Aires ou outras regiões portuárias que se transformaramem fervilhantes pólos culturais ou gastronômicos pensa logo por-que o mesmo modelo não pode ser adotado em diversas cidadesbrasileiras. A começar pelo Rio de Janeiro. Pois o sonho pode setornar realidade. Projeto em estudo por técnicos do Banco Nacio-nal de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) planejasolução para estas imensas áreas.

“Estamos estudando qual é a melhor solução. O desafio é con-seguir desenhar um financiamento atrativo e também fazer um bomprojeto social. O S da sigla do banco tem sido bastante praticado”,

BNDES ESTUDA

FÓRMULA QUE

VIABILIZE

A RECUPERAÇÃO

DE REGIÕES ENTORNO

DE PORTOS

INCLUINDO PROJETO

HABITACIONAL

38 PLURALE EM REVISTA | Julho/Agosto 2008

TEXTO [SÔNIA ARARIPE]

FOTOS [DANIEL POLITO]

ÁREAPORTUÁRIAREVITALIZADA

Q

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Page 39: Plurale em revista edição 7

explica Élvio Gaspar, diretor de Inclusão Social do BNDES. A idéia,ainda em estudo, é viabilizar um produto financeiro – como tantosoutros que o Banco oferece – capaz de atrair investidores privadose ainda destinar parte do projeto para geração de construção imo-biliária de baixa renda.

E faz sentido misturar um grande pólo cultural e gastronômicocom construção de moradias para trabalhadores? Élvio está certo quesim. “Estas áreas são gigantescas e têm espaços para desenvolver umprojeto completo.”

No caso do Rio de Janeiro, para quem não acompanhou de per-to, a revitalização da região portuária se arrasta como uma novelahá anos. A Prefeitura chegou a estudar a instalação de um museuGuggenheim, filial do famoso centro de arte moderna em Nova York.Outros tantos projetos também foram vislumbrados, inclusive umshopping, principalmente para a “ponta” do grande corredor dearmazéns hoje vazios, bem próxima da Praça Mauá (Centro cario-ca). O pátio se transformou em um grande estacionamento rotati-vo. O ponto é excelente: além do grande fluxo de quem trabalhaali perto, a região é local de desembarque de dezenas de transatlân-ticos que aportam por ali todos os meses trazendo turistas estran-geiros e brasileiros. Na região portuária do Rio, o BNDES acreditaque poderiam entrar num futuro projeto sete armazéns.

O novo produto que está sendo desenhado pelos técnicos doBNDES prevê a criação de uma Sociedade de Propósito Específico(SPE) para que possa receber, como doação, os terrenos que hoje,na maioria dos casos, pertencem à União. “Queremos criar um pro-duto financeiro que estimule as cidades a construírem projetos comeste perfil. O setor público terá que fazer as concessões.” No casode Buenos Aires, por exemplo, a Prefeitura e o Estado entraram jun-tos. No Porto de Belém, o Estado construiu e a iniciativa privadaarrendou. Esta parceria pública privada é a chave de todo o suces-so. “Em Recife, o processo está bem avançado”, observa o diretordo BNDES.

A expectativa é que ainda em 2008 o Banco lance este novo pro-duto. As condições não foram fechadas, mas poderá prever, porexemplo, arrendamento pelo prazo de 15 anos, com empréstimo ataxa de juros de longo prazo (TJLP) mais algum percentual de juroreal. O banco entraria financiando cerca de 60% a 70% do projeto

e parceiros privados com a par-cela restante.

Pelo projeto em estudo, con-viveriam em uma mesma região,pólo cultural ou gastronômico –ocupando uma parte dos arma-zéns – e um condomínio dehabitações populares. “Há umacarência habitacional muito gran-de e estas áreas são bem próxi-mas do centro, o que facilita avida dos trabalhadores”, afirmaÉlvio. Ele reforça que não sepode expulsar os pobres que jáestão naquela região, habitandosem a menor condição. “Temosque construir um bairro dignopara estas pessoas.”

O grande desafio do novoproduto, lembra o diretor, seráconseguir encaixar também estapreocupação social. Uma equipede consultores está trabalhandona idéia. Arquitetos e urbanistasestão dando o suporte necessá-rio. Além do Rio, também SãoLuis e Salvador poderão teremprendimentos seguindo omesmo modelo. Tudo aindadependerá do avanço nas nego-ciações. Uma parte para lá decomplicada: os terrenos perten-cem ao Estado, mas há um semnúmero de negociações a seremconcluídas – no âmbito Federal,Estadual e Municipal - antes doprojeto se transformar em reali-dade.

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Page 40: Plurale em revista edição 7

Urbanização

40 PLURALE EM REVISTA | Julho/Agosto 2008

BELÉM é exemplo com Estação das Docas

Ao lado do famoso mercado Ver-o-Peso e instalado no cais dorio Guajará: é neste local que foi criada a Estação das Docas, quecompletou oito anos em maio.

A revitalização do antigo porto de Belém uniu a preservaçãoda história e da cultura paraenses à inovação e modernidade arqui-tetônica. Os galpões de ferro da segunda metade do século XIXganharam vidros e climatização e os guindastes usados para trans-porte de carga receberam iluminação cênica, sendo hoje elemen-tos decorativos marcantes. São 32 mil metros quadrados dividi-dos em três armazéns batizados de Boulevard: das Artes, da Gas-tronomia e das Feiras e Exposições.

A Estação das Docas é um grande centro de lazer e entrete-nimento, que se tornou referência cultural e turística na região Nor-te com projetos permanentes e ações temporárias. Merece des-taque a valorização de artistas locais em diversas áreas: música,artes plásticas, teatro, dança, grupos folclóricos, etc.

Freqüentada por turistas e paraenses, oferece conforto: élimpa, segura e possui estacionamento. São oito restaurantes

e uma cervejaria, uma sorveteria, lanchonetes,cinema, teatro, lojas, quiosques de artesanato eprodutos regionais, salões de eventos, serviçosdiversos, agência de viagem (dali mesmo é pos-sível embarcar em passeios turísticos de barcopelo Guajará), exposições permanentes, salaspara festas e auditório. A Estação recebe mais de2 milhões de visitantes por ano, segundo seusadministradores.

A criatividade deu um charme a mais ao local:o Boulevard da Gastronomia possui palcos desli-zantes (antigas estruturas de carga adaptadas) queflutuam acima das mesas.

A Estação das Docas é um espaço culturalcompleto, com um belo cenário fluvial como panode fundo. Projetos engavetados de revitalizaçãoportuária em outras cidades do país podem tomara Estação como exemplo para saírem do papel.

TEXTO [DANIELA TORRES- BELÉM- PA]

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Page 41: Plurale em revista edição 7

OS VELHOS INVEJAM A SAÚDE E VIGORDOS MOÇOS, ESTES NÃO INVEJAM O JUÍZO E A PRUDÊNCIA DOS

VELHOS: UNS CONHECEM O QUE PERDERAM, OSOUTROS DESCONHECEM O QUE

LHES FALTA.

RENUNCIARAO AMOR

PARECIA-ME TÃOINSENSATO

COMODESINTERESSARMO-NOSDA SAÚDEPORQUE

ACREDITAMOS NAETERNIDADE.

SIMONEDE

BEAUVOIR

DENISDIDEROT

A VERDADEIRAFELICIDADE É

IMPOSSÍVEL SEMVERDADEIRA

SAÚDE, E AVERDADEIRA

SAÚDE ÉIMPOSSÍVEL

SEM UM RIGOROSOCONTROLE DAGULA.

GANDHI

COME POUCO AO ALMOÇOE MENOS AINDA AO

JANTAR, QUE A SAÚDEDE TODO O CORPO

CONSTRÓI-SE NAOFICINA DO ESTÔMAGO.

A ESPERANÇA ÉUM ALIMENTO DA

NOSSA ALMA, AOQUAL SE MISTURA

SEMPRE OVENENO DO MEDO.

TERNASCIDO MEESTRAGOUA SAÚDE

CLARICE LISPECTOR

MIGUEL DECERVANTES

O MAIOR ERRO QUEUM HOMEM PODE

COMETER É SACRIFICARA SUA SAÚDE A

QUALQUER OUTRAVANTAGEM.

ARTHURSCHOPENHAUER

Frases

AQUILO QUE SERVE DE ALIMENTO E DE BALSAMOPARA UM TIPO SUPERIOR DE HOMEM,

DEVE SER QUASE VENENO PARA UM TIPO BEMMAIS DIVERSO E INFERIOR."

NIETZSCHE

MARQUÊS DE MARICÁ

VOLTAIRE

A CÓLERA PREJUDICAO SOSSEGO DA VIDA

E A SAÚDE DO CORPO,OFUSCA O JULGAMENTO E

CEGA A RAZÃO.

41

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Page 42: Plurale em revista edição 7

Angelina Jolie está sempre se envolvendo em causas humanitárias e

ecológicas. Por conta disso, a turma do FreakingNews.com a desenhou

como um marlin gigante, que acaba de ser visgado. Pura maldade, mas

que faz sucesso na internet e você confere aqui.

Segundo Angelina Jolie, o maridão Brad Pitt está agora ocupado com

seu primeiro grande projeto de construção em Dubai, nos Emirados.

O projeto é a construção de um hotel cinco estrelas com 880 quartos,

numa localização ainda não anunciada. A construção do complexo hote-

leiro, no entanto, levará em conta as bases da "engenharia verde" por

exigência do ator que contratou a Zabeel, conhecida por seus projetos

ambientalmente sustentáveis na região do Golfo. É esperar para ver.

Depois que o casal comprou a ilha de Etiópia, no novo mapa mundi de

Dubai, tudo é possível.

42 PLURALE EM REVISTA | Julho/Agosto 2008

PELO MUNDO

TEXTO

[YUME IKEDA

TÓQUIO]

FOTO

[DIVULGAÇÃO]

BRAD PITT E A MULHER PEIXE

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Page 43: Plurale em revista edição 7

Os ativistas do PETA (Pessoas para o Tratamento Ético de Animais) são mesmo

inventivos. Estão sempre inventando. Agora, invadiram as ruas de Madri para denun-

ciar a morte de ursos para a produção de chapéus. Os ursos negros normalmente são

caçados no Canadá.

Os ativistas protestaram, nus, em frente a Embaixada Britânica, em Madri, pinta-

dos com detalhes chamando a atenção para o uso de chapéus na Inglaterra, onde são

mais comuns. "Pele exposta não suportará Pele".

URSOS

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O VERDE QUE BROTOU NA CHINATEXTO

[RITA BASTOS

LONDRES]

FOTOS

[DIVULGAÇÃO]

A China buscou inspiração numa antiga e milenar técnica botânica, a topiária para enfei-

tar seus jardinas durante os Jogos Olímpicos de julho. Os Jardins Olímpicos de Pequim

incluem arbustos gigantescos esculpidos para dar forma a atletas, mas o grande destaque

são as mãos que viram cascata e até uma réplica dos templos gregos onde os Jogos tive-

ram origem. É tudo tão bonito que nenhum turista resiste e acaba por tirar várias fotos. É

o lado verde dos Jogos que se realizam numa cidade onde a poluição se pode sentir e pegar

no ar. Não deixa de ser um alerta;

NUS PELOSMADRI

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Page 44: Plurale em revista edição 7

PELO MUNDO

"A última vez que encheu meu tanque, Britney tinha cabelo", "A última vez que encheu

meu tanque, Angelina teve 3 filhos," e, "A última vez que encheu meu tanque, Fidel ainda

governou Cuba. " As frases, divertidas e ousadas, fazem parte da campanha global de Renault

Clio, criada pela agência de publicidade brasileira Neogama, para ressaltar a economia de

combustível do veículo. Visualmente, os anúncios utilizam fotografias e ilustrações de Jeremy

Verde apresentado como um ciclo ininterrupto circular que mostra até onde pode ir com

o seu Renault Clio Campus sem parar para o gás.

O publicitário Alexandre Gama comemora o sucesso da criação.

CELEBRIDADES VÃO DE CARROQUE ECONOMIZA COMBUSTÍVEL

44 PLURALE EM REVISTA | Julho/Agosto 2008

Agora, você pode levar em torno uma fonte renovável de

energia no bolso para abastecer seus gadgets eletrônicos,

como aparelhos celulares, iPod e câmeras digitais. Trata-se

de uma carregador solar de energia, que pode e deve ser usa-

da principalmente para situações de emergência como uma

importante conversa onde são cortadas as ligações devido à

ausência de carga da bateria.

Ele pequeno e funcional, carrega pouca energia, mas é

um princípio que, ecologicamente correto, tem tudo para evo-

luir.

UMA BATERIAECOLÓGICA

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Page 45: Plurale em revista edição 7

De acordo com o estudo realizado pela empre-

sa de consultoria A.T. Kearney, a conta para a Euro-

pa e para a Bélgica de redução de emissões de CO2

impostas pela Comissão Européia dentro do proje-

to da nova diretiva (-20% de 2013 a 2020) será sal-

gada. Para a indústria belga, o custo financeiro está

avaliado em 16,5 bilhões de euros entre 2013 e 2020,

segundo recente matéria publicada no jornal finan-

ceiro belga L'Echo.

Um outro cotidiano belga, La Libre Belgique,

trouxe outras informações : os custos adicionais para

a indústria e o setor energético estão estimados entre

11,2 e 12,4 bilhões de euros para a Bélgica. Segun-

do Laurent Dumarest, sócio-parceiro da A.T. Kear-

ney, este montante vai servir "para comprar anual-

mente 300 milhões de toneladas de CO2 sob a for-

ma de certificados. Isso representa para este perío-

do um custo anual de 1,2 bilhão de euros".

A nível europeu, no mesmo período, o impac-

to varia entre 350 e 400 bilhões de euros, diz o estu-

do.

Laurent Dumarest estima, no entanto, que o

impacto financeiro vai pesar sobre a competitivida-

de de setores como o do cimento. "Algumas

mudanças de empresas para países onde o custo é

mais em conta vão tornar-se rentáveis. Com um cus-

to de CO2 a 38 euros a tonelada, produzir o produ-

to fora da Europa será mais barato incluindo o fre-

te", afirma. Somente para o setor da indústria ener-

gética, o estudo prevê um sobrecusto de 3 a 4

bilhões de euros entre 2013 e 2020.

TEXTO [IVNA MALULY, BRUXELAS]

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C02 CUSTARÁ BILHÕES PARA BELGAS

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Page 46: Plurale em revista edição 7

Meio Ambiente

UM DOS MAIORES ESPECIALISTAS EM FELINOS DO PAÍS INVESTIGA A

SITUAÇÃO DAS ONÇAS. PESQUISA DEVE LEVAR UM ANO

CAVERNASNO INTERIOR, CIÊNCIAE BELEZA

46 PLURALE EM REVISTA | Julho/Agosto 2008

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Page 47: Plurale em revista edição 7

Primeiro abrigo do homem pré-histórico, com o passar do tempo as cavernas se tornarammeras atrações turísticas. É bem verdade que esses espaços vazios em rochas, alguns com pin-turas rupestres, lagoas azuis e formações como as estalagmites, continuam encantando turis-tas em todo o mundo. No entanto, a exploração e o estudo das cavernas, objetos da espeleolo-gia, têm revelado importantes informações científicas, algumas com impacto direto na socie-dade. A verdade é que lapas, grutas, tocas, furnas, locas, ermidas, casas de pedra, buracos e caver-nas, sinônimos, graças à vasta extensão territorial brasileira e à conseqüente diversidade cul-tural, estão despertando cada vez mais, a atenção de cientistas e turistas.

Mais de 10 mil km de galerias já foram mapeadas em todo o mundo e mais de 4.500 caver-nas estão registradas nos cadastros brasileiros, uma parcela muito pequena diante do imensopotencial aqui existente. O estudo dos terrenos cársticos, nos quais as cavernas se formam, éimportante para entender e evitar fenômenos geológicos como a subsidência, ou colapso, deterrenos, como o ocorrido em Cajamar, São Paulo, em 1986.

Fundado em março de 1987, o Grupo Pierre Martin de Espeleologia – GPME- reúne cerca de50 sócios das mais diferentes idades e profissões, que têm em comum a paixão pelas cavernase muita disposição para preservar esse patrimônio. Geólogos, biólogos e geógrafos, mas tam-bém advogados, publicitários, engenheiros e profissionais de informática, que integram o GPMEjá mapearam, exploraram e registraram aproximadamente 600 cavernas. Sócio pleno e funda-dor da Redespeleo, o Grupo é um dos mais ativos do Brasil. Atualmente eles buscam patrocina-dor para publicar um livro comemorativo dos 20 anos do Grupo, já aprovado na Lei Rouanet,bastando apenas conseguir apoiador interessado em utilizar os benefícios da Lei.

TEXTO [NÍCIA RIBAS]

FOTOS [DIVULGAÇÃO/GPME]

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Page 48: Plurale em revista edição 7

Meio Ambiente

48 PLURALE EM REVISTA | Julho/Agosto 2008

TEMOS MAIS CAVERNAS DO QUE PANTANALERICSON CERNAWSKY IGUAL, VICE-PRESIDENTE DO GPMEWWW.GPME.ORG.BR, CONVERSOU COM A PLURALE.

Plurale: Qual a importância da espeleologia para o mundo moderno? Ericson: Além de seus atributos científicos, turísticos e esportivos, hoje a espeleologia pode colabo-

rar, por exemplo, com estudos hidrogeológicos, visando a preservação de aqüíferos em regiões cársticase seu uso racional e sustentável como fonte de abastecimento. É comum encontrar no Brasil cemitériosmal situados em regiões cársticas, que pelas características de recarga do aqüífero se tornam uma fonteconstante de contaminação, assim como a contaminação por agrotóxicos, esgotos urbanos, etc.

No aspecto biológico, as cavernas podem ser consideradas como um banco genético, um “estoque”de fauna pretérita, o registro da história evolutiva de diferentes grupos e de organismos fósseis. No sen-tido de compreender e desvendar essas questões, os estudos espeleológicos correlatos se mostram de extre-ma importância.

O estudo paleoclimático feito em cavernas, através da análise das estalactictes e estalagmites, permiteentender as variações climáticas do passado,dando dicas sobre suas possíveis tendências no futuro.Alémde todos esses aspectos, ainda podemos preservar e conhecer nossa pré-história, através dos estudos arque-ológicos.

O Brasil se destaca por suas florestas, rios, praias e o pantanal. E quanto às cavernas? E: Comparado com outros países, o percentual de áreas carbonáticas com relevo cárstico no Brasil é

pequeno, algo em torno de 5% a 7% do território. Porém, a vasta extensão territorial transforma esse peque-no percentual em uma área de extensões consideráveis. A título comparativo, o Pantanal matogrossenseocupa aproximadamente 2% do território nacional. A grande diferença é que os terrenos cársticos brasi-leiros estão subdivididos em inúmeras frações e localizados por quase todo o território, com destaque paraos estados da Bahia, Goiás e Minas Gerais.

Outra característica interessante do Brasil é o grande volume de cavernas associadas a outras rochasnão carbonáticas, como arenitos, quartzitos, granitos e gnaisses, o que não costuma ser comum. Atualmen-te, o Brasil tem se destacado pelo elevado número de cavernas de ferro descritas. Infelizmente, esse gran-

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de número de cavernas reveladas nessalitologia estão associadas a estudos relacio-nados a empreendimentos e que nãovisam exatamente a preservação.

No aspecto biológico, o Brasil se des-taca pela sua ampla variedade de espéciescavernícolas, com destaque para os pei-xes. Hoje possuímos 24 espécies confirma-das e potencial para mais de 30 espécies,segundo diversos estudos em andamento.Com isso, o Brasil se aproxima do núme-ro de espécies de peixes cavernícolas daChina, que possui o maior número deespécies conhecidas, levando em conside-ração sua extensa área cárstica, proporcio-nalmente muito elevada em comparaçãoao Brasil.

Nossas cavernas estão bem preser-vadas?

E: De certa forma sim, porém, estima-se que apenas 5% de nossas cavernassejam conhecidas pelos espeleólogos econseqüentemente cadastradas, o que nosdeixa com uma impressão muito parcialdo grau de preservação das cavernas bra-sileiras. Ainda temos muito a conhecer edescobrir sobre o patrimônio espeleológi-co brasileiro. Muitas surpresas positivas enegativas ainda estão por vir.

Em nossas expedições, é comum des-cobrirmos cavernas com alto grau de inter-venção antrópica, como a presença de lixoe pichações, a poluição de aqüíferos comesgotos urbanos e agrotóxicos e rebaixa-mento de aqüíferos. Tudo isso comprome-te seriamente a integridade do patrimônioespeleológico. Assim como também obser-vamos excelentes exemplos de preser-vação, a partir de iniciativas locais (prefei-turas, pequenos sitiantes, etc...).

Atualmente se discute mudanças nalegislação brasileira que protege as Cavi-dades Naturais Subterrâneas (Cavernas erespectivos sinônimos regionais). Corre-mos o risco de sair de uma radicalinversão em nossa legislação, atualmentebem protecionista, para uma legislaçãoque permita um alto grau de destruição,em vista da demanda do crescimentoeconômico. A necessidade de velocidadeno licenciamento de empreendimentospode comprometer seriamente o conheci-mento da biodiversidade cavernícola bra-sileira, além da aceleração da destruiçãoirreversível do patrimônio espeleológicocomo um todo.

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Serra do Calcário 2007-2008Área localizada nos municípios baianos de Central, Jussara e Itaguaçu da Bahia. A Serra do Calcário e a

região de Central, apesar de ser muito conhecida no aspecto arqueológico e paleontológico, até o ano de2000 era inédita para a comunidade espeleológica. A partir de 2004, o GPME intensificou o número de visi-tas em expedições com pequeno contingente e curtos períodos. O potencial revelado nessas ocasiões demons-trou que a região merecia maior atenção. No réveillon 2007/2008, o GPME realizou uma expedição de gran-de porte, utilizando como sede a escola municipal Rui Barbosa, localizada na área urbana da cidade de Cen-tral.

Essa expedição, além do objetivo espeleológico e a integração com a comunidade local, teve um impor-tante fator de compromisso social, com os participantes, valorizando o voluntariado em ações sociais, comdoações de roupas, calçados, brinquedos e até computadores. Em paralelo, a expedição contou com o apoiodo Projeto Idéia Fixa pela Educação que doou 500 livros de histórias infantis, que foram repassados ao acer-vo didático da Escola Rui Barbosa.

Presidente Olegário - MGApesar de descrita em alguns documentos históricos de exploradores e naturalistas do passado e poste-

riormente na publicação “As Grutas em Minas Gerais - IBGE1939”, até 2007 o município nunca havia sidovisitado por espeleólogos, podendo também ser considerado inédito sob a ótica espeleológica. Em meadosde setembro de 2007, com base nessas referências históricas e com o apoio da prefeitura municipal, umaprimeira expedição de reconhecimento com apenas dois participantes, num período de nove dias, revelou32 cavernas novas e reencontrou duas descritas em IBGE-1939, sendo que 13 delas foram mapeadas.

O incrível potencial empolgou os membros do GPME e, em novembro, uma segunda expedição, commaior contingente, mas em período mais curto, descobriu 22 novas cavernas e mapeou sete destas.

O potencial cientifico, biológico e geológico, observado nessas duas primeiras expedições animou o Gru-po a realizar uma terceira expedição, em abril de 2008, dessa vez sem objetivos de explorações e mapea-mento, mas voltada totalmente para levantamentos científicos.

E assim como na Expedição Serra do Calcário, a expedição contou com o apoio do Projeto Idéia Fixapela Educação que doou 400 livros de histórias infantis, repassados ao acervo didático de diversas escolasdo município.

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Meio Ambientecavernas:tecnologia.qxd 21/7/2008 20:34 Page 5

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inclusão social

SOLUÇÕESTEXTO [ISABEL CAPAVERDE, GASPAR - SC]

FOTOS [DIVULGAÇÃO]

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locaisAS EMPRESAS BUNGE DO BRASIL, ATRAVÉS DE SUA FUNDAÇÃO, INTERAGEM

COM AS COMUNIDADES NO ENTORNO DE SUAS UNIDADES PROMOVENDO AÇÕES

EDUCATIVAS QUE VALORIZAM INICIATIVAS REGIONAIS.

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Um menino que mudou para o outro lado da cida-de e faz questão de continuar na mesma escolapública do antigo bairro por causa do “Boi”,como ele próprio justifica sua escolha. Uma mãeque conta orgulhosa que alguns pais que tem fil-hos no melhor colégio particular da região, já pen-

sam em transferir as crianças para a escola pública onde estuda suafilha. A escola pública em questão e a Educação Básica Professo-ra Angélica Souza Costa, localizada em Gaspar, cidade do Vale doItajaí no interior catarinense. O que ela tem de especial? O Proje-to Cantar, uma parceria da escola com a Fundação Bunge, entida-de social das empresas Bunge do Brasil. A convite da Fundação,Plurale foi ver de perto os resultados de um projeto que utilizan-do a musicalidade e a valorização da cultura local – no caso, o fol-clore de Santa Catarina com o “Boi de Mamão” – vem mudandonos últimos quatro anos a realidade do ensino e do bairro perifé-rico de Sertão Verde, onde funciona a escola que tem 210 alunos.Histórias como a do menino e da mãe são exemplos comprova-dos pelos números na Angélica, como a escola é conhecida na cida-de. Depois do Projeto Cantar houve 32% de aumento da partici-pação dos pais na escola, 4% de aumento no índice de presençade alunos, 2% de aumento de matrículas e 1% de diminuição noíndice de reprovação de alunos.

Com atividades focadas na área da educação, com ênfase noensino fundamental, a Fundação escolheu a Angélica para a par-ceria através de seleção que contou com a ajuda de uma consul-tora pedagógica local, Ângela Hoemke. O passo seguinte foilevantar a realidade de Sertão Verde, o contexto social da comu-nidade. Uma área carente, com moradores oriundos de muitosoutros municípios do estado e de estados vizinhos, por isso mes-mo, discriminados na cidade. As crianças não sonhavam e tinhambaixa auto-estima. Com o apoio da Fundação, os professoresidentificaram o ensino da música como forma de aproximar pais,alunos e a comunidade da escola, integrar e diminuir preconcei-tos. Através da iniciação musical possibilitariam às crianças expe-riências mais ricas como o ensino de canto e voz, pesquisas e levan-tamentos sobre o assunto visitando espaços culturais, criando ins-trumentos musicais com materiais reciclados e tendo aulas de flau-ta, que segundo especialistas, é a porta de entrada para a alfabe-tização musical.

Para orientar esses novos ensinamentos contrataram três pro-fessores de música. Além deles, a Angélica teve o reforço dos volun-tários capacitados do Comunidade Educativa – nome do progra-ma de voluntariado das empresas Bunge. Assim os alunos começa-ram sua viagem pelo mundo da música e do folclore da região,temas que passaram também a ser abordados em disciplinas comogeografia, história, matemática, expressão e linguagem, dando umnovo colorido ao aprendizado. Ensaiaram ainda a dança do “Boi-de-mamão”, produzindo eles mesmos os bonecos e o figurino dospersonagens da história. Criaram o Grupo Folclórico Mirim do Boide Mamão que hoje é convidado para apresentações nas festivida-des do município. E desde o ano passado, a escola ganhou o

Espaço Cultural Sertão Verde construí-do pela Fundação Bunge, com o obje-tivo de abrigar as atividades educacio-nais e culturais, integrando à comuni-dade ao Projeto Cantar.

Na Angélica às terças-feiras sãoansiosamente aguardadas pelascrianças. Segundo a diretora Nilsa Ger-trudes Sabel, é dia do Projeto Cantaracontecer. Portanto, não é de estranharvermos alunos tão animados apesar dafria tarde de inverno. Percorrendo assalas da escola há crianças desenhando,outras fazendo exercícios vocais, algu-mas esculpindo massinhas, desenhan-do e um grupo tocando flauta. Todosmuitos concentrados. A dedicação dosprofessores também é visível. Comouma estufa elétrica ligada num canto dasala da aula de flauta. Um cuidado daprofessora que trouxe a estufa de casapara aquecer os dedos de seus alu-nos.“Tivemos o caso de uma aluna quechegou aqui na escola com nove anose uma enorme dificuldade de aprendi-zado. Mas demonstrou interesse emaprender flauta. Dali por diante seudesempenho foi melhorando. A mãeficou tão feliz que mesmo sem con-dições financeiras, comprou uma flau-ta para a filha continuar ensaiando emcasa”, lembra a diretora.

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TROCANDO EXPERIÊNCIAS NORECICRIAR

O Grupo Folclórico Mirim Boi de Mamão foi uma das experiências bem-suce-didas apresentadas durante o ReciCriar – a pedagogia do possível, um dos pro-gramas da Fundação Bunge, que organiza encontros entre os educadores da redepública de ensino fundamental para troca de experiências em palestras e ofici-nas de capacitação. O ReciCriar realizado em Gaspar no mês de junho, reuniuprofessores da cidade e de cidades próximas como Itajaí, Blumenau, Ilhota e Riodo Sul. Graças à parceria da Fundação com as Secretarias Municipal – e Estadual– de Educação, os professores são liberados para participar do evento que emgeral dura dois dias.

Em Gaspar, reunidos no CDAL – Centro de Divulgação Ambiental e Lazer,os educadores tiveram oportunidade de conhecer além de iniciativas de Santa Cata-rina como o Projeto Cantar com o seu Boi de Mamão e o Projeto Pequenos Poe-tas da professora Kátia Testoni Longen, de Atalanta – que aproximou os alunosda poesia resgatando através deste gênero literário o prazer da leitura e da criação– o Projeto A Dança Popular na Escola, do professor Cláudio de Almeida Caval-cante, do Rio Grande do Norte, em que a criação de grupos de danças folclóri-cas, como o boi calemba, dentro da escola estimulou a pesquisa, o registro e arecriação de danças populares, preservando a cultura tradicional. Kátia e Cláu-dio são profissionais agraciados com o Prêmio Professores do Brasil, organizadoanualmente pela Fundação Bunge junto com a Fundação Orsa e o Ministério daEducação.

inclusão socialEm meio a uma das oficinas,

Rosmari Hostins, professora do CDIVovó Leonida, creche que atendecrianças de uma área carente de Gas-par, diz que é a terceira vez que par-ticipa de um ReciCriar. “Não temos ofi-cinas desse tipo na região e sempre épossível aproveitar alguma coisa quese aprende aqui em sala de aula. Agente tem que fazer adaptações, masleva idéias interessantes. Os meus alu-nos estão na faixa etária dos cincoanos, então, não é possível fazer umaburra para cada um”, fala apontandopara o trabalho manual que desenvol-via baseado no folclore do Rio Gran-de do Norte, “mas fazemos uma eeles levam para casa, mostram para ospais, brincam e criam histórias”. Foiassim que ano passado Rosmari fezcom eles um carrinho de garrafa pet.Cada um deles levou o carrinho paracasa, com o compromisso de trazer devolta no dia seguinte para que o cole-ga tivesse sua vez. “Todos trouxeramo carrinho de volta sem nenhum estra-go. Os pais contaram que foi umafesta em casa e que muitos chegarama dormir abraçados no carrinho”, falarindo.

Já Vera Lúcia Simões, profes-sora da região que atualmente morana Espanha onde faz um programa dedoutorado com foco na educaçãoinfantil na Universidade de Barcelona,quis aproveitar suas férias no Brasil eparticipar das oficinas. “Na Espanhadou aulas numa escola onde cerca de90% dos alunos são imigrantes etemos feito um trabalho para aproxi-mar as mães marroquinas das mãeslatinas. Há muito preconceito, espe-cialmente por parte das mães latinas.E música e dança aproximam as pes-soas há uma melhor socialização. Oque está sendo feito aqui pode seraproveitado lá e vice-versa”, acreditaVera que tem muitas idéias para numfuturo próximo, fazer uma ponte entrea educação fundamental do Brasil e daEspanha.

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Em seus 53 anos de existência a Fundação Bunge passou por várias fases. Mas nos últi-mos anos vem se relacionando com as comunidades do entorno das unidades das empre-sas Bunge – Bunge Alimentos e Bunge Fertilizantes – de forma diferente. Até mesmo por-que, hoje a Fundação funciona como uma diretoria de responsabilidade social da empre-sa. “Há cada dois meses nos sentamos e discutimos com a presidência da empresa comoa área social pode participar na gestão do negócio. O trabalho da Fundação reflete a cul-tura da empresa. Nossas ações são baseadas em quatro valores. Na parceira com as esco-las, comunidades e com os governos municipais e estaduais. No respeito às realidades locais,pois não podemos chegar impondo soluções. Na importância do protagonismo, ou seja,no envolvimento de todos no processo e no reconhecimento da importância da contribuiçãodo outro”, enfatiza Cláudia Calais, gerente de projetos da Fundação Bunge.

Dessa maneira, fugindo do modelo “receita de bolo” comum nas entidades sociaiscorporativas que implementam projetos semelhantes não importando a região do país, aFundação está envolvida em projetos distintos como o Cantar em Santa Catarina e o Baúdo Saber-Fazer, em Uruçuí, Pernambuco, onde baús com materiais como fantasias, brinque-dos e livros são utilizados por professores como recurso pedagógico. “Trabalhamos comcoisas simples o que pode tornar a operação mais difícil, mas funciona muito melhor. Àsvezes nos surpreendemos ao conversar com o professor e ver que a única coisa que elequer é um pouco de atenção para a sua atividade. Os professores precisam ser estimula-dos. A Fundação não pode assumir a responsabilidade da escola ou do Estado. Mas somosfacilitadores, podemos ajudar a abrir caminhos”, diz Cláudia.

Voluntários, coordenadores e consultores pedagógicos locais, todos são capacita-dos e treinados regularmente e ao final de cada ano apresentam seus resultados, juntamen-te com as escolas parceiras. “A Fundação, como qualquer departamento da empresa, bus-ca a qualidade, possui metas claras e objetivos específicos. Entendendo sempre que é neces-sário respeitar a especificidade de tempo da área social”.

FUGINDO DO MODELO “RECEITA DE BOLO”

CLÁUDIA CALAIS

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age

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� Este espaço é destinado à divulgação de produtos éticos e decomércio solidário de empresas, cooperativas, instituições e ONGs

éticofuturartemineira

57 >BazarFolhas de jornais e

revistas velhas servem

para embrulhar peixe.

Certo? Nem tão somente.

Jovens artesãos da

Futurarte estão

revolucionando o uso de

papel em bolsas,

bandejas e até relógios.

A Futurarte é uma

cooperativa criada pela

Instituição Social

Ramacrisna. Uma bolsa

feminina para noite foi

premiada em feira de

design alemã. Contatos

podem ser feitos pelo site

http://www.ramacrisna.or

g.br/futu_baixo.htm ou

pela Tom Geraes na

Rua São Paulo, 1830,

Belo Horizonte,

telefone (31) 3291-3311.

BazarEtico:tecnologia.qxd 15/7/2008 00:00 Page 1

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PELAS EMPRESAS

A Petrobras lançou em julho o

Balanço Social e Ambiental de 2007.

O gerente de Responsabilidade

Social da Petrobras, Luiz Fernando

Nery, explicou que a publicação

apresenta inovações e avanços. Uma

das mudanças foi aferir o desempen-

ho com base na adoção exclusiva

dos indicadores GRI (Global Repor-

ting Initiative), cujas diretrizes são

reconhecidas internacionalmente por

empresas e instituições que publicam

relatórios de sustentabilidade. Além

das versões em português, inglês e

espanhol, pela primeira vez a Petro-

bras também disponibiliza um

balanço em braile para quem requi-

sitar. Exemplares podem ser solicita-

dos pelo e-mail balancosocial@petro-

bras.com.br. A versão online está dis-

ponível na página da empresa na

internet (www.petrobras.com.br) A

edição do Balanço referente ao ano

de 2006 foi eleita pelos leitores o

melhor relatório do mundo no GRI

Readers' Choice Awards, premiação

realizada pela Global Reporting Ini-

tiative em maio deste ano.

BALANÇO EMBRAIILE

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A Gerdau Cosigua, usina do grupo Gerdau em Santa Cruz (RJ), rei-

naugurou, em julho, o projeto Plantando Futuro. O programa, que leva

educação ambiental a cerca de 150 pessoas da região de Piranema,

município de Itaguaí, ganhou um viveiro de mudas de plantas nativas

da Mata Atlântica. Os próprios beneficiados pelo projeto serão respon-

sáveis pelo cultivo das plantas. A previsão é que sejam plantadas 40

mil mudas que, posteriormente, serão vendidas para as indústrias da

região - inclusive para a Gerdau Cosigua. O valor arrecadado com a

comercialização será inteiramente aplicado no projeto.

EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Cotidiano é a nossa cota diária de vida. As coisas mais gosto-

sas são ainda mais gostosas todo dia. Esse foi o ponto de parti-

da da Natura para o relançamento da linha de cuidados diários

Natura Tododia. São novos hidratantes corporais, sabonetes líqui-

dos, hidratantes para mãos e pés, sabonetes em barra e hidratan-

tes para o rosto com ingredientes gourmand, embalagens lúdicas,

texturas diferenciadas e fragrâncias envolventes. Os produtos

estarão à venda a partir de agosto.

TODO DIA

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O Itaú, banco que historica-

mente valoriza a cultura nacional,

lançou o Itaúbrasil, que tem

como objetivo enaltecer e difun-

dir o que o País tem de melhor.

Em sua primeira edição, o Itaú-

brasil presta uma homenagem

aos 50 anos da Bossa Nova.

Para enriquecer o evento, o

Itaúbrasil irá promover uma série

de shows reunindo a nova

geração da MPB em homenagem

a João Donato além de um con-

certo com Miúcha e Os Cariocas.

No dia 15 de agosto no Rio de

Janeiro e dia 25 e 26 de agosto

em São Paulo, acontece o show

historico que colocará no mesmo

palco Roberto Carlos e Caetano

Veloso cantando a obra de Tom

Jobim.

BANCOBOSSA NOVA

Seis hectares da sede

da Fazenda Vitória, da

Suzano Papel e Celulose,

localizada no bairro da

Saudade, em Pilar do Sul

(SP), foram cedidos em

comodato por dez anos

para a prefeitura local.

A proposta da

administração municipal é

criar ali um núcleo de

educação ambiental para

alunos do ensino

fundamental e um centro

de pesquisa e resgate do

patrimônio histórico da

região, a começar pelas

instalações da fazenda.

BOMEXEMPLO

Preocupadas com o futuro do planeta, a Caloi e Instituto e se uniram para

o lançamento do Projeto Carbon Free, que aborda e alerta sobre os problemas

da emissão de gás carbônico na atmosfera. O Projeto Carbon Free é compos-

to por uma instalação cultural - chamada R(e)volution, e os lançamentos de uma

série especial de camisetas e bicicletas exclusivas - produtos que serão comer-

cializadas em algumas lojas Osklen e no site da Caloi. Parte das vendas das cami-

setas será destinada ao Instituto. As camisetas da série e-bike, assim como as

bicicletas Caloi e-brigade Carbon Free, por sua vez, foram especialmente

desenhadas para o projeto por Oscar Metsavath.

CALOICARBONO

FREE

ESTE ESPAÇO É DESTINADO A NOTÍCIAS DE EMPRESAS.

ENVIE NOTÍCIAS E FOTOS PARA [email protected]

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PLURALE 60 >

Cor

EnsaioEny Miranda é mineira denascimento, mas seconsidera nordestina,quase ‘severina’, nasina de retratar a duravida de quem lá nasceu.Já fez um sem-número deviagens para diferentespequenas cidades daregião árida da Bahia,Pernambuco, Alagoas eSergipe. Em Canudos, porexemplo, encantou-se comas cores e história.Aproveitou também abrisa e os cheiros deoutras paradas.Embrenhou-se pelo sertãoeternizado em prosa everso por GuimarãesRosa, João Cabral deMelo Neto, ArianoSuassuna e tantosoutros. Costuma voltaraos mesmos lugares parareencontrar personagensque viraram parte de suavida. O bêbado Amor, noentanto, é lembrado comsaudades: morreu afogadoenquanto nadava à noiteno Rio São Francisco.Povoa agora as históriasda poeta fotográfica EnyMiranda que divide seutrabalho com os leitoresde Plurale neste ensaio.

MORTE E VIDA[ FOTOS ENY MIRANDA ]SEVERINA

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Cordilheira de Sal: região de colorido incomum e intenso apesar da aridez de suas mutantes crateras

61 >

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PLURALEEnsaio 62 >

O NORDESTINOÉ ANTES DETUDO UM FORTE

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63 >

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s o n i a a r a r i p e @ p l u r a l e . c o m . b r

CARBONO NEUTRO SÔNIA ARARIPE

O Brasil, definitivamente, marca presença como um dos grandes mercados de créditos de carbono. Após

dois anos de negociação, a Cantor CO2, braço ambiental da Cantor Fitzgerald, uma das maiores corretoras dos

Estados Unidos, acertou fusão com a Ecológica Assessoria. “Temos focos bem parecidos. E eles, apesar de serem

grandes brokers, não tem capital aberto”, explica Divaldo Rezende, sócio-fundador da Ecológica com Stefano

Merlin, há 12 anos. A carteira atual já corresponde a 10% dos créditos de projetos de desenvolvimento limpos de

grandes clientes, como Natura, Gerdau, Energia do Brasil e Eletrosul, ou 20 milhões de toneladas de CO2. As

perspectivas são ainda mais favoráveis. Rezende frisou à esta coluna que o time de executivos, apesar do conhe-

cimento e trânsito global, continuará sendo 100% nacional. “Temos sido requisitados na América do Sul e tam-

bém na África.” O mercado global está em franca expansão, chegando até julho último ao tamanho de todo o

ano de 2007, de US$ 60 bilhões (65% acima do que o de 2007). Sem falar no mercado voluntário de carbono,

que apesar de bem menor – US$ 330 milhões – tem crescimento de 70%.

FUSÃO DE PESO

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O diretor de tecnologia da

Shell, da matriz, na Holanda,

Jan van der Eijk revelou para o

correspondente Marcelo Ninio,

da Folha de S. Paulo, que o

grupo está realmente interessa-

do em investir no biocombustí-

vel. Segundo Eijk, o álcool bra-

sileiro tem todas as vantagens

para torná-lo um investimento

atraente e defendeu também

outras fontes de biocombustí-

vel, como a celulose.

Acredite se quiser. Mas uma equipe de pesquisadores

britânicos, dirigidos pela cientista espanhola Mercedes

Maroto-Valer, desenvolveu tecnologia que transforma o

dióxido de carbono (CO2) em gás natural. O estudo está sendo

realizado na Universidade de Nottingham, na Inglaterra.

SHELL NOMERCADO BIO

O Carbon Disclosure Project

(CDP) anunciou no fim de jun-

ho a contratação da Pricewater-

houseCoopers como assessor

estratégico do projeto. Formado

por um consórcio de 385 gran-

des gestores de fundos globais

que juntos administram US$ 57

trilhões, o CDP tem como obje-

tivo avaliar as emissões de dió-

xido de carbono de milhares de

empresas no mundo.

PRICE É ESCOLHIDA

O MILAGRE DA TRANSFORMAÇÃO

Mais um estudo sobre o desmatamento crescente. De acordo com estudo

americano publicado na revista Pnas, as florestas tropicais do mundo todo

encolheram o equivalend a mais de um Estado de São Paulo entre 2000 e

2005. Agora, ente adivinhar onde quase metade de toda esta destruição oco-

rreu? Acertou quem pensou no Brasil.

DE TIRAR O SONO

RELATÓRIO STERN BRASILEIROEstá sendo confeccionado por especialistas brasileiros um estudo

para calcular os prejuízos que o aquecimento global poderá trazer para

o desenvolvimento. O patrocínio é do Reino Unido, coordenado pela

Academia Brasieira de Ciência. Já está sendo chamado de “Relatório

Stern” nacional, em uma alusão ao estudo de Sir Nicholas Stern (chefe

do serviço econômico britânico), publicado em 2006, alertando para os

perigos de não se fazer nada contra o atual ritmo de emissões. O efeito,

de acordo com o Relatório Stern original, é de uma queda de 5% a 20%

no PIB mundial, cerca de US$ 7 trilhões até o final do século. Qual será

o efeito no Brasil? O resultado só sai em 2009.

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PLURALE

A CIDADE PROIBIDA ESTÁ DE PORTAS ABERTAS PARA OLÍMPIADAS. CONSTRUÍDA ENTRE 1406 E 1420, O COMPLEXO TEM 980

EDIFÍCIOS SOBREVIVENTES, COM 8.707 SECÇÕES DE SALAS E 720 MIL METROS QUADRADOS. PALÁCIO IMPERIAL DA CHINA,

A CIDADE A QUAL SÓ TINHA ACESSO O IMPERADOR, DURANTE 500 ANOS, ATÉ 1912, FOI O CENTRO DO PODER EM PEQUIM.

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por Marcello Casal Jr./AbrC

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onde você vê alegria, você vê O Boticário.

Respeito, cuidado e atitude são tão importantes para o ser humano quanto para uma empresa. No Boticário, esses valores estão presentes na fabricação

dos produtos, no atendimento nas lojas e em nossa cadeia de relacionamentos – do consumidor ao colaborador. Estão também na Fundação O Boticário de

Proteção à Natureza, que há mais de 17 anos apóia e mantém centenas de projetos de conservação ambiental. E norteiam nossos projetos sociais e culturais

nas comunidades. Isso porque O Boticário entende que uma empresa só tem sentido quando trabalha para o futuro da sociedade e a preservação dos recursos

naturais do País. É por isso que O Boticário se reinventa. Para você viver num mundo ainda melhor.

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