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Este inferno de amar Quem mo pôs aqui n Esta chama que alen que é a vida - e que Como é que se veio Quando - ai quando Eu não sei, não me le A outra vida que dan Era um sonho talvez Em que paz tão sere Oh! Que doce era aq quem me veio, ai de Só me lembra que u eu passei... dava o So E os meus olhos, que em seus olhos arden que fez ela? Eu que f mas nessa hora a viv r - como eu amo! na alma...quem foi? nta e consome, a vida destrói atear, se há-de ela apagar? embra; o passado, ntes vivi z...-foi um sonho- ena dormi! quele sonhar... e mim! Despertar? um dia formoso ol tanta luz! e vagos airavam, ntes os pus, fiz? - Não no sei, ver comecei... A Almeida Garrett

Poemas

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Alguns dos poemas para seleção pelos alunos

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  • Este inferno de amar

    Quem mo ps aqui na alma...quem foi?

    Esta chama que alenta e consome,

    que a vida - e que a vida destri

    Como que se veio atear,

    Quando - ai quando se h

    Eu no sei, no me lembra; o passado,

    A outra vida que dantes vivi

    Era um sonho talvez...

    Em que paz to serena dormi!

    Oh! Que doce era aquele sonhar...

    quem me veio, ai de mim! Despertar?

    S me lembra que um dia formoso

    eu passei... dava o Sol tanta luz!

    E os meus olhos, que vagos ai

    em seus olhos ardentes os pus,

    que fez ela? Eu que fiz?

    mas nessa hora a viver comecei...

    Este inferno de amar - como eu amo!

    Quem mo ps aqui na alma...quem foi?

    Esta chama que alenta e consome,

    e que a vida destri

    Como que se veio atear,

    ai quando se h-de ela apagar?

    Eu no sei, no me lembra; o passado,

    ra vida que dantes vivi

    Era um sonho talvez...-foi um sonho-

    Em que paz to serena dormi!

    Oh! Que doce era aquele sonhar...

    quem me veio, ai de mim! Despertar?

    S me lembra que um dia formoso

    eu passei... dava o Sol tanta luz!

    E os meus olhos, que vagos airavam,

    em seus olhos ardentes os pus,

    que fez ela? Eu que fiz? - No no sei,

    mas nessa hora a viver comecei...

    Almeida Garrett

    Almeida Garrett

  • No te amo, quero-te: o amor vem

    d'alma.

    E eu n 'alma tenho a calma,

    A calma do jazigo.

    Ai! no te amo, no.

    No te amo, quero-te: o amor vida.

    E a vida nem sentida

    A trago eu j comigo.

    Ai, no te amo, no!

    Ai! no te amo, no; e s te quero

    De um querer bruto e fero

    Que o sangue me devora,

    No chega ao corao.

    No te amo. s bela; e eu no te amo,

    bela.

    Quem ama a aziaga estrela

    Que lhe luz na m hora

    Da sua perdio?

    E quero-te, e no te amo, que

    forado,

    De mau, feitio azado

    Este indigno furor.

    Mas oh! no te amo, no.

    E infame sou, porque te quero; e tanto

    Que de mim tenho espanto,

    De ti medo e terror...

    te: o amor vem

    tenho a calma,

    te: o amor vida.

    Ai! no te amo, no; e s te quero

    De um querer bruto e fero

    No te amo. s bela; e eu no te amo,

    uem ama a aziaga estrela

    te, e no te amo, que

    E infame sou, porque te quero; e tanto

    Que de mim tenho espanto,

    Mas amar!... no te amo, no.

    Pois essa luz cintilante

    Que brilha no teu semblante

    Donde lhe vem o splendor?

    No sentes no peito a chama

    Que aos meus suspiros se inflama

    E toda reluz de amor?

    Pois a celeste fragrncia

    Que te sentes exalar,

    Pois, dize, a ingnua elegncia

    Com que te vs ondular

    Como se baloia a flor

    Na Primavera em verdor,

    Dize, dize: a natureza

    Pode dar tal gentileza?

    Quem ta deu seno amor?

    V-te a esse espelho, querida,

    Ai!, v-te por tua vida,

    E diz se h no cu estrela,

    Diz-me se h no prado flor

    Que Deus fizesse to bela

    Como te faz meu amor.

    Mas amar!... no te amo, no.

    Que brilha no teu semblante

    Donde lhe vem o splendor?

    No sentes no peito a chama

    Que aos meus suspiros se inflama

    Pois a celeste fragrncia

    Pois, dize, a ingnua elegncia

    Com que te vs ondular

    Na Primavera em verdor,

    Quem ta deu seno amor?

    te a esse espelho, querida,

    se h no cu estrela,

    me se h no prado flor

    Que Deus fizesse to bela

    Como te faz meu amor.

    Almeida Garrett

  • Os versos que te fiz

    Deixa dizer-te os lindos versos raros

    Que a minha boca tem pra te dizer!

    So talhados em mrmore de Paro

    Cinzelados por mim pra te oferecer.

    Tm dolncia de veludos caros,

    So como sedas plidas a arder...

    Deixa dizer-te os lindos versos raros

    Que foram feitos pra te endoidecer!

    Mas, meu Amor, eu no tos digo ainda...

    Que a boca da mulher sempre linda

    Se dentro guarda um verso que no diz!

    Amo-te tanto! E nunca te beijei...

    E nesse beijo, Amor, que eu te no dei

    Guardo os versos mais lindos que te fiz!

    te os lindos versos raros

    Que a minha boca tem pra te dizer!

    So talhados em mrmore de Paros

    Cinzelados por mim pra te oferecer.

    Tm dolncia de veludos caros,

    So como sedas plidas a arder...

    te os lindos versos raros

    Que foram feitos pra te endoidecer!

    Mas, meu Amor, eu no tos digo ainda...

    Que a boca da mulher sempre linda

    Se dentro guarda um verso que no diz!

    te tanto! E nunca te beijei...

    E nesse beijo, Amor, que eu te no dei

    Guardo os versos mais lindos que te fiz!

    Florbela Espanca

    Florbela Espanca

  • Teus olhos

    Olhos do meu Amor! Infantes loiros

    Que trazem os meus presos, e

    Neles deixei, um dia, os meus tesoiros:

    Meus anis, minhas rendas, meus brocados.

    Neles ficaram meus palcios moiros,

    Meus carros de combate, destroados,

    Os meus diamantes, todos os meus oiros

    Que trouxe d'Alm-Mundos ignorados!

    Olhos do meu Amor! Fontes... cisternas...

    Enigmticas campas medievais...

    Jardins de Espanha... catedrais eternas...

    Bero vindo do Cu minha porta...

    meu leito de npcias irreais!...

    Meu sumptuoso tmulo de morta!...

    Olhos do meu Amor! Infantes loiros

    Que trazem os meus presos, endoidados!

    Neles deixei, um dia, os meus tesoiros:

    Meus anis, minhas rendas, meus brocados.

    Neles ficaram meus palcios moiros,

    Meus carros de combate, destroados,

    Os meus diamantes, todos os meus oiros

    Mundos ignorados!

    u Amor! Fontes... cisternas...

    Enigmticas campas medievais...

    Jardins de Espanha... catedrais eternas...

    Bero vindo do Cu minha porta...

    meu leito de npcias irreais!...

    Meu sumptuoso tmulo de morta!...

    Florbela Espanca

    Florbela Espanca

  • Este Inferno de Amar

    Este Inferno de Amar

    Este inferno de amar - como eu amo!

    Quem mo ps n'alma... quem foi?

    Esta chama que alenta e consome,

    Que a vida - e que a vida destri

    Como que se veio a atear,

    Quando - ai quando se h de ela apagar?

    Eu no sei, no me lem

    A outra vida que dantes vivi

    Era um sonho talvez... -

    Em que paz to serana dor

    Oh! que doce era aquele sonhar...

    Quem me veio, ai de mim! desper

    S me lembra que um dia formoso

    Eu passei... dava o Sol tanta luz!

    E os meus olhos, que vagos giravam,

    Em seus olhos ardentes os pus.

    Que fez ela? eu que fiz?

    Mas nessa hora a viver comecei...

    como eu amo!-

    Quem mo ps n'alma... quem foi?

    que alenta e consome,

    e que a vida destri-

    Como que se veio a atear,

    ai quando se h de ela apagar?

    Eu no sei, no me lembra: o passado,

    A outra vida que dantes vivi

    - foi um sonho -

    Em que paz to serana dormi!

    Oh! que doce era aquele sonhar...

    Quem me veio, ai de mim! despertar?

    S me lembra que um dia formoso

    Eu passei... dava o Sol tanta luz!

    s meus olhos, que vagos giravam,

    Em seus olhos ardentes os pus.

    Que fez ela? eu que fiz? - No no sei;

    Mas nessa hora a viver comecei...

    Almeida Garret

  • O poema que o poeta propositadamente escreveu

    para repetir muitas vezes amor,

    Para que um dia, quando o Crebro Electrnico

    contar as palavras que o poeta escreveu,

    conclua que a palavra qu

    Este o poema do amor.

    O poema que o poeta propositadamente escreveu

    s para falar de amor,

    de amor,

    de amor,

    de amor,

    para repetir muitas vezes amor,

    amor,

    amor,

    amor.

    Para que um dia, quando o Crebro Electrnico

    contar as palavras que o poeta escreveu,

    tantos que,

    tantos se,

    tantos lhe,

    tantos tu,

    tantos ela,

    tantos eu,

    conclua que a palavra que o poeta mais vezes escreveu

    foi amor,

    amor,

    amor.

    Este o poema do amor.

    O poema que o poeta propositadamente escreveu

    Para que um dia, quando o Crebro Electrnico

    e o poeta mais vezes escreveu

    Antnio Gedeo

  • Pensar em ti coisa delicada.

    um diluir de tinta espessa e farta

    e o pass

    com um pincel de marta.

    Um pesar gros de nada em

    um armar de arames cauteloso e atento,

    um proteger a chama contra o vento,

    pentear cabelinhos de criana.

    Um desembaraar de linhas de costura,

    um correr sobre l que ningum saiba e oia,

    um planar de gaivota como um lbio a sorrir.

    Penso em ti com tamanha ternura

    como se fosses vidro ou pelcula de loia

    que apenas com o pensar te pudesses partir.

    Pensar em ti coisa delicada.

    um diluir de tinta espessa e farta

    e o pass-la em finssima aguada

    com um pincel de marta.

    Um pesar gros de nada em mnima balana,

    um armar de arames cauteloso e atento,

    um proteger a chama contra o vento,

    pentear cabelinhos de criana.

    Um desembaraar de linhas de costura,

    um correr sobre l que ningum saiba e oia,

    um planar de gaivota como um lbio a sorrir.

    em ti com tamanha ternura

    como se fosses vidro ou pelcula de loia

    que apenas com o pensar te pudesses partir.

    Antnio Gedeo

    um diluir de tinta espessa e farta

    mnima balana,

    um armar de arames cauteloso e atento,

    um proteger a chama contra o vento,

    Um desembaraar de linhas de costura,

    um correr sobre l que ningum saiba e oia,

    um planar de gaivota como um lbio a sorrir.

    em ti com tamanha ternura

    como se fosses vidro ou pelcula de loia

    que apenas com o pensar te pudesses partir.

    Antnio Gedeo

  • No chame o meu amor de Idolatria

    Nem de dolo realce a quem eu amo,

    Pois todo o meu cantar a um s se alia,

    E de uma s maneira eu o proclamo.

    hoje e sempre o meu amor galante,

    Inaltervel, em grande excelncia;

    Por isso a minha rima to constante

    A uma s coisa e exclui a diferena.

    'Beleza, Bem, Verdade', eis o que exprimo;

    'Beleza, Bem, Verdade', todo o acento

    E em tal mudana est tudo o que primo,

    Em um, trs temas, de amplo movimento.

    'Beleza, Bem, Verdade' ss, outrora;

    Num mesmo ser vivem juntos agora.

    No chame o meu amor de Idolatria

    Nem de dolo realce a quem eu amo,

    Pois todo o meu cantar a um s se alia,

    maneira eu o proclamo.

    hoje e sempre o meu amor galante,

    Inaltervel, em grande excelncia;

    Por isso a minha rima to constante

    A uma s coisa e exclui a diferena.

    'Beleza, Bem, Verdade', eis o que exprimo;

    'Beleza, Bem, Verdade', todo o acento;

    E em tal mudana est tudo o que primo,

    Em um, trs temas, de amplo movimento.

    'Beleza, Bem, Verdade' ss, outrora;

    Num mesmo ser vivem juntos agora.

    William Shakespeare

    William Shakespeare

  • Coisa Amar

    Contar-te longamente as perigosas

    coisas do mar. Contar

    e as ilhas que s h no verbo amar.

    Contar-te longamente longamente.

    Amor ardente. Amor ardente. E mar.

    Contar-te longamente as misteriosas

    maravilhas do verbo navegar.

    E mar. Amar: as coisas perigosas.

    Contar-te longamente que j foi

    num tempo doce coisa amar. E mar.

    Contar-te longamente como

    desembarcar nas ilhas misteriosas.

    Contar-te o mar ardente e o verbo amar.

    E longamente as coisas perigosas.

    te longamente as perigosas

    coisas do mar. Contar-te o amor ardente

    e as ilhas que s h no verbo amar.

    te longamente longamente.

    Amor ardente. Amor ardente. E mar.

    te longamente as misteriosas

    maravilhas do verbo navegar.

    Amar: as coisas perigosas.

    te longamente que j foi

    num tempo doce coisa amar. E mar.

    te longamente como di

    desembarcar nas ilhas misteriosas.

    te o mar ardente e o verbo amar.

    E longamente as coisas perigosas.

    Manuel Alegre

  • Deduo

    No acabaro nunca com o amor,

    nem as rusgas,

    nem a distncia.

    Est provado,

    pensado,

    verificado.

    Aqui levanto solene

    minha estrofe de mil dedos

    e fao o juramento:

    Amo

    firme,

    fiel

    e verdadeiramente.

    No acabaro nunca com o amor,

    nem a distncia.

    Aqui levanto solene

    minha estrofe de mil dedos

    e fao o juramento:

    adeiramente.

    Vladimir Maiakvski

    Vladimir Maiakvski

  • Perguntei a um sbio,

    a diferena que havia

    entre amor e amizade,

    ele me disse essa verdade...

    O Amor mais sensvel,

    a Amizade mais segura.

    O Amor nos d asas,

    a Amizade o cho.

    No Amor h mais carinho,

    na Amizade compreenso.

    O Amor plantado

    e com carinho cultivado,

    a Amizade vem faceira,

    e com troca de alegria e tristeza,

    torna-se uma grande e querida

    companheira.

    Mas quando o Amor sincero

    ele vem com um grande amigo,

    e quando a Amizade concreta,

    ela cheia de amor e carinho.

    Quando se tem um amigo

    ou uma grande paixo,

    ambos sentimentos coexistem

    dentro do seu corao.

    William S

    ele me disse essa verdade...

    O Amor mais sensvel,

    a Amizade mais segura.

    No Amor h mais carinho,

    na Amizade compreenso.

    e com carinho cultivado,

    a Amizade vem faceira,

    e com troca de alegria e tristeza,

    se uma grande e querida

    Mas quando o Amor sincero

    em com um grande amigo,

    e quando a Amizade concreta,

    ela cheia de amor e carinho.

    Quando se tem um amigo

    ou uma grande paixo,

    ambos sentimentos coexistem

    dentro do seu corao.

    William Shakespeare

  • Soneto de Fidelidade

    De tudo ao meu amor serei atento

    Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto

    Que mesmo em face do maior encanto

    Dele se encante mais meu pensamento.

    Quero viv-lo em cada vo momento

    E em seu louvor hei de espalhar meu ca

    E rir meu riso e derramar meu pranto

    Ao seu pesar ou seu contentamento

    E assim, quando mais tarde me procure

    Quem sabe a morte, angstia de quem vive

    Quem sabe a solido, fim de quem ama

    Eu possa me dizer do amor (que tive):

    Que no seja imortal, pos

    Mas que seja infinito enquanto dure.

    Soneto de Fidelidade

    De tudo ao meu amor serei atento

    Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto

    Que mesmo em face do maior encanto

    Dele se encante mais meu pensamento.

    lo em cada vo momento

    E em seu louvor hei de espalhar meu canto

    E rir meu riso e derramar meu pranto

    Ao seu pesar ou seu contentamento

    E assim, quando mais tarde me procure

    Quem sabe a morte, angstia de quem vive

    Quem sabe a solido, fim de quem ama

    Eu possa me dizer do amor (que tive):

    Que no seja imortal, posto que chama

    Mas que seja infinito enquanto dure.

    Vincius de MoraesVincius de Moraes

  • Soneto do Amor Total

    Amo-te tanto, meu amor ... no cante

    O humano corao com mais verdade ...

    Amo-te como amigo e

    Numa sempre diversa realidade.

    Amo-te afim, de um calmo amor prestante

    E te amo alm, presente na saudade.

    Amo-te, enfim, com grande liberdade

    Dentro da eternidade e a cada instante.

    Amo-te como um bicho, simplesmente

    De um amor sem mistrio

    Com um desejo macio e permanente.

    E de te amar assim, muito e amide

    que um dia em teu corpo de repente

    Hei de morrer de amar mais do que pude.

    Soneto do Amor Total

    te tanto, meu amor ... no cante

    O humano corao com mais verdade ...

    te como amigo e como amante

    Numa sempre diversa realidade.

    te afim, de um calmo amor prestante

    E te amo alm, presente na saudade.

    te, enfim, com grande liberdade

    Dentro da eternidade e a cada instante.

    te como um bicho, simplesmente

    De um amor sem mistrio e sem virtude

    Com um desejo macio e permanente.

    E de te amar assim, muito e amide

    que um dia em teu corpo de repente

    Hei de morrer de amar mais do que pude.

    Vincius de Moraes

  • URGENTEMENTE

    urgente o amor.

    urgente um barco no mar.

    urgente destruir certas palavras,

    dio, solido e crueldade,

    Alguns lamentos,

    Muitas espadas.

    urgente inventar a alegria,

    Multiplicar as searas,

    urgente descobrir rosas e rios

    E manhs claras.

    Cai o silncio nos ombros e a luz

    Impura, at doer.

    urgente o amor, urgente

    Permanecer.

    ENTEMENTE

    urgente o amor.

    urgente um barco no mar.

    urgente destruir certas palavras,

    dio, solido e crueldade,

    Alguns lamentos,

    Muitas espadas.

    urgente inventar a alegria,

    Multiplicar as searas,

    urgente descobrir rosas e rios

    E manhs claras.

    Cai o silncio nos ombros e a luz

    Impura, at doer.

    urgente o amor, urgente

    Eugnio de Andrade

    Eugnio de Andrade

  • O amor

    um nome de mulher

    na boca de um homem.

    O amor

    uma flor perfeita

    na lapela de um homem s.

    O amor

    um continente sem fronteiras

    para que tudo acontea.

    O amor

    a alegria do corpo

    sem vergonha de amar.

    O amor

    dividir somente

    o que se pode partilhar.

    O amor

    uma cidade azul

    no dorso de uma nuvem.

    O amor

    um rapaz loucamente

    apaixonado por uma rapariga.

    O amor

    to fcil e to simples

    que at se torna difcil.

    O amor

    tudo aquilo que um dia

    ganhamos coragem para ser.

    O amor

    gostarmos de ns

    e sabermos porqu. Jos Jorge Letria

  • Aquele que o meu corao ama

    ergueu-se do meu leito e nele esqueceu

    as repetidas promessas de um regresso

    em que a

    a nica maneira de esconder

    o prenncio de invisveis desertos

    aquele que o meu corao ama

    afogou em noites de leite e mel

    teciam a sede do desejo no meu peito

    e bebeu neles as horas de um destino que

    me acena

    aquele que o meu corao ama

    partiu s cegas sem descobrir

    as hmidas palavras que se espalham

    sombra dos ciprestes

    contando os minutos que faltam

    para a vertigem do corpo onde o aguardo

    Aquele que o meu corao ama

    se do meu leito e nele esqueceu

    as repetidas promessas de um regresso

    em que aos meus olhos ensinaria

    a nica maneira de esconder

    o prenncio de invisveis desertos

    aquele que o meu corao ama

    afogou em noites de leite e mel

    o rasto dos osis que

    teciam a sede do desejo no meu peito

    e bebeu neles as horas de um destino que

    me acenava de muito longe

    aquele que o meu corao ama

    partiu s cegas sem descobrir

    as hmidas palavras que se espalham

    sombra dos ciprestes

    contando os minutos que faltam

    para a vertigem do corpo onde o aguardo

    se do meu leito e nele esqueceu

    as repetidas promessas de um regresso

    teciam a sede do desejo no meu peito

    e bebeu neles as horas de um destino que

    as hmidas palavras que se espalham

    para a vertigem do corpo onde o aguardo

    Alice Vieira

  • Um segundo uma hora

    e uma ho

    no relgio da paixo.

    No h tempo nesse tempo.

    Quem ama nunca sabe

    E as horas tambm no sabem

    onde os amantes esto.

    No relgio da paixo

    O tempo pra, retrocede, avana.

    No est parado nem est

    Est perdi

    Como tu, que amas, apenas dana.

    Um segundo uma hora

    e uma hora um segundo

    no relgio da paixo.

    No h tempo nesse tempo.

    Quem ama nunca sabe

    as horas que so.

    E as horas tambm no sabem

    onde os amantes esto.

    No relgio da paixo

    O tempo pra, retrocede, avana.

    No est parado nem est

    em movimento.

    Est perdido, mas no est perdido.

    Como tu, que amas, apenas dana.

    lvaro Magalhes

    E as horas tambm no sabem

    O tempo pra, retrocede, avana.

    do, mas no est perdido.

    Como tu, que amas, apenas dana.

    lvaro Magalhes

  • O amor o amor

    Vamos ficar os dois

    a imaginar, a imaginar?

    O meu peito contra o teu peito,

    cortando o mar, cortando o ar.

    h todo o espao para amar!

    Na nossa carne estamos

    sem destino, sem medo, sem pudor,

    e trocamos

    esprito e calor!

    O amor o amor

    O amor o amor- e depois?!

    Vamos ficar os dois

    a imaginar, a imaginar?

    O meu peito contra o teu peito,

    cortando o mar, cortando o ar.

    Num leito

    h todo o espao para amar!

    Na nossa carne estamos

    sem destino, sem medo, sem pudor,

    e trocamos- somos um? somos dois?

    esprito e calor!

    O amor o amor- e depois?!

    Alexandre ONeill

    e depois?!

    O meu peito contra o teu peito,

    cortando o mar, cortando o ar.

    h todo o espao para amar!

    sem destino, sem medo, sem pudor,

    somos um? somos dois?-

    e depois?!

    Alexandre ONeill

  • Foi para ti que criei as rosas

    Foi para ti que lhes dei perfume

    Para ti rasguei ribeiros

    e dei s roms a cor do lume.

    Foi para ti que criei as rosas

    Foi para ti que lhes dei perfume

    Para ti rasguei ribeiros

    dei s roms a cor do lume.

    Eugnio de Andrade

    Foi para ti que criei as rosas

    Foi para ti que lhes dei perfume

    dei s roms a cor do lume.

    Eugnio de Andrade

  • uma ave a tremer

    nas mos de uma criana.

    Serve

    que as manhs mais limpas

    O amor

    uma ave a tremer

    nas mos de uma criana.

    Serve-se de palavras

    por ignorar

    que as manhs mais limpas

    no tm voz.

    Eugnio de Andrade

    nas mos de uma criana.

    que as manhs mais limpas

    Eugnio de Andrade

  • Se eu fosse peixe e tu fosses mar

    nadava por dentro de ti

    e vivia do teu corpo.

    Se eu fosse pssaro e tu fosses ar

    cortava

    sem nunca te magoar.

    Se eu fosse sol e tu fosses neve

    em rio transformava

    e havias de ver o mar.

    Se eu fosse chuva e tu

    cresciam de um dia para o outro

    as flores na tua pele.

    Se eu fosse vento e tu fosses vela

    levava

    por sobre as ondas do mar.

    fosse peixe e tu fosses mar

    nadava por dentro de ti

    e vivia do teu corpo.

    Se eu fosse pssaro e tu fosses ar

    cortava-te como uma flecha

    sem nunca te magoar.

    Se eu fosse sol e tu fosses neve

    em rio transformava

    e havias de ver o mar.

    Se eu fosse chuva e tu fosses terra

    cresciam de um dia para o outro

    as flores na tua pele.

    Se eu fosse vento e tu fosses vela

    levava-te a ver o mundo

    por sobre as ondas do mar.

    Joo Pedro Msseder

    fosse peixe e tu fosses mar

    Se eu fosse pssaro e tu fosses ar

    fosses terra

    Se eu fosse vento e tu fosses vela

    Joo Pedro Msseder

  • T

    como a hera que envolve as paredes da casa.

    e que arranhes a cal da minha pele

    e te aninhes nos meus ouvidos fendas

    e perturbes a porta minha boca.

    procures o perigo das janelas

    e enfrentes os meus olhos

    infinitos de mgoa

    noite e assombrao.

    Teu amor absoluto

    como a hera que envolve as paredes da casa.

    Quero ser a casa

    e que arranhes a cal da minha pele

    e te aninhes nos meus ouvidos fendas

    e perturbes a porta minha boca.

    E por fim

    procures o perigo das janelas

    e enfrentes os meus olhos

    infinitos de mgoa

    noite e assombrao.

    Rosa Lobato de Faria

    como a hera que envolve as paredes da casa.

    e que arranhes a cal da minha pele

    e te aninhes nos meus ouvidos fendas

    e perturbes a porta minha boca.

    Rosa Lobato de Faria

  • Quantas

    Vai o meu corao

    Quantas horas perdi

    foi por ti que as ganhei

    Quantas horas perdi

    foi por ti

    que as perdi.

    Vai o meu corao

    repetiu a lio:

    Quantas horas perdi

    foi por ti que as ganhei

    Sebastio da Gama

    foi por ti que as ganhei

    Sebastio da Gama

  • para ti soltei o perfume da terra

    e pensei que tudo estava em ns

    simplesmente

    Foi para ti

    que desfolhei a chuva

    para ti soltei o perfume da terra

    toquei no nada

    e para ti foi tudo

    Para ti criei todas as palavras

    e todas me faltaram

    no minuto em que talhei

    o sabor do sempre

    Para ti dei voz

    s minhas mos

    abri os gomos do tempo

    assaltei o mundo

    e pensei que tudo estava em ns

    nesse doce engano

    de tudo sermos donos

    sem nada termos

    simplesmente porque era de noite

    e no dormamos

    eu descia em teu peito

    para me procurar

    e antes que a escurido

    nos cingisse a cintura

    ficvamos nos olhos

    vivendo de um s

    amando de uma s vida

    Mia Couto

  • Disseram

    como fazem os apaixonados.

    Quero um poema teu.

    Em vez disso entrancei

    de luas

    e de quartos

    E passei a noite, em branco, contigo.

    Disseram-me para olhar a lua

    como fazem os apaixonados.

    Nada aconteceu.

    Quero um poema teu.

    Em vez disso entrancei-te uma grinalda

    de luas-cheias-de-promessas

    e de quartos-crescentes-de-desejo.

    E passei a noite, em branco, contigo.

    Teresa Guedes

    me para olhar a lua

    como fazem os apaixonados.

    te uma grinalda

    promessas

    desejo.

    E passei a noite, em branco, contigo.

    Teresa Guedes

  • Naquela Praa

    Hei-de encontrar-te ali

    naquela praa que talvez j no exista.

    Praa da palavra.

    Praa da cano.

    Praa de bandeiras a beijar

    os primeiros odores da primavera.

    Hei-de encontrar-te um dia

    ao alto da cidade

    partilhando po

    azeitonas

    e poema.

    Ali

    naquela praa que talvez j no exista

    hei-de encontrar-te um dia

    e seguiremos

    abraando

    as laranjeiras

    desfraldando

    uma vez mais

    a nossa voz ao vento.

    te ali

    alvez j no exista.

    Praa de bandeiras a beijar

    os primeiros odores da primavera.

    te um dia

    naquela praa que talvez j no exista

    te um dia

    a nossa voz ao vento.

    Jos Fanha

  • Aprendamos, amor, com estes montes

    Que, to longe do mar, sabem o jeito

    De banhar no azul dos horizontes.

    Faamos o que certo e de dire

    Dos desejos ocultos outras fontes

    E desamos ao mar do nosso leito.

    Aprendamos, amor, com estes montes

    Que, to longe do mar, sabem o jeito

    De banhar no azul dos horizontes.

    Faamos o que certo e de direito:

    Dos desejos ocultos outras fontes

    E desamos ao mar do nosso leito.

    Jos Saramago

    Aprendamos, amor, com estes montes

    Que, to longe do mar, sabem o jeito

    Jos Saramago

  • Quem diz que Amor falso ou enganoso,

    Ligeiro, ingrato, vo desconhecido,

    Sem falta lhe ter bem merecido

    Que lhe seja cruel ou rigoroso.

    Amor brando, doce,

    Quem o contrrio diz no seja crido;

    Seja por cego e apaixonado tido,

    E aos homens, e inda aos Deuses, odioso.

    Se males faz Amor em mim se vem;

    Em mim mostrando todo o seu rigor,

    Ao mundo quis mostrar quanto podia.

    Mas todas suas iras so

    Todos os seus males so um bem,

    Que eu por todo outro bem no trocaria.

    Quem diz que Amor falso ou enganoso,

    Ligeiro, ingrato, vo desconhecido,

    Sem falta lhe ter bem merecido

    Que lhe seja cruel ou rigoroso.

    Amor brando, doce, e piedoso.

    Quem o contrrio diz no seja crido;

    Seja por cego e apaixonado tido,

    E aos homens, e inda aos Deuses, odioso.

    Se males faz Amor em mim se vem;

    Em mim mostrando todo o seu rigor,

    Ao mundo quis mostrar quanto podia.

    Mas todas suas iras so de Amor;

    Todos os seus males so um bem,

    Que eu por todo outro bem no trocaria.

    Lus de Cames

    Lus de Cames

  • Busque Amor novas artes, novo engenho

    Pera matar-me, e novas esquivanas,

    Que no pode tirar

    Que mal me tirar o

    Olhai de que esperanas me mantenho!

    Vede que perigosas seguranas!

    Que no temo contrastes nem mudanas,

    Andando em bravo mar, perdido o lenho.

    Mas, enquanto no pode haver desgosto

    Onde esperana falta, l me esconde

    Amor um mal, que

    Que dias h que na alma me tem posto

    Um no sei qu, que nasce no sei onde,

    Vem no sei como e di no sei porqu.

    Lus de Cames

    Busque Amor novas artes, novo engenho

    me, e novas esquivanas,

    Que no pode tirar-me as esperanas,

    Que mal me tirar o que eu no tenho.

    Olhai de que esperanas me mantenho!

    Vede que perigosas seguranas!

    Que no temo contrastes nem mudanas,

    Andando em bravo mar, perdido o lenho.

    Mas, enquanto no pode haver desgosto

    Onde esperana falta, l me esconde

    Amor um mal, que mata e no se v,

    Que dias h que na alma me tem posto

    Um no sei qu, que nasce no sei onde,

    Vem no sei como e di no sei porqu.

    Lus de Cames

  • O Amor

    O amor, quando se revela,

    No se sabe revelar.

    Sabe bem olhar p'ra ela,

    Mas no lhe sabe falar.

    Quem quer dizer o que sente

    No sabe o que h de *dizer.

    Fala: parece que mente

    Cala: parece esquecer

    Ah, mas se ela adivinhasse,

    Se pudesse ouvir o olhar,

    E se um olhar lhe bastasse

    Pr'a saber que a esto a amar!

    Mas quem sente muito, cala;

    Quem quer dizer quanto sente

    Fica sem alma nem fala,

    Fica s, inteiramente!

    Mas se isto puder contar-lhe

    O que no lhe ouso contar,

    J no terei que falar-lhe

    Porque lhe estou a falar..

    Quem quer dizer o que sente

    No sabe o que h de *dizer.

    Pr'a saber que a esto a amar!

    Quem quer dizer quanto sente

    lhe

    Fernando Pessoa

  • Porque quem ama nunca sabe o que ama

    Nem sabe porque ama, nem o que amar

    Amar a eterna inocncia,

    E a nica inocncia, no pensar...

    quem ama nunca sabe o que ama

    Nem sabe porque ama, nem o que amar

    Amar a eterna inocncia,

    E a nica inocncia, no pensar...

    Fernando Pessoa

    quem ama nunca sabe o que ama

    Nem sabe porque ama, nem o que amar

    Fernando Pessoa

  • fcil trocar as palavras,

    Difcil interpretar os silncios!

    fcil caminhar lado a lado,

    Difcil saber como se encontrar!

    fcil beijar o rosto,

    Difcil chegar ao corao!

    fcil apertar as mos,

    Difcil reter o calor!

    fcil sentir o amor,

    Difcil conter sua torrente!

    Como por dentro outra pessoa?

    Quem que o saber sonhar?

    A alma de outrem outro universo

    Com que no h comunicao possvel,

    Com que no h verdadeiro entendimento.

    Nada sabemos da alma

    Seno da nossa;

    As dos outros so olhares,

    So gestos, so palavras,

    Com a suposio

    De qualquer semelhana no fundo."

    Difcil interpretar os silncios!

    fcil caminhar lado a lado,

    saber como se encontrar!

    Difcil chegar ao corao!

    Difcil conter sua torrente!

    Como por dentro outra pessoa?

    Quem que o saber sonhar?

    trem outro universo

    Com que no h comunicao possvel,

    Com que no h verdadeiro entendimento.

    De qualquer semelhana no fundo."

    Fernando Pessoa

  • Todas as Cartas de Amor so Ridculas

    Todas as cartas de amor so

    Ridculas.

    No seriam cartas de amor se no fossem

    Ridculas.

    Tambm escrevi em meu tempo cartas de amor,

    Como as outras,

    Ridculas.

    As cartas de amor, se h amor,

    Tm de ser

    Ridculas.

    Mas, afinal,

    S as criaturas que nunca escreveram

    Cartas de amor

    que so

    Ridculas.

    Quem me dera no tempo em que escrevia

    Sem dar por isso

    Cartas de amor

    Ridculas.

    A verdade que hoje

    As minhas memrias

    Dessas cartas de amor

    que so

    Ridculas.

    (Todas as palavras esdrxulas,

    Como os sentimentos esdrxulos,

    So naturalmente

    Ridculas.)

    Todas as Cartas de Amor so Ridculas

    Todas as cartas de amor so

    No seriam cartas de amor se no fossem

    Tambm escrevi em meu tempo cartas de amor,

    As cartas de amor, se h amor,

    S as criaturas que nunca escreveram

    Quem me dera no tempo em que escrevia

    or

    (Todas as palavras esdrxulas,

    Como os sentimentos esdrxulos,

    lvaro de Campos

  • A paixo do velho Pires, o marinheiro

    Ai, o amor quando nos toca

    como se tocasse um sino

    um hino, um trino

    de um alegre passar

    Vou voar para o teu ninho

    vou tentar fazer o pino

    vou ser bailarino

    argentino, desatino

    Mas que hei-de eu fazer?

    O amor um furaco

    desgovernando

    a minha embarcao

    A paixo do velho Pires, o marinheiro

    Ai, o amor quando nos toca

    como se tocasse um sino

    um hino, um trino

    de um alegre passarinho

    Vou voar para o teu ninho

    vou tentar fazer o pino

    vou ser bailarino

    argentino, desatino

    de eu fazer?

    O amor um furaco

    desgovernando

    a minha embarcao

    Srgio Godinho

    A paixo do velho Pires, o marinheiro

    Srgio Godinho