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Alguns dos poemas para seleção pelos alunos
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Este inferno de amar
Quem mo ps aqui na alma...quem foi?
Esta chama que alenta e consome,
que a vida - e que a vida destri
Como que se veio atear,
Quando - ai quando se h
Eu no sei, no me lembra; o passado,
A outra vida que dantes vivi
Era um sonho talvez...
Em que paz to serena dormi!
Oh! Que doce era aquele sonhar...
quem me veio, ai de mim! Despertar?
S me lembra que um dia formoso
eu passei... dava o Sol tanta luz!
E os meus olhos, que vagos ai
em seus olhos ardentes os pus,
que fez ela? Eu que fiz?
mas nessa hora a viver comecei...
Este inferno de amar - como eu amo!
Quem mo ps aqui na alma...quem foi?
Esta chama que alenta e consome,
e que a vida destri
Como que se veio atear,
ai quando se h-de ela apagar?
Eu no sei, no me lembra; o passado,
ra vida que dantes vivi
Era um sonho talvez...-foi um sonho-
Em que paz to serena dormi!
Oh! Que doce era aquele sonhar...
quem me veio, ai de mim! Despertar?
S me lembra que um dia formoso
eu passei... dava o Sol tanta luz!
E os meus olhos, que vagos airavam,
em seus olhos ardentes os pus,
que fez ela? Eu que fiz? - No no sei,
mas nessa hora a viver comecei...
Almeida Garrett
Almeida Garrett
No te amo, quero-te: o amor vem
d'alma.
E eu n 'alma tenho a calma,
A calma do jazigo.
Ai! no te amo, no.
No te amo, quero-te: o amor vida.
E a vida nem sentida
A trago eu j comigo.
Ai, no te amo, no!
Ai! no te amo, no; e s te quero
De um querer bruto e fero
Que o sangue me devora,
No chega ao corao.
No te amo. s bela; e eu no te amo,
bela.
Quem ama a aziaga estrela
Que lhe luz na m hora
Da sua perdio?
E quero-te, e no te amo, que
forado,
De mau, feitio azado
Este indigno furor.
Mas oh! no te amo, no.
E infame sou, porque te quero; e tanto
Que de mim tenho espanto,
De ti medo e terror...
te: o amor vem
tenho a calma,
te: o amor vida.
Ai! no te amo, no; e s te quero
De um querer bruto e fero
No te amo. s bela; e eu no te amo,
uem ama a aziaga estrela
te, e no te amo, que
E infame sou, porque te quero; e tanto
Que de mim tenho espanto,
Mas amar!... no te amo, no.
Pois essa luz cintilante
Que brilha no teu semblante
Donde lhe vem o splendor?
No sentes no peito a chama
Que aos meus suspiros se inflama
E toda reluz de amor?
Pois a celeste fragrncia
Que te sentes exalar,
Pois, dize, a ingnua elegncia
Com que te vs ondular
Como se baloia a flor
Na Primavera em verdor,
Dize, dize: a natureza
Pode dar tal gentileza?
Quem ta deu seno amor?
V-te a esse espelho, querida,
Ai!, v-te por tua vida,
E diz se h no cu estrela,
Diz-me se h no prado flor
Que Deus fizesse to bela
Como te faz meu amor.
Mas amar!... no te amo, no.
Que brilha no teu semblante
Donde lhe vem o splendor?
No sentes no peito a chama
Que aos meus suspiros se inflama
Pois a celeste fragrncia
Pois, dize, a ingnua elegncia
Com que te vs ondular
Na Primavera em verdor,
Quem ta deu seno amor?
te a esse espelho, querida,
se h no cu estrela,
me se h no prado flor
Que Deus fizesse to bela
Como te faz meu amor.
Almeida Garrett
Os versos que te fiz
Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que a minha boca tem pra te dizer!
So talhados em mrmore de Paro
Cinzelados por mim pra te oferecer.
Tm dolncia de veludos caros,
So como sedas plidas a arder...
Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que foram feitos pra te endoidecer!
Mas, meu Amor, eu no tos digo ainda...
Que a boca da mulher sempre linda
Se dentro guarda um verso que no diz!
Amo-te tanto! E nunca te beijei...
E nesse beijo, Amor, que eu te no dei
Guardo os versos mais lindos que te fiz!
te os lindos versos raros
Que a minha boca tem pra te dizer!
So talhados em mrmore de Paros
Cinzelados por mim pra te oferecer.
Tm dolncia de veludos caros,
So como sedas plidas a arder...
te os lindos versos raros
Que foram feitos pra te endoidecer!
Mas, meu Amor, eu no tos digo ainda...
Que a boca da mulher sempre linda
Se dentro guarda um verso que no diz!
te tanto! E nunca te beijei...
E nesse beijo, Amor, que eu te no dei
Guardo os versos mais lindos que te fiz!
Florbela Espanca
Florbela Espanca
Teus olhos
Olhos do meu Amor! Infantes loiros
Que trazem os meus presos, e
Neles deixei, um dia, os meus tesoiros:
Meus anis, minhas rendas, meus brocados.
Neles ficaram meus palcios moiros,
Meus carros de combate, destroados,
Os meus diamantes, todos os meus oiros
Que trouxe d'Alm-Mundos ignorados!
Olhos do meu Amor! Fontes... cisternas...
Enigmticas campas medievais...
Jardins de Espanha... catedrais eternas...
Bero vindo do Cu minha porta...
meu leito de npcias irreais!...
Meu sumptuoso tmulo de morta!...
Olhos do meu Amor! Infantes loiros
Que trazem os meus presos, endoidados!
Neles deixei, um dia, os meus tesoiros:
Meus anis, minhas rendas, meus brocados.
Neles ficaram meus palcios moiros,
Meus carros de combate, destroados,
Os meus diamantes, todos os meus oiros
Mundos ignorados!
u Amor! Fontes... cisternas...
Enigmticas campas medievais...
Jardins de Espanha... catedrais eternas...
Bero vindo do Cu minha porta...
meu leito de npcias irreais!...
Meu sumptuoso tmulo de morta!...
Florbela Espanca
Florbela Espanca
Este Inferno de Amar
Este Inferno de Amar
Este inferno de amar - como eu amo!
Quem mo ps n'alma... quem foi?
Esta chama que alenta e consome,
Que a vida - e que a vida destri
Como que se veio a atear,
Quando - ai quando se h de ela apagar?
Eu no sei, no me lem
A outra vida que dantes vivi
Era um sonho talvez... -
Em que paz to serana dor
Oh! que doce era aquele sonhar...
Quem me veio, ai de mim! desper
S me lembra que um dia formoso
Eu passei... dava o Sol tanta luz!
E os meus olhos, que vagos giravam,
Em seus olhos ardentes os pus.
Que fez ela? eu que fiz?
Mas nessa hora a viver comecei...
como eu amo!-
Quem mo ps n'alma... quem foi?
que alenta e consome,
e que a vida destri-
Como que se veio a atear,
ai quando se h de ela apagar?
Eu no sei, no me lembra: o passado,
A outra vida que dantes vivi
- foi um sonho -
Em que paz to serana dormi!
Oh! que doce era aquele sonhar...
Quem me veio, ai de mim! despertar?
S me lembra que um dia formoso
Eu passei... dava o Sol tanta luz!
s meus olhos, que vagos giravam,
Em seus olhos ardentes os pus.
Que fez ela? eu que fiz? - No no sei;
Mas nessa hora a viver comecei...
Almeida Garret
O poema que o poeta propositadamente escreveu
para repetir muitas vezes amor,
Para que um dia, quando o Crebro Electrnico
contar as palavras que o poeta escreveu,
conclua que a palavra qu
Este o poema do amor.
O poema que o poeta propositadamente escreveu
s para falar de amor,
de amor,
de amor,
de amor,
para repetir muitas vezes amor,
amor,
amor,
amor.
Para que um dia, quando o Crebro Electrnico
contar as palavras que o poeta escreveu,
tantos que,
tantos se,
tantos lhe,
tantos tu,
tantos ela,
tantos eu,
conclua que a palavra que o poeta mais vezes escreveu
foi amor,
amor,
amor.
Este o poema do amor.
O poema que o poeta propositadamente escreveu
Para que um dia, quando o Crebro Electrnico
e o poeta mais vezes escreveu
Antnio Gedeo
Pensar em ti coisa delicada.
um diluir de tinta espessa e farta
e o pass
com um pincel de marta.
Um pesar gros de nada em
um armar de arames cauteloso e atento,
um proteger a chama contra o vento,
pentear cabelinhos de criana.
Um desembaraar de linhas de costura,
um correr sobre l que ningum saiba e oia,
um planar de gaivota como um lbio a sorrir.
Penso em ti com tamanha ternura
como se fosses vidro ou pelcula de loia
que apenas com o pensar te pudesses partir.
Pensar em ti coisa delicada.
um diluir de tinta espessa e farta
e o pass-la em finssima aguada
com um pincel de marta.
Um pesar gros de nada em mnima balana,
um armar de arames cauteloso e atento,
um proteger a chama contra o vento,
pentear cabelinhos de criana.
Um desembaraar de linhas de costura,
um correr sobre l que ningum saiba e oia,
um planar de gaivota como um lbio a sorrir.
em ti com tamanha ternura
como se fosses vidro ou pelcula de loia
que apenas com o pensar te pudesses partir.
Antnio Gedeo
um diluir de tinta espessa e farta
mnima balana,
um armar de arames cauteloso e atento,
um proteger a chama contra o vento,
Um desembaraar de linhas de costura,
um correr sobre l que ningum saiba e oia,
um planar de gaivota como um lbio a sorrir.
em ti com tamanha ternura
como se fosses vidro ou pelcula de loia
que apenas com o pensar te pudesses partir.
Antnio Gedeo
No chame o meu amor de Idolatria
Nem de dolo realce a quem eu amo,
Pois todo o meu cantar a um s se alia,
E de uma s maneira eu o proclamo.
hoje e sempre o meu amor galante,
Inaltervel, em grande excelncia;
Por isso a minha rima to constante
A uma s coisa e exclui a diferena.
'Beleza, Bem, Verdade', eis o que exprimo;
'Beleza, Bem, Verdade', todo o acento
E em tal mudana est tudo o que primo,
Em um, trs temas, de amplo movimento.
'Beleza, Bem, Verdade' ss, outrora;
Num mesmo ser vivem juntos agora.
No chame o meu amor de Idolatria
Nem de dolo realce a quem eu amo,
Pois todo o meu cantar a um s se alia,
maneira eu o proclamo.
hoje e sempre o meu amor galante,
Inaltervel, em grande excelncia;
Por isso a minha rima to constante
A uma s coisa e exclui a diferena.
'Beleza, Bem, Verdade', eis o que exprimo;
'Beleza, Bem, Verdade', todo o acento;
E em tal mudana est tudo o que primo,
Em um, trs temas, de amplo movimento.
'Beleza, Bem, Verdade' ss, outrora;
Num mesmo ser vivem juntos agora.
William Shakespeare
William Shakespeare
Coisa Amar
Contar-te longamente as perigosas
coisas do mar. Contar
e as ilhas que s h no verbo amar.
Contar-te longamente longamente.
Amor ardente. Amor ardente. E mar.
Contar-te longamente as misteriosas
maravilhas do verbo navegar.
E mar. Amar: as coisas perigosas.
Contar-te longamente que j foi
num tempo doce coisa amar. E mar.
Contar-te longamente como
desembarcar nas ilhas misteriosas.
Contar-te o mar ardente e o verbo amar.
E longamente as coisas perigosas.
te longamente as perigosas
coisas do mar. Contar-te o amor ardente
e as ilhas que s h no verbo amar.
te longamente longamente.
Amor ardente. Amor ardente. E mar.
te longamente as misteriosas
maravilhas do verbo navegar.
Amar: as coisas perigosas.
te longamente que j foi
num tempo doce coisa amar. E mar.
te longamente como di
desembarcar nas ilhas misteriosas.
te o mar ardente e o verbo amar.
E longamente as coisas perigosas.
Manuel Alegre
Deduo
No acabaro nunca com o amor,
nem as rusgas,
nem a distncia.
Est provado,
pensado,
verificado.
Aqui levanto solene
minha estrofe de mil dedos
e fao o juramento:
Amo
firme,
fiel
e verdadeiramente.
No acabaro nunca com o amor,
nem a distncia.
Aqui levanto solene
minha estrofe de mil dedos
e fao o juramento:
adeiramente.
Vladimir Maiakvski
Vladimir Maiakvski
Perguntei a um sbio,
a diferena que havia
entre amor e amizade,
ele me disse essa verdade...
O Amor mais sensvel,
a Amizade mais segura.
O Amor nos d asas,
a Amizade o cho.
No Amor h mais carinho,
na Amizade compreenso.
O Amor plantado
e com carinho cultivado,
a Amizade vem faceira,
e com troca de alegria e tristeza,
torna-se uma grande e querida
companheira.
Mas quando o Amor sincero
ele vem com um grande amigo,
e quando a Amizade concreta,
ela cheia de amor e carinho.
Quando se tem um amigo
ou uma grande paixo,
ambos sentimentos coexistem
dentro do seu corao.
William S
ele me disse essa verdade...
O Amor mais sensvel,
a Amizade mais segura.
No Amor h mais carinho,
na Amizade compreenso.
e com carinho cultivado,
a Amizade vem faceira,
e com troca de alegria e tristeza,
se uma grande e querida
Mas quando o Amor sincero
em com um grande amigo,
e quando a Amizade concreta,
ela cheia de amor e carinho.
Quando se tem um amigo
ou uma grande paixo,
ambos sentimentos coexistem
dentro do seu corao.
William Shakespeare
Soneto de Fidelidade
De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero viv-lo em cada vo momento
E em seu louvor hei de espalhar meu ca
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angstia de quem vive
Quem sabe a solido, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que no seja imortal, pos
Mas que seja infinito enquanto dure.
Soneto de Fidelidade
De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
lo em cada vo momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angstia de quem vive
Quem sabe a solido, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que no seja imortal, posto que chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
Vincius de MoraesVincius de Moraes
Soneto do Amor Total
Amo-te tanto, meu amor ... no cante
O humano corao com mais verdade ...
Amo-te como amigo e
Numa sempre diversa realidade.
Amo-te afim, de um calmo amor prestante
E te amo alm, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.
Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistrio
Com um desejo macio e permanente.
E de te amar assim, muito e amide
que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.
Soneto do Amor Total
te tanto, meu amor ... no cante
O humano corao com mais verdade ...
te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.
te afim, de um calmo amor prestante
E te amo alm, presente na saudade.
te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.
te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistrio e sem virtude
Com um desejo macio e permanente.
E de te amar assim, muito e amide
que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.
Vincius de Moraes
URGENTEMENTE
urgente o amor.
urgente um barco no mar.
urgente destruir certas palavras,
dio, solido e crueldade,
Alguns lamentos,
Muitas espadas.
urgente inventar a alegria,
Multiplicar as searas,
urgente descobrir rosas e rios
E manhs claras.
Cai o silncio nos ombros e a luz
Impura, at doer.
urgente o amor, urgente
Permanecer.
ENTEMENTE
urgente o amor.
urgente um barco no mar.
urgente destruir certas palavras,
dio, solido e crueldade,
Alguns lamentos,
Muitas espadas.
urgente inventar a alegria,
Multiplicar as searas,
urgente descobrir rosas e rios
E manhs claras.
Cai o silncio nos ombros e a luz
Impura, at doer.
urgente o amor, urgente
Eugnio de Andrade
Eugnio de Andrade
O amor
um nome de mulher
na boca de um homem.
O amor
uma flor perfeita
na lapela de um homem s.
O amor
um continente sem fronteiras
para que tudo acontea.
O amor
a alegria do corpo
sem vergonha de amar.
O amor
dividir somente
o que se pode partilhar.
O amor
uma cidade azul
no dorso de uma nuvem.
O amor
um rapaz loucamente
apaixonado por uma rapariga.
O amor
to fcil e to simples
que at se torna difcil.
O amor
tudo aquilo que um dia
ganhamos coragem para ser.
O amor
gostarmos de ns
e sabermos porqu. Jos Jorge Letria
Aquele que o meu corao ama
ergueu-se do meu leito e nele esqueceu
as repetidas promessas de um regresso
em que a
a nica maneira de esconder
o prenncio de invisveis desertos
aquele que o meu corao ama
afogou em noites de leite e mel
teciam a sede do desejo no meu peito
e bebeu neles as horas de um destino que
me acena
aquele que o meu corao ama
partiu s cegas sem descobrir
as hmidas palavras que se espalham
sombra dos ciprestes
contando os minutos que faltam
para a vertigem do corpo onde o aguardo
Aquele que o meu corao ama
se do meu leito e nele esqueceu
as repetidas promessas de um regresso
em que aos meus olhos ensinaria
a nica maneira de esconder
o prenncio de invisveis desertos
aquele que o meu corao ama
afogou em noites de leite e mel
o rasto dos osis que
teciam a sede do desejo no meu peito
e bebeu neles as horas de um destino que
me acenava de muito longe
aquele que o meu corao ama
partiu s cegas sem descobrir
as hmidas palavras que se espalham
sombra dos ciprestes
contando os minutos que faltam
para a vertigem do corpo onde o aguardo
se do meu leito e nele esqueceu
as repetidas promessas de um regresso
teciam a sede do desejo no meu peito
e bebeu neles as horas de um destino que
as hmidas palavras que se espalham
para a vertigem do corpo onde o aguardo
Alice Vieira
Um segundo uma hora
e uma ho
no relgio da paixo.
No h tempo nesse tempo.
Quem ama nunca sabe
E as horas tambm no sabem
onde os amantes esto.
No relgio da paixo
O tempo pra, retrocede, avana.
No est parado nem est
Est perdi
Como tu, que amas, apenas dana.
Um segundo uma hora
e uma hora um segundo
no relgio da paixo.
No h tempo nesse tempo.
Quem ama nunca sabe
as horas que so.
E as horas tambm no sabem
onde os amantes esto.
No relgio da paixo
O tempo pra, retrocede, avana.
No est parado nem est
em movimento.
Est perdido, mas no est perdido.
Como tu, que amas, apenas dana.
lvaro Magalhes
E as horas tambm no sabem
O tempo pra, retrocede, avana.
do, mas no est perdido.
Como tu, que amas, apenas dana.
lvaro Magalhes
O amor o amor
Vamos ficar os dois
a imaginar, a imaginar?
O meu peito contra o teu peito,
cortando o mar, cortando o ar.
h todo o espao para amar!
Na nossa carne estamos
sem destino, sem medo, sem pudor,
e trocamos
esprito e calor!
O amor o amor
O amor o amor- e depois?!
Vamos ficar os dois
a imaginar, a imaginar?
O meu peito contra o teu peito,
cortando o mar, cortando o ar.
Num leito
h todo o espao para amar!
Na nossa carne estamos
sem destino, sem medo, sem pudor,
e trocamos- somos um? somos dois?
esprito e calor!
O amor o amor- e depois?!
Alexandre ONeill
e depois?!
O meu peito contra o teu peito,
cortando o mar, cortando o ar.
h todo o espao para amar!
sem destino, sem medo, sem pudor,
somos um? somos dois?-
e depois?!
Alexandre ONeill
Foi para ti que criei as rosas
Foi para ti que lhes dei perfume
Para ti rasguei ribeiros
e dei s roms a cor do lume.
Foi para ti que criei as rosas
Foi para ti que lhes dei perfume
Para ti rasguei ribeiros
dei s roms a cor do lume.
Eugnio de Andrade
Foi para ti que criei as rosas
Foi para ti que lhes dei perfume
dei s roms a cor do lume.
Eugnio de Andrade
uma ave a tremer
nas mos de uma criana.
Serve
que as manhs mais limpas
O amor
uma ave a tremer
nas mos de uma criana.
Serve-se de palavras
por ignorar
que as manhs mais limpas
no tm voz.
Eugnio de Andrade
nas mos de uma criana.
que as manhs mais limpas
Eugnio de Andrade
Se eu fosse peixe e tu fosses mar
nadava por dentro de ti
e vivia do teu corpo.
Se eu fosse pssaro e tu fosses ar
cortava
sem nunca te magoar.
Se eu fosse sol e tu fosses neve
em rio transformava
e havias de ver o mar.
Se eu fosse chuva e tu
cresciam de um dia para o outro
as flores na tua pele.
Se eu fosse vento e tu fosses vela
levava
por sobre as ondas do mar.
fosse peixe e tu fosses mar
nadava por dentro de ti
e vivia do teu corpo.
Se eu fosse pssaro e tu fosses ar
cortava-te como uma flecha
sem nunca te magoar.
Se eu fosse sol e tu fosses neve
em rio transformava
e havias de ver o mar.
Se eu fosse chuva e tu fosses terra
cresciam de um dia para o outro
as flores na tua pele.
Se eu fosse vento e tu fosses vela
levava-te a ver o mundo
por sobre as ondas do mar.
Joo Pedro Msseder
fosse peixe e tu fosses mar
Se eu fosse pssaro e tu fosses ar
fosses terra
Se eu fosse vento e tu fosses vela
Joo Pedro Msseder
T
como a hera que envolve as paredes da casa.
e que arranhes a cal da minha pele
e te aninhes nos meus ouvidos fendas
e perturbes a porta minha boca.
procures o perigo das janelas
e enfrentes os meus olhos
infinitos de mgoa
noite e assombrao.
Teu amor absoluto
como a hera que envolve as paredes da casa.
Quero ser a casa
e que arranhes a cal da minha pele
e te aninhes nos meus ouvidos fendas
e perturbes a porta minha boca.
E por fim
procures o perigo das janelas
e enfrentes os meus olhos
infinitos de mgoa
noite e assombrao.
Rosa Lobato de Faria
como a hera que envolve as paredes da casa.
e que arranhes a cal da minha pele
e te aninhes nos meus ouvidos fendas
e perturbes a porta minha boca.
Rosa Lobato de Faria
Quantas
Vai o meu corao
Quantas horas perdi
foi por ti que as ganhei
Quantas horas perdi
foi por ti
que as perdi.
Vai o meu corao
repetiu a lio:
Quantas horas perdi
foi por ti que as ganhei
Sebastio da Gama
foi por ti que as ganhei
Sebastio da Gama
para ti soltei o perfume da terra
e pensei que tudo estava em ns
simplesmente
Foi para ti
que desfolhei a chuva
para ti soltei o perfume da terra
toquei no nada
e para ti foi tudo
Para ti criei todas as palavras
e todas me faltaram
no minuto em que talhei
o sabor do sempre
Para ti dei voz
s minhas mos
abri os gomos do tempo
assaltei o mundo
e pensei que tudo estava em ns
nesse doce engano
de tudo sermos donos
sem nada termos
simplesmente porque era de noite
e no dormamos
eu descia em teu peito
para me procurar
e antes que a escurido
nos cingisse a cintura
ficvamos nos olhos
vivendo de um s
amando de uma s vida
Mia Couto
Disseram
como fazem os apaixonados.
Quero um poema teu.
Em vez disso entrancei
de luas
e de quartos
E passei a noite, em branco, contigo.
Disseram-me para olhar a lua
como fazem os apaixonados.
Nada aconteceu.
Quero um poema teu.
Em vez disso entrancei-te uma grinalda
de luas-cheias-de-promessas
e de quartos-crescentes-de-desejo.
E passei a noite, em branco, contigo.
Teresa Guedes
me para olhar a lua
como fazem os apaixonados.
te uma grinalda
promessas
desejo.
E passei a noite, em branco, contigo.
Teresa Guedes
Naquela Praa
Hei-de encontrar-te ali
naquela praa que talvez j no exista.
Praa da palavra.
Praa da cano.
Praa de bandeiras a beijar
os primeiros odores da primavera.
Hei-de encontrar-te um dia
ao alto da cidade
partilhando po
azeitonas
e poema.
Ali
naquela praa que talvez j no exista
hei-de encontrar-te um dia
e seguiremos
abraando
as laranjeiras
desfraldando
uma vez mais
a nossa voz ao vento.
te ali
alvez j no exista.
Praa de bandeiras a beijar
os primeiros odores da primavera.
te um dia
naquela praa que talvez j no exista
te um dia
a nossa voz ao vento.
Jos Fanha
Aprendamos, amor, com estes montes
Que, to longe do mar, sabem o jeito
De banhar no azul dos horizontes.
Faamos o que certo e de dire
Dos desejos ocultos outras fontes
E desamos ao mar do nosso leito.
Aprendamos, amor, com estes montes
Que, to longe do mar, sabem o jeito
De banhar no azul dos horizontes.
Faamos o que certo e de direito:
Dos desejos ocultos outras fontes
E desamos ao mar do nosso leito.
Jos Saramago
Aprendamos, amor, com estes montes
Que, to longe do mar, sabem o jeito
Jos Saramago
Quem diz que Amor falso ou enganoso,
Ligeiro, ingrato, vo desconhecido,
Sem falta lhe ter bem merecido
Que lhe seja cruel ou rigoroso.
Amor brando, doce,
Quem o contrrio diz no seja crido;
Seja por cego e apaixonado tido,
E aos homens, e inda aos Deuses, odioso.
Se males faz Amor em mim se vem;
Em mim mostrando todo o seu rigor,
Ao mundo quis mostrar quanto podia.
Mas todas suas iras so
Todos os seus males so um bem,
Que eu por todo outro bem no trocaria.
Quem diz que Amor falso ou enganoso,
Ligeiro, ingrato, vo desconhecido,
Sem falta lhe ter bem merecido
Que lhe seja cruel ou rigoroso.
Amor brando, doce, e piedoso.
Quem o contrrio diz no seja crido;
Seja por cego e apaixonado tido,
E aos homens, e inda aos Deuses, odioso.
Se males faz Amor em mim se vem;
Em mim mostrando todo o seu rigor,
Ao mundo quis mostrar quanto podia.
Mas todas suas iras so de Amor;
Todos os seus males so um bem,
Que eu por todo outro bem no trocaria.
Lus de Cames
Lus de Cames
Busque Amor novas artes, novo engenho
Pera matar-me, e novas esquivanas,
Que no pode tirar
Que mal me tirar o
Olhai de que esperanas me mantenho!
Vede que perigosas seguranas!
Que no temo contrastes nem mudanas,
Andando em bravo mar, perdido o lenho.
Mas, enquanto no pode haver desgosto
Onde esperana falta, l me esconde
Amor um mal, que
Que dias h que na alma me tem posto
Um no sei qu, que nasce no sei onde,
Vem no sei como e di no sei porqu.
Lus de Cames
Busque Amor novas artes, novo engenho
me, e novas esquivanas,
Que no pode tirar-me as esperanas,
Que mal me tirar o que eu no tenho.
Olhai de que esperanas me mantenho!
Vede que perigosas seguranas!
Que no temo contrastes nem mudanas,
Andando em bravo mar, perdido o lenho.
Mas, enquanto no pode haver desgosto
Onde esperana falta, l me esconde
Amor um mal, que mata e no se v,
Que dias h que na alma me tem posto
Um no sei qu, que nasce no sei onde,
Vem no sei como e di no sei porqu.
Lus de Cames
O Amor
O amor, quando se revela,
No se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas no lhe sabe falar.
Quem quer dizer o que sente
No sabe o que h de *dizer.
Fala: parece que mente
Cala: parece esquecer
Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
Pr'a saber que a esto a amar!
Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica s, inteiramente!
Mas se isto puder contar-lhe
O que no lhe ouso contar,
J no terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar..
Quem quer dizer o que sente
No sabe o que h de *dizer.
Pr'a saber que a esto a amar!
Quem quer dizer quanto sente
lhe
Fernando Pessoa
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe porque ama, nem o que amar
Amar a eterna inocncia,
E a nica inocncia, no pensar...
quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe porque ama, nem o que amar
Amar a eterna inocncia,
E a nica inocncia, no pensar...
Fernando Pessoa
quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe porque ama, nem o que amar
Fernando Pessoa
fcil trocar as palavras,
Difcil interpretar os silncios!
fcil caminhar lado a lado,
Difcil saber como se encontrar!
fcil beijar o rosto,
Difcil chegar ao corao!
fcil apertar as mos,
Difcil reter o calor!
fcil sentir o amor,
Difcil conter sua torrente!
Como por dentro outra pessoa?
Quem que o saber sonhar?
A alma de outrem outro universo
Com que no h comunicao possvel,
Com que no h verdadeiro entendimento.
Nada sabemos da alma
Seno da nossa;
As dos outros so olhares,
So gestos, so palavras,
Com a suposio
De qualquer semelhana no fundo."
Difcil interpretar os silncios!
fcil caminhar lado a lado,
saber como se encontrar!
Difcil chegar ao corao!
Difcil conter sua torrente!
Como por dentro outra pessoa?
Quem que o saber sonhar?
trem outro universo
Com que no h comunicao possvel,
Com que no h verdadeiro entendimento.
De qualquer semelhana no fundo."
Fernando Pessoa
Todas as Cartas de Amor so Ridculas
Todas as cartas de amor so
Ridculas.
No seriam cartas de amor se no fossem
Ridculas.
Tambm escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridculas.
As cartas de amor, se h amor,
Tm de ser
Ridculas.
Mas, afinal,
S as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
que so
Ridculas.
Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridculas.
A verdade que hoje
As minhas memrias
Dessas cartas de amor
que so
Ridculas.
(Todas as palavras esdrxulas,
Como os sentimentos esdrxulos,
So naturalmente
Ridculas.)
Todas as Cartas de Amor so Ridculas
Todas as cartas de amor so
No seriam cartas de amor se no fossem
Tambm escrevi em meu tempo cartas de amor,
As cartas de amor, se h amor,
S as criaturas que nunca escreveram
Quem me dera no tempo em que escrevia
or
(Todas as palavras esdrxulas,
Como os sentimentos esdrxulos,
lvaro de Campos
A paixo do velho Pires, o marinheiro
Ai, o amor quando nos toca
como se tocasse um sino
um hino, um trino
de um alegre passar
Vou voar para o teu ninho
vou tentar fazer o pino
vou ser bailarino
argentino, desatino
Mas que hei-de eu fazer?
O amor um furaco
desgovernando
a minha embarcao
A paixo do velho Pires, o marinheiro
Ai, o amor quando nos toca
como se tocasse um sino
um hino, um trino
de um alegre passarinho
Vou voar para o teu ninho
vou tentar fazer o pino
vou ser bailarino
argentino, desatino
de eu fazer?
O amor um furaco
desgovernando
a minha embarcao
Srgio Godinho
A paixo do velho Pires, o marinheiro
Srgio Godinho