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Poesia do mar

Poemas do mar

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Page 1: Poemas do mar

Poesia do mar

Page 2: Poemas do mar

MAR PORTUGUÊS

Ó mar salgado, quanto do teu sal

São lágrimas de Portugal!

Por te cruzarmos, quantas mães choraram,

Quantos filhos em vão rezaram!

Quantas noivas ficaram por casar

Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena

Se a alma não é pequena.

Quem quer passar além do Bojador

Tem que passar além da dor.

Deus ao mar o perigo e o abismo deu,

Mas nele é que espelhou o céu.

Fernando Pessoa

Page 3: Poemas do mar

SONHO NO NAVIO

Pus o meu sonho num navioe o navio em cima do mar;depois, abri o mar com as mãos,para o meu sonho naufragar.

Minhas mãos ainda estão molhadasdo azul das ondas entreabertas,e a cor que escorre de meus dedoscolore as areias desertas.

O vento vem vindo de longe,a noite se curva de frio;debaixo da água vai morrendomeu sonho, dentro de um navio...

Chorarei quanto for preciso,para fazer com que o mar cresça,e o meu navio chegue ao fundoe o meu sonho desapareça.

Depois, tudo estará perfeito;praia lisa, águas ordenadas,meus olhos secos como pedrase as minhas duas mãos quebradas.

Cecília Meireles

Page 4: Poemas do mar

MAR!

Tinhas um nome que ninguém temia:Era um campo macio de lavrar Ou qualquer sugestão que apetecia...

Mar!Tinhas um choro de quem sofre tantoQue não pode calar-se, nem gritar,Nem aumentar nem sufocar o pranto...

Mar!Fomos então a ti cheios de amor!E o fingido lameiro, a soluçar,Afogava o arado e o lavrador!

Mar!Enganosa sereia rouca e triste!Foste tu quem nos veio namorar,E foste tu depois que nos traíste!

Mar!E quando terá fim o sofrimento!E quando deixará de nos tentar O teu encantamento!

Miguel Torga

Page 5: Poemas do mar

POEMA DO HOMEM-RÃ

Sou feliz por ter nascidono tempo dos homens-rãsque descem ao mar perdidona doçura das manhãs.Mergulham, imponderáveis,por entre as águas tranquilas,enquanto singram, em filas,peixinhos de cores amáveis.Vão e vêm, serpenteiam,em compassos de ballet.Seus lentos gestos penteiammadeixas que ninguém vê.

Com barbatanas calçadase pulmões a tiracolo,roçam-se os homens no solosob um céu de águas paradas.

Sob o luminoso feixecorrem de um lado para outro,montam no lombo de um peixecomo no dorso de um potro.

(…) Eu sou o homem. O Homem.Desço ao mar e subo ao céu.Não há temores que me domemÉ tudo meu, tudo meu.

António Gedeão

Page 6: Poemas do mar

FUNDO DO MAR

No fundo do mar há brancos pavores,

Onde as plantas são animais

E os animais são flores.

Mundo silencioso que não atinge

A agitação das ondas.

Abrem-se rindo conchas redondas,

Baloiça o cavalo-marinho.

Um polvo avança

No desalinho

Dos seus mil braços,

Uma flor dança,

Sem ruído vibram os espaços.

Sobre a areia o tempo poisa

Leve como um lenço.

Mas por mais bela que seja cada coisa

Tem um monstro em si suspenso.

Sophia de Mello Breyner Andresen

Page 7: Poemas do mar

VOZES DO MAR

Quando o sol vai caindo sobre as águas

Num nervoso delíquio d’oiro intenso,

Donde vem essa voz cheia de mágoas

Com que falas à terra, ó mar imenso?

Tu falas de festins, e cavalgadas

De cavaleiros errantes ao luar?

Falas de caravelas encantadas

Que dormem em teu seio a soluçar?

Tens cantos d'epopeias? Tens anseios

D'amarguras? Tu tens também receios,

Ó mar cheio de esperança e majestade?!

Donde vem essa voz, ó mar amigo?......

Talvez a voz do Portugal antigo,

Chamando por Camões numa saudade!

Florbela Espanca

Page 8: Poemas do mar

A ROSA E O MAR

Eu gostaria ainda de falar

Da rosa brava e do mar.

A rosa é tão delicada,

O mar tão impetuoso, que não sei

como os juntar

E convidar para o chá

Na casa breve do poema.

O melhor é não falar:

Sorrir-lhes só da janela.

Eugénio de Andrade

Page 9: Poemas do mar

O CASTELO DE AREIA

Fiz um castelo de areia

Mesmo à beirinha do mar

À espera que uma sereia

Ali quisesse morar.

Ó mar,

Ó mar…

Mas foi só um caranguejo

Que ali me foi visitar.

Ó mar,

Ó mar…

Mas foi só uma gaivota

Que ali me foi visitar.

E levou o meu castelo,

O meu castelo de areia

Para no mar morar nele

A minha linda sereia.

Luísa Ducla Soares

Page 10: Poemas do mar

CIDADE MARINHA

Numa cidade marinhamorava uma jovem Sardinha.Era cidade de artistas,cantores, bailarinos e malabaristas.Os Golfinhos dançavam,as Baleias cantavam,o Caranguejo tocava a bateria.Bum! Bum! Que barulhão fazia!

A Estrela do Mar tocava a lirae a Foca cantava ópera.A Sardinha não sabia cantar nem dançar.Coitada da Sardinha! Não achava o seu lugar.

Um dia chegou uma Lagosta(era uma velha lagosta fotógrafa)e trazia uma câmara à prova de água.A Lagosta ensinou a Sardinhaa tirar belas fotografias.A Sardinha foi nomeada fotógrafa marinhae falou com alegria: Agora encontrei o meu lugare vou fotografar os bichos do mar.

Isabel Furini

Page 11: Poemas do mar

O MAR

Este é o mar

onde os barcos viajam,

os peixes moram,

os golfinhos saltam,

as baleias lançam repuxos,

as crianças nadam,

os jardins são de coral

E sabem a sal.

Este é o mar

que se esgota em esgoto,

se lixa em lixo,

o das marés negras,

das redes de arrasto,

dos rastos de sangue,

dos cemitérios nucleares,

dos muitos azares.

Este é o mar.

Quem entende a canção das ondas?

Luísa Ducla Soares

Page 12: Poemas do mar

BARCA BELA

Pescador da barca bela,Onde vais pescar com ela.Que é tão bela,Oh pescador?

Não vês que a última estrelaNo céu nublado se vela?Colhe a vela,Oh pescador!Deita o lanço com cautela,Que a sereia canta bela...Mas cautela,Oh pescador!Não se enrede a rede nela,Que perdido é remo e vela,Só de vê-la,Oh pescador.Pescador da barca bela,Inda é tempo, foge delaFoge delaOh pescador!

Almeida Garrett

Page 13: Poemas do mar

NAVEGO

Quanto “Mar de Almas" existe,

Espraiando, entre ondas cavadas,

Lamentos de gente triste,

Versos, rimas, gargalhadas...

Nesse mar, que em nós resiste,

Quantas ilhas encantadas

Já encontraste ou já viste

Pelas ondas naufragadas?

Navego, mesmo perdida,

Contra ventos e marés,

Sobre a onda indesmentida

De um mar que só me convida

A nele ir molhar os pés

E onde eu "molho", inteira, a

vida…

Maria João Brito de Sousa