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1 DA POLÍTICA DE ELITES À DEMOCRACIA DE SOCIEDADE CIVIL Luiz Carlos Bresser-Pereira In João Paulo dos Reis Velloso, org. (2000) Brasil 500 Anos Futuro, Presente, Passado. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 2000: 517-538. Abstract. Starting from a proposed typology of democracy, which involves increased representation and/or participation (elites’, civil society’s, and people’s democracy) the paper, after reviewing Brazilian class and elite alliances through out history, suggests that Brazil, as an intermediate developing country, is presently in transition from the first to the second type of democracy. Elite groups start to loose power in relation to a larger civil society, where public debate begins, and public opinion turn increasingly significant. If this trend is confirmed, the nation will start to learn from its mistakes, while some typical democracy of elites’ categories – ‘enlightened elites’ making political pacts and drawing national projects – will loose relevance. A última forma que assume a política de elites em sua transição para a democracia pode ser chamada de Democracia de Elites. Até o final do século dezoito os regimes políticos em todo o mundo eram, sem exceção, autoritários, comandados por uma classe ou coalizão de classes e suas respectivas elites. Quando, afinal – com o capitalismo que permite a apropriação do excedente via mercado, sem o uso direto da força – temos o surgimento da democracia moderna, podemos pensar seu desenvolvimento como constituído de três fases: Democracia de Elites, Democracia de Sociedade Civil, e Democracia de Povo. No Brasil, depois de quase 500 anos do repetitivo fracasso de suas elites, tanto durante sua longa fase oligárquica quanto em sua curta democrática, em construir uma nação desenvolvida, assistimos, nestes vi nte anos, desde o início da crise dos anos 80, ou desde os últimos quinze anos, desde que o país se redemocratizou, à transição de uma Democracia de Elites para uma Democracia de Sociedade Civil. Esta transição representa um grande progresso, que não é apenas político, ao aumentar substancialmente o grau de liberdade existente no país. É também econômico, pois dependendo menos das elites, dependeremos menos de seus erros e acertos, e poderemos assistir, através do debate realizado ano nível da sociedade civil, a um processo sistemático de aprendizado que, de um lado, tornará as políticas públicas menos subordinadas a interesses de grupos, e, de outro, evitará a repetição de erros grosseiros na definição dessas políticas.

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Artigo de Bresser Pereira

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1DA POLTICA DE ELITES DEMOCRACIA DE SOCIEDADE CIVIL Luiz Carlos Bresser-Pereira In Joo Paulo dos Reis Velloso, org. (2000) Brasil 500 Anos Futuro, Presente, Passado. Rio de Janeiro: Jos Olympio Editora, 2000: 517-538.Abstract. Starting from a proposed typology of democracy, which involves increased representation and/or participation (elites, civil societys, and peoples democracy) the paper, after reviewing Brazilian class and elite alliances through out history, suggests that Brazil, as an intermediate developing country, is presently in transition from the first to the second type of democracy. Elite groups start to loose power in relation to a larger civil society, where public debate begins, and public opinion turn increasingly significant. If this trend is confirmed, the nation will start to learn from its mistakes, while some typical democracy of elites categories enlightened elites making political pacts and drawing national projects will loose relevance. A ltima forma que assume a poltica de elites em sua transio para a democracia pode ser chamada de Democracia de Elites. At o final do sculo dezoito os regimes polticos em todo o mundo eram, sem exceo, autoritrios, comandados por uma classe ou coalizo de classes e suas respectivas elites. Quando, afinal com o capitalismo que permite a apropriao do excedente via mercado, sem o uso direto da fora temos o surgimento da democracia moderna, podemos pensar seu desenvolvimento como constitudo de trs fases: Democracia de Elites, Democracia de Sociedade Civil, e Democracia de Povo. No Brasil, depois de quase 500 anos do repetitivo fracasso de suas elites, tanto durante sua longa fase oligrquica quanto em sua curta democrtica, em construir uma nao desenvolvida, assistimos, nestes vi nte anos, desde o incio da crise dos anos 80, ou desde os ltimos quinze anos, desde que o pas se redemocratizou, transio de uma Democracia de Elites para uma Democracia de Sociedade Civil. Esta transio representa um grande progresso, que no apenas poltico, ao aumentar substancialmente o grau de liberdade existente no pas. tambm econmico, pois dependendo menos das elites, dependeremos menos de seus erros e acertos, e poderemos assistir, atravs do debate realizado ano nvel da sociedade civil, a um processo sistemtico de aprendizado que, de um lado, tornar as polticas pblicas menos subordinadas a interesses de grupos, e, de outro, evitar a repetio de erros grosseiros na definio dessas polticas. 2Estamos longe ainda da Democracia de Povo qual nem mesmo os pases mais avanados chegaram.1 A Democracia de Elites pode e tem sido tambm chamada por vrios outros nomes: democracia de massas, democracia populista, democracia presidencial, democracia delegada. a primeira forma que a democracia assume historicamente. a continuao das vrias formas autoritrias de poltica de elites, mas com trs fatos novos que lhe permitem ser j considerada democrtica: liberdade de expresso, eleies livres, e a vigncia do estado de direito. Por isso podemos dizer estarmos diante de uma primeira forma de democracia. Mas de uma democracia como Michels e Schumpeter a pensaram, em que o poder est de fato nas elites e no no povo; um regime poltico em que as elites lutam entre si, organizadas em partidos, eles prprios oligrquicos, para obter o apoio popular.2 No Brasil temos uma longa histria de poltica autoritria de elites, e uma curta histria de Democracia de Elites. A democracia na Primeira Repblica, depois do interregno autoritrio-militar, era uma Democracia de Elites relativa, embora representasse um progresso em relao ao regime autoritrio que prevaleceu no Imprio; a democracia da Segunda Repblica, entre 1945 e 64, foi classicamente uma Democracia de Elites; a da Terceira Repblica, que tem incio em 1985, nasceu marcada pelo fracasso das elites e pela transio para a Democracia de Sociedade Civil. At ento as elites haviam sempre dominado a poltica brasileira de forma clara. Mas, como todas as demais elites latino-americanas, e ao contrrio de algumas elites que lideraram o desenvolvimento dos pases ricos, nossas elites alcanaram escassos xitos, tendo sido marcadas pela subordinao, primeiro a Portugal, depois Inglaterra, e finalmente aos Estados Unidos. Esta subordinao expressou-se no mimetismo cultural, na busca permanente de aprovao ou de conquista de confiana junto aos pases hegemnicos, e, portanto, na falta de autonomia na tomada de decises dos governos, expressa na dificuldade agnica para uns, desconhecida para outros de definir o interesse nacional e de governar de acordo com esse interesse. E resultou na construo incompleta de uma nao Quatro classes sociais e suas respectivas elites sucederam-se, associaram-se por longos perodos, e eventualmente entraram em conflito, na histria brasileira: a burguesia mercantil e patriarcal proprietria de terras, a burocracia patrimonialista que em um segundo momento se transformou em burocracia simplesmente, a burguesia cafeeira, que foi um fenmeno de transio, e a burguesia industrial ou moderna. 1EmtermosestritosaDemocraciadePovoseriaaverdadeirademocracia.Maso avano representado pela Democracia de Elites j foi grande, e maior ainda o contido na DemocraciadeSociedadeCivil,deformaanojustificara limitaodoconceitode democracia sua forma plena. 2 - Ver Michels (1914: Primeira Parte); Schumpeter (1950: Captulo 22). 3A burguesia mercantil e patriarcal dominar inconteste no perodo colonial, embora subordinada politicamente Coroa Portuguesa, e ver seu poder estender-se, embora cada vez mais enfraquecido, durante o Imprio e a Primeira Repblica. A burocracia, na sua forma patrimonialista, teve origem direta nos senhores de terra decadentes, cujos descendentes passaram a ter rendimentos no mais da renda da terra, mas do tesouro do Estado; tornar-se- a classe dirigente no Imprio, associada, primeiro, sua classe de origem, e depois burguesia cafeeira. A partir dos anos 30 a burocracia comea a perder seu carter patrimonialista e a assumir as feies de uma burocracia moderna, weberiana. Nascera da burguesia mercantil e patriarcal rural, aliara-se burguesia cafeeira, e agora se associa-se burguesia industrial nascente para promover a industrializao. Esta, ao acontecer, deu origem a uma ampla classe burocrtica privada. A burguesia cafeeira emerge durante o sculo dezenove e torna-se dominante a partir do ltimo quartel desse sculo, entrando em decadncia para desaparecer como classe parte integrando-se burguesia em geral a partir dos anos 30. Finalmente, a ltima classe dominante a surgir ser a burguesia industrial. Embora houvesse tentativa de industrializao anteriores no Nordeste e no Rio de Janeiro, s poderemos falar de uma burguesia industrial propriamente dita a partir de sua emergncia em So Paulo a partir de final do sculo dezenove. Ter origem principalmente em famlias de imigrantes dedicadas ao comrcio. Em pouco tempo ampliar-se- de forma extraordinria, podendo-se nela distinguir uma mdia e uma alta burguesia industrial. Ao mesmo tempo as distines entre burguesia industrial e mercantil comeam a desaparecer, de forma a podermos pensar em uma nica burguesia no Brasil, ainda que possamos ver nela muitos estratos e fraes de classe. Mais recentemente, o crescimento dos estratos mdios no seio de grandes organizaes burocrticas privadas e de pequenas e mdias empresas to grande e sua interpenetrao to forte, que as distines de classe ao nvel das classes dominantes comeam a ficar embaadas. Da mesma forma que a tecnoburocracia inclua a burocracia estatal e a privada, podemos falar em uma tecnoburguesia, incluindo a burguesia e a burocracia privada (neste caso excluda a burocracia estatal).3 Mantm-se sempre a distino entre uma classe dominante, burguesa, uma classe dirigente, principalmente burocrtica, e uma classe de trabalhadores. As trs classes, entretanto, sero diversificadas, estratificadas internamente, e com seus limites, em relao s outras duas, imprecisos. Os limites entre as duas classes dirigentes tornam-se especialmente fludos, da a sugesto de uma tecnoburguesia. A burguesia e a burocracia estatal e privada so formadas principalmente por estratos mdios, mas nelas temos uma elite de dinheiro e de poder, todos os nveis de rendimentos, e uma variedade imensa de setores. A classe trabalhadora, por sua vez, conta com um amplo contingente de excludos, mas tambm com um nmero lentamente crescente de trabalhadores 3 - Prefiro excluir da tecnoburguesia a burocracia estatal porque esta no logrou ainda seintegraraomercadodetrabalhodaburocraciaprivada.Estaintegraocentralna Reforma Gerencial de 1995 da administrao pblica brasileira. Sua implantao uma questo de tempo. 4qualificados e de empregados nos servios, que iro, no plano econmico, participar do excedente econmico, e, no plano poltico, participar da sociedade civil e obter cargos polticos atravs de seus lderes sindicais e polticos.Em conseqncia destes processos de mudana social uma ampla sociedade civil vai se formando, que se diversifica a todo instante, ao mesmo tempo que se democratiza internamente. Ora, na medida em que assistimos constituio de uma autntica sociedade civil, o poder das elites reduz-se correspondentemente. E ficamos cada vez menos dependentes de elites iluminadas para promover o desenvolvimento econmico e social do pas. Neste pequeno ensaio sobre o Brasil, que os editores de Estudos Avanados me solicitaram, vou tentar compreender e sintetizar esses amplos movimentos histricos, tendo como fio condutor o fracasso relativo das nossas elites. Sei muito bem que algumas generalizaes que estarei fazendo so hericas, mas creio que vale o risco. Vivemos hoje um momento, na histria do pas, de grande indefinio e de perplexidade. Afinal para onde vamos? Temos algum futuro como povo e como nao? Ser que a transio para uma poltica mais democrtica nos permitir, afinal, aprender dos nossos prprios erros e desenvolver polticas pblicas que atendam melhor aos interesses nacionais? Atravs da anlise das classes sociais e das suas elites que se sucederam e se associaram no Brasil espero poder lanar alguma luz sobre estas questes. A poltica autoritria de elites foi dominante no Brasil desde a Colnia at o incio da Primeira Repblica, quando j podemos pensar em um momento de transio para uma Democracia de Elites. Esta transio interrompida pelo primeiro governo Vargas, que, atravs de seu populismo austero e nacionalista, abrir espao para o momento de maior afirmao da poltica de elites no pas: os anos 30, quando a nova burocracia, a burguesia industrial, e o setor voltado para o mercado interno da velha burguesia mercantil e rural estabelecem uma aliana poltica bem sucedida sob a liderana de Vargas tendo como objetivo a industrializao brasileira.A partir de 1946 a Democracia de Elites restabelecida, mas sua sobrevivncia ser curta: entrar em crise no incio dos anos 60, e em colapso em 1964. A recada autoritria que ento ocorre, entretanto, j se tornara incompatvel com o grau de desenvolvimento do capitalismo industrial brasileiro, e com a dimenso e diversificao de sua burguesia e de sua burocracia privada. Assim, depois de um longo processo de transio democrtica, que vai de meados dos anos 70 at 1984, o pas retornar democracia em 1985. Esta, porm, j deixara de ser uma Democracia de Elites, instvel por natureza, para comear a ser uma Democracia de Sociedade Civil. Nenhuma das elites que se sucederam na histria do Brasil foi realmente bem sucedida em promover o desenvolvimento e a democratizao do pas, mas algum desenvolvimento e alguma democratizao ocorreram. Vou tentar fazer uma sumria avaliao do ocorrido. Por outro lado, vou procurar demonstrar que, a partir de 1985, a Democracia de Elites comea a se transformar em Democracia 5de Sociedade Civil. Se isto for verdade, as duas grandes frustraes, uma poltica a outra econmica, que Brasil enfrentou desde os anos 60 um regime autoritrio-militar que durou 20 anos, e uma quase-estagnao econmica que durou outros 20 anos (com cinco anos, 1980-84, de superposio) podero em parte ser compensadas. No quero com isto dizer que as duas frustraes fossem inevitveis, muito menos necessrias para que a democracia brasileira desse um passo decisivo adiante. No o eram. Como no o eram, tambm, para que a coordenao da economia pelo mercado se tornasse afinal dominante no pas: durante sculos (e principalmente desde 1930) a economia brasileira foi objeto de forte coordenao pelo Estado. Com a abertura comercial, no incio dos anos 90, a estabilizao dos preos em 1994, e finalmente, em 1999, a flutuao bem sucedida do cmbio, ela passa a ser principalmente coordenada pelo mercado, embora o Estado mantenha um papel estratgico decisivo.Estas duas transies para uma Democracia de Sociedade Civil e para uma economia coordenada pelo mercado esto ocorrendo no pas. Neste trabalho, depois de repassar a histria poltica do pas e de suas elites, vou sugerir que estas mudanas recentes, particularmente a de carter poltico, tero um significado decisivo para o futuro do pas. Poltica de Elites: A Colnia Durante o perodo colonial o Brasil dominado, externamente, pela Coroa portuguesa, internamente, por uma burguesia mercantil e patriarcal que teve seu momento de glria em meados do sculo dezessete, com o ciclo do acar em Pernambuco e na Bahia. O simples fato de que o auge colonial ocorreu mais de 150 anos antes do final do domnio portugus, nos d uma idia do fracasso das elites coloniais e locais em promover o desenvolvimento do pas. Este ainda passou por um segundo ciclo de expanso, cujo auge ocorreu um sculo depois, com o ouro e os diamantes de Minas Gerais, mas este era um ciclo por natureza passageiro. Depois de aproximadamente 1750, durante cerca de 100 anos, a economia brasileira entrar em decadncia, mostrando como a colonizao mercantil portuguesa fora incapaz de implantar um capitalismo moderno e um processo de desenvolvimento sustentado no pas. Na poca da Independncia a renda por habitante no Brasil, se bem contabilizada, deveria j ser vrias vezes inferior vigente nos pases avanados da Europa e na Nova Inglaterra. A decadncia econmica, que tambm a longa decadncia dos senhores de engenho, s terminar com a expanso cafeeira, que ganha mpeto a partir de meados do sculo dezenove. Caio Prado Jr., Celso Furtado e Igncio Rangel, em suas obras clssicas, fizeram a anlise desse fracasso da colonizao portuguesa. Caio Prado Jr., em Histria Econmica do Brasil, assinalou o seu carter de colonizao de explorao mercantil, ao invs de colonizao de povoamento, como ocorreu na Nova Inglaterra. Foi um passo adiante em relao colonizao de feitoria, que pressupunha a existncia de uma produo local de especiarias, mas era um tipo 6de colonizao que no levava ao desenvolvimento de um modo especificamente capitalista de produo, nos termos descritos por Marx. Seu carter latifundirio, monocultor e escravista eram incompatveis com um processo sustentando de acumulao capitalista. Srgio Buarque de Holanda, em Razes do Brasil, j esboara essa crtica, mostrando como a colonizao portuguesa era fruto do esprito de aventura e da vontade de ganho fcil para em seguida retornar a Portugal, mas ser Igncio Rangel, com sua anlise da dualidade bsica da economia brasileira, e Celso Furtado, em sua obra fundamental , Formao Econmica do Brasil, e ambos com textos adicionais que teorizam a anlise histrica realizada, quem demonstraro de forma definitiva a debilidade intrnseca da colonizao mercantil brasileira, que s comear a ser superada com a expanso cafeeira no Oeste paulista, da qual resultar, de forma antes contraditria do que linear, a industrializao do pas.4

A grande voz discordante dessa interpretao da Colnia foi de Gilberto Freyre. Para afirmar sua corajosa e radical tese da harmonia social e racial a partir da miscegenao promovida pelo colono portugus que chega ao Brasil sem mulher, Freyre transforma a colonizao portuguesa em um grande xito, e os colonizadores portugueses em heris que triunfaram onde outros europeus falharam: de formao portuguesa a primeira sociedade moderna constituda nos trpicos com caractersticos nacionais e qualidade de permanncia pela hibridizao realizaram no Brasil obra de verdadeira colonizao, vencendo as adversidades do clima.5 verdade que ele no economista, e que insiste em seu livro em afirmar que no est fazendo anlise econmica e poltica, mas anlise social da colonizao. Fez, de fato, uma fascinante anlise da vida social brasileira na Colnia, estendendo-se at o Imprio. Mas as implicaes econmicas e polticas de sua obra so inegveis. De um lado, ele um dos grandes definidores da identidade nacional do povo brasileiro ao legitimar seu carter mestio, de outro, o idelogo da burguesia patriarcal e decadente de senhores de engenho que implantou no Brasil o latifndio escravista mercantil. 4-VerBuarquedeHolanda(1936/69),PradoJr.(1945),Rangel(1953),eFurtado (1959). Entre os trabalhos tericos de Furtado, relacionando subdesenvolvimento com a exploraoagrcolamercantil,talvezosdoismaisrelevantessejamDesenvolvimento e Subdesenvolvimento(1961)eDialticadoDesenvolvimento(1964).Noso convincentes as tentativas que adeptos da teoria cepalina da deteriorao dos termos de intercmbio(queFurtadoadotoucomovlidaapenasparajustificaranecessidadede industrializao),etericosdoimperialismo,comoGunderFrank(1966),fizeramde deslocar as origens do subdesenvolvimento brasileiro do perodo colonial para o sculo dezenove.Astentativasrecentes,deiniciativadebrasilianistasamericanos, provavelmenteemrespostasaosltimos,detambmlocalizarnosculodezenovea origemdosubdesenvolvimentobrasileiro,mas atribu- lo a fatores endgenos, so ainda menosconvincentes.VerarespeitoHarber&Klein(1997)eCaldeira(1999).Um estudoeconmicomelhorfundamentadosobreobaixograudedesenvolvimento alcanadopeloBrasilnofinaldoperodocolonialencontra-seemRandsdeBarros (1996). 5 - Ver Gilberto Freyre (1933: 12-13). 7Mas Alfredo Bosi no se refere apenas a ele, mas a muitos outros, inclusive os idelogos do bandeirantismo, quando afirma sem rebuos: Entre ns, os louvores aos donos de engenho, aos bandeirantes, aos capites e governadores gerais, enfim, Coroa com seu squito de fmulos e burocratas, so o argumento pfio das academias baianas dos Esquecidos e do Renascidos, alm de tema dileto dos linhagistas de So Paulo e de Pernambuco, focos de nossa prospia desde o sculo dezoito.6 O Imprio e a Primeira Repblica: Patrimonialismo e Burguesia Cafeeira Podemos dividir o Imprio em dois perodos: o da Independncia at o a regncia de Feij, e aquele que vai de meados do sculo dezenove at a proclamao da Republica, 1899. No primeiro, enquanto se aprofunda a crise da velha burguesia mercantil e patriarcal, assistimos ascenso poltica da burocracia patrimonialista, que, formada em Coimbra, dominar os cargos pblicos at o nvel de ministrio.7 Podemos falar ainda nesse tempo, como Max Weber e, no Brasil, Srgio Buarque e Raymundo Faoro, em um estamento patrimonialista.8 A burocracia no havia ainda se estendido para as organizaes privadas nem alcanado massa crtica o que ocorreria no sculo vinte para ser considerada como classe social. J era, entretanto, apesar de suas pretenses a aristocracia rural, um estamento burocrata, j que no derivava seus rendimentos da renda da terra, mas dos ordenados e penses do Estado.Como mostrou Faoro, o patrimonialismo brasileiro tem fortes razes em Portugal. Ali nunca chegou a se formar um verdadeiro feudalismo. A nobreza proprietria de terras foi logo subordinada ao rei, que, aliado burguesia mercantil nascente, que tambm facilmente se transmudava nobreza, tornou-se o 6 - Ver Alfredo Bosi (1992: 36). 7 - Jos Murilo de Carvalho, emA Construo da Ordem(1980), mostra com clareza, a partirdepesquisaporelerealizadaparasuatesededoutoradoemStanford,comoa grande maioria dos ministros do Imprio pertenciam a esse estamento de letrados. 8 -VerFaoro(1957/75).BuarquedeHolanda(1936/67:105-116) j claro a respeito: os detentores das posies pblicas de responsabilidades caracterizam-se justamente pelo que separa o funcionrio patrimonial do puro burocrata conforme a definio de MaxWeber.AcrescentaSrgioBuarque:NoBrasilsomenteexcepcionalmente tivemosumsistemaadministrativoeumcorpodefuncionriospuramentededicadosa interessesobjetivosefundadosnessesinteressesEmaisadiante,impiedosocom essaelite,mostrasuaexcessivavalorizaodoselementosbacharelescose intelectuais, conclui, mostrando o carter tradicional dessa burocracia patrimonialista: A origem da seduo exercida pelas carreiras liberais vincula-se estreitamente ao nosso apego quase exclusivo aos valores (tradicionais) de personalidade nsia pelos meios devidadefinitivos,quedoseguranaeestabilidade,exigindoaomesmotempoum mnimo de esforo pessoal.8grande proprietrio de terras ele prprio e, apoiado no seu poder militar e na constituio de uma complexa administrao, aumentou fortemente sua capacidade de impor impostos no apenas sobre a produo agrcola, mas principalmente sobre o comrcio martimo, que permitiu a Portugal seu momento de grandeza no tempo das Descobertas. Desta forma foi-lhe possvel impor seu domnio sobre a nobreza senhora de terras, cuja produo agrcola j no sculo quinze era decadente, e afinal transformar boa parte dessa nobreza em uma burocracia patrimonialista.No se deve, entretanto, pensar no patrimonialismo brasileiro como uma mera transplantao do regime portugus. Se no fosse por outras razes, porque ele s se torna dominante no Brasil quando o pas se torna independente. Mas, da mesma forma que ocorreu em Portugal, ele emerge da decadncia da classe proprietria de terras em Portugal da aristocracia proprietria de terras, no Brasil da burguesia mercantil e patriarcal com pretenses aristocrticas. Ela ser formada por polticos civil e por oficiais militares do Exrcito em formao, ter principalmente bacharis, mdicos e clrigos em suas fileiras.Na primeira fase do Imprio a burocracia patrimonialista ainda esta aliada velha bur guesia mercantil e patriarcal da qual se originara e burguesia de mercadores de escravos do Rio de Janeiro; na segunda, se alia com a burguesia dos fazendeiros de caf. Esta aliana se manter com a proclamao Repblica, e se estender at 1930. difcil dizer se a burocracia patrimonialista fracassou ou no em promover o desenvolvimento e construir uma nao. A herana colonial que recebeu foi acabrunhante: uma economia escravista e latifundiria em declnio em que a grande atividade lucrativa era o trfico, um nvel de educao e cultura do povo e mesmo das elites baixssimos dada a poltica militante de Portugal contra avanos nesta rea e o desleixo, to bem notado por Srgio Buarque, de nossa burguesia latifundiria e mercantil. Uma sociedade nacional desorganizada, sem unidade, em que senhores de terra do serto, criadores de gado, coronis e jagunos, constituam Estados dentro do Estado em formao. A instituio da monarquia ajudou a manter a unidade do pas. Houve grandes figuras, como Jos Bonifcio, e como Feij, que, depois de quase 30 anos de conflitos internos, conseguiram implantar a ordem no pas em meados do sculo dezenove. aproximadamente nesse momento que, no Oeste paulista, emergia a classe da burguesia cafeeira. Ela surgira antes no Vale do Paraba, mas era escravista e retrgrada, muito semelhante dos donos de engenhos. No Oeste de So Paulo vemos surgir a terceira grande elite brasileira. Ela compartilha ainda de muitos dos vcios da explorao mercantil, mas j no se pode falar mais do latifndio dual, fechado e auto-suficiente internamente, e mercantil nas suas relaes exteriores, que Rangel e Furtado to bem definiram. Temos agora uma burguesia mais moderna, que usa o trabalho assalariado do imigrante ao invs do trabalho escravo, e j comea a pensar em termos no apenas especulao mercantil, mas de produtividade capitalista. 9Comea ento um longo perodo de prosperidade para o Brasil, que s ter fim em 1980. Poucos pases alcanaram taxas de crescimento do produto nacional to grandes quanto o Brasil nesse perodo. Ele ser marcado por crises, e transformaes, mas seus primeiros 80 anos, de aproximadamente 1850 a 1930, ser marcado pela aliana entre a burocracia patrimonialista e a burguesia cafeeira. A abolio da escravatura em 1888 e a proclamao da Repblica, em 1889, por um golpe militar, no afetam essa aliana. Pelo contrrio, a reforam. O incio da industrializao paulista, a partir da crise que ento se desencadeia, ocorre por iniciativa de imigrantes de classe mdia, no dos cafeicultores, mas usar capitais e o mercado criados pelo caf, e no afetar a aliana poltica dominante.9

Depois de 1930: Burguesia Industrial e Burocracia A depresso mundial dos anos 30 e a Revoluo de 1930, entretanto, embora no interrompam, a no ser momentaneamente, o desenvolvimento, marcaro o fim da dominao exercida pela aliana das elites patrimonialistas e cafeeiras. Forma-se ento uma nova aliana dominante, formado por representantes dos setores voltados para o mercado interno do latifndio mercantil, pela nova burguesia industrial, e pela moderna burocracia.A burguesia industrial vinha se formando em So Paulo desde o final do sculo dezenove, mas ser s nos anos 30, com a revoluo poltica de Vargas e a crise da economia cafeeira, que teremos o arranque definitivo da industrializao brasileira. Os empresrios industriais sero principalmente italianos, srio-libaneses, alemes, e seus descendentes. Os empresrios de origem brasileira (com av j brasileiro) constituir-se-o apenas em 15 por cento do total. Esta industrializao dar origem estratgia de substituio de importaes e ideologia nacional-desenvolvimentista cujos principais analistas sero os intelectuais reunidos em torno do ISEB, especialmente Hlio Jaguaribe, Guerreiro Ramos e Igncio Rangel.10 9-Demonstreiqueosempresriosindustriaispaulistastiveramorigememimigrantes declassemdiaempesquisarealizadaem1962.VerBresser-Pereira(1964).O fatode que estes imigrantes eram principalmente comerciantes est em Warren Dean (1971). 10-OISEB(InstitutoSuperiordeEstudosBrasileiros),criadoem1955,formalizou dentrodoEstadoumgrupodeintelectuaisnacionalistasqueexistiadesdeofinalda dcadaanterior.Rangeljfoicitado.DeJaguaribever(1956,1958e1961),de GuerreiroRamos(1955,1957,1960,1961).AconexoentreasanlisesdoBrasil realizadaspeloISEBepeloPartidoComunistaBrasileiro,napocasimilares,foi realizadaporNelsonWerneckSodr(1959).Acrticaaestainterpretaonacional-burguesa do Brasil ser realizada, entre outros, por Caio Prado Jr. (1966) e por Florestan Fernandes(1974:Captulo5),emummomento,porm,emfatoshistricosnovosja haviaminviabilizadoaaliananacionalistadaburguesiaindustrialcomaburocracia estatal,tornando,aumtempo,superadaainterpretaodoISEBenecessriaumanova interpretaodoBrasil,comomostreiemOEmpresrioIndustrialeaRevoluo 10 A burocracia estatal moderna, por sua vez, emerge como resultado da transformao gradual da burocracia patrimonialista, medida que se desenvolviam o Estado brasileiro e suas foras armadas. Formalmente a burocracia moderna nasce com a Reforma Burocrtica de 1936-38, na prtica um longo e sempre inconcluso processo. Esta burocracia estatal nunca assumir as caractersticas plenas de um servio civil clssico, weberiano, seja devido s foras do passado, patrimonialistas e clientelistas analisadas classicamente por Victor Nunes Leal (1949) que continuam operando, seja em face ao surgimento precoce de uma burocracia gerencial no seio do prprio Estado, j nos anos 30 (cuja anlise clssica de Luciano Martins), seja devido Reforma Gerencial de 1995, por mim inicialmente conduzida, que institucionaliza a administrao pblica gerencial em substituio administrao pblica burocrtica,11 seja, finalmente, porque emerge no setor privado, com a industrializao, uma classe mdia burocrtica privada cada vez influente, que muitas vezes no se distinguir da burocracia estatal, constituindo ambas o que chamei de tecnoburocracia.12 A aliana da burguesia industrial com a burocracia estatal e mais amplamente com a tecnoburocracia ser bem sucedida em promover a industrializao brasileira entre 1930 e 1960. Nos anos 60 grave crise econmica leva sua reorganizao sob uma forma autoritria no regime militar de 1964-1984. Supera a crise ainda nessa dcada atravs de um processo de ajustamento clssico, mas nos anos 70 insiste equivocadamente em continuar com a estratgia de substituio de importaes. Isto feito s custas de grave endividamento externo, e de crise fiscal do Estado. Afinal a aliana burocrtico-capitalista, da qual participam os Estados Unidos, entrar em colapso com a grande crise econmica dos anos 80, marcada pela crise da dvida externa e o desequilbrio macroeconmico. Brasileira (1963), emDesenvolvimento e Crise no Brasil (1968/84: Captulo 3 desde a primeira edio), e Seis Interpretaes sobre o Brasil (1982). 11 - Sobre a reforma gerencial de 1995 ver principalmente Ministrio da Administrao ReformadoEstado(1995),Bresser-Pereira(1998)eVeraPetruccieLetciaSchwarz, orgs. (1999). 12 - Creio ter sido o primeiro a analisar o fenmeno da emergncia de uma burocracia privadanoBrasil,emTheRiseofMiddleClassandMiddleManagementinBrazil (Bresser-Pereira,1962).Meuconceitodetecnoburocracia,desdeoensaioinicial sobreotema(Bresser-Pereira,1972),compreendeusempreaburocraciaestatalea privada.AsimplicaespolticasdocrescentepoderdaburocraciaprivadanoBrasil, associadaburocraciaestataleburguesia,jparecemnasegundaediode DesenvolvimentoeCrisenoBrasil(1970:94-95);naprimeiraedio(1968:170)os empresrios ainda so considerados ausentes da coalizo autoritria: no mximo foram chamadosemdeterminadosmomentosformaisparaaplaudir,receberinstruese prestar colaborao. A integrao da burocracia civil e militar est tambm presente no conceitodeanisburocrticosdeFernandoHenriqueCardoso(1975).Aalianada burocraciacomaburguesiajestemOModeloPolticoBrasileiro(1971:69),em queCardosorefere-sealianadaburocraciamilitarcomosetormais internacionalizado da burguesia. 11 A transio democrtica consuma-se em 1984. Fora o resultado da ruptura da aliana da burguesia industrial com a burocracia estatal. Essa burguesia, que em meus estudos sobre a transio democrtica eu supus se tornasse hegemnica a partir da redemocratizao, na verdade no logrou esse resultado.13 Vivemos desde ento um vcuo de poder, uma crise de hegemonia, ao mesmo tempo em que a economia brasileira, vitimada pelos interesses e pela incompetncia de suas elites, tardava em superar o desequilbrio macroeconmico e entrava em regime de quase-estagnao que dura at o presente.14

A aliana da burguesia industrial com a burocracia moderna revelou-se assim historicamente pouco duradoura, e terminou em 20 anos de crise e de paralisao do desenvolvimento. As grandes esperanas depositadas na industrializao brasileira, que nos levaria a convergir para os nveis de desenvolvimento dos pases ricos, terminaram em frustrao. Consubstanciava-se mais um fracasso das elites brasileiras. O Brasil continuava um pas subdesenvolvido, marcado pela desigualdade, pela injustia e pelo privilgio. A Poltica de Sociedade Civil No consigo, entretanto, ser pessimista. O desenvolvimento econmico foi frustrante, mas no deixou de ocorrer. A desigualdade nunca foi maior, superando inclusive a dos demais pases latino-americanos, mas os padres de vida melhoraram moderadamente para quase todos, e a sociedade se diversificou e aumentou seu nvel de educao. E no plano poltico o avano foi grande: a democracia restabelecida em 1985, embora tenha sido frustrante no plano econmico e no da justia, nunca esteve mais forte do que hoje. No se pode falar em plena consolidao, mas ocorreu um processo de crescimento e 13-Foiahiptesequeuseinostrabalhosqueescrevisobreatransiodemocrtica brasileira,apartirdeOColapsodeumaAlianadeClasses(1978).Aanliseda transio,comoumresultadodarupturadaalianaentreaburguesiaeaburocracia militar, confirmou-se;noseconfirmou, porm, asubseqenteesperada hegemoniada burguesia industrial. 14 - O crescimento da renda por habitante no Brasil, que entre 1950 e 1979, alcanou a elevadamdiaanualde3,9porcento(comparadosa2,3porcentoparaaAmrica Latina, e a 3,3 por cento para os pases da OCDE), cai para 0,7 por cento entre 1980 e 1998(comparadosa0,5porcentoparaaAmricaLatina,ea2,5porcentoparaos pases da OCDE). Analisei a crise econmica brasileira e a atribu a uma crise do Estado em uma srie de trabalhos e livros, a partir Mudanas no Padro de Financiamento do InvestimentonoBrasil(Bresser-Pereira,1987).AmplieessaanliseparaaAmrica LatinanolivrocomMaravallePrzeworski(Bresser-Pereira,1993).Eatribua incapacidadedospaseslatino-americanos,nosltimos20anos,derecuperara estabilidademacroeconmica,depoisdedesencadeadaeidentificadaacrisedoEstado desenvolvimentista,combinaodeinteresses,incompetnciaeaestratgiade confidence building, em paper ainda no publicado (Bresser-Pereira, 1999). 12 democratizao da sociedade civil que me permite sugerir que estamos assistindo transio da Democracia de Elites para a Democracia de Sociedade Civil. Sociedade civil, na forma que utilizo o conceito, a organizao da sociedade ponderada pelo poder poltico dos seus participantes. Poder que deriva do capital, da capacidade e organizao poltica, e do conhecimento de cada um dos membros da sociedade detm. Em ensaio recente sobre A Sociedade Civil, sua Democratizao, e a Reforma do Estado (1998), sugeri que neste sculo estamos assistindo uma inverso nos processos de reforma do Estado. Antes eram as classes dominantes e suas respectivas elites que reformavam o Estado, o qual, por sua vez, regulava a sociedade. Nos casos, como o brasileiro, em que o desenvolvimento capitalista foi conduzido pelo prprio Estado, cabia a este formar a prpria sociedade. Agora o que vemos uma sociedade civil muito mais ampla e diversificada comear a assumir a iniciativa de reformar o Estado, deixando em segundo plano as elites burguesas e burocrticas.A sociedade civil e a opinio pblica, embricadas, certo, com as elites, mas cada vez mais capazes de condicionar e mesmo determinar as aes, reformam o Estado e suas instituies atravs dos parlamentos. O objetivo geral caminhar na direo do bom Estado (democrtico) e do bom governo (competente e efetivo). A um enorme caminho a percorrer quando comparamos o Estado e o governo brasileiro com o dos pases desenvolvidos. Nem sempre isto conseguido. As foras antinacionais do neoliberalismo burgus, subordinadas a ideologia da globalizao, e as foras retrgradas do corporativismo burocrtico, marcadas por forte rano patrimonialista, fazem ainda valer suas vises e seus interesses. Mas h uma inconformidade crescente em relao a isto. Uma inconformidade que tem conseqncias polticas reais. Cada vez menos dependemos de nossas pobres elites iluminadas, e cada vez mais da prpria dinmica da sociedade civil. Os governantes so, por certo, obrigados a respeitar as restries econmicas, ou seja, devem garantir a estabilidade macroeconmica e acumulao de capital, mas dispem de um leque razoavelmente amplo de opes. Ora, as escolhas, entre essas opes, dependem cada vez mais da opinio pblica.Os governos eleitos, que dirigem o Estado brasileiro, j h algum tempo no podiam ser vistos como simples comits executivos da classe dominante. Um passo adiante est sendo dado nos dias que correm. Os governos esto deixando de poder ser definidos como representantes de um bloco histrico hegemnico, nos termos de Gramsci. Suas decises no correspondem a um projeto nacional definido em termos gerais, mas de um conjunto de variveis que, embora buscando definir em cada caso qual o interesse nacional ou o interesse geral em jogo, refletem uma constelao muito maior e mais contraditria de interesses. As restries econmicas, os interesses dos poderosos (que no devem ser confundidos com aquelas restries), continuam obviamente a valer, mas alm da competncia dos governantes para tomar as decises corretas, a vontade nem sempre clara da sociedade civil torna-se cada vez mais importante.13 A competncia na tomada de decises torna-se decisiva e ganha carter estratgico nos casos em as polticas pblicas, como a poltica macroeconmica, tm poderosos efeitos sobre o desempenho econmico e social do pas.15 Esta competncia tornou-se mais estratgica na medida em que os governantes do poder executivo, nas democracias modernas, viram seus poderes de deciso aumentados, dado o nmero de decises que os parlamentos no tm outra alternativa seno delegar s agncias regulatrias e executivas. As decises das agncias, entretanto, so contrabalanadas pela crescente influncia da sociedade civil porque esta, atravs de suas manifestaes, no se limita a controlar as agncias atravs de seus representantes nos parlamentos. Alm disto, ela organiza-se de forma crescente sob a forma de organizaes pblicas no-estatais de controle ou advocacia social (as ONGs) que fiscalizam as agncias quando no participam de suas decises atravs de conselhos.Esta mudana um processo histrico em andamento. Os conceitos gramscianos de hegemonia e de bloco histrico foram importantes para a compreenso da poltica italiana nos anos 20 e 30 deste sculo; ajudaram a ns, brasileiros, a analisar a poltica no pas nos anos 60 e 70. Hoje, esses conceitos, que dizem respeito a uma poltica e mais restritamente a uma Democracia de Elites, so menos teis. A crise que se desencadeou no Brasil nos anos 80 foi uma crise de Estado, com conseqncias econmicas graves. Podemos dizer, nos termos de Gramsci, que foi e ainda uma crise de hegemonia, j que as velhas classes e suas elites no logram impor seu projeto ou sua viso de mundo, e as novas fraes de classe que esto surgindo aparecem como politicamente indefinidas. Se afirmo que foi uma crise de hegemonia estou ainda usando o conceito do grande pensador poltico italiano, mas meu entendimento que est uma crise final de hegemonia, porque marca a transio no Brasil, sempre com atraso em relao aos pases desenvolvidos, da Democracia de Elites para a Democracia de Sociedade Civil.Este processo de transio realizado medida que a sociedade e a poltica se diversificam e se fragmentam, se desorganizam e se reorganizam. Na medida em que as velhas elites e os novos atores polticos e sociais tm uma enorme dificuldade em definir seus prprios interesses, e dar a eles uma formulao coerente, que faa sentido de um ponto de vista maior. Segundo Srgio Abranches (1993: 24), que tem salientado as profundas transformaes sociais e polticas por que passa o Brasil, com a democratizao, a fragmentao poltica e o pluralismo das faces se exacerbaram no Brasil a circulao das elites aumenta a fluidez dos interesses o nmero e a natureza dos interesses que afetam polticas pblicas estratgicas se alteram recorrentemente.Muitos entendem estas transformaes como negativas. Acredito que se enganam. Estas transformaes so a expresso do avano e complexificao da sociedade civil no Brasil. Como o mercado, a sociedade civil no racional, 15 - Ver a respeito Incompetence and Confidence Building behind Latin Americas 20 Years Old Quasi Stagnation (Bresser-Pereira, 1999). 14 no segue um rumo nem obedece a uma lgica especfica. constituda de agentes que buscam racionalmente identificar seus prprios interesses com os coletivos, mas cujo sucesso nesse intento sempre precrio. Nestes termos, preciso no depositar esperanas excessivas na democracia, nem estabelecer condies para sua progressiva consolidao que no so realistas. Quando houve a transio para a democracia, em meados dos anos 80, estas esperanas excederam o razovel. Conforme observa Marcus Melo (1995: 45), ao contrrio das expectativas geradas nos pases egressos de experincias autoritrias, a democracia enquanto forma poltica no necessariamente nem mais, gil nem mais eficiente, nem produz necessariamente mais governabilidade, mas, imperfeita ou no, a democracia a nica forma poltica legtima. Em outras palavras, a democracia no o mais perfeito, mas o menos imperfeito dos regimes polticos: hoje o nico regime poltico legtimo porque, alm de assegurar dos direitos civis e polticos, garante melhor a estabilidade poltica ou a ordem. Enquanto, nas formaes pr-capitalistas, o excedente era apropriado pelas classes dominantes principalmente atravs do uso da fora, constituindo-se o domnio do Estado em uma condio de vida ou morte dessa classe, os regimes foram autoritrios, e o melhor que os pensadores polticos podiam esperar que o monarca fosse esclarecido. Nessas condies a democracia era intrinsecamente instvel. Quando foi possvel s classes dominantes apropriar-se do excedente via mercado, tornando-se o uso da fora secundrio, essas classes deixaram de fazer face ao imperativo da dominao. Esta foi a oportunidade para que as demandas de liberdade e participao poltica, sempre presente, pudessem agora se realizar. Desta forma os regimes democrticos ganharam legitimidade e estabilidade: a democracia tornou-se dominante naquelas economias que j haviam realizado sua acumulao primitiva e tinham condies de serem coordenadas principalmente pelo mercado. A democracia, entretanto, no produz milagres. arriscado exigir-se demais de uma democracia em processo de consolidao. Exigir, por exemplo, que ela seja uma democracia social, distribuindo com mais justia a renda. Isto, atravs do processo democrtico, vai ocorrer, mas no com a urgncia e a clareza que queremos. E nem por isso a democracia vai entrar em colapso. Fbio Wanderley Reis, por exemplo, faz uma crtica pertinente a Hlio Jaguaribe, dada a afirmao deste ltimo que a democracia ter de ser uma democracia social de massas, ou no poder s ubsistir como democracia. A posio de Hlio nobre, mas no se confirmou. A democracia brasileira no se tornou uma democracia social, avanando muito lentamente nessa direo, mas continua provavelmente mais forte ou estvel do que era no momento da transio democrtica.16

Os avanos da sociedade civil nestes ltimos 50 anos foram imensos no Brasil. O eleitorado brasileiro, que em 1950 somava 11 milhes de eleitores e correspondia a 21 por cento da populao, hoje alcana 106 milhes (eleies 16 - Ver Hlio Jaguaribe (1985) e Fbio Wanderley Reis (1988). 15 presidenciais de 1998), correspondendo a dois teros da populao. O analfabetismo foi reduzido de 40 para pouco mais de 10 por cento da populao. O ndice de urbanizao nesse perodo saltou de cerca 50 por cento para 80 por cento. Wanderley Guilherme dos Santos fez, ainda nos anos 80, uma anlise demonstrando o impressionante crescimento das associaes de todo os tipos atravs das quais a sociedade civil se organiza e procura mudar o Estado, influenciar e controlar os governos.17 Depois desta anlise o nmero e a influncia das entidades corporativas, representativas de interesses, e das organizaes pblicas no-estatais, seja as de servio, seja as de controle social (ONGs) no tem parado de crescer.Estas mudanas no tornaram o Brasil uma sociedade mais justa, mas no h dvida de que a esto transformando em uma sociedade mais democrtica. Dependemos cada vez menos das elites, e cada vez mais da sociedade civil. Nesta no existe a igualdade prevista no conceito de povo, em que cada cidado formalmente igual ao outro. Na sociedade civil os cidados no so iguais, o poder de cada um varia e, portanto, sua capacidade de fazer valer seus direitos ou sua vontade. Mas todos, inclusive os mais pobres, possuem a liberdade e alguma forma de transform-la em direito efetivo, no apenas por serem cidados, mas porque esto inseridos em alguma forma de organizao da sociedade civil. Ora, esta liberdade maior, esta democracia que avana embora continue muito imperfeita, que nos pode tornar mais otimistas ou menos pessimistas no plano econmico e no plano social. No plano econmico porque podemos esperar polticas econmicas mais competentes, que respondam melhor ao interesse nacional. Porque maior democracia significa maior debate, implica em respeito pelos adversrios, exige crena no valor da argumentao, levando a sociedade a aprender dos seus prprios erros e a no repetir erros de poltica econmica. Cada vez ser mais difcil, por exemplo, repetir, como o fizemos nos anos 90, o erro de adotar a estratgia dos anos 70 de crescimento com endividamento (growth cum debt, como era chamada em ingls). A poltica do confidence building de adotar as polticas que nos so sugeridas por Washington e Nova York ainda que no estejamos convencidos de que elas melhor atendem nossos interesses para conseguir deles confiana ou credibilidade ter cada vez menos espao. No plano social, o avano da democracia dever significar uma capacidade maior de demandar e negociar por parte das camadas mais pobres da sociedade. Mas de demandar e negociar em bases realistas, com bons argumentos de ordem econmica e jurdica, alm das necessrias consideraes no plano da justia. Durante muito tempo os trabalhadores foram vtimas de polticos populistas que ainda esto por a, sempre disposio18 e de assessores econmicos despreparados, que no eram 17 - Ver Wanderley Guilherme dos Santos (1985). 18 - Veja-se, por exemplo, a proposta do partido liberal brasileiro, o PFL, em fevereiro de2000,deelevarosalriomnimopara100dlaresemummomentoemque essencialconsolidaramudananospreosrelativosimplcitanabemsucedida 16 respeitados pelos economistas dos empresrios e do governo (nem os respeitavam).19 Esta situao de impossibilidade do dilogo tende a ser superada no apenas devido ao avano da democracia, valorizao da retrica e da argumentao, mas tambm porque o nvel de educao dos trabalhadores e de seus lderes tem continuamente melhorado. Dou, portanto, um peso grande ao avano do debate democrtico, em que haja respeito pelas idias do adversrio. A Democracia de Sociedade Civil s se consolidar quando este debate se generalizar no Brasil. Vivemos hoje esta transio da Democracia de Elites para a Democracia de Sociedade Civil. Ela s se completar quando as eleies presidenciais deixarem de ser uma questo de salvao ou de danao, quando as posies entre os candidatos no forem to diferentes que permitam esse tipo irracional de avaliao. Ou, em outras palavras, quando a existncia de uma ampla classe mdia, integrada inclusive por trabalhadores qualificados, e de uma sociedade civil cada vez mais diversificada, democratizada, e forte, implicarem no fortalecimento do centro poltico, tornando as propostas dos candidatos menos distantes umas das outras. Era comum uma tipologia de democracia que opunha a democracia populista ideolgica, vendo-se na ltima um avano. No nego este avano, e vejo que ele de alguma forma ocorreu no Brasil. Mas a poltica ideolgica pode ser uma poltica de radicalizao ideolgica, e este tipo de poltica no leva a nada seno crise. Por isso prefiro falar em uma transio da democracia e elites para a de sociedade civil e, em uma terceira etapa, para a Democracia de Povo. As ideologias estaro sempre presentes, como estaro presentes os interesses de classe. Os partidos e os candidatos sero sempre de esquerda ou de direita. Ou de centro-esquerda e de centro-direita. Os primeiros estaro mais dispostos a arriscar a ordem em nome da justia, os segundos privilegiaro sempre a ordem. Mas ambos, para terem o apoio dos eleitores, tero que respeitar as restries econmicas e os consensos ou quase-consensos alcanados nos debates promovidos ao nvel da sociedade civil. As vises e propostas polticas no podero, portanto, ser opostas. Ao contrrio, devero gradualmente se aproximar, sem nunca se tornarem iguais. Creio estarmos caminhando nessa direo. desvalorizaocambialdejaneirode1999.Noso,portanto,apenasospartidosde esquerdaquesopopulistas:muitasvezesosdedireitasoaindamais.Emuma Democracia de Sociedade Civil, porm, esse tipo de estratgia poltica dever oferecer cada vez menos rendimentos. 19 - Sempre me lembro de uma experincia pessoal a respeito: economistas do DIESE afirmando, em junho de 1987, que, em funo do plano provisrio de estabilizao que ficouchamadodePlanoBresser,ossalriosmdiosreaiscairiam37porcento.At junhoelesjhaviamcadoquaseistoemfunodaelevaodainflaonosmeses anteriores.Apartirdejunhocrescerammoderadamente,comodemostraramdados posterioresdoprprioDIESE.OsatuaiseconomistasdoDIESEnocometemmais erros grosseiros dessa natureza. 17 O fortalecimento da sociedade civil, o surgimento de um espao pblico no centro do debate ideolgico e poltico, no dever impedir a crtica. Que em certos momentos precisa ser radical dada a radicalidade da injustia e do privilgio no Brasil. Mas a crtica social, seja com fundamento tico ou poltico, no precisar ser necessariamente pessimista, no precisar estar a todo momento prevendo o caos, a ordem totalitria, a estagnao, o apocalipse. E principalmente no dever levar a propostas de polticas igualmente radicais, salvadoras de um mundo que estaria caminhando para a perdio. A histria no mostra nada disto. Pelo contrrio, nos diz: que a misria pode ser ainda muito grande para muitos, mas j foi muito maior para uma porcentagem muito maior da populao; que a falta de liberdade ainda uma realidade para muitos, mas a liberdade que no existia para ningum hoje existe para muitos e tende a se estender para muitos mais; que a injustia e o privilgio so ainda males terrveis, mas j temos meios de reduzi-los ou limit-los. Durante cinco sculos as elites brasileiras fracassaram ou, se quisermos ser menos duros, no foram bem sucedidas em construir uma nao, em promover seu desenvolvimento, em estabelecer um razovel grau de justia. Fizeram tudo isto pela metade. Agora, entretanto, com a transio para uma Democracia de Sociedade Civil, abrem-se novas oportunidades para o Brasil. Dependeremos menos de nossas elites. Elas estaro presentes, mas ampliadas e diludas em seu poder. O saber sempre repetido a ponto de ser tornar convencional que, no Brasil, no foi sociedade que criou o Estado, mas este que criou a sociedade, ser cada vez mais convencional e menos saber. Porque cada vez mais ser a sociedade civil que reformar ou aperfeioar o Estado, tornando as instituies mais democrticas e os governos, melhores. Referncias Abranches, Srgio H. (1993) Do Possvel ao Desejvel: Lgicas de Ao Coletiva e Modelos de Desenvolvimento. In Joo Paulo Reis Velloso, org. (1993).Bresser-Pereira, Luiz Carlos (1962) "The Rise of Middle Class and Middle Management in Brazil" Journal of Inter-American Studies, 4(3), julho 1962. Trabalho traduzido e republicado como Captulo 3 de Bresser-Pereira (1968/84). 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