68
Ano X - N.º 30 - 22 de Dezembro 2009 a 21de Março 2010 Esta Revista faz parte integrante da edição do Jornal de Notícias e não pode ser vendida separadamente • Distribuição gratuita Portfolio: Parks and Wildlife Report: Sado Estuary Interview: David Attenborough Portfolio FOTOGRAFIA: CONCURSO PARQUES E VIDA SELVAGEM Reportagem ESTUÁRIO DO SADO: RESERVA NATURAL Entrevista DAVID ATTENBOROUGH

Portfolio: Parks and Wildlife Report: Sado Estuary Interview: David

  • Upload
    vannhu

  • View
    222

  • Download
    6

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Portfolio: Parks and Wildlife Report: Sado Estuary Interview: David

Ano X - N.º 30 - 22 de Dezembro 2009 a 21de Março 2010

Est

a R

evis

ta fa

z pa

rte

inte

gran

te d

a ed

ição

do

Jorn

al d

e N

otíc

ias

e nã

o po

de s

er v

endi

da s

epar

adam

ente

• D

istr

ibui

ção

grat

uita

Portfolio: Parks and WildlifeReport: Sado EstuaryInterview: David Attenborough

PortfolioFOTOGRAFIA: CONCURSO PARQUES E VIDA SELVAGEMReportagemESTUÁRIO DO SADO: RESERVA NATURALEntrevistaDAVID ATTENBOROUGH

pvs30b.indd 1pvs30b.indd 1 10/01/18 10:30:2810/01/18 10:30:28

Page 2: Portfolio: Parks and Wildlife Report: Sado Estuary Interview: David

pvs30b.indd 2pvs30b.indd 2 10/01/18 10:30:4610/01/18 10:30:46

Page 3: Portfolio: Parks and Wildlife Report: Sado Estuary Interview: David

Parques e Vida Selvagem Inverno 2009/2010 • 3

FICHA TÉCNICARevista “Parques e Vida Selvagem” · Direc-

tor Nuno Gomes Oliveira · Editor Parque

Biológico de Gaia · Coordenador da Re-

dacção Jorge Gomes · Fotografi as Arqui-

vo Fotográfi co do Parque Biológico de Gaia

· Propriedade Parque Biológico de Gaia,

E. E. M. · Pessoa colectiva 504888773 ·

Tiragem 120 000 exemplares · ISSN 1645-

2607 · N.º Registo no I.C.S. 123937. Dep.

Legal 170787/01 · Administração e Re-

dacção Parque Biológico de Gaia, E.E.M. ·

Rua da Cunha · 4430-681 Avintes · Portugal

· Telefone 227878120 · E-mail: revista@par-

quebiologico.pt · Página na internet http://

www.parquebiologico.pt · Conselho de Ad-

ministração Nuno Gomes Oliveira, Mário

Duarte, Brito da Silva · Publicidade Jornal de

Notícias · Impressão Lisgráfi ca - Impressão

e Artes Gráfi cas, Rua Consiglieri Pedroso, 90

· Casal de Santa Leopoldina · 2730 Barcare-

na, Portugal · Capa: “Olhos na bruma”; foto

de João Petronilho.

SECÇÕES

8 Ver e falar

9 Cartoon

11 Fotonotícias

14 Portfolio

18 Quinteiro

20 Dunas

24 Espaços Verdes

31 Registo

46 Noudar

52 Internacional

61 Colectivismo

64 Crónica

Os conteúdos editoriais da revista PARQUES E VIDA SELVAGEM são produzidos pelo Parque Biológico de Gaia, sendo contudo as opiniões nela publicadas da responsabilidade de quem as assina.

Esta revista resulta de uma parceria entre

o Parque Biológico de Gaia e o “Jornal de Notícias”

Inverno 2009/2010

João L. Teixeira

14 CONCURSO PARQUES E VIDA SELVAGEMportfolio«A fotografi a tem um papel muito importante na conservação da natureza», sobretudo porque «não se pode apreciar e defender aquilo que se desconhece». Estas palavras são de João Nunes da Silva, fotógrafo da natureza e membro do júri deste concurso anual.

40 ESTUÁRIO DO SADOreportagem

O estuário do Sado respira entre marés. Neste vaivém, os observadores contam cerca de 20 mil aves aquáticas invernantes, uma das faces mais vistosas de um ecossistema assaz complexo.

50 DAVID ATTENBOROUGH entrevistaDia 23 de Outubro, no salão do Hotel de la Reconquista, em Oviedo, Espanha, o encontro aconteceu à margem da cerimónia de entrega do Prémio Príncipe de Astúrias 2009, do qual sir David Attenborough é um dos laureados no campo das Ciências Sociais. David Attenborough fala aqui da necessidade urgente de se proteger a vida selvagem.

SUMÁRIO 3

pvs30b.indd 3pvs30b.indd 3 10/01/18 10:31:0110/01/18 10:31:01

Page 4: Portfolio: Parks and Wildlife Report: Sado Estuary Interview: David

4 • Parques e Vida Selvagem Inverno 2009/2010

Não se sabe quantas espécies vegetais e animais existem no mundo.

As estimativas variam entre 7 e 100 milhões, mas até agora os cientistas

classifi caram e deram nome a somente 1 milhão e 600 mil espécies

Por Nuno Gomes Oliveira

Director da Revista “Parques e Vida Selvagem”

4 EDITORIAL

Ano Internacional da Biodiversidade

Com a entrada em 2010 inicia-se o Ano Internacional da Biodiversidade, proclamado pela ONU e que, esperamos, seja um contri-buto decisivo para parar a perda de biodiver-sidade no Mundo e para criar condições de recuperação de espécies à beira da extinção.

No Parque Biológico de Gaia iniciámos as “nossas” comemorações com a assinatura de um protocolo com o a República de Timor-Leste, que visa ajudar a criar naquele jovem país os “jardins da biodiversidade”.

Não se sabe quantas espécies vegetais e animais existem no mundo. As estimativas variam entre 7 e 100 milhões. Presentemente estão identifi cados 16 milhões de espécies eu-cariotas (seres vivos com um núcleo celular or-ganizado), número que inclui 297326 plantas, 28849 fungos, 1250000 animais, dos quais 1203375 invertebrados e 59811 vertebrados (29300 peixes, 6199 anfíbios, 8240 répteis, 9956 aves e 5416 mamíferos).

Novas espécies em 2009Mas os cientistas não param de descobrir

novas espécies; passemos brevemente em re-vista as notícias do ano de 2009.

Em Março, a associação Conservation Inter-national anunciou a descoberta de 56 novas es-pécies animais e vegetais durante uma expedi-ção nas fl orestas virgens da Papua Nova Guiné. “Quando se encontra algo novo tão grandioso e espectacular, é uma prova de que há muito mais por aí que desconhecemos”, afi rmou o cientista que liderou a expedição, Steve Richards, citado pelo diário espanhol “El Mundo”.

No mesmo mês, o biólogo Paulo Fontoura, da Universidade do Porto, descobre no Parque Biológico de Gaia uma nova espécie de Tardí-grado, o Minibiotus orthofasciatus.

Em Maio, Luís Crespo, biólogo da Universi-dade de Coimbra encontra, no Jardim Botâni-co de Coimbra, duas novas espécies de aranha que se viriam a chamar Tegenaria barrientosi e Parapelecopsis conimbricensis.

Em Junho, investigadores da associação Conservação Internacional e da Universidade Católica do Equador fi zeram uma expedição às fl orestas da Cordilheira do Condor, no Su-deste do Equador, e descobriram quatro novas espécies de anfíbios, um réptil e sete insectos, incluindo uma salamandra e um minúsculo e venenoso sapinho-ponta-de-fl echa do género Dendrobates.

Em Agosto, um relatório do Fundo Mundial para a Vida Selvagem (WWF) divulgou que 350 novas espécies de plantas e animais fo-ram descobertas, nos últimos dez anos, no Himalaia, numa inóspita área de fronteira entre o Butão, Índia, Mianmar, Nepal e Tibete; entre as descobertas contam-se uma nova espécie de macaco, um sapo “voador” e a mais pe-quena espécie de veado jamais encontrada. Lot Folgering, porta-voz do WWF na Holan-da, lembra que estas espécies obviamente já existiam, apenas nunca haviam sido detec-tadas pelos cientistas: “As pessoas não se podem confundir e achar que estas espécies apareceram agora. Naturalmente, estes ani-mais e plantas já viviam lá, mas agora estão identifi cados e sabemos que eles vivem na-quela região.”

Em Setembro, foram encontrados, perto do rio Mekong, na Ásia, 150 espécies de animais e plantas desconhecidas até então. A desco-berta foi divulgada pela World Wildlife Found. Entre as novas espécies contam-se uma ave que não voa, apenas anda, uma rã com “chi-fres” e um lagarto que mais parece um leopar-do, pelo padrão da pele e os olhos de felino.

Em Novembro, a Radio Netherlands Worl-dwide, anunciava que cientistas do Census of Marine Life, um projecto internacional de pes-quisa das formas de vida dos oceanos, desco-briu mais de 17 mil novas espécies de animais marinhos nas profundidades oceânicas.

Para fechar o ano de 2009, em Dezembro, Stephen Hopper, director do Jardim Botânico de Londres (Kew Gardens), anunciou que os seus investigadores, em colaboração com bo-tânicos de todo o mundo, descreveram 290 novas espécies de plantas e fungos, numa lista que inclui 24 novas espécies de palmeiras, 13 novas espécies de orquídeas e uma nova es-pécie de maracujá brasileiro.

Esta enumeração fi ca, seguramente, mui-to aquém do que foi realmente descoberto e descrito na literatura científi ca e demonstra o potencial da biodiversidade.

A fi leira da extinção Ao mesmo tempo que se fazem descober-

tas, a ameaça de extinção de plantas e animais não pára de aumentar.

Em Novembro passado, a União Interna-cional para a Conservação (UICN) revelou a actualização da Lista Vermelha. Das 47677

pvs30b.indd 4pvs30b.indd 4 10/01/18 10:31:1610/01/18 10:31:16

Page 5: Portfolio: Parks and Wildlife Report: Sado Estuary Interview: David

Parques e Vida Selvagem Inverno 2009/2010 • 5

EDITORIAL 5

espécies registadas, 17291 estão ameaçadas de extinção.

Segundo essa lista, estão ameaçados 21% de todas as espécies de mamíferos, 30% dos anfíbios, 12% das aves, 28% dos répteis, 37% dos peixes de água doce, 70% das plantas e 35% dos invertebrados.

“Estes resultados são apenas a ponta do icebergue. Só conseguimos avaliar 47677 es-pécies até agora: há muitos milhões que po-dem estar gravemente ameaçados”, afi rmou Craig Hilton-Taylor, gestor da Unidade da Lista Vermelha da UICN.

Esta Lista Vermelha inclui 159 espécies em risco de extinção em Portugal; a maior parte refere-se a 67 espécies de caracóis da Madei-ra e dos Açores. A seguir vêm 38 espécies de peixes e um total de 11 mamíferos.

O regresso do lince-ibérico vai ser uma realidade

E por falar em espécies extintas ou à beira disso, cá por Portugal há boas-novas quanto ao Lince-ibérico: para além do centro de repro-dução criado no Algarve, Tito Rosa, presidente do Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade (ICNB), revelou em Dezembro que “No espaço de três a quatro anos pode-remos ter linces-ibéricos no Alentejo, depende de como irá decorrer o projecto que estamos a desenvolver nesse sentido”. O investimento neste projecto, que teve início em Setembro de 2009 e terminará em Agosto de 2011, ascende a 330 mil euros.

Para que o regresso do lince-ibérico venha a ser uma realidade, irão ser instalados abrigos, comedouros e bebedouros para coelho-bravo, criadas clareiras, feitas sementeiras, promovida a recuperação da vegetação ribeirinha, a recu-peração das sebes e comunidades arbustivas e a reprodução e repovoamento de coelho-bravo.

Acreditemos que sim, como acreditámos,

em 1981, que a criação da Reserva Natural da Serra da Malcata ia fazer isto tudo, e salvar da extinção, em Portugal, o felino mais ameaçado do Mundo.

Investir na conservação da natureza é altamente rentável

Tudo isto ao mesmo tempo que um estu-do do economista indiano Pavan Sukhdev nos vem dizer (o que já sabíamos há muito) que in-vestir na conservação da Natureza é altamente rentável.

“Reconhecer e pôr um preço nos serviços prestados pela natureza à sociedade deve ser uma prioridade para os responsáveis políticos”, explicou Pavan Sukhdev, principal autor do es-tudo “A economia dos sistemas ecológicos e da biodiversidade”.

Investir cerca de 30 mil milhões de euros por ano no desenvolvimento de áreas protegidas terrestres e marinhas permitirá garantir bene-fícios na ordem dos 2,6 a 3,3 mil milhões de euros por ano, durante várias décadas, estima o economista.

Em 2009, a plantação de 12 mil hectares de mangais no Sul do Vietname custou cerca de 693 mil euros, mas permitirá evitar despesas com a construção de diques na ordem dos 4,9 milhões de euros.

Litoral de GaiaE esta questão dos diques lembra-nos os

sérios problemas de erosão de que o litoral de Vila Nova de Gaia (e, em geral, de toda a costa arenosa de Portugal) está a ser vítima, devido a causas naturais, é verdade, mas num processo muito acelerado por erros do passado, nomea-damente a ocupação excessiva da faixa litoral e a construção de obras portuárias e defesas costeiras que, em certos casos, agudizaram a situação.

No caso de Gaia, a situação está a ser se-

guida com todo o cuidado e algumas medidas de ordem prática estão a ser tomadas. Espe-remos que os estudos em curso apontem so-luções para minorar a forte erosão que se está a sentir.

O fracasso (não previsto) da Conferência de Copenhaga

Embora se tivesse pensado que tinha condi-ções de sucesso, a Conferência de Copenha-ga sobre as alterações climáticas redundou num enorme fracasso.

O objectivo que se pretendia ver atingido em Copenhaga era manter o aquecimento global abaixo do limiar de 2° C acima da temperatu-ra pré-industrial; para isso era necessário que as emissões à escala mundial descessem, até 2050, para menos de 50% dos níveis de 1990.

A União Europeia deu o exemplo, e compro-meteu-se a reduzir em 30% as suas emissões se outros países desenvolvidos tomarem inicia-tivas legislativas semelhantes.

Chegou a parecer que os países estavam dispostos a aceitar a redução das emissões de CO2 até 2050 mas a única coisa que os 192 países signatários dizem nas três escassas pá-ginas do Acordo de Copenhaga é que concor-dam “... que cortes profundos nas emissões globais serão necessários de acordo com a ciência, e conforme documentado no Quarto Relatório de Avaliação do IPCC, com vista a reduzir as emissões globais de modo a manter o aumento da temperatura global abaixo de 2 graus...”; nem como, nem quando!

De positivo, nesse acordo, o reconhecimen-to do “... papel fundamental na redução das emissões resultantes da desfl orestação e da degradação da fl oresta e a necessidade de in-tensifi car a remoção de gases de efeito-estufa por fl orestas, e concordam com a necessida-de de incentivos positivos para tais acções..”; mais uma vez, nem como, nem quando.

A submissão do poder político ao poder

João L. Teixeira

pvs30b.indd 5pvs30b.indd 5 10/01/18 10:31:2610/01/18 10:31:26

Page 6: Portfolio: Parks and Wildlife Report: Sado Estuary Interview: David

6 • Parques e Vida Selvagem Inverno 2009/2010

fi nanceiro, dos interesses nacionais aos inte-resses de toda a humanidade, impediram que se desse um passo decisivo para assegurar a qualidade de vida das gerações futuras. A União Europeia não escondeu a sua desilu-são, mas não foi capaz de liderar.

Moto Clube do Porto oferece prenda de Natal

O que não fracassou foram as comemora-ções de Natal do Moto Clube do Porto, que proporcionou um dia diferente a 23 crianças e jovens da associação CrescerSer, que vi-vem na Casa do Vale e na Casa de Cedofeita, trazendo-as ao Parque Biológico e culminan-do com um pequeno baptismo de moto e a aparição do Pai Natal.

Com a manhã passada a visitar o Parque e o merecido almoço já digerido, as motos entraram em acção, com a rapaziada em calmas voltas no parque de estacionamento do Parque Biológico. O dia não podia termi-nar sem a aparição do Pai Natal, motociclista

6 EDITORIAL

claro, que, sob carvalhos e azevinhos, dis-tribuiu a toda a garotada presentes relacio-nados com o Ambiente e a Conservação da Natureza.

Foi com muito prazer que o Parque Biológi-co se associou a esta iniciativa, e é com esta prova de fi lantropia do Moto Clube do Porto que queremos saudar 2010.

João

L. T

eixe

ira

pvs30b.indd 6pvs30b.indd 6 10/01/18 10:31:3610/01/18 10:31:36

Page 7: Portfolio: Parks and Wildlife Report: Sado Estuary Interview: David

Parques e Vida Selvagem Inverno 2009/2010 • 7

No passado dia 18 de Dezembro apresentei o Plano Municipal

de Sustentabilidade querendo, assim, dar o contributo local

para os objectivos globais, infelizmente fracassados,

da Conferência de Copenhaga sobre as alterações climáticas

Por Luís Filipe Menezes

Presidente da Câmara Municipal

de Vila Nova de Gaia

OPINIÃO 7

Melhor Ambiente

O que anunciei, na generalidade, corres-ponde a preocupações há muito presentes na gestão municipal e, algumas, a acções já em curso; apenas se organizou a apresentação na perspectiva da sustentabilidade municipal, objectivo que sempre integrou o exercício au-tárquico em Gaia.

O Plano, que se estende até 2020, prevê um investimento de 95 milhões de euros e assenta em seis eixos principais: efi ciência energética, mobilidade sustentável, energias renováveis,

ambiente, zonas verdes e biodiversidade, for-mação e sensibilização, e governação.

Numa primeira fase, até 2013, esperamos criar novas ciclovias, novos parques verdes, e aumentar as áreas de mobilidade condiciona-da. Nos edifícios e equipamentos municipais vamos racionalizar a efi ciência energética.

Destaco, entre os objectivos deste Plano, a rede de eléctricos rápidos, a construir em três fases: Avintes/Avenida da República, Avenida da República/Orla Marítima e Canelas/Carva-

lhos. Pretende-se reduzir as emissões de dióxi-do de carbono, garantir uma mobilidade efi caz e melhorar a qualidade do ar.

O concurso público será lançado no primeiro trimestre de 2010.

O Plano apresenta ainda outras medidas: fl orestação dos nós das auto-estradas, con-solidação do cordão dunar e criação de um observatório de análise. Investiremos também nas escolas, colocando o desenvolvimento sustentável quase como disciplina obrigatória.

João

L. T

eixe

ira

pvs30b.indd 7pvs30b.indd 7 10/01/18 10:31:4510/01/18 10:31:45

Page 8: Portfolio: Parks and Wildlife Report: Sado Estuary Interview: David

8 • Parques e Vida Selvagem Inverno 2009/2010

8 VER E FALAR

Aldeia globalA opinião dos leitores ultrapassa fronteiras e chega ao e-mail da revista...

De Além-marJosé Lúcio escreve através de correio elec-

trónico do Rio de Janeiro, em 14 de Outubro: «Possuo somente o número 26 da revista Par-ques e Vida Selvagem, que recebi de um amigo da cidade do Porto. Sou formado em História e Arqueologia. Filatelista, estou desenvolvendo uma colecção temática sobre os seres vivos e a sua evolução. Neste número há uma matéria sobre o naturalista Darwin. Este foi o principal motivo deste meu amigo ter me enviado este número. Todavia, fi quei tão encantado com to-das as matérias da revista que solicito a assi-natura».

Resposta: «Se o desejar, teremos gosto em enviar-lhe algumas das revistas que ainda con-sigamos encontrar em armazém e doravante passará a receber a revista, devendo para isso dar-nos conhecimento da sua morada».

Porfolio: fotografar libélulas«Foi com alguma surpresa», diz em 27 de

Outubro Sónia Ferreira, bióloga, conhecida pelo seu trabalho na área das libélulas, «que vejo nesta última revista o artigo sobre libélulas e fo-tografi a. Saúdo a iniciativa e é bom saber que o tema merece destaque na revista». Contudo, chama a atenção para o lapso no texto sobre a distribuição da libélula cujo nome científi co é «Anax parthenope: na referência bibliográfi ca citada encontram-se duas “bolinhas” acima de Évora em território português, o que automati-camente torna errado afi rmar que o limite se-tentrional é na zona de Évora». Além disso, esta espécie consta da lista de insectos do Parque Biológico de Gaia, «onde a espécie é conhecida há dois anos».

O polinizador inesperadoDo Real Jardin Botánico, de Madrid, face à

publicação de uma fotonotícia da Parques e Vida Selvagem, recebemos em Setembro pas-sado esta mensagem: «Soy Jose Luis Blanco, becario predoctoral a cargo de Pablo Vargas. He recibido un e-mail de Jorge Paiva vía Pablo diciendo que usted posee fotos de unas “bor-boletas” visitando una Linaria de dunas (supon-go que es L. polygalifolia subsp. lamarckii), estoy muy interesado en éste tema dado que se trata de una especie perteneciente a mi sección de estudio. Le agradecería mucho si me puede

enviar algunas fotos y si fuese posible, tambi-én material de la planta (de la forma que usted estime más conveniente). Además me gustaría saber a que hora del día se producen las colec-tas de néctar, así como el nombre de la especie de borboleta. Disculpe mi escritura en español y reciba un cordial saludo».

Sim, é uma fotografi a da revista n.º 27. Res-posta: «A borboleta pertence à família Sphingi-dae, e é a Hyles livornica (Esper, 1779). É do grupo das chamadas borboletas nocturnas (heteróceros), mas como acontece com outras espécies tem actividade diurna. Essas fotos foram obtidas numa observação de aves, um domingo de manhã, no Parque de Dunas da Aguda. Nos primeiros domingos dos meses de Abril e Maio, entre as 10h00 e as 12h00, es-tivemos nesse local numa sessão de observa-ção aberta à população. Num certo instante, apareceu essa borboleta que, veloz, voava de uma fl or para outra. Não temos observações de rotina, mas é provável que haja várias espécies de borboletas migradoras que usam as plantas que fl orescem nas dunas para se alimentarem durante as deslocações.

Sobre a planta, temos a informação de que é uma Linaria polygalifolia hoffmanns&link ssp. polygalifolia».

Sublinha o botânico espanhol: «Muchas gra-cias por toda la información, por ahora es todo lo que necesito saber. Para nosotros es muy impresionante que estos esfi ngidos puedan po-linizar una linaria que tiene la corola completa-mente cerrada... tendremos que tener en cuen-ta a éstos polinizadores en nuestros trabajos».

Momento mágicoNão sabíamos, mas fi cámos a saber: Raquel

Palmas é uma leitora assídua desta revista. E só obtivemos essa informação graças a um estra-nho casulo que lhe apareceu ao pé de casa.

Diz assim em 25 de Outubro: «Leio avida-mente a vossa revista já há alguns anos e, como comprei recentemente uma máquina fotográfi -ca digital e sou uma grande fã de macros e de natureza, andei a fotografar pequenos porme-nores, fl ores e animais do meu quintal.

Encontrei então uma lagarta engraçada, grande, amarela e com pintas pretas dos lados a começar a formar uma crisálida, pendurada num vaso. Uns dias depois (em fi ns de Agosto),

fotografei-a e procurei na internet qual seria o seu aspecto na fase de borboleta, mas não tive grande sucesso, a mais semelhante que encon-trei foi a Papilio machaon, embora a lagarta e a crisálida tenham uma cor diferente. Para além disso, a crisálida ainda se mantém intacta (não é estranho, após tanto tempo?).

Assim, depois de me ter inspirado no portfolio das libélulas do vosso último número e no desa-fi o “Que será isto?”, junto aqui a fotografi a e fi ca-ria imensamente agradecida se me pudessem ajudar e até dizer-me o tempo que irá levar para a crisálida se transformar, para poder eternizar esse momento tão delicado e mágico».

Ora Raquel, isso soa a «contragolpe»! Logo na edição em que lançamos o desafi o aos leito-res com a nova secção «Que será isto?», inverte os papéis e põe-nos contra a parede! Ora bem, como não conhecemos essa crisálida, não nos pusemos a adivinhar: perguntámos ao nosso colaborador Rui Andrade, que esclareceu – é uma crisálida de uma borboleta da família dos Papilionídeos, de facto, mas não da cauda-de-andorinha, Papilio machaon, sim da fl âmula, Iphiclides feisthamelii.

Quanto à eclosão, depende sobretudo das temperaturas. Por isso não sabemos se irá hi-bernar nesse mesmo estado de crisálida, mas o mais provável é ou já estar vazio ou já ter sido parasitada por outros insectos.

Ano X - N.º 29 - 22 de Setembro a 21 de Dezembro 2009

Est

a R

evis

ta fa

z pa

rte

inte

gran

te d

a ed

ição

do

Jorn

al d

e N

otíc

ias

e nã

o po

de s

er v

endi

da s

epar

adam

ente

• D

istr

ibui

ção

grat

uita

Estuary: Wildlife journalReport: Morais – Natura 2000 NetworkInterview: The dry bite of the viper

DunasDIÁRIO DA VIDA SELVAGEMReportagemMACIÇO DE MORAIS: ROCHAS ULTRABÁSICASEntrevistaVÍBORAS: UMA MORDEDURA SECA

pvs29.indd 1pvs29.indd 1

09/10/16 14:12:19

Raq

uel P

alm

as

pvs30b.indd 8pvs30b.indd 8 10/01/18 10:31:5410/01/18 10:31:54

Page 9: Portfolio: Parks and Wildlife Report: Sado Estuary Interview: David

Parques e Vida Selvagem Inverno 2009/2010 • 9

CARTOON 9

Por Ernesto Brochado

O que esperar de 2010?Agora que o ano de 2009 já se despediu de nós e 2010 é apontado pela ONU como o “Ano Internacional da Biodiversidade”, o que nos fi ca na memória tanto de bom como de mau deste ano que acabou de fi ndar? Apesar de algumas melhorias e, de uma maior consciencialização ambiental, estamos longe do desejável, de nos tornarmos um exemplo, principalmente a nível europeu, mas também mundial. Recentemente fi camos a conhecer em toda a sua dimensão o fracasso que foi a Cimeira de Copenhaga, na qual os objectivos para travar as alterações climáticas fi caram pouco claros, antevendo de novo negociações difíceis entre os principais países poluidores ao longo do corrente ano. Não é demais sublinhar que a subida do preço do petróleo fez o que muitas acções ambientalistas não conseguiram fazer nos últimos anos – a redução do consumo dos combustíveis fósseis. Já agora, lembrar

que matérias-primas como o sol, as ondas marinhas e o vento estão isentas de custos e não são poluidoras.Como sempre, todos os anos somos surpreendidos com novas descobertas, seja por alteração de comportamento animal ou pelo aparecimento de novas espécies animais e vegetais mas que, em grande parte devido às permanentes alterações climáticas, idealizamos poderem vir a ser de curta duração. Por outro lado todos sabemos que, quanto mais ameaças à biodiversidade existirem mais estas diminuem a esperança média de vida do homem.Será que em momentos de crise ambiental, económica, demográfi ca e civilizacional entre outras de que tanto se fala, estará o homem a perder uma das suas últimas oportunidades de se reconciliar consigo mesmo?Quais os seus desejos para 2010?

Por Sara Pereira, bióloga Cegonhas-brancas

João

L. T

eixe

ira

pvs30b.indd 9pvs30b.indd 9 10/01/18 10:32:0610/01/18 10:32:06

Page 10: Portfolio: Parks and Wildlife Report: Sado Estuary Interview: David

10 • Parques e Vida Selvagem Inverno 2009/2010

Biodiversidade: o tempo de agir é agora

«A biodiversidade é a vida. A biodiversidade é a nossa vida», eis o mote que a Assembleia Geral das Nações Unidas dá a 2010, Ano Inter-nacional da Biodiversidade.

Esta campanha assenta em quatro premis-sas:

«1 – O ser humano é parte integrante da imensa diversidade que caracteriza a natureza e tem o poder de a destruir ou de a proteger.

2 – A biodiversidade, a variedade da vida na Terra, é essencial para sustentar a teia da vida que torna possível ao ser humano uma exis-tência em que é capaz de usufruir de saúde, de riqueza, de alimento, de combustíveis e de serviços dos quais depende a sua vida.

3 – A actividade humana está a ter efeitos devastadores, a grande velocidade, na diversi-dade da vida na Terra.

Estas perdas são irreversíveis, empobrecem toda a humanidade e degradam os sistemas

que suportam a vida, com os quais contamos todos os dias para sobreviver. Mas ainda esta-mos a tempo de inverter este ritmo.

4 – O Ano Internacional da Biodiversidade decorre agora, em 2010. É vital refl ectir na ca-pacidade que temos de proteger a biodiversi-dade e focar a urgência de atender a este de-safi o de que decorrerão efeitos inevitáveis no porvir. O tempo de agir é agora».

Um comunicado da ONU declara que esta campanha anual pretende «celebrar a diversi-dade da vida na Terra e contrariar a perda da biodiversidade no mundo». A mesma fonte destaca o «papel crucial da natureza no apoio à vida na Terra, incluindo a nossa».

O ritmo de extinções é alarmante, sendo esta perda causada pelas actividades huma-nas, a que se adicionam os danos causados pelas alterações climáticas.

Pretende-se que 2010 seja um ano de mobi-

lização internacional em relação a este desafi o global, capaz de levar todos mais longe nas respectivas acções.

Para chegar onde pretende, o Ano Interna-cional da Biodiversidade pressupõe a necessi-dade de uma acção global à escala local.

A Assembleia Geral da ONU prevista para o próximo dia 20 de Setembro irá preparar a Ci-meira da Biodiversidade de Nagoya, no Japão, a decorrer em Outubro de 2010, altura em que os vários governos deverão traçar novos ca-minhos e metas para contrariarem a perda de biodiversidade.

Para o ano que se segue, 2011, prepara-se outro tema, na sequência do que está em cur-so: o Ano Internacional das Florestas.

Mais: www.cbd.int www.un.org/News/briefi ngs/ docs/2009/091103_Biodiversity.doc.htm

Já no início deste ano o Parque Biológico de Gaia disponibilizará aos seus

visitantes uma exposição alusiva a este mesmo tema, que está nas preocupações

desta empresa municipal desde o seu início de vida, há mais de 25 anos

10 CONTRA-RELÓGIO

Biodiversity: The time to act is now“Biodiversity is life. Biodiversity is our life “! This is the motto that the General Assembly of the United Nations has given the 2010 International Year of Biodiversity. It is intended that this period will be a year of International mobilization in relation to this global challenge that can lead us all further in our respective activities.

Jorge Casais

pvs30b.indd 10pvs30b.indd 10 10/01/18 10:32:1510/01/18 10:32:15

Page 11: Portfolio: Parks and Wildlife Report: Sado Estuary Interview: David

Parques e Vida Selvagem Inverno 2009/2010 • 11

Quantas vezes se fala na instabilidade do clima no quotidiano hoje em dia? Muitas! O tema já não se restringe a longos cálculos e a extensas fi las de dados fi ltrados em laboratório.Embora as pessoas ligadas à agricultura desde sempre tenham estado atentas a essas variações, agora até o homem mais urbano fala delas e começa a perceber que a estabilidade do clima extrapola o programa de férias e se prende antes com a sobrevivência.Qualquer pequeno capricho atirado ao clima global pode desequilibrar a balança, por exemplo, em relação à água, algo que não se quer nem em excesso - cheias - nem em escassez - seca. Ao longo da história da vida na Terra já ocorreram múltiplas alterações climáticas. Por exemplo, está a imaginar icebergues no Litoral Norte? Bem, na última glaciação, há cerca de 12 mil anos, isso aconteceu.O problema crucial destes dias que vivemos aponta uma grande diferença face ao passado: o impacte das actividades humanas na natureza, em todo o Globo, está a ocorrer a uma velocidade demasiado rápida. A natureza, e os recursos que nos proporciona, podem ser muita coisa, mas não são de certeza inesgotáveis. Sustenta a humanidade desde que esta saiba até onde pode ir. Se se ignorar os limites, a evolução fala mais alto, e o ser humano é descartado do mapa da vida. Depois ressurgirá o equilíbrio.Então estaremos no mítico fi m dos tempos?Há muitos que garantem que, a este ritmo de consumo, isso é inevitável, a não ser que se arrepie caminho. Outros acham que não: para

Clima

FOTONOTÍCIAS 11

estes, a tecnologia consegue resolver tudo. Provavelmente, nem existe o entendimento de que o ar que se respira depende não de uma máquina construída pelo homem, mas de fl orestas e do plâncton vegetal dos oceanos, também este em risco de soçobrar com o aquecimento global.

Algo que também pode afectar recursos que tínhamos como garantidos, com nomes tão usuais como sardinha ou atum. Enfi m, diga lá se isto não acaba por ser uma verdadeira pescadinha-de-rabo-na-boca?

Texto: JG. Foto: João L. Teixeira

pvs30b.indd 11pvs30b.indd 11 10/01/18 10:32:2310/01/18 10:32:23

Page 12: Portfolio: Parks and Wildlife Report: Sado Estuary Interview: David

12 • Parques e Vida Selvagem Outono 2009

12 FOTONOTÍCIAS

Uf! Que alívio...Vá lá, não se ria. Quer dizer nunca lhe aconteceu?A diferença é que não estava lá um fotógrafo a apanhá-lo em fl agrante, como aconteceu a esta ave aquática na margem sul do rio Douro.O clic da máquina fotográfi ca esteve à altura: disparou no tempo certo e cristalizou o momento.Depois de algumas contas, tudo parece apontar para uma cobrança atrasada do autor da fotografi a, sonho guardado no anseio de capturar imagens deste mergulhão conhecido por corvo-marinho-de-faces-brancas em plena actividade subaquática, apesar da água turva deste rio de águas douradas, sempre que chove muito nas encostas de xisto.Nas observações de Inverno que decorrem na Reserva Natural Local do Estuário do Douro, esta espécie de ave vê-se aos bandos.

Algumas abrem as asas e deixam-nas a secar. Isso não quer dizer que gostam de dar nas vistas, afi nal algo perigoso tanto para animais selvagens como para nós, humanos, pois em muitos casos pode pisar os olhos...As penas destes corvos-marinhos estão adaptadas para não repelirem tanto a água como as de outras aves e, por isso, encharcam. Só assim a incrível agilidade destas aves debaixo de água atinge níveis que lhes permite capturar peixe.Ao contrário do que por vezes se ouve, não são estas aves quem impõe à lota maus resultados na actividade pesqueira, pelo contrário: zelam pela saúde dos cardumes. Os peixes doentes chegam-lhes mais depressa ao bico, evitando-se a propagação de moléstias. Os mais saudáveis escapam, e podem reproduzir-se. Até parece mentira eles nunca terem ouvido falar na selecção natural explanada por Darwin...Voltando às asas abertas dos corvos-

marinhos, o que acontece é que depois de terem andado atrás das tainhas debaixo de água, necessitam de secar, já que as penas encharcadas pesam e não ajudam a voar.Imagine se um cão deriva para cima do bando e o corvo-marinho não tem tempo de chegar à água! Perde a vida entre colmilhos...É também na sequência do facto de ter de se alimentar que, em linguagem popular, este fenómeno bombástico ocorre: tudo o que entra sai.Quem tem experiência de andar na Baixa de alguma cidade do litoral, onde abundam pombos e gaivotas, pode dar-se por contente. Uma coisa é uma pombita acertar-lhe com um destes dardos no casaco, lá do alto: Que azar! Já é diferente ser uma gaivota: Tou tramado! Mas se fosse um corvo-marinho, se calhar mais valia mudar de país...

Texto: JG. Foto: João L. Teixeira

pvs30b.indd 12pvs30b.indd 12 10/01/18 10:32:3210/01/18 10:32:32

Page 13: Portfolio: Parks and Wildlife Report: Sado Estuary Interview: David

A outra face dos cogumelos«Desta vez alguma coisa correu mal. Os

meus pais sempre comeram cogumelos!», dizia no noticiário Manuel Pires, de Castelo Branco, angustiado.

Há míscaros que não aparecem sempre com a mesma cor e podem até apresentar-se com texturas diversas. Explicam, por isso, os biólogos que há cogumelos polimórfi cos.

É esse o principal motivo pelo qual a iden-tifi cação certeira destes seres vivos é falível para a esmagadora maioria da população.

Ainda por cima, muitos dos cogumelos são mortais, outros provocam alucinações, outros induzem vómitos e diarreia…

Seria possível numa só semana do passa-do mês de Novembro uma unidade de saú-de portuguesa receber o mesmo número de doentes afectados por cogumelos do que os que recebeu nos últimos 17 anos?

Bem, não é quimera. Aconteceu mesmo, mais precisamente na Unidade de Cuidados

Intensivos do Serviço de Gastrenterologia dos Hospitais da Universidade de Coimbra, segundo declarações à imprensa de José Romãozinho, chefe do departamento.

Não foi uma grande quantidade de pacien-tes: apenas quatro. Mas houve quem tivesse de ser submetido a transplante de fígado… Outros morreram mesmo.

As vítimas foram uma criança, um adoles-cente e dois adultos. No total são quatro fa-mílias afectadas pelo sinistro.

Se a culpa não foi do mordomo terá sido dos cogumelos?

Não. Ao longo da história da humanidade a colheita sazonal dos bens que a natureza oferece — fruta, grão, míscaros, caça — era uma necessidade. Hoje é capaz de ser só uma tradição.

Os cogumelos são fungos e fazem parte da diversidade da vida no nosso planeta. De-sempenham funções notáveis nos ecossiste-

mas, entre as quais se contam simbioses de natureza diversa.

Quando afl oram à superfície estão a dis-persar esporos, na prática as suas semen-tes.

Imagine-se uma macieira toda enterrada na terra, a crescer: as maçãs equivalem aos cogumelos.

Uma vez que na sociedade a fome da população não depende deste sector da biodiversidade, é capaz de ser mais barato usar na culinária cogumelos alimentares com controlo agrícola, que se vendem nos super-mercados.

Embora possam ser considerados uma iguaria, é preferível admirá-los sem os dani-fi car. Emerge a vantagem de os deixar à vis-ta de outras pessoas que tenham gosto em contar com eles na paisagem.

Texto: JG. Foto: João L. Teixeira

Parques e Vida Selvagem Inverno 2009/2010 • 13

FOTONOTÍCIAS 13

pvs30b.indd 13pvs30b.indd 13 10/01/18 10:32:4110/01/18 10:32:41

Page 14: Portfolio: Parks and Wildlife Report: Sado Estuary Interview: David

Concurso Parques e Vida SelvagemQuando a exposição do concurso nacional de fotografi a da natureza «Parques e Vida Selvagem» abriu em 7 de Novembro já os trabalhos seleccionados pelo júri prendiam a atenção de autores e visitantes minutos antes da entrega dos prémios.Ao tomar a palavra, Nuno Gomes Oliveira, anfi trião, agradeceu a presença de todos e sublinhou que «pelo sexto ano consecutivo o Parque Biológico de Gaia lança este concurso de fotografi a da natureza, que cada vez mais revela ser uma excelente forma de fazer educação ambiental». Por isso, «para o ano surgirá a edição de 2010». João Nunes da Silva, fotógrafo da natureza e membro do júri, disse que «a fotografi a tem um papel muito importante na conservação da natureza», sobretudo porque «não se pode apreciar e defender aquilo que se desconhece». Sublinhou ainda que «este concurso é dos melhores de fotografi a da natureza que conheço ». Apesar da renhida concorrência, dada a qualidade da maioria dos trabalhos, na vertente de Arte Fotográfi ca foi «Olhos na bruma» de João Petronilho que mais convenceu o júri. Por sua vez, o prémio Registo Documental coube a «Vórtex», de Pedro Patrício. Por fi m, o prémio Júnior, destinado a concorrentes até aos 15 anos de idade, distinguiu «Peneireiro», de Manuel Brandão Malva, de 13 anos.

“Olhos na bruma”, de joão Petronilho: prémio Arte fotográfi ca”

Momento da abertura da exposição

14 PORTFOLIO

nal a

es

a, s e vo

r 0».

e

r

s

“Ol“Olhoshos nana brbrbruuma”, de joão o PPetroninilholho: p: prémémrémmio io oo ArtArtArtA e fe fe fe otootoo grág fi ca”

Hugo Amador

“Olhos na bruma”, de João Petronilho: Prémio Arte Fotográfi ca

Albano Soares

14 • Parques e Vida Selvagem Inverno 2009/2010

pvs30b.indd 14pvs30b.indd 14 10/01/18 10:32:4910/01/18 10:32:49

Page 15: Portfolio: Parks and Wildlife Report: Sado Estuary Interview: David

Parques e Vida Selvagem Inverno 2009/2010 • 15

15

“Peneireiro” de Manuel José Brandão Malva, de 13 anos, Prémio Júnior

Pedro Ferrão Patrício, Prémio Registo Documental

José Melimor

pvs30b.indd 15pvs30b.indd 15 10/01/18 10:33:0410/01/18 10:33:04

Page 16: Portfolio: Parks and Wildlife Report: Sado Estuary Interview: David

16 PORTFOLIO

Gaspar de Jesus

Luís Rocha

Luís FrançaManuel Pereira Cardoso

16 • Parques e Vida Selvagem Inverno 2009/2010

pvs30b.indd 16pvs30b.indd 16 10/01/18 10:33:1710/01/18 10:33:17

Page 17: Portfolio: Parks and Wildlife Report: Sado Estuary Interview: David

17

Jorge Coutinho

Ricardo lourenço

Parques e Vida Selvagem Inverno 2009/2010 • 17

Photography contest “Parks and Wildlife”The Exhibition of the National Contest of Nature Photography “Parks and Wildlife” opened on November 7th. The photographs selected by the Jury already held the attention of authors and visitors minutes before the prize giving ceremony. Our host, Nuno Oliveira, thanked all present and stressed that for the sixth consecutive year, the Biological Park of Gaia has hosted this Photographic contest, which is a good way to promote environmental education.

pvs30b.indd 17pvs30b.indd 17 10/01/18 10:33:3310/01/18 10:33:33

Page 18: Portfolio: Parks and Wildlife Report: Sado Estuary Interview: David

O Inverno do seu jardim Agora que está em pleno Ano Internacional da Biodiversidade, novinho

em folha, se ainda não o fez entre na onda: faça do seu quintal um sítio acolhedor

para hóspedes tão especiais. Afi nal, gota a gota faz-se o mar...

A chuva e o vento deram o golpe de mise-ricórdia na copa das árvores de folha caduca. Despidas, mostram nos ramos os ninhos que as pequenas aves adaptadas à cidade cons-truíram, discretas, há alguns meses.

Piscos, carriças, melros, rolas-turcas e ou-tras espécies adaptaram-se ao bulício urbano, aproveitaram vantagens como a distância dos predadores naturais, e prosperaram.

No início do Outono já andavam os seus ju-venis à descoberta do mundo, até que chegou a altura dos pais os considerarem adultos e, os mais territoriais, como os melros, os porem a andar dali para fora, pois num território a comi-da não serve bandos.

Nem todos são assim. Os chapins-rabilon-gos, por exemplo, que vemos casal a casal nas épocas quentes do ano, assim que o Outono se defi ne juntam-se em bando e vão andando a petiscar de árvore em árvore, com especial interesse por vidoeiros. O seu piar subtil man-tém a coesão no grupo e deambulam pelo arvoredo sem sobressalto. Só na Primavera regressarão ao formato de casal e passarão a construir um ninho de musgo, teias de aranha e líquenes, à maneira de bolsa mimética, em que criarão a prole à base de insectos.

Como ainda falta algum tempo no que toca à reprodução, quem quiser chamar para mais perto de si estes hóspedes selvagens torna-se

imperioso oferecer-lhes comida e bebida.Depois do pressuposto de no Outono pas-

sado ter dado mais consistência à parte vege-tal do seu jardim, eles dispõem de abrigo face à intempérie e a predadores.

Agora, não longe de um bom local de ob-servação, pode instalar um ou mais comedou-ros de grão para que os viajantes do Norte e as aves que residem junto de si todo o ano possam enfrentar uma época fria, na qual não abunda alimento extra.

Existe a ideia cada vez mais consistente de que a mortalidade de aves juvenis nesta época fria é maior do que imaginamos. Se juntarmos a isso os problemas que sitiam os seus habitats

Variedade de aves selvagens em torno de comedouros diversos: trepadeira-comum no tronco em busca de insectos, no comedouro artesanal de rede um chapim-carvoeiro e no comedouro de mesa com barreira para pombas verdilhão e pardal-montês

18 QUINTEIRO

18 • Parques e Vida Selvagem Inverno 2009/2010

pvs30b.indd 18pvs30b.indd 18 10/01/18 10:33:4810/01/18 10:33:48

Page 19: Portfolio: Parks and Wildlife Report: Sado Estuary Interview: David

Chapim-carvoeiro num comedouro de tubo Coruja-do-mato: uma caixa-ninho pode ser um abrigo

naturais, é justo apoiar esta fatia da diversidade biológica com algum alimento suplementar.

Se tiver um comedouro de mesa, algo se-melhante a um tabuleiro suspenso e a salvo do salto dos gatos, poderá ter a visita de bandos de verdilhões e de pardais, de chapins de vá-rias espécies, de gaios e pegas, e de outros animais que gostam claramente de se alimen-tar não no comedouro, mas por baixo dele, como é o caso dos tentilhões e dos tordos.

Eventualmente, se houver esquilos nas re-dondezas terá a surpresa de ver algum a deitar os dentes ao recheio do comedouro para aves selvagens.

Uma despesa indesejável serão os bandos de pombas que poderão assaltar a sua dádiva à vida selvagem. Para as afastar, alguns come-douros podem ser protegidos com uma rede larga que permite a passagem dos pequenos hóspedes.

Fora esse percalço, certo é que os exclusivos visitantes de Inverno, típicos migradores, serão outros. Entre aves que preferem o grão por ali-mento, um bando dos chamados pintassilgos-verdes, ou lugres, e em matéria de insectívoros algumas das várias espécies de felosa.

Nos arbustos densos do quintal haverá com certeza pelo menos toutinegras-de-barrete e

carriças que, na Pimavera, irão cantar trinados espantosos que não o deixarão indiferente.

Texto: Jorge Gomes

Fotos: João L. Teixeira

Winter in your gardenNow that we are approaching the International Year of Biodiversity,

get into “the groove” and make your backyard or garden a welcoming

place for special guests.

QUINTEIRO 19

Tentilhão Lugre

Parques e Vida Selvagem Inverno 2009/2010 • 19

pvs30b.indd 19pvs30b.indd 19 10/01/18 10:33:5810/01/18 10:33:58

Page 20: Portfolio: Parks and Wildlife Report: Sado Estuary Interview: David

Estuário do DouroAinda há muito para apurar sobre o poderoso fl uxo migratório

de aves selvagens do litoral que passam pela costa portuguesa,

nomeadamente na Reserva Natural Local do Estuário do Douro

Foi com alguma surpresa que se deparou Foi com alguma surpresa que se deparou no passado dia 24 de Novembro com uma no passado dia 24 de Novembro com uma nova espécie de ave aquática ainda por nova espécie de ave aquática ainda por registar na lista de observações da Reserva registar na lista de observações da Reserva Natural Local do Estuário do Douro: uma Natural Local do Estuário do Douro: uma fêmea adulta de merganso-de-poupa, fêmea adulta de merganso-de-poupa, Mergus serratorMergus serrator. . Trata-se de uma espécie considerada Trata-se de uma espécie considerada em perigo no nosso país pelo “Livro em perigo no nosso país pelo “Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal”: Vermelho dos Vertebrados de Portugal”: “Em Portugal a sua distribuição é quase “Em Portugal a sua distribuição é quase

exclusivamente costeira, ocorrendo nos exclusivamente costeira, ocorrendo nos estuários do Minho, Tejo, Sado, Lagoa estuários do Minho, Tejo, Sado, Lagoa de Albufeira e Ria Formosa”, diz a obra de Albufeira e Ria Formosa”, diz a obra citada. Mas é “no estuário do Sado que citada. Mas é “no estuário do Sado que ocorre regulamente o maior número de ocorre regulamente o maior número de indivíduos”. indivíduos”. Os censos validados pelo Instituto Os censos validados pelo Instituto de Conservação da Natureza e da de Conservação da Natureza e da Biodiversidade apontam para um número Biodiversidade apontam para um número menor do que 250 indivíduos, contadas menor do que 250 indivíduos, contadas todas as aves desta espécie que vêm todas as aves desta espécie que vêm

passar o Inverno no Litoral lusitano.passar o Inverno no Litoral lusitano.Nos Açores e na Madeira esta ave ocorre Nos Açores e na Madeira esta ave ocorre ocasionalmente, sendo no entanto a sua ocasionalmente, sendo no entanto a sua área de distribuição bastante ampla, capaz área de distribuição bastante ampla, capaz de abranger áreas tão longínquas como de abranger áreas tão longínquas como o Alasca e o Canadá, bem como outras o Alasca e o Canadá, bem como outras partes da Europa e da Ásia.partes da Europa e da Ásia.No Paleártico Ocidental é uma espécie No Paleártico Ocidental é uma espécie migradora que inverna entre as regiões migradora que inverna entre as regiões costeiras do Norte da Europa e a bacia costeiras do Norte da Europa e a bacia do Mediterrâneo.do Mediterrâneo.

Colhereiros

anilhados na Holanda

Na edição da Parques e Vida Selvagem de há um ano, a n.º 26, publicámos esta fotografi a obtida numa observação de aves selvagens na Reserva Natural Local do Estuário do Douro. Trata-se de colhereiros, tendo um uma anilha de cor, que na altura não sabíamos onde teria sido aplicada.Como entretanto surgiu na internet um grupo de fotógrafos que está atento a estes pormenores, obteve-se a informação de que esta ave foi «anilhada na Holanda pelo Grupo de Trabalho Internacional para o Colhereiro, em 9 de Julho de 2008».E mais: «Ficou por perto de casa (Onderdijk) até 28 de Agosto de 2008. Depois, entre 4 e 18 de Outubro, permaneceu em Texel, também na Holanda, a 45 km de casa. E depois

20 DUNAS

20 • Parques e Vida Selvagem Inverno 2009/2010

veio para Portugal (Porto, Cabedelo) e foi fotografado por vários fotógrafos em 2 de Novembro de 2008, em 1 de Janeiro de 2009, em 31 do mesmo mês e ano, e até em 1 de Março. E agora já vai por aí acima».

Ou seja, há dados que apontam a sua presença no País Basco (Irun, Plaiaundi), em 12 de Outubro passado!

http://www.fl ickr.com/groups/aves_de_portugal/discuss/72157622607149061/

Falaropo-de-bico-grossoFalaropo-de-bico-grossoUma outra nova espécie de ave ainda por registar na lista de Uma outra nova espécie de ave ainda por registar na lista de

observação da Reserva Natural Local do Estuário do Douro foi observação da Reserva Natural Local do Estuário do Douro foi também o falaropo-de-bico-grosso, também o falaropo-de-bico-grosso, Phalaropus fulicariusPhalaropus fulicarius. .

Fotografado neste sítio em 19 de Dezembro, esta ave Fotografado neste sítio em 19 de Dezembro, esta ave raramente se vê em Portugal. Na Primavera nidifi ca no Árctico.raramente se vê em Portugal. Na Primavera nidifi ca no Árctico.Os ornitólogos dizem que esta ave é uma invernante pelágica Os ornitólogos dizem que esta ave é uma invernante pelágica que raramente é vista na costa, mas dado o mau tempo que que raramente é vista na costa, mas dado o mau tempo que esteve nessa data será normal ter vindo procurar protecção esteve nessa data será normal ter vindo procurar protecção

nesta zona húmida costeira.nesta zona húmida costeira.

pvs30b.indd 20pvs30b.indd 20 10/01/18 10:34:0810/01/18 10:34:08

Page 21: Portfolio: Parks and Wildlife Report: Sado Estuary Interview: David

Observação de aves Observação de aves na Reserva Natural Local do Estuário do Dourona Reserva Natural Local do Estuário do Douro

Seis de Fevereiro, das 10h30 ao meio-dia, 7 de Março e 11 de Abril, Seis de Fevereiro, das 10h30 ao meio-dia, 7 de Março e 11 de Abril, das 10h00 às 12h00. Leve, se tiver, um guia de campo de aves europeias das 10h00 às 12h00. Leve, se tiver, um guia de campo de aves europeias

e binóculos à baía de S. Paio, no estuário do rio Douro, do lado de Gaia. e binóculos à baía de S. Paio, no estuário do rio Douro, do lado de Gaia. Com telescópios, estarão nessas datas técnicos do Parque Com telescópios, estarão nessas datas técnicos do Parque

para observar as aves do Litoral.para observar as aves do Litoral.

DUNAS 21

Parques e Vida Selvagem Inverno 2009/2010 • 21

Merganso-de-poupaMerganso-de-poupa

pvs30b.indd 21pvs30b.indd 21 10/01/18 10:36:3210/01/18 10:36:32

Page 22: Portfolio: Parks and Wildlife Report: Sado Estuary Interview: David

22 22 DUNASDUNAS

22 • Parques e Vida Selvagem22 • Parques e Vida Selvagem Inverno 2009/2010Inverno 2009/2010

Preservar o Cordão Dunar Estão em curso trabalhos que visam a preservação

do cordão dunar de Vila Nova de Gaia

Esta intervenção, promovida pelo Parque Biológico de Gaia/ Câmara Municipal de Gaia, co-fi nanciada pelo FEDER através do Programa Operacional do Norte ON2, inclui a construção de novos passadiços na desig-nada ‘Linha Azul’, que consiste num percur-so pedonal construído em madeira sobre a areia, paralelo à linha de costa de Vila Nova de Gaia com uma extensão de cerca de 15 km.

Está prevista a construção de cerca de 6400 metros de novo passadiço elevado sobre a areia e até ao momento foram construídos 4800 metros em substituição das ‘sulipas’ de caminho-de-ferro existentes, nomeadamen-te nas praias da Madalena Norte, Valadares, Francelos, Miramar e Aguda. O restante per-curso existente em passadiço elevado foi alvo de manutenção.

A existência destes passadiços elevados diminui a pressão humana exercida sobre a duna, evitando o seu pisoteio e consequen-te erosão, promovendo assim a preservação das espécies de fl ora e fauna dunares. Nos

passadiços está proibido o trânsito de veícu-los, nomeadamente de bicicletas.

A protecção das dunas inclui também a instalação de paliçadas de regeneração dunar em madeira, orientadas perpendicularmente à direcção dos ventos dominantes (de NW para NE e de SW para NE). Pela acção do vento as partículas de areia são transportadas para dentro da paliçada, que vai enchendo e assim se dá a formação da nova duna que vai sen-do fi xada pelo sistema radicular das espécies de plantas dunares que aí se instalam. Está prevista a instalação de 19100 metros de pa-liçadas e foram já colocados cerca de 16 mil metros. Dada a importância do papel desem-penhado por estas paliçadas na regeneração dunar devemos preservá-las e nunca transpor a barreira que elas constituem.

Outra acção desenvolvida no âmbito do projecto da consolidação do cordão dunar é a erradicação de espécies de plantas invasoras dos sistemas dunares, como são o chorão, Carpobrotus edulis, espécie originária dos cli-mas mediterrânicos da província do Cabo na

África do Sul e a erva-das-pampas, Cortade-ria selloana, uma gramínea originária da parte tropical do Sul da América, Chile e Argentina. Estas espécies invasoras competem com as espécies endémicas e constituem uma gran-de ameaça à sua preservação.

Está neste momento a ser executado o tra-balho de remoção das plantas invasoras em zonas dunares com áreas de 19.5 hectares em S. Félix da Marinha, cerca de 2 hectares na Aguda e cerca de 1 hectare em Valadares.

Nos habitats dunares de Gaia encontram-se espécies de fauna e fl ora raras e algumas ame-açadas. Estas espécies dependem do litoral e são biologicamente muito vulneráveis por apre-sentarem adaptações específi cas para sobrevi-verem nesta zona de transição entre o mar e a terra tendo, portanto, pouca plasticidade para se adaptarem a outros habitats. Compete-nos a todos protegê-las! Para as conhecer visite o Parque de Dunas da Aguda.

Texto: Eduarda Oliveira, engenheira em Ciências Agrárias

pvs30b.indd 22pvs30b.indd 22 10/01/18 10:37:4010/01/18 10:37:40

Page 23: Portfolio: Parks and Wildlife Report: Sado Estuary Interview: David

DUNAS 23

Parque de Dunas da AgudaEntre as plantas e a areia correm histórias de vida selvagem Entre as plantas e a areia correm histórias de vida selvagem

que cativam as aves: onde há habitat as espécies aparecemque cativam as aves: onde há habitat as espécies aparecem

Só na área do Parque de Dunas da Aguda Só na área do Parque de Dunas da Aguda contam-se mais de 60 espécies de plantas contam-se mais de 60 espécies de plantas autóctones, com estratégias complexas para autóctones, com estratégias complexas para sobreviverem na areia. sobreviverem na areia.

Aproveitando o lastro, há ali invertebrados, Aproveitando o lastro, há ali invertebrados, pequenos mamíferos, répteis e aves, como pequenos mamíferos, répteis e aves, como os borrelhos-de-coleira-interrompida, que ali os borrelhos-de-coleira-interrompida, que ali nidifi cam na Primavera e no Verão.nidifi cam na Primavera e no Verão.

As dunas integram um mosaico natural As dunas integram um mosaico natural que apoia a biodiversidade e uma das fa-que apoia a biodiversidade e uma das fa-ces mais visíveis para quem passa perto ces mais visíveis para quem passa perto

são as plantas e as aves que ali fazem ni-são as plantas e as aves que ali fazem ni-nho.nho.

O Parque de Dunas da Aguda abriu ao O Parque de Dunas da Aguda abriu ao público em Janeiro de 1997, com cerca de público em Janeiro de 1997, com cerca de três hectares, no âmbito de um projecto LIFE três hectares, no âmbito de um projecto LIFE (UE). (UE).

É, também, um “jardim botânico”. Ilustra É, também, um “jardim botânico”. Ilustra na perfeição como a natureza recupera, se o na perfeição como a natureza recupera, se o ser humano lhe dá essa oportunidade. De um ser humano lhe dá essa oportunidade. De um areal aparentemente estéril surgiu um jardim areal aparentemente estéril surgiu um jardim espontâneo onde fl orescem lições de educa-espontâneo onde fl orescem lições de educa-

ção ambiental. Há até, entre dezenas de es-ção ambiental. Há até, entre dezenas de es-pécies, duas plantas das dunas que só exis-pécies, duas plantas das dunas que só exis-tem no Douro Litoral: a mostarda-das-dunas tem no Douro Litoral: a mostarda-das-dunas ((Coyncia johnstoniiCoyncia johnstonii) e o botão-das-dunas () e o botão-das-dunas (Ja-Ja-sione lusitanicasione lusitanica).Todos os anos os borrelhos-).Todos os anos os borrelhos-de-coleira-interrompida fazem discretamente de-coleira-interrompida fazem discretamente os seus ninhos entre esta vegetação.os seus ninhos entre esta vegetação.

No primeiro domingo de Maio, estarão téc-No primeiro domingo de Maio, estarão téc-nicos munidos de telescópios e binóculos nicos munidos de telescópios e binóculos neste parque de dunas para observar as aves neste parque de dunas para observar as aves selvagens do local. Basta aparecer.selvagens do local. Basta aparecer.

Parques e Vida Selvagem Inverno 2009/2010 • 23

João

Luí

s Te

ixei

ra

Borrelho-de-coleira-interrompida, fêmea

pvs30b.indd 23pvs30b.indd 23 10/01/18 10:37:5010/01/18 10:37:50

Page 24: Portfolio: Parks and Wildlife Report: Sado Estuary Interview: David

24 • Parques e Vida Selvagem Inverno 2009/2010

Parque da Lavandeira Esteja no Inverno ou não, em Oliveira do Douro o Parque da Lavandeira

reúne múltiplas razões para a sua visita

Passear em espaços verdes traz claros be-nefícios para a sua saúde.

Mais ainda se enfrenta uma semana de tra-balho entre edifícios numa cidade.

Fragilizada a ligação antiga que o ser huma-no tem à terra, o corpo pede exercício físico. Caminhar, respirar ar livre, olhar as árvores e o céu liberta a mente.

Não se trata de uma quimera. Há diversos estudos que vão mais longe, como um que decorreu sob a égide da Universidade de Glasgow, na Escócia, orientado por Richard

Mitchell: «Os espaços verdes proporcionam a quem os frequenta redução da pressão san-guínea» e conseguem até «anular alguns pro-cessos orgânicos negativos causados pelo stress», diz.

Para além da caminhada ao ar livre, há di-versas iniciativas habituais que marcam o ca-lendário semanal deste parque. Em Janeiro e Fevereiro prevêem-se as actividades que se seguem, sujeitas a confi rmação.

É o caso da prática de Yoga, com orienta-ção da responsabilidade da Dr.ª Luísa Bernar-

do, que proporciona a actividade em regime de voluntariado às quartas e sextas-feiras, às 9h45. Por sua vez, o Prof. Pedro Coelho, às segundas e quintas-feiras, às 9h30, orienta sessões de Tai chi. Aos sábados de manhã, quando «As mulheres do campo vêm à vila», pode comprar legumes sem pesticidas.

Com sol ou sem ele, o Parque da Lavan-deira junta estas e outras razões para repetir a sua visita.

Mais informações: [email protected], Telefone 227 878 138.

João L. Teixeira

24 ESPAÇOS VERDES

pvs30b.indd 24pvs30b.indd 24 10/01/18 10:37:5910/01/18 10:37:59

Page 25: Portfolio: Parks and Wildlife Report: Sado Estuary Interview: David

ESPAÇOS VERDES 25

Parque Botânico do Castelo Este parque atravessa agora o seu primeiro Inverno, uma vez que foi

inaugurado em Setembro passado: ao lado do Clube Náutico de Crestuma,

encoraja os visitantes a subirem por puro prazer os seus socalcos

O lugar denominado Castelo, em Crestuma, fi ca num esporão rochoso, com uma linda vista sobre o rio Douro.

Aliás, vem daí o nome deste parque botâ-nico.

Freixos e medronheiros, carvalhos e sobrei-ros ganharam corpo assim que a força de tra-balho agrícola se ausentou.

Embora freixos e carvalhos soltem as suas folhas no Inverno, para evitarem os danos celu-lares decorrentes das baixas temperaturas, há outras espécies que o não fazem, habituadas a

estações tépidas, como é o caso das restantes espécies referidas.

Além da botânica, neste parque existem vestígios arqueológicos. Estima-se por isso que já no próximo Verão comece a primeira campanha de prospecção, que lhe poderá vir a dar outra força na vertente histórica.

Esta potencialidade condicionou a adapta-ção deste parque a espaço público, através de cuidados especiais capazes de evitar danos neste tipo de património.

Além do mais, a área está classifi cada pela

autarquia como estação arqueológica desde 19 de Setembro de 1988 e assim inscrita no Plano Director Municipal.

A Casa da Eira, que lá de cima não se cansa de olhar o rio, virá a ser o centro de interpre-tação.

Entretanto, como em cada estação do ano há outros ritmos, não fi cará mal se seguir o nosso conselho e visitar este novo espaço ver-de de Vila Nova de Gaia, o que certamente, sendo a primeira vez, se transformará numa grata surpresa.

Parques e Vida Selvagem Inverno 2009/2010 • 25

João L. Teixeira

pvs30b.indd 25pvs30b.indd 25 10/01/18 10:38:0710/01/18 10:38:07

Page 26: Portfolio: Parks and Wildlife Report: Sado Estuary Interview: David

26 • Parques e Vida Selvagem Inverno 2009/2010

Parque das Encostas do DouroO Município de Vila Nova de Gaia está a desenvolver o projecto de criação do

Parque Natural Local das Encostas do Douro, desde a Ponte Maria Pia a Lever,

de modo a salvaguardar este espaço territorial com cerca de 1987 hectares

A notícia surge na apresentação do Plano Estratégico de Desenvolvimento das Encostas do Douro, segundo o qual o primeiro parque natural local do país vai ser implementado nos próximos dez anos na marginal ribeirinha de Gaia, num investimento global de 58,5 milhões de euros.

A implementação deste novo Parque Natural

será dirigida pelo director do Parque Biológico de Gaia, Nuno Oliveira, e pelo professor univer-sitário, Luís Ramos.

Trata-se, contudo, de um projecto faseado cuja primeira característica consiste em ser um pólo de atracção turística na cidade.

O contrato em que assenta a elaboração deste parque já foi adjudicado. Tendo terminado

a fase de negociações com os proprietários e com as empresas da cidade para a concretiza-ção deste projecto, a meta da autarquia fi xa-se no aproveitamento dos espaços de elevado va-lor natural, ecológico e paisagístico, bem como no posicionamento geoestratégico da cidade, que possibilita a transformação da cidade numa porta fl uvial do Alto Douro Vinhateiro.

João L. Teixeira

João L. Teixeira

26 ESPAÇOS VERDES

pvs30b.indd 26pvs30b.indd 26 10/01/18 10:38:1610/01/18 10:38:16

Page 27: Portfolio: Parks and Wildlife Report: Sado Estuary Interview: David

Parques e Vida Selvagem Inverno 2009/2010 • 27

Cooperação ambiental com TimorO Ministério da Economia

e Desenvolvimento

de Timor-Leste assinou

um protocolo de

cooperação ambiental

com o Parque Biológico

de Gaia pela mão

do seu ministro,

João Gonçalves

Na prática, abriram-se assim em Vila Nova de Gaia no passado dia 19 de Dezembro as comemorações do Ano Internacional da Biodiversidade - 2010.

O compromisso então estabelecido abre vários caminhos. À partida, o Parque Bioló-gico irá elaborar o código ambiental da antiga colónia portuguesa.

Depois, surgirá a elaboração de um manual de boas práticas e a construção dos chama-dos «jardins da biodiversidade», afi nal nada mais nada menos do que equipamentos de

Assinatura de protocolo no edifício da Presidência do Município de Vila Nova de Gaia: da esquerda para a direita, César Oliveira, Marco António Costa, João Gonçalves e Nuno Gomes Oliveira.

educação ambiental que pretendem defender as espécies autóctones daquele país asiático, situado entre a Indonésia e a Austrália.

«Gostamos de seguir os bons exemplos, sobretudo quando vêm de países irmãos. Dada a nossa limitação de recursos fi nancei-ros, este protocolo representa uma ajuda pre-ciosa», sublinhou João Gonçalves.

Nuno Gomes Oliveira, pelo Parque Biológi-co Gaia, acentuou que «o Parque até já tem tradição de cooperação internacional», para o que «basta lembrar os laços com a República

de São Tomé e Príncipe ou a Universidade do Pará, no Brasil».

A cerimónia decorreu no edifício da Presi-dência do Município de Gaia. Marco António Costa, vice-presidente, disse sentir um «gran-de orgulho nesta contribuição para o desen-volvimento de Timor-Leste».

Nos dias que se seguiram, os representan-tes de Timor visitaram diversas instituições e espaços verdes, nomeadamente a Estação Litoral da Aguda, o Parque de Dunas e o Cor-dão Dunar gaiense, a Reserva Natural Local do Estuário do Douro, o aterro sanitário de Sermonde, o percurso de Salreu em Estarre-ja, e até receberam um convite especial para assisitirem a um jogo de futebol no camarote presidencial da SAD portista.

A talhe de foice, lembre-se que Timor-Leste criou recentemente o Parque Nacional Nino Konis Santana, distinguindo assim um co-mandante das Falintil que nasceu na aldeia de Tutuala, situada dentro do próprio parque.

Este espaço natural cobre uma área total de 1236 km2 dos quais 556 km2 são uma área marinha rica em formações de coral. Inaugu-rado a 1 de Agosto de 2008, este parque é gerido quer pelo Governo quer pelas comu-nidades locais, com a assistência do Birdlife International e do estado australiano de Nova Gales do Sul.

ESPAÇOS VERDES 27

pvs30b.indd 27pvs30b.indd 27 10/01/18 10:38:2510/01/18 10:38:25

Page 28: Portfolio: Parks and Wildlife Report: Sado Estuary Interview: David

28 • Parques e Vida Selvagem Inverno 2009/2010

28 ESPAÇOS VERDES

Gaia: Plano de Sustentabilidade A Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia vai dotar o concelho

de uma rede de transportes públicos de eléctricos rápidos

Em três fases - Avintes/Avenida da Repúbli-ca, Avenida da República/Orla Marítima e Ca-nelas/Carvalhos –, o projecto pretende reduzir as emissões de dióxido de carbono (CO2), ga-rantir uma mobilidade efi caz e melhorar a qua-lidade do ar.

O concurso público será lançado no primeiro trimestre de 2010.

“Todos estes trajectos vão estar ligados aos interfaces principais do Metro do Porto, em consonância com o alargamento da linha em Gaia. Tenho consciência que não estamos em

Amesterdão, mas tenho esperança que alguns gaienses possam adquirir novos hábitos de deslocação, mais amigos do ambiente”, salien-tou Luís Filipe Menezes, Presidente da Câmara Municipal, durante a apresentação do Plano Municipal de Sustentabilidade Ambiental.

O Plano, defi nido até 2020, conta com um investimento de 95 milhões de euros e assenta em 6 eixos principais de actuação: efi ciência energética; mobilidade sustentável; energias renováveis; ambiente, zonas verdes e biodiver-sidade; formação e sensibilização; e governa-ção. “Na primeira fase, até 2013, esperamos que pelo menos as ciclovias, os parques ver-des, o aumento da mobilidade condicionada e os parques de estacionamento já estejam de pé. É um Plano adaptado localmente às gran-des orientações mundiais. Julgo que é um tra-balho de casa bem feito”, referiu o autarca.

As novas ciclovias vão ter uma extensão de 50 quilómetros e, numa primeira fase (até ao Verão), haverá um troço a ligar a Avenida da República até ao mar. Também previstos estão oito novos parques de estacionamento, quatro dos quais já em fase de construção. E a autar-quia pretende também aumentar as áreas de mobilidade condicionada, como acontece ac-tualmente no Centro Histórico. Os edifícios mu-nicipais também foram contemplados. “Vamos racionalizar a efi ciência energética dos edifícios e equipamentos municipais. Para que os do exterior sigam o exemplo, vamos sensibilizar e incentivar os agentes do território através da Gaiurb”, explicou Luís Filipe Menezes.

O Plano apresenta ainda outras medidas: fl orestação dos nós das auto-estradas, con-solidação do cordão dunar e criação de um observatório de análise e gabinete próprio. “In-vestiremos também nas escolas, colocando o desenvolvimento sustentável quase como disci-plina obrigatória”, explicou Luís Filipe Menezes.

De referir que o Parque Biológico e a Ener-gaia estiveram envolvidos na defi nição das linhas do Plano, o qual já tem fi nanciamento pensado. Para além dos fundos próprios, a au-tarquia vai recorrer a fi nanciamento privado e a verbas do Quadro Comunitário de Apoio.A

rqui

vo C

MG

pvs30b.indd 28pvs30b.indd 28 10/01/18 10:38:3410/01/18 10:38:34

Page 29: Portfolio: Parks and Wildlife Report: Sado Estuary Interview: David

Parques e Vida Selvagem Inverno 2009/2010 • 29

Dezembro levou ao Parque Biológico de Gaia inúmeras crianças e jovens em férias escolares, entre os 6 e os 15 anos de idade, de 21 a 23 e de 28 a 30. Das 9h00 às 17h30 os inscritos pintaram a manta através de diversas actividades. Se um dia se destinou à recolha de materiais pelo trilho de descoberta da natureza do Parque para posteriormente cada participante dar asas à imaginação e construir presentes originais para os amigos, outros foram ocupados, por exemplo, com uma ofi cina de sabores: como o que é doce nunca amargou, aprenderam a fazer guloseimas alusivas à época. Dia 30 houve lugar à festa de fi m-de-ano, que incluiu a elaboração de uma lista de decisões para o Ano Novo, o Ano Internacional da Biodiversidade. Ao aproximar-se o Carnaval, o programa irá aparecer reformulado. Enquanto o programa Máscaras da Natureza tem como público-alvo as crianças e jovens das escolas (sob marcação), de 8 a 12 de Fevereiro, as Ofi cinas de Carnaval ocupam os dias 15 e

Ofi cinas

Em 29 de Outubro foi encontrada por Manuel Marques uma moeda, no campo da quinta de Santo Tusso, que prova a antiga utilização desta quinta. É uma moeda de bronze em mau estado por ter estado no campo, eventualmente mais de 100 anos.É uma moeda de XX reis dedicada ao rei D. Luís I, datada 1885.O seu valor comercial é residual, no entanto é mais uma prova do passado recente do território hoje ocupado pelo Parque Biológico. Por outro lado é uma recompensa pelo árduo trabalho manual que é aplicado na quinta de Santo Tusso por Manuel Marques no “amanhar da terra”, estritamente biológico.

Por Francisco Saraiva

Moeda antiga

na quinta de Santo Tusso

No passado dia 17 de Novembro, o Parque Biológico de Gaia recebeu a visita de uma comitiva angolana, que teve oportunidade de visitar as exposições e o percurso de descoberta da natureza desta empresa municipal. Este contacto surge na sequência da assinatura de um protocolo de

cooperação entre a Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia e a cidade angolana de Lubango. Nesse intercâmbio prevêem-se iniciativas comuns nas áreas da gestão pública, educação, cultura, desporto, urbanismo, estruturação de serviços, economia, acção social e saúde.

Visita de Angola

17 de Fevereiro do mesmo mês e encaixam as férias escolares. Com entrada às 9h00 e saída às 17h30, destinam-se a crianças e jovens das idades já antes referidas.

Quem desejar inscrever-se deve contactar o Gabinete de Atendimento do Parque: [email protected] – telefone directo: 227 878 138 - Fax 227 833 583.

Atelier de construção de ninhos artifi ciais para aves selvagens

ESPAÇOS VERDES 29

pvs30b.indd 29pvs30b.indd 29 10/01/18 10:39:0710/01/18 10:39:07

Page 30: Portfolio: Parks and Wildlife Report: Sado Estuary Interview: David

30 • Parques e Vida Selvagem Inverno 2009/2010

Máscaras da NaturezaDe 8 a 12 de Fevereiro, ateliers para crianças e jovens das Escolas (sob marcação). Inscrição necessária.

Ofi cinas de CarnavalPara crianças e jovens dos seis aos 15 anos, dias 15 e 17 de Fevereiro, com entrada às 9h00 e saída às 17h30. Inscrição necessária.

Sábado no ParqueTodos os primeiros sábados de cada mês o Parque Biológico propõe um programa diferente e contempla os seus visitantes com várias actividades.Em de 6 de Fevereiro das 10h00 ao meio-dia haverá uma saída em autocarro a partir do Parque rumo à Reserva Natural Local do Estuário do Douro. Às 14h30 decorre uma conversa sobre «Biodiversidade e zonas

húmidas de Portugal». Às 15h00 abre uma mostra fotográfi ca, desta vez sobre cogumelos, seguindo-se uma visita guiada por técnicos da casa e percurso ornitológico.Em Março o programa é idêntico, mudando o atelier à mesma hora para «À descoberta das plantas», sendo a conversa do mês sobre «Endemismos ibéricos no Parque».

Curso de Educação e Maneio de Asininos IIDe 26 a 28 de Fevereiro Organização: Parque Biológico de Gaia e AEPGA - Associação para o Estudo e Promoção do Gado Asinino. Inscrição necessária.

Percursos de descoberta da naturezaSábado, 13 de Março, com partida às 9h00

e chegada às 18h00, visita ao Parque Natural da Serra do Alvão. Inscrição necessária.

Ofi cinas da PrimaveraDe 29 Março a 1 Abril e de 5 a 9 de Abril, das 9h00 às 17h30, para crianças e jovens dos seis aos 15 anos. Coincide com as férias da Páscoa. Inscrição necessária.

Receba notícias por e-mailPara os leitores saberem das suas actividades a curto prazo, o Parque Biológico sugere uma visita semanal a www.parquebiologico.pt. A alternativa será receber os destaques, sempre que oportunos, por e-mail. Para isso, peça-os a [email protected]

Mais informações [email protected] directo: 227 878 138

AgendaA curto prazo, aqui fi cam algumas das actividades do Parque Biológico de Gaia que lhe poderão interessar...

Rio Febros: investigação em cursoUm acidente rodoviário ocorrido em 25 de

Agosto de 2008 com um camião-cisterna der-ramou ácido clorídrico concentrado na estra-da.

Por acção da gravidade, esses resíduos pe-rigosos acabaram por entrar nas águas do rio Febros, causando inúmeros danos.

Um grande número de peixes mortos foi o rosto da tragédia, mas pouco a pouco a

natureza começou a regenerar o rio. Com o patrocínio da seguradora Tranquilidade, uma equipa de investigadores do Departamento de Zoologia da Faculdade de Ciências da Univer-sidade do Porto, chefi ada por Alexandre Valen-te, arregaçou as mangas e começou a estudar a resposta dada pelo rio a essa agressão am-biental.

A análise dos macroinvertebrados e dos pei-

xes foram dois pontos essenciais nesta pes-quisa.

Após a colheita de dados durante aproxi-madamente um ano, aguarda-se o relatório que defi nirá, concretamente, qual a capaci-dade de renegeração deste afl uente do rio Douro nascido dentro do concelho de Vila Nova de Gaia face a uma agressão desta natureza.

João

Luí

s Te

ixei

ra

30 ESPAÇOS VERDES

pvs30b.indd 30pvs30b.indd 30 10/01/18 10:39:1510/01/18 10:39:15

Page 31: Portfolio: Parks and Wildlife Report: Sado Estuary Interview: David

Parques e Vida Selvagem Inverno 2009/2010 • 31

REGISTO 31

Polvos dão à costa Em 2 de Janeiro do corrente ano o Município de Gaia foi alertado

para a presença de alguns exemplares de polvo mortos nas praias

de Valadares e Canidelo (Vila Nova de Gaia)

O Parque Biológico deslocou um técnico para o local, que chegou à Praia de Valada-res às 15h15 e encontrou dezenas de polvos (Octopus vulgaris Cuvier 1797) arrojados pelo mar. De imediato estranhamos serem todos exemplares de pequeno tamanho, o que viria a ser explicado pelo facto de vários populares terem recolhido os polvos maiores, para con-sumo e comercialização, antes da chegada ao local da Polícia Marítima.

Na linha da maré havia grande quantida-de de detritos misturados com alguns outros peixes, estrelas-do-mar e crustáceos, arroja-dos em ocasião claramente diferente da dos polvos; com os polvos não ocorreu qualquer outra espécie marinha.

Até ao fi nal do dia foi possível recolher cer-ca de 300 kg de polvos, que foram transpor-tados para o Parque Biológico de Gaia, para

estudo. Uma pequena amostra foi transporta-da para a Estação Litoral da Aguda.

No dia seguinte (03/01/2010), ao início da manhã, apenas foram encontrados cerca de 50 polvos no mesmo local. Nesse dia 3 foi, igualmente, arrojado à costa um Golfi nho já morto, na Praia da Granja, ocorrência que nada tem a ver com a dos polvos.

O arrojamento de animais às praias

Os arrojamentos são ocorrências, conhe-cidas e não raras, em que animais marinhos invertebrados ou vertebrados (os casos mais mediáticos são os das Baleias) “dão à cos-ta”, vivos ou mortos, devido a causas que podem ser naturais ou provocadas pelo Ho-mem.

Entre as causas naturais estão as doenças

infecciosas e os parasitas, a falta de alimen-to, intoxicações associadas a biotoxinas, condições climatéricas anormais e o com-portamento anómalos dos próprios animais.

As actividades humanas podem, também, estar na génese dos arrojamentos: poluição, ingestão de sacos de plásticos e outros de-tritos, choques com embarcações ou redes, ruído provocado por sonares, entre outras causas.

Nem sempre é possível chegar à explica-ção de um arrojamento.

O boletim da Faculdade de Agricultura, da Universidade japonesa de Kyushu, publicou (em japonês) o artigo sobre um arrojamento em massa do Polvo de Manta (Tremoctopus violaceus), no Japão, em 1967.

Em 2004, Mario Demicheli e a sua equi-pa de investigação registam um arrojamento

Dead octopusesOn January 2nd, 400 Kgs of dead octopuses were found on a three-kilometre stretch of local beach.The following day, another 50 Kgs were found on the same stretch of beach. ìItís very strange that so many should have died; and in such a confi ned space,î said Nuno Oliveira, Director of the Gaia Biological Park, an important Nature Refuge in Vila Nova de Gaia. Local Biologists have ruled out pollution or contamination, because no other species was affected. Several Laboratories are studying the cause of this ecological problem.

Centenas de polvos deram à costa no primeiro fi m-de-semana de Janeiro

pvs30b.indd 31pvs30b.indd 31 10/01/18 10:39:2510/01/18 10:39:25

Page 32: Portfolio: Parks and Wildlife Report: Sado Estuary Interview: David

32 • Parques e Vida Selvagem Inverno 2009/2010

32 REGISTO

massivo do Polvo Argonauta nodosa ao lar-go da Costa do Uruguai.

Recentemente, em 05/10/2009, Sarah Dou-ziech escreve no jornal “The Vancouver Sun” o artigo “Theories abound on mass strandings of squid off Vancouver Island coast”, de que reproduzimos a seguinte passagem:

“Dois arrojamentos em massa de Lulas de Humboldt [Humboldt Squid (Dosidicus gigas), é um Cefalópode, tal como os polvos] nos últimos dois meses, na Costa Oeste levaram a que as pessoas perguntem o que ninguém parece ser capaz de responder: por que é que isto está a acontecer?

Embora ninguém tenha a resposta exacta, os cientistas têm muitas teorias e especula-ções. Alguns dizem que talvez as lulas esti-vessem a seguir as suas presas e fossem apanhadas por uma corrente que as levou a terra.

Outros acham que talvez as lulas estives-sem desorientadas pela mudança de uma (ou todas) as características do oceano: tempe-ratura, salinidade, ou níveis de oxigénio. Al-guns sugeriram mesmo que os arrojamentos poderiam ser resultado da velhice dos cefa-lópodes, que têm uma vida útil de dois anos no máximo; o grupo simplesmente segue um líder senil e todos terminam na praia, ao mes-mo tempo, por acidente.”.

Procura de explicações para a ocorrência de Gaia

Em face dos dados recolhidos, iniciou-se um processo de análise sumária de todas as

hipóteses de explicação do sucedido, mesmo das mais “imaginativas”.

Hipótese A – Polvos lançados ao mar por embarcação

A primeira possibilidade que se colocou foi os polvos arrojados terem origem num lança-mento ao mar acidental ou, mesmo, intencio-nal, feito por embarcação, eventualmente por ter pescado polvos abaixo do peso mínimo legal (750 g em Portugal e 1 kg na Galiza).

Dada a agitação marítima não houve activi-dade de pesca ao polvo nas costas de Gaia nesses dias, encontrando-se a Barra do Douro fechada desde 29/12/2009. O Professor José Manuel García Estévez, do Laboratório de Pa-rasitologia Marinha, da Universidade de Vigo, admite que um eventual lançamento de polvos ao mar possa ter origem, mesmo, num barco “cefalopodeiro” galego.

Em favor da tese da “mão humana”, o Pro-fessor Carlos Sousa Reis, do Departamento de Zoologia e Antropologia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, declarou à SIC, no dia 03/01/2010, que, por não haver neste troço de costa tantos polvos quantos os recolhidos, a hipótese do lançamento ao mar por um barco seria a explicação mais plausí-vel.

Não conseguimos encontrar dados sobre a densidade populacional de Polvos nas nos-sas costas mas, para o Recife Vilesboa (Vila de Guarapá – Brasil), foi apurada, por Adriane Ferreira Jambeiro, da Universidade Federal da

Baía (2002), uma densidade média de 0.075 indivíduos/m2.

Para a Grécia, Stelios Katsanevakis e Ge-orge Verriopoulos da Universidade de Atenas, indicam (2004) uma densidade máxima de 0,00688 indivíduos/m2, apurada por observa-ção directa em mergulho..

É sabido que o mar Mediterrânico é muito pobre em fauna aquática, mas mesmo assim, aplicando a densidade máxima de polvos da Grécia à costa de Gaia, concluiremos que po-deria haver, num troço de 3 km de comprimen-to por 100 m, mais de 2 mil polvos, número que as observações de pescadores locais, e os re-sultados da pesca na Aguda, não contradizem (comunicação pessoal do Dr. Mike Weber).

Hipótese B – Actividade criminosa

Em defesa da tese da origem antropogénica do arrojamento dos polvos, convém registar que, em 22 de Dezembro de 2007, as autori-dades apreenderam, em Lisboa, 9,4 toneladas de cocaína que vinham camufl adas com polvo congelado, num contentor frigorífi co transpor-tado pelo cargueiro “Triumph”, proveniente do porto de Maracaibo, na Venezuela.

Segundo a Polícia Judiciária, “Aberto o con-tentor vieram a ser encontradas dissimuladas no seu interior cerca de 600 caixas de cartão com o peso bruto de 40 kg cada, contendo como mercadoria declarada 24 toneladas de polvo congelado. Em cerca de 1/3 dessas caixas foi encontrada uma solução aquosa congelada com vestígios de polvo, contendo

Parques e Vida SelvagemParque Biológico de Gaia | 4430 - 757 AvintesTelemóvel: 916 319 197 | e-mail: [email protected]

Quer fazer parte deste projecto?Quer divulgar os seus produtos a mais de um milhão de leitores?

Garanta a sua presença na próxima revista!

pvs30b.indd 32pvs30b.indd 32 10/01/18 10:39:3210/01/18 10:39:32

Page 33: Portfolio: Parks and Wildlife Report: Sado Estuary Interview: David

Parques e Vida Selvagem Inverno 2009/2010 • 33

REGISTO 33

um produto que reagiu positivamente para co-caína, com peso total estimado de cerca de 9400 kg.”

Não sendo provável a repetição deste episó-dio, que irá ter julgamento neste mês de Janei-ro de 2010, importa, no entanto, registá-lo.

Hipótese C – Surto de poluição

Não parece credível que a poluição seja a causa, já que teria de ser muito forte, para provocar uma tal mortalidade simultânea e, necessariamente, afectaria outras espécies marinhas, o que não se verifi cou.

Mesmo atendendo ao facto do polvo ser uma espécie de fundo, muitas outras espé-cies com os mesmos hábitos existem na zona (Blennius sp., por ex.), que seriam afectadas.

Hipótese D– Quebra súbita de salinidade

Foi aventada a hipótese de uma quebra sú-bita de salinidade, uma vez que o rio Douro, que desagua a cerca de 6 km a norte da área da ocorrência, estava em caudal de cheia.

A salinidade no local foi medida no dia se-guinte, pelas Águas de Gaia, e verifi cou-se ser de 35%, portanto enquadrada nos limites de tolerância do polvo, que oscilam entre os 32 e 40%.

A Estação Litoral da Aguda, no seu relató-rio sobre este arrojamento (Professor Doutor Mike Weber & Dr. José Pedro Oliveira), indica que a ”Diminuição de salinidade decorrente dos cheias acontece todos os Invernos, ra-ramente atingindo valores inferiores a 30 USP [Unidade de Salinidade Prática] (perfeitamente suportáveis pela espécie em questão).”

Hipótese E – Acidente biológico

As mortalidades em massa são conhecidas para algumas espécies marinhas, como as lu-las (um Cefalópode, tal como os polvos), ou o cavalo-marinho (Hippocampus sp.).

Rosa Farto, e a sua equipa Universidade de Vigo, assinalam a associação da bactéria Vibrio lentus com as doenças do Polvo e de-monstram “... que era capaz de reproduzir as lesões de pele, colonizar os órgãos internos e induzir mortalidade em polvos saudáveis. [...] Nenhum efeito foi produzido em sargos ou pregados por injecção intraperitoneal da bactéria isolada.” (2009).

Esta especifi cidade de uma bactéria (que poderá ser comum a outras bactérias e ví-rus) poderá ajudar a explicar por que razão só ocorreram polvos no arrojamento à Praia de Valadares.

Ivona Mladineo e Mladen Jozi, do Labo-ratório de Aquacultura do Instituto de Ocea-nografi a e Pescas da Croácia, estudaram as doenças dos polvos provocadas pelo “pa-rasita coccídio Aggregata sp. (Apicomplexa: Aggregatidae), que provoca perda de peso, excitação e mudanças comportamentais....” (2005).

O Professor José Manuel García Estévez, da Universidade de Vigo, tem estudado in-fecções em polvos, pelo referido parasita Ag-gregata octopiana, e está a colaborar com o Parque Biológico na procura de um explica-ção para o que aconteceu em Gaia, a 2 de Janeiro.

A equipa de Duri Rungger, da Estação Zo-ológica de Nápoles estudou, nos anos 70, o efeito do vírus Lymphocystivirus, designado “Octopus vulgaris disease vírus”, nos polvos.

A Estação Litoral da Aguda, no seu relatório sobre este arrojamento, considera que “a hi-pótese que parece mais provável é: Possibili-dade de infecção bacteriológica, por exemplo por Vibrio lentus que provoca mortalidade dos polvos (Farto et al. 2003. Vibrio lentus asso-ciated with diseased wild octopus (Octopus vulgaris), Journal of Invertebrate Pathology 83: 149-156).”

No dia 06/01/2010 o Professor Carlos Azevedo, do ICBAS (Instituto do Ciências Biomédicas Abel Salazar), confi rmou-nos a

presença do Aggregata octopiana nos polvos de Valadares.

Nada disto, no entanto, explica a morte de polvos em massa, num curto espaço de tem-po.

Hipótese F – Asfi xia

A asfi xia causada por sedimentos prove-nientes das cheias do rio Douro: foi uma outra hipótese colocada, que a Estação Litoral da Aguda, no seu relatório sobre este arrojamen-to, afasta pois “Os polvos, quando ameaça-dos, deslocar-se-iam rapidamente para ou-tros abrigos longe da infl uência do distúrbio.” E, ainda, “Apesar de existir bastante areia alojada nas brânquias dos animais analisa-dos, isto não signifi ca necessariamente que tenham morrido por asfi xia. Este fenómeno pode ter acontecido durante o transporte dos polvos, pela água do mar, uma vez que a zona de rebentação tem sempre bastante areia em suspensão.”

Desenvolvimento da situação Não foi possível recolher todos os polvos

arrojados e proceder à sua contagem e pesa-gem, já que – segundo fontes locais – muitos terão sido recolhidos por populares e trans-portados para outros locais. Foi possível, con-tudo, apurar que os Serviços Municipais de Salubridade Pública de Gaia recolheram 1188 polvos, com um peso total de 352,32 kg.

Entretanto seguiram amostras de polvo para o Laboratório de Parasitologia Marinha da Universidade de Vigo, para a Faculdade de Ciências de Lisboa, para o IPIMAR (Instituto de Investigação das Pescas e do Mar), para o CIMAR - Centro Interdisciplinar de Investi-gação Marinha e Ambiental, da Universidade do Porto, e para o Laboratório Nacional de Investigação Veterinária, aguardando-se os resultados das análises a efectuar.

Por Nuno Gomes Oliveira

Recepção de polvos para análise no Parque Biológico de Gaia Autópsias

pvs30b.indd 33pvs30b.indd 33 10/01/18 10:39:4010/01/18 10:39:40

Page 34: Portfolio: Parks and Wildlife Report: Sado Estuary Interview: David

34 • Parques e Vida Selvagem Inverno 2009/2010

34 ESPAÇOS VERDES

Fauna: novidades do

Anilhagem científi caNão terá sido pela melhor razão que uma

das aves selvagens anilhadas no Parque Bio-lógico de Gaia foi detectada em Tavira.

Trata-se concretamente de um pisco-de-peito-ruivo, Erithacus rubecula, que transpor-tava a anilha A255189.

Capturado no dia 17 de Outubro, junto ao rio Febros durante o seu primeiro ano de vida, este pisco foi também a primeira ave a ser anilhada pelo grupo de anilhagem científi ca de aves selvagens em serviço no Parque Biológi-co de Gaia.

Colhidos os dados respectivos, Rui Andra-de pesou a ave, pousou-a na mão e deixou-a voar.

Ficaria assim na pauta da estatística se An-tónio Manuel Marques, de Faro, não tivesse deparado com este animal, inanimado, e não tivesse visto que tinha na pata uma anilha me-tálica.

Comunicado esse facto a alguém que o levou à Central de Anilhagem, com sede no Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversidade, nada se saberia.

Contudo, esse simples facto permite saber que, com os seus 15 gramas, o pisco bateu asas ao longo de 449 quilómetros, sendo en-contrado nas condições descritas na região de Tavira, num intervalo de 11 dias entre a liberta-ção em Avintes e a recaptura no Algarve.

António Cunha Pereira, anilhador creden-ciado e formador, comenta, ao dar-nos a notí-cia: «Aqui está a primeira recaptura! Ainda não foi no estrangeiro, mas o Algarve já é quase Marrocos», acentua.

«Certamente apanhámos este juvenil na sua migração para sul. Só é pena que tenha sido capturado morto... Esta será com certeza a primeira de muitas recapuras. Basta continu-armos com este trabalho». Aliás, um trabalho que já se realiza há mais de três anos, duas vezes por mês.

Desde o início desta actividade, foram ani-lhados no parque 96 piscos-de-peito-ruivo durante os três anos de funcionamento desta

Os cientistas incluem-nos no grupo dos mi-cromamíferos e, num estudo efectuado em Novembro, já surgiu uma espécie nova para o Parque: o rato-das-hortas...

Na sequência de uma investigação levada a cabo pela bióloga Verónica Gomes, do CIBIO da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, identifi cou-se em 11 de Novembro mais uma espécie no Parque Biológico de Gaia, «o rato-das-hortas, Mus spretus». Por isso, «eleva-se para 22 o número de espécies de mamíferos selvagens do Parque, num total de 1025 espé-cies de fauna e fl ora».

O resultado dos três dias de colheita de espé-

cimes, entre 10 e 12 de Novembro, fi cou ano-tado desta maneira: dia 9 do mesmo mês, de-correu a instalação de cem armadilhas em cinco locais diferentes; dia 10, houve a captura de um rato-do-campo, Apodemus sylvaticus; dia 11, ocorreu a recaptura do mesmo rato-do-campo e a captura de um rato-das-hortas, Mus spre-tus; dia 12, surgiu um musaranho cujos dados seguiram para identifi cação no CIBIO/UP.

Esta mesma investigação completar-se-á na próxima Primavera, altura em que se supõe que outras espécies de micromamíferos venham a ser capturadas e introduzidas na pesquisa, no-meadamente o pequeno rato-cego, Microtus

Rato-do-campo Rato-das-hortas

Ninguém repara neles, mas andam por aí, os ratitos

Verónica Gomes, bióloga

pvs30b.indd 34pvs30b.indd 34 10/01/18 10:39:4810/01/18 10:39:48

Page 35: Portfolio: Parks and Wildlife Report: Sado Estuary Interview: David

Parques e Vida Selvagem Inverno 2009/2010 • 35

ESPAÇOS VERDES 35

o Parque

QUE SERÁ ISTO?

Continuamos a desafi ar os leitores

da PARQUES E VIDA SELVAGEM

com esta secção.

As respostas mais rápidas recebem como prémio um livro editado pelo Parque Biológico de Gaia: “Áreas de impor-tância natural da região do Porto: memória para o futuro”, de Nuno Gomes Oliveira.

Aqui vai o desafi o: as fotografi as em baixo, de um certo de cogumelo e de um anfíbio, referem-se a que espécies concretamente?

As respostas podem indicar um dos no-mes vulgares reconhecidos ou, melhor, o nome científi co.

Se na sua resposta acertar numa só de ambas as espécies, é igualmente considera-da no ranking dos mais lestos. Aguardamos o seu e-mail ou carta.

O prazo para as respostas termina em 31 de Janeiro de 2010.

Os leitores já premiados em edições ante-riores só o serão se não houver outra respos-

ta certa (isto só vale durante um ano a partir da atribuição do prémio).

Quando às duas fotografi as publicadas na edição anterior, no que toca à planta, tratava-se de uma noselha, Merendera pyrenaica. O mamífero era não uma fuinha, mas uma do-ninha, Mustela nivalis. Ambos foram fotogra-fados dentro do Parque Biológico de Gaia.

O primeiro a acertar, em fl ora, foi João Rua, que em 24 de Outubro, às 12h51, escreveu assim por e-mail: «Por acaso ainda ontem vi umas na Serra da Nogueira, em Bragança, numa aula com o meu professor de Botâni-ca, e, se não me engano, a fl or da fotografi a é uma Merendera pyrenaica, acho que co-nhecida vulgarmente por Noselha».

A resposta mais rápida a identifi car a do-ninha veio de Paulo Guimarães, também em 24 de Outubro, às 19h23.

Foi entregue a ambos os concorrentes o livro de Nuno Gomes Oliveira, “Ecoturismo e conservação da natureza”.

João L. Teixeira

João L. Teixeira

João L. Teixeira

Musaranho

lusitanicus, endémico da península Ibérica, e o rato-de-água, Arvicola sapidus, que também existem em liberdade no Parque Biológico de Gaia.

Aves selvagensDeixando os micromamíferos e seguindo

para as aves, uma águia-calçada, Hieraaetus pennatus, insistiu durante vários dias de No-vembro em sobrevoar o Parque Biológico.

Além disso, perto do cercado dos corços, avistaram-se várias petinhas, Anthus trivialis, dia 3 de Novembro.

estação de esforço constante, «o que até dá uma taxa de recaptura fora do local de 1/96, ou seja, 1%, o que é muito bom». Fora isso, «a taxa de recaptura, dentro do parque, de piscos é de 35/96, ou seja, 36%».

pvs30b.indd 35pvs30b.indd 35 10/01/18 10:39:5610/01/18 10:39:56

Page 36: Portfolio: Parks and Wildlife Report: Sado Estuary Interview: David

36 • Parques e Vida Selvagem Inverno 2009/2010

36 RECUPERAR

Centro de Recuperação

Quem deu com eles ao pé de casa foi Manuel Nogueira, de Ovar, ao drenar a água esverdeada de uma piscina na Torreira, perto da ria de Aveiro.Quando estava quase vazia, apercebeu-se da presença de um sapinho e de uma série de salamandras. Uma surpresa que o levou a perguntar a si próprio: seriam dali de perto?Sem tardar, a esposa testemunhou o evento. Ao ver os bichos, sentiu uma repugnância instintiva: «Queria vender logo a casa», lembra.Serviço interrompido, não sabia se lhes devia pegar com a mão ou evitar esse contacto. Na dúvida, jogou pelo seguro: com um apanhador e uma vassourita lá os empurrou com cuidado para um recipiente. Reparou que tinham um ar inofensivo, não fugiam sequer, e sentiu curiosidade.

Outra ideia para lhes dar destino passou por deitar os animais à ria, algo que não permitiu: «Vinham as águias que vejo com frequência a voar e comiam-nos», pondera. Ou, pior, estes animais próprios de habitats húmidos poderiam não se dar bem com a água salgada. Na primeira oportunidade Manuel Nogueira dirigiu-se a uma loja de animais. Na sua opinião, «deixá-los num baldio seria matá-los». Bem informado, o comerciante disse-lhe que era ilegal. Devia contactar o Serviço de Protecção da Natureza e do Ambiente da Guarda Nacional Republicana (SEPNA). Assim fez. Em 20 de Outubro os agentes deste serviço entregaram os pequenos animais ao Parque Biológico de Gaia que os encaminhou ao seu centro de recuperação de fauna selvagem.Identifi cados, tratava-se de um sapo-de-

unha-negra, de salamandras-de-costelas-salientes e de tritões-marmorados. Avaliado o estado de saúde, estes anfíbios foram libertados em habitat adequado na Reserva Natural das Dunas de São Jacinto, em 27 de Outubro, na presença de um guarda-da-natureza do Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversidade.Manuel Nogueira disse-nos, com pena, que assim nunca mais os veria. Mas pode ver outros. Na casa que está a restaurar já nasce a ideia de reservar um pequeno lago dedicado a anfíbios em que, recriadas as condições naturais, certamente hão-de aparecer para se reproduzir.Diferentemente de os reter em cativeiro, algo ilegal e impróprio, já que acabariam por morrer, esta forma de apoiar a vida selvagem perto de casa assenta em criar

Os anfíbios costumam escapar ao olhar do cidadão comum,

mas nem sempre conseguem: veja a história destes anfíbios

que meteram o nariz onde não eram chamados...

Salamandra-de-costelas-salientes

pvs30b.indd 36pvs30b.indd 36 10/01/18 10:40:0810/01/18 10:40:08

Page 37: Portfolio: Parks and Wildlife Report: Sado Estuary Interview: David

Parques e Vida Selvagem Inverno 2009/2010 • 37

RECUPERAR 37

um habitat adequado, e os hóspedes selvagens aparecem e desaparecem por sua própria iniciativa.Consultando a mais recente edição do «Atlas dos anfíbios e répteis de Portugal», de 2008, o sapo-de-unha-negra, Pelobates cultripes, domina o Sul e sobe pelos bordos ocidental e oriental do país. A salamandra-de-costelas-salientes, Pleurodeles waltl, evidencia uma distribuição idêntica. Entre as ameaças que pendem sobre ambos, partilham vários itens, valendo destacar a introdução de uma espécie exótica de custáceo, o lagostim-vermelho-da-louisiana, que exerce predação signifi cativa sobre ovos e girinos, podendo levar à extinção local de várias espécies de anfíbios.

Texto: JG. Fotos: João L. Teixeira

Sapo-de-unha-negra

Está em risco de encerrar o centro de recuperação que mais animais recebe em Portugal.Apesar da candidatura ao Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN) ter sido aprovada, não existia dinheiro

sufi ciente para fi nanciar a obra.O Parque Biológico de Gaia, que é uma empresa municipal, sustenta, há já duas décadas, a recuperação e o acolhimento de animais selvagens apreendidos pelas autoridades,

sem qualquer apoio da Administração Central.Espera-se uma solução, que poderia passar pelo reforço da verba nesse sector. Se não houver alternativa, o centro de recuperação pode vir a encerrar.

Candidatura

pvs30b.indd 37pvs30b.indd 37 10/01/18 10:40:1710/01/18 10:40:17

Page 38: Portfolio: Parks and Wildlife Report: Sado Estuary Interview: David

38 MIGRAÇÕES

pvs30b.indd 38pvs30b.indd 38 10/01/18 10:40:2510/01/18 10:40:25

Page 39: Portfolio: Parks and Wildlife Report: Sado Estuary Interview: David

MIGRAÇÕES 39

Vindos do mar que se estende pela costa norueguesa, entre Dezembro e Janeiro alguns salmões passam no estuário do rio Minho.Sexualmente maduros, pertencem a uma população ameaçada que não consegue iludir o impulso que a leva a deixar o ambiente marinho e a procurar a água doce do rio que a terá visto nascer, a montante. É ali mesmo que fecham o seu ciclo de vida, e sucumbem, mas não sem antes as fêmeas porem os seus ovos e os machos os fertilizarem.Renova-se um círculo de morte e de vida, com um cenário defi nido: sobre cascalho ou gravilha, fl ui água prenhe de oxigénio e limpa de poluentes.Eclodidos os ovos, os juvenis desenvolvem-se “em zonas de baixa profundidade, inferior a 20 centímetros”. Nesta fase, em água doce, alimentam-se de crustáceos e de insectos aquáticos. Após um par de anos, estes juvenis sofrem um processo de smoltifi cação* e migram para o mar onde crescem mais.Com um “declínio continuado em Portugal”, a redução do número de indivíduos reprodutores relativa às últimas décadas pode ter atingido 98%.É por isso que o salmão do Atlântico, Salmo salar, está “criticamente em perigo” em Portugal.Este estatuto preocupante vem publicado no “Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal”, obra que ao focar os rios Minho e Lima, adianta: “o número de indivíduos maduros é extremamente reduzido, sofre fl utuações acentuadas e está em declínio continuado. A maior subpopulação é a do rio Minho. É provável que a população do rio Lima, já residual na década de 90, se tenha extinguido”. As ameaças mais graves para o salmão “incidem na fase continental do seu ciclo de vida, das quais se destacam a construção de barragens e açudes”. Outros impactos no meio aquático vêm através da “poluição, da exploração de inertes, da alteração do regime natural de caudais — devido à exploração dos recursos hídricos e ao regime de exploração das barragens — e da sobrepesca”. Aumentar seja a “população reprodutora, seja a área que ocupam actualmente, promovendo a continuidade das rotas migratórias e a recuperação do habitat, ou seja, assegurar habitat de alimentação, de reprodução e de abrigo”, eis as linhas de força para que o salmão do Atlântico nunca deixe de subir algum dos nossos rios.

* Alterações anatómicas associadas à migração.

Salmão do Atlântico

Texto: Jorge Gomes Ilustração: Ernesto Brochado

Noruega

Rio Minho

Parques e Vida Selvagem Inverno 2009/2010 • 39

pvs30b.indd 39pvs30b.indd 39 10/01/18 10:40:3410/01/18 10:40:34

Page 40: Portfolio: Parks and Wildlife Report: Sado Estuary Interview: David

Reserva Natural do Estuário do S Entre marés, o estuário respira profundamente. Os bancos de vasa e de areia ta

de salicórnia como fi cam ao sol durante horas a fi o. Neste vaivém, os observadores c

uma das faces mais vistosas de um ecossistema assaz complexo que se estende a

Enquanto o veleiro sulca a água lisa do estuário a paisagem fala de serenidade. Nem o ruído do motor que distancia o casco do cais de palafi ta fala mais alto.Na planura líquida, o moinho de maré da Mourisca fi ca mais pequenino, pouco a pouco. Adivinha-se que em breve será um mero ponto branco, longínquo. O barco passa perto de uma ilhota cheia de vegetação de sapal rasteira, de onde já abriram asas uma garça-cinzenta e uma garça-branca-pequena. Na água, um mergulhão-de-pescoço-preto limita-se a imergir e não tarda a reaparecer, distante, para retomar o apetecido território de pesca. A meia distância, há tainhas que insistem em saltar, a ponto de se verem as listas laterais que ostentam. Será improvável alguma perder o tino e cair dentro do barco... De onde em onde, passamos ao lado de paus erguidos, espetados no limo. Assinalarão zonas de fundo alto que a subida das águas oculta?

Paulo Alves tem a seu cargo guiar a observação de aves selvagens em serviço de voluntariado. Vem de Tomar: «Sempre estive ligado à natureza, sempre vivi no campo». Tendo as aves prendido cedo a sua atenção, confessa: «Aprendi o gosto de desenhar, de pintar». Esse pendor fá-lo colaborar com diversas publicações. Os guinchos, pequenas gaivotas já com plumagem de Inverno, são a espécie mais habitual. De quando em quando passa uma andorinha-do-mar, a que chama garajau. A ave de asas pontiagudas, branca com a coroa preta, pára no ar, faz mira, e mergulha, ágil: leva no bico um pequeno peixe.Adiante, alguns corvos-marinhos-de-faces-brancas estão pousados à face da água. Um olhar de pormenor revela um poleiro típico: botes afundados, com a proa a exibir um nariz que não quer submergir. Súbito, longe, um par de binóculos detecta uma águia-pesqueira. Confi rma-se. A ave de

rapina aparece como uma mancha de cabeça branca e corpo castanho-escuro. Estará em migração para sul?«Há as que fi cam cá», diz Paulo. E há as que seguem para África: uma anilha de cor poderia tirar as teimas.Minutos depois vê-se um grande bando de fl amingos. A forma típica destas aves aquáticas não deixa dúvidas. Brancos, a maior parte, há ainda assim alguns indivíduos rosados. Percebe-se que estão de pé, o que indica que naquele sítio a profundidade é irrisória. Aqui e ali o barco passa por tapetes de vegetação de sapal, dominados por plantas que lembram salicórnias. Lidam com a salinidade aquática sem tormento. Acima da linha de água a visibilidade toca a excelência, mas é no mundo submerso, para nós invisível, que estão as raízes da vida que se contempla.No estuário a água do mar encontra a foz dos rios, o que impõe aos animais que ali

40 REPORTAGEM

40 • Parques e Vida Selvagem Inverno 2009/2010

pvs30b.indd 40pvs30b.indd 40 10/01/18 10:40:4210/01/18 10:40:42

Page 41: Portfolio: Parks and Wildlife Report: Sado Estuary Interview: David

vivem teores variáveis de salinidade e de temperatura. Como se não bastasse, vastas áreas de limo ora se cobrem de água ora fi cam a seco. Nestes locais, existem grandes quantidades de invertebrados que se adaptaram a este vaivém, o que também não é fácil. Por sua vez, outros seres vivos acompanham as massas de água que sobem com a maré e com ela descem. É essa face oculta do estuário do Sado que dá sentido à abundância de vida ali presente. Não são só as aves limícolas que se alimentam dos invertebrados da areia e da vasa, mas também inúmeras espécies de peixe que se deslocam na água, sem que nos apercebamos delas. Alguns desses peixes têm nomes singulares, como a tremelga, Torpedo torpedo. Parece uma raia de meio metro, com capacidade de usar electricidade seja para capturar alimento fugidio seja para se defender de predadores. No género há também o ratão, Myliobatis

aquila, que escava a vasa em busca de paparoca e que ao nadar lembra o voo das águias.Mas nem só de peixes invulgares se fazem os cardumes: solhas e robalos, enguias e anchovas, bodiões e savelhas podem andar por ali. Aliás, algumas destas espécies de peixe já existiram em maior número neste estuário, o que ajudava a sustentar a população de golfi nhos roazes, Tursiops truncatus, fi xada no estuário do Sado e agora a precisar de maior cuidado. Em 1985 contavam-se cerca de 40, em 1997 o número aproximava-se de 30, mas o ano passado rondavam os 25 indivíduos: «Uma das razões para o declínio observado na população de roazes do Sado deve-se à baixa sobrevivência dos juvenis, com uma taxa de mortalidade da ordem de 13%», aponta um relatório do Departamento de Gestão de Áreas Classifi cadas, Zonas Húmidas, do Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversidade (ICNB).

As ameaças são as mais diversas, com destaque para factores ligados à poluição, mas a própria escassez de alimento pode estar na berlinda: «Nos últimos 10 anos a captura do choco no estuário do Sado diminuiu cerca de 70%» e «algumas espécies como o peixe-rei, os cabozes, a petinga e o carapau também desapareceram, e caso esta situação não seja invertida poderemos assistir, a médio prazo, a uma situação de escassez da disponibilidade de alimento para os roazes».

Alfobre ecológicoGrande maternidade para inúmeras espécies de peixe, muitas delas com elevado valor comercial, o estuário é um ambiente extremamente produtivo. Quem sabe disso taco a taco são as comunidades piscatórias das redondezas, que dele tiram o seu sustento. Enquanto o veleiro desliza, vêem-se ao

Um veleiro e uma bateira transportaram grupos de visitantes pelo estuário do Sadodurante a “Observa Natura”

o Sadoa tanto sentem a água lisa a espreguiçar-se pelos prados

s contam cerca de 20 mil aves aquáticas invernantes,

e ao longo de 24632 hectares

REPORTAGEM 41

Parques e Vida Selvagem Inverno 2009/2010 • 41

Natural Reserve of the Sado EstuaryThe estuary breathes deeply between the tides. The banks of mud and sand either feel the water stretching over the meadows of salt marsh plants or stay exposed to the sun for hours on end.The Observers count approximately 20 thousand aquatic birds that spend the winter there; one of the most important sites of this very complex ecosystem that extends over 24 632 hectares.

pvs30b.indd 41pvs30b.indd 41 10/01/18 10:40:5010/01/18 10:40:50

Page 42: Portfolio: Parks and Wildlife Report: Sado Estuary Interview: David

longe as copas arredondadas dos pinheiros-mansos. Noutro rumo, o horizonte desvenda um outro bando de fl amingos. Desliga-se o motor e abrem-se as velas, embora sopre apenas uma ligeira brisa: «Vamos à estonteante velocidade de 0.8 nós», diz João, o homem do leme.É hora de regressar, mais ligeiro vai o barco. Só na abordagem se percebe: o cais de pa-lafi ta, junto ao moinho de maré está debaixo de água: há que arregaçar as calças e tirar as botas...

MarinhasEm tempos idos, as salinas do Sado anda-vam na casa das 900. Delas saía o sal cuja qualidade era apreciada nomeadamente nos

países nórdicos. Barcos construídos em estaleiros de Alcácer, não longe, transportavam esta mercadoria, à bolina, para navios ancorados em Setúbal e em Lisboa: eram os galeões do sal. Apesar da efi cácia, com o tempo o desenvolvimento dos transportes rodoviários dispensaram-nos.Falando de história, esta região sedimenta-a até dizer chega e envolve fenícios, carta-gineses, gregos, árabes, e até os célebres inimigos de Asterix, os romanos...Perto da península de Tróia fi caram vestígios arqueológicos da Roma Antiga. Chamavam-lhe ilha de Ácala na altura. As actividades principais centravam-se na pesca e abran-giam o fabrico e a exportação de conservas de peixe.

Desde os anos 30 as salinas têm vindo a sentir um declínio acentuado. As que não foram abandonadas à erosão serviram para arrozal ou para piscicultura. Em qualquer dos casos juntam condições ecológicas atractivas como refúgio e área de nidifi cação de aves aquáticas.Em Mourisca, hoje o sal ainda faz história. Recuperadas, algumas salinas pelo ICNB dispõem-se pela herdade e não são apenas úteis para o sal: uma série de aves limícolas andam por ali. É o caso dos pernilongos, dos pilritos, de borrelhos vários, de maçaricos, das rolas-do-mar e outras.A maior valia da Reserva Natural do Estuário do Sado assenta na grande diversidade de habitats que apresenta. Impõem-se os terrenos salgados de aluvião

Águia-pesqueira

Valverde-dos-sapais, uma das plantas destes habitats

42 REPORTAGEM

42 • Parques e Vida Selvagem Inverno 2009/2010

pvs30b.indd 42pvs30b.indd 42 10/01/18 10:40:5810/01/18 10:40:58

Page 43: Portfolio: Parks and Wildlife Report: Sado Estuary Interview: David

e os sapais, sobretudo em Comporta e em Carrasqueira. Tróia dispõe de uma conside-rável extensão de dunas, onde se destaca o cravo-romano, Armeria pungens, entre muitas outras plantas. Contam-se também lagoas de água doce, montados de sobrei-ro, áreas agrícolas e pastagens, arrozais e zonas de pinheiro-manso e bravo. Além da pesca e da agricultura, avulta a actividade de extracção de cortiça face à resineira.

Passo a passoEsta área protegida abrange zonas das duas margens do rio Sado. Num espaço tão vasto, é de supor que os percursos de descoberta da natureza se multipliquem em torno de

sítios-referência. Além da herdade de Mourisca, que centra estas páginas, chama-se a atenção para outros locais distribuídos entre Setúbal e Alcácer do Sal: Praias do Sado, Gâmbias, Zambujal, Arrábidas, sapal da Carrasqueira, o açude da Murta,Tróia...O estuário do Sado tem-se revelado uma das zonas húmidas mais importantes para aves aquáticas em Portugal Continental e esse foi um motivo relevante para que fosse classifi ca-do em 1980 como Reserva Natural através do decreto-lei n.º 430/80, tendo ainda sido em 1999 incluído na Rede Natura como Zona de Protecção Especial para Aves. Ao pé de Setúbal, este espaço único con-tinua ao sabor das marés, hoje e sempre à espera da sua visita.

Bibliografi a: «Peixes litorais», de Dinah Sobral e João Gomes, edição ICN. «Bases para o Plano de Acção para a Salvaguarda e Monitorização da população de Roazes do Estuário do Sado» do Departamento de Gestão de Áreas Classifi cadas - Zonas Húmidas, do ICNB. «Áreas protegidas em zonas húmidas», de João Carlos Farinha, Paula R. Araújo, Emília P. Silva e Luís Costa, do ICNB.http://roazesdosado.icnb.pthttp://algarvivo.com/arqueo/romano/troia.html

Texto: Jorge Gomes Fotos: João L. Teixeira

Mergulhão-de-pescoço-preto Paulo Alves, guia ornitológico, à direita

43

Parques e Vida Selvagem Inverno 2009/2010 • 43

pvs30b.indd 43pvs30b.indd 43 10/01/18 10:41:1110/01/18 10:41:11

Page 44: Portfolio: Parks and Wildlife Report: Sado Estuary Interview: David

44 REPORTAGEM

À vista do moinho de marés da Mourisca, decorreu uma feira dedicada à actividade de observação de aves em Portugal nos passados dias 17 e 18 de Outubro.Esta OBSERVANATURA foi «uma iniciativa que teve por objectivo dar a conhecer a actividade de birdwatching em Portugal e estimular o seu crescimento».

Com organização do Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade/ Reserva Natural do Estuário do Sado, e com co-organização da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, este evento contou também com o apoio da Câmara Municipal de Setúbal, da Junta de Freguesia do Sado, entre outras entidades.

O certame reuniu participantes nacionais e estrangeiros, empresas de ecoturismo, organizações não governamentais, editoras, agregando os principais intervenientes no desenvolvimento desta actividade.O programa incluiu workshops, minicursos, passeios no estuário do Sado, e até uma sessão de anilhagem.

Observa Natura

Reserva Natural do Estuário do SadoPraça da República2900 - 587 SETÚBAL

Telefone (351) 265 541 157

Fax(351) 265 541 155

Sitehttp://portal.icnb.pt

Ilha do Cavalo

Monte de Palma

Alcácer do Sal

Carrasqueira

MurtaPossanco

Comporta

Setenave

Troia

Setúbal

Mitrena

Mouriscas

Pinheiro

Zambujal

Arrábidas

Moinho de marés da Mourisca

44 • Parques e Vida Selvagem Inverno 2009/2010

pvs30b.indd 44pvs30b.indd 44 10/01/18 10:41:3310/01/18 10:41:33

Page 45: Portfolio: Parks and Wildlife Report: Sado Estuary Interview: David

Parques e Vida Selvagem Inverno 2009/2010 • 45

Considerando o potencial, não

somos muitos a observar aves,

somos ainda menos os que as

fotografam e menos ainda os

que as fotografam com alguma regularidade

e que levam a peito esta actividade.

O potencial é enorme pela grande variedade de espécies que podemos encontrar pelo nosso território. Particularizando, o Estuário do Sado está no top dos locais de excelência. Provavelmente, entre o estuário e as redondezas, poderemos encontrar quase metade das espécies nacionais — algumas importadas do estrangeiro, o que deixa alguns biólogos completamente tramados mas que fazem a delícia dos fotógrafos... desculpem-me! O potencial é enorme, também, porque (ainda) há muitos locais que permanecem selvagens mas são de acesso fácil e, neles, é possível passar umas horas consecutivas sempre de dedo no disparador a capturar imagens fabulosas. É a pose, a luz, o brilho no olho, o momento único em que a ave se estica, levanta voo, faz a corte, apanha um peixe ou incha todas as penas até parecer que engoliu uma granada. Sem cavilha! São umas centenas de fotos num dia só. Claro que, depois, se paga a factura. É preciso espaço no disco rígido para arrumar os megabytes do dia, é preciso tempo para seleccionar as melhores imagens e

rogar pragas às que saíram mal, é ainda necessário dar uns retoques no GIMP (eu sou fã do software aberto por isso não falo em Photoshop!) e, então, mostrá-las aos outros. Por orgulho do trabalho realizado, para fazer inveja ao parceiro que não conseguiu focar a tempo, para divulgar o património natural ou por qualquer outro motivo, mais ou menos nobre, é necessário mostrar “aquela” foto.Aliás, este é um dos aspectos que falha muito na minúscula comunidade dos fotógrafos e apreciadores de aves. Mostrar as fotos! Sim. Uma foto no arquivo morto (morto, pois, ou julgam que depois de arquivar uns milhares de fotos voltam ao arquivo com muita frequência?), dizia, uma foto no arquivo morto vale o mesmo que nada! Uma foto que não se mostra é como uma música que não se ouve ou um vinho que não se bebe. Não servem nenhum propósito. É muito importante mostrar os trabalhos realizados e, mais do que nunca, essa tarefa está facilitada com os n repositórios de fotos (gratuitos) disponíveis na internet. Não há desculpas...Foi por querer mostrar as minhas fotos que conheci muitos amigos, amantes das aves e da fotografi a, habituais frequentadores dos repositórios da internet. É muito interessante andar a vaguear pelo estuário e, de repente, como uma mosca que nos cai na sopa, encontrar outro “passarólogo” com quem já troquei alguns comentários na net e que,

afi nal, é de carne e osso e está ali, mesmo à minha frente, a fazer o mesmo que eu, tão surpreendido quanto eu por este encontro (quase) casual! Com uma troca de telemóveis (os números, claro, porque o aparelho faz-me falta!) com o aumento da frequência dos encontros, com um interesse comum, não é nada difícil construir relações que, no “pior” dos casos, se tornam novas amizades.Nos passados dias 17 e 18 de Outubro realizou-se a primeira Feira dedicada à observação de Aves, a ObservaNatura. O local escolhido foi o moinho de marés da Mourisca, um dos muitos locais do Estuário do Sado que faz as delícias do fotógrafo de aves. Claro que nesses dias, com a movimentação das gentes amantes das aves, fotógrafos e outros, o guarda-rios não se mostrou, o chasco-cinzento que por lá andava escolheu outro poiso, mas o mergulhão-de-pescoço-preto não se rogou à pose! Foram dois dias de novos encontros e velhos reencontros maravilhosos.E as aves por lá continuam na sua vida, sazonais umas, residentes outras e, para alegria do fotógrafo, as acidentais, aquelas que fazem a “foto do dia”, vão dando um ar de sua graça. E eu espero poder continuar a rondar os caminhos do meu estuário...Vemo-nos por aí.

Por José Sousawww.fl ickr.com/photos/jsousa

Um dos fotógrafos de natureza habituais do estuário do Sado fala da sua paixão

Fotografar aves no estuário do Sado

45

pvs30b.indd 45pvs30b.indd 45 10/01/18 10:41:4210/01/18 10:41:42

Page 46: Portfolio: Parks and Wildlife Report: Sado Estuary Interview: David

46 REPORTAGEM

Parque de Parque de NNaturezaatureza de Noudar de Noudar«Veio em bom tempo, já fazia falta», diz

Nuno Santos, engenheiro fl orestal, quando saímos em direcção ao moinho. Não se re-fere à visita-relâmpago que fazemos a Nou-dar naquela tarde, mas sim à chuva que é difícil ver nestas bandas, em pleno Alentejo interior.

Apesar do clima mediterrânico que tudo

domina nesta terra, prados e pastagens não suportam secas eternas.

Perto e longe os campos estão verdes em Dezembro e não requer ar primaveril para que a grizandra, Diplotaxis catholica, polvilhe os cam-pos com as suas quatro pétalas amarelas.

Embora seja esta quem está a dar nas vistas, ocorrem nestes prados «mais de 90 espécies

de pequenas plantas», um dado a reter ainda que não estivéssemos no Ano Internacional da Biodiversidade.

Deambulam, gulosos, em busca de bolotas de azinheira, porcos parecidos com os da raça alentejana: «Estes suínos não nos pertencem, estão aqui em montanheira», acentua. Escalpe-lizada a palavra estranha, afi nal isso quer dizer

Em Noudar a planura alentejana perdeu o tino. A uma dúzia

de quilómetros de Barrancos, num sobe e desce de encantar,

o rio Ardila e a ribeira da Múrtega esgueiram-se sob o olhar

de Espanha: são cerca de mil hectares de natureza mediterrânica,

numa aposta de turismo ecológico auto-sustentável

Noudar Nature ParkThe Mediterranean climate imposes itself here. Under the baton of ecotourism, the Múrtega River winds between the fi elds dominated by Oak trees (Quercus ilex, the Holm Oak). In winter, the rain rejuvenates the landscape and in the silence, wildlife abounds.

46 • Parques e Vida Selvagem Inverno 2009/2010

Para os porcos em montanheira a bolota de azinho é o mais-que-tudo da paisagem A pega-azul vê-se aqui todo o ano

pvs30b.indd 46pvs30b.indd 46 10/01/18 10:41:5110/01/18 10:41:51

Page 47: Portfolio: Parks and Wildlife Report: Sado Estuary Interview: David

REPORTAGEM 47

que foi celebrado um contrato: o proprietário dos animais paga pela engorda, entre Novem-bro e Março, e Noudar cede as bolotas espa-lhadas pelo montado.

O mesmo não acontece com os bovinos autóctones ligados a Mértola: logo, de raça mertolenga. Estes são propriedade do Parque de Natureza de Noudar e contam-se na ordem dos 70.

O passado de agricultura e pecuária das herdades da região está patente de diversas maneiras nesta paisagem, mas uma, peculiar, é certamente a choça, cabana circular que abri-gava o pastor e a família. Vista de perto, parece a casa de uma aldeia castreja!

«As traves», sublinha Nuno Santos, «são de zambujeiro. É a melhor madeira, dizem, nun-ca mais apodrece. Põem esteva e depois, por cima, põem piorno», um arbusto parecido com a giesteira-das-vassouras, Cytisus scoparius.

Próximas das choças havia as malhadas, ou seja, os currais em que, de noite, se guardava o gado. Sim, porque na década de 1930 ainda havia lobos no Alentejo...

Todas estas linhas-de-força tornam Noudar um projecto especial.

Débora Moraes, técnica de ecoturismo, assi-nala: «O Parque de Natureza de Noudar é glo-balmente certifi cado como produtor em modo de produção biológico».

Não é indiferente a este e a outros detalhes o facto de estarmos em plena Rede Natura 2000, Sítio Moura/Barrancos.

«Caminhamos para um turismo de natureza sustentável», afi rma Débora. Não é uma frase-feita, já que Noudar «inclui a avaliação dos efei-tos da actividade turística na diversidade biológi-ca e os produtos que disponibiliza pressupõem essa mesma biodiversidade», completa.

O quadro básico deste parque de natureza

«chama a si outras coordenadas como a da conservação da água e do solo, ou a do ba-lanço de carbono e das energias renováveis, quantifi cáveis à escala deste parque sob a for-ma de indicadores que materializam os critérios dessa mesma sustentabilidade».

TrilhosNuma área de mil hectares ocupada maio-

ritariamente por montado, este parque propõe vários trilhos, sendo mais curto o do Monte da Coitadinha, de quilómetro e meio, e mais longo, de 4 quilómetros, o do Monte Alargado.

O percurso da Volta do Mango envolve o castelo de Noudar, de onde sai a partir de um caminho de terra pisada. A curva apertada que o rio Ardila ali dá desenha a razão deste baptismo. Passa pela fonte da Figueira, onde antigamente os camponeses faziam piqueni-ques.

Há também o percurso do Moinho de Água. Entre bosques de azinheira e zambujeiro, pode dar de caras na ribeira da Múrtega com um an-tigo moinho restaurado. A vegetação ribeirinha dominada por freixo e tamujo, Flueggea tincto-ria, muda de rosto ao ritmo das estações.

A pé, de carro eléctrico ou de bicicleta os vi-sitantes do parque de natureza palmilham estes trilhos de forma autónoma. Podem pedir auxílio a um guia digital ou mesmo humano, de es-pecialidade, nomeadamente do campo da ge-ologia, da ornitologia, da botânica, da história ou da rica etnografi a do local, o que pede uma marcação prévia.

Folhas e pétalasÀ medida que avançamos a estrada de ter-

ra batida faz-se acompanhar nas bermas de

plantas espontâneas da região, manhosas, que guardam para a Primavera as suas preciosas fl ores bravias.

É o caso do piorno, Retama sphaerocarpa, e do rosmaninho, Lavadula spp. Contra a corren-te, algum tojo quebra a regra e já mostra botões amarelos. Mesmo sem a graça das pétalas, o cheiro doce da esteva domina. Um traço co-mum une estas e outras espécies vegetais vizi-nhas: a paixão pelo sol.

Por contraste, em locais mais húmidos e sombrios, inclinados, no território de Noudar há habitats menos transformados do que os montados que formam maioritariamente a pai-sagem.

Porque não foram lavrados, nem queima-dos, afl ora ali o matagal mediterrânico: «Há uma encosta de difícil acesso, mesmo a pé, que agrega uma série de vegetação mais pri-mitiva».

A terra rala impõe a estas plantas selvagens um crescimento limitado. Ainda assim, dão-se nestas encostas bosques e zambujais. Sendo certa a diversidade, estão ali com destaque o zambujeiro, o aderno, Phillyrea latifolia, e a aro-eira, Pistacia lentiscus. Alguns fetos também, entrincheirados nas fendas rochosas.

«Queremos manter o azinhal em todos os es-tados, desde o mais aberto aos mais cerrados e virgens», sublinha Nuno Santos, e salienta: «Aqui é frequente o montado de azinho, ou de sobro, ou de sobro e azinho. Mas ali há mais do que isso. Nestes matagais aparecem aroei-ras muito grandes e uma fl ora diferente da dos montados».

Embora desta vez não tenhamos tempo para espreitar essa encosta, é impossível deixar de ver o azinhal vestido de líquenes enquanto pas-samos. Ar puro!

Uma curva e, como moitas, crescem aro-

Zambujeiro ou oliveira-brava Raça regional de gado bovino: mertolenga

Parques e Vida Selvagem Inverno 2009/2010 • 47

pvs30b.indd 47pvs30b.indd 47 10/01/18 10:42:0010/01/18 10:42:00

Page 48: Portfolio: Parks and Wildlife Report: Sado Estuary Interview: David

eiras cheias de bagas vermelhas na borda do caminho, com sândalo-branco, Osyris alba, à mistura numa vertente que desce com pressa rumo ao rio Ardila. No alto da colina em frente, distante, o castelo.

Matagal espesso, mesmo à face do caminho, numa planta que nunca vira com espinhos, uma novidade: «Espargueiras-bravas* – há duas es-pécies diferentes e são comestíveis», diz Nuno.

Na região até «há quem as colha para ven-der. Cozinha-se com ovos. Cortam só as pon-tas e dessas pontas aproveita-se menos um bocado», explica.

Não é caso único: «Em Fevereiro começa a aparecer um cogumelo. A silarca, Amanita ponderosa, que chega a valer entre 30 a 60 euros».

Águias e lincesOuve-se por toda a parte o cantar de muita

passarada: estorninhos, cotovias, chapins, pis-cos, toutinegras, e outras aves.

Neste pano de fundo pode ocorrer quando menos se espera o voo de uma rapace, qui-çá a rara águia-imperial ou grifos em busca de alimento.

A cegonha-negra não é uma novidade aqui,

na época própria. A partir da Primavera regres-sa de África, assim como o cuco-rabilongo.

Em 26 de Setembro, numa sessão de ani-lhagem científi ca foram detectadas espécies como o papa-amoras, Sylvia communis, a felosa-das-fi gueiras, Sylvia borin, ou a toutine-gra-carrasqueira, Sylvia cantillans.

Mas a grande novidade de fauna selvagem em Noudar tem a ver com o mamífero mais ameaçado do mundo: o lince-ibérico.

Há a possibilidade de os dispersantes do Parque Natural de Doñana, em Espanha, atin-girem esta área, o que aumentaria o sucesso de operações de reintrodução que se planeiam a médio prazo.

Para esse efeito «estão em curso medidas que visam criar condições para que se venha aqui a receber linces reintroduzidos», diz Nuno. Um dos primeiros passos passa por melhorar o habitat natural e pela presa preferida deste felino, que não é abundante: o coelho-bravo.

Muito menos problemas tem este sítio em relação a veados. Sem estarem fi xos em Nou-dar, certo é que se tornaram habituais: «Há pelo menos 40. São seguidos por radio-tracking. Uma bióloga fez o acompanhamento das des-locações. Tanto estão aqui como depois estão em Espanha, noutras herdades».

Sem predadores, os javalis podem ser dis-cretos, mas são numerosos no território.

Este pormenor permite aquilo que no par-que de natureza designam como «espera seca ao javali». Lançados alguns punhados de tri-go num local escolhido, vistos a partir de um observatório, os suínos selvagens começam a sair do mato. É só usar a máquina fotográfi ca.

Com vista ao equilíbrio que se torna neces-sário, igualmente com marcação, há caçado-res que podem contratar o abate de algum javali seleccionado por Noudar.

Ribeira torrencialA cascalheira resmunga sob as botas nas

margens da ribeira da Múrtega. Os calhaus re-dondos fi caram ali sob a força de correntes bem mais fortes do que a que agora observamos.

Debaixo de alguma destas pedras no Outono não seria difícil encontrar uma cria da inofensiva cobra-de-água-viperina, imóvel, na esperança de não ser vista.

Não é isso que nos interessa, quando por fi m se avista um moinho de água sui generis. Uma das paredes lembra a quilha de um barco, pre-cisamente na posição certa para fender a cor-rente quebrada pelo açude que o antecede.

48 • Parques e Vida Selvagem Inverno 2009/2010

Nuno Santos, guia digital em punho, e Débora Moraes Os visitantes podem fazer percursos a pé, de bicicleta ou de Noucar

Castelo de Noudar: dali partia uma velha estrada romana à procura de Moura

48 REPORTAGEM

pvs30b.indd 48pvs30b.indd 48 10/01/18 10:42:0810/01/18 10:42:08

Page 49: Portfolio: Parks and Wildlife Report: Sado Estuary Interview: David

O telhado não existe. É maciço, do mesmo material sólido das paredes. A peculiaridade tem explicação: «Se chover três dias seguidos, este moinho fi ca debaixo de água», diz Nuno Santos.

Feitas bem as contas ao relevo serrano dos terrenos da região, é previsível que a água surja em torrente numa ribeira que em pleno Verão se refugia em buracos conhecidos como pegos.

Nestas águas há também perigos para a bio-diversidade. Vindos sobretudo da América do Norte pela mão de pescadores levianos, peixes vorazes dizimam espécies nativas. São pelo menos seis exóticas contra dez nativas. O sara-mugo, por exemplo, está sob grande pressão, podendo mesmo ter os seus dias contados.

Nas margens, o tamujo ainda tem algumas folhas, mas não tardará a fi car na época fria do ano com os seus fi nos ramos avermelhados atirados ao céu. Mais altos vão os freixos, que querem que chegue Fevereiro para mostrarem a sua fl or.

Mas lá de cima, quem olha do castelo de Noudar para o rio Ardila, que prende Portugal e Espanha através da fronteira, não suspeita de nada disto, nem quando vê nas margens garças brancas ou, um tanto acima, corvos-marinhos em busca de outro pouso.

Do ponto de vista da geologia, os afl oramen-tos de xisto negro avançam até cristas quartzí-ticas e até calcário existe ali. Nalguns xistos os paleontólogos descobriram graptólitos, fósseis de pequenos organismos que habitaram os an-tigos mares do Paleozóico.

Além de todos estes aspectos, o Parque de Natureza de Noudar junta ainda uma moldura etnográfi ca radicada na região. Guarda-se al-gures ainda a memória de gestos de humanida-de relacionados com a Guerra Civil Espanhola, através de Barrancos, ou as velhas histórias de contrabando, ou até as lendas multifacetadas do lindo castelo de Noudar.

Tudo isto e muito mais, consegue reunir neste sítio do interior alentejano, propriedade da Edia, Empreendimento de Fins Múltiplos do Alqueva, onde fi cará bem alojado.

Quem sabe se numa das suas visitas, como dizem os mais antigos, ao sol-posto, não con-seguirá por fi m ver a tal moura encantada que ora desfi a os seus longos cabelos de saudade nas muralhas ora passeia, tímida, pelas mar-gens da ribeira da Múrtega?

* Asparagus albus e A. aphyllus

Texto: Jorge Gomes. Fotos: João L. Teixeira

Parque de Natureza de NoudarApartado 57230-909 Barrancos

Telefone:285 950 000

E-mail:[email protected]

Site:www.parquenoudar.com

Parques e Vida Selvagem Inverno 2009/2010 • 49

REPORTAGEM 49

Moinho-de-água: nas chuvas de Inverno pode fi car submerso

Espargueira-brava

Geranium malvifl orum – espécie nova para Portugal, estando a população mais próxima a cerca de 160 Km em Espanha

Jorg

e G

omes

Mig

uel P

orto

/ED

IA

Interior do moinho

pvs30b.indd 49pvs30b.indd 49 10/01/18 10:42:1710/01/18 10:42:17

Page 50: Portfolio: Parks and Wildlife Report: Sado Estuary Interview: David

50 • Parques e Vida Selvagem Inverno 2009/2010

Ornitólogos juntam-se em Elvas De 5 a 8 de Dezembro decorreram no Centro de Negócios Transfronteiriço

de Elvas o IV Congresso Ibérico de Ornitologia e o VI Congresso de Ornitologia

da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, que esta associação

organizou em parceria com a Sociedade Espanhola de Ornitologia Abibe

Numa ponte sobre o rio Caima observaram-se aves como a poupa ou o peneireiro-cinzento

Amanhecer frio, nublado, o de 6 de De-zembro, segundo dia do evento. Assim que se parte para as imediações de Campo Maior, prevê-se que João Venâncio vá guiar os 30 congressistas inscritos a uma observação de aves na albufeira do rio Caia.

Afi nal, supõe-se que poderá não haver mui-to para olhar: há pouca água na albufeira. Será mais certo, na sua opinião, procurar grous e o que mais aparecer nos campos das redon-dezas.

Em 15 minutos, na estrada que se enfi a a direito entre campos ancorados em sobro e azinho, aparecem no horizonte nublado aves grandes que desenham um V no céu. A meia dúzia de carros encosta à berma e, binóculos em punho, os participantes fi cam de olhar pre-

so ao voo lento dos grous. Dirigem-se dos dor-mitórios aos campos em que se irão alimentar durante o dia.

Mais adiante, outra paragem. Agora há um par de grous que se deixam olhar da estrada, não longe, durante alguns minutos. Num ápice alçam voo e vão juntar-se a outros, na vasta planície dedicada à pastagem de gado.

Pelo caminho, há abibes a ponderarem o momento certo para abrirem as asas e voarem também eles para outras bandas.

São nove horas. É tempo de voltar ao audi-tório. Ali uma sucessão de temas falados em várias nacionalidades verte em catadupa.

Um deles discursava em castelhano sobre o modo como a alteração do clima pode afectar os organismos. Já que as aves são mais sensí-

50 CONGRESSO

pvs30b.indd 50pvs30b.indd 50 10/01/18 10:42:2810/01/18 10:42:28

Page 51: Portfolio: Parks and Wildlife Report: Sado Estuary Interview: David

CONGRESSO 51

Florentino Rebollo, da Faculdade de Ciências da Universidade da Extremadura: efeitos das alterações climáticas numa ave migradora de longa distância

veis do que os mamíferos, dado o elevado me-tabolismo daquelas, assumem-se como indi-cadores do aquecimento global. Foi com esta ideia que o investigador Florentino Rebollo, da Faculdade de Ciências da Universidade da Ex-tremadura, de Espanha, começou a apresen-tação de um assunto que se desdobrou numa análise sobre os efeitos que as alterações cli-máticas produzem sobre as andorinhas-das-chaminés, um migrador de longa distância.

Com base numa série de dados colhidos ao longo de 17 anos na região de Badajoz, com captura da população estimada em 98%, Re-bollo conclui que há uma resposta homogénea destas andorinhas com um adiantamento de 21,4 dias em média desde o início do estudo.

Sendo esta apresentação uma gota no oce-ano, o congresso incluiu temas dos mais diver-sos abordando territórios não só ibéricos, mas também de outras partes do Globo, como por exemplo o Brasil.

Referiu-se no evento que, uma vez que as aves não distinguem fronteiras, os vários paí-ses têm de cooperar quando se percebe que é necessário criar mais Zonas de Protecção Es-pecial, particularmente úteis para aves amea-çadas de extinção. Portugal e Espanha desen-volvem projectos nesse sentido com o apoio do programa LIFE-Natureza da União Europeia. Essas áreas englobam também o mar, já que pendem sobre as aves marinhas elevados índi-ces de ameaça: «As aves marinhas eram pouco

conhecidas, mas devido a um projecto pionei-ro que desenvolvemos na SPEA temos vindo a identifi car as principais espécies a proteger», disse Luís Costa, dirigente desta associação. Uma das espécies em risco iminente de extin-ção é a pardela-balear: «É uma ave que tem ninhos e colónias nas ilhas Baleares, em Es-panha, mas que também depende da costa portuguesa durante a migração e o Inverno». Outro item a considerar neste projecto passa por dirigir campanhas aos pescadores: «Quan-do lançam anzóis ou redes à água fazem cap-turas acidentais. É nesta sensibilização que vamos trabalhar numa próxima etapa».

Texto: JG. Fotos: João L. Teixeira

Observação de grous próximo de Campo Maior: na Primavera irão partir para o Norte da Europa, rumo aos seus habitat de reprodução

Parques e Vida Selvagem Inverno 2009/2010 • 51

pvs30b.indd 51pvs30b.indd 51 10/01/18 10:42:3810/01/18 10:42:38

Page 52: Portfolio: Parks and Wildlife Report: Sado Estuary Interview: David

52 • Parques e Vida Selvagem Inverno 2009/2010

52 INTERNACIONAL

O nosso planeta é comparável a uma espécie de fábrica na qual

complicados processos biológicos deram e continuam a dar lugar a uma

enorme biodiversidade de matérias-primas de origem vegetal que ao longo

do tempo foram suportando a origem e o desenvolvimento da humanidade

Um pedaço maravilhoso desta amostra pode ser encontrado num espaço de raiz com uma área de 25 hectares.

Está “plantado” na localidade de Gijón, nas Astúrias. Chamemos-lhe também um belo jar-dim à beira-mar plantado: o Jardim Botânico Atlântico.

É um espaço especializado na fl ora e vege-tação dos territórios atlânticos. Tem mais de 30 mil plantas de 2 mil espécies diferentes.

Um jardim que é um autêntico museu ao ar

livre de exposição e divulgação de um imenso património vegetal.

Aqui divulga-se, estuda-se, conserva-se, promove-se a paixão pelas plantas e pelo mundo verde. No Jardim Botânico Atlântico há muitas actividades educativas e passeios pedagógicos que muito valorizam tanto o vi-sitante curioso, como o mais apaixonado dos cientistas.

O diálogo entre o Velho e o Novo Mundo permite ver aqui o intercâmbio também exis-

tente ao nível da fl ora. Há inúmeras plantas medicinais, aromáticas, fetos arbóreos… é só escolher!

O Jardim Botânico Atlântico está dividido em quatro áreas fundamentais: a Fábrica Vegetal, o Aglomerado Cantábrico, o Itinerário Atlântico e o Jardim da Ilha.

A Fábrica Vegetal mostra então um mundo verde mais abrangente desde as plantas hortí-colas às invasoras ou ervas daninhas.

No Aglomerado Cantábrico podemos ver e

Jardim Botânico Atlânticoico

Atlantic Botanical Garden - Gijón reportWith an area of 25 hectares, this Spanish green space is “planted” in Asturias. We learn here that our Planet is a factory where complex biological processes give rise to a huge diversity of raw materials of plant origin which, over time supported the origin and development of mankind.

pvs30b.indd 52pvs30b.indd 52 10/01/18 10:42:4710/01/18 10:42:47

Page 53: Portfolio: Parks and Wildlife Report: Sado Estuary Interview: David

sentir, entre outras coisas, os “habitantes” ve-getais existentes, como o próprio nome indica, na região cantábrica de Espanha. Um territó-rio montanhoso de enorme beleza com uma proximidade existencial com o oceano Atlânti-co. Estão aqui as espécies vegetais do bioma temperado europeu dominado pelos bosques com árvores de folha caduca. Esta diversidade deve a sua origem à situação fronteiriça entre as terras mediterrânicas do Sul da Europa e as zonas mais frias e húmidas que são típicas do Centro e Norte do Velho Continente.

Outra das “paragens” obrigatórias situa-se no Itinerário Atlântico. Aqui pode ver-se a ve-getação do Atlântico Norte. Estão recriadas as paisagens que vão desde as zonas mais se-tentrionais da América até ao Caribe tropical.

Percorrem-se ainda as áreas que vão da Eu-ropa boreal à mediterrânica.

O bioma boreal europeu tem aqui represen-tada uma rica variedade de bosques e orlas arbustivas.

O Jardim da Ilha é de um maravilhoso en-cantatório, em jeito quase de jardim de conto de fadas.

Este espaço, desde 2006 parte integrante

do Jardim Botânico Atlântico de Gijón, existe efectivamente desde 1870.

Foi mandado fazer por um ilustre empresá-rio de Gijón de seu nome Florencio Valdés. O restauro do jardim permite agora a qualquer visitante experimentar sensações ligadas a uma tranquilidade bucólica e efectivamente recomendável nos dias que correm. Há um lago com patos que rodeia o espaço. Dentro do Jardim da Ilha encontramos árvores majes-tosas como os cedros enormes e os plátanos, por exemplo. Há também várias colecções de arbustos de variadíssimas espécies.

Durante o passeio apreciamos ainda muitas plantas ornamentais usadas para embelezar os jardins de outros tempos pertencentes à aristocracia asturiana.

O Jardim Botânico Atlântico é de facto um outro mundo.

Um mundo cheio de verde a perder de vista. Passo a passo, carreiro a carreiro, vamos ven-do, vamos cheirando, vamos fotografando… vamos usufruindo… tranquilamente!

É uma amostra do rico património vegetal que chegou à terra muito antes dos primeiros animais. É um pedaço de terra que mostra o

verde maravilhoso que vale a pena conhecer de perto.

Uma grande iniciativa que nos transporta para o íntimo de muitas das formas da biodi-versidade.

É facto que animais e plantas povoam todo o planeta desde os fundos abissais dos ocea-nos ao mais seco dos desertos.

Ora este espaço tem como grande objectivo educar e sensibilizar.

Tem como grande objectivo dar uma “pe-quena ajuda” para salvar essa biodiversidade da qual somos parte integrante mas não do-nos, com toda a certeza… e cada vez menos.

Numa das alas do Jardim Botânico Atlântico lembra-se ao visitante o seguinte: “Há 500 mil plantas conhecidas que dão semente. Só 420 mil estarão descritas. Calcula-se que metade esteja já ameaçada em todo o mundo”.

Este é um jardim que nos dá uma lição de ciências naturais e que nos mostra afi nal que o mundo vegetal é tão ou mais rico que o mundo animal.

Texto: Luís Henrique PereiraFotos: Marcos Prata

Jardim botânico AtlânticoAvenida del Jardín Botánico s/n33394 Gijón (Astúrias)Espanha

Telefone:0034-985185131

E-mail:jardin.botâ[email protected]

INTERNACIONALINTERNACIONAL 53 53

Parques e Vida Selvagem Inverno 2009/2010 • 53

pvs30b.indd 53pvs30b.indd 53 10/01/18 10:42:5710/01/18 10:42:57

Page 54: Portfolio: Parks and Wildlife Report: Sado Estuary Interview: David

54 • Parques e Vida Selvagem Inverno 2009/2010

Ele não é um comunicador mas “O comunicador”, ele n

e com as criaturas mais belas do mundo animal e vegetal q

Em 1979 criou uma das mais ambiciosas sé-ries produzidas pelo Departamento de História Natural da BBC, Life on Earth (A Vida na Terra). Foi vista por mais de 500 milhões de telespec-tadores em todo o mundo. Contava a história da evolução, desde os primeiros vestígios de vida no planeta à mais complexa das criaturas. Ele, David Attenborough, inaugurava uma nova forma de mostrar o mundo natural: em vez de levar o cenário ao espectador, levava ele o es-pectador até ao cenário.

Seguiram-se muitos outros documentários, “O Planeta Vivo” (1984), “A Vida Privada das Plantas” (1995), o “Planeta Azul” (2001). Em 2006 fez o guião e a narração de uma das me-lhores produções de sempre sobre o mundo em que vivemos e as suas transformações e ameaças: o “Planeta Terra”.

A série “Life” foi também uma das mais bem conseguidas e premiadas. Inclui por exemplo “A Vida das Aves” (1998), “A Vida dos Mamíferos” (2002) ou “A Vida a Sangue-frio” sobre répteis e anfíbios feita em 2008. A série “Life” tem no total 79 programas de 50 minutos cada. Para além de fazer televisão na BBC (canal onde foi director de 1965 a 1972), escreveu inúmeros livros igualmente voltados para o mundo natural e para a vida selvagem.

Alguns receberam de resto o mesmo nome das mais prestigiadas séries. É o caso da “Vida na Terra”, do “Planeta Vivo” ou dos “De-safi os da Vida”, por exemplo.

Uma vida cheia de viagens… uma vida cheia de encontros com habitats, animais e plantas de todo o mundo. É provavelmente um dos homens mais viajados e é seguramente um dos naturalistas mais infl uentes da actualidade. Entre as largas dezenas de prémios que rece-beu destaco por exemplo o BAFTA Fellowship em 1979, o de Cavaleiro Celibatário em 1985, Doutor Honoris Causa da Open University em 1980, o de membro da Royal Society em 1983, mais recentemente outro BAFTA pela série “Life in Cold Blood” e o Prémio Príncipe de Astúrias na área das Ciências Sociais, em 2009.

Ora foi este o prémio que serviu de pretexto para nos metermos no carro e seguirmos até Oviedo ao encontro de David Attenborough, o “Senhor Vida Selvagem”.

Depois de nos credenciarmos para a ceri-mónia de entrega dos Prémios Príncipe das Astúrias, os mais prestigiados do mundo, a seguir aos prémios Nobel, marcamos uma en-trevista no Hotel de la Reconquista em Oviedo, 6 horas antes de David Attenborough receber o galardão que já reconheceu o trabalho e a

dedicação de organizações e personalidades nas mais diversas áreas. Exemplos não faltam: Nelson Mandela (1992), Jacques Delors (1989), Mikhail Gorvachev (1989), Jane Goodall (2003), Yasser Arafat (1994), Simone Veil (2005) ou Al Gore (2007)… a lista é interminável.

Às 11h40 dessa sexta-feira dia 23 de Outu-bro de 2009, eu conhecia pessoalmente o ho-mem que em muito contribuiu para sensibilizar o mundo para o facto de não estarmos sozi-nhos no planeta. Afável, atencioso e disponível, David Attenborough, hoje com 83 anos, deu-me a mim e ao meu amigo e repórter de ima-gem, Marcos Prata, todo o tempo do mundo. Antes, tínhamos acordado com a assessoria da Fundação Príncipe das Astúrias apenas 5 minutos com sir David, mas o encontro durou quase meia-hora. Pelos vistos os assessores perceberam que afi nal quem mandava era ele… sir David, ainda bem, para nós!

Sentamo-nos e começamos então a entre-vista exclusiva para a revista “Parques e Vida Selvagem” e para a RTP:

A minha primeira pergunta, sir David, tem a ver com o seguinte: nos tempos que correm, quais são as suas maiores preocu-pações em relação à preservação da vida selvagem? Acha que os governos estão

54 ENTREVISTA

O encontro com o “senh

Meeting with “Lord Wildlife”He is not a communicator but “The Communicator”; he is not a naturalist but “The Naturalist.” The life of David Attenborough blends in with the scenery and also with the most beautiful creatures of the animal and plant world that Television brings in our homes.

pvs30b.indd 54pvs30b.indd 54 10/01/18 10:43:0610/01/18 10:43:06

Page 55: Portfolio: Parks and Wildlife Report: Sado Estuary Interview: David

Parques e Vida Selvagem Inverno 2009/2010 • 55

e não é um naturalista mas “O naturalista”. A vida dele confunde-se com os cenários

al que através da televisão entram em nossas casas há muito tempo

realmente interessados em proteger a vida selvagem do nosso planeta?

David Attenborough – Bom, alguns gover-nos certamente que sim. Embora muita gente diga que o esforço não é sufi ciente, ele é agora muito maior do que foi em tempos, senão veja: quando comecei a fazer programas, a ideia de ver um governo preocupado com a vida sel-vagem era considerada uma tolice… O quê? Políticos a protegerem a vida selvagem… uma tolice! Mas agora, as pessoas exigem que os políticos saibam alguma coisa sobre vida selva-gem. Portanto, eu diria que estamos a avançar nesse ponto de vista. O problema é que os peri-gos também avançam, os perigos são maiores do que efectivamente eram há alguns anos.

Durante mais de 50 anos de televisão dedicados ao mundo natural em geral e à vida selvagem em particular, tem certamen-te muitos momentos especiais. Gostava de recordar agora alguns desses momentos, momentos que o marcaram de forma par-ticular?

David Attenborough – Bom, em 50 anos eu contactei com tantos animais que já lhes perdi a conta… mas lembro-me por exemplo das aves-do-paraíso, lembro-me dos colibris, lembro-me de mergulhar a primeira vez num recife de coral

— o que é uma experiência maravilhosa para qualquer pessoa —, lembro-me de estar senta-do ao lado dos gorilas, enfi m, muitas coisas!

Sir David, milhões de pessoas que se-guem o seu trabalho de forma apaixonada perguntam: como é que se fazem afi nal es-tes documentários, estas séries considera-das as melhores do mundo no seu género?

David Attenborough – Bom, primeiro eu es-crevo um guião. Depois mostro-o aos cientis-tas para eles o corrigirem e aprovarem. A seguir eles dizem que para a série em questão é pre-ciso fi lmar vários animais específi cos. A seguir contacto os produtores e a coisa fi ca acordada. Depois há que encontrar operadores de câma-ra e para uma única série são precisos 10 ou 20 operadores de câmara diferentes. Eles vão para o terreno, para os países e locais em que os animais se encontram e fazem as fi lmagens tal como eu indico no guião… Bom, espero que os animais também tenham lido o guião e sai-bam aquilo que têm de fazer (risos…). No fi m juntamos o material todo, eu escrevo o texto fi nal, gravo-o e está feito!

Disse ontem, numa conferência, que os animais são as “estrelas” e os operado-res de câmara os grandes mestres. Qual é exactamente a importância que atribui ao

papel dos operadores de câmara na ela-boração dos seus inúmeros documentários sobre vida selvagem?

David Attenborough – Bom, as pessoas vêm ter comigo e dizem-me: Você deve ter mesmo muita paciência! Eu digo que não. Eu simplesmente digo ao operador de câmara o que quero e ele é que tem de ter a paciência. Por vezes ele espera um dia, por vezes espera um mês, por vezes espera dois anos até con-seguir o plano pretendido.

Foi o caso do leopardo-das-neves cujos primeiros 50 segundos inéditos em televi-são, gravados nas montanhas nepalesas, demoraram mais de dois anos até serem captados?

David Attenborough – Sim, sim… exacta-mente, foi o caso do leopardo-das-neves.

Um dos momentos que eu sei que recor-da de forma especial, entre muitos outros claro, foi o encontro com a baleia-azul, o maior animal do mundo. Na série “A Vida dos Mamíferos” sir David aparece num bar-co e essa foi, a meu ver, uma das suas inter-venções mais sentidas, mais emocionadas, aquando do encontro com a baleia-azul. O que sente afi nal uma pessoa no momento em que consegue estar lado a lado com um

ENTREVISTA 55

nhor Vida Selvagem”

pvs30b.indd 55pvs30b.indd 55 10/01/18 10:43:2510/01/18 10:43:25

Page 56: Portfolio: Parks and Wildlife Report: Sado Estuary Interview: David

56 • Parques e Vida Selvagem Inverno 2009/2010

56 ENTREVISTA

animal de 200 toneladas e mais de 30 me-tros de comprimento, maior do que o maior dos dinossauros?

David Attenborough – Sabe, a baleia-azul sempre foi considerada uma criatura mítica. Há 20 ou 30 anos, estar lado a lado com uma baleia-azul viva era praticamente impossível. As hipóteses de ver uma baleia-azul viva eram praticamente nulas. Um animal misterioso vin-do das profundezas do oceano… que sobe à superfície de 45 em 45 minutos para respirar e depois desaparece! Nunca acreditei em toda a minha vida poder ver uma baleia-azul viva. Mas, agora, com a tecnologia moderna conse-guimos marcar animais com aparelhos que nos permitem segui-los via satélite. De avião de-tecta-se com facilidade onde estão as baleias. Nessa situação em particular, o avião deu as informações ao barco em que eu ia. A localiza-ção exacta do animal. Tudo isso tornou possível

estar lado a lado com uma baleia-azul. É algo em que não poderíamos acreditar há 20 anos.

Uma última pergunta sir David Attenbo-rough, porque sei que o seu tempo é precio-so: que conselho deixa às novas gerações interessadas em seguir os seus passos e o seu exemplo na elaboração de documen-tários de qualidade sobre a vida selvagem?

David Attenborough – Bom, é muito difícil porque tudo isto custa muito dinheiro. Eu te-nho muita sorte em trabalhar para uma esta-ção pública de televisão (BBC). Só uma esta-ção pública é que tem dinheiro para este tipo de trabalho. No entanto, há sempre coisas que podem ser feitas e bem feitas. Encontrar um animal bastante comum, por exemplo, aque-le passarinho que visita todos os dias o nosso jardim faz muitas coisas que nós não sabemos. Tentem fazer um bom fi lme acerca desse pas-sarinho!

No fi m da entrevista agradeci naturalmente o tempo disponibilizado. Ofereço uma garrafa de vinho do Porto e também um DVD com a série “Vida Animal” produzida por mim para a RTP em colaboração com o Parque Biológi-co de Gaia. Sir David promete ver mal possa alguma da fauna portuguesa que confessa desconhecer.

David Attenborough nasceu em Londres em 1926, é licenciado em Ciências Naturais pela Universidade de Cambridge e em 1952 começou a trabalhar para a BBC. Com a sé-rie “Zoo Quest” foi promovido a director da estação televisiva. O investigador e naturalis-ta foi responsável pela chegada da televisão a cores ao Reino Unido e em 1973 voltou à realização de documentários naturais. David Attenborough prepara-se agora para lançar a série “The Frozen Planet”, escrita e narrada por ele, após viagens ao Árctico e ao Antárcti-co. Pelos vistos não pára, não quer parar.

Aos 39 anos, levo 20 de jornalismo e alguns de televisão. Trabalho na RTP desde Agosto de 1994. Esta foi até agora a entrevista da mi-nha vida! Posso dizer com toda a segurança que cumpri um sonho como pessoa e como jornalista dedicado às questões relacionadas com o ambiente e vida selvagem. Cumpri uma tarefa, uma ambição que nunca julguei ser possível: privar e ter a oportunidade de entrevistar David Attenborough.

Tenho agora na revista “Parques e Vida Selvagem”, depois de o ter já feito na RTP, a possibilidade de partilhar este momento que não encerra uma carreira de forma alguma, mas que a preenche com toda a certeza de um encantatório particular, único diria. A ver-dade é que “Persigo” David Attenborough desde tenra idade. Os animais também sem-pre foram a minha paixão… parte importante da minha vida, embora naturalmente numa outra dimensão, felizmente para ele, infeliz-mente para mim. A perseguição acabou mas a paixão está ainda mais acesa. Perdoe-me caro leitor a emotividade, mas não podia nem queria escrever este artigo de outra forma. Se tiver interesse em ver a reportagem emitida na RTP sobre o encontro, sugiro então que espreite o meu blogue onde mostro esta e outras reportagens sobre temáticas relacio-nadas com a natureza e vida selvagem: blo-guedoluis.blogspot.com. Fico à espera da sua visita!

Texto e entrevista: Luís Henrique Pereira Fotos: Marcos Prata

pvs30b.indd 56pvs30b.indd 56 10/01/18 10:43:4310/01/18 10:43:43

Page 57: Portfolio: Parks and Wildlife Report: Sado Estuary Interview: David

Parques e Vida Selvagem Inverno 2009/2010 • 57

O Município de Seia, através do Centro de Interpretação da Serra da Estrela (CISE), e a associação ALDEIA com extensão no Centro de Ecologia, Recuperação e Vigilância de Animais Selvagens / Parque Natural da Serra da Estrela (CERVAS/PNSE), estão a organizar um seminário dedicado à neve e à sua importância natural, cultural e económica, que apresentará como cenário o ecossistema de montanha da serra da Estrela e toda a sua envolvência e potencialidades.O encontro terá como objectivo abordar aspectos ambientais, científi cos e económicos, dos ecossistemas de montanha e do recurso neve, e deverá considerar temáticas tão diversas como a Geomorfologia, a Climatologia, a Botânica, a Zoologia, a Antropologia, o Desporto e o Turismo. Este seminário decorrerá nos dias 20 e 21 de Fevereiro de 2010 estando previstas a apresentação de comunicações, em Seia, e actividades nocturnas e saída de campo na área das Penhas da Saúde/Alto da Pedrice para observação da biodiversidade e geodiversidade da serra da Estrela e do biótopo de neve.

ACTUALIDADE 57

Na Ilha Terceira, uma equipa do Grupo da Biodiversidade da Universidade dos Açores detectou a presença de uma nova espécie de térmita subterrânea. Julga-se que este novo invertebrado seja Reticulitermes fl avipes, da costa Leste da América do Norte. Uma explicação para a sua presença seria ter benefi ciado do transporte proporcionado «por militares americanos da Base das Lajes ou por emigrantes açorianos provenientes dos EUA». A inspecção surge na sequência de um pedido dos moradores, segundo Paulo Borges, coordenador da pesquisa. Observaram-se vestígios das térmitas em duas das casas analisadas, nomeadamente no tecto, janelas, móveis e armários.

Predomina a ideia de que haja já madeiras que tenham no seu interior colónias reprodutoras da espécie, que não é pêra- doce, pois é tida como invasora com potencial de destruição. Na opinião dos técnicos, tratar-se-á de uma espécie diferente da térmita subterrânea existente no Faial, de origem europeia, até hoje a única conhecida nos Açores: tornam-se necessárias «medidas urgentes para um rápido controlo da sua propagação e minimização do seu impacto social e fi nanceiro na ilha e no Arquipélago», disse Paulo Borges, pelo que já foi avisada a Câmara Municipal da Praia da Vitória e os Serviços de Ambiente da Ilha Terceira para que seja feito um estudo de pormenor.

Nova térmita na Praia da Vitória

Crias

fora de horas

No início de Novembro ocorreu algo inesperado: uma fêmea de pato-real apareceu com meia dúzia de crias no Parque Biológico de Gaia. Quem tem traquejo nesta área sabe que o relógio não bateu bem as horas.

«Para todos os que se interessam pelas questões da educação, do ambiente e da sustentabilidade, participar nas XVII Jornadas de Educação Ambiental é aproveitar a oportunidade de poder, formal ou informalmente, alargar o conhecimento sobre as questões socioambientais actuais», diz um comunicado da Associação Portuguesa de Educação Ambiental.

O evento conta com a participação de Fernando Nobre, da AMI, de António Félix Rodrigues, da Universidade dos Açores, e de Pablo Meira, da Universidade de Santiago de Compostela. «Tal como em anos anteriores, os professores poderão aproveitar ainda esta oportunidade para obter 0,8 créditos, eventualmente necessários para a progressão na carreira», adiantam.

Alterações climáticas: aprender para agir

João

L. T

eixe

ira

Seminário sobre neve

pvs30b.indd 57pvs30b.indd 57 10/01/18 10:43:5110/01/18 10:43:51

Page 58: Portfolio: Parks and Wildlife Report: Sado Estuary Interview: David

58 • Parques e Vida Selvagem Inverno 2009/2010

58 ACTUALIDADE

A Administração da Região Hidrográfi ca do Norte, I.P. (ARH do Norte, I.P.) está a promover um concurso destinado à comunidade escolar da Região Norte. Com o mote: “Águas em Cartaz 2010”, a iniciativa pretende estimular o envolvimento, a refl exão, o debate e a criatividade das crianças e jovens na temática da biodiversidade dos ecossistemas fl uviais e marinhos e reconhecer as principais espécies de animais e vegetais que caracterizam os rios, ribeiras, lagos, albufeiras, estuários, sapais e costa litoral.O concurso decorre até ao próximo dia 10 de Março. Com esta iniciativa, a ARH do Norte, I.P. associa-se às Nações Unidas na comemoração do Ano da Biodiversidade.http://www.arhnorte.pt/?1&it=noticia&mop=0&co=495Espiga, Era, Ébano, Enebro ou Azahar são

nomes que não lhe poderão dizer muito à primeira vista, mas o mesmo não se passa com quem trabalha no Centro Nacional de Reprodução de Lince Ibérico, situado no Algarve, em Silves.Espécie em perigo de extinção, este felino selvagem viu o seu centro de reprodução em Portugal ser inaugurado em Maio do ano passado, contando a partir daí com um esforço de cooperação transfronteiriça, uma vez que o dito centro conta com a colaboração de entidades espanholas, nomeadamente do Parque de Doñana, do Centro de Cría de La Olivilla, em Jaén, na Andaluzia e, agora, do Zoobotânico de Jerez de la Frontera.A fêmea chamada Azahar, nascida em 2004 e proveniente deste último local, chegou à sua nova casa no passado mês de Outubro.

Mais recentemente chegaram ali outras duas fêmeas, Espiga e Era, de Jaén: «Com este terceiro envio de linces dos centros de reprodução localizados na Andaluzia, o Centro Nacional de Reprodução do Lince-ibérico tem já sete linces. O primeiro, a fêmea Azahar chegou no dia 26 de Outubro, vinda de Jerez de la Frontera; seguiu-se a chegada de Érica e Daman II no dia 30 de Outubro, de La Olivilla.O Centro Nacional de Reprodução de Lince Ibérico, em Silves, conta com um complexo de cercados — seja para quarentena seja para fi ns reprodutivos — e um complexo de edifícios que funcionam como centro de videovigilância e coordenação, laboratório, clínica, cozinha, habitação e edifícios de apoio.As expectativas são grandes e integram-se num plano de acção para a criação em cativeiro deste felino na Península Ibérica.

Lince-ibérico

Águas em cartaz 2010

Faria de Castro

Quando se percebia que Faria de Castro ia falar, em público ou privado, todos os que o conheciam, mesmo ao de leve, sabiam que vinha aí uma valente dose de boa disposição e sinceridade.Afi nal, um talento raro, de que nem todas as pessoas se podem orgulhar, e que recordamos dos Encontros Nacionais de Educação Ambiental.Com surpresa, tivemos notícia do falecimento deste homem notável, conhecido ambientalista açoriano, em 24 de Setembro do ano passado, com 63 anos de idade.

Nos Açores, a associação AZORICA homenageou o seu dirigente organizando uma visita ao circuito da Levada, realizada em 8 de Novembro, que contou com a presença de mais de 70 participantes, lembrando «o empenho do antigo presidente da AZORICA, o amigo, ambientalista convicto, Faria de Castro, em relação às questões da protecção do ambiente e em especial à reabilitação da LEVADA».

Mais: http://pt.wikipedia.org/wiki/Manuel_Faria_de_Castro

Rui

Car

doso

pvs30b.indd 58pvs30b.indd 58 10/01/18 10:44:0010/01/18 10:44:00

Page 59: Portfolio: Parks and Wildlife Report: Sado Estuary Interview: David

Parques e Vida Selvagem Inverno 2009/2010 • 59

ACTUALIDADE 59

Visitei o Parque de Monserrate, em Sintra, em 10 de Novembro, e constatei, com enorme satisfação, que o notável jardim romântico, desenvolvido na segunda metade do século XIX por iniciativa do industrial inglês Francis Cook, já evidencia sinais claros de recuperação dos valores paisagísticos e botânicos que o notabilizaram.Depois da eliminação duma parte signifi cativa das espécies invasoras, a equipa dirigida pelo paisagista Gerald Luckhurst trabalha na requalifi cação dos diferentes sectores do parque, com especial incidência nos jardins temáticos conhecidos por “Vale dos Fetos” e “Jardim do México” - área que está a ser bastante enriquecida com espécies oriundas de regiões quentes e secas.Paralelamente, decorre um projecto de inventariação da fl ora do Parque de Monserrate, do Parque da Pena e do Convento dos Capuchos, coordenado pelas Doutoras Maria Lisete Caixinhas e Maria Cândida Liberato, do Instituto Superior de

Agronomia, de que resultou a publicação do livro “Percursos Botânicos nos Parques de Sintra”, ilustrado pelo Prof. João Catarino.Junto às espécies consideradas mais notáveis foram colocadas tabuletas com a identifi cação e um texto explicativo, o que proporciona um percurso botânico muito interessante. Foi exactamente a realizar este percurso que dei de caras com um monumental Barbusano (Apollonias barbujana), árvore endémica da Madeira e das Canárias, da família Lauraceae. A minha surpresa foi tanto maior, porque no livro, no mapa do Parque de Monserrate e na placa colocada junto à árvore, esta está identifi cada como sendo um Til (Ocotea foetens), da mesma família do Barbusano e também indígena da Madeira e dos Açores. Na falta de frutos, que são claramente diferentes, redobrei a atenção nas folhas e nos pequenos ramos, de forma a dissipar as dúvidas, que entretanto me tinham invadido.

Barbusano monumental

Concluí que não estava enganado. A árvore monumental, com um impressionante PAP (perímetro à altura do peito) de 10,5 metros, é um Barbusano. O maior dos barbusanos com que até hoje convivi!

Por Raimundo Quintal

Nem só de expansões territoriais se poderão fazer as alterações climáticas, a fazer fé no que ocorreu na recepção de fauna selvagem do centro de recuperação do Parque Biológico de Gaia no passado Outono.Em 17 e 30 de Outubro, duas borboletas cauda-de-andorinha, Papilio machaon, foram entregues por pessoas diferentes, tendo ambas em comum asas que não acabaram de se esticar. Sem voar, são irrecuperáveis. Este tipo de entrega para recuperação é uma novidade e levanta-se a hipótese de poder ter a ver com as temperaturas peculiares do ano passado.Esta espécie de mariposa tem normalmente três gerações por ano e a terceira costuma numa época normal ver-se no estado larvar por altura de Setembro.Mais se acentua esta suspeita quando se verifi ca a entrega em 4 de Setembro de 2009 uma lagarta de borboleta-caveira, Acherontia atropos, em fase fi nal de alimentação. Esta situação não é nova. Pelos padrões normais, já experimentados no mesmo mês em 2005, a fase de crisálida, enterrada, deveria ter-se estendido

Asas engelhadas pelo clima?

até Abril de 2010, altura em que eclodiria a borboleta.Pelo contrário, numa breve observação de controlo em 19 de Novembro verifi cou-se que o insecto adulto já tinha eclodido e... adivinhe! Não conseguiu esticar também as asas. No Verão esta espécie passa apenas um mês no estado de crisálida.

Se com estas duas espécies do grupo das maiores borboletas da nossa fauna tais factos saltaram ao caminho, pode ter ocorrido em maior proporção com insectos de menor porte, a maioria, e ninguém ter dado por nada... Sinais dos tempos?

Texto: JG

Borboleta-caveira Cauda-de-andorinha

João

L. T

eixe

ira

pvs30b.indd 59pvs30b.indd 59 10/01/18 10:44:1010/01/18 10:44:10

Page 60: Portfolio: Parks and Wildlife Report: Sado Estuary Interview: David

60 • Parques e Vida Selvagem Inverno 2009/2010

60 SEQUESTRO DE CARBONO

Agrupamento de Escolas Ovar Sul - Curso EFA B3Alice Branco e Manuel Silva

Ana Filipa Afonso MiraAna Luis Alves Sousa

Ana Luis e Pedro Miguel Teixeira MoraisAna Rita Alves Sousa

Ana Sofi a Magalhães RochaAntónio Miguel da Silva SantosArnaldo José Reis Pinto Nunes

Artur Mário Pereira LemosBárbara Sofi a Carvalho Pereira e Duarte Manuel Carvalho

PereiraBernadete Silveira

Carolina de Oliveira Figueiredo MartinsCarolina Sarobe Machado

Caroline BirchCatarina Parente

Colaboradores da Costa & GarciaCónego Dr. Francisco C. Zanger

Deolinda da Silva Fernandes RodriguesDinah FerreiraDinis Nicola

Eduarda e Delfi m BritoEduarda Silva Giroto

Escola EB 2,3 Dr. Manuel Pinto Vasconcelos - Pegada Rodoviária Segura - Ambiente e Inovação

Escola Secundária Almeida Garrett - Projecto Europeu - Aprender

a Viver de Forma SustentávelFamília Carvalho Araújo

Família LourençoFernando Ribeiro

Francisco Gonçalves FernandesFrancisco Saraiva

Francisco Soares MagalhãesGraça Cardoso e Pedro Cardoso

Hélder, Ângela e João Manuel CardosoInês, Ricardo e Galileu Padilha

Joana Fernandes da SilvaJoana Garcia

João Guilherme StüveJoaquim Pombal e Marisa Alves

Jorge e Dina FelícioJosé Afonso e Luís António Pinto Pereira

José António da Silva CardosoJosé António Teixeira GomesJosé Carlos Correia Presas

José Carlos LoureiroJosé da Rocha Alves

José, Fátima e Helena MartinsLuana e Solange Cruz

Manuel Mesquita M.ª Helena Santos Silva e Eduardo Silva

Maria Manuela Esteves MartinsMaria Violante Paulinos Rosmaninho Pombo

Mariana Diales da RochaMário Garcia

Mário Leal e Tiago LealMarisa Soares e Pedro Rocha

Miguel ParenteMiguel, Cláudia e André Barbosa

Nuno TopaPaula Falcão

Pedro Manuel Lima RamosPedro Miguel Santos e Paula Sousa

Regina Oliveira e Abel OliveiraRicardo Parente

Rita NicolaSara Pereira

Serafi m Armando Rodrigues de OliveiraSérgio Fernando Fangueiro

Tiago José Magalhães RochaTurma A do 8.º ano (2008/09)

da Escola EB 2, 3 de ArgoncilheTurma E do 10.º ano (2008/09)

da Escola Secundária de ErmesindeVânia Rocha

Cada dia que passa há mais empresas e cidadãos a confi arem ao Parque Biológico de Gaia o sequestro de carbono

CONFIE AO PARQUE BIOLÓGICO DE GAIA O SEQUESTRO DE CARBONOAjude a neutralizar os efeitos das emissões de CO2, adquirindo área de fl oresta em Vila Nova de Gaia com a garantia dada

pelo Município de a manter e conservar e de haver em cada parcela a referência ao seu gesto em favor do Planeta.

1 m2 = € 50 = menos 4 kg/ano de CO2

O regulamento encontra-se disponivel em www.parquebiologico.pt/sequestrodocarbonoPara mais informações pode contactar pelo n.º (+351) 227 878 120 ou em [email protected]

Parque Biológico de Gaia, EEM • Projecto Sequestro do Carbono • 4430-681 Avintes • Vila Nova de Gaia

pvs30b.indd 60pvs30b.indd 60 10/01/18 10:44:1910/01/18 10:44:19

Page 61: Portfolio: Parks and Wildlife Report: Sado Estuary Interview: David

Parques e Vida Selvagem Inverno 2009/2010 • 61

COLECTIVISMO 61

Veiga da Areosa: aves inabituaisNos últimos meses a APCA - Associação

de Protecção e Conservação do Ambiente, no âmbito das actividades de monitorização dos Habitats do Litoral Minhoto, tem observado e registado a presença de diversas aves pouco habituais ou mesmo raras nestas paragens, particularmente, na Área de Emparcelamento das Veigas de Afi fe, Carreço e Areosa.

Entre as aves observadas destaca-se a presença, nos últimos três meses, de seis gansos-de-faces-brancas (Branta leucopsis), na Veiga de Afi fe e bandos de garças-boieiras (Bubulcus ibis) na Veiga de Areosa.

Salienta-se que o ganso-de-faces-brancas é oriundo do Árctico caracterizando-se pela combinação de branco, preto e cinzento na plumagem. Apresenta patas e bico pretos, enquanto a face é branca, com tonalidades beges, o pescoço e o peito pretos e os fl ancos cinzentos. Esta espécie no Inverno, habitualmente, fi ca pela latitude da Irlanda / Escócia ou Alemanha / Holanda, sendo muito rara a sua presença na nossa latitude. Saliente-se que durante um longo período os seis exemplares mantiveram-se na freguesia de Afi fe, deslocando-se ao longo do dia entre

os prados da Veiga das Cangosas e a Foz do rio de Afi fe. Assinala-se que a última observa-ção de um ganso-de-faces-brancas na região ocorreu no dia 24 de Novembro de 2002, no estuário do Minho.

Os registos demonstram que a garça-boieira raramente era observada entre os rios Minho e Douro, todavia nos últimos dois anos, particularmente, nos últimos meses, tem sido possível observar diversos bandos desta espécie na Veiga de Areosa. Trata-se de uma garça de média dimensão, com a plumagem quase totalmente branca, com manchas alaranjadas no dorso e na coroa, sobretudo durante a época de reprodução. As patas são pretas, tornando-se alaranjadas na época de criação e o bico é amarelo, passando a alaranjado na Primavera. Durante a época dos ninhos ocorre principalmente a sul do Tejo e na Beira Baixa, observando-se as maiores concentrações nas zonas das colónias, mas a partir do fi nal do Verão, de acordo com os registos, pode ser observada com bastante frequência na Beira Litoral e, ocasionalmente, no Norte do país até ao rio Douro. No Sul de Portugal é a mais terrestre de todas as

garças, surgindo muitas vezes longe de água, associada ao gado bovino, equino e ovino ou acompanhando as máquinas agrícolas. Trata-se de uma fi el acompanhante do gado, po-dendo ser vista com frequência nos campos, procurando alimento entre os animais.

Entendeu-se por bem fazer este comunica-do devido a diversas pessoas terem contacta-do a APCA no sentido de nos alertarem para a presença das aludidas aves, aproveitando-se a oportunidade para agradecer esta preciosa colaboração, mas também para alertar os organismos competentes, em razão do lugar e da matéria, para a importância da salvaguarda e protecção destes habitats litorâneos, concretamente no que concerne à interdição da caça e controlo de actividades, uso e ocupação do solo que possam implicar a degradação ou destruição destes habi-tats. Salienta-se, ainda, a importância destas observações enquanto indicadores biológicos relativamente a alterações climáticas em curso.

Por APCA - Associação de Protecção e Conservação do AmbienteIn http://www.caminha2000.com/jornal/n428/distritoviana.html

Ganso-de-faces-brancas

pvs30b.indd 61pvs30b.indd 61 10/01/18 10:44:4010/01/18 10:44:40

Page 62: Portfolio: Parks and Wildlife Report: Sado Estuary Interview: David

62 • Parques e Vida Selvagem Inverno 2009/2010

62 COLECTIVISMO

Estações de diversidade biológicaCultivar a Paz e a Biodiversidade

Através do estabelecimento de uma Rede de Estações da Biodiversi-dade, o Tagis - Centro de Conservação das Borboletas de Portugal e o Museu Nacional de História Natural (MNHN) propõem-se contribuir para a valorização, divulgação e conservação do património natural do país.

A rede é actualmente constituída por 30 locais. As Estações da Biodiversidade são percursos públicos, com uma

extensão máxima de três quilómetros, sinalizados no terreno através de painéis informativos sobre as riquezas biológicas a observar pelos visitantes.

Ao longo de 2010, Ano Internacional da Biodiversidade, serão inau-guradas as diversas estações, estando também planeadas actividades e visitas guiadas. Aguardem notícias nossas brevemente!

Tagis – Centro de Conservação

das Borboletas de Portugal

Museu Nacional de História Natural

Jardim Botânico da Universidade de Lisboa

Rua da Escola Politécnica, 58 • 1250-102 Lisboa

Tel. + Fax: 21 396 53 88

[email protected] • www.tagis.org

Por José Augusto Nogueira de Oliveira, pároco de Avintes

É este o título da mensagem do Papa Bento XVI para o Dia Mundial da Paz 2010. O texto integral encontra-se disponível no site ofi cial do Vaticano: www.vatican.va

Trata-se de uma mensagem especial porque nos fala claramente da questão ambiental, como um factor importante para a Paz mundial. Diz assim o n.º 4: «Pode-se porventura fi car indiferente perante as proble-máticas que derivam de fenómenos como as alterações climáticas, a desertifi cação, o deterioramento e a perda de produtividade de vastas áreas agrícolas, a poluição dos rios e dos lençóis de água, a perda da biodiversidade, o aumento de calamidades naturais, o desfl orestamento das áreas equatoriais e tropicais? Como descurar o fenómeno crescente dos chamados «prófugos ambientais», ou seja, pessoas que, por causa da degradação do ambiente onde vivem, se vêem obrigadas a abando-ná-lo – deixando lá muitas vezes também os seus bens – tendo de en-frentar os perigos e as incógnitas de uma deslocação forçada? Com não reagir perante os confl itos, já em acto ou potenciais, relacionados com o acesso aos recursos naturais? Trata-se de um conjunto de questões que têm um impacto profundo no exercício dos direitos humanos, como, por exemplo, o direito à vida, à alimentação, à saúde, ao desenvolvimento».

Mas o Papa lembra também que por detrás de uma crise ecológica há uma crise de valores morais. Após uma releitura do livro do Génesis o Santo Padre tira esta conclusão no n.º 5: «…quando o homem, em vez de desempenhar a sua função de colaborador de Deus, se coloca no lu-gar de Deus, acaba por provocar a rebelião da natureza, mais tiranizada que governada por ele. O homem tem, portanto, o dever de exercer um governo responsável da criação, preservando-a e cultivando-a».

O n.º 12 é particularmente incisivo: «…encorajo a educação para uma responsabilidade ecológica, que, como indiquei na encíclica Cáritas in veritate, salvaguarde uma autêntica «ecologia humana» e consequen-temente afi rme, com renovada convicção, a inviolabilidade da vida hu-mana em todas as suas fases e condições, a dignidade da pessoa e a missão insubstituível da família, onde se educa para o amor ao próximo e o respeito da natureza».

O n.º 8 lembra o dever de solidariedade entre gerações: «O uso dos recursos naturais deverá verifi car-se em condições tais que as vanta-gens imediatas não comportem consequências negativas para os seres vivos, humanos e não humanos, presentes e vindouros; que a tutela da propriedade privada não difi culte o destino universal dos bens; que a intervenção do homem não comprometa a fecundidade da terra para benefício do dia de hoje e do amanhã. Para além de uma leal solidarie-dade entre as gerações, há que reafi rmar a urgente necessidade moral de uma renovada solidariedade entre os indivíduos da mesma geração, especialmente nas relações entre os países em vias de desenvolvimento e os países altamente industrializados…»

O n.º 11, lembra a responsabilidade de todos e de cada um: «É cada vez mais claro que o tema da degradação ambiental põe em questão os comportamentos de cada um de nós, os estilos de vida e os modelos de consumo e de produção hoje dominantes, muitas vezes insusten-táveis do ponto de vista social, ambiental e até económico. Torna-se indispensável uma real mudança de mentalidade que induza a todos a adoptarem novos estilos de vida…».

Finalmente o n.º 14 apela à união de todos os crentes das várias reli-giões nesta causa universal.

pvs30b.indd 62pvs30b.indd 62 10/01/18 10:44:4810/01/18 10:44:48

Page 63: Portfolio: Parks and Wildlife Report: Sado Estuary Interview: David

Parques e Vida Selvagem Inverno 2009/2010 • 63

A cabamos de assistir ao fracasso

da Cimeira de Copenhaga, por

culpa exclusiva de políticos

incultos e inconscientes, que não têm

quaisquer preocupações com a qualidade

de vida das futuras gerações, mas única e

exclusivamente com interesses económicos

imediatos, pois estes é que lhes conferem

votos para continuarem nos respectivos

cargos, para depois, quando se retiram da

actividade política, lhes atribuírem cargos

administrativos, lautamente remunerados.

No entanto, esses mesmos políticos fartam-

se de dar conselhos às populações para,

por exemplo, andarem menos de automóvel,

não se deslocarem a altas velocidades e

utilizarem, alternativamente, transportes

públicos, etc. Mas, eles não dão o exemplo,

pois não vemos governantes (inclusive

autarcas) nos transportes públicos e vemo-

los em automóveis de grande cilindrada,

geralmente a altas velocidades (pois andam

sempre atrasados), ocasionando, por vezes,

acidentes graves, como o que aconteceu

na Av. da Liberdade em Lisboa no dia 27

de Novembro de 2009, por excesso de

velocidade… INCONGRUÊNCIAS!

E sses mesmos governantes fartam-se

de nos aconselhar para pouparmos

electricidade, não deixando lâmpadas

acesas, aparelhos eléctricos ligados, quando

não em utilização, etc. Acabamos de assistir

ao enorme desperdício de energia durante as

épocas festivas do Natal e do Fim do Ano.

Praticamente todas as Autarquias iluminaram

exuberantemente ruas e praças, nalguns

casos de modo feérico, como foi o caso, por

exemplo, do Funchal. A única preocupação

que tiveram foi a “promoção” turística, sem

pensarem minimamente no elevado contributo

que estavam a conferir para o “Aquecimento

Global”. A energia que foi inutilmente consumida

nesses dias contribuiu para um aumento de

volume anidrido carbónico (CO2) em milhares

de cm3. Uma tremenda contribuição para

o “Aquecimento Global” absolutamente

desnecessária e perfeitamente evitável.

Assim, fi quei abismado, para não dizer outra

coisa pior, ao ver a Declaração (Copenhaga:

a favor das decisões que estejam à altura do

momento), elaborada por 14 Presidentes de

Câmaras de vários países (Berlim, Cidade do

México, Estocolmo, Istambul, Joanesburgo,

Kyoto, Lisboa, Manaus, Ouagadougou,

Paris, Quito, Rio de Janeiro, Tel-Aviv e Viena),

publicitada no dia 20 de Dezembro de 2009

e assinada pelo Presidente da Câmara de

Lisboa (António Costa), quando esta Câmara

(não sabemos como actuaram as outras)

fomentou um dispêndio enorme de energia

com iluminações natalícias na urbe lisboeta.

Uma grande contribuição para o aumento

de gás carbónico (CO2) na atmosfera, isto é

para o “Aquecimento Global”, perfeitamente

escusada... INCONGRUÊNCIAS!

V emos os nossos governantes,

particularmente autarcas, apoiarem,

até com subsídios, provas com

elevado teor de poluição, como são as provas

motorizadas de “todo terreno”, motonáutica,

“ralies” e até provas de “Fórmula 1”, como

foram os “lautos” subsídios que conferiram

a Tiago Monteiro (1 milhão de euros pelo

Turismo de Portugal, com a autorização

da Secretaria de Estado do Turismo, para

“promover” a “Marca Portugal” (não conheço

esta marca fi ctícia e existente apenas na

mente de dirigentes sem escrúpulos e incultos)

na “Fórmula 1”, em 2007; mais 2 milhões de

euros atribuídos, ilegalmente, pela Secretaria

de Estado da Juventude e do Desporto,

através do Instituto do Desporto de Portugal).

Até promovem provas de motonáutica de

alta velocidade ou com as designadas motos

de água, em albufeiras que fornecem água

para consumo público ou, muitas vezes, de

pequena dimensão, como aconteceu em

2009, no açude de Coimbra de reduzidíssimas

dimensões para tal. Pois o vereador que

promoveu tal disparate (responsável pelo

pelouro do Ambiente, pasme-se!...) considerou

o evento memorável, extremamente importante

para Coimbra, e que se deveria repetir. Ainda

por cima, o evento aconteceu numa albufeira

marginada por uma área verde utilizada pelos

munícipes para lazer e prática de desporto

de manutenção (corrida, passeio, ginástica).

Nunca “desporto” motorizado, altamente

CRÓNICA 63

Incongruências e alterações climáticas

Por Jorge Paiva

Biólogo, Centro de Ecologia Funcional

da Universidade de Coimbra

[email protected]

Na urgente “batalha” que a espécie humana tem de travar para suster

o mais do que evidente, “Aquecimento Global”, deparamos com tremendas e incríveis

incongruências, particularmente por parte dos políticos que nos governam.

Para constatação do que acabamos de afi rmar, vejamos alguns exemplos ilustrativos

pvs30b.indd 63pvs30b.indd 63 10/01/18 10:44:5610/01/18 10:44:56

Page 64: Portfolio: Parks and Wildlife Report: Sado Estuary Interview: David

64 • Parques e Vida Selvagem Inverno 2009/2010

poluente. A nós, aconselham-nos a andarmos

a velocidades moderadas e o menos possível

a sós quando nos deslocamos de automóvel.

Fórmula 1, motonáutica, etc., são actividades

(nego-me a designá-las como desporto) de

condução individual... INCONGRUÊNCIAS!

C omo se sabe, as plantas verdes,

através da fotossíntese, absorvem

gás carbónico (CO2) da atmosfera e

libertam oxigénio (O2). Assim, essas plantas

não só despoluem o Ambiente, através da

diminuição do volume de CO2, como também

o purifi cam com as enormes quantidades de

O2 que produzem. Pois, são muito poucas

as nossas Autarquias que investem em áreas

verdes. Antes pelo contrário, substituem-nas

(ocupam-nas) por betão armado (os designados

empreendimentos imobiliários). Todo o Algarve

está repleto de exemplos desses. Qualquer

agregado populacional (cidades, vilas e aldeias)

deve estar perfeitamente integrado na paisagem

onde se insere; deve ser o prolongamento da

paisagem rural e não constituir um agregado

de blocos de betão armado, separados

por arruamentos asfaltados, sem quaisquer

espaços verdes e sem árvores ou arbustos nas

respectivas artérias... INCONGRUÊNCIAS!

E ntre as plantas, há enormes diferenças

na quantidade de biomassa que

produzem e no volume de gás

carbónico que retiram da atmosfera e o de

oxigénio que produzem. Assim, entre as

ervas, arbustos e árvores, estas últimas são

as que maior volume de CO2 absorvem e

maior volume de O2 libertam. Portanto, quanto

maior quantidade de artérias arborizadas

tem um agregado populacional, melhor será

o Ambiente urbano, assim como devem ter

jardins e parques não só com ervas e arbustos,

mas, fundamentalmente, com árvores. Muitos

dos parques actuais da maioria das cidades

constituíam áreas fl orestais que foram sendo

incorporadas na zona urbanizada. Alguns

parques e jardins surgiram também de antigos

pomares, como aconteceu com alguns dos

primeiros olivais muitos séculos antes da Era

Cristã, ou até de jardins dos templos, como

o de Karnak, no Egipto, planeado por Nekht,

durante o reinado de Tutmés II, 1520-1604

a.C. Ao referirem-se as áreas verdes urbanas,

imediatamente ocorrem à ideia apenas os

jardins e os parques, o que não é correcto. É

evidente que são zonas verdes importantes,

mas não se podem esquecer as árvores

plantadas nos arruamentos dos agregados

populacionais, as quais, pelas suas múltiplas

e extraordinárias funções biológicas, podem

inserir-se na referida designação. Uma cidade

deve ser toda ela um “arboreto” ou “fl oresta

urbana”, designação utilizada por arquitectos

paisagistas, o que não acontece em nenhuma

cidade de Portugal Continental. Há cidades

estrangeiras onde, no Verão, mal se vislumbra

o casario que está completamente coberto

de árvores, na maioria mais altas que as

casas. Em Portugal isso não acontece, pois,

quando existem árvores altas nas ruas, elas

são mal e criminosamente podadas, fi cando

mais semelhantes a postes ou a “monstros

vegetais”, do que aquilo que verdadeiramente

são. Praticamente toda a gente conhece a

importância das áreas verdes urbanas, pois

podem contribuir para o lazer e para actividade

recreativa - desportiva dos habitantes, assim

como para a purifi cação do ar, através da

função clorofi lina exercida pelas plantas. Além

disso, servem para amenizar, com a sombra

das árvores, o calor dos estios e para conferir

à paisagem urbana a “sugestão” verde de um

cenário natural. É fundamental que toda a

gente se capacite que as plantas são “fábricas”

de biomassa (matéria viva), de energia (ex.:

lenha, carvão, resina), de alimentos (ex.: frutos,

folhas, pólen), de medicamentos (70-75% são

de origem vegetal), de material de construção

e mobiliário e purifi cadoras do ar pelo oxigénio

que produzem e pelo gás carbónico que

absorvem através da fotossíntese. Nos climas

temperados, como é o nosso, usam-se nas

artérias urbanas, normalmente, árvores de

folhagem caduca (caducifólias), para que, no

Inverno, seja possível a chegada do Sol ao

casario e aos transeuntes. Esta técnica tem

o inconveniente de diminuir substancialmente

a capacidade de “purifi cação” do ar pela falta

da verdura da folhagem. Mas há árvores de

folhagem caduca que, mesmo sem as folhas,

continuam com capacidade fotossintética

através do tronco e dos ramos, por terem

“casca” esverdeada, como é o caso do

plátano, tendo sido, por isso, muito usado,

embora, em muitos casos, impropriamente

plantado em artérias estreitas. Os parques

e os arboretos dos agregados urbanos são

hoje também muito utilizados para a prática

desportiva de manutenção. No entanto, como

as cidades portuguesas têm, no geral, parques

de reduzidas dimensões, a presença humana

ultrapassa os limites de sobrevivência de muitos

seres antipoluentes e que vivem epifi tamente

(sobre as plantas, neste caso, as árvores) – ex.:

musgos e líquenes – ou saprofi ticamente (à

custa de matéria orgânica morta, como ramos

e folhas) – ex.: alguns fungos –, assim como

alguns seres microscópicos muito úteis que

vivem sobre qualquer superfície vegetal (ex.:

superfície caulinar e foliar, casca dos frutos),

os mixomicetes, predadores de bactérias

e, portanto, controladores das populações

bacterianas que, livres em grande número,

se podem tornar patogénicas. Depois da

descoberta das plantas fotossintéticas em C4,

que conseguem concentrar o CO2 no interior

das folhas, sendo, por isso, mais produtivas

e com maior capacidade despoluidora, estas

virão a ser elementos preponderantes dos

parques e jardins modernos, estando já a ser

utilizadas para a pastorícia por terem maior

rendimento hidrocarbonatado na fotossíntese.

Mas, em Portugal, em vez de se plantarem árvores ou construírem parques e jardins, até com algumas dessas plantas, superlotam os meios urbanos de betão urbano e de no-

64 CRÓNICA

Toros desperdiçados nas margens do rio Amazonas, perto de Manaus. 15.10.1995 Camião carregado de toros da pluvisilva, no porto de Leixões. 13.01.2000

pvs30b.indd 64pvs30b.indd 64 10/01/18 10:45:0410/01/18 10:45:04

Page 65: Portfolio: Parks and Wildlife Report: Sado Estuary Interview: David

Parques e Vida Selvagem Inverno 2009/2010 • 65

vas artérias sem árvores. Coimbra é um bom exemplo de um “nojo” urbano ambiental. É uma cidade que tem vindo a perder qualidade de vida ambiental e cultural desde a década de 40, quando se iniciou o designado “derrube da Alta” para ali se instalar a “Cidade Univer-sitária”, com edifícios de volume incompatível com o espaço em que os construíram. Pas-sados poucos anos já não havia espaço para ampliar naquele exíguo espaço outros edifícios fundamentais para uma Universidade moderna e mais ampla. Actualmente, é uma Universida-de com vários “Pólos” (Pólo I, que é o “Pólo Central”, onde estão algumas Faculdades e a Reitoria; o Pólo II, que é o “Pólo Tecnológico”, com as engenharias; o Pólo III, que é o “Pólo da Saúde”, com o Hospital Universitário e as Faculdades de Medicina e de Farmácia; o Pólo IV, que é o “Pólo da Economia”, com a Facul-dade de Economia; o Pólo V, que é o “Pólo Astronómico”, com o Observatório Astronómi-co; o Pólo VI, que é o “Pólo Geofísico”, com o Instituto Geofísico; o Pólo VII, que é o “Pólo do Desporto”, com o estádio universitário, peque-nos campos de jogos e pavilhões desportivos; e, fi nalmente, o Pólo VIII, que é o “Pólo Turísti-co”, com o Palácio de S. Marcos e respectiva quinta. Todos estes “Pólos” distam de tal modo entre si (por vezes distâncias de vários quiló-metros) que têm de utilizar transportes mo-torizados para se deslocarem de uns “Pólos” para outros, contribuindo, involuntariamente, mas obrigatoriamente, para o “Aquecimento Global”. Toda esta dispersão de “Pólos” (a nu-meração e respectiva nomenclatura é subjecti-va) teria sido evitada com governantes dignos e não de “vistas curtas” como eram os dessa década (40), que apenas pretenderam ter os estudantes universitários “acantonados” para melhor os controlarem... INCONGRUÊNCIAS!

A quantidade de oxigénio necessária

para a vivência saudável de um

indivíduo da espécie humana num

Espaço Urbano é correspondente ao oxigénio

produzido por uma superfície foliar de 150

m2. Feitos os cálculos, verifi ca-se que cada

indivíduo necessita, teoricamente, de 40 m2

de Espaço Verde num Ambiente Urbano.

Desta área, corresponderão, para cada

habitante, 10 m2 de espaço localizado próximo

da respectiva habitação, até um raio de

acessibilidade de 400 m, sendo os restantes

30 m2/habitante destinados ao espaço verde

integrado na estrutura verde principal do

agregado populacional. Não me parece que

haja qualquer cidade portuguesa nestas

condições, embora Funchal seja a cidade

portuguesa que mais se aproxima do espaço

verde ideal num Ambiente Urbano e Viseu a

cidade continental portuguesa com maior área

relativa de artérias urbanas arborizadas. Os

melhores Parques Urbanos Municipais que

conheço em Portugal são o da Boavista, no

Porto e o da Paz, em Almada. No nosso país,

o jardim urbano mais invulgar e que muito me

encanta não só por o ter acompanhado desde

o início (1987), como também por ter apenas

plantas lenhosas autóctones, é o Jardim da

Escola Secundária de Barcelos, que tem cerca

de 1720 exemplares de árvores, arbustos e

subarbustos autóctones, pertencentes a cerca

de 270 espécies, dispersos por uma área

de 10.638 m2. Na Península Ibérica não há

nenhum jardim como este, que é um Museu

Vivo da nossa fl ora lenhosa.

É, pois, imperioso que não se percam em favor do betão armado e do asfalto as belas e amplas áreas verdes ainda existentes nas zonas limítrofes de muitas das nossas cida-des (ex.: Ansião, Barcelos, Coimbra, Santo Tirso, Setúbal), como também é necessário aumentar as áreas verdes dos nossos agrega-dos urbanos. Em vez de se diminuir a verdura nos agregados urbanos e arredores, ela tem de ser aumentada, para que as cidades, vilas e aldeias sejam mais saudáveis. Mas, em vez disso, temos assistido a atitudes inqualifi cáveis de autarcas, como, por exemplo, cederem áreas verdes, até seculares, ao betão armado

(ex.: o abate de milhares de sobreiros, muitos seculares, em Setúbal e em Benavente, para a construção de empreendimentos imobiliá-rios ou turísticos, como campos de golfe) ou para estradas (ex.: uma estrada municipal com o derrube de parte do valioso azinhal de Ari-ques, no concelho de Alvaiázere) que podiam ser construídas noutras zonas, sem destruição de áreas verdes ou de derrube de árvores. Um exemplo recente e inconcebível (apenas na mente de autarcas e governantes inconscien-tes), é o caso de se pretenderem derrubar ár-vores, com a consequente diminuição da área da Mata do Choupal em Coimbra (área verde urbana, com mais de 2 séculos), quando há alternativas para a estrada que ali pretendem instalar... INCONGRUÊNCIAS!

Por outro lado, as árvores com maior acção despoluidora e maior acção purifi cadora do ar são as árvores da fl oresta tropical de chu-va (pluvisilva), por se encontrarem nas zonas equatoriais, com o Sol praticamente na vertical e luminosidade diária uniforme durante todo o ano. É, pois, nestas fl orestas que não só se encontram os maiores seres vivos terrestres (árvores até cerca de 6000 toneladas), como também são as fl orestas de maior biomassa vegetal. Portanto, são as fl orestas que podem alimentar não só os maiores herbívoros terres-tres (elefantes), como grandes manadas de ou-tros herbívoros (ex.: as enormes manadas de búfalos e de gnus) e uma enorme diversidade de organismos. As fl orestas tropicais são, pois, os ecossistemas terrestres de maior biodiversi-dade; são o maior “pulmão” do Globo, por ser aí que se produz o maior volume de O2 e são a região com maior acção “purifi cadora” do ar, por ser aí que as plantas absorvem o maior vo-lume de CO2. Há países, como os países nór-dicos, que sabem viver da fl oresta, mantendo sempre a mesma área global de fl oresta (um produtor fl orestal só pode vender a madeira das árvores que abate, depois de plantar na área desfl orestada, um número superior das que derrubou), mas a enorme maioria deles, tal

CRÓNICA 65

Toros na pluvisilva. Rondónia (Brasil), margens do rio Roosevelt. 05.08.1995 Derrube pelo fogo da pluvisilva. Rondónia (Brasil), Esfregão, pr, Pimenta. 06.08.1995

pvs30b.indd 65pvs30b.indd 65 10/01/18 10:45:1210/01/18 10:45:12

Page 66: Portfolio: Parks and Wildlife Report: Sado Estuary Interview: David

66 • Parques e Vida Selvagem Inverno 2009/2010

66 CRÓNICA

como Portugal, não só não sabe, como não o faz. Actualmente, é impressionante a velo-cidade de destruição das fl orestas do Globo. Devido à enorme quantidade de madeira que a pluvisilva possui, este tipo de fl oresta (ex.: Amazónia, África Equatorial, Malásia, Filipinas e Papuásia) está a ser incendiada e derruba-da, muitas vezes de maneira indiscriminada e estúpida, a uma velocidade “diabólica”, desa-parecendo, em cada 10 segundos, uma área correspondente à superfície do relvado de um campo de futebol, calculando-se que, a conti-nuar este ritmo, não haverá pluvisilva no Globo quando se atingir a segunda metade deste sé-culo. Assim, estamos a diminuir drasticamente a absorção de CO2, numa contribuição para o “Aquecimento Global” muito mais relevante do que a industrial e veículos motorizados, e a diminuir o volume de oxigénio na atmosfera, o que é um elevado risco para a sobrevivência das gerações futuras. Infelizmente, Portugal é um dos países responsáveis por esse derrube incomensurável que está a acontecer na plu-visilva, pois é um dos maiores importadores dessas madeiras “nobres”. Basta ir ao porto de Leixões ver camiões de grande tonelagem serem carregados com enorme quantidade de toros para ali transportados pela marinha mer-cante, com toda a legalidade conferida pelos nossos governantes... INCONGRUÊNCIAS!

Praticamente toda a gente tem alguma consciência do que está a acontecer no Globo Terrestre, com o consequente risco de sobre-vivência da nossa espécie, mas, a maioria das pessoas, não só não tem a educação ambien-tal necessária para entender o que se está a passar, como também não percebe que tem, forçosamente, de mudar a sua maneira de estar na Terra. É fundamental parar ou regu-lamentar para que este desastre não continue. Isso é possível. Apenas são necessários polí-ticos conscientes, assim como vontade polí-tica. Mas, como vimos recentemente, com o fracasso da Conferência de Copenhaga, não só os políticos, como as pessoas, são, habitu-almente, INCONGRUENTES!...

P raticamente, toda a Imprensa foi

unânime ao considerar que o “Acordo

de Clima” de Copenhaga foi um

rotundo fracasso. Claro que aparecem sempre

comentadores que tentam amenizar o fracasso

com acontecimentos paralelos, como foi o

aproveitamento feito por grupos anarquistas,

que procuram todos os eventos “globais”

de políticos, quer sejam ambientais, como o

de Copenhaga deveria ter sido, quer sejam

económicos (G7 ou G8 ou G10), para cenas

de violência. Ora, os verdadeiros defensores

do Ambiente não têm nada a ver com essa

gente, nem com ambientalistas incultos e

facciosos, vulgo fundamentalistas, nem com

os ambientalistas que apenas procuram

protagonismos, vulgo os oportunistas, como

é o caso de Al Gore. Por isso, não nos

surpreendem comentários como o de Pacheco

Pereira: “Pode a cimeira chegar aos melhores

resultados que eles continuam imperturbáveis,

com o silêncio incomodado dos que fazem de

conta que isto não acontece e só vêem à frente

o bonacheirão politicamente correcto Al Gore”

(Sábado N.º 294 – 17-23 de Dezembro de

2009). Não temos conhecimento de qualquer

atitude ou actividade de Pacheco Pereira em

defesa do Ambiente, nem consideramos Al

Gore um ambientalista. Também não estamos

de acordo que Al Gore seja um bonacheirão,

pois não é mais do que um demagogo e

oportunista que não só está farto de ganhar

dinheiro à custa do Ambiente (cobra um

dinheirão por cada conferência que profere,

por isso nunca o fui ouvir, para não colaborar,

pateticamente, no lucro fabuloso que ele tem

com conferências), como também o que

pretende é conseguir, futuramente, um alto

cargo político no seu país ou na ONU ou, sei lá,

um Prémio Nobel. Tudo isto não contando com

os extraordinários dividendos que tira com as

fi lmagens que protagonizou. Estas actividades

de Al Gore, não são INCONCRUÊNCIAS, pois

ele sabe bem o que pretende. Mas, quando

viaja no seu jacto particular para ir proferir

uma conferência, sendo capaz de ter o

descaramento de aconselhar as pessoas a não

se deslocarem para os empregos utilizando

individualmente o respectivo automóvel, é

mais do que um caso de INCONGRUÊNCIA, é

desaforo, desonestidade e pouca vergonha.

Um verdadeiro defensor do Ambiente, não só não se mistura com os referidos anarquistas em manifestações repletas de violência, como também não colabora com farsantes como é Al Gore. Os ambientalistas não se importam que não haja sigilo bancário, não aceitam “ta-chos”, quer políticos, quer administrativos ou empresariais com vencimentos escandalosos, não lutam por vanglória, mas para a sobrevi-vência das futuras gerações, enquanto os po-líticos não são capazes de promulgarem leis que permitam acabar com o sigilo bancário e quando se retiram da actividade política, vão ocupar cargos administrativos altamente remu-nerados, sem terem a mínima preparação para tal. Infelizmente, temos muitos destes últimos exemplos em Portugal. Estes casos não são INCONGRUÊNCIAS, pois são casos de políti-cos profi ssionalizados, como diz Vasco Pulido Valente (Público, Ano XX n.º 7200, pág. 40, de 19 de Dezembro de 2009). Terminamos com a transcrição dos últimos períodos do referi-do artigo deste ilustre cronista: “O país que se lixe. A obsessão da Assembleia da República (e do Governo) é meramente táctica: o voto, a vantagem imediata, o efeito na televisão ou na imprensa. É uma obsessão estéril e torpe. Não, de facto, não há homens.”

Infelizmente, são os políticos que temos e não são apenas os ambientalistas que consi-deram não termos políticos competentes e de-centes. Infelizmente esta crise política não é na-cional, mas global. Essa é a razão fundamental do esperado falhanço que foi a Conferência de Copenhaga, pois o acordo foi elaborado pelas grandes economias e não pelos grandes polí-ticos mundiais. Foi exíguo o que se conseguiu: um acordo não vinculativo e que não é mais do que uma forma de “calar” e “comprar a ade-são dos países menos industrializados e mais vulneráveis. Pagar, com uma contribuição para o Fundo Climático de Copenhaga, destinado a auxiliar os países pobres, é o mesmo que alguém abastado possa despejar o lixo que produz (sem a preocupação de o reduzir) para a propriedade de um vizinho, pagando-lhe por isso. O pior é que o lixo não desaparece e vai sempre aumentando, pois com este processo o rico não deixa de produzir cada vez mais lixo, sem se preocupar em arranjar processos de reduzir a respectiva produção. Este processo é não só vergonhoso, como também o enorme contributo para o estrondoso fracasso da Con-ferência de Copenhaga... INCONGRUÊNCIAS!

“Poda” inqualifi cável de um choupo-negro. Casal Novo do Rio (Alfarelos). 02. 04.1995

pvs30b.indd 66pvs30b.indd 66 10/01/18 10:45:1910/01/18 10:45:19

Page 67: Portfolio: Parks and Wildlife Report: Sado Estuary Interview: David

pvs30b.indd 67pvs30b.indd 67 10/01/18 10:45:2610/01/18 10:45:26

Page 68: Portfolio: Parks and Wildlife Report: Sado Estuary Interview: David

pvs30b.indd 68pvs30b.indd 68 10/01/18 10:45:3710/01/18 10:45:37