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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE - UFRN CENTRO DE EDUCAÇÃO CE CURSO DE PEDAGOGIA EAD POSSÍVEIS CAUSAS DA EVASÃO ESCOLAR NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS MARIA ZULEIDE FERREIRA NATAL- RN 2016

POSSÍVEIS CAUSAS DA EVASÃO ESCOLAR NA EDUCAÇÃO … · têm-se, a prática escolar na EJA comentando sobre as práticas educativas que incentivem o jovem e o adulto a permanecer

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE - UFRN CENTRO DE EDUCAÇÃO – CE CURSO DE PEDAGOGIA EAD

POSSÍVEIS CAUSAS DA EVASÃO ESCOLAR NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E

ADULTOS

MARIA ZULEIDE FERREIRA

NATAL- RN

2016

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MARIA ZULEIDE FERREIRA

POSSÍVES CAUSAS DA EVASÃO ESCOLAR NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E

ADULTOS

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Pedagogia a Distância do Centro de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para obtenção do título de Licenciatura em Pedagogia, sob a orientação do Professor. Esp. Christomyslley Romeiro da Silva.

NATAL- RN

2016

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POSSÍVEIS CAUSAS DA EVASÃO ESCOLAR NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E

ADULTOS

Por

MARIA ZULEIDE FERREIRA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Pedagogia a Distância do Centro de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para obtenção do título de Licenciatura em Pedagogia.

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________________

Prof. Esp. Christomyslley Romeiro da Silva (Orientador)

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

_____________________________________________________

Prof. Ms. Pedro Isaac Ximenes Lopes

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

______________________________________________________

Prof. Ms. Marcos Torres Carneiro

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

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RESUMO

Na modalidade de ensino da Educação de Jovens e Adultos é possível perceber o

abandono por parte dos alunos, antes que o ano letivo seja encerrado. Uma série

de fatores caracteriza esse abandono escolar, como questões emocionais, sociais,

político-culturais, econômicos e a própria escola que desestimula o aluno a não

continuar frequentando as aulas. Em contrapartida, o governo investe em incentivos

para que esses alunos permaneçam na escola, mas ainda carece de estratégias

para reverter o quadro de maneira mais significativa. Diante do exposto, este artigo

tem por finalidade uma breve reflexão acerca das possíveis causas da evasão

escolar na Educação de Jovens e Adultos (EJA). O embasamento teórico foi Paiva

(1983), Cunha (1999), Romanelli (1999), Freire (1987) e Arroyo (2000), entre outros,

os mesmos discutem pontos importantes acerca da Educação de Jovens e Adultos.

Essa pesquisa constituiu-se de um estudo bibliográfico com ênfase numa

abordagem qualitativa. Por fim, compreende-se que, cabe ao professor da EJA ter a

sensibilidade de enfrentar o problema da evasão através de novas estratégias e

práticas pedagógicas propiciando uma educação mais justa, igualitária e inclusiva.

Palavras - chaves: Educação de Jovens e Adultos. Evasão Escolar. Aluno.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................... 05

2. UM BREVE HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NO

BRASIL ............................................................................................................... 07

3. DISCUTINDO A EVASÃO ESCOLAR NA EJA ................................................... 11

3.1. A PRÁTICA ESCOLAR NA EJA ........................................................................ 14

3.2. OS PRESSUPOSTOS TEÓRICOS SOBRE A EVASÃO ESCOLAR ................ 17

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................. .20

ABSTRACT .............................................................................................................. 21

REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 22

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1. INTRODUÇÃO

Este trabalho tem como finalidade propor uma reflexão sobre as causas que

propiciaram a evasão de alunos na Educação de Jovens e Adultos. Na atualidade, a

escola pública brasileira está passando por diversas crises; não só no que diz

respeito às más notas obtidas em vestibulares ou avaliações institucionais, mas

outro problema que atinge em grande proporção as escolas de ensino básico do

país; trata-se da evasão escolar.

A maior inquietação surgiu acerca dos motivos que levam os alunos da EJA

a pararem de frequentar a escola, mesmo depois de terem tomado a iniciativa de

voltar a estudar, e em pouco tempo é tido como evadido do ambiente escolar.

Surgiram alguns questionamentos como: qual é a metodologia utilizada pelo

professor em sala de aula que não atende as expectativas dos alunos? Ou quais as

condições socioeconômicas desses alunos? Há a presença de uma desestruturação

familiar? A evasão é um problema que preocupa todo o corpo escolar.

Ao perceber alunos com pouca vontade de estudar ou acentuados atrasos

na aprendizagem, a gestão escolar, a equipe pedagógica e professores tentam

auxiliar esses alunos na tentativa de superar esses problemas, no entanto, não se

conseguem assegurar a permanência desse aluno na escola; muitos desistem antes

de chegar na metade do ano letivo.

É preciso considerar que a evasão escolar é uma problemática ocasionada

por uma série de fatores, é um dos temas que está presente nos debates e reflexões

a respeito dos problemas existentes na educação brasileira e que ainda hoje,

infelizmente, atinge a qualidade da educação pública em nosso país.

A pesquisa bibliográfica teve como foco principal a Educação de Jovens e

Adultos, e os altos índices de evasão nesta modalidade de ensino, observa-se

diversas metodologias para se conter essa evasão e nenhuma surtiu o resultado

esperado, sendo necessário, então, fazer esta investigação com os alunos da

Educação de Jovens e Adultos, com vistas a compreender as metodologias e

recursos didáticos utilizados na EJA, uma vez que os alunos têm uma realidade

cultural e um nível de subjetividade diferente em relação às crianças em fase

escolar.

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Embasando teoricamente a pesquisa nos autores: Paiva (1983); Cunha

(1999); Romanelli (1999), Freire (1987), Arroyo (2000), entre outros. Entendendo

que a evasão escolar é um grande desafio a ser superado no Brasil e que suas

causas são variadas, há alguns fatores que podem apontar para as possíveis

causas desse problema como, por exemplo, as condições socioeconômicas,

culturais, geográficas ou mesmo questões referentes aos encaminhamentos

didático-pedagógicos, e a baixa qualidade do ensino das escolas.

O trabalho ficou constituído da seguinte forma: o primeiro capítulo refere-se

à um breve histórico da EJA no Brasil, relatando os caminhos percorridos da

Educação de Jovens e Adultos desde o ano de 1879 até os dias atuais.

O segundo capítulo, “Discutindo a evasão escolar na EJA”, apresenta fatores

e causas que fazem com que os alunos abandonem a escola e como sub tópicos

têm-se, a prática escolar na EJA comentando sobre as práticas educativas que

incentivem o jovem e o adulto a permanecer na escola; e “Os pressupostos teóricos

sobre a evasão escolar”, que mostram as consequências relacionadas aos fatores

como: social, cultural, político e econômico.

E por último, as considerações finais que apresentam a necessidade de uma

escola que busque caminhos para oferecer uma educação de qualidade aos sujeitos

da Educação de Jovens e Adultos, permeando sua condição de adulto, cidadão, que

atua ativamente na sociedade.

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2. UM BREVE HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NO

BRASIL

De acordo com Paiva, (1983 apud Lopes, 2012, p. 31), desde o Brasil

Colônia, as ações pertinentes a Educação de Jovens e Adultos estiveram presentes

através da escolarização, principalmente, os povos indígenas e negros, tendo como

intenção a difusão da religião cristã, ou seja, combatendo os cultos indígenas e

resistências aborígenes e convertendo os em cristãos.

Ainda, segundo Paiva, 1983 apud Lopes, 2012, p. 31, não havendo

investimentos nos primeiros 25 anos após 1879 e pelo fato de a maioria da

população brasileira ser camponesa, estando assim, submetida à dominação política

dos donos da terra e ao laço paternalista, não se sentia que a escola era

necessidade daquela época. A escolarização passa a se tornar critério para o

progresso social, somente com a lei de 1881, Lei Saraiva, incluída na Constituição

da República os Estados Unidos do Brasil de 1891. Assim no Século XX, com o

desenvolvimento industrial, iniciou-se um processo lento, mas, crescente, de

valorização da Educação de Jovens e Adultos.

Paiva, 1983 apud Lopes, 2012, p. 31, também expõe que em 1920, foram

iniciadas mobilizações em torno da educação, como dever do Estado, sendo um

período de debates políticos e culturais sobre a questão da identidade nacional e

definição de nação que afligiu a muitos sobre a programação do ensino como

ferramenta da estrutura de poder, a fim de barrar os problemas fomentados pelos

socialistas.

A partir da década de 1930, surgiram preocupações por parte do governo

com a educação de jovens e adultos por motivo das transformações sociais pelas

quais passava o país, e a preocupação em atender as demandas da

industrialização. Em 1947 foi lançada a campanha de Educação de Adultos.

Para Romanelli 1999 apud Lopes, 2012, p. 31, essa campanha tinha fins

eleitorais, visava a partir da alfabetização de adultos aumentarem o número de

eleitores na base do governo. Com essa campanha buscava alfabetizar em três

meses os adultos, com a conclusão do curso primário em dois períodos de sete

meses, seguindo um período para capacitação profissional e o desenvolvimento

social dos alunos.

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Neste período surgiu a proposta para alfabetização de adultos sob a

orientação pedagógica de Paulo Freire, e daí “o analfabetismo passou a ser

interpretado como efeito da situação de pobreza gerada por uma estrutura social

não igualitária e não mais como causa dos problemas sociais”. (SILVA, 2003, p. 2

apud Lopes, 2012, p. 31)

Visando1 a alfabetização de 5 milhões de brasileiros até 1965, através do

método Paulo Freire – uma proposta que, criticando o sistema educacional,

orientava uma prática educativa baseada no diálogo e valorizava a cultura já

existente do aluno – o qual conseguia alfabetizar em 40 horas, foi então lançado em

janeiro de 1964, pelo Presidente João Goulart, o Plano Nacional de Alfabetização.

Citando Acosta (2004), Lopes, 2012, p. 32 esclarece que a partir da década

de 60, a atenção às especificidades didáticas e as demandas de docentes para

atuar na EJA ganharam visibilidade no cenário nacional brasileiro com a proposta de

educação para adultos desenvolvida por Paulo Freire, a partir de um modelo

pedagógico diferenciado que procura superar a fragmentação curricular,

organizando-se de forma temática e orientando-se pelo pensamento de que:

Para ser um ato de conhecimento o processo de alfabetização de adultos demanda, entre educadores e educandos, uma relação de autêntico diálogo. Aquela em que sujeitos do ato de conhecer (educador-educando; educando-educador) se encontram mediatizados pelo objeto a ser conhecido. Nesta perspectiva, portanto, os alfabetizandos assumem, desde o começo mesmo da ação, o papel de sujeitos criadores. Aprender a ler e escrever já não é, pois, memorizar sílabas, palavras ou frases, mas refletir criticamente sobre o próprio processo de ler e escrever e sobre o profundo significado da linguagem (FREIRE: 2002, p. 58 apud LOPES, 2012, p. 32).

O papel do educador Paulo Freire foi fundamental no desenvolvimento da

educação de jovens e adultos, ao destacar a importância da participação do povo na

vida pública nacional e o papel da educação para sua conscientização. As iniciativas

de educação popular eram organizadas a partir de trabalhos que levavam em conta

a realidade dos alunos, implicando a renovação de métodos e procedimentos

educativos. Em janeiro de 1964 foi aprovado o Plano Nacional de Alfabetização que

previa a disseminação por todo o Brasil, de programas de alfabetização, orientados

pela proposta de Paulo Freire.

1 Texto extraído do Caderno “Fundamentos e metodologia a educação de jovens e adultos” do curso de

pedagogia, p. 32. 2012.

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Entretanto, toda essa atividade foi suspensa por ocasião do golpe militar,

quando muitos dos promotores da educação popular e da alfabetização passaram a

sofrer repressão. Persistiram algumas iniciativas desenvolvidas frequentemente em

igrejas, associações de moradores, organizações de bases locais e outros espaços

comunitários, influenciados pelas concepções da educação popular com

intencionalidade politica. Para enfrentar o analfabetismo que persistia como um

desafio, o governo militar promoveu entre 1965 e 1971, a expansão da cruzada de

Ação Básica Cristã (ABC), entidade educacional dirigida por evangélicos, surgidos

no Recife, para ensinar os analfabetos.

[...] funcionando com uma estrutura paralela e autônoma em relação ao Ministério da Educação, reedita uma campanha em âmbito nacional conclamando a população a fazer a sua parte: “você também é responsável, então me ensine a escrever, eu tenho a minha mão domável, eu sinto a sede do saber”. O Mobral surge com força de muitos recursos. Recruta alfabetizadores sem muitas exigências: repete-se, assim, a despreocupação com o fazer e o saber docentes – qualquer um que saiba ler e escrever pode também ensinar. Qualquer um, de qualquer forma e ganhando qualquer coisa (LAILSON apud GALVAO SOARES, 2004, p. 45-46)

O Plano Nacional de Alfabetização foi interrompido em 1964 com a ditadura

militar e substituído pelo Movimento Brasileiro de Alfabetização – MOBRAL, fundado

em 1967, o qual funcionou de 1969 a 1985.

Até a década de 80, o Mobral não parou de crescer, difundindo-se por todo

território nacional e diferenciando sua atuação. Uma de suas iniciativas foi o

Programa de Educação Integrada (PEI), que condensava o primário em poucos

anos e abria a perspectiva de continuidade dos estudos aos recém-alfabetizados do

Mobral com a instituição do ensino supletivo pelo MEC, em 1971.

O ensino supletivo começou a contar socialmente com a mobilização

pedagogicamente inovadora da comunicação, tendo a não formalização, quando o

governo federal criou, então, o III Plano Setorial de Educação, Cultura e Desporto

(1980-1985), tomando com vista a reduzir as desigualdades e tornando a educação

um direito fundamental para a conquista da liberdade, da criatividade e da cidadania.

Surgiram então, os programas de caráter compensatório, que se

caracterizavam por recuperar o atraso dos que não haviam usufruído da

escolarização na idade própria.

O período posterior ao governo militar marcado pela redemocratização da

sociedade brasileira com a promulgação da Constituição Federal de 1988 que

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consolida em seu capítulo III, Seção I, artigo 208, o direito ao ensino de jovens e

adultos, assegurando a oferta do ensino fundamental gratuito “para todos que a ele

não tiveram acesso na idade certa”. (BRASIL, 1988)

Os anos 90 marcaram positivamente, as questões que envolvem os

objetivos da Educação de Jovens e Adultos.

[...] é o estabelecimento de uma política e de metodologias criativas, com a finalidade de se garantir aos adultos analfabetos a aos jovens que tiveram passagens fracassadas pelas escolas e acesso à cultura letrada, possibilitando uma participação mais ativa no universo profissional, político e cultural. O desafio torna-se maior quando se pensa que o acesso à cultura letrada não significa em qualquer hipótese ignorar a cultura e os saberes que os jovens e adultos trazem como bagagem. (CUNHA, 1999, p.15).

Após esse longo caminho de avanços e retrocessos nas políticas nacionais

da Educação de Jovens e Adultos, as normas que norteiam a essa educação

passou a ser discutidas com mais intensidade a partir da promulgação da Lei de

Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB - 9394/96). A LDBEN n° 9394/96

prevê que a Educação de Jovens e Adultos se destina aqueles que não tiveram

acesso, ou não deram continuidade aos estudos no Ensino Fundamental e Médio.

A Resolução CNE/CEB n° 1/2000, por sua vez, institui as Diretrizes

Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos. As Diretrizes

destacam que a EJA, como modalidade da educação básica deve considerar o perfil

dos alunos e sua faixa etária ao propor um modelo pedagógico, de modo a

assegurar: um patamar igualitário de formação e restabelecer a igualdade de direitos

e de oportunidades em face do direito a educação; identificação e reconhecimento

da autoridade própria e inseparável dos jovens e dos adultos em seu processo

formativo, da valorização do mérito de cada um e do desenvolvimento de seus

conhecimentos e valores.

As Diretrizes Curriculares Nacionais para a EJA (BRASIL, 2000)

demonstraram também, preocupação com a formação de professores para atuar na

Educação de Jovens e Adultos. Mesmo assim, os professores da EJA continuam a

enfrentar inúmeros desafios para desenvolver suas práticas pedagógicas eficientes,

o que exige um repensar sobre a formação técnica e política de professores para

atuar na Educação de Jovens e Adultos.

Ainda, segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais para o EJA, essa

modalidade deve desempenhar três funções: função separadora, equalizadora e

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qualificadora. Um marco importante para a educação de jovens e adultos foi a 5°

Conferência Internacional sobre Educação de Jovens e Adultos (CONFINTEA),

realizada em Julho de 1997.

Assim, é preciso que os sistemas de ensino garantam aos professores,

espaços para a reflexão de sua prática num processo de formação continuada, para

que possa tematizar sua prática, construir, aperfeiçoando-se constantemente.

3. DISCUTINDO A EVASÃO ESCOLAR NA EJA

A evasão escolar ocupa espaço de relevância no cenário das políticas

públicas e da educação em particular. O que se vê é que cada vez mais a evasão

escolar vem adquirindo espaço nas discussões e reflexões, não é um problema

restrito apenas a algumas unidades escolares, mas é uma questão nacional.

Podemos analisar o fracasso escolar a partir dos fatores externos e internos. Os

fatores externos são apontados os problemas sociais, e os fatores internos a própria

escola, a linguagem do professor.

Os alunos saem em busca de instrumentos para viver no mundo da

informação e elaborar pensamentos e ações de forma crítica. Disso depende a

autoestima, a identidade e até a possibilidade de conseguir um emprego. Quem

trabalha com jovens e adultos sabe das dificuldades de manter o interesse dos

alunos que chegam cansados do trabalho. O professor tem que preparar aulas que

tenham relação com a vida deles e seja interessante para o seu dia a dia.

Segundo a linha do educador Paulo Freire (1987), devemos trabalhar com

temas geradores, fazendo a ligação dos conteúdos escolares com a vida dos

estudantes.

Na visão de Arroyo (2000, p. 17 apud Neta 2012, p. 30), diz que:

Falar em cultura escolar é mais do que reconhecer que os alunos e os profissionais da escola carregam para esta suas crenças, seus valores, suas expectativas e seus comportamentos, é reconhecer que há uma cultura materializada na escola que termina por se impor a cultura individual e que interage conflitivamente e leva à constituição de significados e crenças sobre o fracasso e o sucesso, tanto dos professores quanto nos alunos. Não apenas alunos, professores, técnicos e gestores, justificam e legitimam suas crenças e condutas nessa cultura escolar, também a pedagogia, a didática e as ciências auxiliares legitimam suas concepções elitistas, seletivas e excludentes dessa pesada cultura. O fracasso escolar também tem sido uma temática importante para o campo de estudos culturais, a relação fracasso escolar e diversidade cultural tem sido pesquisado atualmente pelo campo curricular.

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Apesar da disseminação de um discurso de superação do fracasso escolar,

é possível perceber que hoje, em tempos considerados pós-modernos, grande parte

desse fracasso continua presente na escola. Portanto, é importante incluir a temática

do fracasso escolar dentro dos estudos culturais, pois, além de enriquecer o campo

curricular, proporciona uma problematização com o foco em sua superação.

Os sujeitos que chegam à Educação de Jovens e Adultos são marcados por

trajetórias distintas que desafiam o fazer da escola. Atendê-los requer profissionais

preparados, além de uma estrutura pedagógica diferenciada que faça a ligação entre

escola e a vida social. Exige, ainda, um olhar diferenciado sobre os educandos e

suas histórias, vislumbrando em cada um deles, cidadãos de direitos.

Conforme Arroyo (2000), afirma que:

A EJA tem uma história muito tensa, pois é atravessada por interesses diversos e nem sempre consensuais. Os olhares conflituosos sobre a condição social, política e cultural dos sujeitos aos quais se destina esta oferta educativa têm condicionado as diferentes concepções de educação que lhes é oferecida. O espaço reservado a sua educação no conjunto das políticas oficiais se confunde com o lugar social destinado aos setores populares em nossa sociedade, sobretudo quando “os jovens e adultos são trabalhadores, pobres, negros, subempregados, oprimidos, excluídos” (2000, p. 10).

Quem se matricula em uma sala de aula da EJA tem a autoestima

devastada. O discente sente vergonha de nunca ter estudado ou de ter parado de

estudar a muitos anos, sem contar o cansaço e as preocupações que só os adultos

têm; de como educar os filhos e a rotina do seu dia a dia.

As consequências da evasão escolar têm sido drásticas em relação aos

seus resultados, pois, apesar de surgir atualmente novas políticas de incentivo em

vários campos da educação de jovens e adultos como, a qualificação profissional na

área da EJA nos vários níveis de ensino, assistência e acompanhamento às

instituições escolares, auxílio às famílias carentes, materiais didáticos gratuitos,

mesmo assim, não se têm obtido resultados positivos. Diante desta visão, percebe-

se que a cada dia nas escolas os alunos apresentam uma conduta inadequada, isso

pode ser atribuído a desestruturação familiar, uso das drogas, a prostituição e os

conteúdos mal elaborados porque, para a maioria, tudo isso não possui nenhuma

significação.

Segundo a visão de Arroyo (1997, p. 23):

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Na maioria das causas da evasão escolar, a escola tem a responsabilidade de atribuir a desestruturação familiar, e o professor ao aluno não tem responsabilidade para aprender, tornando-se um jogo de empurra. Sabemos que a escola atual é preciso está preparada para receber e formar estes jovens e adultos que são frutos dessa sociedade injusta, e por isso é preciso, professores dinâmicos, responsáveis, criativos, que sejam capazes de inovar e transformar sua sala de aula em lugar atrativo e estimulador (ARROYO 1997, p 23)

É necessário que tanto o professor como o aluno não tentem culpar um ao

outro pelo fracasso escolar e, consequentemente, a evasão. No entanto, é

importante que o professor tenha a sensibilidade de compreender o contexto em que

o aluno vive, suas necessidades educacionais, e buscar estratégias para que o

aluno se perceba como ser ativo e importante no processo de aprendizagem

escolar.

Nas palavras de Amaral (2010), observa-se que “a evasão apresenta

grandes consequências, muitas vezes tornando-se irreparáveis porque a maioria

não consegue reverter o quadro, permanecendo a vida toda analfabetos”.

Algumas ações podem ser tomadas para evitar que fatores externos afastem

os alunos da escola, é importante mostrar que a atitude de voltar a estudar não deve

ser motivo de vergonha, mas de orgulho. É necessário que o corpo escolar ajude o

aluno a identificar o valor e a utilidade do estudo em sua vida por meio de atividades

ligadas ao seu cotidiano, o professor precisa elaborar aulas dinâmicas e

estimuladoras, e sendo receptivo para conversar; essas são medidas importantes

para que o discente se sinta à vontade na escola.

Os alunos (que muitas vezes já são pais) vão à escola preocupados com

problemas pessoais e profissionais, então é indispensável que no momento que

estão na sala de aula se sintam bem, que haja troca de experiências entre todos, e

que seja evidente que o saber do professor não é mais importante do que o do

aluno, pois o processo da aprendizagem é possível através de uma construção de

saberes mútuos. Por meio dessas relações interpessoais é possível haver a

construção de sentimento de pertencimento ao grupo.

Um outro fator seria a diferença de idade, sendo que a EJA, tem sido alvo da

escola regular, todo aluno que não desenvolve suas capacidades de aprendizagem

é encaminhado de forma indireta para a EJA, este aluno sofre pressão psicológica

ao deparar com a realidade de não conseguir acompanhar na sala de aula as

atividades propostas.

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O educador procura fazer um trabalho diferenciado de modo que desperte o

desempenho de suas habilidades, contudo na maioria dos casos não se obtém

sucesso devido este aluno conhecer todo o processo de uma sala de aula que não

conseguiu despertar nele o interesse pelo estudo. Portanto, quando o mesmo chega

na EJA, encontra-se cansado, massacrado, desmotivado convencido de que não

consegue mais aprender.

Um outro problema que tem ocorrido na Educação de Jovens e Adultos é em

relação ao cônjuge, que tem causado grandes transtornos por causa do ciúme. Esse

sentimento ocorre de forma mais acentuada no sexo masculino, insinuando que a

companheira retorna à escola, não com intuito de estudar, e sim para fins amorosos.

Muitos são os artifícios que eles utilizam para dificultar a permanência da mesma na

escola. Há casos em que o companheiro se faz presente em tempo integral na

escola para acompanhar sua companheira, quando não há possibilidade de isso

acontecer, ele impõe condições que a leva a desistência.

Também, há vários outros problemas na educação como, por exemplo, outro

fator agravante é o horário da aula que se torna incompatível com o trabalho do

aluno, por isso é necessária a compreensão não só do educador, mas de todo o

corpo administrativo escolar. Quando a escola é muito exigente quanto ao

cumprimento do horário, a tendência deste aluno é a desistência, porque quando

não consegue cumprir às normas da escola, o educador por mais que compreenda a

situação do educando, chega há um determinado momento que nem um, nem o

outro tem mais argumento para assegurar a permanência do mesmo na escola.

3.1. A PRÁTICA ESCOLAR NA EJA

Há décadas buscam-se métodos e práticas educativas adequadas à

realidade cultural e do nível de subjetividade dos jovens e adultos. Ao longo dos

tempos percebemos que um grande número de jovens e adultos que por meio de

programas, procuram uma sala de aula no intuito de melhorar de vida, já que vive

em situações precárias, e a maioria sofre por não serem escolarizados.

A educação destinada a jovens e adultos precisa, antes de qualquer coisa,

está voltada para a transformação do mundo em que vive o sujeito, ou seja, que as

condições antes vividas por ele, sejam hoje, diferentes daquela quanto aluno-

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trabalhador, mas para isso é necessário que faça uma reflexão, levando em

consideração a formação do professor a esta educação.

Podendo-nos deparar numa turma de jovens e adultos com vários sotaques,

expressões, modismo da dramaturgia televisiva e, ainda, discursos que nos

apresentam situações de privações, humilhações e sonhos interrompidos, ou seja,

retratos de uma vida, e de uma história de vida. É importante explorar essa

diversidade e possibilitar aos jovens e adultos a ampliação das formas de

expressões, e de conhecer novas palavras e seus significados.

No seu trabalho o professor deve propiciar oportunidades para que a

linguagem oral seja explanada, favorecendo o desenvolvimento da oralidade. Assim,

o professor deve:

Abrir o espaço de conversa, onde os alunos narrem fatos que aconteceram no dia a dia, formular perguntas cujas respostas exijam do aluno manifestação de opiniões ou compreensão do conteúdo abordado, convidar constantemente os alunos a expressarem suas dúvidas oralmente, convidar os alunos a fazerem intervenções na fala dos outros, complementando ou contrapondo posições, organizar debates sobre temas escolhidos, organizar recitais de poesias, repentes e canções (BRASIL, 2001, p. 65)

É necessário que a escola atual esteja preparada para receber e formar

estes jovens e adultos que foram excluídos da escola, portanto, é preciso que os

professores sejam dinâmicos, responsáveis, criativos e capazes de inovar e

transformar sua sala de aula em um local atrativo e estimulador.

De acordo com o ponto de vista de Menegolla (1989) a seleção de

conteúdos é de alto valor pedagógico, que deve está direcionado aos interesses

sociais, culturais e históricos do aluno, para que as aulas sejam significativas e

atraentes, que sirva para o despertar ideológico, conduzindo para o meio social

como cidadão crítico, questionador e formador de opiniões.

No entanto, as evasões escolares diante das análises, os fatores sociais,

culturais, históricos e econômicos estão incluídos nas causas e consequências da

vida do aluno, como também a escola possui sua parcela de culpa. (ARROYO,

1997)

Arroyo (1997) ressalta que trabalhar com jovens e adultos, é uma prática

desafiadora para o profissional da educação, visto que esses serem como sujeitos

históricos concretos, ativos na sociedade onde estão inseridos e que voltam a escola

muitas vezes depois de muitos anos sem estudar. Não é pertinente, portanto, que

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sejam tratados da mesma forma que os alunos do ensino regular. A própria

organização do trabalho escolar tem de ser diferenciada. O que nos leva a

questionar se o professor atuante em EJA está preparado para isso.

Explicitando que a escola surge como instituição responsável pela educação

formal dos cidadãos, quando a sociedade assimila a preocupação com o

desenvolvimento pleno do ser humano. Permeada de diferentes práticas,

concepções e tradições educativas, a escola influencia diretamente na construção

da sociedade que temos. Dessa forma, o currículo escolar, insere-se como fator

relevante tanto para a construção da sociedade, como para o desenvolvimento do

ser humano a ele confiado e o sucesso de aprendizagem. (ANTUNES e KURZAWA,

2010).

Os espaços de formação dentro da escola na qual defendemos constituem-

se nas trocas de experiências e de saberes, nos quais, segundo Nóvoa (1992), cada

professor desempenha, simultaneamente, o papel de formador e de formando.

Então, acredita-se que o desenvolvimento de uma postura reflexiva por parte dos

professores passa também pela necessidade de produção de saberes e de valores

comprometidos com os princípios da ética através do fortalecimento da autonomia

nas várias dimensões que fazem parte da existência humana.

A instauração do diálogo na escola entre todos os envolvidos é de

fundamental importância para consolidar saberes construído através da prática

profissional reflexiva, através da qual também são construídas novas significações.

Concordando com Nóvoa (1992, p. 36) quando ele afirma que:

A escola e os professores não se podem limitar a reproduzir um discurso tecnocrático, socialmente asséptico, culturalmente descomprometido. Todo o silêncio é cumplice, e não podemos calar a voz das injustiças que se reproduzem também através da escola. Na verdade, o que distingue a profissão docente de muitas outras profissões é que ela não se pode definir apenas por critérios técnicos ou por competências cientificas. Ser professor implica a adesão a principio e a valores, e a crença na possibilidade de todas as crianças terem sucesso na escola.

Não é possível esquecer que a organização do cotidiano escolar acaba, na

maioria das vezes, impossibilitando a troca de saberes, construído pelas práticas

educativas desenvolvidas. Dessa forma, destacamos Schôn (1992) quando este

afirma que a prática docente deve envolver o conhecimento na ação, reflexão na

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ação e reflexão sobre a ação, o que conduz o professor, através do repensar sobre

a compreensão de que está produzindo sua vida e sua profissão.

3.2. OS PRESSUPOSTOS TEÓRICOS SOBRE A EVASÃO ESCOLAR

Na Educação de Jovens e Adultos é fundamental que o professor se

preocupe em desenvolver uma metodologia que considere os conhecimentos

prévios do aluno para encaminhar um processo de discursão no qual esses

conhecimentos sejam formalizados na linguagem convencional.

É necessário romper com estratégias didáticas que privilegiam aulas

expositivas, exercícios mecânicos e repetitivos, que distanciam os alunos dos

problemas que enfrentam no cotidiano.

De acordo com Ramos (2010), o problema da evasão escolar tem sido um

dos maiores desafios enfrentados pelas redes do ensino público, pois as

consequências estão ligadas a muitos fatores: social, cultural, politico e econômico.

Como também a escola onde professores têm contribuído a cada dia para o

problema se agravar, diante de uma prática didática desmotivadora.

Segundo Wallon (1992), “o homem é um ser essencialmente social,

impossível, portanto, de ter pensado fora do contexto da sociedade em que nasce e

vive”. Em outras palavras, o homem não social, o homem considerado molécula

isolado do resto de seus semelhantes, o homem visto como independente das

influências dos diversos grupos que frequenta, o homem visto como imune aos

ligados da historia e da tradição, este homem simplesmente não existe (WALLON,

1992 p.11) significa que o homem é um ser pensante social que não deve privar ou

excluir seus pensamentos, a escola deve estar preparada, sintonizada com os

desafios e conhecimentos extraescolar. A escola é local de inteira inclusão e de

novos saberes, por isso deve transformar o educando num ser social pensante

existente.

De acordo com Patto (1987), a reprovação e a evasão escolar são fracassos

produzidos no dia a dia da vida na escola, e na produção desse fracasso, estão

envolvidos aspectos estruturais e funcionais do sistema educacional, concepções de

ensino de trabalho, e preconceitos estereótipos sobre a clientela pobre. (PATTO

1987. p. 59)

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Segundo Selma de Souza Carneiro, Especialista em Ensino de História pelo

ICE, diz que a escola precisa estar atenta para as competências individuais de seus

alunos, e estes devem ser valorizados e incentivados, buscando a solução de suas

dificuldades. A escola deve estar preparada para receber e formar estes jovens e

adultos que são frutos de uma sociedade injusta e para isso é preciso professores

preparados, dinâmicos, responsáveis, criativos, que sejam capazes de inovar e

transformar sua sala de aula em um lugar atrativo e estimulado.

Segundo Menegolla (1989), “O professor necessita selecionar os conteúdos

que não sejam portadores de ideologias destruidoras de individualidades a que

venham atender os interesses opostas aos indivíduos”.

De acordo com o ponto de vista de Menegolla (1989), a seleção de

conteúdos é de alto valor pedagógico, que deve estar direcionadas aos interesses

sociais, culturais e históricos do aluno, para que as aulas sejam significativas e

atraentes, que sirva para o despertar ideológico, conduzindo para o meio social

como cidadão crítico, questionados e formadores de opiniões, no entanto, a escola

também possui sua parcela de culpa juntamente com o apoio pedagógico e

professores que não procuram ser mais criativos nas suas aulas, pois sabemos que

vivemos em um mundo globalizado e a sociedade extraescolar está a frente do

desenvolvimento através das ofertas sociais.

Enquanto a escola se mantém atrasada sem querer inovar para competir

com o mundo social fora da escola torna-se difícil reverter este quadro da evasão

escolar, a não ser que o corpo escolar procure novas metodologias através da

criatividade humana, didática e pedagógica.

O fracasso escolar, de acordo com Paro (2001), não é proveniente de uma

causa isolada, mas é produto de um conjunto de determinantes provindos de

diversas naturezas. A escola deve proporcionar ao aluno compreender o mundo que

o rodeia, pois se apresenta como instrumento norteador que o situa como indivíduo

cidadão, ser histórico, ao descobrir através da educação o prazer de aprender,

conhecer, descobrir o que está ao redor. As competências teóricas e metodológicas

têm como propósito atender as reais necessidades do educando através de um

ensino aprendizagem contextualizado. Ensino esse que leve em consideração as

vivências e o espaço em que o aluno está inserido.

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De acordo com Pereira e Silva (2014, p. 84), outro fator que distancia o

aluno da escola é quando ele não consegue aprender, quando todas as informações

que lhe são repassadas soam vagas e sem vida, ou seja, quando mesmo tentando

ao máximo, ele não consegue entender por que e para que está gastando seu

tempo. Então, ele passa a não gostar de estudar, afastar-se dos livros e da escola

aos poucos até que aconteça a evasão.

Segundo Casali (2005, p. 308), “a escola se mostra insensível aos corpos

vivos dos estudantes que estão ali adiante dela e dentro dela, todos os dias com

suas emoções, vibrações, sofrimentos, ansiedades, euforias, agressividades,

depressões e sexualidade”.

(...) somente um ensino de boa qualidade no qual um professor interessado e bem formado maneje o conteúdo do ensino levando em contas as especificidades do alunado, tanto no que se refere às características de sua faixa etária quanto as suas experiências culturais pode garantir a eficiência. (PATTO, 1987, p. 121)

Baseado em Vygotsky (2006), o papel do professor consiste em fazer com

que os alunos diante de uma situação, desenvolvam não uma única maneira de

pensar, abordar, refletir, mas muitas maneiras particulares de pensar em campos,

situações diferentes, pois o conhecimento de acordo com Vygotsky, não é

necessariamente o conjunto que determina o número de capacidades gerais, como

observação, atenção, memória, etc. Mas, sim a soma de muitas capacidades

diferentes. (Vygotsky, 2006)

Portanto, a ideologia da escola deve ser concebida, na ideia de construção

de um saber que satisfaça as necessidades do viver cotidiano do aluno, ou seja, o

que ele aprende e sabe, faz sentido em seu contexto social, mas para isso é preciso

uma escola que busque através do seu programa curricular, desenvolva a

aprendizagem a partir da raiz do saber, ou seja, utilizar do questionamento crítico

para construir o conhecimento a partir dos fatores que induzam o aluno a realização

de um determinado objetivo, fenômeno ou acontecimento histórico.

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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com esse estudo foi possível constatar que os alunos esperam da Educação

de Jovens e Adultos muito mais que aprender, ler e escrever, eles pretendem

continuar os estudos e utilizá-lo para a sua formação crítica e social, eles enxergam

a escola como uma chance, uma oportunidade para um futuro melhor.

Entendendo que a Educação de Jovens e Adultos foi criada justamente para

contribuir com esses sujeitos para torná-los capazes de lutar por seus direitos que,

muitas vezes, por serem analfabetos não sabem da existência e dever do Estado

garantir-lhes uma educação de qualidade.

O professor tem que aproveitar todo e qualquer método que os conduzam a

transmitir conhecimentos aos jovens e adultos, aproveitando principalmente, o

espaço da sala de aula para trabalhar a harmonia, o equilíbrio, a afetividade, a

esperança, a liberdade, o respeito mútuo, valores culturais e o individualismo de

cada um.

Espera-se, portanto, que os educadores que atuam na Educação de Jovens

e Adultos possam refletir e avaliar suas práticas pedagógicas. Sua responsabilidade

é de preparar os alunos para se tornarem cidadãos ativos e participativos na

sociedade na qual se encontram inseridos.

Porém, é fundamental contribuir para que esses alunos participem

ativamente do processo de ensino-aprendizagem, através do diálogo, do respeito

aos conhecimentos adquiridos nas suas vivências e experiências fora da escola.

Enfim, espera-se que o docente que irá atuar na EJA tenha a formação

necessária para ser flexível as mudanças e saiba introduzir uma didática que

promova a aprendizagem de seus alunos.

A presente pesquisa foi de suma importância para futuras reflexões,

discussões e perspectivas no combate a evasão escolar na Educação de Jovens e

Adultos.

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ABSTRACT

During the school year is possible to see the abandon by the students of the Youth

and Adult Education before it is over. A number of factors characterizes this school

leavers, such as emotional, social, political, cultural, economic, and even school itself

discourages students in no longer attending classes. In contrast, the government

invests to maintain these students attending to schools, but there is still lack

strategies to reverse this issue meaningfully. Based on this discussed topic this

article aims at a brief reflection on the possible causes of the truancy on Youth and

Adult Education (EJA). Was taken as theoretical basis: Paiva (1983), Cunha (1999),

Romanelli (1999), Freire (1996) and Arroyo (2000), among others who discuss

important points about the Youth and Adult Education. This research was constituted

of a bibliographic study focusing on a qualitative approach. Thus, the adult

education’s teacher has the task of being sensitive enough to face the problem of

evasion, developing new strategies and teaching practices to reverse this situation,

present in many Brazilian schools. Especially in the Youth and Adult Education.

Keywords: Youth and Adult Education. Truancy. Student.

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