13
ARQUITECTURA ARQ.TO PEDRO FERNANDES UNIVERSIDADE LUSOFONA DO PORTO 2010 Luís Afonso Jorge Espanhol Agostinho Castro Manuel Alves PROJECTO URBANO RELATÓRIO DE PESQUISA HISTÓRICA “PRAÇA DE LISBOA (ANJO)”

Praça do Anjo final

  • Upload
    luis

  • View
    261

  • Download
    4

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Praça do Anjo final

A R Q U I T E C T U R A

A R Q . T O P E D R O F E R N A N D E S

U N I V E R S I D A D E

L U S O F O N A D O P O R T O

2 0 1 0

Luís Afonso – Jorge Espanhol –

Agostinho Castro – Manuel Alves

PROJECTO URBANO RELATÓRIO DE PESQUISA HISTÓRICA “PRAÇA DE LISBOA (ANJO)”

Page 2: Praça do Anjo final

ARQ.TO PEDRO FERNANDES PESQUISA HISTORICA DA PRAÇA DE LISBOA

Página 2

“(...) O Mercado do Anjo , nome que recebeu de

herança do demolido convento que n'este

logarem tempos houve. Nada se recommenda

aqui pela sua grandeza architectonica nem pelas

suas dimensões; é apenas um exíguo terreno,

deforma triangular, limitado por pequenas casas,

que servem para estabelecimentos commerciaes

de varia natureza, especialmente mercearias,

salchicharias talhos, etc; mas que tem de notável,

para o touriste, como os outros mercados, o facto

de alipoder observar costumes curiosos, ainda não

analysados, especialmente do povo dos arredores

da cidade que, desde manha cedo, quasi todos os

dias, frequenta este local para ejfectuarsuas

transacções ou exporá venda os excellentes

productos d'uma cultura abundante.

No interior do recinto ha um abarracamento

acanhado, mas asseiado, onde as vendedeiras

locaes, com mais ou menos gosto, que se vae

aprimorando, fazem as suas exposições defructos

deliciosos, que sabem vender, por preços rasoaveis,

ás pessoas que desconhecem este meio.”

Guia do Porto Ilustrado

Page 3: Praça do Anjo final

ARQ.TO PEDRO FERNANDES PESQUISA HISTORICA DA PRAÇA DE LISBOA

Página 3

Artur Loureiro (1853-1932) - Mercado

1903

Page 4: Praça do Anjo final

ARQ.TO PEDRO FERNANDES PESQUISA HISTORICA DA PRAÇA DE LISBOA

Página 4

Disciplina

PROJECTO URBANO

Trabalho

Pesquisa Histórica sobre

a Praça do Anjo (de

Lisboa)

Docente

Arq.to Pedro Fernandes

Objectivo

Fazer uma pequena

resenha do

crescimento urbano da

cidade no sentido do

espaço urbano em

estudo e uma

cronologia deste até

aos dias de hoje

Comentários

Situar o local no

contexto de

desenvolvimento

histórico da cidade e

na dinâmica de toda a

no contexto

económico-social do

local

Elementos em anexo

Fotos Históricas, Mapas

Históricos, artigos de

Jornais, Fotos actuais

Referência

Bibliográficas

Introdução

A relação do homem com o espaço e com as necessidades básicas

de bem-estar, a sedentarização humana, reflectiu a consumação da

relação ideal entre as necessidades básicas humanas (abrigo e

alimento) e as condições de um determinado lugar para a sua

concretização ideal de forma permanente (no tempo). Todas as

outras posteriores relações do homem com esse lugar (espaço)

advêm desse mesmo processo (de sedentarização), e dos esforços

deste para o organizar e tornar mais funcional.

Todas as cidades têm na sua génese e matriz os reflexos das relações

dos seus habitantes com o local e entre estes. A materialização desta

relação do homem com local, advém da forma como se fixa,

relativamente à sua relação no tempo e no espaço com os

elementos conformantes Físicos (geografia, clima), sociais

(hierarquização social, religiosa, politica e militar) e Económica

(formas de produtivas).

Tudo se materializa e reflecte na sua Arquitectura (a forma material

mais expressiva do génio humano), bem como na localização dos

seus edifícios, nas relações destes entre si baseados na sua função

política, económica (produtiva) e social.

Page 5: Praça do Anjo final

ARQ.TO PEDRO FERNANDES PESQUISA HISTORICA DA PRAÇA DE LISBOA

Página 5

Porto, de Burgo a Cidade – a Cidade Medieval

A cidade do Porto é pois o reflexo de todas essas condicionantes, reflectindo na sua constituição e forma

todo o carácter muito próprio das suas características geomorfológicas e humanas.

Em temos geográficos a cidade é marcada por 2 níveis de cotas, uma mais baixa ao nível do rio e uma

mais alta ao nível do morro da Sé Catedral. Isto marca não só as razões da sua origem (fixação e

crescimento), mas também uma estratificação social baseada na hierarquia do burgo em que a classe

dominante, a Religiosa (o clero que detinha o poder) habitava o ponto de cota mais alta (morro da Sé) e

de melhor defesa enquanto o grosso da população se acantonou, até à proximidade do rio, ponto de

cota mais baixa, onde se estabeleceu o essencial do casario (a Ribeira), e na qual se desenvolveu uma

burguesia comercial.

Esta bipolarização do crescimento, assente na estratificação social associada á geomorfologia local, a

condicionalismos de defesa militar e a aspectos económico produtivos, reflectiram-se na caracterização

urbana e arquitectónica da cidade.

O morro da Sé e a sua muralha inicial estruturaram o crescimento da malha urbana, até ao século XIV,

caracterizada por uma cidade alta e cidade mais baixa, ligadas por um eixo viário formado pela rua da

Banharia e rua dos Mercadores, substituído mais tarde pela rua das Flores (em1521), já na extensão da

cidade no sentido ocidental, definida pela nova muralha construída (pelo Rei Afonso IV) para lá da

margem direita do Rio de Vila.

A expansão da cidade para lá da primeira muralha do burgo redefiniu a bipolarização do crescimento

para uma terceira zona nos limites noroeste da nova muralha, o Campo do Olival (que socialmente ficou

conhecido como a judiaria do Porto). Para a urbanização desta vasta zona de características rurais muito

contribuíram as ordens religiosas que necessitando de grandes áreas de terreno para a fixação das suas

instalações se deslocaram para esta zona criando pontos de disseminação e crescimento da malha

urbana. Exemplos dessa ocupação dos novos espaços para lá da antiga muralha encontram-se a

transferência, para a nova rua das Flores da Misericórdia (desde 1503 na cidade), criação do novo

Convento de S. Bento de Ave-Maria para a o extremo Nordeste desta mesma rua, junto à porta de Carros.

Também ainda no século XVI a rua de Belmonte que juntamente com a rua das Flores permitiu fazer a

ligação entre a parte mais alta da cidade a Nordeste com a parte mais baixa a sudoeste, e as ruas de S.

Bento da Vitória e de S. Miguel em plena Judiaria.

Durante o período Filipino (ocupação espanhola), foram dados alguns passos no reforço do poder civil e

do sistema judicial e Penal, com a construção em 1603 de uma Casa de Relação e Cadeia edifício que

ruiu no século XVIII, dando lugar à imponente obra de João de Almada. A escolha do Campo do Olival

para a sua execução revelava já a visão da importância da urbanização desta zona, reforçada ainda

com a criação e melhoramento dos espaços públicos envolventes, com a plantação de árvores e bancos

para descanso, criando as primeiras alamedas do Olival. É também neste período que se constrói a Igreja

e Convento do Carmo [1619].

É durante o período da Restauração e já fora das muralhas mas sempre nas proximidades do Campo

Olival que se constrói, o Colégio dos Órfãos de Nª Sr.ª da Graça (1651), a Igreja de S. José das Taipas [1666]

e o Recolhimento do Anjo (1672) que adoptou o nome da Capelinha que lhe estava anexa e que

Page 6: Praça do Anjo final

ARQ.TO PEDRO FERNANDES PESQUISA HISTORICA DA PRAÇA DE LISBOA

Página 6

transportava uma lenda que atribuía a sua existência a D. Afonso Henriques, justificada pela atribuição de

uma graça relativamente á queda num precipício de sua esposa, a rainha D. Mafalda, quando por ali

passavam a caminho de Guimarães, tendo. Afonso Henriques invocado o auxílio de S. Miguel-o-Anjo ao

passo que a sua esposa invocou a protecção de Nossa Senhora da Graça, tendo cada um deles

mandado erigir no local uma capela a cada um dos santos. É no local ocupado pelo demolido

Recolhimento do Anjo que nasce em 1837-1839 o Mercado do Anjo.

A igreja de Nossa Senhora da Graça, do século XVII, e o recolhimento dos Orfãos , viriam a ser igualmente

demolidos para a construção da Academia Real da Marinha e Comércio, fundada em 1803, pelo

Príncipe Regente, D. João, para dar resposta às necessidades da burguesia mercantil em ascensão na

cidade, num projecto de Cruz Amarante num estilo ainda ao neoclássico e que posteriormente, é

transformada em 1837 em Academia Politécnica.

Porto, de Burgo a Cidade – da Cidade Iluminista ao Mercado dos Anjos

É somente no século XVIII que a cidade sobre o impulso dos Almadas, organizada numa junta de obras

públicas (1762) e apoiada numa burguesia rica e poderosa, se liberta do jugo das muralhas que devido á

redução dos conflitos armados e ao desenvolvimento da artilharia militar, perdem a sua importância

defensiva, ganhando importância como fornecedora de material para a expansão da cidade para

noroeste, que partindo da porta do Olival (todo o casario da rua da Assunção, bem como da rua Barbosa

de Castro apoiam-se nos restos da velha muralha) tem na Torre dos Clérigos (1763) o elemento Pivô, que

determinou, apoiando-se em várias igrejas em construção, os eixos definidores da expansão urbana da

cidade.

É nesta altura que se realizam bastantes obras no Porto entre as quais a Torre (já anteriormente referida) e

a Igreja dos Clérigos [em 1754, por parte da Irmandade dos Clérigos Pobres), em 1770 a Santa Casa da

Misericórdia do Porto dá início à construção do monumental Hospital de Santo António, e ainda, já nos

limites do Olival, o Convento de S. José e Santa Teresa de Carmelitas Descalças [1702] e a Igreja dos

Terceiros do Carmo [1776].

Podemos referir também, a construção do Teatro S. João e a Casa Pia a Nascente da velha Muralha.

Mas é somente no século XIX, após as vitoria liberais em 1834, é que alguns aspectos estruturais e de

consolidação urbano são tidos em conta, como por exemplo a necessidade da concentração dos

diverso mercados dispersos aleatoriamente pela cidade em pontos estratégicos para o bom

abastecimento de produtos alimentares, essencialmente hortícolas, sendo a implementação do Mercado

do Anjo (1837-1839) uma resposta a essa estratégia para a zona central da cidade. No Inicio do período

Republicano é implementado parcialmente um plano de Marques da Silva, para a sua modernização.

Com o aparecimento posterior de outros mercados mais periféricos como o do Bom Sucesso, o mercado

do anjo foi perdendo a sua importância, até á sua obsolência, que foi quebrada, com um projecto de

intervenção Promovido em 1992 pelo CRUARB e da autoria dos Arq.tos António Moura, Luís Oliveira e

Susana Barbosa.

Page 7: Praça do Anjo final

ARQ.TO PEDRO FERNANDES PESQUISA HISTORICA DA PRAÇA DE LISBOA

Página 7

Joaquim da Costa Lima Júnior 1834

Joaquim da Costa Lima Júnior 1834

Plano Topográfico, para

alterações urbanas

1- Cerca e Convento dos

extintos Religiosos

Carmelitas, cortado pela

linha tocada de amarelo,

para estabelecimento do

Correio, de que houve

Planta aprovada por Sua

Majestade Imperial em 1832

2- Mercado publico em

projecto.

3- Cerca, e Convento dos

A. Praça de S.ta Teresa

B. Praça do Carmo ou Feira do

Pão

C. Largo do Correio

D. Largo do Anjo

E. Calçada dos Clérigos

F. Praça D. Pedro

G. Largo dos Lóios

H. Rua das Flores

I. Largo da Feira

Page 8: Praça do Anjo final

ARQ.TO PEDRO FERNANDES PESQUISA HISTORICA DA PRAÇA DE LISBOA

Página 8

Edifícios mais notáveis da

zona do Mercado do Anjo

2-Cadeia e Relação do Porto

3-Academia Politécnica

9-Hospital Real de S.to António

28- Casa dos Expostos

29 -Quartel da Guarda

Municipal

30- Novo Mercado do Anjo

Page 9: Praça do Anjo final

ARQ.TO PEDRO FERNANDES PESQUISA HISTORICA DA PRAÇA DE LISBOA

Página 9

Planta de 1833 / 1839 – as

alterações nos nomes dos

arruamentos

A praça do Carmo chama-se

agora Praça dos Voluntários

da Rainha.

Cria-se a Praça de Santa

Teresa no antigo Largo do

mesmo nome.

O largo do Moinho Velho

chama-se agora Largo do

Correio Velho.

A rua do Carregal é agora a

Rua do Paço.

O largo do Olival chama-se

agora Largo dos Mártires da

Pátria.

A rua do Correio Mor é agora

a Travessa das Carmelitas.

A Rua das Carmelitas é

rectificada e chama-se agora

a rua do Anjo.

Page 10: Praça do Anjo final

ARQ.TO PEDRO FERNANDES PESQUISA HISTORICA DA PRAÇA DE LISBOA

Página 10

Edifícios mais notáveis da

cidade do porto

1. Paço Municipal

2. Cadeia e Relação do Porto

3. Academia Politécnica

4. Biblioteca, e Ateneu

Portuense

5. Casa do Teatro

6. Casa Pia

7. Igreja e Torre dos Clérigos

8. Palácio dos Carrancas

9. Hospital Real de S.to António

10. Hospital dos Terceiros do

Carmo

11. Hospital de S. Francisco

12. Hospital de N. Senhora do

Terço

13. Hospital dos Lázaros

14. Recolhimento das Orfãos

15. Fábrica do Sabão

16. Fábrica do Tabaco

17. Casa da Assembleia

Portuense

18. Catedral

19. Paço Episcopal

20. Palácio do Visconde de

Balsemão

21. Palácio do Visconde de

Beire

22. Quartel Militar de S.to vídio

23. Quartel Militar da Torre da

Marca

24. Casa do Tribunal do

Comércio

25. Caixa filial do Banco de

Lisboa

26. Banco Comercial do Porto

27. Casa da Alfandega

28. Casa dos Expostos

29. Quartel da Guarda

Municipal

30. Novo Mercado do Anjo

Page 11: Praça do Anjo final

ARQ.TO PEDRO FERNANDES PESQUISA HISTORICA DA PRAÇA DE LISBOA

Página 11

Rua das Carmelitas vista do acesso á igreja dos clérigos Rua das Carmelitas após o derrube da cerca do convento

Rua das Carmelitas antes da construção do Bairro

Bairro das Carmelitas

Jardim da Cordoaria com entrada do Mercado à direita Vista da Rua dos Clérigos

Page 12: Praça do Anjo final

ARQ.TO PEDRO FERNANDES PESQUISA HISTORICA DA PRAÇA DE LISBOA

Página 12

Referências Bibliográficas

Fernandes, José A. Rio a (1997) Porto Cidade Comércio. 1ª ed., Lisboa, Lidel - Edições Técnicas, L.da

Costa, Agostinho Rebelo da Costa (1788) Descrição topográfica e histórica da cidade do Porto. Porto, Oficina de

António Alvarez Ribeiro.

Fernandes, José A. Rio (1997) Porto: cidade e comércio. Porto, Arquivo Histórico da Câmara Municipal do Porto.

Marques, Hélder; Fernandes, José A. Rio Fernandes; Martins, Luís Paulo (1990) Porto: percursos nos espaços e nas

memórias. Porto, Afrontamento.

Oliveira, J. M. Pereira de (1973) O espaço urbano do Porto: condições naturais e desenvolvimento. Coimbra,

Instituto de Alta Cultura.

Ramos, António Oliveira, org. (1994) História da cidade do Porto. Porto, Porto Editora.

Silva, Germano, () Passeios pelo Porto de outros tempos. Porto: Casa das Letras

Silva, Germano, ()Porto Sítios com história. Porto: Casa das Letras

Silva, Germano, Porto da História e da Lenda. Porto: Casa das Letras

Silva, Germano, ()Porto nos atalhos da História. Porto: Casa das Letras

Silva, Germano, () A descoberta do Porto. Porto: editorial noticias

Aumento Demográfico do Século XVIII. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003

2010. [Consult. 2010-10-04]. Disponível em http://www.infopedia.pt/$aumento-demografico-do-seculo-XVIII

Wikipédia, a enciclopédia livre. [Em Linha]. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Muralhas_Fernandinas

[Consultado]em 9/10/2010

Monumentos desaparecidos Home Page. [Em Linha]. Disponível em

http://monumentosdesaparecidos.blogspot.com/search?q=praça+do+anjoy .[Consultado] em 16/09/2010

do Porto e não só...: O Porto há cem anos [Em Linha]. Disponível em

http://doportoenaoso.blogspot.com/2010/07/o-porto-ha-cem-anos-6.htm. [Consultado] em 16/09/2010

ssru. sociedade secreta de reabilitação urbana. [Em Linha]. Disponível em

http://ssru.wordpress.com/category/nao-patrimonio/. [Consultado] em 15/09/2010

Rua das Carmelitas com o Mercado do Anjo à esquerda Interior do Mercado do Anjo

Page 13: Praça do Anjo final

ARQ.TO PEDRO FERNANDES PESQUISA HISTORICA DA PRAÇA DE LISBOA

Página 13

Elementos em Anexo