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29 Revista Classica, v. 30, n. 1, p. 29-41, 2017 * Departamento de Português, Linguística e Línguas Clássicas da Universidade de Brasília. [email protected] PRAGMÁTICA DE UMA METÁFORA: A CIDADE FERIDA DE ARQUÍLOCO A PÍNDARO Agatha Bacelar* RESUMO: Este trabalho passa em revista as ocorrências da imagem da cidade ferida na poesia grega de Arquíloco a Píndaro. Após observar essa figura nos versos de Sólon, volta-se para algumas questões de método acerca da análise de metáforas em uma língua antiga; em seguida, a noção de corpo cívico se torna objeto de uma breve digressão; enfim, procede- se à leitura de passagens de Arquíloco, dos Theognidea e de Píndaro, no intuito de observar as dinâmicas pragmáticas da figura da cidade ferida. PALAVRAS-CHAVE: ferida; metáfora, sôma; “corpo cívico”; autoridade da poesia. PRAGMATIQUE D’UNE MÉTAPHORE: LA CITÉ BLESSÉE D’ARCHILOQUE À PINDARE RÉSUMÉ: Ce travail passe en revue les occurrences de l’image de la cité blessée dans la poésie grecque d’Archiloque à Pindare. Après regarder cette figure dans des vers de Solon, on se tourne vers quelques questions de méthode sur l’analyse des métaphores dans une langue ancienne; ensuite, la notion de corps civique fait l’objet d’une petite digression; enfin, on lit quelques passages d’Archiloque, des Theognidea et de Pindare en vue de dégager les enjeux pragmatiques de la figure de la cité blessée. MOTS-CLÉS: blessure; métaphore; sôma; “corps civique”; autorité de la poésie. A cidade doente é uma tópica bem difundida na Grécia da época clássica, não apenas na poesia trágica mas também na historiografia, na filosofia e na oratória. 1 Mas antes que esta figura circule nos usos linguageiros gregos do séc V a.C, os distúrbios da cidade foram designados por meio da imagem de uma ferida. O objetivo do presente texto é passar em revista as principais passagens em que ocorre a imagem da cidade ferida na poesia grega arcaica, de Arquíloco a Píndaro. Começarei observando esta figura nos versos 1 Cf., por exemplo, Brock, 2013, p. 69-82.

Pragmática de uma metáfora: a cidade ferida de arquíloco a ... · 30 evista Classica, v. , n. , p. -4, de Sólon; em um segundo momento, irei me voltar para algumas questões de

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  • 29Revista Classica, v. 30, n. 1, p. 29-41, 2017

    * Departamento de Portugus, Lingustica e Lnguas Clssicas da Universidade de [email protected]

    Pragmtica de uma metfora: a cidade ferida de arquloco a Pndaro

    Agatha Bacelar*

    resumo: Este trabalho passa em revista as ocorrncias da imagem da cidade ferida na poesia grega de Arquloco a Pndaro. Aps observar essa figura nos versos de Slon, volta-se para algumas questes de mtodo acerca da anlise de metforas em uma lngua antiga; em seguida, a noo de corpo cvico se torna objeto de uma breve digresso; enfim, procede-se leitura de passagens de Arquloco, dos Theognidea e de Pndaro, no intuito de observar as dinmicas pragmticas da figura da cidade ferida.Palavras-chave: ferida; metfora, sma; corpo cvico; autoridade da poesia.

    PragmaTique dune mTaPhore: la ciT blesse darchiloque Pindare

    rsum: Ce travail passe en revue les occurrences de limage de la cit blesse dans la posie grecque dArchiloque Pindare. Aprs regarder cette figure dans des vers de Solon, on se tourne vers quelques questions de mthode sur lanalyse des mtaphores dans une langue ancienne; ensuite, la notion de corps civique fait lobjet dune petite digression; enfin, on lit quelques passages dArchiloque, des Theognidea et de Pindare en vue de dgager les enjeux pragmatiques de la figure de la cit blesse.mots-cls: blessure; mtaphore; sma; corps civique; autorit de la posie.

    A cidade doente uma tpica bem difundida na Grcia da poca clssica, no apenas na poesia trgica mas tambm na historiografia, na filosofia e na oratria.1 Mas antes que esta figura circule nos usos linguageiros gregos do sc V a.C, os distrbios da cidade foram designados por meio da imagem de uma ferida. O objetivo do presente texto passar em revista as principais passagens em que ocorre a imagem da cidade ferida na poesia grega arcaica, de Arquloco a Pndaro. Comearei observando esta figura nos versos

    1 Cf., por exemplo, Brock, 2013, p. 69-82.

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    de Slon; em um segundo momento, irei me voltar para algumas questes de mtodo em torno da anlise de enunciados metafricos em uma lngua morta; em seguida, a noo de corpo cvico, em geral considerada a base da imagem da cidade sofrente, que ser objeto de uma pequena digresso; enfim, voltarei s ocorrncias da metfora da cidade ferida em passagens de Arquloco, dos Theognidea e de Pndaro para tentar mostrar as implicaes pragmticas desta metfora.

    A EunomiA dE Slon

    Vejamos, ento, os versos da elegia de Slon conhecida pelo ttulo eunoma, Boa ordem:2

    , ,, ., ,, 20 .

    sem respeitar nem os bens sagrados, nem os do povo, roubam, saqueando cada um de seu lado, e no cuidam da augusta sede da Justia [Dk]que, em silncio, testemunha o que se passa e o que se passou e com o tempo vem infalivelmente exigir recompensa.Eis a ferida [hlkos] inevitvel que ora chega a toda a cidade e que, rpido, leva malfica escravido,que desperta a dissenso intestina e a guerra adormecida, que faz perecer a juventude amada por muitos;pois, por causa dos inimigos, a cidade muito amada, rpido, se consome nos compls caros aos injustos.

    Os versos 15 a 17 deste poema de Slon frequentemente trazem mente a descrio da cidade injusta dada por Hesodo em os trabalhos e os dias (Hes. erga, 213-249). Os paralelismos entre os dois poemas foram evidenciados por diversos helenistas:3 nos dois casos, males fsicos acusam a falta de respeito justia, Dk, personificada peste e fome

    2 Solon fr. 3 Gentili-Prato (= 4 West), 12-22. Salvo meno contrria, todas as tradues so de minha responsabilidade.3 Para uma anlise detalhada das relaes entre o fr. 3 Gentili-Prato de Slon e a poesia hesidica, ver Irwin, 2005, p. 155-198.

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    em Hesodo (limn homo ka loimn, erga, 243) e ferida em Slon. Para meus propsitos aqui, so as diferenas entre os dois poemas que merecem ateno. Primeiro, em os trabalhos e os dias, a personificao da justia se d atravs de sua caracterizao como vtima que chora (klaousa, 222) e Zeus quem, do alto do Olimpo, faz recair a peste sobre as cidades onde imperam as injustias. De outro lado, no poema de Slon, detendo um saber sobre o passado e o futuro semelhante quele das Musas e dos profetas,4 a justia tem, ela mesma, o poder de se vingar, manifestando-se de forma silenciosa e infalvel o que lembra a inexorabilidade das doenas espontneas e igualmente silenciosas que saem da jarra aberta por Pandora em os trabalhos e os dias (102-104). Se a justia de Slon no precisa de Zeus porque em seu poema a questo apresentada como coisa humana: a elegia se inicia justamente com a seguinte afirmao: Nossa cidade jamais perecer conforme um quinho de Zeus/ nem por desgnios de aventurados deuses imortais.5 O que no nos autoriza a ver nos versos do legislador ateniense os resultados de um suposto processo de laicizao da justia, como demonstra o carter sagrado de sua sede (semn, augusta, 14) e o papel do prprio Zeus em outro fragmento do poeta.6 A ferida de que sofre a cidade causada exclusivamente pelo comportamento dos mortais aos quais o poema se dirige, de modo que no seja possvel a ningum evocar a arbitrariedade que por vezes caracteriza a justia de Zeus, ao fazer os descendentes pagarem transgresses cometidas por seus ancestrais.7

    Alm disso, e de modo mais significativo, a peste, loims, enviada por Zeus s cidades tem uma referncia concreta e bem precisa, o prprio Hesodo que a descreve (os homens morrem, as mulheres no engravidam e as casas se enfraquecem, cf. 243-244). J a ferida, hlkos, a forma assumida pela retribuio da justia no poema de Slon, tem um sentido que se qualifica como figurado. Resposta aos atos injustos, a ferida o estopim de uma srie de males que se seguem em um encadeamento causal (18-20): a escravido desperta a dissenso civil e a guerra, e esta, por sua vez, traz a morte dos jovens amados por muitos.8 A ferida

    4 Cf., p. ex., Hes. Theog. 38, em que as musas, filhas de Zeus e de Mnemosyne, dizem as coisas que so, as que sero e as que antes foram (); Hom. il.1, 70: [sobre Calcas] que sabia as coisas que so, as que sero e as que antes foram ().5 /.6 Cf. Sol. fr. 1 Gentili-Prato (= 13 West) com os comentrios de Irwin, 2005, p. 175-180.7 Cf. Sol. fr. 1 Gentili-Prato, 25-32.8 Ou, seguindo a interpretao sinttica dos versos 18-19 proposta por Jaeger (1998, p. 520, n. 27) e adotada por Noussia (2001, p. 250) interpretao essa que toma como referente do pronome relativo (he, que no feminino, 18) no seu antecedente imediato, doulosn (escravido), mas psei plei (toda a cidade, 17), e que considera o verso 18 uma parattica com valor consecutivo: seria, nesse caso, a cidade ferida quem desperta a dissenso e a guerra, e a escravido consequncia dessa ltima. Mas possvel que, atribuindo-se a referncia do relativo doulosn a inverso entre causa e consequncia nas relaes entre a escravido e a guerra seja um efeito para destacar o sentido figurado dessa escravido (cf. Irwin, 2005, p. 98). Independentemente da leitura adotada, o sentido de doulosn permanece vago podendo remeter simultaneamente escravido de fato, aos hektmoroi (camponeses que haviam se tornado escravos por endividamento e foram libertados por decreto de

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    uma metfora das consequncias trazidas pela falta de respeito justia. Certamente, atrelada personificao de Dk, a metfora da ferida pertence imagtica da guerra: a punio das injustias assume a forma de um contra-ataque. Mas o recurso noo de ferida inaugura, ao menos para ns, dado estado atual da transmisso dos textos gregos, a tpica da cidade sofrente na Grcia antiga.

    mEtforA: quEStES dE mtodo

    Talvez to inevitvel quanto a retribuio da justia em Slon, a problemtica da constituio do sentido figurado em geral, e da metfora em particular, se impe a ns, leitores da eunoma. Geoffrey Lloyd destacou que a emergncia do conceito de metfora na filosofia de Aristteles se insere em uma polmica que visa a descreditar os discursos rivais e que a distino entre sentido figurado e sentido literal s pertinente quando se torna explcita; j Ruth Padel observa acerca do uso de metforas nos discursos fisiolgicos na Grcia antiga: a imagem no um veculo da explicao. Ela a explicao.9

    Sem discordar destas observaes, parece til manter, na anlise de textos antigos, as distines que os estudos lingusticos estabelecem entre sentido figurado e condies de verdade. claro, falar em sentido figurado implica uma diferena de estatuto estre esse ltimo e o sentido considerado literal, mas nada nos obriga a situar esta diferena em termos de uma adequao entre sentido e realidade. A distino se d mais em termos de acessibilidade na memria discursiva dos falantes de uma lngua, que reconhecem uma orientao analogicamente motivada do sentido mais acessvel ao menos acessvel. Assim, a distino no supe necessariamente um questionamento, muito menos uma negao do carter explicativo, epistmico e cognitivo da categoria do figurado. Pelo contrrio, as correspondncias realizadas por esta motivao analgica nos oferecem uma ferramenta preciosa para tentar compreender as formas de pensar especficas de uma dada cultura.

    Bem entendido, este valor operatrio s se verifica sob a condio de no projetar sobre as manifestaes linguageiras antigas as distines entre literal e figurado em vigor nas nossas lnguas modernas. Por outro lado, se o sentido figurado se define em termos de acessibilidade na memria discursiva dos falantes de uma lngua, e se, como caso especfico de sentido figurado, a metfora se define como um certo desvio de ordem semntica em relao s configuraes de sentido tidas por comuns, preciso constatar que nossa capacidade de distinguir o literal do figurado em uma lngua antiga extremamente limitada pelos processos de transmisso dos textos, no apenas quantitativamente, mas tambm, e sobretudo, pela determinao das modalidades de discurso dignas de terem sido postas em escrito. Vejamos um exemplo da problemtica da metfora viva em uma lngua morta, analisado por Franoise Ltoublon, em um artigo que insiste em evidenciar o carter histrico

    Slon), ou tirania. O que pode ser uma estratgia discursiva de um poema em que a ambiguidade e a polissemia seriam cuidadosamente trabalhados com fins retricos (cf. Adkins, 1985, p. 24-125 e, para doulosn em particular, p. 118).9 Lloyd, 1996, p. 31-66; 2003, p. 8-10; Padel, 1992, p. 9-11 e 33-40 (p. 34 para a citao).

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    e antropolgico dos enunciados metafricos. Quando se l na ilada o escudo de Nestor, cuja glria (klos) alcana (hkei) o cu (Hom. il. 8, 192), de acordo com Ltoublon:

    pode-se crer em um emprego metafrico se o klos for representado como uma abstrao, maneira da glria do heri francs clssico e se interpretamos o verbo como um verbo de movimento. Na verdade, o estudo do conjunto de empregos de cada um desses lexemas mostra que klos uma espcie de rumor ou de nuvem gloriosa concreta espcie de aurola sonora? e que o verbo significa, primeiro, o contato (Ltoublon, 1989, p. 215).

    Ou seja, no enunciado homrico, s h metfora para ns, modernos.Neste sentido, o modelo semntico da intercompreenso metafrica proposto por

    Vincent Nyckees se mostra bastante interessante para a anlise dos sentidos figurados na Grcia antiga. A partir da constatao da natureza essencialmente coletiva (social, histrica e cultural) das significaes linguageiras, o autor prope que os enunciados metafricos podem ser discernidos segundo uma escala de inovao em relao a modelos analgicos preexistentes, de modo que a intercompreenso metafrica se funda em uma guia das interpretaes a partir das atestaes disponveis, das configuraes semnticas em circulao entre os falantes de uma lngua. Quer dizer que o desvio semntico dos enunciados metafricos no implica nenhum desvio discursivo, nenhuma ruptura em relao lgica linguageira. Indo das analogias inscritas na lngua as chamadas metforas mortas que no constituem verdadeiras metforas, mas expresses figuradas lexicalizadas at as metforas cuja radicalidade ameaa a compreenso dos interlocutores, o desvio de ordem semntica se relativiza em graus de metaforicidade (cf. Nyckees, 2000 e 2008).

    Ainda que, para o helenista, a questo de determinar se uma expresso figurada constitui uma verdadeira metfora ou uma analogia cristalizada na lngua permanea em muitos casos sem soluo, a vantagem de tal modelo reside em fundamentar a anlise no exame de ocorrncias concretas, e, portanto, em uma prtica amplamente adotada nos comentrios filolgicos aos textos antigos: a busca de paralelos. Por este caminho, evitamos as armadilhas das projees de representaes contemporneas sobre as antigas. Tais armadilhas me parecem particularmente presentes na abordagem da lingustica cognitiva. No se trata, absolutamente, de negar a enorme importncia das contribuies de Lakoff e Johnson para o estudo dos enunciados metafricos, sobretudo ao insistirem na ancoragem somtica do pensamento, no carter prototpico das categorias, e na banalidade dos movimentos analgicos nos processos de significao, demonstrando que as metforas no so um apangio dos discursos considerados literrios. Na verdade, no se trata nem mesmo de refutar as propostas desses autores, mas, sim, de afirmar que teorias e mtodos no so credos, so ferramentas, e sua adoo depende de serem mais ou menos adequados aos objetos estudados. Ainda que, em diversas passagens de metaphors we live by, Lakoff e Johnson remetam aos fundamentos culturais das metforas conceituais (1980, p. 6, 23-25 e 68), suas anlises do muito pouco espao s dimenses antropolgicas e histricas dos processos de significao, diversidade das categorias que estruturam as metforas conceituais. Com isso,

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    a abordagem cognitiva acaba por apresentar uma tendncia de universalizar os movimentos analgicos e, quando aplicada ao estudo de textos gregos antigos, acaba por nos induzir projeo de nossas prprias categorias sobre as categorias dos textos estudados. Induo essa que talvez resulte menos da teoria cognitiva em si que do lugar de autoridade que a antiguidade grega ocupa no imaginrio ocidental contemporneo. Pois a frequentao dos textos antigos e, portanto, a incluso, a traduo e a reelaborao das analogias antigas nas memrias discursivas modernas retomando, a frequentao dos textos antigos uma das prticas fundamentais para a iluso de continuidade de que depende a eleio da antiguidade greco-romana como mito de fundao da cultura ocidental.

    um corpo cvico? SignificAdoS dE SmA

    A tpica da cidade sofrente ilustra muito bem este tipo de armadilha. primeira vista, tal concepo parece fazer referncia assimilao da cidade a um corpo, por intermdio das expresses corpo cvico ou corpo social, que nos so to familiares. Assim, Roger Brock, em um livro alis extremamente rico, analisa as metforas polticas na Grcia antiga a partir do modelo das metforas conceituais de Lakoff e Johnson e intitula o captulo dedicado figura da cidade sofrente The Body Politic (Brock, 2013, p. 69-82). Alm disso, e sintomaticamente, na introduo de seu estudo, Brock afirma: a imagtica poltica parte do legado grego cultura ocidental (idem, xiii, n. 13).

    No entanto, um breve exame dos empregos de sma mostra quo ilusria esta impresso de continuidade preservada em um legado. Em grego antigo, sma remete materialidade da pessoa e, como insiste Domenico Musti, mesmo nas passagens em que o vocbulo costuma ser traduzido por pessoa ou personalidade o aspecto fsico permanece implicado.10 Porm, este suporte material do vivente que o sma no concebido como um organismo, um conjunto articulado de partes cujas respectivas funes asseguram o funcionamento do todo (cf. Ioannidi, 1983; Grmek, 1994, p. 43). Sim, para alguns physiolgoi e iatro, sma um composto heterogneo de partes e matrias que se integram continuamente em uma rede de foras mltiplas. Sim, os tratados hipocrticos mencionam partes, estruturas (skhmata) e lugares (tpoi) que participam ativamente dos processos fisiolgicos, notadamente no deslocamento dos fluidos. Desse modo, Robert Joly (1966, p. 75-81 e 163-167) descreve a medicina grega antiga como uma fsica de recipientes. E B. Gundert, aps passar em revista diversas passagens do corpus hipocrtico em que so mencionadas partes e estruturas do corpo, conclui:

    Quando, ocasionalmente, a relao entre parte e processo caracterizada em termos causais, sempre uma relao de consequncia por exemplo Ns falamos a partir do pulmo,

    10 Musti, 1993. O significado de sma como suporte material do vivente contrasta, em parte, com o uso homrico, em que o vocbulo remete ao corpo morto desprovido dos cuidados fnebres, distinguindo-se assim de nkys/nekrs, cadver; cf. Holmes, 2010, p. 32-37.

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    porque oco e tem uma flauta ligada a ele (morb. 4, 56); a partir de l [da medula espinhal] estendem-se passagens, de modo que o fluido possa viajar tanto para l quanto a partir de l (genit. 1) nunca de finalidade ou propsito. Partes podem executar papeis especficos por terem determinadas estruturas; jamais h sequer um indcio de que as partes tenham determinadas estruturas com o fim de desempenhar determinados papeis (Gundert, 1992, p. 465).

    Assim, dado que para os gregos antigos a unidade do sma o resultado de uma mistura sempre em movimento (e portanto perecvel), as relaes entre seus elementos constituintes, em geral invisveis, no se definem como funcionais e/ou hierrquicas. Para citar um ltimo exemplo do corpus hipocrtico, o autor do tratado do regime afirma: o corpo dos indivduos (sma) nunca o mesmo, nem por natureza nem por fora, pois ele se dissolve (diakrnetai) em tudo e se mistura (symmsgetai) com tudo (de diet. 1, 28).11 O corpo grego antigo no um organismo, pelo menos no antes de Aristteles; mas em nossas concepes modernas de corpo, a noo de organismo fundamental. A diferena, por ser sutil, no deixa de ser importante: um organismo composto por rgos, ou seja, estruturas que se definem pela funo que exercem.

    Alm disso, nos discursos atrelados a um contexto cvico, sma designa a vida que o cidado pe em risco quando vai lutar na guerra em nome da cidade, ou quando ele apresenta sua defesa em um processo capital nos tribunais, bem como o engajamento pessoal em uma liturgia, da qual ele participa ativamente, oferecendo no apenas seus bens e dinheiro, mas sua presena no local: em sua materialidade, o corpo se apresenta como recurso e como vitalidade remetendo s duas acepes de bos na lngua grega, vida e vveres.12 Com efeito, tendo em vista que o conjunto dos cidados j uma das principais acepes do vocbulo plis, podemos supor que a imagem de um corpo cvico que por assim dizer vem reintroduzir o sentimento de concretude na noo abstrata de sociedade civil, noo esta ausente na antiguidade no tinha razo de ser na Grcia antiga.

    A que se assimila, ento, a cidade na tpica discursiva de que nos ocupamos aqui? A resposta bem mais simples do que se poderia esperar: no a um corpo, mas a uma pessoa. O emprego metafrico de hlkos, ferida, implica uma personificao da plis. Comprova-o o

    11 Para esta concepo do corpo, cf. Holmes, 2010, p. 99-108, que alm dessa passagem do corpus hipocrtico, cita fragmentos pr-socrticos, como Empdocles (Diels-Kranz F 31 B 8 e 20) e Anaxgoras (Diels-Kranz F 59 B 17).12 Cf. Loraux, 1997, p. 225-226, que cita, para sma como a vida que os atenienses oferecem sua cidade, Tucdides 2, 24, 4; 2, 43, 2; 2, 64, 3; e 1, 70, 6; para a vida em risco em um processo capital: Andoc. de myst. 4, 5, 123; e Lys. de caede erat. 50. Nesses dois ltimos casos, a ameaa concerne tanto aos smata dos acusados quanto a suas fortunas (khrmata), do mesmo modo que, nos discursos judicirios em que se evocam as participaes nas liturgias, so os bens e os corpos (as presenas) que so postos a servio da cidade (cf. Wilson, 2000, p. 135-136). Em seu estudo sobre o corpo na historiografia de Tucdides, Loraux tambm constata a ausncia do corpo como figura da coletividade (1997, p. 239 e 244-245), imagem mais romana do que grega (ver, p. ex. T. Liv. 2, 32,9).

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    emprego do adjetivo polyraton, muito amada, ou eroticamente muito desejada, cidade, sty, no verso 21 do fragmento de Slon. Com efeito, a plis frequentemente personificada nos textos ligados a contextos cvicos do perodo clssico, quer nos exemplos da tpica ertica estudados por Yatromanolakis (2005); quer nos textos das oraes fnebres pblicas, analisados por Loraux (1993); ou ainda, como observa Hansen (2001, p. 31-54, 79-124 e, em particular, 85-97), nos decretos oficiais em que a plis que vota, que faz guerra, organiza uma festa etc. Alm disso, o clebre tringulo hipocrtico o mdico, o doente e a doena parece deixar claro que os iatro gregos no cuidavam de corpos, mas de pessoas. Por fim, estas observaes acerca da figura da cidade sofrente na Grcia podem explicar uma questo que surpreende Brock em seu estudo: a ausncia de detalhes anatmicos nos empregos da figura da cidade doente (Brock, 2013, p. 71). E o fato de as relaes entre as partes do corpo no terem lugar nos empregos desta figura me parece corroborar a ausncia da prpria noo de corpo cvico, que, como visto, implicaria conceber seus componentes de acordo com seus papeis. Isto posto, retornemos s ocorrncias da figura da cidade ferida.

    A cidAdE fEridA: prAgmticA dE umA mEtforA

    Como paralelo do emprego metafrico de hlkos, os comentadores do verso 17 da eunoma de Slon frequentemente citam trs outras passagens: o fragmento 13 West (8) de Arquloco, os versos 1134-1135 dos Theognidea e uma passagem da Ptica 4 de Pndaro. Eis os versos de Arquloco:

    1 ,. 5 . ,,. ,. 10

    no , Pricles, deconsiderando o nosso pesar gemente, que um cidado vai se deleitar com a festa nem a cidade:pois aqueles que a onda do mar de grave estrondo submergiu eram tais que pela dor temos inchadosos pulmes. Mas os deuses, contra males incurveis, meu caro, prescrevem a vigorosa persistncia como remdio. Cada um, na sua vez, tem isto: agora contra ns se voltou, e gememos sobre a ferida sangrenta;noutra vez, a outros caber. Mas, rapidssimo, persistam e afastem esse luto de mulher.

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    Esta proposta de traduo deve muito anlise detalhada de Deborah Steiner (2012). Seguindo Ewin Bowie (1986), D. Steiner prope que os versos elegacos de Arquloco no se vinculam a um contexto funerrio, mas sim ocasio de um simpsio. Concordando com os comentrios de Kamerbeek (1961, p. 1-3) aos versos 1 e 2, interpreto as negaes em correlao out...oud como modificadores do particpio memphmenos, traduzido aqui por desconsiderando, e no do verbo trpsetai, vai se deleitar. Quer dizer que a cidade no cessa suas festividades por causa do naufrgio que matou homens valorosos, pelo menos ao prprio Arquloco, j que segundo o testemunho de Plutarco (quomodo aud. poet. 33ab), o cunhado de Arquloco estava entre os navegantes. De modo que os que gemem sobre a ferida sangrenta no verso 8 no so todos os cidados, nem a cidade, mas Arquloco e seus companheiros de banquete (cf. 6, contra ns).13 O que quer dizer que, cronologicamente anterior aos versos de Slon, a elegia de Arquloco inaugura a ferida metafrica em um contexto comunitrio, mas no a figura da cidade ferida.

    Por outro lado, a ferida do verso atribudo a Tegnis de Mgara parece ter uma referncia poltica mais marcada, que caracteriza o contexto geral dos dsticos elegacos transmitidos at ns sob o nome deste poeta, contexto de conflitos entre uma aristocracia fundiria tradicional e uma aristocracia enriquecida com o advento da moeda.14 O poeta de Mgara, pertencente aristocracia tradicional, dirige o seguinte apelo a seu amigo Cirno:

    ,,

    Cirno, com os amigos que esto aqui, ponhamos um fim ao incio do male busquemos um remdio ferida crescente. (Theog. 1134-1135)

    Por fim, restam os versos da Ptica 4, que celebra a vitria do rei de Cirene, Arcesilau IV, na corrida de carros. Ao fazer um apelo pelo retorno de Damofilo, exilado de Cirene por ter conspirado contra o rei, Pndaro se dirige a Arcesilau:

    ,-.-

    .

    ,.

    13 Sobre o fr. 13 West de Arquloco, ver igualmente a anlise de Adkins, 1985, p. 35-44.14 Acerca do contexto geral dos conflitos polticos em Mgara de que tratam os Theognidea, bem como sobre a insero destes poemas em um mbito pan-helnico, ver Nagy, 1985.

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    voc o mdico, o nico com a deciso em seu poder,e Pe, a voc, conferiu a honra da luz que salva.

    preciso que voc, aplicando sua mo tenra,cuide do machucado que esta ferida.

    Pois fcil, mesmo para os fracos, abalar uma cidade;mas reergu-la sobre o solo, uma luta difcil

    se torna, a menos que, de imediato,um deus se torne piloto dos chefes.

    (Pind. Pyth. 4, 270-274)

    O emprego metafrico de hlkos, ferida (aqui como genitivo apositivo de trma, machucado), ganha neste passo em especificidade e complexidade. Com efeito, trata-se de um exemplo do encadeamento de imagens caracterstico de Pndaro:15 a ferida retoma a metfora do carvalho derrubado com a qual o poeta havia introduzido o apelo por Damofilo,16 dando-lhe uma outra direo. As duas metforas se associam por meio da imagem de um golpe. A este propsito, vale lembrar que a imagem do carvalho derrubado empregada na ilada para descrever, por meio de um smile, a queda de Heitor atingido por jax (Hom. il. 14, 414-418). Assim, na Ptica 4, tanto a metfora do carvalho, representando a expulso de Damofilo, quanto a da ferida, remetendo ausncia de Damofilo em Cirene, constituem reelaboraes da tpica da guerra aplicadas a um conflito poltico interno. A ao da lmina cortante sobre a rvore que, a partir de ento, se encontra entre os muros de outra cidade se transforma, assim, em ferida.17

    Ora, em todas essas passagens a ferida evocada para falar no apenas do mal de que se sofre, mas sobretudo da busca de um remdio. Os prprios poetas participam desta busca: o dos Theognidea convida Cirno a buscar um phrmakon, Arquloco lembra a Pricles a prescrio divina, a vigorosa persistncia (6). Ainda, se seguimos a leitura de D. Steiner (2012), o poeta incita seus companheiros a se resignarem, deixar o pesar caber a outros e a se deleitar no simpsio, ou seja, a tomar outros remdios muito clebres na Grcia antiga por trazerem o esquecimento das tristezas: a poesia e o vinho. J Pndaro intercede junto ao nico que tem a capacidade de curar a ferida de Cirene, dirigindo-se ao rei como iatrs. Por fim, os versos de Slon do um diagnstico dos males da cidade: o desrespeito augusta sede da justia. Este engajamento dos poetas em remediar as feridas metafricas sem dvida remete posio de autoridade que ocupavam nas pleis gregas antigas. De fato, o poeta no precisa ser tambm um legislador, como foi Slon, para que sua fala adquira a autoridade tica de um campeo da justia, para usar a expresso de Gregory Nagy (1985, p. 36-41), ou um mestre de verdades, adaptando a frmula de Marcel Detienne (2006 passim). A meno dessas feridas metafricas parece indissocivel da capacidade que a prpria poesia tem de tomar parte no tratamento.

    15 Sobre o encadeamento de imagens na poesia de Pndaro, ver Pron, 1970, p. 12-14.16 () // (), pois se, com uma lmina cortante, derrubam-se os ramos de um grande carvalho...; Pind. Pyth. 4, 263-264.17 Para comentrios mais detalhados aos versos 263-274 da Ptica 4, ver Braswell, 1988, p. 360-376.

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    Portanto, em termos mais abstratos, a metfora da ferida faria referncia no somente presena de um distrbio, mas sobretudo necessidade da interveno de algum dotado de um saber que possibilite dar um termo a esse distrbio, seja pela ao do prprio poeta ou pela ao de seus destinatrios. Neste sentido, os modificadores do vocbulo hlkos nas ocorrncias citadas enfatizariam a gravidade da ferida e, consequentemente, a necessidade de um saber especial para cur-la: a ferida phykton, inevitvel, em Slon; haimaten, sangrenta, em Arquloco; phyomnon, crescente, nos Theognidea; e o mesmo efeito intensificador obtido no emprego pindrico, em que hlkos ocorre em um genitivo apositivo que amplifica a gravidade da trma, do machucado sobre o qual Arcesilau deve aplicar sua mo. Ainda neste mesmo sentido, significativo que desde Homero os aedos pertenam categoria dos demiurgos, tal como os carpinteiros, os arautos, os adivinhos e notadamente os iatro, os mdicos; e, ainda que os prprios poetas paream no ter feito referncia sua habilidade em termos de tkhn, uma arte prtica, mas em termos de sopha, de sabedoria, as metforas artesanais so muito frequentes nos versos que descrevem a atividade potica.18 Deste modo, o savoir-faire dos poetas, por meio da enunciao mesma dos poemas, participa diretamente da busca de tratamento no caso de Arquloco, de Slon e dos Theognidea, enquanto Pndaro pe sua sabedoria a servio do rei-mdico Arcesilau. A figura da cidade ferida colocaria, assim, em evidncia o poder que os poetas tm, pela prpria eficcia de seus versos, de se engajar na busca da soluo dos mal-estares comunitrios. A figura remete, deste modo, seno autoridade efetiva da poesia na plis, ao menos s reivindicaes dos poetas por uma voz de autoridade.

    rEfErnciAS19

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    18 Cf., p.ex., od. 17, 383-385. Sobre o emprego de metforas artesanais com referncia atividade potica, ver Gentili, 1988, p. 4-5, e Ford, 2002, p. 113-130.19 Salvo meno contrria, as edies dos textos antigos consultadas foram as constantes do Thesaurus linguae graeca (http://stephanus.tlg.uci.edu/index.php).

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    Recebido em 30 de julho de 2017

    Aprovado em 10 de agosto de 2017