23
PRATICAS E MODELO INTRA- EMPREENDEDOR EM UMA GRANDE INDUSTRIA TEXTIL BRASILEIRA Serafim Firmo de Souza Ferraz (MPA UFC) [email protected] Ivan Batista da Costa (MPA UFC) [email protected] Marcia de Freitas Duarte (MPA UFC) [email protected] Aclécio Carneiro Martins de Oliveira (MPA UFC) [email protected] Leonardo Leocádio (MPA UFC) [email protected] Resumo Este trabalho teve por objetivo analisar o modelo de gestão de uma grande indústria brasileira do setor têxtil, com o intuito de verificar se as práticas intra-empreendedoras se constituem elementos característicos do modelo de gestão que sustenta a competitividade da organização. Na perspectiva metodológica, a pesquisa é de natureza quali-quantitativa. Os dados foram coletados com a utilização de pesquisa exploratória e descritiva, em pesquisa de campo, do tipo estudo de caso, realizada com a coordenadora de RH, três supervisores da produção e uma amostra de oitenta empregados da produção da empresa Vicunha Têxtil, localizada na região metropolitana de Fortaleza. A empresa foi escolhida pelo porte, o perfil competitivo e a reputação no mercado brasileiro e internacional. A pesquisa permitiu constatar que as práticas intra-empreendedoras permeiam as práticas de gestão estratégica e de pessoas da organização, embora ainda não integralmente consolidadas, respondendo parcialmente pela sustentação dos resultados obtidos pela empresa. O estudo identifica, finalmente, fatores comportamentais e processuais que podem ser mobilizados para constituir uma cultura intra-empreendedora na Vicunha Têxtil. Abstract This paper aimed to examine the management model of a large brazilian textile industry in order to verify if intrapreneurial practices are factors that characterize the management model that sustains the competitiveness of the organization.. In the methodological perspective, 31 de Julho a 02 de Agosto de 2008

PRATICAS E MODELO INTRA- EMPREENDEDOR EM UMA … · 2.1 Empreendedorismo e Intraempreendedorismo O empreendedor, segundo Schumpeter (1947), é aquele que destrói a ordem econômica

Embed Size (px)

Citation preview

PRATICAS E MODELO INTRA-

EMPREENDEDOR EM UMA GRANDE

INDUSTRIA TEXTIL BRASILEIRA

Serafim Firmo de Souza Ferraz (MPA UFC)

[email protected]

Ivan Batista da Costa (MPA UFC)

[email protected]

Marcia de Freitas Duarte (MPA UFC)

[email protected]

Aclécio Carneiro Martins de Oliveira (MPA UFC)

[email protected]

Leonardo Leocádio (MPA UFC)

[email protected]

Resumo

Este trabalho teve por objetivo analisar o modelo de gestão de uma

grande indústria brasileira do setor têxtil, com o intuito de verificar se

as práticas intra-empreendedoras se constituem elementos

característicos do modelo de gestão que sustenta a competitividade da

organização. Na perspectiva metodológica, a pesquisa é de natureza

quali-quantitativa. Os dados foram coletados com a utilização de

pesquisa exploratória e descritiva, em pesquisa de campo, do tipo

estudo de caso, realizada com a coordenadora de RH, três

supervisores da produção e uma amostra de oitenta empregados da

produção da empresa Vicunha Têxtil, localizada na região

metropolitana de Fortaleza. A empresa foi escolhida pelo porte, o

perfil competitivo e a reputação no mercado brasileiro e internacional.

A pesquisa permitiu constatar que as práticas intra-empreendedoras

permeiam as práticas de gestão estratégica e de pessoas da

organização, embora ainda não integralmente consolidadas,

respondendo parcialmente pela sustentação dos resultados obtidos

pela empresa. O estudo identifica, finalmente, fatores comportamentais

e processuais que podem ser mobilizados para constituir uma cultura

intra-empreendedora na Vicunha Têxtil.

Abstract

This paper aimed to examine the management model of a large

brazilian textile industry in order to verify if intrapreneurial practices

are factors that characterize the management model that sustains the

competitiveness of the organization.. In the methodological perspective,

31 de Julho a 02 de Agosto de 2008

IV CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO Responsabilidade Socioambiental das Organizações Brasileiras

Niterói, RJ, Brasil, 31 de julho, 01 e 02 de agosto de 2008

IV CNEG

2

it’s a quality-quantitative research. Data were collected by a

exploratory and descriptive perspective in a field research - a study of

case conducted with the coordinator of HR, three supervisors of

production and a sample of eighty people’s production company

Vicunha Textiles, located in metropolitan region of Fortaleza. The

company was chosen by size, the competitive profile and reputation in

the Brazilian market and internationally. The survey found that the

intra-enterprise practices permeate the practice of strategic

management and people’s organization, although not yet fully

consolidated, responding in part by the support of the results obtained

by the company. The study identifies, finally, procedural and

behavioral factors that can be mobilized to form an intra-

entrepreneurial culture in Vicunha Textiles.

Palavras-chaves: intra-empreendedorismo. Empreendedorismo

corporativo. Modelo de gestão, indústria têxtil.

IV CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO Responsabilidade Socioambiental das Organizações Brasileiras

Niterói, RJ, Brasil, 31 de julho, 01 e 02 de agosto de 2008

IV CNEG

3

1 Introdução

Considera-se o empreendedorismo um fator crítico para o desenvolvimento

econômico, por associar-se com a criação de novas empresas e à inovação. Em uma

perspectiva ampliada, o comportamento empreendedor se constitui fator de sustentação de

vantagens competitivas em ambientes dinâmicos e de elevada competição (DORNELAS,

2003; DRUCKER, 2005).

O intra-empreendedorismo ou empreendedorismo corporativo, ou ainda a

institucionalização de uma cultura intra-empreendedora representa uma configuração

organizacional emergente, adaptada para atuação em ambientes de elevada competição e

dinamicidade, como elemento de sustentação de vantagens competitivas (FERRAZ, 2006).

As empresas surgem e se desenvolvem a partir da ação de um empreendedor. O

crescimento e o sucesso da empresa, entretanto, impõem limites à capacidade desse

empreendedor. As características empreendedoras que dão origem às empresas geralmente

não são facilmente transmitidas para o coletivo organizacional (FERRAZ, 2006). Segundo

Chieh e Andreassi (2007), isso acontece porque o espírito empreendedor que deu origem à

organização normalmente é neutralizado pelo processo de crescimento e expansão da empresa,

no qual se passa a adotar um modelo de gestão tradicional, burocrático, hierarquizado,

organizado por funções, sem foco no cliente e no mercado. Ocorre, então, o desafio de

procurar manter a capacidade empreendedora da organização (COZZI; ARRUDA, 2004).

Dessa maneira, a compreensão de como as características do empreendedor são

transferidas para o coletivo organizacional, instaurando-se uma cultura corporativa, mostra-se

importante. A análise do processo estratégico, da organização do trabalho, das políticas de

recursos humanos e da maneira como a inovação e aprendizagem são administradas, pode

fornecer elementos para a compreensão dos fenômenos que resultam na competitividade e na

renovação organizacionais.

Em conseqüência, este estudo tem como objetivo geral analisar o modelo de gestão de

uma empresa grande empresa têxtil brasileira, para verificar se o predomínio de práticas intra-

empreendedoras sustentam os resultados obtidos pela mesma. A análise do modelo de gestão

se dará pela análise dos fatores comportamentais, processuais e instrumentais, na perspctiva

das equipes de produção que, em uma indústria, sustentam vantagens competitivas e o

desenvolvimento organizacional.

IV CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO Responsabilidade Socioambiental das Organizações Brasileiras

Niterói, RJ, Brasil, 31 de julho, 01 e 02 de agosto de 2008

IV CNEG

4

O estudo parte da suposição inicial de que o modelo de gestão adotado na organização

permite, incentiva e facilita as práticas intra-empreendedoras, o que explicaria, em parte, os

resultados obtidos pela organização nos últimos anos. Assim sendo, a empresa em estudo se

caracteriza pelo elevado nível de autonomia de trabalho, pela descentralização dos processos

decisórios, pela qualidade da participação e da comunicação, além da sustentanção de um

amplo conjunto de instrumentos e de processos de trabalho compatíveis com o intra-

empreendedorismo.

2 Metodologia

Esta pesquisa combina abordagem metodológica quali-quantitativa, por abordar

fatores instrumentais e comportamentais caracterizadores do intra-empreendedorismo.

Para fins de classificação da pesquisa, tomou-se por base a taxionomia apresentada por

Vergara (2007), que qualifica a pesquisa em relação a dois aspectos: quanto aos fins e quanto

aos meios. Quanto aos fins, a pesquisa é exploratória e descritiva. É exploratória devido à

baixa incidência de conhecimentos acumulados e sistematizados sobre o tema e contexto

pesquisados. É descritiva porque visa identificar características que permeiam o ambiente

intra-empreendedor na organização, descrevendo o seu modelo de gestão.

Quanto aos meios, trata-se de uma pesquisa de campo, do tipo estudo de caso, já que

foram coletados dados que aprofundam a investigação empírica da organização escolhida. É

também bibliográfica, por buscar em material escrito e sistematizado a fundamentação

teórico-metodológica, e documental porque se vale do exame de documentos internos da

empresa.

Visando a qualidade das informações e buscando a melhor compreensão do fenômeno

estudado, constituíram-se sujeitos desta pesquisa a coordenadora de recursos humanos e três

supervisores da produção, além de uma amostra de oitenta (80) empregados da produção, de

um total de 156 operários de turno, contingente representativo de um universo de

aproximadamente setecentos empregados, nos quatro turnos de funcionamento. A

coordenadora de RH detalhou os processos de gestão de pessoas. Já os supervisores da

produção colaboraram para a melhor compreensão da gestão de processos operacionais, e os

empregados nos indicaram se a gestão de pessoas e processos estavam sendo bem assimilados.

O expediente de trabalho na empresa pesquisada é dividido por turnos, A, B, C e D,

sendo que os três primeiros são turnos sucessivos de oito horas de trabalho cada. Já o turno D

IV CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO Responsabilidade Socioambiental das Organizações Brasileiras

Niterói, RJ, Brasil, 31 de julho, 01 e 02 de agosto de 2008

IV CNEG

5

trata-se do expediente em horário comercial. Os supervisores e empregados são distribuídos

da seguinte forma: seis supervisores na Fábrica III (dois por turno); três supervisores na

fábrica IV/Retorção (um por turno); dois supervisores polivalentes. A média de funcionários

para cada supervisor é:

Setor de preparação: 35 funcionários

Setor de fiação/Acabamento: 104 funcionários.

Fábrica IV/Retorção: 17 funcionários

Os supervisores selecionados nesta pesquisa são do turno A, um de cada setor,

totalizando três. Procurou-se selecionar uma amostra de 60% (sessenta por cento) dos

empregados de cada supervisor para aplicação do questionário. Tal amostra foi selecionada

por acessibilidade, nos tempos de parada dos empregados.

A coleta dos dados se deu por dois meios. Inicialmente, empreendeu-se análise no site

oficial da organização e de documentos internos que apresentavam os referenciais identitários

da empresa e elementos da política de recursos humanos da empresa. Em seguida, fora

aplicados quatro questionários. No primeiro, foram coletadas informações econômicas,

financeiras e mercadológicas da empresa. O segundo e o terceiro questionários referiram-se às

entrevistas semi-estruturadas e por pauta, realizadas com a coordenadora de RH e com os três

supervisores da produção. O quarto questionário, do tipo fechado, com perguntas de múltipla

escolha do tipo estimação ou avaliação. O questionário que destinado aos empregados estava

composto de cinco blocos que tratam das cinco categorias de análise: processo

comunicacional, processo decisório, ambiente de trabalho, mecanismo de reconhecimento e

de premiação e autonomia no trabalho. Depois de respondidos os questionários, as respostas

foram tabuladas manualmente e confrontadas com as respostas da coordenadora de RH e

supervisores da produção.

2 Referencial teórico

2.1 Empreendedorismo e Intraempreendedorismo

O empreendedor, segundo Schumpeter (1947), é aquele que destrói a ordem

econômica existente pela introdução de novos produtos e serviços, pela criação de novas

formas de organização ou pela exploração de novos recursos ou materiais. Empreender,

conforme Dornelas (2003, p. 35), “significa fazer algo novo, diferente, mudar a situação atual

e buscar, de forma incessante, novas oportunidades de negócio, tendo como foco a inovação e

IV CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO Responsabilidade Socioambiental das Organizações Brasileiras

Niterói, RJ, Brasil, 31 de julho, 01 e 02 de agosto de 2008

IV CNEG

6

a criação de valor”. Segundo o autor, as definições para empreendedorismo são várias, mas

sua essência se resume em fazer diferente, empregar os recursos disponíveis de forma criativa,

assumir riscos calculados, buscar oportunidades e inovar.

Autores como Pinchot III (1989), Carrier (1994), Bom Angelo (2003), Dornelas

(2003), Hisrich e Peters (2004), Drucker (2005), Hashimoto (2006), Antoncic (2007), e outros,

referem-se ao empreendedorismo não apenas como um fenômeno relacionado à criação de

novos negócios, mas também como uma característica de empresas já existentes, as quais

podem, por meio do incentivo às práticas empreendedoras, alavancar inovações em seus

produtos, serviços ou processos.

O empreendedorismo corporativo, empreendedorismo interno ou intra-

empreendedorismo, conforme Antoncic e Hisrich (2003), é o empreendedorismo praticado em

organizações já existentes, independentemente de seu tamanho ou mercado em que atua. Está

relacionado não somente à criação de novos negócios corporativos, mas também a outras

atividades e orientações inovadoras, como o desenvolvimento de novos produtos, serviços,

tecnologias, práticas administrativas, estratégias e posturas competitivas.

O termo intrapreneuring (intra-empreendedorismo) – também muito empregado como

empreendedorismo corporativo – é um neologismo criado em 1978, por Gifford Pinchot III (e

largamente empregado em todo o mundo) como abreviatura do conceito de intra-corporate

entrepreneuring (empreendedorismo intracorporativo). Pinchot III (1989) propôs uma série de

argumentos e conceitos sustentando que um profissional não precisaria, necessariamente,

abandonar seu emprego numa grande empresa ou corporação para tornar-se um empreendedor.

A partir daí, iniciou-se uma grande discussão sobre a importância de se criar mecanismos e

formatar mentalidades capazes de apoiar e reconhecer iniciativas de inovação e

empreendedorismo dentro das grandes organizações.

Reich (1999 apud COZZI e ARRUDA, 2004) apresenta um quadro mais amplo

afirmando que intra-empreendedorismo representa o caminho para um futuro econômico,

promissor tanto para os dirigentes quanto para os empregados. Para os dirigentes, esse

caminho significa um contínuo treinamento e desenvolvimento dos empregados para

trabalhos mais complexos, a difusão da responsabilidade de inovação e a busca de maior

produtividade, por meio da vinculação de resultados e o sistema de remuneração. Para os

empregados, significa um ambiente de trabalho com regras mais flexíveis e a possibilidade de

IV CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO Responsabilidade Socioambiental das Organizações Brasileiras

Niterói, RJ, Brasil, 31 de julho, 01 e 02 de agosto de 2008

IV CNEG

7

ganhos maiores, com base em um sistema de remuneração ligado ao lucro e melhoria da

produtividade.

2.2 Modelo de gestão Intra-Empreendedor

Na visão de Oliveira (2006, p. 41), modelo de gestão “é o processo estruturado,

interativo e consolidado de desenvolver e operacionalizar as atividades de planejamento,

organização, direção e avaliação de resultados, visando ao crescimento e ao desenvolvimento

sustentado da empresa”.

Segundo Hashimoto (2006), um modelo de gestão que permite a cada funcionário se

desenvolver, adquirir informações relevantes ao negócio, tomar decisões e tomar iniciativas

dá muito mais possibilidade e vazão à inovação do que o modelo tradicional, orientado para a

centralização das decisões e pelo peso da hierarquia corporativa.

O autor ainda define a organização intra-empreendedora como sendo a empresa que

consegue recuperar o espírito empreendedor presente em seus tempos áureos de infância,

época em que era mais criativa, dinâmica, ousada, ágil, flexível, proativa e realizadora. Sem

perder os benefícios que a burocracia trouxe para torná-la mais organizada e administrável,

aproveita, ao mesmo tempo seu aprendizado em outras iniciativas, como descentralização,

terceirização, fusão e downsizing. “A organização intra-empreendedora aproveita o melhor

dos dois mundos, mantendo sempre vivo o desafio de se reinventar e de se adaptar

continuamente para não entrar no estágio da velhice” (HASHIMOTO, 2006, p. 52-53).

Pode-se concluir, conforme relata Dornelas (2003), que o comportamento

empreendedor ou a cultura empreendedora têm uma razão de ser, uma motivação para serem

utilizados na organização. São o pano de fundo para o fomento da inovação, da busca da

identificação de oportunidades, do trabalho criativo, para a organização do trabalho e dos

processos empresariais de forma mais integrada, para a eliminação de barreiras internas de

comunicação etc. Esse comportamento deve estar presente em todos os níveis organizacionais

e para que isso ocorra, se faz necessária uma série de ações com foco nos processos e,

principalmente, nas pessoas, que devem se sentir motivadas para agirem de forma

empreendedora, sendo recompensadas por buscar algo novo, muitas vezes assumindo riscos e

a possibilidade de fracassar.

Muitos autores apresentam uma série de características presentes nas organizações

intra-empreendedoras ou naquelas que desejam estabelecer um ambiente intra-empreendedor

IV CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO Responsabilidade Socioambiental das Organizações Brasileiras

Niterói, RJ, Brasil, 31 de julho, 01 e 02 de agosto de 2008

IV CNEG

8

ou cultura intra-empreendedora, estas últimas também utilizadas para se referir às

organizações que praticam o intra-empreendedorismo. Para se atingir os objetivos deste

trabalho, foram identificados, segundo esses teóricos, os principais fatores que favorecem o

desenvolvimento do empreendedorismo corporativo. Apresentaremos a seguir, um quadro

síntese das principais características da organização intra-empreendedora.

Características Autores

Apoio dos gerentes da alta

administração a autonomia

e participação.

ANTONCIC (2007), BRINGHENTI et al. (2005), CHRISTENSEN (2005),

DORNELAS (2003), HASHIMOTO (2006), HISRICH E PETERS (2004),

KURATKO e HORNSBY (1996), PINCHOT III (1989), PINCHOT e

PELLMAN (2004).

Transmissão da missão, da

visão e dos objetivos

estratégicos para a base

DORNELAS (2003), HASHIMOTO (2006), KURATKO e HORNSBY (1996),

PINCHOT e PELLMAN (2004).

Liberdade para que os

demais níveis estabeleçam

suas próprias estratégias de

ação

HASHIMOTO (2006), PINCHOT e PELLMAN (2004).

Funcionários e equipes

dotados de autonomia /

empowerment

BOM ÂNGELO (2003), DORNELAS (2003), HASHIMOTO (2006),

PINCHOT III (1989), PINCHOT e PELLMAN (2004).

Descentralização do

processo decisório

DORNELAS (2003), HASHIMOTO (2006), PINCHOT III (1989), PINCHOT e

PELLMAN (2004).

Comunicação intensa e

aberta, em todos os níveis

ANTONCIC (2007), BRINGHENTI et al. (2005), COZZI e ARRUDA (2004),

FILLION (2004), HASHIMOTO (2006), MACHADO e ZOTTES (2005),

PINCHOT e PELLMAN (2004).

Livre acesso às informações

necessários ao trabalho e às

estratégias

ANTONCIC (2007), BOM ÂNGELO (2003), BRINGHENTI et al. (2005),

DORNELAS (2003), FILLION (2004), HASHIMOTO (2006), PINCHOT e

PELLMAN (2004).

Auto-seleção / Permissão

para contribuiçoes

voluntárias

BOM ÂNGELO (2003), HISRICH E PETERS (2004), PINCHOT III (1989),

PINCHOT e PELLMAN (2004).

Senso de comunidade

(inexistência de conflitos)

CHRISTENSEN (2005), PINCHOT III (1989), PINCHOT e PELLMAN

(2004).

Reconhecimento e

recompensa pelas

iniciativas, inovações e

resultados obtidos.

ANTONCIC (2007), BOM ÂNGELO (2003), BRINGHENTI et al. (2005),

CHRISTENSEN (2005), COZZI e ARRUDA (2004), DORNELAS (2003),

DRUCKER (2005), HASHIMOTO (2006), HISRICH e PETERS (2004),

KURATKO e HORNSBY (1996), PINCHOT III (1989), PINCHOT e

PELLMAN (2004).

Políticas de recrutamento e

seleção para favorecer

competências

empreendedoras

DRUCKER (2005), FILLION (2004), HASHIMOTO (2006), PINCHOT e

PELLMAN (2004).

Capacitação para reforçar

competências

empreendedoras

ANTONCIC (2007), BOM ÂNGELO (2003), COZZI e ARRUDA (2004),

DORNELAS (2003), DRUCKER (2005), FILLION (2004), HASHIMOTO

(2006), HISRICH e PETERS (2004).

Políticas de retenção

(carreira/promoções)

valorizando competências

empreendedoras

BOM ÂNGELO (2003), PINCHOT III (1989).

Avaliação de desempenho

levando em conta

competências

empreendedoras

DRUCKER (2005), FILLION (2004), HASHIMOTO (2006), HISRICH e

PETERS (2004), PINCHOT e PELLMAN (2004).

IV CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO Responsabilidade Socioambiental das Organizações Brasileiras

Niterói, RJ, Brasil, 31 de julho, 01 e 02 de agosto de 2008

IV CNEG

9

Tolerância aos erros

/aprendizado

BOM ÂNGELO (2003), BRINGHENTI et al. (2005), DORNELAS (2003),

HASHIMOTO (2006), HISRICH e PETERS (2004), KURATKO e HORNSBY

(1996), PINCHOT III (1989), PINCHOT e PELLMAN (2004).

Quadro 1 – Síntese das principais características de uma organização intra-empreendedora.

Fonte: elaborado pelos autores.

Os fatores ou características intra-empreendedores precisam se fazer presentes, em

maior ou menor intensidade, nos modelos de gestão estratégica e de gestão de pessoas de

organizações para caracterizar uma organização intra=empreendedora..

4 O setor têxtil

Conforme dados da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (ABIT),

referentes ao ano de 2006, o Brasil possui cerca de 30 mil empresas no setor têxtil e é

destaque no setor, pois (a) é o 7º maior produtor têxtil do mundo; (b) é auto-suficiente na

produção de algodão; (c) produz 7,2 bilhões de peças de vestuário/ano; (d) é o 2° maior

produtor mundial de índigo; (e) é o 3° maior produtor mundial de malha; (f) é o 5° maior

produtor mundial de confecção; (g) é o 7° maior produtor mundial de fios e filamentos; e (h) é

o 8° maior produtor mundial de tecidos.

Participando com 3,1% do PIB (Produto Interno Bruto) total brasileiro e 16,8% no PIB

da Indústria de Transformação, bem como empregando 1,6% da PEA – População

Economicamente Ativa, ou 17,3% dos empregos ofertados pela Indústria de Transformação,

este é um setor de grande importância econômica e forte impacto social, segundo dados

(IEMI/IBGE, 2007).

O Ceará concentra importantes pólos da indústria têxtil e de confecção. Em 2005,

6,24% do faturamento total do setor (que foi de US$ 26,5 bilhões) saiu do Estado, que se

mantém na sexta posição no ranking de participação do Produto Interno Bruto (PIB) da cadeia

têxtil brasileira, conforme dados da FIEC – Federação das indústrias do estado do Ceará.

Quanto às expectativas em relação ao setor têxtil e de confecções cearense, segundo o

Boletim de Conjuntura Econômica do Ceará, divulgado em março de 2007 pelo IPECE

(Instituto de Pesquisa Estratégica e Econômica do Ceará), a indústria cearense tem passado

por grandes oscilações nos últimos anos. A forte concorrência externa aos produtos cearenses,

sobretudo, têxtil e confecções, tem reduzido à capacidade destes segmentos de ampliar suas

produções. A perspectiva para estas indústrias parece melhorar, dado que o Governo Estadual

adotou medidas fiscais objetivando desonerá-las, em parte, para que se tornem mais

IV CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO Responsabilidade Socioambiental das Organizações Brasileiras

Niterói, RJ, Brasil, 31 de julho, 01 e 02 de agosto de 2008

IV CNEG

10

competitivas. No início de novembro de 2006, foi adotada uma nova sistemática de tributação

do setor têxtil e de confecções do estado do Ceará. A medida, que beneficiará indústrias

têxteis e de confecções, além do comércio atacadista e varejista e os fabricantes de insumos,

mudará a forma de pagamento de imposto, zerando o atual sistema de apuração do Imposto

sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), à base de débito e crédito, para o modelo

de pagamento de ICMS antecipado. O mais positivo desse decreto é que estimula as indústrias

a comprarem produtos elaborados no próprio Estado, com menor taxa de ICMS, 3%, ao passo

que as compras realizadas em outros estados serão taxadas em 8%.

5 Análise e interpretação dos dados

Com o intuito de melhor analisar e interpretar os dados coletados para verificar o

atendimento ou não do objetivo deste estudo, esta sessão inicia-se com a caracterização geral

da empresa pesquisada. Em seguida, serão abordados os fatores comportamentais e

processuais que caracterizam o modelo de gestão da referida empresa, na perspectiva da

coordenadora de RH, dos supervisores da produção e dos empregados, conforme os dados

obtidos mediante os instrumentos de coleta.

5.1 Caracterização geral da empresa pesquisada

A Vicunha é a maior indústria têxtil da América Latina, com 40 anos de experiência

no mercado. Empresa de capital aberto e líder em diversos segmentos da indústria têxtil, conta

atualmente com unidades nos estados de São Paulo (8), Ceará (4), Bahia (1), Pernambuco (1)

e Rio Grande do Norte (1).

A reorganização societária, ocorrida entre novembro de 1999 e fevereiro de 2000, no

Grupo, criou a holding Vicunha Nordeste S/A que abrigava, até junho de 2001, todos os

negócios têxteis do Grupo no Nordeste. Contudo, a partir de julho de 2001, a nova empresa

passou a denominar-se Vicunha Têxtil S/A.

Com esta nova estratégia, o Grupo Vicunha se prepara para atuar em mercados mais

amplos, visando particularmente a ALCA - Área de Livre Comércio das Américas, além de

fortalecer sua posição no mercado interno (Brasil). O presidente afirmou haver planos para a

aquisição de unidades no exterior, como nos Estados Unidos e México.

A Vicunha IV - foco desta pesquisa, foi fundada em 26 de dezembro de 1968. Sua

razão social inicial era Fiação Nordeste do Brasil Sociedade Anônima (Finobrasa). Em março

de 1998, a Finobrasa foi totalmente incorporada ao Grupo Vicunha, sendo sua razão social

IV CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO Responsabilidade Socioambiental das Organizações Brasileiras

Niterói, RJ, Brasil, 31 de julho, 01 e 02 de agosto de 2008

IV CNEG

11

alterada para Vicunha Nordeste S/A (hoje, Vicunha IV - Fortaleza). Situa-se à Av. Sargento

Hermínio, Zona Urbana, Fortaleza. A unidade pesquisada possui aproximadamente 1000

empregados. Seu principal produto é o fio fiado em filatório de anel, produzindo em média

1320 toneladas de fio por mês.

O principal mercado interno da Vicunha Nordeste engloba as regiões Sul e Sudeste do

país e os principais mercados externos são a América do Norte e os países da América Latina

– particularmente, fios para a Argentina, Chile e Uruguai, e índigo para a Argentina, Paraguai

e Colômbia. Do total das exportações da Vicunha Nordeste, 40% destinam-se para a América

do Sul, 40% para os Estados Unidos e os 20% restantes seguem, sobretudo, para a Europa.

Todas as unidades fabris possuem um compromisso com a qualidade/modernidade, o

que pode ser constatado por meio da certificação ISO 9000 para todas as suas linhas de

produtos no ano de 1998. Um significativo investimento na área da informatização e da

tecnologia, a contínua aplicação de recursos na capacitação profissional, o empenho na

qualidade de vida da comunidade e o respeito ao meio ambiente caracterizam o Grupo

Vicunha, permanecendo como referencial para todas as suas organizações, o que certamente,

tem sido decisivo para o êxito de sua competitividade.

5.2 Análise do modelo de gestão da Vicunha Têxtil

Um modelo de gestão corresponde a um conjunto coerente que engloba um sentido de

missão, de processos, de técnicas, de instrumentos, de comportamentos, de relacionamentos e

de dinâmicas que organizam as funções organizacionais para produzir resultados

organizacionais. Nesse sentido, um modelo de gestão representa a a base filosófica, conceitual

e instrumental da gestão de uma organização. (FERRAZ, 2006)

Para fins analíticos, o modelo de gestão intra-empreendedor foi decomposto nas

características e fatores inseridos no Quadro 1, acima. Na coleta de dados, foram utilizados 21

itens de verificação, seguimentos no grupo dos fatores comportamentais e no grupo de fatores

processuais e instrumentais, cuja síntese das observações recolhidas em campo constam da

Tabela 1, abaixo.

TABELA 1 – Síntese dos Fatores de Intra-empreendorismo na Operação

1.FATORES COMPORTAMENTAIS SA FA +POS RA NA NS -NEG

a. Autonomia no trabalho 41% 34% 75% 14% 08% 03% 25%

b. Liberdade para propor engajamentos no trabalho 39% 20% 59% 18% 18% 05% 41%

c. Supervisores capacitam empregados a evitar erros 63% 27% 90% 3% 4% 3% 10%

e. Acesso irrestrito às informações no trabalho 59% 18% 77% 9% 11% 3% 23%

f. Políticas, diretrizes e normas acessíveis 65% 16% 81% 8% 3% 8% 19%

IV CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO Responsabilidade Socioambiental das Organizações Brasileiras

Niterói, RJ, Brasil, 31 de julho, 01 e 02 de agosto de 2008

IV CNEG

12

g. As equipes discutem os erros de processos de trabalho 46% 24% 70% 8% 9% 13% 30%

h. Gestores obedecem normas e regras convivência 69% 24% 93% 6% 0% 1% 7%

i. Visão e objetivos estratégicos compartilhados 75% 15% 90% 8% 1% 1% 10%

j. As metas de trabalha são claras 59% 19% 78% 8% 4% 10% 22%

k. A empresa disponibiliza tempo para discutir melhorias 40% 23% 63% 9% 20% 8% 37%

l. As informações que afetam a produção são divulgadas 53% 26% 79% 11% 6% 4% 21%

2.FATORES PROCESSUAIS E INSTRUMENTAIS SA FA +POS RA NA NS -NEG

m. Participação no estabelecimento de metas 46% 23% 69% 09% 13% 09% 31%

n. Participação nos resultados 29% 25% 54% 13% 23% 10% 46%

o. Desenvolvimento profissional e multifuncionalidade 45% 21% 66% 23% 09% 02% 34%

p. Programas de incentivo à inovação 41% 25% 66% 13% 10% 11% 34%

q. Empregados se engajam e contribuem para melhorias 38% 28% 66% 21% 05% 08% 34%

r. Reconhecimento e divulgação autorias de melhoria 56% 20% 76% 11% 05% 08% 24%

s. Equipes incorporam melhorias e idéias outras equipes 30% 21% 51% 27% 11% 11% 49%

t. As idéias, inovações e melhorias são premiadas 39% 23% 62% 15% 10% 13% 38%

u. As inovações e melhorias resultam em promoção 33% 28% 61% 13% 08% 18% 39%

v. A empresa mede o nível de satisfação dos empregados 41% 30% 71% 16% 9% 4% 29%

Fonte: Pesquisa direta dos autores, 2007.

Base: 80 sujeitos

NOTAS / LEGENDAS: SA - Sempre Acontece

FA - Frequentemente Acontece

+POS – POSITIVIDADE = AS + FA

RA - Raramente Acontece

NA - Nunca Acontece

NS - Não Sei Dizer

-NEG- NEGATIVIDADE = RA+NA+NS.

A tabulação dos dados foi realizada, considerando as escalas acima indicadas,

compondo um indicador de positividade pelo somatório dos pontos obtidos nas opções (SA)

sempre acontece e (FA) acontece freqüentemente. Em contrapartida, constitui-se um segundo

indicador de negatividade pelo somatório das alternativas (Ra) raramente acontece, (NA)

nunca acontece e (NS) não sei dizer.

5.2 Modelo de gestão da Vicunha Têxtil: fatores comportamentais

Para se chegar ao objetivo geral pretendido, estabeleceu-se como primeiro objetivo

específico a identificação dos fatores comportamentais caracterizadores do modelo de gestão

da organização pesquisada, na perspectiva dos gestores e dos empregados da produção.

Autonomia de trabalho – A autonomia no trabalho é um conceito amplo, que pode ser

melhor compreendido pela liberdade para propor engajamentos no trabalho distintos daqueles

nos quais o empregado foi investido, mas também nas atitudes dos supervisores de equipe que

diante da incidência de erros, além do acesso dos empregados às informações necessárias ao

processo produtivo.

IV CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO Responsabilidade Socioambiental das Organizações Brasileiras

Niterói, RJ, Brasil, 31 de julho, 01 e 02 de agosto de 2008

IV CNEG

13

Na perspectiva da coordenadora de RH e dos supervisores, estes apresentaram

opiniões alinhadas, pois todos confirmaram que possuem autonomia para efetuar suas funções.

Segundo a coordenadora de RH, “somente quando uma decisão é mais corporativa é que a

direção é comunicada.[...] Dentro das funções, cada um tem sua autonomia para resolver seus

problemas”. Os supervisores apresentaram o mesmo discurso. Um deles afirmou que “a

autonomia existe para que as coisas fluam”.

A visão dos superiores é reforçada pelos empregados que apresentam um indicador de

positividade de 75%, destacando-se de maneira forte as atitudes dos supervisores que buscam

em permanência os empregados para evitar, corrigir e aprender. Esse fato é esencialmente

para a constituição de um clima de confiança e de auxílio mútuo, rompendo as hierarquias

tradicionais estranhas ao intra-empreendedorismo. Ainda no relacionamento entre superiores

e subordinados, o supervisor da fiação/acabamento, relata que “o relacionamento, atualmente,

é muito bom. É uma direção aberta que dialoga e não impõe uma maneira de se trabalhar. [...]

Pode-se sugerir uma maneira caso seja melhor que a atual, mas tudo é dialogado antes”. Da

mesma forma, a coordenadora de RH afirma que “a relação hoje é muito boa, o gerente

industrial busca reunir todos no processo”.

Entretanto, a liberdade de propor engajamentos na composição das equipes de trabalho,

em formatação distinta àquela constituída por determinação do supervisor ainda não parece se

processar com facilidade, já que o indicador de negatividade nesse item de verificação se

eleva a 41%, influenciando, talvez, uma parcela ponderável dos empregados (25%) que

afirmam não possuir qualquer autonomia no trabalho e o acesso restrito à informação (23%).

Essa informação se contrapõe ao consenso que se observa entre os supervisores e a

coordenação de RH acerca do franqueamento das informações relevantes: “tudo é disponível

e acessível, desde documentos a chefes”, segundo o supervisor de preparação. “a PO

(procedimentos operacionais) é colocada na própria seção para tirar dúvidas”, na informação

do supervisor da fiação/acabamento, que afirma estarem todas as informações referentes à

segurança e qualidade afixadas no local de trabalho, além da acessibilidade dos superiores

hierárquicos. O supervisor da retorção alerta que “se alguma informação não for passada, é só

esperar que algo vai acontecer de errado e a gente vai ser cobrado por isso”. Nessa questão,

destaca-se o setor de acabamento, onde 67% (sessenta e sete por cento) responderam que a

transparência em relação às informações sempre acontece. O setor que mais debate os erros e

novas proposições é o da retorção, segundo 90% (noventa por cento) dos seus empregados.

IV CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO Responsabilidade Socioambiental das Organizações Brasileiras

Niterói, RJ, Brasil, 31 de julho, 01 e 02 de agosto de 2008

IV CNEG

14

Em contrapartida, o setor do acabamento é o menos participativo, com somente 33% (trinta e

três por cento) afirmando que esse comportamento sempre acontece, contra 29% (vinte e nove

por cento) registrando um “nunca acontece”.

Processo decisório e participação

O processo decisório da organização intra-empreendedora está focada no longo prazo

e na visão de futuro comunicadas pelas lideranças (|DORNELAS, 2003). Pinchot (1989)

lembra que os intra-empreendedor precisa estar investido de poder para agir e tomar decisões

no processo de trabalho. Para a coordenadora de RH, existe a preocupação de que todos

estejam envolvidos neste processo, desde o gerente industrial, passando pelos chefes de

fábricas e supervisores até os empregados: “essa interação existe e é fundamental”. Os

supervisores confirmaram esta visão já que precisam estar envolvidos diretamente em todas as

questões relacionadas à base operacional. O supervisor da retorção relata que isso se dá pelo

fato de “não existirem barreiras na produção”. O supervisor da preparação argumenta que

muitas vezes o envolvimento é apenas para aqueles que estão cientes da situação, sem

necessidade de intromissão. Já o supervisor da fiação/acabamento afirma que “o

envolvimento é total para que as metas sejam atingidas”.

Quando questionados sobre até que nível a base operacional e as gerências são

envolvidos nas decisões relativas a toda a empresa, todos os supervisores foram unânimes em

falar na questão da segurança e qualidade na fábrica. A coordenadora de RH explica que se

trata de um processo diário, que não haverá resultado caso seja feito uma ou duas palestras

por ano. “Trata-se de conscientizar e treinar”. Já o supervisor da retorção afirma que “tudo

que é meta, é meta para todo mundo.[...] nada aqui é discutido somente a nível superior ou em

nível de base”.

Na perspectiva dos empregados, a positividade relacionada com o processo decisório é

bastante elevada, atingindo 90% na postura dos supervisores que se relacionam ao respeito às

regras de convivência e na participação e respeito destes pelas decisões que emanam do grupo

de trabalho e da disponibilização de normas, diretrizes e padrões. Surpreendentemente,

entretanto, há cerca de 30% dos empregados que se afirmam excluídos das discussões sobre

melhorias dos grupos.

IV CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO Responsabilidade Socioambiental das Organizações Brasileiras

Niterói, RJ, Brasil, 31 de julho, 01 e 02 de agosto de 2008

IV CNEG

15

Comunicação

Para Hartman (2006), é necessário que a visão e a missão, além dos os referenciais

estratégicos e competitivos da organização,inclusive objetivos, os padrões de relacionamento

com os clientes e os programas de incentivo sejam comunicados e disseminados entre os

empregados. Sem uma comunicação eficaz a alienação se estabelece facilmente, ameaçando a

fluidez do processo decisório.

As informações na Vicunha possuem elevado nível de padronização, de acordo com a

coordenadora de RH. Esses informativos são fixados em quadros de avisos em pontos

estratégicos por toda a empresa, sendo os principais meios de comunicação com os

empregados da produção. O recurso aos emails, aos jornais, à intranet, às palestras e às

reuniões também são frequentes. Segundo ela, os meios são eficazes pois “existem limitações

[...]pessoas que não se habituaram a ler os informativos nos quadros de avisos”. Todos os

supervisores convergem com a opinião da coordenadora de RH e todos ressaltam a posição

estratégica dos quadros de avisos principalmente o que se encontra na entrada da empresa e o

perto da entrada do restaurante. O supervisor da fiação/acabamento afirmou que os

supervisores também são utilizados como multiplicadores de informação, pois algumas

notícias antes de sair são repassadas primeiro para a supervisão, até para eles poderem

explicar as informações aos empregados. Segundo ele, “pode-se dizer que é quase 90% de

eficácia” os métodos de veiculação da informação.

Os empregados manifestam um indicador de positividade de 90% no

compartilhamento dos referenciais estratégicos da organização. Mas a sobrecarga de tempo no

trabalho incomoda a cerca de 37% dos empregados, que afirmam não encontrar tempo para

pensar e debater melhorias. Muitas vezes, as metas não parecem claras para 21% dos

empregados, que identificam obstáculos à livre circulação das informações.

O setor mais alinhado às políticas e normas da empresa é o da fiação, com 76%

(setenta e seis por cento) dos empregados afirmando que as metas e objetivos são sempre

divulgados. Já o setor com menor índice de percepção é o do acabamento pois 57%

(cinqüenta e sete por cento) das opiniões dos empregados indicaram reduzida transparência.

A tabulação de todos os itens de verificação relacionados com os fatores

comportamentais revelam um indicador de positividade expressivo, de 78%, com predomínio

absoluta da opção “sempre acontece”. Entretanto, afirmar manter-se à margem dos processos

compartamentais um número ainda significativo de 22% dos empregados da produção que

IV CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO Responsabilidade Socioambiental das Organizações Brasileiras

Niterói, RJ, Brasil, 31 de julho, 01 e 02 de agosto de 2008

IV CNEG

16

sustentam o indicador de negatividade. Dessa maneira, que de uma maneira geral, a primeira

suposição desta pesquisa, de que a organização dá autonomia aos gestores e empregados para

que estes executem seu trabalho da melhor forma possível, evitando burocracias

desnecessárias que só engessam o processo. As decisões que afetam somente seu processo de

trabalho podem ser tomadas sem a necessidade da participação direta das gerências. Tanto os

empregados da produção como seus supervisores têm acessibilidade aos seus superiores

hierárquicos, aumentando assim a rapidez do processo. A comunicação é bem disseminada e

sempre está a procura de meios para atingir todos na organização. Assim, com base nas

informações até aqui apresentadas, observa-se que, quanto aos fatores comportamentais, o

modelo de gestão da organização pesquisada mostra-se com elevado nível de intra-

empreendedor.

5.3 Modelo de gestão da Vicunha Têxtil: fatores processuais e instrumentais

Como segundo objetivo específico, buscou-se a identificação dos fatores processuais

que caracterizam o modelo de gestão da organização estudada, ainda na perspectiva dos

gestores e dos empregados da produção. Este objetivo apoiou-se no pressuposto de que a

organização se caracteriza pela concepção e gerenciamento participativo de metas e

indicadores e pela consolidação de compartilhamento de resultados, no reconhecimento das

inovações e contribuições de melhoria. Um pouco diferente de como os fatores

comportamentais foram tratados, aqui os fatores processuais foram divididos em dois blocos,

sendo o primeiro referente à gestão estratégica e o segundo referente à gestão de pessoas.

Gestão estratégica

Neste bloco, foram abordados os fatores relativos à formulação de metas e indicadores

e o compartilhamento de resultados. Sobre como as metas de produção são estabelecidas e

monitoradas, o supervisor da preparação diz que quando as metas são aumentadas por

solicitação do cliente, elas são repassadas aos empregados que sempre podem alcançá-las.

“Nunca é pedido o sacrifício dos colaboradores”. Os resultados são gerenciados através da

produção das máquinas que emitem a quantidade produzida no dia (todos os turnos), que são

contabilizadas graficamente. O supervisor da retorção explica que através do PCP

(Planejamento e Controle da Produção), recebe informações diárias dos clientes e do estoque,

as quais são repassadas para a produção na forma de metas a serem atingidas. “Algumas

metas são tratadas na própria produção, como metas de qualidade, custos, acidentes”. O

IV CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO Responsabilidade Socioambiental das Organizações Brasileiras

Niterói, RJ, Brasil, 31 de julho, 01 e 02 de agosto de 2008

IV CNEG

17

supervisor da fiação/acabamento explica que as quantidades que são enviadas para o PCP são

analisadas e passadas para a gerência intermediária que as repassa para os supervisores e estes

repassam para os arreadores a quantidade que produzida no dia anterior. Observa-se se houve

perda na produção e, em caso afirmativo, busca-se identificar se isso aconteceu devido às

máquinas ou à equipe. Assim, verificou-se que os empregados não participam da elaboração

das metas, pois elas apenas são repassadas a um nível que eles possam cumpri-la.

Na perspectivaa dos empregados, a participação no estabelecimento de metas faz

elevar o item de positividade para 69%, permanecendo significativo o número de empregados

da produção que afirmam não se envolverem suficientemente nessas atividades (31%). Ë na

participação nos resultados, entretanto, que os empregados da produção afirmam um dos mais

elevados índices de negatividade (46%) obtido na pesquissa. É novamente no setor de

acabamento onde o mais baixo percentual (19%) de participação se apresenta, ao lado de

outros 24% (vinte e quatro por cento) que afirmam nunca terem sido envolvidos nesses

processos. Em contrapartida, a área mais participativa na elaboração de metas de segurança e

qualidade é o da preparação, visto que 65% (sessenta e cinco por cento) afirmaram que tem

papel ativo no processo, indicando elevada lacuna na gestão participativa que subentende o

modelo intra-empreendedor.

Gestão de Recursos Humanos

Segundo Hisrich e Peters (2004), o comportamento intra-empreendedor se consolida

por meio dos instrumentos de gestão de pessoas (carreira - promoção e desclassificação, os

incentivos, recompensas e reconhecimentos motivacionais.

a) Carreira e capacitação – Refere-se aos elementos que fazem alguém subir na organização

ou às vias de mobilidade e de progressão na carreira. Conforme relata a Coordenadora de RH,

o colaborador deve apresentar qualidade no seu trabalho, interesse, pontualidade,

comprometimento, bom relacionamento com seus companheiros e superiores e procurar

sempre se capacitar. Em suas palavras: “O colaborador deve buscar seu autodesenvolvimento

e não esperar apenas pela empresa”.

No entanto, os gestores foram unânimes ao afirmar que, mesmo que o funcionário não

procure seu autodesenvolvimento, a empresa lhe oferece condições de capacitação, ampliando

assim a competência profissional do mesmo. “Com certeza. Todo ano é feito o LNT

(Levantamento de Necessidade de Treinamento) para capacitar ou desenvolver o colaborador”

salienta a coordenadora de RH. Já o supervisor da retorção é seguro ao afirmar que “a

IV CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO Responsabilidade Socioambiental das Organizações Brasileiras

Niterói, RJ, Brasil, 31 de julho, 01 e 02 de agosto de 2008

IV CNEG

18

capacitação aqui é muito séria, eu particularmente já fiz vários cursos aqui dentro”. Os cursos

são destinados de acordo com o perfil de cada colaborador. O supervisor da preparação

ressalta que “dentro do setor, o funcionário já é treinado para ser polivalente para o melhor

andamento da produção. É um processo de longo prazo para evitar acidentes”. O supervisor

da fiação/acabamento acrescenta que a empresa oferece essa condição desde o momento em

que o funcionário é admitido, quando ele já recebe treinamento para executar sua função.

Além disso, a empresa oferece um curso supletivo, bem como cursos em parceria com o

SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial, além de flexibilizar horários para

estudos. “O interesse da empresa é pela seleção interna” finaliza o mesmo supervisor.

A questão da capacitação interna está intimamente ligada ao número de funcionários

polivalentes na produção. Segundo o supervisor da preparação, “a própria produção exige que

eles sejam polivalentes”. Já o supervisor da retorção destaca este fato como um diferencial

competitivo para quem quer progredir na empresa quando diz que “hoje a concorrência

aumentou e as pessoas querem crescer [...] elas tem vontade de aprender para não ficar só ali”.

O indicador de positividade na questão relativa à capacitação e asseverada por 66%

dos empregados, contra 34% que afirmam não perceber esse esforço organizacional, em parte

coerente com o que afirmou a profissional de recursos humanos, em destacando o

autodesenvolvimento. O incentivo à capacitação é melhor percebido no setor de retorção,

visto que 60% (sessenta por cento) dos empregados afirmaram que este estímulo sempre

ocorre. Já no setor de fiação, apenas 38% (trinta e oito por cento) afirmaram que isso sempre

acontece. Assim, pressupõe-se que este setor tenha pouca necessidade de polivalência.

b) Incentivos / Motivações - Quando indagada se a Vicunha possuía um programa de

estímulo para a criação de melhorias, a coordenadora de RH argumentou que existe apenas

uma ação pontual, mas não um programa específico. No entanto, a empresa possui a cultura

de dar méritos a quem dá contribuições de melhoria. Segundo ela, sempre que um colaborador

traz algo de novo para a empresa, tem-se o cuidado de divulgar através dos informativos, com

foto do colaborador.

Os empregados identificaram esses programas pontuais como programas de incentivo

à inovação, com 66% de positividade. Novamente, a negatividade se mostra elevada em 34%,

denotando um grupo expressivo da produção que não se anima com o reconhecimento das

melhorias propostas nos processos industriais da Vicunha. Esses incentivos são mais

facilmente identificados no setor do acabamento, onde 48% (quarenta e oito por cento) dos

IV CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO Responsabilidade Socioambiental das Organizações Brasileiras

Niterói, RJ, Brasil, 31 de julho, 01 e 02 de agosto de 2008

IV CNEG

19

empregados afirmaram que sempre são incentivados por tais programas contra apenas 5%

(cinco por cento), que salientaram que isso nunca aconteceu. Já no setor de fiação, até mesmo

esses programas pontuais são pouco identificados, pois apenas 38% (trinta e oito por cento) os

classificaram como sempre freqüentes e outros 14%(quatorze por cento) assinalaram que tais

estímulos nunca aconteceram, e 14% (quatorze por cento) não souberam responder.

Embora pautada em ações pontuais, 76% dos empregados atribuem crédito ao

reconhecimento e divulgação das autorias de melhorias implementadas na Vicunha. Na

produção, as contribuições são mais práticas, pois os empregados também participam da

resolução dos problemas. Segundo o supervisor da retorção, diariamente surgem idéias de

melhoria e “quando a gente recebe uma reclamação que o fio está de baixa qualidade [...] para

a gente melhorar o processo são injetadas idéias dos próprios empregados”. Ainda conforme

sua opinião, não podem existir empecilhos para dar contribuições, pois “se tiver barreiras, a

fábrica vai perder competitividade. [...] A gente aprendeu a trabalhar de uma forma que todo

mundo tem que se ajudar, todo mundo tem que pensar no melhor da fábrica e do processo”. O

supervisor da preparação ressalta que sempre há treinamentos, os empregados são solicitados

a dar sugestões de melhoria. Já o supervisor da fiação/acabamento é categórico ao afirmar que

as contribuições existem sim “principalmente no que vem ajudar o trabalho deles”. Ele

exemplifica citando o caso da implantação de uma esteira para que o colaborador não precise

mais se abaixar, evitando assim dores nas costas. O funcionário que sugeriu a mudança foi

reconhecido e, como recompensa, recebeu um aparelho de som. A retorção é o setor que mais

participa dessas contribuições, já que 90% (noventa por cento) afirmaram que essas

contribuições sempre ocorrem ou ocorrem freqüentemente. O setor da fiação apresentou o

menor potencial, pois 28% (vinte e oito por cento) afirmaram que essas melhorias sempre

acontecem e outros 10% (dez por cento) não souberam dizer ou afirmaram que isso nunca

acontece.

Quanto à incorporação das idéias de pessoas de outras equipes, o que evidencia o

senso de comunidade em sentido amplo e a ausência de territorialismos dentro da organização,

apenas 49% de negatividade, a mais baixa aderência ao conceito de intra-empreendorismo,

sugerindo que a comunicação intercélulas na Vicunha ainda é restrita.

Em relação à premiação referente a proposição de novas idéias e contribuições de

melhoria, o índice de positividade situam-se em 62%, denotando elevado índice de

empregados que não se acham reconhecidos pela empresa. Eles também registram a falta de

IV CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO Responsabilidade Socioambiental das Organizações Brasileiras

Niterói, RJ, Brasil, 31 de julho, 01 e 02 de agosto de 2008

IV CNEG

20

impacto das inovações e das contribuições de melhoria sobre as promoções. No geral, todos

os setores tiveram baixo percentual neste quesito, exceto a retorção, no qual 60% (sessenta

por cento) dos funcionários afirmam que as contribuições sempre influem nas promoções.

Pressupõe-se que são verificados neste setor o maior número de empregados selecionados

para promoções internas.

Ao observar as perspectivas apresentadas, verifica-se que a organização não procura

incentivar e motivar seus empregados a inovar e a propor melhorias, porém as inovações

surgem para facilitar as tarefas da produção. A organização evidencia a necessidade de

aprimorar esse processo dando mais formalidade à maneira de coletar as sugestões e

principalmente desenvolver programas de incentivos à inovação, pois pode estar deixando

escapar muitas idéias inovadoras.

c) Avaliação de desempenho e recompensas – A coordenadora de RH relatou a existência

do processo de avaliação de desempenho na Vicunha. Quando o colaborador participa de um

treinamento, ele é avaliado para que se identifique a eficácia do treinamento ou as possíveis

dificuldades de assimilação das melhorias. Caso o treinamento tenha sido ineficaz, ele é

reprogramado para que o colaborador o refaça. Em caso de não assimilação, é realizada uma

realocação do colaborador para uma função em que ele se adapte melhor.

A avaliação é tratada individualmente. Para os supervisores da produção, ela pode

repercutir positivamente ou negativamente. Segundo o supervisor da fiação/acabamento, o

funcionário é avaliado desde que ele ingressa na empresa. Quando é bem avaliado, é cogitado

para as seleções internas. Em caso contrário, procura-se fazer treinamentos ou realocá-lo em

outra atividade. A substituição só ocorre quando a pessoa realmente não se adapta, não

apresenta interesse em nenhuma função ou ainda dificulta a realização do trabalho na

produção.

Mesmo com a avaliação de desempenho impactando positivamente ou negativamente

o colaborador, não existe na empresa um programa específico de remuneração por resultados.

A coordenadora de RH explica que “apesar de não existir um programa específico, a Vicunha

procura manter os níveis salariais diferentes de acordo com a importância da função dentro da

produção”.

Diante das informações obtidas, constata-se que o segundo deste estudo foi atendido

parcialmente. Isto porque as equipes de produção não participam do estabelecimento das

metas de produção, embora participem do desenvolvimento de metas de segurança e

IV CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO Responsabilidade Socioambiental das Organizações Brasileiras

Niterói, RJ, Brasil, 31 de julho, 01 e 02 de agosto de 2008

IV CNEG

21

qualidade. Atualmente não existe participação nos resultados por desempenho, o que não

caracteriza uma modelo de gestão intra-empreendedor. Quanto aos fatores da gestão de

pessoas, observou-se que alguns quesitos contribuíram para o não atendimento total do

pressuposto, embora a empresa proporcione condições para ampliação profissional e

polivalência dos seus empregados, apesar de não existirem programas específicos de

incentivos e motivações, apenas ações pontuais. As autorias e contribuições de melhoria são

divulgadas internamente. Embora elas sejam identificadas, os empregados não vêem como

elas influenciem o sistema de promoção da empresa. Não existe um programa de remuneração

variável ou algum outro tipo de bônus que poderia ser incorporado à remuneração total

mensal daqueles que contribuem com idéias que geram uma inovação ou uma melhoria de

fato.

Dessa maneira, com base nas informações abordadas até aqui, conclui-se que, quanto

aos fatores processuais, o modelo de gestão da organização pesquisada tem ainda um longo

percurso a ser trilhado, pois lhe falta instrumentos de apoio e de reforço ao comportamento

intra-empreendedor.

6 Conclusão

Com base nos resultados obtidos, pudemos verificar que o modelo de gestão da

organização já possui nítidas características que caracterizam uma uma organização intra-

empreendedora. Constata-se que as práticas intra-empreendedoras existentes na fábrica têm

como principal objetivo facilitar o processo de trabalho já existente e não necessariamente o

incentivo à inovação, como forma de gerar competitividade. Adicionalmente, há necessidade

de serem desenvolvidos processos, instrumentos de reforço e de incentivos na gestão de

pessoas, carente de incentivos, de instrumentos motivacionais e, principalmente, de

recompensas objetivas e não apenas simbólicas como as que existem na Vicunha.

Em vista da maturidade dos programas de qualidade mantidos pela Vicunha e o seu

prolongado histórico de boas práticas administrativas, infere-se que a organização se encontra

em transição, rumo a um modelo intra-empreendedor de gestão, que se sustenta nos fatores

referenciais estratégicos, nos comportamentos e nos processos de gestão estratégica. O

elevado nível de autonomia de trabalho, de descentralização das decisões, de acessibilidade

aos superiores hierárquicos, compartilhamento de conhecimentos e a comunicação abrangente.

Já dentre os fatores processuais é possível citar o interesse da organização em capacitar seus

IV CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO Responsabilidade Socioambiental das Organizações Brasileiras

Niterói, RJ, Brasil, 31 de julho, 01 e 02 de agosto de 2008

IV CNEG

22

funcionários prezando pela polivalência dos mesmos. Tal perspectiva poderá ser verificada,

talvez, pelo desenvolvimento de um estudo logitudinal que permita capturar a dinâmica de

desenvolvimento que este estudo sugere.

7 Referências

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA TÊXTIL. A Cadeia Têxtil e de Confecção:

Panorama Atual. Curitiba: ABIT, 2006.

ANTONCIC, Bostjan. Intrapreneurship: a comparative structural equation modeling study.

Industrial Management & Data Systems, v. 107, n. 3, p. 309-325, 2007.

ANTONCIC, Bostjan; HISRICH, Robert D. Clarifying the Intrapreneurship concept. Journal

of Small Business and Enterprise Development. v. 10, n. 1, p. 7-24, 2003.

BOM ANGELO, Eduardo. Empreendedor corporativo: a nova postura de quem faz a

diferença. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003.

BRINGHENTI, M.; LAPOLLI, E. M.; FRIEDLAENDER, G. M. S. Preparando-se para

empreender. In: Encontro Anual da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação

em Administração – ENANPAD – ENANPAD, XXIX, 2005, Brasília-DF. Anais... Brasília:

ANPAD, 2005, 1 CD ROM.

CARRIER, Camille. Intrapreneurship in large firms and SMEs: A comparative

study. Carrier. International Small Business Journal. v.12, n.3, p. 54-58, abr./jun., 1994.

CHIEH, Nelson; Andreassi, Tales. Intra-empreendedorismo: Um Estudo de Caso sobre o

Entendimento e a Aplicação dos Fundamentos Organizacionais Associados ao Termo. Anais

EnANPAD, 2007.

CHRISTENSEN, Karina Skovvang. Enabling intrapreneurship: the case of a knowledge-

intensive industrial company. European Journal of Innovation Management, v. 8, n. 3, p.

305-322, 2005.

COZZI, Afonso Otávio; ARRUDA, Carlos. Desenvolvendo a capacidade empreendedora

de uma organização. Anais EneO, 2004.

DORNELAS, José Carlos Assis. Empreendedorismo corporativo: como ser

empreendedor, inovar e se diferenciar em organizações estabelecidas. 2. ed. Rio de

Janeiro: Elsevier, 2003.

DRUCKER, Peter Ferdinand. Inovação e espírito empreendedor (entrepreneurship):

prática e princípios. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2005.

FEDERAÇAO DAS INDÚSTRIAS DO ESTADO DO CEARÁ. Jornal da FIEC. Disponível

em: <http://www.fiec.org.br/publicacoes/jornalfiec/edicoes/200510/default.asp?URL=8>.

Acesso em: 01 de outubro de 2007.

FERRAZ, Serafim Firmo de Souza. Intra-empreendedorismo em empresas cearenses.

Projeto de Pesquisa – PIBIC / UFC, Fortaleza, 2006.

FILION, Louis Jacques. Entendendo os intra-empreendedores como visionistas. Revista

de Negócios, v. 9, n. 2, p. 65 – 80, abr./jun., 2004.

HASHIMOTO, Marcos. Espírito empreendedor nas organizações: aumentando a

competitividade através do intra-empreendedorismo. São Paulo: Saraiva, 2006.

HISRICH, Robert D.; PETERS, Michael P. Empreendedorismo. 5. ed. Porto Alegre:

Bookman, 2004.

IV CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO Responsabilidade Socioambiental das Organizações Brasileiras

Niterói, RJ, Brasil, 31 de julho, 01 e 02 de agosto de 2008

IV CNEG

23

INSTITUTO DE ESTUDOS E MARKETING INDUSTRIAL. Relatório Setorial da

Indústria Têxtil Brasileira IEMI - Brasil Têxtil 2007. Disponível em: < http://www.iemi.com.br/novo/textil.htm> Acesso em: 01 de outubro de 2007.

INSTITUTO DE PESQUISA E ESTRATÉGIA ECONÔMICA DO CEARÁ. Boletim de

Conjuntura Econômica do Ceará - 2006. Disponível em:

<http://www.ipece.ce.gov.br/estudos_macro/industria_transformacao/>. Acesso em: 01 de

outubro de 2007.

KURATKO, Donald F.; HORNSBY, Jeffery S. Developing an Entrepreneurial Perspective

in Contemporary Organizations. 1996. Disponível em:

<http://sbaer.uca.edu/research/usasbe/ 1996/pdf/15.pdf>. Acesso em 02 ago. 2007.

MACHADO, Ricardo José da Silva; ZOTES, Luis Perez. Em busca dos fatores críticos de

sucesso para a implantação e uma gestão intra-empreendedora. II Seminário de Gestão de

Negócios da UniFAE Centro Universitário, 2005.

OLIVEIRA, Djalma de Pinto Rebouças de. Governança Corporativa na prática: integrando

acionistas, conselho de administração e diretoria executiva na geração de resultados. São

Paulo: Atlas, 2006.

PINCHOT III, Gifford. Intrapreneuring – por que você não precisa deixar a empresa para

tornar-se um empreendedor. São Paulo: Harbra, 1989.

______; PELLMAN, Ron. Intra-empreendedorismo na prática: um guia de inovação os

negócios. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.

SCHUMPETER, Joseph A. The creative response in economic history. Journal of Economic

History, p. 149-159, nov., 1947.

VERGARA, Sylvia Constant. Projetos e relatórios de pesquisa em administração. 8. ed.

São Paulo: Atlas, 2007.