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Presença de Deus I. Diferença Profunda e Conexão Firme Hans Hermann Henrix “A diferença mais profunda de fé se manifesta na face de conexão firme entre cristãos e judeus. A fé cristã em Jesus Cristo que é da conseqüência da sua crucificação e ressurreição está sendo afirmada que proclamada, não só como o MeShIaH prometido, mas também como o Filho consubstancial de Deus, aparece a muitos judeus como algo radicalmente ‘não-judaico’: vêem-no como contradição absoluta, se não blasfêmia, ao monoteísmo estrito como este está sendo afirmado todos os dias, particularmente por judeus devotos, no ‘SheM`A de Israel’. O cristão precisa entender isso, mesmo se ele mesmo não vê contradição a monoteísmo no ensinar Jesus como Filho de Deus.”1 Isso é como, na sua declaração sobre o relacionamento da Igreja ao Judaísmo, os bispos alemães descrevem o proximidade entre Judaísmo e Cristianismo e o seu limite enquanto a fé cristã em Jesus Cristo está referida. Fazendo assim, dão dois títulos a Jesus Cristo: Messias e Filho de Deus. O desacordo cristão-judaico está centrado nesses dois títulos cristológicos, que são de significância desigual. A ênfase diferente no entender da encarnação é mais profunda que a expectativa messiânica, a qual não é tão central ao Judaísmo como a é ao Cristianismo. Uma ênfase diferente está sendo dada ao assunto messiânico nas duas tradições. Conseqüentemente, a divergência central entre judeus e cristãos jaz, não no título de Messias, mas antes no outro título de Jesus. Cristo, aquele de Filho de Deus, e especialmente a respeito de Deus e a Sua presença – em outras palavras, o entender de Deus e da Sua presença na história e na encarnação do Filho de Deus em Jesus Cristo. Assim, o filósofo ortodoxo judaico Michael Wyschogrod pode dizer: “Os assuntos pendentes mais difíceis entre Judaísmo e Cristianismo são a divindade de Jesus, a encarnação, a Trindade, três conceitos que não plenamente sinônimos, mas que todos eles asseveram que Jesus era, não só um ser humano, mas também Deus. Comparado com essa reivindicação, todas as outras reivindicações cristãs, tais como Jesus como Messias, chegam a ser secundários no máximo.”2 Crítica Judaica O diálogo cristão-judaico hoje madureceu e discussões podem hoje tomar lugar sobre Deus e a encarnação como uma forma muito pessoal da Sua presença. Isso deu surgimentos a várias respostas judaicas e teólogos cristãos devem estar percebentes de vários argumentos e percepções na objeção judaica à encarnação do Filho de Deus. Uma objeção importante está no nível de filosofia (religiosa). O filósofo judaico Emmanuel Levinas examinou o valor da “idéia” da encarnação (do Filho) de Deus, sugerindo que a presença de Deus no mundo seria “muito demais” para a pobreza de Deus e “pequena demais” para a Sua glória [ou:KòBÔD = Ímpeto da Sua essência; Buber: Wucht SEINES Wesens; trad.], sem a qual a Sua pobreza não é abaixamento. Nega que Deus possa chegar a “presença” em

Presença de Deus

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Presença de Deus

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  • Presena de Deus

    I. Diferena Profunda e Conexo Firme

    Hans Hermann Henrix

    A diferena mais profunda de f se manifesta na face de conexo firme entre

    cristos e judeus. A f crist em Jesus Cristo que da conseqncia da sua

    crucificao e ressurreio est sendo afirmada que proclamada, no s como

    o MeShIaH prometido, mas tambm como o Filho consubstancial de Deus,

    aparece a muitos judeus como algo radicalmente no-judaico: vem-no como

    contradio absoluta, se no blasfmia, ao monotesmo estrito como este est

    sendo afirmado todos os dias, particularmente por judeus devotos, no SheM`A

    de Israel. O cristo precisa entender isso, mesmo se ele mesmo no v

    contradio a monotesmo no ensinar Jesus como Filho de Deus.1 Isso como,

    na sua declarao sobre o relacionamento da Igreja ao Judasmo, os bispos

    alemes descrevem o proximidade entre Judasmo e Cristianismo e o seu limite

    enquanto a f crist em Jesus Cristo est referida. Fazendo assim, do dois

    ttulos a Jesus Cristo: Messias e Filho de Deus.

    O desacordo cristo-judaico est centrado nesses dois ttulos cristolgicos, que

    so de significncia desigual. A nfase diferente no entender da encarnao

    mais profunda que a expectativa messinica, a qual no to central ao

    Judasmo como a ao Cristianismo. Uma nfase diferente est sendo dada ao

    assunto messinico nas duas tradies. Conseqentemente, a divergncia

    central entre judeus e cristos jaz, no no ttulo de Messias, mas antes no

    outro ttulo de Jesus. Cristo, aquele de Filho de Deus, e especialmente a

    respeito de Deus e a Sua presena em outras palavras, o entender de Deus e

    da Sua presena na histria e na encarnao do Filho de Deus em Jesus Cristo.

    Assim, o filsofo ortodoxo judaico Michael Wyschogrod pode dizer: Os

    assuntos pendentes mais difceis entre Judasmo e Cristianismo so a divindade

    de Jesus, a encarnao, a Trindade, trs conceitos que no plenamente

    sinnimos, mas que todos eles asseveram que Jesus era, no s um ser

    humano, mas tambm Deus. Comparado com essa reivindicao, todas as

    outras reivindicaes crists, tais como Jesus como Messias, chegam a ser

    secundrios no mximo.2

    Crtica Judaica

    O dilogo cristo-judaico hoje madureceu e discusses podem hoje tomar lugar

    sobre Deus e a encarnao como uma forma muito pessoal da Sua presena.

    Isso deu surgimentos a vrias respostas judaicas e telogos cristos devem

    estar percebentes de vrios argumentos e percepes na objeo judaica

    encarnao do Filho de Deus.

    Uma objeo importante est no nvel de filosofia (religiosa). O filsofo judaico

    Emmanuel Levinas examinou o valor da idia da encarnao (do Filho) de

    Deus, sugerindo que a presena de Deus no mundo seria muito demais para a

    pobreza de Deus e pequena demais para a Sua glria [ou:KBD = mpeto

    da Sua essncia; Buber: Wucht SEINES Wesens; trad.], sem a qual a Sua

    pobreza no abaixamento. Nega que Deus possa chegar a presena em

  • tempo e no mundo, argindo que Deus fica Outredade que no possa ser

    assimilada, absolutamente diferente a qualquer coisa que se manifesta.

    Conseqentemente, fala de da prioridade original de Deus ou validade ltima

    original como considera o mundo, o qual no O pode receber e ou abrig-lO,

    assim Ele no pode chegar a ser encarnado, no pode incluir-se num fim,

    num alvo.3.

    Outra interjeio argi um posterion: o Judasmo no pode aceitar a

    encarnao do Filho de Deus, porque no ouve essa histria, porque a Palavra

    de Deus como est sendo ouvida no Judasmo no conta essa histria e porque

    a f judaica no a testifica.4

    Assim, a partir do ponto de vista judaico, a encarnao no tpico judaico de

    discusso. Isso porque, j na dcada dos 30 do sculo 20, Martin Buber falou

    da ausncia de encarnao de Deus como sendo algo especificamente judaico:

    a ausncia duma encarnao [Inkarnationslosigkeit] do Deus que Se revela

    carne e Que est presente a esta num relacionamento recproco que

    ultimamente separa Judasmo e Cristianismo. Unificamos Deus professando a

    Sua unidade no nosso viver e morrer, no nos unimos a Ele. O Deus, a Quem

    cremos, a Quem somos sendo em louvor, no se une com substncia humana

    na terra.5

    Mais uma objeo como vista por judeus, que as conseqncias de f crist

    na encarnao resultaram em aprofundar o antagonismo sentido por cristos

    referente a judeus.6

    Na teologia catlica, a crtica judaica da encarnao do Filho de Deus est sem

    certamente ouvida atenciosamente.7 Quando telogos refletirem nas

    possibilidades e limites duma recepo crist dessas objees, eles o podem

    fazer com referncia ao entender Cristo do Conclio de Calcednia (451) e da

    assim chamada hermenutica calcednica. O Conclio de Calcednia viu o

    relacionamento de humanidade e divindade em Cristo como sendo no

    misturado e, ao mesmo tempo, no separado. No rosto humano de Jesus de

    Nazar a Palavra de Deus, o Filho divino. Em Jesus, o que humano e o que

    divino no est misturado um com o outro e no pode ser separado um do

    outro. A famosa frmula conciliar diz: Seguindo, ento, os santos padres,

    unimos no ensinar todas as pessoas humanas a confessarem o um e nico

    Filho, nosso Senhor Jesus Cristo. Esse e nico Cristo-Filho, Senhor, gerado

    nico em duas naturezas, e fazemos isso sem confundir as duas naturezas,

    sem transformar uma natureza para dentro da outra, sem dividi-las em duas

    categorias separadas, sem as contrastando segundo rea de funo. A

    distintividade cada natureza no nulificada pela unio. Em vez, as

    propriedades de cada natureza esto conservadas e ambas as naturezas e

    uma pessoa e em uma realidadehypostasis ()8. A guia conciliar permanece

    importante quando a teologia crist responde crtica judaica da encarnao do

    Filho de Deus como forma concreta e pessoal da presena de Deus.

    F Crist na Encarnao

    Os cristos dizem em f: Cremos na Encarnao, que o Filho de Deus chegou a

    ser carne ou chegou a ser pessoa humana em Jesus Cristo. Consideram a

    intimidade entre Deus e a Sua criatura como evento na histria do mundo que

    no caia na terra como um meteorito, mas dentro duma histria especfica de

    presena de Deus no mundo, isso : no encontro entre o Deus de Israel e o

  • povo de Israel. A presena especfica forma a histria do encontro e

    intimidade.

    Na Bblia Hebraica, isso est descrito como habitar de Deus em ou entre o povo

    de Israel. Ento os faz fazer um santurio para Mim, e habitarei entre eles

    (xodo 25,8). O Seu habitar designa aqui forma especial de presena de Deus.

    como Benno Jacob declara no comentrio do livro xodo a completao

    de seres humanos com o Seu esprito e essncia como residir representativo

    entre eles.9. Exatamente esse pensamento desenvolveu-se mais tarde em

    xodo 29,42-46, sendo concretizado no conceito de aliana: A [a tenda de

    encontro] encontrar-Me-ei com o povo de Israel, e serei santificado por

    Meu KBD. E habitarei entre o povo de Israel, e serei seu Deus (xodo 29,

    43-45). Habitar entre o povo de Israel e conseqncia do xodo para fora do

    Egito: assim Ele pode ser seu Deus10. Quando Salomo comeou a construir

    a casa de Deus, o Templo em Jerusalm, Deus disse: Referente a essa casa

    que estais construindo, se andardes nos Meus estatutos e obedecerdes as

    Minhas ordens, observando todos os Meus mandamentos e andardes neles,

    estabelecerei a Minha palavra convosco. E habitarei entre as crianas de Israel

    (1Reis 6,12s.). Deus tem assim dois lugares de morar para a sua presena

    ntima: o Templo e o povo de Israel.11

    A f crist ousa declarar que o evento da encarnao do Filho de Deus Jesus

    Cristo, o nico filho do povo judaico como lugar concreto e nico da inabitao

    de Deus efetuou mudana, no s na histria, mas sim da histria mesma.

    Isso est sendo expressado no Evangelho segundo Joo na sentena climtica

    na teologia do Novo Testamento: E a Palavra chegou a ser carne e habitou

    entre ns. Essa declarao dupla em Joo 1,14 deve ser tomada inteiramente

    a srio: a Palavra chegou a ser carne justamente to importante como e

    habitou entre ns. Segundo Friedrich-Wilhelm Marquardt, o testemunho sobre

    a Palavra chegando a ser carne o mesmo que o testemunho sobre Deus

    fincando a Sua tenda e o Seu nome no meio de Israel.12 A primeira metade do

    versculo diz num modo cristo o que a metade segunda diz num modo

    judaico.

    Durante o curso da histria da Igreja, a linguagem bblica foi transformada para

    outras categorias de fala, assim que categorias judaicas esto no fim

    expressadas filosoficamente. A f de que Deus, o criador de qualquer coisa no

    cu e na terra, desceu pelo Filho e de que a palavra chegou a ser carne

    e pessoa humana muito estranha para entender judaico do Deus de Israel,

    em cujo meio o evento de chegar a ser carne e pessoa humana ocorreu e de

    cujo meio foi para fora naes, no falou em todo, nesse modo, sobre a

    presena ou proximidade de Deus, mesmo embora tivesse e continua ter

    introspeces profundas e ntimas na presena e proximidade de Deus. A

    maioria do povo judaico no ouvia isso, porque a Palavra de Deus, como ela a

    entendia, no lhe contava isso.

    Comentando a presena de Deus, o cientista judaico ortodoxo Michael

    Wyschogrod no receava de escolher uma frase para caracterizar Judasmo, a

    qual a primeira vista parece como a anttese ao que Buber disse sobre a falta

    de encarnao. O Deus de Israel um Deus que entra no mundo humano e

    que, fazendo isso, no receia de parmetros de existncia humana, inclusive

    espacialidade. verdadeiro que o Judasmo nunca esqueceu a dialtica, a

    transcendncia de Deus. Mas essa transcendncia permanece em tenses

  • dialticas com o Deus que vive com Israel na impureza deste (Lv 16,16), que

    companheiro ntimo dos judeus, seja no Templo de Salomo ou seja em

    milhares de salas de orao. Assim, Judasmo internacional se

    entendermos esse conceito como significando que Deus entra no mundo

    humano, que aparece em certos lugares e vive ali, assim que esses cheguem a

    ser por isso santos. Segundo Wyschogrod, no h razes dentro da essncia

    da idia judaica de Deus, que exclua a priori a presena em forma humana

    de Deus.13 Segundo essa posio, a idia da encarnao em geral no est

    antittica a Judasmo.14

    Uma Resposta Crist

    O qu que um cristo possa dizer crtica judaica da f crist na encarnao

    do Filho de Deus em Jesus Cristo e ao entender judaico do habitar de Deus

    entre o povo de Israel ou at ao auto-entendimento encarnacional dum

    pensador judaico como Michel Wyschogrod? A resposta ser, no filosfica, mas

    sim teolgica. Podemos comear com Wyschogrod. Era, no a vitria duma

    idia filosfica, mas antes a deciso livre do Deus soberano de Israel assumir o

    Seu habitar no nico Filho do povo judaico, Jesus de Nazar, em tal modo que

    ns cristos no podemos mais falar de Deus sem incluir o Seu relacionamento

    a esse Filho. Na nossa descrio de Deus, acompanhando essa estada, no

    podemos corresponder com um conceito melhor do que aquela Palavra ou

    aquele Filho de Deus chegou a ser carne. Aqui devemos outra lembrar a

    declarao dupla em Joo 1,4: E a Palavra chegou a ser carne e habitou/viveu

    entre ns. Segundo entender joanino, o testemunho referente palavra que

    foi feita carne o mesmo que o testemunho referente ao habitar ou viver de

    Deus em Israel. Esse era o testemunho dado a partir do meio de Israel a

    cristos de entre as naes, como o feito livre do Deus de Israel ao Filho do

    povo judaico, Jesus de Nazar.

    Em vista da objeo de Levinas de que a encarnao seja muito demais para a

    pobreza de Deus e pouco demais para o KBD de Deus, a resposta crist

    consiste na contra-questo simples e filosoficamente sem defesa: mas o qu se

    o Deus de Israel se contentou entrar numa presena ou proximidade, o que de

    fato no parece ser muito demais para a pobreza divina, e ousar uma presena

    que parece ser pouca demais para o KBD de Deus, sem a qual a Sua pobreza

    no seja rebaixamento?

    Essa f crist. Reflexo responsvel sobre esse tpico probe triunfalismo,

    como por exemplo a reivindicao de que a nossa f seja melhor ou maior ou

    mais profunda em comparao com a dos judeus e do Judasmo. Tal

    julgamento estar aparente s no fim da histria, quando a f estar ser

    pesada pelo Senhor da histria. A nossa f seja, no cega, mas humilde, sem

    reivindicar ser melhor, sem ser polmica referente f judaica.

    A interjeio crtica de Levinas contra a idia de um Deus homem faz parte da

    inquietao que encontrava expresso na Idade mdia no conceito

    deShiTUT [vagueao]. Esse conceito surgiu da impresso de que a venerao

    crist de Jesus Cristo como Filho igual de Deus introduzisse um elemento de

    misturar ou de elemento no-divino para dentro de Deus mesmo.15

  • H razo boa para a severidade da rejeio judaica da encarnao. No importa

    quo perto Deus chega humanidade na Bblia Hebraica, no importa quanto Deus

    esteja includo em esperanas e receios humanos, Ele ainda permanece o juiz

    eterno do ser humano, cuja natureza ser a imagem de Deus (cf. Gn 1,26s.), mas

    que no pode ser misturado com Deus. luz disso, a declarao de que um ser

    humano era Deus pode s dar surgimento para a mais profunda concernncia na

    alma judaica:

    Teologia crist no ser capaz de satisfazer essa crtica e preocupao judaicas,

    mas deve ser sensvel para os perigos de misturar e fundir o relacionamento

    entre as naturezas humana e divina em Jesus Cristo.

    Parece-me que ShiTUT tanga no entendimento do Conclio de Calcednia,

    quando enfatiza o nico e mesmo Cristo em duas naturezas; e que fazemos

    isso sem confundir as duas naturezas, sem transformar uma para dentro da

    outra, e que o Conclio ento reforou acrescendo: A distintividade de cada

    natureza no est sendo nulificada pela unio. (). Na sua cristologia, Walter

    Cardeal Kasper enfatizou que Calcednia inambiguamente mantinha a

    declarao de que Deus e homem no formam simbiose natural. Ne

    encarnao, Deus no chega a ser um princpio dentro do mundo, nem est

    sendo feito para dentro duma realidade espacial nem para dentro do tempo. A

    transcendncia est sendo mantida tanto quanto a independncia e liberdade

    da pessoa humana.16 O Conclio de Calcednia expressou uma sensibilidade

    que no acaba com a preocupao judaica, mas que indica algo que est

    objetivamente referido. No significa algum ser sendo entre que esteja sendo

    formado por misturar o divino e o humano, mas antes o nico e mesmo Cristo

    em duas naturezas no misturadas.

    Um judeu como a Encarnao do Filho de Deus

    Michael Wyschogrod ligava o entender cristo de encarnao com a demanda

    de que Jesus no seja separado do povo judaico. O vigor da teologia crist de

    substituio demonstra com bastante freqncia que isso no aconteceu. O

    mesmo perigo surge quando se falar da encarnao num modo de que o Filho

    de Deus em Jesus Cristo para dentro dum ser humano in abstracto, num modo

    geral e neutro. O Filho de Deus, a Palavra de Deus, chegou a ser um ser

    humano em Jesus de Nazar, no chegou a ser um ser humano in abstracto,

    em geral ou num modo neutro. Antes, chegou a ser carne judaica, um judeu, o

    filho duma me judaica e, como tal, chegou a ser um ser humano.

    O fato de que o Filho de Deus chegou a ser judeu fundamental para a teologia

    crist. A concretude da encarnao do Filho de Deus em Jesus Cristo tem ainda

    de ser levada a srio na teologia crist. Vrios documentos do magistrio da

    Igreja tocaram nesse tpico nas ltimas dcadas. O papa Joo Paulo II refletia

    profundamente sobre a realidade concreta da encarnao do Filho de Deus nas

    suas muitas declaraes referentes ao relacionamento da Igreja ao Judasmo.

    Em 11 de abril de 1997, recebeu a Comisso Bblica Pontifcia em audincia, e

    na sua alocuo falou de enderear do elo inseparvel do Novo Testamento

    com o Antigo Testamento e da identidade humana de Jesus. Enfatizando que

    Jesus chegou a ser judeu, descreveu a encarnao do Filho de Deus como

    segue: A identidade humana de Jesus est determinada na base do seu elo

  • com o povo de Israel, com a dinastia de Davi e sua descendncia de Abrao. E

    isso significa no s uma pertena fsica. Fazendo parte nas celebraes de

    sinagoga onde os textos do Antigo Testamento estavam sendo lidos e

    comentados, Jesus tambm via tambm humanamente para conhecer esses

    textos, alimentou a sua mente e corao com eles. Assim, chegou a ser filho

    autntico de Israel, profundamente arraigado na longa histria do seu prprio

    povo. Privar Cristo desse relacionamento (com o Antigo Testamento)

    portanto deslig-lo das suas razes e esvaziar o seu mistrio de todo o

    sentido.17

    No dilogo cristo-judaico de hoje h tais que querem enfatizar o peso histrico

    de culpa e falha dos cristos e da Igreja antes de discutir os ensinamentos de

    judeus e cristos e entre eles. Mesmo se algum concordar com esta tese,

    questes de f ficam e, para cristos, f depende do entender Jesus de Nazar

    como Cristo. Se algum voltar a esse assunto mais difcil nas relaes cristas-

    judaicas, tem de enfrentar a crtica judaica da encarnao do Filho de Deus em

    Jesus Cristo. Est em resposta essa crtica de que a f crist na encarnao

    possa ser vista mais claramente. Conversao judaica-crist sobre o entender

    de Deus e Sua presena pode resultar numa proximidade inesperada. O

    entender judaico da presena de Deus no mundo pode esclarecer e fazer

    frutfero pensar encarnacional. Essa experincia confortante na teologia e

    dilogo do nosso tempo.

    II. Presena de Deus em Israel e a Encarnao

    Edward Kessler

    Um dos fatos certos sobre Jesus era que ele era judeu. Era criana de

    antepassados judaicos, criado num lar judaico e educado entre tradies

    judaicas. Por toda a sua vida, Jesus vivia entre judeus e os seus seguidores

    eram judeus. Nenhum outro judeu na histria rivalizou Jesus na magnitude da

    sua influncia. As palavras e feitos de Jesus, o judeu, tm sido e so inspirao

    para milhes incontveis de homens e mulheres. Estranhadamente no que

    judeus deram pouca ateno vida e ensinar desse judeu saliente? Contudo,

    isso verdadeiro porque os seguidores cristos de Jesus vieram a apreciar

    crenas sobre a sua vida que nenhum judeu pudesse manter.

    Quando a Igreja perseguia os judeus num esforo de convert-los, a

    indiferena judaica a Jesus virou hostilidade. fato triste de histria que os

    seguidores desse grande judeu trouxeram muito sofrimento sobre o povo

    judaico, assim que por sculos era muito duro para qualquer judeu at pensar

    de Jesus sem dificuldade. At ao tempo recente, a maioria judaica escolheu no

    pensar nele em geral.

    Agora estamos testemunhando mudana significante e, embora indiferena

    judaica referente a Jesus no desaparecesse de jeito nenhum, os sinais esto

    sendo encorajantes.

    Jesus e sua famlia teriam sido observantes da Torh, pagavam dcimos,

    observavam o Shabat, circuncidavam os masculinos, freqentam a sinagoga,

    observavam as leis de pureza em relao a nascimento e menstruao,

  • mantinham o cdigo de dieta a gente poderia continuar. Enquanto os

    Evangelhos recordam disputas sobre a interpretao por Jesus de algumas

    poucas delas, a noo dum Jesus cristo, que no vivesse pela Torh ou s

    pelos valores ticos dela, no encaixa com realidade histrica.

    No h vista judaica oficial de Jesus, mas em um respeito judeus concordavam

    na sua atitude referente a Jesus: Os judeus rejeitaram a reivindicao

    tremenda que est feita para Jesus por seguidores cristos de que Jesus o

    Senhor Cristo, Deus encarnado, o prprio Filho de Deus o Pai. Naquela crena,

    judeus e cristos devem continuar a diferir respeitosamente. Judeus crem que

    todos compartilham do esprito divino, sendo estampados com a imagem

    divina, e que pessoa nenhuma nem mesmo a maior de toda a gente possa

    possuir a perfeio de Deus. Ningum pode ser igual de Deus.

    O dr. Henrix est correto, portanto, quando indica que para judeus, a doutrina

    de Jesus como Filho de Deus ou como a Palavra encarnada de Deus excede os

    limites do Judasmo, mesmo embora possamos admitir que desenvolva

    assuntos judaicos centrais. O conceito de encarnao est sendo geralmente

    visto como um das principais linhas divisoras entre Judasmo e Cristianismo,

    particularmente o entender que nada menos que a atualidade do amor,

    sabedoria e auto-expresso divinos seja mediada por Cristo, que capacitem a

    humanidade de participar na vida divina.18

    Mas embora esse divino seja no meio, isso no significa que o tpico deveria

    ser posto a um s lado. H vantagem no discutir esse tpico junto porque no

    fazer assim entendemos um ao outro um pouco melhor, descobrindo tambm

    certas comunalidades, feies compartilhadas, as quais no percebemos que

    existem. Para judeus, um modo de se aproximar ao entendimento cristo da

    cristologia encarnacional, ver essa ao longo da insistncia judaica no Deus

    estando com o seu povo. O termo, SheKINH, a analogia judaica mais

    prxima encarnao: quando eles [Israel] foram ao Egito, a SheKINH foi

    com eles; em Babilnia, a SheKINH estava com eles (Talmude, Megillah 29a).

    O termo SheKINH origina-se com o KBD de Deus habitando sobre o

    tabernculo (xodo 40,35), indicando tento presena divina como continuidade.

    Imagem importante a continuidade da presena divina mesmo quando em

    exlio, vista na nuvem e fogo que conduziram o povo no relato do xodo, sendo

    mais tarde tomada como estar presente depois da cada do Templo em 70 EC.

    O prlogo de Joo poderia ter desenvolvendo conceitos similares,

    especialmente com a aluso a ao taberncular da Palavra. Sacando sobre um

    trocadilho em grego, onde a palavra para tabernculo semelhante ao

    hebraico para habitar (1,14), Jesus, a Palavra de Deus, est sendo pintado

    como encampando no povo do mundo e a palavra chegou a ser carne e

    habitou (literalmente: tabernaculou) entre ns. Descobrimos assim

    similaridade dos conceitos judaico e cristo da presena divina, que serve, no

    s como emisso teolgica de dilogo, mas de entendimento maior das pontes

    entre as duas fs.

    A gente poderia tambm fazer comparaes com o entendimento judaico de

    Torh: Judasmo rabnico de corrente principal ensinou que Moiss recebeu a

    Torh do Sinai, mas havia tambm uma tradio de que a Torh estava em

  • existncia antes da criao do mundo (p.ex. Ben Sira 1:1-5), ou at antes da

    criao do Trono de KBD (Gnesis Rabbah 1:4). Torh era igualada com

    Sabedoria (Provrbios 8,22) e Filo escreveu sobre a pr-existncia e papel na

    criao da palavra de Deus (logos), que foi identificada com a Torh (Migration

    130). Embora Filo no tenha o mesmo entender do logos encarnado que est

    sendo encontrado no prlogo do Evangelho de Joo, notvel que um judeu

    que vivia no mesmo tempo que os autores do Novo Testamento e que

    provavelmente nunca nem ouviu de Jesus, falou da paternidade de Deus e

    do logos como a sua imagem: Mesmo se ainda no formos adequados para

    sermos chamados filhos e filhas de Deus, podemos ainda ser chamadas as

    crianas da Sua imagem eterna, da Sua palavra (logos) mais sagrada (Sobre a

    Confuso das Lnguas 147).

    Mais tarde, naturalmente, a Cristandade entendeu logos como a Palavra de

    Deus, que se referiu a Jesus como Deus encarnado.

    O Judasmo rabnico tambm personificou Torh, descrevendo como Deus

    discutia a criao do mundo com a Torh. Noutra ocasio, a Torh est sendo

    descrita como a noiva de Israel. Outra feio da Torh segundo os rbis que

    ela era eterna. A declarao de Jesus segundo Mateus 5,17 de que veio, no

    para destruir, mas para cumprir a Torh recordativo do ensino rabnico da sua

    no-abrogabilidade. Os rbis ensinavam que a Torh existiria no mundo por vir,

    mas interessantemente foi tambm argido que mudanas Torh tomariam

    lugar na era messinica (Gnesis Rabbah 98:9), embora isso fosse rejeitado

    por Maimnides, que mantinha que no fosse haver mudana nenhuma depois

    da vinda do MeShIaH.

    Essa discusso da Torh outro exemplo de como judeus possam entender

    melhor que primeiro pensamos o modo em que teologia crist trata Cristo,

    embora a origem divina da Torh no esteja sendo nunca vista como a auto-

    manifestao de Deus. No entanto, poderia ser sugerido que a descrio de

    Cristo que carrega o prprio cunho da natureza de Deus (Hb 1,3) no est

    para ser dissimilado.

    Vamos ver mais um tpico importante estreitamente relatado, que penso que

    derrame luz na nossa reconciliao de dilogo. Esse assunto, a primeira vista,

    demonstra as diferenas significantes entre Judasmo e Cristianismo

    notavelmente a natureza de seres humanos e a eficincia de reconciliao

    vicria.

    O entender judaico convencional da natureza humana v as pessoas como

    tendo duas inclinaes, uma chamando as pessoas ao bom e a outra a aes

    erradas. As pessoas, tendo vontade livre, so capazes de responder a uma das

    inclinaes ou outra. Para tal entendimento da natureza humana, pecado

    menos condio do que um adjetivo para descrever aes erradas escolhidas.

    Alm disso, as conseqncias de tais aes na so ineradicveis. Antes, podem

    ser revertidas por TeShUBH.

    No pensamento cristo, o entender de reconciliao est condicionado num

    entender diferente da natureza humana. As pessoas esto sendo entendidas

    como serem concebidas em pecado e mantidas nos laos de pecado original, o

    que Agostinho chama de corrupo inerente. Nesse estado cado, so

  • incapazes para se salvar a si mesmas. A morte de Jesus (nascido sem poluo

    por pecado original) est entendida como reconciliao necessria para salvar

    pessoas num modo em que no se possam salvar a si mesmas.

    Um segundo assunto significante reconciliao vigria. Os rbis requerem o

    envolvimento do individual na sua prpria TeShUBH. A prtica da reconciliao

    vicria chegou a fim no Judasmo com a cesso do culto sacrifical quando o

    Templo foi destrudo. No ensinar cristo, o evento Cristo est sendo entendido

    como o grande ato de reconciliao na histria humana. A morte de Jesus

    chega a ser, em efeito, reconciliao vicria em nome de todos aqueles que

    creram nele. Para uma perspectiva tal significante, no a ao do crente, mas

    sim a ao feita em nome do crente.

    No entanto, apesar dessas diferenas significantes, h comunalidade

    considervel na prtica religiosa das duas comunidades de f. Ambas as

    liturgias oferecem ao fiel a oportunidade de confessar os seus pecados a Deus e

    a procurar perdo de Deus para tais falhas. E, como matria prtica, a prtica

    tanto judaica como crist inclui nfase firme em reconciliao entre pessoas e

    entre o indivduo e Deus, de Quem possam ter chegado a serem alheadas.

    Ambas as tradies incluem prticas concretas de ritualizao o ato de

    reconciliao: o rito de Confesso na Igreja Catlica, as vrias formas de

    reconciliao ritual nas tradies protestantes e o Dia de Reconciliao ao

    longo de outras ritualizaes no Judasmo.

    Vamos portanto voltar questo de se possa haver qualquer comunalidade em

    termos de teologia encarnaal. De fato, havia algum interesse judaico nesse

    sujeito, mais importantemente por Michael Wyschogrod (The Body of Faith. God

    in the People of Israel [O Corpo de F. Deus no Povo de Israel], 1989), que

    enfatiza o amor livre mas irrevogvel de Deus pelo povo de Israel e, em

    conexo com Israel, para o mundo como um todo.

    Assunto Maior para Wyschogrod que a eleio de Israel por Deus esteja

    baseada somente no amor inaltervel de Deus, no podendo ser ab-rogado

    pelo lado humano. Deus no escolheu Israel porque este era superior em

    qualquer modo a outros povos; de fato, em alguns respeitos possa at possuir

    ligeiramente mais negativas caractersticas que outros grupos. Tambm a

    escolha de Deus no condicional sobre a obedincia de Israel aos

    mandamentos que Deus impe a Israel como a expresso da vontade de Deus

    para a conduta de Israel. A eleio de Deus traz consigo o mando de Deus e a

    ameaa de punio severa, caso Israel falhar a viver altura da sua eleio.

    Mas apesar do fato de que pessoas judaicas lutaram incessantemente contra a

    sua eleio, com as conseqncias mais desastrosas para si mesmas e para o

    restante da humanidade, a eleio divina permanece inafetada, porque ela

    incondicional, baseada somente no amor de Deus.19

    Cristologia encarnaal sujeito de interesse para Wyschogrod na sua discusso

    de Cristianismo que percebe certa divergncia entre Judasmo e Cristianismo.

    Esclarece que reivindicaes crists referentes a Jesus so problemticas a

    partir da f judaica. A reivindicao de que Jesus era oMeShIaH difcil para

    judeus aceitarem, porque Jesus no realizou a funo messinica chave: no

    introduziu o reino messinico. Muito mais difcil ainda, todavia, a

  • reivindicao crist de que Deus era encarnado em Jesus. Para um judeu

    assinar a essa crena significaria violao grave da proibio contra idolatria.20

    Apesar disso, Wyschogrod no pensa que os judeus estejam intitulados para

    rejeitar a reivindicao crist sobre a encarnao de Deus em Jesus de

    improviso. Rejeitar a encarnao por razes a priori seria impor

    constrangimentos externos liberdade de Deus, noo fundamentalmente

    alheia ao Judasmo. Segundo Wyschogrod, h s uma condio sob a qual

    Israel estivesse intitulado a rejeitar as reivindicaes da Igreja sobre Jesus de

    improviso, e essa que se essas reivindicaes fossem implicar que Deus teria

    repudiado as promisses de Deus a Israel. Pois isso algo em que Israel pode

    seguramente confiar que Deus o nunca far, no porque Deus seja incapaz,

    mas porque Deus honra as promisses de Deus.

    A questo, ento, se a teologia encarnaal implica a ab-rogao das

    promisses de Deus a Israel. isso necessariamente o caso?

    Para cristos, a questo da validade de Judasmo desafia algumas

    proclamaes de triunfalismo cristo. Esse assunto, que precisamos questionar,

    se Cristianismo possa diferenciar-se do Judasmo sem asseverar-se como de

    um ou outro modo oposto a Judasmo ou simplesmente como substituio de

    Judasmo.

    Mas que Cristianismo ensina a substituio de Judasmo?

    Se examinarmos os escritos dos Padres de Igreja, a nica resposta possvel :

    sim! Os Padres argiram que, porque os judeus rejeitaram Jesus, eles foram

    punidos por ter o seu Templo destrudo e por serem exilados da Terra de Israel.

    Os cristos permitiam aos judeus sobreviverem num estado empobrecido,

    assim que a sua posio inferior possa testemunhar a verdade do Cristianismo.

    Como resultado, desdm para Judasmo chegou a ser central ao ensinar cristo

    e ao desenvolvimento da identidade crist.

    Felizmente para tanto judeus quanto cristos os dias quando identidade

    crist era dependente em negao de todas as coisas judaicas passaram. De

    fato , no s um re-acordar ao Judasmo da Cristandade, mas sim o

    reconhecimento de que a formao de identidade crist hoje dependente num

    relacionamento positivo como Judasmo.

    Ironicamente, essa , no aproximao teolgica nova, mas sim re-descoberta

    duma doutrina teolgica antiga, a qual est expressa nos escritos mais antigos

    do Novo Testamento nas cartas de Paulo. Na carta so Romanos

    (especialmente captulos 9-11), Paulo maneja exatamente esse ponto, quando

    levanta uma questo particularmente controversal: o qu com a validade

    contnua da aliana de Deus com o Seu povo judaico? Era que a Igreja, o Israel

    Novo, simplesmente substituir o Antigo como herdeira das promisses de

    Deus? Se assim, que isso significa que Deus renegasse da Sua palavra? Se

    Deus fez isso a respeito dos judeus, que garantia h para as Igrejas que no

    faria isso outra vez, aos cristos?

    A gente poderia argir contra Paulo que, se os judeus no mantinham f com

    Deus, ento Deus tem pleno direito de jog-los fora. Cristos que argem

  • desse modo no fizeram muitas vezes a mesma deduo sobre fidelidade

    crist, que no foi um caracterstico notvel e constante dos ltimos dois

    milnios. Atualmente, Deus parece ter tido capacidade notvel para ficar fiel

    com tanto cristos quanto judeus quando no mantinham f com Deus, um

    ponto de que Paulo est profundamente consciente em Romanos 9-11. Ele

    deixa o seu modo (de criticar judeus; trad.), para negar que Deus rejeitou o

    povo escolhido, asseverando que o seu tropear no leva a sua cada.

    Na vista de Paulo, era impossvel para Deus eleger o povo judaico como um

    todo e ento mais tarde o destituir. Na sua vista, o endurecimento tomou lugar

    assim que os gentlicos recebessem a oportunidade de se juntar ao povo de

    Deus. A eleio da Igreja, portanto, deriva daquela de Israel, mas isso no

    implica que a aliana de Deus com Israel esteja quebrada. Antes, permanece

    inquebrada irrevogvel.

    Paulo tambm oferece uma advertncia severa de que os cristos gentlicos no

    devessem ser arrogantes ou jactanciosos aos judeus incrdulos muito menos

    cultivar intento mal e engajar-se em perseguio contra eles. Essa advertncia

    crtica ficava quase totalmente esquecida por cristos na histria. Cristos

    relembravam os judeus como inimigos, mas no como amados por Deus,

    tomando no corao as crticas de Paulo e as usavam contra os judeus,

    enquanto esquecendo o amor de Paulo pelos judeus e as tradies destes.

    comum para telogos cristos voltar aos argumentos de Paulo e chamar a

    Cristandade para abandonar a sua animosidade religiosa histrica, tendo sido

    esmagadora a caricatura descaminhadora de Judasmo. Essas esto sendo

    agora admitidas como algo errado, e a sua rejeio pblica era requerida antes

    da possibilidade de dilogo pudesse existir. Assim, antes que o dilogo pudesse

    realmente comear com Judasmo, a Cristandade precisava mudar daquilo que,

    para a maior parte, era necessidade inerente para condenar Judasmo mudar

    para uma de condenao de antijudaismo. Esse processo no levou a uma

    separao de todas as coisas judaicas mas, de fato, a um relacionamento mais

    estreito com o irmo mais velho. Nos nossos tempos, estamos

    testemunhando a ocorrncia duma mudana demonstrvel dum monlogo

    cristo sobre judeus a um dilogo instrutivo (e por vezes difcil) com judeus.

    Para Wyschogrod, a doutrina de encarnao de Deus poderia ser entendida

    uma como intensificao da aliana de Deus com Israel. Embora a encarnao

    no esteja previsvel na base da Bblia Hebraica, uma que o fato da encarnao

    est assumido (como por cristos), pode ser considerada como extenso do

    truste bsico da Bblia.

    Num artigo intitulado Incarnation and Gods Indwelling in Israel [Encarnao e

    a In-habitao de Deus em Israel], Wyschogrod argi que a aliana entre Deus

    e Israel resulta, no justamente numa estreiteza e intimidade entre eles, mas

    inclui um in-habitar de Deus no povo de Israel cujo status como povo santo

    possa ser dito como derivar desse in-habitar. Sugere, controversamente, que a

    divindade de Jesus no esteja radicalmente diferente da santidade do povo

    judaico.21

    John Pawlikowski tomou tambm interesse nesse tpico tal como Christ in the

  • Light of the Christian-Jewish Diologue [Cristo Luz do Dilogo Cristo-

    Judaico]22, tendo sugerido que Cristologia Encarnaal tem a melhor

    possibilidade para preservar tais dimenses universalistas do Evento Cristo

    enquanto abrindo espao teolgico autntico para Judasmo, como o falecido

    cardeal Joseph Bernardin o terminou.23

    Finalmente, no entanto, a questo de em que extenso a Igreja faz parte do

    plano de Deus para o mundo depende, a partir duma perspectiva judaica, no se

    a Cristandade almeja para substituir Israel. Tradicionalmente, a Igreja

    proclamou-se a si mesma a ser o Israel verdadeiro (verus Israel), consistindo

    dos fieis de todas as naes, em relao qual o Israel carnal antigo existia

    como pressgio temporrio. Reivindicando ser o novo povo de Deus,

    substituindo o antigo, a Igreja mina as promisses de Deus, sendo rebelio

    contra palavra de Deus.

    Isso reminiscente do perodo primitivo das relaes judaicas-crists, quando

    judeus lembravam cristos que Jesus vivia a sua vida, no como cristo, mas

    sim como judeu. Jesus era judeu, no um intruso alheio na Palestina do 1

    sculo. Seja o que for que era ainda, era reformador de crenas judaicas, no

    um censurador indiscriminado delas. Para judeus, a significncia de Jesus deve

    estar na sua vida antes de na sua morte, uma vida de f em Deus. Para judeus,

    no Jesus, mas s Deus Senhor.

    Mas um nmero crescente de judeus era orgulhoso de que Jesus nasceu, viveu

    e morreu judeu. Agora poucos de ns esto querendo considerar as doutrinas

    teolgicas ainda mais desafiantes dos nossos parceiros. Estamos olhando por

    pontes para criar entendimento maior entre as nossas comunidades, para

    estabelecer HeBRUTH, parceria, na qual procuramos, no s construir

    respeito, mas tambm para entendimento ulterior, no s para reconhecer

    diferena, mas para construir pontes.

    Separados e juntos, devemos trabalhar paras trazer cura ao nosso mundo.

    Nesse empreendimento somos, como cristos e judeus, guiados pela viso dos

    profetas de Israel:

    Vir acontecer no fim dos dias que o monte do Senhor ser estabelecido no

    pico dos montes e exaltado acima das colinas, e as naes fluiro a ele e

    muitos povos iro dizendo: Vinde vs e vamos subir ao monte do Senhor

    casa do Senhor de Jac e Ele nos ensinar os Seus caminhos e andaremos nas

    Suas veredas. (Isaias 2:2-3).