Upload
dangkhanh
View
218
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
1
A PRODUÇÃO DE ABACAXI COMO FORMA DE (RE)ORGANIZAÇÃO PRODUTIVA DA AGRICULTURA FAMILAR EM MONTE ALEGRE DE
MINAS - MG
Alessandra Rodrigues Guimarães Universidade Federal de Uberlândia – FACIP/UFU
Patrícia Francisca de Matos Universidade Federal de Uberlândia – FACIP/UFU
Resumo As atividades agropecuárias sempre foram a base da economia do município de Monte Alegre de Minas. A produção de abacaxi começou a expandir no município por volta da década de 1950, chegando ao período auge de produção na década de 1980, sendo o município reconhecido nacionalmente como a “Capital Nacional do Abacaxi”, pois tinha uma produção anual de 149 milhões de frutos colhidos. Desse modo, a presente pesquisa objetivou compreender o papel da produção de abacaxi na (re)organização produtiva da agricultura familiar em Monte Alegre de Minas. Os procedimentos metodológicos que ampararam a pesquisa foram centrados em revisão teórica, em teses, dissertações, livros e artigos que abordam a temática da pesquisa, além de dados em fonte como o IBGE e da realização de trabalho de campo com observação assistemática, registro fotográfico e entrevistas. Palavras chave: Abacaxi. Agricultura familiar. Monte Alegre de Minas.
Introdução O Brasil é um dos principais produtores e exportador de frutas no mundo, cultivando e
produzindo frutas como a manga, o morango, a melancia, a uva, o abacaxi e dentre
outras frutas que possui grande importância no mercado exterior. O país é o principal
produtor mundial da fruta do abacaxi, sendo responsável por 53% (IBGE, 2011) da
produção mundial.
A produção de abacaxi, tanto para o Brasil, quanto para Minas Gerais é muito
importante, pois abastece o mercado interno e externo, gerando economia
principalmente para o agricultor familiar.
A produção do abacaxi em Monte Alegre de Minas, assim como em outros municípios
de Minas Gerais e do Brasil, é cultivada em sua maioria por produtores familiares.
2
Desse modo, o presente trabalho teve como objetivo compreender a produção de
abacaxi como forma de reorganização produtiva dos agricultores familiares em Monte
Alegre de Minas. Apesar da produção diversificada, a sustentação econômica dos
agricultores familiares em Monte Alegre de Minas está centrada, sobretudo, na
produção de abacaxi. Para atingir os objetivos o trabalho fundamentou-se em
orientações teóricas e visitas à campo com registro fotográfico, realização de
entrevistas e conversas informais com produtores familiares e funcionário da
Secretária da Agricultura do município.
O cultivo do abacaxi e a Agricultura Familiar
A agricultura familiar no Brasil possui grande importância econômica e social para o
país, pois é a partir dela que são produzidos grande parte dos alimentos básicos que os
brasileiros consomemi. No entanto, essas unidades de produção têm enfrentado muitas
dificuldades para continuarem sua (re)produção, precisando assim, de mais incentivos
governamentais.
A produção rural familiar, para Mendes (2005), é definida
[...] pelo trabalho do homem sobre a terra e os vínculos afetivos criados a partir desta relação. Os pequenos proprietários/produtores são responsáveis pelas plantações que cultivam, trabalham direta e pessoalmente a terra com o auxílio de sua família e, ocasionalmente, contratam trabalhadores temporários. A organização interna dessas unidades de produção caracteriza uma economia doméstica. O número de trabalhadores temporários empregados - quando necessário - depende do tamanho da propriedade, do produto cultivado e de recursos financeiros. (MENDES, 2005, p. 61).
Mesmo utilizando o trabalho familiar para sustentação da produção, os agricultores
familiares enfrentam dificuldades técnicas e financeiras para produzir, em função da
falta de políticas públicas direcionadas para a produção em pequenas escala. Mendes
(2005, p. 59) afirma que:
O grande desafio imposto à reprodução da pequena produção rural refere-se à possibilidade de assegurar-lhe rendimentos e melhoria na qualidade de vida. Pode-se considerar que sua reprodução em maior ou menor grau faz-se assentada sob técnicas tradicionais de produção. Sua integração cada vez mais intensa ao mercado impõe alterações nas técnicas de cultivo. Porém, deve-se buscar alternativas que agreguem valor sem aumentar o uso de insumos externos à propriedade, valorizando os recursos disponíveis na unidade produtiva. Assim, as várias competências exercidas pelos produtores
3
e o emprego em atividades rurais e não rurais de membros da família são analisadas como estratégias de sobrevivência.
Venâncio (2008) também concorda que a agricultura familiar ainda carece de incentivos
para poder continuar produzindo.
[...] apesar de a agricultura familiar ter assumido tamanha importância dentro do modo de produção capitalista (produção de alimentos para abastecer a população na cidade, geração de emprego e renda, manutenção das pessoas ocupadas no campo), ainda padece com uma série de fatores: falta de políticas agrárias e agrícolas, baixo valor agregado aos seus produtos, à expropriação e envelhecimento da família rural, perda de lavouras face às oscilações climáticas, dificuldades de comercializar devido à concorrência desleal, a entrada de produtos industrializados no mercado e a consequente mudança dos hábitos alimentares da população brasileira e acúmulo de dívidas que levou muitos produtores à ruína. Mesmo diante de tais dificuldades, esse grupo ainda resiste, criando novas alternativas de produção (diversificação da produção), enquanto outros ingressam na luta por melhores condições de sobrevivência e de produção. (VENÂNCIO, 2008. p.79).
É importante frisar que a agricultura familiar é importante para a produção de alimentos
como também para o desenvolvimento econômico e, consequentemente, para a
diminuição das desigualdades no campo. Por isso, a importância de direcionar mais
políticas públicas para os agricultores familiares, visando à permanência deles no campo
e à melhoria da qualidade de vida.
No município de Monte Alegre de Minas a agricultura familiar constitui uma das bases
da produção agropecuária, principalmente o leite, a mandioca e o abacaxi. A produção
do abacaxi absorve tanto agricultores familiares, quanto grandes produtores que
cultivam em maior quantidade. Apesar de o abacaxi constituir uma das principais
atividades de (re)produção do agricultor familiar de Monte Alegre de Minas, estes
enfrentam muitos problemas como a falta de incentivos para produzir o abacaxi e a
expansão da cana-de-açúcar. Porém, os desafios para os agricultores familiares
continuarem sua permanência no campo não são apenas uma realidade da área de
pesquisa, eles envolvem todas as unidades de produção familiar. Logicamente, em
alguns lugares esse processo ainda é mais intenso. Por isso, considera-se que o apoio
para (re)produção e fortalecimento da agricultura familiar deve ser formulado no âmbito
do desenvolvimento local, considerando, portanto, os aspectos econômicos, sociais e
culturais de cada lugar.
O cultivo do abacaxi em Monte Alegre de Minas
4
A história do cultivo de abacaxi no município de Monte Alegre de Minas iniciou-se na
década de 1940, quando um potiguar, natural de Caicó (RN), se instalou no município,
em busca de melhoria de vida, trazendo as primeiras mudas de abacaxi. Mas, após a
implantação do abacaxi em Monte Alegre de Minas, vários imigrantes do Rio Grande
do Norte vieram também para o município para o trabalho braçal na lavoura de abacaxi.
O plantio foi cada vez mais ganhando espaço no município, sobretudo, a partir de 1970,
fazendo parte da produção agrícola e da economia local. Conseguiu auge na produção a
partir dos anos de 1980 liderando como um dos municípios de maior produção no
estado.
A alta produção de abacaxi proporcionou ao município na década de 1980 o título de
“Capital Nacional do Abacaxi”. Porém, esse título foi perdido na década de 1990 para o
município Floresta do Araguaiaii, no Pará. Após isso, ficou apenas como título de
“Capital estadual do abacaxi”, por liderar o ranking estadual de produção, seguida pelo
município de Frutal.
O Estado de Minas Gerais produz uma quantidade significativa de abacaxi. A produção
de abacaxi no referido Estado está concentrada principalmente na região do Triângulo
Mineiro. Segundo dados do IBGE, o Triângulo Mineiro respondeu em 2009, por cerca
de 94% da produção estadual.
A produção de abacaxi em Minas Gerais está concentrada na região do Triângulo
Mineiro, mais precisamente em quatro municípios, Monte Alegre de Minas, Frutal,
Canápolis e Centralina. Em 2009, esses municípios participaram com 40%, 24%, 21% e
3%, respectivamente na produção de abacaxi do Triângulo Mineiro, conforme mostra o
gráfico 1.
O cultivo do abacaxi em Minas Gerais é bastante significativo para o restante do país,
sendo responsável por 12% de toda a produção do Brasil, e a região do Triângulo
Mineiro também possui importância nessa porcentagem, sendo que, em um total de
7.203 hectares plantados em Minas Gerais, 6.492 hectares estão nesta região. O
município de Monte Alegre de Minas é responsável pela produção por cerca de
7.788.000 frutos anuais.
Gráfico 1: Mesorregiões de Minas Gerais: % da produção de abacaxi em 2009.
5
Fonte: IBGE – Produção Agrícola Municipal 2009. Org: Guimarães, A. R, 2011.
Em relação às atividades econômicas de Monte Alegre de Minas, destaca-se a
agricultura como a produção de cana-de-açúcar, soja e o abacaxi. A pecuária também
está presente nas relações de produção do espaço agrário do município, em destaque o
gado de corte e de leite que é desenvolvido por agricultores familiares e também por
grandes produtores. Além dessas atividades, a economia do município gira em torno de
comércio, serviços e pequenas agroindústrias, principalmente no beneficiamento do
abacaxi, como as indústrias de processamento de abacaxi QObba e Talismã.
A expressividade da produção de abacaxi em Monte Alegre de Minas está presente não
apenas no campo, como também na própria paisagem urbana que demonstra que esta
atividade faz parte da vida econômica do município.
Para compreender o papel que a produção de abacaxi exerce na agricultura familiar de
Monte Alegre, foi necessário analisar o perfil dos produtores de abacaxi. Dos produtores
entrevistados, aproximadamente 50% dos agricultores produzem o abacaxi no
município há aproximadamente duas décadas.
A maioria dos entrevistados afirmou que eles entraram para a produção do abacaxi por
incentivo dos pais e dos familiares, estes representam um total de 80% dos entrevistados
e, somente 20% afirmou que entraram para o cultivo do abacaxi porque o solo da região
é propício para o cultivo desta fruta e também pelo fato de que na época em que
começaram a plantar o abacaxi, este proporcionava uma renda melhor.
A área cultivada pelo abacaxi por estes produtores rurais corresponde em uma média de
6,2 hectares. A maior área dos entrevistados é de 20 hectares e a menor área e de 2
hectares. Nas áreas plantadas por estes produtores rurais é cultivado um total de
6
1.675.000 pés de abacaxi, sendo que o produtor que possui o número maior de frutos
plantados é de 800.000 pés, e o menor é de 40.000 pés de abacaxi.
Com relação às terras que os agricultores produzem, 60% afirmaram que elas são
próprias, 40% dos entrevistados afirmaram que são terras arrendadas ou que eles
produzem nas terras dos pais ou avós sem pagar taxa alguma pela utilização. Os
produtores que utilizam estas terras para cultivar o abacaxi residem na cidade de Monte
Alegre, sempre fazendo o percurso cidade-campo para trabalhar. Os produtores que
arrendam as terras para o cultivo do abacaxi exercem apenas essa atividade. Já os que
possuem terra própria residem na propriedade e plantam outros tipos de culturas, como
milho, mandioca, melancia e a pecuária leiteira. No entanto, o carro chefe da renda é
primeiramente o abacaxi, em seguida a pecuária leiteira.
Para produzir o abacaxi, 40% dos entrevistados afirmaram que não utilizam nenhum
tipo de financiamento e 60% dos entrevistados disseram que utilizam o PRONAF para
auxiliar no cultivo da fruta, e ainda afirmaram que usam este financiamento por terem
um acesso mais fácil a ele e pelo fato dele possuir juros baixos, possibilitando a
facilidade de pagamento da dívida.
A Prefeitura de Monte Alegre de Minas auxilia na produção do abacaxi no município,
disponibilizando alguns tratores para que os agricultores os utilizem, mas para isso, é
preciso que o motorista do trator seja pago por hora trabalhada. Sendo que, em dias
úteis, é cobrado um valor de R$ 40,00 por dia, e nos finais de semana e feriados, os
motoristas cobram um valor de R$ 60,00 o dia trabalhado, mais o combustível utilizado.
Mas, todos os entrevistados afirmaram que é complicado utilizar este tipo de auxílio,
pois estes tratores são usados para outros tipos de serviços que a Prefeitura necessita
realizar. Nenhum dos entrevistados utilizam este auxílio da Prefeitura, e como
justificativa, segue o depoimento de um produtor rural, Rômulo Parreira Mendesiii:
as máquinas disponíveis “tratores” não são os melhores e pela arrecadação e pelo tanto de emprego e renda que benefício o município se a Prefeitura apoiasse mais os produtores; incentiva-se e disponibilizasse cursos para melhorar os produtores a produziren com mais garantia, porque não é só produzir um dos defeitos graves na comercialização para Ceasa é que cada vez mais o Ceasa vem dificultando o acesso dos produtores e incentivando os atravessadores.
Com relação à mão-de-obra temporária, os produtores rurais contratam trabalhadores na
época do plantio e na época da colheita, e eles justificaram que este número depende da
7
área plantada, que varia de acordo com o tamanho da área. Mas, em média, são
contratados 6 trabalhadores, variando conforme a área e a produção, assim como
argumenta o produtor rural, André Batista do Nascimento: “não tenho uma média,
porque planto duas ou mais vezes ao ano, para uma idéia, um companheiro tira +/-
7.000 mudas por dia e planta +/- 5.000 mudas por dia.” Estes “companheiros” que o
produtor rural se refere, dizem respeito aos trabalhadores volantes que moram no
município, e de acordo com os entrevistados, estes trabalhadores residem na cidade de
Monte Alegre. No período que não estão no plantio e na colheita do abacaxi, esses
trabalhadores trabalham como pedreiros, serventes, entre outros serviços.
Outra questão relevante é que os produtores rurais do município de Monte Alegre de
Minas possuem uma “afetividade” com o cultivo do abacaxi, pois essa tradição na
plantação foi passada de pais para filhos. E, também os produtores continuam
cultivando este tipo de cultura, porque acreditam que a fruta do abacaxi proporciona um
melhor qualidade de vida, tanto para eles, como também para as outras pessoas que
trabalham indiretamente na produção do abacaxi.
Em entrevista com os produtores de abacaxi, estes destacaram que é necessário investir
em técnicas modernas de produção. E, no caso do abacaxi, uma das inovações
tecnológicas importantes para aumentar a produção e produtividade é o processo de
irrigação. Essa técnica ainda é pouco utilizada em Monte Alegre devido ao alto preço
dos equipamentos. Os produtores disseram que já houve muitos avanços, pois antes,
eles usavam a força animal no preparo do terreno para o plantio e hoje, eles utilizam a
força mecânica para a preparação do solo e também para “riscarem” o solo, para que as
mudas de abacaxi sejam plantadas. Além disso, os produtores utilizam fertilizantes para
aumentar a produção. As técnicas de produção podem ser visualizadas pela fala do
produtor rural Rômulo Parreira Mendesiv:
No preparo do solo, na maioria das vezes, é necessário o uso do calcário para corrigir o Ph do solo, faço adubação no plantio com mistura de cupiniscida na mistura com o adubo, curvas de nível, riscos para estrondar bem o solo, separação das mudas sadias, e tamanho tanto quanto variedades. Na colheita, às vezes é necessária a utilização de maturador para igualar a coloração das frutas; e apenas carrinhos para colher; mão de obra manual e às vezes encaixar frutos.
Tanto o plantio como a colheita são realizados por trabalhadores, e esse número varia de
acordo com o tamanho da propriedade. Porém, na fase de crescimento dos frutos
8
também é utilizada mão-de-obra, pois é preciso fazer a manutenção da lavoura,
capinando e retirando os matos que ficam entre as fileiras da plantação. Também,
quando os frutos estão chegando à fase de maturação, é necessária a mão-de-obra desses
trabalhadores para colocarem folhas de jornais para proteger o fruto, ou seja, envolver a
fruta com a folha (Foto 1), e com isso, impedir que ela seja queimada pelo sol.
Foto 1: Lavoura de abacaxi em Monte Alegre de Minas: utilização de jornais para proteger o fruto da incidência dos raios solares.
Autora: GUIMARÃES, A. R., 2011
De acordo com o Manual de Produção de Abacaxi da Embrapa (2000), o plantio das
mudas pode ser feito em covas, abertas com enxada, ou em sulcos, após a abertura das
covas ou sulcos, faz-se a distribuição das mudas para o plantio propriamente dito; a
profundidade das covas ou dos sulcos e, portanto, do plantio deve corresponder,
aproximadamente, à terça parte do comprimento da muda. O plantio deve ser efetuado
em quadras separadas de acordo com o tipo e o tamanho das mudas, para facilitar os
tratos culturais, no plantio em terrenos de declive acentuado, devem-se usar curvas de
nível e outras práticas de conservação do solo.
A comercialização da produção de abacaxi no país depende de alguns fatores para que
os produtores rurais e também os comerciantes consigam preços mais compensadores
no mercado, onde a fruta é comercializada in natura. São três fatores fundamentais que
a fruta do abacaxi precisa obter. Primeiramente, é analisado o peso, sendo que a fruta
deve que possuir um peso mínimo de 1,1 kg no período de safra e de 800g na
9
entressafra; os frutos não podem estar estragados, nem amassados. Também é analisado
o estágio de maturação, que deve variar com a distância do mercado consumidor.
Para que a fruta do abacaxi seja comercializada corretamente nos supermercados,
Ceasas (Centrais de Abastecimentos), feiras, e até mesmo em caminhões dos próprios
produtores, é necessário que eles sigam algumas regras impostas pelo Ministério da
Agricultura. Primeiramente, é preciso selecionar as frutas por tamanho, em seguida
embalar com embalagens apropriadas, isto pode ser feito em caixas de madeira (só
aceitas no mercado nacional) e caixas de papelão, porque ajudam a manter a qualidade
dos frutos durante o transporte e também na comercialização, além de melhorar a
apresentação do produto.
No Brasil, ainda é comum o transporte a granel, isto é, sem qualquer tipo de
embalagem, fato esse que não é recomendado devido às grandes perdas que acontecem.
As frutas, ao serem embaladas, são dispostas verticalmente nas caixas de papelão e
separadas umas das outras por folhas também de papelão para evitar o atrito entre as
mesmas. O fundo dessas caixas é forrado com mais uma camada de papelão e suas
laterais possuem orifícios por onde ocorre a entrada e saída de ar necessário para manter
a fruta em boas condições. A capacidade das caixas varia de acordo com o tamanho das
frutas e comporta em média 6, 12 ou 20 abacaxis, dependendo do tamanho da caixa.
Posteriormente a esta etapa, é feita a rotulagem da embalagem, e ela é bastante
importante, pois ajuda a identificar o produto, facilitando o manuseio pelos recebedores.
Em seguida, é realizado o armazenamento das frutas em caixas, as quais devem ser
armazenadas a uma temperatura constante, que não pode ser menor que 7°C, pois
podem ocorrer injúrias na casca das frutas causadas pelo frio excessivo, nem superior a
10°C, já que acima desta temperatura a susceptibilidade ao ataque de fungos é maior.
Sob estas condições, é possível conservar as frutas por até quatro semanas. Por fim, é
realizado o transporte do abacaxi, geralmente, ele é feito em caminhões não
refrigerados, a granel. Para não causar injúrias aos frutos, estes devem ser acolchoados.
No cultivo do abacaxi tipo Pérola, pode-se usar os próprios filhotes (mudas de abacaxi
da planta principal) para acolchoar o fruto, e no caso do abacaxi tipo Havaiano (Smooth
Cayenne), que não tem filhotes, deve-se utilizar capim. Os frutos devem ser colocados
em camadas alternadas e deve-se cobrir o caminhão com uma lona, para evitar injúrias
causadas pelo vento. Se o destino das frutas for um local distante do local de produção,
o transporte deve ser feito em caminhões refrigerados. Porém, se não for possível
10
transportar a carga a longas distâncias neste tipo de caminhão, pode-se realizar o
transporte à temperatura ambiente, porém à noite, sempre cobrindo a carga com uma
lona.
Em geral, a comercialização do abacaxi é realizada com o fruto ainda no campo,
antecipadamente e a granel. Leva-se em conta o tamanho e a aparência do fruto, de
acordo com os padrões das variedades. Para os grandes mercados consumidores do
modo in natura, seguem os frutos de primeira qualidade, sadios e com peso igual ou
acima de 1,5 kg. Os que não atingem esse padrão são vendidos nos mercados locais,
perto das regiões produtoras, ou são destinados à industrialização.
O valor da fruta vai variar de acordo com a época do ano, pois a sazonalidade interfere
bastante no valor em que a fruta é vendida. A melhor época para comercializar a
produção é entre os meses de fevereiro a maio, pois ocorre uma diminuição na oferta e
um aumento na procura, e isso faz com que o preço seja elevado. Nos meses de junho a
novembro a janeiro têm-se os preços mais baixos da fruta, pois é a época de colheita na
maioria das propriedades rurais que cultivam o abacaxi, e com isso há bastante oferta no
mercado, fazendo com que o valor da fruta seja muito inferior à outra época do ano.
De acordo com as entrevistas realizadas com os produtores rurais do município de
Monte Alegre de Minas referentes à comercialização da fruta do abacaxi, 100% dos
entrevistados afirmaram que vendem grande parte das frutas nos Ceasas de Uberlândia e
de Belo Horizonte, mas que também destinam sua produção para a região Sul do país. A
outra parte da produção, os abacaxis que não alcançaram o peso ideal para a
comercialização em outras regiões, são vendidos para os comércios locais,
principalmente para os vendedores que ficam “às margens” da rodovia, comercializando
a fruta. O depoimento de um produtor rural, Valdeir Gervásio de Freitasv, demonstra
muito bem como são comercializadas as frutas de abacaxi na região.
Quando se vende a lavoura fechada a produção é levada para os Ceasas de Uberlândia ou Belo Horizonte e ainda para várias outros partes do país. Mas, quando essa produção é em menor quantidade, ela é vendida em feiras livres e em barracas às margens da rodovia.
Quanto à comercialização, foi perguntado aos produtores rurais qual o valor que era
vendido pela unidade do abacaxi, e 100% dos entrevistados afirmaram que este preço
varia de acordo com a época do ano. Se o fruto é vendido na época em que o abacaxi
está sendo colhido pela maioria dos produtores rurais do município, a fruta é vendida
11
em torno de 0,20 a 0,30 centavos de reais. Porém, se a fruta é comercializada em uma
época em que só alguns produtores comercializam, o preço pode chegar de R$ 1,00 a
R$ 1,50 a unidade do abacaxi, ou seja, isso fora do período da safra.
Enfim, podemos perceber que a fruta do abacaxi para o município de Monte Alegre de
Minas possui extrema importância, tanto para os produtores rurais que cultivam esta
fruta, como para os moradores da cidade, que possuem relações diretas e indiretas com
o abacaxi. O abacaxi em Monte Alegre de Minas assim como em outros municípios de
Minas Gerais e do Brasil é cultivado na maior parte por produtores familiares, que
plantam e cultivam esta fruta com o intuito de dar continuidade à tradição que existe no
município e também como forma de produção para o próprio sustento.
O cultivo do abacaxi como reorganização produtiva da Agricultura familiar em Monte Alegre de Minas
A produção de abacaxi no município de Monte Alegre de Minas tem sido um dos
fatores responsáveis pela permanência de muitos agricultores familiares no meio rural.
Destacando que, como já mencionado, a produção de abacaxi tem demonstrado ser uma
boa opção de produção para produtores familiares que utilizam esta atividade como
renda para o sustento da família.
Ao serem realizadas as entrevistas com os produtores rurais que cultivam o abacaxi, na
região Leste do município, foi verificado que 40% dos entrevistados residem na cidade.
Estes produtores arrendam ou alugam terras para continuar o cultivo, sem haver
prejuízo algum em relação à produção, pois mesmo não possuindo terras, eles arrendam
para poder cultivar o abacaxi e continuarem com a tradição deste cultivo.
Os produtores rurais que arrendam ou alugam terras para o cultivo do abacaxi possuem
relações com o meio rural desde crianças, pois alguns familiares destes possuem ou já
possuíram propriedades rurais, e isso faz com que estes produtores continuem com esta
“ligação” com a terra, produzindo e cultivando, mesmo que estas terras não sejam
próprias. E, neste cultivo ainda há a relação de produção entre familiares, pais e irmãos,
que se associam para produzirem o abacaxi, cada sócio investe capital, e no momento da
comercialização, eles dividem os lucros, fazendo com que, mesmo que as terras sejam
arrendadas, ainda exista a reprodução da agricultura familiar no campo.
12
O autor Venâncio (2008) afirma que a agricultura familiar é diversificada e heterogênea,
pois as explorações familiares não podem ser caracterizadas como um único modelo,
pois existem agricultores que exploram as propriedades rurais de diferentes formas.
Existem agricultores que a finalidade da exploração da terra não seria a reprodução
enquanto unidade produtiva para um mercado capitalista, mas sim a reprodução
familiar, ou simplesmente a sobrevivência da família, produzindo assim, para a própria
subsistência. Mas, também há outros agricultores que mantêm sua unidade produtiva
com o objetivo de uma formação agrícola organizada, baseado no trabalho assalariado,
para poder obter uma renda extra, sendo caracterizada como agricultura patronal ou de
empreendimento agrícola.
A reprodução da agricultura familiar baseada no cultivo do abacaxi representa grande
importância para o município de Monte Alegre de Minas, porque este tem suas
atividades econômicas voltadas para o setor agropecuário, seja ela familiar ou patronal.
A agricultura familiar no âmbito nacional e também local se dá em condições
desvantajosas, pois ainda continua sendo tratada através de políticas compensatórias,
desqualificando sua contribuição socioeconômica e ambiental. O Governo, seja federal,
estadual ou municipal, direciona os recursos disponíveis para a agricultura familiar
somente para o assistencialismo, não solucionando os problemas existentes nas
propriedades rurais (MENDES, 2005). Com isso, o Governo minimiza a importância da
agricultura familiar, desconsiderando as particularidades deste segmento no
desenvolvimento econômico do país, e também em sua estabilidade econômica e social.
(VENÂNCIO apud CORBUCCI, 2008).
Assim, percebemos que a agricultura familiar da parte Leste do município de Monte
Alegre de Minas se sustenta com cultivo do abacaxi, sendo que este cultivo se dá de
diferentes formas (técnicas de produção), mas com um objetivo principal, que é a
continuação do cultivo desta fruta, passando de pais para filhos, mesmo com as
dificuldades enfrentadas no plantio, na colheita e na venda dos frutos.
As dificuldades enfrentadas no processo produtivo elencadas por 90% dos entrevistados
são muitas, como a comercialização da produção, pois os “atravessadores” (pessoas que
compram e revendem a fruta) compram o abacaxi e na maioria das vezes não pagam ou
demoram pagar; há falta de assistência técnica e de incentivos da prefeitura municipal;
ocorre a incerteza da venda dos frutos na hora da colheita; há dificuldade em arrendar
terras de melhor qualidade e próximas à água; a falta de mão-de-obra qualificada; e
13
problemas referentes aos insumos para o cultivo, pois grande parte deles não são
registrados para o plantio do abacaxi. Os outros 10% dos entrevistados afirmam que
enfrentam dificuldades referentes à modernização do cultivo do abacaxi, pois não
possuem capital para a implantação de irrigação nas lavouras.
Mesmo com todas as dificuldades no processo produtivo, todos os entrevistados
afirmaram que o cultivo do abacaxi proporciona mais geração de renda, e que
continuando o cultivo, estará contribuindo para permanecia do título do município como
a “Capital Estadual do abacaxi”.
Considerações Finais
É importante considerar que, a produção do abacaxi, tanto para os produtores quanto
para o próprio município possuí um papel econômico e social importante, por conta da
produção, dos empregos gerados, dos comércios na cidade voltados para a demanda da
produção de abacaxi, das agroindústrias processadores de abacaxi. Além disso, faz parte
da identidade e da cultura dos montealegrenses.
Em relação à agricultura familiar, com base na área estudada, é possível afirmar que a
produção de abacaxi tem papel relevante para a reprodução da agricultura familiar na
região. Do universo dos entrevistados, 60% residem na área rural. Além, da produção
do abacaxi cultivam outras culturas voltadas principalmente para subsistência e também
a pecuária leiteira. Ocasionalmente, contratam trabalhadores volantes para auxiliá-los na
colheita ou no plantio. 40% dos entrevistados, são produtores arrendatários que moram
na cidade, produzem a fruta em sociedade com os familiares, sejam pais, irmãos, tios ou
primos e que já residiram no meio rural. Mesmo, arrendando, continuam com a
produção do abacaxi por possuírem sua história de vida ligada ao cultivo dessa fruta,
pois essa tradição foi passada de pais para filhos, possuindo, portanto, “afetividade”
com a terra e também com o cultivo do abacaxi.
Notas
i Segundos dados do IBGE, em alguns produtos básicos como o feijão, arroz, milho, hortaliças, mandioca e pequenos animais a agricultura familiar é responsável por cerca de 60% da produção. ii No ano de 2009 o município de Floresta do Araguaia produziu 175.500 mil frutos de abacaxi (IBGE, 2011). iii Entrevista realizada em setembro de 2011. iv Entrevista realizada em setembro de 2011.
14
v Entrevista realizada em setembro de 2011. Referências
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6023: informação e documentação: referências: elaboração. Rio de Janeiro, ago.2002. ______. NBR 14724: informação e documentação: trabalhos acadêmicos: apresentação. Rio de Janeiro, abril 2011. ALENTEJANO, P. R. R. As relações campo-cidade no Brasil do século XXI. Terra Livre, São Paulo, v. 2, n. 21, p. 25-39, jul./dez. 2003. ABRAMOVAY, R. Paradigmas do capitalismo agrário em questão. 2. ed. São Paulo: UNICAMP, 1992. _____. Agricultura familiar e capitalismo no campo. In: STÉDILE, J. P. A questão agrária hoje. 3. ed. Porto Alegre: UFRGS, 2002. p. 94-104.
BUAINAIM, A. M.; ROMEIRO, A; A agricultura familiar no Brasil: agricultura familiar e sistemas de produção. Disponível em: http://www.incra.gov.br/fao. Acesso em: 12 de setembro de 2011. CARVALHO, S. P. de. et all. Panorama da produção de Abacaxi no Brasil e comportamento sazonal dos preços de Abacaxi “Pérola” comercializados na CEASA –GO. 2009. Disponível em: <http://www.sober.org.br/palestra/13/669.pdf> Acesso em: 11 de setembro de 2011. CORRÊA, V. K. A agricultura familiar e a nova modalidade de integração ao mercado: o caso da cultura de maça. Disponível em: <http://www.periodicos.rc.biblioteca.unesp.br/index.php/ageteo/>. Acesso em: 20 de agost. 2011. . DENARDI, R. Agricultura Familiar e Políticas Públicas: alguns dilemas e desafios para o desenvolvimento rural sustentável. Disponível em: <http://www.emater.br>. Acesso em: 20 de agos. 2011. ENGEL, A. S. O papel das pequenas cidades frente à re-estruturação da Rede Urbana no Triângulo Mineiro: Monte Alegre de Minas. 70 f. (Monografia) - Instituto de Geografia – UFU, 2004. GIACOMELLI, E. J., PY, C. O. O abacaxi no Brasil. Campinas: fundação Cargil, 1981. 101p. HESPANHOL, R. A. M. Produção familiar: perspectivas de análise e inserção na microrregião geográfica de Presidente Prudente. 2000. 354 f. (Doutorado em Geografia)
15
– Instituto de Geociências e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, 2000. HTTP://www. Embrapa. org.br. Acesso em: 20 de set. 2011. LAMARCHE, H (Coord.). Agricultura familiar: do mito à realidade. Campinas/SP: Ed: UNICAMP, 1998.
IBGE. http://www.ibge.gov.br/sidra@, 2009. Acesso em: 22 maio. 2009.
_________Produção Municipal de Minas Gerais, 1990/2009. Disponível em: http://www.ibge.gov.br, 2009. Acesso em: 15 de maio de 2011.
MENDES, E. de P. P. A produção familiar em Catalão (GO): a Comunidade Coqueiro. 2001. 202 f. Dissertação (Mestrado em Geografia) – Instituto de Geografia, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2001. ________. A produção rural familiar em Goiás: as comunidades rurais no município de Catalão. 296 f. Tese (Doutorado em Geografia) - Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista, Campus de Presidente Prudente, Presidente Prudente, 2005. REINHARDTE, D. H.; SOUZA, L. F. S.; CABRAL, J. R.S. Abacaxi: Produção e aspectos técnicos. Embrapa Mandioca e Fruticultura (Cruz das Almas, BA) – Brasília: Embrapa Comunicação para Transferência de Tecnologia, 2000. SANTOS, M. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. 4 ed. São Paulo: HUCITEC, 2006. SCHNEIDER, S. A pluriatividade como estratégia de reprodução da agricultura familiar. In:____. A pluriatividade na agricultura familiar. Porto Alegre: UFRGS, 2003. VENÂNCIO, M. Território de Esperança: tramas territoriais da agricultura familiar na comunidade rural São Domingos em Catalão (GO). 2008. 183 f. Dissertação (Mestrado em Geografia) – Instituto de Geografia, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2008. WANDERLEY, M. N. B. Raízes históricas do campesinato brasileiro. In: TEDESCO, J. C. (Org.). Agricultura familiar: realidades e perspectivas. 3. ed. Passo Fundo: UPF, 2001. cap. 1, p. 21-56.