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2014 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO EDUCATIVO EM AMBIENTE NÃO ESCOLAR Profª Mônica Conzatti

Profª Mônica Conzatti

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2014

OrganizaçãO dO TrabalhO EducaTivO Em ambiEnTE nãO EscOlarProfª Mônica Conzatti

Page 2: Profª Mônica Conzatti

Copyright © UNIASSELVI 2014

Elaboração:

Prof. Profª Mônica Conzatti

Revisão, Diagramação e Produção:

Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri

UNIASSELVI – Indaial.

370.733

C882o Conzatti, Mônica

Organização do Trabalho Educativo em Ambiente não Escolar / Mônica Constate. Indaial: Uniasselvi, 2014.

259 p. ISBN 978-85-7830-852-0 1. Prática de Ensino. 2. Pedagogia. I. Centro

Universitário Leonardo da Vinci.

Impresso por:

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III

aprEsEnTaçãOCaro(a) acadêmico(a)!

A educação direcionada aos ambientes não escolares objetiva ampliar as possibilidades de atuação do pedagogo, visando também desmistificar o olhar reducionista que a este foi empregado.

Na concepção da pedagogia diferenciada e na busca dos sentidos relacionados aos conteúdos a serem ministrados, percebemos a importância do pedagogo, enquanto profissional sensível, mediante as diversidades apresentadas pelos educandos. Ao tratarmos das diversidades, estamos nos referindo a uma vasta manifestação cultural que faz parte da formação de cada sujeito envolvido neste processo, sendo a educação uma espécie de ponte que liga o indivíduo ao mundo que o cerca em seus campos de manifestação, como a família, a escola, a comunidade, as organizações, entre outras, que fazem parte de seu cotidiano. Para tanto, cabe-nos mostrar que o pedagogo pode desenvolver seu trabalho independentemente da idade dos que necessitam da mediação dos seus saberes.

Este Caderno de Estudos objetiva ampliar a visão relacionada à organização do trabalho educativo em ambientes não escolares e estará acompanhando-o(a) ao longo da sua caminhada por meio das mais diversas possibilidades que vão desde a educação de jovens e adultos (mediante os conceitos de andragogia e heutagogia), até a pedagogia aplicada às políticas públicas, às empresas, aos hospitais e à educação carcerária.

A cada nova unidade de estudo, precisamos estar cientes de que todos os espaços de atuação lidam com um coletivo individualizado, ou seja, independentemente do lugar em que o pedagogo atuará, estará carregado de crenças, metodologia própria e diretrizes norteadoras, além de contar com uma equipe multiprofissional já instaurada em cada um dos espaços.

Sendo o pedagogo um profissional preparado para o trabalho em

equipe, é válido lembrar que os espaços não escolares, em sua maioria, contam com profissionais de outras áreas, implicados na busca do bem-estar e desenvolvimento dos sujeitos que, muitas vezes, fragilizados, possuem condições de crescimento social.

Acreditando que educar é amar, faço votos que seu amor pela educação rompa as mais resistentes barreiras, em busca da promoção da qualidade de vida e cidadania, a todos que a ela têm direito.

Professora Mônica Conzatti

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IV

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos!

NOTA

Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais que possuem o código QR Code, que é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar mais essa facilidade para aprimorar seus estudos!

UNI

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UNIDADE 1 – A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES: TRABALHANDO OS CONCEITOS ................................ 1

TÓPICO 1 – A PEDAGOGIA DIFERENCIADA E A EDUCAÇÃO NÃO FORMAL ............. 31 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 32 PHILIPPE PERRENOUD: UM NOME DE EXPRESSÃO DA PEDAGOGIA DIFERENCIADA .............................................................................................................................. 33 A PEDAGOGIA DIFERENCIADA ............................................................................................... 54 BREVE INTRODUÇÃO À EDUCAÇÃO NÃO FORMAL ........................................................ 95 CONCEITUANDO A EDUCAÇÃO NÃO FORMAL ................................................................ 12RESUMO DO TÓPICO 1 .................................................................................................................... 17AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................. 18

TÓPICO 2 – CONHECENDO OS ESPAÇOS NÃO ESCOLARES ............................................. 191 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 192 PEDAGOGIA: TEORIA E PRÁTICA ............................................................................................ 193 OUTROS SENTIDOS PARA EDUCAÇÃO ................................................................................. 254 DIFERENÇAS E SEMELHANÇAS ENTRE A EDUCAÇÃO FORMAL, INFORMAL E NÃO FORMAL .............................................................................................................................. 28RESUMO DO TÓPICO 2 .................................................................................................................... 32AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................. 34

TÓPICO 3 – A IDENTIDADE PROFISSIONAL DO PEDAGOGO .......................................... 351 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 352 TODOS POR UM: O GRUPO NA FORMAÇÃO DA IDENTIDADE .................................... 353 A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE DO PEDAGOGO ........................................................ 41 3.1 O PAPEL DO PEDAGOGO NA ATUALIDADE ..................................................................... 444 ÉTICA APLICADA À PEDAGOGIA – UMA BREVE REFLEXÃO ......................................... 465 O PROFESSOR NA PÓS-MODERNIDADE ............................................................................... 50RESUMO DO TÓPICO 3 .................................................................................................................... 55AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................. 56

TÓPICO 4 – A IMPORTÂNCIA DAS RELAÇÕES PROFESSOR E ALUNO NA CONSTRUÇÃO DOS SABERES ............................................................................... 571 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 572 A RELAÇÃO PROFESSOR ALUNO NO ENSINAR E APRENDER ...................................... 573 AS EXPECTATIVAS NA RELAÇÃO PROFESSOR/ALUNO ................................................... 604 O PAPEL DO PROFESSOR NA FORMAÇÃO DA AUTOESTIMA DA CRIANÇA .......... 655 A DIDÁTICA ASSERTIVA: UM NOVO CAMINHO PARA O TRABALHO DO PROFESSOR ...................................................................................................................................... 69LEITURA COMPLEMENTAR ........................................................................................................... 73RESUMO DO TÓPICO 4 .................................................................................................................... 76AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................. 77

sumáriO

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VIII

UNIDADE 2 – ASPECTOS RELEVANTES DA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL ....................... 79

TÓPICO 1 – DIVERSIDADE CULTURAL: BASE DA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL .......... 811 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 812 A CULTURA E SUAS CULTURAS ................................................................................................ 813 EDUCANDO PARA A DIVERSIDADE ....................................................................................... 89RESUMO DO TÓPICO 1 .................................................................................................................... 95AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................. 96

TÓPICO 2 – INSTRUMENTOS PEDAGÓGICOS APLICADOS À EDUCAÇÃO NÃO FORMAL ......................................................................................................................... 971 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 972 O SIGNIFICADO DO APRENDER E A DEFINIÇÃO DE EDUCADOR .............................. 973 O ESTUDO ATIVO E A EDUCAÇÃO NÃO FORMAL ............................................................ 99RESUMO DO TÓPICO 2 .................................................................................................................... 109AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................. 110

TÓPICO 3 – ANDRAGOGIA E HEUTAGOGIA ........................................................................... 1111 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 1112 A FASE ADULTA DO DESENVOLVIMENTO ........................................................................... 1113 PEDAGOGIA OU ANDRAGOGIA .............................................................................................. 1164 HEUTAGOGIA, QUE MODALIDADE DE ENSINO É ESTA? ............................................... 120LEITURA COMPLEMENTAR ........................................................................................................... 122RESUMO DO TÓPICO 3 .................................................................................................................... 125AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................. 126

TÓPICO 4 – O DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO PEDAGÓGICO, ANDRAGÓGICO E HEUTAGÓGICO ..................................................................... 1271 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 1272 O TRABALHO PEDAGÓGICO NA EDUCAÇAO INTEGRAL NO BRASIL ...................... 1273 O TRABALHO PEDAGÓGICO A PARTIR DA VISÃO HOLÍSTICA .................................. 131 3.1 DEFINIÇÕES, CARACTERÍSTICAS E FINALIDADES DA EDUCAÇÃO HOLÍSTICA .................................................................................................................................. 1334 O TRABALHO PEDAGÓGICO NA PERSPECTIVA HUMANISTA ..................................... 1345 AS BASES DA METODOLOGIA ANDRAGÓGICA PARA A APRENDIZAGEM ............ 1376 ESTRATÉGIAS PARA O DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO HEUTAGÓGICO .............................................................................................................................. 140LEITURA COMPLEMENTAR ........................................................................................................... 142RESUMO DO TÓPICO 4 .................................................................................................................... 150AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................. 151

UNIDADE 3 – PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES ............ 153

TÓPICO 1 – A PEDAGOGIA SOCIAL E O PAPEL DO PEDAGOGO NAS POLÍTICAS PÚBLICAS ...................................................................................................................... 1551 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 1552 UM PANORAMA SOBRE HISTÓRIA E ATUALIDADE DA PEDAGOGIA SOCIAL ............................................................................................................................................... 155 2.1 A PEDAGOGIA SOCIAL NA ALEMANHA ........................................................................... 158 2.2 IDENTIDADE E PERSONALIDADE DA PEDAGOGIA SOCIAL ....................................... 161 2.3 A PEDAGOGIA SOCIAL E A ATUAÇÃO DO PEDAGOGO SOCIAL NO BRASIL ......... 1643 A INSERÇÃO DA PEDAGOGIA SOCIAL NAS POLÍTICAS PÚBLICAS ........................... 166

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RESUMO DO TÓPICO 1 .................................................................................................................... 171AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................. 172

TÓPICO 2 – PEDAGOGIA HOSPITALAR: O ENSINAR EM UM AMBIENTE DE FRAGILIDADE ............................................................................................................. 1731 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 1732 A CRIANÇA HOSPITALIZADA ................................................................................................... 1733 A PEDAGOGIA HOSPITALAR ..................................................................................................... 1774 A ATUAÇÃO DO PEDAGOGO HOSPITALAR: POSSIBILIDADES E DESAFIOS .......... 1795 A BRINQUEDOTECA ...................................................................................................................... 183 5.1 OS BRINQUEDOS ....................................................................................................................... 1946 A BRINQUEDOTECA HOSPITALAR .......................................................................................... 1977 COMO FALAR SOBRE A MORTE PARA AS CRIANÇAS? .................................................... 200RESUMO DO TÓPICO 2 .................................................................................................................... 207AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................. 208

TÓPICO 3 – PEDAGOGIA ORGANIZACIONAL ....................................................................... 2091 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 2092 O PAPEL DO SETOR DE RECURSOS HUMANOS NO TREINAMENTO DE PESSOAL ............................................................................................................................................ 2093 O PEDAGOGO NAS ORGANIZAÇÕES .................................................................................... 216 3.1 TREINAMENTO E DESENVOLVIMENTO: O ESPAÇO DE TRABALHO DO PEDAGOGO ORGANIZACIONAL ......................................................................................... 220 3.2 A RELAÇÃO ENTRE PESSOAS E ORGANIZAÇÃO ............................................................ 228RESUMO DO TÓPICO 3 .................................................................................................................... 234AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................. 236

TÓPICO 4 – PEDAGOGIA CARCERÁRIA .................................................................................... 2371 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 2372 BREVE HISTÓRICO DAS PRISÕES ............................................................................................ 2373 LEGISLAÇÃO APLICADA À EDUCAÇÃO DE ADULTOS EM RECLUSÃO ..................... 2384 A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS APLICADA AO CÁRCERE PRIVADO ........... 2445 O PEDAGOGO E A EDUCAÇÃO CARCERÁRIA: DESAFIOS APLICADOS A ESTE CONTEXTO ............................................................................................................................ 247LEITURA COMPLEMENTAR ........................................................................................................... 249RESUMO DO TÓPICO 4 .................................................................................................................... 251AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................. 252REFERÊNCIAS ..................................................................................................................................... 253

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UNIDADE 1

A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO EM AMBIENTES NÃO

ESCOLARES: TRABALHANDO OS CONCEITOS

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

PLANO DE ESTUDOS

A partir desta unidade, você será capaz de:

• conhecer o conceito e a aplicação da Pedagogia Diferenciada de Philippe Perrenoud;

• identificar os espaços educativos em ambientes não escolares a partir da compreensão do conceito de educação não formal;

• reafirmar a identidade do pedagogo diante do perfil de atuação direciona-do à educação não formal;

• traçar a importância do estabelecimento dos vínculos entre aluno e professor.

Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No final de cada um deles, você encontrará atividades que o(a) ajudarão a internalizar os conhecimentos estudados.

TÓPICO 1– A PEDAGOGIA DIFERENCIADA E A EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

TÓPICO 2 – CONHECENDO OS ESPAÇOS NÃO ESCOLARES

TÓPICO 3 – A IDENTIDADE DO PEDAGOGO EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES

TÓPICO 4 – A RELAÇÃO ENTRE PROFESSOR E ALUNO

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TÓPICO 1UNIDADE 1

A PEDAGOGIA DIFERENCIADA E A

EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

1 INTRODUÇÃOPara iniciarmos o estudo relacionado à educação não formal, faz-se necessário

termos clareza de alguns conceitos básicos, que darão suporte a esta modalidade educativa. Para tanto, discutiremos, neste primeiro tópico, alguns aspectos que marcam a importância da educação não formal na atuação do pedagogo, bem como a contribuição na fortificação das relações entre a escola e a comunidade.

2 PHILIPPE PERRENOUD: UM NOME DE EXPRESSÃO DA PEDAGOGIA DIFERENCIADA

Para compreendermos o que virá a seguir, passaremos a conhecer um pouco mais sobre o estudioso Philippe Perrenoud e sua contribuição no que condiz aos aspectos relevantes da Pedagogia Diferenciada.

FIGURA 1 – PHILIPPE PERRENOUD

FONTE: Disponível em <http://pedagogiaunicidiesdeguaianas.spaceblog.com.br/624060/PERRENOUD-PHilLIPE-ENSINAR-AGIR-NA-URGENCIA-DECIDIR-NA-INCERTEZA/>. Acesso em: 13 jan. 2014.

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UNIDADE 1 | A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES: TRABALHANDO OS CONCEITOS

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De acordo com Paula (2011), Philippe Perrenoud é sociólogo e antropólogo com doutorado nestas duas áreas. Sua atuação concentra-se às relacionadas ao currículo, práticas pedagógicas e instituições de formação, nas faculdades de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Genebra. Para Perrenoud, o sucesso e o fracasso escolar não são exclusivos ao ambiente escolar, ou seja, o estudioso considera que cada aprendizado objetiva preparar os alunos para enfrentarem as etapas subsequentes ao currículo escolar, tornando o aluno capaz de mobilizar suas aquisições escolares fora do ambiente escolar, tornando assim qualquer ambiente pedagógico, independente de quaisquer situações.

Perrenoud, conforme Paula (2011), reforça que o problema da transposição didática ou da construção das competências, vem de encontro a uma proposta norteadora em relação ao desenvolvimento significativo do potencial dos alunos, tanto dentro, quanto fora do ambiente escolar. Para ele, competência significa capacidade de agir de maneira eficaz em um determinado tipo de situação, apoiada em conhecimento, mas sem limitar-se a ela; lembrando que o mundo do trabalho se apoia na noção de competência e que a escola deve seguir estes passos no intuito de buscar a modernização e a inserção, na corrente de valores da economia de mercado.

Em suas obras, Perrenoud abarca o conceito de competência, porém enfoca que não há uma definição clara e objetiva do seu significado. Para este estudioso existem três aspectos do que pode vir a ser competência: desempenho, hábito e sucesso.

Perrenoud em sua proposta, enfatiza também, que quando os professores aceitam a ideia de competência, consideram-se encarregados de dar conhecimentos básicos aos seus alunos, pensando que antes de mobilizá-los em determinada situação, devem prestar-lhes informações básicas e metódicas no contexto do saber. Desta forma o estudioso inicia a discussão sobre uma das suas linhas de trabalho a transposição didática, assunto que trataremos no decorrer de nossos estudos.

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TÓPICO 1 | A PEDAGOGIA DIFERENCIADA E A EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

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NOTA

Acadêmico(a)! A fim de esclarecer uma das áreas de formação deste estudioso, veremos o conceito de Antropologia, que é a ciência que estuda o homem e as implicações e características de sua evolução física (Antropologia Biológica), social (Antropologia Social), ou cultural (Antropologia Cultural). A palavra antropologia deriva das palavras gregas antropos (humano, ou homem) + logos (pensamento ou razão). Esta é uma ciência tardia que surgiu, ou se constituiu como disciplina científica, em meados do século XIX, a partir das descobertas de Darwin e sua teoria evolucionista, quando se concentrava na elaboração de teorias sobre a evolução do homem, sociedade e cultura. O homem não era mais fruto da criação Divina, então os cientistas começaram a procurar pela sua origem: o chamado “elo perdido”, que ligaria o homem moderno a seus ancestrais hominídeos. Com o tempo, os estudos sobre o homem ganharam forma, os cientistas começaram a se interessar pelos grupos humanos primitivos e seus costumes, cultura e características, passando a entender o homem não mais como uma criação de Deus, mas da natureza.

FONTE: Disponível em: <http://www.infoescola.com/ciencias/antropologia/>. Acesso em: 13 jan. 2014.

3 A PEDAGOGIA DIFERENCIADA

Antes de abordarmos a pedagogia aplicada aos ambientes não formais, vamos concentrar nossos estudos na pedagogia diferenciada como uma maneira de transpormos nossa visão além dos métodos clássicos.

Para Perrenoud (2000) diferenciar (no aspecto social) significa lutar pelas desigualdades diante do espaço escolar, objetivando elevar o nível do ensino. Diante deste pressuposto, nós pedagogos, devemos ir muito além dos conteúdos, valorizando as experiências vivenciadas pelos alunos, objetivando acrescentar também estes conhecimentos, inserindo-os no currículo.

O pedagogo que apresenta sensibilidade aos níveis de fracasso escolar, preocupa-se com a forma de ajustar suas aulas às características individuais dos alunos, buscando novos métodos de ensino que respeitem a diversidade.

Permanecendo rígido aos métodos tradicionais e posteriormente aplicando-os da mesma forma a todos os alunos, o pedagogo estará sendo indiferente às diferenças. Perrenoud (2000) deixa claras as consequências a partir do momento em que o pedagogo:

a) Evidencia o êxito daqueles que dispõem de maiores condições e acesso a estímulos culturais, dos códigos, do nível de desenvolvimento, das atitudes, dos interesses e apoios que permitem um aprendizado mais ágil que refletem nas notas das provas.

b) Provoca o fracasso nos que não dispõem das mesmas condições, convencendo-os de que são incapazes de aprender, fazendo-os acreditar que o fracasso é sinal de insuficiência pessoal mais do que da inadequação da escola.

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UNIDADE 1 | A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES: TRABALHANDO OS CONCEITOS

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Acadêmico(a)! Você já presenciou ou vivenciou estas situações enquanto frequentava a escola regular? Saiba que a forma como o sucesso e o fracasso escolar é exposta pelos professores, influenciam diretamente na construção da personalidade do estudante, principalmente no que tange à sua autoestima. Procure refletir sobre sua postura em relação a esta problemática enquanto futuro educador.

DICAS

O filme Escola de Rock retrata esta questão do reforçamento realizado pelo professor referente ao sucesso ou fracasso escolar.

Dewey Finn (Jack Black) é um músico que acaba de ser demitido de sua banda. Cheio de dívidas para pagar e sem ter o que fazer, ele aceita dar aulas como professor substituto em uma escola particular de disciplina rígida. Logo Dewey se torna um exemplo para seus alunos, sendo que alguns deles se juntam ao professor para montar uma banda local, sem o conhecimento de seus pais. Assista!

FONTE: Disponível em: <http://www.adorocinema.com/filmes/filme-47016/>. Acesso em: 13 jan. 2014.

Perrenoud (2000) reforça que a pedagogia diferenciada está relacionada à didática, ao questionamento sobre o sentido do trabalho escolar, à relação com os outros saberes e à utilização dos conteúdos ministrados.

É bem possível que você já se questionou, no período em que frequentou a escola regular, sobre a importância de aprender fórmulas matemáticas, composições químicas, espaços geográficos e até mesmo fatos históricos, buscando um sentido maior do que as reproduções mecanizadas nas avaliações.

Em relação às dúvidas a respeito da aplicabilidade das informações, Perrenoud (2000) aponta que é preciso refletir sobre duas questões:

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TÓPICO 1 | A PEDAGOGIA DIFERENCIADA E A EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

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• A primeira refere-se à finalidade da informação a ser repassada, pois se considerarmos que o objetivo da escola é influenciar o mundo, os conhecimentos não transferíveis não despertam interesse. Portanto, para que serve a democratização do acesso ao saber, se não for mobilizável fora da escola?

• A segunda refere-se à didática, sendo que a falta de sentido relacionado às aprendizagens origina uma parte das dificuldades deste contexto, pois traz como consequência uma visão limitada sobre dois campos de grande significação: as relações entre os saberes escolares e as práticas sociais.

A educação nos provoca a pensarmos nos sentidos relacionados aos conteúdos escolares e, à consciência do trabalhar objetivando favorecer a transferência de conhecimentos no intuito de desenvolver competências. Este posicionamento nos direciona a outra forma de atuarmos, ou seja, buscar e transferir os significados do que queremos ensinar. Podemos arriscar dizer, que uma parcela dos alunos em fracasso escolar resiste às aprendizagens escolares, por não verem sentido nas informações que o educador fornece.

Perrenoud (2000, p. 55) reforça esta questão ao comentar que

O melhor a ser dito é que não se deve esperar dominar um saber para perguntar-se o que se poderia fazer com ele! Se uma parte dos jovens adultos oriundos da escolaridade obrigatória lê com muita dificuldade, se alguns correm o risco de tornarem-se analfabetos funcionais, não é apenas por não transferir um savoir-faire adquirido, é simplesmente por não tê-lo realmente construído durante sua escolaridade.

NOTA

Acadêmico(a)! A expressão savoir-faire significa habilidade para executar algo.

FONTE: Disponível em: <http://www.dicionarioweb.com.br/savoir-faire/>. Acesso em: 21 jan. 2014.

Neste sentido, o educador necessita estar atento ao constatar que o aluno está aquém do esperado para sua idade ou formação, na execução de alguma atividade, para que não corra o risco de rotulá-lo precipitadamente, como incapaz.

É interessante questionar o aluno sobre como foram formadas as bases que sustentam aquela atividade, por exemplo: o aluno com dificuldades em matemática pode não ter compreendido as operações fundamentais consideradas simples, como adição, subtração, divisão e multiplicação, sendo esta a causa de sua dificuldade em avançar nos conteúdos mais complexos em relação à disciplina.

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UNIDADE 1 | A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES: TRABALHANDO OS CONCEITOS

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Um educador comprometido com o processo de aprendizagem, fará o possível para que este educando possa avançar na aprendizagem, buscando métodos alternativos como: aulas extras, encaminhamento a outros profissionais, formulação de uma metodologia mais lúdica e realista etc., evitando movimentar-se de forma desnecessária na busca de culpados pela condição do aluno.

É neste momento que Perrenoud (2000) traz a importância do conceito de transferência ao caracterizá-la como a capacidade de um sujeito de reinvestir suas aquisições cognitivas, ao se fazerem necessárias mediante outras situações (que fogem do contexto escolar), considerando que sem o mínimo de transferência, toda aprendizagem seria, portanto, totalmente inútil, visto que corresponderia a uma situação passada e não reprodutível em outra ocasião.

A transferência traz à tona a necessidade de pensarmos em novas formas de demonstração, no que condiz a possibilidade de tornamos os conteúdos menos abstratos e mais próximos da realidade vivenciada naquela comunidade, constituída pelos alunos e suas famílias. Desta maneira estaremos preparando-os para que os conhecimentos adquiridos sejam reinvestidos nos mais variados cenários ao longo do seu desenvolvimento, sendo estes: na vida cotidiana, política, familiar e pessoal.

FIGURA 2 – TRANSFÊNCIA DE CONHECIMENTO FORA DA ESCOLA

FONTE: Disponível em: <http://paradigmasdapedagogia.blogspot.com.br/2011_05_01_archive.html>. Acesso em: 22 jan. 2014.

Desta forma, Perrenoud (2000, p. 57) enfatiza que “globalmente, a importância atribuída à transferência de conhecimentos está ligada à mobilidade das pessoas e ao ritmo de transformação das sociedades”.

Porém, não significa dizer que as formas tradicionais de aprendizagem tenham que desaparecer por completo e nem que toda a aquisição precisa ser transferível a situações diferentes para ser digna de interesse; mas que seja considerada e valorizada a bagagem cultural e os saberes da criança ou adulto no decorrer da vida escolar. Pense nisso!

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TÓPICO 1 | A PEDAGOGIA DIFERENCIADA E A EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

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4 BREVE INTRODUÇÃO À EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

Sendo a educação não formal um dos campos de atuação do pedagogo, torna-se interessante conhecer os momentos mais importantes da construção desta modalidade educacional. Gohn (2011) coloca que até a década de 80, a educação não formal era um campo pouco valorizado no Brasil, tanto nas políticas públicas quanto entre os educadores, pois todas as atenções estavam voltadas à educação formal. Mesmo que de maneira discreta, alguns estudiosos da época, acreditavam que se tratava de uma extensão das atividades escolares e enfatizavam esta ideia.

Nesta época, a visão mais otimista lançada à educação não formal, estava relacionada à educação de jovens e adultos, que além de ter um projeto voltado à alfabetização, objetivava integrá-los ao contexto urbano-industrial.

Gohn (2011, p. 100) enfatiza que:

Genericamente, a educação não formal era vista como o conjunto de processos delineados para alcançar a participação de indivíduos e de grupos em áreas denominadas extensão rural, animação comunitária, treinamento vocacional técnico, educação básica, planejamento familiar etc. Os conteúdos a serem adquiridos na aprendizagem via educação não formal, incluíam: atitudes positivas em relação à cooperação na família, trabalho, comunidade, colaboração para o crescimento nacional, progresso etc.; a alfabetização funcional; o conhecimento de habilidades funcionais para o planejamento familiar, sustentação econômica e participação cívica, além de uma visão científica para compreensão elementar de determinadas áreas específicas.

Em 1990, esta modalidade passou a destacar-se devido a mudanças significativas na economia, na sociedade e no mundo do trabalho, quando houve uma valorização das questões referentes à aprendizagem em grupos e aos valores culturais que regiam as comunidades naquela época, considerando que as crenças e valores sociais eram determinantes na conduta dos indivíduos.

Diante disso, outra forma de pensar a educação não formal estava surgindo, ou seja, era necessário investir em uma nova cultura organizacional que apostasse na aprendizagem de habilidades extraescolares.

Gohn (2011) coloca que a instauração desta nova visão foi muito além de configurar um novo campo para esta modalidade educacional. Houve organizações importantes posicionando-se em defesa de investimentos nesta área, sendo estas: agências internacionais como a ONU (Organização das Nações Unidas) e a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura).

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UNIDADE 1 | A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES: TRABALHANDO OS CONCEITOS

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FIGURA 3 – UNESCO

FONTE: Disponível em: <http://www.concursosmuseologia.com.br/2013/08/unesco-abre-processo-seletivo.html>. Acesso em: 20 jan. 2014.

Em 1990, foi realizada na Tailândia, uma conferência em que dois documentos de considerável expressão foram elaborados, sendo denominados “Declaração mundial sobre educação para todos” e “Plano de ação para satisfazer necessidades básicas da aprendizagem”; particularidades relacionadas à América Latina juntamente com experiências de ONGs (Organizações não Governamentais) em programas de educação na região, elencaram novas possibilidades de trabalho destinadas a esta área.

Assim, Gohn (2011, p. 101-102) considera que:

A partir da definição de necessidades básicas de aprendizagem, vistas como “ferramentas essenciais para a aprendizagem” e de seus novos “conteúdos básicos”, abrangendo, além dos conteúdos teóricos e práticos, valores e atitudes para viver e sobreviver, e a desenvolver a capacidade humana, os documentos da conferência ampliam o campo da educação para outras dimensões além da escola. [...] Os documentos prosseguem preconizando a necessidade de mudanças, numa visão ampliada da educação, inovando os canais existentes, fazendo-se alianças e utilizando-se recursos de forma a universalizar o acesso à educação e fomentar a equidade.

As ONGs ocupam um lugar de grande destaque no cenário educacional não formal, devido a trabalhos desenvolvidos no âmbito educativo comunitário e intrafamiliar, na área de educação fundamental junto a comunidades indígenas e rurais, bem como em programas de educação para o trabalho voltado a entidades que promovam programas sobre tecnologias apropriadas, autogestão, agricultura sustentável e preservação do meio ambiente.

Gohn (2011) destaca que as ONGs são agências que possuem know-how em metodologias, estratégias e programas de ação, tendo se firmado ao longo das últimas décadas como incentivadoras do trabalho voluntário, bem como destacam-se no resgate do conhecimento, crenças e costumes das culturas locais, adotando uma postura de valorização e não de desprezo.

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TÓPICO 1 | A PEDAGOGIA DIFERENCIADA E A EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

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NOTA

Acadêmico(a)! O termo know-how provém do inglês e significa “saber como”. Ao ser aplicado a alguém que apresenta know-how em alguma atividade, refere-se à pessoa que sabe desempenhar essa tarefa com conhecimento de causa e experiência.

FONTE: Disponível em: <http://www.dicionarioinformal.com.br/know-how/. Acesso em: 17 jan. 2014.

Gohn (2011) coloca que ainda na década de 90, o Brasil sofreu com um balanço na economia, provocando uma onda de desemprego motivada por políticas globalizantes, com características excludentes que desestabilizaram o mercado de trabalho, criando uma situação de precariedade do trabalhador em relação a um sistema de direitos. Os trabalhadores perderam seu status, segurança e, às vezes, a própria identidade, com o findar do sistema salarial.

Esta situação trouxe à tona o novo modelo desenhado pela ONU em que enfatizava-se o poder do conhecimento e não mais da economia, ou seja, passava-se a exigir das pessoas o domínio de habilidades consideradas básicas, como por exemplo, ter fluência em mais de um idioma, bem como das questões relacionadas à gestão, sejam na carreira profissional, nos conflitos, ou no trabalho em equipe etc.; visando ao planejamento de todos, na vida pessoal e profissional.

Além disso, passa-se a exigir do trabalhador um perfil criativo e compreensivo dos processos, além de uma postura flexível às novas ideias, com capacidades que visem ao raciocínio rápido na tomada de decisões e responsabilidade com suas atividades e com as outras pessoas, nos campos relacionados à sociedade e ao meio ambiente.

Gohn (2011) ressalta que para a formação desta nova personalidade profissional preparada a enfrentar as demandas deste mercado de trabalho, foram desenvolvidos alguns cursos por certos programas oficiais, a fim de atender às necessidades básicas do cidadão. Diante do fato do maior problema ser o desemprego, foi preciso alterar políticas públicas, de forma que se priorizasse a retomada do desenvolvimento e a expansão do setor produtivo. Estes cursos fizeram parte das políticas do modelo econômico vigente na época, porém priorizavam os interesses do capital especulativo internacional em detrimento do desenvolvimento nacional.

Na prática, a nova organização mundial trouxe benefícios em nível de capacitação profissional e oportunidade de ampliação dos segmentos relacionados à indústria, mas como consequência, a sociedade tornou-se mais competitiva, individualista e violenta, sendo relevante mencionar o aumento considerável de doenças diretamente ligadas ao trabalho.

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UNIDADE 1 | A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES: TRABALHANDO OS CONCEITOS

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5 CONCEITUANDO A EDUCAÇÃO NÃO FORMALÉ comum associarmos a educação somente ao ambiente formal (escolar)

com suas normativas e diretrizes, mas é necessário lembrar que seu conceito é amplo e vai muito além dos muros das escolas, ou seja, está diretamente associado ao conceito de cultura.

Para Gohn (2011) a cultura é concebida como modos, formas e processos de atuação na história, onde é construída, passando constantemente por modificações, sendo diretamente influenciada por valores que se sedimentam em tradições e são transmitidos de uma geração para outra. Considerando que a educação de um povo consiste no processo de absorção, reelaboração e transformação da cultura existente, entende-se que ela é geradora da cultura política de uma nação.

Nos aspectos relacionados à educação não formal, Gohn (2011, p. 106) destaca cinco importantes dimensões que designam este processo:

O primeiro envolve a aprendizagem política dos direitos dos indivíduos enquanto cidadãos, isto é, o processo que gera a conscientização dos indivíduos para a compreensão dos seus interesses e do meio social e da natureza que o cerca, por meio da participação em atividades grupais. Participar de um Conselho de escola poderá desenvolver essa aprendizagem. O segundo, a capacitação dos indivíduos para o trabalho, por meio da aprendizagem de habilidades e/ou desenvolvimento de potencialidades. O terceiro, a aprendizagem e exercício de práticas que capacitam os indivíduos a se organizarem com os objetivos comunitários, voltadas para a solução de problemas coletivos cotidianos. [...] O quarto, e não menos importante, é a aprendizagem de conteúdos da escolarização formal, escolar, em formas e espaços diferenciados. Aqui, o ato de ensinar se realiza de forma mais espontânea, e as forças sociais organizadas de uma comunidade têm o poder de interferir na delimitação do conteúdo didático ministrado bem como estabelecer as finalidades a que se destinam àquelas práticas. O quinto é a educação desenvolvida na e pela mídia, em especial eletrônica.

Vivemos em uma época em que as mídias fazem parte do nosso cotidiano e o influenciam diretamente, tornando o acesso à informação quase que instantaneamente no ato do acontecimento. A modernização da sociedade trouxe uma aceleração da rotina, provocando vários efeitos colaterais entre eles: frustração, estresse, relações familiares frágeis, ansiedade, doenças de caráter psicossomático etc.

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TÓPICO 1 | A PEDAGOGIA DIFERENCIADA E A EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

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NOTA

Acadêmico(a)! A psicossomática é uma doença caracterizada por sinais e manifestações apresentadas pelo corpo, onde os exames médicos não conseguem descobrir uma origem orgânica ou biológica para o sintoma.

FONTE: Disponível em: <http://elidioalmeida.com/2011/01/doenca-psicossomatica-o-que-e-isso/>. Acesso em: 20 jan. 2014.

Diante destes atenuantes, a sociedade busca formas alternativas de lidar com a fragilidade expressa no corpo, na procura por cursos que visam trabalhar maneiras de reduzir os impactos da rotina no organismo, como o: autoconhecimento, o relaxamento, a meditação e os alongamentos etc. Estes recursos vêm crescendo constantemente, sendo considerados um campo da educação não formal.

Conforme Gohn (2011), a educação transmitida pela família, nas relações de amizade, clubes, nos teatros, na leitura de jornais, nos livros, nas revistas, entre outros meios são considerados temas da educação informal. A diferença entre educação não formal e informal é que na primeira existem dois sujeitos, ou seja, fazem parte desta modalidade alcançar objetivos e/ou desenvolver competências. Já a educação informal decorre de processos espontâneos não havendo rigidez metodológica na sua condução.

Os espaços de educação não formal se desenvolvem: nas associações de bairro, nos movimentos sociais, nas igrejas, nos sindicatos, nos partidos políticos, nas ONGs, nos espaços culturais e nas próprias escolas. As escolas fazem parte desta modalidade de ensino ao serem palco de atividades culturais abertas à comunidade ou mesmo quando proporcionam aos seus alunos oficinas temáticas de trabalho como artesanato, teatro etc.

FIGURA 4 – OFICINA DE TEATRO

FONTE: Disponível em: <http://www.spbarueri.com.br/workshop-teatro-de-rua-em-barueri-%E2%80%93-inscricoes.html>. Acesso em: 20 jan. 2014.

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UNIDADE 1 | A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES: TRABALHANDO OS CONCEITOS

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Nas atividades relacionadas à educação não formal, as questões referentes às categorias de espaço e tempo recebem outra conotação. Gohn (2011) enfatiza que o espaço, neste caso, é algo criado e recriado segundo os modos de ação previstos nos objetivos maiores que dão sentido ao fato de determinado grupo social estar reunido. Já o tempo não é algo fixado a priori e são respeitadas as diferenças existentes para a absorção e reelaboração dos conteúdos, implícitos e explícitos, no processo de ensino-aprendizagem.

A educação não formal busca evitar o enquadramento dos indivíduos que participam desta forma educativa, procurando flexibilizar o currículo com o objetivo de atender à demanda da clientela. Considerando que um dos principais objetivos da educação não formal é o exercício da cidadania, busca, entretanto pensar suas ações voltadas ao coletivo, sendo estas elaboradas em função destes, nos quais destacamos: grupos de trabalhadores, grupos de jovens, adultos, mães, terceira idade etc.

Gohn apud Afonso (1992) nos contempla com um quadro comparativo entre as escolas tradicionais (educação formal) e as associações democráticas para o desenvolvimento não formal:

QUADRO 1 – COMPARATIVO ENTRE AS ESCOLAS TRADICIONAIS (EDUCAÇÃO FORMAL) E AS ASSOCIAÇÕES DEMOCRÁTICAS PARA O DESENVOLVIMENTO NÃO FORMAL

Tipos de Aprendizagem

Escolas tradicionais Associações democráticas para o desenvolvimento

Apresentam um caráter compulsório Apresentam um caráter voluntário

Dão ênfase apenas à instrução Promovem sobretudo a socializaçãoFavorecem o individualismo e a competição Promovem a solidariedade

Visam à manutenção dos status quo Visam ao desenvolvimento

Preocupam-se essencialmente com a reprodução cultural e social

Preocupam-se essencialmente com a mudança social

São hierárquicas e fortemente formalizadas

São pouco formalizadas e pouco ou incipientemente hierarquizadas

Dificultam a participação Favorecem a participação

Utilizam métodos centrados no professor-instrutor

Proporcionam a investigação-ação e projetos de desenvolvimento

S u b o r d i n a m - s e a u m p o d e r centralizado

São, por natureza, formas de participação descentralizada

FONTE: AFONSO (1992)

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TÓPICO 1 | A PEDAGOGIA DIFERENCIADA E A EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

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NOTA

Acadêmico(a)! A expressão “status quo” significa o estado atual das coisas. No estado que devem estar as coisas.

FONTE: Disponível em: <http://www.dicionarioinformal.com.br/status%20quo/>. Acesso em: 20 jan. 2014.

Acadêmico(a)! É importante frisar que as duas modalidades educativas (não formal e informal) possuem aspectos considerados positivos e negativos, sendo assim, na prática educativa necessitamos filtrar as possibilidades que cada uma delas nos oferece.

A aprendizagem relacionada à educação não formal se dá através da prática social, sendo pautada no pressuposto que por meio das experiências vivenciadas pelo grupo o aprendizado é originado, considerando que esta prática educativa é de caráter coletivo.

FIGURA 5 – APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

FONTE: Disponível em: <http://www.gthidro.ufsc.br/comunidade-de-aprendizagem-em-governanca-do-saneamento>. Acesso em: 20 jan. 2014.

A respeito disso Gohn (2011, p. 112) nos enfatiza que:

A maior importância da educação não formal está na possibilidade de criação de novos conhecimentos, ou seja, a criatividade humana passa pela educação não formal. O agir comunicativo dos indivíduos, voltado para o entendimento dos fatos e fenômenos sociais cotidianos,

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UNIDADE 1 | A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES: TRABALHANDO OS CONCEITOS

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baseia-se em convicções práticas, muitas delas advindas da moral, elaboradas a partir das experiências anteriores, segundo as tradições e as condições histórico-sociais de determinado tempo e lugar. O conjunto desses elementos fornece a amálgama para a geração de soluções novas, construídas em face dos problemas que o dia a dia coloca nas ações dos homens e das mulheres.

A educação não formal proporciona aos seus participantes um espaço importante de reflexão e posteriormente, ações que possam vir a beneficiar diretamente a comunidade no qual estão inseridos. Para que isso seja concreto, é necessário empenho e determinação dos grupos envolvidos com essa prática educativa, motivando a participação da comunidade.

Gohn (2011) considera que é importante esclarecer que os processos metodológicos utilizados na educação não formal estão pouco relacionados à leitura e à escrita, ou seja, a discussão e a troca de ideias se dão por meio dos saberes disponíveis, no passado e presente e são consideradas prioridades nesta modalidade. Estes momentos possibilitam aos participantes a expressão de seus desejos, emoções e pensamentos, que por algum motivo (carência socioeconômica, direito individual, demanda não atendida) permaneceram calados.

Acadêmico(a)! A educação não formal exige do pedagogo um pensamento crítico e aberto às diferentes situações que irão fazer parte do seu cotidiano; pois como vimos anteriormente, as modalidades educativas estão separadas somente por conceitos teóricos, porém a realidade as une.

Pensar a escola hoje é reconhecer a existência de demandas individuais e coletivas, orientando para a liberdade do sujeito, preparando-o para o exercício do diálogo democrático e para as mudanças sociais. Buscar desenvolver a capacidade do sujeito em compreender o outro em sua cultura, deve fazer parte do conteúdo programático das atividades a serem desenvolvidas, quebrando paradigmas.

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Neste tópico, você aprendeu que:

• Para Perrenoud (2000), o sucesso e o fracasso escolar não são exclusivos ao ambiente escolar, pois o estudioso considera que cada aprendizado objetiva preparar os alunos para enfrentarem as etapas subsequentes ao currículo escolar, tornando o aluno capaz de mobilizar suas aquisições escolares fora do ambiente escolar, tornando qualquer ambiente, um ambiente pedagógico, independente de quaisquer situações.

• O conceito de competência enfocado por Perrenoud diz que não há uma definição clara e objetiva do seu significado, sendo que para o estudioso existem três aspectos do que pode vir a ser competência, como: desempenho, hábitos e sucesso.

• Perrenoud (2000) nos coloca ainda que a pedagogia diferenciada está relacionada com: a didática, o questionamento sobre o sentido do trabalho escolar, a relação com os outros saberes e a utilização dos conteúdos ministrados.

• Um educador comprometido com o processo de aprendizagem, fará o possível para que este educando possa avançar na aprendizagem, buscando métodos alternativos como: aulas extras, encaminhamento a outro profissional, formulação de uma metodologia mais lúdica e realista etc., evitando movimentar-se de forma desnecessária na busca de culpados pela condição do aluno.

• A diferença entre educação não formal e informal é que na primeira existem dois sujeitos, ou seja, fazem parte desta modalidade alcançar objetivos e/ou desenvolver competências. Já a educação informal decorre de processos espontâneos não havendo rigidez metodológica na sua condução.

• ONGs são agências que possuem know-how em metodologias, estratégias e programas de ação, tendo se firmado ao longo das últimas décadas como incentivadoras do trabalho voluntário. Elas se destacam no resgate do conhecimento, crenças e costumes das culturas locais, adotando uma postura de valorização e não de desprezo.

RESUMO DO TÓPICO 1

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1 Para Perrenoud (2000) diferenciar significa lutar pelas desigualdades diante do espaço escolar, objetivando elevar o nível do ensino. Desta forma, como o profissional da educação precisa trabalhar este conceito de diferenciar?

2 Como você, acadêmico(a), visualiza a educação não formal e como ela acontece dentro desta estrutura? Exemplifique.

AUTOATIVIDADE

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TÓPICO 2

CONHECENDO OS ESPAÇOS NÃO ESCOLARES

UNIDADE 1

1 INTRODUÇÃODurante seus estudos nesta disciplina, vamos juntos caminhar pelos

espaços não escolares, seus significados e forma como o pedagogo se destaca neles em seus formatos de atuação.

Inicialmente, faremos um resgate de alguns conceitos importantes, sendo estes: educação formal, informal e não formal, bem como o conceito de pedagogia. Posteriormente, veremos alguns dos possíveis ambientes de educação não formal, nos quais os saberes pedagógicos contribuem de forma significativa no transcorrer dos processos educativos.

Desejamos, acadêmico(a), que seus estudos sejam produtivos e que enriqueçam sua visão diante destas possibilidades de trabalho. Bons estudos!

2 PEDAGOGIA: TEORIA E PRÁTICAPor muito tempo a visão sobre o conceito e missão da Pedagogia,

permaneceu limitada ao modo como se ensina ou o uso de técnicas de ensino, sendo então restritos ao ambiente escolar. Porém, um novo cenário da educação inicia-se a partir de novas perspectivas para o profissional, tornando seu significado mais amplo e complexo.

Libâneo (2010, p. 29) aponta que a Pedagogia

[...] é um campo de conhecimentos sobre a problemática educativa na sua totalidade e historicidade e, ao mesmo tempo, uma diretriz orientadora da ação educativa. O pedagógico refere-se às finalidades da ação educativa, implicando objetivos sociopolíticos a partir dos quais se estabelecem formas organizativas e metodológicas da ação educativa. Nesse entendimento, o fenômeno educativo apresenta-se como expressão de interesses sociais em conflito com a sociedade. É por isso que a Pedagogia expressa finalidades sociopolíticas, ou seja, uma direção explícita da ação educativa.

A pedagogia ensaia novos passos que vão além dos muros das escolas direcionando o ato educativo a uma prática concreta realizada para a sociedade como um todo, respondendo aos novos movimentos que estão sendo estabelecidos

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UNIDADE 1 | A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES: TRABALHANDO OS CONCEITOS

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como a globalização, o neoliberalismo, o terceiro setor, e a educação on-line, exigindo dos profissionais pedagogos maior qualificação e preparo.

Diante destes novos movimentos, Libâneo (2010) nos mostra que a educação é um conjunto de ações, processos, influências e estruturas, que através de suas práticas intervêm no desenvolvimento humano de indivíduos e grupos, estabelecendo uma relação ativa com o meio natural e social, diante de um determinado contexto de relações entre grupos e classes sociais.

O campo de atuação da pedagogia é vasto, pois a educação ocorre em várias instâncias como na família, no trabalho, na rua, nas organizações, nos meios de comunicação, na política, entre outras.

FIGURA 6 – EDUCAÇÃO NA FAMÍLIA

FONTE: Disponível em: <http://www.novabrasilfm.com.br/blog/marcio-cruz/familia-familia-acorda-junto-todo-dia-nunca-perde-essa-mania/>. Acesso em: 6 jan. 2014.

Estas modalidades educativas manifestam-se de diferentes formas e são classificadas em: educação formal, não formal e informal. Libâneo (2010) as diferencia da seguinte forma:

a) Educação informal: corresponde às ações e influências exercidas pelo meio, ou seja, o ambiente sociocultural em que o indivíduo está inserido, por meio das relações do indivíduo com outros indivíduos ou grupos em vários aspectos, sejam estes: social, ecológico, físico e cultural. Este envolvimento resulta em conhecimentos, experiências e práticas que não estão ligadas à uma instituição, sendo assim, não apresentam uma função intencional ou organizada.

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TÓPICO 2 | CONHECENDO OS ESPAÇOS NÃO ESCOLARES

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FIGURA 7– EDUCAÇÃO INFORMAL

FONTE: Disponível em: <http://fabiopestanaramos.blogspot.com.br/2011/03/fundamentos-historicos-e-filosoficos-da.html>. Acesso em: 6 jan. 2014.

b) Educação não formal: caracteriza-se pela relação educacional realizada em espaços fora dos marcos institucionais, mas que obedecem a certo grau de sistematização e estruturação.

FIGURA 8 – EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

FONTE: Disponível em: <http://www.sorocaba.sp.gov.br/pagina/230/>. Acesso em: 7 jan. 2014.

c) Educação formal: é composta pelas instâncias de formação, escolares ou não, em que há objetivos educativos explícitos resultantes de uma ação intencional institucionalizada, estruturada e sistemática.

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UNIDADE 1 | A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES: TRABALHANDO OS CONCEITOS

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FIGURA 9 – EDUCAÇÃO FORMAL

FONTE: Disponível em: <http://gifrana.blogspot.com.br/2009/12/educacao-formal.html>. Acesso em: 7 jan. 2014.

Acadêmico(a)! Estas modalidades de educação possuem particularidades, porém não podem ser consideradas de forma isolada.

Considerando que as práticas educativas fazem-se presentes em muitos lugares, o pedagogo passa a fazer parte de outros cenários, reconstruindo sua atuação em novos espaços.

Gadotti (2005) aponta que a educação não formal é mais difusa, menos

hierárquica e menos burocrática, pois os programas desenvolvidos nesta modalidade educacional não necessitam seguir um sistema sequencial e hierárquico de progressão. Sua duração pode ser de acordo com a necessidade da instituição que o desenvolve, podendo fornecer certificados ou não.

Diante do exposto, Gadotti (2005, p. 2) sustenta que:

O tempo da aprendizagem na educação não formal é flexível, respeitando as diferenças e as capacidades de cada um, de cada uma. Uma das características da educação não formal é sua flexibilidade tanto em relação ao tempo quanto à criação e recriação dos seus múltiplos espaços.

São caracterizados como espaços de atuação do pedagogo para a educação não formal: empresas, hospitais, ONGs, associações, igrejas, eventos, emissoras de transmissão (rádio e TV), penitenciárias, agências de viagem, entre outros lugares em que os saberes pedagógicos façam a diferença. Desta forma o pedagogo acompanha as transformações sofridas pela sociedade fazendo com que esta também a perceba de outra forma, deixando de ser visto como um

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TÓPICO 2 | CONHECENDO OS ESPAÇOS NÃO ESCOLARES

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profissional diretamente ligado à educação formal, passando a desenvolver um trabalho mais amplo e diversificado.

Para Libâneo (2010), a educação está associada aos processos de comunicação e interação nos quais os membros de uma sociedade assimilam saberes, habilidades, técnicas, atitudes e valores existentes em um meio culturalmente organizado, ganhando com isso a importância necessária para produzir outros saberes, técnicas, valores etc.

Este profissional, que sempre exerceu o papel de transformador do conhecimento e do comportamento humano, agora acompanha as mudanças sociais, efetivando sua atuação além dos muros da escola, e que, no entanto, também objetivam a aprendizagem e a modificação do comportamento humano dentre a educação não formal.

Libâneo (2010) chama nossa atenção ao afirmar que o pedagogo é o profissional cuja atuação é ampliada às várias instâncias da prática educativa, direta ou indiretamente ligadas à organização e aos processos de transmissão e assimilação de saberes e modos de ação, tendo por objetivo a formação humana previamente definida em sua contextualização histórica.

Partindo do pressuposto de que a evolução social tem inserido o pedagogo em um mercado de trabalho cada vez mais amplo e diversificado, faz-se importante compreendermos que muitas foram as mudanças na dinâmica desta sociedade contemporânea, devido à globalização e às modernizações. Também foram valorizadas, com mais intensidade, ações como inclusão social, voluntariado, projetos e pesquisas voltados às várias modalidades educativas (formal, informal e não formal), reforçando que o processo de ensino-aprendizagem não se restringe somente ao espaço escolar.

Libâneo (2010) enfatiza que no campo da ação pedagógica extraescolar encontramos profissionais que exercem sistematicamente atividades pedagógicas e outros que ocupam apenas parte de seu tempo nestas atividades, dentre eles:

a) Formadores, animadores, instrutores, organizadores, técnicos, consultores, orientadores, que desenvolvem atividades pedagógicas (não escolares) em órgãos públicos, privados e públicos não estatais, os ligados às empresas, à cultura e aos serviços de saúde, alimentação, promoção social etc.

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UNIDADE 1 | A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES: TRABALHANDO OS CONCEITOS

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FIGURA 10 – ORIENTAÇÃO EM SAÚDE

FONTE: Disponível em: <http://linkdigital.ifsc.edu.br/2012/05/21/ifsc-participa-da-semana-municipal-de-conscientizacao-e-orientacao-sobre-saude-mental-em-joinville/>. Acesso em: 8 jan. 2014.

b) Formadores que atuam nas empresas com a transmissão de saberes e técnicos ligados a outras atividades profissionais especializadas. Neste quesito temos, por exemplo, engenheiros, supervisores de trabalho, técnicos etc., que dedicam boa parte de seu tempo a supervisionar e ensinar trabalhadores no local de trabalho, orientar estagiários etc.

FIGURA 11 – ORIENTAÇÃO DE ESTÁGIO

FONTE: Disponível em: <http://economia.terra.com.br/lei-do-estagio-ajuda-empreendedor-a-descobrir-novos-talentos,857832c35076b310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html>. Acesso em: 8 jan. 2014.

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TÓPICO 2 | CONHECENDO OS ESPAÇOS NÃO ESCOLARES

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c) Trabalhadores sociais, monitores e instrutores de recreação e educação física, bem como profissionais das mais diversas áreas onde ocorre algum tipo de atividade pedagógica, tais como: administradores de pessoal, redatores de jornais e revistas, comunicadores sociais e apresentadores de programas de rádio e TV, criadores de programas de TV, de vídeos educativos, de jogos e brinquedos, elaboradores de guias urbanos e turísticos, mapas, folhetos informativos, agentes de difusão cultural e científica etc.

FIGURA 12 – GUIA TURÍSTICO

FONTE: Disponível em: <http://www.tocadacotia.com/turismo/guia-de-turismo>. Acesso em: 8 jan. 2014.

Acadêmico(a)! Como você pôde observar há uma gama enorme de atividades pedagógicas desenvolvidas por outros profissionais, que muitas vezes nem se dão conta de que exercem um papel educativo e influente no cotidiano de outras pessoas. Neste caso, a intervenção do pedagogo é de grande valia, pois como profissional habilitado em lidar com questões também referentes à dinâmica da aprendizagem, tem muito a contribuir com as outras categorias profissionais.

3 OUTROS SENTIDOS PARA EDUCAÇÃOVeremos a seguir que a educação se apresenta com outros sentidos, além

daqueles que já conhecemos. Para tanto devemos também, enquanto pedagogos adotar outras posturas tendo como finalidade repensar nossa prática e reconstruir nossos métodos.

Para Libâneo apud Mialaret (1976) a educação caracteriza-se de três outras formas: educação-instituição, educação-processo e educação-produto, que se organizam da seguinte maneira:

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UNIDADE 1 | A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES: TRABALHANDO OS CONCEITOS

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a) Educação-instituição: esta linha corresponde a uma estrutura organizacional e administrativa, com normas de funcionamento e diretrizes pedagógicas que se referem ao sistema educacional como um todo, no caso do funcionamento interno de cada instituição. Neste âmbito estão as escolas e as outras formações de educação, como: educação brasileira, educação norte-americana e educação familiar, sendo esta também inclusa como instituição. O autor esclarece que a multiplicidade de modalidades educativas presentes na sociedade contemporânea não restringem o sistema educacional ao sistema de ensino, muito menos o reduzem às formas estritamente institucionais ou oficiais. Na educação não formal, encontramos outras categorias assim organizadas como os movimentos sociais e comunitários, as atividades de animação cultural, equipamentos urbanos etc.

FIGURA 13 – MOVIMENTOS SOCIAIS

FONTE: Disponível em: <http://feab.wordpress.com/2009/12/03/a-une-as-fraudes-e-a-criminalizacao-dos-movimentos-sociais/>. Acesso em: 8 jan. 2014.

b) Educação-processo: esta instância é ligada à ação educadora e suas condições/modos pelos quais os sujeitos incorporam os meios de se educar. Considerando que toda educação implica uma relação de influência entre os seres humanos, a educação-processo objetiva formar o sujeito, de modo que o mesmo possa alcançar propósitos explícitos e intencionais, promovendo aprendizagens mediante a atividade própria dos sujeitos. É aplicada em ambientes organizados, objetivos e com conteúdos definidos em função das necessidades apresentadas pelos sujeitos, visando à utilização de métodos e procedimentos de intervenção educativa buscando obter determinados resultados distinguindo-se dos processos educativos informais, que são mais difusos e espontâneos. O processo educativo opera com três elementos considerados essenciais: um agente que origina a ação educativa, um modo de atuação que se constitui de conteúdo ou método e um destinatário que corresponde a um indivíduo, grupo ou geração.

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TÓPICO 2 | CONHECENDO OS ESPAÇOS NÃO ESCOLARES

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FIGURA 14 – TREINAMENTO

FONTE: Disponível em: <http://www.ines.gov.br/_layouts/mobile/view.aspx?List=f99d462d-c61d-47a9-b3c9-abf307e38d59&View=2825c49b-0843-4a8f-8fea-d3e10904a144>. Acesso em: 9 jan. 2014.

c) Educação-produto: este modelo caracteriza-se pelos resultados obtidos na execução das ações educativas, diante da configuração do sujeito educado como consequência dos processos educativos ministrados. Configura-se no aluno educado como produto da oferta de serviços educativos. Ao fazermos uso de comentários como “o ensino fundamental está deixando a desejar” ou “a criança está no quinto ano e ainda não sabe ler”, estamos avaliando a educação-produto. Neste aspecto, estamos questionando os objetivos e conteúdos da educação, indiferente se esta for escolar ou não escolar, pois ambas refletem as expectativas sociais. Ao definirmos como projeto a formação de sujeitos com perfil autônomo, solidário, participativo e/ou profissionalmente capacitados, estamos nos remetendo ao “aluno educado” como sujeito que se comporta e se conduz de acordo com estas expectativas. Os educadores precisam ter clareza dos objetivos e efeitos do processo educativo, sendo necessário avaliar a educação-produto e, reformular a educação-instituição, visando aprimorar a educação-processo caso for necessário.

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UNIDADE 1 | A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES: TRABALHANDO OS CONCEITOS

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FIGURA 15 – FRACASSO X SUCESSO ESCOLAR

FONTE: Disponível em: <http://fracassoescolar2012.blogspot.com.br/>. Acesso em: 9 jan. 2014.

Considerando que a educação é uma ação, a educação-processo é a forma que norteia as bases para a educação-sistema e para a educação-produto. Neste ponto cabe verificar se os objetivos estão de acordo com as idades, os vários agrupamentos sociais e as realidades vividas pelos sujeitos educandos.

4 DIFERENÇAS E SEMELHANÇAS ENTRE A EDUCAÇÃO FORMAL, INFORMAL E NÃO FORMAL

Conforme a proposta desta disciplina, passaremos a concentrar e aprofundar nossos estudos na modalidade de educação não formal. Porém, como anteriormente vimos, as três modalidades educativas (formal, informal e não formal) estão de alguma forma interligadas, o que nos obriga a destrinchá-las para que possamos entender também o que as mantém unidas.

Primeiramente, necessitamos ser visionários de um processo educativo ligado a várias estruturas sociais, deixando de lado a antiga concepção de que a educação é restrita aos espaços das escolas, tratando-se de um movimento que é fruto do desenvolvimento social e que é determinada pelas relações sociais vigentes em cada sociedade.

A educação transforma-se no mesmo ritmo que a sociedade evolui. Um exemplo dessa evolução são as tecnologias de informação aplicadas à educação, com programas específicos que auxiliam na aprendizagem de crianças, adolescentes e adultos. Lembre-se também de que a educação a distância é uma mostra desse “pensar educação” diante dos progressos da sociedade.

Libâneo (2010) busca nortear nossos olhares sobre as modalidades

educativas, ao destacar que a concepção do processo educativo leva à ampliação do significado da educação na sociedade, enfatizando a necessidade da distinção

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TÓPICO 2 | CONHECENDO OS ESPAÇOS NÃO ESCOLARES

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entre a educação não intencional e a educação intencional. Ao tratar da educação não intencional, o autor nos remete a refletir:

Num sentido mais amplo, a educação abrange o conjunto das influências do meio natural e social que afetam o desenvolvimento do homem na sua relação ativa com o meio social. Os fatores naturais como o clima, a paisagem, os fatores físicos e biológicos, sem dúvida exercem uma ação educativa. Do mesmo modo, o ambiente social, político e cultural implicam sempre mais processos educativos, quanto mais a sociedade se desenvolve. Os valores, os costumes, as ideias, a religião, a organização social, as leis, o sistema de governo, os movimentos sociais, as práticas de criação de filhos, os meios de comunicação social são forças que operam e condicionam a prática educativa. A despeito desse grande poder dessas influências, boa parte delas ocorre de modo não intencional, não sistemático, não planejado. (LIBÂNEO, 2010, p. 87).

No que condiz à educação intencional, Libâneo (2010, p. 87) sustenta que:

Surge, pois, no desenvolvimento histórico da sociedade, a educação intencional como consequência da complexificação da vida social e cultural, da modernização das instituições, do progresso técnico científico, da necessidade de cada vez maior número de pessoas participarem das decisões que envolvem a coletividade. A sociedade moderna tem uma necessidade inelutável de processos educacionais intencionais, implicando objetivos sociopolíticos explícitos, conteúdos, métodos, lugares e condições específicas de educação, precisamente para possibilitar aos indivíduos a participação consciente, ativa, crítica na vida social global.

Deve estar claro ao pedagogo, que há uma distinção entre ambas e que a totalidade da educação se dá a partir da junção destas duas modalidades, principalmente no que tange às relações (vínculos) estabelecidos durante o processo de formação do indivíduo.

A educação intencional e a não intencional unem-se a partir do momento em que percebemos que o indivíduo não está alheio às mudanças que ocorrem ao seu redor ou muito menos isolado das diretrizes que organizam os diversos processos dos quais ele é submetido, ao longo da vida.

Diante disso, vamos procurar esclarecer, acadêmico(a), algumas prerrogativas pertinentes à educação formal e à não formal, sendo estas: a educação formal é aplicada exclusivamente aos ambientes escolares? Qual é a diferença entre a educação formal e a não formal? A educação formal faz parte da formação dos adultos incluídos em movimentos sociais?

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UNIDADE 1 | A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES: TRABALHANDO OS CONCEITOS

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Libâneo (2010, p. 88) nos esclarece as diferenças das respectivas denominações inferidas a estas modalidades educativas, ao sustentar que:

Formal refere-se a tudo que implica uma forma, isto é, algo inteligível, estruturado, o modo como algo se configura. Educação formal seria, pois, aquela estruturada, organizada, planejada intencionalmente, sistemática. Neste sentido, a educação escolar convencional é tipicamente formal. Mas isso não significa dizer que não ocorra educação formal em outros tipos de educação intencional. Entende-se assim, que onde haja ensino (escolar ou não) há educação formal. Neste caso são atividades educativas formais também a educação de adultos, a educação sindical, a educação profissional, desde que estejam presentes a intencionalidade, a sistematicidade e condições previamente preparadas, atributos que caracterizam um trabalho pedagógico-didático, ainda que realizadas fora do marco escolar propriamente dito.

FIGURA 16 – ASSEMBLEIA SINDICAL

FONTE: Disponível em: <http://www.bancariosdf.com.br/site/index.php?option=com_content&view=article&id=7539:bancarios-do-bb-e-da-caixa-participam-de-reuniao-conjunta-no-trt&catid=40:caixa&Itemid=23>. Acesso em: 9 jan. 2014.

Libâneo (2010, p. 89) nos apresenta o significado de educação não formal ao enfatizar que:

[...] são aquelas atividades como caráter de intencionalidade, porém com baixo grau de estruturação e sistematização, implicando certamente relações pedagógicas, mas não formalizadas. Tal é o caso dos movimentos sociais organizados na cidade e no campo, os

Acadêmico(a)! Ao aprofundarmos esta definição de educação formal contemplada pelo autor anteriormente citado, foi possível compreender que esta modalidade está ligada a outros campos de cunho educativo possibilitando sua aplicação aos diversos setores da sociedade.

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TÓPICO 2 | CONHECENDO OS ESPAÇOS NÃO ESCOLARES

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FIGURA 17 – CAPACITAÇÃO DE MULHERES AGRICULTORAS

FONTE: Disponível em: <http://www.asbraer.org.br/noticias,ruraltins-promove-curso-de-processamento-de-frutas-em-rio-sono,56461>. Acesso em: 9 jan. 2014.

Enquanto educadores, precisamos ter clareza de que as modalidades formal, não formal e informal de ensino devem ser valorizadas, cada qual em suas peculiaridades, porém vistas de uma maneira unificada. A educação formal não deve ser atribuída somente à unidade escolar, pois é neste ambiente que a formação sistematizada inicia seu percurso e o apresenta às demais formas educativas. A escola deve buscar estreitar seus vínculos com a educação formal e a não formal, adotando uma postura consciente, criativa, crítica e realista diante destes conceitos educacionais.

Libâneo (2010) reforça esta questão quando coloca que a educação não pode ser dissolvida nos movimentos sociais, ou seja, uma sociologização da educação, pois tal visão provocaria um empobrecimento da Pedagogia. Em contrapartida, a educação também não deve ser referenciada somente pela escolarização, negando a visão contextualizada da prática educativa escolar unida a outras modalidades.

Acadêmico(a)! Ao estudarmos as características de cada modalidade educativa, passamos a compreender seu entrelaçamento e importância na formação contínua do indivíduo e o quão o papel do educador consciente destas diferenças e semelhanças é primordial neste aspecto.

trabalhos comunitários, atividades de animação cultural, os meios de comunicação social, os equipamentos urbanos culturais e de lazer (museus, cinemas, praças, áreas de recreação) etc. Na escola são práticas não formais as atividades extraescolares que provêm conhecimentos complementares, em conexão com a educação formal (feiras, visitas etc.). O exemplo da escola mostra que, frequentemente, haverá intercâmbio entre o formal e o não formal. Uma associação de bairro de educação não formal poderá reunir mães, durantes três dias, para um curso sobre a importância do aleitamento materno, onde se terão objetivos explícitos, conteúdos, métodos de ensino, procedimentos didáticos que são características da educação formal.

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RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico você estudou que:

• A pedagogia passa a ter nova roupagem e sai das salas de aula auxiliando profissionais de várias áreas, exigindo dos pedagogos maior formação e comprometimento.

• Para Libâneo (2010) as modalidades educacionais subdividem-se em três: formal, informal e não formal, assim conceituadas:

Modalidade formal: característica das instâncias de formação, escolares ou não, em que há objetivos educativos explícitos direcionados para uma ação intencional institucionalizada, estruturada e sistemática.

Modalidade informal: corresponde às ações e influências exercidas pelo meio, ou seja, o ambiente sociocultural em que o indivíduo está inserido.

Modalidade não formal: caracteriza-se pela relação educacional realizada em instituições fora dos marcos institucionais, mas que obedecem a certo grau de sistematização e estruturação.

• São vastas as áreas de atuação do pedagogo; Libâneo (2010) assim os denomina: a) formadores, animadores, instrutores, organizadores, técnicos, consultores, orientadores, que desenvolvem atividades pedagógicas (não escolares) em órgãos públicos, privados e públicos não estatais, ligados às empresas, à cultura, aos serviços de saúde, alimentação, promoção social etc.; b) formadores ocasionais que ocupam parte do seu tempo em atividades pedagógicas em empresas, por exemplo: engenheiros, técnicos, supervisores de trabalho; c) trabalhadores sociais, monitores e instrutores de recreação e educação física, bem como profissionais das mais diversas áreas. Exemplo: comunicadores sociais, administradores de pessoal etc.

• A educação não permanece somente nas modalidades formal, informal e não formal. Para Libâneo apud Mialaret (1978), a educação possui três formas: educação-instituição; educação-processo; educação-produto, assim conceituadas:

Educação-institucional: ocorre a partir da estrutura organizacional e administrativa, com normas de funcionamento e diretrizes pedagógicas que se referem ao sistema educacional.

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Educação-processo: opera com três elementos considerados essenciais: um agente que origina a ação educativa; um modo de atuação que se constitui de conteúdo ou método e um destinatário que corresponde a um indivíduo, grupo ou geração.

Educação-produto: caracteriza-se pelos resultados obtidos na execução das ações educativas, diante da configuração do sujeito educado como consequência dos processos educativos ministrados.

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1 Caro(a) acadêmico(a)! Disserte sobre as novas áreas de atuação do pedagogo. Mencione suas vantagens e o que este profissional necessita diante das mudanças que ocorrem dentro da pedagogia.

AUTOATIVIDADE

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TÓPICO 3

A IDENTIDADE PROFISSIONAL DO

PEDAGOGO

UNIDADE 1

1 INTRODUÇÃO

Prezado(a) acadêmico(a)! Nesta nova fase de estudos, apresentaremos alguns conceitos pertinentes à formação de sua identidade, além da influência que os diversos grupos que fazem parte da sua vida, contribuindo também com a formação de sua identidade enquanto pedagogo. Além disso, abordaremos o papel do professor na pós-modernidade e os avanços da pedagogia neste movimento, enfocando principalmente a postura do educador.

2 TODOS POR UM: O GRUPO NA FORMAÇÃO DA IDENTIDADE

Que tal iniciarmos os estudos de uma maneira diferente? Para isto o(a) convidamos para um desafio: em posse de um papel e lápis, pare por um minuto e liste todos os grupos dos quais fez ou faz parte. Dos grupos que você listou, pense agora: qual é a principal razão de fazer parte deles? Certamente você terá mais claro os motivos que o(a) impulsionaram a participar de alguns grupos e talvez ficará em dúvida quanto à sua participação em outros, mas não se preocupe, pois no decorrer desta exposição vamos procurar juntos, as respostas para estas perguntas.

Para que possamos compreender melhor estas questões, precisamos inicialmente nos remeter à infância. Toda criança que vem ao mundo adentra a um cenário pronto, ou seja, construído e organizado anteriormente ao seu nascimento que farão parte da vida e, consequentemente, das relações sociais desta criança.

Bock (1995) salienta que essas relações sociais ocorrem num primeiro momento na família, que é responsável por orientar a criança a fim de prepará-la para a ampliação do círculo de relações. Ao longo da vida do indivíduo, acontecerá a internalização da realidade e sua formação psíquica, que são construídos a partir de suas experiências de vida em um processo contínuo.

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FIGURA 18 – FAMÍLIA

FONTE: Disponível em: <http://pastorsantos.no.comunidades.net/index.php?pagina=1135855144>. Acesso em: 15 nov. 2012.

A história de vida de cada um é construída mediante o convívio com os vários grupos sociais e como esses agem sobre nós. Por exemplo: na escola, a criança desenvolve várias habilidades, mas poderá apresentar maior desenvoltura em uma determinada área, destacando-se entre os demais, e com isso terá mais afinidade com as pessoas que demonstram a mesma habilidade.

Bock (1995) destaca que o grupo social supõe um conjunto de pessoas relacionando-se mutuamente e de forma organizada, tendo por finalidade atingir um objetivo a curto ou longo prazo.

Podemos exemplificar este conceito tendo por objetivo imediato (curto prazo) a elaboração de um projeto social, e a longo prazo, alcançar ampliação do laboratório de informática de uma escola que será aberta para a comunidade. Para que os objetivos sejam alcançados, a execução do projeto deverá estar centrado na distribuição das tarefas, no relacionamento entre as pessoas, na comunicação entre todos que fazem parte do grupo e no desenvolvimento dos que dele fazem parte, em prol do alcance do objetivo.

Quando falamos na importância das ações do grupo ao alcance do objetivo, estamos nos referindo ao processo grupal, no qual Bock (1995, p. 207) define como:

[...] uma rede de relações que pode caracterizar-se por relações equilibradas de poder entre os participantes ou pela presença de uma figura ou subgrupo que detém o poder e determina as obrigações e normas que regulam a vida grupal. As relações de poder no grupo determinam ou influenciam o grau de participação dos membros nas decisões grupais, o processo de comunicação interno, o sistema de normas e punições e suas aplicações.

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TÓPICO 3 | A IDENTIDADE PROFISSIONAL DO PEDAGOGO

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Cada grupo tem sua própria história, bem como um sistema de controle próprio para lidar com seus membros, ou seja, quando alguns deles fogem às regras instituídas, cabe aos demais estabelecer quais medidas serão aplicadas a fim de controlar o comportamento dos mesmos. Para que um grupo trabalhe em harmonia, a cooperação é um fator muito importante pois traz vitalidade à equipe, e por isso favorece a resolução de conflitos em relação a valores e regras, entre outros aspectos da vida grupal.

Outro movimento que integra a relação nos grupos são os conflitos, pois os mesmos consistem em situações que perturbam a ação ou a tomada de decisões, devido à diversidade de opiniões e crenças dos membros do grupo, porém faz-se necessário pensar que os conflitos nos momentos de hostilidade, podem ser caracterizados como crescimento para um grupo que saiba tirar proveito disso.

Ao refletirmos sobre a diversidade, consideramos que o indivíduo faz parte de diversos grupos como, por exemplo, na igreja, na família, no voluntariado, no trabalho, entre outros, sendo que o mesmo também acontece, também ocorre com cada um dos demais participantes e todos trazem consigo as experiências vivenciadas nos demais grupos dos quais fazem ou fizeram parte.

Bock (1995, p. 208) ressalta que:

Considerar o processo de desenvolvimento grupal significa, também, que o grupo pode propiciar a seus participantes condições de desenvolvimento e crescimento pessoal. Ninguém sai de um grupo igual a quando entrou nele. Participar de um grupo significa partilhar pontos de vista, representações, crenças, informações, emoções, desenvolver habilidades, aprender a desempenhar papéis de estudante, de filho, de profissional etc.

Partilhando suas vivências com o grupo, o indivíduo traz à tona o que realmente é, ou seja, o que ele pensa, age, e sente, podendo assim influenciar o grupo de alguma maneira. Assim como influencia também é influenciado pelo grupo. Em ambos os casos, algumas atitudes ou crenças podem ou não ser aceitas, mesmo sendo produto da história de vida de seus envolvidos. Neste momento, estamos falando do processo de socialização.

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FIGURA 19 – GRUPO DE ADOLESCENTES

FONTE: Disponível em: <http://sociologiamelhormateria.blogspot.com.br/2011/03/tipos-de-agregados-sociais.html>. Acesso em: 15 nov. 2012.

Conforme Bock (1995), a socialização é o processo no qual ocorre a internalização do mundo social, com suas normas, valores, modos de representar os objetos e situações que compõe a realidade objetiva; fazendo parte também do processo de constituição de uma realidade subjetiva, formada a partir das primeiras relações do indivíduo com o meio social.

É importante destacar que a questão específica que aborda o “que e como” o indivíduo aprenderá vai depender de que grupo ele faz parte, mediante condições peculiares como a classe social e cultural resultando em aprendizados diversificados.

Bock (1995) nos chama a atenção para dois processos distintos no que tange à socialização, são eles:

a) Socialização primária: ocorre a partir do momento em que são passados à criança os valores referentes às situações vividas pela sua família ou seu substituto, podendo ser a creche ou o orfanato.

FIGURA 20 – VALORES

FONTE: Disponível em: <http://meustrabalhospedagogicos.blogspot.com.br/2008/02/abordagens-dos-temas-transversais.html>. Acesso em: 21 nov. 2012.

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TÓPICO 3 | A IDENTIDADE PROFISSIONAL DO PEDAGOGO

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b) Socialização secundária: nesta fase, os grupos levados em consideração, são todos aqueles que vão fazer parte da vida do indivíduo ao longo dos anos, ou seja, essa socialização irá ocorrer na escola, no grupo de amigos (especialmente na adolescência, que se torna referência em comportamento, hábitos e valores, principalmente quando tratar do enfrentamento com o adulto) e adiante no grupo de trabalho.

Constantemente fazemos parte de algum grupo social, independentemente da idade, pois a socialização não deixará de fazer parte da vida, mesmo quando um adolescente torna-se adulto, já que se trata de um processo ininterrupto. Porém, com a maturidade, as relações passam por mudanças e, consequentemente, o indivíduo vai interferindo no seu próprio processo de construção subjetiva, transformando-a. Desta forma, quando o indivíduo passa a transformar, produzir e interagir no meio que o cerca e, principalmente, em si próprio, ocorre a formação da identidade.

Acadêmico(a)! Quando alguém o(a) aborda e pede a sua identidade, certamente você providencia seu documento em que consta uma série de informações que o diferencia das demais pessoas de um mesmo ambiente.

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FIGURA 21 – CARTEIRA DE IDENTIDADE

FONTE: Disponível em: <http://aevangelista.wordpress.com/2010/03/15/nossa-identidade/>. Acesso em: 15 nov. 2012.

Porém, o conceito de identidade vai muito além de um documento, estamos nos referindo a uma apropriação do indivíduo em si mesmo ou a um autorreconhecimento. Bock (1995, p. 213) bem coloca:

[...] o reconhecimento do eu se dá no momento em que aprendemos a nos diferenciar do outro. Eu passo a ser alguém quando descubro o outro e a falta desse reconhecimento do outro não permitiria que eu soubesse quem sou eu, na medida em que não teria elementos de comparação que permitissem que o meu eu se destacasse dos outros eus. Desta forma, podemos dizer que a identidade, o igual a si mesmo, depende da sua diferenciação em relação ao outro, o que faz da categoria uma função de interação entre o indivíduo e sua cultura.

A construção da identidade é algo permanente na vida do indivíduo, por meio de seus sonhos, desejos, anseios, personalidade etc. Outro fator importante de constituição da identidade é a atividade. Bock (1995) nos expõe que a atividade constrói a identidade, sendo que o fato de estarmos inseridos nas organizações torna nossa ação fragmentada.

Para melhor compreender esta afirmação, é preciso perceber que, dependendo de onde estamos e com quem estamos, desenvolvemos atividades e ocupamos lugares diferentes. Por exemplo, neste momento você está no lugar de estudante, a leitura é pertinente aos seus estudos; diante dos seus colegas de turma, você é visto como um bom estudante, pois é responsável, e tem boas notas. Já para seus amigos mais íntimos, talvez você seja o extrovertido, que está sempre alegre contando histórias, ou seja, como pode perceber houve uma troca de lugares e assim o “bom aluno” foi substituído pelo “amigo extrovertido”.

Bock (1995, p. 216) ressalta:

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TÓPICO 3 | A IDENTIDADE PROFISSIONAL DO PEDAGOGO

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A identidade é sempre uma identidade pressuposta, mas ao mesmo tempo tal pressuposição é negada pela atividade, já que ao fazer eu me transformo o que faz da identidade um processo em permanente movimento.

É nesta movimentação que nos identificamos, fazendo parte de vários grupos durante nossa vida. Nesta conjuntura e tomando como base a sua escolha pelo Curso de Pedagogia, acadêmico(a), você amplia sua rede de relações e coloca em movimento sua identidade pessoal, para assim construir sua identidade profissional enquanto pedagogo, que passará a conhecer melhor a partir de agora.

3 A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE DO PEDAGOGOVimos que uma das formas de constituição da identidade é a atividade,

ou seja, durante nossa vida desempenhamos várias funções nos grupos dos quais fazemos parte e isso nos posiciona diante das pessoas.

A escolha profissional é um momento de muitas dúvidas para determinadas pessoas, considerando que algumas deixam o curso superior para mais tarde, a fim de adquirirem maturidade.

Acadêmico(a), pare por um momento e pense como foi a sua escolha pela Pedagogia: foi espelhada em alguém que admirava? Foi o testemunho de algum pedagogo que o inspirou? Escolheu por que gosta de crianças? Reflita sobre suas respostas e considere toda a sua caminhada até aqui. Dentre tudo que, provavelmente, você imaginou antes de envolver-se diretamente com a pedagogia, o “ser pedagogo” bem como o papel a desempenhar, deve estar mais claro.

Conforme o site Brasil Profissões (2010), o pedagogo é um profissional especialista em educação, cuja função é produzir e difundir conhecimento no campo educacional, no qual deve ser capaz de atuar em diversas áreas educativas e compreender a educação como fenômeno cultural, social e psíquico.

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FIGURA 22 – ESTUDANTE DE PEDAGOGIA

FONTE: Disponível em: <http://saojosedoscampos.olx.com.br/sou-estudante-de-pedagogia-procuro-um-trabalho-de-baba-iid-116250137>. Acesso em: 21 nov. 2012.

O site ainda sustenta que algumas das características necessárias para ser pedagogo englobam a capacidade de planejamento e execução de planos, dinamismo, boa comunicação facilidade em transmitir ideias; criatividade e competência no enfrentamento dos problemas do cotidiano, assim como flexibilidade, tolerância e atenção à diversidade cultural da sociedade, também são atributos exigidos para o exercício da pedagogia.

A partir disso, podemos afirmar que a educação sente diretamente as mudanças provocadas pelas constantes transformações que ocorrem devido à globalização, exigindo dos educadores novas posturas, dinâmicas e abordagens objetivando o preparo dos alunos para que num futuro desenvolvam suas atividades como profissionais competentes, hábeis e polivalentes, cabendo também ao educador transmitir os conceitos necessários para que este aluno entenda e pratique a cidadania em conformidade com a ética e todas as implicações que a mesma confere.

Conforme Soares (2006) faz-se necessário dominar conhecimentos, para que seja possível garantir a eficiência e eficácia da ação em prol do resultado, sendo pertinente buscar formação teórica a fim de se unir aos saberes práticos.

Estes saberes necessitam estar ligados e sustentados no desempenho do ofício docente desempenhado pelo Pedagogo na construção do processo educacional, levando a uma reflexão no que tange aos conceitos de identidade profissional, saberes, competência, valores, crenças e culturas, princípios estes que contribuem para a caracterização do perfil do pedagogo.

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TÓPICO 3 | A IDENTIDADE PROFISSIONAL DO PEDAGOGO

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Diante do exposto, este profissional deve ter clareza do seu papel, pois sua função faz com que ele experimente constantemente novas possibilidades de pensar, agir e compreender seu atuar na sociedade, por fazer parte da construção da história, juntamente com vários outros atores sociais que buscam a mudança e consequentemente a transformação do meio que os cerca em um espaço mais humano, mediante ações competentes e participativas. Para que o pedagogo tenha êxito nesta jornada, faz-se necessário a aquisição de alguns saberes que fundamentem o seu fazer pedagógico. Tardif (2001) os compreende como:

• Saberes da formação profissional: são transmitidos pelas instituições responsáveis pela formação (escolas normais ou universidades). O professor e o ensino constituem objeto de saber para as ciências e para as ciências da educação.

• Saberes pedagógicos: caracterizam-se como doutrinas ou concepções provenientes de reflexos da prática educativa no seu mais amplo sentido, no qual orientam a prática educativa.

• Saberes curriculares: fazem parte deste os objetivos, conteúdos e métodos a partir dos quais a constituição escolar categoriza e apresenta os saberes sociais.

• Saberes experienciais ou práticos: estes compreendem os saberes produzidos pelos professores no exercício da função diária e no conhecimento de seu meio, ou seja, são os saberes validados a partir da experiência.

FIGURA 23 – PEDAGOGO

FONTE: Disponível em: <http://www.trajetoconsultoria.com.br/acerteorumo/?cat=66>. Acesso em: 21 nov. 2012.

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Todos estes saberes constituem a identidade do pedagogo, diante das relações que são estabelecidas com os alunos e demais pessoas que fazem parte daquela realidade. Para a construção deste processo, o profissional deve ter claro que a formação teórica é algo essencial para o desenvolvimento de suas atividades, nos quais a ciência, arte e filosofia, fazem parte do trabalho. Conforme Rios (2003), as ações dos docentes abrangem dimensões importantes, sendo:

• Dimensão técnica: consiste na capacidade em lidar com os conteúdos conceitos e comportamentos, articulando-os com os alunos em um processo de construção e reconstrução.

• Dimensões estéticas: diz respeito à presença da sensibilidade e sua orientação numa perspectiva criadora.

• Dimensão política: refere-se à participação na construção da sociedade bem como na reivindicação dos direitos e exercício dos deveres.

• Dimensão ética: trata-se do respeito à orientação da ação, tendo como base o respeito e a solidariedade, na direção de um bem coletivo.

Diante do exposto, a constituição da identidade do pedagogo parte de saberes teóricos e práticos, para a construção de um trabalho autônomo e competente, na superação dos obstáculos e desafios que surgem em seu cotidiano escolar.

De acordo com Soares (2006), os dilemas e conflitos enfrentados diariamente em sua prática o fortalecem nas suas crenças, potencializa suas ações e compromisso ético, agregando crenças, valores e culturas, traçando assim um perfil identitário para esse profissional.

Ao desempenhar sua função, o pedagogo contribui diretamente na construção do ser humano, investindo em sua dedicação e compromisso, para que o próximo tenha a oportunidade de exercer e ter o seu direito como cidadão a qualquer momento.

3.1 O PAPEL DO PEDAGOGO NA ATUALIDADE

Neste momento, acadêmico(a), vamos nos aprofundar no que diz respeito à atuação do pedagogo na atualidade, sua postura e preparo diante das diversas demandas que a ele se apresentam diariamente. Certamente, em sua época escolar, você deve ter convivido com professores que mantiveram a mesma estrutura de ensino ano após ano, ou seja, totalmente previsíveis na metodologia aplicada, enquanto outros se apresentam criativos e inovadores.

A respeito disso, Rêgo (2009, s/p) nos coloca que:

O professor, enquanto especialista da aprendizagem, adquiriu formação específica e foi designado pela sociedade através de um processo de seleção acadêmica, para cuidar da aprendizagem dos alunos. O perfil desse professor pós-moderno assume alguns aspectos

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TÓPICO 3 | A IDENTIDADE PROFISSIONAL DO PEDAGOGO

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sobremodo relevantes; é ele quem constrói os fundamentos de todo e qualquer perfil profissional. Do ponto de vista do humano é o profissional mais estratégico.

Para assumir o compromisso pelo direcionamento da vida profissional de outras pessoas, faz-se necessário que o mesmo adote uma postura articulada e seja dotado de algumas características importantes.

Assim, Rêgo (2009) nos mostra quais são as ações que devem ser adotadas pelo professor moderno no ato do seu desenvolvimento profissional:

a) O professor deve ser pesquisador: o ato de pesquisar e estar em busca do conhecimento é o que mais define o exercício deste profissional, portanto, lecionar vai além de ministrar aulas e socializar conhecimentos; pois a pesquisa é compreendida como princípio educativo comprometido com a qualidade do ensino.

b) O professor precisa saber construir: a aprendizagem tem maior significado a partir do momento em que direcionamos nossas intenções na construção do que queremos transmitir, sendo que quando construímos novas formas de transmissão e aplicação deste conhecimento o conteúdo internalizado é pela via da elaboração. As informações a serem transmitidas tornam-se energia pessoal se elaboradas pessoalmente, assim como o alimento se torna energia pessoal se digerido. Elaborar métodos e estratégias, implicam três aspectos importantes: 1) viabilizar o projeto pedagógico próprio e coletivo; 2) dar conta do material didático próprio; 3) introduzir inovações didáticas próprias, no sentido de nos tornarmos sujeitos das próprias propostas. O professor não pode ser apenas leitor, mas precisa tornar-se autor, e mostrar o caminho visível da passagem do leitor para o autor, do observador para o participante, do discípulo para o mestre.

c) O professor precisa teorizar a prática: trata-se de combinar de forma criativa teoria e prática. Podemos arriscar dizer que o conhecimento tem início a partir do questionamento da prática. A própria teoria se não for confrontada com a prática, não é uma teoria socialmente pertinente. Neste aspecto o professor necessita da autocrítica, no que tange à sua competência, pois o professor cujo seu próprio aprendizado é deficitário, não desenvolve no seu aluno o aprendizado de forma eficiente.

d) O professor deve buscar atualização permanente: isso sempre faz parte das discussões pedagógicas mais aprofundadas, pois o conhecimento imprime uma coerência assustadora ao processo de inovação, sendo ele próprio objeto de inovação, pois a velocidade da inovação é proporcional à velocidade do envelhecimento. Nenhuma profissão envelhece mais rapidamente quanto a do professor. O desafio na atualização permanente pode ser visualizado sob dois níveis principais: 1) a socialização do conhecimento: representado por seminários, encontros, palestras que permitem ao professor manter contato com pesquisadores, oportunizando momentos de discussão comunicação e informação; 2) nível de captação permanente: consiste na participação em cursos que garantam aprendizagem adequada, baseados na pesquisa e elaboração própria.

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e) O professor deve saber utilizar-se das tecnologias de informação: neste item estão presentes dois desafios: 1) usar os meios disponíveis para fins de socialização de conhecimento e informação, pois tais recursos proporcionam que o aprendizado seja acessível e consequentemente mais atraente, promovendo ambientes mais motivadores e instigadores de aprendizagem; e 2) a produção de materiais didáticos através de meios eletrônicos, sendo o professor autor de propostas criativas. É possível caminhar na direção de uma informática cada vez mais construtiva, que supere a simples transmissão de informação e conhecimento; o “educativo” da informática, não provém dela mesma, mas do educador engajado no processo de aprendizagem do aluno. Assim a informática assume o papel de insumo da educação, enquanto meio para levar o aluno a estudar e a pensar.

f) O professor precisa caminhar na direção da interdisciplinaridade: o conhecimento exige que a posição dos especialistas seja mantida, porém a interdisciplinaridade de conhecimentos nas áreas afins, não pode ser deixada de lado. Trata-se de encontrar um meio termo entre o conhecimento profundo e naturalmente verticalizado, e a capacidade de aprender para além da fronteira disciplinar, o professor um profissional polivalente.

g) O professor deve revisar o processo de avaliação: cabe ao professor rever sua teoria prática de avaliação, objetivando aprimorar o processo de aprendizagem dos alunos. A avaliação faz parte do processo educativo e num primeiro momento proporciona ao professor a oportunidade de diagnosticar, ou seja, saber em que situação se encontra o aluno, sobretudo as dificuldades de aprendizagem.

Diante do exposto, acadêmico(a), verificamos que o professor é um profissional dinâmico que deve caminhar em busca de mudanças, visando ao seu próprio progresso e o dos que estão sob sua responsabilidade.

O perfil do professor pós-moderno recebe destaque principalmente aos que elencam a importância a ele merecida e nos que investem em educação, pois por meio da valorização e respeito a este profissional e ao seu saber nos juntaremos ao nível dos países que investiram e colheram bons resultados na qualidade da educação.

4 ÉTICA APLICADA À PEDAGOGIA – UMA BREVE REFLEXÃOA ética é um tema que permeia a maioria das rodas de discussão entre

profissionais e na pedagogia não poderia ser diferente. Inúmeras são as situações em que o pedagogo questiona-se sobre o que é certo ou errado, deixando-o em dúvida sobre o que fazer, dizer ou como portar-se diante de uma situação que o desafia em relação à moralidade do comportamento a ser adotado.

Em situações cotidianas como chamar a atenção do aluno, avaliar seu desempenho em sala de aula, analisar seu comportamento indisciplinado, ou sua insistência em colar na prova, devem ser pautadas numa postura ética respeitando alunos e instituição, e, sobretudo, valorizando o professor.

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TÓPICO 3 | A IDENTIDADE PROFISSIONAL DO PEDAGOGO

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FIGURA 24 – ÉTICA

FONTE: Disponível em:<http://filosofandoehistoriando.blogspot.com.br/2010_02_01_archive.html>. Acesso em: 21 nov. 2012.

Júnior (2009) afirma que a conduta ética adequada evita a responsabilidade por danos na relação educacional, danos em relação às pessoas envolvidas, bem como dano à própria educação, que é o objetivo maior da atividade da docência.

Mas, afinal o que é a ética? Qual seu objeto de estudo? É possível ter um comportamento ético? Essas questões são pertinentes de reflexão, pois referem-se ao nosso atuar, não só em sala de aula, mas diante de várias situações. Assim, Júnior (2009, p. 150) nos coloca que:

A ética não é a própria moral, mas a moral é o objeto de estudo da ética em caráter científico. Dessa forma, o estudo da ética não tem a intenção de estabelecer regras fechadas de como se comportar, ou seja, estabelecer soluções para cada problema prático-moral, e sim criar uma ciência com princípios gerais voltados para a reflexão de um comportamento moral e, assim, saber agir e situações problemáticas. A ética não se preocupa com qualquer comportamento humano, mas com aqueles que envolvem problemas de moral, bem como a reflexão sobre estes problemas e a construção de uma ciência, tendo como objeto o comportamento moral.

A ética não apresenta soluções para qualquer tipo de comportamento, ou seja, não há regras específicas para cada ação desenvolvida, pois esta tarefa é de responsabilidade do indivíduo. A ética apresenta algumas regras que nos levam a refletir sobre este ou aquele comportamento, e organizar princípios a fim de que o indivíduo possa conduzir suas ações dentro dos padrões éticos.

Assim, Júnior (2009) destaca que:

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UNIDADE 1 | A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES: TRABALHANDO OS CONCEITOS

A forma para cada campo de comportamento humano devem ser analisados os problemas morais enfrentados, refletir cuidadosamente sobre eles, fazer juízo de valor, encontrar soluções, e a teorização destas reflexões se traduz no significado de ética, que depois, como ciência, deve manter a investigação dos casos para poder se contextualizar e se reformular na diversidade de situações de problemas morais dos relacionamentos humanos.

Nas relações entre professor e aluno, professor e instituição, os problemas considerados práticos morais sempre acontecerão, pois como cada caso é um caso, e para que se determine uma conduta ética na busca de uma solução, a compreensão da condição dos indivíduos envolvidos deve ser considerada. Nossos comportamentos refletem nos campos sociais e como profissionais atuamos em um sistema, sendo necessário respeitar a ordem do mesmo, para que possamos ter sucesso neste campo.

Júnior (2009) nos leva a refletir sobre uma importante questão; o profissional que trabalha somente pelo salário é imprudente não tem consciência que sua atuação profissional faz parte de um sistema social, pois ele é um participante ativo na construção do bem comum, sendo de extrema importância lembrar que o trabalho dignifica o homem não somente pelo fator econômico, e sim pelo social, ou seja, por ser instrumento de realização da construção de uma sociedade.

A atuação profissional baseada na ética reforça que o profissional importa-se com os reflexos sociais da sua profissão, mesmo em tempos onde a cultura imediatista capitalista, faz com que muitas vezes os profissionais se esqueçam das implicações sociais da profissão.

A importância da ética do professor é defendida por Júnior (2009, p. 152) quando ele coloca que:

O comportamento do professor em sala de aula deve ser pensado, pois existe a necessidade de atender regras de comportamento em relação aos alunos, à instituição em que trabalha, bem como aos colegas de classe. Um comportamento antiético atinge não só a harmonia de uma sala de aula, mas de todo o sistema de educação, pois os reflexos de um microssistema (sala de aula) influenciam todo o objetivo de construção social, ainda mais quando este microssistema é relacionado à educação.

É preciso refletir que algumas virtudes são consideradas indispensáveis para uma atuação profissional ética. Junior (2009) apud Antônio Lopes de Sá (2001, p. 175), considera como virtudes básicas profissionais, imprescindíveis a qualquer profissão:

• Exercício do zelo: o zelo é a responsabilidade do profissional com o objeto do seu trabalho e como demonstra a qualidade de seu serviço. O zelo requer que mesmo em situações extremas, em que aparentemente a solução é difícil, o profissional prime pelo empenho e responsabilidade profissional.

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TÓPICO 3 | A IDENTIDADE PROFISSIONAL DO PEDAGOGO

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• Honestidade: o profissional recebe a confiança dos que utilizam seus serviços, por isso honestidade significa ter a responsabilidade perante o bem e a satisfação de terceiros.

• Sigilo: a partir do momento em que o profissional tem conhecimento de um fato, ou é confiado e ele algo importante, por meio de suas atividades, tem o dever de manter sigilo.

FIGURA 25 – SIGILO

FONTE: Disponível em: <http://morgadodeontologia.blogspot.com.br/2012/08/5-simuladas-16701674-sigilo-profissional.html>. Acesso em: 21 nov. 2012.

• Competência: significa estar habilitado para a prática de uma determinada profissão, ou seja, conhecer as técnicas do exercício desta. Tal virtude é importante para a credibilidade do profissional e evitar que erros sejam cometidos, podendo causar danos aos envolvidos na atividade desempenhada.

Tais virtudes têm serventia a todas as profissões. Existem virtudes específicas, em relação à tarefa do educador mediante a relação com os alunos, as quais estão ligadas ao comportamento ético e adequadas ao modelo de educação desta sociedade.

A educação também tem por objetivo promover a adequação dos indivíduos ao convívio social e a manutenção do equilíbrio entre suas várias dimensões, pois a educação é parte integrante da mesma, tendo por missão reproduzir o modelo vigente nesta, em seus aspectos econômicos, sociais e políticos, principalmente na representação da verdade, formando assim indivíduos que perpetuem e atuem frente a este modelo.

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UNIDADE 1 | A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES: TRABALHANDO OS CONCEITOS

5 O PROFESSOR NA PÓS-MODERNIDADEAntes de iniciarmos este assunto, vamos resgatar a história da pós-

modernidade, para que possamos entender seus reflexos na atuação do professor. Gonçalves (2008) nos coloca que:

O que se chama de pós-modernidade ou pós-modernismo é um movimento sociocultural que ganhou impulso a partir da segunda metade do século XX. Este movimento caracteriza-se por uma severa crítica aos padrões éticos e estéticos que vigoraram no século passado e é típico das sociedades pós-industriais baseado na informação. Passou a incorporar uma visão de mundo relacionada ao fim dos conflitos mundiais e à superação da “guerra-fria”.

O pós-modernismo é caracterizado pelo paradigma sociocultural, com base nas transformações e avanços da sociedade. Alguns eventos caracterizaram este movimento como: a ida ao espaço, avanços da saúde e genética, bem como o aumento do consumo nas sociedades capitalistas. As maiores mudanças do movimento pós-modernista foram expressas nas artes, conforme demonstra o quadro a seguir:

Modernismo e Pós-Modernismo

QUADRO 2 – MODERNISMO E PÓS-MODERNISMO NAS ARTES

Modernismo Pós-Modernismo

Cultura elevada Cotidiano banalizado

Arte Antiarte

Estetização Desestetização

Interpretação Apresentação

Obra/originalidade Processo/ pastiche

Forma/abstração Conteúdo/figuração

Hermetismo Fácil compreensão

Conhecimento superior Jogo com a arte

Oposição ao público Participação do público

Crítica cultural Comentário cômico, social

Afirmação da arte Desvalorização obra/autor

FONTE: Santos (1986, p. 41-42)

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TÓPICO 3 | A IDENTIDADE PROFISSIONAL DO PEDAGOGO

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Em relação à organização dos conhecimentos, Gonçalves (2008) nos demonstra que com o pensamento pós-moderno, as formas de conhecer e de pensar o conhecimento não podem mais seguir uma lógica mecanicista e determinista, sendo que as repercussões da globalização sobre as maneiras de pensar e sentir, viver e agir no mundo afetam as concepções filosóficas sobre a realidade.

Diante das transformações mencionadas acima, a educação também passou por significativas mudanças e a atuação do professor necessitou ser repensada. Antunes (2009, p. 17) faz uma breve exposição sobre a atuação do professor que não acompanhou essas mudanças:

Nessa visão de ensino aplaudia-se o silêncio, e a imobilidade do aluno e a sapiência do mestre, além de se pensar o conhecimento como informações pré-organizadas e concluídas que se passavam de uma pessoa para a outra, portanto, de fora para dentro, do mestre para o estudante. Ensinar significa difundir o conhecimento, impondo normas e convenções para que os alunos assimilassem. Estes levavam a escola à boca – porque da mesma não podia se separar – mas a toda aprendizagem dependia do ouvido, reforçado pela mão na tarefa de copiar.

Acadêmico(a)! Esta citação do autor lhe trouxe lembranças de sua época escolar? Acreditamos que para muitos de vocês, ela fez todo o sentido, pois os remeteram às lembranças daqueles professores que faziam uso de métodos rígidos de ensino, em que o diálogo com os alunos era quase inexistente. Se por acaso, você não conheceu este estilo de professor, pergunte a qualquer adulto que tenha mais de quarenta anos e a confirmação virá.

FIGURA 26 – O PROFESSOR ANTIGAMENTE

FONTE: Disponível em: <http://evanildopj.blogspot.com.br/>. Acesso em: 21 nov. 2012.

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UNIDADE 1 | A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES: TRABALHANDO OS CONCEITOS

De acordo com as literaturas consultadas, este estilo de conduzir o ensino perpetuou por muito tempo e adentrou o século XX. Esta concepção ditava que era o professor que detinha conhecimento e não aquele que conduzia a aprendizagem de seus alunos. Nesta versão, a responsabilidade pelo aprender era do aluno que repetia o ano quantas vezes fossem necessárias, caso não aprendesse.

Com o tempo, a educação necessitou passar por transformações, nos quais trouxeram outras maneiras de conduzir o aluno ao aprendizado, assim, foram pensadas e aos poucos, formas de articulação das disciplinas por meio de novas abordagens como: a interdisciplinaridade, a multidisciplinaridade e a transdisciplinaridade, das quais faremos um breve resgate.

FIGURA 27 – INTERDISCIPLINARIDADE E TRANSDISCIPLINARIDADE

FONTE: Disponível em: <http://andreasmariano.blogspot.com.br/2012/10/va10temas-transversais.html>. Acesso em: 21 dez. 2012.

Bastos (2006) nos coloca que a partir do momento em que o professor conduz seus trabalhos disciplinarmente, ele faz uso de situações-padrão que correspondem a modelos preestabelecidos e assim são identificados aspectos da situação estudada que permitem enquadrá-la num padrão, ao qual são aplicados os saberes conhecidos previamente. Para tanto, é preciso conhecer os conceitos que estruturam a disciplina, as relações entre esses conceitos (leis e teorias) e a maneira particular de utilizar essas teorias para chegar a compreender as situações estudadas.

Já a abordagem multidisciplinar, ainda de acordo com o autor anteriormente citado, corresponde ao agrupamento de diversas disciplinas objetivando o estudo de um tema em comum, sem identificar uma situação

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TÓPICO 3 | A IDENTIDADE PROFISSIONAL DO PEDAGOGO

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específica. Neste caso, a visão de mundo que está por trás dessa prática pedagógica é a mesma que apoia a prática disciplinar, ou seja, compreender o todo pela justaposição de suas partes. Desta maneira, um tema relevante é cuidadosamente estudado por todas as disciplinas, dentro de suas perspectivas específicas, sem que ocorra uma articulação explícita entre elas. A articulação é deixada para ser feita posteriormente, pelos alunos. O trabalho é conduzido sem que sejam criados modelos mais complexos de situações específicas ligadas ao tema.

A abordagem interdisciplinar, conforme Bastos apud Fourez (2001), objetiva a construção de representações em situações específicas, utilizando os conhecimentos das diversas disciplinas. Esta abordagem apoia-se numa visão de mundo que considera que as partes da realidade interagem entre si, não sendo possível compreender um sistema complexo com base na compreensão de suas partes isoladas.

Ainda nesta linha de pensamento, Bastos apud Fourez (2001) nos apresenta que:

[...] uma abordagem transdisciplinar ocorre quando utilizamos noções, métodos, competências e abordagens próprios de uma disciplina dentro da estrutura de uma outra e num contexto novo. Nesse caso, essas abordagens ou esses conceitos são chamados de transversais e podem ser considerados segundo duas perspectivas: numa visão platônica, esses conceitos e essas abordagens existem independentemente de contextos, devendo ser ensinados de forma geral ou abstrata; numa visão construtivista, ocorre a transferência de uma disciplina para outra, através da modelização de um núcleo, que será transposto, e de uma adaptação posterior ao plano do contexto.

Estas reflexões nos fazem perceber que a interdisciplinaridade, a multidisciplinaridade e a transdisciplinaridade necessitam ser pensadas constantemente na atuação do professor pós-moderno. É necessário saber mais do que as diferenças entre elas, para o desenvolvimento dos trabalhos, pois sua aplicação vai além do somente diferenciar destes conceitos. Atualmente busca-se uma prática baseada na interdisciplinaridade, ou seja, objetiva-se compatibilizar além de métodos e técnicas, um conhecimento integrado e ativo.

As constantes mudanças nos vários segmentos dentro do cenário político, econômico e social da coletividade capitalista e globalizada da qual fazemos parte, nos mostra o quanto vivemos em uma sociedade fragmentada, em que em muitos momentos deixa-nos desconcertados, no que condiz ao modo como devemos agir e articular as diversas informações que se fazem presentes, modificadas e atualizadas a todo instante, o que em várias situações vêm a causar bloqueios referentes à elaboração de um pensamento crítico diante de tais mudanças.

O papel do professor como agente ativo/crítico no processo educacional e formador da sociedade, faz sua parte em relação a estas constantes mudanças, pois por mais sofisticadas que as tecnologias se apresentem ao nosso dispor, nada poderá substituir a presença desta pessoa que, além de fornecer o testemunho de sua vivência e saber, é também responsável por abrir os caminhos rumo à verdade.

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UNIDADE 1 | A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES: TRABALHANDO OS CONCEITOS

FIGURA 28 – MENSAGEM

FONTE: Disponível em: <http://ew-willianlira.blogspot.com.br/2012/10/o-professor-e-eduacacao-para-um-brasil.html>. Acesso em: 21 nov. 2012.

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RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico, você aprendeu que:

• O processo grupal é uma rede de relações equilibradas de poder entre os participantes, que determinam e influenciam o indivíduo e este ao grupo, no que tange à sua participação na tomada de decisão.

• O ser humano constrói sua história de vida através da interação e pertencimento aos vários grupos sociais, sendo que a socialização é dividida em duas fases: primária e secundária.

• O pedagogo necessita apropriar-se de alguns saberes para que obtenha êxito em seus trabalhos, sendo estes: saberes da formação profissional, saberes pedagógicos, saberes curriculares, saberes experienciais ou práticos.

• Além dos saberes necessários para a sua formação, a constante modernização dos processos educacionais fazem com que o pedagogo passe a adotar algumas ações, no desenvolvimento das suas atividades: ser pesquisador, saber construir, teorizar a prática, buscar atualização permanente, utilizar-se das tecnologias de informação, caminhar na direção da interdisciplinaridade e revisar o processo de avaliação.

• O professor que entende a importância da sua profissão, sabe o quão sua atuação reflete socialmente.

• Para um exercício profissional eficiente, o profissional deve aplicar em seu cotidiano algumas virtudes, sendo elas: exercício do zelo, honestidade, sigilo e competência.

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Agora, acadêmico(a), que você concluiu os estudos referentes a este tópico, responda às questões a seguir:

1 Mediante os estudos realizados sobre os grupos sociais, discorra sobre a importância deles na constituição da identidade.

2 Quais são as características necessárias para a atuação do pedagogo?

3 Discorra sobre as dimensões que direcionam as ações do trabalho pedagógico.

4 Conceitue ética e exemplifique com uma ação ética que necessita fazer-se presente na atuação do professor.

AUTOATIVIDADE

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TÓPICO 4

A IMPORTÂNCIA DAS RELAÇÕES

PROFESSOR E ALUNO NA

CONSTRUÇÃO DOS SABERES

UNIDADE 1

1 INTRODUÇÃODiariamente praticamos a arte do convívio. Neste momento, você deve

se perguntar, por que é utilizada a palavra arte? Pois bem, conviver com o outro sempre foi um desafio para a humanidade, ou seja, desde o mais primórdio dos tempos, o homem precisou relacionar-se com o outro de várias formas.

As relações se estabelecem por vários motivos sejam eles afinidade, interesses, afirmações e tantos outros, porém precisamos esclarecer que o relacionamento humano sempre foi um tema de alta complexidade.

No Tópico 1, você estudou as relações sociais como parte constituinte da identidade, verificando seus processos primários e secundários. Agora repensaremos as relações de outra forma, ou seja, mediante o processo de ensino-aprendizagem e principalmente no que condiz ao professor e aluno. Trabalharemos algumas estruturas e conceitos no que tange às emoções, afeto, apego e sentimento para assim melhor entender a complexidade desta estrutura.

2 A RELAÇÃO PROFESSOR ALUNO NO ENSINAR E APRENDERPense um pouco, acadêmico(a), com quantas pessoas você já se relacionou

hoje? Acreditamos que sua rede de relações deve ser ampla. Supomos que você deva ter mantido contato com sua família, seus colegas de trabalho, da universidade, com o porteiro do seu prédio, o cobrador do ônibus e muitas outras pessoas que fazem parte de sua vida. Todos esses atores são relações que você mantém diariamente, porém o grau de importância e intensidade diferem de um para o outro.

Que tal fazermos uma viagem no túnel do tempo? O destino é a sua antiga escola. Certamente, você deve lembrar-se de alguns professores com mais carinho, essas recordações remetem-se à maneira como eles marcaram significativamente a sua vida, principalmente em relação ao seu aprendizado.

Conforme coloca Jesus (2006), a importância da relação professor e aluno para o sucesso é fundamental, as relações afetivas em sala de aula são um desafio

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UNIDADE 1 | A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES: TRABALHANDO OS CONCEITOS

para o educador pós-moderno, que deve expressar interesse pelo crescimento dos alunos, respeitando suas individualidades, proporcionando um ambiente agradável e propício para o aprendizado.

A educação tem como missão formar cidadãos. Para tornar isso possível, é preciso cativar, envolver e motivar o aluno para que ele desenvolva o interesse no aprender e estar em sala. Devido à aceleração com que as informações são propagadas e as exigências curriculares, o professor preocupa-se em cumprir com a agenda formal, muitas vezes deixando de lado ou delegando aos companheiros esta formação.

Acadêmico(a)! Pare um instante e pense: as disciplinas que abrangem as ciências exatas são menos responsáveis pela formação cidadã do aluno? A escola como um todo, seja dentro, fora ou além dos muros do espaço educativo formal, deve ser sensível às questões que abrangem este tema, levando os alunos ao questionamento e à busca por respostas, principalmente no que se refere ao ambiente que o cerca.

Diante do exposto, Jesus (2006) enfatiza que o professor necessita conscientizar-se do seu papel, ou seja, de facilitador da aprendizagem, sendo assim, aberto a novas experiências procurando compreender através de uma relação empática, os problemas e os sentimentos de seus alunos.

FIGURA 29 – PROFESSOR FACILITADOR

FONTE: Disponível em: <http://ensa.org.br/blog/?p=5132>. Acesso em: 12 dez. 2012.

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TÓPICO 4 | A IMPORTÂNCIA DAS RELAÇÕES PROFESSOR E ALUNO NA CONSTRUÇÃO DOS SABERES

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Enquanto educadores, é impensável que o conhecimento possa ser construído individualmente, pois o conhecimento é o resultado do social unido ao cultural, e a nós educadores, compete intermediar estes conteúdos para que uma aprendizagem construtiva se constitua, pois o professor reflete seu relacionamento com os alunos, bem como seu trabalho, a partir de sua relação com a sociedade e a cultura.

A empatia é outro fator fundamental que sustenta a relação professor e aluno, neste caso, ser empático refere-se à sensibilidade de colocar-se no lugar de quem aprende, objetivando verificar o nível de compreensão dos alunos e assim criar elos entre o conhecimento de um e do outro.

Porém, ser empático não cabe somente ao professor, é preciso que os dois estejam abertos para que esta relação se construa. De acordo com Jesus (2006), existem dois principais estilos de relação entre professores e alunos:

a) Relação de comunicação mais pessoal: nesta situação reconhecer os êxitos, reforçar a autoconfiança, ter atitudes de cordialidade e respeito faz parte da prática do professor que está envolvido com os alunos, porém é importante manter uma aproximação afetiva sem exageros para que se concretize uma relação didática eficaz.

b) Relação de orientação própria ao estudo: refere-se ao papel exercido pelo professor, em que consiste o uso da criatividade e a forma de como o conteúdo será repassado aos alunos, partindo do princípio que afetividade pouco influenciará nesta relação se a competência e a qualidade de ensino estiverem aquém do esperado.

Já Morales (1999) considera que são três as principais áreas de atuação do professor, no que tange ao relacionamento com o aluno:

a) Relações interpessoais: considera que deva dedicar um tempo para conversar com os alunos, mostrando interesse pelo que dizem, bem como, disposição na execução das atividades, demonstrando aos alunos que o professor está próximo. Desta forma, são construídos laços de confiança que permitem à criança crescimento, no que tange, ao seu desenvolvimento emocional, social, cultural e cognitivo.

b) Estrutura de aprendizado: refere-se ao conteúdo a ser ministrado aos alunos, em sua quantidade e qualidade, cabendo ao professor estar atento: tanto às expectativas quanto ao aprendizado, auxiliando no que for necessário e procurando sensibilizar-se com a dificuldade do aluno na compreensão do conteúdo.

c) Autonomia: encontra-se ligada à liberdade no ato do aprender. Ao professor cabe à missão de buscar motivar seus alunos em relação à aprendizagem, paralelamente à transmissão de conceitos como: colaboração, respeito e cooperação, que caracterizam o bom desenvolvimento em sociedade.

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UNIDADE 1 | A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES: TRABALHANDO OS CONCEITOS

FIGURA 30 – AUTONOMIA

FONTE: Disponível em: <http://revistaescola.abril.com.br/planejamento-e-avaliacao/interacoes/parceiros-acao-431402.shtml>. Acesso em: 12 dez. 2012.

Os pontos acima citados estão integrados, constituindo a dinâmica estrutural que conduz o professor preocupado com a qualidade das relações em sala de aula, a alcançar seus objetivos.

3 AS EXPECTATIVAS NA RELAÇÃO PROFESSOR/ALUNOCriar expectativas é natural quando esperamos que algo venha a acontecer,

seja este evento positivo ou negativo. Este é um ato próprio do ser humano. A ansiedade faz-se presente na vida do professor, principalmente no período que antecede o encontro com seus futuros alunos.

Durante este tempo, os comentários de outros professores sobre a turma vão aguçar a sua imaginação e curiosidade. Partindo dos preconceitos a ele transmitidos, o professor inicia seu contato com a turma, de uma maneira muitas vezes involuntária, já esperando daqueles que foram pré-determinados como alunos rentáveis um bom desempenho, bem como outras caraterísticas de comportamento dos demais.

Tal equívoco traz prejuízos ao trabalho do professor, sendo que ao invés de investir na turma como um todo, ele acaba por direcionar suas expectativas somente em certos alunos, o que pode evocar de acordo com Jesus (2006) em algumas mudanças de comportamento por parte do professor, no que se refere ao:

• Estabelecimento de um clima mais agradável somente com aqueles que demonstram melhores resultados.

• Modo como se direciona, fornecendo as informações de forma a transparecer maior empatia.

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TÓPICO 4 | A IMPORTÂNCIA DAS RELAÇÕES PROFESSOR E ALUNO NA CONSTRUÇÃO DOS SABERES

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• Fato de passarem a impressão aos demais alunos que dispensam uma atenção maior aos que mais simpatizam, em relação aos demais.

• Fato de oferecerem aos escolhidos afetivamente, melhores oportunidades de aprendizado, como maior tempo para desenvolverem respostas às perguntas.

Por mais sutis que estas atitudes sejam aos olhos do professor, para os demais alunos cuja atenção é dosada, fica evidente que existe uma diferenciação.

Silva (2005) reforça que as situações diferenciadas adotadas com um determinado aluno, como por exemplo, desenvolver atividades para que o mesmo melhore a nota e não fique em recuperação, sendo que tal oportunidade é norteada pelo fator amizade ou empatia, não deveriam fazer parte das atitudes de um “formador de opiniões”.

O relacionamento entre aluno e professor evoca a manifestação de muitos sentimentos, pois é importante lembrar que um ambiente considerado hostil não gera aprendizagem. Um espaço de produção intelectual afetivo, cujo respeito mútuo é colocado em prática, o aprender flui tranquilamente.

FIGURA 31 – VÍNCULO PROFESSOR/ALUNO

FONTE: Disponível em: <http://anadelfs.blogspot.com.br/2010/07/comportamento-o-mau-exemplo-da.html>. Acesso em: 28 ago. 2013.

Jesus (2006) reforça que o professor necessita de uma autoavaliação, pois as atitudes em sala de aula geram consequências para o alunado, quando as expectativas positivas para uns são dirigidas somente a alguns, dispensando mais atenção, afeto e cuidado, do que a outros.

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UNIDADE 1 | A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES: TRABALHANDO OS CONCEITOS

Enquanto educadores, concentrar-se apenas nos conteúdos é ignorar a gama de relações afetivas que se constroem diariamente. O desejo do indivíduo em conhecer a si próprio e a razão pelo qual vive, advém de seu desenvolvimento intelectual, no qual também resulta desta convivência positiva entre professor e aluno. O reflexo deste movimento expressa-se quando a criança manifesta o interesse pelo aprender.

Assim, Silva (2005, s/p.) coloca que:

As relações humanas, embora complexas, são peças fundamentais na realização comportamental e profissional de um indivíduo. Dessa forma, a análise dos relacionamentos entre professor/aluno envolve interesses e intenções, sendo esta interação o expoente das consequências, pois a educação é uma das fontes mais importantes do desenvolvimento comportamental e agregação de valores nos membros da espécie humana.

FIGURA 32 – EXPECTATIVAS

FONTE: Disponível em: <http://alinerizzo-evs-usp.blogspot.com.br/2011/05/aula-28-o-professor-nao-pode-estar-so-o.html>. Acesso em: 12 dez. 2012.

A aquisição de informações por parte do aluno, também deve ser uma preocupação do professor, porém ter por objetivo construir um aluno cidadão deve caminhar paralelamente ao desenvolvimento do seu trabalho. O professor é responsável por mediar a aprendizagem, procurando também compreender que o alunado é dotado de sentimentos, problemas e dificuldades.

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Tendo o professor consciência de tal, cabe a ele a manutenção de uma relação empática com seus aprendizes, a partir da sua capacidade de ouvir, refletir e discutir, bem como estar atento ao nível de compreensão dos alunos a fim de utilizar-se da criatividade no que tange à construção de pontes entre o seu conhecimento e o deles.

Pensar na construção do conhecimento como processo individual é negar que o social e cultural cerca o ser humano. O docente é um intermediário entre os conteúdos da aprendizagem e a atividade que constrói o processo de assimilação.

DICAS

Consulte o Caderno de Psicologia da Educação e Aprendizagem, você poderá rever o conceito de assimilação.

Muitas vezes, o aluno que é considerado desinteressado pelos conteúdos e atividades, deixa de ser atendido de uma forma mais afetuosa, sendo que este desinteresse pode sinalizar um comportamento tímido, e mediante esta não leitura da situação, o aluno deixa de ser atendido. A partir disso, a questão da expectativa deve ser revista e analisada, pois o professor ao mesmo tempo em que reforça o sucesso de alguns, alimenta o fracasso de outros.

FIGURA 33 – PROFESSOR: SUCESSO X FRACASSO

FONTE: Disponível em: <http://profjabiorritmo.blogspot.com.br/2012/08/o-ensino-medio-do-seculo-xxi.html>. Acesso em: 28 ago. 2013.

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UNIDADE 1 | A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES: TRABALHANDO OS CONCEITOS

A afetividade é uma importante aliada na construção da aprendizagem, porém os professores precisam dar condições para que ela se manifeste, ou seja, usar da mesma expectativa para com todos seus educandos, dar condições para a inclusão social realmente ocorra através do processo de ensino, fazendo uso de uma prática educativa assertiva e criativa. Isto deve fazer parte da prática docente.

O professor deve estar ciente das diferentes realidades encontradas numa mesma sala de aula, pois conhecer o “mundo” em que seus alunos vivem é o elemento mais importante para uma boa relação entre eles. O docente que procura adentrar a realidade dos seus alunos acaba facilitando a verdadeira mediação do conhecimento na construção do processo ensino-aprendizagem dos mesmos.

A partir do momento em que se é conhecedor da realidade dos alunos, certos comportamentos podem ser entendidos com maior facilidade, principalmente no que se refere aos conflitos. Jesus (2006) nos expõe que quando o professor não aceita imposições, também o aluno será resistente, assim faz-se necessário que novos caminhos sejam experimentados e argumentos mais consistentes, sejam aplicados.

FIGURA 34 – O PROFESSOR E AS REALIDADES

FONTE: Disponível em: <http://www.estadodotapajos.com/2012/09/diretores-do-hospital-regional-de.html>. Acesso em: 12 dez. 2012.

Para que tal se concretize, é importante adentrar a realidade do aluno sem ultrapassar o limite, procurando fazer com que ele desperte para novos aprendizados. Isso só é possível, quando o professor apresentar ao aluno a sua realidade de uma maneira compreensível, fazendo-o entender a importância do que está sendo ensinado.

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TÓPICO 4 | A IMPORTÂNCIA DAS RELAÇÕES PROFESSOR E ALUNO NA CONSTRUÇÃO DOS SABERES

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4 O PAPEL DO PROFESSOR NA FORMAÇÃO DA AUTOESTIMA DA CRIANÇA

A autoestima é construída a partir do momento em que alguém nos trata de forma afetuosa, ou seja, nos acolhendo e valorizando no que dizemos ou fazemos. Na relação aluno e professor não poderia ser diferente, pois o progresso ou fracasso de ambos, está pautado na expressão da afetividade.

Quando colocamos que ambos dependem desta troca, queremos dizer, que na relação de ensino, a autoestima do professor também é construída, pela troca estabelecida com os alunos. Jesus (2006) reforça que o professor é motivado a seguir em frente quando os alunos demonstram interesse no que está sendo exposto.

Desta forma, o educador ao valorizar o educando também o estimula a interagir, estabelecendo com ele um vínculo de segurança e confiança, facilitando que a barreira do medo, insegurança e a falta de interesse seja rompida.

FIGURA 35 – O PROFESSOR É FORMADOR DA AUTOESTIMA

FONTE: Disponível em: <http://vanderlanpedagogo-vanderlan.blogspot.com.br/2011/05/elogios-e-criticas-e-importante-que-os.html>. Acesso em: 12 dez. 2012.

O docente que se propõe a refletir sobre sua ação, promove o envolvimento do aluno no processo educacional, torna o movimento de ensinar e aprender, participativo, dinâmico e reflexivo.

A partir disso, Jesus (2006) nos auxilia a compreender que o professor comprometido a atuar diante desta concepção, estará percebendo a formação acontecer e assim passará a dirigir seus ensinamentos de uma forma mais

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dialógica com os alunos, trabalhando pedagogicamente as características de cada grupo, num engajar crítico de ambas as partes. Partindo do ato de conhecer, esta forma tem por resultado uma relação horizontal.

Podemos dizer que tanto o professor quanto o aluno, alimentam expectativas nesta relação, principalmente no que tange ao desempenho um do outro. Assim, o produto final irá sempre depender do afeto e respeito entre eles. O professor que cultiva um bom relacionamento diante dos que estão à sua frente passa a investir nas potencialidades dos alunos, passando a preocupar-se com o desenvolvimento do aprendizado. Este investimento evoca na preocupação de tornar as atividades propostas mais atrativas, buscando sempre a participação dos alunos com o ensino.

Jesus (2006) também destaca por meio da participação, da colaboração, do incentivo e do estímulo, colocamos a relação professor/aluno como um desafio para o educador. Boa parte dos professores atuantes em sala de aula sentem dificuldades em fazer os alunos participarem, pois acredita-se que aprendizagem se faz mais eficiente quando o discente age e interage no processo ensino-aprendizagem, desenvolvendo desta forma certa autonomia.

Assim, o professor deve conduzir seu alunado à autorreflexão, auxiliando-os na construção de seus valores e autonomia. Para que a ação autônoma seja solidificada, é de grande importância que o professor mantenha estabelecido regras. Estas regras precisam ser formuladas em comum acordo, em uma relação de respeito e confiança, cuja construção e responsabilidade aconteçam em sala de aula.

O resultado do trabalho do professor parte dos reflexos expressos pelos alunos, portanto, cabe também a este, avaliar constantemente utilizando-se de diferentes métodos, de análise e reflexão, objetivando realizar mudanças em suas ações sempre que for necessário.

Outro fator que deve ater nossa atenção é o ambiente educativo. Este, necessita promover o fascínio e a inovação, oferecendo ao aluno todos os elementos importantes para a aprendizagem, pois ao proporcionar um ambiente harmônico, ao professor e aluno, o ensinar e o aprender evoluem mutuamente.

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FIGURA 36 – SALA DE AULA

FONTE: Disponível em: <http://www.prolog-berlin.com/pt/cursos-alemao-standard.htm>. Acesso em: 28 ago. 2013.

Para Jesus (2006) o papel do educador não se limita apenas em ensinar conteúdos, mas capacitar alunos a intervir e conhecer o mundo, ensinando-os a pensar o certo, possibilitando-lhes detectar oportunidades, dando condições a esse educando de desenvolver as suas habilidades, potencialidades e acima de tudo suas aptidões.

O educador deve trabalhar em função da coletividade, produzindo experiências educacionais que enfatizem a integração e a interação do conhecimento empírico e científico, buscando uma visão prática interdisciplinar.

FIGURA 37 – O PROFESSOR E A PRÁTICA CIENTÍFICA

FONTE: Disponível em: <http://escolaprofgabriel.blogspot.com.br/2010/11/o-laboratorio-didatico-de-ciencias-ldc.html>. Acesso em: 13 dez. 2012.

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Lembrando sempre que esta prática também deve estar voltada ao desenvolvimento de uma reflexão crítica e consciente ancorando a formação de um ser humano autocrítico. Assim, professor e alunos devem buscar aperfeiçoamento constante.

A sociedade pós-moderna e suas frequentes transformações, nos obrigam, de certa forma, a buscar constantemente por atualização; as mídias são um exemplo claro de como isso acontece. Diante disso, o professor deve estar atualizado, pois o processo de ensino e aprendizagem também se faz presente através das tecnologias de informação.

Jesus (2006) nos coloca a importância do professor saber fazer uso das redes eletrônicas buscando equilibrar os currículos e procedimentos metodológicos, com os estilos de aprendizagem dos alunos, estabelecendo assim, um elo entre o processo cognitivo e emocional, nos diferentes modos de vida dos estudantes.

Tal movimento nos trará maior ênfase na produção e transmissão do conhecimento, bem como fortalecerá as relações entre os vários grupos presentes que fazem educação. O professor que procura gerenciar informações utilizando-se das redes disponíveis, além da oportunidade de trabalhar pesquisa e produção de conhecimento, poderá fortalecer o vínculo com seus alunos, proporcionando-lhes um momento de exposição dos saberes.

FIGURA 38 – O PROFESSOR E AS REDES SOCIAIS

FONTE: Disponível em: <http://www.agitocampinas.com.br/materias/redes-sociais-x-professores/3757>. Acesso em: 12 dez. 2012.

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5 A DIDÁTICA ASSERTIVA: UM NOVO CAMINHO PARA O TRABALHO DO PROFESSOR

A partir deste momento, vamos procurar resgatar alguns pontos pertinentes ao estudo da didática, porém associados a um conceito muito utilizado na psicologia: a assertividade.

Libâneo (2001) traz a didática como uma disciplina responsável pelo estudo do processo de ensino no seu conjunto. Ela inclui objetivos, conteúdos, métodos e formas organizativas que se relacionam entre si de modo a criar condições que garantam aos alunos uma aprendizagem significativa; direcionando e orientando o professor na tarefa do ensino e da aprendizagem, fornecendo-lhe segurança profissional.

As condições que conduzem o processo de ensino estão diretamente ligados aos meios didático-pedagógicos, bem como aos objetivos sociopolíticos. Para haver uma técnica-pedagógica eficiente é necessário ter clareza dos conceitos de homem e sociedade, para que os alunos sejam preparados para a vida.

Para Libâneo (2001), a atividade docente tem a ver diretamente com a

pergunta “para que educar”, pois a educação se realiza numa sociedade formada por grupos sociais que têm uma visão distinta de finalidades educativas. Desta forma, o autor complementa que o ensino é a combinação entre o papel do professor e a atividade independente, autônoma e criativa do aluno.

Porém, sabemos que existem vários tipos de professores. Entre eles estão

os tradicionais, ou seja, aqueles que geralmente se satisfazem em transmitir os conteúdos que estão nos livros didáticos, utilizando-se sempre dos mesmos métodos, pouco se importando com as características sociais e individuais do alunado à sua frente. As aulas, desta categoria, obedecem normalmente ao mesmo ritmo: expor a matéria, realizar exercícios e avaliação.

Este tipo de conduta dificilmente leva o aluno a uma aprendizagem duradoura. Assim, Libâneo (2001) nos coloca que uma aprendizagem de qualidade é aquela que busca desenvolver no aluno o raciocínio próprio, que faz relações entre um conceito e outro, aplicando este conhecimento em várias situações, sendo dentro ou fora da sala de aula, dando condições para que o aluno saiba explicar uma ideia com suas palavras.

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FIGURA 39 – SOCIALIZAÇÃO DE IDEIAS

FONTE: Disponível em: <http://noticias.universia.pt/destaque/noticia/2013/02/20/1005955/21-maneiras-simples-motivar-os-alunos.html>. Acesso em: 28 ago. 2013.

Em contrapartida aos que não fazem uso do método tradicional, Libâneo (2001) os nomeia como “professores progressistas”, ou seja, professores que se preocupam com as diferenças individuais e sociais dos alunos, elaborando atividades como trabalho de grupo, utilizando-se de diálogo e amorosidade no relacionamento com os alunos.

A forma progressista de lecionar, nos parece a mais eficaz, porém percebe-se que muito ainda há de mudar, pois presenciamos muitos professores presos às práticas tradicionais, exigindo no ato da avaliação a memorização e repetição de seus ensinamentos e não o entendimento deles.

Para que se desenvolva uma prática pedagógica mais humanizada, o professor necessita saber como auxiliar seu aluno a adquirir métodos de pensamento, habilidades e capacidades mentais que tornem o aprendiz independente e criativo com os conhecimentos a serem assimilados.

O papel do professor, portanto, é planejar, selecionar e organizar os conteúdos, programar tarefas, criar condições de estudo dentro da classe, incentivar os alunos, ou seja, o professor faz mediação das atividades de aprendizagem dos alunos a fim de que estes se tornem sujeitos ativos da própria aprendizagem. Não há ensino verdadeiro se os alunos não desenvolvem suas

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capacidades e habilidades mentais, se não assimilam pessoal e ativamente os conhecimentos ou se não dão conta de aplicá-los, seja nos exercícios e verificações feitos em classe, seja na prática da vida associada à aprendizagem do pensar.

Mediante o exposto, Libâneo (2001) reforça que a didática preocupa-se com as condições, ou seja, modos pelos quais os alunos melhoram e potencializam sua aprendizagem trazendo à tona questionamentos de como, qual a forma e de que maneira, podem ser ajudados a lidar com conceitos, argumentar, raciocinar logicamente, elaborar ideias e pensar sobre o que aprendem.

Para que possamos conduzir essa estruturação do conhecimento em nossos alunos, é importante pensarmos na forma de como esse processo é conduzido. Diante disso, estudar a assertividade, auxiliá-lo(a)-á, acadêmico(a), a pensar em novos caminhos de condução no que tange à produção de conhecimento.

Assertividade trata-se da habilidade de transmitir ideias, expressar opiniões e desejos de uma forma transparente, clara e direta, buscando sempre respeito ao seu interlocutor.

Para enfatizar esse conceito, Portella (2010) nos coloca que assertividade é a capacidade de expor de maneira objetiva, clara e direta pensamentos e sentimentos de maneira comedida, ou seja, sem fazer uso de comportamentos passivos, tampouco agressivos.

Cunha (2010) reforça este conceito quando diz que o comportamento assertivo é a expressão de sentimentos de maneira socialmente adequada, perseverando tanto os direitos/interesses do indivíduo que responde assertivamente quanto os de seu interlocutor.

O indivíduo que desenvolve um comportamento assertivo necessita apresentar algumas características importantes: ter autorrespeito e respeito pelos outros; exercer seus direitos sem violar os direitos de outras pessoas; colocar suas ideias e opiniões sem fazer uso da agressividade, muito menos da passividade.

Antes de nos atermos às características do comportamento assertivo, vamos relembrar a diferença entre comportamento passivo e agressivo. Conforme destaca Cunha (2010) apud Hull e Schroeder (1979), as características do comportamento passivo são: evitar olhar o interlocutor nos olhos; fazer uso de um tom de voz suave, hesitante, com entonação que transmite vacilação; a fala é pouco clara; posicionar-se curvadamente perante a pessoa, dificuldade em encarar o interlocutor.

Um comportamento considerado agressivo envolve as seguintes atitudes: o indivíduo tem um olhar direto e fulminante; o tom de voz transmite raiva e ressentimento; fala alto e em alguns momentos chega a gritar; não demonstra hesitação no que diz; encara o interlocutor e fala imediatamente, quase interrompendo-o.

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UNIDADE 1 | A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES: TRABALHANDO OS CONCEITOS

O comportamento assertivo requer do indivíduo uma série de mudanças no modo de lidar com as pessoas. Ser assertivo significa saber negociar, ou seja, levar em consideração os interesses de todas as partes envolvidas em uma determinada situação, buscando uma posição consensual.

Enquanto conduta, a prática da assertividade exige que o indivíduo adote algumas mudanças consideradas profundas em sua forma de agir, sendo que uma atitude assertiva solicita como pré-requisito a construção de uma estrutura psicológica que a sustente. O ser assertivo requer alguns saberes como: estabelecimento dos objetivos que pretende alcançar; conhecimento de direitos e deveres; conhecimento dos seus potenciais e limites; facilidade em expressar-se de forma objetiva; boa argumentação, flexibilidade e empatia.

Portella (2010) destaca algumas características que fazem parte de um comportamento assertivo:

• Fazer pedidos: ao solicitar alguma ajuda ou favor, o mesmo deve ser feito de uma forma clara, direta e objetiva, sendo que justificativas e pretextos são desnecessários.

• Solicitar mudança de comportamento: ao sugerir que uma forma de agir seja modificada, o solicitante deve descrever o comportamento que necessita ser suprimido e especificar a mudança desejada.

• Recusar pedidos ou dizer não: é dispensável o uso de justificativas e pretextos para a negativa, sendo necessário que o indivíduo seja firme na resposta e que o sentimento de culpa não o acompanhe.

• Expressar amor, agrado e afeto: demonstrar estes sentimentos de uma forma adequada fortalece e aprofunda as relações.

• Expressar incômodo, desagrado e desgosto de modo justificado: especificar o incômodo para o outro, procurando destacar as consequências do comportamento de uma forma positiva, motiva a busca pela mudança.

• Fazer críticas: neste momento é importante lembrar que a crítica deve ser dirigida ao comportamento e não à pessoa. Deve ser destacado o desagrado ao comportamento, tendo cuidado para não expressar o que pensamos da pessoa que o manifestou.

• Receber críticas: o desejável neste caso seria permitir à pessoa que elabora a crítica concluir seu pensamento, deixando-a expressar o que deseja, para que posteriormente solicitar justificativa ou mais informações sobre suas colocações.

Muitas pessoas apresentam consideráveis dificuldades em serem assertivas, pois deixam-se guiar pelo receio de magoar ou afastar as pessoas que gostam ou dependem. Assim, movem-se de acordo com o desejo do outro, evitando o enfrentamento e preferindo permanecer passivos aos desejos alheios.

Já as pessoas com maior ênfase no desenvolvimento de comportamentos agressivos, apresentam grandes dificuldades no que tange a colocar-se no lugar do outro, forçando-o a aceitar seu ponto de vista a qualquer custo. Essas pessoas

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partem do pressuposto de que sua linha de pensamento e atitudes são as corretas e consideram-se no direito de fazer com que as coisas aconteçam conforme desejam.

O comportamento assertivo, conforme Cunha (2010), caracteriza-se por: maior contato visual entre o indivíduo assertivo e seu interlocutor; afirmações utilizadas e manifestadas de forma afetuosa; tom de voz audível; verbalizações de maior duração; uso adequado de características paralinguísticas da fala (como fluência, variabilidade de expressões, vivacidade).

A assertividade é uma aliada da prática docente, principalmente no fortalecimento das relações com o alunado. O professor que adota uma postura assertiva transmite segurança e equilíbrio, além de motivar seus alunos a manifestarem esse comportamento em suas relações.

A didática assertiva instiga o professor a buscar relacionar os objetivos a serem alcançados com a forma de como serão transmitidos aos alunos, levando sempre em consideração os saberes e a realidade no qual estes alunos, sejam adultos ou crianças, já manifestem.

LEITURA COMPLEMENTAR

ASSERTIVIDADE

Assertividade é a habilidade social de fazer afirmação dos próprios direitos e expressar pensamentos, sentimentos e crenças de maneira direta, clara, honesta e apropriada ao contexto, de modo a não violar o direito das outras pessoas. Ser assertivo é dizer “sim” e “não” quando for preciso. A postura assertiva é uma virtude, pois se mantém no justo meio-termo entre dois extremos inadequados, um por excesso (agressão), outro por falta (submissão).

A assertividade é a arte de defender o meu espaço vital sem recuar, desistindo de mim mesmo, e sem agredir, desistindo do outro. Assertividade é ser transparente e firme sem ser agressivo ou autoritário. É se posicionar com clareza e de maneira respeitosa com as pessoas que convive.

Parece banal, mas mudar a si mesmo e melhorar sua relação com as outras pessoas é um desafio que poucos enfrentam com sucesso. Como se tornar mais confiante e assertivo ensina como você pode se expressar com mais eficiência e lidar com os obstáculos de maneira direta e honesta.

Inicialmente, os psicólogos Robert E. Alberti e Michael L. Emmons direcionaram seu foco para as pessoas que não conseguem se impor. Mas logo perceberam que todo mundo precisa aprender a defender suas posições e fazer as coisas por iniciativa própria. Veja como você reage quando:

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- Quer interromper a ligação de alguém.- Um colega de trabalho tenta humilhá-lo.- Seu (sua) esposo(a) o censura.- Um vizinho põe o som a todo volume até as três da manhã.- Um de seus filhos faz pirraça.

Em ocasiões desse tipo algumas pessoas reprimem os sentimentos e se calam, contrariadas; outras gritam e reagem de forma agressiva. A assertividade pode ajudar você a enfrentar esses problemas sem medo.

Ao contrário do que muita gente pensa, a assertividade não é uma técnica para se conseguir tudo o que se deseja. Não se trata de ensinar truques ou artifícios para manipular os outros. Os autores, na verdade, escreveram este livro como um guia para que todas as pessoas possam defender suas opiniões e desejos sem desrespeitar os direitos dos outros.

A comunicação assertiva eficiente estimula os relacionamentos positivos e igualitários entre as pessoas. Além disso, pode acelerar a autoestima, enriquecer a intimidade, aperfeiçoar a capacidade de decisão e de lidar com pessoas difíceis e melhorar a habilidade de resolver conflitos, sempre estimulando a responsabilidade social.

Fácil de ler e cheio de exemplos educativos, este livro é feito sob medida para quem está buscando reduzir a ansiedade nos relacionamentos e se tornar uma pessoa mais confiante.

Asserção é o “comportamento que capacita a pessoa a atuar em seu melhor interesse, afirmar-se sem ansiedade indevida, expressar confortavelmente de forma honesta os sentimentos e exercitar os direitos pessoais sem negar os direitos dos outros”. (ALBERTI, EMMMONS, 1978, p. 13).

Por exemplo digamos que você se encontra diante alguém que insistentemente lhe queira vender algo, uma atitude assertiva pode ser através de um contato visual e expressão facial de firmeza evocando as seguintes palavras: - Muito obrigada, eu não vou comprar nada, mas espero que o(a) senhor(a) seja bem-sucedido(a) nas próximas visitas.

Ser assertivo é confrontar no sentido de “se colocar de frente” às pessoas e situações desafiadoras para eliminar os problemas e ir em direção à solução.

Para saber quando você NÃO é assertivo, olhe para suas atitudes e ações e saiba que você não é assertivo quando:

* Enfrenta alguém sobre determinado problema e se sente constrangido.* Perde a cabeça quando se confronta com sarcasmos ou críticas de qualquer

ordem.* Perde a calma com facilidade diante de situações embaraçosas.

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* Ao invés de resolver os problemas diretamente, começa a julgar ou culpar os outros e a si mesmo.

* Sente-se pouco à vontade quando olha os outros nos olhos e vice-versa.* Não acha certo o que deseja ou expor seus sentimentos.* Por querer agradar a todos, é injusto consigo mesmo.* Espera que as pessoas adivinhem o que quer.* Foge das questões que envolvem confronto com outras pessoas.* Só aceita seu ponto de vista e perde o respeito pelos outros.* Perde a paciência e não aceita as diferenças.* Não fala o que é para ser dito e espera que os outros entendam pela sua cara

fechada.* É indireto e faz “observações cortantes” ou manifestação de impaciência.* Usa a expressão corporal para que o outro entenda.* Passa a agredir ou apontar o dedo para os outros.* Não sabe dizer não ou não mantém compromissos.

Para Alberti e Emmons (2008) o treino assertivo tem como principal objetivo mudar a forma como o indivíduo se vê a si próprio, aumentar a sua capacidade de afirmação, permitir que este expresse de forma adequada os seus sentimentos e pensamentos e, posteriormente, estabelecer a autoconfiança. Mais detalhados, Hargie e Dickson (2004) elencaram várias funções do treino, entre as quais destaca-se: (1) ajudar o indivíduo a assegurar que os seus direitos não serão violados; (2) reconhecer os direitos dos outros; (3) comunicar a sua opinião de forma confiante; (4) recusar pedidos irrazoáveis (5) fazer pedidos razoáveis; (6) lidar eficazmente com recusas irrazoáveis; (7) evitar conflitos agressivos desnecessários e (8) desenvolver e manter um sentido pessoal de eficácia.

REFERÊNCIAS:

ALBERTI, R. E.; EMMONS, M. L. Comportamento assertativo: um guia de autoexpressão. Belo Horizonte: Interlivros, 1978. Disponível em: <http://neuropsicopedagogianasaladeaula.blogspot.com.br/2013/07/assertividade.htm>. Acesso em: 25 abr. 2014.

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RESUMO DO TÓPICO 4 Neste tópico, você estudou que:

• A relação que o professor estabelece com o aluno, seja adulto ou criança, influi diretamente no sucesso ou fracasso do processo de ensino e aprendizagem.

• Ser empático é fundamental no que tange à relação professor e aluno, pois colocar-se no lugar de quem aprende, eleva o nível de compreensão sobre as dificuldades e a realidade vivida pelo discente.

• É normal que o professor tenha expectativas em relação aos seus futuros alunos, porém não é prudente deixar-se influenciar pelas experiências de outros docentes em relação à turma.

• Para que se estabeleça uma relação sadia com toda a turma, o professor deve manter uma postura de igualdade com todos.

• Os conflitos são administrados com maior eficiência a partir do momento que o professor tem consciência da realidade vivida pelos seus alunos.

• O educador tem um papel importante na construção da autoestima do alunado. Isso é concretizado no momento em que é dada a oportunidade a este aprendiz que expresse seu saber.

• O professor que busca a constante atualização vê as diversas mídias como aliadas na construção do vínculo com a turma.

• A assertividade busca o equilíbrio nas relações, ou seja, caracteriza-se na habilidade de saber negociar de uma forma que todos os envolvidos saiam ganhando.

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AUTOATIVIDADE

Agora, acadêmico(a), que você concluiu os estudos referentes a este tópico, responda às questões a seguir:

1 Como a relação aluno/professor influencia no processo de ensino e aprendizagem?

2 Quando colocamos que o professor é facilitador da aprendizagem, o que realmente isso quer dizer?

3 Qual é a importância do educador desenvolver a autonomia de seus alunos?

4 Disserte sobre a didática assertiva.

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UNIDADE 2

ASPECTOS RELEVANTES DA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

PLANO DE ESTUDOS

A partir desta unidade você será capaz de:

• conceituar a educação não formal relacionando-a às diversidades culturais;

• relacionar os instrumentos pedagógicos diante de suas aplicações na edu-cação formal para a educação não formal;

• diferenciar os conceitos de andragogia e heutagogia;

• formular possíveis práticas relacionadas ao trabalho baseados nos precei-tos andragógicos e heutagógicos.

Esta unidade está dividida em quatro tópicos e em cada um deles você encon-trará atividades que o(a) ajudarão a internalizar os conhecimentos estudados.

TÓPICO 1 – DIVERSIDADE CULTURAL: BASE DA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

TÓPICO 2 – INSTRUMENTOS PEDAGÓGICOS APLICADOS À EDUCA-ÇÃO NÃO FORMAL

TÓPICO 3 – ANDRAGOGIA E HEUTAGOGIA

TÓPICO 4 – O DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO PEDAGÓGICO, ANGRAGÓGICO E HEUTAGÓGICO

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TÓPICO 1

DIVERSIDADE CULTURAL: BASE DA

EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

UNIDADE 2

1 INTRODUÇÃOAcadêmico(a)! Para uma atuação eficiente em ambientes não formais, torna-

se fundamental ao pedagogo saber que se trata de movimentos diversificados e flexíveis, ao contrário de toda rigidez metodológica encontrada nos ambientes formais. Para tanto faz-se necessária a compreensão de um fator que move esta modalidade: a cultura.

O senso comum trata a cultura de forma limitada e muitas vezes relacionada somente a eventos cujo objetivo é o entretenimento. Cultura é um conceito amplo e fundamental na atuação do pedagogo independentemente do espaço em que o mesmo desenvolve suas atividades. O entendimento da importância e suas implicações no cotidiano da sociedade, traça o trabalho do pedagogo sensível às determinantes que conduzem à realidade em que está inserido. É sobre isto que falaremos a partir de agora acadêmico(a).

2 A CULTURA E SUAS CULTURASPodemos dizer que a educação tem sido proclamada uma das áreas de

destaque no enfretamento dos novos desafios gerados pelo movimento chamado globalização, principalmente no que condiz aos avanços tecnológicos da era da informação. Ela é o caminho para a superação das mazelas, promovendo aos considerados excluídos, uma sociedade mais justa e igualitária, e assim contribui para novas formas de assistência à população sejam geradas.

De acordo com Gohn (2011, p. 17) afirma que:

[...] observa-se uma ampliação do conceito de Educação, que não se restringe mais aos processos de ensino-aprendizagem no interior de unidades escolares formais, transpondo os muros das escolas para os espaços da casa, do trabalho, do lazer, do associativismo etc. Com isso um novo campo da educação se estrutura: o da educação não formal. Ele aborda processos educativos da sociedade civil, ao redor de ações coletivas do chamado terceiro setor da sociedade, abrangendo movimentos sociais, organizações não governamentais e outras entidades sem fins lucrativos que atuam na área social; ou processos educacionais, frutos da articulação das escolas com a comunidade educativa, via conselhos, colegiados etc.

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UNIDADE 2 | ASPECTOS RELEVANTES DA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

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UNI

Acadêmico(a)! Para a leitura deste tópico, tenha clareza de dois significados: globalização e associativismo. Então vamos a eles:

Globalização: é um conjunto de transformações na ordem política e econômica mundial visíveis desde o final do século XX. Trata-se de um fenômeno que criou pontos em comum na vertente econômica, social, cultural e política, e que consequentemente tornou o mundo interligado, uma Aldeia Global. O processo de globalização é a forma como os mercados de diferentes países interagem e aproximam pessoas e mercadorias. A quebra de fronteiras gerou uma expansão capitalista em que foi possível realizar transações financeiras e expandir os negócios – até então restritos ao mercado interno – para mercados distantes e emergentes. O complexo fenômeno da globalização teve início na Era dos Descobrimentos e se desenvolveu a partir da Revolução Industrial. Foi resultado da consolidação do capitalismo, dos grandes avanços tecnológicos (Revolução Tecnológica) e da necessidade de expansão do fluxo comercial mundial. As inovações nas áreas das telecomunicações e da Informática (especialmente com a internet) foram determinantes para a construção de um mundo globalizado. O surgimento dos blocos econômicos – países que se juntam para fomentar relações comerciais, por exemplo, Mercosul ou União Europeia – foi resultado desse processo econômico. O impacto exercido pela globalização no mercado de trabalho, no comércio internacional, na liberdade de movimentação e na qualidade de vida da população varia a intensidade de acordo com o nível de desenvolvimento das nações.

FONTE: Disponível em: <http://www.significados.com.br/globalizacao/>. Acesso em: 25 jan. 2014.

Associativismo: trata-se da cooperação entre as empresas como forma de torná-las mais competitivas em um mercado muito disputado. Por meio de parcerias, é possível fortalecer o poder de compras, compartilhar recursos, combinar competências, dividir o ônus de realizar pesquisas tecnológicas, partilhar riscos e custos para explorar novas oportunidades e oferecer produtos com qualidade superior e diversificada. Associação é qualquer iniciativa formal ou informal que reúne pessoas físicas ou outras sociedades jurídicas com objetivos comuns, visando superar dificuldades e gerar benefícios para os seus associados. Ou seja, é uma forma jurídica de legalizar a união de pessoas em torno de seus interesses.

FONTE: Disponível em: <http://www.sebrae.com.br/momento/quero-melhorar-minha-empresa/entenda-os-caminhos/associativismo/>. Acesso em: 25 jan. 2014.

FIGURA 40 – GLOBALIZAÇÃO E ASSOCIATIVISMO

FONTE: Disponível em: <http://aglobaliizacao.blogspot.com.br/2011/02/imagens-da-globalizacao.html>. Acesso em: 25.jan.2014

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TÓPICO 1 | DIVERSIDADE CULTURAL: BASE DA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

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Diariamente sentimos os reflexos da globalização quando nos depararmos com um universo de informações publicadas praticamente em tempo real nas diferentes mídias eletrônicas. Esse acesso quase que imediato aos últimos acontecimentos, nos coloca a par das transformações econômicas, tecnológicas, políticas e culturais, no que contribuem para que possamos nos tornar protagonistas nos acontecimentos, graças aos meios de comunicação instantânea.

Como GONH (2011) bem denota, os meios de comunicação sofreram uma revolução tecnológica gerando novas relações sociais, novas linguagens, alterando estilos e comportamentos sociais, causando transformações culturais e estabelecendo, assim novos desafios e necessidades à área da educação.

Porém, vale mencionar que a globalização além dos aspectos relativos aos avanços tecnológicos trouxe incertezas, ou seja, podemos arriscar dizer, que trouxe certo desrespeito às várias diversidades culturais e às outras formas de realidade, fazendo com que optassem pelo isolamento como proteção, objetivando preservar sua integridade. Um exemplo disso é a comunidade Amish localizada nos Estados Unidos e no Canadá (América do Norte).

FIGURA 41 – COMUNIDADE AMISH

FONTE: Disponível em: <http://www.ibahia.com/a/blogs/feminina/2013/08/11/comunidade-amish/>. Acesso em: 25 jan. 2014.

UNI

Os Amish surgiram em 1693 quando um grupo de menonitas suíços liderados por Jacob Amman separou-se do grupo principal de menonitas por causa das diferenças em relação à celebração da comunhão. Enfrentando perseguições, tanto dos cristãos católicos quanto dos protestantes, os Amish, em grande número impulsivamente aceitam a oferta de William Penn de liberdade religiosa na colônia norte-americana da Pensilvânia. A imigração para Pensilvânia começou em 1727 e continuou intensa até 1770. As instalações

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concentraram-se na área do condado de Lancaster, nos Estados Unidos. Os Amish vivem em fazendas, porque este estilo de vida rural torna mais fácil para eles manterem distância dos não puros, que são chamados simplesmente de “Os Ingleses”. As cidades e vilas, conforme sua cultura, apresenta muitas distrações que podem desviar a conduta. Enquanto o seu número crescia, os agrupamentos Amish ficavam em Ohio, Indiana e muitos outros estados, e também no Canadá.Os Amish comunicam-se entre si com um dialeto do alemão, parecido ao holandês da Pensilvânia. O alemão é usado para os serviços religiosos e o inglês é falado com os estranhos. O modelo dos vestuários, a carroça e o lampião tornaram-se os símbolos dos Amish e provavelmente não vão mudar. O modelo do vestuário enfatiza que a pessoa Amish é separada do mundo não Amish, mas é também parte de uma comunidade de iguais. A carroça, do mesmo modo, promove a igualdade e limita as viagens, mantendo as comunidades juntas. O lampião, uma luz não elétrica, não necessita de conexões exteriores da comunidade. Os Amish não estão de fato “parados no tempo”. Embora a vida social e caseira permaneça essencialmente imutável, os Amish adotam novas tecnologias que passam por um exame rigoroso para serem aceitas. A tecnologia pode ser aceita por razões práticas ou comerciais, mas nunca por indulgência, desejo ou divertimento. Uma tecnologia é provavelmente aceita se for uma extensão natural existente e que tenha um impacto social mínimo. Usar uma corda de náilon poderia ser um exemplo de uma extensão natural.Uma tecnologia é provavelmente rejeitada se é radicalmente diferente ou tenha implicações sociais. Ouvir rádio enquanto são feitos os deveres domésticos seria considerado uma distração desnecessária. Qualquer tecnologia que é vista como degradação da vida espiritual ou familiar é rejeitada de imediato. A televisão está definitivamente fora de questão, pois traz valores questionáveis para casa.

FONTE: Disponível em: <http://subculturasecontraculturas.blogspot.com.br/p/amish.html>. Acesso em: 25 jan 2014.

A área relacionada à cultura é a mais atingida pelos efeitos da globalização e tem ocupado um espaço importante na agenda de discussões de algumas importantes organizações como a ONU (Organização das Nações Unidas) e a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura). A área da saúde também foi atingida severamente pela “evolução”, gerando descontentamentos e protestos devido a sua degradação, originada pela lógica mercantil e tecnocrática global.

É comum vermos, quase que diariamente, nas mídias, expressões de indignação pelo descaso, abandono e sucateamento desta assistência essencial da sociedade. O mercado de trabalho também sentiu os reflexos da globalização, obrigando várias classes profissionais a manifestarem sua indignação através de passeatas e greves, em prol de mais empregos, trabalho, menos demissões, inclusão e o não corte de vagas.

GONH (2011, p. 20) reforça que

A crise atual tem novas dimensões, pois criou novas categorias de excluídos, desta vez no próprio acesso ao mercado de trabalho, pelo fato de, simplesmente deixar de existir certas categorias funcionais devido à flexibilização/desregulamentação deste mercado ou eliminação de direitos sociais conquistados por meio de lutas seculares, por parte dos trabalhadores.

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TÓPICO 1 | DIVERSIDADE CULTURAL: BASE DA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

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FIGURA 42 – GREVE

FONTE: Disponível em: <http://www.casernapapamike.com.br/greve-da-pcdf-ajuda-o-gdf/>. Acesso em: 25 jan. 2014.

As manifestações também lançam novos olhares e atitudes à sociedade, bem como a origem de novas culturas, que por muitas vezes encontram-se adormecidas pelo descaso e pelo comodismo que a cultura mãe traz como “regra” intrínseca, provocando mudanças no comportamento de quem dá voz a elas.

Sabemos que o termo cultura, ao longo do tempo, foi interpretado de várias formas adotando posições diferenciadas que explicam os vários paradigmas da realidade social. Como vimos no início do tópico, o senso comum abarca o conceito de cultura para alguém que possui estudo ou para as várias formas de entretenimento.

GOHN (2011) nos chama a atenção a respeito da etimologia da palavra cultura, proveniente do latim medieval, a partir do verbo latino colere que significa cultivo e cuidado – com plantas, animais e tudo que se relaciona à terra e à agricultura. Já os romanos estenderam ainda o uso do vocábulo aos cuidados com as crianças e sua educação, aos deuses, ancestrais e seus monumentos, a cultura do espírito etc.

A cultura foi tema de muitos estudos expressivos realizados por grandes pensadores, como: Aristóteles, Platão, Hegel, Marx, Kant, entre outros, cada qual em sua época e até hoje ela norteia pesquisas em várias categorias, dentre elas: filosofia, antropologia, sociologia, educação, psicologia etc.

Porém cabe-nos destacar três vertentes consideradas essenciais à compreensão do conceito de cultura, relacionado ao trabalho realizado no campo educacional: cultura de massa, cultura popular e cultura política. Assim, acadêmico(a), vamos a eles:

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Conforme Gohn apud Wolf (1995), as teorias relacionadas à cultura de massa correspondem a um dos primeiros momentos nos quais são desenvolvidos estudos relativos aos meios de comunicação, centrados no entendimento dos aspectos psicológicos das ações coletivas, tendo como tema central a propaganda. Esta, atua como estímulo sobre os indivíduos que reagiriam com respostas cegas e irracionais, gerando assim movimentos reativos ou de consumo, sem muita expressão crítica. Para que isto acontecesse bastava que fossem expostos a estímulos perniciosos de certas mensagens, para que produzissem respostas comportamentais instantâneas.

UNI

Acadêmico(a)! Pernicioso significa maldoso, nocivo, ruidoso.

FONTE: Disponível em: <http://www.dicionarioinformal.com.br/pernicioso/>. Acesso em: 25 jan. 2014.

Nas últimas décadas, caracterizadas pelos avanços tecnológicos, as discussões sobre a cultura de massa tomaram novos rumos, ou seja, outros termos passaram a fazer parte dos estudos em relação ao tema, sendo reconhecidos como cultura das mídias ou midiáticas. Este movimento trouxe divisões sociais, ou seja, de um lado ficavam os que tinham acesso ao consumo, seja este mercadológico ou informativo, e do outro, os que eram impedidos, de alguma forma, de terem o mesmo privilégio.

FIGURA 43 – CULTURA DE MASSA

FONTE: Disponível em:< http://industria-cultural-pra-voce.tumblr.com/faq>. Acesso em: 25 jan. 2014.

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Acadêmico(a)! Os adultos não estão livres da influência da cultura de massa, porém a maior fragilidade está concentrada no público infantil. Juntamente com seus colegas, discuta como os meios de comunicação interferem na formação da personalidade das crianças. Diante desta discussão e enquanto educadores, reflita a respeito de que estratégias devemos utilizar na construção de uma visão mais crítica em nossos educandos, mediante este bombardeio de estímulos consumistas.

Outra vertente aplicada a esta temática, é a cultura popular, que Gohn (2011, p. 50) expõe.

A categoria cultura popular foi objeto de muitas discussões nos anos de 1960 e no início dos 1980 na América Latina, principalmente no Brasil. Vários fatos da conjuntura sociopolítica da época explicam esse destaque. [...] Nos anos 1980, o tema da cultura popular retorna ao cenário nacional, dada a difusão de pedagogias de educação popular no esforço de setores da sociedade civil para se organizar e participar da política, resultando na luta pela redemocratização do poder do Estado, então nas mãos dos militares. Deve-se destacar também a crença na força da criatividade dos grupos populares, por parte de um conjunto significativo de intelectuais da academia e do clero cristão; a crítica feita pelas lideranças articuladas pela Igreja Católica às formas centralizadoras de organizar a população por partes dos partidos tradicionais da esquerda; o surgimento de inúmeras experiências novas para a solução de problemas socioeconômicos na área da habitação, geração de renda e condições de inserção da mulher no mercado de trabalho (por exemplo, as casas construídas por mutirões populares, a produção de pães caseiros, tapetes e “panos de prato” artesanais, as creches comunitárias etc.).

Nesta categoria, a cultura popular objetiva buscar formas de sensibilização coletiva em função de mudanças sociais significativas direcionadas aos menos favorecidos e às pessoas das classes excluídas. Vale ressaltar, que todos esses movimentos não se originaram instantaneamente, sendo necessária a intervenção de outras instâncias, tais como: a popular, o ministério público, as políticas públicas etc., o que levou certo tempo para sua efetivação.

Ao tratarmos sobre o tempo utilizado na instauração das mudanças relativas à cultura, estamos nos referindo também à cultura política que conforme Gohn (2011), está relacionada a alguns indicadores sociais, tais quais as atitudes políticas, envolvendo valores como: confiança e desconfiança, liberdade e coerção, igualdade e hierarquia, interesses universais e paroquiais.

Existem quatro fontes de mudança na cultura política: 1) a própria configuração da população de um país; 2) as mudanças de uma geração para outra; 3) as alterações no estilo de vida das pessoas decorrentes das fases e situações diferentes que vivenciam; 4) as mudanças na estrutura política e econômica do país.

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Acadêmico(a)! Todas essas atenuantes influenciam diretamente no sistema educacional formal, informal e não formal, por exigirem adequações diante das transformações sofridas pela sociedade, que refletem diretamente no pensar e agir da população.

Portanto Gohn (2011, p. 67) enfatiza:

[...] falar da cultura política é tratar do comportamento de indivíduos nas ações coletivas, os conhecimentos que os indivíduos têm a respeito de si próprios e de seu contexto, os símbolos e a linguagem utilizadas, bem como as principais correntes do pensamento existentes.

DICAS

Acadêmico(a)! Recomendamos o filme A Onda para que você possa visualizar os três conceitos aqui citados e sua correlação. Fica a dica!

Em uma escola da Alemanha, alunos têm de escolher entre duas disciplinas eletivas, uma sobre anarquia e a outra sobre autocracia. O professor Rainer Wenger é colocado para dar aulas sobre autocracia, mesmo sendo contra sua vontade. Após alguns minutos da primeira aula, ele decide, para exemplificar melhor aos alunos, formar um governo fascista dentro da sala de aula. Eles dão o nome de “A Onda” ao movimento, e escolhem um uniforme e até mesmo uma saudação. Só que o professor acaba perdendo o controle da situação, e os alunos começam a propagar “A Onda” pela cidade, tornando o projeto da escola um movimento real. Quando as coisas começam a ficar sérias e fanáticas demais, Wenger tenta acabar com “A Onda”, mas aí já é tarde demais.

FONTE: Disponível em: <http://www.adorocinema.com/filmes/filme-134390/>. Acesso em: 27 jan. 2014.

Diante do contexto apresentado, é necessário frisar que a cultura de massa, popular e política só estão separadas em nível conceitual, pois na prática elas caminham entrelaçadas influenciando uma à outra diretamente.

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TÓPICO 1 | DIVERSIDADE CULTURAL: BASE DA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

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3 EDUCANDO PARA A DIVERSIDADEAtualmente, acompanhamos e vivenciamos os impactos das transformações

que ocorrem em nível econômico, trabalhista e social, pois eles estão presentes em diversas manifestações como na degradação do meio ambiente, no caos do trânsito, na poluição, na violência, no desemprego etc. Em contrapartida, estamos presenciando avanços consideráveis relativos à medicina e às tecnologias de informação e comunicação.

No que tange à educação, Paula (2013, p. 16) aponta que

Diante desse quadro de progressos e regressos, retornamos ao contexto da escola e nos questionamos: Esta instituição tem acompanhado as mudanças planetárias? Imagino que sim e que não: sim, porque a escola é feita de pessoas que sentem e que vivem as mudanças; não, porque muitas dessas pessoas resistem às mudanças. Temos vários exemplos de resistências no dia a dia da escola: não conseguimos romper com pedagogias tradicionais, com a gestão pouco democrática, centralizada, nem incorporar novas tecnologias em sala de aula. Os currículos ainda operam de forma restritiva, que corroboram com a construção de estereótipos e legitimam a hegemonia cultural. Essas questões correspondem às relações sociais e valores dominantes no seio da sociedade capitalista, reproduzidos também nas instituições escolares.

As transformações decorrentes do processo de industrialização e desenvolvimento, advindas das mudanças econômicas, tem acelerado o crescimento da escolarização básica, como podemos observar atualmente, um exemplo disso é o aumento no ensino fundamental de oito para anos.

No entanto, percebe-se que a sociedade ainda remete à escola um olhar romantizado ao delegar a esta à “responsabilidade” pela resolução de grande parte dos dilemas sociais. Realmente, que a escola tem um papel fundamental neste trabalho é algo que precisamos admitir, pois seus conteúdos também devem abordar questões que auxiliam na formação e restauração de valores, perdidos ou afetados pela modernidade. Porém, ela também experimenta e vivencia crises, seja de paradigmas, seja de visão de mundo ou de seu papel social.

A educação sempre foi vista como uma instituição que promove a unidade nacional por meio da propagação de conteúdos, valores culturais e morais. O poder público vê e deposita na educação a responsabilidade de civilizar, visando à construção do Estado, colocando a educação como um direito.

DICAS

Acadêmico(a)! Aprofunde seu conhecimento fazendo a leitura da seguinte obra: FREIRE, Paulo. A educação na cidade. São Paulo: Editora Cortez, 1991.

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UNIDADE 2 | ASPECTOS RELEVANTES DA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

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Considerando que a educação é um direito de todos, implica-nos trabalhar as questões relacionadas à cidadania que nos remete ao direito de ter direito. Nesse sentido, cabe-nos buscar trabalhar o tema diversidade, tema de total relevância desde os tempos mais remotos.

Para Paula apud Abramowicz (2006, p. 25) “diversidade pode significar variedade, diferença e multiplicidade, sendo esta a qualidade do que é diferente, o que distingue uma coisa da outra, a falta de igualdade ou de semelhança”.

Ser sensível às questões relacionadas à diversidade é utilizar todo o aparato que este tema nos fornece para trabalharmos em paralelo aos conteúdos programáticos, pois o ambiente formal e não formal fornecem o espaço necessário para que temas relativos à diversidade sejam trabalhados.

Paula (2013, p. 20) reforça esta possibilidade ao comentar que:

Atualmente, podemos perceber que a diversidade está na ordem do dia, em pauta. [...] As diferenças agregam múltiplos processos de pertencimento – étnico, de gênero, geracional, geográfico, religioso etc. – que têm sido hierarquizados e convertidos, inadvertidamente, em desigualdades. A ruptura desse ciclo implica em compreendermos a multiplicidade e a complexidade das relações.

Educar para a diversidade exige que se caminhe paralelamente às atividades pedagógicas, de maneira dialógica, emergente e interpretativa, sendo necessários elaborar mecanismos de intervenção, de revisão de valores e atitudes para a superação de injustiças, preconceitos e estereótipos.

Precisamos lembrar que todos descenderam de um tronco comum, porém diferimos nas realizações e construções históricas, culturais e sociais. Somos, portanto, constantemente desafiados pela experiência humana a buscar superação no sentido de não ignorá-las. Um exemplo disso é quando projetamos numa criança que vende ou pede algo no sinal de trânsito alguma denominação que a caracteriza como um incômodo à sociedade, esquecendo-nos completamente que esta criança está perdendo sua dimensão de infância.

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TÓPICO 1 | DIVERSIDADE CULTURAL: BASE DA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

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FIGURA 44 – CRIANÇA MARGINALIZADA

FONTE: Disponível em: <http://gargantaweb.blogspot.com.br/2009/11/criancas-na-rua-problema-meu-e-seu.html>. Acesso em: 27 jan. 2014.

Paula (2013) menciona que normalmente consideramos os problemas sociais da alçada do governo e de outras instituições, manifestando com isso uma atitude alheia à nossa responsabilidade. Neste sentido ao mencionarmos que “essa sociedade está muito violenta” deveríamos refletir que na verdade todos nós estamos nos comportando de forma violenta, bruta e desumanizada.

Outra condição que grande parte da população parece ignorar é a pobreza. Esta, é geralmente vista como a ausência de recursos materiais para a sustentação da vida humana. Contudo, ela não se estende apenas a este conceito restrito, conforme Paula (2011, p. 27) nos aponta:

[...] a pobreza humana é multidimensional, ao invés de unidimensional e centrada nas pessoas, privilegiando a qualidade da vida humana e não as posses materiais. Pode ser classificada de duas formas: pobreza intelectual, que determina o desenvolvimento cultural, ideológico, científico e político do ser humano; pobreza social, que nega a integração do coletivo com direitos plenos, a participação na sociedade e o respeito dentro do coletivo.

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UNIDADE 2 | ASPECTOS RELEVANTES DA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

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FIGURA 45 – POBREZA

FONTE: Disponível em: <http://uipi.com.br/noticias/politica/2013/04/30/brasil-conseguira-eliminar-pobreza-extrema-diz-representante-do-pnud/>. Acesso em: 27 jan. 2014.

Numa sociedade que ainda necessita evoluir, principalmente no que se refere a deixar de ignorar problemas referentes às ordens sociais e ambientais, as modalidades educativas devem posicionar-se a respeito disto, visando realizar um trabalho em que busque o desenvolvimento, tanto do pensamento, quanto da ação crítica e realmente cidadã. Para Paula apud Carvalho (2011), a ausência de uma população educada tem sido sempre um dos principais obstáculos à construção da cidadania civil e política.

Acadêmico(a)! Precisamos estar cientes que a cidadania é exercida de maneiras diferentes, pois suas condições dependem da comunidade no qual estamos inseridos, ou seja, a cidadania exercida no Japão é diferente da brasileira, pois está condicionada a uma série de valores morais, éticos, religiosos, contextualizados naquele tempo e espaço.

Conforme Paula (2013, p. 46),

O conceito de cidadania, em sua origem, vem da Grécia antiga, que significa vivência política ativa na comunidade, na cidade (polis). Durante muito tempo, a ideia de cidadania esteve ligada aos privilégios, pois os direitos dos cidadãos eram restritos a determinadas classes e grupos, às elites. Só eram cidadãos os que correspondiam a, pelo menos, três critérios: homens, brancos, proprietários. Essa configuração excluía a maioria da população: mulheres, negros e pobres.

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TÓPICO 1 | DIVERSIDADE CULTURAL: BASE DA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

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Muitos foram os avanços em relação às práticas cidadãs, exemplo disso são as ações sociais realizadas por empresas e a formação de um grande número de ONGs que perseguem o mesmo objetivo, cada qual querendo fazer sua parte, sejam elas: voltadas ao meio ambiente, à assistência de saúde, a defesa das vítimas de violência contra seres humanos ou animais etc.

Enquanto seres implicados com o futuro da educação, precisamos engendrar novas maneiras de trazer à tona tais temáticas, fornecendo aos educandos o porquê conhecê-las e o porquê agir perante estas é tão importante.

FIGURA 46 – ONG EM DEFESA DOS ANIMAIS

FONTE: Disponível em: <http://ongdefesanimal.blogspot.com.br/>. Acesso em: 27 jan. 2014.

É comum nas unidades educacionais comemorarem datas alusivas ao “Dia das Mães” e ao “Dia dos Pais”, mas qual é a importância destas comemorações? Como se originaram? Essas são perguntas que interessam ser respondidas, para que estas datas não sejam apenas como entretenimento nos calendários escolares.

As bases que sustentam as razões que visam ao sentido social destes eventos, são então denominados multiculturalismo crítico ou perspectiva intercultural crítica, que, conforme Paula (2013), buscam articular as visões folclóricas e as discussões sobre as relações desiguais de poder entre as culturas diversas, questionando a construção histórica dos preconceitos, das discriminações e da hierarquização cultural.

A realidade brasileira é culturalmente heterogênea. Sabemos que a instauração dessas diversidades fixou-se através de conflitos econômicos e por meio de manifestações violentas que originaram a construção identitária desses povos imigrantes. Um exemplo disso é a capoeira, uma dança praticada pelos escravos e que hoje é reconhecida como prática cultural.

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A questão da pluralidade cultural está prevista, de acordo com Paula (2013), nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) como um dos temas transversais que expandiu o debate acadêmico e a trouxe para o cotidiano das escolas.

Proporcionar ao educando informações que norteiem seu conhecimento sobre as diversas manifestações culturais presentes na sua comunidade e no seu país, contribuem para a construção de uma sociedade mais livre em relação ao preconceito, e mais culta em relação à abertura de novas manifestações comportamentais. Façamos a nossa parte educadores!

DICAS

Acadêmico(a)! Aprofunde este assunto fazendo a leitura da seguinte obra: FREIRE, Paulo. A educação na cidade. São Paulo: Cortez Editora, 1991.

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RESUMO DO TÓPICO 1Neste tópico, você estudou que:

• Gohn (2011) nos chama a atenção a respeito da etimologia da palavra cultura, proveniente do latim medieval, a partir do verbo latino colere que significa cultivo e cuidado – com plantas, animais e tudo que se relaciona à terra e à agricultura; já os romanos estenderam ainda o uso do vocábulo aos cuidados com as crianças e sua educação, aos deuses, ancestrais e seus monumentos, a cultura do espírito etc.

• A cultura foi tema de muitos estudos expressivos realizados por grandes pensadores, como: Aristóteles, Platão, Hegel, Marx, Kant, entre outros (cada qual em sua época) e até hoje norteia pesquisas em várias categorias como: filosofia, antropologia, sociologia, educação, psicologia etc.

• A cultura possui três vertentes relacionadas aos trabalhos realizados na educação: cultura de massa, cultura popular e cultura política, Vamos a elas:

Cultura de Massa: caracteriza-se nas últimas décadas pelo avanço tecnológico. As discussões sobre a cultura de massa tomaram novos rumos, ou seja, outros termos passaram a fazer parte dos que direcionam seus estudos em relação ao tema, passando a ser conhecidos por cultura das mídias ou midiáticas.

Cultura Popular: objetiva buscar formas de sensibilização coletiva em função de mudanças sociais significativas aos menos favorecidos e das classes excluídas. Vale ressaltar, que todos esses movimentos não se originaram instantaneamente, sendo necessária a intervenção de outras instâncias (popular, ministério público, políticas públicas etc.), o que levou tempo para a efetivação.

Cultura Política: esta relaciona-se aos seguintes indicadores sociais: atitudes políticas, envolvendo valores como confiança e desconfiança, liberdade e coerção, igualdade e hierarquia, interesses universais e paroquiais.

• Para Paula, apud Abramowicz (2006), “diversidade pode significar variedade, diferença e multiplicidade, sendo esta a qualidade do que é diferente; o que distingue uma coisa da outra, a falta de igualdade ou de semelhança”.

• Para Paula (2011), a pobreza humana pode ser classificada em: pobreza intelectual e social.

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AUTOATIVIDADE

1 Paula (2011) comenta sobre a pobreza humana, classificando-a em dois tipos: pobreza intelectual e pobreza social. Discorra sobre estes dois tipos de pobreza.

2 A sociedade vive num movimento de globalização, o que não pode mais retroceder. Desta forma, como você percebe esta globalização? Ela está influenciando sua vida? Comente quais são as vantagens e as desvantagens.

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TÓPICO 2

INSTRUMENTOS PEDAGÓGICOS

APLICADOS À EDUCAÇÃO NÃO

FORMAL

UNIDADE 2

1 INTRODUÇÃOA educação não formal é considerada uma modalidade educacional

diferenciada, pois enfatiza aspectos importantes como a comunidade e as crenças na qual se encontra inserida. Porém, isso não quer dizer que alguns instrumentos pedagógicos deixem de fazer parte deste movimento educacional, muito pelo contrário, eles contribuem consideravelmente ao processo. E sobre isto que trataremos no presente tópico.

Veremos sobre a importância do planejamento, letramento, alfabetização, didática, avaliação e formação do docente, voltadas à educação não formal e como o educador deve manejar estas ferramentas essenciais à condução do seu trabalho, mediante o conceito de estudo ativo.

2 O SIGNIFICADO DO APRENDER E A DEFINIÇÃO DE EDUCADOR

Aprender não se restringe apenas ao ambiente escolar, mas sim a todos os espaços e momentos da vida em que algo vem para agregar a nossa dinâmica pessoal. A escola é mediadora de muitas aprendizagens, mas em outros lugares os ensinamentos absorvidos também são colocados em prática.

Antunes (2009), destaca que aprender é um processo que tem início a partir do confronto com a realidade objetiva e os diferentes significados que cada um de nós constrói acerca da realidade que nos envolve, tendo por consideração as experiências individuais e as regras sociais existentes.

Ao entrelaçar a realidade com os conteúdos, o pedagogo proporciona ao educando novas formas de fixação das informações que estão sendo passadas, de maneira que métodos ultrapassados, como a memorização mecânica, não se façam presentes na hora da avaliação.

Antunes (2009, p. 32) enfatiza que o professor terá certeza sobre a aquisição da aprendizagem quando:

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UNIDADE 2 | ASPECTOS RELEVANTES DA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

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• Considera a realidade objetiva ou as circunstâncias que envolvem seu aluno; isto é, quem este aluno é, o que sabe, o que busca saber, onde se pretende levá-lo com a aprendizagem;• Confronta essa realidade com alguns saberes escolares da disciplina trabalhada;• Observa que associação seu aluno pode fazer, relacionando suas circunstâncias e os saberes acessados, além de suas experiências individuais e as regras sociais existentes.

Estas observações destacadas pelo autor não se limitam apenas aos espaços formais, o pedagogo deve questionar-se sobre trabalhar conteúdos também relacionados a modalidade não formal. Ao analisar que objetivos queremos alcançar, precisamos nos remeter a responsabilidade que teremos mediante os educandos e a sociedade, pois neste momento assumimos a postura de educador, nos quais Almeida (2009, p. 47) nos faz refletir mediante o seguinte acróstico:

E – Possuo “empatia”. Sou capaz de sentir o aluno em mim, percebendo-o não como cliente, mas como um ser em construção que precisa do meu auxílio para aprender a aprender, descobrir-se e aprender a ser?D – Busco crescer em minha capacidade “didática”. Estou seriamente empenhado em descobrir meios para fazer a minha aula um efetivo instrumento de construção de saberes, de aflorar de competências? Ensino, realmente, meu aluno a fazer?U – Procuro perceber minha responsabilidade como membro de uma equipe. Percebo que a “união” constitui ferramenta essencial para um ensino eficiente. Não apenas ajudo meus alunos, mas aprimoro sempre na busca cada vez mais aprender a viver junto?C – Tenho plena “confiança” em meu aluno. Sou capaz de perceber que suas dificuldades e suas limitações decorrem menos sua, mas da minha condição de educador. Se algum aluno não aprende com meu jeito de ensinar, sou criativo para ajudá-lo em seu jeito de aprender?A – Assumo plenamente meu papel de um “administrador” de competências. Efetivamente minha aula ensina o aluno a perguntar, investigar, comparar, analisar, sintetizar, classificar, aplicar. Enfim, a exercer a plenitude de sua capacidade de aprender?D – Estudo sempre os conteúdos que ensino. Tenho “domínio” sobre os saberes que envolvem as matérias transmitidas em minhas aulas. Sei não apenas o informo, mas descubro estratégias para transformar informações em conhecimento?O – Sou realmente “otimista. Creio que não existe educação sem transformação, mas acredito no poder transformador de meus alunos, não apenas pelos saberes da disciplina que aprendem a contextualizar, mas pelos valores que exercitam?R – Domínio de estratégias de “relações interpessoais”? O educador jamais pode abdicar de sua responsabilidade de ajudar seus alunos a fazerem-se amigos de si mesmos e a construírem relações de amizade com outros e, para que isso ocorra, não basta à intenção, é essencial saber “quando” e saber “como fazer”, e esse fazer implica conhecer procedimentos para promover relações sólidas e significativas entre o alunado.

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TÓPICO 2 | INSTRUMENTOS PEDAGÓGICOS APLICADOS À EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

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Precisamos entender que o educador não nasce pronto, mas se constrói na formação contínua, ao longo da sua própria caminhada e das experiências adquiridas com o tempo. Pensar e repensar a prática pedagógica utilizando-se dos questionamentos propostos pelo autor, anteriormente citado norteará quais pontos necessitam ser aperfeiçoados e agregará, à sua ação, outros procedimentos. É muito significativo, ao pedagogo, identificá-los e incorporá-los, distanciando-se cada vez mais das rotinas caracterizadas como primitivas.

FIGURA 47 – EDUCADOR

FONTE: Disponível em: <http://www.bonde.com.br/?id_bonde=1-12--267-20131028&tit=prefeitura+de+ibipora+seleciona+professor+e+educador+infantil>. Acesso em: 31 jan. 2014.

3 O ESTUDO ATIVO E A EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

Para que as informações fornecidas na escola façam a diferença na vida dos educandos, é necessário que estejam conectadas com à realidade, permitindo aos educandos que possam utilizá-las na condução de suas vidas.

Conforme abordamos no tópico anterior, em relação às várias faces culturais, é preciso ter clareza de que os conhecimentos e habilidades ensinadas na escola são frutos da experiência cultural e social da humanidade e precisam ser transmitidos como condição para a formação das novas gerações.

Mediante o pressuposto LIBÂNEO (2013, p. 113), reforça que:

[...] a aprendizagem é um processo de assimilação de conhecimentos escolares por meio da atividade própria dos alunos. [...] essa atividade é o estudo dos conteúdos das matérias e dos modos de resolver as tarefas práticas que lhes correspondem. Os conteúdos representam o elemento determinante em torno do qual se realiza a atividade

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UNIDADE 2 | ASPECTOS RELEVANTES DA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

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de estudo. A aprendizagem não resulta apenas de necessidades e interesses internos da criança, nem é um processo no qual as crianças escolhem o que querem fazer; é, antes, um processo no qual elas vão desenvolvendo e modificando suas forças físicas e mentais por influência de conhecimentos e atividades vindos de fora, da experiência humana acumulada pelas gerações ao longo da História.

A aprendizagem é suscitada, principalmente, pelas necessidades e interesses dos educandos. Nós, enquanto educadores precisamos ir além, dos meios tradicionais estimulando nossos aprendizes a dominar conhecimentos sistematizados, habilidades e hábitos para que, por meio deles, desenvolvam e ampliem suas capacidades mentais. Para tanto, a atividade de estudo deve seguir uma programação para que não transmita uma mensagem de dispersão e desorientação do educador, ou seja, toda atividade deve ser planejada.

O planejamento é um recurso indispensável na educação não formal, principalmente quando o pedagogo identifica as necessidades a serem trabalhadas, tornando o estudo algo vivo e ativo, Libâneo (2013) considera que o estudo ativo consiste em direcionar as atividades dos educandos nas tarefas que condizem à observação e compreensão dos fatos da vida diária, ligados as questões que estão sendo abordadas, no comportamento de atenção à explicação fornecida, na conversação entre alunos e educador, nos exercícios, no trabalho de discussão em grupo, no estudo dirigido individual, nas tarefas do contra turno etc.

FIGURA 48 – ESTUDO DIRIGIDO INDIVIDUALIZADO

FONTE: Disponível em: <http://www.rioeduca.net/blogViewsphp?bid=20&id= 4025>. Acesso em: 31 jan. 2014.

Estas atividades auxiliam na assimilação de conhecimentos e habilidades e, por meio destes, o desenvolvimento das capacidades cognitivas como a percepção das coisas, o pensamento, a expressão do pensamento através das palavras, o reconhecimento das propriedades e as relações entre fatos e fenômenos da realidade.

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TÓPICO 2 | INSTRUMENTOS PEDAGÓGICOS APLICADOS À EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

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O pedagogo tem um papel essencial no que condiz ao estudo ativo, conforme Libâneo (2013) pois lhe cabe: incentivar o estudo, explicar o conteúdo, orientar os procedimentos para a efetivação das tarefas e problemáticas abordadas, exigir e aprofundar o conteúdo etc.

Além de tudo isso, é preciso estar atento também ao que condiz a autossatisfação do aprendiz em relação a estes procedimentos, de modo que ele se sinta progredindo e motivado para novas aprendizagens. Ao sentir-se desta forma, o educando mostra-se desejoso em buscar por novos conhecimentos.

Para que, de fato, isso aconteça é preciso antes de tudo, que o educando domine os conhecimentos exigidos e compreenda os objetivos determinados pelo professor, cabendo a ele acompanhar de perto o desenvolvimento das atividades propostas, utilizando os erros cometidos pelos alunos para aprimorar os conhecimentos, indicando exercícios adicionais que respeitem a realidade vivida pelos alunos para uma melhor assimilação e sustentação da resposta correta.

O estudo ativo envolve uma série de procedimentos que visam despertar nos alunos habilidades e hábitos de caráter permanente, sendo estes expostos por Libâneo (2013), da seguinte forma:

• Exercícios de reprodução: visam à aplicação de testes rápidos que objetivam a verificação da assimilação e domínio das habilidades como: repetição de experimentos; treino ortográfico; solução de exercícios do material didático; com orientação.

FIGURA 49 – REPETIÇÃO DE EXPERIMENTOS

FONTE: Disponível em: <http://oglobo.globo.com/educacao/dados-de-11-paises-da-america-latina-revelam-que-evasao-baixo-aprendizado-sao-maiores-no-ensino-medio-2755445>. Acesso em: 31 jan. 2014.

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UNIDADE 2 | ASPECTOS RELEVANTES DA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

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• Tarefas de preparação para o estudo: trata-se do diálogo estabelecido entre o professor e os educandos, bem como os alunos entre si, em que relatam experiências, opiniões, questionamentos, observação de outros materiais (por exemplo: ilustrações, materiais alternativos, objetos e/ou animais), em que manifestam suas conclusões, além de revisarem a matéria anterior.

FIGURA 50 – TAREFAS DE PREPARAÇÃO PARA O ESTUDO

FONTE: Disponível em: <http://www.a2fotografia.com.br/foto.php?f=850>. Acesso em: 31 jan. 2014.

• Tarefas na fase de assimilação da matéria: conversação sobre os conhecimentos e experiências que os alunos trazem para a aula; confronto entre os conhecimentos sistematizados e os acontecimentos da realidade e do cotidiano dos alunos; verbalização do entendimento dos alunos em relação aos conceitos que estão sendo explicados pelo professor e suas conclusões parciais; formulação de perguntas ou de problemas práticos, de modo que os alunos deem respostas individualmente ou em grupo e aproximação máxima possível entre a explicação do conteúdo e o raciocínio dos alunos, dos conceitos que já dominam, da sua experiência prática cotidiana para que, pela sua atividade mental, possam acompanhar a lógica da explicação, adquirindo a sua própria compreensão do conteúdo.

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TÓPICO 2 | INSTRUMENTOS PEDAGÓGICOS APLICADOS À EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

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FIGURA 51 – TAREFAS NA FASE DE ASSIMILAÇÃO DA MATÉRIA

FONTE: Disponível em:<http://diariodeiguape.com/2009/06/26/aulas-em-campo-da-etec-eng-narciso-e-motivacao-para-alunos/aula-etec/>. Acesso em: 31 jan. 2014.

• Tarefas na fase de consolidação e aplicação: nesta etapa encontra-se a revisão e os exercícios de fixação; a aplicação em problemas suscitados na prática, com dados da experiência cotidiana e as tarefas de casa.

FIGURA 52 – LIÇÃO DE CASA

FONTE: Disponível em: <http://educarparacrescer.abril.com.br/aprendizagem/como-ajudar-licao-historia-geografia-736665.shtml>. Acesso em: 31 jan. 2014.

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UNIDADE 2 | ASPECTOS RELEVANTES DA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

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Para a consolidação dessas práticas relacionadas à aprendizagem, o pedagogo deve assumir uma postura criativa, proporcionando uma resposta do educando em relação à expectativa as atividades a serem desenvolvidas.

Sabemos que a repetição contínua dos métodos, ou seja, atividades que não provoquem a curiosidade, apresentam por consequência, comportamentos tediosos por parte dos alunos, pois não lhes é despertada a ansiedade necessária para a execução dos trabalhos.

A partir do momento que o professor compreende isto e passa aplicar métodos ativos de ensino, os resultados aparecem. Dentre estes métodos ativos podemos citar: solução de problemas, pesquisas, estudo dirigido, manipulação de objetos, entre outros. O educador deve ter clareza dos objetivos a serem alcançados para que o resultado desta ação estimule a atividade mental dos alunos, definida por Libâneo (2009, p. 174), como o: “aprender pensando naquilo que se faz”.

Libâneo (2009, p. 174), também nos traz algumas recomendações práticas em relação a este princípio, vejamos:

• Esclarecer aos alunos sobre os objetivos da aula e sobre a importância dos novos conhecimentos para a sequência dos estudos, ou para atender às necessidades futuras;• Provocar a explicação da contradição entre ideias e experiências que os alunos possuem entre um fato ou objeto de estudo e o conhecimento científico sobre esse fato ou objeto de estudo;• Criar condições didáticas nas quais os alunos possam desenvolver métodos próprios de compreensão e assimilação de conceitos e habilidades (explicar como resolveu um problema, tirar conclusões sobre dados da realidade, fundamentar uma opinião, seguir regras para desempenhar uma tarefa, etc.);• Estimular os alunos a expor e defender pontos de vista, conclusões sobre uma observação ou experimento e a confrontá-los com outras opiniões;• Formular perguntas ou propor tarefas que requeiram a exercitação do pensamento e soluções criativas;• Criar situações didáticas (discussões, exercícios, conversação dirigida etc.) em que os alunos possam aplicar conteúdos a situações novas ou a problemas do meio social;• Desenvolver formas didáticas variadas de aplicação do método de solução de problemas.

O trabalho extraclasse também é considerado, mesmo que indiretamente, um estudo ativo, diante deste seguem algumas sugestões: jornal mural, visitas à comunidade ou instituições, teatro, biblioteca etc.

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TÓPICO 2 | INSTRUMENTOS PEDAGÓGICOS APLICADOS À EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

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FIGURA 53 – JORNAL MURAL

FONTE: Disponível em: <http://bethmatias.wordpress.com/2008/09/09/comunicacao-interna-um-passo-antes-da-fama/>. Acesso em: 31 jan. 2014.

Precisamos levar em consideração a efetiva combinação entre os conhecimentos sistematizados e o desenvolvimento intelectual autônomo dos aprendizes. Para tanto, Libâneo (2013), nos chama a atenção de alguns fatores essenciais que influenciam na aprendizagem:

1. A estimulação para o estudo: caracterizado por um conjunto de estímulos que despertam nos alunos a motivação para o aprender, de forma que as necessidades, interesses, e desejos, sejam canalizados para as tarefas de estudo. É importante salientar que para o alcance dos objetivos sejam efetivados, precisam satisfazer nossas necessidades fisiológicas, emocionais, sociais e autorrealizadoras.

DICAS

Acadêmico(a)! Retome o Caderno de Estudos da disciplina de Psicologia da Educação e Aprendizagem e revise o conteúdo relativo à motivação intrínseca e extrínseca para ampliar este conceito.

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UNIDADE 2 | ASPECTOS RELEVANTES DA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

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Vale lembrar que quando o ensino se baseia apenas no interesse do educando, fica difícil conseguir que ele estude o que não lhe agrada, pois boa parte dos conteúdos sistematizados não são atrativos por si mesmos, embora sejam necessários. Para tanto, precisamos destacar a importância da organização do trabalho do professor na direção e no provimento das condições e modos de incentivar o estudo ativo, tais como:

a) Esclarecer a importância do conteúdo a ser ministrado, interligando-o com os conhecimento anteriores e assim, revelando aos educandos sua importância para a vida prática, comprovando a diferença entre um conhecimento não sistematizado e o conhecimento sistematizado.

b) Vincular o estudo ativo do conteúdo à experiência e ao conhecimento já disponível anteriormente, sendo que, conhecimentos bem assimilados atraem os alunos para conhecimentos novos, utilizando-se de estratégias que consistem em: perguntas, tarefas individuais ou em grupo, exercícios e busca da verbalização, por parte do aprendiz, no que condiz aos conhecimentos elaborados.

c) Auxiliar nas habilidades e desenvolvimento de métodos próprios no que tange à resolução de exercícios e execução de tarefas, desenvolvendo-os intelectualmente através do pensamento independente e criativo e, adquirindo métodos próprios de assimilação dos conteúdos.

d) Estimular também depende de reforçar positivamente as iniciativas, ou seja, elogiar. Por meio disso o educador valoriza o bom desempenho dos alunos, contribuindo para o cultivo positivo da boa autoimagem.

FIGURA 54 – VALORIZAÇÃO DA AUTOIMAGEM DO APRENDIZ

FONTE: Disponível em: <http://educareisograndedesafio.blogspot.com.br/2011_02_01_archive.html>. Acesso em: 31 jan. 2014.

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TÓPICO 2 | INSTRUMENTOS PEDAGÓGICOS APLICADOS À EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

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1. O conhecimento das condições de aprendizagem do aluno: a prática de vida influencia na questão da aprendizagem, por este motivo o educador precisa valorizar a comunidade, a família (independentemente de qual constituição: nuclear, institucionalizada etc.) e a cultura nos quais o educando está inserido. Sendo assim, o educador deve conhecer as experiências sociais e culturais dos alunos, o meio em que vivem, as relações familiares, a educação familiar, as motivações e expectativas em relação à escola e ao futuro de sua vida. Estas características vão determinar, inclusive, sua percepção da escola, da matéria, do professor e principalmente no modo de aprender.

2. A influência do educador e do ambiente educativo: a personalidade e as atitudes profissionais do educador são fatores que necessitam ser levados em consideração no processo de ensino-aprendizagem. É necessário que o educador tenha clareza dos objetivos profissionais que pretende alcançar e o que deve buscar para que tais objetivos se concretizem. A seriedade profissional manifesta-se quando o mesmo compreende seu papel de instrumentalizar os educandos para a conquista dos conhecimentos e sua aplicação na vida prática. Ao incutir no educando a importância do estudo na superação da condição de vida, mostrando a importância do conhecimento para as tarefas da vida adulta.

DICAS

Acadêmico(a)! Visualize o conteúdo estudado anteriormente assistindo a este filme.

Uma jovem e idealista professora chega a uma escola de um bairro pobre, que está corrompida pela agressividade e violência. Os alunos se mostram rebeldes e sem vontade de aprender, e há entre eles uma constante tensão racial. Assim, para fazer com que os alunos aprendam e também falem mais de suas complicadas vidas, a professora Gruwell (Hilary Swank) lança mão de métodos diferentes de ensino. Aos poucos, os alunos vão retomando a confiança em si mesmos, aceitando mais o conhecimento, e reconhecendo valores como a tolerância e o respeito ao próximo.

FONTE: Disponível em: <http://www.adorocinema.com/filmes/filme-60975/>. Acesso em: 31 jan. 2014.

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UNIDADE 2 | ASPECTOS RELEVANTES DA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

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Mediante a importância dos fatores expostos por Libâneo (2009), outra condição de valor inestimável é a questão da formação continuada. Enquanto educadores, precisamos buscar e aprender constantemente, a atualização no que condiz às técnicas, teorias e formas alternativas de semear a necessidade na busca pelo conhecimento.

O conteúdo aqui exposto, acadêmico(a), por muitas vezes mencionou a escola como cenário principal da aplicação destas metodologias, porém é importante ressaltar que todas as informações aqui expostas não são exclusivas deste ambiente, elas podem ser aplicadas a qualquer espaço que vise à pulverização do conhecimento.

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RESUMO DO TÓPICO 2Neste tópico você estudou:

• O acróstico referente à palavra EDUCADOR e quais os principais questionamentos a serem feitos para a efetivação dos saberes a serem transmitidos ao educando.

• O conceito de estudo ativo e os procedimentos que visam despertar nos alunos habilidades e hábitos de caráter permanente.

• A aplicação de métodos ativos de aprendizagem visando estabelecer uma ponte entre a cultura e as experiências vivenciadas pelos educandos.

• Que os instrumentos pedagógicos não são exclusivos ao ambiente escolar, mas que necessitam fazer parte de toda intenção educacional.

• O quão a busca por constante atualização deve fazer parte da rotina do educador, visando a sua qualidade profissional e como este reflete positivamente na sua autorrealização.

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AUTOATIVIDADE

Fazendo uso do esquema a seguir, relacione características do estudo ativo: reprodução de exercícios, tarefas de preparação para os estudos, assimilações reais com a disciplina.

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TÓPICO 3

ANDRAGOGIA E HEUTAGOGIA

UNIDADE 2

1 INTRODUÇÃOCaro(a) Acadêmico(a)! Você já deve ter estudado anteriormente o

desenvolvimento infantil e seus estágios, a partir da visão de alguns importantes estudiosos desta área. Neste tópico, você conhecerá as particularidades do desenvolvimento adulto, como o pensamento pós-formal e o modelo Schaie, que observa o desenvolvimento dos adultos a partir do uso do intelecto, inserido em um contexto social.

Sabemos que a inserção no mercado de trabalho, faz parte do mundo adulto. Assim, as exigências do mundo corporativo tem nos obrigado a voltar aos bancos da sala de aula a fim de que permaneçamos competitivos, diante da gama de profissionais que entram neste nicho diariamente.

Levando este aspecto em consideração, conheceremos a andragogia que se refere ao estudo da aprendizagem dos adultos, e na sequência, a heutagogia que estuda a aprendizagem autodirecionada.

A partir de agora, prezado(a) acadêmico(a), você inicia sua leitura por este tópico já colocando em prática um desses conceitos. Qual deles será? Andragogia ou heutagogia? Descubra conosco! Bons estudos!

2 A FASE ADULTA DO DESENVOLVIMENTOPara que possamos entender como o adulto aprende e compreendermos

melhor os conceitos de andragogia e heutagogia, é importante estudarmos como a fase adulta se desenvolve, bem como suas etapas e implicações.

Sabemos que o desenvolvimento humano é contínuo e ininterrupto, ou seja, refere-se a um conjunto de mudanças (físicas e cognitivas) que acontece no indivíduo desde a sua concepção até a morte. Schaffer (2009) explica que essas contínuas e sistemáticas mudanças, acontecem de maneira ordenada, padronizada e relativamente permanente; porém neste contexto estão excluídas as mudanças ocasionais de humor, aparência, pensamento e comportamento.

Objetivando um melhor entendimento do significado do desenvolvimento, faz-se necessário precisamos recapitular dois conceitos importantes: maturação e aprendizagem.

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UNIDADE 2 | ASPECTOS RELEVANTES DA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

Conforme Schaffer (2009) a maturação corresponde ao desenvolvimento biológico do indivíduo contido em seu plano genético, considerando que os primeiros passos são dados por volta de um ano de idade, a maturação sexual acontece dos 11 aos 15 anos, e assim sucessivamente. Além disso, a maturação é em parte responsável por mudanças psicológicas como a crescente capacidade de concentração, resolução de problemas, bem como o entendimento dos pensamentos e sentimentos de outra pessoa. Sendo assim, uma razão pela qual nós humanos somos semelhantes em muitos aspectos importantes, se deve a nossa carga genética, que nos conduz a várias mudanças desenvolvimentais sobre os mesmos aspectos de nossas vidas.

Ainda de acordo com a autora anteriormente citada, a aprendizagem acontece devido às experiências vivenciadas que refletem em mudanças significativas em nossos sentimentos, pensamentos e comportamentos, sendo a partir da interação com pessoas de grande significação em nossa vida (pais, professores etc.), que nos impulsionam na busca de algo que almejamos, tendo-os como fonte de inspiração.

Sabemos que o desenvolvimento é um processo contínuo, assim as mudanças que ocorrem em cada fase da vida apresentam implicações importantes no futuro. Diante disto, outro conceito que nos ajudará a compreender melhor o conteúdo que vamos estudar é chamado de plasticidade.

Shaffer (2009) define plasticidade como a capacidade de mudanças em respostas a experiências de vida positivas e negativas. Como descrevemos anteriormente, o desenvolvimento é processo contínuo de eventos passados que implicam o futuro. Os estudiosos do desenvolvimento sabem há algum tempo que o curso do desenvolvimento pode se alterar de maneira abrupta, caso algum aspecto importante da vida do indivíduo mudar.

Além das mudanças físicas, o início da fase adulta é caracterizado pela saída da casa dos pais, pela oportunidade do primeiro emprego, pelo casamento ou pelo estabelecimento outros relacionamentos importantes, como ter e criar filhos. Estas decisões irão afetar o resto da vida do indivíduo, bem como a saúde, a felicidade e o sucesso. Juntamente a estas mudanças é possível verificar que o pensamento passa por significativas transformações, tornando-se mais flexível, aberto, adaptativo e individualista.

Papalia (2006) aponta que o adulto faz uso da intuição e da emoção, paralelo a lógica para auxiliar as pessoas a enfrentarem um mundo aparentemente caótico, utilizando-se de suas experiências vividas para lidar com a incerteza, a inconsistência, a contradição, a imperfeição e a conciliação. Este estágio de cognição adulta é chamado de pensamento pós-formal.

O pensamento pós-formal nos desafia a ver os acontecimentos de uma forma não simplista, ou seja, tomando uma única resposta como verdade absoluta, mas sim, de uma maneira crítica e reflexiva observando a mesma situação por vários ângulos.

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TÓPICO 3 | ANDRAGOGIA E HEUTAGOGIA

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Papalia (2006) coloca que o pesquisador Jan Sinnott (1984, 1998) propôs alguns critérios para o pensamento pós-formal:

• Câmbio de marchas: capacidade do indivíduo de transitar entre o raciocínio abstrato e as considerações práticas e concretas. (“Isso pode funcionar no papel, mas não na vida real”).

• Múltipla causalidade, múltiplas soluções: consciência que a maioria dos problemas possui mais de uma causa e mais de uma solução, considerando que algumas soluções apresentam mais chances de funcionar do que outras. (“Tentaremos ao seu modo, caso não der certo, faremos do meu jeito”).

• Pragmatismo: seleciona a melhor dentre diversas soluções possíveis e de reconhecer critérios para escolher. (“Se você quiser uma solução mais prática faça isso; se quiser uma solução mais rápida, faça aquilo”).

• Consciência do paradoxo: reconhece que um problema ou uma solução originará um conflito intrínseco. (“Fazer isso lhe dará o que ele quer porém, o fará infeliz”).

O pensamento pós-formal lida com a informação em seu contexto social, é importante considerar que os dilemas sociais são menos estruturados e frequentemente carregados de emoção.

Outro pesquisador, citado por Papalia (2006) que propôs um modelo completo de estágios do desenvolvimento cognitivo da infância à velhice foi K. Warner Schaie. O modelo Schaie como é chamado, observa o desenvolvimento dos usos do intelecto, inseridos dentro de um contexto social, e que giram em torno de objetivos que passam para o primeiro plano nos diversos estágios da vida, sendo:

1. Estágio aquisitivo (infância e adolescência): crianças e adolescentes adquirem informações e habilidades principalmente por seu próprio valor ou como preparação para a participação na sociedade.

FIGURA 55 – INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA

FONTE: Disponível em: <http://tvbrasil.org.br/novidades/?p=13070 >. Acesso em: 18 out. 2013.

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UNIDADE 2 | ASPECTOS RELEVANTES DA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

2. Estágio realizador (final da segunda década de vida ou início dos 20 até o início dos 30 anos): os jovens adultos não adquirem mais o conhecimento por seu próprio valor; utilizam o que sabem para perseguir objetivos, como a carreira profissional e a família.

FIGURA 56 – JOVENS

FONTE: Disponível em: <http://www.viadeacesso.org.br/cadastrovia/Artigo.aspx?CCO=712>. Acesso em: 18 out. 2013.

3. Estágio responsável (final dos 30 ao início dos 60 anos): pessoas de meia idade utilizam suas mentes para resolver problemas práticos associados às responsabilidades com os outros, como membros da família ou empregados.

FIGURA 57 – FAMÍLIA

FONTE: Disponível em: <http://mdemulher.abril.com.br/familia/reportagem/comportamento/reuna-familia-refeicoes-bom-todo-mundo-598100.shtml>. Acesso em: 18 out. 2013.

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TÓPICO 3 | ANDRAGOGIA E HEUTAGOGIA

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4. Estágio executivo (dos 30 aos 40 à meia-idade): pessoas neste estágio, podem se sobrepor aos estágios realizador e responsável, sendo então atribuídos a estes, sistemas sociais (como organizações governamentais ou comerciais) e até movimentos sociais. Lidam com relacionamentos complexos em múltiplos níveis.

5. Estágio reorganizacional (fim da meia-idade, início da idade adulta tardia): as pessoas que se aposentam reorganizam suas vidas e energias intelectuais em torno de interesses significativos que substituem o trabalho remunerado.

6. Estágio reintegrativo (idade adulta tardia): adultos mais velhos, que podem ter perdido parte do envolvimento social e cujo funcionamento cognitivo pode estar limitado por mudanças biológicas, muitas vezes, são mais seletivos em relação a que tarefas despendem esforço. Eles se concentram no propósito do que fazem e nas tarefas que produzem maior significado.

7. Estágio de criação de herança (final da velhice): perto do fim da vida, depois de concluída a reintegração, os idosos podem criar instruções para a disposição de posses valorizadas, fazer preparativos fúnebres, contar histórias ou escrevê-las como herança para seus entes queridos. Todas essas tarefas envolvem o exercício de competências cognitivas dentro de um contexto social e emocional.

FIGURA 58 – TERCEIRA IDADE

FONTE: Disponível em: <http://nadafragil.com.br/fonte-da-juventude-atividade-fisica-na-terceira-idade/>. Acesso em: 18 out. 2013.

É preciso levar em consideração que nem todos os adultos passam por todos os estágios nas idades acima sugeridas. Perceba que os estágios realizador e responsável, lidam direta ou indiretamente com a vida acadêmica e/ou profissional. Para tanto, o processo de ensino para este momento deve ser diferenciado.

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UNIDADE 2 | ASPECTOS RELEVANTES DA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

FIGURA 59 – FASES DO DESENVOLVIMENTO

FONTE: Disponível em: <http://grupopapeando.files.wordpress.com/2008 /12/desenvolvimento-e-casamento.jpg?w=780>. Acesso em: 21 maio 2011.

Neste primeiro momento, explanamos a respeito da pedagogia e a partir de agora, acadêmico(a), passaremos a estudar as diferenças entre pedagogia e andragogia e como tais teorias refletem na aprendizagem dos adultos, acompanhe-nos!

3 PEDAGOGIA OU ANDRAGOGIADurante muito tempo, o ensino e a aprendizagem eram pensados como

ações inseparáveis, ou seja, para que a aprendizagem acontecesse fazia-se necessário que houvesse ensino ou vice-versa. Essa interpretação originou-se em função da aprendizagem ser centrada na figura do professor, que assumia toda responsabilidade e controle por esse processo. Para muitas pessoas, esse significado, caracterizava a pedagogia.

Nessa concepção caberia aos professores a responsabilidade de tomar todas as decisões sobre “o que” seria aprendido e, “como e quando” aconteceria. Tais responsabilidades foram designadas ao professor, por considerar que a criança é desprovida de maturidade para tomar decisões corretas e, portanto, deveria aprender somente o que fosse decidido e ensinado pelos professores.

Os estudos referentes à aprendizagem que conhecemos, geralmente referem-se ao público infantil. Neste momento, você conhecerá como este processo se desenvolve nos adultos, mediante o entendimento do conceito de andragogia e como este surgiu ao longo da história.

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TÓPICO 3 | ANDRAGOGIA E HEUTAGOGIA

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Almeida (apud LITTO, 2009) menciona que o termo andragogia foi utilizado pela primeira vez por Alexander Kapp, professor alemão, em 1833, para descrever elementos da teoria da educação de Platão, que exercitava a indagação, a interpretação e a dialética, com pequenos grupos de jovens e adultos. Em 1921, o professor Eugen Rosenstock, também alemão, utilizou o termo andragogia para indicar a atuação de professores envolvidos com a educação de adultos e suas bases filosóficas e metodológicas.

Em 1926, Eduard C. Lindermann publicou o resultado de sua pesquisa sobre a educação de adultos, intitulada The meaning of adult education, em que revelou a influência de John Dewey, filósofo e pedagogo norte-americano, que defendia a ideia de que uma escola comprometida é aquela em que a atuação do professor proporciona a conexão das disciplinas escolares com o interesse dos alunos, onde prática e teoria levariam o aluno ao desenvolvimento do pensamento científico.

FIGURA 60 – EDUARD C. LINDERMANN

FONTE: Disponível em: <http://www.harvardsquarelibrary.org/ware/eduard_lindeman.php>. Acesso em: 8 maio 2012.

Almeida (apud LITTO, 2009) aponta que as ideias de Linderman são similares em muitos aspectos, com a pedagogia de Dewey em relação à motivação intrínseca, experiência como fonte de aprendizagem, a autodireção e o engajamento em processos de investigação que levam em conta as diferenças de estilo, tempo, lugar e ritmo de aprendizagem.

Aquino (2007) coloca que em 1970, o estadunidense Malcolm Shepherd Knowles (1913-1997) foi o mais importante representante da área de educação de adultos, referente à segunda metade do século XX, sendo autor dos principais trabalhos no que condiz a esta temática. Seus estudos orientaram, e podemos dizer que continuam orientando, educadores de jovens e adultos a tomarem uma postura de “auxiliar as pessoas a aprenderem ao invés de ensiná-las”.

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UNIDADE 2 | ASPECTOS RELEVANTES DA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

Diante deste conceito, Aquino (2007) expôs que o modelo andragógico estaria se sustentado sob quatro proposições básicas para os aprendizes. Tais proposições estariam ligadas ao que competem às capacidades, desejos e necessidades dos próprios aprendizes em assumirem o rumo pela sua aprendizagem:

a) Seu posicionamento muda da dependência para independência ou autodirecionamento.

b) As pessoas acumulam um ‘reservatório’ de experiências que pode ser usado como base sobre a qual será construída a aprendizagem.

c) Sua prontidão para aprender torna-se cada vez mais associada com as tarefas de desenvolvimento de papéis sociais.

d) Suas perspectivas de tempo e de currículo mudam do adiamento para o imediatismo da aplicação do que é aprendido e de uma aprendizagem centrada em assuntos para outra, focada no desempenho.

No quadro a seguir, Aquino (2007) compara a andragogia e a pedagogia, no que condiz ao abordar o aprendiz, o ambiente de aprendizagem e a forma como ocorre a interação professor-aluno. Acompanhe:

QUADRO 3 – PRINCIPAIS DIFERENÇAS ENTRE ANDRAGOGIA E PEDAGOGIA

Pedagogia(aprendizagem centrada no

professor)

Andragogia(aprendizagem centrada no

aprendiz)

Os aprendizes são dependentes. Os aprendizes são independentes e autodirecionados.

Os aprendizes são motivados de forma extrínseca (recompensa, competição etc.).

Os aprendizes são motivados de forma intrínseca (satisfação gerada pelo aprendizado).

A aprendizagem é caracterizada por técnicas de transmissão de conhecimento (aulas, leituras designadas).

A aprendizagem é caracterizada por projetos inquisitivos, experimentação, estudos independentes.

O ambiente de aprendizagem é formal e caracterizado pela competitividade e por julgamentos de valor.

O ambiente de aprendizagem é mais informal e caracterizado pela equidade, respeito mútuo e cooperação.

O planejamento e a avaliação são conduzidos pelo professor.

A aprendizagem deve ser baseada em experiências.

A avaliação é realizada basicamente por meio de métodos externos (notas, testes e provas).

As pessoas são centradas no desempenho em seus processos de aprendizagem.

FONTE: Adaptado de JARVIS, P. The sociology of adult and continuing education. Beckenham: Croom Helm, 1985.

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TÓPICO 3 | ANDRAGOGIA E HEUTAGOGIA

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As exigências do mundo corporativista são refletidas através da constante necessidade de buscar mais conhecimento, desenvolver habilidades e tomar atitudes que visem demonstrar que o profissional está atento às necessidades do mercado de trabalho. As instituições educacionais (universidades, escolas técnicas etc.), responsáveis pela formação inicial ou continuada de profissionais, precisam rever e discutir sobre os métodos de aprendizagem utilizados.

Aquino (2007) nos provoca à reflexão quando coloca em questão se a pedagogia é uma forma adequada para o ensino e aprendizagem dos adultos ou se a andragogia, como abordagem que considera a postura crítica e a necessidade de experimentação, seria capaz de trazer melhores resultados para esse grupo particular de aprendizes. O autor sustenta um contínuo andragógico-pedagógico, visando que professores e organizações sejam capazes de se mover em busca de uma combinação entre as duas abordagens.

FIGURA 61 – ANDRAGOGIA

FONTE: Disponível em: <http://farm5.static.flickr.com/4030/4297568720_e2dc4475e5.jpg>. Acesso em: 22 maio 2012.

Cada indivíduo responde de uma forma particular aos estímulos apresentados. Quando falamos em aprendizagem, precisamos entender que nem todos os adultos responderão de maneira positiva a metodologia andragógica, ou seja, muitos deles não estarão dispostos ou não serão capazes de assumir pelo menos parte da responsabilidade de seu aprendizado.

O contínuo andragógico-pedagógico pode ser aplicado a qualquer situação de aprendizagem, independentemente da idade e maturidade do aprendiz. Na prática, encontraremos adultos cujo metodologia pedagógica, ainda será a melhor forma de aprendizagem. Por outro lado, algumas crianças, que já apresentarem a maturidade necessária para aprenderem por um modelo facilitado, estarão aplicando em seus estudos a prática andragógica.

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UNIDADE 2 | ASPECTOS RELEVANTES DA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

4 HEUTAGOGIA, QUE MODALIDADE DE ENSINO É ESTA?Em pleno século XXI a educação também avança na busca de novas formas

de gerar conhecimento. Atualmente a internet, juntamente com as demais TICs (tecnologias de informação e comunicação) proporciona o acesso à informação de forma interativa, rápida, a qualquer hora e lugar, nos mantendo atualizados.

Todo este progresso incentivou o indivíduo a ser mais autônomo, no que tange buscar conhecimentos do seu interesse e, a partir disso, inicia-se uma nova modalidade educativa, a heutagogia.

UNI

Amaral (2010) explica que o termo HEUTAGOGIA (heuta – auto, próprio – e agogus – guiar) foi criado em 2000 por Stewart Hase e Kenyon, em contraposição à Andragogia [Andros (homem), agein (conduzir) e logos (tratado)] e a Pedagogia [paidós (criança) e agodé (condução)].

Neste processo de ensino não há professor e o aluno é o único responsável pela aprendizagem. O modelo é alinhado à Tecnologia da Informação e Comunicação – TICs e às inovações de e-learning (onde o estudo se dá sem a presença intensiva do professor, necessitando da autonomia de quem aprende).

A heutagogia é aplicada quando há necessidade de rapidez no ensino, pois nos encontramos em um momento de importantes mudanças sociais, principalmente quando se trata do acesso à informação. Bellan (2008) nos coloca que para acompanhar este tempo de mudanças significativas, é recomendável um conjunto de princípios e práticas que tragam maior rendimento e qualidade de retenção de informações, por meio de um trabalho didático que possibilite o alinhamento da aprendizagem com a prática.

Instituições educacionais e corporativas muitas vezes exigem que colaboradores ou aprendizes, sejam capazes de aprimorar suas habilidades e desenvolver sua aprendizagem, de forma rápida e flexível. Uma prova da mudança dos conceitos sobre a eficiência do ensino e da aprendizagem é a multiplicação dos cursos de ensino a distância.

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TÓPICO 3 | ANDRAGOGIA E HEUTAGOGIA

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FIGURA 62 – HEUTAGOGIA

FONTE: Disponível em: <http://www.portalexamedeordem.com.br/blog/wp-content/uploads/2011/11/estudar-computador-Thinkstock.jpg>. Acesso em: 21 maio 2012.

Amaral (2010) aponta a importância deste movimento, quando menciona que a crescente difusão da educação a distância e os recursos como a teleconferência, geraram a heutagogia empresarial, ou seja, uma educação voltada ao mundo corporativo, objetivando a capacitação, o treinamento, a formação continuada e a universidade corporativa. Neste tipo de educação, os colaboradores recebem assistência de tutores, que interagem com sistemas e programas específicos, sendo então condutores de seu aprendizado.

É importante lembrar, que a heutagogia não propõe a eliminação do educador no processo de aprendizagem do educando. Para este modelo o importante é o que o aluno realmente aprenda, diante da reflexão pessoal, da interação com os outros e da valorização das experiências.

A heutagogia representa e reforça a busca da autonomia do aprendiz e a liberdade de escolha em “o que e como” aprender aliado aos objetivos, desejos, possibilidades e metas pessoais. Cabe ao professor a ação de mediador e orientador nas escolhas dos aprendizes, buscando disponibilizar meios e instrumentos que contribuirão para a eficácia desse processo. A aprendizagem autodeterminada promove ao aprendiz a autoafirmação e autorrealização, buscando colocá-lo sempre como responsável pelo processo de construção do conhecimento

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UNIDADE 2 | ASPECTOS RELEVANTES DA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

LEITURA COMPLEMENTAR

CARACTERÍSTICAS DO APRENDIZADO DO ADULTO

Antonio Pazin Filho

O ensino de adultos difere em muitos aspectos dos princípios difundidos para o ensino de crianças e adolescentes. O conhecimento destes princípios é fundamental no desenvolvimento de qualquer atividade didática, haja vista que esta deve ser direcionada e adaptada às necessidades da população na qual será aplicada. Excelentes apresentações, compostas por grandes especialistas em qualquer área de atuação, são muitas vezes grandes fracassos, por estarem direcionadas para o público errado.

Levar em consideração o público-alvo compreende não somente adequação do conteúdo, mas o respeito às características de aprendizado que esta população requisita.

[...]

Talvez o mais importante conceito que se deve ter em mente ao se lidar com o adulto é o conhecimento de que todos trazemos uma série de experiências previamente adquiridas, muitas vezes relacionadas ao assunto em questão, e que temos a necessidade de concatenar a nova informação apresentada comeste repertório prévio. A incapacidade de se realizar esta concatenação torna o adulto refratário a novas informações.

Qualquer que seja a atividade desenvolvida, a primeira reação do adulto é tentar integrar a informação nova com o conteúdo que ele possui. Ele necessita fazer isto para não sentir que tudo o que aprendeu até agora foi em vão ou está errado. Algumas vezes nosso objetivo como palestrante será realmente mostrar que o conteúdo anteriormente adquirido foi modificado ou estava errado, o que se constitui num dos pontos mais difíceis de qualquer atividade didática.

De qualquer forma, deve-se ter em mente que por mais radical que seja a mudança, ela sempre parte de princípios conhecidos e que podem ser utilizados como ponto inicial de aproximação.

O repertório prévio estará presente mesmo quando o aluno alegue desconhecer o assunto em questão. Esta é uma reação comum de vários alunos frente a situações de estresse. Vale o mesmo princípio de se tentar a concatenação com experiências prévias, mas aqui o aluno deve ser lembrado que conhece o assunto. Técnicas expositivas como aquela em que se lista no quadro negro os conhecimentos prévios, ajudando o aluno a resgatar o conhecimento que afirma não ter, são exemplos apropriados. Mesmo que o aluno não resgate o conhecimento necessário em toda a sua magnitude, estas informações serão importantes para que ele contextualize o assunto ao estudar posteriormente à aula.

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TÓPICO 3 | ANDRAGOGIA E HEUTAGOGIA

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É difícil aceitar, em princípio, que sejamos todos tão refratários à aquisição de novos conhecimentos. Mas trata-se de uma atitude concreta e não totalmente descabida. Diariamente somos bombardeados por quantidades incríveis de informação e temos que filtrar, pois nossa capacidade de apreensão e compreensão é muito menor.

Este repertório prévio também implica que o aluno busque a atividade didática com expectativas e objetivos próprios. As experiências prévias geraram dúvidas e necessidades que ele busca sanar nesta nova oportunidade. Muitas vezes a atividade didática pode não estar direcionada para as expectativas do aluno e este desencontro pode ser extremamente frustrante e impossibilitar qualquer tipo de comunicação.

Contornar estas expectativas deve ser o primeiro ponto ao se preparar qualquer atividade didática para adultos. Existem várias formas de se realizar isto. Ao se lidar com pequenos grupos, por exemplo, podemos solicitar que cada aluno expresse suas expectativas frente à atividade e, no final, podemos esclarecer se estas expectativas serão ou não atendidas. Ao se lidar com grupos maiores, ou quando não se dispõe de tempo para maior integração, podemos esclarecer qual é o objetivo da atividade, dizendo o que nos propomos a fazer.

Qualquer que seja a técnica empregada, esclarecer quais são os objetivos dá ao aluno uma orientação que é importante por vários outros motivos, mas antes de tudo, tira aquela sensação de frustração de perceber que o conteúdo ao qual está sendo exposto não é aquele que ele esperava. Dá um senso de honestidade e confiança ao que está sendo transmitido, o que é fundamental para se estabelecer um “contrato de aprendizado”.

A consciência desta necessidade de integração como reação a ser esperada pode ser muito útil ao impedir que o palestrante se encontre em conflito com a plateia. Ao nos depararmos com uma plateia refratária à mensagem que estamos tentando entregar, nossa primeira reação será de nos sentirmos agredidos e a resposta mais comum para esta situação é o desinteresse e, muitas vezes, o conflito.

Deve-se deixar claro que estamos tratando daquele tipo de refratariedade espontânea, não relacionada à qualquer conhecimento prévio do palestrante por parte da plateia. Existem situações nas quais a “fama” da matéria ou do palestrante pode desmotivar a plateia, entendido por muitos como refratariedade.

O tipo de refratariedade aqui discutido não é desta natureza, mas sim daquela inerente a qualquer adulto que se constitua parte de uma plateia pelo simples fato de estar sendo exposto a uma nova experiência, a um território desconhecido e não estar sendo capaz de integrar estas novas percepções ao seu repertório prévio.

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UNIDADE 2 | ASPECTOS RELEVANTES DA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

Quanto maior o grau de diferenciação da população, maior será a refratariedade apresentada. Imagine a situação de se apresentar um tópico de ponta em alguma área de conhecimento para uma plateia especializada no assunto, como por exemplo, professores titulares. Se o assunto for controverso e passível de discussão, esta é uma situação que pode exacerbar ao máximo este grau de refratariedade.

Outro aspecto deve ser compreendido. O adulto se concentra num determinado conteúdo por vez e só se desloca para um novo conceito, quando ele se sente seguro que compreendeu e integrou o ponto anterior. Durante uma aula expositiva, geralmente abordamos vários tópicos de alguma forma relacionados entre si e dispostos em sequência de complexidade.

Para que possamos desenvolver nossos objetivos, necessitamos que o aluno compreenda cada um dos passos que estamos ilustrando para podermos “amarrar” no final. Pois bem, caso o aluno não tenha compreendido o passo 1, por exemplo, ele não consegue se deslocar para o próximo passo. São nestes momentos que geralmente perdemos a atenção da plateia e o fluxo da aula se degenera. Um exemplo mais concreto desta situação são aquelas aulas em que o aluno está copiando os diapositivos apresentados. Caso ele perca um dos diapositivos, ao invés de prestar atenção nos próximos e ter uma noção geral do que está acontecendo, a tendência mais provável é que ele vá buscar a informação que faltou com o colega ao lado, desviando a atenção necessária.

O conhecimento desta forma de refratariedade implica algumas medidas básicas de estruturação e condução de uma aula. Assim, por exemplo, está correto estruturar a aula em tópicos de complexidade progressiva, mas para que esta técnica seja efetiva devemos garantir que a cada ponto ensinado a plateia esteja acompanhando nosso raciocínio. Um dos métodos para isto é ilustração ou exemplos ao final de cada ponto ou sumarizar o que foi dito até o momento em pontos estratégicos da aula, dando oportunidade ao aluno para se localizar e tempo para processar as informações.

Devemos também garantir que os recursos auxiliares que estamos empregando não sejam fatores que maximizem a refratariedade, como por exemplo, colocando informação excessiva e desnecessária em diapositivos. Caso isto seja absolutamente necessário, devemos garantir tempo para que esta informação seja corretamente processada.

FONTE: Disponível em: <www.fmrp.usp.br/revista/2007/vol40n1/2_caracteristicas_do_aprendizado_do_adulto.pdf>. Acesso em: 24 maio 2012.

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RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico, você estudou:

• O conceito de plasticidade que consta na capacidade do indivíduo de mudanças em resposta a experiências positivas e negativas.

• Os critérios relacionados ao pensamento pós-formal.

• O modelo completo de estágios do desenvolvimento cognitivo da infância à velhice foi K. Warner Schaie.

• Como surgiu e quais são os conceitos de andragogia e heutagogia.

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Caro(a) acadêmico(a)! Agora que você estudou sobre o desenvolvimento adulto e as novas modalidades de ensino, como a andragogia e a heutagogia, é hora de responder às atividades:

1 Diante do que foi estudado, conceitue andragogia e heutagogia.

2 O pensamento pós-formal é o estágio em que o adulto usa a intuição e a emoção paralelos a lógica, com o objetivo de auxiliar as pessoas a enfrentarem as turbulências do dia a dia. Neste sentido, cite os critérios do pensamento pós-formal.

AUTOATIVIDADE

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TÓPICO 4

O DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO PEDAGÓGICO,

ANDRAGÓGICO E HEUTAGÓGICO

UNIDADE 2

1 INTRODUÇÃONo que se refere ao desenvolvimento do trabalho pedagógico,

apresentaremos a você, acadêmico (a), visões educacionais que poderão levá-lo à reflexão e à discussão. Tais correntes pedagógicas têm em comum a totalidade e a busca da autonomia do ser humano, levando em consideração a comunidade, as crenças e valores em que se encontra inserido.

A autonomia também é a base do trabalho andragógico e heutagógico. No estudo dessas duas correntes traremos ao seu conhecimento como elas acontecem, além de alguns trabalhos que foram desenvolvidos pelos estudiosos destas áreas. Desejamos-lhe bons estudos.

2 O TRABALHO PEDAGÓGICO NA EDUCAÇAO INTEGRAL NO BRASIL

Iniciaremos nossa caminhada pelo desenvolvimento do trabalho pedagógico, traçando uma linha histórica da educação integral no Brasil, além de explorar seu conceito e a participação das diversas instâncias que dela fazem parte.

A partir da primeira metade do século XX, aconteceram às manifestações iniciais, tanto em pensamento quanto em ações, em prol da educação integral. Alguns grupos, entre eles católicos, anarquistas e integralistas, manifestaram suas ideias em relação a esta nova forma de ação educacional, cada uma defendendo suas matrizes ideológicas.

Conforme o MEC (2009), em 1930, o Movimento Integralista, representado por Plínio Salgado, denotava como base uma educação voltada para a espiritualidade, o nacionalismo cívico e a disciplina. Já os anarquistas evidenciavam como alicerce educativo princípios como a igualdade, a autonomia e a liberdade humana.

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UNIDADE 2 | ASPECTOS RELEVANTES DA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

FIGURA 63 – PLÍNIO SALGADO

FONTE: Disponível em: <http://almanaque.folha.uol.com.br/memoria_4.htm>. Acesso em: 18 nov. 2013.

O educador e escritor Anísio Spínola Teixeira, foi um nome de destaque neste movimento educacional. De acordo com o MEC (2009) o mentor intelectual do Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova, trabalhava para que o sistema de ensino público possibilitasse a criança um programa completo de leitura, aritmética, escrita, ciências físicas e sociais, artes, saúde e alimentação.

FIGURA 64 – ANÍSIO TEIXEIRA

FONTE: Disponível em: <http://anisio-teixeira.blogspot.com.br/2009/04/teste.html>. Acesso em: 24 abr. 2012.

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TÓPICO 4 | O DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO PEDAGÓGICO, ANDRAGÓGICO E HEUTAGÓGICO

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Em 1950, Anísio Teixeira iniciou os trabalhos do primeiro projeto de educação integral brasileiro, em Salvador, no estado da Bahia, chamado de Centro Educacional Carneiro Ribeiro.

Conforme informações do MEC (2009), no Centro desenvolviam-se atividades escolares, que eram trabalhadas nas escolas-classe e outras atividades aconteciam no contraturno, em um espaço denominado pelo educador de escola-parque.

A convite do presidente Juscelino Kubitscheck, Anísio Teixeira deu continuidade ao seu projeto em Brasília nos anos 60. Na época, de acordo com o MEC (2009), o então presidente pretendia formar um modelo educacional que fosse aplicado em todo território nacional. Na construção da nova capital, projetada pelo arquiteto Oscar Niemayer, foram erguidas superquadras, que contavam com quatro escolas-classe, em que eram oferecidos aos alunos aulas de educação formal clássica e uma escola-parque. Nestes ambientes eram oferecidas atividades culturais, esportivas e artísticas.

Na década de 80, o Rio de Janeiro tendo como governador Leonel Brizola, foram construídos 500 CIEPs (Centros Integrados de Educação Pública) com a proposta de Educação Integral. Com o passar do tempo, entre 2000 a 2004, a prefeitura de São Paulo, também iniciou seus trabalhos nesta proposta da Educação Integral, com atividades nos Centros de Educação Unificada, visando à promoção de diversos níveis de ensino e atividades curriculares e extracurriculares concentradas num mesmo espaço.

Diante das compreensões e experiências, a Educação Integral parte de uma proposta de formação completa para o ser humano, porém é preciso considerar que cada concepção fundamenta seus trabalhos em princípios políticos ideológicos particulares, mas mantém naturezas semelhantes no que tange às atividades educativas.

Em todo território nacional, somam-se a realização de vários trabalhos direcionados à Educação Integral, fruto de iniciativas de governos municipais e estaduais bem como do governo federal, juntamente com a participação da sociedade civil, objetivando melhorar a qualidade da educação. Muitas ações desenvolvidas na escola tornam-se mais amplas no momento que vão além dos muros da instituição. Contudo, conforme o MEC (2009) para que a educação integral seja compreendida, a principal condição é a atenção irrestrita e o diálogo com o projeto político pedagógico (PPP) da instituição escolar.

Sabemos que o projeto político pedagógico (PPP), além de abordar assuntos relativos à educação formal, deve ser construído com a participação de todos os membros constituintes do meio escolar, para que a criança seja vista em sua integralidade.

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UNIDADE 2 | ASPECTOS RELEVANTES DA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

Assim, vamos pensar a totalidade a partir da comunidade em que esta criança está inserida. A escola situada em meio a uma comunidade, automaticamente, passa a fazer parte das diversas culturas, valores, práticas e crenças que a mesma apresenta. Conforme o MEC (2009), a educação caracteriza-se por um ambiente marcado pela reconstrução de conhecimentos, tecnologias, saberes e práticas, no qual independe da formação de seus professores, mas que seus trabalhos sejam realizados em territórios culturais nos quais os estudantes se encontram

FIGURA 65 – ESCOLA INTEGRAL

FONTE: Disponível em: <http://portalintegracao.com/portal/2012/08/20/em-todo-o-pais-32-mil-escolas-publicas-tem-ensino-integral/>. Acesso em: 24 ago. 2012.

A relação entre a escola e a comunidade deve ser marcada pelo diálogo, troca e construção de saberes e possibilidades, objetivando a união de forças no combate e na superação dos vários preconceitos nela cristalizados. Para que isso seja concretizado, o professor é um dos principais atores neste cenário, pois diariamente seu trabalho é pautado na relação entre o conteúdo a ser ensinado, a sala de aula e os alunos. O professor busca por maio da criatividade, proporcionar aos alunos a melhor forma de aprender, refletir, relacionar e questionar.

O Ministério da Educação (2009) propõe que para implementar o projeto de Educação Integral e de tempo integral, é preciso superar grande parte dos modelos educacionais vigentes. A proposta é construir novos conteúdos relacionando-os com a sustentabilidade ambiental, com os direitos humanos, o respeito, a valorização das diferenças e com a complexidade das relações entre a escola e a sociedade.

Desta forma compreende-se que, a educação desempenha um papel fundamental na vida do ser humano e não se limita apenas aos muros da escola, tampouco as suas quatro horas diárias ou vinte horas semanais. Crianças e adolescentes são sujeitos de vivência que dependem de uma orientação formal e informal de qualidade. Neste sentido, a Educação Integral propõe que a escola adentre à comunidade tão quanto a comunidade esteja presente no meio escolar.

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TÓPICO 4 | O DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO PEDAGÓGICO, ANDRAGÓGICO E HEUTAGÓGICO

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3 O TRABALHO PEDAGÓGICO A PARTIR DA VISÃO HOLÍSTICAA visão holística de educação, em nada se remete ao que estamos

acostumados a interpretar quando nos deparamos com o termo no sentido esotérico. Este olhar sobre o método educacional busca chamar a atenção dos educadores para a denotação de holismo, originado do grego holos, que tem por significado o que é inteiro, integral, totalidade, realidade, que faz referência a um universo feito de conjuntos integrados que não pode ser reduzido a simples soma de suas partes.

Esta visão transformadora tem suas raízes em filósofos e pedagogos do século XVIII, como Rousseau, Pestalozzi, entre outros. Influentes estudiosos na área da pedagogia, do início do século XX, como Maria Montessori e Rudolf Steiner também contribuíram valiosamente na direção de um trabalho visando à totalidade do ser humano.

A educação holística passou a ser mais presente no cenário educacional a partir dos estudos realizados pelo americano Ron Miller, fundador do jornal Holistic Education Review (atualmente nomeado como Encounter: Education for Meaning and Social Justice). O canadense J. P. Miller também contribui para os estudos relativos a este novo olhar sobre a educação. Poucas são as informações sobre esses estudiosos, o importante é que ambos motivaram outros a disseminar esta abordagem.

Os educadores holísticos partem do pressuposto da existência de uma fragmentação de todas as esferas da vida humana. J. Miller (1996 apud YUS, 2002) coloca que a Revolução Industrial serviu de estímulo à padronização, que resultou na fragmentação da vida, sendo seus reflexos sentidos em seus vários âmbitos:

a) Vida econômica: a fragmentação econômica resultou na devastação ecológica, trazendo sérios prejuízos ao meio ambiente, como a poluição do ar e dos mares, pois não vemos como parte separada do processo orgânico que nos rodeia.

b) Vida social: as sociedades industrializadas têm contribuído para o aumento do sentimento de insegurança e isolamento dos demais, sendo a violência urbana um dos temas mais discutidos atualmente. Esta fragmentação traz à tona os abusos que cometemos (uso de álcool e drogas) e testemunhamos (injustiças cometidas contra idosos, mulheres e crianças), derivado da desconexão que sentimos em relação ao outro.

c) Vida pessoal: originária da fragmentação intrapessoal e a dificuldade do autocontato. Estarmos desligados do outro decorre do não conhecimento de si próprio. A educação de certa forma contribuiu para que isso ocorresse, pois o saber acadêmico ignora a relação cabeça e coração. O resultado disto é o quanto estamos voltados ao consumismo que o capitalismo proporciona, sendo uma das consequências desta valorização do ter, a sensação de “vazio”, que podemos chamar talvez de espiritualidade.

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UNIDADE 2 | ASPECTOS RELEVANTES DA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

d) Vida cultural: neste âmbito, a fragmentação é percebida por uma falta de sentido compartilhado de significado ou de mitologia. Essa falta de consenso chega a ser latente quando procuramos abordar temas de interesse social e humano. A visão materialista é a única que é aceita e compartilhada, dando a entender a existência de uma realidade somente física e controlada pelo método científico.

Nas escolas a fragmentação apresenta-se diante da organização hierarquizada, profissionais especializados e desconectados, o conhecimento fragmentando em disciplinas, unidades e lições isoladas, em que não há possibilidade de ver a relação dentre e entre elas principalmente diante da realidade vivida pelas crianças.

J. Miller (1996 apud YUS, 2002) coloca que a educação holística está centralizada nas relações:

a) Entre pensamento linear e intuição: um currículo voltado à educação holística tenta estabelecer um equilíbrio entre o pensamento linear e a intuição. Fazendo uso de técnicas, objetiva buscar integrar os pensamentos mais tradicionais, de forma que se consiga uma síntese entre a análise a intuição.

b) Entre mente e corpo: estimular o estudante a explorar a conexão entre a mente e o corpo, faz parte do currículo holístico. Para isso são utilizadas técnicas como dança, dramatização, relaxamento e exercícios de concentração.

c) Entre domínios de conhecimento: para a educação holística, existem várias formas de unir as disciplinas acadêmicas e os temas escolares. Por exemplo, as abordagens interdisciplinares do pensamento e as centradas no tema, na linguagem global etc., podem ser unidas a várias disciplinas.

d) Entre o eu e a comunidade: o currículo holístico vê o estudante em relação com a comunidade, considerando que para a educação holística a expressão comunidade toma um sentindo abrangente sendo: escolar, vizinhança, cidade, nação e planetária. Busca desenvolver na criança habilidades interpessoais, de serviço à comunidade e de ação social.

e) Entre o eu e o Eu: o currículo holístico preocupa-se em nos levar à uma conexão com a parte mais profunda de nós mesmos, o qual nomeamos Eu (eu superior, superconsciente etc.). Um veículo de aproximação intrapessoal pode se dar através da arte como dança, música, poesia, pintura e teatro ou as mitologias que abordam os interesses universais dos seres humanos.

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FIGURA 66 – EDUCAÇÃO HOLÍSTICA

FONTE: Disponível em: <http://www.yogapelapaz.com.br/blog/?p=3799>. Acesso em: 24 ago. 2012.

Para a educação holística é importante que o estudante analise essas relações, a fim de que ele tome consciência delas, assim como das habilidades necessárias para transformar as relações em que for necessário.

3.1 DEFINIÇÕES, CARACTERÍSTICAS E FINALIDADES DA EDUCAÇÃO HOLÍSTICA

Como mencionamos anteriormente, holos vem do grego e significa todo. O americano R. Miller (1997 apud YUS, 2002) propôs o termo Educação Holística para designar o trabalho de um conjunto de pensadores liberais, humanistas e românticos que têm em comum a convicção de que a personalidade global da criança deve ser considerada na educação, ou seja, os aspectos físicos, emocionais, criativos, intuitivos e espirituais inatos da natureza do ser humano.

A partir de uma visão globalizada, em que a criança é vista como corpo, mente, emoções e espírito, Yus (2002) expõe que a aprendizagem holística objetiva desenvolver o ensino e a aprendizagem estimulando a formação de conexões entre os temas e entre a forma como as crianças vivem em suas comunidades.

Yus (2002) também coloca que para a Educação Holística, a aprendizagem é vista como um processo experimental e orgânico, buscando sempre estabelecer conexões com um assunto central para os processos curriculares. Este modelo procura equilibrar os vários elementos de aprendizagem como: conteúdos e processos; aprendizagem e avaliação, o pensamento analítico e criativo; trabalhando em prol da inclusão e objetivando suprir as diferentes necessidades.

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UNIDADE 2 | ASPECTOS RELEVANTES DA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

Vejamos as diferenças entre um currículo tradicional e um currículo holístico a partir de alguns indicadores:

QUADRO 4 – CURRÍCULO TRADICIONAL X CURRÍCULO HOLÍSTICO

Indicador Currículo tradicional Currículo holístico

Equilíbrio entre indivíduo e grupo

Enfatizam a competição individual

A p r e n d i z a g e m colaborativa

Equilíbrio entre conteúdo e processo

A p r e n d i z a g e m n a memorização

Q u a l i d a d e d e aprendizagem, aprender a aprender

E q u i l í b r i o e n t r e conhecimento e imaginação

Conhecimento como único processo mental

C o n h e c i m e n t o e imaginação

Equilíbrio entre razão e intuição

Abordagens racionais e lineares dos problemas

Equilíbrio entre razão e intuição

Equilíbrio entre avaliação quantitativa e qualitativa

Métodos quantitativos de avaliação

Métodos qualitativos a v a l i a ç ã o d e desempenho

Equilíbrio entre avaliação e aprendizagem

C e n t r a r m a i s n a avaliação do que na aprendizagem

C e n t r a r m a i s n a aprendizagem do que na avaliação contínua

FONTE: Disponível em: <http://textolivre.com.br/livre/7804-educacao-holistica.> Acesso em: 12 jun. 2012.

A educação holística visa ao desenvolvimento da pessoa em sua globalidade, analisando que a aprendizagem desenvolve-se entre pessoas de várias idades, pois considera importante a experiência vital.

4 O TRABALHO PEDAGÓGICO NA PERSPECTIVA HUMANISTAO humanismo marcou um período de transição entre a Idade Média e

o Renascimento. Este movimento passou a direcionar um novo olhar sobre o ser humano, ou seja, a busca da valorização enquanto ser pensante e detentor de conhecimento. É importante lembrar que para chegar a este feito, muitos obstáculos foram enfrentados, pois, naquela época os poderes eclesiásticos detinham o controle sobre as ciências e a filosofia.

Paz (2010) coloca que os pensadores da época começaram a reaver uma compreensão de mundo baseado no homem, e este pensamento é atribuído a Cícero (106-43 a. C.) na Grécia antiga.

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Após um longo tempo em que tudo era interpretado de acordo com os olhares da igreja, o homem volta a ser o centro das discussões, sendo então o humanismo conceituado de acordo com Paz (2010) o fato de que todas as pessoas têm dignidade e valor, portanto, devem respeitar seus semelhantes. O homem é parte integrante da natureza, porém diferente dos demais por ser racional, livre, agente ético, político, técnico e artístico.

Para muitos, a linha humanista foi responsável pelo nascimento do pensamento moderno quando se direcionou a elaborar uma concepção em que o homem era o centro. A Itália foi o berço deste movimento que ocorreu nos séculos XIV ao XVI, posteriormente as sementes do pensamento humanista germinaram por grande parte da Europa.

O humanismo enquanto pensamento reflexivo centralizado no homem, sempre fez parte da história, porém neste período, em que o movimento obteve maior força, Paz (2010) destaca três pontos importantes: 1) o objetivo básico do conhecimento é o homem e o significado da vida; 2) não há filósofo que seja detentor da verdade; e 3) a cultura clássica pagã e o cristianismo possuem afinidades, considerando que os ensinamentos sobre o homem, a vida e a virtude, através das manifestações dos autores clássicos podem ser integrados ao cristianismo.

Com o passar do tempo, o humanismo sofreu as influências das reformas religiosas, porém seus ideais como, a noção de racionalidade e a nova visão de mundo, permaneceram vivos entre os pensadores.

Mesmo assim, o movimento humanista avançou tanto quanto a burguesia urbana na Itália nos últimos séculos da Idade Medieval. Esta nova classe rica passou a dar ênfase à cultura, o que antes era apenas frequentada e dirigida pela igreja e os grandes nobres, assim esta nova classe buscou uma educação direcionada à manutenção e gestão de seus recursos, tendo em vista que a linha educacional teológica não supria mais as necessidades da época.

Paz (2010) menciona que devido às novas necessidades da época, os ensinamentos foram adaptados e deram início a programas de estudo com o objetivo de orientar a aquisição de conhecimentos profissionais e atitudes mundanas por meio de leituras de autores antigos ou estudos referentes à gramática, retórica, história e filosofia moral. A partir do século XV esses cursos receberam o nome de studia humanitatis ou humanidades, e as pessoas encarregadas de ministrá-los ficaram conhecidas como humanistas.

Esse novo movimento pedagógico buscava valorizar a infância e a juventude, em sua autonomia e diferença em relação à idade adulta, porém não deixando de lado a inocência e ingenuidade, características deste período do desenvolvimento.

Avançando na linha do tempo, no findar do século XX, muitos acontecimentos tiveram influência nos rumos da educação, dentre os muitos

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UNIDADE 2 | ASPECTOS RELEVANTES DA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

que poderíamos destacar estão: guerras, diferenças sociais, discriminação racial, mudanças constantes no cenário político-econômico mundial; e fatores que levaram a educação a buscar e acompanhar essas transformações, surgindo assim novos movimentos educacionais como a Escola nova, o Construtivismo, o Tecnicismo, entre outros.

Paz (2010) afirma que nos últimos tempos não houve destaque a uma corrente pedagógica humanista propriamente dita, mas o humanismo através da valorização do homem, na busca de métodos práticos e desenvolvimento do raciocínio fez-se presente na maioria das concepções pedagógicas do século XX.

O autor, acima citado, complementa o pensamento, destacando que esta abordagem é totalmente centrada no aluno, como pessoa inserida no mundo e em processo de constantes descobertas. Para tanto, considera a pessoa muito mais do que um organismo biológico, ou seja, como alguém que pensa, sente, escolhe, decide e é capaz de mudar.

Dentre os estudiosos do humanismo, o psicólogo norte-americano, nascido em Oak Park nos Estados Unidos, Carl Ransom Rogers, destacou-se por desenvolver um método psicoterapêutico centrado no próprio cliente, sendo essa teoria aplicada também à educação

FIGURA 68 – CARL ROGERS

FONTE: Disponível em: <http://onedayatatimebroward.blogspot.com.br/2010/05/just-as-i-am.html>. Acesso em: 24 ago. 2012.

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De acordo com Ferrari (2011), Rogers via o professor como alguém que exerce uma tarefa de facilitador do aprendizado, enquanto ao aluno cabe conduzir o modo de como aprende. Sua corrente de pensamento ficou conhecida como humanista por se basear em uma visão otimista do homem.

Conforme Ferrari (2011), para Rogers o organismo humano apresenta a tendência à atualização, tendo por finalidade a autonomia. O processo de atualização constante gera a abertura a novas experiências, a capacidade de vivermos o presente, desenvolver confiança nos próprios desejos e intuições, liberdade e responsabilidade de agir e a disponibilidade de criar. Assim, Ferrari (2011) também nos destaca que Rogers considerava que três qualidades são essenciais ao professor no exercício do seu papel. Vamos a elas:

1) congruência: significa ser autêntico com o aluno; 2) empatia: compreender os sentimentos; 3) respeito: consideração positiva incondicional.

No que tange ao conteúdo a ser ensinado, Paz (2010) aponta que Rogers propunha uma aprendizagem significativa, ou seja, que aquilo que for ensinado torne-se relevante ao aluno, causando interesse e estando de acordo com seus ideais e propósitos, favorecendo o crescimento da pessoa e motivando-a a aprender.

Além de Carl Rogers, o desenvolvimento do pensamento humanista contou com nomes de grande importância como Célestin Freinet, Maria Montessori e Paulo Freire, integrando suas ideias.

A prática direcionada pela visão humanista é desafiadora mediante toda estrutura educacional rígida a qual somos submetidos, quase que diariamente. Para Paz (2010) a educação do novo milênio deve incentivar as crianças e adolescentes a lutarem por uma vida mais digna e justa, buscando libertar os alunos da ignorância, preconceito, alienação e das falsas consciências, buscando assim desenvolver as potencialidades de cada um.

5 AS BASES DA METODOLOGIA ANDRAGÓGICA PARA A APRENDIZAGEM

Como você já viu anteriormente, a andragogia estuda o processo de aprendizagem no adulto. O desenvolvimento desta nova corrente de aprendizagem partiu das exigências do mundo corporativo, das experiências prévias, objetivos particulares de aprendizagem e as necessidades pessoais.

Para compreendermos a metodologia utilizada pelo movimento andragógico, primeiramente, você conhecerá as diferenças entre a aprendizagem direcionada e a aprendizagem facilitada. A primeira é centrada no professor, contudo a segunda é centrada no aprendiz.

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UNIDADE 2 | ASPECTOS RELEVANTES DA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

Aquino (2007) expõe que a aprendizagem direcionada corresponde ao método tradicional de ensino, ou seja, a participação dos alunos é restrita no que tange à tomada de decisões, no conteúdo a ser aprendido, bem como na aplicação dos conhecimentos transmitidos.

A prática da aprendizagem direcionada ainda é muito forte na atuação dos professores, pois os colocam no lugar de detentores do conhecimento em relação aos alunos, que muitas vezes, diante desta postura acabam inibidos, deixando de participar do assunto que está sendo exposto.

Aquino (2007) coloca que na aprendizagem facilitada, o educador considera as características, objetivos, expectativas e experiências pessoais de cada membro do grupo de alunos.

O professor que busca fazer uma leitura da turma baseada nestes aspectos, acaba influenciando no processo de aprendizagem do grupo. O profissional que apresenta familiaridade com essa abordagem, ou seja, a que é centrada no aprendiz, consegue aproximar-se do extremo andragógico do contínuo de aprendizagem.

Aquino (2007) destaca quatro abordagens para a implantação de uma aprendizagem facilitada:

a) Aprendizagem autodirecionada: em meados da década de 1970, Malcon Knowles e Carl Rogers dão início a um movimento educativo, cujo professor não estaria mais ocupando o lugar de detentor do conhecimento. Nesta nova perspectiva, os alunos se tornariam mais envolvidos e capazes de autodirecionar seu aprendizado. O autodirecionamento na aprendizagem é baseado na filosofia humanista, cuja suposição fundamental é de que a educação deve ter seu foco no desenvolvimento do indivíduo, ou seja, a aprendizagem autodirecionada objetiva desenvolver o pensamento crítico e o crescimento do indivíduo enquanto pessoa e cidadão.

b) Aprendizagem transformadora: surgiu na década de 1970, a partir das pesquisas de Jack Mezirow da Universidade de Columbia. Esta aprendizagem objetivava guiar os alunos para uma transformação pessoal e amadurecimento intelectual, tornando-os pessoas completas, ou seja, provocando-os à reflexão crítica sobre suposições, crenças e valores próprios. Neste modelo, os alunos são constantemente incentivados a desafiar, defender e prestar explicações sobre suas crenças, avaliando as evidências, justificando e julgando seus próprios argumentos a fim de atingir o máximo do crescimento pessoal, independência e pensamento crítico. A responsabilidade do educador nesta abordagem é prestar auxílio aos alunos para que atinjam seus objetivos, para que ajam de maneira autônoma e socialmente responsável.

c) Aprendizagem vivencial: nos anos 80, o professor David Kolb, da Case Western University, propôs que a aprendizagem nos adultos seria mais significativa a partir do momento que o objeto da aprendizagem fosse mais direta e profundamente vivenciado do que simplesmente recebido de maneira passiva, ou seja, quando

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o professor explica o aluno faz anotações. Partindo desta suposição, David Kolb desenvolveu o que foi chamado de ‘ciclo de aprendizagem vivencial’, sendo que este ciclo conta com quatro estágios de aprendizagem: a) experiência concreta: o tema é apresentado ao aluno de forma que possa ser vivenciado, ou seja, a partir do envolvimento direto com o material ao invés de simplesmente somar conhecimento. b) observação reflexiva: estimular o pensamento crítico sobre a experiência vivenciada. c) conceitualização abstrata: neste momento a experiência é conectada a teoria e aos conceitos que a fundamentam. d) Experimentação ativa: nesta fase, o aluno deverá ser capaz de aplicar o que foi aprendido a novos desafios e situações enfrentados na vida real.

d) Pensamento complexo e a transdisciplinaridade: esta linha defende a posição de que, no mundo contemporâneo, é imprescindível saber quando usar o raciocínio cartesiano e o pensamento sistêmico. Aplicado à aprendizagem, este processo é transdisciplinar, ou seja, é preciso conhecer o todo e criá-lo por meio de uma estreita inter-relação das partes (vertente sistêmica), porém buscando respeitar a ordem mais favorável de ocorrência delas (vertente cartesiana) de acordo com as características pessoais.

Aquino (2007) exemplifica este modelo comparando-o a um programa de graduação com um grande quebra-cabeça a ser montado, considerando que as disciplinas e as atividades a serem realizadas são as peças de um jogo. Num primeiro momento, as peças são apresentadas aos alunos, afim de que visualizem e compreendam o processo como um todo e aonde deveriam chegar após concluírem o programa.

FIGURA 68 – ANDRAGOGIA

FONTE: Disponível em: <http://saladosprofessores.ning.com/page/wiki-e-o-sistema-de>. Acesso em: 24 ago. 2012.

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UNIDADE 2 | ASPECTOS RELEVANTES DA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

Tal ação representa duas vantagens: a primeira proporciona ao aluno uma visão de futuro e o estimula a construir uma estratégia pessoal para atingir seu objetivo, a segunda possibilita uma ideia do resultado final esperado, fazendo com que o aluno possa avaliar e ter a certeza do seu real objetivo e caso não for, ele terá tempo de mudar.

Após a apresentação e visualização dos alunos, sobre o que os aguarda é a hora de “desmontar e espalhar” as peças deste quebra-cabeça. As peças são as disciplinas, atividades e avaliações que deverão ser realizadas para montar o quebra-cabeça novamente. Cada peça tem seu lugar correto e único, porém, cada aluno terá liberdade de escolher a forma e o ritmo de montar o quadro final, de acordo com suas aptidões e preferências.

Acadêmico(a)! Vários pensadores direcionaram seus estudos com a intenção de tornar os conhecimentos e experiências dos adultos uma forma de aprimorar a aprendizagem. Quer saber mais sobre isso? Prossiga em sua leitura!

6 ESTRATÉGIAS PARA O DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO HEUTAGÓGICO

Como já estudamos anteriormente, a andragogia é uma prática aplicada a um grupo, enquanto isso, a heutagogia é o autocompromisso, ou seja, o compromisso com a própria aprendizagem. A corrente heutagógica apresenta uma proposta para a autoaprendizagem direcionada, que vai além do aprender sozinho, ou seja, a metodologia heutagógica propõe flexibilidade ao modo como cada pessoa aprende. Para uma autoaprendizagem eficaz, faz-se necessário utilizar recursos diversos a fim de alcançar um determinado objetivo.

Bellan (2008) propõe que deva ser feito um trabalho personalizado de processo de ensino-aprendizagem, respeitando o estilo individual da aquisição de conhecimento e; e para tanto, sugere que seja definida uma estratégia, levando em consideração o perfil do aprendiz. Diante disso, a autora enfatiza a teoria das inteligências múltiplas.

O psicólogo Howrad Gardner, da Universidade de Harvard nos Estados Unidos, baseou-se em pesquisas sobre o desenvolvimento cognitivo e neuropsicologia para formular sua teoria. De acordo com Gama (1998), as pesquisas sugeriam que as habilidades cognitivas são bem mais diferenciadas e específicas do que se acreditava, pois conforme documentando por neurologistas, o sistema nervoso humano não é um órgão com propósito único, nem tão pouco é infinitamente plástico.

Gama (1998) coloca que Gardner questionava a tradicional visão de inteligência, pois enfatizava as habilidades linguísticas e lógico-matemáticas. Ainda de acordo com a autora, para Gardner todos os indivíduos normais têm

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capacidade de atuar em sete diferentes inteligências e, até certo ponto áreas intelectuais, definindo inteligência como a habilidade de resolver problemas ou criar produtos que sejam significativos em um ou mais ambientes culturais.

A identificação dessas áreas originou a Teoria das Inteligências Múltiplas definidas por Gardner, sendo elas: inteligência linguística, musical, lógico-matemática, espacial, cinestésica, interpessoal e intrapessoal.

UNI

Prezado(a) acadêmico(a)! Caso você queira se aprofundar na teoria de Gardner, retome este assunto consultando o Caderno de Psicologia da Educação e Aprendizagem.

Bellan (2008) propõe uma série de atividades destinadas a cada inteligência, com o objetivo de personalizar um modo de estudo que beneficie a aprendizagem, vamos a eles:

• Inteligência Cinestésica: interprete as ideias propostas relacionando-as com um gesto, monte um painel colocando imagens referentes ao tema, modifique o modo de enxergar o problema apresentando.

• Inteligência Espacial: estude construindo um fluxograma, coloque num diagrama a ideia apresentada, faça um desenho da estrutura do pensamento, exponha a matéria através de imagens.

• Inteligência Interpessoal: crie um grupo de estudos, proponha um debate sobre as ideias apresentadas, faça um jogo sobre o conteúdo, troque mensagens com os colegas que dominam o assunto estudado.

• Inteligência Intrapessoal: leia silenciosamente o conteúdo grifando as palavras e expressões principais, reflita sobre o tópico selecionado, pesquise livros e textos sobre o assunto, liste o que aprendeu e descreva sua praticidade.

• Inteligência linguística: elabore textos para um mural, fale sobre o assunto estudado com colegas, escreva um poema sobre o assunto, faça uma atividade com perguntas e respostas.

• Inteligência lógico-matemática: elabore uma tabela comparativa entre os conceitos elaborados, construa uma lógica para a nova teoria aprendida, sequencie ou padronize todos os aspectos encontrados no conteúdo, apresente ao grupo as questões que entende que precisam de nova análise e diga por quê.

• Inteligência musical: faça uma música com o conteúdo apresentado, determine códigos para os tópicos principais da matéria, escolha uma palavra chave do texto e relacione seu som com uma palavra já conhecida, procure poemas e músicas que se relacionem com o assunto.

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UNIDADE 2 | ASPECTOS RELEVANTES DA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

As atividades aqui sugeridas podem ser aplicadas em várias ocasiões, potencializando seus momentos de estudo.

Então, acadêmico(a), você lembra que ao iniciar a leitura do Tópico 2, nós o desafiamos a descobrir qual estilo de aprendizagem você estaria colocando em prática? Ao final do Tópico 3, a heutagogia fez parte deste momento de dedicação.

LEITURA COMPLEMENTAR

OS HIPERESPAÇOS PARA A EDUCAÇÃO FORMAL, NÃO FORMAL E INFORMAL

Teresa Küffer

INTRODUÇÃO

Traditional ways of organizing education need to be reinforced by innovative methods, if the fundamental right of all people to learning is to be realized.

John Daniel (Diretor Geral Assistente para a Educação) Unesco, 2002

Os espaços de aprendizagem ampliaram-se com o aparecimento da WWW, especialmente da Web 2.0. Esta mudança trouxe alterações tanto nos espaços de educação formal como na educação não formal e na educação informal. Entende-se por educação formal todas as práticas pedagógicas levadas a cabo por instituições escolares e acadêmicas, com uma estrutura hierárquica e organizado cronologicamente. A educação informal é o conjunto de todas as aprendizagens adquiridas e desenvolvidas nos contextos pessoais e sociais, fora das instituições e sem seguir objetivos educativos. Por seu lado a educação não formal tem objetivos de aprendizagem, mas acontece fora das instituições formais, não tem uma hierarquia rígida, nem uma estrutura cronológica estática.

No contexto da educação formal, as escolas e a sala de aula deixaram de estar circunscritas ao espaço físico e às limitações presenciais. Já não é necessário que professores e alunos partilhem o mesmo espaço à mesma hora para que o diálogo educativo aconteça. Este espaço físico continua a existir, mas existe uma extensão, um hiperespaço virtual que cria novos ambientes, relações e dinâmicas de aprendizagem. Este novo hiperespaço educativo, no âmbito da educação formal, exige novos métodos e novas competências aos professores e uma nova organização curricular.

Contextos de Aprendizagem

Nos contextos informais e não formais novas possibilidades de aprendizagem emergem constantemente. As comunidades on-line, centradas em interesses e partilha de conhecimentos, recursos e aprendizagens comuns adquiriu

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uma importância crescente nos últimos anos. Cada vez mais, os ambientes pessoais de aprendizagem e os portfólios individuais ganham reconhecimento acadêmico e institucional. A aprendizagem ao longo da vida ganha novo espaço e reconhecimento.

O virtual e os espaços de aprendizagem. Qual é a nova realidade?

Atualmente, os avanços tecnológicos em todas as áreas da sociedade, tendem a aumentar, uma vez que a existência de uma rede de informação e conhecimento composta por uma imensa capacidade de transformação e multiplicação, interfere diretamente no nosso quotidiano, chegando às redes virtuais e levando à expansão da informação e do conhecimento, eliminando barreiras geográficas e diminuindo as distâncias.

A internet trouxe o termo virtual. Podemos encontrá-lo em diversas áreas da sociedade atual (comércio, biblioteca, bancos etc.). A virtualização é um fator que dá lugar a novas realidades particulares, não se opõe ao real. Em termos de ensino, permite uma maior liberdade, concretizando-se no espaço, deixando de ter um lugar físico exato. Lévy, descreveu o virtual, dando o exemplo de uma empresa com departamentos diferenciados da matriz habitual da seguinte forma:

A virtualização pode ser definida como o movimento inverso da atualização. Consiste em uma passagem do atual ao virtual, em uma ‘elevação à potência’ da entidade considerada. A virtualização não é uma desrealização (a transformação de uma realidade num conjunto de possíveis), mas uma mutação de identidade, um deslocamento do centro de gravidade ontológico do objeto considerado: em vez de se definir principalmente por sua atualidade (‘uma solução’), a entidade passa a encontrar sua consistência essencial num corpo problemático. (LÉVY, 1996, p. 17).

Tradicionalmente, espaço de aprendizagem referia-se à sala de aula, laboratório, pavilhão, biblioteca, ou seja, o espaço físico, mas com o virtual passamos a ter um espaço virtual de aprendizagem, indo este conceito além dos limites de tempo e de espaço, passando a uma aprendizagem baseada numa sociedade em rede, através da utilização criativa das novas tecnologias e da informação.

Definindo concretamente o que é o espaço virtual de aprendizagem, podemos dizer que se trata de um espaço sem local geográfico específico, onde o processo de ensino-aprendizagem decorre, seja nos contextos formais, informais ou não formais. As plataformas da Web 2.0, em regra geral, promovem interação e comunicação (síncrona e assincrônica), apoiada na rede utilizadores (nos espaços de aprendizagem formal e informal) ou por pessoal especializado, como docentes (nos espaços de aprendizagem formal).

O espaço virtual trouxe uma nova realidade ao ensino aprendizagem, mas como não foi inicialmente construído para ser utilizado exclusivamente

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UNIDADE 2 | ASPECTOS RELEVANTES DA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

na educação, teve de ser transformado e adaptado em novas possibilidades pedagógicas para se poder utilizar no contexto educativo. Alguns exemplos da sua aplicação:

● Apresentações de textos, diagramas, gráficos e imagens para aprendizagem.● Pesquisa e recolha de dados e informações.● Comunicação com outros alunos e docentes.● Colaboração em projetos de aprendizagem.● Apresentação e recepção de conteúdos do aluno através da multimídia.● Apresentação informática dos resultados da aprendizagem.● Aprendizagem usando simulações.● Aprendizagem mediante inclusão em espaços virtuais.

Assistimos a uma nova realidade na educação, onde cada espaço tem características únicas, podendo ser utilizadas de forma conjunta ou isolada no contexto educacional, aumentando de forma exponencial as capacidades do ensino aprendizagem.

Novas formas de aprender e ensinar surgiram com a inovação tecnológica e o paradigma virtual. Presentemente podemos ter vários tipos de aprendizagem, nomeadamente por exposição (seja no ensino real ou virtual), autônoma (aluno como centro de decisão), exploração (alunos escolhem o caminho a seguir).

Todas estas alterações do status quo vigente, em termos de paradigma educacional estão a suceder à mesma velocidade que os avanços tecnológicos, sendo notória a necessidade de se adaptar rapidamente à estrutura de ensino, que se baseie na autonomia e flexibilidade do aluno. Tendo estes fatores em mente, constroem-se e construíram-se plataformas virtuais que permitem a colaboração e a interação entre os intervenientes no processo educativo que o favorecem, esbatendo barreiras espaciotemporais. Os ambientes virtuais de aprendizagem facilitam a transição para um novo sistema de educação, destacando-se as plataformas destinadas à educação e-learning. Estarão os professores prontos para o mundo virtual e aquilo que ele tem que oferecer à educação?

Os hiperespaços atuais

Presentemente existe um número imenso de páginas, portais, aplicações e ferramentas on-line que permitem aos professores, alunos e autodidatas explorar as suas potencialidades. Falamos de blogues, wikis, podcasts e portfólios, comunicação pela internet (Skype, VoIP), social networking (Facebook, Twitter), social bookmarking (Delicious, Digg), mundos virtuais 3D (Second Life), partilha de imagens (Flickr), partilha de vídeos (YouTube), fóruns, e-Books, chat (Gtalk, MSN), jogos on-line, mashups, mobile learning, RSS feeds, sites (Google sites), apresentações (Prezi, Slideshare), ferramentas de colaboração (Google Docs, Yahoo Groups), entre outros tantos mais.

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Potencialidades e desafios

A questão é conhecer as potencialidades e desafios que todas estas aplicações e ferramentas podem trazer para o contexto educativo. Siemens & Tittenberger (2009), Mason & Rennie (2008), Carvalho (2008), Marygrace (2008), bem como outros estudiosos preocupam-se com esta temática referindo caraterísticas e possibilidades de uso destas ferramentas na educação.

As vantagens do uso de ferramentas Web 2.0 são o fácil acesso, custo reduzido, acesso permanente e em qualquer lado, variedade de escolha, inúmeras fontes de informação a recorrer. Por outro lado, as desvantagens mais referidas são o fluxo de informação demasiado acelerado, qualidade da informação passada por vezes dúbia, lacuna de tutoriais/formação das ferramentas.

Uma ferramenta e estratégia já bastante disseminada entre professores, formadores, empresas, indivíduos é o blogue (SIEMENS, 2002). Nos últimos anos registou-se um aumento exponencial de blogues (Blogger, Wordpress, Edublogs) em praticamente todos os campos de estudo. O facto desta ferramenta ser bastante utilizada, em todas as vertentes educativas (formal, não formal e informal) prende-se com diversos motivos, mas sobretudo, segundo Siemens (2002), por reunir os meios corretos de fácil uso. No contexto da educação formal, os motivos prendem-se normalmente com o fato destes permitirem a partilha de forma rápida e permanente dos conteúdos com alunos, pais, comunidade em geral; facilitarem a discussão on-line e a colaboração entre alunos, professores e comunidade educativa, estenderem o espaço da sala de aula, ocasionarem a participação ativa dos alunos, consentirem o hipertexto e o uso de diversos média (vídeos, imagens, áudio...), possibilitarem propostas conjuntas, entre outros.

Ao professor recai a responsabilidade de dominar estas ferramentas abertas, flexíveis e interativas, recorrendo a abordagem multidisciplinares que o preparem para o futuro (COUTINHO & BOTTENTUIT JUNIOR, 2007). A formação para o domínio e implementação de estratégias eficazes é um tremendo desafio, numa rede que está constantemente em mutação. Estar a par e passo com o que se passa no virtual requer um enorme esforço por parte do educador a nível de tempo profissional e pessoal.

Papel do docente e das instituições de ensino formal

Vive-se um tempo de grande prosperidade no que se refere às tecnologias, nomeadamente na utilização de hiperespaços na aprendizagem. Progressivamente, a escola tem vindo a incorporar a utilização de hiperespaços tanto na sua atividade diária como na utilização dos mesmos na prática letiva.

Os hiperespaços constituem uma linguagem e um instrumento de trabalho essencial do mundo de hoje. Cada vez mais desempenham um papel importante na educação constituindo um meio privilegiado de acesso à informação na medida

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UNIDADE 2 | ASPECTOS RELEVANTES DA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

que são instrumentos fundamentais para pensar, criar, comunicar e intervir sobre numerosas situações fomentando aprendizagem formal, informal e não formal. São ferramentas de grande proveito para o trabalho colaborativo e representam um suporte do desenvolvimento humano nas dimensões pessoal, social, cultural, lúdica, cívica e profissional. Neste sentido, o professor deve proporcionar uma nova forma de ensinar, mais motivadora e desafiante (SILVA & MARTINS, 2000). O professor passará a desempenhar o seu papel de forma facetada, desenvolvendo competências 2.0. Segundo Auilo (2009, apud WITHAM, s/d.), a relação professor/aluno deve ser cultivada a cada dia, pois um depende do outro e assim os dois crescem e caminham juntos. É nessa relação madura que o professor deve ensinar que a aprendizagem não ocorre somente em sala de aula, mas a todo momento.

Aprendizagem centrada no aluno

Segundo Siemens (2005), a aprendizagem deve ser centrada no aluno criando novas metodologias de ensino adaptadas às novas realidades de desenvolvimento tecnológico e a sociedade organizada em rede. Segundo a Fundação MacArthur (2011), os jovens passam grande parte do seu tempo em volta dos média. Estudando como eles usam esses média, poderemos como educadores saber como incentivá-los a usar essas capacidades para adquirir conhecimentos que são esperados deles no ensino formal, nomeadamente em nível de criatividade, civismo e socialização, conhecimento esse que deverá ser igualmente usado na sua vida futura (Jenkins em The 21st Century Learner).

Educação formal

Como o próprio nome indica, é o tipo de educação que podemos encontrar no ensino escolar institucionalizado e estruturado. A plataforma Moodle e os sites das escolas/universidades, representam a educação formal.

O Moodle é um exemplo deste tipo de educação aplicada no hiperespaço. Significa “Modular Object-Oriented Dynamic Learning Environment” e é um software livre que serve como apoio à aprendizagem. A sua principal utilização dá-se no contexto de e-learning ou b-learning, pois através deles consegue-se promover a criação de comunidades de aprendizagem.

Educação não formal

Baseia-se num sistema sem necessidade de burocracia hierárquica em termos de progressão, podendo no seu final atribuir ou não, certificados.

Exemplos desta educação são os diversos tutoriais disponíveis on-line, tal como todo o tipo de formação e-learning disponibilizada pelas empresas das mais variadas áreas do conhecimento.

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TÓPICO 4 | O DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO PEDAGÓGICO, ANDRAGÓGICO E HEUTAGÓGICO

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Considerações finais

Segundo Pinto (2005), “No futuro, devido ao ritmo e dinâmica dos processos sociais, a formação dos indivíduos tem de se assumir como processos de construção, cuja prossecução ultrapassa, necessariamente, os limites dos sistemas formais de ensino.” Neste sentido estamos perante uma nova era educacional onde predominam a utilização de novos espaços de aprendizagem colaborativa e interativa. As mudanças educacionais desenham um novo modelo pedagógico centrado na autonomia, na flexibilidade e no aluno através dos hiperespaços de aprendizagem, sendo o aluno o sujeito ativo e construtivo de seu próprio conhecimento.

Os hiperespaços para a educação formal, não formal e informal abrem novas possibilidades na aprendizagem ao longo da vida, mas ao mesmo tempo, apresentam desafios. Os contextos de educação formal devem ser mais flexíveis, de forma a acompanhar as novas mudanças vividas nos contextos educacionais. Segundo Siemens, “E-learning and flexible learning are closely linked. Essentially, e-learning is the realization of the theoritial/conceptual components of flexible learning”. Para este novo paradigma de aprendizagem é importante proporcionar formação que envolvam experiências pedagógicas diferenciadas de acordo com a formação inicial de cada educador. Não basta criar ferramentas com inúmeras vantagens na educação formal se não existir o suporte necessário para que o educador as utilize em sala de aula e para que desenvolvam as competências necessárias para a vivência plena da cidadania do século XXI.

Por outro lado, as competências adquiridas ao longo da vida, fora dos contextos formais, necessitam de um reconhecimento acadêmico e social. O mercado de trabalho e a sociedade em geral devem valorizar e reconhecer trabalhadores bem formados e capazes de competir num mercado de trabalho cada vez mais exigente, tornando o tecido empresarial bem formado e com a possibilidade de melhorar os níveis de qualidade de vida, esbatendo as diferenças sociais, rumo a uma sociedade mais justa, tendo como centro de mudança a educação e os hiperespaços que a nova realidade virtual permite.

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UNIDADE 2 | ASPECTOS RELEVANTES DA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

Referências

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RESUMO DO TÓPICO 4

Neste tópico, você estudou:

• O surgimento da escola integral no Brasil e conheceu o trabalho do seu principal mentor Anísio Teixeira, bem como seu trabalho e princípios, em prol da formação de um ser humano completo.

• A educação holística busca trabalhar o ser humano em sua totalidade sem reduzi-lo a soma das suas partes, ou seja, sem a fragmentação da vida e centralizada nas relações.

• A corrente holística aplicada à educação une o ensino e a aprendizagem as vivências da criança sem desmerecer o ambiente que a cerca.

• O psicólogo americano Carl Rogers é um nome de referência no estudo do humanismo; para ele o professor ocupa um papel de facilitador em relação ao aprendizado; e ao aluno cabe a condução de como aprende.

• A metodologia andragógica preza que o adulto deva ser conduzido no seu processo de aquisição de conhecimento através uso da aprendizagem facilitada.

• A heutagogia proporciona que o estudante personalize seu ensino e aprendizagem, respeitando o modo individual de organização para a aquisição do conhecimento.

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Agora, acadêmico(a), que você concluiu os estudos referentes a este tópico, responda às questões a seguir:

1 A educação holística pressupõe que a Revolução Industrial serviu de estímulo à padronização, o que contribuiu para a fragmentação da vida. Cite em quais âmbitos da vida os reflexos da fragmentação foram sentidos.

2 Em que o currículo da escola holística se diferencia dos demais?

AUTOATIVIDADE

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UNIDADE 3

PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

PLANO DE ESTUDOS

A partir desta unidade você será capaz de:

• identificar possibilidades de atuação do pedagogo nos ambientes não for-mais;

• conhecer o conceito e o trabalho do pedagogo relacionado à pedagogia social e às políticas públicas;

• identificar as principais ações relacionadas à pedagogia hospitalar;

• desmistificar aspectos relevantes à educação carcerária.

Esta unidade está dividida em quatro tópicos e, em cada um deles, você en-contrará atividades que o(a) ajudarão a internalizar os conhecimentos estu-dados.

TÓPICO 1 – A PEDAGOGIA SOCIAL E O PAPEL DO PEDAGOGO NAS POLÍTICAS PÚBLICAS

TÓPICO 2 – PEDAGOGIA HOSPITALAR: O ENSINAR EM UM AMBIENTE DE FRAGILIDADE

TÓPICO 3 – PEDAGOGIA ORGANIZACIONAL

TÓPICO 4 – EDUCAÇÃO CARCERÁRIA

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TÓPICO 1

A PEDAGOGIA SOCIAL E O PAPEL

DO PEDAGOGO NAS POLÍTICAS

PÚBLICAS

UNIDADE 3

1 INTRODUÇÃO

Caro(a) acadêmico(a)! Este tópico possibilitará que você tenha um conhecimento mais amplo sobre a pedagogia social, uma área de atuação pouco explorada, porém muito solicitada e de grande importância diante das várias questões que afligem nosso cotidiano, como a violência e a perda dos valores familiares.

Você também verá que o papel do pedagogo nas equipes de trabalho como programas sociais de instituições públicas ou privadas, vem se tornando cada vez mais requisitado, principalmente pelo olhar diferenciado que este profissional abarca. Como pode ver, prezado(a) pedagogo(a), é grande a nossa missão.

2 UM PANORAMA SOBRE HISTÓRIA E ATUALIDADE DA PEDAGOGIA SOCIAL

Seria importante que se compreendesse a construção histórica da pedagogia social mediante a conceitualização, os conflitos e as intervenções socioeducativas, que nos mostram porque refletem nas perspectivas atuais.

A pedagogia social iniciou conforme Moura (2011) com um encontro internacional, realizado na Alemanha, para discussão “dos problemas da instrução de crianças e adolescentes inadaptados”, organizada pela Seção Cultural do Alto Comissariado da República Francesa, na cidade de Spire, de 9 a 15 de abril de 1949. O objetivo era discutir os rumos da educação das crianças órfãs do período pós-guerra. Outros dois encontros foram realizados, em 1950, na cidade de Bad Durckheim e no ano de 1951, na cidade de Freiburg-in-Breisgau. O empenho da Associação Francesa dos Educadores de Jovens Inadaptados empolgou os participantes estrangeiros nas reuniões realizadas na Alemanha, motivando-os a fundarem em seu próprio país uma associação semelhante.

Em 1951, durante a quarta conferência realizada em 19 de março de 1951, foi fundada oficialmente na cidade de Scluchsee, na Alemanha, a Associação Internacional de Educadores de Jovens Inadaptados. Atualmente, este órgão responde pelo nome de Asociación Internacional de Educadores Sociales (AIEJI), com sede no Uruguai.

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UNIDADE 3 | PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES

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Muitos outros encontros foram realizados, com o intuito de fortificar as discussões, traçar demandas, configurar o campo de atuação, bem como, estabelecer o perfil deste profissional. Acompanhe a seguir, caro(a) acadêmico(a), os encontros que permearam esta longa caminhada na solidificação desta modalidade de atuação do pedagogo, conforme Moura (2011):

• I Congresso Internacional da AIEJI – Amersfoort (Holanda, 1952).• II Congresso Internacional da AIEJI – Bruxelas (Bélgica, 1954).• III Congresso Internacional da AIEJI – (França, 1956).• IV Congresso Internacional da AIEJI – Lauzane (Suíça, 1958).• V Congresso Internacional da AIEJI – Roma (Itália, 1960).• VI Congresso Internacional da AIEJI – Freiburg-im-Breisgau

(Alemanha, 1963).• VII Congresso Internacional da AIEJI – Versalhes (França, 1970).• VIII Congresso Internacional da AIEJI – Genebra (Suíça, 1974).• IX Congresso Internacional da AIEJI – Montreal (Canadá, 1978).• X Congresso Internacional da AIEJI – Copenhague (Dinamarca, 1982).• XI Congresso Internacional da AIEJI – Jerusalém (Israel, 1986).• XII Congresso Internacional da AIEJI – New York (EUA, 1990).

Promulgada a Declaração de New York.• XIII Congresso Internacional da AIEJI – Postdan (Alemanha, 1994).• XIV Congresso Internacional da AIEJI – Brescia (Itália, 1997).• XV Congresso Internacional da AIEJI – Barcelona (Espanha, 2001).

Promulgada a Declaração de Barcelona.• XVI Congresso Internacional da AIEJI – Montevidéu (Uruguai, 2005)

Promulgada a Declaração de Montevidéu.• XVII Congresso Internacional da AIEJI – Copenhague (Dinamarca,

2009).

Perceba como este movimento tomou força com o passar dos anos e manteve-se com encontros periódicos, objetivando discutir as demandas pertinentes de cada momento. Atualmente, a Alemanha é reconhecida como a pátria-mãe da Pedagogia Social, sendo que países como a Áustria, Espanha, Finlândia, França, Luxemburgo, Grécia, Portugal, Noruega, Rússia, Suécia, Suíça e Ucrânia, possuem modelos particulares de atuação.

Moura (2011) reforça que na América do Sul, o país referência em Pedagogia Social é o Uruguai, onde está sediada a Asociación Mundial de Educadores Sociales. No Brasil, a única referência nesta categoria é a Associação de Pedagogia Social de Base Antroposófica, fundada em 2001, tendo por base os preceitos de Rudolf Steiner.

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TÓPICO 1 | A PEDAGOGIA SOCIAL E O PAPEL DO PEDAGOGO NAS POLÍTICAS PÚBLICAS

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FIGURA 69 – RUDOLF STEINER

FONTE: Disponível em: <http://vaccineliberationarmy. com/2010/08 /14/rudolf-steiner-quotes-innoculations-against-the-inclination-to-entertain-spiritual-ideas/>. Acesso em: 16 ago. 2013.

IMPORTANTE

Paulo Freire é considerado o grande inspirador da Pedagogia Social no Brasil, principalmente pela grande importância de suas obras, “ainda que ele nunca tenha usado exatamente este termo em seus escritos”. (MOURA, p. 29, 2011).

Em 1999, nomes como Geraldo Caliman, Antônio Carlos Gomes da Costa e Maria Stela Santos Graciani foram expressivos na construção da pedagogia social no Brasil. Estes autores fizeram-se presentes no I Congresso Internacional de Pedagogia Social, “confrontando a experiência brasileira com a experiência germânica, defendida por Hans-Uwe Otto, diretor de um dos grandes centros de formação em Pedagogia Social na Alemanha”. (MOURA, p. 30, 2011).

Diante do exposto o congresso brasileiro trouxe que:

[...] Educação Indígena, Educação em Saúde, Educação em Cidadania e Direitos Humanos, Educação Ambiental, Educação no Campo, Educação Rural, Educação em Valores, Educação para a Paz, Educação para o Trabalho, Educação Política, Educação de Trânsito, Educação Hospitalar e Educação Alimentar eram percebidas por seu protagonista e por seus pesquisadores como práticas de Pedagogia Social. (MOURA, 2011, p. 30).

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UNIDADE 3 | PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES

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Diferentemente dos países europeus, o Brasil apresenta um cenário diversificado, com realidades frágeis que necessitam de atenção contínua.

2.1 A PEDAGOGIA SOCIAL NA ALEMANHA

Como vimos anteriormente, a Alemanha é considerada o país referência em pedagogia social, Machado (2008) apud Fermoso (1994) coloca que o conceito de “Pedagogia Social” foi usado pela primeira vez pelo pedagogo alemão Deisterweg, na obra “Bibliografia para Formação dos Mestres Alemães”.

Para Machado (2008) apud Quintana, (1997) a primeira obra que menciona literalmente a pedagogia social é publicada em 1898, escrita pelo filósofo Paul Natorp, intitulada a “Pedagogia Social: teoria da educação e da vontade sobre a base da comunidade”. Nesta obra, Paul Natorp defende como um dos conceitos básicos, a comunidade, mostrando-se contra o individualismo, sendo assim considerado origem e causa dos conflitos sociopolíticos da Alemanha, por acreditar, que a educação vincula-se à comunidade e não aos indivíduos. O autor procura elaborar uma teoria sobre educação social, concebendo a pedagogia social como saber prático além de um saber teórico. Machado (2008) enfatiza que “Natorp é o criador de uma tendência, a da Pedagogia Sociológica, parte da Pedagogia Social, uma ciência com múltiplas concepções”.

O surgimento da PEDAGOGIA SOCIAL na Alemanha torna este país o mais importante nesta linha de trabalho em educação. Vem ao encontro disso o crescimento e a consolidação das Ciências Sociais, com a racionalização e a análise objetiva da vida social.

Machado (2008) reforça que isto:

Reflete também os efeitos da Revolução Industrial e Francesa, com o reconhecimento dos movimentos populares que reivindicam liberdade e direitos humanos. A crise econômico-industrial da Alemanha, acentuada no final do século XIX, leva a Pedagogia a atender à necessidade de intervenção socioeducacional. A partir desse período, pressionados pela realidade, educadores avançam na conceituação da pedagogia social ao mesmo tempo em que ampliam as ações práticas.

Este aspecto também é comentado por Fichtner (2011, p. 34) ao destacar que:

Numa perspectiva histórica, encontramos na Idade Média e início da modernidade uma preocupação social mais relacionada com atividades beneficentes, filantrópicas e altruístas, orientadas fundamentalmente para as camadas mais pobres da sociedade. Com o processo de industrialização da sociedade, se produz um corte abrupto na Alemanha do século XIX, originando para a pedagogia e o Trabalho Social diferentes raízes históricas, enunciando, dentre outros: a) Sistema de proteção de caráter assistencial; b) Educação Infantil com a implantação de creches e jardins de infância baseadas

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TÓPICO 1 | A PEDAGOGIA SOCIAL E O PAPEL DO PEDAGOGO NAS POLÍTICAS PÚBLICAS

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na concepção de Froebel; c) Movimento denominado Pedagogia da Reforma, ocorrido no final do Século XIX e início do século XX, com uma nova perspectiva para a Educação e proteção dos jovens.

Observe, acadêmico(a), que o olhar da pedagogia social não estava apenas direcionado à educação e à proteção dos jovens, tal estendeu-se a: atendimentos relacionados à infância, grupos marginalizados, terceira idade e a educação permanente.

FIGURA 70 – ATENDIMENTO À TERCEIRA IDADE

FONTE: Disponível em: <http://tvufg.org.br/fazoque/?p=321>. Acesso em: 16 ago. 2013.

A pedagogia social alemã pode ser associada ao trabalho social, outra modalidade de assistência no país, caracterizada por uma área complexa relacionada com a reprodução da sociedade como um todo, ou seja, não se limita apenas à educação escolar, mas às diversas demandas sociais.

Diante disto, Fichtner (2011, p. 33) aponta que a pedagogia social e o trabalho social na Alemanha estendem-se:

1. Ao sistema de ajuda nacional cuja base jurídica se constitui a partir das leis de Ajuda Social Nacional;2. À área psicoterapêutica que faz parte do Sistema de Saúde;3. Aos sistemas penitenciários e de Justiça (aqui a Pedagogia Social colabora com o equivalente à FEBEM brasileira);4. Às áreas que se ocupam na educação Especial, Criminalidade, Dependência de Drogas etc.;5. À área pertencente à Educação, na qual os pedagogos sociais trabalham fundamentalmente na ajuda às crianças não como professores, mas um equivalente ao psicopedagogo;6. A outras áreas de atuação do profissional da Pedagogia Social e Trabalho Social existentes também, tais como a ajuda ao desenvolvimento de associações de grupos de terceira idade, Ecologia, Cultura, etc.

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Como anteriormente mencionado, a pedagogia social e o trabalho social parecem sinônimos, porém dada a sua complexidade e por estes profissionais atuares em setores semelhantes, podemos diferenciá-los pelo seguinte: o trabalhador social direciona seu compromisso em ajudar a cuidar, sendo que o pedagogo social atua mediante a perspectiva pedagógica, educativa.

Considerando que os trabalhos desenvolvidos por estas áreas passaram por diversas etapas históricas, sendo o pós guerra, a industrialização e a globalização, Fichtner (2011) aponta que estas mesmas etapas impulsionaram e determinaram formas de desenvolvimento específicos para a pedagogia social e trabalho social, tendo estas dimensões teóricas:

• O cotidiano e as condições de vida.• O desenvolvimento das organizações da pedagogia social e do trabalho social,

bem como dos seus fundamentos jurídicos.• A história da profissão.• A história e a construção das disciplinas científicas da pedagogia social e do

trabalho social;• A construção e definição das diferentes áreas de atuação.

Tendo por base as dimensões teóricas destacadas acima, que possibilitam nortear os trabalhos desenvolvidos, o autor acima citado, coloca como áreas de atuação do pedagogo social e do trabalhador social:

• Apoio e atendimento a crianças e adolescentes dentro e fora da escola.• Apoio e atendimento no sistema de saúde.• Apoio e atendimento à família.• Apoio e atendimento para habitação, moradia e comunidade.• Apoio e atendimento nos locais de trabalho.• Apoio e atendimento para o desenvolvimento da expressão cultural, ecológica

e relações comunitárias.

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FIGURA 71 – ATENDIMENTO À FAMÍLIA

FONTE: Disponível em: <http://naahsrecife2011.blogspot.com.br/p/atendimento.html>. Acesso em: 16 ago. 2013.

Caro(a) acadêmico(a)! Perceba que a pedagogia social tomou grandes proporções no que tange às áreas de atuação deste profissional, por meio de um sistema profissional qualificado. O objetivo desta forma de atendimento não é paternalizar ou assistenciar os indivíduos atendidos, mas proporcionar capacitação às organizações, instituições e à sociedade como sujeitos.

2.2 IDENTIDADE E PERSONALIDADE DA PEDAGOGIA SOCIAL

Anteriormente, acadêmico(a), vimos como a pedagogia social nasceu e quais foram seus rumos no país de origem: Alemanha. Agora, passaremos a estudar o que a caracteriza e como esta ramificação da pedagogia se constitui.

Caliman (2011) salienta que a pedagogia social está ligada a objetivos, objetos de pesquisa, finalidade e métodos característicos, não confundíveis com os outros campos da ciência social e pedagógica, porém, três fatores a tornam única: a) construção de identidades e limites; b) diferenciação entre a dimensão formal e não formal; c) distinção entre a pedagogia social e pedagogia escolar.

A pedagogia social tem como campo de atuação instituições não formais e é uma área recente. Ela visa ao atendimento de crianças, adolescentes e adultos que vivem em condições de fragilidade social e objetiva agir na prevenção e recuperação das deficiências sociais, desenvolvendo seus trabalhos in loco, ou seja, intervindo diretamente no ambiente.

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FIGURA 72 – ATENDIMENTO A ADOLESCENTES

FONTE: Disponível em: <http://www.maisplics.com.br/ajude/fenix/>. Acesso em 16 ago. 2013.

Conforme Caliman (2011) p. 47):

[...] existem alguns âmbitos de atuação que atualmente correspondem a tais critérios: a Educação de adultos; a Educação de adolescentes em situação de risco; a recuperação reinserção social de sujeitos toxicodependentes; a orientação escolar de alunos atingidos por fortes condicionamentos sociais (pobreza, exclusão social, desagregação familiar); a ação educativa dentro dos ambientes familiares; a influência dos meios de comunicação social e das associações e grupos juvenis (grupos de pares, gangues etc.).

Percebemos que a pedagogia social vai criando uma identidade própria e assim, solidificando seu ser e fazer. Diante do que caracteriza o ser, Ryynanem (2001) esclarece que a pedagogia social é a educação que visa provocar e fortalecer os processos de autoconhecimento, de autoeducação, de conscientização e transformação, na vida do indivíduo, nos grupos em que este faz parte, bem como frente à comunidade em que está inserido.

Assim, os interesses da pedagogia social estão voltados à educação e à participação social, que buscam o entendimento do indivíduo a partir do conhecimento e desenvolvimento da personalidade (singular) deste e do mundo que o cerca (coletivo).

No que tange ao fazer, Caliman (2011) coloca como finalidade da pedagogia social a pesquisa e a promoção de condições de bem-estar social, de convivência, de exercício de cidadania, de promoção social e desenvolvimento, de superação, de condições, de sofrimento e marginalidade direcionando seus trabalhos à construção, aplicação e avaliação de metodologias de prevenção e recuperação.

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Para isso, o pedagogo social precisa de um entendimento amplo de como as relações sociais interferem neste processo e, além disso, de como o indivíduo age e reage frente às influências dos grupos nos quais convive.

É preciso salientar o que Ryynanen (2011, p. 51) tem a nos colocar sobre esta ação do indivíduo no ambiente, no qual este “é ator ativo, sujeito que cria e recria a realidade social na convivência com ela”, influenciando e sendo influenciado pelo meio.

Para um melhor entendimento do trabalho sociopedagógico, dois conceitos precisam estar claros para o pedagogo que decide atuar neste campo, são eles, autoestima e cidadania.

Autoestima não se refere somente aos cuidados que o indivíduo tem em relação ao seu corpo, saúde e bem-estar, mas conforme Ryynanen (2011) p. 51, “autoestima se refere, no sentido sociopedagógico, ao crescimento do indivíduo na sua singularidade para que seja o protagonista de sua vida; à sua capacidade de agir com outros indivíduos e de participar da sociedade de uma maneira igual e com direitos plenos”.

Trabalhar a autoestima do indivíduo é provocá-lo a sair da zona de conforto e buscar desenvolver nele a autenticidade e a liberdade, fornecendo os instrumentos necessários para a construção ou reconstrução de sua singularidade, sustentando suas diferenças e respeitando as diferenças dos outros.

Em contrapartida, cidadania refere-se à “maturidade social do indivíduo; à postura consciente e crítica [...] ao conhecimento dos direitos e deveres, quanto ao crescimento para uma melhor convivência coletiva”. (Ryynanen (2011) p. 51).

FIGURA 73 – CIDADANIA

FONTE: Disponível em: <http://unisinos.br/blogs/cidadania/2013/07/01/1o-de-julho-dia-da-cidadania/>. Acesso em: 13 ago. 2013.

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UNIDADE 3 | PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES

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O entendimento destes dois conceitos fundamenta o trabalho do pedagogo social e o guiam em busca do desenvolvimento de uma atuação mais consciente e sensível as demandas que se apresentarem.

2.3 A PEDAGOGIA SOCIAL E A ATUAÇÃO DO PEDAGOGO SOCIAL NO BRASIL

A história da pedagogia social tem como referência a Alemanha, porém, outros países como Itália, Portugal e Finlândia, também destacaram-se neste cenário. No Brasil, esta modalidade é recente, sendo que alguns consideram Paulo Freire um nome expressivo nesta área.

Quando tratamos a pedagogia social como uma referência de atuação recente, lembramos Silva (2011) que nos coloca que a produção acadêmica específica sobre o tema inicia-se com a publicação do livro Desafio, riscos e desvios, em 1998, por Geraldo Caliman, pedagogo brasileiro que concluiu mestrado e doutorado em pedagogia social na Universitá Pontificia Salesiana, em Roma, na Itália.

UNI

No site <www.pedagogiasocial.net>, você encontrará mais informações sobre a história de Geraldo Caliman, bem como os principais eventos realizados nesta área.

Como você pode perceber, diante do ano da publicação sobre esse tema, podemos dizer que a pedagogia social é uma adolescente, com um campo vasto de possibilidades a ser explorado.

Neste momento, trataremos de nos aprofundar na formação do pedagogo social e como os cursos de nível superior estão se comportando, em relação a esta nova demanda que surge com mais intensidade no Brasil.

Até pouco tempo atrás, a formação em pedagogia elegia, (este movimento ainda é forte nas instituições de ensino superior) a docência como objetivo principal. Além disso, outras áreas em que são necessários conhecimentos próprios do pedagogo como orientação educacional, coordenação e supervisão pedagógica, continuam sendo reforçadas.

Silva (2011) expõe que nos cursos de graduação, a maioria das disciplinas oferecidas na grade curricular valoriza a integração dos pedagogos no ambiente

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escolar, sendo este um requisito para a formação docente, porém a atuação dos pedagogos em outras práticas educativas necessita de conhecimentos científicos que embasem esta prática.

A formação de um profissional que tenha um olhar além dos muros da escola demonstra o quão é importante estudar as possibilidades de desenvolver trabalhos em diversos setores das políticas públicas, ou seja, na assistência social, na saúde, no ministério público e demais setores na educação não formal.

UNI

Políticas públicas referem-se a todos os programas desenvolvidos pelas instituições governamentais para a população. Por exemplo: Sistema Único de Assistência Social (SUAS), Sistema Único de Saúde (SUS), Programas de Orientação e Apoio Sociofamiliar, Bolsa Família etc.

Silva (2011) reforça esta questão quando aponta que o pedagogo se torna um profissional, cujos trabalhos são ilimitados, principalmente na formação de indivíduos que, de alguma forma, tiveram seus direitos violados ou se encontram em situações que caracterizam vulnerabilidade social.

Acadêmico(a)! Perceba que há uma necessidade constante e porque não dizer quase infinita, de construirmos saberes sólidos que objetivem sustentar esta prática, sendo estes pautados nas condições sociais construídas sobre os moldes das desigualdades, que constantemente afligem nosso país.

Neste sentido, a pedagogia social ocupa um lugar importante na análise das condições pertinentes a desigualdade, porém com intuito educativo para que os indivíduos que se encontram em uma situação de vulnerabilidade social superem estes momentos difíceis.

Anteriormente, usamos a expressão “além muros” para enfatizar como é fundamental que o pedagogo seja sensível, no que tange aos aspectos sociais influentes no comportamento e no conhecimento manifestado pelas pessoas que com ele convivem.

Acadêmico(a)! Reflita sobre o que Silva (2011) tem a nos colocar sobre isso:

O identitário da questão social no Brasil é definido pela imagem de pessoas em situação de privação alimentar, pessoas que de alguma forma necessitam constantemente de tutela do Estado para dar continuidade na vida. A realidade destas pessoas pode ser analisada sobre diversos olhares, mas chama-se a atenção para um olhar sobre a

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ótica da existência, ou seja, deslocar o olhar sobre mim para se colocar no lugar do outro. Por esta razão, a questão das carências de alimentos, remédios, empregos e demais questões dão aos problemas sociais a necessidade prioritária para não perdermos milhares de brasileiros vítimas da pobreza extrema, e demais condições de desigualdade.

Acompanhamos diariamente pelos meios de comunicação, a situação de várias pessoas passando por dificuldades, no que se refere à alimentação, saúde, moradia etc. Geralmente estas notícias mostram as reações deste povo sofrido, ou seja, roubando para se alimentar, invade prédios públicos a fim de terem um teto sobre suas cabeças, reagindo assim ao descaso.

Os cursos de formação não podem permanecer alheios a todas estas situações, para tanto é preciso preparar profissionais qualificados, efetivando a pedagogia social enquanto área de conhecimento capaz de intervir a nível educativo diante deste contexto.

3 A INSERÇÃO DA PEDAGOGIA SOCIAL NAS POLÍTICAS PÚBLICAS

Neste momento, acadêmico(a), iremos concentrar nossas reflexões acerca da importância do pedagogo social nas diversas políticas públicas. Seu campo de atuação é vasto e desafiador, pois há muito a ser construído, desmistificado e solidificado. Para que possamos trabalhar a realidade, é preciso resgatar a história para compreendermos como chegamos a atual conjuntura social.

Neto (2011) faz um breve resgate sobre a construção das práticas sociais que permeavam até poucos anos atrás, salientando que na realidade brasileira do século passado, em específico na década de oitenta e início dos anos noventa, a sociedade conquistou um reordenamento jurídico que contribuiu para a construção de uma cultura de direitos.

Porém as legislações anteriores a este período encontravam-se fundamentadas na doutrina da situação irregular, que objetivava legitimar a ação judicial privilegiando a institucionalização do indivíduo. Os programas e políticas sociais, que mantinham esta fundamentação, caminharam para o fracasso, pois baseavam suas ações na ressocialização dos menores supostamente abandonados e nos chamados delinquentes (neste meio estavam jovens e adultos) ao confinamento em instituições, sendo que estes eram vítimas do descrédito da sociedade.

De acordo com Neto (2011, p. 233-234):

As instituições, as autoridades e os violadores de direitos aparecem como bondosos e virtuosos, e, no caso dos supostamente abandonados e delinquentes, o juiz aparece como um pai bondoso, que corrige os desvios e as injustiças. Este fato ajudou a fortalecer as ciências

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sociojurídicas, em detrimento das ciências educacionais. No Brasil, o desenho da doutrina de situação irregular está na Constituição de 1969 e, principalmente do Código de Menor, Lei Federal 6.697, de 1º de outubro de 1979. [...] A tônica dessa legislação era responder, com a institucionalização, à complexidade da questão do menor, responsabilizando-o, de alguma forma, por sua sina e classificado pelos rótulos de marginal, trombadinha, delinquente, abandonado, desviado. O escopo pedagógico do Código de Menor era mais punitivo do que educativo e não visava à melhoria de condições de vida.

Neste contexto, as instituições responsabilizavam-se pela reabilitação do menor desprovido de condições econômicas familiares, atestando a família como incapaz de sustentar, financeira e emocionalmente esta criança ou adolescente.

É preciso refletir sobre isso, caro(a) acadêmico(a), pois existem ricos se houver pobres; assim a criança ou adolescente ao ser encontrado em uma situação desviante dos princípios legais, por exemplo, furtando um objeto, não deixa de ser criança ou adolescente, naquele instante o mesmo encontra-se fora do contexto considerado correto pela maioria da sociedade e diante do fato passa a ser julgado de forma integral, desvalorizando a atual condição em que vive.

Neto (2011) nos coloca que a criança ou adolescente em situação de desigualdade social, classificados como carentes, abandonados ou delinquentes por ocuparem uma condição social desfavorecida, não são o que são, apenas por um fato de vontade pessoal, mas por estarem num lugar já marginalizado aos olhos da sociedade.

Os anos 90 trazem um reordenamento político, fundado na Constituição Federal de 1988 e no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), passando as crianças e adolescentes como sujeitos de direitos e em desenvolvimento, conferindo a eles prioridade absoluta na destinação de recursos públicos e na formação de políticas de atendimento e assistência.

A filosofia que sustenta o ECA, conforme Neto (2011), busca fortalecer a convivência familiar e comunitária, do reconhecimento do protagonismo na ruptura das práticas de confinamento e de desvalorização do saber adquirido e construído; considerando que as violações de direitos, os conflitos com a lei e as práticas desviantes não são hereditárias, mas socioculturais.

Assim, a pedagogia social busca encontrar as razões que conduzem determinadas crianças e adolescentes a transformarem em vantagens suas fragilidades do cotidiano, por meio de momentos de acolhimento e encaminhamento a outros setores que possam conduzi-lo a um caminho de menor sofrimento.

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FIGURA 74 – OPORTUNIDADES

FONTE: Disponível em: <http://www.mundoleitura.com.br/2013/01/dona-de-casa-faz-campanha-para-ampliar-biblioteca/>. Acesso em: 29 nov. 2013.

Acreditamos que o conteúdo central guia a criança e o adolescente num formato baseado na ética da amizade ou na política da vida, fortalecendo as relações de solidariedade, amizade, justiça e confiança (mediante um cenário de tragédia), promovendo a subjetividade, ou seja, reformulando a constituição deste sujeito.

Neto (2011, p. 237) aprofunda esta colocação focando na formação deste sujeito, quando nos leva a acreditar que:

[...] é possível observar que a formação da subjetividade lança raízes no entrelaçamento de diferentes acontecimentos ou territórios da dinâmica da cidade e das relações cotidianas e culturais. Neste sentido, concebemos o sujeito como aquele que é capaz de conduzir uma reação que altera os padrões sociais; que busca resistir e encontrar linhas de fuga, ou ainda, que consegue responder a uma realidade social e cultural cotidiana em mudança. A pessoa humana necessita da garantia dos direitos sociais, bem como de relações humanas saudáveis, fundadas na experiência do amor, amizade e da ética.

Faz-se necessário propor a construção de uma rede de proteção pedagógica, objetivando a este sujeito uma alternativa de conquista na formulação de um espaço propício à cidadania, permitindo-lhe um lugar de protagonista, ou seja, responsabilizando-o por sua formação e tornando-o apto a interferir na cultura que o cerca, utilizando-se de instrumentos pedagógicos.

A pedagogia social, de acordo com Neto (2011), pautada na política da vida, tende a desenvolver laços humanos saudáveis objetivando que o indivíduo, desde criança, perceba que a felicidade do outro também é a sua.

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O Estatuto da Criança e do Adolescente é um instrumento ativo neste cenário, escrito por várias mãos e pensado por diversos segmentos que visam envolver o maior número possível de pessoas nesta reflexão.

Esta conquista da sociedade evoca legalmente

[...] com a promulgação da Constituição de 1988, um reordenamento jurídico que preconiza que a criança e o adolescente são sujeitos de direitos. A partir da constituição, as leis orgânicas, como as da assistência, da Educação, da saúde e o ECA, oferecem condições jurídicas para a passagem do mal ao bem-estar social. É preciso construir outra Pedagogia, que respeite os direitos da criança e do adolescente e um ordenamento jurídico que possa oferecer bases para garantir outra qualidade de vida, por meio da Educação. Do lazer, da proteção, da garantia de liberdade e da convivência familiar e comunitária. (NETO, 2011, p. 243).

Ao tratarmos da convivência familiar e comunitária como um dos focos da atuação do pedagogo social, um projeto atual vem sendo instaurado em várias cidades brasileiras. O Centro de Referência da Assistência Social (CRAS), cujo objetivo está centrando em proporcionar este espaço fundamentado no fortalecimento do vínculo familiar.

FIGURA 75 – CENTRO DE REFERÊNCIA EM ASSISTÊNCIA SOCIAL

FONTE: Disponível em: <http://crasseara.blogspot.com.br/>. Acesso em: 29 nov. 2013.

Conforme o Ministério do Desenvolvimento Social (2012, p. 1),

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O CRAS é uma unidade pública estatal localizada em áreas com maiores índices de vulnerabilidade e risco social, destinada ao atendimento socioassistencial de famílias. O CRAS é o principal equipamento de desenvolvimento dos serviços socioassistenciais da Proteção Social Básica. Constitui espaço de concretização dos direitos socioassistenciais nos territórios, materializando a política de assistência social.

Este lugar é destinado a promover o primeiro acesso das famílias a serviços socioassistenciais e à proteção social, proporcionando aos seus usuários acesso às políticas de proteção básica; esta estrutura conta com localização própria que garante um espaço físico compatível aos trabalhos sociais desenvolvidos neste território. Suas ações são destinadas a famílias referenciadas que habitam neste território considerado vulnerável.

O MDS (2012, p. 1) preconiza como funções destinadas ao CRAS:

• Prestar serviços continuados de Proteção Social Básica de Assistência Social para famílias, seus membros e indivíduos em situação de vulnerabilidade social, por meio do PAIF tais como: acolhimento, acompanhamento em serviços socioeducativos e de convivência ou por ações socioassistenciais, encaminhamentos para a rede de proteção social existente no lugar onde vivem e para os demais serviços das outras políticas sociais, orientação e apoio na garantia dos seus direitos de cidadania e de convivência familiar e comunitária; • Articular e fortalece a rede de Proteção Social Básica local; • Prevenir as situações de risco no território onde vivem famílias em situação de vulnerabilidade social apoiando famílias e indivíduos em suas demandas sociais, inserindo-os na rede de proteção social e promover os meios necessários para que fortaleçam seus vínculos familiares e comunitários e acessem seus direitos de cidadania.

A existência do CRAS está diretamente vinculada ao Programa de Atenção Integral à Família (PAIF), sendo esta a condição primordial para o seu funcionamento, tendo em vista, que cabe ao poder público oferecer condições de trabalho social com as famílias que abrangem aquele território.

O MDS (2012) destaca que o CRAS deve necessariamente oferecer este programa, porém não será o único, ou seja, outros serviços de assistência, programas e projetos podem ser vinculados a este espaço, desde que não prejudiquem os serviços oferecidos.

A multidisciplinaridade faz parte da constituição da equipe que atuará neste local, sendo que o pedagogo também faz parte, contribuindo com seus saberes e projetos. A equipe de trabalho é formada por: assistente social, psicólogo, pedagogo, auxiliar administrativo e auxiliar de serviços gerais.

Diante disto, acadêmico(a), a Pedagogia Social é uma modalidade que necessita avançar neste espaço e tornar-se conhecida, devendo ser abraçada como um desafio à construção de uma sociedade mais justa e igualitária.

Se você acredita nisso, abrace fortemente esta causa!

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Neste tópico, você estudou:

• As origens da pedagogia social e os trabalhos realizados em alguns países.

• O foco da pedagogia social em disponibilizar atendimentos a crianças, adolescentes e adultos em situação de fragilidade social.

• A inserção do pedagogo nas políticas públicas de atendimento como o Centro de Referência em Assistência Social (CRAS).

RESUMO DO TÓPICO 1

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Acadêmico(a)! Agora que você já concluiu os estudos referentes a este tópico, responda às questões a seguir:

1 Diante do conteúdo exposto, que trabalhos você buscaria desenvolver como pedagogo social?

2 O Centro de Referência em Assistência Social (CRAS) é um projeto que visa atender às famílias que se encontram em situação de fragilidade. Diante do que vimos sobre o CRAS, assinale V para as alternativas verdadeiras e F para as falsas:

( ) Tem por finalidade apenas orientar as famílias.( ) Pouco trabalha na prevenção de situações de risco na comunidade.( ) A condição para o funcionamento do CRAS é estar vinculado ao PAIF.( ) A equipe atuante no CRAS é multidisciplinar.

( ) F – F – V – V.( ) F – V – V – F.( ) V – V – F – F.( ) V – V – V – F.

AUTOATIVIDADE

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TÓPICO 2

PEDAGOGIA HOSPITALAR: O ENSINAR

EM UM AMBIENTE DE FRAGILIDADE

UNIDADE 3

1 INTRODUÇÃOAcadêmico(a)! Neste momento de seus estudos, você conhecerá mais

sobre a pedagogia hospitalar. Uma modalidade pouco colocada em prática, porém um direito das crianças e adolescentes que estão impossibilitadas de frequentar a escola regular, necessitando de uma atenção especial. Você também compreenderá a importância da conscientização dos pais sobre esta garantia (a de aprender mesmo que seu filho esteja hospitalizado ou impossibilitado de ir à escola) e os instrumentos necessários (como a brinquedoteca hospitalar), para que a criança possa aprender mediante condições tão frágeis.

2 A CRIANÇA HOSPITALIZADAPara os adultos o processo de hospitalização gera ansiedade e medo em

relação ao desconhecido, principalmente por originar-se de um momento de fragilidade, mesmo estando na maioria das vezes, conscientes e aptos de tomarem a decisões referentes à internação.

Para a criança o fato de estar em um hospital, ou seja, fora de casa, da escola e do convívio com os familiares e amigos torna-se ainda mais doloroso, pois os pequenos pouco entendem o motivo de estarem em um lugar tão grande e com tantas pessoas desconhecidas

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FIGURA 76 – CRIANÇA HOSPITALIZADA

FONTE: Disponível em: <http://crisete.bebeblog.com.br/21342/CRIANCA-HOSPITALIZADA-NECESSITA-Manual-de-Orientacao-aos-Pais/>. Acesso em: 21 nov. 2013.

Sendo assim, as reações das crianças em relação à doença e hospitalização dependem do nível de desenvolvimento cognitivo e psíquico na ocasião da internação, a intensidade do apoio familiar, a patologia e o vínculo que o médico, juntamente com a equipe de enfermagem, procuram estabelecer com a criança.

Baldini (1999, p.182) relaciona algumas reações das crianças à internação hospitalar, conforme a faixa etária:

Dos quatro meses aos dois anos de vida a separação da mãe estimula protesto, aflição e desespero. São essenciais as visitas frequentes ou rooming-in. Deve-se respeitar o vínculo mãe-filho.Dos dois aos cinco anos as preocupações acerca da separação ainda são muito importantes, mas aumenta o medo ao dano corporal, havendo uma sensibilidade aumentada e especial à dor, feridas, sangue e aos procedimentos médicos e de enfermagem. A presença do pensamento mágico, de uma vida de fantasia florida e de pesadelos tornam essenciais a informação e a preparação.Dos cinco aos sete anos são evidentes as preocupações acerca da morte, desaparecimento, pessoas que não voltam, ou temor de se perder para sempre desenvolve-se uma vigilância especial por seu destino, de seus entes queridos e de outros pacientes.Dos sete aos nove anos preocupa-se em perder seu lugar na enfermaria, em ficar inválido para sempre, longe de casa, amigos e medo de ser abandonado.Dos nove aos dez anos mostra preocupação própria da idade escolar acerca da capacidade intelectual, social e física (ficar para trás na competição com os colegas.Dos onze aos treze anos apresenta preocupação pré-puberal acerca das funções corporais, dos produtos orgânicos, da exposição do corpo frente ao pessoal da equipe hospitalar e aos demais pacientes e acerca

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da futura humilhação com amigos.Dos treze aos dezoito anos preocupações acerca da incapacidade, dor e desgraça ainda estão presentes.

Conhecer essas reações das crianças e adolescentes, em relação à internação, possibilita ao pedagogo hospitalar uma ação compreensiva para com a conduta adotada com a criança. Baldini (1999) destaca outros sintomas e comportamentos relativos à internação como:

• Sintomas psicofísicos: mal-estar, dores, irritabilidade, distúrbios do apetite, sono e estresse.

• Comportamentos regressivos: reativação da ansiedade de separação, sucção do polegar, fala infantilizada, enurese e encoprese.

UNI

Enurese: é o termo médico utilizado para definir a emissão involuntária de urina, a maior parte das vezes noturna e que ocorre com maior frequência em crianças. Normalmente sua causa é de ordem psicológica.Disponível em: <http://www.dicionarioinformal.com.br/enurese/>. Acesso em: 21 nov. 2013.

Encoprese: é definida como repetidas evacuações, voluntárias ou não, de fezes nas roupas, resultantes de fatores emocionais ou fisiológicos.Disponível em: <http://www.infoescola.com/doencas/encoprese/>. Acesso em: 21 nov. 2013.

Outros sintomas podem fazer do processo de internação, fantasias assustadoras acerca da doença e do tratamento, sendo elas: ansiedade, desesperança, insegurança, negação, fobia, hipocondria e alucinação.

UNI

Alucinações são distúrbios da sensopercepção que consistem na percepção de objetos inexistentes, acompanhados da convicção inabalável da existência dos mesmos. As alucinações guardam as mesmas características das percepções verdadeiras:• Constância: o objeto percebido mantém sua forma invariável.• Contornos nítidos: os objetos aparecem com bordas nítidas.• Exterioridade: os objetos são percebidos como exteriores ao indivíduo.• Corporeidade: o objeto aparece em três dimensões e não como projetado sobre uma superfície.• Opacidade: o objeto “encobre” aquilo a que se sobrepõe.

Disponívelem:<http://www.abc.med.br/p/psicologia..47.psiquiatria/355369/alucinacoes +o+que+sao+quais+os+tipos.htm>. Acesso em: 21 nov. 2013.

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Diante de uma manifestação alucinatória, é importante não confrontar a criança com falas do tipo “isso não é nada”, “é só sua imaginação”, entre outras frases do senso comum. O pedagogo hospitalar deve tranquilizar a criança, com manifestações de proteção e aceitação perante o estado que se manifesta naquele momento.

FIGURA 77 – ALUCINAÇÃO

FONTE: Disponível em: <http://mundocuriosomg.blogspot.com.br/2011/04/alucinacao-chave-de-muitos-misterios.html>. Acesso em: 21 nov. 2013.

Acadêmico(a)! Ao receber uma criança, é necessário que o pedagogo hospitalar tenha claro qual é o diagnóstico e o prognóstico dela, para que possa planejar as atividades que irá desenvolver. Para sua melhor compreensão vamos esclarecer o significado de diagnóstico e prognóstico, dois termos técnicos muito utilizados no ambiente hospitalar. Acompanhe:

Diagnóstico consiste em uma resposta médica aos sintomas apresentados pelo paciente, tendo por base exames clínicos e laboratoriais, objetivando verificar qual doença está se manifestando.

Prognóstico refere-se ao conhecimento sobre o curso provável da doença baseado pelo diagnóstico.

A compreensão, mesmo que de modo superficial, da doença manifestada pela criança no ato da internação é de suma importância, não só para o planejamento pedagógico a ser adotado, mas também pelo conhecimento das fragilidades geradas pelo diagnóstico. As informações obtidas sobre a doença auxiliarão o pedagogo hospitalar, principalmente na escolha dos brinquedos

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FIGURA 78 – INTERAÇÃO ENTRE PEDAGOGO E CRIANÇA

FONTE: Disponível em: <http://www.unochapeco.edu.br/en/pedagogia/noticias/pezinho-na-uno-promove-brincadeiras-e-novidades>. Acesso em: 21 nov. 2013.

Ao utilizar os brinquedos, o pedagogo hospitalar permite à criança expressar seus sentimentos, por meio dos personagens da brincadeira, sendo recomendado utilizá-los em situações estressantes. Conforme Baldini (1999) o brinquedo possibilita:

a) A compreensão por parte do profissional sobre as necessidades e sentimentos manifestados pela criança.

b) A assimilação da criança novas situações e a entendimento do que se passa ao seu redor.

c) O desenvolvimento da autoconfiança.d) O domínio do seu corpo, bem como de suas funções corporais e a ampliação de

seu comportamento social e funções e das intelectuais.e) Comunicar à criança informações e aceitação de seus sentimentos.f) Preparar a criança para as novas experiências que irá enfrentar.g) Detectar adversidades como violência física, psicológica ou abuso sexual.

Ao detectar algum indício de qualquer violência, o pedagogo deve comunicar a outro profissional, em especial ao psicólogo, para que ambos avaliem a situação conjuntamente, a fim de que sejam evitadas conclusões precipitadas.

3 A PEDAGOGIA HOSPITALARO hospital configura-se um ambiente importante para a aprendizagem

de todo, porém percebemos que os pais e professorem procuram poupar as crianças da dor, das experiências de sofrimento e do contato com colegas doentes da mesma idade. É importante dizer que o hospital, em parceria com a escola,

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UNIDADE 3 | PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES

proporciona um espaço de aprendizagem formal e informal, não apenas para as crianças doentes, mas abrangendo também a comunidade escolar.

De uma forma específica, a educação hospitalar, formal e informal, busca empenhar-se no desenvolvimento de um ambiente de acolhimento e comunicação, favorecendo a confiança e a colaboração de todas as partes envolvidas.

Atualmente com os avanços tecnológicos na área de comunicação, a internet é um instrumento importante, no que tange à interação e a troca entre crianças de vários hospitais e escolas, bem como entre professores e alunos.

Este movimento não é um fato recente, conforme Paula (1999, p. 28), esta modalidade educacional, no Brasil, originou-se em meados dos anos de 1950, com a primeira Classe Hospitalar no Hospital Jesus, no Rio de Janeiro, porém só foi reconhecida em 1994, pelo Ministério da Educação e Desporto (MEC), através da Política da Educação Especial.

Porém, o que deve ficar claro e precisamos compreender que o atendimento pedagógico-educacional não é uma opção do hospital, é um direito da criança amparado por legislação específica.

A Constituição Federal de 1988, no Título VIII – Da Ordem Social, Capítulo III – Da Educação, da Cultura e do Desporto, Seção I, prescreve em seu artigo 25 que: “a educação é direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”.

Behrens (2011) nos apresenta a fundamentação deste direito, conforme as Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Lei nº 9.394/96, que determina a educação como direito de todos, destacando o Título II – Dos Princípios e Fins da Educação Nacional, sendo:

Art. 2° A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.Art. 3° O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:I – igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;II – liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber;III – pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas.

Acadêmico(a)! Outras diretrizes legais amparam a criança hospitalizada quanto ao seu direito de aprender orientado por um profissional específico para este fim. Porém rever a legislação não é nosso objetivo. Fique à vontade para ir em busca de mais informações.

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As classes hospitalares também são um direito da criança, mas Behrens (2011, p. 24-25) nos coloca que

[...] as classes hospitalares têm recebido críticas, pois aparenta uma situação paralela à escolarização nesta modalidade, mas, na realidade, trata-se da escola propriamente dita no hospital. Para tanto, exige matrícula regular dos alunos e alunas em suas respectivas séries de ensino e o encaminhamento da Secretaria Municipal ou Estadual de Educação de avaliações para que os alunos ou alunas possam lograr avanço em seus estudos.

Diante disso, é preciso esclarecer que após o período de internação a criança precisa dar continuidade aos seus estudos, mesmo que tal requeira o atendimento pedagógico domiciliar, objetivando garantir sua reintegração na escola regular de origem, visando que ela possa acompanhar a classe em que estuda.

FIGURA 79 – CLASSE HOSPITALAR

FONTE: Disponível em: <http://www.rio.rj.gov.br/web/guest/exibeconteudo?article-id=2346269>. Acesso em: 26 nov. 2013.

4 A ATUAÇÃO DO PEDAGOGO HOSPITALAR: POSSIBILIDADES E DESAFIOS

O hospital é um ambiente complexo e contínuo, ou seja, não fecha para feriados, fim de semana ou datas festivas, permanece em funcionamento durante 24 horas. Os profissionais que atuam no local, além da rotina cansativa e desgastante, necessitam de um preparo emocional para lidar com as questões que se fazem presentes. Seus setores comportam pessoas fragilizadas que requerem atenção e cuidados, dos quadros clínicos, mais simples como gripes e viroses aos que necessitam de cuidados mais intensivos.

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Para o pedagogo o hospital não é um local usual de trabalho, portanto, como bem coloca Silva e Farenzena (2011) tanto o profissional como a instituição necessitam de um período de adaptação e reconhecimento para o engendramento das trocas possíveis. Mesmo que o pedagogo hospitalar tenha uma sala específica para o atendimento, o espaço difere em muito daquele que os pedagogos estão habituados, ou seja, as salas de aula.

A função do pedagogo hospitalar não é a de proporcionar entretenimento às crianças internadas, mas ir além. Silva e Farenzena (2011, p. 114) definem o atuar do pedagogo hospitalar ao destacarem que o atendimento às crianças hospitalizadas consiste em um contexto lúdico capaz de:

[...] através de um contexto lúdico, mobilizar os recursos delas e de seus familiares, para o melhor enfretamento da situação adversa, [...]. Afinal, em tal contexto não se fazem suficientes conhecimentos sobre o desenvolvimento infantil. É preciso ir além, lançando mão aos saberes pedagógicos que nos permitem não só uma escuta atenta de cada criança, de cada família, mas uma capacidade de planejamento, execução e avaliação de um projeto educativo no contexto do hospital.

Para o desenvolvimento de um trabalho que supra as necessidades latentes deste local, além dos instrumentos específicos utilizados pelo pedagogo hospitalar, elos de cumplicidade e troca precisam ser firmados, sempre objetivando a recuperação da criança.

FIGURA 80 – VÍNCULO PEDAGOGO CRIANÇA

FONTE: Disponível em: <http://www.fiocruz.br/portaliff/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=293&sid=74>. Acesso em: 26 nov. 2013.

Parcerias precisam ser firmadas em busca deste objetivo, pois a criança é única, mas por trás dela outras muitas outras pessoas estão envolvidas neste processo: familiares, médicos, equipe de enfermagem, nutricionista, psicólogo, áreas de prestação de serviços gerais (cozinheiras, copeiras, lavadeiras, marceneiros), entre outros.

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O hospital é um espaço marcado pela diversidade, e neste sentido é sendo importante para a execução e manutenção de um bom trabalho firmar vínculos afetivos e profissionais, por meio do acolhimento, da inclusão e da efetivação da marca educativa.

Para Silva e Farenzena (2011 p. 115) “o educar se constitui no processo em que a criança ou o adulto convive com o outro e, nesse convívio, se transforma espontaneamente, de maneira que seu modo de viver se faz progressivamente mais congruente com o do outro no espaço de convivência”.

Este processo proporciona uma transformação estrutural e gradativa a partir do convívio e da familiarização com as pessoas que por lá circulam, tendo por resultado o aprender a conviver com o outro e com a comunidade que o cerca.

A palavra “rotina” faz pouco sentido quando nos remetemos a falar do hospital, pois o imprevisível e inusitado circulam diariamente pelo local. O pedagogo hospitalar pode ser requisitado a atender em diversos setores como: enfermarias, quartos, CTI (Centro de Tratamento Intensivo), oncologia e emergência.

Nestes setores cabe ao pedagogo hospitalar garantir à criança hospitalizada, conforme Silva e Farenzena (2011) o vínculo ao universo infantil, reconhecendo esta condição como um direito social, identificando contextos percorridos por cada paciente, intervindo pedagogicamente de forma ativa, sendo este, resultado de uma sólida formação.

Ao atuar no hospital, precisamos compreender que as reações tanto da criança quanto dos familiares são as mais diversas diante da doença manifestada, considerando que em muitos casos os cuidados e os esforços efetivados pela equipe nem sempre surtem os efeitos desejados.

Estabelecer uma posição ativa de intervenção e mediação exige que o pedagogo hospitalar esteja preparado para se deparar com sentimentos de angústia, raiva, frustração, dor e luto. Para tanto, é preciso assegurar que a equipe esteja integrada, afinada e apta para que a proposta pedagógica se mantenha firme e atuante.

Diante disso, Silva e Farenzena (2011) ressaltam que o pedagogo atuante no ambiente hospitalar necessita facilitar as condições para que a criança hospitalizada se mantenha ativa e se assuma como protagonista da própria história, proporcionando uma abertura real que reforce a recuperação ou um melhor desenvolvimento dos esforços de saúde.

Infelizmente, esta garantia é desconhecida por muitas instâncias educativas e sociais. Ao pedagogo hospitalar cabe, através de suas ações, estabelecer uma ligação entre os familiares responsáveis pelas crianças e escolas. Quando necessário, será preciso exercer uma tarefa educativa a partir dos materiais e

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orientações enviados pelos professores. Porém, devido à não existência dessa possibilidade é comum que a criança permaneça totalmente afastada da escola enquanto estiver doente.

A escola pode e deve manter contato com o pequeno paciente, sendo que este pode se manifestar conforme Silva e Farenzena (2011) por meio de bilhetes, cartazes, mensagens e objetos, e também pela visita de professores e colegas de classe, visando fazer com que a criança vivencie momentos de alegria, melhora da autoestima, aumento da confiança e fortalecimento dos vínculos afetivos.

Da mesma forma que tais ações são consideradas benéficas, é preciso preparar tanto a criança hospitalizada quanto os colegas que vão visitá-la, orientando-os, de forma simples, por meio de uma linguagem de fácil entendimento sobre o que vão encontrar, as condições do colega hospitalizado e as possíveis reações como manifestação de emoção, negação ou intensa alegria, pois o mesmo processo que visa saúde pode gerar reações de dor e impotência.

Para tanto sugerimos que, quando o quadro clínico da criança oferecer condições, se receba as visitas na brinquedoteca hospitalar no intuito de amenizar os impactos da hospitalização, e oferecer ao pequeno e seus visitantes momentos ricos em descontração, e que será de grande valia para o pedagogo hospitalar no que condiz a observação dos vínculos estabelecidos por eles.

Silva e Farenzena (2011, p. 123) referem-se ao brincar como

[...] um potente desbloqueador de vias por onde transita a criança, munindo-a de ferramentas internas para lidar com sua doença, de uma maneira que não seja exclusivamente através do sofrimento. Recuperação acelerada, redução de permanência no hospital e no custo da hospitalização são alguns dos resultados derivados dessa possibilidade de ser e conviver num hospital cuja identidade está fundada nos objetivos e saúde e educação.

Este período de hospitalização, partindo de um contexto lúdico, pode ser vivenciado através de um processo educativo e de humanização, oferecendo condições para que ela desenvolva ações criativas diante de sua doença e da situação adversa, tais como: 1) mobilizando as fantasias e representações, 2) utilizando-se das brincadeiras para manifestar e manter suas ligações com o saber, 3) expressando suas angústias e 4) expandindo suas estruturas humanas.

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FIGURA 81 – MOMENTOS CRIATIVOS

FONTE: Disponível em: <http://infopediespes.blogspot.com.br/2011/04/pedagogia-hospitalar-e-de-extrema.html>. Acesso em: 26 nov. 2013.

Neste ínterim, a ação pedagógica desenvolvida permite dar liberdade para que a criança expresse o que acontece com ela naquele momento, bem como traz subsídios para que quando necessário for, o pedagogo hospitalar acione o atendimento de outras equipes profissionais objetivando atendimento de demanda específica, sendo estes: psicólogo, fonoaudiólogo, fisioterapeuta, assistente social etc., objetivando desenvolver de forma multidisciplinar estratégias conjuntas de atendimento, contribuindo para que o hospital seja visto como uma entidade educativa.

O convívio diário com a possibilidade de vida ou de morte de crianças de diversas idades vai além da manifestação de sentimentos de angústia, lágrimas declaradas ou escondidas; possibilitando reconfigurar à infância, que até pouco tempo não era vista desta forma.

A hospitalização não pode configurar o silenciamento de um protagonismo que se refere à condição de ser da criança enquanto sujeito, deve auxiliar na construção de uma experiência de vida inserido em um espaço planejado e preparado especialmente para buscar, além do restabelecimento da saúde, assegurar e dar qualidade a uma trajetória mais digna e humana.

5 A BRINQUEDOTECACertamente, acadêmico(a)! Nesta etapa do curso, você deve estar

familiarizado com a brinquedoteca, pois durante sua caminhada acadêmica na pedagogia, você utilizou este recurso pedagógico, em sua prática, ao longo dos módulos. Porém, para entendermos a função deste recurso ludopedagógico utilizado pelo pedagogo, inserido no ambiente hospitalar, necessitamos rever alguns conceitos.

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UNIDADE 3 | PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES

Para a criança, o brincar traz satisfação e felicidade, mas o lúdico vai além disso, acompanhe: 1) proporciona a transformação da realidade em algo imaginário; 2) auxilia no desenvolvimento e nas potencialidades; 3) amplia o círculo de amizades; 4) coloca em prática regras; 5) aprende a conviver e 6) compreende a importância de respeitar o direito dos outros.

Para Cunha (2007) quando brinca a criança nutre sua vida interior, descobre sua vocação e busca um sentido para sua vida.

Sabemos que todas as crianças precisam brincar, porém não são todas que têm a oportunidade de colocar em prática esta atividade devido aos seguintes fatores: 1) necessitam trabalhar para auxiliar no sustento da família; 2) precisam estudar e conseguir notas altas; 3) são condicionadas a agirem como adultos em miniatura; 4) não podem atrapalhar os adultos; 5) não têm com o que brincar, entre outros.

Atualmente, a maioria dos adultos vivem em função do tempo e do imediatismo, buscando constantemente chegar mais rápido, seja no trabalho ou em casa, pois estão sempre atrasados, trabalhando cada vez mais e buscando envolvimento com a tecnologia diariamente. Diante desta situação, muitos pais e professores envolvem as crianças nesta rotina frenética, esquecendo que elas necessitam do momento do brincar.

Diante disso, em muitas ocasiões, as crianças fazem uso da imaginação para que suas brincadeiras tenham vida e assim colocam em prática este direito tão fundamental.

Acadêmico(a)! Quando criança você olhou para o céu e imaginou que as nuvens tivessem formato de animais e objetos? Utilize este espaço para relacionar outras brincadeiras que necessitassem apenas da imaginação.________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

A imaginação também é projetada nos objetos, que nas mãos de uma criança ganham vida e significado, sendo denominados de brinquedos. Cunha (2011, p. 12) define que

Os brinquedos são parceiros silenciosos que desafiam a criança possibilitando descobertas e estimulando a auto expressão. É preciso haver tempo para eles, e espaço que assegure o sossego suficiente para que a criança brinque e solte a imaginação, inventando, sem medo de desgostar alguém ou ser punida. Onde possa brincar com seriedade.

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TÓPICO 2 | PEDAGOGIA HOSPITALAR: O ENSINAR EM UM AMBIENTE DE FRAGILIDADE

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Podemos dizer que um ambiente propício para a criança brincar com seriedade é a brinquedoteca, sendo este, conforme Cunha (2011, p. 13),

[...] um espaço onde as crianças (e os adultos) brincam livremente, com todo o estímulo à manifestação de suas potencialidades e necessidades lúdicas. Muitos brinquedos, jogos variados e diversos materiais permitem expressão da criatividade, mas a brinquedoteca pode existir também sem brinquedos, desde que outros estímulos às atividades lúdicas sejam proporcionados.

Diante do exposto pela autora, perceba acadêmico(a) que o brincar engloba além de objetos a serem manipulados, a função do imaginar e interagir colocado em ação. Pense o quão interessante e divertido seria uma brinquedoteca só com atividades lúdicas imaginárias, com brincadeiras como pique-esconde, pega-pega e teatro? Fica a dica!

FIGURA 82 – BRINQUEDOTECA

FONTE: Disponível em: <http://assimeugosto.com/tag/brinquedoteca/>. Acesso em: 26 nov. 2013.

Cunha (2007) nos traz que na Europa existem milhares de toy libraries – biblioteca de brinquedos, cujo método de funcionamento consiste no empréstimo de brinquedos para as crianças levarem às suas casas. Já na Suécia, as Lekoteks direcionam o atendimento às crianças com necessidades especiais e orientam as famílias a brincar com elas, objetivando a estimulação. Já na Itália, França, Suíça e Bélgica as ludotecas, além de emprestarem os brinquedos, recebem a visita das crianças.

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UNIDADE 3 | PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES

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Acadêmico(a)! Você sabia? Que existe uma associação internacional de brinquedotecas, na qual o Brasil é membro juntamente com muitos outros países? E que em 1984 foi fundada a Associação Brasileira de Brinquedotecas? Para saber mais acesse o site: <http://brinquedoteca.net.br/>.

No Brasil, a brinquedoteca apresenta uma característica peculiar, enquanto as demais, espalhadas pelo mundo, concentram-se em proporcionar o empréstimo de brinquedos às crianças, a nossa brinquedoteca tem por objetivo o brincar, propriamente dito.

E por falar em brincar, acadêmico(a), você lembra quais são os objetivos da brinquedoteca para as crianças? Vamos relembrar, a partir do que Cunha (2007, p. 15) nos coloca:

1) Proporcionar um espaço onde a criança possa brincar tranquila, sem cobranças e onde sinta que não atrapalha ou perde tempo;2) Estimular o desenvolvimento de uma vida interior rica e a capacidade de concentrar a atenção;3) Estimular a operatividade das crianças;4) Favorecer o equilíbrio emocional;5) Dar oportunidade a à expansão de potencialidades;6) Desenvolver a inteligência, a criatividade e a sociabilidade;7) Proporcionar acesso a um número maior de brinquedos, de experiências e de descobertas;8) Dar oportunidade para que a criança aprenda a jogar e participar;9) Incentivar a valorização do brinquedo como atividade geradora de desenvolvimento intelectual, social e emocional;10) Enriquecer o relacionamento entre as crianças e suas famílias;11) Valorizar os sentimentos afetivos e cultivar a sensibilidade.E, obviamente, proporcionar aprendizagem, aquisição de conhecimentos e desenvolvimento de habilidades, de forma natural e agradável.

A brinquedoteca é para as crianças, e porque não dizer também para aos adultos, um espaço de construção do conhecimento em que se desenvolve habilidades de forma prazerosa, sendo um ambiente de criatividade, afeto e apreciação da infância.

O espaço da brinquedoteca deve ser aconchegante e estimulante, proporcionando aos seus frequentadores que se sintam livres para deixar a imaginação fluir. Um profissional que deve fazer presente neste espaço é o brinquedista, considerado por Cunha (2011) um parceiro de aventura, que tem por função descobrir as necessidades e subsidiar as manifestações das potencialidades da criança.

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FIGURA 83 – BRINQUEDOTECA

FONTE: Disponível em: <http://www.feati.com.br/interna.php?pg=brinquedoteca.php>. Acesso em: 26 nov. 2013.

Vários são os espaços que compõem a brinquedoteca chamados de cantos, sendo do brinquedista a função de organizá-los, Cunha (2007) os expõe da seguinte forma:

• Canto do faz-de-conta: constituído de mobílias infantis como: dormitório com berço, cama, guarda roupas, roupas de boneca, bonecas, cozinha, fantasias etc.

• Canto da leitura: deve ser um lugar com tapete e almofadas, neste espaço os livros são manuseados como brinquedos, ou seja, sem a seriedade com que seriam usados em uma biblioteca.

• Canto das invenções: o objetivo deste espaço é o de fazer com que a criança invente coisas, fazendo uso de jogos de construção ou com material de sucata.

• Sucatoteca: neste espaço são guardados todos aqueles objetos que podem servir para fazer coisas diferentes, sendo materiais descartados lavados e classificados, que devem ser agrupados em caixas de plástico ou papelão com etiqueta que identifiquem seu conteúdo.

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FIGURA 84 – SUCATOTECA

FONTE: Disponível em: <http://emrochapombo.blogspot.com.br/2012_04_01_archive.html>. Acesso em: 26 nov. 2013.

• Teatro: para poderem criar histórias e manusear fantoches.• Mesa de atividades: em torno da qual poderão reunir-se para jogar ou para

fazer qualquer trabalho coletivo.• Estantes com brinquedos: para serem manuseados livremente, sugerindo

diferentes formas de brincar.• Oficina: de construção de brinquedos e de restauração dos que estão quebrados.• Acervo: local equipado com estantes contendo jogos e quebra-cabeças

guardados, mas que estão à disposição das crianças.

É importante salientar que os adultos visitantes também necessitam de um espaço, que não seja o mesmo das crianças, pois a presença de adultos no ambiente (que não seja a do brinquedista) poderá inibir o processo de criatividade das mesmas.

O brincar deve ser observado constantemente, não de forma única, mas nas diferentes formas de explorar e interagir com o mundo e o com outro. Conheça as várias formas de brincar, de acordo com Cunha (2007):

Explorar, descobrir, xeretar e manipular: quando pequenos passamos a conhecer o que nos rodeava a partir do que exploramos. As atividades exploratórias são extremamente importantes para o processo de construção do conhecimento da criança. Ao manipular objetos ela experimenta o mundo ao seu redor pelo prazer de descobrir satisfazendo assim, a sua curiosidade de conhecer. As crianças pequenas necessitam manipular os objetos, ou seja, mexem em tudo e adoram jogar as coisas no chão, por este motivo precisamos oferecer objetos que possam ser manipulados com segurança e ensinar-lhes que tão divertido quanto tirar das caixas ou jogar no chão é guardar os objetos novamente.

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Brincar sozinho: esta modalidade de brincadeira é importante para a criança devido à possibilidade que ela tem de mergulhar na própria fantasia e alimentar a sua vida interior. Quanto mais profundo for este mergulho mais, a criança estará exercitando a capacidade de focar a atenção, inventar e, principalmente, permanecer concentrada na atividade. Este momento precisa ser respeitado, pois nele são cultivadas qualidades importantes para a formação de hábitos que irão fluir na qualidade do seu futuro.

FIGURA 85 – BRINCAR SOZINHO

FONTE: Disponível em:<http://paposozinha.blogspot.com.br/2012_09_01_archive.html>. Acesso em: 26 nov. 2013.

Brincar de faz de conta: a criança traduz o mundo dos adultos neste estilo de brincadeira, sendo que, às vezes o faz de conta não imita a realidade mas, é um meio de sair dela assumindo um novo estado. Na existência de uma determinada situação, a imaginação é desafiada a buscar soluções para os problemas criados pela vivência dos papéis assumidos.

FIGURA 86 – BRINCAR DE FAZ DE CONTA

FONTE: Disponível em: <http://crechecarmen.blogspot.com.br/2013/09/pre-escola-no-mundo-do-faz-de-conta.html>. Acesso em: 26 nov. 2013.

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Brincar com outras pessoas: brincar com o outro é proporcionar à criança estímulo colocando-a apta para receber críticas, que são importantes para a socialização. Mesmo que a criança não saiba brincar com outra, mas esteja ao lado a lado, cada um com sua brincadeira, começará a ter vontade de participar. Este processo inicia nos primeiros meses de vida, na interação dos pais com o bebê. Com o avançar do desenvolvimento cronológico e cognitivo, o brincar com outras pessoas auxilia no aprendizado e na vivência das regras sociais, no respeito às regras, no cumprimento das normas, no esperar a sua vez e no interagir de forma organizada.

Brincar em grupo: participar de brincadeiras em grupo é indispensável para a manutenção e ampliação das relações sociais. Nas competições, a vitória depende de todos; o “mais forte” dependerá também do “mais fraco” para conseguir a vitória. Portanto, cabe aos adultos a mediação com as crianças neste aspecto, para que compreendam o sentido da competição.

FIGURA 87 – BRINCAR EM GRUPO

FONTE: Disponível em: <http://educador.brasilescola.com/comportamento/a-importancia-brincar.htm>. Acesso em: 19 nov. 2013.

Brincar correndo, saltando, pulando: uma coisa é certa, as crianças não resistem à oportunidade de saírem correndo pelos corredores, nas praças ou em qualquer lugar que dê o mínimo de chance para que isso aconteça. A atividade física gera entusiasmo e satisfação, além de ser um ótimo estímulo ao desenvolvimento da coordenação motora. Caso o espaço da brinquedoteca seja viável para que as crianças possam participar de atividades mais dinâmicas neste sentido (que envolvem), tal espaço é oportuno para o controle da ansiedade.

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FIGURA 88 – BRINCAR CORRENDO, SALTANDO E PULANDO

FONTE: Disponível em: <http://ruthapinkbarumluna.blogspot.com.br/2011/04/os-parentes-distantes-sao-os-melhores-e.html>. Acesso em: 19 nov. 2013.

Brincar experimentando e desenvolvendo habilidades: encaixar, empilhar, construir, montar quebra-cabeça, entre outros, são atividades que auxiliam na ampliação das habilidades, desde que a criança, ao envolver-se com a atividade, sinta satisfação. Estes jogos que provocam as crianças a reflexão para chegar ao objetivo, as tornam aptas a desempenharem tarefas que por algum motivo não conseguiriam realizar se não estivessem em situação lúdica, livre de cobranças e de obrigatoriedade.

FIGURA 89 – BRINCAR EXPERIMENTANDO E DESENVOLVENDO HABILIDADES

FONTE: Disponível em: <http://inclusaobrasil.blogspot.com.br/2011_01_01_archive.html>. Acesso em: 19 nov. 2013.

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Brincar inventando: para criar é preciso estar motivado, quer seja por um desafio, situação-problema ou vontade de expressar uma emoção. Porém, para que o ato criativo aconteça, é necessário haver confiança na própria capacidade de criar, mesmo que o resultado não seja o esperado, desde que seja aceito pela criança.

FIGURA 90 – BRINCAR INVENTANDO

FONTE: Disponível em: <http://blogdati.com/vamos-brincar-de-cabana-e-de-cavalinho-baudediversoes/>. Acesso em: 19 nov. 2013.

Brincar aprendendo: a curiosidade é uma característica dos seres humanos e também de outras espécies. Quando crianças somos muito curiosos, devido a todos os estímulos que nos são oferecidos. Quando nos tornamos adultos perdemos um pouco da curiosidade ao longo do tempo e devido a esta perda, acabamos transmitindo para as crianças a mensagem de que aprender é obrigatório e sistemático. O processo de construção do conhecimento não deve ser transformado em tarefas desinteressantes que cansem e aborreçam, muito pelo contrário, deve dar-se de forma lúdica e prazerosa. Quando a pré-escola foi transformada em escola, percebemos as crianças de três anos de idade já fazendo exercícios preparatórios para a alfabetização. Assim, o brincar foi substituído pela necessidade de aprender o quanto antes, a escrever, a ler, a falar outros idiomas, a dançar ou praticar judô. Devemos entender que a criança não é um adulto em miniatura, e nem deve crescer atendendo apenas às solicitações dos adultos, pois assim não desenvolverá autonomia, nem senso de responsabilidade.

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FIGURA 91 – BRINCAR APRENDENDO

FONTE: Disponível em: <http://uj.novaprolink.com.br/noticias/667568/brinquedoteca_da_defensoria_publica_em_araguaina_desenvolve_projeto_aprendendo_brincando>. Acesso em: 19 nov. 2013.

Brincar jogando e competindo: para jogar precisa-se de um parceiro, mesmo que seja opositor, pois ambos estabelecem uma relação de cumplicidade diante do objetivo do jogo. Esta relação expõe as potencialidades dos participantes, afeta suas emoções, põe à prova suas aptidões e testa seus limites. A competitividade de uma situação de jogo pode ocasionar sentimentos de oposição causados pela frustração do perdedor ou, até mesmo, pelo estresse de quem teve que lutar muito para conseguir vencer. Neste movimento, há um aspecto positivo importante que é a motivação, que origina o prazer em participar e o desafio existente na possibilidade de vencer.

FIGURA 92 – BRINCAR JOGANDO E COMPETINDO

FONTE: Disponível em: <http://www.fitfutures.com.au/top-nav/fit-kids/soccer-stars.html>. Acesso em: 19 nov. 2013.

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Brincar/trabalhar: é brincando que a criança aprende a gostar de trabalhar, pois estando em atividade, ela descobre o prazer de estar ocupada, operando e envolvendo-se por livre e espontânea vontade. Para que a riqueza deste momento não se perca, o educador deve comportar-se de modo respeitoso e ao mesmo tempo nutrir o interesse manifestado pela criança. O hábito de se ocupar utilizando a criatividade, quando bem cultivado, proporciona satisfação pessoal que com a maturidade, pode transformar-se em predisposição para uma determinada área de trabalho.

FIGURA 93 – BRINCAR/TRABALHAR

FONTE: Disponível em: <http://br.pixersize.com/fotomurais/criancas-brincando-em-profiss-es-46222881>. Acesso em: 19 nov. 2013.

Acadêmico(a)! É importante que, enquanto futuros pedagogos(as), busquemos estar atentos às questões que correspondam às formas de brincar, para que possamos mediar estas atividades conforme se manifestem nas crianças.

A brinquedoteca é um local de muita brincadeira e aprendizagem. Para tanto, precisamos deixar que as crianças manifestem seus desejos, utilizando-os em prol da ampliação das habilidades e no trabalho de conceitos como respeito e solidariedade, princípios fundamentais para a formação do ser humano.

5.1 OS BRINQUEDOS

Podemos dizer que, na mão de uma criança quase tudo vira brinquedo, porém muitos objetos são impróprios, às crianças nas diferentes faixas etárias. Conforme você já deve ter estudado, Jean Piaget é um dos principais estudiosos do comportamento e aprendizagem infantil. A partir dos períodos, determinado por Piaget você conhecerá então, como Cunha (2007) classifica os brinquedos conforme a idade da criança:

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I- Período sensório (0 a 2 anos)

• Primeiro mês: neste período o comportamento do bebê se apresenta através de reflexos.

• Segundo mês: móbiles coloridos; mobiles que se movimentam; móbiles sonoros; móbiles improvisados (por exemplo, com panos coloridos).

• Quatro meses: nesta fase a criança manifesta algumas ações intencionais como estender os bracinhos e conhecimento de mundo se dá através de qualquer objeto que puder levar à boca.

• Seis meses: móbiles colocados ao alcance da mão da criança; chocalhos pequenos; brinquedos para morder; bichinhos de vinil; bola-bebê de diferentes texturas, martelos de borracha.

• Oito a doze meses: brinquedos de puxar e empurrar livros de pano; argolas de plástico para encaixar; cubos de pano; João bobo, caixa com vários objetos para pôr e tirar; caixa de música; vasilhas para encaixar umas nas outras; bonecas de pano; cavalinho de pau.

• Doze a dezoito meses: nesta fase são interessantes os chamados brinquedos pedagógicos, aqueles que oferecem oportunidade de manipulação visando a alguma proposta, como encaixar argolas; ou brinquedos que a criança precisa apertar botões; abrir e fechar portinhas etc.

• Dezoito a vinte e quatro meses: brinquedos de empurrar; carrinhos ou outros brinquedos de puxar; blocos de construção; bate-estacas; brinquedos de desmontar (grandes); degraus e pequenos escorregadores; túneis para passar por dentro; carro ou bicicleta sem pedal.

FIGURA 94 – BRINQUEDOS PARA CRIANÇAS ATÉ DOIS ANOS

FONTE: Disponível em: <http://www.estimulakids.com.br/2011/10/vamos-brincar-como-escolher-o-brinquedo.html>. Acesso em: 19 nov. 2013.

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II – Período das operações concretas (2 a 12 anos)

• Período pré-operacional (2 a 7 anos): neste estágio o pensamento apresenta características marcantes como relacionar tudo o que acontece ao seu redor com seus sentimentos e ações; ser incapaz de perceber o ponto de vista dos outros; considerar só um aspecto das situações e tirar conclusões baseadas em um único aspecto perceptivo, ou seja, com frases do tipo “meu pai disse” ou “a professora disse que é assim”. A seguir, você verá quais brinquedos são considerados ideais para as crianças no que condiz às categorias do desenvolvimento:

• Período pré-conceitual: 2 a 4 anos: livros de pano com figuras; telefone; panelinhas do tipo utensílios de cozinha; mobílias e objetos domésticos; bonecas; máscaras, chapéus, fantasias e capas; fantoches; bichinhos de plástico e de pelúcia; massa de modelar; quebra-cabeças simples; tambor, pandeiro e corneta; carros, caminhões, trenzinhos e aviões; pianinho ou xilofone; cabanas e casinhas; balde e pazinhas; triciclo; material para fazer bolas de sabão.

• Período intuitivo (4 a 7 anos): blocos de construção; material para pintura e desenho; jogos como dominó, loto, damas, jogos de circuito, carrinho de boneca, livros de história.

• Período das operações concretas (7 a 12 anos): bolas e raquetes, boliche, futebol de botão, peteca, jogos de montar (que provoquem a criança a criar) construção, de circuito, de perguntas e respostas, damas, xadrez, minilaboratórios, quebra-cabeças com maior grau de dificuldade; ferramentas para a construção de brinquedos.

FIGURA 95 – BRINQUEDOS PARA CRIANÇAS ATÉ 12 ANOS

FONTE: Disponível em: <http://mosca-branca.blogspot.com.br/2013/05/e-se-voce-alugasse-os-brinquedos-dos.html>. Acesso em: 19 nov. 2013.

III – Período das operações formais (12 anos em diante)Os pré-adolescentes também necessitam de um espaço e cabe aos

adultos proporcionarem um ambiente agradável para o desenvolvimento destas atividades, sendo assim, um ponto de encontro com alguns jogos divertidos. Os chamados jogos de adultos, ou jogos sociais proporcionam informações e diversão, além de poderem tratar de temas atuais.

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FIGURA 96 – JOGOS PARA PRÉ-ADOLESCENTES

FONTE: Disponível em: <http://blogdebrinquedo.com.br/2008/05/08/replica-de-luxo-do-banco-imobiliario-de-1935/>. Acesso em: 19 nov. 2013.

Os brinquedos são instrumentos que proporcionam à criança expressar seus sentimentos e até mesmo de externar uma situação pela qual está passando, portanto, os brinquedos não devem ser utilizados com o intuito de distrair ou manter a criança ocupada. Vale ressaltar que enquanto futuros profissionais da educação, o brinquedo e a brincadeira podem nos mostrar várias possibilidades de atuação com a criança, bem como, fornecer subsídios de suas necessidades, portanto, façamos uso inteligente destes recursos!

UNI

Acadêmico(a)! Retome os cadernos das disciplinas de Psicologia Geral e do Desenvolvimento e Psicologia da Educação e Aprendizagem, para revisar os conteúdos referentes à teoria de Piaget e estabeleça uma relação dos estágios do desenvolvimento e os brinquedos pertinentes a cada um deles.

6 A BRINQUEDOTECA HOSPITALARSe para os adultos, permanecer em um hospital não é uma das experiências

mais agradáveis, imagine então quando esta situação é vivenciada por uma criança. Neste sentido, a brinquedoteca objetiva que esta estadia seja alegre e prazerosa, tornando-a menos traumatizante possível, possibilitando melhores condições para a recuperação da criança.

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Cunha (2007, p. 95) nos esclarece os impactos na rotina da criança em relação a internação:

A internação num hospital, além de provocar uma interrupção na rotina da vida da criança, favorece a sua insegurança porque a prova de seus parentes e amigos, seus brinquedos e tudo o que lhe é familiar. Ela fica, portanto sujeita a deixar-se envolver pelo pânico ou pela tristeza, o que certamente dificultará tanto a aceitação do tratamento como sua recuperação.

A brinquedoteca hospitalar propicia à criança momentos de alegria durante sua permanência no hospital. Neste ambiente lúdico, a criança que estiver em condições de locomover-se encontrará brinquedos que lhe proporcionarão momentos agradáveis e felizes; já para aquelas que não apresentam condições de sair do leito, os brinquedos deverão ser levados até elas.

FIGURA 97 – BRINQUEDOTECA HOSPITALAR

FONTE: Disponível em: <http://blog.herv.org.br/2011/03/brinquedoteca-do-hpdg-e-inaugurada.html>. Acesso em: 21 nov. 2013.

Sendo o hospital um local que necessita de cuidados especiais em relação à limpeza dos brinquedos, Cunha (2007, p. 95) nos lembra que:

Os cuidados tomados habitualmente com relação à higiene e esterilização precisam ser mantidos em relação aos brinquedos. Nos setores em que atendem moléstias infecciosas, os brinquedos deverão ser descartáveis. Se houver voluntários no hospital, eles poderão fazer brinquedos de sucata, que serão jogados fora após a utilização. Nos hospitais existem muitos materiais descartáveis que, se não tiverem sido expostos à contaminação, poderão ser utilizados na confecção de brinquedos ou ser entregues às crianças para que elas criem com eles.

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Diante disto, o pedagogo(a) que atuará neste segmento, deverá ter uma preparação especial, com orientação do setor de vigilância sanitária e epidemiológica do hospital, para que possa seguir as normativas específicas que estabelecem os cuidados a serem tomados e, principalmente a seleção dos brinquedos para que não haja risco de contaminação entre as crianças.

É preciso salientar, que os objetos utilizados na brinquedoteca, após a manipulação pelas crianças, devem ser higienizados conforme as orientações estabelecidas pelo hospital, considerando que alguns brinquedos (mesmo que façam parte da brinquedoteca, conforme citados anteriormente) talvez não possam fazer parte do acervo devido às normas de prevenção estabelecidas pela instituição ou órgão responsável.

Cunha (2007) nos enfatiza os objetivos da brinquedoteca hospitalar:

1) Preparar a criança para as situações novas que irá enfrentar: o brinquedista poderá sugerir à criança fantasiar-se de médico ou enfermeiro, brincar com instrumentos cirúrgicos de brinquedo, fazendo com que as situações lúdicas sirvam para que a criança tome conhecimento dos detalhes da rotina do hospital e sobre seu próprio tratamento. Neste momento é preciso estimular a criança a questionar sobre seus medos para que possam ser esclarecidos.

2) Preservar a saúde emocional: proporcionar momentos lúdicos com outras crianças que estão na instituição, e fortalecer a criança diante de sua fragilidade, objetivando fazê-la superar este momento de adversidade.

3) Dar continuidade ao processo de estimulação de seu desenvolvimento: uma internação prolongada gera uma grade interrupção das atividades em que a criança processa o seu desenvolvimento, vive experiências e aprende. Para que ela não seja prejudicada, o hospital precisa oferecer oportunidades de interação.

4) Tornar o ambiente agradável: o ambiente da brinquedoteca pode servir como um ponto de encontro da criança com a família ou outras visitas, para que ela não seja colocada na posição de vítima pelas pessoas que a cercam naquele momento, evitando que a criança passe por experiências desnecessárias e desgastantes diante da condição de paciente.

5) Preparar a criança para a volta ao lar: a longa permanência pode acarretar à criança, como consequência, a quebra de alguns vínculos familiares e de amizades, necessitando de auxílio para reatá-los. Dependendo das condições nas quais a criança foi hospitalizada, um vínculo familiar poderá ter sido firmado com a equipe e com a própria instituição, principalmente quando o processo de internação foi originado pela carência de alimento ou condições de higiene.

A atuação do pedagogo hospitalar, além do vínculo afetivo com a criança, consiste em estar em contato direto com a equipe médica e de enfermagem responsáveis pelo cuidado da mesma, objetivando ter conhecimento sobre o quadro clínico, procedimentos e o tempo de permanência da criança no hospital.

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O contato com a família deve ser harmonioso enfatizando a aproximação e o fortalecimento das relações com a criança, considerando o momento de fragilidade vivenciado por ambos. Também cabe ao pedagogo hospitalar evitar repassar qualquer informação à família que possa gerar dúvidas ou desencontro de informações. Cabe a ele também, orientar para que os familiares procurem a equipe responsável para obter qualquer informação referente ao quadro clínico ou tratamento.

FIGURA 98 – FAMÍLIA NA BRINQUEDOTECA HOSPITALAR

FONTE: Disponível em: <http://wwwluciaandradebloggercom.blogspot.com.br/2010/10/curso-de-brinquedista-hospitalar-uerj.html>. Acesso em: 21 nov. 2013.

Outro aspecto também muito importante é ter consciência de que num ambiente de dor e fragilidade, certas situações podem gerar desconforto e sentimentos diversos, portanto, é importante procurar um profissional para troca de informações ou suporte emocional, evitando comentários com pessoas que não sejam do meio hospitalar.

Diante disso, acadêmico(a), é praticamente impossível deixar de abordar um assunto que diariamente ronda os corredores de um hospital, motivo de tristeza, frustração e sentimento de impotência por parte dos familiares e da equipe técnica. A partir de agora abordaremos um tema bem complexo para todos nós: a morte!

7 COMO FALAR SOBRE A MORTE PARA AS CRIANÇAS?Como já vimos anteriormente, acadêmico(a), o hospital é um local em

que a vida e a morte caminham lado a lado e tratar deste tema é de extrema importância, especialmente ao pedagogo que escolher esta vertente para consolidar sua carreira.

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A morte é um assunto delicado e, muitas pessoas evitam falar, pensar ou ler a respeito dela, por uma série de questões pessoais ou por se entregarem à ilusão que tal acontecimento nunca baterá à sua porta.

Para muitos adultos discutir sobre este assunto traz à tona os medos e inseguranças, que talvez estejam disfarçados ou adormecidos; e que se manifestam de alguma forma através de comportamentos destrutivos como: a pessoa diabética que não segue a dieta recomendada, o motorista que guia seu carro de forma imprudente, o pai que guarda uma arma de fogo ao alcance do filho etc.

FIGURA 99 – ARMAS E CRIANÇAS

FONTE: Disponível em: <http://www.casernapapamike.com.br/seguranca-na-guarda-de-armas-de-fogo-em-casa/>. Acesso em: 26 nov. 2013.

A morte e os acontecimentos que a antecedem sempre estarão presentes em nosso cotidiano, ligado aos amigos, parentes ou colegas de trabalho. A morte amedronta os seres humanos desde o primórdio dos tempos, pois é associada às guerras, epidemias, desastres naturais ou acidentes, que dizimaram e dizimam vidas até hoje.

Até pouco tempo atrás a maioria das famílias já havia perdido um parente de pouca idade, porém, com o avançar da tecnologia na área da saúde e a melhora nas condições de vida, estas mortes tornaram-se menos comuns, embora o ideal na saúde ainda esteja longe de acontecer.

A morte é um assunto que assusta a todos (pais, educadores, profissionais da saúde, velhos, jovens, crianças), pois nos afeta em nossa fragilidade e ignorância de como lidar com o fim e com a incapacidade de controlar os acontecimentos. Klüber-Ross (2008, p. 7) nos faz refletir:

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Quando crescemos e começamos a perceber que nossa onipotência não é tão onipotente assim, que nossos desejos mais fortes não têm força suficiente para tornar possível o impossível, desaparece o mesmo de se ter contribuído para a morte de um ente querido e, por conseguinte, some a culpa; o medo permanece subjacente, mas só enquanto não for fortemente despertado.

Morrer é parte do processo de viver, embora poucos estejam preparados para isso, desejando saber mais sobre o assunto e preferindo manter distância deste momento. Porém, diariamente ocupa espaço nos diferentes meios de comunicação, especialmente nos noticiários.

Ao falarmos sobre a morte, Paiva (2011) nos propõe uma reflexão importante, levando-nos à compreensão de que necessitamos deste processo de conscientização de nossa finitude, de nossa condição humana, de nossas singularidades como mortais, abrindo-nos para a possibilidade de pensarmos em humanização.

Ao possibilitarmos um espaço, objetivando facilitar à exposição do tema, a escuta, os relatos das dificuldades e dos medos, a troca de opiniões e de experiências; percebemos que, este momento surge de forma a potencializar transformações e ressignificações da vida, nos tornando mais humanos.

No que condiz à criança, por ser nosso foco principal enquanto pedagogos, percebe-se que, os adultos subestimam a capacidade dos pequenos sem lidar com o assunto, com a desculpa de protegê-los, impedindo-os assim de olhar para a realidade e suas perdas. Paiva (2011, p. 37) reforça tal preocupação de forma simples:

Os ganhos são valorizados, e as perdas, muitas vezes, negadas. E, por causa disso, reforçamos a dificuldade de lidar com várias perdas vivenciadas ao longo da vida, com os valores mais diversos: o brinquedo quebrado, o animal de estimação que morre, o amiguinho que se mudou, a morte de alguém... É preciso lembrar que não podemos quantificar a dor, pois é individual, singular e subjetiva.

Os adultos envolvidos pelos seus próprios mecanismos de defesa emocional, costumam dizer, que a morte é um assunto a ser evitado com as crianças, fazendo uso de um falso pretexto de não perturbá-las com preocupações desnecessárias. Tal comportamento manifestado pelos adultos, só condiz à própria incompreensão e dificuldade de não saber como tratar disso com as crianças, fazendo parecer que a morte seja um assunto alheio e distante do universo infantil.

Paiva (2011) reforça que a morte é a única situação da qual não temos controle, e que um dia acontecerá fatalmente, portanto evitar falar sobre este assunto poderá dificultar o entendimento da criança sobre o ciclo da vida.

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FIGURA 100 – CONSCIENTIZAÇÃO SOBRE A MORTE

FONTE: Disponível em: <http://thedamneds.blogspot.com.br/2010/06/criancas-da-sepultura.html>. Acesso em: 26 nov. 2013.

As crianças apresentam um comportamento naturalmente curioso e por isso querem descobrir a vida e seus mistérios. Para tudo, elas buscam um porquê. Conforme crescem adquirem novos conhecimentos e aprendem por meio da exploração do seu mundo. Desde cedo a criança passa por experiências que lhe permitem ter uma noção da morte e, evitar esta questão é negar uma realidade. Paiva (2011) apud Torres (1999), nos lembra que “para a criança, a morte não é apenas um desafio cognitivo para seu pensamento, mas também um desafio afetivo”.

Diante disto, Paiva (2011) nos traz um estudo sobre a aquisição do conceito da morte pelas crianças, de acordo com os estágios estabelecidos por Jean Piaget, apontando diferenças para cada estágio:

• Período sensório-motor (0 a 2 anos, antes da aquisição da linguagem): o conceito de morte é inexistente; a morte é percebida como ausência e falta; a morte corresponde à experiência do dormir e acordar: percepção do ser e não ser.

• Período pré-operacional (3 a 5 anos): as crianças compreendem a morte como um fenômeno temporário e reversível, não a compreendendo como uma ausência sem retorno; atribuem vida à morte, ou seja, não separam a vida da morte; entendem a morte ligada à imobilidade; apresentam um pensamento mágico e egocêntrico; são autorreferentes e para elas tudo é possível; compreendem a linguagem de modo literal e concreto.

• Período operacional (6 a 9 anos): apresentam uma organização em relação ao espaço e tempo; distinguem melhor os seres animados dos inanimados; entendem a oposição entre a vida e a morte, compreendendo a morte como um processo definitivo e permanente; compreendem e irreversibilidade da morte;

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UNIDADE 3 | PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES

há uma diminuição do pensamento mágico, predominando o pensamento concreto; ainda não são capazes de explicar adequadamente as causas da morte; conseguem aprender o conceito de morte em sua totalidade em relação a não funcionalidade, à irreversibilidade e à inevitabilidade.

• Período de operações formais (10 anos até a adolescência): o conceito de morte, devido ao pensamento formal, torna-se mais abstrato; já compreendem a morte como inevitável e universal, irreversível e pessoal; as explicações são de ordem natural, fisiológica e teológica.

O luto estende-se à criança da mesma forma que é manifestada pelo adulto, diante disso, Paiva (2011) apud Torres (1999) identifica três etapas principais no processo natural do luto infantil:

1. Protesto: a criança não acredita que a pessoa esteja morta e luta para recuperá-la; chora, agita-se e busca qualquer imagem ou som que personifique a pessoa ausente.

FIGURA 101 – PROTESTO

FONTE: Disponível em: <http://www.diariodearaxa.com.br/Materia/Colunista/Thiago-Melo/2011/8/As-criancas-e-a-morte/509.aspx>. Acesso em: 26 nov. 2013.

1. Desespero e desorganização da personalidade: a criança começa a aceitar o fato de que a pessoa amada realmente morreu; o anseio por sua volta não diminui, mas a esperança de sua satisfação esmorece. Não grita mais, torna-se apática e retraída, porém isso não significa que tenha esquecida a pessoa que morreu.

2. Esperança: a criança começa a buscar novas relações e a organizar a vida sem a presença da pessoa falecida.

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TÓPICO 2 | PEDAGOGIA HOSPITALAR: O ENSINAR EM UM AMBIENTE DE FRAGILIDADE

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Acadêmico(a)! Perceba a importância de se ter conhecimento sobre essas fases do luto, principalmente como acontecem em relação à idade da criança, não somente ao pedagogo hospitalar, mas a todos os profissionais das áreas de atuação da pedagogia, pois a morte está ligada a todas elas. Portanto, é necessário sabermos quais são as reações das crianças diante das situações de crise ao longo da vida, Paiva (2011, p. 47-48) orienta em relação a como podemos auxiliar a criança diante do processo de luto, vejamos:

1. Promover comunicação aberta e segura dentro da família, informando a criança sobre o que aconteceu.2. Garantir que terá tempo necessário para elaborar o luto.3. Disponibilizar um ouvinte compreensivo toda vez que sentir saudade, tristeza, culpa e raiva.4. Assegurar que continuará tendo proteção.

Paiva (2011) apud Velasques-Cordero (1996) enumera dez maneiras de auxiliar a criança no enfrentamento da perda e do luto:

1. Encorajar a criança a expressar seus sentimentos.2. Responder às perguntas com sinceridade e expressar suas emoções

honestamente.3. Discutir sobre a morte de forma que a criança possa entender.4. Falar com a criança respeitando seu nível de compreensão.5. Ser paciente e permitir que ela repita a mesma pergunta, oportunizando que

expresse sua confusão e medo.6. Evitar fomentar expectativas.7. Sugerir caminhos para que a criança possa lembrar-se da pessoa, através de

desenhos e cartas.8. Aceitar os sentimentos, percepções e reações das crianças, bem como diferenças

de opiniões, dúvidas e questões.9. Indicar serviços especializados, caso identificar a necessidade.10. Preparar a criança para continuar a vida, reforçando que isso lhe causará

bem-estar após algum tempo (lembrando que o tempo difere de criança para criança).

Para a criança, enfrentar a perda de um dos pais, é considerada a maior crise na vida. Diante de tal acontecimento dificilmente o mundo será o mesmo lugar seguro de antes. Paiva (2011) nos orienta a respeito do que pode acontecer com a criança desse fato:

1. A criança pode permanecer na fantasia ligada ao progenitor morto.2. Investir a libido em atividades.3. Ter medo de amar as pessoas.4. Aceitar a perda e substituí-la por outra pessoa que possa amar.

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UNIDADE 3 | PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES

Acadêmico(a)! Considerando os pontos abordados, é seguro afirmar que as condições de funcionamento da família influem diretamente na qualidade de elaboração do luto, e é importante pensar em alternativas de como será o enfrentamento de suas perdas diante das pessoas que cuidam desta criança. Isso envolve a família, a escola e também no ambiente de saúde.

No contexto hospitalar, comunicar a morte de um parente a uma criança é tarefa do médico ou psicólogo, em alguns casos pode-se requisitar a presença do pedagogo hospitalar. Nesta situação, é importante informá-la de maneira clara, porém carinhosa, utilizando analogias para que ela assimile o acontecimento e, buscando sempre situá-la da realidade. Além disso, deve-se procurar estar sempre acompanhado de um familiar, para que possa lhe proporcionar aconchego e carinho.

O pedagogo hospitalar pode não se sentir apto a acompanhar o momento em que a notícia será dada à criança e, isso não significará despreparo profissional ou fraqueza de sua parte. Vale lembrar que somos dotados de sentimentos e é importante conhecê-los para o estabelecimento de nossos próprios limites.

Assim, acadêmico(a), busque tomar conhecimento se na sua região há atuação do pedagogo nos hospitais e faça uma visita para conhecer de perto seu trabalho. Caso não exista a atuação deste profissional nos hospitais perto de você, busque saber mais por meio de leituras!

Bons estudos!

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Neste tópico, você aprendeu que:

• As crianças reagem à hospitalização e as fantasias elaboradas em relação a este momento nas diferentes fases do desenvolvimento.

• O papel do pedagogo hospitalar e de que forma é a atuação deste profissional num ambiente de fragilidade.

• A brinquedoteca hospitalar, bem como, seus benefícios na conduta do tratamento das crianças hospitalizadas e a condição que este ambiente traz no fortalecimento do vínculo entre a criança e seus familiares.

• As dificuldades enfrentadas pela criança em relação à morte e como desenvolver trabalhos relativos e este tema tão delicado.

RESUMO DO TÓPICO 2

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AUTOATIVIDADE

Agora que você concluiu os estudos referentes a este tópico, responda às questões a seguir:

1 A maioria das pessoas apresenta resistência ao tratar de um assunto tão delicado quanto à morte, principalmente quando este tema deve ser tratado com uma criança. Diante do pressuposto, assinale V para as alternativas verdadeiras e F para as falsas:

( ) É função do pedagogo hospitalar comunicar à criança o falecimento de um ente querido.( ) A notícia deve ser transmitida de forma breve, sendo desnecessário importar-se com a reação da criança.( ) Deve ser permitido à criança que questione sobre os acontecimentos, respondendo a ela conforme seu nível de compreensão.( ) Os adultos precisam ter consciência que é preciso omitir o falecimento de um ente querido até que a criança tenha idade para entender.

Agora, assinale a sequência CORRETA: ( ) F – F – V – F.( ) F – V – V – F.( ) V – V – F – F.( ) V – V – V – F.

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TÓPICO 3

PEDAGOGIA ORGANIZACIONAL

UNIDADE 3

1 INTRODUÇÃOAcadêmico(a)! Neste momento, você vai conhecer um campo de trabalho,

em que a contribuição do pedagogo é de grande valia: a pedagogia organizacional. Um campo relativamente novo para esta categoria profissional junto ao setor de Recursos Humanos (RH), especialmente no contexto brasileiro. Porém, seus saberes são fundamentais para o desenvolvimento de atividades que dirigem o aperfeiçoamento dos trabalhadores que constituem uma organização.

2 O PAPEL DO SETOR DE RECURSOS HUMANOS NO TREINAMENTO DE PESSOAL

A partir deste momento você acompanhará em seus estudos alguns conceitos e instrumentos referentes ao setor de recursos humanos. O pedagogo atuará diretamente ao ser inserido neste departamento de uma organização; para tanto, é importante que esteja familiarizado com uma atividade diretamente ligada a sua atuação: o treinamento.

O treinamento é uma das inúmeras atividades pertinentes ao setor de recursos humanos, sendo primordial na formação profissional, por meio do repasse de informações e interiorização de conhecimentos aos colaboradores. Este movimento está voltado ao aumento e aprimoramento das habilidades dos envolvidos.

FIGURA 102 – TREINAMENTO

FONTE: Disponível em: <http://www.acil.com.br/treinamentos-e-palestras>. Acesso em: 29 dez. 2013.

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UNIDADE 3 | PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES

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Carvalho (2006) afirma que as ações de treinamento profissional necessitam incorporar um caráter de aprendizagem ativa ou aprendizagem viva, ou seja, caracterizam-se pelo grau de interesse, vibração e entusiasmo dos participantes; para isso, seus conteúdos programáticos devem trazer informações apropriadas, que prendam a atenção, cativem e atraiam o interesse dos participantes.

O treinamento está de várias formas ligado à educação, visando que este movimento implica despertar dons, aptidões e capacidades que, na maioria das vezes encontram-se adormecidos.

Carvalho (2006, p. 15) considera que:

O processo educativo tem como função estruturar o homem na sua condição subjetiva. O ambiente em que vive é um dos meios que contribuem para a sua constituição. Desse modo, entendemos que a educação se dá desde o nascimento do ser humano, que precisa de amparo e referencial. Esse é o sustentáculo para que possa ao longo de sua existência, ter condições de enfrentar dificuldades e obstáculos naturais que a vida impõe. Esse período no qual ele vai adquirir defesas, aptidões, dons, entre outras características. Além da família, outros ambientes também vão contribuir para seu convívio social, sendo a escola um dos universos favoráveis para esse aprendizado.

A inserção na vida laboral possibilita ao indivíduo demonstrar, mesmo que for de forma velada, sua dinâmica pessoal e a maneira com que lida com as dificuldades que o cotidiano lhe impõe. O treinamento, articulado à educação, estimula o crescimento e o desenvolvimento do ser humano, preparando-o profissionalmente e levando em conta sua capacidade física, intelectual e moral, na intenção de integrá-lo de forma individual e social aos outros colaboradores, diante das especificidades de cada organização.

FIGURA 103 – INTEGRAÇÃO

FONTE: Disponível em: <http://brazil.leroymerlin.com/pt-br/organizacao>. Acesso em: 29 dez. 2013.

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TÓPICO 3 | PEDAGOGIA ORGANIZACIONAL

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Carvalho (2006) afirma que, quando devidamente implantado, o treinamento traz as seguintes vantagens para as organizações:

• possibilidade de estudo e análise das necessidades de treinamento de toda a organização, envolvendo os diversos níveis hierárquicos da organização;

• favorecimento das prioridades de formação, tendo em vista os objetivos setoriais da organização;

• caracterização dos vários tipos e formas de desenvolvimento de pessoal, considerando os seguintes aspectos: viabilidade, vantagens, custos, entre outros fatores;

• elaboração dos planos de capacitação de pessoal a curto, médio e longo prazo, podendo integrá-los às metas globais da empresa.

Este mesmo autor destaca outros benefícios da aplicação do programa de treinamento relacionados ao: mercado de trabalho, ao pessoal em serviço e à organização. São assim classificados:

Quanto ao mercado de trabalho

• definição das características e atribuições dos empregados;• racionalização dos métodos de formação e aperfeiçoamento de colaboradores;• melhoria dos padrões profissionais dos treinados.Quanto ao pessoal em serviço• possibilidade de aproveitamento das aptidões dos colaboradores;• favorecimento e estabilidade de mão de obra;• favorecimento ao espírito de competição e fortalecimento da confiança como

processo normal de melhoria funcional;• valorização do trabalho e elevação do ambiente moral da empresa.

FIGURA 104 – VALORIZAÇÃO DO PROFISSIONAL

FONTE: Disponível em: <http://euacheiprimeiro.com/blog/2013/01/07/como-ser-feliz-no-trabalho/valorizacao-profissional-2/>. Acesso em: 29 dez. 2013.

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UNIDADE 3 | PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES

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Quanto à organização

• aprimoramento dos produtos e serviços produzidos;• possibilidades de implantação ou transformação dos programas de trabalho;• disponibilidade para os postos de gerência e supervisão imediata na própria

organização;• melhores condições de adaptação aos progressos da tecnologia industrial;• economia de custos pela eliminação dos erros na execução do trabalho;• condições de competitividade, em razão da capacidade de oferecer melhores

produtos e serviços;• maior segurança econômica, em virtude da maior estabilidade de pessoal;• tendência à diminuição dos acidentes e do desperdício pela melhoria das

técnicas de trabalho.

Como observamos, acadêmico(a), tanto as organizações quanto seus colaboradores, se beneficiam ao investir em qualificação profissional, pois além das vantagens acima citadas, a organização cresce na questão de qualidade de vida aos colaboradores, caracterizando marketing indireto, ou seja, tornando-se atrativa para que outros profissionais se candidatem-se a fazer parte de seu quadro.

FIGURA 105 – CANDIDATO

FONTE: Disponível em: <http://www.guiadasdicas.com/2010/05/como-selecionar-candidatos-emprego.html>. Acesso em: 29 dez. 2013.

A proposta de treinamento deve ser sustentada nas demandas reais e atuais da organização. Para tanto, cabe ao setor de Recursos Humanos realizar a pesquisa de intenção de treinamento. A aplicação desta pesquisa pode ser feita via questionário ou por meio de entrevista com os líderes e/ou colaboradores.

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TÓPICO 3 | PEDAGOGIA ORGANIZACIONAL

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FIGURA 106 – ENTREVISTA DE INTENÇÃO DE TREINAMENTO

FONTE: Disponível em: <http://www.faculdadeunicampo.edu.br/curso.php?subgrupo=3&tipo=pos>. Acesso em: 29 dez. 2013.

Depois de concluída a pesquisa, outros passos devem ser seguidos, conforme nos mostra Carvalho (2006):

• estudo dos princípios de aprendizagem aplicados ao treinamento;• eleição de métodos e técnicas de capacitação;• programação do treinamento;• avaliação dos resultados de desenvolvimento de RH.

Estes pontos são fundamentais para a elaboração do plano de capacitação, pois viabilizam ao RH o traçado dos objetivos a serem alcançados, além de, possibilitar a identificação de temas pertinentes a treinamentos futuros, baseados nos resultados da avaliação final.

Outra questão de igual importância está na formulação do diagnóstico organizacional, que condiz a atual situação da organização no momento. Carvalho (2006) baseia-se em três áreas a serem analisadas para sua formulação:

• análise da empresa: indicação de seguimentos onde o treinamento se faz necessário;

• análise das tarefas: identificação de em que e como o colaborador deve realizar o trabalho;

• análise psicológica do colaborador: caracterização de quais atitudes, habilidades e conhecimentos são necessários para que o empregado possa exercer suas funções.

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UNIDADE 3 | PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES

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A pesquisa de necessidades constitui uma tarefa que requer dedicação e implicação de todos os especialistas na área de formação do RH, entre eles, o psicólogo, o pedagogo, o analista de RH, entre outros, principalmente se a necessidade de treinamento for em virtude de resultados imediatos.

Conforme Carvalho (2006), algumas perguntas necessitam ser respondidas de maneira atualizada, pois nortearão os rumos dos trabalhos a serem efetuados, são elas:

• Quem está necessitando de formação?• Onde há urgência de treinamento?• Que tipo de treinamento é necessário?

Traçar o perfil do treinamento a ser ministrado, facilitará a condução das ações, porém é necessário que os especialistas tenham consciência de que os dados precisam ser fidedignos, ou seja, não podem restar dúvidas, pois influenciarão diretamente nos demais passos de elaboração da formação.

Carvalho (2006) sustenta que merecem citação, os aspectos relacionados à influência da pesquisa no que tange à postura da organização:

• situação da empresa no mercado;• nível tecnológico em que se encontra a organização;• racionalização administrativa;• meio ambiente onde a empresa atua.

FIGURA 107 – ORGANIZAÇÃO E MEIO AMBIENTE

FONTE: Disponível em: <http://www.cpt.com.br/noticias/gestao-ambiental-planejamento-estrategico-empresas>. Acesso em: 29 dez. 2013.

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TÓPICO 3 | PEDAGOGIA ORGANIZACIONAL

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O próximo passo para a efetivação de uma formação exitosa é o planejamento. Planejar, acadêmico(a), faz parte de todas as ações não só da organização, mas também de nossas vidas, pois sem planejamento perdemos o rumo do que objetivamos, tanto para nós, quanto para quem faz parte de nossa convivência.

Carvalho (2006) considera que planejar uma atividade de treinamento requer que enquanto equipe, sejamos descritivos e seletivos diante dos fatos ocorridos no âmbito de RH, sendo projetadas ações pertinentes ao futuro próximo além do alcance de objetivos, procedimentos e programas relativos à formação profissional.

Diante disto, Carvalho (2006) destaca as principais finalidades a serem alcançadas, pelo pedagogo organizacional:

• desenvolvimento de políticas de treinamento da empresa;• estabelecimento de procedimentos, padronizando métodos de formação;• definição orçamentária da unidade de treinamento, com a respectiva fixação de

recursos financeiros para os programas de desenvolvimento de RH;• programação da atividade de formação, estabelecendo prioridades e sequências

de cada componente da programação;• desenvolvimento de estratégias de treinamento, decidindo quando e como

alcançar os objetivos propostos;• fixação de objetivos de treinamento, estabelecendo os resultados finais

desejados;• cumprimento dos planos de formação através da implantação de controles

eficientes.

Existem outros fatores que permeiam a construção de um processo de treinamento: organização, processo de aprendizagem, instrução e autoavaliação. Todos estes quesitos são construídos e ordenados pela equipe de Recursos Humanos, sendo que cada profissional do grupo de RH é responsável por uma parte que compõe este processo.

O ambiente corporativo espera que os profissionais que o compõem estejam prontos para atuar sob pressão, neste caso, estar em uma equipe responsável pela formação dos grupos pertencentes à organização, exige que o indivíduo saiba planejar suas ações de maneira eficaz; considerando que a qualquer momento pode ser chamado a prestar esclarecimentos sobre seu trabalho.

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DICAS

Chris Gardner (Will Smith) é um pai de família que enfrenta sérios problemas financeiros. Apesar de todas as tentativas em manter a família unida, Linda (Thandie Newton), sua esposa, decide partir. Chris agora é pai solteiro e precisa cuidar de Christopher (Jaden Smith), seu filho de apenas cinco anos. Ele tenta usar sua habilidade como vendedor para conseguir um emprego melhor, que lhe dê um salário mais digno. Chris consegue uma vaga de estagiário numa importante corretora de ações, mas não recebe salário pelos serviços prestados. Sua esperança é que, ao fim do programa de estágio, ele seja contratado e assim tenha um futuro promissor na empresa. Porém seus problemas financeiros não podem esperar que isto aconteça, o que faz com que sejam despejados. Chris e Christopher passam a dormir em abrigos, estações de trem, banheiros e onde quer que consigam um refúgio à noite, mantendo a esperança de que dias melhores virão.

FONTE: Disponível em: <http://www.adorocinema.com/filmes/filme-54098/>.

Acadêmico(a)! Você estudou o que significam alguns dos principais trâmites do processo de treinamento, ou seja, conheceu mais precisamente a área de atuação saberes do pedagogo, bem como sua importância dentro de uma organização, e a partir de agora você estudará como esses saberes serão aplicados. Bons estudos!

3 O PEDAGOGO NAS ORGANIZAÇÕES

A inserção do pedagogo nas organizações está vinculada a necessidade de formação e preparação do setor de Recursos Humanos. A atuação deste profissional está diretamente ligada à filosofia e à política adotadas neste ambiente.

A pedagogia organizacional utiliza-se de elementos que objetivam articular entre o desenvolvimento das pessoas e as estratégias adotadas pela organização, respeitando os princípios objetivos e a missão desta.

Ribeiro (2010) coloca que as ações do departamento de Recursos Humanos ultrapassam aspectos instrumentais, sendo este um setor que difere dos demais, pois trabalha questões diretamente relacionadas à dinâmica das relações entre o indivíduo, o ambiente de trabalho e a sociedade. A organização é, sobretudo, um espaço de valorização da dimensão e da dignidade humana.

Acadêmico(a)! Este filme retratará algumas rotinas organizacionais, entre elas: entrevista, seleção e treinamento. Confira!

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As atividades desenvolvidas pelo RH possibilitam o aperfeiçoamento profissional dos colaboradores, buscando auxiliá-los na formulação de novas visões sobre um contexto, podendo ser este um assunto organizacional em específico ou relacionado à qualidade de vida.

Os temas a serem discutidos em treinamentos referem-se às questões atuais que necessitam ser trabalhadas, ocasionando além do aperfeiçoamento profissional, mudanças na vida deste indivíduo. O treinamento consiste em estratégias que objetivam a socialização dos conhecimentos internos (no que tange ao ambiente de trabalho) e externos (o social), respeitando a singularidade do indivíduo.

Assim, Ribeiro (2010, p. 11) chama nossa atenção na importância do papel da organização neste sentido:

Considerando-se a Empresa como essencialmente um espaço educativo, estruturado como uma associação de pessoas em torno de uma atividade com objetivos específicos e, portanto, como um espaço também aprendente, cabe à Pedagogia a busca de estratégias e metodologias que garantam uma melhor aprendizagem/apropriação de informações e conhecimentos, tendo sempre como pano de fundo a realização de ideais e objetivos precisamente definidos. Tendo como finalidade principal provocar mudanças no comportamento das pessoas de modo que estas melhorem tanto a qualidade do seu desempenho profissional quanto pessoal.

O pedagogo, em espaços organizacionais, promove aos colaboradores oportunidades de reconstrução de conceitos considerados básicos, como criatividade, trabalho em equipe, autonomia na expressão de emoções e de habilidades cognitivas.

FIGURA 108 – TRABALHO EM EQUIPE

FONTE: Disponível em: <http://www.agendor.com.br/blog/organizando-sua-equipe-de-trabalho/>. Acesso em: 29 dez. 2013.

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Ribeiro (2010) enfatiza que a pedagogia organizacional se ocupa basicamente com os conhecimentos, as competências, as habilidades e as atitudes consideradas indispensáveis e necessárias à melhoria da produtividade.

Para que isso seja possível, o pedagogo busca por meio da implantação de programas de qualificação e requalificação profissional, gerar produção de conhecimento, estruturando o setor de treinamento através de pesquisas que informem as necessidades da organização, adaptando metodologias que forneçam elementos para a melhora da comunicação diante das práticas de treinamento.

Ribeiro (2010 apud ALMEIDA, 2006, p. 7) destaca outras possibilidades de atuação do pedagogo organizacional:

• coordenação de ações culturais em gibitecas, brinquedotecas, parques temáticos, fundações culturais, teatros, parques e zoológicos;

• desenvolvimento dos recursos humanos em empresas;• direção e administração de instituições de ensino;• elaboração de políticas públicas, visando à melhoria dos serviços à população

em autarquias, hospitais e governo nas esferas municipais, estaduais e federais;• gestão e desenvolvimento de conselhos tutelares, centros de convivência,

abrigos e organizações não governamentais.

FIGURA 109 – AÇÃO CULTURAL NA BIBLIOTECA

FONTE: Disponível em: <http://www.educacao.al.gov.br/comunicacao/sala-de-imprensa/noticias/2013-1/maio/acoes-culturais-transformam-a-rotina-da-escola-geraldo-melo>. Acesso em: 29 dez. 2013.

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TÓPICO 3 | PEDAGOGIA ORGANIZACIONAL

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O autor anteriormente citado, menciona algumas das possibilidades, no que condiz à gestão de pessoas:

• coordenar equipes multidisciplinares no desenvolvimento de projetos;• evidenciar formas educacionais para a aprendizagem organizacional

significativa e sustentável;• possibilitar mudanças culturais no ambiente de trabalho;• definir políticas que busquem o desenvolvimento humano permanente;• prestar consultoria interna voltada ao treinamento das pessoas inseridas na

organização.

FIGURA 110 – CONSULTORIA

FONTE: Disponível em: <http://www.logosce.com.br/serv_cons_empr.php>. Acesso em: 29 dez. 2013.

Observe, acadêmico(a), as possibilidades de atuação do pedagogo organizacional são vastas. Para Ribeiro (2010) existem quatro campos importantes na elaboração e execução das atividades elaboradas por este profissional, que são: pedagógico, burocrático, social e administrativo.

Estes campos permitem ao pedagogo atuar em escolas e empresas com funções de natureza técnico-pedagógica e administrativa, visando à proposição de objetivos e metas a serem alcançados diante de um diagnóstico que espelhe a realidade vivenciada, tendo em vista outras atividades que cabem ao pedagogo: propor e coordenar atualização de profissionais em empresas e órgãos ligados à área educacional; coordenar serviços de campo das relações interpessoais; planejar, controlar e avaliar o desempenho profissional dos colaboradores; assessorar empresas no entendimento de assuntos pedagógicos atuais.

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Diante de todas estas possibilidades, faz-se necessário lembrar que a formação do pedagogo organizacional deve ser também direcionada, ou seja, incluir especialização em disciplinas distintas. Ribeiro (2010) nos lembra que para o pedagogo interessado em atuar na área organizacional, será necessário reforçar seus estudos em: Didática Aplicada ao Treinamento, Jogos e Simulações Empresariais, Administração do Conhecimento, Ética nas Organizações, Comportamento Humano nas Organizações, Cultura e Mudança nas Organizações, Educação e Dinâmica de Grupos: Relações Interpessoais nas Organizações, Desenvolvimento Organizacional e Avaliação do Desempenho.

O ambiente organizacional exige um profissional implicado e conhecedor das rotinas e normativas que regem o sistema corporativo, para isso acadêmico(a), conhecer o funcionamento de uma organização, bem como, seus setores e processos, é essencial para a elaboração de projetos pertinentes aos colaboradores que atuam nela. Fica a dica!

3.1 TREINAMENTO E DESENVOLVIMENTO: O ESPAÇO DE TRABALHO DO PEDAGOGO ORGANIZACIONAL

Atualmente as organizações têm investido grande parte de seus recursos em tecnologia, objetivando modernizar a produção. Diante deste cenário, é preciso entender que para cada novo recurso voltado à produtividade, deve existir alguém que coloque esta máquina em funcionamento.

Artigos tecnológicos pouco representam se o maior patrimônio de uma organização não for bem preservado, este bem maior são as pessoas. Para que isso aconteça é necessário que alguns investimentos sejam feitos por parte da organização, que correspondem à capacitação de seus colaboradores.

Ribeiro (2010, p. 19) coloca que

em primeiro lugar cabe questionar o que está sendo entendido como “novos métodos” e de que forma estes se diferenciam daqueles considerados tradicionais. Além disso, há de se investigar que motivações/razões as empresas têm para estar cada vez mais insatisfeitas com os métodos identificados. Em segundo lugar, há de se proceder à diferenciação entre níveis e formas de formação profissional oferecida pelas empresas. Tradicionalmente, os interesses de formação profissional e os de aperfeiçoamento profissional têm sido tratados separadamente.

Entender que as organizações são ambientes que proporcionaram formas de aprendizagem é o primeiro passo para que o pedagogo demonstre o quanto seu trabalho é importante, para tanto, é preciso esclarecer sobre os processos sistêmicos que serão aplicados naquele local.

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Para Ribeiro (2010) os enfoques sistêmicos correspondem aos processos de aprendizagem em uma empresa, nos quais privilegiam um planejamento que contemple o ensino e a aprendizagem como faces de um mesmo processo considerados indissociáveis, ou seja, beneficiam-se deste momento tanto quem ensina quanto quem aprende.

Para que o plano de capacitação seja aplicado na organização é necessário que seja estabelecida uma projeção direcionada à visão didático-metodológica com foco nas estratégias a serem adotadas; tal visão objetiva a melhora na formação profissional do público organizacional e que correspondendo às expectativas da organização.

Estabelecer uma política de aperfeiçoamento profissional significa implantar, modificar ou talvez ampliar a cultura de aprendizagem neste espaço. Ao sugerir este movimento o pedagogo perceberá como as propostas serão recebidas e quais resistências se farão presentes.

Em termos de treinamento, podemos dizer que muitos foram os avanços nesta área. Sendo assim, Ribeiro (2010) nos apresenta as dimensões utilizadas pelas organizações e os métodos aplicadas na formação dos colaboradores:

a) competência na atuação: a metodologia e a didática aplicadas a esta dimensão estão pautadas na ideia do instrumental, ou seja, na transmissão de informações e aplicação das mesmas no ambiente de trabalho;

b) competência técnica: neste caso é enfatizado o uso de técnicas como discurso/conferência, debates, utilização de audiovisuais, projeto guiado, simulações, projetos individuais, trabalho com textos em pequenos e grandes grupos;

c) competência para a autoaprendizagem: técnicas variadas objetivando o aprender a trabalhar;

d) competência social: os trabalhos são propostos a partir da formação de equipes e aplicação de métodos de comunicação.

Diante das mudanças que ocorreram nas práticas de treinamento paralelas às transformações na cultura organizacional, percebemos que a maneira como devem ser aplicadas necessitam ser diferenciadas devido às várias formas de interpretação e interiorização das informações pelos colaboradores.

Para que as demandas de treinamento sejam atendidas com eficácia, as organizações vêm fazendo uso de recursos utilizados em outras áreas. Neste caso, o pedagogo organizacional precisa estar atento, para que estes instrumentos sejam selecionados e utilizados de forma adequada. Ribeiro (2010, p. 45) destaca a utilização correta destes:

Discurso/Conferência: método didático mais utilizado no âmbito do aperfeiçoamento profissional nas empresas. Caracteriza-se pela pouca participação ativa do aluno cujo papel principal é escutar, pensar e anotar. Modernamente, espera-se o estabelecimento de um diálogo entre o palestrante e o grupo a partir das reações deste ao que está sendo apresentado. Diálogo: neste método, prevalece também o papel do professor/instrutor que aborda somente os conteúdos definidos pelo

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UNIDADE 3 | PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES

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docente (conhecimento, técnicas, habilidades, atitudes). Não raro, o diálogo acontece mecanicamente; os alunos esforçam-se para descobrir a resposta que o professor espera obter em cada pergunta. Utilização de audiovisuais: ainda que permita ativar vários sentidos ao mesmo tempo e melhorar o grau de retenção da informação, os audiovisuais normalmente são utilizados de modo que os aprendizes assumem um papel de observadores passivos aos quais não é permitida a elaboração própria, um outro problema é a qualidade dos materiais utilizados e a forma como são utilizados. Quando preparados de modo inadequado (com excesso de informação, letras muito pequenas, imagens pouco claras...) acabam por distrair a plateia.

FIGURA 111 – CONFERÊNCIA

FONTE: Disponível em: <http://softwarelivre.org/paulomarcos/blog/ilheus-conferencia-estadual-de-cultura-reune-quase-2-mil-pessoas>. Acesso em: 29 dez. 2013.

Outros recursos podem ser utilizados como dinâmicas de grupo, questionários de necessidades de treinamento, avaliação de resultados da capacitação ministrada, entre outros. Estes recursos objetivam viabilizar melhores condições de acesso às informações fornecidas durante o treinamento e averiguar possíveis demandas que deixaram de ser abordadas.

Ribeiro apud Milioni (1989) reforçar que o pedagogo organizacional deve ter características atenuantes como sensibilidade e capacidade perceptiva, a fim de desenvolver ações, em busca da:

• necessidade de superar a rotina ou em administrá-la para que não cause contratempos no desenvolvimento de ações estratégicas;

• visão prospectiva da organização, de seus produtos e serviços de modo que se proceda uma seleção prévia dos segmentos que serão alvo da ação;

• a proposição de respostas e contribuições para problemas e/ou necessidades identificadas;

• percepção e o estabelecimento de prioridades;• formulação de objetivos claros e precisos para as ações consideradas prioritárias;• adoção de medidas com vistas à melhoria da imagem organizacional;• realização de ações que estimulem o comprometimento de todos.

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TÓPICO 3 | PEDAGOGIA ORGANIZACIONAL

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UNI

Acadêmico(a)! Prospecção significa um estudo que investiga o que acontece de agora para frente em relação ao que se pretende estudar.

FONTE: Disponível em: <http://www.dicionarioinformal.com.br/prospectivo/>. Acesso em 25 dez. 2013.

É importante lembrar que a efetivação dos conhecimentos, competências, habilidades e atitudes, dependem do grau de comprometimento e envolvimento do colaborador na apropriação dos conteúdos, metas e métodos utilizados na mediação da aprendizagem.

Os novos métodos didáticos centram-se no pensar e no atuar do colaborador (esta nomenclatura é utilizada na linguagem organizacional em substituição ao termo funcionários), visando ao desenvolvimento de capacidades que visem solucionar tarefas complexas; estas capacidades proporcionam as condições necessárias para o aprimoramento da independência e responsabilidade, pertinentes às fases de planejamento, execução e controle das atividades da organização.

O trabalho nas organizações provoca o pedagogo a buscar novas metodologias, assumindo uma postura que vai muito além do papel de docente, partindo do princípio que neste local a aprendizagem deve concentrar-se na estimulação da independência dos que aprendem.

FIGURA 112 – ESTIMULAÇÃO PARA A APRENDIZAGEM

FONTE: Disponível em: <http://segurancasaude.blogspot.com.br/2010/07/motivacao-organizacional-isso-interfere.html>. Acesso em: 29 dez. 2013.

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UNIDADE 3 | PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES

224

Ribeiro (2010) chama a nossa atenção ao mencionar que o planejamento da independência do aprendente é programado pelo professor, sendo que este movimento é organizado sem a participação dos alunos.

Na área de recursos humanos, o pedagogo deve ter conhecimento e consequentemente, acesso a métodos de aprendizagem direcionados à experiência dos colaboradores, para que o planejamento seja efetivo e obtenha o resultado esperado.

Este movimento da aprendizagem partindo da experiência dos colaboradores, não significa em nenhum momento que o docente necessite abrir mão da direção do processo, mas a postura adotada deve assegurar a liberdade de crescimento do aprendente.

Ratifica-se que a seleção de métodos e técnicas didático-pedagógicos em uma empresa depende de alguns fatores, como tamanho da empresa, tipo da atividade que desenvolve política de recursos humanos, concepção de treinamento/desenvolvimento de recursos humanos, nível de formação dos profissionais que nela atuam. No contexto atual, a informática permite disponibilizar conhecimentos de forma ágil, provocando o afastamento do homem do sistema de trabalho direto, dedicando-se a funções de planejamento, preparação, controle e avaliação. Este fato aponta para transformações do conteúdo da atividade profissional técnica. (RIBEIRO 2010, p. 30).

Proporcionando a ampliação dos conhecimentos profissionais por meio da qualificação oferece-se condições ao indivíduo, de despertar o desejo da mudança e ampliar as capacidades necessárias para o seu desenvolvimento técnico e pessoal.

Ribeiro (2010, p. 31) enfatiza esta questão ao mencionar que

A mudança constante é uma prerrogativa dos processos de aprendizagem nas empresas. Mudam tanto as funções quando os aspectos didático-metodológicos na institucionalização da aprendizagem. Na medida em que a tarefa de formação nas empresas assume um caráter antecipativo e contínuo em termos de qualidade, o trabalho de manutenção da qualificação profissional é acompanhado da tarefa de preparar, apoiar e dirigir processos de mudança. Este dado provoca mudanças nos métodos de formação que evoluem de uma aprendizagem transmitida para uma aprendizagem orientada na ação e na experiência.

UNI

Acadêmico(a)! A palavra prerrogativa mencionada no início da citação acima significa privilégio, regalia, direito exercido e inerente a uma corporação, a um cargo, a uma profissão etc.; vantagens especiais e possuídas por certas pessoas que pertencem a algum grupo, instituição específica.

FONTE: Disponível em: <http://www.dicio.com.br/prerrogativa/>. Acesso em: 28 dez. 2013.

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TÓPICO 3 | PEDAGOGIA ORGANIZACIONAL

225

A mudança é uma constante na vida da organização, por isso os aspectos didático-metodológicos também precisam acompanhar este movimento, principalmente na formulação das capacitações. É importante frisar que para cada setor cabe uma metodologia diferenciada.

Ao possibilitarmos que a organização incorpore em suas ações os processos pertinentes à formação continuada, o aprender torna-se uma parte integrante desta, proporcionando a ampliação de suas ações e fortificando seus vínculos com os colaboradores.

Neste sentido, como bem denota Ribeiro (2010), a formação de laços mais estreitos entre a organização de seus colaboradores, possibilita a adoção de uma postura acompanhada de uma pedagogizacão das ações de gestão organizacional, focando na estimulação e desenvolvimento da capacidade de auto-organização e crescimento da massa colaborativa, com intento de motivar, admitir e coordenar todos os setores, indo além da velha ideia de confiabilidade no trabalho executado.

Cabe ao departamento de recursos humanos a responsabilidade pela formação profissional, bem como a busca da elevação do potencial de aprendizagem existente nos demais setores, fortalecendo as questões relativas à aprendizagem no próprio espaço de trabalho. Isso provoca o pedagogo organizacional a assumir este papel. Assim, o pedagogo deixará de ser visto como um instrutor para assumir uma posição de assessor, responsável pelos processos de formação e desenvolvimento organizacional a partir de critérios estratégicos.

Assumindo esta postura, o pedagogo organizacional irá se deparar com novos desafios provocados no cotidiano corporativo, sendo que um dos principais problemas refere-se à questão de ampliar a visão do colaborador ao se deparar com situações-problema.

Seguindo esta ideia, Ribeiro (2010, p. 33) destaca que

Nessa perspectiva, cabe destacar a relevância que o desenvolvimento de competências e o exercício destas têm no âmbito das organizações, pois, refere-se à capacidade de adequar/transformar conhecimentos e tecnologias. Considerando-se que, por outro lado, competência remete à ideia de personalidade, é necessário que o pedagogo empresarial compreenda que, no contexto organizacional, os conhecimentos demandados ou construídos refletem os significados construídos pelas pessoas que compõem a organização.

O pedagogo que pretende constituir carreira em uma organização deve ter clareza da singularidade de cada indivíduo que a compõe, para isso, deve buscar conhecer os perfis de personalidade presentes em cada setor, como por exemplo a origem do colaborador, uma superficial constituição familiar, e principalmente estar atento às formas utilizadas pelo mesmo para a resolução de situações problema.

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UNIDADE 3 | PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES

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Ao ser sensível a estas questões, o pedagogo organizacional terá um material rico para a formulação de capacitações, workshop, palestras entre outras atividades que objetivem o crescimento pessoal deste indivíduo mediante as dificuldades que ele apresenta.

FIGURA 113 – WORKSHOP

FONTE: Disponível em: <http://www.strategos.org.br/strategosinstitucional/index.php/noticias/64-workshop-ocb>. Acesso em: 29 dez. 2013.

Porém cabe mencionar que o pedagogo também deve possuir além de conhecimentos específicos da área corporativa, algumas características que constituirão um perfil adequado para ocupar este cargo. Ribeiro (2010) assinala as principais:

a) trabalhar em equipe: esta é uma marca registrada no ambiente organizacional, portanto, torna-se indispensável. Neste formato é normal que existam alguns elementos que exercem forte influência sobre as decisões ou os comportamentos de outros componentes, sendo também presente o contrário. Alguns apenas se submetem às determinações do líder. Nesta condição, cabe o pedagogo possibilitar o equilíbrio do grupo a partir da criação de oportunidades de expressão dos membros da equipe, partindo do pressuposto que a cooperação é um valor profissional.

b) Dirigir um grupo de trabalho e conduzir reuniões: mediar um momento cujo objetivo é direcionar os trabalhos a serem realizados ou uma importante decisão, é uma tarefa árdua e de responsabilidade, significa dar vida à equipe que dela participa. Para que este papel seja exercido com êxito, é primordial que a equipe não confunda liderança com autoridade administrativa. Porém, para evitar certos tipos de comportamento como: todos falando ao mesmo tempo, ninguém expondo seu ponto de vista, perda do rumo da discussão,

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TÓPICO 3 | PEDAGOGIA ORGANIZACIONAL

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monopolização da fala por uma única pessoa e o término do encontro sem definição de data para a devolutiva das ações discutidas; o coordenador deve ter um olhar minucioso, tendo referenciais teóricos e práticos para intermediar e intervir nas discussões, fazendo com que todos participem.

FIGURA 114 – CONDUZINDO REUNIÕES

FONTE: Disponível em: <http://blog.seac-rj.com.br/?p=2127>. Acesso em: 29 dez. 2013.

a) Enfrentar e analisar em conjunto situações complexas, práticas e problemas profissionais: uma dificuldade a ser enfrentada pelo pedagogo organizacional é a insatisfação e as reclamações dos colaboradores, neste caso deve-se tomar cuidado para que as práticas a serem adotadas não assumam uma dimensão ativista, prejudicando o desempenho dos colaboradores e da própria organização.

A intervenção do pedagogo organizacional é primordial para a prevenção ou mediação dos conflitos, considerando que estes momentos são inerentes às relações humanas e precisam ser vistos como formas de aprendizagem. Porém são necessários alguns cuidados objetivando que estes sejam formas de trabalhar intelectualmente sobre estes e os desafios reais surgidos com o conflito.

É preciso adotar uma postura que vise à menor manifestação possível de emoção, em que o pedagogo deverá discernir da melhor maneira as necessidades de treinamento, planejando as atividades com clareza e identificando as prioridades.

Mediar conflitos implica adotar uma postura em que o colaborador ou colaboradores envolvidos se sintam coagidos, garantindo às partes envolvidas autonomia e controle nas decisões a serem tomadas.

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UNIDADE 3 | PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES

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A mediação conforme Ribeiro (2010) garante algumas vantagens ao ser adotada como maior rapidez no processo, redução do desgaste emocional, participação ativa dos envolvidos e privacidade de informações.

FIGURA 115 – MEDIAÇÃO DE CONFLITOS

FONTE: Disponível em: <http://blog.algarmidia.com.br/papo-do-empreendedor/?p=478. Acesso em: 29 dez. 2013.

O pedagogo organizacional deve estar atento aos esforços e desempenho das pessoas envolvidas para que possa auxiliar, orientar e estimular os pontos que necessitam melhorar. A sensibilidade, como vimos anteriormente, é outro ponto de importante a ser observado no comportamento do(s) envolvido(s), pois expõe o quanto demonstram maturidade em assumir erros e tomar decisões.

O líder envolvido no processo de mediador de conflitos deve ser alguém envolvido no processo e assim se torna corresponsável pelos resultados obtidos.

3.2 A RELAÇÃO ENTRE PESSOAS E ORGANIZAÇÃO

Constantemente ocorrem mudanças em nossas vidas, através das escolhas que fazemos como trocar de emprego, casamento, maternidade e paternidade etc. ou por algo considerado inevitável, ficar mais velho, perda de um ente querido etc., causando receio, ansiedade, alegrias e tristezas.

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FIGURA 116 – MATERNIDADE E PATERNIDADE

FONTE: Disponível em: <http://giovannadonato.wordpress.com/2008/08/12/maternidade-hospital-brasil-santo-andre/>. Acesso em: 30 dez. 2013.

Compreender intelectualmente as necessidades, vantagens e desvantagens da mudança parecem simples, nosso questionamento parte de como vamos agir mediante a partir da ocorrência destas.

Nas organizações, as mudanças, muitas vezes, são interpretadas como algo que irá causar transtorno, pois movem as pessoas envolvidas da “zona de conforto” em que se encontravam. As modificações feitas na estrutura organizacional interpretadas negativamente ocorrem quando a massa corporativa não é envolvida nos processos vigentes, e consequentemente estão preparadas para a transição.

É preciso ter clareza que os impactos das mudanças, geram na organização dúvidas, comentários paralelos baseados em incerteza e tensão, tais estendem-se inclusive a vida social formados pelos grupos de convivência e a família deste colaborador.

Ribeiro (2010) salienta que treinamentos e programas de formação profissional que utilizam técnicas apropriadas para que os colaboradores se reconheçam como parte deste processo sustenta as mudanças e possibilitam melhoria na qualidade de vida.

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UNIDADE 3 | PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES

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FIGURA 117 – QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO

FONTE: Disponível em: <http://daniellepsicorienta.blogspot.com.br/2010/08/ginastica-laboral-uma-proposta-de.html>. Acesso em: 30 dez. 2013.

Durante a transição, os recursos humanos devem contribuir efetivamente e responder conforme a realidade, quebrando crenças infundadas que se formam ao longo do período em que a mudança se torna vigente. Assim enfatiza Ribeiro (2010, p. 46):

Uma das alternativas metodológicas, neste contexto, é a gerência de projetos que permite uma capacitação de pessoas e o aumento da produtividade tanto em nível pessoal quanto organizacional. Do ponto de vista conceitual projetos são empreendimentos ou conjunto de atividades, únicos e não repetitivos, com metas fixadas dentro de parâmetros de custo, qualidade e prazos.

Este autor observa alguns pontos considerados essenciais para a gerência de projetos na organização:

1. Realização de diagnóstico situacional em relação à possibilidade de gerir projetos.

2. Desenvolvimento de um projeto que visa à criação de uma gerência de projetos, levando em conta o momento vivido da organização.

3. Apresentação à diretoria um executive briefing visando à construção de estratégias e comprometimento nas ações.

4. Formulação e realização de seminários objetivando a formação da gerência média (supervisores e outros cargos de liderança) e colaboradores.

5. Desenvolvimento ou contratação de assessoria especializada para a implantação dos projetos de mudança.

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TÓPICO 3 | PEDAGOGIA ORGANIZACIONAL

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UNI

Acadêmico(a)! A expressão executive briefing significa compilar materiais, como artigos, notícias, pesquisas, reportagens, entre outros, com o objetivo de fundamentar e esclarecer dúvidas a respeito de projetos, mudanças ou outros programas a serem aplicados na organização.

FONTE: Disponível em: <http://computerworld.uol.com.br/executive_briefing/#>. Acesso em: 28 dez. 2013.

Sendo que as ações executadas em uma organização partem de projetos previamente elaborados, cuja finalidade é garantir a obtenção de resultados satisfatórios, vale ressaltar que cada organização adota um método de elaboração personalizado, ou seja, a empresa determina o padrão dos projetos conforme suas características, política, administração e cultura, adaptado a suprir suas necessidades.

Ribeiro (2010, p. 122) nos orienta através de algumas características básicas para a elaboração de um projeto:

1. define e detalha os passos a serem seguidos no desenvolvimento do trabalho, explicitando as etapas a serem alcançadas, os instrumentos e as estratégias a serem utilizadas. Este planejamento impõe uma disciplina e organização do trabalho não apena no que diz respeito aos procedimentos a serem adotados, mas também em termos da organização do tempo, da sequência de roteiros e cumprimento de prazos; planejamento é vital para uma ação;2. atende às exigências de apresentação e discussão das propostas, contribuindo para uma visão global do que será feito e de sua pertinência (ou não) em relação ao problema/propósito da ação.3. serve de base para a análise, a discussão e a avaliação dos resultados obtidos. Os resultados só poderão ser julgados como satisfatórios (ou não) à luz dos propósitos iniciais.4. constitui base para a solicitação de financiamento e/ou alocação de recursos financeiros para a sua realização;5. configura-se como ponto de partida para a coordenação de programas específicos.

Conforme anteriormente mencionado, um projeto é construído por várias pessoas que estão envolvidas com o processo de treinamento, cada pessoa da equipe torna-se responsável por uma das áreas a serem trabalhadas e em seguidas apresentadas a diretoria.

Ribeiro (2010) nos orienta diante nos itens importantes na elaboração de projetos:

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UNIDADE 3 | PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES

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a) Apresentação: caracteriza com clareza e objetividade a problemática que originou a demanda do trabalho, bem como seus antecedentes motivadores.

b) Justificativa: através de informações quantitativas e qualitativas sobre a situação real existente, detalha a ação projetada objetivando atender as necessidades.

c) Objetivos: decisivo da elaboração dos projetos, pois define o propósito e explicita-se a natureza do trabalho a ser realizado.

d) Metas: representa a quantificação desses objetivos em um tempo e espaços reais a serem postos em prática na organização.

e) Indicadores: caracterização dos resultados a serem obtidos, objetivando facilitar os processos de acompanhamento, avaliação e controle.

f) Conteúdo: são os temas a serem desenvolvidos no projeto, ou seja, referem-se aos conhecimentos, habilidades e atitudes resultantes da formação.

g) Metodologia: neste campo os métodos, possibilidades e enfoques da formação serão definidos conforme a política de cada organização, porém alguns aspectos precisam ser levados em consideração: a) relevância dos resultados a serem obtidos e as conclusões propostas; b) clareza dos resultados; c) custos; d) a objetividade e a precisão; e) o tempo de duração das atividades; f) a disponibilidade de pessoal e equipamento; g) os aspectos éticos; h) a política de recursos humanos; i) as prioridades de treinamento.

h) Atividades: a escolha de como as mesmas serão conduzidas devem responder as indicações dos objetivos, das metas, dos requisitos e das metodologias indicadas, sendo importante descrever o que será utilizado como: material permanente, material de consumo, pessoal, equipamento e instalações.

i) Fluxo de trabalho: constitui-se de um roteiro com a finalidade de garantir o cumprimento das metas e objetivos do projeto.

j) Cronograma: representa a listagem das etapas e das respectivas previsões de tempo e execução.

k) Acompanhamento, avaliação e controle: esta etapa se refere à explicitação das atividades realizadas para garantir o êxito do projeto tanto em termos dos aspectos gerais quanto dos específicos da proposta. O acompanhamento constitui-se como uma verificação sistemática do desenvolvimento de uma atividade, em função dos limites do proposto e do realizado. O controle evidencia o que, quando, como quanto, onde e por quem foi feita uma terminada ação. A avaliação estabelece um juízo de valor sobre algo realizado, a partir de um acompanhamento constante de todo o processo desencadeado desde a concepção até a realização do projeto.

l) Custos: a previsão de custos é uma das variáveis mais importantes para a tomada de decisões, tendo em vista que explicita os recursos financeiros necessários à dinamização do projeto.

m) Organograma: fornece informações sobre as relações existentes entre os vários grupos de trabalho envolvidos no projeto, e auxilia na sua visualização.

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TÓPICO 3 | PEDAGOGIA ORGANIZACIONAL

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FIGURA 118 – ORGANOGRAMA

FONTE: Disponível em: <http://www.catho.com.br/carreira-sucesso/gestao-rh/organograma-entenda-sua-importancia-para-a-empresa>. Acesso em: 30 dez. 2013.

Ao apresentar um projeto à diretoria ou à gerência do setor no qual demandou a formação, a equipe de RH deve ter clareza, precisão e objetividade no momento de expor todos os passos, mostrando sintonia e segurança nos dados e formas de como a capacitação acontecerá.

Acadêmico(a)! Lembramos que o pedagogo organizacional pode ser

requisitado a desenvolver outras atividades na organização, pois eles muito têm a contribuir com seus saberes. É importante ressaltar o quanto o desenvolvimento da sensibilidade o auxiliará a lidar com questões organizacionais, principalmente com o anseio e as expectativas dos colaboradores e da própria organização, como um todo.

DICAS

Acadêmico(a)! Caso queira aprofundar seus estudos sobre pedagogia organizacional, sugerimos o livro: ALMEIDA, Marcus Garcia de. Pedagogia empresarial: saberes, práticas e referências. Rio de Janeiro: Brasportt, 2006.

Boa leitura!

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Neste tópico, você estudou que:

• O treinamento profissional necessita apresentar conteúdos programáticos que sejam apropriados ao curso que, sejam criativos, cativem os participantes. Para tanto os profissionais envolvidos neste processo necessitam possuir conhecimento dos assuntos a serem abordados.

• Para Carvalho (2006) o treinamento quando bem executado possui muitas vantagens, dentre eles estão: possibilidade de conhecer os diversos níveis hierárquicos da empresa; favorecimento das prioridades de formação; caracterização dos vários tipos e formas de desenvolvimento de pessoal; construção de planos de capacitação de pessoal em curto, médio e longo prazo.

• O treinamento ainda possui suas vantagens quando bem aplicado nas áreas do mercado de trabalho; ao pessoal em serviço; e quanto à organização.

• Para a formulação do diagnóstico organizacional é necessário a análise de três áreas: a) análise da empresa; b) análise das tarefas; c) análise psicológica do colaborador.

• Dentro do treinamento realizado pelo RH de uma empresa, é necessário ter clareza do planejamento (que auxiliará nas ações que serão projetadas num futuro próximo) e dos objetivos a serem alcançados.

• As atividades desenvolvidas pelo RH possibilitam o aperfeiçoamento profissional dos colaboradores, buscando auxiliá-los na formulação de novas visões sobre um contexto, podendo ser este um assunto organizacional em específico ou relacionado à qualidade de vida.

• As possibilidades de atuação do pedagogo organizacional são: coordenar ações culturais em brinquedotecas, parques temáticos etc.; desenvolvimento dos recursos humanos em empresas; assumir a direção e a administração de instituições de ensino; atuar na gestão e desenvolvimento de conselhos tutelares, centros de convivência, abrigos e organizações não governamentais.

• As dimensões utilizadas pelas organizações são: competência na atuação; competência técnica; competência para autoaprendizagem e competência social.

RESUMO DO TÓPICO 3

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• O grau de comprometimento dos profissionais é de suma importância para sua efetivação além de novos métodos didáticos centrados no pensar e no atuar do colaborador, objetivando a o desenvolvimento de capacidades que auxiliem na solução de tarefas complexas, aprimorado a independência e responsabilidade do colaborador.

• O pedagogo organizacional deve possuir sensibilidade e clareza da singularidade de cada colaborador, buscando conhecer sua origem, estando atento às formas utilizadas pelo mesmo para a resolução de situações problema.

• O perfil adequado para um pedagogo organizacional são assim caracterizados por Ribeiro (2010): a) saber trabalhar em equipe; b) saber dirigir um grupo de trabalho e conduzir reuniões; c) Enfrentar e analisar em conjunto situações complexas, práticas e problemas profissionais.

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AUTOATIVIDADE

1 Quando falamos em treinamento articulado estamos nos referindo a estímulos que são realizados no crescimento e desenvolvimento do ser humano, preparando-o profissionalmente estimulando muitas de suas capacidades. Desta forma é correto afirmar que:

( ) O ser humano é estimulado em suas capacidades física, espiritual e política.( ) O ser humano é estimulado física, intelectual e moralmente, visando integrá-lo à equipe.( ) O ser humano é desestimulado em suas capacidades física, intelectual e moral.( ) O ser humano é estimulado principalmente no âmbito intelectual, pois este é superior a todos os demais, ou seja, moral e fisicamente.

2 Vamos imaginar que você seja recrutado para ser um pedagogo organizacional. Quais são as características que você deverá apresentar para o entrevistador, para que ele possa classificá-lo para o cargo?

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237

TÓPICO 4

PEDAGOGIA CARCERÁRIA

UNIDADE 3

1 INTRODUÇÃOAcadêmico(a)! A educação carcerária é outra possibilidade de atuação do

pedagogo em ambientes não formais. Ela pode ser considerada uma ramificação da pedagogia social, já vista no Tópico 1, desta unidade. O atuar do pedagogo em penitenciárias implica consideravelmente acreditar no resgate da dignidade do ser humano.

Durante este estudo, veremos um breve histórico do cárcere, a legislação que ampara o indivíduo encarcerado e lhe dá direito à educação, a educação de jovens e adultos nas prisões e o papel do pedagogo neste contexto.

2 BREVE HISTÓRICO DAS PRISÕESPara iniciar nossos estudos sobre a educação carcerária, torna-se

fundamental conhecer um pouco da sua história e evolução, pois Fernandes (2012), nos relata que as punições para as pessoas que descumpriam as normativas sociais nem sempre foram da maneira como conhecemos hoje.

No século XVII, as punições eram aplicadas de forma violenta e em praça pública, objetivando reforçar o poder monárquico.

FIGURA 119 – PUNIÇÃO EM PRAÇA PÚBLICA

FONTE: Disponível em: <http://blogfamigerados.blogspot.com.br/2013/08/crime-e-castigo-os-25-piores-metodos-de.html>. Acesso em: 3 jan. 2014.

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UNIDADE 3 | PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES

238

As prisões surgiram no século XVIII, com o intuito de punir, reeducar e curar. Esta visão veio à tona após o movimento iluminista em criticar arduamente a maneira de como eram aplicadas anteriormente. O século XIX trouxe à humanidade duas finalidades a serem aplicadas às prisões: punir e educar, fundamentando a reabilitação em três grandes princípios: o isolamento, o trabalho e a modulação da pena.

Fernandes (2012) enfatiza que isolamento significa retirar o indivíduo do convívio com o mundo exterior (família, amigos, atividades diárias e grupos sociais), para que ele possa refletir e arrepender-se dos erros que cometeu, prestar serviços durante o processo de reclusão, visava levar à transformação do preso, tornando-o hábil ao retorno à sociedade. A modulação da pena apontava que a duração do detento na prisão se daria por meio da observação e do desenvolvimento, em termos de comportamento, e dos serviços prestados, entre outros fatores, que implicariam no aumento ou diminuição de sua permanência na intuição penitenciária.

Atualmente, constatamos que manter o indivíduo infrator em cárcere privado não traz diminuição nos índices de criminalidade, pois as estatísticas de reincidência nos mostram claramente que o sistema aplicado não é eficaz na recuperação do indivíduo.

3 LEGISLAÇÃO APLICADA À EDUCAÇÃO DE ADULTOS EM RECLUSÃO

A educação carcerária tornou-se tema de discussão devido ao aumento significativo de adultos presos, dotados de pouca escolaridade. Conforme o Sistema de Informações Penitenciárias (INFOPEN), dos órgãos diretamente ligado ao Ministério da Justiça, o último levantamento estatístico, realizado em dezembro de 2012, mostra-nos que a população carcerária brasileira total, ou seja, dados de todas as unidades federativas (UF) brasileiras, era de 548.003 adultos reclusos, conforme se pode ver a seguir:

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TÓPICO 4 | PEDAGOGIA CARCERÁRIA

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MINISTÉRIO DA JUSTIÇA DEPARTAMENTO PENITENCIÁRIO NACIONAL

Sistema Integrado de Informações Penitenciárias – InfoPen

Formulário Categoria e Indicadores Preenchidos

Todas UFs Referência: 12/2012Indicadores Automáticos

População Carcerária: 548,003

Número de Habitantes: 190.732.694

População Carcerária por 100.000 habitantes:

287,31

FONTE: Disponível em: <http://portal.mj.gov.br/main.asp?View=%7BD574E9CE-3C7D-437A-A5B6-22166AD2E896%7D&Team=&params=itemID=%7BC37B2AE9-4C68-4006-8B16-24D28407509C%7D;&UIPartUID=%7B2868BA3C-1C72-4347-BE11-A26F70F4CB26%7D>. Acesso em: 4 jan. 2014.

Diante dos vários indicadores apresentados pelo INFOPEN, está o levantamento do grau de escolaridade dos adultos reclusos, sendo este o cenário:

Categoria: Perfil do Preso Masculino Feminino Total

Indicador: Quantidade de Presos por Grau de Instrução

482,073 31,64 513,713

11/04/2013 13:58 R009 - Página 1 de 5

Item: Analfabeto 26,62 1,193 27,813 Item: Alfabetizado 62,323 1,779 64,102 Item: Ensino Fundamental Incompleto 219,241 12,188 231,429

Item: Ensino Fundamental Completo 58,541 3,634 62,175

Item: Ensino Médio Incompleto 53,45 3,32 56,77 Item: Ensino Médio Completo 35,76 3,028 38,788 Item: Ensino Superior Incompleto 3,632 451 4,083

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UNIDADE 3 | PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES

240

Item: Ensino Superior Completo 1,8 250 2,05 Item: Ensino acima de Superior Completo 120 9 129

Item: Não Informado 22,92 900 23,82

Valor automático de correção de itens inconsistentes – Diferença com relação à população carcerária do Estado

-2,334 4,888 2,554

FONTE: Disponível em: <http://portal.mj.gov.br/main.asp?View=%7BD574E9CE-3C7D-437A-A5B6-22166AD2E896%7D&Team=&params=itemID=%7BC37B2AE9-4C68-4006-8B16-24D28407509C%7D;&UIPartUID=%7B2868BA3C-1C72-4347-BE11-A26F70F4CB26%7D>. Acesso em: 4 jan. 2014.

UNI

Acadêmico(a)! A educação carcerária é aplicada apenas nas penitenciárias, porém, é importante que vejamos as diferenças entre delegacia, presídio e penitenciária.

Delegacia – S.f. Repartição pública na qual o delegado exerce a sua função.Disponível em: <http://www.sitesa.com.br/dicionarios.html>. Acesso em: 4 jan. 2013.

Presídio: Estabelecimento para onde são enviados os criminosos que não foram julgados para cumprir suas penas.

Penitenciária: Estabelecimento prisional onde o réu, já condenado, é preso para o cumprimento da pena.Disponível em: <http://www.dicionarioinformal.com.br>. Acesso em: 4 jan. 2013.

É importante lembrar, acadêmico(a), que neste tópico trataremos apenas das instituições penitenciárias.

As informações anteriormente expostas nos revelam que o perfil escolar dos indivíduos aprisionados é, em sua maioria, de não concluintes do Ensino Fundamental e Médio. Porém o número de não alfabetizados também chama a atenção.

Para Ferreira (2010), a educação aplicada aos reclusos passa a ser considerada como maneira de proporcionar-lhes a sua reinserção na sociedade, tendo por função modificar os sujeitos envolvidos, possibilitando melhores condições de tolerância à rotina na prisão e novos horizontes após o término da sentença.

O sistema carcerário oferece como opções as oficinas profissionalizantes e o acesso ao ensino formal para a conclusão dos estudos até o Ensino Médio, no período de cumprimento da pena.

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Conforme Ferreira (2010), o interesse pela educação profissionalizante torna-se a opção mais adotada, pois o trabalho realizado é convertido em diminuição da pena e à remuneração pelos serviços prestados é repassada à família.

FIGURA 120 – OFICINA PROFISSIONALIZANTE NA PENITENCIÁRIA

FONTE: Disponível em: <http://www.diariodoscampos.com.br/policia/vara-de-execucoes-pede-apoio-do-empresariado-34805/>. Acesso em: 4 jan. 2014.

Vejamos o que a Lei de Execução Penal nº 7210/84, discorre sobre a Assistência Educacional e Remição de Pena:

SEÇÃO V

Da Assistência Educacional

Art. 17 A assistência educacional compreenderá a instrução escolar e a formação profissional do preso e do internado.

Art. 18 O ensino de 1º grau será obrigatório, integrando-se no sistema escolar da Unidade Federativa.

Art. 19 O ensino profissional será ministrado em nível de iniciação ou de aperfeiçoamento técnico.

Parágrafo único. A mulher condenada terá ensino profissional adequado à sua condição.

Art. 20 As atividades educacionais podem ser objeto de convênio com entidades públicas ou particulares, que instalem escolas ou ofereçam cursos especializados.

Art. 21 Em atendimento às condições locais, dotar-se-á cada estabelecimento de uma biblioteca, para uso de todas as categorias de reclusos, provida de livros instrutivos, recreativos e didáticos.

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SEÇÃO IV

Da RemiçãoArt. 126 O condenado que cumpre a pena em regime fechado ou semiaberto poderá remir, pelo trabalho, parte do tempo de execução da pena.§ 1º A contagem do tempo para o fim deste artigo será feita à razão de 1 (um) dia de pena por 3 (três) de trabalho.§ 2º O preso impossibilitado de prosseguir no trabalho, por acidente, continuará a beneficiar-se com a remição.§ 3º A remição será declarada pelo Juiz da execução, ouvido o Ministério Público.

Art. 126 O condenado que cumpre a pena em regime fechado ou semiaberto poderá remir, por trabalho ou por estudo, parte do tempo de execução da pena. (Redação dada pela Lei nº 12.433, de 2011).

§ 1o A contagem de tempo referida no caput será feita à razão de: (Redação dada pela Lei nº 12.433, de 2011).

I - 1 (um) dia de pena a cada 12 (doze) horas de frequência escolar – atividade de ensino fundamental, médio, inclusive profissionalizante, ou superior, ou ainda de requalificação profissional – divididas, no mínimo, em 3 (três) dias; (Incluído pela Lei nº 12.433, de 2011).

II - 1 (um) dia de pena a cada 3 (três) dias de trabalho. (Incluído pela Lei nº 12.433, de 2011).

§ 2o As atividades de estudo a que se refere o § 1o deste artigo poderão ser desenvolvidas de forma presencial ou por metodologia de ensino a distância e deverão ser certificadas pelas autoridades educacionais competentes dos cursos frequentados. (Redação dada pela Lei nº 12.433, de 2011).

§ 3o Para fins de cumulação dos casos de remição, as horas diárias de trabalho e de estudo serão definidas de forma a se compatibilizarem. (Redação dada pela Lei nº 12.433, de 2011).

§ 4o O preso impossibilitado, por acidente, de prosseguir no trabalho ou nos estudos continuará a beneficiar-se com a remição. (Incluído pela Lei nº 12.433, de 2011).

§ 5o O tempo a remir em função das horas de estudo será acrescido de 1/3 (um terço) no caso de conclusão do ensino fundamental, médio ou superior durante o cumprimento da pena, desde que certificada pelo órgão competente do sistema de educação. (Incluído pela Lei nº 12.433, de 2011).

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§ 6o O condenado que cumpre pena em regime aberto ou semiaberto e o que usufrui liberdade condicional poderão remir, pela frequência a curso de ensino regular ou de educação profissional, parte do tempo de execução da pena ou do período de prova, observado o disposto no inciso I do § 1o deste artigo. (Incluído pela Lei nº 12.433, de 2011).

§ 7o O disposto neste artigo aplica-se às hipóteses de prisão cautelar. (Incluído pela Lei nº 12.433, de 2011).

§ 8o A remição será declarada pelo juiz da execução, ouvidos o Ministério Público e a defesa. (Incluído pela Lei nº 12.433, de 2011).

Art. 127 O condenado que for punido por falta grave perderá o direito ao tempo remido, começando o novo período a partir da data da infração disciplinar.

Art. 127 Em caso de falta grave, o juiz poderá revogar até 1/3 (um terço) do tempo remido, observado o disposto no art. 57, recomeçando a contagem a partir da data da infração disciplinar. (Redação dada pela Lei nº 12.433, de 2011).

Art. 128. O tempo remido será computado para a concessão de livramento condicional e indulto.

Art. 128. O tempo remido será computado como pena cumprida, para todos os efeitos. (Redação dada pela Lei nº 12.433, de 2011).

Art. 129 A autoridade administrativa encaminhará mensalmente ao Juízo da execução cópia do registro de todos os condenados que estejam trabalhando e dos dias de trabalho de cada um deles.

Art. 129 A autoridade administrativa encaminhará, mensalmente, ao Juízo da execução, ao Ministério Público e à Defensoria Pública cópia do registro de todos os condenados que estejam trabalhando e dos dias de trabalho de cada um deles. (Redação dada pela Lei nº 12.313, de 2010).Parágrafo único. Ao condenado dar-se-á relação de seus dias remidos.

Art. 129. A autoridade administrativa encaminhará mensalmente ao juízo da execução cópia do registro de todos os condenados que estejam trabalhando ou estudando, com informação dos dias de trabalho ou das horas de frequência escolar ou de atividades de ensino de cada um deles. (Redação dada pela Lei nº 12.433, de 2011).

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§ 1o O condenado autorizado a estudar fora do estabelecimento penal deverá comprovar mensalmente, por meio de declaração da respectiva unidade de ensino, a frequência e o aproveitamento escolar. (Incluído pela Lei nº 12.433, de 2011).

§ 2o Ao condenado dar-se-á a relação de seus dias remidos. (Incluído pela Lei nº 12.433, de 2011).

Art. 130. Constitui o crime do artigo 299 do Código Penal declarar ou atestar falsamente prestação de serviço para fim de instruir pedido de remição.

FONTE: Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7210.htm>. Acesso em: 4 jan. 2014.

Mesmo sabendo deste benefício concedido aos condenados, ou seja, que a educação formal lhe proporciona remição da pena, pouco se tem notícia de políticas públicas expressivas neste contexto, pois o Estado deixa a desejar em suas ações que visem à reabilitação, inclusão social e educação no cárcere, deixando à sociedade a impressão de uma punição sem objetivos.

4 A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS APLICADA AO CÁRCERE PRIVADO

A base educacional aplicada ao sistema prisional é a Educação de Jovens e Adultos (EJA), que se encontra aportada em documentos oficiais, porém sem especificidade direcionada à educação de detentos.

Ferreira (2010), enfatiza que a proposta do ensino formal aos apenados objetivava a erradicação do analfabetismo, implantada pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura), que teve apoio do Brasil incluindo a erradicação do analfabetismo na LDB 9394/96.

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FIGURA 121 – EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NO SISTEMA PRISIONAL

FONTE: Disponível em: <https://www.seds.mg.gov.br/index.php?option=com_content&task=view&id=1126&Itemid=71>. Acesso em: 4 jan. 2014.

A evasão escolar dos detentos pode ter sido motivada por vários fatores, dentre eles: condições culturais, dificuldades financeiras, difícil acesso por questões geográficas ou influência de terceiros. Podemos arriscar dizer que estes fatores podem ter contribuído diretamente em sua inserção no mundo da criminalidade, considerando que o indivíduo não escolarizado provém de uma visão crítica de mundo deficiente ou distorcida, dependendo também do meio em que está incluso.

Para Freire (1980), a educação é um ato de libertação e leva o educando a tomar consciência das contradições do mundo que o cerca. Assim, Gadotti (2010) reforça este pensamento afirmando que a educação proporciona ao cidadão a conquista da liberdade e o exercício da cidadania, tornando-o autônimo e motivado a ampliar seus horizontes.

Mesmo que o preso tenha perdida a condição de viver em sociedade, lhe

é assegurado conforme as leis vigentes e tratados internacionais as condições de igualdade e acesso a serviços como saúde, assistência e educação, esta última visando também a ressocialização e materialização de um direito.

Tratando-se de indivíduos em cumprimento de pena, muito precisa ser feito para a implantação destes métodos educacionais. Conforme Fernandes (2012), a contradição entre educação e reabilitação carcerária nos quais o objetivo é a segurança, anula o sujeito.

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FIGURA 122 – ANULAÇÃO DO SUJEITO

FONTE: Disponível em: <http://sacolagraduado.blogspot.com.br/2010/12/imagens-de-catanduvas.html>. Acesso em: 4 jan. 2014.

Para que estas práticas sejam efetivas faz-se necessário reconhecer a cidadania dos apenados para que, de fato, os direitos educativos possam ser aplicados. Sendo a educação um direito, pouco se sabe do seu acesso ou como é conduzida no sistema prisional, devido à questão da segurança.

Fernandes (2012) coloca que a educação formal administrada pelas Secretarias Estaduais de Educação oferece certificação por meio do método EJA que contribui para remição da pena, já a educação não formal que trabalha questões de como agir em grupo, construção e reconstrução da concepção de mundo, bem como o respeito às diferenças, são ministradas por igrejas, ONGs e voluntários que coordenam projetos neste sentido.

FIGURA 123 – EDUCAÇÃO NÃO FORMAL NAS PENITENCIÁRIAS

FONTE: Disponível em: <http://noticias.uol.com.br/album/2013/10/17/o-que-os-presos-podem-e-nao-podem-fazer.htm>. Acesso em: 4 jan. 2014.

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5 O PEDAGOGO E A EDUCAÇÃO CARCERÁRIA: DESAFIOS APLICADOS A ESTE CONTEXTO

Lidar com a educação carcerária é um desafio para o pedagogo, pois exige equilíbrio emocional, superação dos medos e amor pelo educar, principalmente num ambiente em que irá lidar diretamente com as desigualdades sociais, com o isolamento, com as resistências e com a hostilidade.

Fernandes (2012, p. 208), enfatiza que

[...] ser educador em prisões é trabalhar com a diversidade, a diferença, o medo, é enfrentar situações tensas do mundo do crime e apostar no ser humano. Isso exige do educador aprendizagens de outra natureza, que não somente as oferecidas em salas de aula da universidade.

A cada novo ambiente, em que os saberes pedagógicos são requisitados, é necessário redesenhar o trabalho a ser desenvolvido, pois é preciso estar preparado às novas demandas do mundo contemporâneo marcado pela modernização, à ampliação dos direitos, à cidadania e às tecnologias da informação. Desta forma, a educação passa a desempenhar um papel de maior amplitude e complexidade.

Pensar a educação nos espaços em que a liberdade não é oferecida como condição, nos provoca a pensar sobre outras formas que sejam eficazes na recuperação deste indivíduo? Por onde devemos começar? Quais fatores influenciam para o aumento da criminalidade?

Estudiosos das áreas de educação, sociologia, psicologia, direito, antropologia, entre outras, discutem cada um em sua área de abrangência e muitas vezes de formar transdisciplinar, sobre estas questões.

Fernandes (2012) considera que a educação inserida nas prisões potencializa processos educativos que vão além do ensino escolar, pois coloca em evidência o professor no papel de ator principal, na construção do espaço, objetivando expandir a visão do aprisionado, de forma a reconstruir seu mundo como algo dinâmico e inacabado.

As instituições carcerárias apresentam uma cultura própria, sendo desafiador ao pedagogo estar inserido neste mundo de adversidades, tendo que familiarizar-se com terminologias próprias e situações hostis adversas. Neste sentido, cabe e ele refletir intrinsecamente e cercar-se de profissionais experientes nesta modalidade, a fim de que juntos construam instrumentos de ação, compartilhem angústias e criem a identidade do professor dentro do no sistema prisional.

Neste sentido, como bem denota Fernandes (2012, p. 211):

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[...] é importante considerar que os professores passam por processo semelhante à chegada do novato na prisão, quando lhe são passadas as “regras da casa” pela equipe dirigente, no processo denominado “boas-vindas”. Trata-se de um momento em que avalia sua condição duplamente iniciante: como professor em um espaço com características próprias e onde rapidamente deve aprender a sobreviver – ali ele percebe a importância de buscar saberes, não só para lidar com diferentes culturas, mas para lidar com conflitos e dilemas para os quais não foi preparado na formação inicial e nem em experiências em outros espaços escolares.

Atuar no cenário prisional é ter consciência da fragilidade dos currículos oferecidos nas universidades, sento este um ambiente singular, nos quais muitas são as necessidades para a concretização do ato educacional: a trajetória escolar, a história social e cultural e o estreito vínculo com a violência.

Tais fragilidades denotam a complexidade da instauração e fortificação da caminhada na formação do pedagogo, sendo o ambiente prisional transmissor de insegurança independentemente da categoria profissional que nele atue.

DICAS

Lançado em 2003, conta a história de um médico (Luiz Carlos Vasconcelos) que se oferece para realizar um trabalho de prevenção à AIDS no maior presídio da América Latina, o Carandiru. Lá ele convive com a realidade atrás das grades, que inclui violência, superlotação das celas e instalações precárias. Porém, apesar de todos os problemas, o médico logo percebe que os prisioneiros não são figuras demoníacas, existindo dentro da prisão solidariedade, organização e uma grande vontade de viver.

FONTE: Disponível em: <http://www.adorocinema.com/filmes/filme-52585/>. Acesso em: 4 jan. 2014.

Acadêmico(a)! Para melhor visualizar e aprofundar ainda mais este conteúdo, deixamos como sugestão o seguinte filme:

Outro fator relevante ao pedagogo que pretende atuar em penitenciárias é estar consciente de que a privação da liberdade estabelece uma relação forte com um passado pleno de carências, sejam familiares, financeiras, sociais ou emocionais, que poderão vir à tona no momento em que questões relativas à aprendizagem forem trabalhadas.

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FIGURA 124 – DESIGUALDADE SOCIAL

FONTE: Disponível em: <http://gazetaonline.globo.com/_conteudo/2012/08/noticias/a_gazeta/mundo/1353255-brasil-e-o-4-pais-em-desigualdade-social.html>. Acesso em: 4 jan. 2014.

Fernandes (2012, p. 214), identifica este fator ao colocar que:

Para o homem em privação de liberdade, a relação presente-passado-futuro é fundamental, em qualquer programa educativo que se lhe apresente. É o cotidiano que revela as bases sobre o que é possível, mas não deixa de trazer embutido o passado, enquanto memória e incorporação de vivências. Sua expectativa de futuro é algo que deve também ser considerada, e a educação pode oferecer condições para que ele possa conviver, no presente, com diferentes circunstâncias, sabendo a hora de “mostrar-se” ou “esconder-se”, de falar ou de calar, de proteger-se para sobreviver. O indivíduo em privação de liberdade traz, por outro lado, enquanto memória, vivências por vezes negativas, de situações pelas quais passou antes e durante sua carreira deliquencial. Em suas expectativas de futuro estão o desejo de começar uma nova vida, na qual possa trabalhar, voltar a estudar e construir uma família.

Acadêmico(a)! Por inúmeras vezes a sociedade julga o indivíduo em reclusão criando para este um estigma, devido a sua condição de apenado, esquecendo da sua condição humana que, por algum motivo, foi conduzido a cometer algum ato infracional. Não nos cabe fazer qualquer tipo de julgamento moral, condenando ou inocentando o apenado, e sim cabe-nos direcionar outros olhares a este sujeito, ou seja, buscar nele seus potenciais cognitivos e emocionais, apresentando-lhe um novo caminho.

LEITURA COMPLEMENTAR

A importância da educação no sistema prisional brasileiro

Curitibanos, 11/06/2013, Correio Lageano, por Geraldo Neri Baggio Folchini, Agente Penitenciário da Região de Curitibanos/SC.

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As pessoas encarceradas, como os demais seres humanos, têm o direito ao acesso à educação. A Declaração Universal dos Direitos Humanos reconhece o direito e prevê o acesso à educação de pessoas encarceradas que, segundo as Regras Mínimas para o Tratamento de Prisioneiros, destaca-se a de número 77: “Serão tomadas medidas para melhorar a educação de todos os presos em condições de aproveitá-la, incluindo instrução religiosa nos países em que isso for possível...”

A educação de analfabetos e presos jovens será obrigatória, prestando-

lhes a administração especial atenção. Tanto quanto possível, a educação dos presos estará integrada ao sistema educacional do país para que depois da sua libertação possam continuar, sem dificuldades, a sua educação.

No nosso País, há presos dentro e fora das cadeias. Muitos adolescentes

estão presos às “maquininhas” tecnológicas que facilitam sua conexão com amigos, mas não se dão conta de que não estão se conectando consigo mesmos. Adultos estão presos a telenovelas e reality shows, quando poderiam estar investindo o tempo em algo mais libertador.

Já houve críticas quanto à leitura dentro das prisões, mas é necessário, de

uma forma ou outra, investir em educação para a diminuição da criminalidade. Com a leitura sadia e cultural, o preso fica menos ocioso, maquina menos maldade, desconta seu tempo de prisão e pode até reincidir menos.

Se é utopia, isso eu não sei, mas sei que vale a pena tentar, como já dizia Martin Luther King: “É melhor tentar e falhar, do que se preocupar e ver a vida passar; é melhor tentar, ainda que em vão, do que sentar-se fazendo nada até o final. Eu prefiro na chuva caminhar, do que em dias tristes em casa me esconder. Prefiro ser feliz, embora louco, do que em conformidade viver...”.

Não é preciso ser um criminoso para estar preso. O que não falta é gente “confinada” na ignorância, sem saber como escrever corretamente. Ao ler um livro, pode-se ter uma vista panorâmica que uma prisão não tem.

O professor livre-docente da Universidade de São Paulo e ex-preso Roberto da Silva olha para o sistema prisional sob um ângulo diferente e afirma que “não é papel da educação mudar o criminoso”.

Concorda-se com essa visão, mas se rebate em dizer que é pela educação

que se qualificam profissionais. O sistema prisional é a ponta final do Sistema de Justiça Criminal, importante para quebrar o ciclo vicioso do crime e permitir a reeducação, ressocialização e reinclusão dos condenados e nessa órbita está a educação e a leitura que tem o poder de transportar uma realidade à outra, fazendo com que o condenado faça escolhas, processando informações sem que o poder econômico ou político reflita nas suas decisões.

FONTE: Disponível em: <http://www.clmais.com.br/informacao/56524/a-import%C3%A2ncia-da-educa%C3%A7%C3%A3o-no-sistema-prisional-brasileiro>. Acesso em: 4 jan. 2014.

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RESUMO DO TÓPICO 4

Neste tópico, você estudou que:

• No século XVII, as punições eram aplicadas de forma violenta e em praça pública, objetivando reforçar o poder monárquico.

• As prisões foram criadas no século XVIII, com o intuito de punir, reeducar e curar; esta visão veio à tona após o movimento iluminista em criticar arduamente a maneira de como eram aplicadas.

• No século XIX, ocorreram mudanças, duas são de maior importância: punir e educar, fundamentando a reabilitação em três grandes princípios: o isolamento, o trabalho e a modulação da pena.

• Existe diferença entre as penitenciárias e presídios. Presídio é estabelecimento para onde são enviados os criminosos que não foram julgados para cumprir suas penas. Penitenciária é o estabelecimento prisional onde o réu já condenado é preso para o cumprimento da pena.

• A educação aplicada aos reclusos passa a ser considerada como maneira de proporcionar aos penados a sua reinserção e retorno à sociedade, tendo por função modificar os sujeitos envolvidos, possibilitando-lhes melhores condições de tolerância à rotina na prisão e após o término da sentença.

• Mesmo que o preso tenha perdida a condição de viver em sociedade, lhe é assegurado, conforme as leis vigentes e tratados internacionais as condições de igualdade e acesso a serviços como saúde, assistência e educação, esta última visa além da educação a ressocialização e materialização de um direito.

• A educação nos presídios pode ser formal e informal.

• Alguns fatores que podem auxiliar as pessoas a se encaminharem ao mundo do crime são: condições culturais, dificuldades financeiras, difícil acesso por questões geográficas ou influência de terceiros.

• O pedagogo que trabalha junto aos encarcerados necessita possuir: equilíbrio emocional, superação dos medos e amor pelo educar, principalmente em um ambiente em que irá lidar diretamente com as desigualdades sociais, com o isolamento, com as resistências e com a hostilidade.

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AUTOATIVIDADE

1 A LDB dá direito ao presidiário de continuar seus estudos. Desta forma, disserte sobre as vantagens em dar continuidade aos estudos, mesmo estando preso.

2 Se você fosse convidado para trabalhar junto aos detentos, como seu trabalho seria realizado neste ambiente?

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