10
PROGRAMA DE CURSOS POSITIVO 2011 ÁREA PEDAGÓGICA GERAÇÃO DIGITAL E APRENDIZAGEM No encontro presencial deste ano com as equipes diretivas, pretende-se promover debates e reflexões sobre o processo de ensino e aprendizagem das novas gerações, tudo associado às tecnologias da informação e da comunicação. Muitas das características das novas gerações são respaldadas nas recentes descobertas das ciências que estudam o desenvolvimento e os processos de aprendizagem humana. Até que ponto as situações de aprendizagem propiciadas pela escola incorporam esses fundamentos e como se lida com crianças e jovens que apreendem o mundo com instrumentos de colaboração e “cocriação”? Rossana Ghilardi Cardoso [email protected] 0800 725 3536 15

PROGRAMA DE CURSOS POSITIVO 2011 · reflexões sobre o processo de ensino e aprendizagem das novas gerações, tudo associado às tecnologias da informação e da comunicação. Muitas

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: PROGRAMA DE CURSOS POSITIVO 2011 · reflexões sobre o processo de ensino e aprendizagem das novas gerações, tudo associado às tecnologias da informação e da comunicação. Muitas

PROGRAMA DECURSOS POSITIVO 2011

ÁREA PEDAGÓGICAGERAÇÃO DIGITAL E APRENDIZAGEM

No encontro presencial deste ano com as equipes diretivas, pretende-se promover debates e

reflexões sobre o processo de ensino e aprendizagem das novas gerações, tudo associado às

tecnologias da informação e da comunicação. Muitas das características das novas gerações são

respaldadas nas recentes descobertas das ciências que estudam o desenvolvimento e os processos

de aprendizagem humana. Até que ponto as situações de aprendizagem propiciadas pela escola

incorporam esses fundamentos e como se lida com crianças e jovens que apreendem o mundo com

instrumentos de colaboração e “cocriação”?

Rossana Ghilardi [email protected]

0800 725 3536

15

Page 2: PROGRAMA DE CURSOS POSITIVO 2011 · reflexões sobre o processo de ensino e aprendizagem das novas gerações, tudo associado às tecnologias da informação e da comunicação. Muitas

Geração Digital

2

IDENTIDADE ORGÂNICA: PATRIMÔNIO DA

CULTURA ESCOLAR.

Caro (a) Educador (a):

Nossas ações são capazes de mostrar ao

mundo quem somos. À forma pela qual os

outros nos reconhecem chamamos de

identidade.

Assim como as pessoas, cada escola possui a

sua identidade que aqui definimos como

identidade orgânica, um composto de valores,

conhecimentos e práticas que são a essência

da instituição e tornam-se, ao longo do

tempo, em valioso patrimônio da cultura

escolar.

É nesse sentido que o Programa de Cursos

2011 privilegia esta temática composta por

reflexões sobre as diferentes áreas do

conhecimento e do campo da gestão escolar

para nos conectarmos em permanente troca

de saberes e ações.

Atitudes essenciais para renovar e imprimir a

Identidade orgânica: patrimônio da cultura

escolar.

Este texto compõe o material do Programa de Cursos Positivo 2011. Este Programa destina‐se às Escolas Conveniadas ao Sistema Positivo de Ensino (SPE). O texto apresenta aprofundamento didático‐metodológico da Proposta Pedagógica dos Livros Didáticos Integrados Positivo e do Portal Positivo. A seguir, conheça a equipe de assessoria da Área Pedagógica e de Informática Educativa:

Compõem a equipe de assessoria da área Pedagógica e de Informática Educativa:

Marileusa Guimarães de Souza

[email protected] Coordenadora da Área Pedagógica e de

Informática Educativa

Cristina Pereira Chagas [email protected]

Assessora da Área Pedagógica e de Informática Educativa

Maria Beatriz Sandoval Filardiga

[email protected] Assessora da Área Pedagógica e de Informática

Educativa

Ottilia Marcacci Ribeiro da Silva [email protected]

Assessora da Área Pedagógica e de Informática Educativa

Rossana Ghilardi Cardoso

[email protected] Assessora da Área Pedagógica e de Informática

Educativa

Acedriana Vicente Sandi

Diretora Pedagógica

FALE CONOSCO

0800 725 3536

Page 3: PROGRAMA DE CURSOS POSITIVO 2011 · reflexões sobre o processo de ensino e aprendizagem das novas gerações, tudo associado às tecnologias da informação e da comunicação. Muitas

Geração Digital

3

NOVAS GERAÇÕES E IDENTIDADE

Nos dias atuais, tornaram-se comuns casos de adolescentes, jovens e até crianças “publicizando” suas vidas íntimas, utilizando para isso principalmente ferramentas de publicação da Internet como sites de relacionamento, blogs ou youtube.

A maior parte dos casos que viraram notícia envolve o ambiente escolar, seja como o lugar de ligação entre os envolvidos, seja como espaço no qual os fatos noticiados ocorreram. São brigas entre alunos no pátio, confronto com professores nas salas de aulas ou práticas sexuais nos banheiros das escolas. O que leva educadores a questionar: Quem são esses alunos que entram e saem da escola diariamente? Em que ponto a escola falhou na formação deles?

Em contrapartida, e com menor divulgação na imprensa de massa, temos muitos casos de crianças, jovens e adolescentes hasteando bandeiras de proteção ambiental, direitos humanos e de outros temas globais ou locais que revelam maturidade e consciência planetária.

Pesquisa on-line realizada em 2009 com alunos de escolas particulares de 18 estados do Brasil tenta revelar como pré-adolescentes e adolescentes percebem sua própria identidade. Resgatam-se aqui alguns dados significativos e até surpreendentes. Foram 1.406 participantes com idade entre 11 e 16 anos, sendo a maioria residente em São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. (Portal Educacional, 2009).

Um primeiro ponto de reflexão está na constatação de que as respostas do grupo investigado não indicam problemas com autoestima. Aproximadamente 90% deles “dão nota” sete para mais quanto ao gostar de si mesmo.

Gráfico 1 – Quanto você gosta de você. Fonte: Portal Educacional, 2009, p. 2.

Reforçando essa constatação, quase 90% responderam, no que se refere às características pessoais, que não mudariam nada ou mudariam apenas algumas delas, pois gostam do modo como são.

Gráfico 2 – Mudar algumas de suas características. Fonte: Portal Educacional, 2009, p. 2.

Julgam a timidez e o desempenho escolar como principais aspectos incomodativos, mas, no geral,

valorizam caráter, simpatia e a maneira como se relacionam com os outros.

Page 4: PROGRAMA DE CURSOS POSITIVO 2011 · reflexões sobre o processo de ensino e aprendizagem das novas gerações, tudo associado às tecnologias da informação e da comunicação. Muitas

Geração Digital

4

Gráfico 3 – Indicativos de personalidade. Fonte: Portal Educacional, 2009, p. 3.

Vencer na vida é a principal meta para todas as faixas etárias e o dinheiro ganha importância à

medida que ficam mais velhos. Ser popular é pouco significativo em comparação com os demais itens.

Gráfico 4 – Distribuição por faixa etária quanto à importância de alguns aspectos. Fonte: Portal Educacional, 2009, p. 6.

Alguns interesses variam com o gênero (masculino e feminino), principalmente no que se refere às

preocupações deles: aparência se destacando para as meninas e dinheiro e namoro, para os meninos.

Gráfico 5 – Distribuição por gênero quanto à importância de alguns aspectos. Fonte: Portal Educacional, 2009, p. 7.

Os pesquisadores ressaltam em suas análises principalmente o bom conceito que esses jovens têm

sobre si e a preocupação com questões individuais em detrimento das coletivas (como política, arte, desigualdade social e ambiente). (Portal Educacional, 2009, p. 08.)

Os fatos e dados apontados anteriormente têm relação direta com o perfil das novas gerações, imersas em recursos tecnológicos e comunicacionais. Destacam-se, assim, outras questões para a escola:

Page 5: PROGRAMA DE CURSOS POSITIVO 2011 · reflexões sobre o processo de ensino e aprendizagem das novas gerações, tudo associado às tecnologias da informação e da comunicação. Muitas

Geração Digital

5

Como se dá a aprendizagem na condição cibernética? E até que ponto o ciberespaço interfere na construção da imagem identitária das crianças e dos jovens? (Lemos, 2002, p. 2.)

Esses questionamentos e outros tantos são ponto de partida para investigação sobre as novas gerações em diversos campos de estudo. Um exemplo está na Sociologia que, na vertente “funcionalista estrutural” (Freire Filho & Lemos, 2008, p. 15), classifica as gerações identificando perfil específico de 15 em 15 anos. O setor empresarial, por exemplo, adotou uma classificação e divulga constantemente características relacionadas às chamadas Geração Baby Boomer, X e Y. A última, também conhecida como geração digital, on-line, conectada, internet, do milênio, etc.

GERAÇÕES X, Y e Z

A pesquisa “Identidade – Qual é a sua?” é um recorte revelador, dá voz ao objeto do presente artigo

e oferece elementos para reflexão crítica, uma vez que tem se intensificado a utilização dos perfis de gerações para se entender e lidar com a juventude. Na área de management acontecem ajustes e reestruturações justificadas nas características da Geração Y, que ingressou recentemente no mercado de trabalho e gera, supostamente, conflitos transformadores. Foram empregados conceitos e interpretações de autores americanos que, segundo Freire Filho e Lemos, tentam “captar características e experiências distintivas compartilhadas pela maioria das pessoas jovens, dentro de uma combinação particular de condições sociais, culturais, econômicas e políticas” (2008, p. 15). Tal perfil insistentemente destacado nas publicações voltadas à gestão empresarial e veiculado pela imprensa podem servir para reforçar “premissas e interesses do atual estágio do capitalismo” (Freire Filho & Lemos, 2008, p. 16).

A distribuição de gerações destacada no mercado de trabalho se refere às economicamente ativas:

Tabela 1 – Distribuição das gerações pós-guerra. Fonte: Ferreira, 2010.

O interesse tem sido mais intenso na chamada Geração Y, por fatores econômico-produtivos – ingresso no mercado de trabalho –, no entanto, a Geração Z que frequenta os bancos escolares, está em processo de desenvolvimento; portanto, com o rol de características ainda em aberto. Assim, no meio escolar, muitas vezes são utilizados os parâmetros da Geração Y, acreditando na similaridade de demandas e interesses, uma vez que o espaço de tempo entre elas é pequeno e certas identificações se mantêm. Partindo do princípio de que as transformações sociotécnicas são um dos substratos das mudanças comportamentais ocorridas a cada nova geração, a Segunda Grande Guerra gerou uma marca profunda na humanidade. Após seu término, ocorreu um boom de nascimentos, levando à constituição da geração chamada Baby Boomers, que marcou por questionar as lideranças políticas, pelo trabalho árduo e busca do sucesso profissional pautado em planos de carreira a longo prazo (os workaholics). Com a expectativa de vida ampliada, essa geração ainda atua com muita força no mercado de trabalho. A Geração X é constituída por aqueles que testemunharam a revolução tecnológica, viram crescer o envolvimento da mulher no mercado de trabalho e a consequente transformação no formato da família, presenciam a instabilidade no trabalho e têm o “ter” acima do ser (consumo e dinheiro). Assim, chega-se à Geração Y, que é apresentada como responsável e inovadora, embora irrequieta e individualista. Com elevados padrões de educação formal, impacientes, não se submetem à hierarquia, são multitarefados e imediatistas, com dificuldade em autoconhecimento, mas sinceros, críticos e colaborativos. No entanto, não se identificam particularmente em nenhum dos representantes dessas gerações todas as características listadas, pois são generalizações resultantes de contextos muito específicos. Além disso, a

Baby Boomers

1946

1964

Geração X

1965

1981

Geração Y

1982

1995

Geração Z

1996

2009

Geração Alpha

2010

...

Page 6: PROGRAMA DE CURSOS POSITIVO 2011 · reflexões sobre o processo de ensino e aprendizagem das novas gerações, tudo associado às tecnologias da informação e da comunicação. Muitas

Geração Digital

6

visão estanque das gerações dissimula a interconexão entre elas e aponta os comportamentos como naturais e necessários. Pais, familiares, professores e “sócioeducadores” em geral devem se conformar com o que se projeta para a Geração Z? A CRIANÇA COMO SUJEITO SOCIAL

Mesmo nos estudos sociológicos, a segmentação nas gerações não é consenso. Defendendo abordagem interacionista, Mollo-Bouvier (2005, p. 393) toma “a criança como sujeito social, que participa de sua própria socialização, assim como da reprodução e da transformação da sociedade”. A autora também considera que o modo de vida das crianças em nossa sociedade é consequência das formas de viver das famílias, as quais, nos últimos anos, se transformaram principalmente pela ”generalização do trabalho das mulheres, urbanização e afastamento do domicílio em relação ao local de trabalho, aumento da precariedade econômica com o crescimento do desemprego, transformação da família”. (Mollo-Bouvier, 2005, p. 392.) Mollo-Bouvier aponta a complexidade do ser humano que dificilmente se enquadra nas segmentações por períodos oferecidas pela psicologia e biologia, tampouco nas caracterizações da sociologia. “A concordância entre as etapas do desenvolvimento biológico, afetivo e cognitivo, e sua inscrição nas regras do jogo social são sempre aproximadas e dão lugar a reajustes constantes. Elas variam de uma época a outra, de uma sociedade a outra, de um grupo social a outro, de um sujeito a outro.” (Mollo-Bouvier, 2005, p. 393).

A autora não nega a existência de expectativas sociais as quais famílias, escola e outras instituições adotam como parâmetro para identificar e enquadrar os mais novos. No entanto, percebe descompasso entre o discurso inclusivo e interacionista com a prática do enquadramento segmentado. “Se o que ocorre dentro de cada instituição usa conhecimentos e competências de ordem psicológica e pedagógica no interesse da criança, o modo de socialização escolhido e a própria existência das instituições obedecem a exigências de ordem sociológica que têm consequências importantes sobre os modos de vida das crianças na hora atual” (Mollo-Bouvier, 2005, p. 396), levando-as a cometer erros, abusos e coerções para manter-se no mercado. Para Mollo-Bouvier (2005) faz-se necessário entender as ações e pressões das instituições de ensino, pois a atuação segmentária (por idade e por interesse) e precoce do atendimento à criança se apresenta como um dos diferenciais das sociedades capitalistas-liberais.

Percebe-se, então, a existência de múltiplos indicadores identitários junto às crianças e jovens, que vão da “infância idealizada e superprotegida, considerada um paraíso a se reencontrar ou construir, e as crianças trancafiadas em cidades satélites ou clientes fiéis demais da proteção social e das instituições de atendimento, [...], podem-se ler todas as incoerências e todas as contradições que marcam o lugar das crianças em nossa sociedade.” (Mollo-Bouvier, 2005, p. 400). CIBERCULTURA E APRENDIZAGEM

A dificuldade de se enquadrarem seres humanos complexos e multifacetados em rol de

características mostra às instituições de educação formal, como a escola, a necessidade de entender contextos sócio-históricos amplos que incidem nos processos de ensino e de aprendizagem.

Dessa forma, para dar conta da principal questão norteadora desse artigo – a identificação de diferenciais na aprendizagem daqueles que frequentam os bancos escolares na atualidade, chamados de Geração Digital –, lança-se mão de pensadores que descrevem o momento atual.

Autores como Silva (2010) e Lemos (2004) apontam o contexto sociotécnico como definitivo na consolidação das sociedades. Assim, tem-se a Cibercultura como uma marca particular e contundente, criada na confluência das telecomunicações e da microeletrônica, como substratos inéditos na história da humanidade, impactando na forma como se ensina e se aprende na contemporaneidade.

A Cibercultura se forma na sociocultura da microinformática. Para Lemos, é um conceito que ultrapassa a questão puramente tecnológica; é muito mais “uma atitude que, no meio dos anos 70, influenciada pela contracultura americana, acena contra o poder tecnocrático. O lema da microinformática será: ‘computadores para o povo’” (2004, p. 101) e na década de 90, “conexão generalizada” (2004, p. 109). É fruto da chamada era da comunicação e da era digital, que apresenta a possibilidade de integração total das pessoas, informações e recursos tecnológicos. O mundo torna-se de fato globalizado e interligado

Page 7: PROGRAMA DE CURSOS POSITIVO 2011 · reflexões sobre o processo de ensino e aprendizagem das novas gerações, tudo associado às tecnologias da informação e da comunicação. Muitas

Geração Digital

7

através das mídias eletrônicas, digitais e outras (analógico-mecânica), permitindo a comunicação instantânea e contínua no emprego de múltiplas linguagens (Silva, p. 134, 2010). De forma objetiva, o filósofo francês e um dos principais estudiosos do impacto social da Internet, Pierre Lévy, define cibercultura como “o conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço.” (1999, p. 17.)

Na caracterização do ciberespaço como novo espaço de relação, Lemos (2002, p. 2) enfatiza entre outros aspectos a liberação do canal de emissão a ser usado por qualquer um com acesso à rede. Para Lévy (1999), o espaço virtual amplia o compartilhar em proporção inimaginável, portanto, criando condições para uma forma da aprendizagem chamada colaborativa, que será retomada mais adiante. Mas o compartilhamento ampliado, facilitado e permanente das informações também gera as distorções apresentadas no início desse artigo de jovens que “publicizam” suas vidas privadas de forma indiscriminada ou pouco consciente. Portanto, o ciberespaço, assim como qualquer espaço de relacionamento humano, oferece apropriações e implicações a serem entendidas, exploradas, discutidas e até normatizadas.

Um aspecto do ciberespaço a ser clarificado é sua constituição virtual, que não se contrapõe ao real. Virtual se refere ao que existe em potencial (a árvore enquanto potencial da semente); no caso da informática é a informação representada matematicamente por um conjunto de códigos digitais de sistema binário e que se reconstitui, tornando-se presente num determinado momento, num espaço e por um alguém que a acessa (informação). “Diremos que uma imagem é virtual se sua origem for uma descrição digital em uma memória de computador” (Lévy, 1999, p. 73). Assim, é virtual na memória do computador, mas atual na tela do internauta que a acessa. Portanto, o ciberespaço é relacional e real para seus usuários e pode consolidar aprendizagens variadas e generalizadas.

Outro aspecto importante da cibercultura e que tem implicações visíveis na educação formal está relacionado justamente com a digitalização da informação (sua virtualização), permitindo a ênfase no processo muito mais do que no produto, nos resultados. Dessa maneira, as condições técnicas disponíveis transformam a relação com o erro: se com a caneta tinteiro errar significava refazer a página toda, hoje, com os editores digitais, aprende-se por simulação, pela facilitada manipulação dos dados na reconstrução permanente da informação (Ramal, 2000, p. 2). No entanto, é preciso ressaltar que a mídia digital não elimina nem se contrapõe à analógica, mas as duas podem se complementar e tornar-se interdependentes. O mais relevante na cibercultura não se refere ao tipo de mídia, mas a algumas funções potencializadas pela digitalização da informação, como “a capacidade de processamento, de interação e de intervenção entre códigos e sistemas culturais existentes.” (Machado, 2001, p. 221)

Para Ramal (2000), na era do ciberespaço, o cidadão deve ser levado a aprender continuamente de forma consciente e crítica, pois a informação está se refazendo o tempo todo na confluência de diversas culturas, saberes e instrumentos. Prima-se pela criatividade, pela flexibilidade e pelo empreendedorismo; então, educar será “desenvolver processos abrangentes, segundo critérios como consciência, previsibilidade, motivação, envolvimento, performance, capacidade de articular conhecimentos, de comunicar-se e estabelecer relação.” (p. 2-3)

Portanto, o ciberespaço, embora fragmentado, é plural, pois democratiza a comunicação nas mensagens publicadas e acessadas por todos, como formato fluido “de construção de imagens identitárias” (Lemos, 2002, p. 10), na produção hipertextual e dinâmica de culturas.

Dessa forma, Ramal (2000) indica como exemplo o fim das avaliações pautadas na memória e a consolidação da verificação dos procedimentos adotados pelos alunos. Também ressalta a transformação do papel do professor, como aquele que reconhece ecologias cognitivas e é mentor de estratégias didático-metodológicas. Aponta a incoerência na organização de classes escolares homogêneas por idade e nível de conhecimento (massificadoras, atendendo ao modelo industrial), sugerindo o atendimento personalizado e o agrupamento por interesses “em função de parcerias e projetos comuns, formados a partir da complementação de competências para a aprendizagem cooperativa” (p. 3).

Ainda segundo Ramal (2000), a aprendizagem coletiva e em hipertexto revela novas formas de aprender, constituídas com base na metamorfose, na heterogeneidade, na exterioridade e mobilidade dos centros, “na qual o aluno percebe que ele é o principal interessado em fazer render seu estudo e em verificar como pode aprimorar as estratégias de construção do saber” (Ramal, 2000, p. 5).

A Cibercultura se sustenta e dá condição à aprendizagem colaborativa e à “cocriação” por meio dos recursos que permitem “intervenção na realidade física” (Machado, 2002, p. 223), na qual tudo é passível de redefinição e realinhamento. No entanto, a nova condição relacional e seus instrumentos de comunicação

Page 8: PROGRAMA DE CURSOS POSITIVO 2011 · reflexões sobre o processo de ensino e aprendizagem das novas gerações, tudo associado às tecnologias da informação e da comunicação. Muitas

Geração Digital

8

impactam na estrutura cognitiva do indivíduo. “Partindo de Berger e Luckman (1967), podemos afirmar que os indivíduos constroem suas realidades sociais, onde cada pessoa percebe, interpreta e define informação, objetivos ou outros indivíduos a partir de sua própria visão da realidade. Neste sentido a realidade é uma construção social coletiva e ao mesmo tempo individual” (Lemos, 2002, p. 8). A conectividade do ciberespaço subsidia a cultura pautada não mais na “externalização de uma mente individual, mas de um processo mental público – essa, sim é a especificidade das novas mídias” (Machado, 2002, p. 222). APRENDIZAGEM COLABORATIVA A aprendizagem colaborativa, além de colocar o estudante no centro do processo, enfatiza a construção coletiva do conhecimento no trabalho em grupo. Esse tipo de aprendizagem promove a participação de cada um e de todos “nas atividades e na definição dos objetivos comuns do grupo” (Dias, 2001, p. 2). Esforço de participação coletiva (envolvimento mútuo), partilha e iniciativa conjunta são dimensões necessárias à definição das estratégias e ferramentas de cooperação.

A aparente mesmice na definição do aprendizado colaborativo é quebrada pelas já citadas condições sociotécnicas da atualidade, da conexão em rede e dos recursos de comunicação (telemática) e construção coletiva (“cocriação”), “o vínculo organizador das novas comunidades estabelece-se na relação com o conhecimento através da comunicação coletiva e fortemente interativa, entre os indivíduos e entre estes e os sistemas de representação distribuída” (Dias, 2001, p.5). Com o ciberespaço, a formação dos grupos não tem restrições de espaço físico e o espectro de tempo também é ampliado.

As ferramentas de colaboração são variadas, muitas delas de acesso livre, e estão dispersas na rede, o que levou à concepção de Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA). São espaços virtuais de encontro com acesso rápido às ferramentas de pesquisa, comunicação e criação, que em sua maioria usa a metáfora da sala de aula.

Baseadas ou não em AVA, tendo ou não intenções educacionais, as comunidades virtuais de prática e aprendizagem crescem dia a dia e ampliam ainda mais a geração de dados, as informações e o conhecimento pela ampliação dos processos criativos e capacidade cognitiva na confluência do coletivo. Esse panorama é apresentado por Dias da seguinte forma:

Baseando-se nas abordagens do construtivismo social e da cognição situada, as novas comunidades desenvolvem-se como centros de experiência do conhecimento, nos quais a aprendizagem não é separada da ação, sendo os processos de aprendizagem orientados mais para a comunidade do que para o indivíduo, na medida em que a construção do conhecimento é uma elaboração conjunta de todos os membros. (2001, p. 2)

Do contato virtual, colaborativo e criativo nascem e consolidam-se estratégias de ensino e de

aprendizagem para atender novas demandas cognitivas, gerando efetiva construção de conhecimento. CONSIDERAÇÕES FINAIS

As tecnologias da informação e da comunicação são marcos sociotécnicos contemporâneos que

condicionam ações e comportamentos. Dessa maneira, entende-se que na análise da Cibercultura os educadores encontrarão subsídios para identificar como se dá a aprendizagem das crianças e dos jovens. Até mesmo os estudos sobre aprendizagem só conseguiram impulso e consistência nas últimas décadas como resultado do contexto sociotécnico atual. Essas compreensões continuarão a transformar o entendimento e as condições do ensinar e do aprender, gerando incertezas e contínuas reformulações à escola.

Há que se considerar que aspectos originados no ciberespaço atingem todos os espaços relacionais do ser humano. Dessa forma, a cibercultura se efetiva além da web e leva à escola novas práticas e novos pontos de vista, como o formato colaborativo de aprendizagem e a ideia de criação coletiva, afetando diretamente a cultura escolar que se estabelece nas relações entre pessoas (alunos, professores, colaboradores, familiares, comunidade, etc.). Para constituir a identidade da escola e de cada um dos alunos, se faz necessário entender a Cibercultura e assimilar aquilo que é relevante e condizente com os propósitos educacionais.

Page 9: PROGRAMA DE CURSOS POSITIVO 2011 · reflexões sobre o processo de ensino e aprendizagem das novas gerações, tudo associado às tecnologias da informação e da comunicação. Muitas

Geração Digital

9

Referências Bibliográficas DIAS, Paulo. Comunidades de conhecimento e aprendizagem colaborativa. Seminário Redes de Aprendizagem, Redes de Conhecimento, Conselho Nacional de Educação. Lisboa, 22 a 23 de julho de 2001. Disponível em: <http://www.prof2000.pt/users/mfflores/teorica6_02.htm>. Acesso em: 10 dez. 2010. Em seu artigo, Dias explana sobre o processo de aprendizagem colaborativa que acontece na Web. As comunidades de conhecimento se consolidam por meio das ferramentas de comunicação, mas para viabilizar a aprendizagem colaborativa no espaço virtual se faz necessário reconhecer as estratégias didáticas e entender o papel ativo dos participantes como corresponsáveis nos processos e produtos.

FERREIRA, Fernanda Andrade Ramos. A influência dos jogos eletrônicos e do gênero sobre o comportamento social dos jovens da geração Y. Fevereiro, 2010. Fundação Getúlio Vargas: Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas. Dissertação de Mestrado. Disponível em: <http://hdl.handle.net/10438/6574>. Acesso em: 10 dez. 2010. Em sua tese de mestrado, Ferreira procura entender como os jogos eletrônicos e as diferenças de gênero interferem no comportamento dos jovens brasileiros, na chamada Geração Y. A autora voltou-se a identificar a tendência desses jovens a agirem de forma individualizada ou coletiva.

FREIRE FILHO, João; LEMOS, João Francisco de. Imperativos de conduta juvenil no século XXI: a “geração digital” na mídia impressa brasileira. Revista Comunicação, Mídia e Consumo. São Paulo: vol. 5 no. 13 p. 11-25. Jul. 2008. Disponível em: <http://www.revistas.univerciencia.org/index.php/comunicacaomidiaeconsumo/article/viewFile/5293/4848>. Acesso em: 19 nov. 10. A imprensa brasileira adota termos como “Geração Digital” e outros que carregam uma concepção e visão de juventude. No artigo, Freire e Lemos procuram demonstrar o quanto a mídia contribui para sintetizar um padrão de subjetividade que está em consonância com o estágio atual do capitalismo.

LEMOS, André. A arte da vida: diários pessoais e webcams na internet. INTERCOM – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação – XXV Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Salvador/BA – 1 a 5 Set 2002. Disponível em: <http://galaxy.intercom.org.br:8180/dspace/bitstream/1904/18835/1/2002_NP8lemos.pdf>. Acesso em: 18 nov. 10. Para esclarecer as marcas identitárias dos jovens, Lemos indica os diários pessoais no ciberespaço, que usam textos (no formato dos blogs originais) e imagens (com a webcam e/ou weblogs), como instrumentos de socialização, de expressão de si e de transformação da cultura atual.

___________. Cibercultura: tecnologia e vida social na cultura contemporânea. 2. ed. Porto Alegre: Sulina, 2004. No livro, Lemos discute a cibercultura, configuração da vida social contemporânea com base na inserção de elementos comunicacionais eletrônicos e da criação do ciberespaço.

LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999. O filósofo Pierre Lévy discorre sobre as implicações na cultura com a introdução das mais recentes tecnologias de informação e da comunicação. O autor apresenta conceitos básicos relacionados a vida em rede (Internet) e revela como a sociedade se organiza para enfrentar o mar de informações que circulam de forma facilitada, rápida e as trocas contínuas e globais entre as pessoas.

MACHADO, Irene. Tudo o que você queria saber sobre as novas mídias mas não teria coragem de perguntar a Dziga Viertov. PUC-SP, Revista do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Semiótica, v. 2, n. 3, 2002. Disponível em: <http://revistas.pucsp.br/index.php/galaxia/article/viewArticle/1271>. Acesso em: 18 nov. 2010. Machado investiga a obra de Lev Manovich – The Language of New Media – para entender o que são as novas medias e em que medida elas constituem linguagens. Discorre sobre o cinema como apontado por Manovich, a metáfora das novas mídias e as implicações da digitalização das mensagens.

Page 10: PROGRAMA DE CURSOS POSITIVO 2011 · reflexões sobre o processo de ensino e aprendizagem das novas gerações, tudo associado às tecnologias da informação e da comunicação. Muitas

Geração Digital

10

MOLLO-BOUVIER, Suzanne. Transformação dos modos de socialização das crianças: uma abordagem sociologia. Educação e Sociedade, Campinas, vol. 26, n. 91, p. 391-403, maio/ago. 2005. A francesa Suzanne Mollo-Bouvier apresenta a criança como sujeito social e destaca a necessidade de investimentos investigativos da área da sociologia da infância. Aborda quatro aspectos principais no estudo da infância: “1) a segmentação social das idades e a incerteza quanto ao período da infância; 2) a tendência a favorecer a socialização em estruturar coletivas fora da família; 3) a transformação e as contribuições das concepções da infância; 4) o interesse generalizado por uma educação precoce.” (p. 391)

PORTAL EDUCACIONAL. Identidade, qual é a sua? Especial – Pesquisa, 2009. Disponível em: <http://www.educacional.com.br/especiais/identidade/pesquisa-resultado.asp>. Acesso em: 01 dez. 2010. Pesquisa desenvolvida em 2009 junto a pré-adolescentes e adolescentes usadores do Portal Educacional. A pesquisa tinha por objetivo identificar o que eles valorizam em si mesmos, mostrando o perfil desse público.

RAMAL, Andrea Cecilia. Avaliar na cibercultura. Porto Alegre: Revista Pátio, Ed. Artmed, fevereiro 2000. Disponível em: <http://www.idprojetoseducacionais.com.br/doc/avaliar_na_cibercultura.pdf>. Acesso em: 10 dez. 2010. As formas relacionais estabelecidas pela cibercultura são ponto de partida para Ramal apresentar e sustentar novas configurações no ensino, na sala de aula, na troca entre professores e alunos. Assim, a avaliação e outros processos escolares já estão em transformação e desenham ambientes de estudo completamente distintos daqueles geralmente encontrados nas escolas brasileiras da atualidade.

SILVA, Marco. Era digital, cibercultura e sociedade da informação: o novo ambiente comunicacional em educação. Revista Movimento, Universidade Federal Fluminense, Niterói: n. 5, p. 7-27, maio 2002. Silva aponta a interatividade como um dos parâmetros básicos para entender a dinâmica do ensino presencial e a distância, tendo como fundamentos a sociedade de informação no contexto da Cibercultura.