Programa de Pós-Graduação em BIOTECNOCIÊNCIA …propg.ufabc.edu.br/biotecnociencia/Dissert_Defendidas/2014/Roberto... · A Chemtura Brasil pelos agentes de ... Maleic anhydride

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  • I

    UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC

    Centro de Cincias Naturais e Humanas (CCNH)

    Programa de Ps-Graduao em BIOTECNOCINCIA

    DISSERTAO DE MESTRADO

    INFLUNCIA DOS AGENTES DE ACOPLAMENTO NA DEGRADAO

    AMBIENTAL DE COMPSITOS DE POLIPROPILENO-FIBRA DE CURAU.

    Aluno: Roberto Luiz Silva, RA: 13032612

    Orientadora: Profa. Dra. Mrcia Aparecida da Silva Spinac

    Co-orientador: Prof. Dr. Marco-Aurlio De Paoli

    Santo Andr SP/ 2014

  • UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC

    Centro de Cincias Naturais e Humanas (CCNH)

    Programa de Ps-Graduao em BIOTECNOCINCIA

    DISSERTAO DE MESTRADO

    Roberto Luiz Silva

    INFLUNCIA DOS AGENTES DE ACOPLAMENTO NA DEGRADAO

    AMBIENTAL DE COMPSITOS DE POLIPROPILENO-FIBRA DE CURAU.

    Trabalho apresentado como requisito parcial

    para obteno do ttulo de Mestre em

    Biotecnocincia, sob orientao da Profa. Dra.

    Mrcia Aparecida da Silva Spinac e co-

    orientao do Prof. Dr. Marco-A. De Paoli.

    Santo Andr

    2014

  • II

    A vida o mais belo e complexo fenmeno do universo, e o mais

    importante em tudo so as pessoas e seus relacionamentos.

    Roberto Luiz Silva

    Pela f entendemos que os mundos foram criados pela palavra de Deus; de modo que o visvel no foi feito daquilo que se v.

    Hebreus 11:3

  • III

    AGRADECIMENTOS

    A Deus em Cristo Jesus pela Vida, Seu e nosso Esprito, Sua Palavra, a Linda

    Esperana da Vida Eterna e todos os mistrios das cincias e do universo que nos

    instigam; onde questionar e buscar respostas prazerosamente estar vivo.

    A Professora Mrcia A. S. Spinac pela orientao, pacincia, dedicao,

    trabalho e sabedoria.

    A minha amada esposa e amadas (o) filhas (o) pelas ausncias necessrias.

    A minha me por, de sua maneira simples, sempre me exortar a ter que

    melhorar.

    A meu pai (in memoriam), em que seus tomos tambm se fazem presentes

    no sistema terra, e quando combinados em vida, e no seu devido tempo, me

    influenciaram a existir e a romper seu prprio capital cultural e de nossos

    antepassados.

    Aos meus irmos (Luprcio e Ktia) que sempre me incentivam e acreditam.

    A UFABC e toda equipe do programa de ps-graduao em Biotecnocincia,

    seus coordenadores e professores e todos os seus recursos humanos e de

    infraestrutura tecnolgica.

    A UFABC pela bolsa concedida no perodo de um ano.

    A FAPESP pelos recursos concedidos (Proc. 2011/00156-5 e 2010/17804-7).

    Ao CNPq pelos recursos concedidos (161853/2011-0, 310410/2010-0).

    A Central Multiusurio (CEM) da UFABC, ao Prof. Herculano e toda sua

    equipe de tcnicos pela prestao dos servios de treinamento e disponibilizao

    dos recursos tecnolgicos, em especial aos Tcnicos Alisson e Ana.

    Aos tcnicos do laboratrio de materiais pela dedicao, tempo e recursos

    disponibilizados, principalmente ao Rogrio e Agnaldo.

    A Professora Mariselma Ferreira (UFABC) pela colaborao com a professora

    Mrcia A. S. Spinac em meu estgio em docncia na disciplina de Materiais

    Polimricos.

    Aos colegas discentes do laboratrio: Joo Paulo, Vernica, Karen e Amanda.

    A Thamires Labadessa (Bolsa apoio tcnico FAPESP).

    A Diretora, a coordenadora e aos alunos do Colgio Estrela da Manh, no

    qual tive que me ausentar por motivos acadmicos.

  • IV

    Aos Diretores, aos coordenadores e alunos das Escolas Estaduais da

    Diretoria de Ensino de Taboo da Serra, no qual, por vezes tive que me ausentar por

    motivos acadmicos; escolas: Reverendo Denoel Nicodemus Eller, Professora Silvia

    Aparecida dos Santos e Dep. Heitor Cavalcanti Alencar Furtado.

    Ao Prof. Marco-Aurlio De Paoli, por sua influncia em conhecimento,

    orientaes e disponibilizao de recursos humanos e tecnolgicos no Laboratrio

    de Processamento de Polmeros do IQ-UNICAMP.

    Ao Tcnico Renan Gadioli pela dedicao com conhecimento nos

    processamentos de extruso e injeo no Laboratrio de Processamento de

    Polmeros do IQ-UNICAMP.

    A Braskem pelo polipropileno.

    A Embrapa-PA pelas Fibras de curau.

    A Chemtura Brasil pelos agentes de acoplamento.

    Ao Estado, na esfera Federal e de So Paulo, pelas oportunidades e recursos

    no espao-tempo.

  • V

    RESUMO

    Compsitos polimricos reforados com fibras lignocelulsicas podem ter suas

    propriedades mecnicas melhoradas com o uso de agentes de acoplamento (AC)

    em sua formulao, este processo denominado de funcionalizao e pode ser

    aplicado na matriz e/ou na fibra por enxertia. A adeso entre fibra e matriz

    prejudicada devido ao carter hidroflico e polar da fibra frente ao carter hidrofbico

    e apolar de matrizes como poliolefinas. O anidrido maleico muito utilizado na

    funcionalizao do PP, e os organosilanos so comumente usados na

    funcionalizao de fibras; porm nos dois casos, os resduos de hidroperxido

    (iniciador) da enxertia podem atuar como pr-degradantes da matriz. Neste trabalho

    foi estudado o envelhecimento ambiental de compsitos processados por extruso-

    injeo de PP sem e com 2 % em massa de anidrido maleico (PPAM) com 20 % em

    massa de fibras de curau funcionalizada ou no com organosilano (N-(-aminoetil)-

    -aminopropiltrimetoxisilano). As fibras de curau foram fibriladas a fim de aumentar

    a razo de aspecto (comprimento/dimetro) e rea superficial visando um aumento

    da adeso no compsito. O envelhecimento ambiental natural por 12 meses foi

    conduzido em Santo Andr / S.P (maior ndice de poluio atmosfrica) e Campinas/

    S.P. (maior ndice de radiao UV) com o objetivo de verificar a influncia das duas

    regies. A degradao dos compsitos foi avaliada atravs de ndice de carbonila

    (IC), propriedades mecnicas (trao e flexo), Microscopia ptica e Eletrnica de

    Varredura (MEV) e Espectroscopia de absoro no UV-Vis. A degradao ambiental

    foi evidenciada pelo aumento do IC, formao de fissuras superficiais e

    embranquecimento no perodo analisado. O uso dos AC promoveu uma melhora das

    propriedades mecnicas, porm provocou um aumento do IC que um indcio de

    degradao da matriz, atuando como pr-degradante. Nos compsitos com a matriz

    e as fibras funcionalizadas o IC foi superior quando comparado aos demais. Apesar

    desse resultado, os valores de tenso mxima sob flexo foram superiores para os

    compsitos com AC. Os resultados evidenciaram que para as formulaes e

    condies estudadas, a intensidade de irradiao UV apresenta maior influncia

    quando comparada aos poluentes atmosfricos no processo de degradao. Alm

    disso, as medidas de IC da face no exposta indicaram que as fibras de curau e os

    AC bloquearam a degradao da matriz de PP, o que corroborou para a

    manuteno das propriedades mecnicas aps 12 meses de envelhecimento.

  • VI

    ABSTRACT

    In polymeric composites reinforced with vegetable fibers, hydrophilic character, forms

    a weak link with arrays of polyolefins, which have hydrophobic character, the use of

    coupling agents is needed. Then, it is possible to functionalize the matrix and / or

    fiber and cause better adhesion. Maleic anhydride modified polymers are widely used

    as coupling agent, but the hydroperoxide waste used in grafting of polyolefin may act

    as pro-degrading in the polymer matrix, the same applies to the use of the coupling

    agent in the functionalization of the fibers. In this project the environmental aging of

    PP composites with curau fiber composite with and without coupling agent in both

    was studied. Curau fibers were fibrillated aiming an increasing of fiber-matrix

    adhesion as a function of promoting greater exposure of surface contact, and

    promote greater efficiency of functionalization using a coupling agent, in this case an

    organosilane.

    Environmental aging for 12 months were conducted in Santo Andr, SP, Brazil and

    Campinas, SP, Brazil in order to check the influence of the two regions for the

    difference in atmospheric composition against pollutants and levels of solar

    irradiation. The degradation was evaluated by carbonyl index (CI) measured by

    infrared spectroscopy (FTIR), mechanical properties, optical microscopy and

    Scanning Electron Microscopy, optical microscopy and UV-visible absorption.

    Environmental degradation was evidenced by increased IC, formation of surface

    cracks and whitening in the analyzed period. The coupling agent improved the

    mechanical properties, but after environmental aging it promoted an increase in the

    IC due to its role as a pro-degrading. Nevertheless, the stress results in the maximum

    bending strength were higher for composites using the coupling agent during the

    aging period. The results also showed for the present formulations and conditions as

    the irradiation intensity prevails over the levels of pollutants as predominant factors of

    degradation of polymers and composites and the fibers form a barrier / filter to the

    degradation process of the materials.

  • VII

    SUMRIO

    Epgrafe...II

    Agradecimentos....III

    Resumo......V

    Abstract......VI

    Sumrio....................................................................................................................VII

    Lista de Abreviaturas................................................................................................IX

    Lista de Figuras.................................................................................................X - XIII

    Lista de Tabelas.....................................................................................................XIV

    Lista de Equaes..................................................................................................XIV

    Normas ASTM........................................................................................................XIV

    1.Introduo...............................................................................................................1

    2. Reviso Bibliogrfica.............................................................................................1

    2.1. Compsito polimrico.........................................................................................2

    2.2. Fibra de curau (FC) ...........................................................................3

    2.3. Fibrilao da FC.................................................................................................8

    2.4. Compsitos de matrizes termoplsticas com fibras lignucelulsicas.................8

    2.5. Estratgias de compatibilizao.........................................................................9

    2.5.1. Funcionalizao da matriz polimrica (fase contnua).....................................9

    2.5.2.Funcionalizao da fase dispersa...................................................................11

    2.6. Polipropileno (PP).............................................................................................14

    2. 7. Processos de degradao de polmeros................... .....................................15

    3. Objetivos........................................................................................................22 -23

    4. Materiais e Mtodos.............................................................................................25

    4.1. Materiais................................ ...........................................................................25

    4.2. Fibrilao das Fibras poe sonificao. .............................................................26

    4.3. Funcionalizao da FC com organosilano........................................................28

    4.4. Processamento dos compsitos por extruso-injeo......................................29

    4.5. Exposio Ambiental.........................................................................................31

    4.6. Caracterizaes................................................................................................33

  • VIII

    4.6.1. Amostragem.....................................................................................................33

    4.6.2. Ensaios de Trao e Flexo.............................................................................33

    4.6.3. Espectroscopia na regio do infravermelho (FTIR)..........................................35

    4.6.4. Difrao de raio-x (DRX)..................................................................................37

    4.6.5. Microscopia eletrnica de varredura (MEV).....................................................37

    4.6.6. Microscopia ptica (MO)...................................................................................38

    4.6.7. Medidas de reflectncia na regio do UV/VIS..................................................38

    5. Resultados e Discusso................. ................................................................... ...40

    5.1. Fibrilao das fibras de curau...........................................................................40

    5.2. Funcionalizao das fibras de curau.................................................................42

    5.3. Exposio ambiental 1 Processo....................................................................45

    5.3.1. ndice de Carbonila (IC)....................................................................................45

    5.3.2. Anlise morfolgica: MEV e MO.......................................................................48

    5.3.3. Reflectncia na regio do UV-VIS....................................................................50

    5.3.4. Propriedades Mecnicas..................................................................................52

    5.4. Exposio ambiental 2 Processo....................................................................53

    5.4.1. ndice de carbonila (IC)....................................................................................53

    5.4.2. Anlise morfolgica..........................................................................................57

    5.4.3. Reflectncia na regio do UV-VIS...................................................................60

    5.4.4. Propriedades Mecnicas...................................................................... ..........62

    6. Concluses............................................................................................................68

    7. Referncias Bibliogrficas.....................................................................................70

  • IX

    LISTA DE ABREVIATURAS

    AAPS (N-(-aminoetil)--aminopropiltrimetoxisilano) = organosilano

    ASTM American Society for Testing and Materials

    ATR Reflectncia total atenuada

    CP Compsitos polimricos reforados com fibras lignocelulsicas

    FL Fibras lignocelulsicas

    E Mdulo elstico

    EB Embranquecimento

    FC Fibras de curau

    FCO Fibra de curau funcionalizada com organosilano

    FDC Funo de distribuio cumulativa

    FTIR Infravermelho com Transformada de Fourier

    HDT Temperatura de deflexo trmica

    IC ndice de carbonila

    L/D Razo entre o comprimento (L, length) e o dimetro (D, diameter) da

    rosca da extrusora

    MEV Microscopia eletrnica de varredura

    min Minutos

    PP Polipropileno

    PPAM Copolmero de polipropileno enxertado com anidrido maleico

    rpm Rotaes por minuto

    Rrel Reflectncia da luz visvel em um dado tempo de envelhecimento

    em relao reflectncia medida antes do incio do ensaio de

    degradao

    t Tonelada

    UV-Vis Regio espectral do Ultravioleta-visvel

    Alongamento na ruptura

    Vibrao de deformao

    Vibrao de estiramento

    max Tenso mxima

  • X

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1: representao esquemtica da estrutura da fibra lignocelulsica (a),

    esquema da associao dos componentes da parede celular(b): 1- corte transversal;

    2- vista de corte tangencial.........................................................................................5

    Figura 2: estrutura qumica da: a) celulose e b) celobiose..........................................6

    Figura 3: planta de curau cultivada na Amaznia, fibras de curau e micrografia...7

    Figura 4: modelo hipottico da interface entre grupo hidroxila da FC e PPAM.........11

    Figura 5: reaes de funcionalizao (organosilano).................................................13

    Figura 6: estrutura qumica do PP isottico................................................................14

    Figura 7: esquema geral da degradao fotoxidativa de poliolefinas. RH = cadeia

    polimrica.73................................................................................................................16

    Figura 8: exemplos de reaes fotoqumicas Norrish do tipo I e II.74...................17-19

    Figura 9: esquema geral - resumido..........................................................................26

    Figura 10: sistema de sonificao.............................................................................26

    Figura 11: placas de petri distribuio da FC.........................................................28

    Figura 12: perfil de rosca...........................................................................................29

    Figura 13: rack de exposio.....................................................................................31

    Figura 14: grficos de condies metereolgicas (Campinas e Santo Andr)

    Semasa e Cetesb.......................................................................................................32

    Figura 15: mquina universal de ensaios Instron...................................................34

  • XI

    Figura 16: espectro FTIR do compsito PP/FC, P1 aps 374 dias...........................36

    Figura 17: Distribuio do comprimento e dimetro das FC...................................40

    Figura 18: Espectro FTIR e DRX da FC aps sonificao.................................41

    Figura 19: Micrografias (MEV) das Fibras de curau sonificada e sem sonificao.42

    Figura 20: estrutura qumica do organosilano (AAPS) e espectro FTIR....................43

    Figura 21: espectro FTIR da diferena da FC sonificada e FC funcionalizada..........43

    Figura 22: MEV da FC sonificada e da FC funcionalizada.........................................45

    Figura 23: espectros FTIR dos compsitos do processo 1........................................46

    Figura 24: espectros FTIR dos compsitos do processo 1, todo o perodo.......46 - 47

    Figura 25: grfios do IC do processo 1.....................................................................48

    Figura 26: MEV lado exposto antes e aps envelhecimento (processo 1)...............49

    Figura 27: Microscopia ptica (MO) do lado exposto, antes e aps o envelhecimento

    (processo 1)................................................................................................................50

    Figura 28: Espetro de reflectncia relativa, processo 1......................................50 51

    Figura 29: grfico da curva do ensaio de trao para PP e PP/FC...........................52

    Figura 30: grficos dos valores das propriedades mecnicas de todo o perodo (374

    dias) e da amostra de controle preservada no

    perodo....................................................................................................................53

    Figura 31: Valores de IC da face exposta (LE) e no exposta (LI) para o

  • XII

    PP/PPAM e para os compsitos PP/FC, PP/PPAM/FC, PP/FCO, PP/PPAM/FCO

    envelhecidos em Santo Andr e Campinas.........................................................54 - 55

    Figura 32: micrografias de varredura (superfcie) dos compsitos de PP/FCO,

    PP/PPAM/FCO no T0 (tempo zero), T2 (185 dias) e T4 (370 dias) expostos em

    Campinas-C e Santo Andr-SA (barra de escala 100 m)........................................57

    Figura 33: Microscopias pticas (superfcie) dos compsitos de PP/FIBRAS DE

    CURAU, PP/FIBRAS DE CURAUO, PP/PPAM/FC e PP/PPAM/FCO em T0

    (tempo zero), T2 (185 dias) e T4 (370 dias) expostos em Campinas e Santo Andr

    (barra de escala 500 m)....................................................................................58 - 60

    Figura 34: espectros de reflectncia relativa (Rrel) em funo do comprimento de onda

    para os diferentes tempos de degradao para o PP/PPAM e para os compsitos

    de PP/FC, PP/FCO, PP/PPAM/FC e PP/PPAM/FCO em T0 (tempo zero), T2 (185 dias)

    e T4 (370 dias) expostos em Campinas e Santo Andr.............................................61

    Figura 35: Valores de Tenso mxima (t) para o PP/PPAM e para os compsitos

    para o PP/PPAM, e para os compsitos PP/FC, PP/FCO, PP/PPAM/FC e

    PP/PPAM/FCO expostos em Campinas e Santo Andr.....................................62 - 63

    Figura 36: valores de Mdulo sob trao (Et) para o PP/PPAM e para os compsitos

    para o PP/PPAM, e para os compsitos PP/FC, PP/FCO, PP/PPAM/FC e

    PP/PPAM/FCO expostos em Campinas e Santo Andr.......................................63-64

    Figura 37: valores de Tenso mxima sob flexo (f) para o PP/PPAM e para os

    compsitos para o PP/PPAM, e para os compsitos PP/FC, PP/FCO, PP/PPAM/FC

    e PP/PPAM/FCO expostos em Campinas e Santo Andr..................................65 - 66

  • XIII

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1: composio qumica de algumas Fibras Lignucelulsicas21,24....................5

    Tabela 2: condies experimentais utilizadas na sonificao das FC......................26

    Tabela 3: formulaes do controle e dos compsitos de PP com e sem agente de

    acoplamento e fibras de curau funcionalizadas ou no.........................................30

    Tabela 4: resumo das condies de exposio ambiental e

    local........................................................................................................................31

    LISTA DE EQUAES

    Equao 1: representao da iniciao fotoqumica...............................................15

    Equao 2: representao da sequncia de iniciao fotoqumica.........................15

    Equao 3: representao da sequncia de iniciao fotoqumica.........................15

    Equao 4: ndice de carbonila................................................................................36

    Equao 5: ndice de cristalinidade..........................................................................37

    NORMAS ASTM

    ASTM D 1435: Standard Practice for Outdoor Weathering of Plastics: Prtica padro para exposio de plsticos ao envelhecimento ambiental natural ( ao ar livre, frente ao intemperismo).

    ASTM D 638: Standard Test Method for Tensile Properties of Plastics: Mtodo de teste padro para propriedades de trao de plsticos.

    ASTM D 790: Standard Test Methods for Flexural Properties of Unreinforced and Reinforced Plastics and Electrical Insulating Materials: Mtodo de teste padro para propriedades de flexo de plsticos reforados e sem reforo e de materiais isolantes.

  • II

    INTRODUO

  • Introduo

    1

    1. INTRODUO

    As pesquisas na rea de compsitos polimricos reforados com fibras

    lignocelulsicas (CPFL) vm crescendo na indstria e na rea acadmica em

    substituio aos compsitos polimricos reforados com fibra de vidro. Apesar das

    fibras lignocelulsicas (FL) apresentarem incio de degradao em torno de 220 oC

    limitando o seu uso em matrizes como poliolefinas e dos CPFL apresentarem

    propriedades mecnicas inferiores aos compsitos com fibra de vidro, os CPFL

    apresentam menor densidade, carter biorrenovvel, isolamento trmico e acstico,

    reciclabilidade e so menos abrasivos aos equipamentos de processamento.1

    2. REVISO BIBLIOGRFICA

    As (FL) apresentam carter polar e hidroflico, o que compromete a

    compatibilidade com as matrizes polimricas hidrofbicas. A falta de compatibilidade

    dificulta a disperso da fibra e a adeso inadequada na interface fibra matriz,

    reduzindo a eficincia da transferncia de carga da matriz para a fibra,

    comprometendo as propriedades mecnicas do compsito. 1-2 Portanto necessrio

    o uso de um agente de acoplamento visando promover a adeso na interface. Outro

    aspecto importante a razo de aspecto da fibra a qual afeta na eficincia de

    reforo.

    Na literatura3-14 vrios artigos destacam a importncia do uso dos agentes de

    acoplamento nas propriedades finais dos compsitos. As reaes que ocorrem na

    interface da matriz e na fase dispersa, devido ao uso dos agentes de acoplamento,

    favorecem a transferncia de tenso, resultando em um aumento das propriedades

    mecnicas e levando a uma diminuio do carter hidroflico da fibra.

    No entanto, apesar de ser observada uma melhora das propriedades

    mecnicas finais dos compsitos compatibilizados, importante ressaltar que as

    propriedades mecnicas deveriam ser mantidas durante toda a vida til do produto

    acabado. Mesmo diante do aumento nos estudos e de aplicaes de compsitos

    polimricos com FL compatibilizados com diferentes agentes de acoplamento;

  • Introduo

    2

    existem poucos artigos12 relatando estudos de envelhecimento ambiental destes

    compsitos a fim de verificar qual a influncia dos agentes de acoplamento no

    processo de degradao destes compsitos.

    Diante do cenrio apresentado, onde a pesquisa acadmica e a indstria

    avanam no desenvolvimento e pesquisa de compsitos polimricos reforados com

    fibras lignucelulsicas e nos respectivos processos de enxertia para funcionalizao

    da matriz e da fase dispersa, o presente trabalho tem a proposta de analisar o

    processo de degradao ambiental natural frente s influncias dos agentes de

    acoplamento nas formulaes e sob condies de exposio ambiental em regies

    relativamente diferentes quanto incidncia solar, o que possibilitar o entendimento

    da relao estabilidade-instabilidade destes compsitos quanto s influncias de

    fatores fsicos e qumicos de suas formulaes e sobre estas, a influncia de fatores

    externos como o nvel de radiao solar frente ao tempo de exposio em regies

    diferentes. A compreenso dos mecanismos de causa e efeito frente aos fatores

    internos da composio de compsitos reforados com fibras lignucelulsicas e da

    influncia de fatores externos (intemperismo ambiental) oferecem potencial

    oportunidade para o desenvolvimento de novas pesquisas e o respectivo

    desenvolvimento de solues para formulao e aplicao de materiais mais

    resistentes e duradouros; fato que converge como um contributo cientfico em favor

    da sustentabilidade global, a qumica verde.

    2.1. Compsitos Polimricos

    A combinao de materiais visando melhorar suas propriedades

    frequentemente observada na natureza, como o osso que constitudo de colgeno

    (macio e resistente) e a apatita (mineral duro e quebradio).15

    Um compsito um material multifsico, obtido artificialmente e cujas fases

    constituintes podem ser quimicamente diferentes e separadas por uma interface

    distinta16. Muitos compsitos so constitudos por apenas duas fases; onde a fase

    contnua denominada de matriz e esta envolve a outra fase, chamada de fase

    dispersa. A matriz que pode ser constituda por um metal, um polmero ou cermica,

  • Introduo

    3

    responsvel pela aparncia do compsito e por suas caractersticas superficiais.

    Ela separa, protege a fase dispersa de ataques externos e transfere as tenses

    aplicadas no compsito para a fase dispersa. A fase dispersa pode ter vrias funes

    como estrutural, de barreira, de condutividade trmica, etc, podendo ser constituda

    por materiais particulados, fibrosos, laminados ou a combinao dos trs primeiros.

    Normalmente so usados materiais mais resistentes e duros que os polmeros, por

    exemplo, as fibras de vidro, que so cerca de 50 vezes mais resistentes e cerca de

    20 a 150 vezes mais duras que os polmeros, portanto, os compsitos obtidos

    apresentam propriedades intermedirias.17

    Alguns exemplos de cargas e fibras inorgnicas so: as fibras de vidro e de

    carbono (sinttica) e as cargas e/ou fibras no minerais como aramida (sinttica) e

    outros materiais orgnicos como as fibras lignocelulsicas.18

    Os compsitos utilizando polmeros como fase contnua, comparados aos

    outros materiais como os metais e a madeira, apresentam as vantagens de

    possurem elevadas propriedades mecnicas, baixa densidade, fcil processamento,

    possibilidade de obteno de produtos transparentes, translcidos ou opacos, com

    ampla variedade de cores e com formas complexas, baixa corroso e resistncia ao

    impacto.

    Consequentemente, apresentam uma ampla diversidade de aplicaes na

    indstria automotiva, em artigos esportivos, mveis, brinquedos e indstria

    aeroespacial.19

    Vrios fatores influenciam nas propriedades dos compsitos polimricos como

    a composio, a forma, o tamanho, a distribuio e o grau de orientao da fase

    dispersa e sua interao com a matriz. Os compsitos que possuem grupos ativos

    capazes de promoverem uma forte interao entre a matriz e a fase dispersa

    geralmente apresentam suas propriedades melhoradas.

    2.2. Fibras Lignocelulsicas (FLs)

    Uma fibra pode ser definida como um corpo flexvel, macroscopicamente

    homogneo, com alta razo de aspecto (comprimento/espessura) e com pequeno

  • Introduo

    4

    corte transversal.20 Entre as fibras sintticas, ou seja, aquelas que so produzidas

    artificialmente pelo homem, esto as fibras de vidro, de carbono, de acrlico e

    aramida, denominadas artificiais, normalmente as orgnicas so derivadas do

    petrleo ou naturais. Entre as fibras naturais, temos as fibras animais, sob a forma de

    l, plos ou secrees, como a seda; as FL que so fibras vegetais, como dito

    anteriormente, podem ser provenientes das mais diversas partes do vegetal, desde

    as sementes ao caule ou lber, folhas e frutos; e as fibras minerais como a de vidro.

    Para aplicao em compsitos polimricos, entretanto, so utilizadas principalmente

    fibras sintticas ou FL.

    As FL so formadas por celulose (40 - 60 %), hemicelulose (20 - 40 %), lignina

    (10 - 25 %)1 e outros compostos em menor quantidade, como as pectinas e outros

    compostos solveis em gua. A celulose, a lignina e a hemicelulose so

    responsveis pelas propriedades fsicas das fibras.21

    Cada fibra composta por uma grande quantidade de clulas, as quais

    formam microfibrilas cristalinas de celulose (MCC). As MCC so conectadas por

    lignina amorfa e hemicelulose formando uma camada completa. Vrias destas

    camadas constituem a parede primria e as trs paredes secundrias, Figura 1.

    As paredes celulares diferem em sua composio (razo entre celulose e

    lignina/hemicelulose) e orientao da MCC. O ngulo das fibrilas e o teor de MCC

    determinam geralmente as propriedades mecnicas e o grau de cristalinidade das

    fibras.22

  • Introduo

    5

    a) b)

    Figura 1: a) representao esquemtica da estrutura da fibra lignocelulsica. b)

    Esquema da associao dos componentes da parede celular: 1- corte transversal; 2-

    vista de corte tangencial.22-23

    As FLs so extradas de sementes, talos, folhas; e sua composio qumica

    varia de acordo com o mtodo de purificao e da fonte da fibra, Tabela 1.21-24

    A celulose constitui a frao principal das FLs e o polmero natural mais

    abundante na natureza representando cerca de 1,5 x1012 t do total da produo

    anual de biomassa.25 A celulose um polissacardeo linear composto por at 15 mil

    unidades repetitivas, semicristalino e as regies amorfas possuem menor

    quantidade de ligaes de hidrognio comparado s regies cristalinas. Ela possui

    uma cadeia linear, formada por ligaes glicosdicas de unidades de -D-

    anidropiranose, posteriormente abreviada para D-glucose (glicose). Alm disso,

    existem grupos OH e CH2OH ligados aos anis de piranose no C4. Sua frmula

    geral (C6H10O5)n e sua estrutura qumica est representada na Figura 2(a).21-25

  • Introduo

    6

    Tabela 1: Composio qumica de algumas Fibras Lignucelulsicas. 21,24

    Composio (%) Algodo Juta Linho Ramie Sisal Curau

    Celulose 82,7 60,0 64,1 68,6 65,8 73,6

    Hemicelulose 5,7 22,1 16,7 13,1 12 9,9

    Holocelulose 88,4 82,1 80,8 81,7 77,8 83,5

    Pectina 5,7 0,2 1,8 1,9 0,8 -

    Lignina - 15,9 2,0 0,6 9,9 7,5

    Teor de Cinzas 0,6 1,0 1,5 0,3 - 0,9

    Umidade 10,0 10,3 10,0 10,0 11 7,9

    A unidade repetitiva da celulose a celobiose (Fig. 2 (b)), devido rotao de

    aproximadamente 180 entre as molculas de glicose adjacentes mantidas por

    ligaes de hidrognio.26 O nmero de unidades repetitivas por molcula ao longo da

    cadeia fornece metade do grau de polimerizao da celulose. 21 Este grau de

    polimerizao sofre alteraes de acordo com o tipo de FL, que interferir nas

    propriedades mecnicas da fibra.23 Alm disso, a posio das hidroxilas e o efeito

    indutivo dos demais substituintes do anel determina a reatividade relativa da

    celulose,27 e atravs delas a celulose forma ligaes de hidrognio, inter e

    intramoleculares, que levam a interaes entre as cadeias e a um alto grau de

    cristalinidade.28

    a)

    b)

    Figura 2. Estrutura qumica da: a) celulose e b) celobiose.

    A hemicelulose constituda de unidades de glicose, manose, xilose e outras

    hexoses e pentoses formando um polmero com grau de polimerizao de cerca de

  • Introduo

    7

    100. A xilose e a glicose so os acares predominantes. A holocelulose a soma

    de celulose e hemicelulose. A lignina uma macromolcula amorfa de fenil-propano

    com uma variedade de grupos funcionais e atua como um adesivo entre as

    clulas,30.

    Vrias FLs vm sendo usadas em compsitos com polmeros, tais como: rami,

    fibra de coco, algodo, juta, sisal e curau. Dentre as FLs com potencial de aplicao

    na rea de polmeros reforados destaca-se a fibra extrada das folhas do curau

    (FC). O curau uma planta da famlia das bromeliceas (Ananas erectifolius L.B.

    Smith), cujo teor mdio dos componentes de 74 % de Celulose, 10 % de

    Hemicelulose, 84 % de Holocelulose, 7 % de Lignina e 1 % de cinzas.31 Esses teores

    variam em funo da espcie (branco ou roxo), do local de plantio e do tempo

    decorrido aps a colheita.32 As folhas chegam a 1,5 m de comprimento e 4 cm de

    largura, so duras, eretas e planas. Ele cultivado na regio Amaznica brasileira,

    particularmente no Estado do Par, Figura 3.

    Figura 3. a) Planta de curau cultivada na Amaznia e as fibras de curau.33

    A FC se destaca como reforo em compsitos com matrizes polimricas, pois

    suas propriedades mecnicas especficas so comparveis s fibras de vidro.1 A FC

    possui densidade de 1,4 g/cm3, 4,2 % de alongamento, tenso na ruptura de 0.89 a

    11 m 3.5

    m

  • Introduo

    8

    4,2 GPa e Mdulo de Young de 50,4 GPa. As fibras de vidro possui densidade 2,5

    g/cm3, 2,5 % de alongamento, tenso na ruptura de 2,0 a 3,5 GPa, e Mdulo de

    Young de 70 GPa.34

    2.3. Fibrilao da Fibra de Curau

    As fibras so constitudas de feixes de microfibrilas que com o processo de

    fibrilao por sonificao tendem a um aumento da rea de superfcie de contato

    com a matriz e consequente melhoria na distribuio e adeso.

    Em trabalhos anteriores35 foi observado que durante o processamento na

    extrusora dupla-rosca, devido ao cisalhamento, ocorre a fibrilao da FC.

    O processo de fibrilao importante para melhorar a relao de distribuio

    das fibras pela matriz e consequente aumento na adeso e respectivo efeito de

    reforo, uma vez que um melhor reforo est relacionado a uma melhor adeso.

    A fibrilao foi realizada antes da funcionalizao das FC e do processamento

    dos compsitos, visando aumentar a adeso interfacial. O uso do homogeneizador

    ultrassnico foi escolhido aps a realizao de testes de tentativa e erro em um

    banho de ultrassom convencional que mostraram um processo inicial de fibrilao.

    A literatura cita o uso de reagentes qumicos como cidos e lcalis para o

    tratamento de fibras vegetais, neste caso h riscos de contaminantes residuais

    destes cidos ou lcalis, devido a isto foi feito a opo pelo homogeneizador

    ultrassnico para definir as condies do tratamento por sonificao,

    2.4. Compsitos de matrizes termoplsticas com FLs

    Devido principalmente ao desenvolvimento aeroespacial, aeronutico e

    construo civil ocorreu um aumento da procura por materiais mais rgidos e fortes a

    partir da dcada de 60, ressurgindo ento um conceito j conhecido de combinao

    de diferentes materiais para formar um material conjugado ou compsito.

  • Introduo

    9

    Em 1908 o primeiro material compsito polimrico constitudo de resina de

    fenol ou melanina formaldedo reforada com papel ou algodo foi utilizado para a

    fabricao em larga escala de chapas, tubos para aplicaes na rea de eletrnica.21

    As fibras so mais utilizadas como reforo nestes materiais, pois a maioria dos

    materiais so mais fortes e mais rgidos na forma fibrosa, resultando em reforo

    principalmente na direo de orientao das fibras, se houver orientao

    preferencial.

    O uso de fibras de vidro, de carbono, grafite e aramida como reforos em

    polmeros vem sendo feito pela indstria para obteno de materiais com melhor

    desempenho. No entanto, grande o interesse no uso de FL em compsitos com

    termoplsticos, pois a utilizao destas oferece novas perspectivas de mercado em

    pases de grande atividade agrcola como o Brasil. 36

    Apesar das vantagens do uso das FLs, a falta de adeso entre a fase contnua

    (matriz) e a fase dispersa (fibras) compromete o desempenho mecnico do

    compsito.

    A interao entre os grupos funcionais presentes na interface polmero-fibra

    pode levar a formao de diferentes interaes como van Der Walls, ligao de

    hidrognio, covalente, dipolo-dipolo, etc.37,38

    A ausncia de interaes favorveis na interface e/ou superfcie da matriz

    polimrica-fibra pode provocar o incio de falhas quando o compsito submetido a

    tenses ocasionando a diminuio da resistncia mecnica.36,37,68

    Visando aumentar a interao entre a fase dispersa e a matriz e assim

    aumentar a compatibilidade entre as fases, algumas estratgias podem ser utilizadas

    como a funcionalizao da matriz polimrica e/ou a funcionalizao da superfcie da

    fibra.

    2.5. Estratgias de Compatibilizao

    2.5.1. Funcionalizao da Matriz Polimrica (fase contnua).

    Os grupos reativos dos agentes de acoplamento podem tambm interagir com

    os grupos ativos presentes nas matrizes polimricas. No entanto, alguns polmeros

  • Introduo

    10

    como o polietileno e o polipropileno no possuem grupos ativos em suas cadeias que

    favoream as interaes cido-base levando a formao de ligaes covalentes.

    Neste caso, as matrizes polimricas devem ser funcionalizadas a fim de introduzir

    em suas cadeias os grupos funcionais reativos adequados.68

    Normalmente, para aumentar a resistncia sob trao dos compsitos, utiliza-

    se a matriz polimrica funcionalizada com grupos cidos, e agentes de acoplamento

    que possuam grupos bsicos ou anfotricos ligados covalentemente as fases

    dispersas, promovendo assim a interao entre o grupo cido presente na matriz

    polimrica e o grupo bsico presente no agente de acoplamento formando ento

    uma ligao covalente.39,40.

    Atualmente crescente o nmero de trabalhos que reportam a funcionalizao

    das matrizes polimricas com derivados cidos reativos como, por exemplo, o cido

    acrlico, o maleico, o metacrlico e o crotnico.40-42

    A funcionalizao da matriz polimrica pode ocorrer durante o processo de

    mistura mecnica da fase dispersa com o polmero, ou seja, in-situ e para isso

    necessria a adio de compostos como perxidos, os quais induziro a formao

    de radicais livres e a enxertia de grupamentos funcionalizados nas cadeias

    polimricas. A seguir, estas espcies ativas presentes na cadeia da matriz polimrica

    podero interagir com a fase dispersa.

    Outra possibilidade a modificao da matriz polimrica atravs da irradiao

    com feixes de eltrons ou raios-. A irradiao dos polmeros pode causar a

    oxidao, reticulao ou ciso de cadeia levando a formao de espcies ativas43-48.

    Este mtodo pode tambm ser utilizado para obter copolmeros funcionalizados

    atravs da enxertia com vrios co-monmeros contendo grupos ativos. Orr et al.49

    estudaram a velocidade de reaes de acoplamento no estado fundido utilizando

    poliestireno e polimetacrilato de metila contendo grupos terminais reativos (cidos ou

    bsicos) capazes de promover a formao de ligaes covalentes. A ordem

    crescente de reatividade obtida para os pares foi: cido carboxlico/amina,

    hidroxila/anidrido, amina aromrica/epxido, amina aliftica/epxido, cido

    carboxlico/oxazolina, cido carboxlico/epxido, amina aromtica/anidrido, amina

    aliftica/anidrido.

  • Introduo

    11

    Foi verificado que a reao entre a amina aliftica e o anidrido

    extremamente rpida com completa converso em menos de 30 segundos. Tambm

    mostraram que esta reao no controlada pela difuso.

    No caso das poliolefinas como o polipropileno (PP), a utilizao do PP

    enxertado com anidrido maleico (PPAM) amplamente aplicada na rea de

    compsitos. O PPAM constitudo por uma frao apolar relacionada cadeia de

    PP e uma frao polar relacionado ao grupo funcional anidrido maleico, Figura 4. No

    compsito de PP com FL contendo PPAM ocorre interdifuso das cadeias do PP

    com PPAM por interao de van der Waals devido semelhana de natureza qumica.

    Os grupos carboxlicos dos cidos maleicos do PPAM interagem com os

    grupos hidroxila da celulose resultando tanto em interaes covalentes (ligao

    ster) e ligao hidrognio promovendo a ancoragem da fibra na matriz polimrica.50

    O agente de acoplamento pode ser usado no tratamento superficial das fibras antes

    do processamento ou ser adicionado no decorrer do processamento, que

    conhecido como funcionalizao in situ.

    Figura 4. Modelo hipottico da interface entre grupo hidroxila da fibra de curau e

    PPAM.

    2.5.2. Funcionalizao da Fase Dispersa

    A funcionalizao das fibras pode ser realizada devido alta densidade de

    grupos hidroxilas na superfcie das fibras o que favorece uma grande variedade de

  • Introduo

    12

    reaes.51 As FL podem ser funcionalizadas com organosilanos, organotitanatos ou

    organozirconatos.52-55

    Nos ltimos anos tem crescido o uso dos organosilanos 56 e eles apresentam

    uma estrutura genrica, Y-R-Si-X3, onde X um grupo alcoxila hidrolisvel (metoxila,

    etoxila ou acetoxila). Estes trs grupos hidrolisveis podem formar ligaes

    covalentes com a fase dispersa. O Y um grupo organofuncional (amino, vinila,

    epoxi, metacrilato, etc.) ligado ao silcio atravs de um grupamento alquila (R). O

    grupo Y pode ter carter cido ou bsico e ser responsvel pela interao entre o

    agente de acoplamento e a matriz polimrica.54,57-59 Bons resultados tambm foram

    obtidos usando organotitanatos em compsitos contendo fase dispersas que no

    possuem hidroxilas na superfcie, como o carbonato de clcio e o negro de fumo.60-62

    No entanto, o mecanismo de atuao nestes casos no foi descrito neste trabalho.

    Alm da funcionalizao da fase dispersa com os agentes de acoplamento

    adequados (organosilanos, organotitanatos ou organozirconatos), elas tambm

    podem ser funcionalizadas atravs de tratamentos que no utilizam solventes como

    o caso do plasma a frio ou da irradiao com feixe de eltrons ou raios-. No caso

    do plasma a frio63 gerado um gs ativado produzido por uma descarga eltrica que

    o converte em espcies altamente reativas como radicais livres, ons, etc. que iro

    reagir com qualquer fase dispersa.

    O pr-tratamento da superfcie da fase dispersa tambm pode ser realizado

    atravs da mistura com monmeros como estireno, metacrilato de metila, acrilato de

    butila, que sob irradiao com feixe de eltrons ou raios- formam os respectivos

    polmeros.64,65

    Dentre os agentes de acoplamento disponveis no mercado, a funcionalizao

    das fibras com os organosilanos e da matriz com o anidrido maleico tm sido

    considerados os mais efetivos, com maior disponibilidade no mercado e menor custo.

    Os organosilanos tm sido largamente usados para modificar a superfcies de

    substratos inorgnicos como as fibras de vidro.66

    Na reao de funcionalizao da FC os grupos alcoxila (MeO-) do

    organosilano reagem com os grupos hidroxila (-OH) das FL, inicialmente ocorre a

    reao de hidrlise gerando grupos silanis a partir dos grupos alcoxila. A seguir

  • Introduo

    13

    ocorre a reao de condensao gerando grupos siloxanos, os quais interagem com

    as fibras atravs de interaes de hidrognio; com o aquecimento ocorre a reao de

    enxertia, onde formada a ligao covalente entre a fibra e o organosilano, Fig. 5.67

    Figura 5: Reaes do organosilano com as FC. (Adaptado da ref. 68).

    Normalmente, para aumentar a resistncia sob trao dos compsitos, utiliza-

    se a matriz polimrica funcionalizada com grupos cidos de Lewis e agentes de

    acoplamento que possuam grupos que atuam como bases de Lewis ou espcies

    anfotricas que interagem covalentemente fase dispersa.68 Os grupos reativos do

    AAPS, no caso o grupo bsico (NH2) podem interagir com os grupos ativos

    presentes nas matrizes polimricas. O PP no possui grupos ativos em suas cadeias

    que favoream as interaes do tipo cido-base de Lewis que resulta na formao de

    ligaes covalentes. Portanto, necessrio funcionalizar a matriz polimrica

    introduzindo em suas cadeias os grupos funcionais reativos adequados (grupo

    cido). Neste trabalho foram adicionados 2 % em massa de PPAM (PP

    funcionalizado com anidrido maleico) matriz de PP, pois em trabalhos anteriores foi

    verificado que este teor o que apresentou os melhores resultados de adeso do PP

    com a FC.84

  • Introduo

    14

    2.6. Polipropileno (PP)

    O PP isottico (Fig. 6) foi sintetizado pela primeira vez em 1954 por Natta

    atravs de um sistema de catalisador de coordenao constitudo de TiCl4 e

    Al(C2H5)3, baseado no sistema de Ziegler.69

    Figura 6. Estrutura qumica do PP isottico.

    Atualmente existem novas tecnologias para a sntese do PP baseadas em

    metalocenos, catalisadores de ltima gerao com metais de transio, geralmente

    zircnio e titnio, coordenados por ligantes ciclopentadienlicos.

    O PP um termoplstico semicristalino com densidade em torno de 0,90

    g/cm3 e grau de cristalinidade em torno de 50 %.70 Apresenta temperatura de fuso

    (Tm) em torno de 165 oC e temperatura de transio vtrea (Tg) em torno de - 5 a - 20

    oC. Ele utilizado em produtos obtidos por processos de extruso, sopro e

    moldagem por injeo, pois o PP apresenta facilidade de processamento. Alm disto,

    a diversidade de aplicaes est relacionada s boas propriedades mecnicas (alta

    resistncia trao e rigidez), propriedade trmica (estabilidade dimensional sob

    altas temperaturas) e estabilidade qumica (alta resistncia qumica); eficiente

    barreira umidade e transparncia quando orientado, baixo custo e baixa

    densidade.71

    O PP pode retornar a aplicao original depois de reciclado (reciclabilidade)

    como novas caixas de baterias ou tambm ser aproveitado na forma de utenslios

    domsticos, mangueiras, tubos, e embalagens para produtos no alimentcios,

    cordas, etc.68-101

  • Introduo

    15

    2.7. Processos de degradao de polmeros

    Durante a vida til dos produtos acabados estes esto sujeitos a diferentes

    tipos de intemperismos que podem iniciar uma srie de reaes qumicas que

    acarretam a modificao das cadeias principais das macromolculas. Essas reaes

    podem envolver a insero de novas funes qumicas ou cises de cadeia,

    provocando alteraes nas propriedades fsicas, qumicas e visuais do polmero.

    Estas reaes podem ocorrer atravs de iniciao fotoqumica, trmica por radiao

    de alta energia e processos de iniciao que ocorrem de modo associado, como o

    caso da iniciao mecnica e termomecnica, qumica e stress cracking. A

    degradao nos polmeros depende de sua estrutura qumica, modo de

    processamento e sua aplicao.72,17

    A degradao fotoqumica ocorre em dois estgios: iniciao e oxidao. A

    iniciao fotoqumica depende da gerao de um estado excitado (M*) a partir da

    absoro de radiao por qualquer grupo cromforo presente no polmero, que pode

    ser intrnseco, ou seja, inerente sua estrutura, ou extrnseco, como a presena de

    contaminantes, Eq. 1.

    O estado excitado pode seguir dois caminhos: a) o M* reage com uma espcie

    A no estado fundamental gerando um produto MA, Eq. 2, b) o M* sofre uma ciso

    homoltica de uma ligao qumica localizada no cromforo, gerando dois

    macroradicais livres M, Eq. 3. No caso de um cromforo extrnseco, os radicais

    livres abstrairo tomos de hidrognio da macromolcula iniciando a degradao do

    polmero.

    M + h M* Eq. 1

    M* + A MA Eq. 2

    M* 2 M Eq. 3

    Nas Equaes 1, 2 e 3 so mostradas as principais reaes de iniciao

    fotoqumica. M = macromolcula, M = macroradical, A = espcie no estado

    fundamental, smbolo * = estado excitado. 72

  • Introduo

    16

    No caso de um cromforo intrnseco, os radicais livres fazem parte da

    macromolcula e podem atuar da mesma forma citada acima, gerando mais radicais,

    como tambm podero iniciar a oxidao ou causar reticulao, dependendo do

    ambiente.72

    O mecanismo geral da degradao fotoxidativa de poliolefinas envolve a

    absoro de radiao UV, a formao de um macro radical, e subseqentes reaes

    oxidativas em um processo autocataltico, como mostrado na Fig.7.73

    Figura 7. Esquema geral da degradao fotoxidativa de poliolefinas. RH = cadeia

    polimrica.73

    Os principais grupos qumicos presentes nos polmeros e suas contaminaes

    so os resduos de catalisador, iniciadores, as ligaes duplas C=C conjugadas, os

    anis aromticos e grupos contendo carbonila, que so responsveis pela absoro

    de luz na regio do espectro solar.72 Ao absorver radiao na regio do UV na

    presena de O2, os grupos carbonila degradam sofrendo as reaes Norrish tipo I e

    II, Fig. 8.72,74

  • Introduo

    17

  • Introduo

    18

  • Introduo

    19

    Figura 8. Exemplos de reaes fotoqumicas Norrish do tipo I e II.74

    Na reao Norrish I ocorre a clivagem fotoqumica de aldedos e cetonas

    gerando radicais livres intermedirios na presena de radiao UV. A reao Norrish

    II resulta na formao de grupos carbonila e vinila. A conseqncia dessas reaes

    a reduo das cadeias da fase amorfa, aumentando a cristalinidade e,

    consequentemente, afetando as propriedades finais.75

    No PP, a absoro de radiao UV ocorre em comprimentos de onda

    inferiores a 250 nm, que um valor menor que o limite inferior de radiao UV que

    atinge a superfcie terrestre (~ 290 nm). O incio da degradao do PP exposto a

    fotodegradao ambiental deve-se absoro da radiao solar por cromforos

    gerados durante a sntese ou processamento, como cetonas e hidroperxidos,

    aditivos, impurezas ou defeitos na estrutura do material.72, 76

    A fim de verificar a estabilidade de polmeros necessrio submet-los a

    ensaios que simulem as condies de uso s quais ele estaria exposto durante a sua

  • Introduo

    20

    vida til. A simulao de degradao fotoxidativa de polmeros um dos principais

    ensaios, que pode ser realizado em estaes de envelhecimento ambiental

    (exposio natural) ou em laboratrio em cmaras de envelhecimento acelerado

    (MANO, 2009). 79

    A radiao UV a principal causa de degradao nesses ensaios, porm na

    exposio ambiental h vrios fatores concomitantemente que variam com a poca

    do ano e da localizao da estao de envelhecimento. A combinao desses

    fatores determina o comportamento do material polimrico.72 A poca do ano influi

    nas propriedades dos materiais envelhecidos, pois nas diferentes estaes do ano

    ocorrem variaes nas intensidades de radiao solar, temperatura umidade, etc.

    Outro aspecto importante a localizao da estao de envelhecimento, devido

    diversidade climtica e ambiental do planeta, onde testes realizados em determinada

    regio no podem ser tomados como parmetros de comparao com outras

    regies. necessria a seleo criteriosa do local de exposio e da posio em que

    o material ser exposto (ASTM D 1435: Standard Practice for Outdoor Weathering of

    Plastics).79

    O perodo de exposio depender da estabilidade do material, dos objetivos

    do ensaio e do tempo de vida til desejado para o produto analisado. O perodo pode

    variar de 6 meses a 3 anos.

    Nos ensaios de envelhecimento acelerado usam-se vrias lmpadas de UV

    com um espectro padro. A lmpada de xennio uma das mais usadas, pois a

    que melhor reproduz o espectro solar. importante destacar que os ensaios

    acelerados no substiturem os testes de campo.72

    Para a realizao destes ensaios existem normas que definem a forma e as

    condies dos testes. importante que os ensaios de envelhecimento sejam

    realizados de acordo com normas padronizadas a fim de favorecer os resultados

    reprodutveis e confiveis.

    Visando avaliar os efeitos do envelhecimento do material em funo do tempo

    de envelhecimento realizada caracterizao mecnica (trao e flexo),

    morfolgica, trmica (DSC e TGA), espectroscpica, ndice de amarelecimento,

    colorimetria, etc. Os mecanismos de degradao podem ser avaliados atravs de

  • Introduo

    21

    medidas de espectroscopia de absoro e/ou emisso na regio do infravermelho,

    ressonncia de spin eletrnico, determinao de hidroperxidos e algumas tcnicas

    auxiliares como o TGA e DMA.72-

    Apesar do aumento no estudo de compsitos polimricos com FLs

    compatibilizados com diferentes agentes de acoplamento, existem poucos artigos81

    relatando estudos de envelhecimento ambiental destes compsitos a fim de verificar

    qual a influncia dos agentes de acoplagem no processo de degradao.

  • II

    OBJETIVOS

  • Objetivos

    23

    3. OBJETIVOS

    Avaliar os resultados a fim de verificar: a ocorrncia da fibrilao da FC; a

    funcionalizao da FC; a influncia das condies iniciais de incidncia solar (vero

    ou inverno) da exposio nos compsitos; o efeito dos agentes de acoplamento nos

    compsitos e das condies ambientais nos compsitos. Estas informaes so

    extremamente importantes para a determinao do tempo de vida til dos produtos

    acabados em funo das influencias das formulaes e dos fatores ambientais de

    exposio, alm de direcionar a aplicao.

    Objetivos Especficos:

    Verificar a funcionalizao da fibra de curau aps fibrilao;

    Verificar a ocorrncia de Fibrilao e efeito na adeso/funcionalizao;

    Caracterizar as FCs fibriladas e funcionalizadas atravs de medidas da

    determinao da razo de aspecto (razo comprimento/dimetro), espectroscopia

    FTIR, Microscopia Eletrnica de Varredura (MEV) e difrao de raios-X (DRX);

    Analisar o incio do envelhecimento ambiental dos compsitos com FC no

    funcionalizada com matriz de PP funcionalizada (PP-PPAM) em condies de

    radiao solar diferente (vero e inverno);

    Envelhecer por um ano os compsitos em condies ambientais diferentes e

    avaliar o progresso peridico de degradao.

  • II

    MATERIAIS e MTODOS

  • Materiais e Mtodos

    25

    4. Materiais e mtodos

    4.1. Materiais

    Usou-se o polipropileno isottico virgem (PP, H301, MFI = 10 g.10 min-1 e =

    0,905 g.cm-3) na forma de pellets fornecidos pela Braskem S/A (Triunfo, RS). O

    PPAM (Polybond 3200 contendo 1 % em massa de anidrido maleico) foi fornecido

    pela Chemtura Indstria Qumica do Brasil Ltda. O PPAM foi previamente misturado

    com o PP. As FC na forma de fibras longas, aps colheita, extrao e lavagem

    seguida de secagem, foram fornecidas pela Embrapa Amaznia Oriental, Belm, PA,

    Brasil. Foram usadas as FC previamente modas em um moinho rotativo de 3 facas

    (Rone, NFA 1533) no qual foi utilizado uma peneira de orifcios de 7 mm e distncia

    entre facas de 0,50 mm. Os reagentes utilizados para a funcionalizao das fibras

    foram: lcool etlico PA (Synth), cido actico PA (Synth), perxido de benzola

    (AKZO Nobel) o N-(-aminoetil)--aminopropiltrimetoxisilano (Z-6020, Dow Corning)

    aqui designado como o AAPS.

    Os processos de funcionalizao, lavagem e secagem das fibras foram

    realizados na UFABC, campus Santo Andr. O processo de extruso-injeo foi

    realizado no Laboratrio de Processamento de Polmeros da UNICAMP em

    Campinas, SP. O esquema abaixo, Fig. 9 representa de forma resumida a sequncia

    metodolgica e os processos utilizados.

  • Materiais e Mtodos

    26

    Figura 9: Esquema geral resumido da metodologia utilizada.

    4.2. Fibrilao das Fibras de Curau por Sonificao

    O processo de fibrilao foi realizado por banho em ultrassom conforme figura

    10. As fibras sonificadas foram designadas como FC.

    Figura 10. Montagem experimental da sonificao das FCs.

  • Materiais e Mtodos

    27

    Neste tratamento usou-se 300 m L de gua como solvente variando-se a

    massa de fibra, o tempo, a % da potncia e o pulso que o tempo que o sonificador

    permaneceu ligado e desligado, por ex., no pulso 10/5 o equipamento permanece

    ligado por 10 s e desligado por 5 s. As condies dos experimentos esto descritos

    na Tabela 2. O equipamento utilizado foi um homogeneizador ultrassnico Cole-

    Parmer 750 Watt.

    Tabela 2: Condies experimentais utilizadas na sonificao das FCs.

    Condio Massa de fibra

    (g)

    Tempo de ensaio

    (min)

    Potencia

    (%)

    Pulso

    1 5 1 50 10/10

    2 5 6 50 10/10

    3 5 16 50 10/10

    4 2 5 50 10/10

    5 2 10 50 10/10

    6 2 15 50 10/10

    7 2 10 70 10/05

    8 2 15 70 10/05

    9 2 20 70 10/05

    10 5 *(2x15) 70 10/05

    * Condio 10: aps 15 min. foi trocada a gua e sonificada por mais 15 min.

    A condio 10 foi o que apresentou melhor rendimento em funo do uso do

    equipamento; o critrio foi o maior rendimento de fibras soltas em funo da

    temperatura mxima de 110 C por tentativa e erro.

    Aps a sonificao, as FCs foram lavadas com gua destilada, filtradas em

    funil de Bchner, secas ao ambiente e a seguir em estufa a vcuo (Cole Parmer,

    modelo 05053-20) 50 kPa, 110C por 2 h.

    As fibras sonificadas foram dispostas em placas de petri (Fig. 11),

    fotografadas e as imagens digitalizadas; as dimenses geomtricas (comprimento,

    dimetro e razo de aspecto) de cerca de 500 fibras foram medidas utilizando-se o

  • Materiais e Mtodos

    28

    software Image Tool para a determinao da distribuio de comprimento e

    dimetro das fibras.

    Figura 11. Foto de parte das placas com as fibras separadas para a

    determinao de distribuio de comprimento e dimetro.

    4.3. Funcionalizao das FCs com organosilano

    A funcionalizao das fibras foi realizada com o uso de organosilano, o N-(-

    aminoetil)--aminopropiltrimetoxisilano (AAPS). Ele foi escolhido, pois possui grupos

    amino terminais (Fig 17 (a)) os quais podem interagir com os grupos cidos maleicos

    do PPAM.

    Alguns aspectos so importantes para a ocorrncia da funcionalizao das FL,

    como a estrutura e a concentrao do AAPS, o pH da reao, o solvente e o tempo

    de reao. Neste trabalho, as condies foram determinadas de acordo com os

    melhores resultados verificados na literatura82,83 e foram usados 2 % em massa do

    AAPS em relao massa da FC, pois quantidades superiores favorecem a

    polimerizao do organosilano formando o polisiloxano.

    Foi preparada uma soluo 80/20 (v/v) de lcool etlico P.A./gua deionizada

    acidificada com cido actico P.A. at pH 4. Foram adicionados 2 % de AAPS em

    relao massa de fibra e a soluo foi agitada por 20 min a 60 C. Adicionou-se 1,0

    g de fibra de curau sonificada e 0,5 % em massa em relao massa da fibra de

    perxido de benzoilo e a soluo permaneceu sob agitao por mais 120 min. A fibra

    foi filtrada lavada com excesso de lcool e mantida sob exausto por 24 h, a seguir

    foi seca por 2 h a 110 C na estufa sob vcuo (Cole Parmer, modelo 05053-20) 50

    kPa. Aps temperatura ambiente as FCO foram armazenadas em saco plstico

    (PEAD) devidamente identificado e reservadas para formulao e processamento

    (extruso).

  • Materiais e Mtodos

    29

    4.4. Processamento dos compsitos por extruso-injeo

    Todas as amostras foram processadas na extrusora dupla-rosca

    interpenetrante co-rotatria (ZSK 26Mc, Coperion Werner & Pleiderer, L/D 44, D = 26

    mm), com alimentador lateral (side-feeder) e degasagem sob vcuo, Fig. 12.

    Alimentao Mistura Side Feeder Mistura Degasagem

    Figura 12. Ilustrao do perfil de rosca utilizado na extruso dos compsitos.

    O perfil de temperatura para o PP foi de 160, 160, 165, 165, 170, 170, 170,

    170, 180, 175, 170 C, respectivamente. As temperaturas das duas ltimas zonas e

    da matriz seguem uma ordem decrescente devido ao alto cisalhamento provocado

    pela fibra, aumentando a temperatura da massa.84 Em todos os processos, foi usado

    degasagem sob vcuo. O PP e o PPAM foram misturados por tombamento e

    adicionados atravs do alimentador principal e as fibras no side-feeder. A rotao da

    rosca utilizada foi de 300 rpm, e a do side-feeder foi de 265 rpm.

    Os espaguetes extrusados foram granulados, secos em estufa convencional

    por 1 h a 100 C e injetados (Arburg All Rounder M-250) na forma de corpos de prova

    para ensaios mecnicos de trao (ASTM D 638, Tipo I) e fibra lignucelulsicaexo

    (ASTM D 790), com perfil de temperatura da alimentao para a matriz de 180, 185,

    190, 200 e 205 C, presso de injeo de 1200 MPa, velocidade de injeo de 20

    cm3.s-1, presso de recalque de 800 MPa, tempo de recalque de 5 s, temperatura do

    molde 20 C e tempo de resfriamento do molde de 10 s. As formulaes utilizadas

    nos processos esto mostradas na Tabela 3.

    As condies selecionadas para os processos de extruso-injeo foram

    baseadas nos melhores resultados de trabalhos anteriores realizados por (MANO,

    2009).79

  • Materiais e Mtodos

    30

    Tabela 3: Formulaes do controle e dos compsitos de PP com e sem agente

    de acoplamento e fibras de curau funcionalizadas ou no.

    Formulaes PP (% em massa)

    FIBRAS DE CURAU

    (% em massa)

    PPAM (% em massa)

    PP/PPAM (matriz) 98 - 2

    PP/FC 80 20 -

    PP/FCO* 80 20 -

    PP/PPAM/FC 78 20 2

    PP/PPAM/FCO 78 20 2

    *FCO = fibra de curau sonificada e funcionalizada com organosilano.

    Foram realizados dois conjuntos de amostras processadas em diferentes

    perodos do ano como descrito a seguir. Neles foram preparadas amostras de PP

    com 2 % em massa de PPAM (PP/PPAM) e os compsitos de PP com 20 % em

    massa de FC sonificada funcionalizadas ou no.

    1o Processo: Amostras de PP/PPAM e os compsitos de PP/FC com ou sem

    2 % em massa de PPAM submetidas ao envelhecimento ambiental na UFABC

    (Campus Santo Andr) e retiradas das amostras para anlise a cada dois meses a

    partir de 21/08/2012 e mantidas por 374 dias de exposio.

    2o Processo: Alm das amostras descritas no Processo 1, foram

    processadas amostras de PP/PPAM e os compsitos com e sem PPAM e a FC

    funcionalizada com organosilano (FCO) ou no submetidas ao envelhecimento

    ambiental na UFABC e na UNICAMP e retiradas a cada trs meses a partir de

    18/12/2012 e mantidas por 370 dias de exposio.

    Para o entendimento dos processos em 1 e 2 deve-se considerar o fluxograma

    esquemtico representado na Figura 9 e no Quadro 1.

  • Materiais e Mtodos

    31

    Tabela 4 - Resumo das condies de exposio natural e local.

    4.5. Exposio Ambiental

    Os compsitos injetados foram expostos na UNICAMP/Campinas, e na

    UFABC/Santo Andr de acordo com norma ASTM D1435 em um suporte metlico,

    Fig. 13, com 23o de inclinao, voltado para o norte (direo do sol no hemisfrio sul)

    nas seguintes coordenadas geogrficas da UNICAMP: latitude 22o 50 S e longitude

    47 o 5 W ( 6m, GPS Garmin Map 262c) de acordo coma norma ASTM D1435. As

    coordenadas geogrficas da Universidade Federal do ABC so: latitude 23 38'

    41,55 S e longitude 46 31'38,73 W.

    Figura 13. Rack de exposio das amostras para degradao ambiental.

  • Materiais e Mtodos

    32

    Os valores de irradiao solar, temperatura mdia e porcentagem de umidade

    relativa do ar, referentes ao perodo de exposio dos compsitos do 2o Processo

    (12/2012 a 12/2013) foram coletados e fornecidos pela Defesa Civil - Semasa de

    Santo Andr e pela Cetesb, considerando as estaes metereolgicas mais prximas

    dos locais de exposio das amostras, Figura 13, as estaes mais prximas de

    Santo Andr foram denominadas nos grficos como Sto Andr e de Campinas como

    CAMP. Os dados para Santo Andr no ms de junho de 2013 no foram fornecidos .

    a) b)

    c)

    Figura 14: Condies metrolgicas: a) radiao solar, b) temperatura mdia e c)

    umidade relativa para o perodo de dezembro de 2012 a dezembro de 2013 de Santo

    Andr e Campinas nas quais as amostras do 2o Processo foram submetidas. Fonte:

    Semasa / Cetesb.

  • Materiais e Mtodos

    33

    4.6. Caracterizaes

    4.6.1. Amostragem

    Para as anlises de ndice de carbonila (IC), Microscopia ptica (MO),

    Microscopia Eletrnica de Varredura (MEV) e Espectros de Reflectncia na regio do

    visvel foram utilizados os corpos de prova (CP) cuja propriedade mecnica (tenso

    mxima sob trao) mais se aproximou do valor mdio obtido nos ensaios de cinco

    amostras, ou seja, os primeiros ensaios aplicados a cada perodo retirado foram os

    ensaios mecnicos (trao e flexo), aplicados cinco amostras de corpos de prova

    da mesma formulao; aps resultados, a amostra do corpo de prova que mais se

    aproximou do valor mdio dos resultados de trao foi submetida aos demais

    ensaios de caracterizao.

    4.6.2. Ensaios de Trao e Flexo

    O comportamento mecnico dos polmeros caracterizado pela resposta que

    estes apresentam quando so submetidos a tenses ou deformaes. As repostas

    dos polmeros s solicitaes mecnicas so fortemente dependentes de fatores

    geomtricos como concentraes de tenses e condies de ensaio. Alguns fatores

    influenciam as propriedades mecnicas dos polmeros como os efeitos das variveis

    internas, por ex. Massa molar; ramificaes e ligaes cruzadas; cristalinidade;

    copolimerizao; blendas polimricas; reforos, cargas, plastificantes etc. e os efeitos

    das variveis externas, por ex. temperatura; tempo ou velocidade de deformao (ou

    velocidade de aplicao da tenso); ambiente (abrangendo umidade e outros

    agentes quimicamente agressivos ao polmero testado) etc. Outros aspectos so as

    condies de preparao e fabricao das amostras polimricas, o que inclui os

    processos de transformao dos polmeros.68-101

    Os polmeros apresentam um comportamento viscoelstico que uma

    conseqncia das fracas interaes moleculares e alta flexibilidade das cadeias

    polimricas, resultando em uma superposio de caractersticas intrnsecas a slidos

    elsticos Hookeanos e fludos viscosos Newtonianos. Consequentemente, a

  • Materiais e Mtodos

    34

    velocidade ou freqncia com que o polmero solicitado pode alterar

    completamente seu comportamento durante o ensaio mecnico. Os tipo de ensaios

    mecnicos de acordo com tempo do ensaio pode ser classificado como de curtssima

    durao, por ex. o ensaio de impacto; ensaios de curta durao, como o ensaio de

    trao; compresso, flexo, toro e de longa durao como o ensaio de fluncia e

    relaxao de tenso e fadiga. Neste trabalho foram realizados ensaios de curta

    durao como os de trao e flexo. Os ensaios de trao e flexo so realizados

    em uma Mquina universal de ensaios, Fig. 15 onde so trocados os acessrios para

    cada tipo de ensaio. Os ensaios de trao e flexo so destrutivos.

    Figura 15: a) Mquina Universal de ensaios com acessrio para ensaio de trao, b)

    curva de tenso-deformao de um ensaio de trao, c) acessrios para ensaios de

    flexo e d) curva de flexo do compsito de PP com FC.

    Nos ensaios de trao em qualquer regio da curva, a tenso calculada

    como a razo entre a fora e a rea de seo transversal do corpo de prova. O

  • Materiais e Mtodos

    35

    mdulo de Young (E) obtido atravs da inclinao da curva a baixas deformaes

    (at 0,2 %), E = /. Quanto maior o valor do mdulo, maior a rigidez do polmero. O

    alongamento na ruptura (r) se relaciona ao escoamento das molculas polimricas

    durante o estiramento; ele calculado atravs da relao entre a diferena do

    comprimento da regio til do corpo de prova no instante em que medida a

    deformao (l) e do comprimento inicial da regio til (l0), isto : = (l - l0) / l0.

    A tenacidade obtida integrando a rea sob a curva tenso-deformao at a

    ruptura.85

    Foram realizados os ensaios de trao (ASTM D-638) usando distncia entre

    as garras de 115 mm com velocidade de deslocamento de 5 mm min-1 e flexo

    (ASTM D790) usando 50 mm de separao entre os suportes inferiores, razo entre

    a separao dos dois pontos inferiores (L) e a espessura do corpo de prova (d): L/d =

    16, velocidade de deslocamento de 13,65 mm min-1 e clula de carga de 10 kN na

    mquina de testes universal Instron, 5582. Os corpos de prova injetados foram

    condicionados por 48 h em ambiente com 50 ( 5) % de umidade relativa e

    temperatura de 25 ( 5) C previamente aos ensaios de trao e flexo. As larguras e

    espessuras dos corpos de prova foram medidas atravs de paqumetro digital

    (Mitutoyo, 0,01 mm). Os ensaios de Trao e Flexo foram realizados na mquina

    universal Instron 5582 na UFABC, Campus Santo Andr, SP.

    4.6.3. Espectroscopia na regio do Infravermelho (FTIR)

    O IC um parmetro muito utilizado para medir a extenso da degradao

    dos polmeros. No processo de degradao fotoqumica do PP ocorrem cises na

    cadeia polimrica com formao de fragmentos de cadeia contendo grupos carbonila

    (-C=O) como cetonas. Esses fragmentos podem sofrer oxidaes sucessivas,

    gerando cidos, steres e lactonas. O teor de carbonila aumenta com o tempo de

    degradao e pode ser monitorado atravs de espectros FTIR. A partir desses

    espectros pode-se calcular o ndice de carbonila (IC). O FTIR com o acessrio de

    reflectncia total atenuada (ART) muito utilizado para polmeros, pois eles so

    materiais opacos, e colocar o corpo de prova sobre o acessrio de ATR no vivel,

  • Materiais e Mtodos

    36

    portanto a camada superficial (0,2 mm) que apresentou o maior grau de degradao

    foi raspada e utilizada para a anlise de IC.

    Todas as medidas de FTIR foram realizadas no espectrofotmetro Perkin

    Elmer Frontier 100 FT-IR, no modo de reflectncia total atenuada (ATR) na regio de

    4000 a 650 cm-1, resoluo de 4 cm-1 e 32 varreduras.

    Para a anlise de ndice de carbonila (IC) o material foi coletado por raspagem

    da superfcie do corpo de prova at uma profundidade de 0,2 mm. A partir dos

    espectros foi calculado o IC que a razo entre a absorbncia referente banda de

    estiramento da ligao C=O em 1740 ou 1712 cm-1, e a absorbncia relativa de

    referncia em 1455 cm-1 que se refere aos grupos -CH2- que no so afetados pela

    foto-degradao, Eq. 4.

    1

    1

    1455

    1712

    cm

    cm

    Abs

    AbsIC Eq. 4.

    A Figura 16 mostra um exemplo de espectro que ilustra como foi obtida a

    absorbncia relativa a partir da linha base para o clculo de IC.

    Nmero de onda (cm

    -1)

    Figura 16: Espectros de FTIR-ATR do compsito de PP/FC (1o Processo, 374 dias).

  • Materiais e Mtodos

    37

    4.6.4. Difrao de raios-X (DRX)

    A difrao de raios-X foi realizada utilizando um difractmetro de raios-X

    marca Rigaku, modelo Miniflex II, com radiao CuK (=1,541 ) a 30kV e 15 mA.

    Os valores de 2 foram entre 5 e 40, com velocidade de 2/min.

    O ndice de cristalinidade das fibras foi calculado por meio da deconvoluo

    dos picos nos difratogramas e com base nas reas dos picos cristalinos e amorfo,

    obtidas por meio o software Fitik (Eq. 5), onde Aa corresponde rea da curva

    referente fase amorfa e At corresponde soma das reas de todos os picos,

    incluindo o amorfo.86

    ndice de Cristalinidade (%) = IC = a

    t

    A1 100

    A

    Eq. 5

    4.6.5. Microscopia Eletrnica de Varredura (MEV)

    As reaes de oxidao ocorrem preferencialmente na regio amorfa devido a

    maior permeabilidade do oxignio nessa regio e tambm devido segregao de

    impurezas cromforas pelos cristais durante sua formao. Com as cises de cadeia,

    h liberao de segmentos de cadeia na regio amorfa que no se cristalizaram

    durante o processo de solidificao original. Esses segmentos podem se rearranjar

    em uma fase cristalina se tiverem suficiente mobilidade, o que chamado de

    quimiocristalizao. Na literatura relatada a ocorrncia desse fenmeno quando o

    PP submetido foto-degradao.5 Com a quimiocristalizao h contrao das

    camadas mais prximas superfcie e formao de fissuras.87 As tcnicas de MEV e

    MO so utilizadas para observar morfologias de superfcies afim de verificar

    mudanas derivadas da quimiocristalizao e outros formas de degradao.

    A morfologia da superfcie das FC e dos compsitos antes e aps a exposio

    ambiental foi avaliada atravs de micrografias obtidas por microscopia eletrnica de

    varredura (MEV JEOL, JSM-6010LA). Os corpos de prova escolhidos para a crio-

    fratura (30 min em N2(L)) foram aqueles cujas propriedades mecnicas mais se

  • Materiais e Mtodos

    38

    aproximavam do valor mdio obtido nos ensaios de trao. Para a obteno das

    imagens da superfcie das amostras no tempo zero e envelhecidas, os CPs foram

    cortados, colados nos porta-amostras e colados com fita de carbono. Aps a

    preparao de todas as amostras depositou-se com um metalizador uma pelcula de

    ouro (20 mA por 6 s) e as imagens foram obtidas com 5 kV de acelerao.

    4.6.6. Microscopia ptica (MO)

    A microscopia ptica no modo de reflexo (Microscpio tico Zeiss, Axioskop

    40) foi utilizada para acompanhar as variaes na morfologia da superfcie da face

    exposta das amostras submetidas ao envelhecimento ambiental. Este ensaio foi

    realizado na Central Multiusurio (CEM), na UFABC, campus Santo Andr.

    4.6.7. Medidas de reflectncia na regio do UV-visvel

    As medidas de reflectncia na regio do UV-visvel foram feitas em um

    equipamento UV-VIS-NIR da marca Cary 5 G com um acessrio de reflectncia

    difusa na superfcie exposta dos CPs do PP/PPAM e dos compsitos. Estes ensaios

    foram realizados no IPEN-CNEN/SP.

  • II

    RESULTADOS

    & DISCUSSO

  • Resultados e Discusso

    40

    5.0. Resultados e discusso

    5.1. Fibrilao das Fibras de Curau

    A fim de verificar o grau de fibrilao da FC foi realizada a distribuio de

    comprimento e dimetro das fibras antes e aps a sonificao usando a condio

    experimental de sonificao n 10. A Figura 17 mostra a distribuio de comprimento

    e dimetro das fibras antes e depois da fibrilao.

    0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24

    5

    10

    15

    20

    25

    30

    35

    40

    Porc

    enta

    gem

    (%

    )

    Comprimento (mm)

    a)

    0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1.0

    5

    10

    15

    20

    25

    30

    35

    40

    Distribuiao de Dimetro da Fibra 0

    Po

    rce

    nta

    ge

    m (

    %)

    Dimetro (mm)

    b)

    0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 240

    5

    10

    15

    20

    25

    30

    35

    40

    Distribuiao de Comprimento da Fibra 10

    Po

    rce

    nta

    ge

    m (

    mm

    )

    Comprimento (mm)

    c)

    0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1.0

    5

    10

    15

    20

    25

    30

    35

    40

    Porc

    enta

    gem

    (%

    )

    Dimetro (mm)

    d)

    Figura 17. Distribuio do comprimento e dimetro para as fibras de curau no

    sonificada: a) e b) e sonificada: c) e d).

    Como pode ser verificado, Fig. 16, ocorre um deslocamento na distribuio

    dos dimetros das fibras sonificadas, e no caso do comprimento ocorreu uma maior

  • Resultados e Discusso

    41

    distribuio. Foi calculada a razo de aspecto (L/D, onde L = comprimento e D =

    dimetro) para as fibras sonificadas. A partir de dados da mdia ponderada para

    cerca de 500 fibras verificou-se que o L/D da fibra de curau sonificada trs vezes

    maior (33,85) que a da fibra de curau (11,31) indicando que ocorreu a fibrilao da

    fibra e o aumento de L/D, o que pode melhorar a adeso.

    A Figura 18 (a) e (b) mostram os espectros de FTIR e as medidas de DRX das

    Fibras de curau e das Fibras de curau sonificadas, respectivamente. Aps a

    sonificao as fibras apresentaram uma colorao mais clara o que pode ser devido

    extrao de ceras, parte da lignina e frao amorfa de celulose das fibras. Atravs

    das medidas de FTIR foi possvel verificar que ocorre uma diminuio das bandas

    que podem estar associadas lignina presente na fibra, como em 1605 cm-1

    relacionada ao estiramento C=O do anel aromtico em fenis e em 1520 cm-1,

    atribudo vibrao C=C do anel aromtico caracterstico da lignina.88

    4000 3000 2000 1000

    Ab

    so

    rbn

    cia

    (u

    .a.)

    Comprimento de onda (cm -1)

    FCsonificada

    FC

    a)

    5 10 15 20 25 30 35 40

    Inte

    nsid

    ad

    e (

    u.a

    .)

    2 (graus)

    b)

    Figura 18. a) Espectros de FTIR (pastilha de KBr) e b) DRX da fibra de curau (-) e

    fibra de curau sonificada (-).

    A FC apresentou picos em 2 =16,4, 22,9 e 34 caractersticos da forma

    cristalina da celulose I, o que correspondente, respectivamente, aos planos

    cristalogrficos (10) e (101), (002) e (023) ou (004). A FC sonificada mantm o

    mesmo padro de difrao, porm o ndice de cristalinidade (51,29 %) maior que a

    FC (50,55 %). Os resultados sugerem a remoo da fase amorfa da FC como

    observado por FTIR, visualmente pela mudana de colorao e pelo aumento da

  • Resultados e Discusso

    42

    cristalinidade. A Figura 19 apresenta as micrografias (MEV) da FC e da FC

    sonificada. Atravs das micrografias (Fig. 19 (a) e (b)) possvel verificar que

    existem fibrilas que se soltaram das fibras.

    Figura 19. Micrografias (MEV) das Fibras de curau: a) e b) no sonificada e c e

    d) sonificada.

    5.2. Funcionalizao das FCs

    A funcionalizao das FCs foi realizada por meio do uso d o AAPS (Fig. 20 (a))

    e inicialmente foi verificado se ele estava pr-hidrolisado, portanto realizou-se uma

    medida de FTIR (Fig. 20 (b)) e pde ser observada a banda em ~ 930 cm-1 que est

    relacionada ao estiramento dos grupos alcoxila (-O-Me); o desaparecimento desta

    banda indica que ocorreu hidrlise do AAPS formando o grupo silanol (Si-OH) o que

    desfavorece a reao de funcionalizao.89

  • Resultados e Discusso

    43

    a)

    4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500

    40

    60

    80

    100

    Tra

    nsm

    itncia

    (%

    )

    Comprimento de onda (cm-1)

    B

    826 cm-1

    936 cm-1

    1086,7 cm-1

    1203 cm-1

    1471 cm-1

    1602 cm-1

    2837 cm-1

    2940 cm-1

    3283 cm-1

    b)

    Figura 20. a) estrutura qumica do N-(-aminoetil)--aminopropiltrimetoxisilano e b)

    FTIR do AAPS.

    A espectroscopia na regio do FTIR-ATR uma das tcnicas mais utilizadas

    para verificar a funcionalizao de substratos com organosilanos, e normalmente a

    anlise realizada atravs da subtrao do espectro das fibras funcionalizadas e no

    funcionalizada. Na Fig. 21, a discreta banda em 1202 Cm -1 evidencia processo de

    funcionalizao parcial; parcial devido ausncia das demais bandas de evidncia.

    4000 3000 2000

    Abso

    rb

    ncia

    (u.a

    .)

    Comprimento de onda (cm-1)

    a)

    3340 cm-1

    1800 1600 1400 1200 1000 800

    897 cm-1

    1202 cm-1

    1246 cm-1

    Abso

    rb

    ncia

    (u.a

    .)

    Comprimento de onda (cm-1)

    1733 cm-1

    b)

    Figura 21. Espectro de FTIR-ATR da diferena entre a FC (a) e a FC funcionalizada

    (b).

    A banda caracterstica dos grupos SiOH em ~ 3630 cm-1 indica a presena

    de silano residual hidrolisado90,91. A banda em 1265 cm-1 atribuda deformao da

    ligao CH3-Si-92 e em 770 cm-1 correspondente ligao simtrica Si-C.78 A banda

  • Resultados e Discusso

    44

    em 1720 cm-1 pode indicar a presena de grupos -OH livres devido

    autocondensao do silanol. A banda em ~ 1735 cm-1 pode ser devido formao de

    grupos carbonila, relacionados oxidao da celulose associada a tratamentos com

    silanos, uma vez que os grupos -OH da superfcie podem estar envolvidos em

    ligaes de hidrognio com unidades de Si-OH.93 As bandas em 1200 e 770 cm-1 so

    atribudas s ligaes -Si-O-C.94 As bandas em 1885 e 1905 cm-1 esto relacionadas

    ligaes fenila-Si.78 Na regio de 950 a 1150 cm-1, ocorre estiramentos

    assimtricos relacionados ligaes Si-O-Si- e/ou de ligaes -Si-O-C-.79

    Avaliando os espectros de FTIR da Fig. 20, verifica-se bandas na regio entre

    950 a 1150 cm-1, que podem ser atribudas ao estiramento assimtrico -Si-O-Si- e/ou

    de ligaes -Si-O-C-.95 Tambm foi verificada a presena de bandas que poderiam

    ser atribudas aos resduos de -Si-OH. Estes resultados indicam que podem ter

    ocorrido a reao de polimerizao do AAPS e que existem resduos de -SiOH. Os

    indcios da ocorrncia da reao de funcionalizao desejada esto relacionadas s

    bandas de absoro ~ 1265, 1200 e 770 cm-1.

    A banda em 1733 cm -1 atribudo ao estiramento das vibraes do C=O dos

    grupos carbonila ou acetila das hemiceluloses e/ou a ligaes ster dos grupos

    carboxila, presentes nas hemiceluloses e na lignina.96

    As reaes que ocorrem entre as FLs funcionalizadas e a matriz polimrica

    no so simples, pois o mecanismo das reaes dos siloxanos depende de uma

    srie de fatores, como: a acidez relativa ou basicidade das interfaces; a

    compatibilidade termodinmica do polmero com o organosilano (que vai depender

    do tipo de matriz utilizada) e o produto da condensao; a temperatura em que a

    hidrlise e a condensao ocorrero; e a energia de ativao para a formao da

    ligao covalente entre a matriz e a FL funcionalizada.97

    A Figura 21 apresenta a micrografia (MEV) da fibra de curau sonificada (FC)

    e da sonificada e funcionalizada (FCO), possvel verificar que existe uma grande

    quantidade de fibrilas na FCO (b) em relao FC (a).

  • Resultados e Discusso

    45

    Figura 22. Micrografias (MEV) da: a) FC (barra de escala 100 m) e b) FCO (barra

    de escala 200 m).

    5.3. Envelhecimento ambiental: 1O Processo

    5.3.1. ndice de Carbonila (IC)

    A Figura 23 mostra os espectros de FTIR-ATR das amostras de PP,

    PP/PPAM, PP/FC e PP/FC/PPAM sem exposio ambiental. As principais bandas

    observadas para o PP so em 2960 e 2880 cm-1 relativas ao C-H simtrico e

    assimtrico dos grupos metila (-CH3), e em 2920 e 2840 cm-1 dos grupos metileno (-

    CH2). Em 1450 e 1375 cm-1, respectivamente, so observados as bandas de C-H

    simtrica e assimtrica de -CH3. A amostra usada como matriz (PP/PPAM) apresenta

    as bandas similares s do PP.

    Os compsitos, alm das bandas do PP, apresentam bandas tpicas da FC

    que so: em 3350 cm-1 relacionado ao O-H da celulose, hemicelulose e gua, em

    2917 cm-1 relacionado ao C-H da celulose, hemicelulose e lignina, em 1740 cm-1

    relacionado ao C=O da hemicelulose e lignina, em 1640 cm-1 relacionado OH da

    gua, em 1429 cm-1 relacionado CH2 alifticos da celulose, em 1374 e 1323 cm-1

    relacionado C-H e C-OH da glicose que est presente na celulose e hemicelulose, em

    1059 cm-1 relacionado aos modos de e da cadeia de celulose e hemicelulose

    como C-O, C-C, COH e CCH e em 898 cm-1 referente s ligaes -glicosdicas entre C1-O-

    C4 da celulose e hemicelulose,98,99 Fig. 23.

  • Resultados e Discusso

    46

    4000 3000 2000 1000

    Abso

    rbn

    cia

    (u.a

    .)

    Numero de onda (cm-1)

    PP

    a)

    3900 3600 3300 3000 2700

    PP/PPAM/FC

    PP/PPAM

    Abso

    rb

    ncia

    (u

    .a.)

    Numero de onda (cm-1)

    PP/FC

    b)

    2000 1750 1500 1250 1000 750

    PP/PPAM/FC

    PP/PPAM

    Absorb

    ncia

    (u.a

    .)

    Numero de onda (cm-1)

    PP/FC

    c)

    FC

    Figura 23. Espectro de FTIR-ATR: a) PP, b) e c) PP/PPAM, PP/FC e PP/PPAM/FC.

    O formato alargado da banda de C=O comum para todas as amostras

    degradadas indicando a formao de diferentes grupos, como cidos carboxlicos

    (1725-1715 cm-1), steres e/ou aldedos (17451730 cm-1) e g-lactonas (1800-1765

    cm-1). O estiramento da ligao C=O ocorre como uma banda inten