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Universidade Federal do Rio de Janeiro
Escola Politcnica & Escola de Qumica
Programa de Engenharia Ambiental
Gustavo Carvalhaes Xavier Martins Pontual Machado
TRATAMENTO DE EFLUENTE DE SERVIO DE SADE POR PROCESSOS
OXIDATIVOS AVANADOS
Rio de Janeiro
2014
ii
UFRJ
Gustavo Carvalhaes Xavier Martins Pontual Machado
TRATAMENTO DE EFLUENTE DE SERVIO DE SADE POR PROCESSOS OXIDATIVOS
AVANADOS
Dissertao de Mestrado apresentada
ao Programa de Engenharia
Ambiental, Escola Politcnica &
Escola de Qumica, da Universidade
Federal do Rio de Janeiro, como parte
dos requisitos necessrios obteno
do ttulo de Mestre em Engenharia
Ambiental.
Orientador: Prof. D.Sc. Ldia Yokoyama
Rio de Janeiro
2014
iii
CATALOGAO NA FONTE
Machado, Gustavo Carvalhaes Xavier Martins Pontual.
Tratamento de efluente de servio de sade por
processos oxidativos avanados / Gustavo Carvalhaes
Xavier Martins Pontual Machado. 2014.
122 f. : il. Color.
Dissertao (mestrado) Universidade Federal do Rio de
Janeiro, Escola Politcnica e Escola de Qumica, Programa
de Engenharia Ambiental, Rio de Janeiro, 2014.
Orientadora: Ldia Yokoyama
1. Processos Oxidativos Avanados. 2. Reagente de
Fenton. 3. Efluente de Servio de Sade. I. Yokoyama, Ldia.
II. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Escola
Politcnica e Escola de Qumica. III. Tratamento de efluente
de servio de sade por processos oxidativos avanados.
iv
v
Seja a mudana que deseja ver no mundo.
Mahatma Gandhi
vi
DEDICATRIA
minha me Beatriz, que sempre apoiou todas as minhas escolhas, meu pai
Maurcio, meus avs Nilza e Luiz Jader, meu tio Jader, tia Clia e Deth, por sempre me
incentivarem a prosseguir. Dedico a vocs a conquista de mais esse sonho .
A Ldia Yokoyama por acreditar e apoiar minhas escolhas, a Layla Freire por me
apoiar em cada passo dessa trajetria e ao Tatsuo Shubo, por sempre confiar no meu
potencial e assim me possibilitar alar vos maiores.
vii
AGRADECIMENTOS
minha orientadora, professora Ldia Yokoyama, pelo estmulo, fora, abertura, exemplo de
ser, entusiasmo, entrega, liberdade e disponibilidade em todos os momentos.
Ao corpo docente da UFRJ, pelo compartilhamento de conhecimento, com carinho especial
a Magali Cammarota, que sempre esteve presente, desde a graduao at este momento,
com uma assertividade amorosa e um entusiasmo pelo que faz, que me motivam a dar o meu
melhor.
Ao Laboratrio de Diagnstico, Ensino e Pesquisa (LADEP) da ENSP/FIOCRUZ e a Dayse
Figueira por acreditar no projeto e apoiar o estudo desde o incio de sua concepo.
Aos companheiros de estudo do PEA, em especial a Viviane Jensen, grande companheira
para todas as horas e atividades, que me acompanhou em cada momento, cada passo, cada
risada, cada celebrao, cada questionamento, fossem eles pessoais ou profissionais.
Aos amigos do Labtare, em especial Layla Freire, por todo apoio e pacincia em cada
momento, Leandro Matosinhos e Mariana Lemos, pelas risadas e momentos descontrados
que fizeram dos momentos mais estressantes uma constante alegria, a rica Barbosa, pela
disponibilidade e pelo auxlio e ao Andr Rodrigues por animar o dia com seu humor peculiar.
A Caroline Borges e Pedro Campos, com seu apoio na reta final, que me deram exatamente
a fora necessria para finalizar a dissertao e materializar esse estudo.
Aos profissionais do Departamento de Meio Ambiente/DIRAC da FIOCRUZ, que estiveram
ao meu lado, no crescimento contnuo e na troca de aprendizados, especialmente a equipe
de coleta de resduos qumicos, Tatsuo Shubo, Flvia Guimares e Renata Costa.
Aos meus amigos e familiares, os quais acreditam no meu potencial e me do fora quando
mais preciso.
Aos que me incentivaram e me acompanharam no desenvolvimento deste trabalho em fins
de semana, horas vagas e me deram foras para prosseguir nos momentos de dificuldade:
Adriana Mangabeira, Anne Mello, Ana Salac, Felipe Magalhes e Felippe Mousovich.
Deus, a Dimenso da Conscincia Crstica e sincronicidade da vida, por todos os
desafios e aprendizados fornecidos, os quais possibilitaram meu crescimento pessoal e
profissional.
viii
RESUMO
MACHADO, Gustavo Carvalhaes Xavier Martins Pontual. Tratamento de efluente de servio de sade por processos oxidativos avanados. Rio de Janeiro, 2013. Dissertao (Mestrado) Programa de Engenharia Ambiental, Escola Politcnica e Escola de Qumica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2013.
Entre os geradores de resduos qumicos esto as universidades e as instituies de pesquisa. Juntas geram cerca de 1% dos resduos perigosos no mundo. Dentre as unidades de pesquisa abordadas, muitas atuam na rea de sade. Para que estes resduos qumicos sejam tratados como efluente necessria a adequao s legislaes ambientais de disposio final de resduos de Servio de Sade e lanamento de efluentes. O objetivo geral deste estudo apresentar uma proposta de destinao final de efluente de laboratrio de assistncia sade, atravs de processos oxidativos avanados (POA). Utilizou-se para este estudo, efluente de equipamento de anlise, Labmax 240 Premium, o qual realiza testes bioqumicos e imunoqumicos de sangue e soro humano, oriundo do Laboratrio de Diagnstico, Ensino e Pesquisa, do Centro de Sade Escola Germano Sinval Faria, da Escola Nacional de Sade Pblica, da Fundao Oswaldo Cruz. Para tratamento deste efluente foram comparadas as seguintes alternativas de POA: perxido de hidrognio (H2O2), fotlise (UV), H2O2/UV, reagente de Fenton, foto-Fenton. Dentre todos os POA estudados, o reagente de Fenton apresentou os melhores resultados para tratamento deste efluente: concentrao molar de oxidante 3:1 (H2O2:DQO) com adio nica; razo mssica de catalisador 5:1 (H2O2:Fe
2+) e faixa de pH 2,0. Estas condies propiciaram eficincias de remoo de DQO de 73,4 %, de DBO de 46 %, de turbidez de 90,1 %, consumo total do oxidante (H2O2) e gerao de 2.126 mg/L de lodo. Tomando como referncia essas condies, o efluente final se adqua a legislao ambiental (CONAMA 430/11), por apresentar concentrao final de DBO de 100 mg/L. Atravs de anlise econmica verificou-se que a utilizao do reagente de Fenton tem custo de R$ 0,79 centavos para cada litro de efluente. A alterao da rota de tratamento de incinerao para reagente de Fenton propicia uma economia de 71,8% no custo total, o que viabiliza economicamente essa substituio de rotas. importante que o tratamento de efluentes de servio de sade seja difundido nos diversos geradores, de pequeno a grande porte, para que a partir de avaliao econmica e ambiental, seja possvel uma otimizao desses processos, obtendo-se menores impactos ambientais globais.
Palavras Chave: Processos Oxidativos Avanados, Reagente de Fenton, Efluente de Servio
de Sade.
ix
ABSTRACT
Among Chemical waste generators are universities and research institutions, with 1 % of the hazardous waste in the world. Many of the research units work in health area. The chemical waste generated in these units must attend environmental laws adequacy of waste disposal Health Service and effluent release. The aim of this study is to present a proposal to improve the disposal of effluent laboratory health care through advanced oxidation processes (AOP). It was used effluent analysis equipment , Labmax 240 Premium , which performs biochemical and immunochemical tests of blood and human serum, derived from the Laboratory Diagnosis , Education and Research , from the Center for Health Germano Sinval Faria , from the National School of Health public , from Oswaldo Cruz Foundation for this study . For treatment of this effluent were compared the following alternatives POA: hydrogen peroxide (H2O2), photolysis (UV), H2O2/UV, Fenton's reagent, photo - Fenton. Among all the studied AOP, Fenton's reagent showed the optimal conditions for this effluent : molar concentration of oxidant 3:1 (H2O2:COD) with unique addition; catalyst weight ratio of 5:1 (H2O2:Fe
2+) and pH range 2,0. These conditions propitiated removal efficiency of 73.4% COD, BOD of 46%, 90.1% turbidity, total consumption of the oxidant (H2O2) and generated 2.126 mg/L sludge. Referring these conditions, the wastewater fits environmental legislation (CONAMA 430/11), by presenting a final concentration of BOD of 100 mg/L. Economic analysis showed that the use of the Fenton's reagent cost is R$ 0.79 cents for every liter of effluent. Changing the route of treatment from incineration to Fenton reagent provides a savings of 71.8% in the total cost, which enables beyond the economic route. It is important that the wastewater treatment service health is widespread in many generators, from small to large, so that from an economic and environmental view, it is possible to optimize these processes, resulting in minor impacts environmental globally.
Keywords: Advanced Oxidation Processes, Fenton reagent, Effluent Health Service
x
LISTA DE FIGURAS
Figura 01 Classificao dos processos de oxidao ativada em funo das faixas de
comprimento de onda..............................................................................................................14
Figura 02 Reatores mais utilizados em POA.......................................................................18
Figura 03 Foto-reatores sem contato...................................................................................18
Figura 04 Esquema do reator para degradao fotoqumica..............................................31
Figura 05 Esquema da unidade de estao de tratamento por POA empregando reagente
de Fenton................................................................................................................................32
Figura 06 Esquema do reator fotocataltico utilizando irradiao artificial..........................34
Figura 07 Equipamento Labmax 240 Premium viso externa.........................................39
Figura 08 Equipamento Labmax 240 Premium viso interna..........................................40
Figura 09 Foto-reator utilizado experimentalmente.............................................................43
Figura 10 Jar-Test utilizado experimentalmente.................................................................49
Figura 11 Amostra de Efluente antes do tratamento...........................................................55
Figura 12 Experimento de Oxidao em Jar Test utilizando H2O2. Foram realizados
experimentos nas seguintes faixas de pH: 2, 4, 6, 8, 10, 12...................................................56
Figura 13 Oxidao em funo do pH na molaridade 1:1 (H2O2:DQO). Foram realizados
experimentos nas seguintes faixas de pH: 2, 4, 6, 8, 10, 12...................................................57
Figura 14 Oxidao de H2O2, na concentrao 3:1(H2O2:DQO). Foi realizado experimento
com controle dos parmetros em 60 e 120 minutos................................................................58
Figura 15 Oxidao H2O2/UV na concentrao 1:1(H2O2:DQO) e faixas de pH: 3,0 e 4,0,
com controle dos parmetros em 60 e 120 minutos................................................................60
Figura 16 Oxidao H2O2/UV na concentrao 1:1(H2O2:DQO) e pH 4,0. Comparao
efluente real (esquerda), efluente tratado (direita)...................................................................61
Figura 17 Oxidao H2O2/UV na concentrao 1:1(H2O2:DQO) e faixas de pH: 6,0 e 7,0,
com controle dos parmetros em 60 e 120 minutos................................................................61
xi
Figura 18 Oxidao H2O2/UV na concentrao 1:1(H2O2:DQO) e pH 7,0. Comparao
efluente real (esquerda), efluente tratado (direita)...................................................................62
Figura 19 Oxidao H2O2/UV na concentrao 1:1(H2O2:DQO) e faixas de pH: 8,0 10,0 e
12,0, com controle dos parmetros em 60 e 120 minutos.......................................................62
Figura 20 Oxidao H2O2/UV na concentrao 1:1(H2O2:DQO) e pH 8,0. Comparao
efluente real (esquerda), efluente tratado (direita)...................................................................63
Figura 21 Oxidao H2O2/UV na concentrao 1:1(H2O2:DQO) e pH 10,0. Comparao
efluente real (esquerda), efluente tratado (direita)...................................................................64
Figura 22 Oxidao H2O2/UV na concentrao 1:1(H2O2:DQO) e pH 10,0. Comparao
efluente real (esquerda), efluente tratado (direita)...................................................................64
Figura 23 Oxidao H2O2/UV na concentrao 1:1(H2O2:DQO) e faixas de pH: 4, 6, 7, 8,
10, 12.......................................................................................................................................65
Figura 24 Fotlise UV em funo da remoo de DQO e turbidez.....................................66
Figura 25 Fotlise UV. Comparao efluente (esquerda), tratado ( direita)....................... 66
Figura 26 Fenton em funo do pH, na molaridade 3:1 (H2O2:DQO) e catalisador na
molaridade 5:1 (H2O2:Fe2+). Foram realizados experimentos nas seguintes faixas de pH: 2, 3,
4.X............................................................................................................................................67
Figura 27 Reagente de Fenton pH 3,0. Etapa de oxidao.................................................69
Figura 28 Reagente de Fenton pH 3,0. Etapa de coagulao (pH 8,0)...............................69
Figura 29 Reagente de Fenton pH 3,0. Etapa Final efluente clarificado..........................70
Figura 30 Reagente de Fenton. Etapa de oxidao. Comparao efluente real (esquerda),
efluente na etapa de oxidao - pH 2,0 (meio), efluente na etapa de oxidao - pH 4,0
(direita).....................................................................................................................................71
Figura 31 Fenton em funo do Fe2+, nas concentraes de 1:3, 1:5, 1:10. Foram
realizados experimentos nas seguintes faixas: 60 e 120 minutos...........................................72
Figura 32 Variao de Lodo Lquido em funo do Fe2+, nas concentraes 1:3, 1:5,
1:10..........................................................................................................................................73
Figura 33 Reagente de Fenton em funo do Fe2+, nas concentraes de 1:3 (a), 1:10 (b),
1:5 (c) ......................................................................................................................................74
xii
Figura 34 Variao de molaridade em funo do H2O2, na concentrao 1:1, 1:2, 1:3, 1:4.
Foram realizados experimentos nas seguintes faixas: 60 e 120
minutos.....................................................................................................................................75
Figura 35 Variao de Lodo Lquido em funo do H2O2, nas concentraes 1:1, 2:1, 3:1,
4:1 (H2O2:DQO)......................................................................................................................76
Figura 36 Variao de Lodo Slido em funo do H2O2, nas concentraes 1:1, 2:1, 3:1,
4:1 (H2O2:DQO).......................................................................................................................77
Figura 37 Reagente de Fenton com adio fracionada do H2O2 em 3 etapas: 1,5:1
(H2O2:DQO) no incio, 0,75:1 (H2O2:DQO) em 30 minutos e 0,75:1 (H2O2:DQO) em 60
minutos.....................................................................................................................................78
Figura 38 Reagente de Fenton Variao de Lodo lquido em funo da adio fracionada
e da adio direta de H2O2.....................................................................................................79
Figura 39 Reagente de Fenton Variao de Lodo slido em funo da adio fracionada
e da adio direta de H2O2.....................................................................................................79
Figura 40 Reagente de Fenton Condio tima Determinao da Eficincia de
Remoo de DBO....................................................................................................................81
Figura 41 Foto-Fenton condies timas do reagente de Fenton. Foram realizados
experimentos nas seguintes faixas: 60 e 120 minutos............................................................82
Figura 42 Foto-Fenton Variao de Lodo (lquido e slido)..............................................83
xiii
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Tabela da DZ-215.R-4 a qual dispes sobre a eficincia de remoo para
dimensionamento da unidade de tratamento........................................................08
Tabela 2 Potencial de oxidao das substncias moleculares mais comuns e das espcies
radical....................................................................................................................10
Tabela 3 Classificao usual dos processos oxidativos avanados.....................................11
Tabela 4 Resultados dos estudos preliminares de tratamento para o processo UV/H2O2 e
sistema de adio contnua..................................................................................36
Tabela 5 Comparao dos processos oxidativos avanados no tratamento de chorume pr-
tratado...................................................................................................................37
Tabela 6 Reagentes utilizados no trabalho experimental.....................................................41
Tabela 7 Equipamentos utilizados no trabalho experimental................................................42
Tabela 8 Equipamentos utilizados em reator batelada de radiao UV ..............................43
Tabela 9 Tabela descritiva dos experimentos realizados neste trabalho.............................48
Tabela 10 Dados obtidos na caracterizao do efluente......................................................54
Tabela 11 Dados para classificao da biodegradabilidade do efluente..............................55
Tabela 12 Custo para tratamento em empresas licenciadas ambientalmente ....................84
Tabela 13 Custo dos reagentes atravs de consulta............................................................85
Tabela 14 Clculo do custo para tratamento de um litro de efluente....................................85
xiv
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
- Comprimento de onda da Radiao
E - Energia absorvida ou emitida
DQO - Demanda Qumica de Oxignio
DBO - Demanda Bioqumica de Oxignio
COT - Carbono Orgnico Total
OH - Radicais Hidroxila
H2O2 - Perxido de Hidrognio
ANVISA - Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria
CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente
DZ - Diretriz
FEEMA - Fundao Estadual de Engenharia do Meio Ambiente
FIOCRUZ - Fundao Oswaldo Cruz
ENSP - Escola Nacional de Sade Pblica
CSEGSF - Centro de Sade Escola Germano Sinval Faria
LADEP - Laboratrio de Diagnstico, Ensino e Pesquisa
Grupo B - Resduos qumicos
INEA - Instituto Estadual do Ambiente
NBR - Norma Brasileira Regulamentadora
NT - Norma Tcnica
POA - Processo de Oxidao Avanada
RDC - Resoluo da Diretoria Colegiada
UV - Ultravioleta
xv
SUMRIO
1 INTRODUO.............................................................................................. 01
2 OBJETIVO.................................................................................................... 04
3 REVISO BIBLIOGRFICA......................................................................... 05
3.1 Legislao Ambiental aplicada a resduos de servio de sade
(RSS).............................................................................................................
05
3.2 Processo de oxidao avanada POA................................................... 09
3.3 Perxido de hidrognio propriedades e uso como
oxidante........................................................................................................
11
3.4 Fotlise (UV)................................................................................................ 13
3.5 Fotlise de Perxido de hidrognio.......................................................... 15
3.6 Foto-reatores............................................................................................... 17
3.7 Reagente de Fenton.................................................................................... 19
3.8 Reaes envolvidas no processo Fenton................................................ 21
3.9 Influncia da Estequiometria e da Concentrao do Poluente.............. 22
3.10 Influncia da Concentrao de Perxido de Hidrognio......................... 23
3.11 Influncia da Concentrao de Ferro e Coagulao no Processo
Fenton..........................................................................................................
24
3.12 Influncia do pH.......................................................................................... 25
3.13 Foto-Fenton................................................................................................. 26
3.14 Parmetros que influenciam no processo foto-Fenton........................... 27
3.15 Estudos Comparativos (Fenton e foto-Fenton)........................................ 29
4 METODOLOGIA........................................................................................... 38
4.1 Efluente de estudo...................................................................................... 38
4.2 Caracterizao do efluente de estudo...................................................... 40
xvi
4.3 Reagentes e equipamentos....................................................................... 41
4.4 Equipamento de radiao UV.................................................................... 42
4.5 Metodologias Analticas............................................................................. 44
4.6 Procedimentos Experimentais.................................................................. 47
4.7 Oxidao com perxido de hidrognio (H2O2)........................................ 49
4.8 Oxidao com perxido de hidrognio + UV artificial............................ 50
4.9 Fotlise UV................................................................................................... 50
4.10 Reagente de Fenton.................................................................................... 50
4.11 Foto-Fenton................................................................................................. 51
4.12 Anlise Econmica..................................................................................... 52
5 RESULTADOS E DISCUSSO................................................................... 54
5.1
5.2
Caracterizao do efluente de estudo......................................................
Ensaios de oxidao usando Perxido de Hidrognio (H2O2)................
54
56
5.3 Ensaios de oxidao H2O2/UV.................................................................... 59
5.4 Ensaio de Fotlise (UV).............................................................................. 65
5.5 Ensaios com reagente de Fenton.............................................................. 67
5.6 Ensaio de oxidao foto-Fenton................................................................ 82
5.7 Anlise econmica...................................................................................... 84
6 CONCLUSO............................................................................................... 87
7 RECOMENDAES PARA FUTUROS TRABALHOS............................... 89
8 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS............................................................. 92
ANEXOS....................................................................................................... 97
ANEXO 1 - Dados coletados durante os experimentos (Tabela 11)....... 97
1
1. INTRODUO
As atividades realizadas pelo homem geram diferentes tipos de resduos, resultado do
consumo de matrias-primas e de insumos necessrios aos diversos processos produtivos. A
disposio desses resduos na natureza causa diversos impactos ao meio ambiente e,
consequentemente, ao homem. A capacidade de diluio dos ecossistemas naturais
limitada, e atingiu um patamar tal que a grande quantidade e complexidade dos resduos
gerados no pode mais ser assimilada integralmente pelo ambiente, resultando em impactos
significativos para a sade do homem (BAIRD, 2002). Atualmente, indispensvel a
implementao de sistemas de gesto dos resduos gerados nas diversas linhas de atuao
do homem visando mitigao desses impactos.
As universidades e instituies de pesquisa juntas geram cerca de 1% dos resduos
perigosos no mundo, o que pouco quando comparado com a gerao de outras unidades,
como indstrias. Por outro lado, o pequeno volume e a elevada diversidade dos resduos
gerados por instituies de ensino e pesquisa dificultam uma padronizao nas formas de
tratamento e disposio adequada. Alm disso, a cada nova pesquisa desenvolvida, novos
produtos so consumidos e, consequentemente, os mais diversos tipos de resduos so
produzidos (ALBERGUINI et al, 2005).
O gerenciamento de resduos pelas unidades de ensino e pesquisa assunto amplamente
discutido e muitas instituies j implantaram procedimentos para sua correta destinao.
No entanto, pela dificuldade na caracterizao de uma diversidade de resduos novos
gerados a cada pesquisa e pela falta de avaliao das especificidades de cada resduo,
muitas vezes a destinao final escolhida no a mais adequada, gerando um impacto
ambiental considerado aceitvel pela legislao, mas que deveria e poderia ser minimizado
(MACHADO, 2010).
Vrios mtodos convencionais de tratamento de efluentes utilizados nas indstrias e em
diversas atividades tm sido criticados por realizarem apenas separao de fases, causando
impacto ambiental secundrio (CAVALCANTE, 2005). Segundo Valle et al (2007), com base
nos estudos de outras instituies, como exemplo, a experincia no Laboratrio de Resduos
Qumicos de So Carlos (ALBERGUINI et al., 2005 ), uma Unidade de Tratamento de
Resduos Qumicos pode alcanar os nveis de reduo apresentados a seguir : (i) 40%
2
atravs da reciclagem, de forma que esta quantidade possa retornar aos laboratrios como
reagentes; (ii) 40% que podem ser tratados de maneira adequada, podendo ser descartados
sem oferecer maiores riscos sade ambiental e humana; (iii) os 20% restantes seriam
compostos por materiais que no oferecem condies de tratamento imediato e, portanto,
seriam destinados em aterros especficos ou seriam incinerados por empresas qualificadas,
possuidoras dos licenciamentos ambientais e autorizaes especficas.
Dentre as unidades de pesquisa abordadas, muitas atuam na rea de sade. Os resduos
qumicos so classificados como GRUPO B, segundo as regulamentaes nacionais para
Resduos de Servios de Sade (RSS), preconizadas pela Resoluo do Conselho Nacional do
Meio ambiente (CONAMA) 358/2005 e 430/2011 e a Resoluo de Diretoria Colegiada da
Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria (RDC ANVISA) 306/2004.
Este grupo de resduos pode ser destinado para incinerao quando lquido ou aterro
industrial quando slido, devido ao pequeno volume de gerao e grande diversidade. A
incinerao uma destinao adequada legislao ambiental vigente, porm, muito
onerosa, tambm podendo gerar impactos ao meio ambiente. De acordo com estudo
elaborado por Machado (2010), concluiu-se que possvel minimizar custos econmicos e
ambientais atravs do tratamento de parte dos resduos qumicos gerados como efluente
nesse tipo de instituio.
Para nortear este estudo foi utilizado o trabalho Gesto de resduos perigosos na FIOCRUZ:
diagnstico e aperfeioamento (MACHADO, 2010). O mesmo define metodologia de
classificao dos resduos qumicos gerados nas atividades finalsticas da Fundao
Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) e prope rotas alternativas de tratamento.
Tendo em vista a abrangncia do tema, o presente estudo adotou uma das classes de
resduos qumicos abordada no trabalho referenciado para aprofundamento prtico atravs
da aplicao de processos oxidativos avanados (POA) para tratamento como efluente. Para
que seja realizada a alterao de rota e estes resduos possam ser tratados como efluente
importante ressaltar a necessidade de adequao legislao CONAMA 430/2011, que
dispe sobre as condies e padres de lanamento de efluentes, as regulamentaes
nacionais e locais pertinentes a resduos de servio de sade (RSS).
3
O efluente oriundo de equipamento automtico de anlise bioqumica de soro e sangue
humano foi escolhido como o resduo qumico para comparao de diferentes tecnologias de
POA. Esse tipo de equipamento comumente utilizado em laboratrios de anlise
bioqumica para a realizao de testes com diversos reagentes qumicos em amostras
biolgicas e gerando um complexo efluente, composto por componentes qumicos
recalcitrantes e agentes biolgicos patognicos.
Foi utilizado resduo qumico/efluente oriundo do Laboratrio de Diagnstico, Ensino e
Pesquisa (LADEP), do Centro de Sade Escola Germano Sinval Faria, da Escola Nacional de
Sade Pblica Sergio Arouca (ENSP/FIOCRUZ). Este laboratrio utiliza o equipamento de
anlise Labmax 240 Premium o qual realiza testes bioqumicos e imunoqumicos de sangue
e soro humano.
O intuito deste trabalho realizar experimentos prticos e propor uma alternativa para
aperfeioar a rota de destinao final para esta tipologia de resduo, estabelecendo uma
correlao de parmetros de escala. Dessa forma, os resultados encontrados para
tratamento desta corrente podem ser utilizados em diversas realidades, de acordo com a
comparao da concentrao de contaminantes contida em cada efluente.
Diante do exposto, o presente trabalho se justifica pelo seu potencial em avaliar e comparar
diferentes tecnologias de POA para utilizao no prprio local de gerao do resduo em
substituio a incinerao, rota utilizada na instituio estudada, a qual apresenta um
custo elevado. Pretende-se, com os resultados obtidos, possibilitar a otimizao e
aperfeioamento dos processos de destinao final dos resduos qumicos gerados na
instituio estudada e contribuir com um modelo de tratamento que possa ser utilizado por
outros geradores de RSS.
Isso poder trazer benefcios de natureza econmico-financeira e de eficincia de
tratamento, contribuindo de forma eficaz para a criao de opes para o setor de pesquisa
e assistncia sade humana, para a reduo dos custos e a competitividade do setor.
4
2. OBJETIVOS
O objetivo geral deste estudo apresentar uma proposta de aperfeioamento do sistema de
tratamento e destinao final de efluente de laboratrio de assistncia sade atravs de
POA com o intuito de minimizar custos e impactos ambientais como alternativa ao processo
convencional de incinerao. Os objetivos especficos so:
Comparar, em escala de laboratrio, as seguintes alternativas de processos oxidativos
avanados, visando tratamento de efluente de servio de sade: perxido de
hidrognio, fotlise (UV), perxido de hidrognio/UV, Reagente de Fenton, foto-
Fenton;
Analisar economicamente a rota de tratamento eficaz para este tipo de efluente e
comparar com o processo convencional utilizado atualmente (incinerao);
Apresentar modelo de tratamento simplificado, eficiente e aplicvel a outros geradores
de RSS, oferecendo otimizao dos processos de tratamento desta tipologia de resduo
qumico.
5
3. REVISO BIBLIOGRFICA
3.1 Legislao Ambiental aplicada a resduos de servio de sade (RSS)
O gerenciamento de resduos em Instituies de Servio de Sade regulado pelas
Resolues: RDC ANVISA 306/2004 e a CONAMA 358/2005 e 430/2011, sendo os resduos
qumicos classificados como GRUPO B. Segundo a RDC ANVISA 306/2004, o GRUPO B
classificado como resduos contendo substncias qumicas que podem apresentar risco
sade pblica ou ao meio ambiente, dependendo de suas caractersticas de inflamabilidade,
corrosividade, reatividade e toxicidade. Dentre estes esto includos:
Produtos hormonais e produtos antimicrobianos; citostticos; antineoplsicos;
imunossupressores; digitlicos; imunomoduladores; anti-retrovirais, quando
descartados por servios de sade, farmcias, drogarias e distribuidores de
medicamentos ou apreendidos e os resduos e insumos farmacuticos dos
Medicamentos controlados pela Portaria MS 344/98 e suas atualizaes;
Resduos de saneantes, desinfetantes, desinfestantes; resduos contendo metais
pesados; reagentes para laboratrio, inclusive os recipientes contaminados por estes;
Efluentes de processadores de imagem (reveladores e fixadores);
Efluentes dos equipamentos automatizados utilizados em anlises clnicas;
Demais produtos considerados perigosos, conforme classificao da NBR 10.004 da
ABNT (txicos, corrosivos, inflamveis e reativos) (ANVISA, 2004).
No caso especfico dos resduos classe B h uma contradio pois os mesmos podem ser
tratados como resduos se adequando as resolues supracitadas ou como efluentes,
necessitando se adequar a outras legislaes federais e estaduais. Como o resduo/efluente
estudado proveniente do Estado do Rio de Janeiro, foram pesquisadas as legislaes
federais e estaduais pertinentes ao mesmo, como disposto a seguir:
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Resoluo RDC no 306/2004 Dispe sobre o Regulamento Tcnico para o
gerenciamento de resduos de servios de sade.
Resoluo CONAMA no 358/2005 Dispe sobre o tratamento e a disposio final dos
resduos dos servios de sade e d outras providncias.
Resoluo CONAMA no 430 Dispe sobre as condies e padres de lanamento
de efluentes, complementa e altera a Resoluo no 357.
NT-202.R-10 Critrios e padres para lanamento de efluentes lquidos;
DZ-205.R-6 - diretriz de controle de carga orgnica em efluentes lquidos de origem
industrial
DZ-209.R-2 diretriz de controle de efluentes lquidos industriais;
DZ-215.R-4 diretriz de controle de carga orgnica biodegradvel em efluentes
lquidos de origem sanitria
De acordo com o artigo 11.2 da RDC 306/2004, os resduos qumicos que apresentam risco
sade ou ao meio ambiente, quando no forem submetidos a processo de reutilizao,
recuperao ou reciclagem, devem ser encaminhados ao tratamento ou disposio final
especficos. Ainda, de acordo com o tpico 11.2.2, os resduos qumicos lquidos devem ser
tratados especificamente, sendo vedada sua disposio final em aterros.
A partir da Resoluo CONAMA No. 430/2011 so dispostas as condies e padres de
lanamento federais para efluentes de servio de sade. No artigo 16, inciso 3, aponta-se
que esse tipo de efluente est sujeito s exigncias estabelecidas na Seo III da Resoluo,
podendo: ser lanados em rede coletora de esgotos sanitrios ligadas a estao de
tratamento, atendendo s normas e diretrizes da operadora do sistema de coleta e
tratamento de esgoto sanitrios; ou ser lanados diretamente aps tratamento especial. O
tratamento especial no definido.
De acordo com a seo III, os seguintes parmetros devem ser atendidos para descarte de
efluentes de servio de sade:
a) pH entre 5 e 9;
b) temperatura: inferior a 40C, sendo que a variao de temperatura do corpo receptor
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no dever ultrapassar 3C no limite da zona de mistura;
c) materiais sedimentveis: Para o lanamento em lagos e lagoas, cuja velocidade de
circulao seja praticamente nula, os materiais sedimentveis devero estar virtualmente
ausentes; at 1 mL/L em teste de 1 hora em cone Inmhoff.
d) Demanda Bioqumica de Oxignio-DBO 5 dias, 20C: mximo de 120 mg/L, sendo
que este limite somente poder ser excedido no caso de efluente de sistema de tratamento
com eficincia de remoo mnima de 60% de DBO, ou mediante estudo de autodepurao
do corpo hdrico que comprove atendimento s metas do enquadramento do corpo receptor.
e) substncias solveis em hexano (leos e graxas) at 100 mg/L; e
f) ausncia de materiais flutuantes.
De acordo com as condies apontadas acima, o efluente de servio de sade deve
apresentar DBO mxima de 120 mg/L ou remoo mnima de 60%, aps tratamento
especial.
Como apontado na Resoluo CONAMA No. 430/2011 e no tpico 3.3 da NT-202.R-10, no
permitida diluio de efluentes industriais para atendimento aos padres constantes. Ainda,
na hiptese de fonte de poluio geradora de diferentes despejos ou lanamentos
individualizados, as concentraes mximas vigentes sero aplicadas a cada um deles ou ao
conjunto, aps a mistura, a critrio do rgo ambiental. Dessa forma, o efluente tratado
deve atender aos padres federais e estaduais para lanamento.
Efluentes de servio de sade so abrangidos como de ordem sanitria na legislao
estadual assim como na federal. Na DZ-215.R-4, estabelecimentos de servios de sade so
caracterizados como atividades no industriais. Na tabela 4 da referida Diretriz so
apresentados os nveis de remoo de acordo com a carga orgnica bruta.
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Tabela 1: Tabela da DZ-215.R-4 que dispes sobre a eficincia de remoo para
dimensionamento da unidade de tratamento
CARGA ORGNICA BRUTA (C)
(kg DBO/dia) (1)
EFICINCIA MNIMA DE
REMOO de DBO (%) (2)
C 5 30 (3)
5 < C 25 65
25 < C 80 80
C > 80 85
Notas:
1 - Carga orgnica produzida por dia.
2 - Eficincias mnimas do sistema projetado, em termos de remoo de DBO e RNFT (ou
SST).
3 - Condio vlida supondo a possibilidade de infiltrao adequada do efluente da fossa
sptica no solo ou a existncia de rede coletora; caso contrrio, dever ser implantado
tratamento complementar atravs de filtro anaerbio, ou similar de eficincia equivalente.
No levantamento das legislaes para tratamento e disposio final de efluentes de servio
de sade, verifica-se ainda ausncia no estabelecimento de limites claros para os poluentes
envolvidos especificamente. Como verificado, os efluentes oriundos de estabelecimentos de
servio de sade so agrupados em efluentes sanitrios, trazendo apenas algumas
especificidades. Fica claro a importncia de uma maior regulamentao desta tipologia de
efluente, inclusive tomando como referncia os patognicos envolvidos, j que atualmente o
maior padro utilizado como parmetro a Demanda Bioqumica de Oxignio (DBO).
Levando em considerao a legislao vigente, como o propsito do presente estudo propor
um processo de tratamento do efluente gerado em pequenos laboratrios, a carga orgnica
pode e deve ser considerada abaixo de 5 kg DBO/dia. De acordo com a legislao estadual
(DZ-215.R-4), a eficincia de remoo de DBO pode ser da ordem de 30%. Todavia a
legislao federal (CONAMA No. 430/2011) aponta limite mximo de DBO de 120 mg/L ou
tratamento com eficincia de remoo mnima de 60% de DBO.
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3.2 Processos de oxidao avanada POA
Existem muitos compostos em determinadas concentraes que so txicos ou que no so
biodegradveis, os quais so classificados como recalcitrantes. Os Processos Oxidativos
avanados (POA) se apresentam como alternativa para tratamento deste tipo de efluente. Os
POA tm objetivo de mineralizar ou diminuir a recalcitrncia dos compostos orgnicos mais
complexos, de modo a converte-los em substncias biodegradveis ou inertes, como dixido
de carbono, gua e compostos inorgnicos, diferentemente dos mtodos que envolvem
somente transferncia de fase (MARMITT et al., 2010).
Os POA so baseados na gerao do radical hidroxila (OH), altamente reativo devido ao seu
alto potencial de oxidao (2,8 V), o qual capaz de desencadear uma srie de reaes que
tm a capacidade de destruir completamente muitos poluentes orgnicos. Quando a
mineralizao dos compostos orgnicos no completa, o POA pode transformar compostos
altamente complexos em substncias que mais facilmente degradadas por processos
biolgicos (FREIRE, 2012).
Esta tecnologia tem sido amplamente estudada devido ao seu potencial como alternativa ou
complemento aos processos convencionais de tratamento. Sua utilizao abrange diversas
reas como a descolorao de corantes, a degradao de compostos orgnicos,
medicamentos e o tratamento de guas residurias (MARMITT et al., 2010).
Acredita-se que uma alternativa promissora para o tratamento de efluentes do setor de
sade inclua a utilizao dos POA (KIST et al., 2006). Dentre os efluentes e resduos
oriundos de servios de sade, cabe uma reflexo quanto aos pequenos geradores como
laboratrios e clnicas e o estudo de uma alternativa simples para estes geradores.
Podem ser utilizados como agentes oxidantes: oxignio, oznio, perxido de hidrognio
(H2O2), isoladamente ou combinados, em associao com catalisadores. Em todos os casos,
esses agentes oxidantes apresentam em comum a capacidade de gerar radicais hidroxila de
elevada reatividade que exibem, entretanto, uma baixa seletividade (MACHADO, 2010). Na
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Tabela 2 verifica-se que o radical hidroxila, quando comparado a outros oxidantes, possui
um potencial de oxidao bastante elevado, sendo inferior somente ao do flor.
Tabela 2: Potencial de oxidao das substncias moleculares mais comuns e das espcies
radicais, em estado padro. Fonte: Eckenfelder, 1992
SUBSTNCIAS/ ESPCIES POTENCIAL DE OXIDAO (V)
Flor (F2) 3,03
Radical Hidroxila (HO) 2,80
Oznio (O3) 2,07
Perxido de Hidrognio (H2O2) 1,77
Radical Superxido (HO2) 1,70
Permanganato de Potssio (KMnO4) 1,67
cido Hipocloroso (HClO) 1,49
Cloro (Cl2) 1,36
As recentes investigaes cientficas tm buscado o desenvolvimento de catalisadores que
apresentem alta atividade na oxidao de contaminantes e elevada seletividade na gerao
de dixido de carbono e gua como produtos finais, tornando o processo reacional limpo. As
mais importantes so relacionadas a baixas temperaturas e presses, sendo realizadas
prximo das condies ambientais normais (MACHADO, 2010).
Com relao utilizao de catalisadores, os POA podem ser agrupados em duas classes:
processos heterogneos (uso de catalisadores slidos) e processos homogneos, ambos
podendo utilizar radiao ultravioleta (UV) (HUANG et al., 1993). A Tabela 3 apresenta os
principais POA encontrados na literatura.
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Tabela 3: Classificao usual dos processos oxidativos avanados. Fonte: Huang et al. (1993)
PROCESSO
SEM IRRADIAO
COM IRRADIAO
HETEROGNEO
Eletro-Fenton
TiO2/O2/UV
TiO2/H2O2/UV
HOMOGNEO
H2O2/Fe2+ (Fenton)
O3/ H2O2
O3/ HO
H2O2/UV
Feixe de Eltrons
Ultra-Som (US)
H2O2/US
UV/US
O3/ UV
H2O2/Fe2+/ UV
A vantagem dessas tecnologias a possibilidade da ausncia de subprodutos, ou seja, por
se tratarem de processos destrutivos.
3.3 Perxido de hidrognio propriedades e uso como oxidante
A comercializao do perxido de hidrognio (H2O2) foi iniciada em 1800 e sua produo
mundial tem aumentado a cada ano, sendo atualmente utilizado, na forma isolada ou
combinada (principalmente) em diversas aplicaes. No entanto, a sua utilizao deve ser
conduzida com responsabilidade e segurana, para se evitar riscos de exploses e incndios.
O uso do perxido de hidrognio em tratamento de guas, esgotos, efluentes indstrias
uma prtica comum h pelo menos 20 anos em pases desenvolvidos (MATTOS et al, 2003).
O H2O2 um dos oxidantes mais versteis que existem. Alm disso, atravs de catlise pode
ser convertido em radicais hidroxila com poder oxidante inferior apenas ao flor. At ento,
considerado um oxidante limpo (no gera subprodutos txicos como o cloro), possui um
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custo baixo quando comparado ao oznio (no precisa ser produzido no local) e facilidade de
operao (MACHADO, 2010).
Como abordado por Mattos et al. (2003), alm de agente oxidante (H2O2 + 2H+ + 2e- 2H2O,
1,77 V), o perxido de hidrognio tambm pode ser utilizado como agente redutor (H2O2 +
2OH- O2 + H2O + 2e-, -0,15 V).
O conhecimento das propriedades do H2O2 de grande importncia para a manipulao
segura deste reagente. Este reagente transparente, possui aparncia da gua e tem odor
caracterstico, no sendo inflamvel, miscvel com gua em todas as propores e
usualmente vendido como soluo aquosa com concentraes entre 20 e 60% (m/v). Sob
temperatura ambiente, o perxido de hidrognio estvel, se devidamente armazenado e
no considerado um explosivo, contudo, apresenta caractersticas extremamente reativas
quando misturado com substncias orgnicas sob determinadas concentraes, resultando
em exploses ou incndios. Deste modo necessrio conhecer as propriedades da
concentrao de H2O2 a ser utilizada (MATTOS et al., 2003).
As solues com concentrao entre 27,5 e 52% (m/v) so consideradas de classe 2, isto ,
quando expostas por pequeno intervalo de tempo podem causar srios danos residuais ou
temporrios, causando queimaduras na pele e tecido se colocadas em contato direto. So
solues que podem causar ignio espontnea quando em contato com outros
combustveis, outrossim, podem causar moderado incremento na taxa de queima dos
combustveis. Solues com concentraes entre 35 e 52% (m/v) so normalmente estveis,
porm se tornam bastante instveis com o aumento da temperatura (MATTOS et al, 2003).
As principais vantagens no uso de perxido de hidrognio so:
- Disponibilidade comercial
- Estabilidade trmica
- Armazenagem local
- Solubilidade infinita em gua
- Gerao de 2 radicais hidroxila para cada molcula de H2O2
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- Procedimento simples de operao.
Entretanto, segundo Neyens e Bayens (2003), a oxidao utilizando apenas H2O2 no to
eficaz para altas concentraes de contaminantes refratrios devido s baixas taxas de
reao utilizando concentraes relativamente elevadas de H2O2. Para aumentar a eficincia
do processo so utilizados catalisadores para aumentar as taxas reacionais e formar
radicais hidroxila, como: metais de transio, oznio e luz ultravioleta (UV).
Segundo Shen & Wang (2002), os quais estudaram a degradao de corantes, a adio de
perxido de hidrognio utilizada isoladamente se mostrou muito lenta com dosagem entre
50 e 200 mg/L (proporo molar corante/H2O2 = 22-88). Nestas condies reacionais a
decomposio do corante foi inferior a 1%. Durante os experimentos comprovou-se que a
decomposio das molculas dos corantes foi efetiva atravs da adio da fotlise UV para
degradao do H2O2.
Ainda, como explanado por Gogate e Pandit (2004), at nas reaes de oxidao mais
simples necessria uma ativao como suporte ao H2O2, para que se alcance ndices de
converso satisfatrios, o que torna a sua utilizao isolada desaconselhvel.
3.4 Fotlise (UV)
O uso da radiao UV tem sido largamente estudado e empregado no tratamento de
resduos focado na desinfeco, e normalmente usado no tratamento de compostos
orgnicos volteis. A fotlise direta engloba a interao de luz com as molculas, tendo como
consequncia a sua dissociao em fragmentos (BRITTO & RANGEL, 2008).
Quando utilizada isoladamente decompe as molculas orgnicas pela clivagem das ligaes
e gerao de radicais, mas geralmente isto ocorre a uma taxa muito baixa. Foi verificado em
estudo que a deteriorao dos poluentes atravs da exposio de efluentes sintticos
radiao UV muito lenta (GOI & TRAPIDO, 2002).
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A radiao UV dividida em trs faixas de comprimento de onda: UV-A (315-400 nm), UV-B
(280-315 nm) e UV-C (100-280 nm). Dentre essas faixas, UV-A e UV-C so normalmente
utilizadas em aplicaes ambientais. A radiao UV-A tambm chamada de radiao de
ondas longas, tendo lmpadas com mxima de emisso entre 365 nm e 350 nm. A radiao
UV-C, chamada de radiao de ondas curtas, utilizada para desinfeco de gua e
efluentes. O espectro da radiao emitida por lmpadas de mercrio de baixa presso tem
mxima de emisso em torno de 254 nm, quando usadas para fins de desinfeco
(CAVALCANTE, 2005).
Podem ser utilizados diferentes comprimentos de onda dependendo das espcies envolvidas
no processo de oxidao. Como exemplo, o H2O2, por ser incolor, no absorve a luz visvel,
tendo pequena absoro de radiao UV em comprimento acima de 280 nm. Para sua
ativao somente pode ser utilizado comprimento de onda curta, da faixa UV-C. J os
processos Foto-fenton podem ser ativados por luz visvel, sendo tambm possvel a
utilizao de luz natural. A radiao UV-C concebida artificialmente por meio de lmpadas
de vapor de mercrio, sob a forma de radiadores de baixa ou mdia presso. Grande parte
das lmpadas utilizadas em tratamento de efluentes emite UV com 254 nm. A lmpada
preenchida com vapor de mercrio a diferentes presses e a excitao dos tomos de
mercrio causa a emisso da radiao UV (KAMMRADT, 2004). A Figura 1 apresenta uma
classificao dos POA que utilizam a fotlise com as faixas de comprimento de onda ativas.
Figura 1 - Classificao dos processos de oxidao ativada em funo das faixas de
comprimento de onda. FONTE: OPPENLNDER, 2003.
15
3.5 Fotlise de Perxido de hidrognio
O processo combinado do perxido de hidrognio com a radiao UV denominado de
fotlise de perxido de hidrognio. Sob irradiao de raios UV ocorre o rompimento da
molcula de H2O2, podendo gerar dois radicais hidroxila. A eficincia quntica para a
produo de radicais hidroxila pela fotlise do perxido de hidrognio est em torno de 98%
no comprimento de onda de 254 nm, segundo a reao 1 (JONES, 1999; LEITE 2003;
BOLTON et al., 1997, apud FREIRE, 2012).
H2O2 + hv 2HO (1)
No processo UV/H2O2, inicialmente, o efluente a ser tratado misturado com o oxidante
para, em seguida, ser submetido radiao UV em equipamento especfico. Normalmente
so utilizadas lmpadas de vapor de mercrio de mdia ou baixa presso, as quais emitem a
um comprimento de onda de 254 nm.
No entanto, o perxido de hidrognio tem uma absortividade baixa nesta regio do espectro
(254 = 18,6 L mol-1 cm-1), tornando necessria a adio de oxidante em altas concentraes
para atingir resultados satisfatrios. Outra alternativa seria o uso de lmpadas de mercrio
dopadas com xennio, as quais lanam radiao na faixa entre 210 e 240 nm, o que
aumenta os custos do processo (MELO et al., 2009).
O espectro de absoro do perxido de hidrognio no se estende alm de 300 nm, alm de
apresentar um baixo coeficiente de absoro molar para valores de comprimento de onda
abaixo de 250 nm (JONES, 1999; LEITE 2003; BOLTON et al., 1997, apud FREIRE, 2012).
O processo UV/H2O2 dependente do pH, e em meio alcalino a dissociao do H2O2
favorecida formando o on HO2-, que apresenta maior absortividade molar. Todavia, ocorre o
aumento excessivo do pH no processo, graas ao seqestro de radicais hidroxila por ons
carbonato e bicarbonato (reaes 2 e 3). A ao competitiva desses ons constitui a principal
interferncia nos processos oxidativos baseados na produo de radicais HO (MELO et al.,
2009).
16
OH + HCO3- H2O + CO3- (2)
OH + CO32- HO- + CO3- (3)
Em elevadas concentraes de perxido de hidrognio, podem ocorrer reaes que absorvem
radicais HO (reaes 4 e 6), afetando negativamente o processo de degradao (MELO et al.,
2009).
H2O2 + HO H2O + HO2
(4)
HO2 + HO H2O + O2 (5)
OH + OH H2O2 (6)
Vrios parmetros influenciam no processo UV/H2O2. Dessa forma, importante otimizar as
condies de operao do sistema UV/H2O2 envolvendo tais parmetros, listados a seguir: o
pH do meio, a intensidade da agitao para homogeneizao, a composio do efluente em
geral, a transparncia ptica do efluente, a turbidez do meio, as propriedades e
concentraes dos poluentes. Nesse sentido importante realizar estudos preliminares, em
escala de laboratrio, para determinar a faixa de concentrao tima de oxidante a ser
estudada, de acordo com cada efluente em questo. A literatura especializada apresenta
diversos resultados indicando concentraes que vo de 0,01 a 0,1 M em geral, como
apontado por Gogate e Pandit (2004).
Como apontado por Kammradt (2004), normalmente a ativao do oxidante por UV
favorecida em pH de 3 a 5. Alaton, Balcioglu e Bahnemann (2003) analisaram a influncia
do pH e das dosagens de oxidantes sobre diversos POA, concluindo que valores de pH
prximos de 3 podem favorecer a remoo de COT em processos UV/H2O2. Quando se trata
de remoo de cor, entretanto, seus experimentos demonstraram que valores de pH
prximos neutralidade seriam mais indicados.
Pode ser efetiva sem a necessidade de utilizao de altas concentraes do oxidante a
aplicao da fotlise de H2O2 para degradao de frmacos encontrados em guas e
efluentes de ETE. Os frmacos como carbamazepina, diclofenaco e paracetamol foram
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analisados, com concentraes entre 1,51 a 296 mg/L, atingindo total degradao e
remoo de carbono orgnico total (COT) da ordem de 40% entre 5 e 90 min (MELO et al.,
2009).
Na prtica, este processo simples em funo da infraestrutura de tratamento. Para
ativao e reao do oxidante apenas necessrio dosagem do H2O2, reator para ativao
atravs de raios UV e equipamento/unidade de ajuste de pH para aumentar a eficincia do
processo. As principais vantagens deste processo so a no gerao de lodos e reduo dos
maus odores.
Ainda, podem ser consideradas outras fontes de radiao UV, pois o custo desta tecnologia,
seja na implantao e na operao de uma planta, elevado. Este fato tem gerado o estudo
e uso de alternativas como a energia solar. Essa energia em um pas tropical como o Brasil,
vantajosa, por ser natural e abundante, aumentando a eficincia do processo e reduzindo
custos, de forma vantajosa para o meio ambiente.
3.6 Foto-reatores
Existem diversas tipologias de reatores para POA. Os sistemas de reatores mais utilizados
no tratamento de efluentes esto apresentados na Figura 2. Quando abordado o
tratamento de pequenos volumes de efluentes, geralmente so utilizados reatores em
batelada. No caso de efluentes com grande contaminao, utilizam-se reatores em batelada,
com recirculao para propiciar maior contato e degradao dos poluentes (OPPENLNDER,
2003).
18
Figura 2 Reatores mais utilizados em POA. Fonte: OPPENLNDER, 2003.
J em relao a reatores especficos para fotlise, quando a fonte de radiao UV artificial,
existem diversas configuraes. No entanto, existem dois arranjos de lmpadas possveis, os
quais levam a dois grupos de foto-reatores: cilndricos e sem contato. O primeiro grupo,
reatores cilndricos, normalmente utilizado para efluentes com grande volume de gerao,
podendo ser subdividido de acordo com caractersticas especficas. No tratamento de
efluentes com contato direto, as lmpadas so imersas diretamente no fluxo, gerando uma
interface na superfcie do bulbo de quartzo, na qual pode ocorrer gerao de filmes que
absorvem radiao direta, diminuindo o desempenho do tratamento.
Os reatores sem contato direto apresentados na Figura 3, que inclui o reator de filme
descendente vertical (Figura 3a) e o batelada (Figura. 3b). Nestes padres no h contato
lmpada/efluente, evitando problemas relacionados ao acmulo de filmes na interface.
Figura 3 Foto-reatores sem contato. Fonte: OPPENLNDER, 2003.
NOTA: L: lmpada; Q: bulbo de quartzo; R: refletor
19
difcil prever a eficincia de um processo sem testes experimentais com as caractersticas
de cada efluente e a diversidade de POA. Devido a este fato, faz-se necessrio desenvolver
testes em bancada e, posteriormente em escala piloto, para verificar a eficincia dos
processos. Ainda, em relao fotlise, devem ser realizados testes em escala piloto, pois o
dimensionamento de escala altera o contato de interface radiao/lquido, o que interfere
na absoro de radiao pelo efluente.
3.7 Reagente de Fenton
O reagente de Fenton uma combinao de perxido de hidrognio e sal de ferro. A
decomposio cataltica do perxido de hidrognio, em meio cido, pelo ferro constitui um
processo de grande potencialidade para tratamento de efluentes. O processo foi descoberto
por H.J.H. Fenton em 1894, no entanto, seu uso para oxidar matria orgnica recalcitrante
comeou apenas nos anos 60 (HUANG et al., 1993).
Estudos prvios mostram que efluentes farmacuticos e de cuidado pessoal no so
tratados adequadamente pelos processos de tratamento convencionais. J os POA degradam
eficientemente este tipo especfico de efluente. Dentre todos os POA, a oxidao por reao
de Fenton atrativa devido ao seu baixo custo, reagentes no txicos e tecnologia
relativamente simples (LI et al., 2012). No tratamento de efluentes de baixa
biodegradabilidade essa tecnologia oferece diversas vantagens apresentadas a seguir:
O processo aceito por sua alta eficincia no tratamento de grande variedade de
substncias (NEYENS e BAEYENS, 2003);
O ferro um metal abundante, de baixo custo e uma espcie de baixa toxicidade. A
decomposio cataltica, com uso de sulfato ferroso, apresenta uma soluo de baixo
custo, j que este resduo de indstria de produo de ao (MACHADO, 2010);
Em pequenas concentraes o H2O2 seguro para o meio ambiente, pois se decompe
espontaneamente em gua e oxignio;
20
A oxidao parcial gerando substncias secundrias pode aumentar a
biodegradabilidade dos contaminantes em soluo caso o processo no proporcionar
a oxidao total do poluente. (LIANG et al.; BURBANO et al., apud CAVALCANTE,
2005). No entanto, tambm podem ser gerados subprodutos txicos;
O reator a ser utilizado no pressurizado e a reao ocorre a temperaturas baixas,
prximas ambiente. Grande parte das aplicaes comerciais do reagente de Fenton
ocorre a temperaturas entre 20C 40C (MACHADO, 2010).
A simplicidade do aparato torna esta tecnologia possvel de ser transposta
diretamente da escala laboratorial para a industrial, pois no h necessidade de
dispositivos complexos para controle e otimizao do processo (KAVITHA e
PALANIVELU, 2004).
Por meio do processo Fenton, a formao de radicais hidroxila favorvel em meio cido.
Este pH tambm favorece a oxidao de ons ferrosos a ons frricos ocasionando pouca
precipitao de hidrxido frrico. Ao final da reao, necessrio aumentar o pH para a
faixa neutra para a precipitao do hidrxido frrico. Geralmente, o processo de oxidao
empregando o reagente de Fenton composto por quatro estgios (ARAUJO, 2008):
1- ajuste do pH entre 3 e 4.
2- reao de oxidao em um reator no pressurizado, sob agitao.
3- neutralizao e coagulao por meio do ajuste de pH na faixa de 6 a 9, para precipitar o
hidrxido de ferro.
4- precipitao e separao do lodo (precipitado/clarificado).
Dependendo da concentrao de ferro e do volume de efluente final, pode ser gerada uma
quantidade de lodo relativamente elevada, necessitando-se de uma etapa de separao de
slidos ao final do tratamento, uma das principais desvantagens deste processo
(CAVALCANTE, 2005). Normalmente, o lodo separado e enviado para leito de secagem ou
21
filtro prensa e o clarificado encaminhado para descarte, tratamento posterior ou reuso.
Esse processo tem sido usado para tratar efluentes lquidos recalcitrantes com o intuito de
reduzir a toxicidade do sistema.
3.8 Reaes envolvidas no processo Fenton
O mecanismo envolvido no processo Fenton consiste em um conjunto de reaes cclicas,
que empregam ons Fe2+ e Fe3+ como catalisadores da decomposio do H2O2, gerando
radicais hidroxila. Tais reaes (reaes de 7 a 14) so detalhadas a seguir, como proposto
por Neyens e Bayens (2003):
Fe2+ + H2O2 Fe3+ +HO + HO- k1 53-76 M-1s-1 (em meio cido) (7)
Fe2+ + HO Fe3+ + HO- k2 2,6-5,8 x 108 M-1s-1 (8)
Fe3+ + H2O2 Fe2+ + HO2+ H+ k3 1 2 x10-2M-1s-1 (9)
Fe-OOH2+ HO2+ Fe2+ (10)
Fe2+ + HO2 Fe3+ + HO2- k5 0,75-1,5 x 106 M-1s-1 (11)
Fe3+ + HO2 Fe2+ + O2 + H+ k6 0,33-2,1 x 106 M-1s-1 (12)
HO + H2O2 H2O +HO2 k7 1,7-4,5x 107 M-1s-1 (13)
RH + HO H2O + R Produtos oxidados (14)
As principais reaes correspondem ao consumo e regenerao do on ferroso como
apresentado na sequncia de reaes de 7 a 12. A decomposio do H2O2 e formao de
radicais livres (R) a partir dos compostos orgnicos presentes so apresentadas nas reaes
13 e 14 (FREIRE, 2012). Esses radicais provocam uma srie de reaes, conforme
apresentadas abaixo, capazes de decompor a matria orgnica do efluente (NEYENS e
BAYENS, 2003):
R + H2O2 ROH + HO (15)
R + O2 ROO (16)
R + Fe3+ Fe2++ R+ (17)
22
R + Fe2+ Fe3+ + R- (18)
2R R-R (19)
Com base nestas reaes qumicas, vrios parmetros influenciam a cintica destas reaes.
Deste modo, a eficcia do processo depende de variveis como dosagem das substncias
reagentes, concentrao do contaminante e pH do meio, os quais interferem diretamente, de
acordo com as particularidades de cada efluente. O trmino da oxidao depende da relao
entre o H2O2 e o substrato, enquanto que a taxa de oxidao determinada pela
concentrao inicial de ferro.
fundamental definir atravs de testes experimentais, a dosagem tima dos reagentes no
meio reacional, j que tanto o excesso como a escassez dos reagentes interfere na eficincia
do processo.
Em relao s reaes envolvidas no processo Fenton, diversos autores (CHU et al., 2004)
relataram a existncia de duas fases. A fase inicial (F1) altamente ativa e curta, onde a
maior parte do poluente oxidada e seus intermedirios so gerados. A fase subsequente
(F2) caracterizada por uma brusca queda na taxa de degradao e, como resultado,
contribui muito pouco para a degradao total.
A fase inicial (F1) diretamente atribuda reao de Fenton (reao 1) e nela, quase todo
radical hidroxila gerado, e uma grande frao do H2O2 e dos ons ferrosos so consumidos
(BURBANO et al., apud CAVALCANTE, 2005). Assim, atravs do tempo reacional e da
variao da eficincia, pode-se verificar tambm quando a reao j est na segunda fase,
identificada pela baixa eficincia.
3.9 Influncia da Estequiometria e da Concentrao do Contaminante
A reao de Fenton depende principalmente de trs fatores: pH, concentrao de H2O2 e
concentrao de Fe2+. A otimizao desses fatores fundamental para o bom desempenho
do processo. Alm disso importante cogitar outras caractersticas da reao, tais como,
23
concentrao e quantidade de constituintes orgnicos e inorgnicos no efluente. Esses
parmetros determinam a eficincia da reao global e a relao mtua entre eles define a
produo e o consumo de radicais hidroxila e, consequentemente, a eficincia do processo
em si (ARAUJO, 2008).
Em relao concentrao e os constituintes do contaminante, quanto maior as
quantidades de DQO, turbidez, cor e menor a biodegradabilidade do efluente (DBO/DQO),
mais complexo o tratamento e as concentraes de reagentes devem acompanhar a
elevao da concentrao de poluente proporcionalmente, mantendo o equilbrio
estequiomtrico.
Assim, importante estabelecer a dosagem tima de reagentes (Fe2+ e H2O2) no meio
reacional, j que o excesso de qualquer um dos dois pode causar efeitos negativos sobre a
eficincia do processo Fenton, j que ambos apresentam efeito de captura dos radicais
hidroxila (TANG e TASSOS, 1997).
3.10 Influncia da Concentrao de Perxido de Hidrognio
O prolongamento da oxidao determinado pela quantidade de H2O2 presente no sistema.
Muitos autores verificaram que a porcentagem de degradao do contaminante cresce com o
aumento da dosagem do reagente. Entretanto, quando em grande quantidade, o reagente
funciona como sequestrador do radical hidroxila, como mostrado na reao 7 (CHAMARRO
et al., 2001). Assim, para cada tipo de efluente necessrio testar experimentalmente a
concentrao adequada de H2O2.
Cavalcante (2005) relata que a lenta adio do reagente ao sistema, com excesso de ferro,
fornece condies que minimizam a captura do radical hidroxila, alm da possibilidade de
obter aumento da taxa de mineralizao (em torno de 12 vezes) quando o H2O2 no
totalmente adicionado no incio da reao.
24
3.11 Influncia da Concentrao de Ferro e Coagulao no Processo Fenton
A coagulao empregada para a remoo de materiais em suspenso ou partculas
coloidais que sedimentam muito lentamente. O processo de coagulao, geralmente
realizado com sais de ferro e alumnio, resulta de dois fenmenos: o primeiro,
fundamentalmente qumico, consiste nas reaes do coagulante com a gua e na formao
de espcies hidrolisadas com carga positiva; o segundo, essencialmente fsico, consiste no
transporte das espcies hidrolisadas para que haja ligao com as impurezas da gua
(ECKENFELDER, 1989).
No processo Fenton, os ons frricos podem atuar tanto nas reaes subsequentes do
processo Fenton como coagulantes. Segundo Neyens e Bayens (2003), geralmente quando a
concentrao de Fe2+ presente no meio reacional excede a de H2O2, o tratamento tende a
apresentar efeito de coagulao qumica. J quando o inverso ocorre, o tratamento ocorre
preferencialmente por oxidao qumica.
Diferentes mtodos tm sido usados para quantificar a remoo por coagulao e por
oxidao no processo Fenton. KANG et al. (2002) submeteram efluente txtil sinttico ao
processo Fenton e, paralelamente, realizaram tratamento por coagulao tendo o cloreto
frrico como reagente e polmero aninico como iniciador do processo de
coagulao/floculao. Assim, a remoo de DQO obtida na coagulao frrica foi
considerada igual remoo por coagulao no processo Fenton.
A etapa de coagulao qumica recomendada aps a etapa de oxidao com o objetivo de
diminuir a concentrao de ferro dissolvido no efluente clarificado abaixo dos limites
exigidos pela legislao para descarte.
Usualmente, a razo molar tima H2O2/Fe2+ recomendada para o Fenton de 10 a 40 (TANG
e HUANG, 1997; RUPPERT et al., 1993; apud ARAUJO, 2008). Lange et al. (2006) relatam
que a faixa tpica da relao H2O2/Fe2+ varia de 5:1 a 25:1 em massa; todavia, essa faixa de
dosagem varia de acordo com o tipo de efluente.
25
Alm disso, a reao de Fenton dependente da forma qumica do ferro presente no meio e
neste caso, o controle do pH do meio reacional passa a ser importante devido a relao das
espcies de ferro com o pH (MALATO et al., 2009).
3.12 Influncia do pH
O pH da soluo um critrio importante em POA no tratamento de efluentes,
principalmente pelo processo Fenton. O meio cido fundamental para essa reao, pois a
presena de ons H+ favorece a decomposio do H2O2 pelo Fe2+ catalisador e desloca o
equilbrio da reao para a gerao de HO- e de radical hidroxila (HO) (NEYENS &
BAEYENS, 2003).
O estgio de acidificao importante pela estabilidade dos radicais hidroxila concebidos e
por influenciar nas espcies de ferro presentes em soluo. Em valores de pH acima de 4, a
OH- funciona como sequestrante de radicais hidroxila ou favorece a desativao do
catalisador pela formao de seus hidrxidos, desfavorecendo a continuidade da reao de
Fenton. Apesar da grande diversidade de substncias testadas, na maioria dos estudos com
Fenton, o pH considerado timo encontra-se na faixa entre 2 e 4 (LANGE et al., 2006).
Em pH acima de 5, alm de aumentar a desestabilizao do H2O2, ocorre tambm a
desativao do catalisador ferroso atravs da formao de complexos de hidrxido frrico
(KANG & HWANG, 2000).
Em valores de pH maiores que 6 ocorre precipitao de hidrxido de ferro, removendo o
catalisador da soluo. Dessa forma, a remoo ocorre escassamente e, por isso, muitos
pesquisadores elevam o pH do meio reacional a fim de cessar instantaneamente a reao de
Fenton (CAVALCANTE, 2005; KAVITHA & PALANIVELU, 2004).
26
3.13 Foto-Fenton
Um meio de melhorar a eficincia do Fenton associar a adio de raios UV, para
regenerao dos ons ferrosos. Este processo denominado foto-Fenton. A fotlise de Fe3+,
atravs dos raios UV, contribui para a formao de Fe2+. Assim, a radiao solar ou artificial
atua como regeneradora do catalisador Fe2+ para que o mesmo possa atuar novamente na
reao de Fenton, favorecendo a produo de radicais hidroxila. Esse recurso pode ser
verificado nas reaes a seguir (FREIRE, 2012):
Fe3+ + H2O + h Fe2+ + H+ + OH (20)
Fe(OH)2+ + h Fe(OH)+ + OH (21)
Fe(OH)2+ + h Fe2+ + OH (22)
Fe(RCO2)2+ + h Fe2+ + CO2 +R (23)
H2O2 + h 2 OH (24)
A incidncia da radiao UV sobre os complexos frricos produz a regenerao de ons
ferrosos e a gerao de mais radical hidroxila, conforme observado nas reaes 22 a 24. Na
reao 23, tem-se a formao de complexo entre os ons frricos e substratos ou
intermedirios orgnicos da reao. Estes complexos so ativados fotoquimicamente
gerando ons ferrosos e mineralizando os componentes orgnicos. Este fato resulta em uma
eficincia de degradao de poluentes orgnicos (JONES, 1999; LEITE 2003; BOLTON et al.,
1997, apud FREIRE, 2012).
Alm de funcionar no ciclo cataltico do ferro, a radiao UV participa da fotlise do H2O2
gerando dois radicais hidroxila (reao 24). A eficincia quntica para a produo de
radicais hidroxila pela fotlise do H2O2 est em torno de 98% no comprimento de onda de
254 nm (JONES, 1999; LEITE 2003; BOLTON et al., 1997, apud FREIRE, 2012).
Outro ponto importante que o reagente de Fenton, sem adio de radiao, pode no
mineralizar os poluentes orgnicos completamente. O poluente inicial parcialmente
27
oxidado em produto intermedirio que pode ser resistente a oxidaes posteriores. A
extenso da mineralizao pode ser otimizada se o sistema for irradiado
(KAVITHA e PALANIVELU, 2004).
A vantagem deste processo que devido regenerao do Fe2+ durante a reao, o custo e
tempo da reao so reduzidos e a eficincia aumenta. Tem-se um maior aproveitamento do
reagente (H2O2) e do catalisador (Fe2+), atravs da simples adio de radiao UV. A
desvantagem que o fornecimento de radiao UV em escala industrial encarece
relevantemente o processo. No entanto, como o Brasil um pas tropical, a radiao UV
pode ser natural, atravs da radiao solar. Muitos estudos tm sido conduzidos nesse
sentido.
3.14 Parmetros que influenciam no processo foto-Fenton
O processo foto-Fenton depende principalmente de quatro fatores: pH, concentrao de
H2O2, concentrao de Fe2+, turbidez e intensidade da radiao. Neste processo, o H2O2
consumido mais rapidamente em sistemas irradiados pela regenerao do catalisador (Fe2+),
gerando radicais hidroxila com maior eficincia. Um fato decorrente o consumo
relativamente elevado de perxido de hidrognio devido a sua rpida degradao no meio.
Uma vez que este parmetro determina a espcie de ferro presente no meio reacional,
muitos autores apontam a sensibilidade do processo foto-Fenton ao pH. H uma faixa de
pH tima para a degradao de cada tipo de poluente e para isso necessrio realizar teste
experimental. No entanto, Mcginnis et al. (2000) citam a faixa de pH entre 2,8 e 3,0 como
tima para a produo de radicais hidroxila por meio deste processo.
Outra abordagem em relao ao pH que o processo foto-Fenton pode ser efetivo em pH
neutro, faixa na qual a oxidao por Fenton normalmente limitada, por haver necessidade
de pH cido (BANDALA et al., 2004; ROZAS et al., 2010, apud LI, 2012). Caso o processo
possa seja conduzido em pH neutro, no h necessidade de acidificar e posteriormente
neutralizar o efluente, fator importante na reduo de custos com reagente e processos.
28
A eficincia dos processos fotocatalticos prejudicada pela presena de quantidades
significativas de slidos suspensos, pois com a turbidez do efluente elevada, a absoro da
irradiao dificultada (CAVALCANTE, 2005). Sendo assim, importante o conhecimento
das caractersticas do efluente e minimizao da quantidade de catalisador, o qual pode
interferir na absoro da irradiao. Foi observado que elevadas concentraes de Fe2+
ocasionaram o aparecimento de turbidez, fator que limita a penetrao da radiao UV
(Ghaly et al., 2001).
Adicionalmente, a regenerao do Fe2+ atravs da fotlise, otimiza a utilizao do catalisador
propiciando quantidades menores de sal ferroso, quando comparado ao Fenton. Dessa
forma, as dosagens timas de ferro encontradas para sistemas irradiados so bem menores
do que no processo Fenton com eficincia similar, fato que reflete em reduo do volume de
lodo gerado quando se trabalha com sistemas irradiados. Este fato minimiza o uso de um
processo de separao do ferro aps o tratamento do efluente, o que importante para uso
industrial (RUPPERT et al., 1993).
De acordo com o espectro utilizado, o que afeta a eficincia do processo a intensidade da
luz incidente alm de ser um fator que afeta a gerao de radicais livres. Dependendo da
fonte de radiao utilizada, artificial ou solar, eficincia e custo podem variar
consideravelmente.
Como o comprimento de onda mnimo presente no espectro solar de 300 nm, a utilizao
de apenas 5% da luz total possvel (CAVALCANTE, 2005). Devido a este fato, normalmente
a radiao artificial tem maior eficincia do que a solar pela faixa de irradincia abrangida.
Kavitha e Palanivelu (2004) trataram fenol utilizando foto-Fenton artificial e solar e
obtiveram respectivamente 96% de mineralizao do fenol em 15 e 25 min. Embora o UV-
Fenton oferea uma eficcia levemente maior, o baixo custo integrado fonte solar mostra
que essa pode ser to eficiente quando a artificial e ainda mais sustentvel por utilizar uma
fonte inesgotvel de radiao. Assim, importante um estudo experimental de acordo com
as propriedades do efluente para avaliar a viabilidade tcnica e econmica de cada processo.
29
3.15 Estudos Comparativos (Fenton e foto-Fenton)
Kavitha et al. (2004) atestaram aumento da eficincia de degradao de fenol pela
regenerao do Fe2+ atravs da radiao UV, o qual participa na reao de Fenton de forma
cclica, gerando mais radicais hidroxila, acelerando o processo de oxidao comparado ao
processo Fenton. Neste estudo, os experimentos Fenton foram realizados em batelada com
soluo de fenol na concentrao 200 mg/L, ajuste de pH em 3,0 e uma quantidade
conhecida de FeSO4 e H2O2 foram adicionados a 500 ml de soluo, com agitao magntica
foi ligado para assegurar mistura completa. J os experimentos de Fenton-solar foram
realizados no campus Anna University, em Chennai, TamilNadu . A radiao solar, de
luminncia e temperatura durante o tempo experimental estavam na faixa gama de 400-595
W/m2, 98-100 klx e 30-33 C, respectivamente. Os experimentos foram realizados em
recipientes de borosilicato. Um foto-reator tipo imerso foi usado para experimentos UV-
Fenton . O vidro pirex exterior foi de 20 cm de altura e dimetro de 5,5 centmetros interno
constituindo a primeira parte. Utilizou-se lmpada de mercrio de mdia presso (150 W),
localizada no centro do reator de uma forma vertical. A gua foi circulada entre a lmpada e
o recipiente de vidro para reduzir o calor gerado durante a reao, com agitao magntica
externa ao equipamento montado.
Os parmetros envolvidos no reagente de Fenton, como o pH, a concentrao de H2O2 e a
concentrao de ons ferrosos foram examinados na faixa de 2,0-8,0, 4-60 mM e 0,4-6 mM,
respectivamente, para a degradao do fenol. O pH ptimo, concentrao de H2O2 e Fe2 +
foram encontradas concentraes de 3,0 0,2, 30 mM e 0,8 mM, respectivamente.
Degradao mxima de 82% foi alcanada em H2O2 relao de peso DQO de 2,2 e razo
molar Fe2+/H2O2 de 0,026.
Verificou-se que a reao de foto-Fenton aumenta a eficincia da degradao dos compostos
de fenol, apresentando uma eficincia de degradao de 9599%, contra 82% da reao de
Fenton (KAVITHA et al., 2004 ). Fica evidente a diferena no processo com a simples adio
de raios UV, caso seja vivel economicamente.
Ainda, a viabilidade do reagente de Fenton e solar-Fenton para o tratamento de efluente de -
fabricao de resina contendo 1,215 mg/L de fenol foi testada. As experincias foram
30
conduzidas em condies de ambiente de luz solar, e depois de se ajustar o pH do efluente
at 3,0 0,2 e a manuteno de uma relao de peso H2O2/DQO tima de 2,2 e Fe2+/H2O2
razo molar de 0,026 para Fenton e 0.013 para o processo Fenton solar. Em ambos os
processos de oxidao , o fenol foi removido de forma eficaz dentro de 5 minutos de tempo
de reao. No entanto, fica evidente que no processo de Fenton, a eficincia de degradao e
mineralizao foi de 82 % e 41 % respectivamente, enquanto que no solar-Fenton, a
degradao quase completa e 97 % mineralizao foram atingidas dentro de 120 minutos de
reao. Os resultados sugerem que o solar-Fenton na concentrao de ferro reduzida uma
tecnologia vivel para a mineralizao de fenis e outros compostos orgnicos.
Da Silva e colaboradores (2008) analisaram a degradao de corantes usando POA. Nos
ensaios foi utilizado efluente sinttico, a partir dos corantes vermelho Bordeaux e azul
brilhante, sem purificao prvia, em concentrao de 100 mg/L, utilizando gua
deionizada.
O reator de fotodegradao foi construdo como Da Silva, et al. (2008) citam em seu artigo e
formado por uma clula de acrlico e um tubo de quartzo (no interior do qual foi colocado o
filamento de uma lmpada) e uma bomba de recirculao submersa. Os ensaios foram
realizados por meio de irradiao UV na soluo contendo o corante por cinco horas. A
irradiao foi feita com filamento de uma lmpada de vapor de mercrio de 250 W, cuja
cobertura original foi previamente removida, conforme apresentado na figura 4.
31
Figura 4: Reator para degradao fotoqumica (DA SILVA et al., 2008)
Segundo a Figura 4, os componentes identificados so: (1) reator, (2) clula de acrlico, (3)
lmpada de vapor de mercrio 250W, (4) bomba de recirculao (entrada da soluo), (5)
tubo de quartzo e (6) sada da soluo.
A degradao fotoqumica foi acompanhada por espectrofotometria. A partir da anlise da
reduo de absorbncia durante o processo fotoqumico, verificou-se reduo de 99% da
colorao da soluo contendo o corante vermelho bordeaux.
Lange et al. (2006) analisaram o tratamento de lixiviado de aterro empregando reagente de
Fenton. As amostras de lixiviado utilizadas foram coletadas de aterro sanitrio de Belo
Horizonte localizado na BR-040. Os experimentos foram divididos em duas etapas: oxidao
e neutralizao/precipitao, como pode ser visualizado na Figura 5.
32
Figura 5: Esquema da unidade de estao de tratamento por POA empregando reagente de
Fenton (LANGE et al., 2006)
No incio do experimento, o pH da amostra foi ajustado com cido sulfrico para adequao
do pH e ento foram adicionados sulfato ferroso e perxido de hidrognio sob agitao. Aps
etapa de neutralizao, o sistema ficou em inrcia para que a sedimentao ocorresse e aps
sedimentao, desassociou-se o lodo. Foi visto que geralmente a remoo maior aps a
neutralizao, pois ocorre a insolubilizao de compostos nitrogenados em pH elevado.
Os fatores selecionados para investigao dos processos oxidativos foram: dosagem de
reagentes, tempo reacional e pH. As remoes de DQO foram superiores a 46%, com mdia
em torno de 61% e o melhor resultado foi 75% de remoo, o qual demandou a menor
quantidade de reagente, menor tempo de agitao e consequentemente menor custo
operacional.
Verificou-se que a melhor relao H2O2/Fe2+ foi 10, que em pH 5,0 foram obtidos melhores
resultados (valor mais prximo da neutralidade) e o tempo de 30 minutos apresentou
melhor eficincia alm de menor custo energtico. A remoo de nitrognio amoniacal
mais favorvel em dosagens maioes de H2O2 e menores de Fe2+, alcanando remoes de at
33
85% para as melhores condies e 10% para as piores. Foi observado tambm que
geralmente a remoo maior aps a neutralizao, provavelmente devido a insolubilizao
de compostos nitrogenados em pH elevado.
O tratamento foi conduzido baseado na engenharia econmica (depreciao, custos
envolvidos, equipamentos, obras, consumo de energia, reagentes, mo de obra) e mostrou-se
tecnicamente possvel como tratamento preliminar, apresentando grande eficcia de
remoo de carga orgnica e inorgnica, integrado a vantagens de facilidade operacional,
com flexibilidade no controle de variveis de processo, simplicidade de equipamento e
facilidade na mudana de escala de produo.
Nogueira e Mod (2002) avaliaram a eficincia de fotodegradao de substratos por processo
foto-Fenton utilizando ferrioxalato como mediador e avaliaram a influncia de parmetros
operacionais como agitao da soluo durante a irradiao solar e vazo de alimentao de
um fotoreator com irradiao artificial durante a fotodegradao de clorofenis (CF).
Os experimentos com irradiao solar foram realizados em batelada expondo diretamente ao
sol frasco aberto de vidro mbar de 80 mm de profundidade (h) e 90 mm de dimetro (d). O
volume de soluo irradiada foi de 500 mL. A intensidade luminosa solar (Imdia) foi medida
durante os experimentos utilizando um radimetro e a mdia foi calculada para cada
experimento. Nos experimentos realizados sob irradiao solar, o tempo de irradiao
corresponde ao tempo total de experimento, uma vez que todo o volume de amostra est
sendo irradiado simultaneamente.
Nos experimentos utilizando fonte de irradiao artificial, foi utilizada uma lmpada de luz
negra, de 15 W de potncia, 45 cm de comprimento e 23 mm de dimetro externo. A
intensidade luminosa da lmpada foi medida com valor de 27 W/m2. Esta medida foi feita
posicionando-se o sensor diretamente sobre a lmpada.
O esquema da Figura 6 mostra o sistema utilizado durante os experimentos com irradiao
artificial, onde a lmpada est inserida dentro do cilindro de vidro de 38 mm de dimetro
interno em posio vertical. O reator anular opera em fluxo ascendente, onde a soluo
../Projeto%20Final%20Mestrado/Bibliografia/bibliografia%20inicial%20-%20sem%20uso%20atual/artigo%20nogueira%20mod.htm#fig01#fig01
34
bombeada por uma bomba peristltica com entrada na base do reator e coleta de amostra
no topo. Foram feitos experimentos com passagem nica da soluo (nos experimentos em
que foi avaliada a influncia da vazo) e com recirculao da soluo pelo reator com
amostragens no reservatrio em tempos determinados. Os equipamentos so identificados a
seguir: 1- sistema com passagem nica; 2 - sistema com recirculao.
Figura 6: Esquema do reator fotocataltico utilizando irradiao artificial (NOGUEIRA &
MOD, 2002).
A concentrao inicial de fenol e clorofenis foi de 0,5 x 10-3 mol/L e de ferrioxalato (FeOx)
1,0 x 10-3 mol/L. O pH foi ajustado para o valor de 2,5 em todos os experimentos. As
solues de cada composto-alvo foram irradiadas independentemente. Alquotas de 20,0 mL
foram retiradas durante o experimento e subdivididas para as determinaes de COT (5,0
mL), de composto-alvo (5,0 mL) e de cloreto (10,0 mL) no caso de clorofenis, sendo que no
caso de fenol, alquotas de 10,0 mL foram retiradas e subdivididas para as determinaes de
COT (5,0 mL) e de composto-alvo (5,0 mL).
Foram constatadas algumas observaes, os quais so apontados a seguir:
Pequena variao nos percentuais de remoo de carbono orgnico total e de gerao
de ons cloreto nos experimentos de fotodegradao de CF sem agitao e com