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Projeto gráfico - apliemt.org.br · PALAVRAS-CHAVE: Autoscopia, clareza de instruções, inglês sem fronteiras. ABSTRACT: The Languages without Borders program (ISF) has the objective

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Projeto gráfico

João Batista Ferreira Filho

Comissão organizadora do XIX EPI

Ana Antônia de Assis Peterson

Delvânia Góes

Fernanda Mello Cardoso

Leonardo Correa

Lyssa Gonçalves Costa

Marli Cichelero

Tânia Jorra

Valeska Castilhos

Organização dos Anais

Lyssa Gonçalves Costa

Conselho editorial

Lyssa Gonçalves Costa

Lediane Manfé de Souza

Ana Antônia de Assis Peterson

Eladyr Norberto

Leandra Santos

Fernanda de Mello Cardoso

Delvânia Góes

Promoção

SUMÁRIO

PREFÁCIO ......................................................................................................... i

TEXTO SOBRE OS ANAIS ............................................................................... ii

UMA VISÃO AUTOSCÓPICA SOBRE A CLAREZA DE INSTRUÇÕES DE UM

PROFESSOR DO IDIOMAS SEM FRONTEIRAS

Felipe Ferraz de MIRANDA

Vinícius Carvalho PEREIRA .............................................................................. 1

ANÁLISE DE EXPERIÊNCIA COM O USO DE ABORDAGENS LEARNER-

CENTERED E TEACHER-CENTERED EM AULAS DE INGLÊS

Débora Keppi DEICKE

Vinícius Carvalho PEREIRA ............................................................................ 12

A MÚSICA EM INGLÊS COMO FERRAMENTA PARA DEBATES E

REFLEXÕES TRANSFORMACIONAIS: UMA ANÁLISE CRÍTICA DO

DISCURSO

Betsemens Barbosa de Souza MARCELINO

Solange Maria de BARROS.............................................................................. 25

THE ROLE OF VIDEOGAMES IN SECOND LANGUAGE ACQUISITION: THE

CASE OF A PUBLIC SECONDARY SCHOOL IN CUIABÁ-MT, BRAZIL

Alan Tocantins Fernandes ………………………………………………………… 43

“CONHECENDO O MUNDO DA LÍNGUA INGLESA”: UMA EXPERIÊNCIA

DO PIBID NA ESCOLA PÚBLICA

Júnior do Nascimento FERREIRA

João Pedro Amorim FRANCESCHI

Paula Tuany Silva CAFÉ

Eladyr Maria Norberto da SILVA ...................................................................... 58

INGRESSO NO MESTRADO EM EDUCAÇÃO: REALIZAÇÕES DE UMA

PROFESSORA LICENCIADA EM LETRAS INGLÊS

Fernanda de Mello CARDOSO ........................................................................ 65

O DESENVOLVIMENTO DOCENTE DE UMA ESTUDANTE DE LETRAS NO

CONTEXTO PIBID DE INGLÊS

Paula Tuany Silva CAFÉ

Eladyr Maria Norberto da SILVA ...................................................................... 78

FORMANDO JOVENS EMBAIXADORES: UMA EXPERIÊNCIA DE

LETRAMENTO EM LÍNGUA INGLESA COM ESTUDANTES DO ENSINO

MÉDIO

Jonathan de Paula Camargo ........................................................................... 90

UM ESTUDO DE CASO SOBRE O ENSINO DE INGLÊS NA ESCOLA

PÚBLICA COM POSSIBILIDADE DE SUCESSO

João Pedro Amorim FRANCESCHI

Talita Siqueira de OLIVEIRA

Júnior do Nascimento FERREIRA

Eladyr Maria Norberto da SILVA .................................................................... 102

UM ESTUDO DE CASO SOBRE UMA PROFESSORA DE INGLÊS E AS

PRÁTICAS QUE A TORNAM BEM SUCEDIDA NO CONTEXTO DA ESCOLA

PÚBLICA

Maria Victória Queiroz de CARVALHO

Talita Siqueira de OLIVEIRA

Eladyr Maria Norberto da SILVA .................................................................... 112

i

PREFÁCIO

Enfim chegamos à terceira edição dos Anais eletrônicos do Encontro de

Professores de Inglês!

Como todas as outras, esta é uma edição especial, marcada por muito

trabalho colaborativo. E é por isso que quero iniciar este prefácio com

agradecimentos especiais à equipe que nos recebeu em Lucas do Rio Verde

com tanto afinco e esmero. Este agradecimento se estende também à

Comissão Organizadora do XIX EPI, bem como aos monitores e

colaboradores.

Pois bem! A cada evento é possível perceber como as temáticas

escolhidas superam nossas expectativas em termos de produção. E, em se

falando de “Outros sentidos para a sala de aula de línguas”, notamos ao longo

das palestras, discussões e comunicações como as salas de aulas são

espaços riquíssimos para produção de conhecimentos.

Embora isso soe um tanto quanto redundante, nunca é demais destacar

o quanto a sala de aula é um espaço democrático e aberto ao novo! Um

espaço que possibilita a instigação, a provocação e a inspiração em

professores, nos soon to be teachers e em seus alunos. E assim, mais uma

vez, o evento pôde proporcionar momentos de reflexão no professor-

pesquisador-aprendiz-inovador que há em cada um de nós.

Celebramos, então, tod@s que se abriram e compartilharam suas

pesquisas, estudos, ideias, experiências pedagógicas, emoções e suas

humanidades durante o evento. E agradecemos imensamente a participação

dessas pessoas que não só fizeram suas comunicações orais, mas que

também se propuseram a aprofundarem suas reflexões eternizando-as nesses

Anais eletrônicos.

Sem mais delongas, desejo a você, caro leitor, boas leituras e reflexões!

Lyssa Gonçalves Costa

ii

FÓRUM XIX EPI:

Outros sentidos para a sala de aula de idiomas

O Fórum do XIX Encontro de Professores de Inglês (EPI) trouxe a tona

quais são os sentidos trabalhados em sala de aula e, além disso, quais outros

deveriam e poderiam ser abordados também. Dessa forma, a partir das

palestras, comunicações orais e discussões, os participantes puderam dar suas

próprias considerações acerca da temática, respondendo principalmente ao

questionamento: afinal, quais são os outros sentidos a serem trabalhados na

sala de aula?

De maneira geral, os participantes consideram que a realidade social do

aluno e do professor devem ser o ponto de partida para a escolha não só do

método, mas também dos conteúdos a serem discutidos. Vejamos, então,

alguns pontos elencados.

A Carla, graduada em Letras/Inglês, acredita que trazer novos sentidos

para a sala de aula é buscar novos métodos, novas formas de trabalho. Além

disso, considera que fugir da aula tradicional, focada na gramática, colabora

para sair da rotina da sala, conhecendo a realidade de seus alunos e assim

reconhecendo o que é de interesse para eles, não só em relação ao ensino-

aprendizagem, mas também quanto à utilização dos conhecimentos e saberes

adquiridos na vida prática, i.e., na vida cotidiana. Carla pensa, então que as

aulas precisam colaborar, acima de tudo, com a construção social de cada um.

Ellen, professora de inglês, acrescenta que os novos sentidos partem do

envolvimento do professor com seus alunos, dando valor às experiências

pessoais de cada um, assim como asseverado por Carla. Ademais, considera

que a sala de aula deve ser um espaço aberto e seguro para que o aluno

possa, inclusive, compartilhar de suas angústias e assim discutir novas formas

de trabalho colaborativamente com os membros da sala de aula. Dessa forma,

o envolvimento é imprescindível para mudança efetiva.

Everton também aborda que é interessante não focar somente na

gramática, mas utilizar outras áreas do conhecimento para o aprendizado da

língua aconteça através delas. O Everton cita a contextualização da geografia,

da história e até da literatura pelo idioma. Ele concorda ainda que o

envolvimento é um dos caminhos para que novos caminhos emerjam.

iii

Consoante a isso, Naomi também defende a ideia de quebrar barreiras

ultrapassadas, como, por exemplo, que o professor é o único detentor do

conhecimento. Ela considera que esse é um trabalho longo, mas que com a

conscientização dos alunos pode ser proveitoso e muito benéfico. Segundo ela,

há outras barreiras que precisam ser quebradas pelos próprios alunos. Ideias

que estão enraizadas, mas que já não cabem no contexto atual. Reconhecer e

saber utilizar, acima de tudo, o contexto de cada sala de aula. O importante é

trazer métodos, conteúdos, temáticas que façam sentido aos alunos. Assim

como Everton, Naomi diz que limitar a língua à sua gramática é um erro comum

e fatal. Ela considera que o inglês pode (e deve) ser o caminho do aprendizado

de outros conteúdos e não necessariamente o fim.

Margarida também observa que há barreiras a serem derrubadas.

Conforme dito, há vários sentidos existentes que são relevantes, porém que

não são trabalhados com os alunos. Ela considera que o interessante seria

facilitar o aprendizado ao aluno e que não há um método perfeito, uma fórmula

secreta. Dentro de cada realidade, independentemente da forma como o

professor quiser trabalhar, o objetivo é o que é trabalhado em sala de aula faça

sentido tanto para o aluno, enquanto aprendiz, quanto para o professor, como

profissional. Ela ressalta que o docente não pode ser apenas um repetidor de

atividades, mas que ele também precisa ser levado em consideração na

escolha dos conteúdos e do meio de trabalho. Cumprir o conteúdo, então, não

pode ser o objetivo final.

Rosineia concorda que a relação do professor com o aluno é o ponto de

partida. Fazer com que possa partir desse relacionamento novos conteúdos,

novas abordagens para o ensino de inglês.

Roseane, de Tapurah, complementa que trazer o contexto atual dos

alunos para a sala de aula é importantíssimo. Isto é, não ir contra ao que faz

parte naturalmente da vida deles, mas buscar novas formas de aprender o

idioma de uma forma relevante e de forma que lhes seja de interesse. Embora

seja apenas estagiária, Roseane nota que há muita reclamação quanto ao que

não funciona sem que efetivamente busquem novos caminhos. Para a

graduanda, estar atento ao que aluno gosta, ao que o aluno faz no dia a dia é

imprescindível para a sala de aula. É, além disso, o que pode proporcionar que

iv

novos sentidos sejam apresentados aos alunos. Sentidos que sejam de fato

relevantes.

Por fim, Renata explica que seu contexto profissional é diferente dos

demais, ela trabalha no CELIG e dá aulas particulares. Em seu contexto é

comum buscar sentidos relevantes aos seus alunos e, então, sua participação

no evento foi motivado pelo interesse em conhecer novos métodos. A partir das

discussões, ela pôde perceber que não aborda temáticas de relevâncias

sociais em suas aulas. Renata reconhece ainda que tem oportunidades de

discussões, nas língua inglesa, com seus alunos e trazer assuntos sociais

podem ser duplamente proveitoso, tanto para a parte linguística quanto para a

parte de construção social.

Assim, ao final, ainda que nenhuma fórmula secreta tenha sido

levantada, todos saíram com um mesmo questionamento: como, então, trazer

novos sentidos através de outros conhecimentos e saberes, que não pelo

caminho tradicional, o da gramática?

1

UMA VISÃO AUTOSCÓPICA SOBRE A CLAREZA DE INSTRUÇÕES DE UM

PROFESSOR DO IDIOMAS SEM FRONTEIRAS

Felipe Ferraz de MIRANDA

Universidade Federal de Mato Grosso

Vinícius Carvalho PEREIRA

Universidade Federal de Mato Grosso

RESUMO: O programa Idiomas sem Fronteiras (IsF) tem como objetivo aplicar testes internacionais de nivelamento, bem como oferecer ensino de idiomas online e em aulas presenciais junto à comunidade acadêmica. Além disso, o programa propicia a formação inicial de professores de línguas estrangeiras sob coordenação pedagógica de um docente da universidade especializado na área. Então, o coordenador pedagógico propôs que todos os professores em formação assistissem a gravações das próprias aulas, segundo o método da autoscopia (ROSA-SILVA et al., 2003), a fim de produzir reflexões sobre a prática docente na forma de artigo de pesquisa. Nesse contexto, no presente trabalho são transcritos momentos dos vídeos que apresentam instruções e, utilizando as diretrizes para instruções efetivas levantadas por Ur (1991), Wright (2003), Harmer (2001), Archer e Hughes (2011), analisa-se se as técnicas adotadas pelo professor para dar instruções orais aos estudantes foram efetivas e procuram-se meios para aperfeiçoá-las. PALAVRAS-CHAVE: Autoscopia, clareza de instruções, inglês sem fronteiras. ABSTRACT: The Languages without Borders program (ISF) has the objective to offer international placement tests and to teach foreign languages to the academic community through an online platform and face to face lessons. Furthermore, the program allows the pre-service development of foreign language teachers under the pedagogical coordination from a university professor with expertise on the area. The pedagogical coordinator proposed that all pre-service teachers should watch recordings of their own classes, by using the autoscopy method (ROSA-SILVA et al., 2003), in order to reflect about their teaching practices in a research article. In this context, this paper shows moments of the videos that feature instruction giving which are analyzed under the perspective of the guidelines for clear instructions by Ur (1991), Wright (2003), Harmer (2001), Archer and Hughes (2011). The techniques adopted by the teacher to give oral instructions are analyzed to conclude if they were effective and how they can be improved. KEYWORDS: Autoscopy, instruction clearness, languages without borders.

Introdução

2

O programa Idiomas sem Fronteiras (IsF) iniciou suas atividades em

2012, quando ainda era chamado de Inglês sem Fronteiras e se restringia a

ações envolvendo tal idioma. O programa, desde o início, vem sendo

promovido pelo Ministério da Educação (MEC), através da Secretaria de

Educação Superior (SESu), em parceria com a Coordenação de

Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).

O programa engloba três ações específicas: testes internacionais de

nivelamento e proficiência; ensino de idiomas online (no caso do inglês, através

do portal My English Online - MEO); e ensino presencial de idiomas, o qual

será o foco deste trabalho. Em cada universidade em que o programa se

desenvolve, há um Núcleo de Idiomas (NucLi), que coordena e implementa as

ações do programa, tendo como principal objetivo incentivar o aprendizado de

línguas junto à comunidade acadêmica (alunos, professores e servidores

técnico-administrativos), além de propiciar a formação inicial de professores de

línguas estrangeiras, haja vista que as aulas presenciais do NucLi são

ministradas por alunos e ex-alunos de Letras Inglês, sob coordenação

pedagógica de um docente da universidade especializado na área.

Através desse programa, o primeiro autor deste artigo, graduando no

início do curso de Letras Português-Inglês, está há 16 meses tendo a

oportunidade de ministrar aulas de língua inglesa, mediante percepção de

bolsa, em diversos módulos: Inglês para fins acadêmicos, Debates de

atualidades, Estratégias de leitura e Compreensão oral. Já o segundo autor é o

coordenador pedagógico do programa e professor do Departamento e Letras

da UFMT. Como coordenador pedagógico, acompanha a preparação,

execução e avaliação dos processos de ensino-aprendizagem no IsF, bem

como supervisiona pesquisas conduzidas pelos professores em formação.

Como parte das ações de formação docente que o programa contempla,

o coordenador pedagógico propôs que todos os professores em formação

assistissem as gravações das próprias aulas, segundo o método da autoscopia

(ROSA-SILVA et al., 2003), a fim de produzir reflexões sobre a prática docente

na forma de artigo de pesquisa. Nesse contexto, no presente trabalho analisa-

se se as técnicas adotadas pelo professor para dar instruções orais aos

estudantes foram efetivas e procuram-se meios para aperfeiçoá-las. Toma-se,

3

assim, como pergunta central desta pesquisa: O quão claras foram as

instruções orais dadas em sala?

Referencial Teórico

Penny Ur (1991, p. 16) define instruções como “as direções que são

dadas para introduzir uma tarefa de aprendizado que está vinculada a alguns

meios de os alunos realizarem atividades de modo independente”. A autora

aconselha que os professores de línguas estrangeiras pensem nas escolhas de

suas palavras, que tenham certeza de que todos os alunos estejam prestando

atenção em seus comandos. A autora ainda destaca a necessidade de ser

breve durante as explicações. Ur (apud LIRUSO; DE DEBAT, 2003) também

sugere fazer demonstrações com a classe e conferir o entendimento, a fim de

garantir instruções mais efetivas.

Liruso e de Debat (2003) também concordam com Wright (2003) quando

este resume as características de comandos efetivos, os quais devem ser

breves, referir-se a apenas uma tarefa ou objetivo por vez, formulados de

maneira direta (e não em perguntas), usar uma linguagem específica e não

incluir emoções negativas ou sarcasmo. Wright (2003) aconselha que os

professores devem evitar longas explicações e também devem fornecer uma

quantidade razoável de tempo para os alunos realizarem o comando.

Wright (2003) também apresenta possíveis obstáculos à efetividade dos

comandos dentro da sala de aula: (i) modalização excessiva, que pode levar o

aluno a acreditar que existe a opção de não seguir esse comando; (ii)

imprecisão, pois o aluno pode ignorar um comando por não saber reação é

esperada; e (iii) comandos subsequentes com justificações ou explicações

excessivas, que podem levar o aluno até mesmo a esquecer qual é o comando

original.

Instruções explícitas são uma abordagem não ambígua e direta de

ensino de habilidades acadêmicas que inclui planejamento de instruções e

procedimentos de ensino. Rosenshine (1988 apud ARCHER; HUGHES, 2011,

p. 34) descreve-as como “um método de ensino sistemático com ênfase em

proceder em pequenos passos, conferindo a compreensão dos estudantes e

alcançando uma participação ativa e bem-sucedida por todos os estudantes”.

4

Por sua vez, Harmer (2001) informa que existem duas regras gerais

sobre dar instruções: simplicidade e lógica. Também sugere algumas

perguntas que o professor deve se fazer antes de dar instruções: Qual é a

informação importante que estou tentando comunicar? O que os alunos devem

saber para completar essa atividade? De quais informações eles precisam

primeiro? E o que deve ser feito a seguir? É, ademais, importante confirmar

com os alunos se eles entenderam o que é pedido para ser feito.

Metodologia

Para o desenvolvimento deste trabalho, empregou-se o método de

autoscopia, definido a seguir:

Sadalla e Larocca (2004) definem autoscopia como videogravação de

uma aula, que visa à observação e à auto-avaliação pelo professor da

prática educativa, após o desenvolvimento da mesma. As cenas

videogravadas são submetidas a sessões de análise, as quais se

destinam à apreensão do processo reflexivo do profissional em foco,

por meio de suas falas (ROSA-SILVA et al., 2003, p. 3).

Para a implementação deste método, optou-se por gravar duas aulas

ministradas pelo primeiro autor deste artigo, sob orientação do segundo, nas

datas de 02 e 04 de março de 2016, em uma turma do curso de Compreensão

oral do programa IsF, com duração de 32 horas. A turma em que foram

realizadas as gravações tem alunos com nível de proficiência B1, de acordo

com o Common European Framework of Reference for Languages, com níveis

de escolaridade e idade variados. Os alunos assinaram termo de

consentimento livre e esclarecido, consentindo sua participação na pesquisa e

a gravação das aulas.

Após gravação, as imagens colhidas foram analisadas e os momentos

críticos (quando instruções eram dadas) foram selecionados para investigação

mais aprofundada, com base em sua transcrição. As transcrições foram

organizadas apresentando as falas do professor, marcadas por “T”; dos alunos,

marcadas por “S”, seguido de um número para indicar alunos diferentes, ou por

“Ss”, para indicar a fala de todos os alunos. Os eventuais erros de linguagem

cometidos pelo professor foram preservados na transcrição de suas falas.

5

Entre colchetes, apresentam-se breves descrições do comportamento dos

sujeitos captado pela câmera.

Resultados e discussões

Na aula de 02.05.16, foi possível observar alguns eventos relevantes no

que diz respeito à forma como o professor dá instruções aos alunos. O primeiro

momento foi identificado entre 01 hora e 11 minutos e 01 hora e 13 minutos de

vídeo, quando o professor explica um exercício aos alunos. Abaixo, apresenta-

se uma transcrição do trecho correspondente no vídeo.

T - Let's listen to three telephone conversations and write down each

callers' request. Does the other person agree to the request? Mark

yes or no. First, let's just listen to the recording so you can understand

the main points of the conversation and after that I'm going to play it

again so you can write down what are the requests and if the person

agrees or disagrees with the request. [Fala pausadamente e com o

tom de voz elevado]

Nota-se que o professor fala pausadamente e utiliza um tom firme para

obter clareza em sua fala. Entretanto, nesse trecho ele apenas apresenta a

atividade rapidamente, sem entrar em muitos detalhes sobre a mesma. Como

os alunos possuíam um handout com a atividade impressa, eles puderam

realizar a tarefa imediatamente. No entanto, o professor poderia ter utilizado

exemplos e frases mais curtas para tornar a instrução mais clara e precisa.

Além disso, o professor poderia ter reforçado o comando principal ao fim de

sua fala, assim retomando a tarefa requerida.

Além disso, na mesma aula, observou-se outro evento em que se

destacou a questão da clareza das informações, quando, entre 01 hora e 29

minutos e 01 hora e 32 minutos de vídeo, o professor explica um outro

exercício.

T - Now I want you to stay in pairs and let's practice those new

language points.

[Lê o modelo de situação que os alunos podem escolher para

praticar]

T - Ok? So, you're going to practice those situations in pairs.

6

[Um dos alunos interrompe a explicação para perguntar sobre o

significado de uma palavra]

T - So, you need to choose one of those situations and act it out with

a partner. For example: You two [aponta para dois alunos]. You

decided to "let you take a day off from work". So, one of you will be

the employee and one of you will be the boss and then the employee

will have to ask the boss to get a day off.

T- Good?

S1 - Yeah.

T - Was it clear? No?

S1 - Clear

T - So, do it for a couple of minutes and after that you're going to

change pairs.

[Os alunos iniciam a atividade]

O professor, nessa passagem, exemplifica a atividade e também

pergunta aos alunos se as instruções ficaram claras, conforme proposto por

Harmer (2001), recebendo uma resposta positiva.

Na segunda gravação, realizada em 05.04.16, notam-se outros pontos

interessantes no que tange aos momentos em que professor passa instruções

aos alunos. Entre 26 minutos e 28 minutos de vídeo, o professor explica uma

atividade à turma e apresenta algumas perguntas para definir o contexto.

T - OK. [O professor entrega aos alunos folhas contendo informações

sobre a atividade]

T- So please take a look at exercise one, ok?

T- How often do you receive telephone calls at work?

S1 - N-Never.

T- Never? Ok, if you don't work, how about school… The university.

How often?

Ss - [silêncio]

T - Let's make this better. How often do you receive phone calls?

[Aumenta o tom de voz e fala pausadamente].

S2 - Five times per hour.

T -Five times per hour?

S2 - Yes, at work.

T - At work? Ok, good. And in your general life. How often do you get

a phone calls? [Aumenta o tom de voz e fala pausadamente].

Ss – [silêncio]

7

T - I don't think that's a thing anymore.

[O professor explica o significado de “It’s a thing”].

S2 - Just four calls in a day

Para definir o contexto em que a próxima atividade se encontraria, o

professor realiza algumas perguntas relacionadas ao assunto a ser tratado

(ligações telefônicas). Vendo que a maioria dos estudantes aparenta estar

confusa, o professor refaz a pergunta focando-a em um contexto acadêmico,

mas isso acaba atrapalhando o entendimento dos alunos, evidenciado pelo

silêncio que se instaurou em sala. Então, o professor simplifica a pergunta,

omitindo o contexto específico e formulando a frase de maneira mais direta,

além de falar pausadamente com o tom firme e elevado.

Ao simplificar a pergunta, o professor conseguiu enfatizar a informação

requerida pela tarefa. Ademais, o professor passa a falar pausadamente e com

o tom firme para facilitar o entendimento dos estudantes em relação à

pronuncia da língua inglesa. Por outro lado, o fato de o professor ter

interrompido a explicação da atividade para apresentar o significado de uma

expressão pode ter retirado o foco da instrução, que foi mencionada apenas no

início da interação com os alunos.

No próximo trecho transcrito, localizado entre 28 minutos e 29 minutos

de vídeo, o professor apresenta a segunda atividade da aula aos alunos.

T - Now! Read to the following telephone conversation. That's

exercise 2, ok? Read to the following telephone conversation and use

the adjectives below to describe the speaker. We have two speakers

here, alright? Speaker A and speaker B, there are two different

person. And I want you to describe them with those adjectives that we

have bellow the conversation.

[os estudantes fazem perguntas em relação ao significado dos

adjetivos propostos da atividade]

T - So read the conversation and if you have any questions just ask

me, alright?

[Os alunos iniciam a atividade imediatamente e apenas pedem ajuda

em relação ao significado de algumas palavras]

8

Neste trecho, o professor chama a atenção dos alunos para que olhem

diretamente para a atividade número 2, inclusa em uma folha de exercícios

entregue aos alunos no começo da aula. O professor então lê o enunciado do

exercício e faz uma breve explanação sobre o mesmo. Os alunos perguntam

sobre os significados dos adjetivos desconhecidos presentes no exercício. Sem

nenhum problema de entendimento, os alunos iniciam a atividade.

Como esta atividade possuía um enunciado que a explicava, os

estudantes não tiveram problemas em entender qual era a tarefa proposta e

apenas tiveram dificuldades em entender o vocabulário da mesma. Isso sugere

que uma forma de aumentar a clareza de instruções seja apresentar o

comando não só oralmente, mas por escrito, de modo que os alunos possam

processar a informação a partir de dois canais: o auditivo e o visual.

No próximo trecho, localizado entre 59 minutos e 01 horas e 02 minutos

de vídeo, outro ponto de interesse é encontrado, pois o professor explica

novamente um exercício.

T- Now what you have to do. You need to classify those sentences'

expressions in one of the four possibilities that we have here [showing

the activity on a piece of paper]. A, B or C. You're going to write down

the number of the expression right next to the… the… the categories.

Here we have the categories A, B, C and D, and you have some black

space. You're going to write the number of the expression besides the

category.

[O professor lê todas as categorias]

T- Alright?

[Os alunos iniciam a tarefa imediatamente].

O professor lê em voz alta o enunciado do exercício proposto e aponta

para uma folha de papel em qual atividade que os estudantes devem trabalhar

e então explica de maneira breve o exercício.

Novamente, como o exercício possui um auxílio impresso no qual os

alunos podem conferir o enunciado e as instruções para realizarem a tarefa,

eles foram capazes de inicia-la imediatamente, sem nenhuma dúvida aparente.

Além disso, o fato de o professor ter lido o enunciado da questão e explicado

9

exatamente o que era proposto pela atividade contribuiu para que os alunos

compreendessem o que era esperado deles.

No próximo ponto de interesse, de 01 hora e 09 minutos a 01 hora e 11

minutos de vídeo, o professor utiliza perguntas para contextualizar a

informação requerida pela atividade.

T - So guys, have you ever been to a situation that you have to do an

emergency phone call? An emergency phone call? For example: call

for an ambulance, to the po… police, to the firemen… [Fala

pausadamente quando faz perguntas e fala os exemplos]

[Os alunos confirmam com movimentos de cabeça]

T - Yes? Do you want to share that experience with us?

S3 - Posso falar em português?

T - Try to speak in English, but if you don't feel comfortable you can

say it in Portuguese.

[O aluno conta a história]

T - So guys, now I'm going to play a recording that happens during an

emergency call, but first, you just to listen to the conversation, don't

write anything yet. Just try to understand the conversation.

Novamente, o professor fala mais pausadamente e em voz alta ao fazer

a pergunta, além de lançar mão de exemplos para contextualizar a informação

requerida. No segundo momento, o professor utiliza comandos curtos no

imperativo, a fim de se fazer entender com mais clareza.

Notamos nessa passagem que o uso de exemplos e a contribuição dos

alunos relatando suas experiências contribuiu para que a atividade se tornasse

mais autêntica, facilitando seu entendimento. Somado a isso, o professor

apresenta o comando da atividade ao final de sua explicação, evitando que o

foco seja perdido, e de maneira clara e breve, assim como Wright (2003)

recomenda em suas diretrizes.

No último trecho selecionado desta aula, de 01 hora e 17 minutos a 01

hora e 21 minutos de vídeo, o professor apresenta um exercício de role-play

para finalizar a aula e amarrar o conteúdo apresentado em sala.

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T - Now we have one last exercise, you're going to do a role-play

[entrega a atividade]. You have to choose one of those situations and

model it with your partner.

[Lê as situações em voz alta] You're going to role-play them together.

You choose one or both situations, ok?

[Os alunos iniciam a atividade]

O professor entrega uma folha com a atividade impressa aos alunos,

explica brevemente a tarefa e lê as situações em voz alta. Nesta sessão da

aula, embora os alunos não tenham tido problemas em realizar a atividade,

seria proveitoso se o professor tivesse explicado a tarefa mais a fundo,

utilizando de exemplos e confirmando com os alunos se eles sabiam do que se

trata uma atividade do tipo “role-play”.

Considerações finais

No decorrer deste trabalho, foi possível notar o quão importante são as

instruções para o bom andamento de uma aula, pois, se um comando for falho

ou mal interpretado, pode ser o motivo por trás de uma atividade sem sucesso.

Após a coleta de dados para a pesquisa através de vídeos, o primeiro

autor do trabalho teve muita dificuldade em se observar, pois sentia-se muito

desconfortável ao ver sua prática docente e como se comporta em sala de aula

com os olhos de um expectador, tanto que selecionar os pontos relevantes

para a pesquisa se tornou uma tarefa trabalhosa.

Vencido esse primeiro obstáculo, notou-se a grande importância das

reuniões com a equipe e a orientação por parte do segundo autor do artigo,

pois ficou evidente para o primeiro autor o seu crescimento como profissional

quando comparado quando ingressou no programa. Por fim, este trabalho

auxiliou o autor a ter consciência sobre seu comportamento em sala de aula,

percebendo o quão importante é o uso de instruções claras para o bom

andamento de suas aulas. Ao falar pausadamente o professor reduz as

chances de os alunos não entenderem a atividade por não terem

compreendido o que foi dito. Utilizar frases curtas durante as orientações

garante um maior foco nas atividades e impede que o professor se perca em

sua fala, dificultando o entendimento dos alunos. Além disso, deve-se sempre

exemplificar as atividades antes de dar o comando para os alunos iniciarem a

11

tarefa. O primeiro autor pretende adicionar em sua pratica de ensino todas as

diretrizes apresentadas pelos autores estudados durante esta pesquisa,

fazendo reflexões constantes sobre sua atuação como docente.

Referências ARCHER, A. L.; HUGHES, C. A. Effective and Efficient Teaching. New York: Guilford Publications, 2011. HARMER, J. How to Teach English. 7. ed. Malaysia: Longman, 2001. LIRUSO, S. M.; DE DEBAT, E. V.. Giving Oral Instructions to EFL Young Learners in ENCUENTRO REVISTA DE INVESTIGACIÓN AND LA CLASE DE IDIOMAS, 13-14, 2002-2003, Argentina. Universidad Nacional de Córdoba, p. 138-147, 2003. UR, P. A Course in Language Teaching: Practice and theory. 17. ed. Cambridge: Cambridge University Press, 2009. WRIGHT, J. The Savvy Teacher’s Guide: Selected Ideas for Behavioral Intervention. Disponível em: <www.interventioncentral.org>. Acesso em: 12 julho 2016.

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ANÁLISE DE EXPERIÊNCIA COM O USO DE ABORDAGENS LEARNER-

CENTERED E TEACHER-CENTERED EM AULAS DE INGLÊS

Débora Keppi DEICKE

Universidade Federal de Mato Grosso

Vinícius Carvalho PEREIRA

Universidade Federal de Mato Grosso

RESUMO: O presente artigo é o resultado de uma pesquisa realizada acerca da atuação de uma professora em formação inicial (aluna de graduação em Letras: Português/Inglês) em um curso de Introdução ao Inglês para Fins Acadêmicos do programa Idiomas Sem Fronteiras, ofertado na Universidade Federal do Mato Grosso. Por meio de gravações audiovisuais, duas aulas ministradas pela professora foram analisadas a fim de perceber as diferenças e efeitos do uso das abordagens de ensino teacher-centered e learner-centered. Essas abordagens diferem muito entre si, sendo uma mais tradicionalista e focada em como o professor ensina – teacher-centered –, e a outra tendo o foco principal nos alunos e em como esses aprendem – learner-centered ou student-centered. A presente pesquisa busca delinear as características das duas abordagens, bem como identificar seu uso e os resultados obtidos. As considerações e experiências da professora/pesquisadora fazem parte dessa pesquisa, junto com os efeitos observados no aprendizado dos alunos, a fim de fomentar uma reflexão sobre abordagens de ensino em aulas de inglês. PALAVRAS-CHAVE: Abordagem learner-centered; Abordagem teacher-centered; Aulas de inglês. ABSTRACT: This article is the result of a research conducted regarding the performance of a teacher in initial teacher professional education (undergraduate student in Language: Portuguese/English) in a course of Introduction to English for Academic Purposes of the program Languages Without Borders, offered at the Federal University of Mato Grosso (known in Brazil by the acronym UFMT). The audio-visual recordings of two classes taught by the teacher were analyzed in order to perceive the differences and effects of the use of the teacher-centered teaching approach and learner-centered teaching approach. These approaches differ a lot, one of them being more traditionalist and focused on how the teacher teaches – teacher-centered approach –, and the other with the main focus on the learners and how they learn – learner or student-centered approach. This research seeks to delineate the features of the two approaches, as well as identify their uses and obtained results. The considerations and experiences of the teacher/researcher are part of this research, along with the effects observed on the learning of the students, in order to encourage a reflection of teaching approaches in English classes.

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KEYWORDS: Learner centered approach; Teacher centered approach; English classes.

Introdução

A presente pesquisa é fruto de minha participação no programa Idiomas

Sem Fronteiras (IsF), como professora de inglês em formação inicial no curso

de graduação em Letras: Português/Inglês. Promovido pelo Ministério da

Educação desde o ano de 2012, o programa tem entre seus objetivos a

internacionalização das universidades federais, por meio de incentivo à

aprendizagem de línguas estrangeiras.

Há também forte incentivo à formação docente dos professores de

língua estrangeira atuantes no programa. Estes docentes, portanto, participam

de reuniões semanais com coordenadores pedagógicos para leitura, reflexões

e discussões de artigos relacionados à docência, planejamento de ações

pedagógicas, entre outras dimensões da formação. Como parte das atividades

relacionadas à formação, o coordenador pedagógico do programa na UFMT

propôs aos professores uma pesquisa de autoanálise das práticas docentes,

sendo este estudo resultado de tal iniciativa.

O Idiomas Sem Fronteiras tem três frentes de atuação junto à

universidade, as quais são ofertadas gratuitamente à comunidade de

estudantes e servidores da universidade: gerenciamento de uma plataforma

online de autoinstrução; aplicação de testes internacionais de proficiência; e

aulas presenciais, que são estruturadas em módulos de oferta contínua.

Professores, graduados e graduandos em Letras-Inglês podem atuar

ministrando aulas no Núcleo de Línguas (NucLi).

Como mencionado acima, as reuniões semanais fomentam debates e

considerações acerca de questões pedagógicas e são conduzidas pelo

coordenador pedagógico. No NucLi da UFMT em Cuiabá, durante o período de

desenvolvimento desta pesquisa, as reuniões eram compostas por sete

professores de inglês – seis graduandos em Letras-Inglês e uma graduada – e

o coordenador pedagógico. Assim, em uma das reuniões durante o ano, foi

proposto aos professores que fizessem uma análise sobre suas próprias

práticas docentes, ponderando acerca de temas pedagógicos que concernem

ao âmbito do IsF.

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Desse modo, a presente pesquisa tem por objetivo a realização de uma

ponderação e análise acerca da utilização das abordagens de ensino teacher-

centered e learner-centered em aulas por mim ministradas no programa. A

definição de tal tema surgiu a partir da observação prévia (por parte do

coordenador pedagógico) de aulas de inglês ministradas por mim no IsF. A

seguir, a fundamentação teórica explicita as duas abordagens discutidas neste

artigo e a seção da metodologia relata a coleta de dados das aulas e os

procedimentos de análise. Já a seção de resultados e discussões apresenta

uma análise detida das gravações das aulas à luz do que foi discutido na seção

de referencial teórico. Por fim, as considerações finais retomam as

contribuições dessas discussões para minha formação inicial como professora

de inglês no IsF.

Embasamento Teórico

Duas centrais abordagens de ensino diferem diretamente em relação a

seus focos: a teacher-centered tem o foco no professor e em como este ensina,

já a learner-centered tem o foco no aluno e em como este aprende. Durante as

últimas décadas, a abordagem teacher-centered vem sendo substituída pela

abordagem learner-centered em alguns lugares no mundo, mas no Brasil ainda

há um grande domínio da abordagem teacher-centered. Nesta, a

responsabilidade em relação ao aprendizado está toda no professor, que tenta

expor e explicar o conteúdo de várias formas possíveis, enquanto os alunos

tentam absorver o conhecimento. Tal perspectiva é explicada na citação

abaixo.

Em uma sala tradicional, estudantes tornam-se aprendizes passivos, ou melhor, apenas recipientes para a sabedoria e conhecimento do professor. Eles não têm controle sobre a própria aprendizagem. Os professores tomam todas as decisões em relação ao currículo, métodos de ensino e diferentes formas de avaliações (AHMED, 2013, p. 22, tradução nossa).

Em contraste, na abordagem learner-centered, os alunos aprendem de

forma ativa, tomando responsabilidade sobre a aprendizagem. O professor não

age como um transmissor ou expositor do conhecimento, mas sim como um

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facilitador, administrador de atividades e auxiliar no desenvolvimento dos

alunos, além disso, ele passa a focar nas necessidades dos alunos.

Em uma sala com abordagem learner-centered, os alunos trabalham em

grupos auxiliando uns aos outros e discutindo suas ideias. Naturalmente, o

ambiente da sala tem um volume sonoro mais alto do que em uma sala com o

método teacher-centered, na qual os alunos costumam fazer as atividades

individualmente. Esta é uma consequência normal na utilização da abordagem

learner-centered e os professores devem se habituar e saber lidar com isso.

Pode ser um problema caso o som gerado pela classe atrapalhe outras turmas

em salas próximas; uma alternativa para esta situação seria colocar os grupos

de alunos sentados bem próximos – diminuindo, assim, o volume da fala deles

para se comunicarem (JONES, 2007).

Na abordagem learner-centered, é necessária a participação ativa dos

alunos nas atividades e discussões, tal que se desenvolva a autonomia dos

estudantes, que não dependem do professor o tempo todo – para saber o

próximo passo, corrigir ou elogiar (JONES, 2007). Essa abordagem surgiu a

partir de uma visão filosófica construtivista de ensino. Nesta perspectiva, os

alunos aprendem fazendo, experimentando e compartilhando, e não

dependendo da sabedoria e capacidade de transmitir conhecimento do

professor (AHMED, 2013). Em cursos de idiomas, há ainda que considerar que

os alunos talvez não tenham outro momento para praticar o uso da língua,

tornando mais importante as atividades e trabalhos em grupo.

Há um grande foco nas necessidades, interesses, capacidades e

experiências dos alunos na abordagem learner-centered. Visa-se a um

ambiente propício para a aprendizagem, que proporcione motivação,

aprendizado e realizações para os alunos (AHMED, 2013), como evidenciado a

seguir:

Weimer (2002) propôs cinco áreas que precisam mudar para que se possa alcançar o ensino learner-centered. Essas áreas são: a escolha do conteúdo, o papel do instrutor, a responsabilidade pelo aprendizado e o poderoso relacionamento entre professor e alunos (AHMED, 2013, p. 24, tradução nossa).

Sendo assim, a escolha do conteúdo deve ser compartilhada com os

alunos e, principalmente, devem-se levar em conta as necessidades deles;

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tópicos que interessem a turma, por exemplo, são mais estimulantes para as

atividades. O processo de avaliações deve ser contínuo e pessoal, e o

relacionamento entre professor e alunos deve ser fortalecido. Desta forma, o

papel do professor é bem diferente do de um professor adepto à abordagem

teacher-centered, principalmente pelo compartilhamento com os alunos da

responsabilidade em relação à aprendizagem.

Na abordgem learner-centered é necessária a realização de uma

preparação antes das atividades em grupos, poisos alunos precisam saber o

que vão fazer na atividade, por que, como e por quanto tempo (JONES, 2007).

Além da apresentação e prática de um novo vocabulário, é propício mostrar

como iniciar a atividade, como, por exemplo, fazendo uma demonstração de

como ela deve ser feita. Ainda, segundo Jones:

Talvez seja preciso lembrar a alunos inseguros que a atividade não é um teste, mas sim uma chance para que pratiquem. Falar inglês é mais importante do que passar por todas as questões: não é uma corrida, portanto eles não precisam ter pressa. Não importa se eles não chegarem ao final da atividade (2007, p. 26, tradução nossa).

Para Jones (2007), antes de iniciar o trabalho em grupos, é interessante

dar um tempo aos alunos para pensar, talvez tomar notas, sobre o que vão

dizer durante a atividade – esse pequeno atraso dá tempo para os alunos

organizarem as ideias, geralmente levando a uma discussão mais interessante.

Após a atividade, é interessante dar um feedback aos alunos,

respondendo perguntas e esclarecendo o que for preciso. Também é

importante dar um retorno quanto ao desempenho dos alunos, além de

comentar erros que tenham sido notados. Até mesmo os próprios alunos

podem sugerir correções e fazer comentários sobre os erros (JONES, 2007).

Na abordagem learner-centered, há o intuito de que os alunos aprendam

a partir de seus próprios erros, além de aprenderem junto com os professores –

há uma troca de experiências e aprendizado entre alunos e professores.

Segundo Ahmed (2013),

nessa abordagem existe o aspecto da colaboração, do suporte e cooperação um com o outro; onde todos os alunos são desafiados assim como apoiados em seu próprio nível de ensino, um aspecto que é essencial mesmo na sociedade fora do ambiente escolar. Os alunos se motivam e apreciam o aprendizado, uma vez que é uma

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atividade na qual eles estão ativamente engajados (AHMED,2013, p. 29, tradução nossa).

Procedimentos como o preparo dos alunos antes das atividades e o

feedback depois são essenciais para a abordagem learner-centered e estão

envolvidos no cerne da diferença entre as abordagens learner-centered e

teacher-centered. Trata-se de deixar os alunos tomarem espaço nas aulas, que

não devem ser ocupadas majoritariamente pelo professor (JONES, 2007).

As duas abordagens de ensino, teacher-centered e learner-centered,

têm suas características próprias e há quem se beneficie de uma ou de outra.

No mais, é interessante notar como a abordagem learner-centered foi

concebida, com o foco no aluno ao invés do professor, como que para suprir

necessidades derivadas da abordagem tradicionalmente utilizada, a teacher-

centered.

Metodologia

Âmbito Da Pesquisa

A pesquisa foi realizada com uma turma de Introdução ao Inglês para

Fins Acadêmicos ofertada pelo NucLi do Programa Idiomas sem Fronteiras, na

UFMT. O curso tem quatro horas de aula semanais, que são divididas em dois

dias da semana (segunda-feira e quarta-feira das 17:00 h às 19:00 h.), com

total de 64 h. Na ementa do curso, estão listadas a compreensão e produção

dos gêneros orais; tópicos gramaticais do nível da oração, frase e texto e

estratégias de leitura e escrita. Além disto, os tópicos abordados são

relacionados ao contexto acadêmico.

A turma é composta por alunos e servidores técnico-administrativos da

UFMT de idades variadas, sendo que seis alunos e uma servidora técnico-

administrativa participaram da pesquisa. Todos os alunos realizaram o TOEFL1

como teste de nivelamento para ingressar no ISF e receberam a classificação

A2, segundo o Quadro Europeu Comum de Referência2. Ainda assim, foi

possível identificar uma considerável disparidade em relação à proficiência dos

alunos na língua, pois alguns demonstravam conhecimento e habilidade no uso

1 Test of English as a Foreign Language ou Teste de Inglês como uma Língua Estrangeira é um

exame que avalia o potencial individual de falar e entender o inglês em nível acadêmico. 2 Quadro Europeu Comum de Referência para Línguas (CEFR) é um padrão internacional

utilizado para descrever as habilidades linguísticas de um indivíduo em uma língua.

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de algumas estruturas, com maior vocabulário, enquanto outros demonstravam

pouco conhecimento e grande dificuldade em memorização de vocabulário e

assimilação de estruturas.

As aulas tiveram início em 11 de julho de 2016 e a coleta de dados para

a pesquisa foi realizada, com consentimento dos alunos, na segunda semana

do curso, nos dias 18 e 20 de julho de 2016.

Método De Pesquisa

Para a realização deste artigo, foi utilizada a metodologia de pesquisa

conhecida como autoscopia, segundo a qual é realizada a gravação de um ou

mais indivíduos para posterior autoanálise das mesmas. Segundo Sadalla e

Larocca (2004),

a palavra “autoscopia” é composta pelos termos “auto” e “scopia”. O primeiro trata de uma ação realizada pelo próprio sujeito e o segundo refere-se a escopo (do grego skoppós e latim scopu), que quer dizer objetivo, finalidade, meta, alvo ou mira. A ideia de autoscopia diz respeito, portanto, a uma ação de objetivar-se, na qual o eu se analisa em torno de uma finalidade (SADALLA; LAROCCA 2004, p. 421).

A autoscopia é, portanto, um procedimento metodológico de duas

partes, sendo a primeira a videogravação de um ou mais sujeitos e a segunda

a autoanálise das gravações. É interessante notar que a autoscopia, além de

um procedimento de pesquisa, é também um instrumento de formação de

professores, pois permite o confronto da imagem de si mesmo, fornecendo um

retorno de suas próprias ações e práticas docentes, possibilitando uma

modificação das mesmas através da percepção de causas e efeitos

(SADALLA, LAROCCA, 2004). Assim,

adotando uma perspectiva interacionista, Rosado (1993) compreende que o sujeito que assiste às videogravações não é um mero telespectador, no sentido passivo do termo. Ele é ativo perante os elementos da recepção videográfica, aos quais atribui sentidos dentro do contexto em que a situação apresentada acontece. Há, portanto, uma atividade psicológica que é subjacente ao processo de recepção televisual. Nessa atividade, o sujeito ressignifica os elementos apresentados, interpretando conteúdos e estabelecendo arranjos particulares, procedendo a articulações e atribuindo certos valores aos elementos, conforme sua bagagem pessoal de experiências e conhecimentos anteriores (SADALLA, LAROCCA, 2004, p. 421-422).

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A utilização da autoscopia como método de pesquisa na formação

docente enseja a análise e reflexão do sujeito sobre o próprio comportamento

em sala de aula. Nesse sentido, o pesquisador é ativo perante a recepção das

gravações, pois o mesmo atua em um processo de autoanálise reflexiva

(SADALLA, LAROCCA, 2004).

Para a utilização da autoscopia nesta pesquisa, foram realizadas

gravações de duas aulas na segunda semana do curso. Cada aula tem um

total de duas horas, sendo possível gravar cerca de uma hora de cada aula,

devido à memória da câmera filmadora. O posicionamento da câmera, no fundo

da sala, foi escolhido de modo a capturar o máximo possível: a professora, o

quadro e alguns alunos. Posteriormente, foi realizada a autoanálise através

dessas gravações, que será discutida adiante.

Análise e Resultados

Esta seção trata da investigação realizada nas gravações audiovisuais

das aulas, com o intuito de identificar e examinar momentos com traços das

duas abordagens evidenciadas, learner-centered e teacher-centered. A

investigação nas gravações foi efeituada pela professora e autora da pesquisa,

o que proporcionou uma autorreflexão, que será detalhada abaixo.

A partir da análise das gravações, foi possível refletir sobre as práticas

docentes e os resultados obtidos com as mesmas. As aulas foram assistidas a

fim de delimitar os momentos caracterizados pela abordagem learner-centered,

bem como os momentos caracterizados pela abordagem teacher-centered. As

reações e atitudes dos alunos assim como as ações da professora foram

analisadas a fim de gerar uma reflexão sobre os resultados observados em

relação à aprendizagem. Logo de início, foi constatada a complexidade de uma

autoanálise audiovisual, pois parte de uma percepção de si mesmo, da voz,

dos gestos, da postura, da maneira de atuar e de ser. Como apontam Sadalla e

Larocca (2004), no seguinte excerto:

[...] o funcionamento de uma análise através do recurso do vídeo não é tarefa fácil para se realizar. Ela envolve um processo de tomada de consciência e reflexão simultânea de variados códigos expressivos: linguagem, metalinguagem, deslocamentos, posturas, expressões faciais, maneirismos, entre outros, tanto de si como das demais

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pessoas envolvidas na situação registrada. [...] Nesse encontro consigo, a pessoa se descobre e se comenta, olha a si como se olhasse a outro, permitindo-se fixar o olhar (Ferrés, 1996). É esse confronto que, paradoxalmente, ajuda a reinstalar o sujeito com todo o seu potencial reflexivo e expressivo (SADALLA; LAROCCA, 2004, p. 422).

Ademais, como dito, foi preciso definir os momentos learner-centered e

teacher-centered. Para isso, foram identificados a princípio os eventos

didáticos em que a professora falava na maior parte do tempo, normalmente

explicando algo no quadro – como gramática ou feedback de estruturas. Esses

momentos foram categorizados como pertencentes à abordagem teacher-

centered, devido à predominância de fala da professora, bem como a ação de

transmissão do conhecimento e inatividade dos alunos. Excluem-se desse

primeiro grupo os casos em que foi preciso tirar dúvidas utilizando o quadro

durante atividades em sala. Nesses momentos, a classe mostrou reagir e

interagir ativamente, fazendo a relação com a abordagem learner-centered.

Para a delimitação do segundo grupo, foram observados os momentos

em que os alunos falavam na maior parte do tempo, com a professora agindo

como auxiliar/instrutora no fluir das atividades – estes foram classificados como

de abordagem learner-centered. Também foi identificado o tempo gasto, em

cada gravação, com cada abordagem, o que chamamos de student’s talking

time e teacher’s talking time – que são, grosso modo, relacionados às

abordagens learner-centered e teacher-centered, respectivamente.

O tempo estimado para cada um deles está listado na Tabela 1, a

seguir, assim como o tempo total de gravação, sendo que não foram

considerados os tempos gastos para ouvir gravações em atividades de

listening.

Tabela 1 - Tempos gastos nos dois grupos e tempo total de gravação

Student’s talking time

Teacher’s talking time

Total recording time

18/06/2016 40 min 22 min 1 h 06 min

20/06/2016 30 min 23 min 58 min

Fonte: Dados coletados a partir das gravações das aulas no ano de 2016. Tabela elaborada pelos autores.

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De modo geral, foi percebido que nos momentos teacher-centered os

alunos demonstraram apatia e desinteresse, além de não fixarem bem as

informações, o que foi notado nos exercícios posteriores a explicações no

quadro, como neste momento de feedback teacher-centered, destacado nesta

transcrição:

[Professora escreve frases no quadro]. Professora: What do you think about the first question? [Longo silêncio] Prof.: Como podemos fazer essas frases na negativa? A primeira já tem um exemplo. [Depois de alguns segundos] Aluno 01: I don't sleep a lot. Prof.: Exactly! [Escreve a sentença no quadro]. Prof.: O auxiliar aqui entra pra fazer a estrutura negativa. Pois aqui temos um verbo que não dá pra fazer a negativa com ele, como o verbo to be. [Sala muito quieta, alunos apáticos]. (Gravação em vídeo na data 18/06/2016).

Todavia, a dinâmica foi diferente no caso das atividades com uso de

novas estruturas/vocabulário, pois os alunos tinham de tentar entender o

contexto e depois formular perguntas para a professora, mostrando melhor

aproveitamento e eficiência – esse tipo de atividade foi considerado como

learner-centered, pela postura ativa dos alunos e pela professora no papel de

instrutora. Essa abordagem é notada no momento transcrito a seguir:

[Durante uma atividade de conversação] Al. 01: Pra responder eu uso o do aí como verbo? Prof.: Vamos ver algumas respostas possíveis. How often do you

remember your dreams? O que vocês responderam, pessoal? Al. 02: Eu respondi I often remember my dreams. Prof.: Very good! Al. 01: Eu coloquei I often remember, mas fiquei em dúvida se tinha

que por o do. Prof.: Great! Está certo, nesse caso não precisamos usar o do.

(Gravação em vídeo na data 18/06/2016).

As atividades de produção e conversação em grupos de três alunos ou

mais foram consideradas as mais produtivas durante a análise. Nessas

atividades, os alunos ajudavam uns aos outros, tirando dúvidas, o que se

mostrou uma boa prática. As atividades nas quais os alunos demonstraram

maior interesse foram as que eles tinham de falar sobre eles mesmos, suas

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vidas, gostos etc. Outra consequência positiva foi a criação de laços de

amizade, estabelecendo um ambiente confortável e seguro para que se

“arriscassem” no inglês. Pode-se observar tal resultado na transcrição de um

momento durante uma atividade de feedback learner-centered, evidenciado

abaixo :

Prof.: Ok, now, let’s do a pair work. Right? In this part of the book.

[Aponta um exercício no livro]. Ask and answer the questions in exercises 4a and exercise 6. Façam as perguntas aos colegas, ok? Pensem em suas respostas antes de iniciar o diálogo. Vocês podem usar o simple present e os adverbs of frequency que vimos na aula passada. Ok, então, vamos nos preparar para fazer o diálogo. [Alunos conversam em grupos sobre o exercício, auxiliando uns aos outros, vez ou outra perguntando algo para a professora]. Al.01: Como se fala half? Prof.: Half. Sem o som do l, ele é mudo. Al.01: Half. Prof.: Right! [Alunos começam a conversação e se divertem com perguntas pessoais]. Al. 01: Do you take a shower in the morning or in the evening? Al.02: I always take a shower in the morning and in the evening! And in the afternoon sometimes! [Al. 01 e 02 dão risada]. (Gravação em vídeo na data 20/06/2016).

Na primeira gravação, foi notado que a professora por vezes esperava

que os alunos respondessem algo ou terminassem as atividades com mais

rapidez, conforme se evidencia na transcrição:

[Após ouvir a gravação de uma atividade de listening pela terceira vez] Prof.: Ok, let's go! Or... Do you want to listen again?

[Al. 01 e 02 dão risada]. Al. 01: Era bom! É que aqui não tá na ordem das perguntas, daí fica

difícil e a gente se perde. Por que fala aí até a gente achar o que estava falando a gente se perde. Prof.: Ok, mas até que parte vocês conseguiram responder? Al. 02: A 1 a gente não respondeu. Prof.: E na segunda lacuna? Al. 02: Adults. Prof.: Right! Let's listen one more time. (Gravação em vídeo na data 18/06/2016).

Tal problema foi corrigido no segundo dia de gravação, em que houve

mais tempo para que fizessem as atividades, considerando os diferentes ritmos

de aprendizagem que o ensino learner-centered impõe.

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Em relação aos feedbacks, notou-se que os que foram realizados no

quadro foram pouco efetivos, com ociosidade e desinteresse da maioria dos

alunos, nos momentos teacher-centered. Já os feedbacks realizados nos

momentos learner-centered, através de atividades, geraram maior participação

e entusiasmo, como percebido nas transcrições; novamente, os alunos

precisavam elaborar suas perguntas para tirar dúvidas, sendo vantajoso para a

aprendizagem. Essas atividades traziam o conteúdo a ser relembrado, de

forma que os alunos tivessem de usar a memória e perguntar uns aos outros

ou para a professora, com posterior correção coletiva.

Como evidenciado, os dados recolhidos a partir da observação das

gravações audiovisuais apontam para um melhor aproveitamento da aula nos

momentos learner-centered. Neles, foi possível observar um interesse e

motivação por parte dos alunos ao executarem as atividades. Interesse este

que deriva da tomada de atitude dos alunos em relação a sua própria

aprendizagem. Além disso, é possível notar que a abordagem learner-centered

pede uma postura dos professores diferente da tradicionalmente utilizada, o

que reclama um aperfeiçoamento dos profissionais acerca dessa abordagem.

Na seção abaixo, são apresentadas as reflexões finais acerca da pesquisa.

Considerações

De acordo com os resultados analisados, foi possível notar que os

momentos de abordagem learner-centered foram mais frutíferos do que os

momentos teacher-centered, devido à participação ativa dos alunos e maior

interesse demonstrado, bem como necessidade de raciocínio sobre estruturas

e articulação para fazer perguntas.

O melhor proveito no uso da abordagem learner-centered está

diretamente ligado com os objetivos, necessidades e contexto da turma que

participou da pesquisa. O número reduzido de alunos e a finalidade do curso

influenciaram diretamente no desenvolvimento das aulas, de forma a favorecer

a abordagem learner-centered. Os alunos se sentiam mais confortáveis com as

atividades em grupos, que eram facilmente monitoradas pela professora devido

ao pequeno número de alunos, o que lhes permitia praticar o conteúdo

aprendido com os colegas.

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O escopo do programa Idioma Sem Fronteiras, que visa à

internacionalização das universidades federais, foi determinante para o

desenvolvimento do experimento. A análise sobre as práticas docentes através

do uso das abordagens teacher-centered e learner-centered durante as aulas,

foi crucial para a formação docente da professora. O método de análise

autoscópica se mostrou revelador, pela necessidade de o pesquisador se

autoanalisar em gravações audiovisuais, confrontando a si mesmo.

Assim, a presente pesquisa e sua análise tiveram impacto,

principalmente, na percepção das próprias práticas docentes pela

pesquisadora, proporcionando uma autorreflexão preciosa já nos primeiros

anos da formação inicial como professora de inglês. Para isto, o procedimento

autoscópico foi fundamental e sintomático, propiciando um confronto pessoal e

derivando em reflexões acerca de práticas docentes, bem como de outras

questões concernentes ao âmbito se sala de aula.

Referências AHMED, K. A. Teacher-Centered Versus Learner-Centered Teaching Style. The Journal of Global Business Management, vol. 9, n. 1, p. 22-34, 2013. JONES, Leo. The Student-Centered Classroom. New York: Cambridge University Press, 2007. SADALLA, A. M. F. A.; LAROCCA, P. Autoscopia: um procedimento de pesquisa e de formação. Educação e Pesquisa, São Paulo, vol. 30, n. 3, p. 419-433, 2004.

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A MÚSICA EM INGLÊS COMO FERRAMENTA PARA DEBATES E

REFLEXÕES TRANSFORMACIONAIS:

UMA ANÁLISE CRÍTICA DO DISCURSO

Betsemens Barbosa de Souza MARCELINO

Universidade do Estado de Mato Grosso

Solange Maria de BARROS

Universidade Federal de Mato Grosso

RESUMO: Este trabalho apresenta parte do resultado de um estudo de dissertação de mestrado sobre a música3 e a sua influência na vida de jovens e adolescentes envolvidos no Projeto SUPERHAÇÃO que visa à prevenção do uso de drogas, e está em funcionamento na Escola Estadual Mário Spinelli, em Sorriso-Mato Grosso. Estudos mostram que a música em língua inglesa tem assumido espaço cada vez mais significativo na vida dos alunos, o que justifica a evidente relação afetiva e a forte vontade de que a mesma esteja presente nas aulas de inglês. Assim, este trabalho, na perspectiva da Análise Crítica do Discurso (ACD) (FAIRCLOUGH 2001; 2003), na linguística sistêmica-funcional (HALLIDAY 1994), na visão identitária na pós-modernidade (HALL, 2006 e BAUMAN, 2001), bem como estudos sobre o papel social da música (VIGOTSKY ,1998 e MAHEIRIE, 2003)) evidenciam que a prática musical em sala pode ser um espaço de debates reflexivos que atingem aspectos mais profundos do caráter humano de cada sujeito, agindo diretamente em elementos de sua identidade. Assim, a música é indicada como um mecanismo potencial de enfrentamento das adversidades sociais numa visão crítica e emancipatória. PALAVRAS-CHAVE: músicas em inglês; Identidade; Transformação. ABSTRACT: This paper presents the result of a study about music and its influence in the life of youth and adolescents who are involved on the SUPERHAÇÃO Project, which aims preventing drug use and has been running at the public school Mario Spinelli in Sorriso, Mato Grosso State, Brazil. Many researches show that English-language music has taken on an increasingly significant role in students' lives; this fact justifies their evident affective relationship with it and the strong desire for music to be present in English classes. Therefore, this study, in the perspective of Critical Discourse Analysis

3 Mantém-se no presente trabalho a utilização do termo música tanto ao se referir à formação

letra/ canção, quanto ao instrumental, por se entender que comporta de forma mais completa os sentidos e significados que a mesma assume nas várias situações abordadas, além de se aproximar mais daquilo que os próprios sujeitos de pesquisa adotam como definição do objeto de estudo.

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(FAIRCLOUGH , 2001; 2003), Systemic-functional linguistics (HALLIDAY ,1994)-,Identity view in postmodernity (HALL, 2006; and BAUMAN, 2001)-, as well as researches on the social role of music (VIGOTSKY ,1998; and MAHEIRIE, 2003), reveal that in-room music practice can be a space for reflective debates that reach deeper aspects of the human character of each individual, by acting directly on elements of his identity. Thus, music is indicated as a potential mechanism for facing social adversities in a critical and emancipatory view. KEYWORDS: English-language music; Identity; Transformation.

Introdução

Esta pesquisa surgiu a partir do interesse em conhecer a relação dos

jovens e adolescentes com a música. Não que ela não esteja presente em

outras etapas da vida, mas, nesta faixa etária, aparenta ser um elemento

fundamental para os processos de identificação. Optei por investigar se a

música em Língua Inglesa (doravante LI) exerce alguma influência na vida

destes indivíduos, considerando que a mesma se faz muito presente no

cotidiano dos jovens, em virtude dos próprios rumos do mundo globalizado em

que vivemos.

Como afirma Zygmund Bauman (2001), uma das características da

sociedade pós-moderna é exatamente seu aspecto consumista, o desejo de

posse. Pode-se dizer que a identidade dos jovens da modernidade está

estritamente relacionada a uma sensação de empoderamento por meio do

consumo, e podemos perceber isso quando os vemos “consumir” as músicas

destes artistas com os quais eles têm contato nos filmes que assistem, nos

videogames que jogam, que estão estampados nas roupas que usam, e assim

por diante

Ao pensarmos nas formas de organização dos adolescentes na

atualidade, percebemos que estes buscam identificações, refugiando-se sob a

sombra de diversos elementos que possibilitam atribuir significação às suas

realidades e, dentre eles, destaca-se, fortemente, a música. Fato é, há muito

tempo, que a música exerce um papel fundamental na vida de qualquer ser

humano, como já afirmava o grande estudioso Vigotsky (1998, p. 315), música

é a “técnica social do sentimento, um instrumento da sociedade através do qual

se incorpora ao ciclo da vida social os aspectos mais íntimos e pessoais do

nosso ser”.

Como toda pesquisa que se paute nos pressupostos teóricos da Análise

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Crítica do Discurso (ACD) precisa estar comprometida com a transformação

social, o ponto de partida em relação à perspectiva metodológica consiste em

se debruçar sobre um problema social. Neste ínterim, tomei conhecimento de

um projeto em funcionamento em uma escola de Sorriso que se tornaria o

espaço ideal para o desenvolvimento desta pesquisa. Sendo assim, este artigo

apresenta o resultado de um estudo sobre a música e a sua influência na vida

de jovens e adolescentes envolvidos no Projeto SUPERHAÇÃO, que visa à

prevenção do uso de drogas e está em funcionamento na Escola alvo desta

pesquisa.

Vale ressaltar que este estudo não busca a compreensão de estratégias

cognitivas de memorização de vocabulários e regras gramaticais da LI. O meu

interesse é compreender se a música exerce algum tipo de influência nos

processos de identificação dos jovens e adolescentes envolvidos ou que estão

próximos a pessoas inseridas em contexto de violências, alcoolismo, uso de

drogas, dentre outros problemas sociais, voltando um olhar ontológico para os

mecanismos em funcionamento na formação destes alunos enquanto sujeitos.

Somente a partir de então, baseado em resultados, será possível a indicação

de estratégias significativas do ensino da LI que abarquem diretamente as

questões emotivas envolvidas neste processo e indiquem mecanismos

potenciais de enfrentamento das adversidades sociais, numa visão crítica e

emancipatória.

APORTE TEÓRICO

Música e identidade

A música, como estratégia de aprendizagem, pode atingir aspectos

afetivos e também estratégias cognitivas e metacognitivas, e os estudos

empíricos sobre a música na aquisição de segunda língua mostram que esta

auxilia, e muito, na memorização de vocabulário e estruturas da língua, além

de ser uma maneira muito eficiente de se trabalhar aspectos fonéticos.

De forma abrangente, percebe-se que, para a maioria dos professores e

para alguns pesquisadores, trabalhar com música no contexto de ensino-

aprendizagem significa ater-se aos elementos intrinsicamente linguísticos, mais

especificamente, gramaticais (MARCELINO, 2015). Alguns até mesmo chegam

a afirmar que esta seja uma abordagem necessária, no sentido de que o aluno

28

não venha confundir tais momentos como forma de o professor “matar o

tempo”, então, disseca-se a letra da música de forma a encaixá-la nos objetivos

da aula a ser ministrada.

Porém, é de conhecimento do senso comum que a música propicia, de

alguma maneira, a vazão de nossas emoções, e também o desenvolvimento de

nossa capacidade de reflexão. E, cada vez mais, estudos de diversas áreas

têm comprovado essa estreita conexão, como é o caso da musicoterapia

utilizada como componente de tratamento de diversas doenças, principalmente

as mais críticas, bem como a Educação Física que tem comprovado a eficácia

da música no estado de ânimo e disposição física dos indivíduos (NAKAMURA

et al, 2008). A autora Kátia Maheirie afirma que:

Compreendendo o sujeito como constituído e constituinte do contexto social no qual está inserido, é possível qualificar a música como uma forma de comunicação, de linguagem, pois por meio do significado que ela carrega e da relação com o contexto social no qual está inserida, ela possibilita aos sujeitos a construção de múltiplos sentidos singulares e coletivos. (MAHEIRIE, p. 148, 2003)

A autora diz que a música constitui-se um tipo de linguagem reflexivo-

afetiva, pois, em primeiro contato, somos atingidos em nossa afetividade, então

são despertados sentimentos e emoções. E, quando o sujeito está

“mergulhado” na música, a materialidade, a realidade física a sua volta, passa

a ser imbuída de emoções, ganhando sentidos que estão carregados de

subjetividade, regidos por consciências afetivas.

Isso significa dizer que, a emoção está estruturada em relações

imaginárias que, por sua vez, só existem porque estão validadas em um

sistema de crenças. E, “este mágico, que nada mais é que a característica

básica do imaginário, pode vir a reger a percepção de um sujeito sobre outro,

pode vir a reger as relações interpsíquicas dos sujeitos, fazendo-se presente e

muito forte no contexto social.” (MAHEIRIE, p. 150, 2003).

Desta forma, acentua-se mais ainda a preocupação que se deve ter

sobre as possíveis influências que determinadas músicas podem ocasionar na

vida destes jovens. Assim, é imprescindível que um professor que se proponha

a trabalhar com músicas em sala de aula atente-se não só à materialidade

29

formal da canção, mas esteja ciente de estar lidando com uma ferramenta que

tem ação direta nos aspectos psicológico, social e emocional de seus alunos.

Contudo, em uma perspectiva transformacional, apresenta-se também como

espaço ideal para se empreender ações reflexivas que visem mudanças mais

profundas, que refletirão no próprio processo identitário destes sujeitos.

Levando em conta o caráter reflexivo da música, as pesquisadoras

Maheirie (2003) e Nogueira (2009) apontam que esta se torna também um

elemento ideológico e político. Ao estar frente a este elemento artístico, e com

a sensibilização que sofrem em seus aspectos afetivos ao vivenciarem as

histórias contadas nas músicas, os sujeitos são impulsionados à reflexão e,

assim, a desejarem ações que possam modificar esta realidade para um futuro

melhor.

Linguística Sistêmica-funcional

Neves (1994) ressalva que o funcionalismo, dentro de sua

categorização, apresenta três faces distintas: o conservador, o extremista e

conservador moderado. Esta última, reconhece a noção central de estrutura,

enfatiza a importância da semântica e da pragmática para análise da estrutura,

mas propõe uma análise distinta daquela proposta pelos formalistas. Nestes

quesitos, encaixa-se a Gramática Sistêmica-Funcional (GSF) de Halliday

(1994), que será utilizada como modelo de análise textual no presente trabalho.

Halliday (1994) explicita que os falantes não usam a língua apenas como

troca de som, palavras ou sentenças, mas como uma forma de se significar e

dar significado ao mundo. Assim as três metafunções postuladas por ele

permitem identificar a maneira como o discurso está organizado, fornecendo

explicações do uso da língua partindo da necessidade, da intenção e do

contexto do falante. As três metafunções funcionam simultaneamente no

discurso, e são assim definidas por Resende e Ramalho (2006, p 57):

Função ideacional da linguagem é sua função de representação da experiência, um modo refletir a “realidade” na língua: os enunciados remetem a eventos, ações, estados e outros processos da atividade humana através de relação simbólica. (...) A função interpessoal refere-se ao significado do

ponto de vista de sua função no processo de interação social da língua como ação. (...) trata dos usos da língua para

30

expressar relações sociais e pessoais. (...) A terceira função apresentada por Halliday é a textual: aspectos semânticos,

gramaticais e estruturais que devem ser analisados no texto com vistas ao fator funcional.

Para a presente investigação, serão de extrema valia as especificações

das metafunções interpessoal e ideacional, pois retratam a maneira como

são estabelecidas as relações de interação comunicativa, onde o falante

procura posicionar-se e posicionar os demais, assumindo papéis sociais e

realizando significados interpessoais. Assim, ficam em evidência valores,

julgamentos e argumentos, validação, aceitação ou negação, elementos estes,

presentes nas trocas de informação e de conhecimento, sendo percebidos

quando da visualização do sistema de modo (modulação e modalidade) e do

resíduo.

Conforme Halliday (1994 Apud PAPA 2008 p. 43), “a metafunção

ideacional se relaciona à variável de registro (Campo), sendo realizada pelo

sistema de transitividade”. Assim, cada proposição oracional consiste em três

elementos: (i) o processo; (ii) os participantes; (iii) as circunstâncias associadas

ao processo.

O processo e os participantes são obrigatórios, sendo o primeiro

tipicamente representado por um grupo verbal e o segundo por grupos

nominais que podem tanto praticar quanto receber a ação. As circunstâncias

trazem informações adicionais e, geralmente, são representadas por grupos

adverbiais ou frases preposicionais.

Estes elementos de transitividade nos ajudam a compreender a maneira

como o falante expressa sua experiência com relação a situações do mundo

externo, e também seu próprio mundo interno, seus pensamentos,

sentimentos, etc. E, neste ínterim, sob a perspectiva da metafunção ideacional,

utilizamo-nos então do conhecimento sobre as especificações de cada

processo para compreendermos a maneira como essas experiências são

retomadas na materialidade textual.

Há seis tipos de processos, sendo três principais (Material, Mental e

Relacional) e três intermediários (Comportamental, Verbal e Existencial). De

acordo com Halliday (1994 Apud PAPA 2008), os processos podem assim

serem resumidos:

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Processos Materiais: referem-se a nossa experiência no mundo físico,

ações, ato de “fazer”, como em trazer, buscar, etc. Configuram-se em torno de

dois participantes principais: Ator e meta, o primeiro realiza a ação (sendo

obrigatória sua presença, mesmo que não seja mencionado na proposição); e a

meta, aquilo que é modificado pela ação (objeto direto da gramática

tradicional). Um exemplo de processo material de ação pode ser encontrado

em “os professores de inglês trazem músicas para a aula”.

Processos Mentais: Referem-se ao processo de sentir/experenciar

algo, e relacionam-se com a cognição (saber), a percepção (sentir) e a afeição

(gostar). É composto de um ser consciente que vivencia o processo

(Experenciador) e aquilo que é sentido (Fenômeno). Um processo mental de

cognição está em “Eu entendo que os alunos gostem de música”.

Processos Relacionais: São processos de ser,e envolvem dois papéis:

de Portador ou de Atributo nos processos de atribuição, como em “Maria(P) é

linda (A)”; outro papel é de Identificador, como “eu sou uma professor de

inglês.”

Os processos intermediários são: os comportamentais que abarcam

comportamentos físicos e psicológicos; os verbais que são processos de dizer

e os processos existenciais que contêm apenas um participante, o existente,

expresso tipicamente pelos processos de haver, existir e ter.

Neste estudo, serão focados os processos mentais e relacionais, pois se

espera compreender a maneira como os sujeitos da pesquisa representam

suas experiências individuais e sociais, especialmente, no que tange em suas

relações com a música, de modo a aferir o papel desempenhado pela mesma

em seus processos identitários. Assim, principalmente pelos processos

relacionais, poderemos compreender quais são os atributos relegados à

música, para então sabermos sua função dentro do complexo processo

identificação destes indivíduos.

Análise Crítica do Discurso

Convencionalmente, considera-se a ACD como uma ciência crítica de

linguagem, sendo uma teoria e exercendo, em concomitância, a função de

método de análise. Por esta razão, é considerada transdisciplinar, pois

operacionaliza conceitos tanto da Linguística quanto das Ciências Sociais.

32

Ressalta-se ainda a forte influência que a ACD recebe das concepções do

Realismo Crítico, que tem sua máxima representação em Roy Bhaskhar,

concebendo as concepções e o funcionamento de estrutura social,

mecanismos e eventos, bem como ressaltando a profundidade ontológica das

ações humanas.

Procura-se, portanto, compreender a forma como o uso da linguagem

está submetido a forças da estrutura social, mas o diferencial teórico está

exatamente na relação dialética que se estabelece: o discurso aqui é definido

enquanto prática de representação, mas também como um meio de ação pelo

qual transformações são estabelecidas. Já a concepção de "discurso" remete

à visão funcionalista, sendo definido enquanto linguagem em uso, contrário ao

formalismo que o vê apenas como unidade acima da sentença. O próprio

Fairclough (2003, p. 124) faz questão de enfatizar que:

The term ‘discourse’ is used abstractly (as an abstract noun) for the domain of statements, and concretely as a ‘count’ noun (a ‘discourse’, ‘several discourses’) for groups of statements or for the ‘regulated practice’ (the rules) which governs such a group of statements. (…) I see discourse as a way of representing aspects of the world – the processes, relations and structures of the material world, the ‘mental world’ of thoughts, feelings, beliefs and so forth, and the social world4.

Prossegue o autor afirmando que aspectos particulares do mundo serão

representados de formas diferentes, assim, diferentes discursos filiam-se a

diferentes perspectivas do mundo, que por sua vez estão associadas às

diferentes relações que as pessoas mantêm com o mundo, assim como as

suas identidades sociais e pessoais. O discurso, portanto, não só representa o

mundo como ele é visto, mas é também projetivo, imaginário, representando

possíveis mundos que são diferentes do atual, e entrelaçados a projetos de

transformações que tomam direções particulares.

A partir das identificações de Halliday(1994), Fairclough(2003)

recontextualiza os conceitos, preferindo referir-se às funções enquanto

4 O termo discurso é usado abstratamente (como um substantivo abstrato) para o ‘domínio dos

enunciados’, e concretamente como um substantivo contável (‘um discurso’, ‘vários discursos’) para grupos de enunciados ou para ‘prática regulada’ (as regras) que governa um determinado grupo de enunciados. Eu vejo o discurso com forma de representação de aspectos do mundo- os processos, relações e estruturas do mundo material, o ‘mundo mental’ de pensamentos, sentimentos crenças e assim por diante, além do mundo social. (TRADUÇÃO DA AUTORA.)

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“significado”, postulando assim: Significado Representacional (Metafunção

Ideacional); Significado acional e gênero (Metafunção Textual); Significado

identificacional e estilo (Metafunção Interpessoal). Este último significado,

especificamente a noção de estilo, é de fundamental importância para o

presente trabalho, pois nos permitirá analisar os aspectos discursivos da

identidade dos atores sociais envolvidos na pesquisa. Nesta categoria,

essencial ao presente estudo, analisa-se a avaliação, que inclui sentenças que

exprimem um juízo de valor e relação afetiva, podendo se apresentar de

maneira explícita ou mais subjetiva; a modalidade, que envolve o entendimento

que o falante tem sobre as probabilidades e obrigatoriedade daquilo que diz,

principalmente, pelo uso de verbos, advérbios modais e adjetivos dentro da

polaridade negativo/positivo; e a metáfora, defendida como base estruturante

do pensamento, indica a maneira como o falante se identifica, ou seja, o uso de

determinada metáfora representa filiação a uma determinada forma de se

significar no mundo e não outra.

Metodologia

No trabalho original, além do caráter qualitativo de pesquisa (DENZIN E

LINCOLN, 2006), utilizei a abordagem quantitativa (FALCÃO E RÉGNIER,

2000) aplicando um questionário a 174 alunos de duas turmas de 1º ano, duas

turmas de 2º ano e duas turmas de 3º ano do Ensino Médio, período matutino,

da Escola Estadual Mário Spinelli, com faixa-etária entre 13 a 21 anos. Estes

dados foram quantificados e transformados em gráficos.

De acordo com Gil (1989), a entrevista é uma das técnicas mais usada

no âmbito das ciências humanas, pois permite uma profunda coleta de dados

acerca do comportamento humano referente aos mais diversos aspectos da

vida: é flexível, e além de os dados poderem ser quantificados, pode-se

também apreender outros fatores como a expressão corporal e o próprio tom

de voz. Considerando a amplitude desta técnica, optei por utilizar entrevista

semi-estruturada com oito sujeitos envolvidos no contexto do projeto

SUPERHAÇÃO, sendo uma professora de inglês, dois agentes multiplicadores

(auxiliares do projeto) e cinco alunos considerados envolvidos, ou próximos, a

um contexto de uso de drogas. Estes estão identificados por nomes fictícios de

modo a preservar suas identidades, no entanto, como o presente texto se trata

34

de um recorte, nem todos os dados ou sujeitos da pesquisa estarrão

mencionados na análise a seguir que, por sua vez, se pauta nos pressupostos

da GSF (HALLIDAY 1994) e da ACD (FAIRCLOUGH, 2003).

A professora Pedrina é formada em biologia, mas por mais de 20 anos

morou nos Estados Unidos e por esta razão assume também algumas aulas de

inglês na escola onde atua. É uma professora muito envolvida com o projeto e

se preocupa em conversar com os alunos sobre as temáticas mais agravantes.

Devido ao conhecimento de sua área de formação, contribui muito na

identificação dos usuários e nas ações preventivas.

Pedro é um dos agentes multiplicadores, está no terceiro ano e

participou ativamente do projeto quando cursava o 1º ano. Sua decisão em

participar baseava-se na vontade de ajudar alguém muito próximo que estava

envolvido e, ao se inserir no contexto do projeto, aumentou sua vontade de

ajudar outras pessoas.

Junior é aluno novo na escola, cursa o 2º ano do Ensino Médio, na

época da entrevista estava apenas há dois meses na cidade e ainda não

conhecia o projeto. Era um dos casos mais graves de envolvimento explicito e

assumido com substâncias químicas, inclusive revelou ter saído da cidade de

origem por conta de desavenças. Mostrava-se visivelmente alterado,

apresentando grande dificuldade em se concentrar nas perguntas, mas

respondeu em conformidade ao esperado.

Jonas é colega de Junior, também do 2º ano do Ensino Médio, possui

um histórico de envolvimento com situações problemáticas no contexto da

escola e também envolvimento com entorpecentes.

Posicionamento dos sujeitos

Apresentaremos agora alguns dados identificados, tanto nos

questionários, quanto nas entrevistas realizadas com sujeitos envolvidos no

projeto SUPERHAÇÃO, onde foi desenvolvida a pesquisa. Trata-se de

repostas referente à possibilidade de se trabalhar com música em inglês na

sala de aula para debates e discussões sobre temáticas sociais, sobre o uso de

drogas, no caso do projeto SUPERHAÇÃO e como isso poderia ser efetivado.

Analisemos então a fala da professora Pedrina sobre este assunto:

35

Então, alguns sabem mesmo o que a banda já passou, já viveu e também pelo fato deles...como eu disse anteriormente eles se identificam muito com os personagens da.. né? da banda, ou do cantor da música. E algumas músicas traz diversos temas né? Que dá pra gente parar e analisar e trazer também pra realidade deles. Eles também podem

fazer paródias, né? Com as próprias letras, é..., com as músicas que eles curtem muito, então eu penso que sim, é possível trabalhar sim. (Entrevista em 06/11/2014)

Aqui a professora inicia sua fala retomando o relacionamento íntimo dos

alunos com as músicas em inglês, por meio do processo mental ‘sabem’, ela

mostra que o interesse é tanto que extrapola o momento de curtição, levando-

os a se aprofundarem nos acontecimentos da vida dos artistas. Assim, os

alunos ‘sabem’ tudo que já aconteceu com suas bandas e cantores, o que nos

leva ao processo mental ‘identificar’ que está posto como um resultado desta

busca: ao gostarem da música os adolescentes procuram saber mais sobre os

cantores e acabam criando um laço afetivo imaginário com tais componentes,

desta forma, ‘identificam-se com os personagens’ musicais.

Identificar-se com algo presume a ideia de semelhanças, o que significa

dizer que tais cantores se tornam então modelos de comportamento para os

jovens. Porém, se percebermos atentamente a fala da professora, veremos que

ela diz ‘personagens’ e não pessoas, como se, para ela, os artistas, na

verdade, não fossem o que aparentam ser, estivessem apenas representando

um papel que, por conseguinte, será incorporado por seus admiradores. Neste

sentido, entende-se que nem tudo que está posto na mídia é real, por isso a

razão do cuidado na escolha do material a ser trazido para sala, antes é

preciso um processo minucioso de escolha, como diz Pedrina, algumas

músicas realmente trazem estas temáticas e, portanto, ‘dá para trazer’ para os

alunos, mas antes é preciso ‘parar’ e ‘analisar’ este conteúdo.

O processo mental ‘penso’ finaliza a fala da docente indicando que ela

assume a posição favorável ao uso das músicas em inglês para o contexto do

Projeto, mas não de forma aleatória, e sim, como já dito, cuidadosamente

planejada. Por isso ela ‘pensa’ que sim, e não ‘acha’. Pensar presume uma

atitude mais centrada, exige esforço e conhecimento por parte do professor,

para escolher, dentre ‘as músicas que eles curtem muito’, aquelas que possam

servir ao propósito.

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Pedro, um dos alunos ativos, engajado no projeto como auxiliador,

mantém também uma posição favorável e positiva:

Utilizar música que tenha letra marcante, explicar porque aquela letra foi desenvolvida daquela forma através do que o artista colocou, no caso trabalhar bastante também cada ponto especificado por ela, as várias partes da música... as entrelinhas na verdade e mostrar que na verdade que existe sim, um meio de conseguir reverter todos problemas que as pessoas enfrentam, até mesmo o uso das drogas, na verdade é um incentivo, pode até não ser só a música, como as pessoas, elas estão de acordo a ajudar a buscar melhorar a vida deles. (Entrevista em 06/11/2015)

Para este sujeito, requisito primeiro é a letra da música escolhida que

tem que ser ‘marcante’, este adjetivo qualificador nos indica que para ser

trabalhada em sala a música deve servir a uma função mais profunda do que

divertimento e curtição, a letra precisa ser forte o bastante para ‘marcar’ a vida

das pessoas. Esta assertiva nos remete à fala anterior, da professora Pedrina,

pois considerando o que já sabemos da forte influência da música em inglês na

vida dos jovens, a escola serviria então ao papel de mostrar-lhes quais destas

podem ajudá-los no enfrentamento das situações vivenciadas, funcionando

como um norte de ações.

Pedro prossegue indicando qual a melhor abordagem, que consiste em

‘trabalhar bastante cada ponto da música’, o advérbio ‘bastante’ tanto pode dar

ideia de quantidade quanto de intensidade, pode-se abordar cada ponto várias

vezes, ou cada um de maneira intensa e profunda. Mas, o que importa mesmo

são as ‘entrelinhas’, ou seja, para este sujeito, a mensagem em si não está

dada, é preciso todo um processo analítico, propiciado pelo professor, para que

os alunos cheguem à compreensão dos sentidos ali implícitos. Só assim, de

posse destes sentidos, o sujeito perceberá então a possibilidade de reversão

de problemas, ‘até mesmo o uso das drogas’. Esta última sentença de Pedro

mostra-nos que seu entendimento é que as drogas constituem um problema

em proporções mais abrangentes, ele não a cita com os demais problemas, é

‘um’ problema a parte, mas, mesmo este, a música pode reverter.

Pedro, no entanto, termina sua fala com uma ressalva: ‘pode até não ser

só a música, como as pessoas’, ou seja, a música tem sim sua função e seu

‘poder’, digamos assim, mas depende também das pessoas buscarem por

37

melhorias. Assim, entendemos que para que haja de fato mudanças, este

sujeito precisa querer. Como bem afirma Fairclough (2003a), a mudança na

vida das pessoas depende inteiramente da reflexibilidade e capacidade de

cada um em se tornar um agente de mudanças, pessoais e sociais. E já

afirmara Freire (1970, p. 37), que “a realidade social, objetiva, que não existe

por acaso, mas como produto da ação dos homens, também não se transforma

por acaso. (...) transformar a realidade opressora é tarefa histórica, é tarefa dos

homens. ” Ressalva-se, assim, que o processo emancipatório ocorre em

contexto individual, num movimento de dentro para fora.

Jonas, aluno identificado como alvo do projeto por conta de seu histórico

de envolvimento com drogas e afins, ao ser indagado se a música seria um

caminho para se trabalhar a conscientização dos jovens, afirma:

Seria também, por que aqui o pessoal... tem bastante RAPs que fala bastante a realidade. Aquele goleiro o...goleiro macaco, se não me engano é do grêmio, ele tava falando numa entrevista que conseguiu superar os preconceito, bullying, por causa do RAP, né, tipo ajuda bastante essas músicas aí. (Entrevista em 06/11/2014)

Retomamos aqui o processo existencial ‘tem’, na fala de Jonas, que

indica a existência de um tipo de música que ‘fala bastante a realidade’: o RAP.

Jonas considera este estilo de música propício ao propósito conscientizador e

cita mesmo um exemplo de alguém conhecido pela mídia que, com auxílio da

música, alcançou êxito em seu enfrentamento às adversidades.

Acreditamos que o entrevistado se refira ao caso do goleiro Aranha, dos

Santos Futebol Clube, que foi vítima de preconceito racista na Arena Grêmio,

durante a partida em 28 de agosto de 2014, foi chamado de macaco pelos

torcedores gremistas. Tempos depois, em algumas entrevistas, o goleiro

realmente afirmou que o RAP tem sido seu aliado na luta contra o preconceito.

Este fato leva Jonas a concluir que realmente então ‘ajuda bastante essas

músicas aí’, novamente o advérbio de intensidade ‘bastante’ demonstrando o

nível de comprometimento de verdade do indivíduo com aquilo que diz, Jonas

tem certeza daquilo que fala, pois já pode constatar por meio de fatos esta

verdade.

38

Seguindo esta linha de pensamento, Júnior, em semelhante situação à

Jonas, nos diz:

Seria bom, porque tipo..é..agora num tem mais ensino religioso e... é muito bom..., porque tipo a professora leva música que é da realidade, não que..tipo...de amor essas coisas assim...também é da realidade também acontece..só qui...hoje mesmo o Brasil num tem, num é tudo maravilha, é tudo horrível...Por isso que eu já curto mais Rap que fala da verdade da vida não fica...(Entrevista em 06/11/2014)

Júnior inicia sua resposta usando a categoria de modalidade na

indicação de uma probabilidade e, ao mesmo tempo, uma avaliação em ‘seria

bom’, ou seja, é possível que seja uma boa ação trabalhar com músicas em

sala para combater os problemas sociais. Em seguida, em ‘agora num tem

mais ensino religioso’, ele utiliza o processo existencial ‘ter’ em sua forma

negativada para indicar algo que já existiu e que servia ao propósito de levar os

alunos à refletirem sobre estas temáticas e que ‘agora’ foi lhes tirado, ou seja,

não existe mais na escola este instrumento que possibilitava o debate sobre a

realidade vivenciada rotineiramente por estes indivíduos. Junior se posiciona

contrariamente a esta supressão ao expressar seu juízo de valor sobre a

disciplina de ensino religioso em ‘é muito bom’, para ele as ações dentro da

referida disciplina eram validadas por seu caráter realístico. É um juízo de valor

em forma de afirmação avaliativa de baixa intensidade se considerado o

continuum excelente/ ótimo/ bom, mas o advérbio de intensidade ‘muito’

confere à afirmativa maior carga de intensidade.

Assim, Junior indica que há um espaço vazio no contexto escolar que

precisa ser preenchido, pois é muito bom que se trabalhe as questões da

realidade em sala de aula, podendo a música ocupar então esta função que

pode vir a ser decisiva na vida dos adolescentes. Ao se pensar o contexto de

vida deste sujeito, isto é algo que deve ser pensado seriamente. Junior tem um

histórico assumido de forte envolvimento com drogas, sendo claramente

perceptíveis os resultados do seu uso, como a falta de concentração e demais

efeitos previstos. Contrário à crença geral, de que ensino religioso seria uma

matéria desinteressante para sujeitos com tal histórico, Junior nos mostra aqui

39

que, na verdade, são estes os mais beneficiados com ações que reflitam as

questões existenciais, seja por qual for o viés.

Mais uma vez está disposto então o tipo de música que pode vir a servir

ao propósito transformacional, não de amor (romântico), mas da realidade. E

Junior vai justificar esta escolha, falando em termos de Brasil, ele usa o

processo relacional ‘é’ em contexto de oposição: primeiro diz um atributo que o

país não possui, ‘num é tudo maravilha’, e depois nos mostra então qual é a

qualidade, o atributo, do seu país, qual seja, ‘é tudo horrível’.

Percebemos como que um tom de revolta de Junior com esta realidade

que lhe parece ‘horrível’, ele não chega a assumir, mas é como se deixasse

implícito que as drogas foram sua rota de escape, sua fuga, deste mundo sem

sentido. Parece tão desacreditado que não suporta a ideia de músicas mais

afetivas, pois elas são mentirosas, posto que não retratem a realidade tal como

é, assim, justifica sua preferência por músicas que falam desta realidade, como

é o caso do RAP.

Seja por experiência própria, seja por exemplos da mídia e/ou outras

fontes, concluímos então que para os sujeitos entrevistados a música pode sim

servir como ferramenta que venha a possibilitar um espaço de reflexões e,

possivelmente, mudanças por meio de sua presença efetiva em sala de aula.

Apresentaram-nos também algumas ressalvas a este respeito, mais

especificamente, no que tange às escolhas textuais, que devem ter algumas

características. De forma unânime, a preocupação reside então naquilo que vai

ficar impregnado nas pessoas. Muito mais do que servir a função de

divertimento, a música escolhida deve penetrar na mente dos alunos e formar

raízes que, mais tarde, tragam bons resultados.

Considerações finais

O caminho percorrido nos faz compreender a amplitude do papel que a

música desempenha na vida de nossos jovens, por meio de suas próprias

narrativas, os elementos linguísticos dos seus enunciados nos dão pistas de

que, mesmo que não saibam expressar em palavras, ou de forma mais

categóricas, compreendem que são influenciados pelas canções que ouvem.

Alguns se preocupam em manter um relacionamento mais consciente com esta

40

forma de arte, enquanto outros preferem apenas ‘curtir’, sem se importar muito

em compreender os fenômenos envolvidos.

Os preceitos da identidade de resistência e identidade de projeto

poderão ser amplamente identificados e trabalhados dentro da sala de aula a

partir do momento que a comunidade escolar assumir para si o desejo de

auxiliar na transformação social, possibilitando ações que auxiliem no processo

de formação identitária dos seus alunos, levando em consideração também a

realidade por estes vivenciadas além dos portões da escola.

Fica subentendido então que estes alunos esperam do professor que se

proponha a realizar este trabalho um preparo no que tange ao universo de

interesse musical deles, para que a partir daí estabeleça um plano de ação.

Muito mais do que escolher músicas aleatoriamente, tal professor necessita

manter um contato próximo com seus estudantes, de modo a lhes transparecer

confiança. Como já asseverado, os adolescentes tendem a se envolver com

aqueles, ou aquilo, ao qual se ‘identificam’, e como já dito em vários dos

enunciados, para o aluno é maravilhoso quando o professor traz para sala de

aula elementos do cotidiano que são essenciais na construção do seu ‘eu’, a

conexão é imediatamente estabelecida, abrindo caminho para diálogos mais

profundos e duradouros.

Muito mais do que conteúdos e avaliações para validarem o seu

desempenho, a escola deveria servir para alcançar resultados que

efetivamente trarão frutos a longo prazo. Isto se torna possível a partir do

momento em que se estabeleça uma ação colaborativa entre professores,

alunos, colaboradores e a comunidade em geral. Assim, partindo de um

contexto mais amplo, chega-se à compreensão de que cada professor precisa,

também, buscar dentro de sua área de atuação, ferramentas que possam

fomentar discussões e indicar estratégias de ação para se lidar com situações

adversas.

Referências BAUMAN, Z. Modernidade Líquida. Trad. Plínio Dentzien. –Rio de Janeiro: Jorge Zahar, Ed. 2001.

41

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43

THE ROLE OF VIDEOGAMES IN SECOND LANGUAGE ACQUISITION: THE

CASE OF A PUBLIC SECONDARY SCHOOL IN CUIABÁ-MT, BRAZIL

Alan Tocantins Fernandes

Universidade Federal do Mato Grosso

ABSTRACT: For decades, video games have been present in millions of households all over the world, entertaining people of all ages in an environment that include complex visual scenes, a spellbinding feel, and a wide variety of goals at different timescales. This setting offers potential transfer of learning, which takes place between tasks and environments that have different goals and has great potential to promote second language learning, as well as decision making, cognitive, social and memory skills. This study aims at exploring the potential of second language acquisition by investigating whether students from a public secondary school have learned words and expressions commonly used in games. It also attempts to investigate whether students can make lexical and semantic association to understand an entire message. I found that students were, in general, successful in their tasks and that videogames language has the potential to motivate students to acquire a second language and should be explored in classes.

Keywords: Videogames; language acquisition; interaction.

RESUMO: Por décadas, os videogames têm estado presentes em milhões de domicílios em todo o mundo, entretendo pessoas de todas as idades em um ambiente que inclui cenas visuais complexas, uma sensação fascinante e uma grande variedade de objetivos em diferentes prazos para serem atingidos. Este cenário pode oferecer transferência de aprendizagem, que ocorre entre tarefas e ambientes que têm objetivos diferentes e tem um grande potencial para promover a aprendizagem de segunda língua, bem como a tomada de decisões, habilidades cognitivas, sociais e de memória. Este estudo tem como objetivo explorar o potencial da aquisição da segunda língua investigando se estudantes de uma escola secundária pública internalizaram palavras e expressões comumente usadas em jogos. Também tenta investigar se os alunos são capazes de fazer associação lexical e semântica para entender uma mensagem inteira. Descobri que os alunos foram, em geral, bem-sucedidos em suas tarefas e que a linguagem dos videogames tem o potencial de motivar os alunos a adquirir uma segunda língua e deveriam ser explorados nas aulas.

Palavras-chave: Videogames; Aquisição de linguagem; interação.

44

1. Introduction

Video games have come a long way since they first emerged in the 1970s.

Today, video games are enjoyed all over the world by players of all ages and

backgrounds, and with the emergence of social networks, smartphones and

tablets, new categories have been introduced, such as mobile and social

games. In Brazil, the market for games has increased so much it has captured

the attention of global manufacturers and publishers. Until 1990, video games

were not allowed to be imported to the country and only the consoles produced

in national territory could be legally commercialized. This contributed

enormously for the adoption of practices such as smuggling and piracy over the

years, particularly for those with low income. In recent years, high taxation on

imports have also contributed to illegal practices and piracy is still a common

practice.

Gaming among youngsters have suffered with a lot of prejudice and is still

considered a waste of time for more conservative parents and the society in

general. Parents are involved in making sure that the games their children play

are age-appropriate, and the fact that many people of all ages have become

games enthusiasts is of great concern of specialists. On the other hand,

researchers suggest that people playing video games are indeed learning some

content, even if it is not a school-based fact. Gee (2007), for example, notes

that when people play video games they are not only experiencing the world in

a new way, but also gaining the potential to join and collaborate with a new

affinity group, developing resources for future learning and problem solving, and

even learning about semiotic domains as design spaces that engage and

manipulate people in certain ways.

With the advent of the internet, social gaming became increasingly

popular, as it can be done online. Such games offer social network integration

or elements that allow or require social interaction between players, as opposed

to playing games in solitude. In role-playing games (RPG), for example, players

assume the roles of characters in a fictional setting. In other cases, such as with

the multiplayer type of game, more than one person can play in the same game

environment at the same time. This means that players in Brazil are

45

increasingly connecting with players not only in the country, but also abroad.

This interaction requires a minimal knowledge of the English language (EL),

which by convention, is the universal language of games. Furthermore, because

game piracy is still very present, especially amongst youngsters from lower

income backgrounds, and the fact that some new games have not yet been

translated to Portuguese, many players are induced to learn at least the basics

in order to do well in the games. This study, therefore, aims to investigate if it is

possible to assess the influence of video games in Second Language

Acquisition (SLA) amongst students of a public secondary school in Cuiabá, in

the State of Mato Grosso, Brazil.

According to Lightbown and Spanda (2007), during second language

acquisition, information that was new becomes easier to process, and users will

access it quicker or even automatically (DEKEYSER, 1998 and SCHIMIDT,

2001 apud LIGHTBOWN and SPANDA, 2007). They explain that learners must

pay attention at first to any aspect of the language that they are trying to learn

or produce, which means that they will use cognitive resources to process

information. Through cognitive processing, learners can make associations and

connections between language features and the context in which they occur.

Gee (2007) discusses the various areas of knowledge and their

manifestations as semiotic domains, which are always connected to one or

more different domains. Therefore, their educational character should not be

limited to a central domain, but rather related to a chain of links between the

domain and the subdomains that complete it. In the case of video games, the

author defends that people who say video games are a waste of time are only

considering their entertainment value. However, video games are multi-modal

media, which are related to several other semiotic domains, and even though

language acquisition is not the main objective of the games, it can potentially

play a role of subdomain, with successful however limited results.

2. Data collection and methodology

The data for this study were collected by the means of a questionnaire

containing 10 questions, which were distributed among students. Although the

school has students from both primary and secondary levels, it was only

46

possible to give out the questionnaires for the secondary ones, due to an

agreement with the school’s principal.

The questionnaire’s first 6 questions were designed to explore the

experience student’s might had had with the English language the school

environment, as well as their age, preferences regarding the type of platform

they prefer to use when playing, and personal perception on how much they

think they might have learned through games. The last 4 questions explored

some of the participants’ knowledge of the language in the gaming environment,

and were designed by using common language in games, such as words and

expressions. The level of complexity of the tasks increased slightly from plain

lexical task to more complex cognitive semantic investigation, in which students

were expected to make inferences from a small text.

The selection of participants was given by asking who had the habit to

play games regularly, but also if they were willing to contribute with the study.

The questionnaires were given to the students with permission of the school’s

coordinators and teachers, and the time for the meeting was previously

arranged so it wouldn’t interfere with the development of the classes. Thirty

questionnaires were printed as this amount was thought to be not only a

representative sampling for the study, but also more easily executable. Out of

the 30 questionnaires, 29 were answered. The questionnaires were given to all

29 participants in the same morning, but in two different groups. Students were

between 14-17 years old and seemed to be very keen on talking about their

playing habits.

3. Results

Figure 1 shows how often participants played videogames on weekly

basis, and that the majority plays every day. One of the questions investigated

the participants’ preferences of where to play, and the results show that

consoles, such as PlayStation, Wii, and Xbox were preferred by great majority

of participants, as shown in Figure 2. Participants could choose more than one

option and two other popular places to play were on their cell phones and

online, respectively. Students were also asked about other places where they

have contact with the English language - apart from their school – and results

47

show that games are their main mean of contact with English, followed very

closely to music (Figure 3). None of the students chose podcasts or

books/magazines. When asked if they felt that they have learned a few words

and expressions in English, a great majority of students answered that they

have (Figure 4). The questionnaire also revealed that ‘Call of Duty’ and ‘League

of Legends’ were the most popular games amongst the youngsters taking part

on the research. Both games are now available translated to Portuguese in the

Brazilian market.

Fig. 1 – Frequency of play

Fig. 2 – Preferences of where to play

5

6

7

10

Every dayWeekends3-4 days/weekOnce a week

20

1

6

9

8

OthersOnlineCell phonePC platformPortablesConsoles

48

Fig. 3 – Contact with the English language outside the school

The four last questions of the questionnaire tested the participants on their

knowledge words and expressions in English very common in the games. The

first of the ‘test questions’ asked the participants what the acronym ‘RPG’

stands for. The answer is Role Playing Game, which is a type of game in which

players assume the roles of characters – first person - in a fictional setting. The

options were given in Portuguese, and out of the 29 participants, 7 had the right

answer (Figure 5). Most students thought the answer was a Real Time Strategy,

which is a different type of game.

Fig. 4 – Do they feel that they have learned words/expressions in English?

19

0

18

4

6

0

0 OthersBooks/magazinesFilms/seriesPrivate courseMusicPodcasts

2

4

21

2

1

More familiar

Many words/expressions

A few words/expressions

Reasonably well

Nothing

49

Fig. 5 – Number of students answering a ‘test question’ correctly.

In the next ‘test question’ students were given a set of 10 words commonly

found in games and they were asked to choose the option in which the words

appeared in the same order translated to Portuguese. Out of the 29

participants, 6 had the right answer (Figure 6). The most popular answer was

very similar to right answer apart from one word: ‘lightning’; the most popular

answer translated it as iluminação, which is ‘light’ in Portuguese. The

orthographic similarity might have confused the participants, otherwise the

majority would have got the answer right. The following ‘test question’

presented 4 different sets of words and students were asked to choose the set

in which they thought the words were more connected in meaning. The sets

were:

strategy / graphic / fatality / spoiler

energy / vitality / strength /

resistance

control / stream / rank / damage

life / cold / cloud / quit

The highlighted one being the best connected in meaning.

2

7

5

2

12

A

B

C

D

E

50

Fig. 6 – Number of students answering a ‘test question’ correctly.

Great majority of participants were able to detect the semantic relation in

the words (Figure 7). This could be because 3 out of the 4 words are

etymologically related with their counterparts in Portuguese, so it is quite

possible that the students knew the meaning just by seeing the world for the

first time.

Fig. 7 – Number of students answering a ‘test question’ correctly.

In the last ‘test question’ students were given a small message extracted

from the game Minecraft® informing the player of a problem, a possible cause

for the problem and a possible solution, that read:

Minecraft has run out of memory. This could be caused by a bug in

the game or by the Java Virtual Machine being out of memory. Try

downloading the game and playing it offline. The current game has

quit. Please restart the game if you see this message again.

Participants had to find the option that best summarized the message in

Portuguese. Out of 29 students, 17 of them could successfully find the right

3

9

8

6

3

A

B

C

D

E

4

13

7

3

A

B

C

D

51

answer (Figure 8). The number of students who chose the other three options

were low and equally distributed, showing that participants indeed could

understand the content of the message.

Fig. 8 – Number of students answering a ‘test question’ correctly.

4. Discussion

This study showed that games can potentially be good contributors for the

acquisition of languages. Students from a low income background that

contributed to this study stated that they have learned some words and

expressions in English and were able to identify some, translate them,

associated them semantically, but were also able to, in their majority, to

understand an entire message taken from a popular game. Because the

questionnaires were conducted in class, students were not allowed to consult a

dictionary or their peers any of the answers. They were, however, able to

successfully complete their task with great majority of students answering ‘test

questions’ correctly.

The complex interactions that involve successful language learning, which,

as noted by Lightbown and Spada (2006), involve aptitude, cognitive, and

personality characteristics should be explored by teacher. The authors also

suggest that the sensitive teacher should create “a learning environment with a

wide variety of instructional activities so that learners with different abilities and

learning preferences can be successful”. I do not have the information of

whether the participants’ teacher have tried using music or games language in

class, but considering the answers given by students to this research, it would

4

4

17

3

A

B

C

D

52

be highly recommended. In an informal conversation with the teacher prior the

questionnaire, I was told of the general lack of interest and demotivation

towards the English language, therefore merging the games universe with the

aims of the class could present a positive outcome.

5. Final considerations

The hypothesis that videogames play may improve language learning is

appealing because it naturally accounts for the wide range of skills underlying in

the structure of the tasks players have to perform, whose instructions are given

in English – unless the game has already a version in the native language. In

general, videogames are potential tools for developing skills such as memory,

decision making, social, cognition, but also language acquisition. This study

revealed that out of the 29 students who took part in the research by answering

the questionnaire, a great majority admitted playing games on daily basis, and

the same students managed to answer most ‘test questions’ successfully.

However, I suggest that further investigation is carried out in how much the

lexical and semantic association skills they have acquired is due to their gaming

habits or because of what they have learned in the classroom, through music or

any other mean of interaction with the English language.

6. Reference

DEKEYSER, R. M. 1998. 'Beyond focus on form: Cognitive Perspectives on

learning and practicing second language grammar' in C. J. DOUGHTY and J.

WLILLIAMS (eds.): Focus on Form in Classroom Second Language Acquisition.

Cambridge: Cambridge University Press. pp. 42-63.

GEE, J. P. What video games have to teach us about learning and literacy?

1. ed. New York, NY: Palgrave Macmillan, 2003.

LIGHTBOWN, P. M.; SPADA, N. How languages are learned. 3. ed. New

York: Oxford University Press, 2006.

SCHLATTER, M.; GARCEZ, P. M.; SCARAMUCCI, M. V. R. O papel da

interação na pesquisa sobre aquisição e uso de língua estrangeira:

53

implicações para o ensino e a avaliação. Letras de Hoje, Porto Alegre, v. 39,

n.3, p. 345-378, 2004.

SCHMIDT, R. 2001. 'Attention in P. Robinson (ed.): Cognition and Second

Language Instruction. Cambridge: Cambridge University Press. pp. 3-32.

54

APPENDIX A - Questionário

1. Em que ano você nasceu?

2. Com que frequência você joga videogames (consoles, online etc):

1 vez por semana

Só nos finais de semana

3-4 dias por semana

Todos os dias

3. Você prefere jogar:

Consoles (Playstation, Wii,

XBox etc)

Plataforma PC

Online

Portáteis (Nintedo DS, PSP etc)

Telefone celular

Outro (especifique)

4. Além da escola, você tem contato com a língua inglesa por meio de:

Games

Música

Filmes ou seriados

Podcast

Escola e/ou professor(a)

particular

Livro ou revistas (não sugeridos pela escola)

Outro (especifique) __________________________

5. Você sente que, jogando games com certa frequência, aprendeu

palavras e expressões em inglês?

Não aprendi nada

Aprendi algumas palavras e

expressões

Estou mais familiar com o

idioma

Aprendi razoavelmente bem

55

Aprendi muitas palavras e expressões

6. Quais seriam seus DOIS jogos favoritos/que joga com mais frequência?

World Of Warcraft

Heroes of Newerth

Dark Souls III

League of Legends

Dota 2

Grand Theft Auto (GTA)

Minecraft

Control Strike (Global Office)

Call of Duty

Assassin's Creed

Outro (especifique)

7. RPG é uma sigla em inglês para um tipo de jogo. O que significa esta

sigla em português?

Reeducação Postural Global

Jogo de Interpretação de

Personagens

Redução Positiva de Grupos

Risco Potencial de Ganho

Estratégia em Tempo Real

8. As 10 palavras abaixo são comuns em jogos. EM ORDEM, qual o

significado delas?

Fire / Shut down / Cloud / Jungle / Legend / Bush / Lightning / Poison /

Cold / Push

Fogo / Baixar / Nuvem / Selva / Lenda / Moita / Luz / Veneno / Frio /

Puxar

Fogo / Encerrar / Nuvem / Selva / Legenda / Moita / Iluminação /

Veneno / Frio / Empurrar

Fogo / Encerrar / Nuvem / Selva / Legenda / Moita / Trovão / Veneno /

Frio / Puxar

Fogo / Encerrar / Nuvem / Selva / Lenda / Moita / Relâmpago / Veneno

/ Frio / Empurrar

56

Fogo / Silêncio / Nuvem / Selva / Lenda / Moita / Relâmpago / Veneno /

Frio / Empurrar

9. Abaixo há 4 grupos de palavras. Em qual grupo as palavras têm uma

conexão maior?

strategy / graphic / fatality /

spoiler

energy / vitality / strength /

resistance

control / stream / rank /

damage

life / cold / cloud / quit

57

10. A mensagem abaixo indica um problema, as possíveis causas para

esse problema e algumas soluções. Leia a mensagem e marque a opção

mais verdadeira.

Minecraft has run out of memory. This could be caused by a bug in the game

or by the Java Virtual Machine being out of memory. Try downloading the

game and playing it offline. The current game has quit. Please restart the

game if you see this message again.

Cartão de memória inválido; Programa Java não atualizado; Download

disponível.

Memória esgotada; Conexão muito lenta; Navegador travando.

Memória esgotada; Baixe o jogo e jogue offline; Re-inicie o jogo se

mensagem aparecer novamente.

Acúmulo de arquivos temporários; Como aumentar a memória do Java;

Jogo foi desligado por risco de bug.

58

“CONHECENDO O MUNDO DA LÍNGUA INGLESA”: UMA EXPERIÊNCIA

DO PIBID NA ESCOLA PÚBLICA5

Júnior do Nascimento FERREIRA Bolsista de Iniciação à Docência do Programa Institucional de Bolsas de

Iniciação à Docência – Universidade Federal de Mato Grosso

João Pedro Amorim FRANCESCHI Bolsista de Iniciação à Docência do Programa Institucional de Bolsas de

Iniciação à Docência – Universidade Federal de Mato Grosso

Paula Tuany Silva CAFÉ Bolsista de Iniciação à Docência do Programa Institucional de Bolsas de

Iniciação à Docência – Universidade Federal de Mato Grosso

Eladyr Maria Norberto da SILVA Coordenadora do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência de

Inglês – Universidade Federal de Mato Grosso

RESUMO: Este trabalho tem por objetivo relatar a experiência de concepção, preparação e execução, bem como discorrer sobre as resultados do projeto “Conhecendo o Mundo da Língua Inglesa”, que é fruto de um processo anterior de observação do contexto escolar e da sala de aula, realizado em uma escola pública de Cuiabá - MT. O projeto foi realizado através de cinco oficinas por um grupo de cinco bolsistas de iniciação à docência, orientados pela professora supervisora e pela coordenadora de área do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) de Inglês da Universidade Federal de Mato Grosso. O projeto teve como foco principal despertar o interesse dos alunos para a aprendizagem de Inglês como prática social, incentivando a comunicação oral através de atividades lúdicas, interculturais, letramento digital e também revisando os conteúdos estudados pelos alunos no decorrer do ano letivo. O projeto foi realizado por meio de oficinas, por se tratar de um método flexível voltado a coletividade e mais adequado para alcançar o objetivo proposto. Os bolsistas desenvolveram o planejamento das oficinas e das aulas baseados em sequencias didáticas fundamentadas em autores reconhecidos da área e atividades que envolviam movimentos físicos e interculturais. Em cada oficina os alunos eram motivados a exercitar de forma mais prática os conteúdos trabalhados durante a oficina. Em resposta a um questionário de avaliação aplicado no final das oficinas, os alunos, em sua maioria, afirmaram ter melhorado seu vocabulário em relação aos conteúdos estudados, como também a sua habilidade de comunicação na língua e também expressaram alto nível de satisfação com o trabalho realizado nas oficinas.

5 Agradecemos à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelo subsídio

recebido.

59

PALAVRAS-CHAVE: Letramento digital, Ensino de Inglês, PIBID. ABSTRACT: The purpose of this paper is to report the experience of conception, preparation and implemenration, as well as to discuss the results of the project " Conhecendo o Mundo da Língua Inglesa", which is the result of an earlier process of observation of the school context and the English classes, carried out at a public school in Cuiabá - MT. The project was carried out through five pre-service teachers guided by the supervising teacher and the area coordinator of the Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID) de Inglês of the Federal University of Mato Grosso. The focus of the project was to stimulate students' interest in learning English as a social practice, encouraging oral communication through fun and intercultural activities, digital literacy, and activities involving physical movements and reviewing the content studied by the students during the current school year. The project was developed through workshops, since it is a flexible method aimed at collectivity and more adequate to achieve the proposed objective. The pre-service teachers developed the planning of workshops based on well-known authors of the language teaching area. In each workshop, the students were motivated to practice in a more practical way the contents worked during the classes. In response to an evaluation questionnaire applied at the end of the experience, the majority of the students stated that they improved their vocabulary, as well as their ability to communicate in English and expressed a high level of satisfaction with the workshops. KEYWORDS: Digital literacy, English language teaching, PIBID. Introdução

Alguns autores apontam que as aulas de Inglês na escola pública

acontecem em meio a vários obstáculos que vão desde a desvalorização da

língua inglesa à falta de estrutura ao executá-las (COX E ASSIS PETERSON

2008, PERIN, 2005;). Tais obstáculos influenciam o processo de ensino e

aprendizagem dos alunos, que, na maioria das vezes, não têm interesse e/ou

não estão motivados em aprender a Língua Inglesa. Esse quadro ressalta a

necessidade de um ensino que motive o aluno de escola pública a aprender

línguas. Contudo, reconhece-se que isso dificilmente ocorrerá se o professor

não basear seu ensino em práticas que fazem parte do mundo do aluno.

Este trabalho tem o objetivo de relatar a experiência da concepção,

preparação e execução, bem como discorrer sobre as resultados do projeto de

oficinas “Conhecendo o Mundo da Língua Inglesa”, que é fruto de um processo

anterior de observação do contexto escolar e da sala de aula, realizado na

Escola Estadual Souza Bandeira, em Cuiabá – MT, pelo PIBID Inglês da

UFMT. Os objetivos gerais dessas oficinas eram proporcionar aos alunos da

escola pública oportunidades de aprendizado da Língua Inglesa como prática

60

social; despertar o interesse desses alunos para a aprendizagem da língua e

para o mundo da Língua Inglesa, incentivando seu envolvimento nas aulas e

em atividades externas que lhes proporcionassem contato com a língua; revisar

de maneira lúdica o conteúdo estudado nas aulas regulares ao longo do ano,

bem como desenvolver sua autonomia para o estudo da língua por meio de

atividades digitais e por fim, também, possibilitar aos bolsistas a oportunidade

de trabalhar na elaboração e execução de um conjunto de oficinas para a

aprendizagem da Língua Inglesa na escola pública.

O projeto de oficinas “Conhecendo o Mundo da Língua Inglesa” foi

realizado de novembro a dezembro de 2015, em cinco encontros de três horas

de duração, sendo um por semana. Teve seu foco voltado para práticas que

permitissem comunicação, letramento digital e crítico e dinâmicas em Língua

Inglesa. A partir do conteúdo apresentado, os alunos fariam prática controlada

e, ao final de cada aula, teriam a oportunidade de trabalhar o conteúdo de

forma mais livre. Oficina é aqui entendida como uma forma, um caminho, um

guia flexível, enriquecedor para a pessoa e para o grupo, fundamentada no

aprender fazendo com prazer e na ativação do pensamento por própria

convicção, necessidade e elaboração (LESPADA, 1988 Apud VIEIRA, 1997, p.

12).

Metodologia e Procedimentos Didáticos

Realizado com alguns alunos de 6º e 7º ano de uma escola pública de

Cuiabá – MT, o projeto contou com a carga horária de dez horas, três horas

por oficina, durante um período de cinco semanas, no contra turno das aulas

regulares. As oficinas tiveram como tema principal o ensino da Língua Inglesa

por meio de atividades lúdicas e de letramento digital. Após um intenso período

de observação em aulas de Língua Inglesa, nas turmas da professora

supervisora do PIBID de Inglês, fora realizado um plano de ensino voltado ao

contexto encontrado. Após determinarmos, juntamente com a professora

supervisora e a professora coordenadora, a metodologia a ser utilizada nas

oficinas, decidimos os temas “Identity/My family”; “My body/sports”; “Food”; “My

school” e “The Environment/Wild Animals/Endangered Species”. Participaram

61

do projeto trinta e cinco alunos de 6º e 7º anos, cinco bolsistas de iniciação à

docência (ID), a professora supervisora e a coordenadora do PIBID/Inglês.

A condução das aulas foi feita pelos bolsistas de iniciação à docência,

que antes de entrar em sala, juntamente com orientações da coordenadora e

supervisora, se responsabilizaram por elabora os planos de aula. As atividades

eram organizadas em três etapas – engage, study, activate – ESA (HARMER,

2007). As atividades de jogos e dinâmicas trabalhadas nas oficinas foram

baseadas no Método Total Physical Response – TPR. Foram utilizadas

atividades humanísticas na produção de cartazes e pequenos textos orais. O

letramento digital foi trabalhado na produção de vídeo, em ensaio fotográfico e

games e pesquisa por meio de aparelho celular. Atividades interculturais foram

utilizadas em atividades que contaram com a participação de uma falante

nativa do Inglês, que atuava na UFMT como. Como exemplo das atividades

interculturais realizadas, destacam-se a realização de uma entrevista com a

ETA e a degustação de lanche típico de países de Língua Inglesa em cada

oficina Em cada oficina, na parte de Activate, foram desenvolvidas atividades

práticas, interativas e baseadas em letramento digital, como, por exemplo, um

vídeo mostrando a escola para o mundo e um tour fotográfico nos jardins da

Escola, o qual tinha espécimes de animais selvagens a reunião.

Ao final, aplicamos um questionário de avaliação com perguntas que

abrangeram opiniões sobre aspectos de aprendizagem, atividades pelas quais

se sentiram mais engajados, se desejariam participar de um curso oferecido no

ano seguinte pelo grupo do PIBID e, também, sobre qual seria a demanda no

que diz respeito às atividades caso houvesse outras oficinas. Os resultados do

questionário serão apresentados e discutidos a seguir.

Resultados Obtidos

No que se referem às atividades preferidas dos alunos, todas as

atividades foram bem avaliadas. De modo geral, os alunos gostaram do

aspecto interativo e coletivo das oficinas, sendo que as opções mais bem

avaliadas foram atividades com a professora norte-americana (16%), jogos e

brincadeiras (14%), trabalhar em grupo (12%) e com os professores do PIBID

(12%). Destacamos que os jogos e brincadeiras foram sempre desenvolvidos a

62

partir de um conteúdo específico e inseridos no planejamento como forma de

tornar a aprendizagem mais agradável e prazerosa aos alunos e o público, pré-

adolescente, facilitou a realização das atividades.

No que diz respeito às atividades que os alunos menos gostaram

durante o projeto, embora a maioria dos alunos não ter escolhido uma atividade

que não tenham gostado, as atividades de prática oral e de produção de vídeos

foram as que receberam a maior quantidade de respostas negativas, sendo

que as atividades de prática oral receberam 21% e as práticas escritas e

produção de vídeo receberam igualmente 18%. Essas atividades foram

trabalhadas individualmente ou em grupos e sempre foram supervisionadas

pelos bolsistas. Possivelmente, devido à timidez dos alunos, essas práticas não

tenham sido tão positivamente avaliadas quanto às outras.

Em relação à aprendizagem da língua, ou seja, ao que eles perceberam

que mais aprenderam, as que mais se evidenciam são atividades de pronúncia

(18%), vocabulário (17%), relacionadas ao desenvolvimento da habilidade de

fala (16%) e as de trabalho em equipe (14%). Quanto à percepção da

aprendizagem alcançada no curso, a maioria dos alunos se dividiu escolhendo

entre muito bom (48%), excelente (24%) e bom (24%), o que mostra relevante

percepção de aprendizagem por parte dos alunos.

Questionados sobre seu interesse em participar de um curso de inglês a

ser oferecido pelo grupo do PIBID futuramente, seu motivo e sobre quais

seriam as atividades que gostariam de realizar, 97% dos alunos afirmou que

gostaria de participar do curso. Ao justificar sua intenção de participar do curso,

os alunos afirmaram que gostaram do aprendizado que tiveram (49%), dos

professores (32%) e, também, que ‘acharam legal’ (11%). As atividades

sugeridas para futuros projetos foram jogos e brincadeiras, atividades artísticas

– pintura e desenhos –, músicas, computador e celular e aprender a falar, ler e

escrever.

Com base nos dados coletados, fica visível a vontade dos alunos em

participar de um novo projeto que tenha uma grande variedade de atividades,

desde as mais tradicionais e simples às mais elaboradas e diferentes das

práticas de sala de aula que normalmente realizam nas aulas regulares da

63

escola. De modo geral, os resultados do questionário apontam que o projeto foi

bem sucedido e que há possibilidade de continuidade do trabalho em um futuro

próximo.

Considerações Finais

Levando em consideração os objetivos do projeto de oficinas, bem como

o resultado do questionário avaliativo apresentados acima, podemos afirmar

que o projeto de oficinas “Conhecendo o mundo da língua Inglesa” obteve êxito

junto aos alunos.

Para os bolsistas ID participantes, foi bastante significativo, visto que

lhes proporcionou a oportunidade de trabalhar com alunos interessados em

aprender a língua, que respondiam positivamente às propostas apresentadas.

Assim como possibilitou o contato direto desses com o ofício de professor, uma

vez que realizaram atividades próprias do ofício de professor, tais como:

planejamento de aulas, preparação de material didático, condução e avaliação

de atividades. Além disso, ao participarem desta experiência, os professores

em formação puderam vivenciar práticas colaborativas no trabalho docente,

tanto entre eles como com as professoras supervisora e coordenadora do

projeto, com os alunos que participaram das oficinas e com a gestão da escola.

Adicionados a esses aspectos, a participação não só dos alunos como

também de toda a comunidade escolar na realização do projeto possibilitou um

novo olhar sobre o trabalho com propostas de ensino de Língua Inglesa,

mostrando que o sucesso de realizações como essa vão além do professor

responsável, mas contam também com a colaboração de todos, seja dos

próprios discentes, do corpo administrativo da escola ou do apoio dos

familiares.

Referências

COX, M. I. P.; ASSIS-PETERSON, A.A..O drama do ensino de inglês na escola

pública brasileira. In: ASSIS-PETERSON, Ana Antônia (Org.), Línguas

Estrangeiras para além do Método. São Carlos: Pedro e João Editores, 2008.

HARMER, J. How to teach English. Harlow: Longman, 2007.

64

PERIN, J. O. R.. Aprendizagem de língua inglesa em escolas públicas: o real e

o ideal. In: GIMENEZ, Telma; JORDÃO, C. M.; ANDREOTTI, V. (Orgs.),

Perspectivas Educacionais e o Ensino de Inglês na Escola Pública.

Pelotas, RS: EDUCAT, 2005.

Vieira, E.V., L. Oficinas de Ensino: O quê? Por quê? Como?. 4. ed. Porto

Alegre: EDIPUCRS, p. 11, 2002.

65

INGRESSO NO MESTRADO EM EDUCAÇÃO: REALIZAÇÕES DE UMA PROFESSORA LICENCIADA EM LETRAS INGLÊS

Fernanda de Mello CARDOSO

Universidade Federal de Mato Grosso

RESUMO: Trata-se de uma pesquisa sobre o processo de desenvolvimento profissional de uma docente formada em Letras Inglês e também mestranda em Educação. O objetivo é discutir e refletir sobre a sua experiência acadêmica enquanto professora de inglês e aluna no Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal de Mato Grosso em Rondonópolis. Para fundamentar a reflexão e análise, a mestranda foi entrevistada sobre as contribuições desta vivência para a sua prática e trajetória profissional. Os dados apontam que a sua inserção no mestrado é significativa, pois a experiência gera crescimento e amadurecimento, favorece e instiga o posicionamento político e o pensamento crítico, bem como valoriza a reflexão na docência. PALAVRAS-CHAVE: Desenvolvimento Profissional; Letras Inglês; Pós-graduação em Educação. ABSTRACT: The present study is on the process of the professional development of a teacher majored in English Language and Literature and also graduate student on Education. The objective is to discuss and reflect on her academic experience as an English teacher and student in the Program of Graduate Studies in Education of the Federal University of Mato Grosso in Rondonópolis. To substantiate the reflection and analysis, the graduate student was interviewed on the contributions of this experience to her practice and professional journey. The data show that her entry in the masters is significant since the experience causes growth and maturity, favors and instigates the political attitude and critical thinking, as well as values the reflection in the teaching profession. KEYWORDS: Professional Development; English Language and Literature; Graduate Studies in Education.

1 Introdução: motivação para a pesquisa

Com o crescimento das novas tecnologias, os efeitos da globalização, o

rompimento de barreiras interculturais, a (re)escrita de leis e diretrizes, entre

outros fatores que têm influenciado o âmbito educativo e acadêmico, fortificou-

se a relação entre os diferentes campos de atuação na/da educação. O diálogo

entre as várias ciências da educação tem se justificado como um fator

significativo para a construção de uma educação mais interdisciplinar que está

voltada para a criticidade e a reflexão do ser humano, que se preocupa com a

66

formação profissional e humana de sujeitos que vivem neste mundo real, no

qual todas as situações e pessoas estão inter-relacionadas. Essa correlação

tem se transformado num movimento de valorização do conhecimento teórico e

prático e das relações entre os pares (IMBERNÓN, 2009; 2016; PIMENTA,

2006, 2011; SACRISTÁN; PÉREZ GÓMEZ, 1998; NÓVOA, 1992a; 1992b).

Tais afirmações esclarecem-nos que não se exerce um ensino de

qualidade com fundamentos positivistas, pois esses fragmentam e

operacionalizam o ensino-aprendizado. Sem contar que modelos tecnicistas e

instrumentais tendem a isolar os sujeitos em suas áreas de prática e isso não

colabora com as perspectivas contemporâneas de socialização e humanização,

seja na escola ou fora dela (IMBERNÓN, 2009; 2016; SACRISTAN; PÉREZ

GOMÉZ, 1998).

Isso leva-nos a compreender que há relevância em aproximarmo-nos e

aprofundarmo-nos nos estudos a respeito da educação em sua totalidade. Nós,

profissionais licenciados das diversas áreas da educação, muitas vezes,

vivenciamos uma formação inicial que tende a enfocar mais nos estudos

específicos, esses que nos habilitam a exercer a profissão em determinado

campo de atuação docente. Por exemplo, biólogos concentram nos estudos

sobre a biologia, matemáticos se interessam por questões que abrangem os

números e assim sucessivamente.

Enquanto professora de inglês, tendo concluído o curso de licenciatura

Habilitação em Língua Inglesa e Literaturas de Língua Inglesa, há quase dois

anos, o qual teve como foco principal os estudos específicos do idioma e a

preparação e formação à docência, e atualmente enquanto mestranda no

Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal de Mato

Grosso, Câmpus de Rondonópolis, afirmo, por experiência, que vivo essa

proximidade entre a minha área específica de estudos e formação e a

educação no seu sentido mais abrangente.

Sempre valorizando o potencial do curso, pois falo deste com bastante

satisfação e orgulho, e mesmo sabendo que uma graduação de quatro anos

com disciplinas de 60 e 120 horas não é suficiente para dar conta de tudo que

está em discussão no amplo campo no qual o ensino de língua inglesa está

inserido, digo que a experiência dessa formação inicial foi fundamental para

minha carreira docente e de pesquisadora, e além de fomentar a minha prática

67

no ensino de língua inglesa – atuação prévia ao ingresso na universidade –,

dela originou o meu interesse pelos estudos em formação de professores.

Entretanto, como já destacado, uma formação profissional nunca se

esgota, por isso, muitos profissionais instigados pelo conhecimento e prática

buscam aprofundar e ampliar os estudos e a pesquisa após a graduação.

Particularmente, é essa a visão que temos – eu e a professora-mestranda

entrevistada para esta investigação, Laila6, sobre o desenvolvimento

profissional, fato que justifica a nossa inserção no mestrado stricto sensu do

PPGEdu/UFMT/CUR7.

Sendo assim, neste texto, objetiva-se discutir e refletir sobre a

experiência acadêmica de Laila, que é professora de inglês e também

mestranda no PPGEdu. Além disto, por vivenciarmos práticas semelhantes, no

decorrer do texto, me posicionarei na discussão enquanto pesquisadora e

sujeito que compartilha da mesma realidade.

Para tanto, nortearam esta investigação as seguintes indagações: há

espaço para licenciados em línguas atuarem como pesquisadores e estudiosos

nas áreas do conhecimento da educação? Como a entrevistada entende os

caminhos percorridos na sua inserção enquanto professora de língua em um

programa de pós-graduação stricto sensu em Educação?

Para análise, os dados são as narrativas elaboradas a partir da

entrevista com Laila, que foi questionada sobre as contribuições de sua

vivência no mestrado à sua prática e à sua trajetória acadêmica e profissional.

Essas narrativas relatam partes das experiências, as concepções, os

posicionamentos e princípios da professora-mestranda e, para fins desta

pesquisa, serão realçados os trechos que podem fomentar a reflexão e

discussão objetivada a partir das perguntas norteadoras da investigação,

citadas no parágrafo acima. Tal investigação é de natureza qualitativa, na qual

investigadores “estão interessados no modo como diferentes pessoas dão

sentido às suas vidas” (BOGDAN; BIKLEN, 1994, p. 50).

6 Nome fictício escolhido pelo sujeito entrevistado para esta pesquisa. Ao longo do texto, utilizaremos o

gênero feminino por se tratar de uma mulher. Maiores detalhes sobre Laila serão apresentados na próxima

seção. 7 Programa de Pós-graduação (PPGEdu) da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Câmpus

universitário de Rondonópolis (CUR).

68

Na próxima seção será apresentado o percurso metodológico, parte

descritiva que auxilia no entendimento do desenvolvimento da pesquisa e que

instrui o leitor até a análise dos dados. Na sequência serão exibidos os

excertos das narrativas para interpretação e, por fim, se estabelece algumas

considerações sobre os resultados da investigação.

2 Trajetória metodológica

Esta pesquisa fundamenta-se em metodologias da abordagem

qualitativa, que, segundo Bogdan e Biklen (1994), permitem o aprofundamento

na interpretação dos dados, sendo possível analisá-los em toda sua riqueza e

não apenas universalizá-los quantitativamente. De acordo com os mesmos,

investigações de tal natureza tem por objetivo “compreender o mundo dos

sujeitos e determinar como e com que critério eles o julgam” (p.287, grifo dos

autores). Deste modo, para o tipo de pesquisa proposta aqui, torna-se

favorável o uso desta abordagem já que os dados recolhidos favorecem a

oportunidade para tal análise, uma vez que o ato de relatar concepções, ações

e opiniões oferece uma visão de compreensão do sujeito em relação ao que

acontece ao seu redor.

Como já citado na introdução, enquanto professora e acadêmica,

compartilho da mesma realidade que a professora entrevistada para esta

pesquisa, logo, justifico que este fator foi o que me motivou para desejar

conhecer mais sobre as experiências docentes de outra teacher e poder

compreender melhor esse processo de estudos e formação que atualmente

vivemos. Ademais, a partir desta investigação, busquei apropriar-me de mais

conhecimento sobre o desenvolvimento profissional de professores que tomam

o mesmo rumo que o nosso após a graduação, fato que colabora com o

entendimento da própria constituição identitária docente.

Tendo isto em mente, convidou-se Laila, professora de inglês, formada

na UFMT/CUR no ano de 2014, e mestranda no Programa de Pós-graduação

em Educação também da UFMT/CUR, com ingresso em 2015, para um diálogo

sobre sua experiência acadêmica. Portanto, no dia 24 de agosto do ano de

2016, numa sala de aula do bloco central da Universidade Federal de Mato

Grosso, em forma de entrevista semiestruturada, Leila contou-me parte de sua

história da trajetória profissional e de pesquisadora.

69

O uso da entrevista é benéfico para as pesquisas na área da educação

justamente por ser um instrumento com característica ilustrativa de relatar o

real, os acontecimentos, a história. Isso é o que explicam os teóricos de

metodologia, ao afirmar que “a entrevista é utilizada para recolher dados

descritivos na linguagem do próprio sujeito, permitindo ao investigador

desenvolver intuitivamente uma ideia sobre a maneira como os sujeitos

interpretam aspectos do mundo” (BOGDAN; BIKLEN, 1994, p. 134).

Logo, o valor que tal ferramenta tem na pesquisa qualitativa leva-nos a

confirmar que, principalmente os agentes da educação, sejam eles professores

e/ou profissionais que ocupam outros cargos, sujeitos que diariamente

convivem com diferentes realidades e são afetados por elas necessitam de

oportunidades que deem-lhes voz, garantam-lhes o direito de expressão,

ofereçam-lhes o espaço para narrarem suas histórias de vida.

Nesta perspectiva é que se propôs a entrevista com Laila, que relata

uma parcela de sua vivência na universidade. A partir de perguntas

semiestruturadas que indagavam sobre seu ingresso no programa de pós-

graduação e o desenvolvimento da pesquisa de mestrado e qual o impacto que

essa experiência tem em sua formação profissional, e vice-versa, a entrevista

com Laila resultou numa reflexão profunda, crítica e política sobre a associação

entre os estudos e a formação da graduação e da pós-graduação.

O relato de Laila traz narrativas sobre a análise que ela, enquanto

professora de inglês e mestranda em Educação, faz do aprendizado que a

experiência proporciona-lhe. Após os dados serem lidos e estudados, foram

interpretados e analisados e, a seguir, são destacados alguns excertos da

entrevista que revelam momentos significativos de reflexão e posicionamento

sobre a docência, a pesquisa e a prática.

3 Um diálogo entre teorias sobre formação docente e as narrativas de

Laila

Esta parte do texto traz à tona a interpretação dos dados recolhidos a

partir das narrativas da entrevista semiestruturada] com Laila, as quais foram

analisadas à luz de algumas teorias sobre formação docente. Neste sentido, a

fundamentação teórica é discutida abaixo concomitantemente aos registros da

entrevistada. Os trechos destacados revelam o crescimento intelectual e

70

profissional da professora, e serão expostos de forma a dialogar com o

referencial teórico.

As narrativas de Laila traduzem a importância da formação como um

processo contínuo na vida profissional, uma busca permanente pelo

conhecimento e experiências que propiciam a reflexão. Consequentemente,

a formação não se constrói por acumulação (de cursos, de conhecimentos ou de técnicas), mas sim através de um trabalho de reflexividade crítica sobre as práticas e de (re)construção permanente de uma identidade pessoal. Por isso é tão importante investir a pessoa e dar um estatuto ao saber da experiência. (NÓVOA, 1992a, p. 25)

Neste sentido, a reflexão como prática diária na docência oferece uma

visão mais ampla sobre as oportunidades que as experiências garantem e

também impulsionam a busca pelo conhecimento ainda em fase de descoberta.

Esta dinâmica é provocada por estudos teóricos e momentos práticos ao longo

da carreira profissional. Por isto, deve-se valorizar mais esta ação, afinal, “a

teoria fornece-nos indicadores e grelhas de leitura, mas o que o adulto retém

como saber de referência está ligado à sua experiência e à sua identidade”

(NÓVOA, 1992a, p. 25).

Sendo assim, quando questionada sobre a razão para o ingresso no

mestrado, Laila justifica que “algumas questões mais políticas referentes à

educação não são contempladas pelo curso de Letras” e complementa que:

[...] o mestrado em Educação trouxe essas discussões que contribuem para pensar uma prática pedagógica mais com posicionamento político, com uma compreensão do que é o sistema educacional, do que ele faz parte, a quem ele pertence, que função ele cumpre. (Entrevista, Laila, 2016).

Neste trecho, compreende-se que Laila vislumbrou o mestrado

justamente para complementar a sua formação profissional com conhecimento

mais específico da área da educação. Este objetivo pessoal de Laila deixa

claro que ela é uma docente preocupada com a sua formação e que percebe a

necessidade em dar continuidade ao processo de formação, conforme as

oportunidades vão surgindo.

71

Uma forma de conhecer e buscar sentido sobre essas angústias que

todo agente da educação carrega consigo é através dos estudos, visto que

nenhum profissional deixa a academia plenamente formado. Ao longo da

entrevista com Laila, fica perceptível a influência que os estudos têm em sua

carreira profissional, ela posiciona-se como uma professora consciente que

está em permanente busca pelo saber e tem desejos de crescer. Esse

pensamento ecoa na afirmação de Pimenta (2006) quando ela declara:

[...] a compreensão dos fatores sociais e institucionais que condicionam a prática educativa e a emancipação das formas de dominação que afetam nosso pensamento e nossa ação não são espontâneas e nem se produzem naturalmente. São processos contínuos de descobertas, de transformação das diferenças de nossas práticas cotidianas. (PIMENTA, 2006, p. 28)

Apropriando-me de Pimenta (2006), digo que não só a docência, mas

também a graduação, a própria vivência do mestrado e qualquer processo de

estudos, reflexão e prática são fases de descobertas e de transformações.

Quando indagada sobre suas expectativas na constituição do projeto, antes de

ingressar, Laila revela que houve mudanças. Ela narra:

[...] eu tinha a intenção de conhecer metodologias de ensino de língua, de discutir, debater, ver como elas tinham influência no processo de ensino-aprendizagem, como elas se relacionavam com as estruturas escolares. Mas não se concretizaram as minhas expectativas. (Entrevista, Laila, 2016).

Na fala abaixo, ainda sobre as mudanças no decorrer do mestrado,

evidencia-se o crescimento pessoal e profissional de Laila. Ela confessa:

[...] eu tinha uma visão muito ingênua do que era o processo de pós-graduação [...] mas hoje em dia eu me surpreendi com o conhecimento que eu adquiri e como esse conhecimento influencia na minha prática. Eu acredito que eu pude superar a minha proposta inicial [...] me fez pensar como as escolhas que eu faço dentro de sala de aula são importantes para esse processo de aprendizagem, de formação de aluno etc. (Entrevista, Laila, 2016).

72

Laila, como uma professora e pesquisadora que reflete, não se deixa

aborrecer com as incertezas da pesquisa em estágio inicial. Isto revela o

quanto é pertinente o ato de refletir sobre a prática docente e investigativa,

principalmente porque fatores como as políticas públicas, as leis e diretrizes, os

parâmetros, o contexto, a situação econômica no país, a tecnologia, que estão

em constante transformação, podem afetar a nossa atuação, uma pesquisa em

andamento, um projeto elaborado etc (PIMENTA, 2006; IMBERNÓN, 2009;

2016; NÓVOA, 1992a; 1992b, SACRISTÁN; PÉREZ GÓMEZ, 1998).

A partir de algumas palavras utilizadas por Laila no trecho anterior, como

os verbos “surpreender” e “superar”, e a própria confissão da professora quanto

à ingenuidade do processo de pós-graduação, identifico que revelações como

essa são evidências do aprendizado que a reflexão pode proporcionar na vida

de um profissional da educação, tornando-o capaz de fortalecer suas ideias e

superar os desafios em projetos. Além disto, o professor que reflete sobre suas

percepções, sua prática e as transformações que ocorrem ao longo da carreira,

é aquele que se apropria do conhecimento adquirido em estudos teóricos e/ou

na vivência do dia a dia e aplica-os em sala de aula. Quando interrogada sobre

as contribuições que a experiência do mestrado e uma formação inicial em

Letras Inglês têm no seu desenvolvimento profissional, Laila garante:

[...] alguns conhecimentos que eu adquiri no programa de pós-graduação eu tento aplicar já nas aulas que eu dou [...] essa consciência de que ensinar é uma forma de libertar ou aprisionar foi fundamental para repensar minha prática e entender que todo professor deve ter um posicionamento dentro de sala de aula, dentro da sociedade, dentro dos campos em que atua, e cuidar para não reforçar estereótipos, reforçar um sistema com o qual eu não concordo. (Entrevista, Laila, 2016).

Conhecendo o histórico da professora Laila, que no mesmo ano de

conclusão do curso de Letras Inglês participou do seletivo do PPGEdu, e com

resultado satisfatório iniciou os estudo no ano seguinte, além do fato que ao

longo da graduação ela trabalhou como professora de línguas, interpreta-se

que na vivência com os estudos teóricos na formação inicial e na pós-

graduação e também na atuação profissional enquanto professora iniciante

ainda em fase de preparação, a docente criou uma bagagem intelectual que a

73

possibilitou identificar que há sim uma relação consoante entre teoria e prática

e que é na prática reflexiva que percebemos tal vínculo. Logo, questiono, se

não pausarmos para refletir sobre o que a teoria instrui-nos a fazer, sobre

nossa ação e práxis, como saberemos quando e como mudar e em quais

aspectos nossa atuação poderia melhorar?

Nesta ótica, a partir do relato anterior sobre os aprendizados suscitados

nas dinâmicas propiciadas no mestrado que vem somar aos conhecimentos

adquiridos na formação inicial, é possível identificar o quanto tais vivências têm

fornecido fundamentos e apoio para a prática docente de Laila. Isto é

importante sublinhar posto que, também enquanto mestranda do PPGEdu e

professora licenciada em Língua Inglesa, já testemunhei e fui alvo de críticas

em discursos sobre a participação de profissionais que fazem pós-graduação

fora da área específica de formação. No entanto, na fala de Laila e por

experiência própria, acredito que todo aprendizado é valioso, ainda mais para

quem tem graduação em licenciatura e busca aprofundamento teórico e prático

no campo amplo em que a educação está inserida. Pensando nas propostas de

formação de professores, Nóvoa (1992a) sugere que:

A formação deve estimular uma perspectiva crítico-reflexiva, que forneça aos professores os meios de um pensamento autónomo e que facilite as dinâmicas de autoformação participada. Estar em formação implica um investimento pessoal, um trabalho livre e criativo sobre os percursos e os projectos próprios, com vista á construção de uma identidade, que é também uma identidade profissional. (NÓVOA, 1992a, p. 25)

As falas de Laila têm um tom autônomo, no qual ela respalda-se para

descrever o que tem aprendido e já idealizado em sua prática. No mesmo

sentido, a recomendação de Nóvoa (1992a) tem o objetivo de conscientizar

sobre a relevância do pensamento autônomo e de compreender a formação

partindo de concepções sociais e humanas, que tanto colaboram com a

constituição identitária do profissional da educação.

Quando questionada sobre as contribuições da experiência no mestrado

para o seu campo de atuação, Laila, relembrando o passado, responde

positivamente contando o que aprendeu e o que ela faria diferente hoje.

Identifica-se em Laila uma professora mais madura e crítica, uma profissional

74

que leciona e investiga, problematizando o que acontece, refletindo sobre suas

vivências e aplicando os aprendizados em sua prática docente. Ela relata:

Sim, sim, eu repenso bastante. Até as palavras que a gente utiliza às vezes em sala de aula, questiono às vezes o material didático [...] eu já trabalhei com material didático que trazia questões de estereótipos de gênero muito fortes [...] Em outros tempos eu teria passado batido por essas discussões, atualmente não, eu já problematizo [...] problematizar algumas coisas que reforçam esse modelo padrão de família na sociedade, modelo padrão de ser, de relacionar-se com o outro. São coisas que eu busco questionar a partir da minha prática e também pensar em como o contexto político está influenciando a nossa atuação na escola [...] (Entrevista, Laila, 2016).

Analisando o que Laila apresenta e por conhecer o contexto no qual ela

se baseia – ela tendo vivenciado mais, já que defende a dissertação em breve

–, percebe-se que a docente-mestranda, assim como eu, está desenvolvendo-

se intelectualmente com as diferentes leituras, estudos, reflexões e discussões

sobre aspectos e temáticas do campo da Educação trabalhados pelos

docentes do PPGEdu nas disciplinas e também nos encontros dentro dos

grupos de pesquisa, que são profundamente ricos e significativos para o

desenvolvimento profissional e da pesquisa. Nessa ótica, é possível afirmar

que a teoria tem muita influência em nossa atuação docente, nas

(re)formulações de ideologias, construções de pensamentos, ressignificação de

sentidos, concepções, conceitos, enfim, em todos os fatores que influenciam

quem somos enquanto brasileiros e professores. Para Pimenta (2006),

[...] a teoria tem importância fundamental na formação dos docentes, pois dota os sujeitos de variados pontos de vista para uma ação contextualizada, oferecendo perspectivas de análise para que os professores compreendam os contextos históricos, sociais, culturais, organizacionais, e de si próprios como profissionais. (PIMENTA, 2006, p. 24)

Além da pertinência dos estudos teóricos para os docentes e

acadêmicos, no mestrado do PPGEdu/UFMT/CUR, para quem é bolsista, é

requisito que se faça o estágio docência de 30 horas na graduação. Na época

que foi entrevistada, Laila estava no processo desta vivência e em sua

perspectiva tal atuação estava promovendo práticas reflexivas entre ela e os

75

licenciandos em Letras Inglês na disciplina de Estágio de Observação da matriz

curricular do curso. Identifica-se no excerto abaixo que Laila contenta-se com o

trabalho que desenvolvia no estágio, provando mais uma vez que ela

apropriou-se de diferentes conhecimentos nessa experiência de pós-graduação

e os têm aplicado em sua prática diária. Laila expõe:

[...] Eu comecei a fazer estágio também, que é exigência da bolsa, a fazer estágio na graduação. Eu estou fazendo na disciplina de Estágio e eu estou promovendo este tipo de reflexão que eu achava que carecia o curso de Letras porque eu não tinha nenhum posicionamento por não ter conhecimento. Então quando a gente promove esse tipo de reflexão, por mais que o aluno não se aprofunde, vai ter algum aluno que vai se interessar, que vai ter esse olhar diferente para aquilo que ele está fazendo, preocupado em não reforçar alguma coisa que não seja condizente com aquilo que ele acredita. (Entrevista, Laila, 2016)

Os trechos destacados nesta seção do artigo buscaram mostrar uma

parcela da vida acadêmica de Laila para que fosse possível visualizar o seu

crescimento enquanto docente e pesquisadora. Foi possível identificar o quanto

a reflexão é uma prática ativa em sua vida profissional ação que foi

conceituada e estimulada nos estudos da graduação, evoluiu ao ingressar na

pós-graduação e no decorrer das vivências diárias da docência.

Características como essas podem apontar um caminho para agentes

da educação que estejam preocupados com o futuro dela em nosso país,

profissionais críticos, estudiosos, que se posicionam, discutem, refletem, vão

às ruas, lutam pela categoria, se (auto)formam, se desafiam, enfim, aqueles

que educam numa perspectiva social, contextual e humana, pois não pensam a

educação numa perspectiva técnica, capitalista e neoliberal como os que

regem as leis, apenas interessados em atingir os melhores índices em gráficos

internacionais. Pelo contrário, para o professor que intensamente se dedica a

ser um docente autônomo, que reflete, que se (auto)critica, está em constante

busca pelo saber, o conhecimento pedagógico e também o científico, investe

no seu desenvolvimento profissional, não somente em sua área específica de

formação, para este profissional, todo desafio é uma experiência de

permanente aprendizado do qual ele se apropria diariamente.

76

5 Considerações finais

O presente artigo objetivou expor a discussão e reflexão em que resultou

a investigação sobre a experiência acadêmica de Laila, professora de Língua

Inglesa e mestranda em Educação. A partir da entrevista, puderam-se obter

dados profundos sobre suas vivências, principalmente na pós-graduação,

porém com traços de iniciativas e planos que se originaram e/ou foram

instigados durante os estudos da licenciatura em Letras Inglês. Em outras

palavras, a partir do estudo e análise da narrativa de Laila, foi possível

perceber que há ampla relevância em se prosseguir com a formação

acadêmica através dos estudos da pós-graduação, mesmo que não sejam em

sua linha específica de formação, pois, na verdade, essa vontade – falando da

experiência de Laila e minha – de aprofundar-se nos estudos após a formatura,

aflorou na própria graduação.

Vale destacar também que se formar em uma licenciatura e em curto

tempo ingressar em uma pós-graduação permite ao licenciado fazer conexões

com uma fase da vida não muito remota e oferece-lhe oportunidades de

estudos e de relação interpessoal que colocam à prova a sua maturidade, suas

capacidades e habilidades enquanto docente, suas práticas reflexivas, enfim, a

experiência torna-se um processo de desenvolvimento profissional no qual o

mestrando se vê evoluindo, transformando-se, tornando-se adulto e

pesquisador, e com isso ele constitui-se mais crítico, reflexivo, interessado,

político, observador, provocado pelos acontecimentos ao seu redor e

preocupado com a influência que esses podem ter na educação local e global.

A meu ver, com esta investigação pude perceber que a minha decisão

de fazer o mestrado em Educação é oportuna, uma vez que, como evidenciado

na narrativa de Laila, esse processo de aprofundamento teórico e investigativo

também propõe ações práticas, como no estágio para os bolsistas, e contribui

para o desenvolvimento da reflexão e criticidade, assim ampliando os sentidos

sobre o que significa ensinar, aprender, estudar, pesquisar, planejar, formar,

enfim, ser profissional da educação, pois, como nos instrui Nóvoa (1992b, p.

12): “temos de ser capazes de pensar a nossa profissão”.

77

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78

O DESENVOLVIMENTO DOCENTE DE UMA ESTUDANTE DE LETRAS NO CONTEXTO PIBID DE INGLÊS

Paula Tuany Silva CAFÉ

Eladyr Maria Norberto da SILVA

Universidade Federal de Mato Grosso

RESUMO: Esta pesquisa, focada no processo de desenvolvimento de uma estudante de Letras e bolsista de iniciação à docência (ID) do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID) de Inglês da UFMT/Cuiabá, visa apontar os fatores que contribuíram para seu progresso acadêmico e profissional, na medida em que ela vai se tornando professora de inglês, ao longo de dois anos. Considerando que narrativas proporcionam reflexão e a reflexão pode levar ao desenvolvimento profissional, analisamos produções escritas, de natureza narrativa e reflexiva, da bolsista ID – relatórios anuais, diários reflexivos, em que reporta sua experiência em sala de aula, e seu portfólio, onde apresenta e avalia uma seleção de seus trabalhos produzidos no PIBID. Os resultados da análise mostram e discutem os principais aspectos e processos que foram significativos para seu desenvolvimento, dentre eles o embasamento teórico, a apropriação de procedimentos metodológicos em sala de aula; a reflexão e a pesquisa, e a orientação recebida ao longo de sua formação. Os fatores identificados indicam que as práticas proporcionadas à bolsista foram preponderantes para seu crescimento pessoal e profissional, ao lhe permitir que vivencie e construa conceitos, teorias e experiências, escreva, reescreva, reflita sobre suas vivências e aprenda a se posicionar criticamente.

PALAVRAS-CHAVE: Formação docente. PIBID, Narrativa.

ABSTRACT: This research study focuses on the professional development of a Letras student and pre-service teacher of the Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência in English (PIBID) of the UFMT/Cuiabá. It aims to point out the factors that have contributed to her academic and professional development, as she goes through the process of becoming an English as a foreign language (EFL) teacher during the period of two years. Considering that narratives can foster reflection and reflection can lead to professional development, her writing work – annual reports, reflective journals, portfolios, produced as part of her duties at the PIBID, was analyzed. The results show and discuss the main aspects and processes that were meaningful to her development, amongst them the theoretical underpinnings of her work, the appropriation of methodological procedures in her classes, reflection and

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research, and the guidance she was given at the Pibid. These factors indicate that the practices that were offered to her, as a pre-service teacher, were paramount to her personal and professional growth, since they have afforded her the opportunity to live and construct concepts, theories and experiences, to write and rewrite about them and to develop a critical stance towards her work as an EFL teacher. KEYWORDS: Teacher education; PIBID; Narratives. Introdução

As narrativas de formação de professor de Inglês no contexto da

educação pública no Brasil reportam desafios que vão desde a falta de

recursos necessários para aulas adequadas ao ensino e à aprendizagem da

língua à falta de qualificação e preparo do professor em lidar com a realidade

da escola pública, bem como à desvalorização do professor de Inglês, tanto

pela sociedade quanto pelos atores da escola (corpo docente, discente e

administradores) e pelo próprio professor (DIAS; ASSIS-PETERSON, 2006;

COX; ASSIS-PETERSON, 2008; ASSIS-PETERSON; SILVA, 2010). O

conhecimento e a familiarização com esse cenário, nem sempre favorável, de

maneira informada e orientada, durante o curso de graduação, podem auxiliar o

professor em formação a minimizar um futuro ‘choque’ de realidade ou, até

mesmo, evitar a desistência da carreira docente.

Como podemos, então, melhor preparar o futuro professor para a

‘realidade da sala de aula’? Sabe-se que, provavelmente, a melhor forma seria

investindo na formação desses jovens professores, proporcionando-lhes

experiências que o ajudassem a melhor lidar com essas situações que são

recorrentes na escola pública no Brasil. Porém, com a carga horária dos cursos

de licenciatura dupla, e, até mesmo, a disponibilidade pessoal do graduando

em investir em sua formação, a disciplina de estágio ssupervisionado – que

permite ao graduando ter um contato mínimo com a escola pública – nem

sempre proporciona tempo suficiente para uma formação docente consistente e

centrada na prática.

Buscando fazer a interação entre teoria e prática e, assim, promover

crescimento progressivo na formação docente, o Programa Institucional de

Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID) fora inserido no contexto das reformas

educacionais iniciadas a partir de 1996, por ocasião da aprovação da Lei n.

9394, de 20 de dezembro de 1996 (CANAN 2008, p. 25), e tem sido um dos

80

responsáveis por proporcionar aos alunos bolsistas de iniciação à docência (ID)

um contato direto com o “chão da escola” e experiências na “vida de professor”,

gerando desdobramentos ligados à construção de suas identidades pessoal e

profissional.

Neste artigo buscamos identificar e discutir os fatores que contribuíram

para o desenvolvimento profissional de uma graduanda em Letras e bolsista ID,

Paula, também autora deste artigo, tendo como pano de fundo as práticas

proporcionadas pelo PIBID de Inglês da UFMT do Campus de Cuiabá.

Iniciamos comentando sobre o papel do PIBID na sua formação docente e

apresentamos os principais autores que embasam esta pesquisa; em seguida,

descrevemos a metodologia utilizada para a análise dos dados; e discutimos os

fatores que contribuíram para sua formação.

O PIBID e o seu papel na formação docente

Para Bahiense e Hobolde (2010 p. 59), os indivíduos estão em constante

transformação, constituem sua identidade por meio da relação com o outro, e

esta relação está medida pelos aspectos históricos e sociais. Assim sendo, a

identidade se constitui em movimento e desenvolvimento do que é real e

concreto. Nesse sentido, o PIBID de Inglês da UFMT, desde 2009, tem se

preocupado em promover conhecimentos, experiências e práticas aos

estudantes de Letras, que dele participam, ao lhes dar a oportunidade de

conhecer a realidade da escola pública.

Dentre os vários espaços formativos ofertados pelo PIBID destacam-se

as reuniões de grupo de estudos, denominados GEPLI (Grupo de Estudos do

PIBID de Língua Inglesa) e o Ciclo de Estudos Essentials in English Language

Teaching, reuniões de planejamento; reunioes de prática comunicativa em

língua inglesa, de eventos acadêmicos e reuniões de socialização. Cada uma

dessas atividades têm uma finalidade específica e estimular a reflexão.

Estas experiências, vividas na universidade e na escola, são registradas

em forma de narrativas, as quais propiciam a autorreflexão, o desenvolvimento

da consciência sobre as experiências vividas e o autoconhecimento,

estabelecendo o narrador como sujeito de sua própria história (SOUZA, 2006,

p. 147), e colaborando para construção da identidade desses professores em

formação. Alguns dos instrumentos utilizados para a composição de narrativas

81

no PIBID de Inglês são o diário reflexivo, notas de campo, fichas avaliativas de

eventos e de projetos desenvolvidos, relatórios de avaliação e o portfólio de

atividades realizadas.

Diário reflexivo é aqui entendido como relato contínuo de observações,

reflexões e outros pensamentos sobre ensino e/ou aprendizagem, que tem

como principal objetivo colaborar para uma reflexão crítica do professor em

relação ao seu saber pedagógico, ajudando-o a estabelecer relações entre sua

ação e as teorias que a fundamentam (DINIZ-EPEREIRA; CANETE, 2009). O

portfólio, por sua vez, é compreendido como uma coleção de documentos que

melhor representa o desenvolvimento do professor como docente, fornecendo

a ele a oportunidade de refletir sobre seu processo de aprendizagem e de

ensino (MURRAY, 1994).

Todos os instrumentos e práticas mencionados levam o professor em

formação a desenvolver a reflexão. O ato de refletir faz parte do oficio do

professor, e deve ser nutrido no desenvolvimento profissional dos professores

iniciantes, uma vez que os encaminha para o ensino crítico e ações

fundamentadas futuramente, quando já estiverem atuando na profissão

(ZEICHNER; LISTON, 1996). Ao refletir sobre suas ações, o professor

consegue analisar quais procedimentos foram ou não bem-sucedidos em sua

prática e quais caminhos ele poderá seguir para alcançar diferentes resultados;

ou seja, poderá modificar o andamento de suas aulas e encontrar formas mais

satisfatórias de agir (RICHARDS; LOCKHART 1997).

Ao se constituir como ambiente capaz de proporcionar aos bolsistas a

iniciação e o desenvolvimento profissional, o PIBID tem um papel crucial em

sua formação docente, pois as práticas formativas permitem que os bolsistas

vivenciem, escrevam, reescrevam, reflitam, aprendam a se posicionar

criticamente, conheçam novos conceitos, teorias e experiências, e, ao longo

desse processo, construam a sua própria prática como futuros professores.

Metodologia

Neste estudo, foram selecionadas e analisadas produções escritas, de

natureza narrativa e reflexiva, da bolsista ID Paula, ao longo de dois anos de

sua participação no Programa: relatórios anuais de 2014 e 2015, diários

reflexivos, em que narra sua experiência em sala de aula em 2014 e 2015, e

82

seu portfólio, finalizado em 2016, onde apresenta uma seleção de suas

produções mais significativas.

A partir de uma abordagem qualitativa, Paula, juntamente com sua

orientadora e coautora deste artigo, identificou situações, marcos e vivências

que foram relevantes para sua formação e, em seguida, reconheceu os fatores

que contribuíram para seu desenvolvimento, refletindo, sobre como estes a

auxiliaram a, pouco a pouco, se tornar professora iniciante de Inglês.

Resultados

Day (1999, p. 15) afirma que, “o sentido do desenvolvimento dos

professores depende da sua vida pessoal e profissional (...)”. Logo, todo e

qualquer acontecimento referente à vida do professor pode contribuir para a

formação de sua identidade docente. Diversos foram os fatores que

contribuíram, e ainda estão contribuindo, para o desenvolvimento de Paula

como professora de inglês no contexto do PIBID. Dentre eles, destacam-se a

reflexão escrita; a prática em sala de aula; os estudos e as discussões, e a

orientação recebida.

A reflexão escrita

No PIBID de Inglês, seus participantes escrevem, contam suas histórias

e refletem com frequência. O relatório anual tem sido uma importante

ferramenta que proporciona ao bolsista ricos momentos de reflexão. Por ser um

texto de caráter descritivo/narrativo/avaliativo, torna evidente os processos que

corroboraram para mudanças. Ao ao escrevê-lo, o bolsista tem liberdade para

expor suas opiniões e sentimentos a respeito das atividades realizadas num

determinado período dentro do Subprojeto.

O relatório anual é um instrumento onde os bolsistas ID apontam e

avaliam as atividades desenvolvidas no projeto durante o ano e, esse caráter

avaliativo, permitiu que Paula se sentisse em um espaço apropriado para fazer

considerações importantes ao refletir sobre seu processo de aprendizagem e

comprometimento com o projeto. Ao reler o relatório anual de 2014, Paula

percebeu que ao escrevê-lo, havia identificado suas dificuldades iniciais e

refletido sobre as consequências de suas atitudes. Devido ao fato de ter

apresentado dificuldades em se organizar no seu primeiro ano como bolsista

PIBID, assim se expressou:

83

Hoje, sinto muito por ter sido tão desorganizada, por ter sido tão negligente com os prazos, vejo que poderia ter feito melhor, ter sido menos preguiçosa na escrita das minhas observações e ter passado mais segurança. Acho que comecei demonstrando que posso muito pouco para os meus colegas e até mesmo à coordenadora. Fiquei triste por não querer participar de algumas reuniões na escola, reuniões estas, realmente necessárias, para um melhor conhecimento do contexto escolar. (Relatório Anual 2014 – p. 12)

Nota-se certa insatisfação com seu desempenho inicial no projeto, a

qual, mesmo que se já percebida anteriormente, se materializou na reflexão

feita por meio da escritura do relatório. O ato de refletir sobre suas ações no

ano de 2014, levou-a a um posicionamento mais comprometido com as

atividades do PIBID no ano posterior. Igualmente, as reflexões feitas em seu

portfólio a levaram a perceber mudanças em seu olhar sobre a escola pública e

o ensino de Inglês. Ela declara que, ao participar do PIBID, o que antes lhe

parecia normal como aluna de escola pública, passou a ser visto como desafios

no processo de ensino/aprendizagem, os quais, agora, busca entender, por

meio de observação, estudos e pesquisas realizados no PIBID. Nas palavras

de Paula, em um trecho de seu portfólio:

Ao participar do PIBID tive minha primeira experiência como professora em formação inicial, e o que antes para mim era normal como aluna, hoje vejo como um empecilho no processo de ensino/aprendizagem e busco, por meio de observação, estudos e até mesmo pesquisas realizadas no PIBID, entender. Estar na escola, observar e entender os alunos - dentro em fora de sala de aula, observar e entender o sistema, gestão da escola e professores são de extrema importância para compreender os acontecimentos de dentro da sala de aula, como dito em Gomes, 2005 “para conseguir a efetividade da educação, é necessário entender os fatores que influenciam a educação nos níveis macro e micro. (Portfólio 2016)

Pela análise desse extrato do seu portfólio é possível perceber que a

postura da Professora Paula emergir e, com ela, o desejo de compreender o

novo mundo que está descobrindo. Refletindo sobre as atividades

desenvolvidas na escola, faz-se evidente a importância de compreender o

contexto escolar e como o PIBID contribui para isso. Segundo Day (1999, p.

84

17), “os professores não podem ser formados (passivamente). Eles formam-se

(ativamente). É, portanto, vital que participem ativamente na tomada de

decisões sobre o sentido e os processos de sua própria aprendizagem” (DAY,

1999 p. 17).

A prática na escola

Atividades de planejamento e elaboração de material didático compõem

a prática rotineira de um professor e, ao desempenhá-las, Paula vai

exercitando suas habilidades profissionais. Em um excerto de seu relatório

anual de 2015, ela retoma o que fez ao longo daquele ano e reconhece a

importância que as atividades tiveram no seu desenvolvimento:

(...) fizemos plano de aula, preparamos atividades, ministramos algumas aulas e tivemos contato direto com os alunos. Ao elaborar planos de aula e atividades percebi o quão difícil é para o professor adequar seus afazeres pessoais à atividade de planejar sua aula, pensar nos objetivos, presumir possíveis contratempos e refletir em como desenvolver cada atividade de maneira a engajar e interessar o aluno a aula. Assim sendo, avalio as atividades de planejar e elaborar material didático, como sendo importantes para mim, como futura professora. (Relatório anual 2015 p. 15)

Por meio da prática na escola, a bolsista pode conhecer um pouco da

realidade docente, perceber as dificuldades que o professor tem em adequar

as tarefas docentes ao seu dia a dia.

Os estudos e as discussões

No processo formativo proporcionado pelo Pibid de Inglês, o contato

com teorias, princípios e conceitos geralmente ocorre nas reuniões de estudo,

como o GEPLI. Nelas os bolsistas entram contato com autores que ‘pensam’ a

escola pública e o ensino de inglês, lêem e discutem relatos de experiências,

artigos e pesquisas que reportam a vida de professores, suas práticas,

experiências, os alunos, os atores da escola e as políticas públicas que

interferem na sala de aula. De acordo com Paula:

O GEPLI, reuniões nas quais costumamos discutir assuntos sobre educação, PCNs e aulas de inglês através de artigos que

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relatam estudos ou experiência de outros profissionais da educação. Essas reuniões têm esclarecido os aspectos do ensino em minha formação. Através das discussões, tenho aprendido a me posicionar criticamente diante de alguns assuntos referentes à escola. Nas reuniões do GEPLI eu aprendo quais são os posicionamentos de outros professores e especialistas sobre acontecimentos recorrentes na escola. (Relatório anual 2015 p. 14)

Neste excerto de seu relatório anual de 2015, ela reconhece que,

através da participação nesse espaço, aprende a posicionar-se criticamente,

não só pelo conhecimento que traz de sua vida e experiências pessoal, mas

pelos estudos, pelas experiências e ideias de outros. Ao aprender a se

posicionar discutindo, debatendo, vai, gradualmente, moldando sua identidade

profissional, de maneira ativa.

A orientação recebida

Embasada em Vygotsky, Oliveira (1993, p. 57) afirma que aprendizagem

se caracteriza no “processo pelo qual o sujeito adquire informações,

habilidades, atitudes, valores e etc. a partir do seu contato com a realidade, o

meio ambiente e as outras pessoas (...) incluindo sempre aquele que aprende,

aquele que ensina, e a relação entre as duas pessoas”. Essa relação dialógica

entre aquele aprende (professor em formação) e aquele que ensina (professor

orientador/mentor/supervisor) marca o processo de desenvolvimento de Paula

no contexto do PIBID, como é apontado no excerto abaixo:

As orientações recebidas na UFMT da professora coordenadora do PIBID de inglês são fundamentais, nela tenho auxílio, na reflexão dos meus afazeres e todas as atividades que executo, tanto na graduação quanto no projeto. Essas orientações contribuem para o meu crescimento, pessoal e profissional, pois têm a capacidade de esclarecer minhas escolhas, me proporcionando segurança (...) como seria bom se todos os professores tivessem um coordenador a quem recorrer; um coordenador capaz de ajudá-lo a refletir e encontrar novos caminhos. Tenho minhas dúvidas sanadas quando preciso e recebo toda a orientação necessária para a realização das minhas atividades. Estou satisfeita com as orientações recebidas, pois elas contribuem com a formação da minha identidade docente, refletindo no profissional que almejo ser. (Relatório Anual 2015 - p.18).

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Percebe-se no trecho acima que as orientações recebidas a levaram a

refletir sobre suas ações, e a auxiliam a definir seus posicionamentos e a

alcançar resultados no seu processo formativo docente. Essa relação dialógica

entre orientador e orientando permite aos bolsistas compartilhar, refletir e

receber retorno. Essa ação é mais recorrente na prática de escrita do diário

reflexivo, em que a bolsista compartilha suas satisfações, insatisfações,

sentimentos e pontos de vista com a professora orientadora, que ao ler e

responder nas páginas do diário da bolsista, pode perceber as necessidades e

dificuldades que estão sendo vivenciadas e fornecer suporte para seu

desenvolvimento profissional, por meio de comentários, perguntas pontuais,

exploratórias e reflexivas ou mesmo de busca de outras estratégias de apoio à

sua formação. Pode, também, propiciar a oportunidade de ajudar o professore

em formação a fazer conexões entre a teoria e a prática (RICHARDS;

FARRELL, 2005, p. 73-75). Apresentamos a seguir um excerto do diário

reflexivo de Paula, em que ela relata um dia de aula em 2014 apontando essa

relação dialógica entre a orientadora e a orientanda:

(...) antes da professora dizer quem ficaria com que país, ela perguntou quem ficaria com a Laís, uma aluna que faltou no dia; nenhum grupo queria, o pessoal do meu grupo disse que ela não faz nada, é grossa. Teve uma aluna, de outro grupo, que disse que se a Laís entrasse, ela sairia. A professora ficou muito irritada com isso e deu outro sermão nos alunos. (P., Diário Reflexivo 9º ano A – 11/09/2014)

O que você achou da forma como a professora estava agindo para lidar com o desinteresse e dispersão dos alunos na aula, Paula? Você agiria de outra forma? Como?” (P., Diário Reflexivo 9º ano A – Comentário I E., 15/09/2014)

Penso que ela se expõe muito dessa forma, ela sempre usa o ser última aula como uma desculpa para explicar a atitude da sala, me pergunto, será que uma última aula com um professor mais rígido, seria assim, também, só porque é última aula? Sei lá. Professora, penso que se nós começamos uma coisa errado, é quase que impossível no meio do caminho decidir mudar, ainda mais se tratando de pessoas, nesse caso adolescentes. Eu teria começado diferente desde o primeiro dia, imporia respeito. Penso que é melhor ser um professor rígido que eles não gostem muito, mas aprendem e deixam que eu dê minha aula, do que um professor bonzinho. Eu não sei como agiria, mas sei que se eu tivesse a oportunidade de começar a dar aula, começaria do jeito certo, não gritaria. Eles riem dela quando ela age assim. (P., Diário Reflexivo 9º ano A, 16/09/2014)

87

Então, Paula, estamos falando aqui de algo bastante profundo que é ‘identidade’, tanto profissional quanto pessoal. Identidade tem a ver com a forma como olhamos para nós mesmos, a forma como agimos diante das pessoas nos diferentes contextos, e a forma como as pessoas nos vêem. Você está certa em dizer que não é algo fácil de ser mudado, mas, por ser flexível, relacional e sujeita a influências e relações sociais, a identidade é mutável, flexível e está sempre em construção, principalmente em início de carreira – como é o caso da professora e de vocês. O que quero dizer com isso é que é possível mudar, sim, mas isso vai depender de uma série de fatores. Neste caso, em particular, penso que vocês estão em um contexto bastante desafiador, lidando com crianças que vêm de um mundo e de educação diferentes das que vocês tiveram. A mudança delas e dos professores demanda tempo e conscientização de que é preciso mudar. Vejo que você tem algo a seu favor – sua forma de ser e seu jeito de lidar com as pessoas. Isso pode facilitar seu relacionamento com os alunos. Mais do que uma relação de amizade e camaradagem, o ideal é que você (e a professora) consiga construir uma relação de respeito e autoridade com eles. Vamos discutir isso no GEPLI nas próximas semanas. (Diário Reflexivo 9º ano A – Comentário II E., 16/09/2014)

Nesse excerto a bolsista aponta sua insatisfação com uma situação que

parecia ser recorrente em sala – a indisciplina dos alunos e a falta de

posicionamento da professora frente a eles. Nesse diálogo com a

coordenadora do projeto, ela passa ter a possibilidade de compreender melhor

a atitude da professora e sua própria, refletindo sobre o conceito de identidade.

Apresentamos aqui, alguns fatores que podem estar contribuindo para

seu desenvolvimento profissional. Outros fatores, como o papel das relações

interpessoais no grupo e a prática de língua inglesa, também foram

identificados como relevantes para sua formação, mas não discutidos neste

trabalho. Todos eles, em maior ou menor proporção, e em diferentes

momentos, colaboram na construção de sua identidade profissional.

Considerações Finais

Assis-Peterson e Silva (2011) asseveram que o professor, desde o início

de sua indução profissional, está de fato engajado na tarefa constante de se

tornar professor, em outras palavras, está se ocupando com questões de

identidade. Retratamos aqui, uma graduanda e bolsista ID do PIBID de Inglês

engajada no desenvolvimento de sua identidade profissional.

88

Os resultados mostram as oportunidades que um licenciando tem para

aprender o ofício de professor e os fatores que contribuem para sua formação,

ao participar desse programa de formação inicial de professores e, igualmente,

a disposição e a agência da bolsista em investir na profissão que escolheu.

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âmbito da Política Nacional de Formação de Professores. Formação

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90

FORMANDO JOVENS EMBAIXADORES: UMA EXPERIÊNCIA DE

LETRAMENTO EM LÍNGUA INGLESA

COM ESTUDANTES DO ENSINO MÉDIO

Jonathan de Paula Camargo

Instituto Federal de Mato Grosso

RESUMO: Em meio a nova ordem, os novos letramentos integram-se às questões políticas e culturais no momento em que permitem o acesso a uma nova cultura. O presente trabalho traz considerações pertinentes ao desenvolvimento do Projeto de Ensino Formando Jovens Embaixadores, que tem como motivação principal incentivar estudantes da rede pública, especificamente aqueles do IFMT, Campus Campo Novo do Parecis, a participarem do programa Jovens Embaixadores. O programa permite que jovens brasileiros oriundos da escola pública concorram a uma vaga em intercâmbio cultural aos Estados Unidos desde 2003, com uma edição anual. O projeto de ensino apresenta como objetivo geral: promover encontros que contribuam para o ensino-aprendizagem da Língua Inglesa abordando temas linguístico-discursivos exigidos nas etapas de avaliação do processo de seleção. Como objetivos específicos, a proposta busca encorajar os participantes a desenvolver suas habilidades linguísticas em inglês por meio de aplicativos instalados em seus smartphones, além de promover encontros que contemplem os temas que compõem os processos de seleção anteriores do programa, e também incentivar os estudantes a elaborar atividades comunicativas relacionadas aos temas presentes nas últimas edições de seleção. A presente proposta se atrela aos pressupostos orientadores defendidos por Snyder (1996) no que se refere a novas práticas de letramento envolvendo as tecnologias, que mediadas por aplicativos e programas de computadores permitem a multimodalidade como ferramenta de aprendizagem de uma língua estrangeira. Assim, o projeto foi desenvolvido considerando os Novos Letramentos (LANKSHEAR e KNOBEL, 2008) e questões políticas e culturais que giram em torno dessa discussão. Dessa forma, conclui-se a relevância do projeto para que seus participantes realizem, de maneira bem sucedida, as etapas do processo de seleção do programa Jovens Embaixadores, considerando aspectos sociais, linguísticos e humanitários. PALAVRAS-CHAVE: ensino de língua inglesa; letramento digital; novos letramentos.

91

ABSTRACT: In the new world order new literacies is completely related to

politics and culture at the moment they make access to different cultures

possible. This work brings considerations around the development of an

Educational Project named Youth Ambassador’s Formation which has as its

main objective encouraging students from public school, specifically those from

IFMT, Campus Campo Novo do Parecis, to take part of the Youth Ambassador

program. The program allows young Brazilian students from public schools to

compete annually for a room in a cultural interchange to the United States since

2003. The teaching project general objective consists on promoting meetings

that contribute to English Language teaching and learning addressing linguistic

and discoursive subjects required in the evaluation steps of the selection

process. As specific objectives, this work encourages participants to develop

linguistic abilities in English through apps installed in their smartphones as well

as it promotes moments in which the themes from past selections of the

program are considered and it also works on motivating students to develop

communicative situations related to the previous editions of the program. The

present proposal is related to the guided assumptions discussed by Snyder

(1996) around new literacies theories and practices and the use of technology

mediated by apps and computer programs in order to include multimodality as a

tool to foreign languages learning. In this way, the project was developed

considering New Literacies (LANKSHEAR & KNOBEL, 2008) and political and

cultural issues around this theory discussion. Thus, one may conclude that the

project is a relevant opportunity for the participants to get involved in social,

linguistics, and humanitarian aspects as they take part of the steps of selection

of the program youth ambassadors.

KEYWORDS: English language teaching; digital literacy; new literacies

Introdução

O presente trabalho tem como tema o ensino de segunda língua sob as

perspectivas do letramento crítico por meio de encontros presenciais que

contemplam a ampliação das possibilidades de acesso e ingresso em políticas

internacionais.

92

A iniciativa de oportunizar encontros pedagógicos em formato de

projetos de ensino, inseridos como atividades de apoio nos Institutos Federais,

trata-se de oportunidades de interação entre estudantes e docentes para além

da sala de aula. Nesse sentido, essa proposta busca a (inter)ação dos

participantes como cidadão crítico e socialmente engajado com o mundo, ao

permitir que estes encarem seu papel social frente à globalização e à

internacionalização nas quais perpassa o processo de ensino-aprendizagem na

atualidade.

Ao professor, cabe incentivar os estudantes na ampliação de suas

capacidades linguísticas que se desdobram nas mais diversas habilidades, que

por sua vez, refletem na postura que os estudantes adquirem advinda tanto do

processo ensino-aprendizagem como da relação entre professor e aluno.

Nessa perspectiva, foram elaboradas questões que nortearam este

trabalho e são elas:

Encontros promovidos fora da sala de aula contribuem para que

os estudantes demonstrem mais segurança ao comunicar-se

em uma língua estrangeira?

Quais ferramentas o professor pode utilizar para que seus

estudantes construam sentido no processo de aquisição de

segunda língua?

Ao mencionarmos ensino de segunda língua, buscamos compreender

como se dá esse processo de ensino/aprendizagem por meio de métodos que

estabeleçam relação entre os elementos linguísticos que a princípio parecem

deslocados, mas que com a maturidade linguística do falante em relacioná-los,

constituem uma etapa fundamental no processo de comunicação.

Nesse sentido, pensa-se no estudante como atuante da sua

aprendizagem no momento em que encara novas dinâmicas de relação com a

língua alvo e ainda, ao se deparar com o fato de poder aprender inglês dentro

de novos ambientes que já não são tão novos para ele em casa, mas que, por

uma prática mais associada às suas vivências, criam novos ambientes de

ensino/aprendizagem de uma segunda língua.

____________________________ 1 Uma segunda língua é tipicamente uma língua oficial ou socialmente dominante requerida para propósitos educacionais, profissionais, entre outros. É comumente adquirida por membros de grupos de minoria ou imigrantes que têm outra língua nativa. (SAVILLE-TROIKE, 2006, p. 4) Tradução livre.

Em meio às novas dinâmicas impostas pela tecnologia, que por sua vez

atrelam-se aos interesses da maior parte dos estudantes, o conceito de ensino

de língua inglesa, que por muito tempo foi visto como um ensino integrador e

interdisciplinar encara um novo desafio dentro da sala de aula: a introdução de

novas ferramentas e o (re) pensar em ser professor de inglês com práticas

inseridas no cenário tecnológico-informativo, o qual temos vivenciado nas

últimas décadas.

Vários autores contribuem para a discussão sobre aquisição de segunda

língua no que diz respeito a aspectos linguísticos, e muitos outros defendem

que estes elementos linguístico-cognitivos são intrínsecos a elementos

culturais, econômicos e de relações de poder. Como Saville-Troike pontua,

A second language is typically an official or societally

dominant language needed for education, employment,

and other basic purposes. It is often acquired by minority

group members or immigrants who speak another

language natively (SAVILLE-TROIKE, 2006, p. 4). ¹

Dentro do contexto de ensino de inglês como segunda língua, o objetivo

central deste estudo foi promover encontros que possibilitem o ensino-

aprendizagem da Língua Inglesa abordando temas linguístico-comunicativos

exigidos nas etapas de avaliação do processo de seleção do programa Jovens

Embaixadores.

Como objetivos específicos, a proposta busca encorajar os participantes

a desenvolver suas habilidades linguísticas em inglês por meio de aplicativos

instalados em seus smartphones, além de promover encontros que

contemplem os temas que compõem os processos de seleção anteriores do

programa, e também incentivar os estudantes a elaborar atividades

comunicativas relacionadas aos temas presentes nas últimas edições de

seleção.

94

Para alcançar os objetivos propostos, foi utilizado como recurso

metodológico, a elaboração de material de estudo e de ensino que consideram

questões advindas da pesquisa bibliográfica, realizada a partir da análise

pormenorizada de materiais já publicados na literatura de ensino de língua

inglesa como segunda língua, letramento digital e crítico e artigos científicos

das mesmas temáticas divulgados no meio eletrônico.

Em síntese, o texto do estudo apresentado foi ancorado nos conceitos e

teorias de autores como: Saville-Troike (2006), Gomes (2007, Leffa (2007),

Snyder (1996), Lankshear e Knobel (2008), Buzato (2001) e Freire (1997).

Fundamentação Teórica

Com o advento da modernidade e a influência de novas formas de

interação entre falantes de idiomas diferentes, a aquisição de segunda língua

(SLA) – processo pelo qual um indivíduo aprende uma segunda língua, tem

estado em discussão desde que se pensa no ensinar/aprender uma língua

estrangeira inserido nesta realidade contemporânea.

Neste cenário, foram considerados os pressupostos orientadores

defendidos por Snyder (1996), nos quais os estudantes encaram uma nova

forma construir sentido no processo de aquisição de segunda língua motivados

por uma nova ordem de comunicação, tomando como premissa novas práticas

de letramento envolvendo as tecnologias, que mediadas por aplicativos e

programas de computadores permitem a multimodalidade como ferramenta de

aprendizagem de uma língua estrangeira, neste caso, para além da sala de

aula.

Nesse sentido, o pensar em adquirir habilidades em uma segunda língua

retoma o que é defendido por Saville-Troike (2006), e que tem se tornado ainda

mais acessível devido às relações estabelecidas na sociedade moderna, pois

define aquisição de segunda língua tanto como o “estudo de indivíduos e

grupos que estão aprendendo uma língua subsequente à primeira língua

aprendida quando criança, quanto o processo de aprender aquela língua”

(SAVILLE-TROIKE, 2006, p.2).

Desse modo, retomamos a discussão iniciada pela autora no que se

refere à aquisição de segunda língua, que nas últimas décadas ganha novas

interfaces com o surgimento das Tecnologias de Informação e Comunicação –

95

TICs, que permitem a reconfiguração do cenário de ensino-aprendizagem de

línguas.

Com isso, a busca pelo ensino que oportunize as diversas habilidades

de comunicação, com a inclusão de ferramentas digitais e cyberespaços de

aprendizagem, permite que o ensino de línguas ganhe outros sentidos, uma

vez que os celulares e tablets passam a ser utilizados para baixar aplicativos

de ensino que abordam elementos relacionados a aquisição lexical e estrutural

da língua.

Dessa forma, o que é colocado por Freire (1997) no que se refere à

autonomia de aprendizagem, ganha forte evidência no processo de aquisição

de segunda língua, pois, a curiosidade e a surpresa são essenciais para a

constituição do conhecimento do estudante. E que assim, ao encarar uma

situação de conversação real, este estudante crie sentido e utilize seu

repertório de saberes, e por consequência, atue com mais confiança nas suas

habilidades. A autonomia pode resultar em uma melhor performance por parte

do falante nas mais diversas situações advindas das oportunidades de

interação no âmbito da comunicação.

Considerando que os estudantes e instituições assumem um novo papel

no contexto vigente, no qual se apresentam aprendizes letrados

eletronicamente, o uso de tecnologias como ferramentas digitais no contexto

escolar reforça o incentivo à inclusão desses estudantes a esse tipo de

instrução, seja como inclusão à utilização desses equipamentos ou quanto à

adaptação de suas funções para fins educacionais de aprendizagem.

Gomes (2007) defende que o material de ensino se constitui

esquematicamente de acordo com quatro passos fundamentais. Considerando

o que é defendido pelo autor, ao sinalizar elementos relevantes para o

processo de elaboração/organização de materiais didáticos, é possível

observar que

a elaboração de materiais de ensino envolve a coleta de

uma série de informações, tais como: os objetivos do

material didático, o contexto em que será utilizado, a

quem ele se destina e o tempo de sua utilização. Essas

96

informações, juntamente com as crenças do criador do

material irão ajudar a determinar sua abordagem

pedagógica (GOMES, 2007, p. 103).

Em consonância com o que sugere Gomes (2007), Leffa (2007, p.27)

defende que a produção de materiais de ensino pode ser compreendida como

“uma sequência de atividades que tem por objetivo criar um instrumento de

aprendizagem”. O que nos permite afirmar que essa sequência de atividades

pode ser estruturada de várias maneiras, incluindo novos ambientes que

permitem um número maior ou menor de etapas.

Assim, ao sugerir novos ambientes de ensino, retomamos as quatro

etapas propostas por Leffa (2007, p. 28) quanto à elaboração de materiais de

ensino: (1) análise, (2) desenvolvimento, (3) implementação e (4) avaliação. É

possível compreender que o autor defende a interação entre uma etapa e a

outra, pois o ciclo representado por essas quatro etapas estão em constante

relação entre si de forma que a avaliação indique o início de uma nova análise,

reiniciando um novo ciclo.

Leffa (2007) aponta também que o conteúdo estabelecido para a

produção de um material didático pode ser definido por mais de um conjunto ou

concepção de língua, o que depende do que é estabelecido como objetivo para

o ensino de línguas.

Se entendo, por exemplo, que língua é um conjunto de palavras ligadas por regras gramaticais, faço um recorte do léxico e da sintaxe; se vejo a língua como um conjunto de eventos comunicativos, incluo outros aspectos como regras de formalidade, os lugares sociais de onde falam os interlocutores, os efeitos de sentido que suas falas podem provocar, etc.; se entendo a língua como um meio para desempenho de determinadas atividades, posso selecionar uma lista de tarefas que devem ser executadas pelos alunos: como escrever uma carta comercial, elaborar um currículo, fazer uma homepage, etc (LEFFA, 2007, p. 26).

É relevante ressaltar que há um ponto importante em comum nas

colocações de Gomes (2007) e Leffa (2007) – os autores sugerem a

97

elaboração de material de ensino como uma prática situada. Portanto, a fim de

promover um ensino crítico da língua, dentro de uma abordagem sóciocultural,

e que permita uma constante (re)construção de sentidos e objetivos, é

essencial que a atividade proposta seja pautada dentro de critérios em

conformidade com essas perspectivas.

Em consonância com as perspectivas do letramento digital, Buzato

(2001) menciona o uso de computadores e defende a utilização dos aplicativos

que o computador permite como ferramentas de letramento, ao proporcionar o

ensino-aprendizagem contemplando a multimodalidade presente nessas

ferramentas, pois:

programas deste tipo podem apresentar, também, um desenho animado eletronicamente que acompanha a “fala” do computador, mostrando ao aluno os movimentos articulatórios necessários à produção de fonemas da língua alvo, de modo que ele possa tentar imitar esses movimentos para produzir os sons desejados (BUZATO, 2001, p. 38).

Por sua vez, ferramentas digitais que apresentam diversos modos de

interação midiática, ou seja, aquelas em que o aluno vivencia outras formas de

interação permitidas pela tela de dispositivos digitais que, por meio de imagens

e sons, se relacionam para um objetivo específico, o de contribuírem no

processo de aquisição de segunda língua com mais confiança nos primeiros

passos de fluência na língua. No que se refere à troca que ocorre entre aluno e

computador, Buzato (2001) afirma que

quanto mais próximo do processo requerido para a performance real for a modelagem oferecida pelo computador, dada suficiente transparência/simplicidade para que o aluno possa imitar a performance do computador, mais a máquina ajudará o aprendiz a desenvolver uma representação cognitiva da tarefa e uma performance mais hábil e rotinizada (BUZATO, 2001, p.38).

Segundo o autor, o computador é apresentado ao estudante no

processo de ensino de línguas como oportunidade de praticar suas

possibilidades em um ambiente personalizado que não se assemelha às

oportunidades oferecidas na sala de aula, nas quais muitos dos momentos são

________________________________

² pensar em “letramento digital” como um braço das práticas e concepções sociais

miríades de engajar a construção de sentido mediada por textos que são produzidos,

recebidos, veiculados, trocados, etc., por meio de decodificação digital.

Consequentemente, devemos acrescentar a lista acima blogs, vídeo games,

mensagens de texto, páginas de redes sociais online, fóruns de discussão, memes da

internet, Perguntas Mais Frequentes, resultados de pesquisa online, e assim por

diante (LANKSHEAR & KNOBEL, 2008, p. 5). Tradução livre.

balizados pelo professor e restritos aos estudantes que possuem melhor

desenvolvimento em atividades de pronúncia e conversação.

O decorrer da discussão quanto ao uso do computador, nos direciona a

uma nova metodologia que atua como opção de um ensino que venha a

contribuir para a formação cognitiva do aluno, ao passo que este exerce certa

autonomia dentro de seus objetivos de aprendizagem em meio a era digital.

Com o aprofundamento das teorias acerca dos novos letramentos, que

se relacionam com práticas que buscam transformar, por meio da tecnologia e

suas nuances, indivíduos e grupos de determinados locais, as discussões em

torno do que deve ou não ser utilizado como ferramenta de ensino, ou até

mesmo a desconstrução de tais regras, amplia significativamente o público e o

cenário que o ensino de línguas pode ainda alcançar.

Se considerado o que aqui é definido como autonomia digital, ou seja,

um contexto que permita o surgimento de ferramentas que buscam sanar

lacunas e contribuir para a formação de cidadãos que compreendam o mundo

como uma rede de ideias, de ações sociais e de conexões entre pessoas e

lugares, o ensino-aprendizagem adquire então um novo âmbito frente ao

cenário global.

Ao relacionar este cenário mais autônomo e o que afirmam Lankshear e

Knobel (2008) nas perspectivas dos novos letramentos, mais especificamente

quanto ao letramento digital, no sentido de que se deve

thinking of “digital literacy” as a shorthand for the myriad social practices and conceptions of engaging in meaning making mediated by texts that are produced, received, distributed, exchanged, etc., via digital codification. Hence, to the list contained in the above quotation we may add blogs, video games, text messages, online social network pages, discussion forums, internet memes, FAQs, online

99

search results, and so on. (LANKSHEAR & KNOBEL, 2008, p. 5) ²

Considerando a posição dos autores ao mencionarem elementos que

constituem as possibilidades que surgem por meio dos novos letramentos, a

proposta de engajar envolvimento cidadão aliado às novas ferramentas que a

tecnologia permite como oportunidade de letramento, confirma o pressuposto

de que não há prática livre de questões ideológicas já mencionadas por Saville-

Troike (2006).

100

Conclusão

Diante do que pretendemos com este trabalho, concluiu-se que

encontros com fins pedagógicos organizados e previamente esquematizados

contribuem para uma formação que estende o que é proposto pelos

componentes curriculares e que se atrelam aos documentos orientadores

oficiais bem como os PCNs e Orientações Curriculares do Ensino Médio -

OCEM.

Ressalta-se a importância de elementos que, ao serem destinados para

fins pedagógicos, como aplicativos de celulares, tablets e computadores,

reconfiguram o espaço de ensino de línguas e contribuem com objetivos

didáticos específicos. Estes elementos exercem funções de grande relevância

em momentos de aprendizagem individuais ou em grupo.

Os resultados obtidos pelos estudantes participantes do projeto de

ensino Formando Jovens Embaixadores confirmam o pressuposto de que a

prática de ensino resulta no objeto de todo o processo – a aprendizagem, pois

os participantes demonstraram maior segurança ao se comunicarem na língua

inglesa.

Referências

BUZATO, M. E. K. O letramento eletrônico e o uso do computador no ensino de língua estrangeira: contribuições para a formação de professores. Dissertação (Mestrado em Línguistica Aplicada). Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Estudos de Linguagem. Campinas, 2001.

FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1997.

GOMES, L. F. Hipertextos multimodais: o percurso de apropriação de uma modalidade com fins pedagógicos. Tese. Campinas, 2007.

LANKSHEAR, C.; KNOBEL, M. Digital literacies - concepts, policies and practices. New York: Peter Lang, 2008.

LEFFA, V. J. Como produzir materiais para o ensino de línguas. In: Vilson J. Leffa (Org.) Produção de materiais de ensino: teoria e prática. Pelotas: Educat, 2007.

101

SAVILLE-TROIKE, M. Introducing second language acquisition. New York: Cambridge University Press, 2006.

SNYDER, I. Page to screen: Taking literacy into the electronic era. New York: Routledge, 1996.

102

UM ESTUDO DE CASO SOBRE O ENSINO DE INGLÊS NA ESCOLA PÚBLICA

COM POSSIBILIDADE DE SUCESSO8

João Pedro Amorim FRANCESCHI Bolsista de Iniciação à Docência do Programa Institucional de Bolsas de

Iniciação à Docência – Universidade Federal de Mato Grosso

Talita Siqueira de OLIVEIRA Ex-bolsista de Iniciação à Docência do Programa Institucional de Bolsas de

Iniciação à Docência – Universidade Federal de Mato Grosso

Júnior do Nascimento FERREIRA Bolsista de Iniciação à Docência do Programa Institucional de Bolsas de

Iniciação à Docência – Universidade Federal de Mato Grosso

Eladyr Maria Norberto da SILVA Coordenadora do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência de

Inglês – Universidade Federal de Mato Grosso

RESUMO: Este trabalho visa apresentar os resultados de um estudo de caso realizado por bolsistas do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência

de Inglês sobre o ensino e a aprendizagem de inglês em uma escola pública de ensino fundamental de Cuiabá-MT. Os dados desta pesquisa foram gerados a partir de observações do contexto escolar e das aulas de Inglês em turmas de 6ºs e 7ºs anos, de entrevistas com membros da gestão escolar e com a professora de Inglês das turmas observadas, bem como do relato retrospectivo desta sobre sua formação profissional. A partir da análise dos dados foi possível traçar o perfil do contexto escolar, o perfil dos alunos, da professora e esboçar um retrato de como se dá o processo de ensino/aprendizagem nas aulas de inglês. Por fim, ao contrário do que diversas pesquisas apontam sobre o quadro do ensino de inglês na escola pública, a interpretação desses dados indica condições favoráveis para o ensino e a aprendizagem da língua e aponta os fatores que parecem contribuir para os resultados positivos no contexto dessa escola. Os resultados servem também como estímulo para professores em formação, uma vez que podem vislumbrar um horizonte com possibilidades de atuação efetiva no ensino e na aprendizagem de inglês na escola pública. PALAVRAS-CHAVE: estudo de caso; Pibid; língua inglesa.

8 Agradecemos à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelo subsídio

recebido e aos membros da comunidade escolar – diretora, coordenadora, professora de inglês e alunos do

6º e 7º anos – pela oportunidade de realizar esta pesquisa.

103

ABSTRACT: This article aims to present the outcomes of a case study carried out by pre-service teachers of the Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência in English about English language learning and teaching in a public elementary school in Cuiabá-MT The data were generated by non-participant observation of the school context and of 6th and 7th grades English classes, semi-structured interviews with members of the school community, the English teacher’s retrospective report about her professional trajectory. The data analysis have provided a detailed picture of the school context and the English

classes, the teacher and the students’ profiles, and mainly, of the affordances and constraints in the process of teaching and learning English. In contrast to what has been pointed out by previous research studies about English teaching in Brazilian public schools, the results from this study show favorable conditions for language learning and teaching and indicate the factors that seem to contribute to the positive outcomes in that school context. It is hoped that these encouraging findings will motivate pre-service language teachers to work in public schools as they become professionals.

KEYWORDS: case study; Pibid; English language teaching. Introdução

Na presente pesquisa, realizada por bolsistas do Pibid de Inglês,

pretende-se relatar o desenvolvimento do estudo de caso sobre o ensino de

inglês em uma escola pública de Cuiabá-MT, apresentar e discutir os

resultados, e, em seguida, fazer algumas considerações a respeito da

relevância do estudo para os participantes e professores em formação inicial.

Antes da descrição do percurso da pesquisa, definiremos o que entendemos

por contexto escolar e apresentaremos brevemente o que pesquisas apontam

sobre o ensino de inglês na escola pública.

Segundo Delamont (1993 apud LYONS, 2009, p. 3), o conceito de

contexto escolar envolve aspectos institucionais e extra institucionais em níveis

macro e micro. No nível macro, está o sistema educacional, onde as políticas

educacionais são negociadas; no nível micro, estão a escola e a sala de aula,

compreendendo as interações, ações e crenças das pessoas integradas a esse

ambiente.

Diversos estudos realizados em/sobre escolas públicas no Brasil

(PERIN, 2005; COX, ASSIS-PETERSON, 2006; DIAS; ASSIS-PETERSON,

2006; BARCELOS, 2011) afirmam que o quadro da educação tem retratado

diversas deficiências, seja no contexto macro ou micro, como políticas públicas

pouco realistas e ineficazes para o ensino de línguas, salas lotadas, livro

didático cujo nível exigido é além da proficiência que os alunos possuem,

profissionais despreparados para lidar com o contexto de aulas de línguas, falta

104

de apoio da coordenação pedagógica, bem como a não participação dos

pais/responsáveis na vida escolar dos alunos, para citar alguns exemplo. Ao

contrário do que essas pesquisas levantam, neste artigo pretende-se mostrar

características de uma escola onde há grande possibilidade de se desenvolver

trabalhos com projetos, aulas de inglês mais produtivas e um processo de

ensino e aprendizagem com menores dificuldades, devido ao apoio e

participação dos diversos setores da comunidade escolar.

Percurso Metodológico

Por meio das observações realizadas de outubro a setembro de 2015

em turmas de 6os e 7os anos do ensino fundamental, foram produzidas notas

de campo, nas quais constam informações sobre o dia a dia da Escola

Estadual Souza Bandeira (EESB), o comportamento dos alunos, a forma como

os funcionários contribuem para o bom funcionamento da escola e como a

professora de inglês, que também é a supervisora dos bolsistas de iniciação à

docência do Pibid de Inglês na Escola, atua frente a diferentes situações em

sala de aula, seja com relação ao aprendizado dos alunos ou mesmo a

maneira com que lida com fatos inusitados e comportamentos imprevisíveis.

Para uma abordagem mais ampla e conhecimento dos dados do caso

em estudo, elaboramos um formulário diagnóstico do contexto escolar,

realizamos entrevistas semi-estruturadas com a Diretora e com a

Coordenadora Pedagógica da escola e com a professora das turmas

observadas, a qual também escreveu um relato retrospectivo a respeito de sua

carreira como profissional na área da educação.

Esses documentos foram analisados e interpretados, de acordo com a

natureza de cada instrumento de pesquisa, dentro da abordagem qualitativa

em que este estudo de caso se insere. Os resultados a serem apresentados a

seguir compõem o caso de ensino e aprendizagem da Escola Estadual Souza

Bandeira, em seus diversos aspectos.

Resultados Obtidos

105

A seguir, serão apresentadas os resultados obtidos por meio análise dos

dados coletados, organizados nas seguintes seções: o contexto escolar, perfil

da professora, perfil dos alunos e aulas e processo de ensino/aprendizagem.

O Contexto Escolar

A Escola Estadual Souza Bandeira (ESSB), onde este estudo de caso se

realizou, é uma instituição de ensino mantida pela Secretaria de Estado de

Educação de Mato Grosso (SEDUC), com sede na Inspetoria Nossa Senhora

da Paz das Irmãs Religiosas Salesianas Filhas de Maria Auxiliadora, e está

situada no bairro Coxipó, em Cuiabá-MT. Funciona nos períodos matutino e

vespertino, oferecendo o I Ciclo, o II Ciclo e o III Ciclo do Ensino Fundamental.

O prédio, apesar de não ter sido construído originalmente para ser uma

escola, está em ótimas condições de conservação e funcionamento, pois a

direção se esforça para mantê-lo limpo e organizado. Há dezesseis salas de

aula pequenas que comportam um número grande de alunos, de modo que

torna o espaço insuficiente para atender a clientela, visto a grande procura de

vagas na escola. A unidade dispõe também de alguns ambientes especiais

para aulas, atividades técnico-administrativas e complementares, tais como

quadra poliesportiva, sala de vídeo, sala de música, biblioteca, laboratório de

informática, auditório, sala de pastoral juvenil, sala de articulação, sala de

materiais didáticos, sala de orientador educacional, sala de apoio social, dentre

outros. Em relação à acessibilidade, a escola possui rampas, banheiros e

bebedouro adaptados para alunos com necessidades especiais, mesmo não

tendo nenhum aluno que os necessite na época da coleta de dados.

O quadro de recursos humanos conta com uma diretora, três

coordenadoras e quarenta e seis professores, sendo dois de língua inglesa, um

bibliotecário e um técnico em informática. Todos os funcionários são mantidos

pela SEDUC, com exceção da diretora e de alguns profissionais (assistente

social, coordenador da pastoral juvenil, entre outros), que são de

responsabilidade da Inspetoria Nossa Senhora da Paz.

O Projeto Político Pedagógico da escola contempla a filosofia Salesiana

de educação nos moldes do Sistema Preventivo de Dom Bosco que, sem

dúvidas, é outro diferencial positivo da escola. Basicamente, esse sistema de

106

trabalho educativo “busca recriar a estrutura, as dinâmicas, as funções e o

espírito de família, de tal modo que os jovens se sentissem 'em casa' (NANNI,

2014, p. 13)”. Inspirada nesse conceito, a escola desenvolve diversos projetos

educacionais como grupo de radio recreio, grupo de fanfarra, grupo de dança,

grupo de balé, grupo de teatro e o karatê, além de alguns projetos de inclusão,

como o apoio educacional nas disciplinas de português e matemática no contra

turno.

Perfil da Professora

Profa. Aurora é graduada em Letras Português e Inglês pela

Universidade Federal de Mato Grosso e leciona desde 2007. Ainda na

faculdade teve a oportunidade de dar aula em diferentes contextos, tais como

em um projeto em uma escola particular, em um curso de extensão da UFMT e

em outra escola da rede privada, onde lecionou para turmas de 1º ao 9º ano.

Essas oportunidades fizeram com que ela desenvolvesse experiência com

alunos de idades e em contextos diferentes. Assim que iniciou seu trabalho na

rede pública, percebeu a diferença entre os contextos nos quais trabalhou e o

da escola pública, cujas principais dificuldades ela cita em seu relato

retrospectivo:

Logo que lotei minhas aulas no Estado, percebi a diferença nos contextos e as dificuldades que os alunos tinham em aprender o Inglês por vários motivos, troca constante de professor, a falta de continuidade, a desmotivação dos alunos, entre outros. (Relato Retrospectivo da Profa. Aurora, 13/09/2015, p. 2).

O desenvolvimento da proficiência linguística em seus alunos é um de

seus maiores objetivos em sala, contudo nem sempre as condições do

contexto da escola pública lhe permitem alcançar essa meta, conforme

registrado nos excertos abaixo de sua entrevista e de notas de campo:

Eu acredito que o foco seria desenvolver a proficiência do aluno, né? Porque essa parte de educação, essas outras coisas, eu acho que deveria ter uma disciplina específica, né? Porém não é o que acontece na prática, né? [...] A gente tem uma séria de deficiências que [...] que fazem que não isso aconteça. [...] “Você pode ir mudando?” Eu, esse mudar, eu

107

posso aceitar, talvez, com mais tranquilidade. Mas eu [...] gostaria mesmo que meu aluno, pelo menos, fosse mais proficiente (Entrevista com a Profa. Aurora, 17/09/2015, p. 03). A professora começa a explicar sobre perguntas afirmativas e o uso de “Yes, it is.” e “No, it isn’t.” como resposta, mas logo é interrompida pela conversa. A partir disso, há uma grande chamada de atenção, em que ela fala sobre a falta de respeito que eles estão tendo [...] (Nota de Campo, P., 7º ano D, 25/08/2015).

O desabafo da professora e episódios observados em sala de aula

indicam que, embora a professora deseje e se empenhe em desenvolver a

proficiência linguística de seus alunos, situações ocorridas em sala de aula ou

limitações do contexto, com certa frequência, a levam a focar em outros

aspectos da rotina escolar, como, por exemplo, situações de indisciplina ou o

pouco conhecimento prévio da língua pelos alunos,

Ao analisar a prática da professora como um todo é perceptível sua

predileção pelo uso de novas tecnologias, mas nem sempre consegue inseri-

las em suas aulas na Escola por falta de condições e/ou disponibilidade de

acesso. Percebemos também seu apreço pelas regras de conduta em sala,

que, por sua vez, são reforçadas pela gestão e cultura escolar da Escola

Estadual Souza Bandeira.

Perfil dos alunos

A escola conta com cerca de mil e sessenta alunos matriculados,

provindos de diferentes bairros da capital, que são, em sua maioria, de famílias

de classes baixa e média baixa. Os alunos do período matutino têm entre dez

a catorze anos e, em geral, são tranquilos e organizados e, em sua maioria,

respeitam as regras da escola, o que é perceptível durante as aulas, no

intervalo, na fila para o lanche e, principalmente, durante o momento chamado

de “acolhida”, no qual os alunos sentam-se enfileirados no pátio para

ouvir/participar de apresentações, advertências, palestras, comemorações,

etc., conforme mostra o trecho a seguir, retirado de uma nota de campo:

108

[...] saímos para o pátio, ao sairmos os alunos estavam todos sentados e totalmente em silêncio, a senhora que estava na portaria falava com eles e quando alguém falava algo ela chamava o aluno pelo nome. A senhora leu alguns textos que os professores sugeriram [...]. Após as leituras os professores apresentaram uma música com direito a acompanhamento musical (Notas de Campo, T., 11/08/2015).

Aulas e processo de ensino/aprendizagem

A respeito das aulas de inglês, nota-se a existência de uma rotina na

condução das atividades. A professora sempre inicia suas aulas recolhendo os

celulares dos alunos e os guardando em um caixa trancada, que é uma regra

da escola e que todos os professores seguem religiosamente. Então, passa a

corrigir as tarefas que deixou em aulas anteriores, andando de mesa em mesa

corrigindo os cadernos e, caso não tenha feito determinada tarefa, o aluno tem

de assinar um caderno de advertências. O próximo encaminhamento da aula é

apresentar algum conteúdo novo ou praticar um assunto já exposto

anteriormente aos alunos.

A professora usa livro didático, It Fits (EDIÇÕES SM, 2012), como um

norte, adaptando seu conteúdo de forma que ele possa ser utilizado do modo

mais proveitoso possível, visto que esse material didático, muitas vezes, não

está de acordo com o nível de proficiência dos alunos. Por fim, a aula é

encerrada com alguma prática do conteúdo ensinado e, caso os exercícios não

sejam concluídos, ficam como tarefa de casa.

Já a respeito da interação entre professora e alunos, é observável o uso

do inglês em sala, sempre que possível, tanto pela docente, quanto pelos

discentes, que parece terem construído o hábito de praticar o que já

aprenderam, principalmente frases cotidianas desse ambiente. Os alunos

costumam seguir regras de conduta em sala. O exemplo a seguir mostra como

uma aluna reagiu frente ao comportamento de sua colega: uma aluna grita de

repente com um colega pra que ele não risque a mesa, pois a “tia da limpeza”

havia brigado só com ela quando as mesas foram limpas (Notas de Campo, T.,

7º ano A, 18/08/2015).

A Profa. Aurora costuma agrupar os alunos para que todos possam

participar das atividades, uma vez que os materiais didáticos, ainda que

109

existente e em boas condições, não são suficiente para atender a demanda.

Com relação à correção das atividades, a professora e os alunos normalmente

corrigem todas em conjunto e caso alguém tenha dúvidas, ela lhe oferece uma

explicação individual. Os alunos e a professora se mostram engajados com as

aulas, visto que, geralmente, eles participam das atividades feitas em classe e

fazem as tarefas para casa.

Durante as aulas, notou-se que existem alguns fatores que parecem

facilitar o processo de ensino/aprendizagem. Um deles é o fato de as aulas

sempre seguirem um padrão e ter metas e regras claras aos alunos, o que, por

sua vez, facilita a convivência em sala. Outro fator relevante é o empenho da

professora em preparar e conduzir as aulas de forma a levar o aluno a usar a

língua, mesmo que de maneira simples e limitada. A organização da escola

como um todo e o sentimento de participação que os alunos têm com a

comunidade escolar também são aspectos positivos observados que podem

fazer com que os alunos valorizem as aulas, o ambiente e reconheçam a

oportunidade da boa educação que estão tendo.

Por outro lado, há fatores que parecem dificultar esse processo, como,

por exemplo, apesar de a grande parte dos alunos estar, na maioria das vezes,

atenta à aula, é notável que os alunos que se sentam mais distantes da

professora tendem a recebem menos atenção, tendo como consequência a

dispersão, podendo ser seguida de situações de indisciplina. Percebeu-se

também a dificuldade que os alunos têm em prestar atenção em explicações

longas e/ou com palavras que não são muito utilizadas no cotidiano deles, que,

igualmente, pode levar à dispersão e não aprendizagem.

Apesar das limitações percebidas, os dados deste estudo de caso

indicam que o ensino e a aprendizagem de inglês são possíveis na Escola

Estadual Souza Bandeira. Particularmente no que ser refere à dificuldade

apontada pela professora em desenvolver a proficiência linguística, caberia

considerar a possibilidade de rever os objetivos do ensino de inglês nesse

contexto à luz do conceito de educação linguística. Segundo Garcez (2008), o

ensino de línguas na educação básica não deve ter como propósito o

desenvolvimento da proficiência linguística, mas, sim, de uma formação mais

abrangente, centrada na formação do cidadão, visando à participação crítica e

autônoma no mundo contemporâneo. Nesse sentido, a aprendizagem de

110

línguas deverá preparar os alunos, mais do que a falar a língua

proficientemente, a lidar com diversidades culturais e desenvolverem o

conhecimento de sua cultura e a de outros povos.

.

Conclusão

Os resultados deste estudo de caso indicam uma sinergia entre os

princípios, valores, metas e ações da gestão escolar, da professora de inglês,

dos alunos e de seus familiares, que trabalham para tornar o ensino/a

aprendizagem de Inglês possível. Um contexto em que cada membro da

comunidade escolar parece desempenhar seu papel e agir para que o objetivo

maior da educação possa acontecer – a aprendizagem dos alunos.

Este parece ser um exemplo em que o conjunto de fatores micro do

contexto escolar age de forma a vencer as limitações do contexto macro da

política educacional externa à escola, mostrando que é possível ensinar e

aprender inglês na escola pública.

Para professores em formação, a possibilidade de atuar em contextos

favoráveis é importante ao lhes dar a oportunidade de conhecer um ambiente

promissor, mostrando que não existe somente a face do fracasso e da

impossibilidade de aprendizagem da língua em escolas públicas, onde a

chance de se desenvolver projetos, de ter um ambiente agradável e de

construir aprendizado é mínima, gerando crenças negativas e desmotivação de

alunos, professores e, até mesmo, dos futuros profissionais da área da

educação.

Referências

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Educacionais e o Ensino de Inglês na Escola Pública. EDUCAT: Pelotas. 2005,

p. 143-157.

112

UM ESTUDO DE CASO SOBRE UMA PROFESSORA DE INGLÊS E AS

PRÁTICAS QUE A TORNAM BEM SUCEDIDA NO CONTEXTO DA ESCOLA PÚBLICA9

Maria Victória Queiroz de CARVALHO

Bolsista Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência- Inglês- Universidade Federal de Mato Grosso /Coordenação de Aperfeiçoamento de

Pessoal de Nível Superior

Talita Siqueira de OLIVEIRA Ex-bolsista no Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência- Inglês-

Universidade Federal de Mato Grosso /Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

Eladyr Maria Norberto da SILVA

Coordenadora Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência- Inglês- Universidade Federal de Mato Grosso /Coordenação de Aperfeiçoamento de

Pessoal de Nível Superior

RESUMO: Este estudo de caso pretende apontar as características e as estratégias de ensino de uma professora de inglês considerada bem sucedida na escola pública, contexto no qual professores enfrentam diversos desafios ao exercer sua profissão, seja pelas salas de aula lotadas, pelo desinteresse de grande parte dos alunos ou pela falta de estrutura das escolas. Os dados foram coletados através de observação não participante de aulas da professora foco deste estudo em turmas de sextos e sétimos anos, entrevista semiestruturada com a professora, relato retrospectivo de sua trajetória profissional e reflexões sobre sua prática pedagógica em sua dissertação de mestrado. A coleta e análise dos dados permitiram identificar os marcos de sua carreira e os fatores que influenciaram a construção de sua identidade profissional e orientam sua prática pedagógica e, também, definir as características que a tornam uma profissional bem sucedida no seu contexto de trabalho. Acredita-se que o estudo da prática de bons professores que atuam na escola pública são particularmente relevantes para professores em formação ao abordarem aspectos que podem contribuir para sua futura prática em sala de aula e motivá-los a exercer sua profissão na escola pública.

PALAVRAS-CHAVE: Escola pública; ensino de inglês; estratégias de ensino.

9 Agradecemos à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelo subsídio

recebido; aos alunos dos sexto e sétimo anos e a toda comunidade escolar, em especial à professora

Fátima Comini, que abriu as portas de sua sala de aula para que essa pesquisa pudesse ser realizada e

nos deu essa oportunidade de com ela aprender.

113

ABSTRACT: This case study aims to point out the characteristics and the teaching strategies of a public school teacher of English, who is considered a successful professional in her context. Data were collected through semi-structured interviews with the teacher, non-participant observation of her classes, retrospective narrative of her career and her reflections on her their teaching practice as reported in her master's thesis. Both the data gathering and analysis afforded identify the milestones in her career and the factors that have influenced the construction of her professional identity and have guided her teaching practice. It has also allowed to identify the characteristics that make her a successful language teachers in her workplace. It is believed that the study of the practice of successful teachers can contribute to the education of pre-service teachers, inspiring and showing them the affordances of teaching in public schools.

KEYWORDS: Public school; English Teaching, Teaching Strategies.

Introdução

A escola pública impõe vários desafios aos professores de Inglês, dentre

eles, a falta de estrutura para o ensino da língua, o aparente desinteresse dos

alunos pela disciplina ou os baixos salários (COX; ASSIS-PETERSON, 2008).

Porém, ainda podemos encontrar professores que continuam motivados com a

profissão e que procuram fazer um trabalho de relevância para a educação

pública, além de buscarem se manter em formação continuamente (CELANI,

2001).

Para delinear o perfil de um professor bem-sucedido, buscamos na

literatura da área, características e estratégias de ensino de um bom professor

de línguas. Para Celani (2001), o professor de língua comprometido com sua

profissão é retratado como um profissional reflexivo e crítico, tem proficiência

em sua disciplina, é entusiasmado, sincero, segue um padrão de

temperamento adequado em suas aulas e tem um envolvimento pessoal com

sua profissão (CELANI, 2001). Entendemos que as características de um

professor compõem sua identidade profissional, e, que esta está relacionada

ao contexto, a interlocutores, a instituições em que atua e é constantemente

criada e recriada nas interações entre pessoas e nas experiências à medida

que são vividas. (BEIJAARD; MEIJER; VERLOOP, 2004 apud ASSIS-

PETERSON; SILVA, 2010, p. 147). Estratégias de ensino são aqui entendidas

como “ações intencionalmente dirigidas para gerar aprendizagem (de qualquer

conteúdo curricular) em alguém” (ROLDÃO, 2010, p. 56).

114

Este estudo apresenta o caso de uma professora de inglês de uma

escola estadual de Cuiabá-MT, que tem como ponto forte o estímulo que

oferece aos alunos para mantê-los no caminho do aprendizado, utilizando o

Inglês como ponte entre a vida social do aluno e o conhecimento. Tais atributos

nos levaram a identificar sua prática em sala de aula e as características de

sua identidade profissional, que a tornam uma professora bem-sucedida e

reconhecida na rede pública de ensino.

Metodologia

Os dados para este estudo foram gerados por meio de observações e

notas de campo das aulas em turmas de sexto e sétimo ano em uma escola,

situada em um bairro periférico de Cuiabá, em que a professora atua, por um

período de quarenta e quatro horas aula; de entrevista semiestruturada com a

professora; e da análise de relatos retrospectivos de sua trajetória profissional,

produzidos por ela para esta pesquisa e em sua dissertação de mestrado

(COMINI, 2014). A pesquisa foi realizada durante o período de setembro a

dezembro de 2015.

A professora, foco deste estudo de caso, é formada em Letras,

habilitação em Português e Inglês pela Universidade Federal de Mato Grosso

(UFMT), fez três especializações em sua área de atuação e concluiu o

mestrado em 2014. Com cerca de dezessete anos de profissão, trabalhou em

diversos contextos, escolas particulares, cursos de idiomas e faculdades,

lecionou para várias faixas etárias, do ensino básico ao superior. Durante a

realização deste estudo foi realizado a professora era concursada pelo Estado,

trabalhava em duas escolas públicas, sendo uma dessas a que serviu de palco

para nossa pesquisa.

Resultados

Com o intuito de analisar cada aspecto que propomos nessa pesquisa –

a trajetória da professora, sua identidade enquanto profissional da educação e

as práticas que a tornam bem sucedida, buscamos conciliar os dados que

coletamos com a literatura da área e, através de reflexões sobre a postura da

115

professora para com sua profissão, procuramos apontar os principais fatores

que tornam sua prática bem sucedida.

A Trajetória e Identidade Profissional da Professora

No que diz respeito aos fatores que orientam a prática educacional da

professora e que podem ter contribuído para a formação de sua identidade

profissional, analisamos seu relato retrospectivo, sua tese de mestrado e

entrevista em que narra as experiências que marcam sua trajetória profissional.

Os dados indicam que, desde os primeiros anos em que teve contato com a

língua inglesa ainda na infância, a professora se identificou com a língua e

também com a docência. Devido a sua inclinação pela língua, a professora

narra que logo entrou em um curso de idiomas e, na escola regular, passou a

auxiliar sua professora de inglês a dar aulas para seus colegas de classe,

como relata em no trecho da entrevista transcrito abaixo:

Como eu fazia curso de inglês, [...] a professora [...] falava assim “ah, é a Fátima hoje que vai explicar isso aqui pra vocês”. Talvez para me incentivar [...]. E então, no fundo eu dava aula pros meus colegas de ginásio, que era o fundamental hoje, quinto e sexto neh? Já praticando. Eu acho que desde isso aí... já gostava, e ela incentivou... Então as coisas ajudaram (Entrevista com a Professora, p. 1).

Mais tarde, depois de ter atuado em outras áreas que não a da

educação, a Profª. Fátima se dedicou a sua formação docente e, após

graduada em Letras e lecionar em contextos particulares, se sentiu preparada

para atuar na escola pública, como narra na entrevista a seguir:

Quando eu comecei a dar aula na escola do Estado, eu já tinha passado por escolas particulares, que eu acho que te treina muito, porque a escola particular, apesar de ela te dar todos os recursos materiais possíveis, mas também ela exige muito de você. Então na época, quando eu entrei no concurso na escola pública, eu já tinha assim, uma certa segurança (Entrevista com a Professora, p. 2)

Além de dar aula em escolas públicas e particulares, a professora atuou

em institutos de idiomas e faculdades. Por fim, percebemos a professora em

116

constante formação, seja pelo fato de ela ter feito diversas especializações na

sua área de atuação, por participar de eventos voltados para a educação, como

o Encontro de Professores de Inglês (EPI), promovido anualmente pela

Associação de Professores de Língua Inglesa de Mato Grosso (APLIEMT) e

também por ter realizado o mestrado, em que investigou sua prática

pedagógica em uma escola pública de Cuiabá.

Para que pudéssemos visualizar a trajetória da professora, construímos

uma linha do tempo (Figura 1) na qual é possível perceber os principais

marcos de sua formação profissional:

Figura 1: Trajetória Profissional da Professora

A partir da definição de identidade de Beijaard (2004), podemos

constatar que cada etapa percorrida pela qual a professora é um fator que

contribui para a construção de sua identidade profissional. Notamos que a

professora sempre esteve em contato com a língua inglesa, seja em cursos de

idiomas ou na própria sala de aula, desde o princípio de sua regência em sala

se dedicou à sua formação continuada e suas escolhas e experiências ao

longo de sua carreira, suas crenças a respeito da educação, suas interações

com os contextos em que atua contribuem para compor sua história e construir

sua identidade profissional ao longo do tempo.

117

Por meio das notas de campo e da entrevista com a professora,

pudemos perceber algumas características marcantes em sua identidade

profissional e que refletem direta e positivamente em sua didática, o que

chamaremos de características de uma boa professora. Baseada na definição

que Celani (2001) traz sobre o que é um professor comprometido com sua

profissão e sobre o padrão de comportamento adequado, percebemos que a

professora pesquisada se mostra comunicativa e amigável com seus alunos.

Os trechos de notas de campo abaixo retratam a maneira como a professora

reagia em diferentes situações: “o trabalho com cada aluno é diferenciado, com

alguns ela fala mais sério e com outros leva mais na brincadeira.” (Notas de

Campo, T., 6º ano B, 09 de setembro de 2015, p. 2).

Ela foi dura com um aluno que não queria jogar o chiclete fora, mas foi calma com um menino que não sabia a pronúncia, até fez uma piada dizendo que todos estavam ali para aprender, que ele não devia se sentir inferior (Notas de Campo, V., 6º ano C, 08 setembro de 2015, p.1). A professora é paciente e amigável com os alunos. Ela seguiu a aula fazendo piadas e conversando informalmente com os alunos, sempre que a bagunça recomeçava ela ficava em pé esperando eles pararem, e eles logo a atendiam e se voltavam a prestar atenção na aula (Notas de Campo, V., 6º ano, 15 de setembro de 2015, turma 7º ano C, p. 1).

Como evidência de seu envolvimento com a profissão, a professora

demonstra preocupação em preparar suas aulas para que atendam as

necessidades específicas de seus alunos e proporciona atividades que sejam

próximas às práticas sociais deles, o que pode ser percebido, respectivamente,

pelos seguintes excertos do seu relato retrospectivo e de uma nota de campo:

Dentro do possível, procuro planejar e desenvolver meu trabalho seguindo as orientações nacionais e estaduais, pois penso que seja necessário entender que o ensino de língua estrangeira nas escolas públicas tem um objetivo fundamental que não pode estar fora da visão dos professores. (...) procuro então, trabalhar com atividades que atendam as habilidades auditivas e orais, de leitura, compreensão e escrita. Mas sem nunca esquecer a importância política do ensino de língua para uma educação que tem como meta a cidadania (Relato

118

retrospectivo da professora, pgs. 02 e 03, 26 de outubro de 2015).

Os alunos não estavam conseguindo se lembrar de como se fala morcego, a professora dá o exemplo do Batman e eles conseguem acertar, em seguida ela pergunta como se diz aranha, seguindo a mesma linha dos super-heróis os alunos conseguem responder, graças ao Spider-man. (Notas de Campo, T., 18 de setembro de 2015, turma 6º ano E, pgs. 1 e 2)

Além dessas, uma das características mais marcantes encontradas na

professora foi sua paixão pela profissão. Leffa (2001) e Day e Gu (2010)

afirmam que a paixão é a característica que leva o professor a se envolver com

seus alunos, ter disposição para atuar em qualquer contexto e não se deixar

influenciar negativamente por situações desfavoráveis. Celani (2001) reforça

essa ideia ao assegurar que “não há educação sem amor. Quem não é capaz

de amar os seres inacabados não é capaz de educar. Não é capaz de se tornar

um profissional da educação.” (CELANI, 2001, p. 37). Observamos isso no

trecho da entrevista a seguir, quando a professora ressalta que se sente

realizada com a profissão:

Ah eu amo, eu gosto, eu acho que toda profissão, gente, tem os seus prós e seus contras, entendeu? [...] eu me considero uma pessoa realizada dentro da minha profissão [...] isso pra mim é o suficiente, então eu faço o que eu gosto? Faço! (Entrevista com a Professora, 30 de setembro de 2015, p. 16)

Percebemos, então, que as características que Celani (2001) traz sobre

bons professores estão presentes na maneira com que a professora

apresentada nessa pesquisa lida com seus alunos no dia a dia de sala de aula.

As Estratégias de Ensino Bem Sucedidas da Professora

Ao analisarmos a rotina da professora, foi possível construir um quadro

com as principais ações em suas aulas e perceber que as estratégias por ela

adotadas parecem estar em consonância com seu modo de ser e sua

identidade profissional. Notamos também que, acima de tudo, em

conformidade com a noção de estratégias de ensino de Roldão (2010), sua

119

prática pedagógica geralmente busca viabilizar melhores resultados no

aprendizado de seus alunos. A Figura 2 abaixo lista os tipos de estratégias que

a professora costuma adotar em suas aulas, classificadas como estratégias de

gerenciamento de sala de aula, didáticas, de interação e de conscientização.

Figura 2: Estratégias de Ensino usadas pela professora

Para exemplificar como essas estratégias funcionam em sala,

discutiremos a seguir um exemplo de cada categoria. Em se tratando de

120

gerenciamento, percebemos que a professora organiza seu trabalho para evitar

dispersão e problemas de comportamento durante as aulas, como pode ser

constatado na seguinte situação registrada em notas de campo: “[...] mal ela

diz isso o citado aluno chega e, para impedir problemas, a professora logo o

coloca sentado bem próximo de sua mesa (Notas de Campo, T., 24 de

setembro de 2015, turma 6º ano D, p. 1).”. Essa estratégia da professora,

apesar de simples, se mostra eficaz, pois dessa forma poderá dar mais

atenção ao aluno, uma vez que estará próximo a ela.

Um exemplo de estratégia didática usada pela professora é a forma

como procura expandir o conhecimento de mundo dos alunos por meio de

exemplos claros e relevante. Na nota de campo abaixo é possível notar como a

professora aproveita o conteúdo programático, no caso leitura e vocabulário,

para poder abordar temas que transpassam a vida cotidiana:

[...] ela fala a respeito da ovelha Dolly e do motivo de sua clonagem, depois fala da cachorrinha Laika e sua viagem espacial, ela diz aos alunos que para o bem dos seres humanos os animais são sacrificados e sofrem com experimentos científicos (Notas de Campo, T., 17 de setembro de 2015, turma 6º ano B, pgs. 03 e 04).

A professora também demonstra ter uma boa interação com os alunos

nos momentos em que conversa com eles sobre assuntos variados, dentro e

fora da sala de aula, como pode ser observado na seguinte nota de campo:

“[...] conversou com os alunos no corredor, falou com os que mataram a última

aula que tiveram com ela (Notas de Campo, V., 25 de setembro de 2015, turma

6º ano A, p.1).”. Percebemos, assim, a professora preocupada com a

frequência de seus alunos, além de não se afastar deles em momentos mais

descontraídos, como foi no caso narrado.

Além disso, a professora, em busca de conscientizar seus alunos,

procura seguir uma formação cidadã para seus alunos, partindo dos assuntos

de sala de aula para abordar temas que são relevantes para a educação

integral de seus alunos. No trecho da nota de campo abaixo, ilustra como a

professora desenvolve essa estratégia:

122

Durante a aplicação da matéria os alunos começaram a falar de roubo, de como os colegas influenciam os outros, entraram em um assunto delicado sobre [isso] e a professora falou de caráter e mau comportamento. Ela consegue sanar todas as dúvidas dos alunos e falar da consequência de seus atos (Notas de Campo, V. 23 de setembro de 2015, turma 7º ano D, p.1).

Os dados deste estudo indicam que a prática em sala de aula e as

estratégias de ensino que a professora usa para conduzir o processo de

aprendizagem de seus alunos, seja de língua seja de vida, estão em

consonância com as características de sua identidade profissional.

Paralelos entre Duas Professoras Bem Sucedidas

Fazendo uma comparação entre dois estudos de caso de bons

professores de inglês realizados no contexto do Pibid de Inglês da UFMT/Cba –

o caso da Profa. Fátima, relatado neste artigo, e o caso da Profa. Nilma10, foco

da pesquisa anterior, realizada por Sombra, Caires e Silva (2014), pode-se

notar uma série de semelhanças e poucas diferenças entre as duas

professoras.

Dentre as semelhanças identificadas, está o fato de ambas serem bem

sucedidas em um contexto reconhecido como bastante desafiador. As duas

educadoras também costumam se colocar bem próximas aos alunos,

permitindo que participem das aulas, levando em conta os problemas pessoais

pelos quais podem estar passando e que podem interferir no aprendizado e na

participação. Igualmente, elas conhecem as necessidades e preferências dos

alunos e por isso sempre levam atividades e assuntos de seu interesse. Ambas

também buscam formar cidadãos que reconhecem suas condições sociais e as

dos outros, cidadãos que saibam lidar com as adversidades que podem vir

presenciar ao longo de suas vidas, fazendo assim com que o ensino seja

significativo tanto no seu aprendizado quanto como uma forma de ascender

socialmente.

10

Nome fictício da professora do estudo de caso de SOMBRA, CAIRES, SILVA (2014), que era professora

supervisora do Pibid de Inglês na época da pesquisa.

122

Outro ponto semelhante entre as duas professoras é que ambas lidam

muito bem com o ambiente da escola pública e são reconhecidas pelos seus

pares. São pessoas motivadas com a profissão, enxergam a educação de

forma positiva e lutam para que os objetivos propostos tanto pela escola

quando seus próprios sejam atingidos. Em sala, as duas docentes mostram o

domínio quem tem de seu ambiente de trabalho, propondo regras que

previnam certos problemas e sempre tomam providencias quando

determinadas questões aparecem em sala. Estão sempre prontas a tirar

dúvidas de seus alunos e desenvolvem estratégias para o bom andamento da

aula, assim como para a melhor relação entre professor e aluno.

É interessante ressaltar que as professoras educadoras dessas

pesquisas mostram a paixão que têm pela profissão e que desde a infância já

haviam se decidido que, no futuro, se tornariam professoras. Já profissionais

da educação, investem em suas carreiras, fazendo cursos de idiomas,

especializações na área, dando aulas em contextos diferenciados, fazendo

pós-graduação e viajando para o exterior para aprimorar a proficiência

linguística. Isso demostra a importância que o investimento em uma carreira

tem para que esta seja bem estruturada e para que o profissional saiba

interagir com seu ambiente de trabalho de forma produtiva e positiva.

As diferenças entre as duas professoras se concentram, principalmente

nas metodologias que cada uma adota em suas aulas. A professora deste

estudo de caso costuma seguir o livro didático, tendo ele como um norteador, e

centra seu trabalho no desenvolvimento de leitura, escrita, escuta e fala. Já

Profa. Nilma tem como foco a leitura e compreensão de textos e utilizava o livro

didático de forma mais flexível, buscando sempre desenvolver projetos

relevantes aos interesses de seus alunos.

Pelas trajetórias profissionais das duas professoras, é possível afirmar

que suas escolhas metodológicas estão diretamente ligadas aos contextos, às

experiências e formações que tiveram ao longo de sua vida profissional.

Apesar das diferenças, é possível notar que os objetivos das duas são

semelhantes, que ambas têm propósitos claros para o aprendizado de seus

alunos, partindo das vivências que tiveram e sua forma de enxergar o aluno e o

123

processo de aprendizagem, e professam paixão pela profissão que

escolheram.

Considerações Finais

Ao olharmos para o perfil da professora de inglês, notamos que, em sua

prática estão presentes os princípios da educação linguística, em que o

professor busca formar cidadãos críticos e preparados para lidar com as

adversidades da vida, tendo como ferramenta mediadora a língua

(SCHLATTER; GARCEZ, 2012). Percebemos também que a professora exerce

sua profissão com muita paixão, para Day e Gu (2010), a paixão é a

característica que leva o professor a se envolver com seus alunos, ter

disposição para atuar em qualquer situação e não se deixar influenciar

negativamente por contextos desfavoráveis.

Os dados coletados em forma de nota de campo a partir das aulas

observadas, dos relatos por ela produzidos e de sua entrevista, nos permitiram

examinar as características que fazem dela uma boa professora de acordo com

a literatura da área. Notamos que o conjunto de estratégias adotadas pela

professora e o processo de formação profissional e de sua identidade são os

fatores que contribuem para os bons resultados alcançados em sala de aula.

Estudos de caso de bons professores de línguas que atuam no contexto

da escola pública contribuem para a formação de novos professores, pois lhes

apresentam possibilidades de um trabalho com resultados positivos, indicando

estratégias de ensino que podem ser incorporadas a sua prática, estimulando,

assim, projeções positivas que podem influenciar a construção de sua

identidade profissional. Além disso, pesquisas realizadas a partir de narrativas

fomentam a reflexão sobre a prática docente, tanto a do professor pesquisado,

quanto a de professores em formação.

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