Projeto Mapeia Presença Feminina Na Literatura Periférica – Ponte Jornalismo

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  • 8/17/2019 Projeto Mapeia Presença Feminina Na Literatura Periférica – Ponte Jornalismo

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    Projeto mapeia presença feminina naliteratura periférica5 maio, 2016  por Tatiana Merlino

     Organizada num site, pesquisa Margens, da jornalista Jéssica Balbino, reúne informações sobre aprodução de mulheres da literatura marginal nacional. Machismo e maternidade estão entre os temas

    tratados. “É uma literatura bem plural e rica.”

     A escritora n egra e feminista Jenyffer Nascimento é uma das mapeadas pela iniciativa. Foto: Margens

    “Quantas mulheres temos na literatura marginal?”, questionou-se a jornalista JéssicaBalbino após uma reunião com sua orientadora de mestrado, quando decidiu que iria

     pesquisar a participação feminina na literatura periférica, até há poucos anoshegemonizada por homens. “As mulheres sempre estiveram presentes, mas foramapagadas, silenciadas, criticadas com frases como ‘as poesias das mulheres são todas

    iguais, só falam de machismo’, entre outras coisas”.

    O projeto da jornalista, ela também de origem periférica, resultou no Margens, página na internet que mapeia autoras da literatura marginal no país. “Ele nasce

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    https://www.margens.com.br/https://www.margens.com.br/http://ponte.org/author/tatiana-merlino/http://ponte.org/2016/05/05/

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    da necessidade de registrar, documentar e amplificar essas vozes, que surgem, principalmente, nos saraus espalhados pelo país e, por vezes, nos espaços digitais. O

    objetivo é reunir as informações sobre o tema e sobre quem são essas mulheres em umsítio digital. A ideia é trazer áudio, vídeo, texto e performance sobre essa literatura

     protagonizada pelas mulheres”, explica Jéssica.

    De maio de 2014, quando o site foi colocado no ar, até hoje, a pesquisa reuniuinformações de 425 mulheres, com dados como localidade, saraus que frequentam e

     publicações próprias ou das quais participaram.

    O aumento da participação feminina no cenário, ocorrida nos últimos cinco anos, foi

    um dos motivos que estimulou a pesquisadora a fazer o mapeamento. “Saíram 2volumes de antologias pela Frente Nacional de Mulheres do Hip-Hop, com mais de100 autoras, saiu a coletânea ‘Pretextos de Mulheres Negras’, com 22 autoras, saiu a

    ‘Louva Deusas’, a ‘Herdeiras de Aqualtune’, enfim, foram várias publicaçõesorganizadas por coletivos femininos, com maior presença das mulheres. O que mostra

    que estamos tendo mudanças no cenário.”

    As autoras tratam de temas como maternidade, relações abusivas, amor, questões políticas, autorrepresentação social. “É uma literatura bem plural. E rica. Mas claroque as mulheres escrevem sob o ponto de vista feminino, que, neste momento, é bem

    de levante, bem de posicionamento, de empoderamento, então, temos muitos textossobre a relação com o corpo, com a etnia, com representação e pertencimento.”

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     A jornalista Jéssica Ba lbino, idealizado ra do projeto Margens. Foto: Reprodução/Margens

    O que é o Margens e qual seu objetivo?

    O Margens é uma reportagem 360 graus que está sendo construída gradativamente,sobre as mulheres da literatura marginal/periférica no Brasil. Ele nasce da necessidadede registrar, documentar e amplificar essas vozes, que surgem, principalmente, nos

    saraus espalhados pelo país e, por vezes, nos espaços digitais. O objetivo é reunir asinformações sobre o tema e sobre quem são essas mulheres em um sítio digital. Aideia é trazer áudio, vídeo, texto e performance sobre essa literatura protagonizada

     pelas mulheres.

    Ele abrange também um mapeamento inédito sobre elas. Foi disponibilizadovirtualmente um questionário para que as mulheres que se autorreconhecem como

     poetas e/ou escritoras pudessem responder. Esses dados estão sendo tabulados e

    alguns já compõem o mapa que pode ser acessado no site. Então, além da reportagem propriamente, tornou-se um registro etnográfico.

    Ele faz parte do seu projeto de mestrado. Poderia falar sobre ele?

    Sim. Em 2014 eu entrei no mestrado em Divulgação Científica e Cultural na Unicamp[Universidade Estadual de Campinas]. Eu sou a primeira pessoa da minha família com

    curso superior, e, agora, no mestrado. Então, foi uma felicidade enorme poder chegar à academia, porque é importante destacar: não sou uma acadêmica falando da periferia

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    ou da literatura marginal. Sou uma periférica e cria da literatura marginal naacademia. E, uma vez na Unicamp, eu quis não apenas pesquisar, mas expandir isso,

    criar uma ponte entre a academia e o público, as pessoas que participam.

    E, como jornalista, comunicadora, fiquei pensando no que eu poderia fazer para isso.Aí estava descobrindo esse formato de reportagem 360, que envolve várias linguagens

    e todas que eu gosto e pensei: ter um site para reportar isso, aos poucos, dar destaque para as produções, noticiar, seria um caminho, e aí, sem recursos, com a cara e acoragem, montei tudo sozinha. Sozinha mesmo. Na raça.

    O programa de mestrado que eu faço trabalha muito com essa questão da divulgação

    científica e cultural e eu fiquei pensando como seria levar isso, de fato, para a prática, para além das publicações acadêmicas. O mapeamento já citado foi o primeiro passo,que veio sendo complementado por outros, como a criação do site para hospedá-lo,

    alguns vídeos, reportagens e entrevistas.

    Paralelo a isso, como ninguém nunca pesquisou a presença feminina na literaturamarginal/periférica a fundo antes, ele se tornou inédito, o que despertou a atenção de

     produtores culturais, editores. Aí surgiu um convite do Sesc Campinas para fazer eventos durante quatro quartas-feiras lá e foi muito importante. Fizemos oficinas,

     bate-papo e sarau com as vozes da literatura marginal e foi enriquecedor demais,

     porque foi uma chance maior do que a que eu pensava poder ter. Foi muito rico. Soumuito grata por poder viver isso enquanto pesquiso.

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    Ocorreu um erro.

    Tente assistir o vídeo em www.youtube.com, ou ative o JavaScript caso ele esteja desativado em seunavegador.

    Por que escolheu tratar da literatura periférica?

    Eu sempre fui ligada ao hip-hop, desde adolescente. Ao mesmo tempo, conheci

    também a literatura marginal/periférica e foi quando decidi ser jornalista. Pensei:quero escrever. E aí, fui desenhando toda minha vida. Entrei na faculdade, meu

    trabalho de conclusão de curso foi sobre hip-hop e nunca mais parei de pesquisar,mesmo que empiricamente, frequentar saraus, juntar material. Sempre fui apaixonada

     pelo tema, pelo universo, pela vivência. É muito minha vida. Então, sempre tive a

    certeza de que queria pesquisar a literatura feita na periferia no mestrado. A ideia nãoera fazer mestrado. Era fazer mestrado sobre isso.

    Por que, ao estudar a literatura periférica, escolheu o recorte de gênero?

    http://www.youtube.com/watch?v=vWt0dVz3G10

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    As questões de gênero começaram a entrar na minha vida quando comecei afrequentar os encontros do coletivo Hip-Hop Mulher e a Frente Nacional de Mulheres

    do Hip-Hop. Comecei a observar mais sobre isso, ler mais, e depois que foram publicadas as antologias Perifeminas, organizadas pela Frente, eu vi que havia uma

    lacuna muito grande na participação das mulheres, mas, inicialmente, meu tema não

    era esse, era sobre como os escritores da literatura periférica faziam retratos docotidiano. Porém, na primeira conversa com a minha orientadora, eu comentei sobre o

    aumento recente de publicações femininas. Ela adorou e me perguntou: por que vocênão pesquisa isso? E aí selou. Fiquei muito feliz, porque também tinha essa vontade

     já, mas nunca havia pensado a fundo, e, quando ela deu a ideia, eu pensei: é isso. E eraexatamente o que faltava. Foi no momento certo, porque existia essa necessidade.

    Lembro que naquele mesmo dia saí da reunião pensando: quantas mulheres temos na

    literatura marginal? E lembrei de um artigo que li, que trazia um comparativo nonúmero de antologias, então, segui essa metodologia no início, pra contar o quão eradiferente a participação das mulheres da dos homens nas antologias lançadas nossaraus. O levantamento que tenho até agora mostra que nos últimos 15 anos a

     participação feminina é 22% inferior se comparada a dos homens e aí, na dissertação,ouvindo essas mulheres, eu tento entender porquê isso acontece.

    Qual é o recorte temporal da pesquisa?

    Começo em 2001, com a publicação da revista “Literatura Marginal”, feita pelo

    Ferréz em conjunto com a Caros Amigos e venho até 2016!

    Quais são as especificidades da literatura periférica feminina ao se compararcom a masculina? Quais são os temas mais tratados?

    Além da falta de equidade nas antologias, saraus e tudo mais, percebo que em boa parte dos casos as mulheres atuam junto na organização dos saraus, muitas vezes

    fazendo bem mais que os homens, mas são eles que são os “apresentadores”, os“mestres de cerimônias”. Elas são só as pessoas que atuam pra que isso aconteça.Dobram mesa e cadeira, anotam os nomes de quem vai declamar, penduram a

    decoração, recepcionam os convidados, cuidam das vendas de livros, enfim, fazemtudo acontecer, mas não aparecem. E isso é bem complexo.

    Mas, quanto às especificidades, vejo que as mulheres falam muito sobre os abusos quesofrem, denúncias sobre machismo, sobre maternidade, sobre o universo que vivem,

    sobre a partilha com outras mulheres, sobre amor, sobre o próprio corpo, mas,também, sobre problemas sociais e política. É uma literatura plural, bem plural. E rica.

    Mas, claro que as mulheres escrevem sob o ponto de vista feminino, que, neste