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PROPOSTA PEDAGÓGICA CURRICULAR DA ESCOLA … · específica na área de atuação e que mudanças na proposta pedagógica são necessárias para subsidiar a prática pedagógica

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PROPOSTA PEDAGÓGICA CURRICULAR DA ESCOLA ESPECIAL: Reflexões e

Práticas

Autor(a): Nilce Aparecida dos Santos1

Orientadora: Profa. Ms. Ana Aparecida Machado Barby2

Resumo

Este estudo teve por objetivo analisar a proposta pedagógica curricular da Escola Renascer, do município de Candói, para verificar se a mesma supre as necessidades educativas dos alunos dessa escola. Para tanto, realizou-se uma investigação com o emprego de questionários e grupos de discussão com o intuito de levantar dados sobre as dificuldades encontradas pelos docentes na sua aplicação e execução. A abordagem metodológica da pesquisa adotada foi a qualitativa exploratória embasada na pesquisa-ação, instrumento de pesquisa científica, o qual o pesquisador está envolvido no problema que detectou e participa de sua solução. Essa análise veio num momento em que ocorreram mudanças e adequações, pela transição de uma escola especial para uma escola de educação básica. Essa mudança foi em conseqüência da alteração de nomenclatura a qual aconteceu em todas as escolas especiais do Paraná, as quais foram autorizadas a funcionar através da Resolução Secretarial nº 3600/2011- GS/SEED. Este artigo mostra a urgência de entender e iniciar um processo de reorganização e adaptação da proposta curricular para atender, com qualidade, a diversidade dos alunos que apresentam necessidades educacionais especiais, em decorrência da deficiência intelectual. Ao final mostra os resultados obtidos e apresenta indicativos de que os docentes dessa escola necessitam de mais investimentos na formação docente específica na área de atuação e que mudanças na proposta pedagógica são necessárias para subsidiar a prática pedagógica.

Palavras chaves: Trabalho Pedagógico, Reflexões e Práticas

1 Professora da Rede Estadual de Educação do Estado do Paraná, atuando como professora na Escola Renascer –

APAE de Candói/Pr. Aluna do PDE- Universidade Estadual do Centro Oeste Guarapuava – UNICENTRO –

Turma 2010. Pedagoga e Especialista em Educação Especial.2 Professora UNICENTRO. Mestre em Educação UFPR. PDE – Universidade Estadual do Centro-Oeste –

UNICENTRO

1 Introdução

Esta pesquisa foi realizada na área de educação especial, com estudo da

organização pedagógica da Escola Especial Renascer, com foco na Proposta

Pedagógica e os entraves encontrados pelos docentes na efetivação do processo de

escolarização do aluno com deficiência intelectual na perspectiva de uma nova

escola.

O projeto foi implementado na Escola de Educação Especial Renascer

mantida pela APAE, situada na Avenida Francisco Pedro da Luz 180, Candói - Pr. A

referida escola transformou-se a partir de janeiro de 2012, numa escola de educação

básica a qual oferta educação infantil, ensino fundamental séries iniciais e EJA

(Educação de Jovens e Adultos) fase I na Modalidade de Educação Especial. Foi

autorizada a funcionar pelo conselho Estadual de Educação do Paraná, com

respaldo na legislação vigente da educação básica com supervisão e orientação da

Secretaria de Estado da Educação, através do Departamento de Educação Especial

e Inclusão, conforme a Resolução Secretarial nº 3600/2011- GS/SEED.

Esta mudança de nomenclatura e de toda a estrutura e funcionamento da

escola foram e estão sendo um desafio, para toda a comunidade escolar. É um

processo que demanda rever não só os documentos pedagógicos e administrativos

da escola, mas em especial rever a prática pedagógica e as atitudes diante desse

novo contexto. Fato histórico ocorrido apenas no Estado do Paraná e que veio de

encontro com os anseios dos pais, professores e alunos. A política de Educação

Especial tem como norte o respeito às diferenças individuais dos alunos com

necessidades educacionais especiais e oferta o atendimento especializado em

contexto inclusivo, tanto em escolas comuns quanto em escolas especiais para

aqueles alunos que, em função de seus graves comprometimentos ou necessidades

de comunicação diferenciada, demandem atenção individualizada e adaptações

curriculares expressivas. Por conta desse novo contexto, fez-se necessário analisar

a proposta pedagógica curricular da escola, sendo fundamental compreender como

os docentes organizam a sua prática pedagógica e se esta corresponde as

especificidades dos alunos atendidos nessa nova visão de escola.

Com esta pesquisar verificou-se que o direcionamento do trabalho

pedagógico dessa escola é dado pela coordenação pedagógica, mas cada docente

segue suas próprias convicções e seu entendimento sobre o que acham pertinentes

ensinar, apóiam-se no PPP, no PPC (Projeto Político Pedagógico e na Proposta

Pedagógica Curricular) e demais documentos da escola. Apesar de terem formação

específica, relataram que encontram muitas dificuldades para efetivar o processo

ensino-aprendizagem do aluno deficiente intelectual, a insegurança existe e falta um

elo entre a teoria e a prática. Por conta disso, se fez necessário aprofundar a

discussão sobre o tipo de escola que somos, o que buscamos e que tipo de alunos

que queremos formar. Então percebeu-se a necessidade que a proposta pedagógica

curricular fosse estudada e analisada para criar possibilidades de mudanças, foi

imprescindível fazer um diagnóstico da situação, e realizar um levantamento das

questões pertinentes ao tema.

Por conta dessa mudança o foco do trabalho foi verificar se a proposta

curricular está de acordo com as necessidades dos alunos e se ela dá o suporte

necessário para fundamentar as práticas docentes. A pesquisa surgiu a partir de

discussões com os professores da escola especial sobre aspectos relativos à

Proposta Pedagógica Curricular e suas implicações no ensino-aprendizagem do

aluno especial. Partindo desse pressuposto levanta-se vários questionamentos:

Como está a organização da PPC dessa escola? Será que ela está de acordo com a

necessidade e as especificidades dos alunos? Existe a necessidade de reorganizar

e adaptar esta proposta? Qual a visão dos docentes em relação à PPC? É relevante

para os docentes refletir, analisar e redimensionar a sua prática? Se houver uma

intervenção através de estudos e reflexões a situação pode mudar? E de que forma

mudará a dinâmica organizacional dessa escola? Após essas discussões sobre a

problemática da escola, desenvolveu-se um estudo junto aos professores que

possibilitou fazer uma reflexão sobre a Proposta Pedagógica Curricular, com o

objetivo de estudar e rever historicamente como ocorreu à educação do deficiente

intelectual. Após este estudo foi possível compreender como se deu o processo de

evolução da educação especial e serviu como base para analisar os conteúdos, bem

como as atividades previstas nessa proposta e refletir sobre sua importância na vida

dos alunos e se a mesma supre as necessidades do processo de ensino e

aprendizagem do aluno com deficiência intelectual.

2 Desenvolvimento

Para entender a proposta curricular, fez-se necessário rever a educação do

deficiente intelectual no decorrer da história, para compreender como se deu a

educação do mesmo até o presente momento. Constatou-se que no início do século

XX teve início a psicologia científica e a criação de testes para medir a inteligência e

foi instituído o diagnóstico psicológico da deficiência intelectual. Só por volta de 1930

que antigas denominações foram abolidas, passando-se a considerar os graus de

deficiência mental em: profundo, severo, moderado e leve, termos ainda utilizados

até hoje. Foi a partir de 2004 que a denominação da classificação mudou e ficou da

seguinte forma: deficiente intelectual educável, deficiente intelectual treinável e

deficiente intelectual dependente. (NASCIMENTO, p. 149, 150)

No Brasil o atendimento às pessoas com deficiência iniciou-se na época do

império com a fundação do Imperial Instituto dos Meninos Cegos (Instituto Benjamin

Constant) em 1954, e o Instituto dos Surdos – Mudos. No final do século tivemos a

implantação de duas instituições para a educação de pessoas com retardo mental:

uma em Salvador e outra no Rio de Janeiro (KASSAR 1999).

As primeiras instituições privadas para atendimento especializado à pessoas

com deficiência intelectual identificamos o Instituto PESTALOZZI e a Associação de

Pais e Amigos dos Excepcionais – APAE. (JANNUZZI, 1985; MAZZOTTA, 1996).

No que diz respeito às leis temos a Lei de Diretrizes e Bases da Educação –

LDB (Lei 4.024/61), a qual deixa claro o compromisso com a educação especial no

Brasil. Em 1971 é proposto apenas tratamento especial aos alunos com

necessidades especiais. Neste mesmo ano a Lei 5.692/71 no seu artigo 9º evidencia

uma preocupação na caracterização do alunado, que é definida como: alunos que

apresentam deficiências físicas ou mentais, aqueles que se encontra em atraso

considerável quanto à idade regular de matrícula e os superdotados.

No parecer do Conselho Federal de Educação 848/72 especifica a

relevância da implementação de técnicas e serviços especializados adequados ao

atendimento à excepcionalidade.

Na constituição de 1988 em seu artigo 227 do título VIII capítulo VII cita a

participação e colaboração das instituições particulares e prioriza o atendimento do

aluno com deficiências no ensino comum. Esse artigo prevê programas de

prevenção, atendimento e treinamento para o trabalho de portadores de deficiência

física, sensorial ou mental. Também presume a garantia de salário mínimo para

essas pessoas e idosos que não possuírem meios para a sua manutenção.

A Lei n 9.394/96 Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional anuncia

como “alternativa preferencial” a ampliação do atendimento ao deficiente na própria

rede pública de ensino, que ocorrerá independente do apoio a iniciativa privada

(art.60, parágrafo único).

A respeito das Escolas Especiais que compõem a rede conveniada com a

Secretaria de Estado da Educação do Paraná existe responsabilidade assumida

quanto ao atendimento educacional de uma parcela significativa do alunado com

necessidades educacionais especiais nas diferentes faixas etárias e tem capacidade

de organização pedagógica e administrativa para quebra de barreiras na busca de

alternativas para os avanços educacionais e sociais.

A história e a cultura do fenômeno "deficiência" sempre foram marcadas por

grande rejeição, discriminação e preconceito. E por conta da ineficiência do Estado

em promover políticas públicas sociais para garantir inclusão dessas pessoas, foi

que levou famílias empenhadas em quebrar paradigmas e buscar soluções e

alternativas para que seus filhos com deficiência intelectual ou múltipla tenham

condições de serem incluídos na sociedade, com garantia de seus direitos como

qualquer outro cidadão.

Nesse contexto, foram criadas as primeiras associações de familiares e

amigos que se mostraram capazes de lançar um olhar mais prepositivo sobre as

pessoas com este tipo de deficiência. Foi então que, no Brasil, essa mobilização

social começou a prestar serviços de educação, saúde e assistência social a quem

deles necessitassem, em locais que foram denominados como Associação de Pais e

Amigos dos Excepcionais (APAE), constituindo uma rede de promoção e defesa de

direitos das pessoas com deficiência intelectual e múltipla, que hoje conta com cerca

de 250 mil pessoas com estes tipos de deficiência, organizadas em mais de duas mil

unidades presentes em todo o território nacional. Esse movimento, chamado de

Movimento Apaeano é uma grande rede constituída por pais, amigos, pessoas com

deficiência, voluntários, profissionais e instituições parceiras - públicas e privadas -

para a promoção e defesa dos direitos de cidadania da pessoa com deficiência e a

sua inclusão social. Atualmente o Movimento congrega a Fenapaes - Federação

Nacional das APAEs, 23 Federações das APAEs nos Estados e mais de duas mil

APAEs distribuídas em todo o País, que propiciam atenção integral a cerca de 250

mil pessoas com deficiência. É o maior movimento social do Brasil e do mundo, na

sua área de atuação.

Foi no ano de 2003 que se retomou a discussão com representantes dos

diferentes segmentos que fazem a Educação Especial no Estado do Paraná, com a

parceria das Secretarias Municipais de Educação e as instituições especializadas

conveniadas, a fim de se resgatar o trabalho conjunto e articulado entre o Poder

Público e a sociedade civil.

Muitos professores ainda pensam que a inclusão refere-se a um processo

direcionado aos alunos com necessidades educacionais especiais, aqueles que

possuem algum tipo de deficiência. Essa definição está equivocada é resultado da

desinformação e falta de análise.

Há muitos alunos que apresentam problemas ou dificuldades de

aprendizagem, por razões inerentes à sua condição física, suas limitações

sensoriais ou déficits intelectuais. Grande parte desses alunos não atinge as

expectativas de aprendizagem e avaliação da escola por conta das condições

econômicas e culturais desfavoráveis.

O fracasso na escola revela que não são apenas os alunos com deficiência

os que apresentam necessidades referentes ao processo de aprendizagem e que

devem ser beneficiados com recursos humanos, técnicos, tecnológicos ou materiais

diferenciados que promoverão a sua inclusão.

O Paraná adotou uma política que pudesse ser viabilizada de forma

responsável, para tanto houve a necessidade de investimento de recursos públicos

para a realização de dois concursos públicos para a Educação Especial. Foi a partir

disso se pôde implantar a rede de Apoio, para que a inclusão de fato e responsável

pudesse se efetivar.

Embora a escola comum seja o local preferencial para promoção da

aprendizagem e inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais,

existe uma parcela de crianças e adolescentes que necessitam de atendimento

individualizado devido seus graves comprometimentos ou necessidades e este pode

ser realizado nas escolas de educação especial.

A política de inclusão do estado do Paraná afirma que à escola de educação

especial cabe uma cota restrita de alunos, somente aqueles que em face de sua

intensa especificidade, a escola comum, mesmo com os apoios especializados, não

comprove ser o melhor espaço para atender suas necessidades.

No Paraná existe 394 Escolas de Educação Especial. Dessas, 384 são

entidades filantrópicas e possuem Convênio de Cooperação Técnica e Financeira

com a SEED/DEEIN, as outras 10 possuem Convênio Técnico, uma vez que, são

escolas especiais que integram a rede municipal.

No mês de novembro de 2009 o DEEIN encaminhou ao Conselho Estadual

de Educação, solicitação quanto à autorização e alteração de denominação das

escolas de educação especial como Escolas de Educação Básica, na modalidade de

Educação Especial, na área da Deficiência Intelectual, com oferta de educação

escolar nas etapas da Educação Infantil, Séries Iniciais do Ensino Fundamental e

modalidade de Educação Profissional/Qualificação para o Trabalho de Jovens e

Adultos – Fase I, em conformidade com o que dispõe o artigo 21 da LDB 9394/96.

Conforme a lei n 9.394/96 Lei de Diretrizes e Bases da Educação em seu

capítulo V da Educação Especial no seu Art. 58:

“Entende-se por educação especial, para os efeitos desta lei, a modalidade

de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para

alunos portadores de necessidades especiais. No seu parágrafo 1º: “Haverá, quando

necessário, serviços de apoio especializado, na escola regular, para atender às

peculiaridades da clientela de educação especial. O atendimento educacional será

feito em classes, escolas ou serviços especializados, quando não for possível a sua

integração nas classes comuns de ensino regular em função das condições

específicas dos alunos.

No seu artigo 59 afirma que os sistemas de ensino assegurarão aos alunos

com necessidades especiais:

I – currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específica, para

atender às suas necessidades;

II – terminalidade específica para aqueles que não puderem atingir o nível exigido

para a conclusão do ensino fundamental, em virtude de suas deficiências, e

aceleração para concluir em menor tempo o programa escolar para os

superdotados;

III – professores com especialização adequada em nível médio ou superior, para

atendimento especializado, bem como professores do ensino regular capacitados

para a integração desses educandos nas classes comuns;

IV– educação especial para o trabalho, visando a sua efetiva integração na vida em

sociedade, inclusive condições adequadas para os que não revelarem capacidade

de inserção no trabalho competitivo, mediante articulação com os órgãos oficiais

afins, bem como para aqueles que apresentam uma habilidade superior nas áreas

artística, intelectual ou psicomotora;

V– acesso igualitário aos benefícios dos programas sociais suplementares

disponíveis para o respectivo nível do ensino regular. (LDB 9394/96 p.43)

O atendimento educacional especializado está centrado na individualidade

do processo de conhecimento. O conhecimento acadêmico refere-se à

aprendizagem do conteúdo curricular; o atendimento educacional especializado, por

sua vez, refere-se à forma pela qual o aluno trata todo e qualquer conteúdo que lhe

é apresentado e como consegue significá-lo, ou seja, compreendê-lo.

Ambas as escolas, especial e a comum podem propiciar todas as

oportunidades possíveis para que o aluno seja motivado, estimulado a se expressar,

pesquisar, inventar e reinventar o conhecimento livremente.

2.1 Currículo e Adequação da Proposta Curricular

Segundo as Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná compreende-se

currículo como uma área política comprometida com a heterogeneidade e com as

diferenças culturais que fazem parte da realidade escolar. Com a iniciativa de uma

visão renovada de currículo em ligação com o conhecimento, o trabalho e a cultura,

afirmando como prática social, cultural e de significação. Segundo Saviani:

A noção de currículo, desde a origem da aplicação desse termo à educação escolar, liga-se as idéias de: controle do processo pedagógico; estabelecimento de prioridades segundo as finalidades da educação, de acordo com o público a que se destina e com os interesses dos atores em disputa; ordenação, sequenciação e dosagem dos conteúdos de ensino. (SAVIANI, 2006, p.43)

O currículo é o resultado de uma construção social, diretamente ligada a um

momento histórico, a uma determinada sociedade e às relações que a mesma

estabelece com o conhecimento. No currículo, são várias as relações que se

constituem explícitas ou “ocultas”, que abrangem reflexão e ação, decisões político-

administrativas organizadas no órgão central da Educação, e as práticas

pedagógicas desenvolvidas na escola (SACRISTÁN, 2000).

O currículo escolar precisa ser flexível, aberto e comprometido com o

acolhimento às necessidades educacionais de todos os alunos sejam eles especiais

ou não. O projeto curricular aceita que a experiência de vida, ou seja, a escola da

vida entre para a vida da escola, isso admite tanto nos professores como nos

alunos, a criatividade, a capacidade de pensar, de fazer, de colaborar, de

sensibilizar e acima de tudo de se envolver com o processo ensino-aprendizagem.

Um projeto curricular pode ser considerado inclusivo, quando todos têm

possibilidades de aprender, mesmo com ritmos e estilos de aprendizagem

diferenciados. (EDLER CARVALHO, 2010).

O problema fundamental do processo educacional é que os educadores

estão mais interessados no ensino do que nas crianças. A centralização, a

concentração e seu treinamento, reduzem-se aos métodos e ao currículo.

(PULASKI, 1986).

Os currículos, as constituições de turmas, as técnicas de ensino e a

avaliação são aspectos da organização pedagógica das escolas e podem ser

revistos e alterados, desde que se tenha como base o que está definido pelo projeto

político-pedagógico da escola. Não tem como elaborar currículos que reflitam o meio

sociocultural dos alunos, sem os conhecimentos apanhados nesse projeto.

(MANTOAN, 2006).

No atendimento às diferenças faz-se necessário pensar sobre as

adaptações curriculares as quais podem ser mais um instrumento no processo

ensino-aprendizagem, o qual possibilita um atendimento mais especializado para

alunos com necessidades educativas especiais. (CARVALHO, 2010).

Adequar a proposta curricular visa o reconhecimento das peculiaridades

individuais e necessidades de cada aluno, crendo na possibilidade de ampliar as

potencialidades do mesmo. Isso não significa que se tenha que elaborar um novo

currículo diferenciado daquele do ensino comum, mas, trabalhar com mesmo

currículo que for adotado, fazendo apenas os ajustes que se fizerem necessários

para proporcionar oportunidades igualitárias a todos na construção do

conhecimento.

Num sistema de currículo aberto, a aprendizagem é o eixo do processo que

se constrói em reconhecimento das diferenças individuais, levando em consideração

os contextos: geográfico, social, cultural e econômico no qual o currículo se

desenvolve. (CARVALHO, 2010).

A origem do emprego do termo currículo na educação, faz notar sua ligação

com as idéias de unidade, ordem e seqüência dos elementos de um curso, com as

aspirações de se imprimir maior rigor à organização de ensino. O contexto de seu

surgimento foi no final do século XVI, identificado com a reforma protestante, mas

especificamente com o Calvinismo. A idéia de currículo soma-se a idéia de

ordenação, que implica metodização, com o intuito de formalização: o ensino

adquiriria maior força e/ou eficiência se formalizasse ou metodizasse. Nisso tudo, a

centralidade e a regularidade inerentes ao preceito calvinista de disciplina como

elemento de coesão da escola.

A escola tem que responder com a sua proposta pedagógica curricular a

uma série de necessidades de ordem social e cultural, fazendo da prática

pedagógica um trabalho complexo, no qual é preciso tratar com uma diversidade de

conteúdos e atividades que venham suprir a necessidade da clientela atendida. Não

basta apenas o domínio do professor pelo conteúdo a ser ensinado, mas o mesmo

precisa dominar também técnicas e métodos de ensino, saber avaliar e considerar a

complexidade de cada situação de ensino.

O currículo com seu formato pedagógico é um facilitador de atividades aos

professores e aos alunos, é considerado um elemento mediador entre a teoria e a

prática, ou seja, a ação, ponte entre princípios e realidades. É o professor que

através da escolha de suas atividades e tarefas delimita a relação teoria – prática.

Para o professor não é fácil transformar a teoria e princípios ideais para a prática

coerente com as especificidades do alunado, torna-se uma complexa missão a de

planejar uma estrutura de tarefas adequadas com base nos conteúdos estruturantes

de cada série.

Deve-se lembrar que os conteúdos curriculares estão intimamente

relacionados aos objetivos de ensino. Portanto é relevante e necessário “que as

adaptações significativas se desencadeiem a partir dos conteúdos, aceitando-se a

possibilidade de que com os conteúdos adaptados, possam-se manter, sem

modificar os objetivos inicialmente estabelecidos” (CARVALHO, 2010).

3 Material e Métodos

A abordagem metodológica de pesquisa adotada foi a qualitativa, descritiva,

embasada na pesquisa-ação, instrumento de pesquisa científica, o qual o

pesquisador está envolvido no problema que detectou e participa de sua solução.

Entende-se por pesquisa-ação como uma modalidade de intervenção coletiva, com

base em técnicas em que se busca tomar decisões as quais serão associadas às

idéias dos professores e a do pesquisador, na intenção de conhecer, analisar e

refletir sobre os problemas que ora afligem os participantes deste processo.

Os sujeitos da pesquisa foram os professores da rede estadual e municipal

que atuam na escola. Optou-se pela metodologia de grupos de estudos com o

número de dez docentes com uma carga horária de dezesseis horas, distribuídas

em quatro encontros de quatro horas, os quais foram realizados após o horário de

trabalho para facilitar a participação de todos. Foi realizado um encontro por mês,

com início no mês de agosto até o mês de novembro de 2011.

No desenvolvimento das atividades foram utilizados vários tipos de recursos

tecnológicos e didáticos. A avaliação ocorreu no final de cada encontro sendo de

forma objetiva.

Foi possível coletar dados e informação sobre as dificuldades encontradas

pelos docentes da escola especial em trabalhar conteúdos da educação básica com

alunos deficientes intelectuais. Utilizou-se para a efetivação desta investigação a

coleta de dados através de questionário com perguntas abertas e estudo

bibliográfico.

Os questionários foram aplicados em duas etapas o primeiro foi antes do

grupo de estudos e o segundo foi após o grupo de estudos.

A categoria de perguntas abertas as quais também chamadas de livres e

não limitadas, são aquelas que consentem ao informante responder livremente.

(MARCONI E LAKATOS, 2001)

Os dados foram obtidos através do questionário, analisados, interpretados e

demonstrados em forma de tabelas com recortes das respostas dadas pelas

professoras participantes.

4 Análise dos Resultados

Apesar de terem formação específica as professoras desta escola, relataram

que encontram muitas dificuldades para efetivar o processo ensino-aprendizagem do

aluno deficiente intelectual. Segundo elas o apoio e mediação da coordenação

pedagógica da escola é fundamental mas, mesmo assim existe a insegurança e

percebem que falta um elo entre a teoria que apreenderam e a prática diária:

No ensino, a falta de contato do conhecimento com a realidade parece ser uma característica mais acentuada ainda. Os professores, no esforço de levar seus alunos a aprender, o fazem de maneira a dar importância ao conteúdo em si e não a sua interligação com a situação da qual emerge, gerando já a clássica dissociação entre teoria e prática. O que se aprende na escola não tem nada a ver com a realidade, é o entendimento comum de pessoas que, saindo dos bancos escolares, assumem uma responsabilidade profissional. (HELOISA LÜCK,1995, p.21).

Neste estudo foi possível fazer uma discussão e reflexão sobre como está

se dando a organização pedagógica da escola e relatar as dificuldades dos docentes

na condução do processo ensino e aprendizagem dos alunos com deficiência

intelectual. Para compreensão do tema fez-se uma revisão bibliográfica embasados

nos seguintes autores: Sacristan, Saviani e Carvalho. No desenvolvimento da

proposta metodológica e na construção do material didático fundamentou-se nas

teorias de Piaget, Vygotsky e Paulo Freire.

Através deste trabalho foi possível verificar que a proposta curricular não

está de acordo com as necessidades dos alunos e não dá o suporte necessário para

fundamentar as práticas docentes. Também foi aprofundada uma discussão sobre o

tipo de escola que somos, o que buscamos e que tipo de alunos que queremos

formar. Foi discutido e analisado o momento de uma nova escola que estão vivendo

e constatou-se as reformulações que se fazem necessárias na Proposta Pedagógica

Curricular.

Este estudo sugeriu ao docente o desafio de ter um olhar diferenciado para

sua escola, sua prática e seu aluno. Olhar crítico e reflexivo que possibilite

diagnosticar e enxergar as possibilidades de mudança e alternativas para

redimensionar sua prática pedagógica. Dar abertura para novas metodologias de

ensino e ver as diversas possibilidades de aprendizagem de seus alunos e não se

deter apenas nas limitações que os mesmos possuem. Segundo o Parecer

CNE/CEB n. 17/2001:

Em vez de focalizar a deficiência da pessoa, enfatiza o ensino e a escola, bem como as formas e condições de aprendizagem; em vez de procurar, no aluno, a origem de um problema, define-se pelo tipo de resposta educativa e de recursos e apoios que a escola deve proporcionar-lhe para que obtenha sucesso escolar; por fim, em vez de pressupor que o aluno deve ajustar-se a padrões de “normalidade” para aprender, aponta para a escola o desafio de ajustar-se para atender diversidade de seus alunos (BRASIL, 2001, p.14 - grifos no original).

O objeto deste estudo foram as formas de organização do trabalho

pedagógico da escola especial com foco na Proposta Pedagógica Curricular, com

vistas às mudanças ocorridas na política educacional do Estado do Paraná em

relação às escolas especiais ditas conveniadas. Com o objetivo de desenvolver um

estudo junto aos professores que possibilitasse uma reflexão e reorganização da

Proposta Pedagógica Curricular para subsidiar o docente à viabilizar o processo de

ensino aprendizagem do aluno com déficit intelectual.

4.1 Análise dos resultados dos Questionários

Para referir-se às professoras participantes do questionário utilizou-se a letra

maiúscula (P) acompanhada de um número conforme o número de professoras que

responderam o questionário.

No primeiro quadro abaixo está elencado recortes das respostas de quatro

professoras, correspondentes a primeira pergunta do questionário: Segundo as suas

convicções qual é a função da escola Especializada?

Com relação a primeira pergunta foi possível verificar que existem dúvidas

por parte dos docentes no papel e na função da escola especializada, não está

claro para eles a função da escola especializada no contexto paranaense que tem

como objetivo uma inclusão responsável. A Secretaria de Estado da

Educação/Departamento de Educação Especial em sua política educacional,

embora as tendências contrárias a esse posicionamento no contexto nacional optou

pela permanência das classes especiais e instituições especializadas em sua rede

de apoio. Percebeu que algumas crianças, jovens e adultos com graves

comprometimentos e problemas no desenvolvimento não apresentaram as mesmas

condições de aprendizagem acadêmica formal dos demais alunos, houve assim

necessidade de propostas curriculares alternativas diferenciadas daquelas

desenvolvidas pela escola regular. Cabe ressaltar que, mesmo os alunos atendidos

em instituições especializadas, não constituem um grupo homogêneo, suas

diferenças individuais deverão ser respeitadas, por meio da execução de propostas

diversificadas, o que requererá, muitas vezes, um plano individual de ensino. (DCE-

PR, 2005)

Conforme apresentado no quadro 01 o atendimento educacional

especializado está centrado na dimensão subjetiva do processo de conhecimento. O

conhecimento acadêmico refere-se à aprendizagem do conteúdo curricular; o

atendimento educacional especializado, por sua vez, refere-se à forma pela qual o

aluno trata todo e qualquer conteúdo que lhe é apresentado e como consegue

significá-lo, ou seja, compreendê-lo.

PROFESSORAS PRINCIPAIS RESPOSTAS

P2“...fala-se em escola em instituição de ensino, ...está relacionada ao conhecimento...atendimento especializado”.

P1“...atender todas as necessidades educativas especiais dando ao aluno oportunidade de aprender...”

P3“...proporcionar ao aluno uma autonomia tanto motora como pedagógica...”

P4“proporcionar ao aluno uma formação e um bom desempenho pedagógico...”

Quadro 01: Segundo as suas convicções qual é a função da escola Especializada?

Sobre a segunda questão do quadro 2: Como se dá a organização do

trabalho pedagógico na sua escola?

Percebe-se que as professoras em questão têm conhecimento de como vem

sendo organizado o trabalho pedagógico de sua escola. Relatam que essa

organização só é possível através da cooperação e participação de todos em

reuniões, estudos, debates. Tendo em vista que o projeto pedagógico da escola foi

elaborado em conjunto com a comunidade escolar de forma participativa, todos

devem ter conhecimento de como é a organização pedagógica de sua escola. A

organização que todos participam é a diretriz norteadora do trabalho pedagógico

dentro do espaço escolar. Mas, dentro desse documento não está presente só a

proposta curricular ou a forma como serão distribuídas as turmas ou como será o

calendário escolar, nele estão presentes toda uma história de vida da escola, sua

filosofia, sua ideologia, os valores que predominam e sua intencionalidade

educativa. Espera-se que contemple uma educação igualitária com oportunidades

educacionais para todos, respeitando a diversidade humana e a multiplicidades de

interesses e necessidades de cada um.

O trabalho pedagógico centrado na aprendizagem do aluno que passa a ser

percebido como sujeito do processo e não mais como um mero copiador e

memorizador de informações. (CARVALHO, 2010)

PROFESSORAS PRINCIPAIS RESPOSTAS

P2“...através de trabalhos na semana pedagógica, reuniões, conselho de classe...”

P3“...planejamentos escolares, conselho de classe, acompanhamento pedagógico...”

P4 “...reuniões pedagógicas e conselho de classe...”

P1“Toda proposta pedagógica se efetiva após estudos, debates e conhecimento do PPP...”

Quadro 02: Como se dá a organização do trabalho pedagógico na sua escola?

A análise da terceira pergunta do quadro 3: Você acredita que a PPC,

atende às necessidades de seu aluno?

Todos pensam numa proposta reflexiva que atenda as necessidades

educacionais dos alunos e que propicie o melhor para o ensino aprendizagem, mas

alguns têm consciência de que essa proposta ainda não satisfaz a todos.

Para certificar e garantir que todos os alunos tenham experiências de

aprendizagens ricas, importantes e adequadas as suas peculiaridades individuais e

diferenciadas, há necessidade de flexibilizar a proposta curricular, especialmente

quando se trata de alunos que mostram dificuldades na aprendizagem porque têm

necessidades educacionais especiais temporárias ou não. (CARVALHO, 2010)

PROFESSORAS PRINCIPAIS RESPOSTAS

P1“...deve ser reflexiva, assim atenderá as necessidades de nossos alunos, mesmo Assim, não atenderá todas...”

P3“Sim... é feito coletivamente onde cada um dos profissionais expõe sua opinião. valorizando o que de melhor será para o ensino aprendizagem.”

P2“Sim... pois o que está na PPC é o que a escola como um todo faz e realiza para a melhoria do aluno.”

P4 “...feito coletivamente... valorizado o ensino aprendizagem.”Quadro 03: Você acredita que a PPC, atende às necessidades de seu aluno?

No decorrer desta pesquisa houve necessidade da aplicação de mais um

questionário com perguntas abertas, para obter informações sobre a opinião dos

educadores após a transformação da escola especial em escola de educação

básica. Nesta segunda etapa de questionamentos, analisou-se as respostas da

primeira questão do quadro 04: Na sua opinião como deve ser uma Proposta

Pedagógica Curricular inclusiva?

As respostas citadas abaixo demonstram que as educadoras têm clareza do

que seja uma proposta inclusiva. Relatam que a mesma deve atender todas as

especificidades dos alunos, com ambientes e recursos educativos adequados,

métodos e técnicas diversificados, conteúdos contextualizados, respeito a

individualidade, um trabalho pensado e efetuado em conjunto.

Não se pode entender o processo de flexibilização e adaptação curricular

como uma mera modificação ou acréscimo de atividades complementares na

estrutura curricular. Ele exige que as mudanças na estrutura do currículo e na

prática pedagógica estejam em conformidade com os princípios e com as diretrizes

do Projeto Político Pedagógico, numa perspectiva de um ensino de qualidade para

todos os alunos. O professor precisa adequar sua intervenção à maneira peculiar de

aprender dos alunos, em respeito às diferenças individuais.

“As escolas inclusivas são escolas para todos, implicando num sistema

educacional que reconheça e atenda às diferenças individuais, respeitando as

necessidades de qualquer dos alunos” (CARVALHO, 2004).

PROFESSORAS PRINCIPAIS RESPOSTAS

P2“...voltada a realidade de cada aluno, pensando no presente e prevendo os objetivos para ele no futuro...”

P3“...ambientes educacionais flexíveis, métodos e técnicas e recursos educativos...”

P1

“...deve ser desenvolvida em conjunto com toda a equipe pedagógica e docente, colocando o que deve ser trabalhado... conteúdos e materiais... metodologia... conforme a dificuldade de cada um.”

P4“ Precisa estar atrelada a realidade contextual e propor conteúdos de relevância para cada nível dos alunos.”

Quadro 04: Na sua opinião como deve ser uma PPC inclusiva?

A questão do quadro 05 tinha a pretensão de saber como os docentes vêm

a nova escola: Como você vê a nova escola de educação básica?

Fica evidente nos recortes abaixo a insegurança das professoras nessa

proposta de uma nova escola. Existe uma grande preocupação com os conteúdos e

as disciplinas exigidos e esquece-se da temporalidade que justificou a criação dessa

escola. Os alunos com deficiência intelectual e múltipla necessitam de mais tempo

para aprender do que os alunos da escola comum.

A nova escola foi autorizada a funcionar pela Resolução 3600/2011

assinada pelo secretário de educação do estado do Paraná a qual autorizou a

alteração na denominação das Escolas de Educação Especial para Escolas de

Educação Básica, na modalidade de Educação Especial, com oferta de Educação

infantil, Ensino Fundamental – anos iniciais, Educação de Jovens e Adultos – Fase I,

e Educação Profissional/Formação inicial, a partir do início do ano letivo de 2012.

Essa mudança foi um fato histórico e gerou certa insegurança por parte de

toda a comunidade escolar, um período de muitas adaptações e reformulações,

também momento em que se pára para repensar a prática. As opiniões a esse

respeito estão divididas, tem aqueles que acreditam na proposta e tentam inovar,

mas também existe alguns que estão com dificuldades de aceitar e incorporar a

mudança. Uma docente relatou o seguinte:

P1 relata que [...nem tudo que sabemos, nem toda a bagagem que conosco

trazemos é suficiente para dispensarmos a ajuda de outros, até uma idéia diferente,

nos completa e nos torna mais forte na nossa caminhada...]

PROFESSORAS PRINCIPAIS RESPOSTAS

P1“...não vai ser fácil trabalhar com todas as disciplinas... muitas vezes passam até uma semana fazendo o mesmo trabalho...”

P3“...como qualquer outra, só com um atendimento diferenciado das demais...”

P2“...veio para que possamos sempre inovar e cada vez mais melhorar a qualidade de ensino...”

P4“...estamos em processo de adaptação com as novas reformulações ...

Quadro 05: Como você vê a nova escola de educação básica?

No quadro 06 a questão é: Existem dificuldades no processo ensino

aprendizagem?Quais?

Na análise das respostas da pergunta do quadro 03, verificou-se que as

dificuldades existem no processo ensino aprendizagem, por conta da diversidade

dos alunos. Isso demanda adequar atividades considerando o nível de

aprendizagem de cada um é uma tarefa extremamente complexa, mas necessária.

Repensar os métodos e as técnicas diferenciadas que venham suprir as

necessidades dos alunos é fundamental para o sucesso do processo. O plano de

trabalho docente tem que prever e satisfazer a necessidade de cada aluno com

deficiência intelectual, respeitando a sua temporalidade para aprender e se

desenvolver.

As adaptações facilitadoras ao currículo quando organizadas para os

alunos com deficiências sensoriais ou físicas, costumam ser acompanhadas de

outras adaptações nos elementos curriculares, seja nos aspectos da metodologia do

ensino, seja no segmento dos conteúdos, no tempo a eles destinado, ou nos

objetivos previstos para a obtenção das intenções educativas. (CARVALHO, 2010)

Antes mesmo de qualquer ensaio e discussão de técnica, de materiais, de

métodos para uma aula dinâmica, é preciso e indispensável mesmo, que o professor

tenha conhecimento de que a pedra fundamental é a curiosidade do ser humano. É

ela que me motiva e faz perguntar, conhecer, atuar, re-conhecer. (FREIRE, 2007)

PROFESSORAS PRINCIPAIS RESPOSTAS

P2“...a forma de avaliar cada aluno, encontrar o método correto para cada aluno...”

P3“...temos dificuldades na forma de trabalhar, qual a metodologia usar... temos dúvidas...”

P1“...todos os dias repetindo um conteúdo... eles não conseguem captar o que foi dito...”

P4

“...precisa ter como tentativa várias opções de metodologias, adaptar vários materiais... tempo de pesquisas e elaboração de material concreto... acredito não ser suficiente.”

Quadro 06: Existem dificuldades no processo ensino aprendizagem?Quais?

4.2 Análise do Resultado do Grupo de Estudos

A implementação do projeto de pesquisa foi através de grupos de estudos

com professoras em exercício na Escola Renascer. São professoras da rede

estadual, municipal e conveniadas que estão a serviço da APAE. Das 10

professoras que participaram da pesquisa, 2 têm mais de 10 anos de profissão e as

demais têm entre 2 a 10 anos. Sendo que todas possuem experiência com alunos

especiais. O fato é que mesmo com formação e experiência na área relataram que

encontram dificuldades para ensinar esses alunos.

No grupo de estudos na primeira sessão da implementação do projeto foram

realizadas atividades que propiciaram uma reflexão e discussão sobre a resistência

às mudanças que está implícita na prática diária. Também foram abordados temas

sobre filosofia, teorias do conhecimento e as principais tendências pedagógicas. O

objetivo dessa proposta de trabalho foi dar embasamento teórico, para os docentes

identificarem qual a filosofia seguida pela escola, as teorias do conhecimento e as

tendências pedagógicas presentes na prática. Entendemos que seria necessário

fundamentar-se para depois entrar na problemática da escola.

No final da atividade os docentes responderam um questionário com as

seguintes questões:

Que teorias educacionais fundamentam a sua prática pedagógica?

Nessa questão a maioria dos docentes relataram que encontram respaldo

nas teorias de Piaget, Vygotsky e Paulo Freire. Uma das participantes deixou essa

questão em branco e a outra relatou que na sua prática não utiliza teoria.

Constata-se a necessidade dos docentes em fundamentar a sua prática

através de estudos e pesquisas, Piaget afirma que a pesquisa é um treinamento

intelectual que nos leva a compreender a complexidade dos problemas envolvidos,

muito mais do que qualquer palestra proferida por um doutor. (PULASKI, 1986)

No segundo encontro propiciou-se aos docentes uma Palestra sobre o tema:

“A Consciência Fonológica e a Aprendizagem da Leitura e Escrita” ministrada pela

professora MS. Ana Aparecida de Oliveira Barby com o objetivo de subsidiar as

professoras no planejamento de seu plano de trabalho docente. A palestra teve

quatro horas de duração sendo que duas horas foram para questionamentos e

respostas.

O terceiro encontro foi uma discussão sobre a escola inclusiva, que teve

como proposta de trabalho uma reflexão sobre o jeito de olhar do educador. Foi uma

análise dos vários tipos de olhares que temos em relação a diversidade de alunos

que atendemos. Nessa discussão de educação inclusiva foram debatidos os temas

deficiência, diversidade, diferença e desafios para o século XXI. O objetivo foi

apresentar e discutir as políticas públicas para inclusão e a legislação do direito a

educação. Esses temas foram trabalhados para dar conhecimento a legislação

vigente que dá respaldo a nova escola que ora surge. Um dos questionamentos

feitos aos docentes foi: Na sua opinião como deve ser uma Proposta Pedagógica

Inclusiva?

Nessa questão os docentes relataram que numa proposta r inclusiva os

conteúdos devem ser relevantes e atrelados a realidade e a vida dos alunos,

valorizando o conhecimento já adquirido. Opinaram ainda que a construção de uma

Proposta Pedagógica Curricular deve ser em conjunto com a equipe pedagógica e

os docentes considerando as características individuais e as dificuldades de cada

aluno.

O currículo desenvolvido em sala de aula é fruto da criatividade do educador

que deve se guiar pelo currículo da escola e atender as características individuais de

seus alunos. (CARVALHO, 2010)

O quarto momento de discussão foi em torno da realidade do contexto

escolar. Nessa trajetória de estudos junto com as professoras identificamos a

preocupação das educadoras no processo ensino aprendizagem, muitas incertezas

e dúvidas sobre como estão ensinando, o que estão ensinando e para quem estão

ensinando. Partindo desse pressuposto é que se fez necessário uma revisão

histórica de como ocorreu à educação do Deficiente Intelectual, para melhor

entender e se situar no contexto atual. Foram analisados os conteúdos e as

atividades previstas na Proposta Pedagógica Curricular da escola refletindo sobre os

conteúdos e objetivos selecionados e sua relevância para a vida dos alunos.

Questionou-se ainda se a atual proposta pedagógica curricular dessa escola supre

as necessidades do processo de ensino e aprendizagem do aluno com deficiência

intelectual.

4.2 Análise do Resultado do GTR

Após leitura das postagens do curso do GTR (Grupo de Trabalho em Rede)

e discussões nos fóruns sobre o assunto, fez-se uma síntese do conteúdo estudado

e das conclusões dos educadores que participaram. Eles relataram que o sucesso

escolar deve ser diferente para diferentes clientelas em cada escola, priorizando a

maior necessidade de seu aluno, que pensando em escola especial, muitas vezes

não é a parte acadêmica.

O currículo funcional é uma ferramenta crucial para que os professores

trabalhem com a verdadeira inclusão de alunos especiais na sociedade. Quanto à

perspectiva histórica para a caracterização atual da Educação Especial, tem-se

conhecimento de que ela vem sofrendo reformulações, retificações, derivações e

inovações que tem afetado suas considerações teóricas e práticas.

Segundo relato dos professores já é hora das instituições educacionais

repensarem na prática das suas ações pedagógicas, para que estas venham a

somar na construção de uma escola igualitária, onde se prioriza o saber para a vida

e não um saber conteudista sem significado para este alunado. Fica evidente a

necessidade de se redefinir e de se colocar em ação, novas alternativas e práticas

pedagógicas que favoreçam a todos os alunos o que implica na atualização e

desenvolvimento de conceitos e em aplicações educacionais compatíveis com esse

grande desafio, baseados em pesquisa e em pressupostos teóricos que venham dar

sustentação à prática pedagógica.

A educação só pode realizar-se através de mediações práticas que se

desenvolvem a partir de um projeto educacional, vinculado por sua vez a um projeto

histórico e social, onde a instituição escolar é o lugar por excelência desse projeto,

no que concerne a sua dimensão educacional.

Nesse sentido o papel da escola na formação de valores e da cidadania é

vital e fatal para qualquer sociedade. Daí a enorme importância que se deve dar a

PPC e ao PPP da escola. Se pensarmos que não é fácil corresponder as

necessidades e exigências dos alunos “ditos normais” pela diversidade que se tem

hoje em sala de aula, em se tratando do aluno com deficiência intelectual a

exigência e a necessidade se torna ainda maior, gerando certa insegurança nos

docentes na hora de planejar e escolher as atividades. (GTR, 2011)

5 Conclusão

Fez-se um resgate histórico sobre a visão da sociedade para com a pessoa

com deficiência intelectual com o objetivo de melhor entender como se deu o

processo educacional no decorrer dos tempos até o presente momento, considerado

o momento histórico que o estado do Paraná está vivendo, com a alteração de

denominação das Escolas de Educação Especial para Escolas de Educação Básica,

na Modalidade Especial. Nesse contexto de transição esta pesquisa veio de

encontro com as necessidades da equipe pedagógica e docentes em fundamentar a

prática para se adequar as exigências legais da nova escola. Percebe-se que a

mudança desestruturou as velhas convicções e propôs um novo olhar para o aluno,

para a prática com vistas nas novas formas de organização do trabalho pedagógico.

Um olhar crítico e reflexivo que possibilite diagnosticar e enxergar as possibilidades

de mudança e alternativas para redimensionar a prática pedagógica. Também, deu

abertura para pesquisar novas metodologias de ensino e verificar as diversas

possibilidades de aprendizagem dos alunos.

Através dos grupos de estudos foi possível subsidiar os docentes com

estudos teóricos e reflexões com o intuito de contribuir na formação dos educadores,

bem como facilitar uma reorganização da proposta pedagógica da escola. A

mudança a princípio gerou certa preocupação e insegurança em relação aos novos

rumos que a escola deve seguir, pois sendo uma escola de educação básica, a

mesma deverá se enquadrar na legislação vigente dessa modalidade de ensino.

Após estudos e reflexões sobre a proposta pedagógica curricular chegou-se

a conclusão que a mesma não está de acordo com as especificidades dos alunos

atendidos, seus conteúdos não atingem os objetivos esperados pela escola e pela

família. Fez-se necessário iniciar um trabalho de reorganização dessa proposta, com

conteúdos funcionais que venham dar mais significado a aprendizagem e contribuir

para a melhoria da vida dos alunos. Também foram momentos de estudos, debates

e reflexões propostos ao grupo que poderão assegurar o conhecimento teórico e

contribuir para a formação de uma nova consciência sobre a prática pedagógica e

sobre o se quer para a nova escola e assim aumentar a segurança para ousar e

mudar.

Conclui-se ainda, que existe a necessidade de mais investimentos na

formação docente e sugere-se que este estudo continue e perpasse por todos os

documentos pedagógicos da escola.

Referências

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