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PROTEINÚRIA EM CÃES COM DOENÇA RENAL AGUDA – DADOS PARCIAIS
PROTEINURIA IN DOGS WITH ACUTE KIDNEY DISEASE - PRELIMINARY
RESULTS
Suelen Lorena da SILVA1, Saura Nayane de SOUZA2, Gustavo Lage COSTA²,
Évelyn de OLIVEIRA2, Maria Clorinda Soares FIORAVANTI3, Danieli Brolo
MARTINS³
1 - Acadêmica em Medicina Veterinária, Escola de Veterinária e Zootecnia, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Goiás, Brasil. E-mail: [email protected]. 2 – Doutoranda(o) do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal, Escola de Veterinária e Zootecnia, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, GO, Brasil. 3- Docente do Setor de Clínica e Cirurgia, Departamento de Medicina Veterinária, Escola de Veterinária e Zootecnia, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Goiás, Brasil, CEP 74.001-970.
Resumo
O diagnóstico da doença renal aguda em estágios iniciais visa aumentar a
possibilidade de recuperação do paciente. Este trabalho objetivou quantificar a
proteinúria em seis cães adultos hígidos submetidos à lesão renal aguda por
administração de gentamicina, antibiótico conhecido por sua ação nefrotóxica, na
dose de 30mg/kg, durante dez dias. Diariamente, nos primeiros dez dias após a
aplicação do fármaco, foram realizadas as colheitas de urina. Passado esses dias,
foram realizadas mais cinco colheitas, com intervalo de 48h entre cada uma.
Terminado esse período, foram realizadas outras cinco colheitas, com intervalo de
cinco dias entre cada amostra. Em cada colheita, foram mensuradas proteína e
creatinina urinárias para acompanhamento da função renal. A relação
proteína/creatinina urinárias (PU:CU) apresentou-se alterada a partir do sétimo dia de
aplicação de gentamicina. Assim, a relação PU:CU é um indicador confiável, e
demonstra ser uma boa ferramenta para o acompanhamento da regressão, da
terapêutica e do prognóstico do dano renal.
Palavras-chave: canino, lesão renal aguda, proteína urinária.
Keywords: canine, acute kidney injury, urinary protein.
1. INTRODUÇÃO
A doença renal aguda (DRA) é caracterizada pela diminuição ou incapacidade
do paciente portador em manter o equilíbrio homeostático (MAGRO & VATTIMO,
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Anais do 38º CBA, 2017 - p.0613
2007). A doença renal acaba por concentrar no organismo compostos nitrogenados
que deveriam ser eliminados (COSTA et al., 2003).
Há quatro fases da DRA, sendo (1) iniciação, (2) extensão, (3) manutenção e
(4) recuperação (LUNN, 2011). Na fase de iniciação, medidas terapêuticas que
visam reduzir a lesão renal podem prevenir o desenvolvimento ou estabelecimento
da insuficiência renal (GRAUER, 2005). Durante a fase de manutenção, é verificado
o estabelecimento da disfunção dos néfrons. Na fase de recuperação pode ser
observada a regressão das lesões e melhora na função do órgão. As duas primeiras
fases podem não ser evidentes aos exames laboratoriais (LUNN, 2011). O
diagnóstico precoce pode melhorar qualidade de vida, retardar a progressão da
enfermidade, aumentar a expectativa de vida e reduzir as complicações inerentes a
sua evolução (WAKI, 2010).
Pode-se classificar os estágios de acordo com os marcadores de lesão renal,
o que auxiliam no estabelecimento de diagnóstico, prognóstico e terapia adequada
conforme cada fase (WAKI, 2010). Um exemplo disso é a proteinúria, que está
presente desde o estágio inicial. A perda da função do rim é diretamente relacionada
à quantidade de proteína presente na urina (MENDES e BREGMAN, 2010).
O diagnóstico precoce das alterações renais retarda a progressão do dano à
sua função, melhorando assim, a qualidade de vida dos animais acometidos (WAKI,
2010). Desta forma, objetivou-se, neste estudo, avaliar a proteinúria na DRA em
cães com doença tubular experimentalmente induzida por gentamicina.
2. MATERIAL E MÉTODOS
O estudo foi desenvolvido no Hospital Veterinário da Escola de Veterinária e
Zootecnia da Universidade Federal de Goiás (HV-UFG), Goiânia/GO, com
aprovação da Comissão de Ética no Uso de Animais da Universidade Federal de
Goiás (CEUA/UFG), protocolo 007/2013. A amostragem foi composta por 12 cães
machos, pertencentes ao Centro de Controle de Zoonoses da Prefeitura de Goiânia,
previamente vacinados e derverminados. Os animais foram separados em grupo
controle (C) (n=6) e grupo doença renal (T) (n=6). Os animais passaram por rigoroso
acompanhamento clínico no período de adaptação (30 dias). Após este período,
foram colhidas três amostras de urina e sangue de cada animal (M0), com intervalo
de 24 horas entre as colheitas, para a obtenção dos valores basais e a sua média
aritmética foi utilizada como valor basal.
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Nos animais pertencentes ao grupo T, a lesão nos rins foi induzida com a
utilização de 30 mg/kg de gentamicina. O fármaco foi aplicado uma vez ao dia,
durante 10 dias, por via subcutânea, para reduzir a irritação local e a dor.
Foram realizadas 20 colheitas de urina dos animais nos seguintes tempos:
após 24h da indução da lesão renal (M1) até o décimo dia (M10) as colheitas foram
realizadas em intervalos de 24 horas; do 12° ao 20° dia, as colheitas foram
realizadas em intervalos de 48 horas (M11 a M15); do 25° ao 45° dia, as colheitas
foram realizadas em intervalos de cinco dias (M16 a M20).
A avaliação dos animais constou de anamnese, exame clínico e realização de
dosagem de proteína urinária. As amostras de urina foram obtidas por cateterismo,
quantificando 10 mL. Para o teste bioquímico na urina, as amostras foram
centrifugadas, subdivididas em microtubos de polipropileno de 1,5 mL (Eppendorf®,
Alemanha) e congeladas (- 20º C) até o momento da realização dos exames.
Todas as análises foram realizadas no Laboratório Multiusuário do Programa
de Pós-Graduação em Ciência Animal da Escola de Veterinária e Zootecnia da UFG.
Durante o período experimental os animais foram mantidos em boxes individuais de
alvenaria, acesso livre ao solário, água ad libitum e ração comercial com proteína
bruta de 22% em duas porções diárias. Ao término do experimento, os animais
foram tratados de acordo com os sinais clínicos apresentados e após, submetidos à
adoção.
Foi calculada a média, desvio padrão e coeficiente de variação dos
parâmetros estudados. Posteriormente, foram utilizados os testes Shapiro Wilk e de
Bartlett para verificação da normalidade e da homogeneidade das variâncias. Após
esse teste, optou-se por utilizar análise de variância (ANOVA) com fatoriais nas
variáveis normais e homogêneas, nos testes realizados o grau de significância
adotado foi de 5%. As análises estatísticas foram realizadas utilizando o programa R
e o Excel.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A DRA é associada a uma rápida diminuição da função renal. Essa
enfermidade ocorre em resposta a agressões tóxicas ou isquêmicas. A
susceptibilidade dos rins aos agentes tóxicos ocorre devido ao grande volume
sanguíneo, em torno de 20% do débito cardíaco, que o órgão recebe (LUNN, 2011).
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Dentre os fatores predisponentes mais citados na literatura, destacam-se a
nefropatia pré-existente, uso prolongado de anti-inflamatórios não esteroidais, uso
de aminoglicosídeos, hipotensão, doença hepática, febre, sepse, desidratação e
débito cardíaco diminuído (COSTA, 2003; GRAUER, 2005). A gentamicina é um
antibiótico aminoglicosídeo que apresenta como uma das principais complicações a
lesão renal aguda (LRA). Esse fármaco não é eliminado pela filtração glomerular e
acaba sendo reabsorvido pelos túbulos contorcidos proximais (TCPs). Sendo capaz
de induzir a necrose tubular tóxica (DANTAS et al., 1997).
Para a determinação da proteinúria e acompanhamento das doenças
glomerulares, utiliza-se o índice PU:CU (expressa a relação proteína
urinária/creatinina urinária) devido a sua maior praticidade, em detrimento da
colheita de urina durante 24 horas (SOLORZANO et al., 2012). Em cães hígidos, os
valores médios de PU:CU estão em torno de 0,12, o que é condizente com o valor
encontrado no grupo C (0,106±0,069, covariância (CV) 65,71%). Valores acima de
0,5 são considerados anormais, compatíveis com lesão renal (REGO, 2006), o que
foi observado no grupo T (0,73± 0,72, CV 145,5%), a partir do M7.
Na comparação estatística entre os diferentes momentos, nota-se que, na
relação Pu:Cu, houve diferença significativa entre C e T nos tempos M7 (C: 0,08ª; T:
1,37b ), M8 (C: 0,065ª; T: 1,25b ), M10 (C:0,08ª; T: 1,21b ), M11 (C: 0,12ª; T: 1,03b ),
M12 (C: 0,075ª; T:1,02b ), M13 (C:0,093ª; T:1,20b) e M14 (C: 0,11ª; T: 1,84b ). A
aplicação de gentamicina ocorreu nos tempos M1 a M10. A partir de M15 o índice
PU:CU dos cães não apresentou diferença estatística, chegando a se igualar no M17.
Em um experimento semelhante, foi feita a aplicação de gentamicina
10mg/kg, três vezes ao dia, durante 14 dias, a proteinúria foi persistente até o 27º
dia. Isso se deve ao fato que na lesão renal aguda (LRA), quando o estimulo
agressor é retirado, os TCPs tem a possibilidade de começarem a regeneração. O
tempo demandado para tal processo pode variar de acordo com o estímulo
previamente recebido, a extensão da lesão e a condição do organismo do animal
(DANTAS et al., 1997)
Se o paciente apresentar um índice PU:CU maior que 2,0, é um forte indicativo
de lesão glomerular. Já quando essa relação for abaixo desse valor, porém maior
que 0,5, normalmente há um dano tubular (CIANCIOLO et al., 2016). A proteinúria
observada no grupo T provavelmente se deve a lesão tubular causada pelo fármaco,
o que reduz a reabsorção de proteína pelos túbulos.
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5. CONCLUSÃO
A bioquímica urinária fornece dados importantes e cruciais para o diagnóstico
precoce de lesão nos rins. A relação PU:CU é um indicador confiável de LRA, o que
demonstra ser uma boa ferramenta para o acompanhamento da regressão do dano
renal, da terapêutica realizada e do prognóstico.
6. REFERÊNCIAS
CIANCIOLO, R.; HOKAMP, J.; NABITY, M. Advances in the evaluation of canine
renal disease.The Veterinary Journal, v.215, p.21–29, 2016.
COSTA, J.A.C. et al. Insuficiência Renal Aguda. Medicina, v.36, p.307-324, 2003.
DANTAS, A.F.M. et al. Intoxicação Experimental por Gentamicina em Cães. Ciência
Rural, v.27, n.3, p.451-456, 1997.
GRAUER, G. F. Early detection of renal damage and disease in dogs and cats.
Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, Philadelphia, v. 35, p.
581-596, 2005.
LUNN, K. F. The kidney in critically ill small animals. Veterinary Clinics of North
America Small Animal Practice, v. 41, p. 727-744, 2011.
MAGRO, M.C.S.; VATTIMO, M.F.F. Avaliação da função renal: creatinina e outros
biomarcadores. Revista Brasileira de Terapia Intensiva, v. 19, n. 2, p.182-185. Abril-
Junho, 2007.
MENDES, R. S.; BREGMAN, R. Avaliação e metas do tratamento da proteinúria.
Revista Brasileira de Hipertensão, v.17, n.3, p.174-177, 2010.
REGO, A.B.A.S. Microalbuminúria em cães com insuficiência renal crônica: relação
com pressão sanguínea sistêmica. Tese (Doutorado em Clínica Veterinária) -
Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo, São
Paulo, 2006.
SOLORZANO, G.T.M.; SILVA, M.V.M.; MOREIRA, S.R.; NISHIDA, S.K.;
KIRSZTAJN, G.M. Relação proteína/creatinina na urina versus proteinúria de 24
horas na avaliação de nefrite lúpica. Jornal Brasileiro de Nefrologia, v.34, n.1, p.64-
67, 2012.
WAKI, M.F.; MARTORELLI, C.B.; MOSKO, P.E.; KOGIKA, M.M. Classificação em
estágios da doença renal crônica em cães e gatos - Abordagem clínica, laboratorial
e terapêutica. Ciência Rural, v.40, n.10, p.2226-2234, 2010.
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