"Sigo a observao de Boon: o motivo central para a superao da antropologia frazeriana foi um novo tipo de livro; Malinowski tornou o estilo de Frazer obseoleto."(42)"Ns pensamos nos antroplogos como os tpicos criadores de dispositivos por meio dos quais possvel compreender o que outras pessoas acham e no que acreditam. E, claro, como simultaneamente empenhados em construir dispositivos atravs dos quais se pode afetar aquilo que seu pblico acha e acredita. Preparar uma descrio requer estratgias literrias especficas, a construo de uma fico persuasiva: uma monografia precisa estar arranjada de tal maneira que possa expressar novas composies de ideias. Essa se torna uma questo sobre sua prpria composio interna, a organizao da anlise, a sequnc pela qual o leitor introduzido a conceitos, o modo como as categorias so justapostas ou os dualismos so invertidos. Confrontar o problema confrontar o arranjo do texto. Dessa forma, quando o escritor escolhe (digamos) estilo "cientfico" ou "literrio", ele assinala o tipo de fico que faz; no se pode fazer a escolha de evitar completamente a fico" (45)"Frazer e seus predecessores tinham uma ideia clara de seu lugar como modernos em uma era que via a si mesma como moderna. Mas tem-se a impresso frequente de que os selvagens que apresentavam em suas pginas concordariam, se pudessem, com esse arranjo do mundo. Estava por surgir um tipo diferente de autoconscincia, que no expressaria nem mesmo os rastros de tal acordo. Ela criou uma nova distncia entre o etngrafo e seus leitores." p.47-49 nota de rdp 29"A diviso entre o observador e o observaado sempre foi autoconsciente. O que tipificou o modernismo da antropologia foi a adoo dessa diviso como exerccio terico por meio do fenneno de trabalho de campo. O antroplogo ou antroploga que "entrava" em outra cultura levava consigo a autoconscincia do outro. Era o que inventavam os pesquisadores de campo no tempo de Malinowski. Qualquer que fosse a natureza de suas experincias de campo, ela era visivelmente reinventada na forma pela qual as monografias passaram a ser estruturadas." 48"Rejeitava-se o historicismo em favor da dscoberta do holismo e da sincronia. A nova antropologia transformava os mtodos anteriores di lidar com a diversidade cultural mais obsoleta e se reconhecia ao faz-lo." 49O que preciso explicar, segundo S. como Malinowski passou a figurar a ideia de que havia se passado uma revoluo na disciplina, j que suas ideias no eram particularmente novas. Mesmo o funcionalismo j podia ser vislumbrado em Frazer. O trabalho de campo j vinha sendo feito por seus contemporneos. A formulao do trabalho de campo como mtodo encontra paralelo em Rivers, anterior a Malinowski:"Se de fato Malinowski no inventou holismo, sincronia, trabalho de campo intensivo e o resto, no houve ento inveno alguma? Prefigurei minha resposta de que a inveno se assenta sobre o que ele escreveu e, especificamente, na organizao do texto. Foi isso que implementou os tipos de relacionamento entre escritor, leitor e tema que dominariam a antropologia, britnica e de fora, nos sessenta anos seguintes. " 51"O que deve ser preferencialmente deixado porta de Malinowski a proclamao dos tipos de espao que devem ser criados para expressar ideias analticas "novas". porque tal contextualizao era nova que as prprias ideias vieram a parecer novas e que outros pesquisadores que pudessem ser vistos como seus expoentes prvios foram tornados invisveis. Seu poder para os antroplogos reside no paralelo entre o arcabouo da monografia e o arcabouo da experincia de campo." 52"a importncia de situar as coisas em seu contexto social passou a ser reforada de forma universal em larga escala na antropologia, devido s crticas que denunciavam o baixo apreo de Frazer pelo contexto, pois as novas ideias em questo tinham adquirido uma dupla identidade: as ideias analticas organizativas dos antroplogos eram elas prprias contextualizadas pela introduo, em seu contexto social, das ideias nativas das quais as pessoas organizavam sua experincias. Contextos podiam ser comparados, o que suscitou um dispositivo literrio persuasivo no arranjo dos textos atravs dos quais sociedades e culturas deveriam ser descritas." 52"O novo tipo de livro que Malinowski escreveu no era apenas a monografia holstica centrada num povo particular ou o esclarecimento sobre a distino de sociedades mpares, que seria o fundamento da sociologia comparativa posterior. Leach indica a significativa suposio terica de que o conjunto das informaes coletadas sob observao deve "encaixar" e "fazer sentido": "Nenhum dado fora do presente subjetivo-objetivo imediato precisa ser considerado". Assim, o novo tipo de livro tinha por premissa a disjuno entre observador (sujeito) e observado (objeto), uma disjuno que tornava o obeservador consciente da tcnica e conduzia, de modo subsequente, conceituao da prtica antropolgica como construo de modelos. Arcabouos analticos tornaram-se permitidos, como artifcios deliberados. O contraste entre esse modernismo e o historicismo de Frazer foi corporificado numa nova verso de primitividade - uma verso que incorporou um novo relacionamento. A diferena entre "ns" e "eles" era concebida no como um estgio diferente no progresso evolucionrio, mas como uma diferena de perspectiva. "Eles" no usavam as mesmas molduras que "ns" para visualizar o mundo. Sendo apenas etnocentrismo, aquilo no era descoberta nenhuma. Por outro lado, o etnocentrimo foi inventado tanto como um princpio terico quanto como um arcabouo para organizar a escrita. E isso ficou demonstrado no arranjo e relaes de ideias internas monografia. Uma maneira radical de apresentar o subjeto antropolgico se abria; seus dois elementos eram igualmente criativos para a disciplina." 54Entre o modernismo e o ps-modernismo: "estruturalistas e etnlogos tambm estavam jogando jogos, a diferena que no sabiam. Essa conscincia definitivamente ps-moderna. O gnero apropriado no a representao, mas a "representao de representaes"(Rabinow)" 69"O estado ps-moderno jogar de forma deliberada com o contexto. Diz-se para borrarmos as fronteiras, destruir a moldura dicotomizante, justapor vozes de modo a tornar concebvel o produto mltiplo, a monografia autorada conjuntamente. Permanece tarefa do leitor decidir seu caminho atravs das diferentes posies e contextos daqueles que falam. Meros pontos de vista (Hill) tais contextos deiram por si ss de oferecer as molduras organizativas da narrativa etnogrfica. Cotempla-se uma nova relao entre escritor, leitor e tema. Decodificar o extico ("atribuir sentido") no mais funciona:o ps-modernismo requer que o leitor interaja com o exotismo per se." 70"h um interesse que a escrita etnogrfica deve seguir endossando , e a questo dos relacionamentos envolvidos na comunicao. Relacionamentos s podem ser especificados em relao a contextos." 82